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CATEGORIAS DE ANÁLISE MARXIANAS

Jander Silva de Lima1

Ao estudar o pensamento marxiano nos deparamos com elementos fundamentais


que são necessários para compreendermos a delimitação do campo conceitual proposto
pelo filósofo em suas pesquisas. Para Marx, a consciência não determina nada, pelo
contrário, ela é determinada pelas condições materiais. Com isso, o filósofo torna-se um
dos primeiros pensadores a refutar o homem do viés do naturalismo.

Enquanto Rousseau e Hobbes discutiam o homem como um ser bom ou mau em


sua constituição natural. Marx propõe uma perspectiva de conceituação do homem a
partir da própria vida humana. E a vida humana se desenvolve no seio das suas relações
sociais, ou seja, na vida material. Ele herda, de certa forma, uma sociedade construída
pelos seus antepassados e pelas suas mãos desenvolve aspectos da vida que continuam
ou descontinuam no seu tempo.

Dessa forma, a história tem um papel importante no pensamento marxiano,


porque é por meio dela que o homem elabora e reelabora sua consciência de vida, mas
essa por sua vez, depende da práxis. Porque é na práxis que a sensibilidade se confronta
com o idealismo. A práxis é ação humana, vida é real, para viver o homem precisa
suprir suas necessidades. Cada pessoa desenvolve meios para se manter vivos. Por meio
do trabalho, a sociedade se desenvolve no real concreto.

Ao investigar o modo de vida do homem em sociedade, Marx percebe que para


compreender de fato a realidade, não devemos nos prender ao idealismo. O idealismo é
uma armadilha, nesse sentido. Porque o objeto sociedade possui uma complexidade de
tal modo, que pensar numa verdade absoluta sobre tal assunto seria confiar numa
espécie de determinismo.

O contexto social vivido por Marx foi marcado pela desigualdade social, pelas
péssimas condições de vida de muitos trabalhadores e, do outro lado, uma burguesia
repleta de boas condições de vida, se posicionando como classe dominante. Isso chama
atenção de Marx, no sentido de que pessoas trabalham e outras pessoas enriquecem com
o trabalho dos outros. Fenômenos que já ocorriam em outros momentos da história, mas
1
Mestrando do PPG-Prof-Filo/ Universidade Federal do Amazonas/
email: profjanderlima@gmail.com
naquele momento, devido a atividade industrial e a precariedade da vida nas cidades por
onde ele passou, tudo ficava muito perceptível e favorável à sua reflexão.

A sociedade burguesa é um elemento chave para o desenvolvimento da pesquisa


marxiana. Mais que isso, em dado momento de sua pesquisa, ele percebe que mais
celular ainda para a compreensão do real é o capital. É pelo capital que os burgueses
visam os lucros, o acúmulo de riquezas, por causa dele são capazes de explorar os que
não possuem poder.

O trabalhador tem dificuldade de se perceber como um ser humano dotado de


consciência. A necessidade de sobrevivência o coloca na condição de alienado.
Enquanto ele sobrevive com o mínimo necessário, vendendo a sua força de trabalho, do
outro lado os donos dos meios de produção lucram mais, determinando o valor do seu
trabalho como uma mera mercadoria.

Esse predicado dado ao homem, o proletário, personagem do capitalismo é lhe


imposto como se fosse a sua própria verdade. A subjetividade ignorada, engolido pelo
domínio da burguesia, o deixa numa situação que coloca Marx como seu principal
defensor. Somente através da tomada de consciência de classe, através da revolução, o
proletário poderia reverter a situação de opressão.

A vida se desenvolve historicamente na práxis e é na práxis que ela pode se


transformar. A visão dialética marxiana é entendida no movimento da luta de classes.
Marx entende que o proletariado e a burguesia vivem uma luta constante, no trabalho
diário, nos sindicatos, nas greves, ou seja, em movimentos de resistência da opressão
burguesa. Esse movimento contradiz a realidade impositiva do capitalismo. É dentro da
totalidade que as transformações sociais ocorrem.

MATERIALISMO

Nas Teses, a categoria materialismo é explorada por Marx como uma crítica à
postura do materialismo de Feuerbach, pois o sentido dado ao material é afastado do
que realmente ocorre na vida humana. Como o filósofo aponta, esses materialistas
preferem entender o objeto a partir da ideia do objeto, e isso não é materialismo,
continua sendo idealismo. Nas palavras de Marx (2007):

Não se parte daquilo que os homens dizem, imaginam ou representam,


tampouco dos homens pensados, imaginados ou representados para, a partir
daí, chegar aos homens de carne e osso; parte-se dos homens realmente
ativos [...], do seu processo de vida real (MARX-ENGELS, 2007, p.94)

O materialismo de Marx é expresso no entendimento de que na atividade


humana, ou seja, na práxis, os homens são os produtores de suas representações, são
ativos e condicionados pelas forças produtivas aos quais estão inseridos. O ser dos
homens seriam seus processos reais, em outras palavras, “Não é a consciência que
determina a vida, mas a vida que determina a consciência” Marx-Engels (2007).

PRAXIS (AÇÃO TRANSFORMADORA)

O homem diferentemente dos outros animais, se relaciona com a natureza


agindo ativamente. Enquanto os outros animais realizam suas tarefas de modo
instintivo, o homem realiza suas ações para com a natureza assimilando os objetos e
idealizando-os e transformando-os de acordo com o seu critério adotado. Realiza-se
idealmente, mas se conferem resultados no real concreto.

Nesse sentido, para Marx não se separa teoria de prática. O seu método é um
método vivo, real, com seres humanos reais que se alimentam, que se relacionam, que
criam leis, que escrevem, defendem e praticam valores, constroem famílias, cidades,
sociedades etc. ao agir na natureza, os homens criam modos de vida e tem no trabalho
um exercício transformador que reflete o modo de vida do seu tempo.

A práxis ocorre em vários cenários, nas artes, na ciência, na política, na filosofia


etc. nos chama atenção para o nosso trabalho a práxis política e a filosófica. Nas teses,
Marx esboça a necessidade de transformação social, na tese 11, “Os filósofos apenas
interpretaram o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo” (MARX,
2007, p.763). Conforme Silva (2017),

“[...] a prática política tem possibilidade de se tornar práxis revolucionária,


ou seja, tem a possibilidade de transformar radicalmente a sociedade,
sancionando inclusive o uso da força e da violência enquanto possibilidades
de luta”. (SILVA, 2017, p.73).

Pensar numa filosofia e práxis em Marx é tentar unir essas atividades de modo
dialético a práxis produtiva, a teórica e a política. É preciso conduzir um fazer filosófico
a caminho da revolução, a filosofia se vincula de forma consciente com uma práxis
revolucionária a fim de que se obtenha uma transformação no mundo. Partindo da
compreensão crítica do mundo, a filosofia deveria propor tal transformação colocando-
se como instrumento. Portanto, práxis filosófica e práxis política devem estar
conectadas, para que se conduza a práxis revolucionária. Nas Teses Marx utiliza
também o termo atividade prática como sinônimo de práxis.

IDEALISMO

A categoria Idealismo nas Teses se refere à tradição filosófica alemã, que tinha
como maior representante o Hegel. Nos tempos de Marx haviam alguns admiradores de
Hegel conhecidos como jovens hegelianos. Apesar de Marx ser influenciado por Hegel,
principalmente no que diz respeito a dialética. Foi a partir da discordância do aspecto
contemplativo das visões hegelianas que Marx se dispões a construir um novo modelo
de dialética, aquela que dentro da totalidade do real se apresenta e se contradiz como
movimento que ocorre na práxis.

Marx critica o idealismo de forma mais profunda na obra Ideologia Alemã


(1845-1846), mas é nas Teses que ele esboça o seu posicionamento inicial, que na
realidade representa o rompimento com a filosofia na qual ele se formou em prol de
uma nova filosofia que estava por vir. Aquela que não se distancia dos objetos
observados.

Essas categorias de análise se relacionam nas Teses, porém precisam ser


também relacionadas em outras obras de Marx como Ideologia Alemã (1845-1846) e
Manuscritos econômicos e filosóficos (1844), Manifesto do partido comunista (1848)
bem como Capital (1867). Tendo em vista o caráter enigmático e ousado de Marx nas
Teses, de início trabalharemos com os comentadores Labica (1990) e Goldmann (1968),
mas consultaremos outras fontes no decorrer da pesquisa em virtude da necessidade de
encontrar uma didática mais próxima para o ensino de filosofia no ensino médio.

REFERÊNCIAS

GOLDMANN, Lucien. A ideologia alemã e as Teses sobre Feuerbach, In:


LHomme et la Societé, v. 7, 1968.

LABICA, Georges. As teses sobre Feuerbach de Karl Marx. Tradução de:


Arnaldo Marques. 1ªed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,1990.
MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã: Crítica mais recente
filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stiner, e do
socialismo alemão em seus diferentes profetas (1845-1846). Tradução: Luciano
Cavini Martorano, Nélio Schneider e Rubens Enderle. São Pulo: Boitempo, 2007.

. Teses sobre Feuerbach in: Ideologia Alemã Tradução: Luciano Cavini


Martorano, Nélio Schneider e Rubens Enderle. São Pulo: Boitempo, 2007.

NETTO, José P. Introdução ao estudo do método de Marx. 1ªed. São Paulo:


Editora expressão popular, 2011.

SILVA, Renatho Andriolla da. O conceito de Práxis em Marx. Dissertação.


(Mestrado em Filosofia). Programa de Pós-graduação em Filosofia. Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017.

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