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2020 GIN 4 - Doenças Da Mamas - Doenças Benignas e Malignas Dos Ovários
2020 GIN 4 - Doenças Da Mamas - Doenças Benignas e Malignas Dos Ovários
FIG. 1
FIG. 3
VIDEO_01_GIN4
Nas mulheres, as doenças da mama englobam um espectro de afecções
benignas e malignas, que quase sempre se apresentam como dor na mama
FIG. 6 (mastalgia), descarga papilar ou tumor palpável. As causas específicas
destes transtornos variam de acordo com a idade da paciente. Os distúrbios
benignos predominam nas mulheres jovens pré-menopáusicas e as taxas de
malignidade aumentam com o avanço da idade. Usualmente, a avaliação
O tratamento normalmente inclui a introdução de um expansor de tecidos, destas afecções mamárias requer a combinação de anamnese meticulosa,
que é posteriormente substituído por prótese de silicone. exame físico, exame de imagem e, quando indicado, biópsia.
A amazia (Figura 7) define a ausência de tecido mamário, mas com Os principais aspectos destas afecções serão resumidos ao longo deste
presença do mamilo. A causa mais comum de amazia é iatrogênica. Os capítulo.
fatores que podem desencadear esta anomalia incluem: biópsia de uma
mama em desenvolvimento, radioterapia em meninas pré-puberes e lesões
pontos principais
traumáticas nas mamas em desenvolvimento, como queimaduras graves.
● Conhecer os principais aspectos anatômicos e fisiológicos da mama
e axila.
● Conhecer os principais aspectos fisiológicos da mama.
● Conhecer o que deve ser pesquisado na história e no exame físico
durante a avaliação das mamas.
ANATOMIA
DEFINIÇÃO
●
Parênquima de tecido glandular: glândulas mamárias (glândulas
FIG. 7
cutâneas modificadas), que se dividem em lobos mamários, e se
destinam à secreção láctea;
●
Estroma de tecido conjuntivo: envolvem cada lobo e a glândula
É importante ressaltar que a hipermastia ou hiperplasia mamária como um todo;
(Figura 8) representa o aumento mamário unilateral ou bilateral, associado ●
Pele: dotada de glândulas sebáceas e sudoríparas.
possivelmente à presença de defeitos nos receptores hormonais.
ANATOMIA DA MAMA
●
Superior: 2ª ou 3ª costela;
●
Inferior: 6ª ou 7ª costela;
●
Medial: borda do osso esterno;
●
Lateral: linha axilar média ou borda anterior do músculo grande dorsal.
FIG. 10 QUADRANTES DA MAMA E INCIDÊNCIA DE CÂNCER DE MAMA.
●
Células epiteliais que revestem a luz;
●
Células mioepiteliais, situadas mais profundamente, responsáveis pela
expulsão da secreção láctea.
EM RESUMO
FIG. 14
●
Nível I: linfonodos localizados lateralmente à borda externa do músculo
peitoral menor. ATENÇÃO
●
Nível II: linfonodos localizados sob e entre as bordas do músculo Embora a “Embriologia e as Malformações Congênitas da Glândula
peitoral menor. Mamária” sejam raramente exploradas nas provas de residência
médica, na versão digital de nosso material didático é resumido o que é
●
Nível III: linfonodos localizados medialmente à borda interna do
mais importante sobre o assunto.
músculo peitoral menor.
crescentes de estrogênio acarretam um rápido desenvolvimento do tecido do autoexame das mamas, isto é, a maioria das mulheres com câncer de
epitelial e, por conseguinte, ocorre um grande número de mitoses. mama identifica o câncer por meio da palpação ocasional em comparação
com o autoexame.
História fisiológica
menopausa.
●
Paridade.
●
Idade da primeira gestação a
termo.
●
Lactação e duração.
●
Intercorrências durante o
aleitamento materno.
FIG. 15 ●
Pesquisar familiares com
carcinoma de mama, inclusive
da linhagem paterna.
O ECM também é uma oportunidade para o profissional de saúde informar Nesta etapa do exame, o examinador deve solicitar que a paciente:
a população feminina sobre o câncer da mama, sinas de alerta, fatores de
risco, detecção precoce e a composição e variabilidade da mama normal.
1. Realize contração da musculatura peitoral, comprimindo,
Ele é parte integrante da investigação de lesões suspeitas de câncer de
preferencialmente, o quadril com as mãos colocadas uma de cada lado
mama e complementa a política de alerta à saúde das mamas como método
ou comprimindo as palmas das mãos uma contra a outra adiante do
de diagnóstico precoce.
tórax;
A melhor época para a realização do exame das mamas na menacme, em 2. Eleve e abaixe os braços lentamente.
É importante o examinador comparar as mamas observando possíveis A palpação das mamas é feita com a paciente em decúbito dorsal, com a
assimetrias, diferenças na cor da pele, textura e padrão de circulação mão correspondente à mama a ser examinada colocada sob a cabeça. O
venosa. sentido horário deve ser adotado na sequência semiológica da palpação.
Deve ser iniciada pela mama normal, de modo suave e com a face palmar
Os aspectos a observar compreendem: dos dedos indo de encontro ao gradeado costal (técnica de Velpeaux). A
seguir, a palpação deve ser realizada com as falanges distais do segundo e
terceiro dedo, semelhante ao tocar de piano (técnica de Bloodgood). O
pinçamento manual deve ser evitado, pois a superposição de glândulas e
lóbulos gordurosos pode conferir a falsa impressão da existência de
nódulos. A região da aréola e da papila (mamilo) deve ser palpada e não
comprimida. No caso da mulher mastectomizada deve-se palpar a parede do
tórax, a pele e a cicatriz cirúrgica.
Durante a palpação, deve-se observar possíveis alterações na temperatura da
QUIMIOPREVENÇÃO
pele e a existência de nódulos. A descrição de nódulos deve incluir
informações quanto ao seu tamanho, consistência, contorno, superfície, Com relação à quimioprofilaxia para o câncer de mama, duas classes de
mobilidade e localização. medicações têm sido mais estudadas: os moduladores seletivos do
receptor de estrogênio (SERM – tamoxifeno e raloxifeno) e os
A pesquisa de descarga papilar deve ser feita aplicando-se compressão inibidores de aromatase (anastrozol e exemestano).
unidigital suave sobre a região areolar, em sentido radial, contornando a
papila. A saída da secreção pode ser provocada pela compressão digital de Os SERM não interferem na produção de esteroides, mas
um nódulo ou área de espessamento, que pode estar localizado em qualquer competem com o estradiol pela ligação com os receptores de
região da mama. A descrição da descarga deve informar se é uni ou
estrogênio e, assim, exercem sua ação anti-hormonal. Os mais estudados
bilateral, uni ou multiductal, espontânea ou provocada pela compressão de
são compostos trifeniletilenos, o tamoxifeno e o raloxifeno, que funcionam
algum ponto específico, coloração e relação com algum nódulo ou
como estrogênio-agonista ou antagonista nos vários tecidos orgânicos. Vale
espessamento palpável.
lembrar que esses medicamentos estão relacionados ao aumento do risco de
eventos tromboembólicos, câncer de endométrio ou acidente vascular
Os resultados alterados do ECM devem ser avaliados e, em caso de encefálico.
suspeição, encaminhados para investigação diagnóstica em um serviço de
referência para o diagnóstico do câncer de mama. Os principais sinais e
Os Inibidores de Aromatase (IA) reduzem a produção de
sintomas que necessitam de referência urgente para investigação diagnóstica
estrogênios, agindo em fontes não gonadais. Por esta razão, funcionam
são os seguintes:
melhor após a menopausa, com os ovários silentes. Os IA atuam
bloqueando a enzima aromatase, que converte androstenediona em estrona
●
Qualquer nódulo mamário em mulheres com mais de 50 anos;
que, por sua vez, se interconverte em estradiol, principalmente a nível de
●
Nódulo mamário em mulheres com mais de 30 anos, que persistem por tecido celular subcutâneo.
mais de um ciclo menstrual;
●
Nódulo mamário de consistência endurecida e fixo ou que vem RISCO BAIXO OU INTERMEDIÁRIO
aumentando de tamanho, em mulheres adultas de qualquer idade;
●
Descarga papilar sanguinolenta unilateral; As evidências existentes permitem não recomendar o uso da
quimioprofilaxia do câncer de mama em mulheres
●
Lesão eczematosa da pele que não responde a tratamentos tópicos;
assintomáticas com risco baixo ou intermediário.
●
Homens com mais de 50 anos com tumoração palpável unilateral;
●
Presença de linfadenopatia axilar;
RISCO ELEVADO
●
Aumento progressivo do tamanho da mama com a presença de sinais de
edema, como pele com aspecto de casca de laranja; Não há consenso de que a quimioprofilaxia deva ser recomendada para
mulheres assintomáticas, mesmo em grupos com risco elevado
●
Retração na pele da mama;
para o desenvolvimento do câncer de mama (INCA). A
●
Mudança no formato do mamilo.
quimioprevenção pode ser considerada para pacientes com hiperplasia
ductal atípica, hiperplasia lobular atípica e carcinoma lobular in situ,
principalmente em lesões mais extensas ou múltiplas, casos de repetição do
PREVENÇÃO PRIMÁRIA DO CÂNCER DE
quadro ou quando há predisposição hereditária.
MAMA
Como já mencionado, a decisão de se prescrever SERM ou IA para todas as
CONTROLE DOS FATORES DE RISCO
mulheres com risco elevado não é unânime. A conduta requer
A prevenção primária do câncer de mama está relacionada ao controle dos individualização, conforme nível de risco, repercussão emocional do risco,
fatores de risco reconhecidos. Embora os fatores hereditários e muitos faixa etária, comorbidades e tolerabilidade aos fármacos.
daqueles relacionados ao ciclo reprodutivo da mulher não sejam passíveis
de mudança, evidências demonstram uma diminuição do risco relativo para
câncer de mama de aproximadamente 4,3% a cada 12 meses de aleitamento PREVENÇÃO SECUNDÁRIA DO CÂNCER DE
materno, adicionais à redução de risco relacionada à maior paridade. Fatores MAMA
relacionados ao estilo de vida, como obesidade pós-menopausa,
A prevenção secundária inclui estratégias que visam sua detecção precoce.
sedentarismo, consumo excessivo de álcool e terapia de reposição
hormonal, podem ser controlados e contribuir para diminuir a incidência do
câncer de mama, o que historicamente tem sido pouco valorizado. Com O câncer de mama, quando identificado em estágios iniciais (lesões
base em amplo resumo sobre evidências científicas da relação entre menores que dois centímetros de diâmetro), apresenta prognóstico
alimentação, atividade física e prevenção de câncer, estima-se que é favorável. Para isso, é necessário implantar estratégias para a detecção
possível prevenir 28% dos casos de câncer de mama por meio da precoce da doença.
alimentação, nutrição, atividade física e gordura corporal adequada.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Entre as alterações clínicas que podem corresponder a um câncer de mama,
Sensibilidade ●
Mastodínia.
destacam-se:
mamária pré-mens‐
trual
●
Nódulo palpável;
●
Endurecimento da mama;
●
Mastalgia cíclica (alterações
funcionais benignas da mama).
●
Descarga papilar;
●
Mastalgia acíclica (ectasia,
●
Eritema mamário; adenose, mastite aguda e
●
Edema mamário em “casca de laranja” (peau d’orange); crônica).
Mastalgia
●
Retração ou abaulamento;
●
Dor extramamária (nevralgia
intercostal, contratura muscular,
●
Inversão, descamação ou ulceração do mamilo;
espondiloartrose vertebral, sín‐
●
Linfonodos axilares palpáveis. drome de Tietze, doença de
Mondor, angina, colelitíase).
DIAGNÓSTICO PRECOCE ●
Alterações Funcionais Benignas
Adensamentos/cistos
da Mama (AFBM).
A estratégia de diagnóstico precoce contribui para a redução do estágio de
apresentação do câncer de mama. Nessa estratégia é fundamental a ●
Galactorreia.
educação da mulher e dos profissionais de saúde para o reconhecimento dos ●
Descarga papilar anormal (papi‐
Derrame papilar
sinais e sintomas do câncer de mama, assim como o acesso rápido e loma intraductal, ectasia ductal,
facilitado aos serviços de saúde. AFBM, dentre outros).
●
Fibroadenoma.
RASTREAMENTO ●
Papiloma intraductal.
O rastreamento com o exame de Mamografia (MMG) é a estratégia de ●
Lipomas.
Nódulos dominantes
saúde pública que tem sido adotada em contextos onde a incidência e a
●
Tumor phyllodes ou loides ou
mortalidade por câncer de mama são elevadas.
lodes.
» Esteatonecrose;
e infecciosas
pontos principais » Ectasia ductal;
ETIOLOGIA
TAB. 1 CLASSIFICAÇÃO DAS AFECÇÕES BENIGNAS DA MAMA
BASEADA EM ASPECTOS CLÍNICOS.
A etiologia é desconhecida. Várias hipóteses foram aventadas, a saber:
Teoria do Hiperestrogenismo A anamnese deve pesquisar todas as características da dor, tais como:
localização, tipo, intensidade, duração, relação com atividades diárias,
O estrogênio é pré-requisito fundamental para a ocorrência de mastalgia
alimentação e uso de novos medicamentos (hormônios, ansiolíticos,
cíclica. No entanto, vários estudos não encontraram correlação entre os
antidepressivos).
níveis séricos de estradiol e a presença do sintoma.
Ectasia Ductal tardia, frequentemente dois a três dias antes da menstruação. Em geral, é
bilateral e referida nos quadrantes superiores externos, porque aí
Pacientes portadoras de dor mamária submetidas à ultrassonografia das
predomina o tecido glandular. Pode apresentar intensidades diferentes nas
mamas apresentam dilatação ductal mais frequentemente do que mulheres
duas mamas. As AFBM apresentam tipicamente este tipo de dor. Mais
assintomáticas. O grau de dilatação ductal se relaciona com a intensidade do
detalhes sobre essa afecção serão encontrados adiante.
quadro. Nas mastalgias acíclicas foi encontrada correlação entre o local da
dilatação e o sítio do sintoma.
Mastalgia Acíclica
De ciência de Ácidos Graxos Poli-Insaturados (ácido linoleico, Corresponde à dor mamária que não possui associação com o ciclo
ácido digamalinoleico, ácido araquidônico) menstrual. A dor pode ser constante ou intermitente. Várias causas podem
estar envolvidas neste grupo. As causas mamárias mais importantes são a
Atualmente, esta é a teoria mais aceita. Esse estado levaria a uma
ectasia ductal, a adenose esclerosante, a esteatonecrose e as mastites agudas
maior sensibilidade e afinidade dos receptores mamários aos estrogênios e
e crônicas. Mais à frente, essas afecções serão abordadas.
progestogênios. O ácido araquidônico é precursor das prostaglandinas. A
dificuldade na síntese da prostaglandina E1, que é moduladora da ação
hormonal, pode ter influência na gênese da mastalgia. Dor Extramamária ou Dor de Origem Musculoesquelética
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São várias as causas extramamárias, na maioria das vezes não é possível
A história clínica e o exame físico devem ser realizados identificá-las. As mais importantes são:
preferencialmente após a menstruação.
● Nevralgia intercostal; A dor que dura mais do que cinco dias ao mês, interfere nas atividades
● Contratura muscular; diárias, na qualidade de vida das pacientes e produz ansiedade deve ser
valorizada e tratada.
● Espondiloartrose vertebral;
● Angina;
Apenas 10 a 15% das pacientes com dor mamária possuem a forma
● Colelitíase; grave.
● Síndrome de Tietze (costocondrite): inflamação da articulação
costocondral. Caracteriza-se por dor torácica com irradiação para a
mama. Clinicamente, manifesta-se por pontos dolorosos à compressão FATORES DE RISCO
das articulações condroesternais, principalmente nos segundo, terceiro e
quarto espaços intercostais; Os fatores de risco devem ser identificados e, se possível, corrigidos.
● Doença de Mondor: tromboflebite de veias superficiais do
tórax e da parte superior do abdome, principalmente da veia Estresse
torácica lateral. É uma lesão rara associada a traumatismo local
A tensão emocional é um fator que pode estar envolvido. A liberação
(espontâneo ou cirúrgico). Clinicamente, manifesta-se por dor aguda na
central de opioides, como a serotonina, pode diminuir a liberação de
topografia da veia trombosada e presença de cordão fibroso no local. Em
dopamina e resultar em aumento da liberação de prolactina. O aumento
geral, é um processo autolimitado. A dor regride após duas ou três
deste hormônio é uma das teorias que tentam explicar a dor mamária cíclica.
semanas e em seis a oito semanas não há mais qualquer evidência da
enfermidade. Não está indicada biópsia. Raramente é necessário o uso de
analgésicos e anti-inflamatórios. Tabagismo
Retenção Hídrica
NÃO ESQUEÇA
●
Dose: 100 a 200 mg/dia.
●
Dose: 2,5 mg duas vezes por semana.
TRATAMENTO CLÍNICO
●
Dose: 3,6 mg/mês.
Em geral, o tratamento medicamentoso está indicado nas
pacientes com duração dos sintomas superior a seis meses,
Bromocriptina (Parlodel®) e Cabergolina (Dostinex®)
com interferências nas atividades diárias e/ou na qualidade de
vida. Assim, o manejo farmacológico da mastalgia deve ser evitado nas São agonistas dopaminérgicos. Apresentam pequena melhora dos sintomas
pacientes com duração dos sintomas inferior a seis meses. quando comparados ao placebo. São medicamentos pouco empregados
devido a efeitos colaterais importantes, que ocorrem em até 30% das
Obviamente, a escolha terapêutica dependerá do tipo de dor pacientes: náuseas, intolerância gástrica, constipação, cefaleia e hipotensão
●
Vitamina A, B6 e E (Esclerovitan plus®): duas drágeas ao dia
durante dois a seis meses;
●
Vitamina E (Ephynal®): uma drágea ao dia por dois a três meses.
Progestogênios
ADENSAMENTOS E CISTOS
Iso avonas
(ALTERAÇÕES FUNCIONAIS BENIGNAS DA
Não há evidências científicas para indicação deste medicamento no manejo MAMA)
da mastalgia.
Três espectros clínicos são relevantes nas Alterações Funcionais
Benignas das Mamas (AFBM): mastalgia cíclica (que detalhamos no
Diuréticos tópico anterior), adensamentos e cistos. Cabe aqui destacar que esses
Não há evidências científicas para indicação destes fármacos no manejo da quadros não são propriamente doenças, mas sim manifestações clínicas de
mastalgia. um processo fisiológico comum, que podem estar associadas em diferentes
graus. As questões de prova sobre este assunto, quase sempre, concentram-
se no manejo terapêutico.
Anticoncepcionais Combinados Orais
Até o momento, as evidências sugerem que a cirurgia não possui um papel fibrocística, doença fibrocística e displasia mamária eram empregadas como
importante no tratamento da mastalgia. sinônimos. Atualmente, estas denominações se encontram em desuso pelo
significado de enfermidade e de lesão pré-maligna que atribuíam à
condições fisiológicas.
TRATAMENTO DA DOR EXTRAMAMÁRIA
Toda vez que aparecer em uma questão uma mulher na menacme, com
mastalgia cíclica, espessamentos e cistos mamários, deve-se pensar em
AFBM. Normalmente, o exame físico minucioso das mamas define o
diagnóstico. FIG. 3 Imagem ultrassonográfica – cisto simples da mama.
EXAME FÍSICO
Em geral, os cistos da AFBM não apresentam risco aumentado para câncer
Devem ser procurados, detalhados e tratados: de mama. As lesões precursoras de câncer de mama que sinalizam a
passagem de um estado fisiológico para um estado patológico são
identificadas pelo grau de hiperplasia e pela presença de atipia.
Mastalgia
Rever o tópico anterior. Por fim, o tratamento cirúrgico dos cistos só está indicado nas seguintes
situações:
Adensamentos
●
Exclusão de neoplasias dos cistos com várias recidivas, que apresentem
Correspondem a uma área de endurecimento localizado. Ao exame, massa residual pós-punção ou cujo líquido seja sanguinolento;
são achados físicos bidimensionais que aparecem como espessamentos ●
Cisto complexo.
mamários, acompanhados ou não de dor e nodularidade. A possibilidade de
câncer deve ser sempre excluída. Em geral, não requer nenhum tratamento
Guarde a imagem das AFBM (Figura 4).
adicional.
Cistos
DERRAME PAPILAR
O derrame ou descarga papilar ocorre em várias afecções dos ductos
Papiloma intraductal Sanguinolento (50% dos
mamários que, por sua vez, podem se manifestar como secreção, retração,
casos)
infecção ou massa do complexo areolopapilar. Na prática clínica,
estabelecer o diagnóstico diferencial entre essas enfermidades é muito Serossanguinolento (50%
importante, pois o derrame papilar representa 7 a 10% das queixas nos dos casos)
ambulatórios de mastologia. Em aproximadamente 95% dos casos, o
derrame papilar possui uma causa benigna. Entretanto, pode ser uma das
Carcinoma Água de rocha ou sanguino‐
Gravidez Sanguinolento
Nas provas de residência, este tema é cobrado da seguinte forma: a questão
descreve um tipo de descarga papilar e pergunta-se qual é a hipótese Mastites e processos Purulento
diagnóstica mais provável. Para tanto, em primeiro lugar, é preciso lembrar infecciosos
a diferença entre um derrame papilar fisiológico e patológico. Em segundo
lugar, é necessário distinguir as características do derrame papilar de acordo
com as principais afecções de base.
DERRAMES FISIOLÓGICOS × PATOLÓGICOS
●
Galactorreia: define uma secreção láctea, normalmente bilateral; VIDEO_04_GIN4
●
Pseudoderrames: podem ser causados por mamilos invertidos, lesões
eczematoides, infecção nas glândulas sebáceas de Montgomery e erosões ESTRATÉGIA DIAGNÓSTICA
traumáticas.
ANAMNESE
Galactorreia Leitoso
EXAME FÍSICO
Ectasia ductal Amarelo-esverdeado,
espesso Deve responder as seguintes perguntas:
1. É REALMENTE UM DERRAME? MÉTODOS DE IMAGEM
Ductoscopia
FLUXOGRAMA 1
A MMG é o exame de imagem padrão e deve excluir nódulos,
microcalcificações ou outros achados.
de rocha) ou sanguíneo possui maior valor preditivo positivo para o esverdeada e azulada. Em geral, não possui componente sanguinolento.
câncer de mama.
Gravidez
Ectasia Ductal A descarga papilar da gravidez é sanguinolenta em cerca de 20% dos
Define a dilatação dos ductos e a estagnação de secreção neles. casos. Ocorre por hipervascularização do sistema ductal. É uma
Sua etiologia é desconhecida. A idade é o principal fator de risco. Ela condição benigna.
acomete pacientes entre a quinta e oitava décadas de vida. Não exige
tratamento, desde que o sintoma não seja espontâneo e abundante. A
Galactorreia
descarga típica desta afecção é amarelo-esverdeada e espessa. A exérese do
sistema ductal terminal está indicada se a ectasia representa um incômodo A sua principal causa é farmacológica, sobretudo por medicamentos
para a paciente. Atualmente, a apresentação tumoral desta afecção é rara, psicotrópicos. No entanto, pode ser idiopática ou secundária a adenomas
pois a consulta e o manejo terapêutico são realizados na fase de derrame. hipofisários (Tabela 5). A história de galactorreia, infertilidade e
amenorreia sugere intensamente a possibilidade de adenoma de hipófise. O
exame microscópico da secreção revela gotículas de gordura. É um exame
Alterações Funcionais Benignas da Mama (AFBM)
de fácil execução, rápido e fornece diagnóstico no consultório.
A presença de descarga multiductal, bilateral, de aspecto seroesverdeado é
um achado frequente na AFBM.
TAB. 5 CAUSAS FARMACOLÓGICAS DE GALACTORREIA.
Papilomatose Juvenil
O “Berek & Novak’s Gynecology” informa que as principais causas de
●
Verapamil.
derrame papilar sanguinolento são:
●
Metildopa.
1. Papiloma intraductal;
●
Betabloqueadores.
2. Carcinoma intraductal.
●
Labetalol.
●
Reserpina.
Já o livro “Ginecologia Ambulatorial Baseada em Evidências” considera
que:
FÁRMACOS DE AÇÃO NO SNC
● A ectasia ductal é a causa mais comum de descarga papilar;
●
Sulpirida.
● O papiloma solitário é a causa mais frequente de descarga papilar
●
Antagonistas da dopamina (domperidona, clorpromazina, sanguinolenta.
fenotiazinas, tioxantenos, butirofenonas,
difenilbutilpiperidina, dibenzoxazepina, diidroindolona,
procainamida, metoclopramida). O Tratado de Ginecologia – FEBRASGO e as outras referências
bibliográficas empregadas nos concursos de residência médica não
●
Neurolépticos (fufenazina, haloperidol, pen uridol, pimozida, fazem menção às causas mais comuns de derrame papilar.
pipotiazina).
●
Antidepressivos tricíclicos (imipramina, amitriptilina,
clomipramina, nortriptilina).
ESTRATÉGIA TERAPÊUTICA
●
Benzodiazepínicos (amoxapina).
Para conduzir corretamente um caso de derrame papilar, é obrigatório o
●
Fluoxetina.
diagnóstico diferencial entre o derrame fisiológico e patológico.
OUTROS
O derrame papilar fisiológico não requer investigação nem
●
Cimetidina. tratamento. A orientação, tranquilização e explicação minuciosa
●
Ranitidina. do quadro para a paciente são normalmente suficientes.
●
Estrogenioterapia.
Quando a galactorreia é farmacológica, deve-se suspender o agente
●
Alfametildopa. causador. Quando a galactorreia é tumoral, o tratamento com bromocriptina
●
Reserpina. ou cabergolina está indicado nos microadenomas. No caso dos
macroadenomas (acima de 1 cm), a intervenção cirúrgica poderá ser
●
Sulpirida.
necessária, caso não haja resposta ao tratamento clínico. Vale aqui lembrar
●
Labetalol. que o prolactinoma é o mais comum dos adenomas hipofisários
(responsável por cerca de 50% dos casos).
●
Verapamil.
●
Anticoncepcionais orais.
A investigação e o tratamento do derrame papilar patológico só
●
Opiáceos. obedecem a uma diretriz: a biópsia cirúrgica é obrigatória. Nenhum
●
Cocaína e anfetaminas. exame, seja ele de imagem, seja citológico, substitui o valor da histologia na
presença de derrame suspeito. Em alguns casos, a biópsia cirúrgica se presta
●
Metoclopramida. tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento. Mais detalhes estarão
disponíveis no tópico “Nódulo”.
A hiperprolactinemia é definida por níveis de prolactina em pool acima de
20 µg/ml. A TC ou RM de crânio está indicada nos casos de suspeição de Nos casos cirúrgicos, na paciente que ainda deseja amamentar,
adenomas, principalmente nos casos em que a prolactina encontra-se acima realiza-se uma ressecção seletiva do ducto acometido, orientada
de 100 µg/ml. pelo “ponto de gatilho”.
1. Papiloma intraductal;
CARACTERÍSTICAS DE MALIGNIDADE
Ressecção Total do Sistema Ductal
●
Normalmente são aderidos.
De forma análoga ao procedimento anterior, o primeiro passo é a realização
●
Apresentam consistência endurecida (em alguns casos são
de uma incisão periareolar acompanhada de dissecção de todo plano
pétreos).
subareolar e da árvore ductal, em forma de cone invertido, até uma
profundidade de 2 cm. É importante lembrar que a dissecção deve atingir ●
Possuem contornos irregulares e margens inde nidas.
todo o tecido subareolar até a pele do mamilo pelo risco de recorrências. ●
A descarga papilar pode ser sanguinolenta ou em água de
Também não requer a utilização de drenos. Em termos estéticos, é um
rocha.
procedimento satisfatório. No entanto, pode ocorrer diminuição importante
da sensibilidade do mamilo. Além disso, a paciente deverá ser advertida que
●
Podem ser acompanhados de retração de pele, retração
a amamentação não será mais possível na mama operada. mamilar, invasão da pele ou da parede torácica.
ESTRATÉGIA DIAGNÓSTICA
ANAMNESE
VIDEO_05_GIN4
Uma avaliação diagnóstica (anamnese, exame físico e exames
complementares) minuciosa está associada a um melhor
raciocínio diagnóstico e, por conseguinte, a uma menor EXAME FÍSICO
morbidade das pacientes. O mais importante sobre este tema é
diferenciar um tumor benigno de um maligno (Tabela 6). Para Deve responder as seguintes perguntas:
Fibroadenomas ●
Pico de incidência:
mulheres jovens até 35
anos (20-35 anos); pode
ocorrer na puberdade.
●
Lesões de consistência
broelástica.
Papiloma intraductal ●
Pico de incidência:
mulheres entre 30 e 50
anos.
●
Em cerca de 50% dos
casos, apresenta nódulo
subareolar.
FIG. 6 PAAF.
O limite deste método é apenas fornecer material para estudo citopatológico ●
Hematomas (mais frequente).
e não fornecer diagnóstico de invasão tumoral. Demanda citopatologista
com treinamento diferenciado. A PAAF pode ser empregada no in print de ●
Pneumotórax (principalmente em mulheres magras com
peças cirúrgicas no diagnóstico transoperatório de congelação. mamas pequenas).
●
Infecções.
Alguns fatores podem interferir na escolha do método guia, a saber: ●
Implante tumoral no trajeto da agulha (complicação de
caráter irrelevante).
●
Método que assegura melhor visualização da lesão;
●
Localização da lesão na mama;
Cabe aqui lembrar que a PAAF pode ser empregada para fins diagnósticos
●
Mobilidade da lesão na mama; ou terapêuticos. Neste último caso, diante de um diagnóstico de cisto
simples palpável, a citopunção satisfaz o fim terapêutico.
●
Experiência do operador;
●
Disponibilidade do equipamento.
Cistos
A USG permite movimentos multidirecionais. Já a MMG só possibilita a Devem ser enviados para a citologia os líquidos aspirados sanguinolentos.
punção em trajeto único.
●
Cistos simples: o fluido aspirado não é sanguinolento. A massa
É importante ressaltar que um resultado negativo não exclui a desaparece após a aspiração.
possibilidade de câncer, de forma que, em casos de alta suspeição, ●
Carcinoma intracístico ou neoplasias parcialmente císticas: as
deve-se prosseguir com a propedêutica para confirmação
situações que aumentam a suspeita destas entidades são: líquido aspirado
diagnóstica através do exame histopatológico.
sanguinolento, massa palpável persistente após aspiração do líquido,
recidiva frequente dos cistos (normalmente maior do que duas recidivas
Antes de indicar um método propedêutico, deve-se conhecer as suas de cistos simples).
vantagens, desvantagens e complicações, que são apresentadas nas
Tabelas 8 e 9.
Tumores Sólidos
●
Baixa morbidade. A saída de líquido amarelo-esverdeado e a ausência de massa residual
dispensam o estudo citológico do líquido. Em outras palavras, o líquido
●
Relativamente indolor.
pode ser desprezado.
●
Desconforto mínimo.
●
Baixo custo. O próximo passo consiste na solicitação de exames de imagem para avaliar
o sítio onde a lesão se encontrava. Caso estes exames sejam normais, a
●
Passível de execução ambulatorial.
paciente só deverá retornar em quatro a seis semanas (segundo os Tratados
de Mastologia).
DESVANTAGENS
●
Não faz o diagnóstico entre carcinoma in situ e carcinoma Caso os exames revelem alterações sugestivas de malignidade, está
invasor. formalmente indicada a biópsia. É importante salientar que o tipo de exame
de imagem (USG ou MMG) a ser solicitado dependerá da idade da paciente.
●
O material não pode ser enviado para imuno-histoquímica.
●
A citologia negativa não conclui a investigação de um nódulo
A presença de um nódulo sólido e/ou de líquido sanguinolento e/ou de
suspeito de malignidade.
nódulo residual ou a existência de mais de duas recidivas de cistos simples
indicam o estudo citológico acompanhado da solicitação de exames de
imagem (solicitados de acordo com a idade da paciente) e da realização de
É um método que assegura boa diferenciação entre nódulos sólidos e Alguns achados ultrassonográficos são sugestivos de benignidade
císticos; apresenta adequada eficiência na definição de imagem em mamas (Tabela 11).
densas (pacientes jovens) e complementa o rastreio mamográfico; garante
boa acurácia na identificação de lesões vegetantes intracísticas; permite a
localização de pequenos tumores para retirada cirúrgica ou para punções; TAB. 11 ACHADOS ULTRASSONOGRÁFICOS.
possibilita a avaliação do resultado da quimioterapia primária.
BENIGNIDADE MALIGNIDADE
Em linhas gerais, é um método indicado principalmente em mulheres
●
Diâmetro laterolateral ●
Margens irregulares.
jovens, lactantes e gestantes, para se evitar a exposição à radiação
maior do que o
ionizante.
●
Hipoecogenicidade e
craniocaudal
textura heterogênea
●
Ecogenicidade (achado inespecí co).
As desvantagens incluem a incapacidade na detecção de microcalcificações
homogênea.
e a baixa resolução em mamas lipossubstituídas. A seguir, na Tabela 10, ●
Diâmetro craniocaudal
serão detalhadas suas principais indicações. ●
Bordas bem delimitadas. (anteroposterior) maior do
que o diâmetro
●
Pseudocápsula ecogênica
laterolateral (nódulo “mais
na.
TAB. 10 ●
Sombras laterais à lesão.
alto que largo”).
●
Presença de sombra
INDICAÇÕES ●
Reforço acústico posterior. acústica posterior.
●
Diagnóstico diferencial entre lesão sólida e lesão cística; saiba mais
●
Alterações no exame físico (lesão palpável), no caso de REFORÇO ACÚSTICO NÃO É SINÔNIMO DE SOMBRA ACÚSTICA
mamogra a negativa ou inconclusiva;
●
Na jovem com lesão palpável; A sombra acústica posterior e o reforço acústico posterior são artefatos
que ocorrem em decorrência da atenuação do feixe sonoro, por diferentes
●
Nas alterações do exame clínico no ciclo gravídicopuerperal;
causas.
●
Na doença in amatória e abscesso mamário;
●
No diagnóstico de coleções.
Sombra acústica posterior: ocorre em tecidos com alta atenuação e/ou O Colégio Americano de Radiologia propôs em 2003 uma classificação dos
índice de reflexão elevado, resultando na redução importante da amplitude achados ultrassonográficos em seis categorias (Tabela 12). O BI-RADS
dos ecos transmitidos, impedindo o estudo das estruturas posteriores. ultrassonográfico gradua os seus achados em risco para lesão maligna. E
vale dizer que nas pacientes acima de 35 anos, notadamente a partir de 40
Reforço acústico posterior: este artefato ocorre em estruturas com baixa anos, a classificação ultrassonográfica é importante para ajustar o BI-RADS
atenuação ou com menor velocidade de propagação do som em relação mamográfico, principalmente nas categorias 0 (avaliação incompleta), 3
aos tecidos moles. Este fenômeno se manifesta como uma faixa mais clara (achado provavelmente benigno) e 4A (baixa suspeita de malignidade).
posterior à estrutura líquida que o forma, como nos cistos mamários.
Para fins de prova de residência, você precisa memorizar que “reforço TAB. 12 CLASSIFICAÇÃO DE BI-RADS DOS ACHADOS ULTRA-
SSONOGRÁFICOS.
acústico” é sinal ultrassonográfico de benignidade e que “sombra
acústica posterior” é sinal ultrassonográfico de malignidade. Categoria 0: inconclusivo.
Essa categoria é muito menos usada em comparação aos
Confira a diferença destes artefatos: critérios mamográ cos. É empregada, por exemplo, quando se
encontra uma imagem nodular com sinais suspeitos de
malignidade numa paciente jovem (< 35 anos) que não tenha
mamogra a prévia. Nessa situação, apesar de jovem, é
indicada complementação diagnóstica com mamogra a.
Também pode ser utilizada em caso de necessidade de
complementação com exames adicionais (RM) ou comparação
com exames anteriores.
Mamografia (MMG)
A mamografia é o único exame utilizado para rastreamento, com capacidade
de detectar lesões não palpáveis e causar impacto na mortalidade por câncer
de mama. Por este motivo, é o exame de imagem recomendado para o
rastreamento do câncer de mama no Brasil.
Por vezes, para um estudo mais adequado das lesões, pode ser preciso a
complementação do exame com outras incidências ou técnicas (compressão
seletiva, ampliação).
BENIGNIDADE
FIG. 8 MAMÓGRAFO.
●
Calci cações grosseiras.
●
Nódulos com contornos regulares e nítidos.
MALIGNIDADE
●
Microcalci cações pleomór cas agrupadas.
●
Nódulos espiculados, sem margens de nidas.
●
Erro de posicionamento da paciente.
●
Baixa qualidade da MMG.
●
Erro na interpretação do exame.
●
Mamas densas.
●
Tamanho da lesão mamária.
●
Lesão com características radiológicas. equivalentes as do
tecido normal.
A Tabela 15 resume as informações clínicas imprescindíveis para a Indicações
interpretação da MMG.
VIDEO_07_GIN4
● Rastreamento de lesões subclínicas em mulheres
assintomáticas: o diagnóstico de câncer em estádio inicial possibilita
TAB. 15 INFORMAÇÕES CLÍNICAS IMPRESCINDÍVEIS PARA A
INTERPRETAÇÃO DA MMG.
uma abordagem terapêutica mais conservadora e assegura um melhor
prognóstico. A idade em que se deve indicar o rastreamento é
●
Idade cronológica. controversa na literatura. A seguir, serão apresentadas as recomendações
do Ministério da Saúde/INCA (Tabela 17), da American Cancer
●
Identi cação dos fatores de risco para câncer de mama.
Society (Tabela 18) e do Colégio Brasileiro de Radiologia e
●
Conhecimento de afecções (infecção), traumatismo ou
Diagnóstico por Imagem (CBR), da Sociedade Brasileira de Mastologia
cirurgias prévias da mama.
(SBM) e da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
●
Exame físico da mama. Obstetrícia (FEBRASGO) (Tabela 19) para o rastreamento do câncer de
mama.
●
Indicação da MMG.
A Tabela 16 descreve os pré-requisitos mínimos e mandatórios para a boa TAB. 17 RECOMENDAÇÕES PARA RASTREAMENTO DO
CÂNCER DE MAMA NA POPULAÇÃO DE BAIXO RISCO
interpretação da MMG
SEGUNDO MINISTÉRIO DA SAÚDE/INCA (2015).
Mamogra a Convencional versus Mamogra a Digital 2. O Ministério da Saúde não apresenta recomendação sobre
o exame clínico das mamas (ausência de recomendação)
Estudos recentes têm demonstrado a superioridade do sistema digital sobre como método de rastreamento para o câncer de mama,
o convencional, principalmente em mulheres com menos de 50 anos, com justi cando que o balanço entre possíveis danos e
padrão parenquimatoso heterogêneo ou extremamente denso e mulheres na benefícios é incerto.
pré e perimenopausa.
3. O rastreamento para a população com alto risco para
desenvolvimento de câncer de mama não foi abordado
Na mamografia digital, a aquisição da imagem ocorre quase em tempo real
pelas diretrizes para a detecção precoce do câncer de
tornando o exame mais rápido e confortável para a paciente. A imagem
mama no Brasil (2015).
pode receber tratamentos pós-processamento e recursos na análise digital,
como inversão na escala de cinza, magnificação eletrônica, lupa eletrônica, 4. O Caderno de Atenção Básica – Controle dos Cânceres
mensuração das lesões e alteração de contraste e brilho. de Colo do Útero e da Mama do Ministério da Saúde
(2013) apresenta recomendações sobre o rastreamento do
câncer de mama similares em relação à mamogra a, mas
Mamogra a de Rastreamento versus Mamogra a Diagnóstica
diferentes em relação ao exame clínico das mamas:
A distinção entre estes dois conceitos é de fundamental importância:
POPULAÇÃO-ALVO PERIODICIDADE DOS
EXAMES DE
●
Mamografia de rastreamento: é o exame solicitado para mulheres
RASTREAMENTO
da população-alvo sem sinais e sintomas de câncer de mama;
●
Mamografia diagnóstica: é o exame solicitado para pessoas de Mulheres de 40 a 49 anos ECM anual e, se alterado,
qualquer idade com sinais e sintomas de câncer de mama (nódulo, mamogra a.
espessamento, descarga papilar, retração de mamilo, outras). Vale
lembrar que dor não é sintoma de câncer de mama.
Mulheres de 50 a 69 anos ECM anual e mamogra a a ●
Mutação conhecida do BRCA 1 e 2.
cada dois anos. ●
Parentes de primeiro grau com mutação conhecida ou não.
Mulheres de 35 anos ou ECM e mamogra a anual. ●
História de radioterapia no tórax entre as idades de 10 a 30
mais com risco elevado anos.
●
Pacientes portadoras da síndrome de Li-Fraumeni, síndrome
5. Segundo o Consenso para Controle do Câncer de Mama
de Cowden ou síndrome de Bannayan-Riley-Ruvalcaba.
(2004), os grupos populacionais com risco elevado para o
desenvolvimento do câncer de mama são os seguintes:
●
Pacientes que apresentem parentes de 1º grau com alguma
das síndromes descritas anteriormente.
●
Mulheres com história familiar de pelo menos um
parente de primeiro grau (mãe, irmã ou lha) com Deve começar a partir dos 30 anos:
diagnóstico de câncer de mama, abaixo dos 50 anos de ●
Exame clínico anual;
idade;
●
MMG anual;
●
Mulheres com história familiar de pelo menos um
parente de primeiro grau (mãe, irmã ou lha) com
●
RM anual.
diagnóstico de câncer de mama bilateral ou câncer de
Observações:
ovário, em qualquer faixa etária;
●
Mulheres com história familiar de câncer de mama 1. O autoexame e o exame clínico por ginecologistas não são
masculino; mais recomendados para rastreamento do câncer de mama
na população geral, independentemente da idade!
●
Mulheres com diagnóstico histopatológico de lesão
mamária proliferativa com atipia ou neoplasia lobular in 2. Mulheres entre 40 e 44 anos que tenham a oportunidade
situ. devem começar o rastreamento mamográ co anual.
6. Atenção às referências bibliográ cas dos concursos de 3. As mamogra as regulares devem prosseguir enquanto as
residência médica, assim como ao Manual do Ministério da mulheres estejam gozando de boa saúde ou tenham uma
Saúde adotado. expectativa de vida de dez anos ou mais longa.
Breast Cancer Screening for Women at Average Risk Guideline Update from the
American Cancer Society.
●
Não existem dados que
deem suporte para o
rastreamento com
ultrassonogra a para todas
as mulheres de risco
Ultrassonografia
populacional usual.
WWW.CANCER.ORG
●
Deve ser considerada
POPULAÇÃO GERAL como adjunta à
(A PARTIR DOS 45 ANOS) mamogra a nas mulheres
com mamas densas.
●
MMG anual até os 54 anos.
Não existem dados que
●
MMG bienal a partir dos 55 anos ou anual para aquelas que deem suporte para o
tiverem a oportunidade de prosseguir com o rastreamento rastreamento com
Ressonância magnética
anual. ressonância magnética para
as mulheres de risco
MULHERES COM RISCO AUMENTADO populacional usual.
Recomenda-se que seja ●
Mulheres com mutação
considerada em associação à dos genes BRCA 1 ou
mamogra a digital (COMBO BRCA 2, ou com parentes
Tomossíntese
ou sintetizada) no de 1° grau com mutação
rastreamento, quando provada, devem realizar o
disponível. rastreamento anual com
mamografia a partir dos
RASTREAMENTO DAS MULHERES DE ALTO RISCO 30 anos de idade.
●
Mulheres com risco ≥ 20%
ao longo da vida, calculado
por um dos modelos
matemáticos baseados na
história familiar, devem
realizar rastreamento
anual com mamografia
iniciando 10 anos antes
da idade do diagnóstico
do parente mais jovem
(não antes dos 30 anos).
●
Mulheres com história de
terem sido submetidas à
irradiação no tórax, entre
os 10 e 30 anos de idade,
devem realizar
rastreamento anual com
Mamografia
mamografia a partir do
8° ano após o tratamento
radioterápico (não antes
dos 30 anos).
●
Mulheres com diagnóstico
de síndromes genéticas
que aumentam o risco de
câncer de mama (como Li-
Fraumeni, Cowden e
outras) ou parentes de 1°
grau acometidos devem
realizar rastreamento
anual com mamografia a
partir do diagnóstico
(não antes dos 30 anos).
●
Mulheres com história
pessoal de hiperplasia
lobular atípica, carcinoma
lobular in situ, hiperplasia
ductal atípica, carcinoma
ductal in situ e carcinoma
invasor de mama devem
realizar rastreamento
anual com mamografia a
partir do diagnóstico.
diagnóstico (não antes posicioná-la no mamógrafo que possui silicone nas mamas, para que ele
modifique alguns parâmetros no aparelho. Devido à presença da prótese,
dos 25 anos).
o aparelho deverá exercer menor pressão sob as mamas. Além disso, o
●
Mulheres com história técnico deverá posicionar a prótese mais para cima e para trás (manobra
pessoal de hiperplasia de Eklund – Figura 12) a fim de que somente o tecido mamário seja
lobular atípica, carcinoma visualizado. Outro detalhe: quando a mamografia é realizada numa
lobular in situ, hiperplasia clínica confiável, não há risco de rompimento da prótese de silicone, mas
ductal atípica, carcinoma estudos comprovam que seu uso pode diminuir a capacidade de
ductal in situ e carcinoma diagnóstico precoce do câncer de mama em até 30%. Assim, se o
invasor de mama devem especialista achar que a imagem gerada é duvidosa, ele poderá requisitar
realizar rastreamento uma ultrassonografia mamária ou, preferencialmente, uma ressonância
anual com ressonância magnética.
magnética a partir do
diagnóstico.
Classi cação de BI-RADS
●
Conduta: repetir o exame de acordo com a faixa etária ou
prosseguimento da investigação, se o ECM for alterado.
Acompanhamento a cada dois anos ou anual a partir de 40
anos e anual a partir de 50 anos.
●
Avaliação de alterações benignas da mama.
●
Avaliação de mamas com processos in amatórios.
●
Avaliação de mamas lactantes.
●
Detecção e estudo de microcalci cações.
●
Estudo de lesões espiculadas à MMG, sem história de
abordagem cirúrgica prévia.
TOMOSSÍNTESE MAMÁRIA
CORE BIÓPSIA
PUNÇÃO COM AGULHA GROSSA OU BIÓPSIA DE FRAGMENTO OU
Estudos retrospectivos demonstraram diminuição da taxa de reconvocação BIÓPSIA PERCUTÂNEA COM AGULHA GROSSA
de até 42% quando a tomossíntese é associada à mamografia digital no
A Punção por Agulha Grossa (PAG), ou core biopsy, é um procedimento
rastreamento, comparando com o uso da mamografia digital isolada. O uso
da tomossíntese isolada não apresentou a mesma redução. Assim, a eficácia ambulatorial, realizado sob anestesia local, que retira fragmento de tecido
da tomossíntese isolada na substituição da mamografia convencional não mamário para o exame histopatológico por meio de dispositivo automático
está comprovada. para biópsia (pistola), que utiliza agulhas de core de 12 ou 14 Gauge e
pistola própria que obtém fragmentos filiformes do tumor para exame
histopatológico. Requer anestesia local (botão anestésico) e mini-incisão na
Mesmo com resultados bastante promissores, a tomossíntese é um método
pele com lâmina de bisturi. Posiciona-se a agulha pelo pertuito do bisturi até
ainda em estudo. Portanto, seu uso ainda não está consolidado no
a superfície da lesão. A agulha é acoplada a uma pistola. Vários disparos
rastreamento do câncer de mama e não existe um protocolo de
são realizados e amostras de fragmentos são obtidas.
exame definido. Portanto, ainda não está estabelecido se ela deve ser
realizada em uma ou duas incidências e se sempre deve ser acompanhada de
uma mamografia digital.
A introdução da PAG oferece uma opção minimamente invasiva para o
Desvantagens ●
Resultados inconclusivos.
diagnóstico das lesões da mama. Com desempenho semelhante à biópsia
cirúrgica, possui elevada precisão diagnóstica e tem as seguintes vantagens: ●
Pode ocasionar sangra‐
custo 25 a 50% menor; não necessita internação e raramente apresenta mentos, infecção e
complicações; causa menor trauma local, com mínimo de lesões cicatriciais pneumotórax.
que possam gerar imagens pseudotumorais na mamografia; é um ●
Di culdade para acessar:
procedimento rápido e bem tolerado pelas pacientes, com recuperação mais
rápida e, portanto, menor afastamento das atividades do lar e/ou do » Lesões menores que 5
» Lesões próximas à
parede torácica;
» Lesões no prolonga‐
mento axilar;
» Lesões em mamas
muito pequenas.
MAMOTOMIA
BIÓPSIA PERCUTÂNEA A VÁCUO
Indicações ●
Nódulo sólido.
●
Microcalci cações FIG. 16 MAMOTOMIA.
agrupadas.
●
Densidade assimétrica.
●
Distorção de parênquima. Em comparação com a biópsia percutânea com agulha grossa, a biópsia a
vácuo tem as vantagens de obter maior número de fragmentos, maiores e
Vantagens ●
Simplicidade.
mais consistentes, com melhor desempenho nas microcalcificações, com
●
Rapidez. uma única inserção da agulha. As desvantagens são o custo elevado e a
pequena disponibilidade.
●
Menor trauma e custo do
que a biópsia cirúrgica.
Em determinadas situações, retira-se toda a lesão para avaliação
●
Diagnóstico de certeza
histopatológica. É um importante método diagnóstico que apresenta maior
ambulatorial.
custo do que a core biópsia e exige treinamento particular para sua
execução.
Geralmente, não está indicada nos nódulos palpáveis, pois métodos menos Indicada nos casos de lesões menores. Consiste na retirada completa da
sofisticados e de menor custo são recomendados neste caso. lesão. O in print celular é obtido através da fixação, em lâmina, de material
obtido por estas biópsias, no qual a lâmina é “carimbada” diversas vezes
A Tabela 23 resume as indicações, vantagens e desvantagens do pela peça cirúrgica, que depois é encaminhada ao patologista.
procedimento.
Incisional
●
Pode ocasionar
Desvantagens sangramentos, infecção e
pneumotórax.
BIÓPSIA CIRÚRGICA
No caso das lesões não palpáveis, a biópsia deve ser orientada por
Marcação Pré-Cirúrgica (MPC), com a finalidade de marcar a lesão,
proporcionando a retirada econômica de tecido mamário, importante
parâmetro a ser considerado, principalmente se a lesão for de natureza
benigna. A MPC pode ser guiada por raios X (estereotaxia), por
ultrassonografia e por ressonância magnética. Para marcar a lesão, pode-se
FLUXOGRAMA 3
utilizar um fio metálico ou marcador radioativo.
Obs.: a biópsia de congelação e o tratamento serão detalhados no tema “Doenças
Malignas da Mama”.
Excisional
As mulheres com resultado BI-RADS® 4 ou 5 deverão ser encaminhadas
SOBRE AS CONDUTAS PRECONIZADAS PELO CADERNO DE ATENÇÃO
para a unidade de referência secundária para investigação por exame
BÁSICA CONTROLE DOS CÂNCERES DE COLO DO ÚTERO E DA MAMA DO
histopatológico da lesão, preferencialmente por meio de PAG orientada
MINISTÉRIO DA SAÚDE (2013) NAS LESÕES PALPÁVEIS E NÃO PALPÁVEIS
por método de imagem. Uma vez confirmada a malignidade, deverão ser
encaminhadas para a unidade de referência terciária para início do
Conforme o resultado do ECM e dos exames de imagem, a mulher pode ser
tratamento. Nos casos em que a punção por agulha grossa for
encaminhada a um serviço de referência para prosseguir a investigação
inconclusiva, a investigação deverá prosseguir com biópsia cirúrgica,
diagnóstica ou retornar à rotina do rastreamento. As principais condutas
realizada em unidade de referência secundária ou terciária, dependendo
para lesões palpáveis e não palpáveis estão a seguir especificadas.
do fluxo estabelecido em nível local.
Lesões palpáveis
Mulheres com resultado BI-RADS® 0 deverão ser submetidas a novos
exames de imagem para reclassificação da lesão e deliberação da
Em mulheres com menos de 35 anos, a ultrassonografia é o método de conduta conforme categoria final.
escolha para avaliação das lesões palpáveis. A partir dos 35 anos,
recomenda-se a mamografia, podendo, nos casos anteriormente
O resultado categoria 6 é pouco provável na Atenção Primária à Saúde,
indicados, ser complementada pela ultrassonografia.
pois a mulher com diagnóstico de câncer já deve estar inserida em
unidade terciária para tratamento.
As pacientes com achados benignos sem indicação cirúrgica deverão
permanecer em acompanhamento de rotina na unidade de atenção Fonte: Ministério da Saúde – Caderno de Atenção Básica Controle dos Cânceres de Colo do Útero e
primária, enquanto aquelas com achados benignos com indicação da Mama (2013).
MASTITE
Papiloma Intraductal
VIDEO_09_GIN4
Corresponde a um tumor da árvore ductal, que acomete principalmente os
Mastite é um processo infeccioso, agudo ou crônico, que pode acometer
ductos subareolares principais. É relativamente frequente. É solitário,
todos os tecidos mamários (glandular, subcutâneo ou pele). Cabe aqui
normalmente não excede 2-3 mm e se localiza nos ductos terminais. Possui
lembrar que a mastite não é o único processo inflamatório das mamas.
como apresentação clínica mais comum a presença de descarga papilar
uniductal serossanguinolenta (50%) ou sanguinolenta (50%), muitas vezes
espontânea ou à compressão do ducto dilatado a montante. A faixa etária Mastite Aguda Puerperal
mais acometida situa-se entre os 30 e 50 anos. Na presença de nódulo e
derrame papilar predomina a investigação do nódulo. A abordagem
terapêutica já foi discutida no tópico derrame papilar.
É a mastite mais comum. Na maioria das vezes deriva de germes saprófitas ● Esteatonecrose ou necrose gordurosa ou granuloma
da pele. Em geral, a presença de fissuras mamárias resulta em quebra dos lipofágico ou citoesteatonecrose: a necrose gordurosa geralmente
mecanismos de defesa do organismo e em aumento do número de bactérias se associa à história de trauma imperceptível ou não. Mas também pode
sobre a pele da mama. A penetração dos germes ocorre pelos linfáticos ocorrer após a cirurgia mamária prévia (ressecção segmentar) ou
superficiais, expostos pelas fissuras mamilares. radioterapia. Ela resulta da saponificação asséptica da gordura por meio
da lipase do sangue e do tecido.
O principal agente etiológico é o Staphylococcus aureus. Pode ser Acomete principalmente mulheres na pós-menopausa com mamas
encontrado com menor frequência o Staphylococcus epidermidis e o volumosas. No entanto, pode ocorrer em pacientes mais jovens.
Streptococcus do grupo B. Nas formas graves, com a consequente O exame físico evidencia tumoração endurecida, mal definida, fixa ao
evolução para ulceração e necrose, associam-se bactérias Gram-negativas plano adjacente e livre dos planos profundos, acompanhada de equimose
aeróbicas (E.coli, Pseudomonas e Serratia) ou germes anaeróbios, (próxima à tumoração) e retração de pele ou da papila. A dor pode ou
como os bacteroides. não estar presente. Em geral, não ultrapassa 2 a 3 cm de diâmetro.
Normalmente, as lesões regridem espontaneamente. A retirada cirúrgica
Possui como fatores de risco a primiparidade e idade menor que 25 anos, da lesão é raramente necessária. O exame histopatológico confirma a
ingurgitamento mamário, fissura mamilar, infecção da rinofaringe do benignidade das lesões.
lactente, má higiene e anormalidades mamilares. ●
Eczema areolopapilar: em linhas gerais, é uma dermatite descamativa
e exsudativa do complexo areolopapilar, muitas vezes bilateral e
O processo tem início com a estase láctea. A seguir, surgem os sinais acompanhada de prurido. Pode ser localizada ou difusa. Nesse caso,
clássicos de inflamação: dor, calor, rubor, de início súbito associado à febre envolve totalmente o mamilo e a aréola.
alta (39 a 40ºC), calafrios e turgência mamária extensa. Pode cursar com Esta afecção se apresenta normalmente em mulheres jovens. Pode ser uni
adenopatia. ou bilateral.
Possui como causas a psoríase, dermatite seborreica, dermatite de
Inclui como medidas profiláticas a higiene vigorosa, a prevenção do contato (tecidos sintéticos dos sutiãs) e dermatite atópica.
ingurgitamento mamário e de fissuras.
O tratamento consiste no isolamento dos antígenos de contato
(desodorantes, cremes, roupa íntima) e no emprego de corticoides
O diagnóstico é facilmente estabelecido pela associação do quadro com o tópicos por 15 dias. Na ausência de melhora, a biópsia da pele da aréola
ciclo gravídico-puerperal, estase láctea e dor intensa. ou da papila se impõe. O principal diagnóstico diferencial é com a
doença de Paget.
O tratamento das pacientes envolve o uso de analgésicos, antitérmicos,
●
Ectasia ductal: consiste na dilatação dos ductos terminais e na estase
suspensão das mamas, drenagem manual do leite e antibioticoterapia. As
cefalosporinas de primeira geração são uma boa escolha (cefalexina). de secreções nos mesmos. Como consequência deste quadro, pode
Outras opções são a ampicilina, eritromicina e lincomicina. ocorrer descarga papilar (mais informações no tópico “Descarga
Papilar”) e um processo inflamatório crônico do ducto, que produz
fibrose tecidual, retração e/ou desvio da papila.
A evolução arrastada da mastite está frequentemente associada à presença
de germes resistentes aos antibióticos utilizados, dose insuficiente ou A natureza de sua etiologia é desconhecida.
evolução para abscesso mamário. A idade é o principal fator de risco e acomete mulheres no climatério ou
mais idosas (entre a quinta e oitava décadas de vida). Não exige
Só há indicação de suspensão do aleitamento da mama acometida por tratamento desde que o sintoma não seja espontâneo e abundante. Caso
mastite ou abscesso em duas situações clínicas: represente um incômodo para a paciente, está indicada a exérese do
sistema ductal terminal. Atualmente, a apresentação tumoral desta
afecção é rara, pois a consulta e o manejo terapêutico são realizados na
●
Drenagem purulenta espontânea pela papila;
fase de derrame.
●
Incisão cirúrgica para drenagem de abscesso flutuante muito próxima do
mamilo.
●
Abscessos mamários: em geral, resultam de mastites mal
diagnosticadas ou maltratadas. Normalmente, são múltiplos e
multiloculados. Podem envolver qualquer quadrante da mama. No
Outros Processos In amatórios entanto, em geral, predominam nos quadrantes inferiores devido à estase
Estes processos associam-se a traumas sobre a mama, dermatites, processos láctea e a dificuldade de drenagem. Os casos não lactacionais são mais
inflamatórios crônicos e ao abscesso subareolar recidivante. comuns nas mulheres na pré-menopausa.
A apresentação clínica é clássica com sinais inflamatórios. O diagnóstico
normalmente é clínico. A ultrassonografia pode ser empregada para
localização dos abscessos.
O Staphylococcus aureus é o agente frequentemente responsável,
mas alguns abscessos contêm organismos anaeróbicos.
O manejo terapêutico consiste na drenagem cirúrgica sob anestesia geral.
Além disso, outras medidas terapêuticas são necessárias: coleta do
material purulento para cultura, antibiograma, lavagem exaustiva das
cavidades, exérese de todo material necrótico, exploração digital das
lojas profundas do abscesso e drenagem das cavidades. A ●
Adenose não esclerosante.
antibioticoterapia deve obedecer ao antibiograma por no mínimo 14 dias.
●
Hiperplasia simples.
●
Abscesso subareolar recidivante: consiste em doença congênita da
●
Metaplasia apócrina.
papila em que o epitélio pavimentoso estratificado queratinizado da pele
da papila invade o epitélio ductal. Esta invasão implica em descamação ●
Mastite.
córnea, obstrução ductal terminal, estase de secreções, infecção ●
Cistos (macro ou micro).
secundária, granuloma e/ou abscesso com fistulização para a pele. Sem risco aumentado
●
Metaplasia escamosa.
Ocorre principalmente nas mulheres fumantes, dos 35 aos 50 anos. A (alterações não
evolução é lenta. Responde mal aos antibióticos de amplo espectro. proliferativas) ●
Ectasia ductal.
●
Fibroadenoma complexo.
●
Fatores histológicos. Risco moderadamente ●
Hiperplasia ductal atípica.
aumentado (5×) (alterações ●
Hiperplasia lobular atípica.
A quantificação do risco histológico é adquirida pelo acompanhamento, por proliferativas com atipias)
longos períodos, dos casos de afecção benigna submetidos à biópsia, e
Alto risco (10×) carcinoma ●
Carcinoma lobular in situ.
expressada em termos de risco relativo. O risco relativo para carcinoma
invasor a partir de afecções benignas foi determinado em uma reunião do in situ ●
Carcinoma dutal in situ.
Consenso do Colégio Americano de Patologistas, em 1986, alterado OBS.: as principais definições destas alterações encontram-se abaixo.
posteriormente por Page e Dupont. Os resultados, apresentados na
Tabela 24, dobram quando a história familiar de câncer de mama está
presente.
DEFINIÇÕES DAS ALTERAÇÕES MAMÁRIAS
NÃO PROLIFERATIVAS E PROLIFERATIVAS
TAB. 24 RISCO RELATIVO PARA CARCINOMA INVASIVO DA
MAMA BASEADO NO EXAME ANATOMOPATOLÓGICO
SEM ATIPIAS E COM ATIPIAS
DO TECIDO MAMÁRIO BENIGNO, ESTABELECIDO As Tabelas 25, 26 e 27 apresentarão as definições das alterações mamárias
PELO COLLEGE OF AMERICAN PATHOLOGISTS EM
não proliferativas, proliferativas sem atipias e proliferativas com atipias.
1986, MODIFICADO POR PAGE E DUPONT.
DIAGNÓSTICO CONCEITO
DIAGNÓSTICO CONCEITO ●
Excluir sempre câncer;
●
Preservar a estética sempre que possível;
Adenose esclerosante Aumento do número de
ácinos do lóbulo com brose. ●
Quantificar o risco para câncer a partir de uma biópsia benigna e propor
o esquema de seguimento;
Hiperplasia ductal florida Aumento do número de ●
Orientar e tranquilizar sempre a paciente.
camadas de células epiteliais
nos ductos com
preenchimento completo da
[ DIVERGÊNCIAS NA LITERATURA
luz ou arranjos complexos.
A seguir, apresentaremos algumas das divergências encontradas sobre as
Papiloma ductal isolado ou Proliferação intraductal doenças benignas da mama na literatura. Algumas delas já foram exploradas
solitário papilomatosa dos ductos nas provas de residência médica. Por este motivo, nas provas de
principais. Ginecologia, vale sempre a pena conferir as referências bibliográficas dos
concursos que você irá se submeter. Existem algumas situações em que os
Cicatriz radial Estrutura de arranjo radial
livros didáticos realmente não se entendem! Fique atento a elas!
com ductos obliterados
centrais e dilatados na
periferia.
RESTRIÇÃO DAS METILXANTINAS NO MANEJO DA DOR
MAMÁRIA
Hiperplasia ductal atípica Alteração que possui alguns, GINECOLOGIA AMBULATORIAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS
mas não todos os critérios (2016) E WILLIAMS GYNECOLOGY (2016)
para o diagnóstico de
Estes livros não fazem menção a esta divergência.
carcinoma ductal in situ.
TAB. 28 CARCINOMA IN SITU: ALTO RISCO (10×). MANUAL DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA DA SOGIMIG (2012)
DIAGNÓSTICO CONCEITO
O livro informa que todas os medicamentos e estratégias disponíveis foram Estes livros não fazem menção a esta divergência.
comparadas com placebo (vitamina E), na maioria dos estudos. E
categorizam a restrição de metilxantinas para tratamento se o benefício for
BEREK & NOVAK'S GYNECOLOGY (2020)
superior ao do placebo.
Este livro não faz menção a esta divergência.
DIVERGÊNCIAS NO USO DO ÁCIDO GAMALINOLEICO NO OBS.: para fins de prova de residência médica, são necessários mais estudos para recomendar o uso
de ACO no manejo terapêutico da dor mamária.
MANEJO DA DOR MAMÁRIA
BEREK & NOVAK'S GYNECOLOGY (2020) Para os tratados e livros de Mastologia, o derrame papilar corresponde à
saída de secreção pela papila fora do ciclo gravídico-puerperal e do período
Este livro informa que são necessários estudos adicionais para comprovar a
de lactação.
eficácia destes medicamentos.
OBS. 1: basicamente, não esqueça que existem fontes que consideram que há benefício no uso do Estes livros não definem o que é descarga papilar.
ácido gamalinoleico no manejo da dor mamária, e outras que consideram que não há benefício.
OBS.: para fins de prova de residência médica, inclua as descargas do ciclo gravídico-puerperal na
OBS. 2: na hora de responder às questões, escolha sempre a alternativa que não representa uma definição das descargas papilares.
controvérsia da literatura.
BEREK & NOVAK'S GYNECOLOGY (2020) A orientação atual da SBM deve ser seguida em condições ideais de
recursos para a assistência à saúde. A recomendação é a realização de
Esta fonte segue as recomendações anteriores da American Cancer
mamografia anual a partir dos 40 anos de idade, com a realização de um
Society.
exame basal prévio aos 35 anos. Perceba que é diferente do Ministério da
Saúde.
MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (6ª
EDIÇÃO, 2017) OBS.: para fins de prova de residência médica, caso o concurso não apresente uma referência
bibliográfica específica, siga as recomendações do Ministério da Saúde.
Este livro informa que a partir dos 40 anos todas as mulheres devem fazer
MMG anual, e as mulheres com história familiar ou pessoal importante
devem consultar seu médico a respeito da necessidade de começar a
CONTROVÉRSIAS NO TRATAMENTO DOS LIPOMAS
mamografia em idade mais precoce.
TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)
●
História de radioterapia no
tórax entre as idades de 10 ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)
a 30 anos.
A edição de 2006 informa que a conduta é cirúrgica. A edição de 2011
Mulheres com risco aumentado
●
Pacientes portadoras da informa que a conduta é cirúrgica e a própria macroscopia antecipa o
síndrome de Li-Fraumeni, diagnóstico.
síndrome de Cowden ou
síndrome de Bannayan- OBS.: para fins de prova de residência médica, a conduta pode ser cirúrgica ou expectante.
Riley-Ruvalcaba.
●
Pacientes que apresentem
CONTROVÉRSIAS NO AGENTE ETIOLÓGICO DA MASTITE
parentes de 1º grau com
AGUDA PUERPERAL
alguma das síndromes
descritas anteriormente. TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)
●
Exame clínico anual. Essa fonte informa que os germes mais relacionados à mastite puerperal
Deve começar a partir dos 30 aguda são o Staphylococcus aureus e o Staphylococcus epidermidis, e
anos
●
MMG anual.
espécies de Streptococcus. E complementa que bactérias, como a
●
RM anual. Escherichia coli, a Pseudomonas aeruginosa e o Proteus mirabilis, também
podem ser responsáveis pelo quadro infeccioso.
ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017) ROTINAS DE GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)
A mastite aguda é causada em 70% dos casos pelos estafilococos Excetuando o câncer de pele não melanoma, o câncer de mama é o segundo
penicilinase-resistentes; nos demais casos, por estreptococos, micro- tipo de tumor maligno mais frequente no Brasil e no mundo (somando
organismos anaeróbios (presentes em 36%) e colibacilos. mulheres e homens) e, “disparado”, o mais comum entre as mulheres. A
cada ano, aproximadamente 25% dos casos novos de câncer em mulheres
correspondem a tumores de mama. Para o Brasil, estimam-se que 66.280
MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (6ª
casos novos de câncer de mama, para cada ano do triênio 2020-2022. Esse
EDIÇÃO, 2017)
valor corresponde a um risco estimado de 61,61 casos novos a cada 100 mil
Os agentes etiológicos mais comumente encontrados são, em 60 a 80% dos mulheres.
casos, Staphylococcus, Haemophilus, E. coli e bacteroides.
Cabe aqui salientar que esses sinais e sintomas podem estar associados a
sinais e sintomas inflamatórios que dificultam o diagnóstico diferencial.
A história clínica coletada de maneira criteriosa e detalhada é fundamental São consideradas como fatores de risco as doenças benignas com padrão
para o estabelecimento do diagnóstico clínico e para a identificação de proliferativo (hiperplasia ductal ou lobular), principalmente se houver
grupos de risco. atipia. Já foi demonstrado que o risco relativo de câncer de mama é de 2,5 a
5,3 vezes maior para as hiperplasias atípicas, e de 1,6 a 1,9 para as
hiperplasias sem atipia.
FATORES DE RISCO
O carcinoma ductal in situ (precursor) e o carcinoma lobular in situ
Sexo
(marcador de risco e precursor) também são lesões de risco. Cabe aqui
Ser mulher é fator de risco! lembrar que alguns autores não consideram o carcinoma lobular in situ um
precursor (apenas um marcador de risco).
É bem mais frequente no sexo feminino, que representa 99% dos casos. O
sexo masculino é acometido por 1% dos tumores malignos de mama. No
Cicatriz Radial ou Lesão Esclerosante Complexa
entanto, essa estimativa pode aumentar nos casos de ginecomastia de
diversas etiologias. Pode simular um câncer de mama, tanto em exames histopatológicos
(macroscopia e microscopia) quanto na mamografia. Estudos recentes
sugerem que a cicatriz radial está associada a um risco aumentado de câncer
Idade
de mama futuro. Normalmente, representa um achado em tecido mamário
O pico de incidência de câncer de mama é controverso na literatura. Para excisado devido à outra anormalidade. Em geral, é múltipla.
fins didáticos, consideramos como fator de risco idade superior a 40 anos. Ocasionalmente pode ser tão grande a ponto de ser detectada pela
mamografia. Nestes casos, descreve-se uma massa espiculada indistinguível
do carcinoma, que requer estudo histopatológico para diferenciação.
Raça Branca
É muito importante que você saiba que a relação entre o tempo de uso de É maior a incidência do câncer de mama nos países em que o consumo de
TH e o aumento do risco de Ca de mama é muito controversa na literatura. DDT é maior, fato que ocorre analogamente em outros tipos de tumores.
Em linhas gerais, há a necessidade de novos estudos para resolver este
impasse. Radiação Ionizante
Uma recente metanálise demonstrou que dietas ricas em gorduras elevam a Sedentarismo
frequência do câncer de mama. Ele é mais encontrado entre as obesas,
sobretudo na pós-menopausa. É considerado um fator de risco, enquanto a prática de atividade física é
considerada um fator protetor.
Alguns livros didáticos não incluem a obesidade entre os fatores de No ano de 1994, foi evidenciada a primeira mutação genética deletéria
risco para o câncer de mama. envolvida com o câncer de mama e ovário, nomeada BRCA 1. Atualmente,
são conhecidas algumas mutações que interferem no aparecimento do
Vários estudos epidemiológicos também incluem tanto a dieta rica em câncer de mama. As de maior contribuição na frequência de aparecimento
gordura como a obesidade entre os seus fatores de risco. do câncer de mama são as mutações no gene BRCA 1 e BRCA 2.
EXAME FÍSICO
GIN104039
Lembre-se: a presença de tumor endurecido, de forma variável,
contornos irregulares, limites imprecisos e fixo (aderido a planos
profundos) ou pouco móvel é a apresentação clássica, mas nem sempre
ela é encontrada. Não se esqueça que os tumores podem, ainda, se
apresentar como assimetrias de volume importantes ou edema linfático de
pele. Os casos avançados podem revelar abaulamentos e retrações da pele
(peau d’orange), ulcerações da pele ou da papila e tumores exofíticos.
Pacientes jovens e com mamas mais densas podem mascarar os tumores por
mais tempo, com agravamento do seu prognóstico. Toda vez que for
encontrado um tumor, ele deve ser localizado, medido e relacionado com as
cadeias linfáticas axilares, supra e infraclaviculares. Os linfonodos
permeados pelo tumor encontram-se endurecidos e aderidos a planos
profundos ou pouco móveis.
A descarga papilar pode estar associada e é geralmente uniductal,
espontânea, intermitente. Normalmente, é do tipo água de rocha ou
sanguinolenta. Ocasionalmente, é serossanguinolenta.
Esta etapa foi descrita na parte de doenças benignas, e você deve revisá-la
exaustivamente. Chamaremos sua atenção apenas para os aspectos
relacionados ao câncer de mama.
PAAF
●
Os tumores sólidos são diagnosticados após a falha em aspirar líquido
com a PAAF. De qualquer forma, o material que for aspirado deverá ser
encaminhado para avaliação citológica. A citologia isoladamente não faz
o diagnóstico de câncer e não encerra a investigação de um nódulo
suspeito. Assim, diante de um nódulo suspeito, a citologia só possui
valor se for positiva. Se for negativa, é obrigatória a realização de
biópsia.
FIG. 1
Ultrassonogra a
FIG. 3
Mamogra a
É um exame não invasivo, de custo elevado, de alta sensibilidade e valor esta razão, deve ser indicada em casos específicos e não em substituição à
mamografia.
preditivo positivo de 100% para os tumores invasores maiores de 2 mm. A
RM não identifica microcalcificações, ou tumores intraductais ou invasores
menores que 2 mm. Cintilogra a
Radiogra a Simples
Radioguided Ocult Lesion Localization (ROLL) Existe incerteza sobre a sequência de eventos iniciais da evolução do câncer
da mama. Admite-se que o carcinoma da mama passe por uma fase in situ,
É um recurso empregado para efetuar a marcação da lesão subclínica
através da injeção de substância coloide de elevado peso molecular ligada onde a membrana basal está preservada, evoluindo para a ruptura desta
ao tecnécio 99, também orientada por método de imagem. Nesta técnica, a membrana, progredindo para a forma infiltrativa ou invasiva (carcinoma
retirada do segmento mamário é auxiliada pelo uso de um detector de raios infiltrante ou invasor). Porém, estudos de biologia molecular apontam para
gama. a possibilidade de o carcinoma invasor ter origem diferente do carcinoma in
situ, podendo se tratar de entidades distintas e não fases evolutivas de uma
mesma doença. O carcinoma invasor pode permanecer por tempo variável
DIAGNÓSTICO HISTOPATOLÓGICO como doença local, ou seja, limitada à mama, ou evoluir com propagação
regional e disseminação à distância. No carcinoma da mama, a
Os principais métodos que permitem o estudo histopatológico foram disseminação ocorre principalmente a partir da via linfática e mais
descritos na segunda parte deste capítulo – “Doenças Benignas da Mama”. raramente por via hematogênica pura.
Memorize as indicações, vantagens e desvantagens de cada um deles,
porque eles caem nas provas.
Exame de Congelação
Embora o câncer de mama possa disseminar para qualquer órgão, o Carcinoma Invasor
envolvimento de ossos, pulmões e fígado ocorre em mais de 85% das
mulheres que desenvolvem metástase à distância. Alguns autores também Obs.: ainda não se sabe se todos os tumores passam
consideram o cérebro como um sítio de metástases à distância. É importante necessariamente por todos esses estágios. Entretanto, já é consenso
lembrar que o carcinoma infiltrante tende a se disseminar, na literatura que o processo de proliferação celular ocorre de forma
preferencialmente, pela via linfática ou pela via hematogênica. insidiosa.
MEMORIZE
FIG. 6
Os subtipos podem ser encontrados em associação uns com os outros,
CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DO CÂNCER
principalmente nas formas não comedo. São as chamadas formas mistas.
DE MAMA
VIDEO_12_GIN4 O risco de acometimento da mama contralateral não é característico do
O câncer de mama apresenta um grupo de neoplasias epiteliais malignas CDIS
com grande diversidade estrutural. Em torno de 70 a 80% dos casos são
classificados como carcinoma ductal invasor sem que seja realizada a ●
Carcinoma Lobular In Situ (CLIS): não se apresenta como lesão
diferenciação entre os subtipos de carcinoma ductal que, por vezes,
palpável, normalmente não há expressão mamográfica, e não é visível
apresentam melhor prognóstico. Faremos menção apenas aos tipos
macroscopicamente ao exame histopatológico. Constitui um achado
histológicos mais importantes:
microscópico incidental a partir de um tecido mamário removido
cirurgicamente por outro motivo. É detectado mais frequentemente na
Carcinoma In Situ pré-menopausa, sugerindo influência hormonal no desenvolvimento ou
manutenção dessa lesão.
Corresponde à doença local, ou seja, à lesão restrita ao epitélio. Em outras
O padrão histológico é o de hiperplasia lobular atípica, com presença de
palavras: não ocorre infiltração do estroma.
células epiteliais pequenas, não coesas, dispostas no interior dos ácinos e,
por vezes, com extensão para os ductos terminais e intermediários.
Comumente, é abordado como uma etapa na sequência de eventos que vai
Alguns autores não o consideram uma lesão precursora como o CDIS.
da hiperplasia ao carcinoma invasor. No entanto, é importante reconhecer
Por outro lado, outros autores (Page e Fisher) o consideram como uma
que nem sempre este processo é contínuo. Assim, é provável que nem todos
lesão precursora do câncer de mama. Esta questão permanece uma
os carcinomas in situ evoluam para a forma invasiva e, inversamente, que
polêmica na literatura. No entanto, todos os autores concordam que o
nem todo carcinoma invasor passe obrigatoriamente pela etapa in situ.
CLIS representa um indicador biológico de aumento de risco
para o desenvolvimento de um tumor invasor, devido ao seu
É classificado nas formas lobular e ductal. Os adjetivos ductal e lobular não
grande potencial para multicentricidade e bilateralidade.
se referem necessariamente à topografia da lesão na árvore ductal, mas ao
Devido aos motivos expostos anteriormente, o CLIS deve ser tratado
fenótipo celular, já que praticamente todas as formas se originam da unidade
com biópsia excisional e acompanhamento meticuloso. Alguns autores
ducto terminal-lobular. As neoplasias lobulares originam-se quase sempre a
sugerem a realização da mastectomia profilática bilateral.
partir dos ácinos, mas as lesões ductais podem originar-se tanto em ácinos
quanto em ductos e, frequentemente, ocupam os dois compartimentos da
árvore mamária. A Tabela 1 a seguir apresenta as principais diferenças entre CDIS e CLIS.
●
Carcinoma Ductal In Situ (CDIS): é considerada lesão precursora
do câncer de mama. Na maioria das vezes, tem prognóstico
favorável. Caracteriza-se à microscopia pela presença de dilatação da
luz dos ductos e pelo achado de células de padrão ductal com alterações
malignas que não invadem a membrana basal.
O tipo celular característico é a célula grande, poligonal, coesa, com
tendência aos arranjos ductal e/ou papiliforme e graus variáveis de atipia
nuclear. A disposição dessas células no interior dos ductos define os
subtipos histológicos. Os principais são:
» Sólido: as células ocluem totalmente o espaço luminal dos ductos Corresponde à doença invasiva, ou seja, quando ocorre infiltração do
envolvidos; estroma mamário.
PROGNÓSTICO
Antes de aprofundarmos o conhecimento nos fatores
prognósticos do câncer de mama, é importante frisar que fator
preditivo não é sinônimo de fator prognóstico. O domínio deste
conceito é importante, pois ele é cobrado em provas.
TAB. 14
●
Fator prognóstico: é qualquer marcador que pode ser associado ao Mamas Muito Pequenas
tempo livre de doença ou sobrevida global na ausência de terapia
Existem autores que advogam uma maior ocorrência de recidiva, sobretudo
sistêmica adjuvante. São considerados fatores prognósticos:
nas acometidas por tumores de maiores dimensões, pela impossibilidade de
características demográficas, anatomopatológicas (ex.: tamanho tumoral,
retirar o tumor com uma boa margem de segurança.
tipo histológico, grau histológico etc.) e alguns marcadores biológicos
associados ao crescimento e à progressão tumoral (índice mitótico,
fração de fase S, Ki67). Linfonodos Axilares
●
Fator preditivo: é qualquer marcador associado à resposta ou à sua A presença de linfonodos positivos representa o principal fator de risco para
falta para uma terapia específica. O status dos receptores hormonais e o recidiva sistêmica da doença. É recomendação da maior parte dos
HER2 são considerados fatores preditivos e prognósticos do câncer de oncologistas que seja efetuada terapêutica sistêmica sempre que houver
mama. acometimento linfonodal. O prognóstico piora em função do número de
linfonodos acometidos. Além disso, o comprometimento extracapsular dos
linfonodos aumenta a chance de recidiva.
AVALIAÇÃO DOS FATORES PROGNÓSTICOS
A avaliação dos fatores prognósticos é imprescindível para a
definição da conduta terapêutica a ser instituída e para avaliar
as chances de recidiva local ou sistêmica. Aqui, serão abordados
apenas os fatores prognósticos tradicionais.
FATORES DE RECIDIVA
Margens da Lesão
FIG. 7
Idade
Tipo Histológico
Os carcinomas in situ ou não invasores, e alguns invasores bem Recentemente, para lidar com esta limitação da morfologia, tem-se
diferenciados – mucinoso, tubular, medular, papilar – possuem melhor classificado também os carcinomas mamários com base em perfis de
prognóstico. expressão de marcadores moleculares (imuno-histoquímica) e em perfis de
expressão gênica (tissue microarrays e exames de perfil de expressão de
múltiplos genes como Oncotype™ e Mammagene®) – Tabela 5.
Receptores Hormonais (ER)
●
Ploidia: quanto maior o número de DNA aneuploide, pior o prognóstico Estes métodos têm sido de importância prática no momento da decisão entre
da doença. tratamento conservador ou intervenção com quimioterapia quando as lesões
são pequenas (usualmente menores que 1,0 cm) e com demais fatores
● Receptor do fator de crescimento epidérmico (EGF receptor):
prognósticos tradicionais favoráveis (ausência de metástase sistêmica, tipo
se presente, tem relação com piora do prognóstico e ER negativo. histológico favorável, grau histológico baixo, estágio da axila negativa,
●
Cathepsina D: é a protease envolvida no mecanismo molecular avaliação dos receptores hormonais positiva, avaliação da expressão do
associado com a migração e invasão das células tumorais. Seu nível HER2 negativa).
elevado é relacionado com menor intervalo livre de doença e menores
taxas de sobrevida. Mais detalhes estão disponíveis na versão digital dessa apostila.
●
HER2/neu: oncógene presente no cromossomo 17 que, quando
amplificado, é relacionado à maior incidência de axila positiva, GRADUAÇÃO HISTOLÓGICA E ÍNDICE PROGNÓSTICO DE
resistência à hormonioterapia e pior prognóstico. NOTTINGHAM
●
Expressão aberrante da E-caderina: em relação à E-caderina, sabe-
Além da determinação dos estágios de desenvolvimento, extensão e do tipo
se que é uma molécula de adesão que permite a associação entre as
histológico, os carcinomas são graduados histologicamente (Tabela 6 e
células, mantendo a integridade dos tecidos. Particularmente no câncer
Quadro 1) na tentativa de prever a agressividade intrínseca potencial
de mama, a expressão aberrante da E-caderina, comum no câncer ductal
(biológica) dentro de um mesmo tipo histológico em um determinado
invasivo, tem sido correlacionada à ocorrência de metástases à distância.
estágio de desenvolvimento.
●
Ki67: o Ki67 é um anticorpo monoclonal, específico para um antígeno
nuclear expresso apenas em fase de proliferação. Ele identifica células,
normais e tumorais, em diferentes estágios do ciclo celular (G1 tardio, S,
M e G2). Assim, em outras palavras, é um fator de proliferação celular
TAB. 6 GRADUAÇÃO HISTOLÓGICA – NOTTINGHAM.
CONTAGEM MITÓTICA*
As classificações essencialmente baseadas na morfologia (forma das células
e tecidos malignos à microscopia) não significam necessariamente 0-11 1 ponto
prognósticos distintos quando agrupados pelo estadiamento TNM.
12-22 2 pontos
> 23 3 pontos
*Com a objetiva de 400× do microscópio Leica®, modelo 020-528-500 DM/L5 (como cada marca
de microscópio tem um tamanho de campo para a objetiva de 400×, deve a contagem ser
ajustada a cada modelo).
QUADRO 1
ÍNDICE PROGNÓSTICO DE NOTTINGHAM (PARA CARCINOMAS
INVASORES)
O índice prognóstico de Nottingham pode ser utilizado para discriminar O tratamento se baseia nos fatores prognósticos citados. Visa o controle
as pacientes em três grupos baseados na sobrevida em 15 anos locorregional e sistêmico do câncer de mama, de forma a proporcionar uma
de acompanhamento médio: boa qualidade de vida às pacientes e diminuir as taxas de mortalidade.
●
Valores inferiores a 3,4 = 80% de chance de sobreviver à doença;
TRATAMENTO CIRÚRGICO
●
Entre 3,4 e 5,4 = 42% de chance de sobreviver à doença;
Consiste na abordagem do tumor primário e da axila, com ou sem
●
Superiores a 5,4 = 13% de chance de sobreviver à doença. associação da radioterapia. Indicada para as pacientes sem doença
metastática à distância (ou seja, portadoras de câncer de mama até o estágio
III).
RESUMO DOS FATORES PROGNÓSTICOS
VIDEO_13_GIN4
●
Tumorectomia: corresponde à ressecção total do tumor, sem a
preocupação de se estabelecer margem de segurança;
●
Setorectomia ou segmentectomia: consiste na ressecção do setor
que engloba o tumor, com margem de segurança de, pelo menos, 1 cm;
●
Quadrantectomia: é a ressecção de qualquer setor mamário que
engloba o tumor, com ampla margem de segurança, da pele suprajacente
e da aponeurose do músculo grande peitoral subjacente.
CIRURGIAS RADICAIS
Na prática, o que diferencia a quadrantectomia da segmentectomia é
que, na primeira é retirado um fragmento de pele da mama. Isso não
MASTECTOMIA
acontece na segmentectomia.
Está indicada nos casos de tumores malignos infiltrantes que ocupam mais
Vale aqui lembrar que a realização da cirurgia conservadora impõe de 20% do volume da mama ou em casos de tumores localmente avançados.
sempre a realização da radioterapia adjuvante, ou seja, após a cirurgia
(mais detalhes no tópico sobre radioterapia). Pode ser classificada como:
Contraindicações relativas:
ESVAZIAMENTO AXILAR
● Gestação;
● Microcalcificações suspeitas de malignidade difusas na mamografia; A cadeia linfática axilar é a mais acometida. A abordagem axilar
● Tumores estágio III (considerar a relação tamanho do tumor/mama) – a está indicada sempre que o tumor primário for infiltrante,
paciente pode ter uma mama de grande volume, permitindo a independentemente de seu volume ou da cirurgia realizada para extirpá-lo.
ressecção de tumores grandes. Assim, tanto os tumores pequenos ou mesmo as lesões subclínicas que
permitam cirurgias conservadoras na mama requerem abordagem axilar,
desde que seja identificada a invasão estromal (tumores infiltrantes). Esta
Portanto, a relação tumor/mama, informação que frequentemente as
abordagem pode ser realizada pela técnica do linfonodo sentinela ou pelo
bancas de residência médica omitem na confecção das questões de
esvaziamento axilar clássico.
residência, é determinante para a realização da cirurgia conservadora.
Por definição, o carcinoma ductal in situ caracteriza-se por uma TÉCNICA DO LINFONODO SENTINELA
proliferação de células epiteliais malignas dentro dos ductos mamários,
confinadas pela membrana basal, sem evidência de invasão do estroma. Em 1994, foi desenvolvida uma técnica denominada linfonodo sentinela
(Figura 9) que objetiva determinar a real necessidade de esvaziamento
Assim, não possui potencial para metastatizar para linfonodos regionais, axilar completo. Injeta-se na mama afetada um corante vital (isossulfan azul
exceto na presença de componente invasor. Dessa forma, a avaliação axilar ou azul patente) ou um coloide marcado com tecnécio 99. O primeiro
através da biópsia de linfonodo sentinela (mais detalhes adiante) não deve linfonodo de drenagem linfática é identificado e retirado cirurgicamente, e é
ser realizada rotineiramente, apenas em casos selecionados. essa estrutura que é denominada como linfonodo sentinela. Vale ressaltar
que ele pode estar situado na cadeia mamária interna. A seguir, é realizado
exame histopatológico de congelação que define a presença de
ESVAZIAMENTO AXILAR CLÁSSICO
comprometimento tumoral.
Abordagem cirúrgica clássica consiste na ressecção dos linfonodos contidos
nos três níveis da axila (Figura 8).
FIG. 9
FIG. 8
●
Nível I: linfonodos localizados lateralmente à borda externa do músculo
peitoral menor;
●
Nível II: linfonodos localizados sob e entre as bordas do músculo
peitoral menor;
●
Nível III: linfonodos localizados medialmente à borda interna do
músculo peitoral menor.
RADIOTERAPIA
●
Idade inferior a 35 anos; Consiste na utilização de substâncias que inibam ou diminuam a atividade
dos hormônios endógenos (estrogênio e progesterona) sobre a mama. Por
●
Tamanho do tumor: o tamanho da neoplasia está relacionado com o esta razão, está indicada para os tumores receptores hormonais positivos
número de linfonodos envolvidos e com o tempo de desenvolvimento de (RE+ e RP+).
metástases. Há consenso de que, em tumores maiores que 1 cm, ela está
indicada;
Pode ser ablativa ou cirúrgica (ooforectomia), ou medicamentosa.
●
Grau de diferenciação: pouca diferenciação nuclear é considerada fator
de mau prognóstico; Assim como a QT, a hormonioterapia pode ser empregada como terapia
●
Status axilar: quanto maior o número de linfonodos axilares envolvidos, neoadjuvante, adjuvante ou no controle de metástases à distância. Mas é
maiores serão os índices de recidiva e menores os índices de sobrevida; importante lembrar que não deve ser administrada ao mesmo tempo em que
a QT.
●
Receptores hormonais: a ausência dos receptores de estrógeno ou
progesterona no tumor indica pior prognóstico;
Tumores da pré-menopausa e em mulheres jovens possuem maior chance de
●
Invasão angiolinfática: a presença de invasão é considerada fator de mau ser receptor negativo. Sabe-se que esses receptores estão presentes nos
prognóstico; núcleos das células tumorais e possuem funções vitais para o
●
Expressão do HER2. desenvolvimento da doença.
Em linhas gerais, sua indicação é individualizada na prática clínica. Os Os medicamentos mais utilizados por períodos de tempo variáveis são:
livros didáticos são evasivos e não disponibilizam indicações concretas.
Mas para fins de prova de residência médica, ela está quase sempre indicada
nos tumores infiltrantes da mama.
Observações:
em estrógenos pela enzima aromatase. Na pré-menopausa, a principal fonte biológica, fato esse justificado pela existência de diversas formas
de estrógenos é o próprio ovário, e a inibição da aromatase não levará à moleculares. Diferentes perfis de expressão gênica foram caracterizados,
possibilitando a identificação de subtipos moleculares distintos, com fatores
supressão hormonal desejada – para essas pacientes, a principal opção de
tratamento é o tamoxifeno, que age diretamente sobre os receptores prognósticos e alvos terapêuticos específicos.
estrogênicos.
São cinco os subtipos moleculares do Ca de mama: luminal A, luminal B,
Existem estudos em andamento avaliando se existe redução adicional de superexpressão de HER2, basaloide e mama-normal símile. Recentemente,
risco prolongando o tratamento de cinco para até dez anos ou utilizando outro subtipo foi descoberto, o claudin-low.
CARCINOMA IN SITU
FLUXOGRAMA 1
Pacientes com CDIS apresentam um risco dez vezes maior de desenvolver
carcinoma invasor que a população geral. Além disso, 50% dos CDIS de
alto grau evoluem para carcinoma invasor, 40% dos CDIS de baixo grau
evoluem para carcinoma invasor e 70% dos carcinomas invasores têm
componente in situ.
SARCOMA MAMÁRIO
Os estudos prospectivos abrangendo esta situação são escassos. Grande O procedimento de escolha para diagnóstico histopatológico é a
parte das evidências clínicas ainda é limitada a séries retrospectivas e relatos core biópsia, que pode ser realizada com segurança durante a gestação.
de casos. Os maiores riscos de infecção e fístula mamária podem ser minimizados se
a paciente suspender o aleitamento por pelo menos 48 horas previamente à
biópsia.
DEFINIÇÃO
É definido como o câncer de mama diagnosticado no período A PAAF para avaliação citológica não é recomendada, pois as
gestacional, desde a concepção até um ano após o parto ou alterações hormonais durante a gravidez podem levar a resultados falso-
qualquer período durante a lactação. positivos e falso-negativos.
EPIDEMIOLOGIA TRATAMENTO
O câncer de mama associado à gestação é um evento relativamente As estratégias terapêuticas são determinadas pela biologia do tumor,
incomum. estadiamento da doença, idade gestacional e preferências da
paciente, devendo envolver equipe multidisciplinar.
A apresentação clínica do câncer de mama em gestantes/lactantes não difere ocorrência de abortamento espontâneo.
Esses livros não fazem qualquer menção quanto à idade de maior incidência
Diante do receio de alguns cirurgiões em prolongar o tempo cirúrgico na
de câncer de mama.
reconstrução mamária de gestantes com câncer de mama, foi avaliado o
impacto do procedimento nessa população. O tempo médio de cirurgia foi
inferior a duas horas e não houve complicações maternas e fetais, ou seja, a MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (6ª
reconstrução mamária imediata nesse grupo de pacientes é segura e EDIÇÃO, 2017)
deve ser realizada quando indicada. Esse livro informa que o pico de incidência ocorre entre 45-55 anos e que a
doença é considerada pouco comum antes dos 35 anos.
TRATAMENTO SISTÊMICO
ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)
A quimioterapia (QT), quando administrada no primeiro trimestre de
O livro informa que embora as estatísticas demonstrem aumento mundial da
gravidez, tem sérios efeitos teratogênicos. Entretanto, no segundo
sua incidência em todas as idades, sabe-se que após os 35 anos e,
e terceiro trimestres, não resulta em malformações estruturais,
especialmente, após os 50 anos, há crescimento progressivo de sua
mas pode acarretar prematuridade, rotura prematura das membranas
incidência.
ovulares e crescimento intrauterino restrito.
Este livro cita a TH entre os fatores de risco para câncer de mama, mas não GINECOLOGIA AMBULATORIAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS
(2016)
tece comentários adicionais.
Esse livro não faz menção a esta informação.
pontos principais
●
Córtex: camada externa que contém o epitélio germinal que
● Conhecer as principais particularidades dos tumores de ovário
origina os folículos. É nesta região que encontramos os folículos
benignos, limítrofes e malignos.
ovarianos em diferentes estágios de desenvolvimento;
● Saber os principais marcadores tumorais.
●
Medula: camada central constituída por estroma de tecido
● Distinguir as diferenças ultrassonográficas nos achados dos tumores conjuntivo frouxo com maior número de fibras elásticas,
potencialmente benignos e malignos. algumas fibras musculares lisas, além de considerável
● Entender por que não está indicado o rastreamento do câncer de quantidade de vasos espiralados (principalmente veias), o que
ovário na população geral. confere a esta camada um aspecto cavernoso;
● Saber os fatores de risco e proteção do câncer de ovário. ●
Hilo (rete ovarii): região da zona de união do ovário ao mesovário,
● Conhecer os principais fatores prognósticos do câncer de ovário. através da qual se inserem as fibras nervosas e os vasos
sanguíneos. O mesovário corresponde a um folheto duplo de peritônio
● Saber o estadiamento do câncer de ovário e as condutas
que envolve os ovários por onde transitam os vasos e nervos ovarianos.
terapêuticas preconizadas para cada estádio.
● Conhecer as principais controvérsias na literatura sobre o assunto. A vascularização arterial se faz pelas artérias ovarianas, ramos da
Sempre que existir algo divergente na literatura, você encontrará um aorta abdominal que transitam pelos ligamentos infundíbulo-pélvicos e
símbolo para que você fique de vivo! Todas as divergências
chegam aos ovários pelo mesovário, e pelos ramos ovarianos da artéria
serão listadas ao final do capítulo.
uterina.
Na mulher nulípara, ocupam a fossa ovárica (fossa de Waldeyer) que O ovário é uma glândula com funções gametogênicas e endócrinas,
corresponde a uma fossa peritoneal de formato triangular, limitada que são reguladas através do eixo hipotálamo-hipófise-ovário. Os
pela artéria ilíaca interna, pelo ureter e pela inserção do estímulos se iniciam nos neurônios hipotalâmicos do núcleo
ligamento largo na parede lateral da cavidade pélvica. Aí se situa arqueado, que são encarregados da síntese e secreção pulsátil do
graças à suspensão do ligamento suspensor do ovário (ligamento hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), que por sua vez
infundíbulo pélvico), ligamento próprio do ovário (útero-ovárico) e regula a síntese e liberação das gonadotrofinas (hormônio folículo-
ligamento de coadaptação (fixa a extremidade tubária do ovário ao estimulante – FSH, hormônio luteinizante – LH). As gonadotrofinas viajam
infundíbulo da tuba uterina, assegurando o contato entre eles – Figura 1). pela circulação sistêmica para se ligarem aos seus receptores específicos nas
gônadas femininas. No ovário, o FSH induz a maturação folicular bem
como a síntese de estrogênios e progesterona. O LH estimula a
secreção de andrógenos e a luteinização dos folículos pós-
ovulatórios.
OVÁRIOS
●
Intersticial: formado por células do estroma e da teca externa;
As doenças benignas dos ovários incluem uma variedade de entidades.
●
Folicular: contém o oócito, as células da granulosa e as células da teca Desde a aplasia ovariana até os ovários supranumerários, passando por
interna. alterações funcionais até sua insuficiência prematura. A diversidade
histológica dos ovários, compostos por três tecidos de origem embriológica
De acordo com sua organização estrutural, definem-se cinco fases de distinta, dificulta a identificação de fatores de risco para as doenças
desenvolvimento folicular (Figura 3): benignas do ovário. Dessa forma, os tumores ovarianos podem corresponder
a tumores não neoplásicos, tumores proliferativos (neoplásicos),
tumores sólidos benignos, tumores funcionantes e tumores
limítrofes (Quadro 1).
●
Folículos primordiais;
●
Folículos primários;
●
Folículos secundários;
●
Folículos terciários;
●
Folículos de Graff (folículo pré-ovulatório).
FISIOLOGIA OVARIANA
No período pós-menopausa, os tumores benignos são menos comuns e
aumenta a incidência de malignidade.
VIDEO_14_GIN4
QUADRO 2
CAUSAS DE MASSA ANEXIAL POR FREQUÊNCIA E FAIXA
ETÁRIA
INFÂNCIA
ADOLESCÊNCIA
● Cisto funcional
● Gravidez ectópica
● Teratoma cístico benigno ou outro tumor de células germinativas
● Tumor ovariano epitelial
MENACME
● Cisto funcional
● Gravidez ectópica
● Tumor ovariano epitelial
PERIMENOPAUSA
PÓS-MENOPAUSA
De um modo geral, os tumores dessa faixa etária devem ser tratados como É o cisto funcional mais comum (Figura 1). É definido como um
doenças benignas, pois, na maioria das vezes, resolvem-se espontaneamente cisto simples que possui mais que 3 cm. Normalmente, apresenta
após a menstruação. A opção cirúrgica deve ser considerada apenas após menos que 8 cm no maior diâmetro.
novo exame ultrassonográfico que mostre persistência da massa.
provavelmente em consequência do estímulo excessivo do hormônio vômitos. Sabidamente, a dor piora com a atividade física e com a mudança
de posição. O sinal mais importante é a constatação de uma grande massa
luteinizante (LH).
pélvica ao exame físico. Pequena elevação da temperatura e leucocitose
podem acompanhar o infarto anexial. Deve-se suspeitar do diagnóstico em
Sua evolução natural é semelhante à do cisto folicular, apresentando qualquer mulher com dor aguda e massa anexial.
regressão espontânea na maior parte dos casos.
TUMORES PROLIFERATIVOS
NEOPLÁSICOS
TUMORES EPITELIAIS
Cistoadenoma Seroso
FIG. 4 CISTOADENOMA SEROSO.
Os tumores epiteliais serosos originam-se do epitélio superficial do
ovário, representam 15 a 25% dos tumores benignos e são bilaterais em 7 a
12% dos casos (Figura 4).
A faixa etária de maior incidência situa-se entre 20 e 50 anos. São
frequentemente multiloculares, raramente com septações grosseiras,
podendo apresentar projeções papilares e calcificações e, ao corte, mostram
conteúdo claro ou acastanhado. Possuem consistência firme, base larga e
coloração pálida medindo de cinco a quinze centímetros, raramente
atingindo maiores dimensões. Corpos de Psammoma, que são áreas de
granulações calcificadas, podem estar presentes espalhados pelo tumor e
podem ser identificados pelos raios X. Geralmente, esses tumores são
assintomáticos e detectados em exames pélvicos de rotina ou à
ultrassonografia.
Cistoadenoma Mucinoso
VIDEO_15_GIN4
O cistoadenoma mucinoso (Figura 5) representa 15% dos tumores Representa 10 a 15% de todos os tumores ovarianos. É normalmente
benignos. São bilaterais em 5 a 7% dos casos. São geralmente mais unilateral. A bilateralidade incide em 10 a 12% dos casos. O risco de se
volumosos que os tumores serosos, constituindo os grandes tumores tornar maligno é raro (1%) e maior na pós-menopausa. A neoplasia maligna
abdominais, chegando até a 50 cm de diâmetro. mais comum que se desenvolve no teratoma inicialmente benigno é o
carcinoma de células escamosas.
FIG. 7 ENDOBAG.
A maioria dos casos regride espontaneamente, mas o aumento persistente
do tumor indica a cirurgia.
FEMINILIZANTES
A conduta no cisto dermoide torcido depende da presença de infarto ou
necrose. Se o tecido não sofreu infarto, a torção pode ser desfeita e realizada
Tecomas
cistectomia. Se houver necrose, deve ser realizada ooforectomia.
Originam-se do estroma cortical dos ovários. São geralmente
unilaterais e raramente malignos.
TUMORES SÓLIDOS BENIGNOS
Fibroma Os tecomas representam 2% dos tumores ovarianos, com predomínio na
pós-menopausa. Durante o período reprodutivo, o tumor é raro.
É o tumor do cordão sexual mais comum. Particularmente, derivam
das células estromais da granulosa, mas não apresentam
Em aproximadamente 75% dos casos, produzem estrógenos. Seus
atividade hormonal.
sintomas correlacionam-se com sua indução estrogênica e incluem
sangramento genital e hiperplasia endometrial na pós-menopausa. Durante a
Ao corte, possui um aspecto firme, espiralado, branco na superfície e
menacme, o seu diagnóstico é mais difícil, pois os efeitos estrogênicos
raramente apresenta sinais de degeneração.
produzidos pelo tumor se confundem com aqueles fisiologicamente
encontrados nessa fase da vida.
Um aspecto curioso nestes tumores é a associação com ascite (10 a 15%) e
hidrotórax (1%), o que caracteriza a síndrome de Meigs. O tratamento recomendado é a ooforectomia, reservando-se a histerectomia
com salpingectomia bilateral para pacientes mais idosas.
Tumor de Brenner
São tumores epiteliais benignos, constituídos por epitélio É um tumor misto, constituído por elementos germinativos
transicional, mas vale salientar que tem seus equivalentes malignos e (geralmente representado pelo disgerminoma) e elementos do cordão
limítrofes. Raramente, ocorre transformação maligna. Trata-se de tumor sexual (elementos das células da granulosa e de Sertoli). Logo, podem
sólido que pode estar associado à síndrome de Meigs. produzir androgênios e estrogênios. O tratamento recomendado
é a ooforectomia.
ATENÇÃO
Pacientes com disgenesia gonadal e presença de cromossoma Y
A fisiopatologia da síndrome de Meigs parece decorrer de uma pressão
são consideradas de alto risco para o desenvolvimento deste tumor. Nestes
intratorácica negativa, ocorrendo passagem de líquido através do
casos, a conduta é a gonadectomia.
diafragma por meio de poros. A síndrome se resolve completamente ao
se retirar o tumor.
STRUMA OVARII
Também estão associados à síndrome de Meigs os fibromas,
ocasionalmente, os tumores de Brenner e Krukenberg (mais detalhes Representa uma variante do teratoma cístico maduro (Figura 8), em
sobre ele adiante). que se observa predomínio de mais de 50% de tecido tireoidiano
(20% dos teratomas têm pequenos focos de tecido tireoidiano). Por esta
razão, caracteriza-se pela produção ectópica de hormônios
Luteoma da Gravidez tireoidianos. Em 5% dos casos, desenvolve sintomas de tireotoxicose.
A seguir, é apresentada a conduta básica diante de uma massa
anexial… Mas não necessariamente todos os itens serão
realizados!
2. USGTV.
3. Dopplerfluxometria.
FIG. 8 STRUMA OVARII.
A: as setas indicam o tumor formado por tecido tireoidiano. 4. Ressonância Magnética (RM).
B: massa complexa ovariana, medindo 7,1 × 5,3 cm, apresentando componentes sólido
e cístico. 5. CA-125.
7. Cirurgia.
Possui baixo potencial de malignidade.
O dilema clínico é sempre o mesmo na avaliação diagnóstica de
um tumor ovariano: excluir a malignidade!
TUMORES LIMÍTROFES
Os tumores limítrofes ou de baixo potencial maligno ou borderline, No diagnóstico diferencial das massas ovarianas, considera-se a
respondem por 10 a 15% dos tumores epiteliais. São um grupo especial de mulher, o estado menopausal (pré ou pós-menopausa), os
neoplasias cujo comportamento biológico e aspecto histopatológico os sintomas, o tamanho da massa, os achados ultrassonográficos e
coloca entre os tumores benignos e os francamente malignos. as titulações dos marcadores tumorais...
São lesões que tendem a permanecer limitadas aos ovários por A seguir, será destacado o que é mais importante sobre estes
longos períodos, com baixo potencial de crescimento e invasão. aspectos...
DOPPLERFLUXOMETRIA COLORIDA
Pode ser útil na avaliação de teratomas ovarianos com imagens atípicas à INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
USGTV, na avaliação de coágulos que mimetizam massas sólidas na
USGTV e massas sólidas como fibrotecomas e fibromas ovarianos. De acordo com algumas fontes bibliográficas, na infância,
aproximadamente 80% das neoplasias ovarianas são malignas.
Por esta razão, o diagnóstico correto e o tratamento adequado são
MARCADORES TUMORAIS primordiais.
● Cistos maiores de 5 cm*, independentemente das características O câncer de ovário representa 3,6% dos tumores femininos. Ele é
ecográficas (*o tamanho não é consenso na literatura). responsável por uma alta letalidade, já que seu diagnóstico é realizado
tardiamente. Em cerca de 75% dos casos, a doença já se encontra em
● Mulheres na pós-menopausa com cisto sintomático.
estágios avançados no momento do diagnóstico. Apesar dos avanços
● Concentração sérica de CA-125 > 35 U/ml. diagnósticos e terapêuticos dos últimos 20 anos, o índice de mortalidade
permanece o mesmo.
● Ascite ou outros sinais clínicos suspeitos de doença metastática.
FATORES DE RISCO
Para fixar!!!
Alguns cânceres de ovário resultam da inativação do gene p53 e
mutações no revestimento das células epiteliais da tuba uterina,
QUADRO 1
das quais as células cancerosas são posteriormente depositadas nos
FATORES DE RISCO DO CÂNCER DE OVÁRIO
ovários e promovem a formação de câncer. Isso é especialmente
verdadeiro para o subconjunto de tumores epiteliais serosos de alto grau em
mulheres com mutações no BRCA.
Fatores Genéticos
Menarca Precoce e Menopausa Tardia
Na presença de síndromes hereditárias, o risco de desenvolver um câncer de
Embora seja um tema controverso na literatura, alguns livros consideram a
ovário pode chegar a 50% ao longo da vida. Identificam-se três padrões
menarca precoce e a menopausa tardia como fatores de risco para o câncer
distintos de hereditariedade:
de ovário.
Paridade
Raça
A incidência de tumores ovarianos varia entre países diferentes, o que Salpingo-ooforectomia Pro lática
sugere a influência destes fatores. Países industrializados, com exceção do Em geral, indicada para mulheres com mutação BRCA 1 e/ou BRCA
Japão, elevam em duas vezes o risco. A exposição ao asbesto/carbonato de
2.
cálcio (talco) na genitália externa tem sido referenciada como fator de risco.
No entanto, esta relação é controversa e apresenta resultados conflitantes na
literatura.
QUIMIOPREVENÇÃO E CIRURGIAS
REDUTORAS DE RISCO
Fatores Nutricionais
Em linhas gerais, os agentes quimiopreventivos devem estar
Dietas ricas em gordura saturada estão associadas à elevação em associados à baixa toxicidade e fácil administração. Devem também
1,5 vezes do risco de câncer de ovário. estar isentos de efeitos carcinogênicos de outros tumores, como o
câncer do cólon, do pulmão, entre outros.
Endometriose
Em relação às evidências atuais do potencial para prevenção do câncer de
O risco de transformação maligna de um endometrioma é estimado em ovário, os dados epidemiológicos apontam fortemente para um papel
2,5%. A endometriose pode ser encontrada em carcinoma ovariano protetor dos contraceptivos orais, como já mencionado.
mucinoso, seroso, endometrioide e de células claras em 1.4, 4.5, 19.0 e
35.9%, respectivamente.
Os resultados de revisões sistemáticas em relação ao uso de anti-
inflamatórios não esteroides foram inconsistentes e, até o momento, os
Tabagismo dados publicados são insuficientes para respaldar essa
indicação.
O tabagismo tem sido associado ao desenvolvimento de carcinoma
mucinoso, mas não ao do carcinoma seroso, mas as referências
A salpingo-ooforectomia redutora de risco em mulheres com
bibliográficas não explicam esta associação.
mutação BRCA 1 e/ou BRCA 2 pode reduzir o risco de câncer de
ovário, tuba uterina e peritônio em 71 a 96%, além da diminuição
Obesidade
de 50 a 68% no risco de câncer de mama. Existe risco residual
O índice de massa corporal maior ou igual a 30 kg/m² está para câncer peritoneal primário após esse procedimento nessas
associado a um pequeno, porém significante, risco de neoplasia maligna de mulheres com alto risco para câncer. O câncer ovariano oculto é,
ovário. ocasionalmente, encontrado após este procedimento, o que reforça a
necessidade da revisão histopatológica meticulosa das tubas uterinas e
ovários.
FATORES DE PROTEÇÃO
Devido à provável origem tubária do carcinoma seroso de ovário, mulheres
A malignidade ovariana surge de um processo anômalo de regeneração com prole definida e risco habitual para câncer de ovário são candidatas à
da superfície epitelial na ovulação. Assim, fatores que promovem salpingectomia redutora de risco no momento de cirurgias abdominais ou
inibição da função ovariana reduzem o risco de câncer de ovário. pélvicas.
Amamentação RASTREAMENTO
A inibição da função ovariana pela lactação reduz o risco de câncer de O objetivo do rastreamento para qualquer tipo de câncer é detectar
ovário em mulheres que teriam amamentado. precocemente a doença. No entanto, até o momento, não foi possível
comprovar os benefícios do rastreio no câncer de ovário.
Além disso, o número de mortes por câncer de ovário não vem mostrando
POPULAÇÃO DE ALTO RISCO
diferença estatisticamente significativa na população geral submetida ao
rastreio. Dessa forma, o rastreamento não é recomendado para as pacientes
Nas populações consideradas de risco, mutações BRCA ou
sem alto risco de câncer de ovário.
portadoras da síndrome de Lynch ou com história familiar de câncer de
ovário, o rastreamento rotineiro também não é recomendado,
pois os procedimentos empregados, como dosagem sérica de CA-125 e a
EXAMES PARA RASTREAMENTO
ultrassonografia transvaginal, não diminuíram a taxa de mortalidade e nem
A utilidade da ultrassonografia e dos marcadores tumorais para aumentaram a taxa de sobrevida.
rastreamento do câncer epitelial ovariano ainda não está bem
definida.
DIAGNÓSTICO
A dopplerfluxometria colorida, para avaliar a vascularização dos vasos Devido à evolução insidiosa da doença, a maioria das pacientes, no
ovarianos, mostrou ser útil como método auxiliar da momento do diagnóstico, possui doença disseminada na cavidade
ultrassonografia para o diagnóstico de câncer de ovário, mas não peritoneal.
mostrou utilidade como método de rastreamento
O CA-125 pode ser útil para o diagnóstico precoce de câncer epitelial CLÍNICO
ovariano. Levando em consideração a sensibilidade deste teste diagnóstico,
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
o CA-125 é capaz de detectar 50-60% das pacientes com doença nos
estádios I e II. Os dados indicam que a especificidade do CA-125 é maior
Muito se diz sobre a falta de manifestação clínica inicial dos tumores
quando o teste é associado à ultrassonografia transvaginal ou quando os
ovarianos. Mas a verdade é que os sintomas clínicos iniciais não são
níveis são acompanhados com o tempo.
valorizados por médicos e pacientes, pois são vagos e inespecíficos.
POPULAÇÃO DE RISCO HABITUAL Os sinais clínicos apresentam-se de forma variada e tipicamente incluem
massa ovariana palpável ao toque vaginal bimanual e/ou à
Na população não considerada de risco, apesar de não ser consenso, palpação do abdome. Mais raramente, ocorrem torções ou roturas
é aceitável após a menopausa: tumorais que acarretam sintomas agudos. Nos casos avançados, o quadro
típico é ilustrado por caquexia, ascite e abdome volumoso e dispneia
●
Exame pélvico anual; ocasionada pela restrição dos movimentos respiratórios ou derrame pleural.
●
Ultrassonografia transvaginal anual.
EXAME FÍSICO
Em caso de alterações nesses exames, está indicada investigação
complementar, que inclui: Características da massa ovariana identificadas ao toque e/ou à palpação
abdominal, como seu tamanho, seu contorno, seu grau de mobilidade ou
●
Dosagem de CA-125; aderência aos tecidos vizinhos, além da presença ou não de ascite, servem
para auxiliar o médico na conduta propedêutica.
●
Dopplerfluxometria colorida;
●
Laparoscopia diagnóstica → individualizar caso a caso para confirmar a O toque retal permite a avaliação do grau de aderência da massa aos
real indicação. ligamentos uterossacros, da presença de nodulações em fundo de saco de
Douglas e da irressecabilidade cirúrgica do tumor em casos avançados de
infiltração pélvica.
Outros achados incluem ascite, derrame pleural, massa umbilical (nódulo É o primeiro exame a ser solicitado na avaliação de massa
umbilical metastático), conhecida como nódulo umbilical metastático da anexial. Ela permite a definição das características morfológicas das
Irmã Maria José (Sister Mary Joseph's Nodule). Esses achados são massas ovarianas, úteis para estabelecimento do diagnóstico e conduta
inespecíficos e podem estar associados às neoplasias gástricas, pancreáticas, adequada.
da vesícula biliar e aos tumores intestinais.
CRITÉRIOS DE SASSONE
Não raramente, ocorre o comprometimento da doença fora do
abdome, sendo o local mais comum de acometimento o espaço pleural. Utilizando os critérios de Sassone, descritos na Tabela 1, obtém-se um
valor preditivo negativo em torno de 96% para neoplasia ovariana.
MEMORIZE
Os sintomas e sinais clínicos associados ao diagnóstico de tumores TAB. 1 CRITÉRIOS DE SASSONE (LINHA CLARA) E OUTROS
CRITÉRIOS AUXILIARES NO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
malignos de ovário.
DE MASSAS ANEXIAIS BENIGNAS E MALIGNAS (LINHA
ESCURA).
● Edema de membros inferiores: uni ou bilateral; c ompressão d e v Septações delgadas. Septações espessas (> 3
asos r etroperitoneais na pelve dificultando o retorno venoso. mm).
● Aumento do volume abdominal: ascite; massas palpáveis (geralmente
Ausência de ascite. Presença de ascite (> 100 ml)
de consistência sólido-císticas e pouco móveis); linfonodomegalias
ou ascite hemorrágica.
inguinais.
● Exame do tórax: abafamento do murmúrio vesicular; chiados e sibilos Cápsula intacta. Cápsula rota.
durante o ciclo respiratório; linfonodomegalias axilares e
Superfície lisa. Irregularidades internas ou na
supraclaviculares.
superfície.
● Exame ginecológico:
Móvel. Aderente.
» Caracterização da massa (dimensões, mobilidade e consistência).
❯ Fundo de saco vaginal: nódulos palpáveis à escavação Rara a presença de papilas na Muito comum a presença de
retrouterina indicam carcinomatose peritoneal. superfície. papilas na superfície.
❯ Toque retal: compressões extrínsecas, integridade da mucosa e Ausência de implantes. Implantes peritoneais.
avaliação parametrial.
Incomum a presença de Comum a presença de
aderências. aderências.
São lesões sugestivas de malignidade à USG: Permitem a avaliação de toda a cavidade abdominal e, portanto, podem ser
utilizados para estimar a extensão e os locais de acometimento tumoral.
ATENÇÃO
A utilização deste marcador atua na detecção precoce de câncer de ovário,
Às vezes, a ascite e o derrame pleural podem ocorrer na presença de uma vez que o aumento dos seus níveis pode preceder a detecção clínica em
doença benigna ovariana. A síndrome de Meigs corresponde a tumor mais de um ano. Todavia, como já antes mencionado, essa técnica ainda não
benigno de ovário (fibroma é o mais frequente) + ascite + derrame está bem estabelecida na prática, não existindo consenso internacional de
pleural. seu uso como exame de screening.
ATENÇÃO
MARCADORES TUMORAIS
Se os tumores epiteliais são os mais comuns e o CA-125 é o principal
São substâncias sintetizadas pelo tumor ou a ele associadas, identificáveis marcador destes tumores, toda vez que eu encontrar uma massa anexial,
nos fluidos corpóreos. Podem ser solicitados e devem ser interpretados a dosagem deste marcador deve ser solicitada!
conforme suas particularidades, discutidas a seguir. A Tabela 2 resume a
associação entre os marcadores e histologia tumoral.
CEA
TAB. 2 MARCADORES SÉRICOS DOS TUMORES OVARIANOS. O antígeno carcinoembriônico pode estar aumentado em tumores epiteliais,
sobretudo nos tumores mucinosos. Contudo, é outro marcador altamente
MARCADOR TUMOR inespecífico, que pode estar elevado em vários outros cânceres e diversas
condições benignas.
Teratoma imaturo
Tumores de células de
AFP
Sertoli-Leydig BETA-HCG
Disgerminoma
BhCG ALFAFETOPROTEÍNA
Coriocarcinoma
O teratoma imaturo, o tumor de saco vitelínico e os tumores de células de
Disgerminoma
DHL Sertoli-Leydig podem apresentar níveis elevados destes marcadores.
Teratoma imaturo
Outras fontes advogam que os tumores do seio endodérmico e os mistos das
CA-125 Tumores epiteliais células germinativas também podem cursar com níveis elevados.
CA-19-9 ● Teratoma;
VIDEO_17_GIN4 ● Ginandroblastoma.
As neoplasias malignas dos ovários são classificadas de acordo com a
linhagem das células de origem.
Este assunto é adorado em concursos pelo grande número de
Os tumores primários podem ser classificados em três categorias: neoplasias tipos histológicos. Classicamente, o câncer de ovário é dividido
epiteliais; neoplasias germinativas; neoplasias do estroma e cordões sexuais. quanto ao tecido que ele reproduz. Assim, essas neoplasias são
divididas em câncer epitelial, tumor de células germinativas e
Devido à diversidade dos subtipos de cânceres dos ovários, existem tumores dos cordões sexuais e estroma gonadal (Figura 2).
Tumores epiteliais:
● Cistoadenocarcinoma seroso;
FIG. 2 Classificação do tumor de ovário quanto ao tecido que ele reproduz.
● Cistoadenocarcinoma mucinoso;
● Cistoadenocarcinoma endometrioide;
● Tumor de células claras;
● Tumor seroso papilífero;
TUMORES EPITELIAIS
● Tumor de Brenner;
● Tumor de células transicionais. Os adenocarcinomas, é bom que se diga, respondem por 80-
90% dos tumores malignos ovarianos.
Tumores germinativos:
Dos cânceres epiteliais, o tipo histológico seroso é o mais frequente e
representa 42% dos casos. Os tipos menos comuns incluem o carcinoma
mucinoso (12%), endometrioide (15%), de células claras (6%), de Brenner e
indiferenciado (17%).
Os tumores epiteliais derivam da transformação maligna do epitélio São tumores císticos com cavidades revestidas por epitélio secretor
da superfície ovariana (celômico), o qual é contíguo com o mesotélio de mucina. As células epiteliais de revestimento contêm mucina
peritoneal. O epitélio celômico reveste as depressões formadas pela rotura intracitoplasmática e se assemelham às da endocérvice, do piloro gástrico
folicular a cada ovulação. Com o processo de regeneração, esse epitélio ou do intestino. Correspondem a 12% dos tumores epiteliais. É o
pode se diferenciar em epitélio tubário, dando origem aos tumores tumor ovariano que atinge as maiores dimensões (até um metro
serosos; epitélio endometrial, dando origem aos tumores de diâmetro), podendo ocupar toda a cavidade abdominal.
endometrioides; epitélio endocervical ou colônico (intestinal) ou do
piloro gástrico originando os tumores mucinosos; epitélio endometrial O tumor mucinoso de baixo potencial maligno ou limítrofe normalmente é
durante a gestação, originando os tumores de células claras e em de diagnóstico difícil. Comumente, o epitélio mucinoso bem diferenciado
epitélio urotelial, originando os tumores de Brenner. Além disso, uma pode ser encontrado adjacente a um foco pouco diferenciado. Por esta razão,
parcela desses tumores não se diferencia, que obviamente dá origem aos é importante fazer muitos cortes de várias áreas no tumor mucinoso para
indiferenciados. identificar a alteração mais maligna.
Classificam-se em três subtipos histológicos: O epitélio neoplásico pode secretar grandes quantidades de material
mucoide ou gelatinoso, levando à rotura da cápsula ovariana e
●
Benignos: o cistoadenoma seroso é um dos tumores benignos mais extravasamento do conteúdo para a pelve e cavidade abdominal. O
frequentes e pode malignizar; pseudomixoma peritoneal é o termo clínico usado para descrever a
presença deste material circundado por tecido fibroso. Este fenômeno causa
●
Limítrofes: representam aproximadamente 10% dos tumores serosos
uma extensa adesão das alças intestinais, podendo resultar em obstrução
ovarianos, e 50% deles incidem antes dos 40 anos de idade;
intestinal. Esta complicação é um importante indicador de malignidade,
●
Malignos: nesses tumores, há invasão do estroma. Os uma vez que não é observada com frequência em tumores mucinosos
cistoadenocarcinomas são os tumores malignos mais benignos. Pode também ser secundário a um carcinoma do apêndice
comuns (75%), com faixa etária mais alta. São bilaterais em bem diferenciado (adenocarcinoma apendicular) ou a outro câncer
aproximadamente 35% dos casos e, geralmente, não ultrapassam 25 cm gastrointestinal primário e raramente a uma mucocele do apêndice.
de diâmetro.
Nos cistoadenocarcinomas serosos bem diferenciados, há Apresenta frequentemente elevação de CEA e resposta parcial à
predomínio de estruturas papilares e glandulares. Os indiferenciados quimioterapia.
caracterizam-se por lâminas sólidas de células, pleomorfismo nuclear e
elevada atividade mitótica. O cistoadenocarcinoma seroso papilífero alto
TUMORES ENDOMETRIOIDES
grau é um dos tumores epiteliais de pior prognóstico, e possui importante
associação com carcinomas infiltrantes.
Os carcinomas endometrioides representam 15% dos tumores epiteliais.
Eles têm associação com endometriose em 10 a 20% dos casos. O potencial
maligno da endometriose é muito baixo, embora seja possível uma transição
É necessário um corte por congelamento para distinguir entre tumores
serosos benignos, limítrofes e malignos, porque o exame macroscópico do epitélio benigno para o maligno.
Os disgerminomas caracterizam-se por sua predileção pela Enquanto os teratomas maduros possuem tecidos bem diferenciados
disseminação linfática (particularmente para linfonodos para-aórticos (dentes, cabelos e pele), cujo crescimento celular é, de certa forma, mais
altos) e sua sensibilidade à quimioterapia e radioterapia. Seu lento e controlado, os teratomas imaturos apresentam tecidos
tratamento é basicamente cirúrgico e consiste na exérese da lesão primária e embrionários e fetais pouco diferenciados, nos quais pode haver mais
estadiamento cirúrgico apropriado. facilmente um crescimento descontrolado.
Como o tumor acomete principalmente meninas e jovens, deve-se Os marcadores tumorais são negativos, exceto quando há tumor de células
considerar a preservação da fertilidade e o emprego de germinativas misto.
quimioterapia, de acordo com a necessidade. Naquelas em que a
salpingo-ooforectomia unilateral foi realizada, uma cuidadosa Os teratomas imaturos são classificados de acordo com um
inspeção do ovário contralateral e uma exploração minuciosa são sistema de graduação, variando de 1 a 3, que se baseia no grau de
mandatórias para descartar doença disseminada. Em caso de ovário diferenciação e na quantidade de tecido imaturo. A determinação da
contralateral com tamanho, forma e consistência normais, pode-se deixá-lo quantidade de tecido indiferenciado tem importância para o prognóstico.
in situ, assim como a tuba e o útero. Um tumor grau 1 é aquele no qual há elementos imaturos em menos que
um Campo microscópio de Pequeno Aumento (CPA); o tumor grau 2
O tratamento conservador sem radioterapia ou quimioterapia possui um a três CPA com elementos imaturos; e um tumor grau 3 tem
adjuvante no estádio Ia se associa a um excelente prognóstico, mais de três CPA com esses elementos. Quanto maior o grau, pior o
sobrevida em torno de 90%. prognóstico.
CARCINOMA EMBRIONÁRIO
São tumores, em geral, malignos de baixo grau e podem ser encontrados em Em geral, são unilaterais e incidem com maior frequência entre os 20 e 40
qualquer faixa etária. Em 2/3 dos casos apresentam-se em mulheres após a anos de idade.
menopausa. São bilaterais em somente 2% dos casos, variam de poucos
milímetros até 20 cm de diâmetro. Possuem superfície lisa e lobulada. As Possuem como principal característica a produção de androgênios, o que
porções sólidas são granulares e frequentemente trabeculadas. causa virilização em mais de 70% das mulheres acometidas. Os níveis
plasmáticos de androstenediona e testosterona encontram-se elevados
São compostos quase totalmente por células da granulosa ou por uma enquanto os de sulfato de di-hidroepiandrosterona estão normais ou apenas
mistura de células da granulosa e da teca. As células da granulosa, em levemente elevados, sinalizando a origem ovariana e não adrenal do excesso
alguns casos, tendem a se dispor em pequenos grupos ao redor de uma de androgênios.
cavidade central que se torna rica em um material acidófilo, fazendo com
que a lesão se assemelhe a um folículo primordial – o corpúsculo de A salpingo-ooforectomia unilateral com avaliação cuidadosa do
Call-Exner. ovário contralateral é o tratamento de escolha.
TUMOR DE KRUKENBERG
TECOMAS E FIBROMAS
Responde por 30-40% dos cânceres metastáticos para os ovários e podem
Raramente os tecomas e fibromas têm características de malignidade. São ser responsáveis por aproximadamente 2% dos cânceres ovarianos.
tumores sólidos, geralmente unilaterais e ocorrem geralmente na
perimenopausa.
É frequentemente bilateral (80%), cresce no estroma ovariano e possui as
características células em anel de sinete, com produção de mucina
Os tecomas frequentemente produzem estrógenos, enquanto os fibromas intracelular e infiltração sarcomatosa difusa do estroma ovariano
não apresentam atividade hormonal. Curam-se pela remoção cirúrgica (Figura 5).
(salpingo-ooforectomia unilateral).
Ascite está presente em 10 a 15% dos casos e hidrotórax em 1%, este último
caracterizando a síndrome de Meigs. A síndrome se resolve completamente
ao se retirar o tumor.
É comum, mas acontece mais tardiamente. Tal disseminação segue o
ligamento infundíbulo pélvico para comprometer os linfonodos para-
aórticos e ao redor da veia cava. Cerca de 10% dos pacientes que se
apresentam com tumores localizados possuem metástases para linfonodos
para-aórticos. A disseminação linfática também pode seguir através do
ligamento largo e canais parametriais atingindo os linfonodos pélvicos,
abrangendo a cadeia obturadora e as cadeias ilíacas interna e externa. A
drenagem linfática pelo ligamento redondo é menos comum, mas, quando
acontece, envolve os linfonodos inguinais.
Hematogênica
NÃO ESQUEÇA
O modo mais comum e mais precoce da disseminação é por esfoliação das Nos casos duvidosos, o emprego da laparoscopia auxilia o estabelecimento
células do ovário que se implantam na cavidade peritoneal. As células do diagnóstico preciso e a escolha da melhor opção terapêutica. A
malignas esfoliativas propagam-se pela cavidade peritoneal através do fluxo identificação das características macroscópicas dos tumores e,
de líquido peritoneal desencadeado pelos movimentos respiratórios, eventualmente, o seu emprego para coleta de material deles (líquido
movimentos peristálticos e movimentação da própria paciente, originando intracístico e fragmentos da cápsula) confirma a vocação diagnóstica da via
implantes peritoneais. laparoscópica.
Tumores com características malignas devem ser abordados cirurgicamente, Uso de meias elásticas e/ou de equipamento para compressão pneumática
com rigorosa avaliação pré-operatória. Os seguintes exames devem ser durante a cirurgia.
realizados em busca de metástases: citologia cervical e endometrial, exames
bioquímicos e hematológicos, ultrassonografia total abdominal, radiografia Considerar profilaxias medicamentosas (anticoagulante) no pós-operatório e
de tórax, dosagem de CA-125 e colonoscopia (na suspeita de invasão
durante o período de convalescença por 21 dias.
intestinal). Nos casos de tumores disseminados com malignidade
confirmada, a melhor opção é a laparotomia, já que o resultado
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do tratamento laparoscópico do câncer ovariano avançado ainda
não está bem estabelecido.
ABORDAGEM CIRÚRGICA
CIRURGIA DE ESTADIAMENTO
PONTOS FUNDAMENTAIS
PROFILAXIAS
●
Incisão mediana ampla, caso se opte pela laparotomia. Convém Tumores malignos de células germinativas e os tumores malignos do
pontuar que algumas fontes bibliográficas advogam o uso da estroma gonadal
laparoscopia apenas para os casos duvidosos, pois ela auxiliaria no
estabelecimento do diagnóstico preciso e na escolha da melhor opção São “estadiados” cirurgicamente da mesma maneira que os tumores
terapêutica. epiteliais malignos.
● Coleta de líquido ascítico nas lojas parietocólicas e
subdiafragmáticas ou realização de lavado peritoneal na sua
ausência. O momento ideal é após a celiotomia parietal, antes da ESTADIAMENTO DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE
GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA
manipulação de órgãos ou massas.
●
Realizar inventário minucioso da pelve e da cavidade O câncer de ovário é classificado primariamente dos estádios I ao IV, de
abdominal, descrevendo os seguintes achados: ascite (características acordo com os sistemas de classificação da Federação Internacional de
Ginecologia e Obstetrícia (FIGO – Tabela 4 e Figura 6).
do líquido); características da massa principal (dimensões e
integridade da cápsula); presença de implantes visíveis sobre as
superfícies do peritônio pélvico e visceral de órgãos
abdominais (fígado, baço, estômago, cúpulas diafragmáticas, TAB. 4 ESTADIAMENTO FIGO DO CÂNCER DE OVÁRIO, TUBA DE
FALÓPIO E PERITÔNIO.
mesentério, alças intestinais); avaliar presença de aderências
descrevendo sua localização; realizar palpação de linfonodos ESTADIAMENTO CIRÚRGICO
positivos. seguir.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Compreende níveis de CA-125 muito elevados (> 200 U/ml), ascite, Nas pacientes com estádios IA e IB (G1 ou G2), é recomendado o
evidência de metástase abdominal ou à distância, história familiar de uma tratamento cirúrgico isolado.
ou mais parentes de primeiro grau com câncer de ovário ou de mama.
QT PRÉVIA
(NEOADJUVANTE)
CIRURGIA SECUNDÁRIA
(DEBULKING OU CITORREDUÇÃO DE
INTERVALO)
Nos casos em que não é possível realizar uma cirurgia primária TRATAMENTO RADIOTERÁPICO
completa, seja pela condição clínica da paciente limitante, seja pela
presença de ascite volumosa, ou em razão de extensão tumoral maciça, A evolução dos quimioterápicos, evidenciada pelo aprimoramento de sua
indica-se a QT neoadjuvante à base de taxano (paclitaxel) e eficácia e pela minimização dos efeitos colaterais, tem diminuído o
composto de platina (cisplatina ou carboplatina) por três a seis emprego da radioterapia no tratamento das neoplasias ovarianas. As
ciclos, seguidos de cirurgia para citorredução máxima e, após, de malignidades ovarianas apresentam variada resposta à RT. Os tumores
quimioterapia adjuvante com o mesmo esquema, no caso de resposta à germinativos são mais sensíveis, enquanto os carcinomas epiteliais
quimioterapia neoadjuvante. Ou seja, o número mínimo total é de seis ciclos apresentam sensibilidade moderada.
de quimioterapia prévia e adjuvante no caso de resposta tumoral ao
esquema quimioterápico empregado na neoadjuvância. Seu uso em câncer de ovário é controverso. A radioterapia, em tese, deveria
abranger toda a cavidade abdominal devido ao padrão de propagação da
doença. Entretanto, como há necessidade de colocação de protetores sobre
QUIMIOTERAPIA INTRAPERITONEAL os rins e fígado, a mesma não atua de forma totalmente satisfatória sobre as
regiões das goteiras parietocólicas e sobre a cúpula diafragmática, locais
A carcinomatose peritoneal representa uma forma devastadora de comuns de metástase. A grande extensão a ser irradiada, a sensibilidade das
progressão do câncer de ovário com um mau prognóstico. Ao se fazer o vísceras abdominais e a limitação da dose de segurança desencorajam seu
diagnóstico, dois terços das pacientes com câncer de ovário já uso na terapêutica de neoplasias ovarianas. Ou seja, não é utilizada na
desenvolveram carcinomatose peritoneal e mais de um terço já se apresenta prática!
com ascite. A gênese dessa entidade clínica pode ser explicada por vários
modelos biológicos. Quando os tumores grandes são reduzidos, as células
tumorais residuais tornam-se mais sensíveis à quimioterapia e são
estimuladas a voltar à fase proliferativa do ciclo celular, tornando-se mais RESUMO DO TRATAMENTO: CARCINOMAS
ativas e suscetíveis ao efeito citotóxico da terapia antiblástica. EPITELIAIS DO OVÁRIO
A HIPEC associada à citorredução de intervalo pode ser uma opção Cirurgia fundamental +
para pacientes estadiadas como FIGO IIIC e IV, desde que realizada em Ia e Ib grau III e Ic terapia adjuvante (QT
Cirurgia citorredutora +
Essa forma de tratamento demanda a instalação de um cateter específico. poliquimioterapia.
A Tabela 5 apresenta os fatores prognósticos no câncer epitelial de ovário TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)
precoce e avançado. Não inclui a menarca precoce e a menopausa tardia entre os seus fatores
de risco.
ESTÁDIOS PRECOCES (I E II) Uma parcela do risco de desenvolvimento do câncer de ovário parece ser
diretamente proporcional ao número de ciclos ovulatórios ocorridos durante
●
Estadiamento (IA-IB vs. IC vs. II). a vida. As ovulações repetitivas ocorridas durante a menacme são vistas
com maior frequência em pacientes com menarca precoce, menopausa
●
Rotura da cápsula ovariana (quando considerado o estádio II
tardia e nuliparidade, constituindo situações de risco.
da doença).
●
Grau de diferenciação celular → indiferenciado é o de pior
prognóstico. WILLIAMS GYNECOLOGY (2016)
●
Tipo histológico → o pior é o carcinoma de células claras. Esta fonte considera a menarca precoce e a menopausa tardia como
fatores de risco.
●
Idade (5ª e 6ª décadas).
●
Citologia do líquido ascítico (positivo ou negativo).
BEREK & NOVAK´S GYNECOLOGY (2020)
ESTÁDIOS AVANÇADOS (III E IV) Este livro informa que, embora tenha havido diversas variáveis
epidemiológicas correlacionadas ao câncer de ovário, nenhuma foi tão
●
Tamanho do tumor residual após a cirurgia (≤ 1 cm vs. > 1
fortemente correlacionada como a história e a duração da vida reprodutiva.
cm).
A menarca precoce e a menopausa tardia aumentam o risco de câncer
●
Estadiamento (III vs. IV). ovariano. Estes fatores e a relação entre paridade e infertilidade e o risco de
câncer ovariano levaram à hipótese de que a supressão da ovulação pode
●
Tipo histológico → o pior é o carcinoma de células claras.
ser um fator importante.
●
Idade (5ª e 6ª décadas).
●
Grau de diferenciação celular → indiferenciado é o pior
MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (6ª
prognóstico. EDIÇÃO, 2017)
●
Acometimento linfonodal.
● Volume da ascite;
BEREK & NOVAK´S GYNECOLOGY (2020) ● Citorredução subótima: a doença residual é maior que 1 cm.
unilaterais. Quaisquer linfonodos aumentados devem ser ressecados e tumor residual que não ultrapassa 1 cm. Outros autores citam 0,5 cm e
enviados para corte por congelamento. Se não houver metástases, deve ser outros 2 cm. Há ainda os que preconizam que a cirurgia ótima é aquela em
que não ocorre doença residual macroscópica.
realizada linfadenectomia pélvica formal.