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CENA I
DRAGÃO: É isso aí galera. Vamos fazer a formação forte apache. Vamos zuar aquele Mané do Caio quando
ele tentar sair do banheiro. Aposto que ele vai chorar que nem uma menininha....
CAIO: Sim.
CAIO: -Sim.
CAIO: -Não.
DRAGÃO: -É claro que não, porque ainda não mandei você fazer nada!
(Risos e gargalhadas.)
DRAGÃO: -Lambe a privada senão você não sai daqui hoje. Olha, roubei a chave da faxineira
( balança um molho de chaves) - e vou deixar você aqui até amanhã, caso não me obedeça!
(todos empurram Caio e ficam envolta dele, gritam e dão risada quando ele obedece, saem de cena
deixando Caio no chão chorando.(Entra a faxineira)
FAXINEIRA: mais o que é que é isso? Você está bem garoto? Vem comigo, vou te levar para direção.
(saem os dois)
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(em cena a coordenadora, entra a mãe de Caio, nervosa)
COORDENADORA: Calma. Seu filho não está muito bem. A senhora pode me dizer se está acontecendo
alguma coisa em sua casa? Brigas, mudanças, alguma coisa diferente?
MÃE: Não, em casa está tudo normal. Ultimamente Caio começou a fazer corpo mole para vir para escola.
Achei que era preguiça, mas agora não sei mais.
COORDENADORA : As crianças às vezes exageram, fantasiam. Caio, tem certeza de que isso aconteceu
mesmo?
CAIO: Eles estavam com a chave do banheiro, e disseram que se eu não lambesse a privada não me
deixariam sair.
COORDENADORA :-São muitos alunos, não conseguimos monitorar todos os lugares ao mesmo tempo. Isso
é impossível.
MÃE: -Por isso você nunca queria vir para a escola. Como não percebi?
CAIO: -Me prendiam no recreio, não me deixavam comer o lanche, colocavam almofadas para me sufocar,
riam de mim, faziam piadas, xingavam, me empurravam... essas coisas.
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MÃE: -Covardes!
MÃE: - Tá certo, é justo, mas agora vamos embora, e vamos te matricular em outra escola, tudo bem?
CAIO: Ok! (virando para platéia) Nunca mais vão se meter comigo. O Caio bonzinho morreu hoje!
( saem)
CENA II
CAIO: ( falando consigo) Vai lá Caio. Você consegue! Não é mais aquele menininho medroso. Agora é
atacar pra não ser atacado, nunca mais vão te humilar..( se vira e entra na sala com cara de mau).
CAIO: Legal, mas tem uns Mané que vou ti falar, hein?
SOFIA: Manés?
CAIO: É, Mané. Com exceção daquele ali, oh! ( aponta para Marcelinho) Aquele é um mini Mané. Acho
que vou apelidá-lo de salário mínimo. (o pessoal cai na risada, menos Sofia e Charles).
CHARLES: OH cara! Não fala assim do Marcelinho não. Ele é gente fina.
( Caio vai pra cima de Charles e os dois começam a brigar, mas a turma os separa)
CAIO: Aquela gazela é folgada pra caramba. Vamos dar uma lição nele?
THAÍS:: Como?
ELIANE: Já sei. Vem cá. (chama todos em um canto e ficam falando baixinho, do outro lado do palco estão
Sofia, Charles e Marcelinho)
SOFIA: calma Charles, não vale a pena. Espera aí, meu celular está tocando, acho que recebi uma
mensagem. (ela olha e fica chocada, Marcelinho pega o seu também e olha)
CHARLES: Não pode ser. Eles fizeram uma montagem de uma foto minha, vestido de odalisca? E ainda
criaram uma comunidade “odeio o Charles”?
(Charles vai pra cima de Caio e lhe dá um soco. Os dois rolam no chão e a galera fica incentivando)
GERSON: (entrando correndo) De novo? (separa os dois) O que está acontecendo com vocês?
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Ambos se apontaram e disseram ao mesmo tempo:
GERSON: -Não quero saber quem começou, mas por que isso está acontecendo sempre com vocês.
CAIO: Sei não... Olha, professor, eu tava na minha, quando esse cavalo veio solando pra cima de mim, sem
mais nem menos. Ele cisma comigo.
GERSON: Charles?
CHARLES: Essas montagens foram enviadas para os celulares de quase todos os colegas da escola, os
endereços de e-mail e as páginas de relacionamento. Tenho certeza de que foi o Caio.
GERSON: Charles, confie em mim, nós vamos descobrir quem está fazendo isso. Alguma idéia, Caio?
GERSON: Certeza?
CAIO: Absoluta. Eu, com certeza, não tenho nada a ver com isso.
GERSON: Bom, infelizmente os dois estão suspensos das aulas de amanhã, sem conversa. E vocês, aí?
( aponta para o resto da turma). Preciso saber quem postou essas montagens e criou as comunidades.
(Silêncio. Cabeças abaixadas)
(Silêncio)
GERSON: -Ninguém? OK. Então, exijo que TODAS as mensagens, sejam IMEDIATAMENTE retiradas da rede.
Depois, quero que vocês façam um trabalho para sexta-feira. Cem páginas sobre como respeitar as
diferenças. Esse é o tema. Alguma dúvida?
GERSON: ---Eu sei. Eu Como não apareceu ninguém, vou premiar a covardia de todos.
SOFIA: ( falando para Caio) Não acredito que você vai deixar isso acontecer. Isso é muita covardia.
GERSON: -Então, o Charles estava certo, você começou com tudo isso.
GERSON: Você me decepcionou Caio. Com o seu passado, pensei que fosse mais tolerante com as pessoas.
Eu conversei com sua mãe, ela me contou tudo que sofreu. Não entendo porque está fazendo o mesmo
com os outros.
SOFIA: tenta explicar então. Porque eu não consigo entender o que você fez com meus amigos.
CAIO: Desde pequeno, meus colegas me prendiam no recreio, não me deixavam comer o lanche,
colocavam almofadas para me sufocar, riam de mim, faziam piadas, xingavam, me empurravam... essas
coisas. Eu vivia com medo. Até o dia em que me fizeram lamber o vaso sanitário. Daí eu jurei nunca mais
ser humilhado. Fui aprender kung fu para me defender e achei que se eu fizesse essas coisas com os
outros, todos iriam gostar de mim e não fariam mais nada comigo.
CHARLES: Caramba!
GERSON: Também sinto, mas você não pode sair por aí agredindo os outros, porque foi agredido um dia.
GERSON: Eu sei que não, mas você feriu seus colegas. Mas por hoje chega. Vão para casa, amanhã
conversaremos.
(todos saem de cena, ficando apenas Caio e Sofia, que começam a andar juntos)
SOFIA: Mais nada. Vem conhecer o seu Miguel. Ele mora numa casa de repouso aqui perto. Não tem
família, perdeu tudo o que tinha, não fala, mas é a pessoa mais feliz que eu conheço.
SOFIA: Seu Miguel! Bom dia! Como vai o senhor? Quero te apresentar meu amigo, Caio.
(seu Miguel sorri, olha bem para Caio, tira o chapéu e lhe faz uma reverência, depois tira uma flor do
bolso lhe entrega e o abraça, depois vai embora )
CAIO: Nossa! Sabe, Sofia, seu Miguel não fala com as palavras, ele não precisa delas. Ele fala com o
coração.
SOFIA: Esse é amigo Caio. Sensível, verdadeiro, sofrido, companheiro, amigo mesmo.
SOFIA: Você merece um livro. Taí, vou escrever um livro sobre sua história.
CAIO: Um livro? Vou ser o personagem principal? Legal! E qual vai ser o título?
SOFIA: O título eu não sei, mas a dedicatória vai ser “AO MEU AMIGO CAIO”.
FIM