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FIG. 1

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS


DOENÇAS DAS MAMAS
EMBRIOLOGIA DAS MAMAS

As mamas derivam do ectoderma e do mesoderma subjacente. No


sexo feminino, adquirem um notável desenvolvimento. No sexo masculino,
normalmente se apresentam pouco desenvolvidas, com o parênquima
mostrando alguns pequenos ductos. Entretanto, na síndrome de Klinefelter
(cariótipo 47, XXY) as mamas se desenvolvem atingindo um volume
considerável e manifestam a chamada ginecomastia que, por sua vez,
consiste em um dos sinais mais importantes na semiologia dos pacientes.

O desenvolvimento da glândula mamária se inicia na quinta semana de


vida intrauterina. Inicialmente, acontece um espessamento do
FIG. 2
ectoderma ventral (Figura 1) que se aprofunda no mesênquima
subjacente e se projeta, bilateralmente, da axila até a prega inguinal, em
faixas conhecidas como linhas ou cristas lácteas (Figuras 1 e 2) Ocorre,
então, uma reabsorção destas cristas, de forma que é apenas mantida a Os estágios de cone (10-14ª semana = achatamento da crista mamária),
porção torácica, onde a glândula mamária completará seu desenvolvimento. de brotamento e ramificação (12-16ª semana = diferenciação de
musculatura de mamilo e aréola/formação de cordões epiteliais/ramificação
dos botões em cordões) e de canalização (20-32ª canalização dos cordões
epiteliais) ocorrem nas semanas subsequentes.

A diferenciação do parênquima mamário acontece entre a 32ª e a 40ª


semana de gravidez (estágio vesicular final) e se resume na formação
das unidades lobo-alveolares. Nesse estágio, há um aumento de cerca de
quatro vezes no tamanho da glândula mamária. Além disso, ocorre a
pigmentação e desenvolvimento do complexo areolopapilar.
A mama apresenta um estado de repouso relativo até o início da puberdade.
Na puberdade, por ação dos estrogênios e da progesterona, a mama reinicia
a proliferação epitelial ductal com maior ramificação da árvore ductal
mamária. O desenvolvimento e amadurecimento mamários só se concluem
com a gravidez e lactação. A ação da prolactina associada ao cortisol, ao
hormônio do crescimento, aos estrogênios, à progesterona, à insulina e à
tiroxina, promove a diferenciação epitelial alveolar final em células
produtoras e secretoras de leite.

MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS DAS MAMAS


FIG. 4

As malformações mamárias incluem a ausência ou o subdesenvolvimento


da glândula mamária na sua topografia habitual, ou a existência de tecido
mamário fora da localização correta das mamas devido à não involução
completa da crista láctea, o que incide aproximadamente em 2 a 6% das É importante lembrar que a localização das mamas supranumerárias não é
aleatória e obedece, quase sempre, ao denominado esquema de William,
mulheres.
ou seja, estabelecem-se na linha mamária.

A anomalia mais comum é a politelia (Figura 3), que consiste na


existência de mamilo acessório sem parênquima mamário subjacente. A politelia e a polimastia podem aparecer em qualquer ponto ao longo

Geralmente, o mamilo acessório se apresenta na região torácica inferior e no da crista láctea.


abdome superior. Só deve ser removido em caso de dano estético.
Como anteriormente mencionado, pode ocorrer subdesenvolvimento da
mama em sua topografia correta. Esta malformação denomina-se a
hipomastia ou hipoplasia mamária (Figura 5). Pode ser uni ou
bilateral e se caracteriza por mau desenvolvimento do parênquima mamário.
A opção terapêutica é cirúrgica, com a colocação de próteses de silicone.

FIG. 3

A polimastia (Figura 4) define a presença de tecido glandular ectópico,


com ou sem mamilo associado. Estas mamas têm desenvolvimento variável. FIG. 5
Pode ser completa (com aréola e mamilo) ou, apenas, parênquima. A forma
mais comum é a mama axilar que se manifesta por um abaulamento na
região. A conduta é a sua retirada sob anestesia geral, normalmente por
questões estéticas. Vale ressaltar que a polimastia varia desde um Há casos onde há desenvolvimento da glândula mamária, mas não do
desenvolvimento rudimentar até uma mama de dimensões consideráveis. mamilo e da aréola. Esta situação caracteriza a atelia, que também pode ser
Durante a lactação podem aumentar de volume e secretar leite, como as uni ou bilateral. A ausência do complexo areolopapilar é de extrema
mamas normais. raridade.

A anomalia mais grave é a amastia (Figura 6). Geralmente, define a


ausência total dos componentes mamários, que é acompanhada de
hipoplasia importante ou, até mesmo, agenesia dos músculos peitorais e
deformidade da parede torácica. Essa malformação é chamada de
síndrome de Poland. O quadro completo desta síndrome inclui a
sindactilia (dedos unidos). Vale lembrar que a amastia pode ser unilateral
ou bilateral.
FIG. 8

VIDEO_01_GIN4
Nas mulheres, as doenças da mama englobam um espectro de afecções
benignas e malignas, que quase sempre se apresentam como dor na mama
FIG. 6 (mastalgia), descarga papilar ou tumor palpável. As causas específicas
destes transtornos variam de acordo com a idade da paciente. Os distúrbios
benignos predominam nas mulheres jovens pré-menopáusicas e as taxas de
malignidade aumentam com o avanço da idade. Usualmente, a avaliação
O tratamento normalmente inclui a introdução de um expansor de tecidos, destas afecções mamárias requer a combinação de anamnese meticulosa,
que é posteriormente substituído por prótese de silicone. exame físico, exame de imagem e, quando indicado, biópsia.

A amazia (Figura 7) define a ausência de tecido mamário, mas com Os principais aspectos destas afecções serão resumidos ao longo deste
presença do mamilo. A causa mais comum de amazia é iatrogênica. Os capítulo.
fatores que podem desencadear esta anomalia incluem: biópsia de uma
mama em desenvolvimento, radioterapia em meninas pré-puberes e lesões
pontos principais
traumáticas nas mamas em desenvolvimento, como queimaduras graves.
● Conhecer os principais aspectos anatômicos e fisiológicos da mama
e axila.
● Conhecer os principais aspectos fisiológicos da mama.
● Conhecer o que deve ser pesquisado na história e no exame físico
durante a avaliação das mamas.

ANATOMIA

DEFINIÇÃO

As mamas são anexos da pele e do sistema reprodutivo humano. São


constituídas por:


Parênquima de tecido glandular: glândulas mamárias (glândulas
FIG. 7
cutâneas modificadas), que se dividem em lobos mamários, e se
destinam à secreção láctea;

Estroma de tecido conjuntivo: envolvem cada lobo e a glândula
É importante ressaltar que a hipermastia ou hiperplasia mamária como um todo;
(Figura 8) representa o aumento mamário unilateral ou bilateral, associado ●
Pele: dotada de glândulas sebáceas e sudoríparas.
possivelmente à presença de defeitos nos receptores hormonais.

ANATOMIA DA MAMA

LOCALIZAÇÃO DAS MAMAS

O conhecimento da anatomia da mama e das estruturas vizinhas é de grande


importância para o entendimento da evolução e do comportamento das
lesões mamárias. Além disso, é imprescindível na abordagem cirúrgica de
doenças mamárias.
A glândula mamária se localiza na parede anterior do tórax. Possui
tamanho médio de 10 a 12 cm de diâmetro. Sua espessura
central é de 5 a 7 cm. Os limites da mama variam em função do seu
tamanho e da sua forma, a saber:


Superior: 2ª ou 3ª costela;


Inferior: 6ª ou 7ª costela;

Medial: borda do osso esterno;

Lateral: linha axilar média ou borda anterior do músculo grande dorsal.
FIG. 10 QUADRANTES DA MAMA E INCIDÊNCIA DE CÂNCER DE MAMA.

O limite posterior da mama compreende a fáscia profunda dos músculos


grande peitoral, serrátil anterior e oblíquo externo com a bainha do músculo
reto-abdominal. A mama é envolta por uma fáscia superficial constituída por um folheto
anterior e por outro posterior. A glândula mamária recebe suporte pelos
A extensão do conteúdo glandular é maior do que a da mama, de forma que ligamentos suspensórios de Cooper (trabéculas conjuntivas que
pode atingir a axila em graus variáveis. Nesta topografia, forma a cauda ou estabelecem conexão entre as fáscias superficial anterior e posterior da
prolongamento axilar. Esta estrutura também é denominada cauda ou mama – Figura 11). Estes ligamentos estão também conectados por
prolongamento de Spence ou processo lateral axilar (Figura 9). extensões fibrosas à fáscia peitoral e à derme, onde delimitam espaços no
tecido adiposo, que são denominados de fossas adiposas de Duret.

FIG. 11 ARQUITETURA MAMÁRIA.

FIG. 9 PROCESSO LATERAL AXILAR.


Vale ressaltar que o folheto posterior da fáscia superficial é adjacente à
fáscia do músculo grande peitoral e do músculo serrátil anterior, apartados
apenas por uma faixa de tecido conjuntivo frouxo, denominado de espaço
retromamário de Chassaignac. Este espaço representa um importante plano
de dissecção entre a mama e o grande peitoral, e funciona como uma
DIVISÃO DAS MAMAS barreira protetora da parede torácica. É muito importante lembrar que a
fáscia do músculo grande peitoral deve ser ressecada durante a mastectomia.
Didaticamente, a mama é dividida em quatro quadrantes. Esta divisão
permite a descrição da localização das lesões mamárias:
ESTRUTURA DAS MAMAS
● Quadrante Superior Externo ou Lateral (QSE ou QSL);
A mama da mulher adulta é composta por três principais tecidos:
● Quadrante Inferior Externo ou Lateral (QIE ou QIL);
● Quadrante Superior Interno ou Medial (QSI ou QSM); ●
Epitélio glandular;

● Quadrante Inferior Interno ou Medial (QII ou QIM). ●


Estroma e tecido de sustentação;

Gordura.
A Figura 10 ilustra esta divisão com as respectivas incidências de câncer de
mama. O estroma mamário é formado por tecido conjuntivo e adiposo, e confere
também sustentação à mama.
O corpo glandular ou glândula mamária, propriamente dita, é formado por Cada lóbulo apresenta seu respectivo ducto principal, com suas
dois sistemas: lobular e ductal (Figuras 12 e 13). Estes sistemas são ramificações, que segue até o mamilo. Os ductos coletores que drenam cada
envolvidos e entremeados por tecido adiposo e tecido conjuntivo de lóbulo medem cerca de 2 mm de diâmetro, e numericamente são em torno
sustentação (estroma mamário), por onde passam os vasos sanguíneos e de 6 a 10. Estes ductos podem apresentar dilatações terminais – os seios
linfáticos, e os nervos. Todo esse conjunto compõe o parênquima mamário. lactíferos subareolares – que medem de 5 a 8 mm de diâmetro.

As unidades ductolobulares são constituídas por duas camadas:


Células epiteliais que revestem a luz;

Células mioepiteliais, situadas mais profundamente, responsáveis pela
expulsão da secreção láctea.

EM RESUMO

● Lóbulos: unidade morfofuncional da mama.


● Alvéolo: unidade secretora em repouso.
● Ácino: unidade secretora desenvolvida totalmente na gravidez e na
lactação.

A aréola é a porção central da mama; possui forma circular e apresenta


tamanhos variados (de 30 a 50 mm de diâmetro), de acordo com a dimensão
FIG. 12 ARQUITETURA MAMÁRIA. da mama. É desprovida de pelos. A localização é geralmente em nível do
quarto espaço intercostal. A coloração é comumente rósea. No entanto,
pode apresentar pigmentação mais escura, dependendo da raça e/ou de
estímulo hormonal gravídico. Nesta topografia são encontrados os
tubérculos de Morgani, que são glândulas sebáceas modificadas em
forma de 10 a 15 diminutos nódulos subcutâneos. Na gestação, estes
tubérculos se hipertrofiam e originam os tubérculos de Montgomery
que, por sua vez, garantem a lubrificação do tecido areolar.

Do centro da aréola emerge o mamilo ou a papila, de formato cilíndrico,


situado sobre o quarto espaço intercostal em mamas não ptosadas. Sua pele
é semelhante à da aréola, mas não possui glândulas sebáceas. Possui de 10 a
20 óstios que correspondem à desembocadura dos ductos galactóforos ou
lactíferos. O mamilo possui inúmeras terminações nervosas sensoriais, que
incluem os corpos de Ruffini e os corpúsculos de Krause.

O complexo areolopapilar contém musculatura lisa, que se apresenta


em disposição radial e concêntrica. Ao se contrair, provoca diminuição do
FIG. 13 tamanho, endurecimento, “ereção” da papila e ejeção da secreção contida
nos seios lactíferos. A “ereção” da papila é corretamente denominada
telotismo.

A mama é composta de 15 a 20 lobos de tecido glandular túbulo-alveolar


que convergem para o mamilo em um arranjo radial. Os lobos são SUPRIMENTO SANGUÍNEO DA MAMA
separados um dos outros por projeções de tecido fibroso que envolvem o
A vascularização arterial da mama ocorre basicamente por:
parênquima mamário. São formados por 20 a 40 lóbulos e cada lóbulo é
formado por 10 a 100 alvéolos (ácinos). Cada lóbulo – onde o leite é
secretado – mede em torno de 0,5 mm. Aproximadamente 75% dos lóbulos
localizam-se na periferia da mama.

Artéria torácica interna: é também conhecida como artéria mamária ●
Grupo que se origina de canais que se encontram dentro da glândula, nos
interna e é ramo da artéria subclávia. Emite ramos perfurantes do espaços interlobulares e nos canais lactíferos;
primeiro ao sexto espaços intercostais. Cerca de 60% da mama, ●
Grupo que consiste de canais do tecido glandular e da pele da parte
principalmente as regiões medial e central, são nutridos por ramificações central da mama, formando o plexo subareolar de Sappey;
da artéria mamária interna;

Grupo composto por um plexo na face profunda da mama que pode

Artéria torácica lateral: é ramo da artéria axilar, toracoacromial ou da atingir também os linfonodos mamários internos.
subescapular. Irriga a região lateral da mama. Cerca de 30% da mama,
em especial seu QSE, são irrigados pela artéria torácica lateral;
● Ramos anteriores e laterais das artérias intercostais ANATOMIA DA AXILA
posteriores: asseguram o suprimento sanguíneo da região inferolateral
AXILA
da mama;

Plexo areolar subdérmico: é formado pelos ramos terminais das Os limites da axila incluem:
artérias intercostais posteriores. Garante a irrigação da região da aréola.

Delimitada profundamente pela fossa subescapular;
A drenagem venosa é assegurada por veias superficiais e profundas, que ●
O ápice axilar é definido pelo ligamento costoclavicular (ligamento de
acompanham o suprimento arterial.
Halsted), sítio onde a veia axilar penetra na cavidade torácica e se torna a
veia subclávia;

Veias superficiais: acompanham a camada superficial da fáscia e

Demarcada lateralmente pelo rebordo do grande dorsal e feixe
drenam para a veia mamária interna, veias superficiais do pescoço e
toracodorsal, e cranialmente limitada pela veia axilar;
jugular interna.

Delimitada medialmente pelo gradil costal, onde corre o músculo serrátil

Veias profundas: ocorre pelas veias mamária interna, axilar e ramos
anterior e o nervo de Bell.
intercostais.

A abordagem cirúrgica da axila deve ser extremamente cuidadosa, pois ela


DRENAGEM LINFÁTICA DA MAMA contém os grandes vasos e nervos responsáveis pela vascularização e
inervação do membro superior. Sua abordagem só é possível após o
A drenagem linfática (Figura 14) também acompanha o suprimento arterial. afastamento dos músculos grande e pequeno peitorais.
A linfa drenada da mama vai maciçamente para a axila (de 97 a 99%),
enquanto apenas uma pequena parte drenada vai para a cadeia mamária A primeira porção da artéria axilar surge como uma continuação da
interna (de 1 a 3%). artéria subclávia, e persiste em localização posterior ao músculo pequeno
peitoral. A segunda porção da artéria axilar, situada profundamente no
músculo pequeno peitoral, origina as artérias toracoacromial e torácica
lateral. A terceira porção da artéria axilar caracteriza-se pela sua divisão
em três ramos: artéria subescapular e artérias circunflexas anterior
e posterior do úmero. A artéria toracodorsal é uma continuação da
artéria subescapular.

A veia axilar é uma continuação da veia basílica e se apresenta na face


medial da artéria axilar. Recebe tributárias que apresentam o mesmo nome
dos ramos da artéria axilar.

Quanto à inervação, três nervos são muito importantes na axila e a lesão


destes é tema comumente abordado nas provas de residência médica, a
saber:

FIG. 14

Ocorre por três grupos interconectados de vasos linfáticos:



Nervo torácico longo: situa-se ao longo do gradil costal. É Durante a menstruação, ocorre diminuição do número de células
responsável pela inervação do músculo serrátil anterior, que é importante glandulares, redução do volume celular e discreta redução no volume
para a fixação da escápula à parede torácica, durante a adução do ombro mamário.
e a extensão do braço. Tem origem na face posterior dos ramos ventrais
de C5, C6 e C7. Sua lesão implica em quadro conhecido por escápula Após a menstruação, a queda dos níveis hormonais promove uma
alada; redução da atividade secretora do epitélio e diminuição do edema local.

Nervo toracodorsal: deriva de ramos de C6, C7 e C8. Inerva o
músculo grande dorsal. A lesão deste nervo não resulta em deficit
funcional;
ALTERAÇÕES NAS DIFERENTES FAIXAS
ETÁRIAS

Nervo intercostobraquial: origina-se do segundo e terceiro nervos
intercostais. É responsável pela sensibilidade da face medial do braço e Na paciente jovem, o tecido de sustentação e o glandular predominam.
da axila. A lesão deste nervo acarreta alterações sensitivas na face medial
do braço, como parestesia ou dor crônica. Na vida adulta, a mulher inicia a lipossubstituição mamária, que
compreende a atrofia do tecido intralobular e do estroma interlobular, e o
aumento do tecido adiposo e conjuntivo.
CLASSIFICAÇÃO DOS LINFONODOS AXILARES

No climatério, com o declínio da função ovariana, ocorre a regressão das


Existem várias classificações para os linfonodos axilares. A classificação de
estruturas epiteliais e do estroma, que culmina com a involução mamária
Berg é a mais utilizada. Possui como principal referência o músculo peitoral
com permanência do sistema ductal, mas com colapso e regressão dos
menor.
lóbulos.


Nível I: linfonodos localizados lateralmente à borda externa do músculo
peitoral menor. ATENÇÃO

Nível II: linfonodos localizados sob e entre as bordas do músculo Embora a “Embriologia e as Malformações Congênitas da Glândula
peitoral menor. Mamária” sejam raramente exploradas nas provas de residência
médica, na versão digital de nosso material didático é resumido o que é

Nível III: linfonodos localizados medialmente à borda interna do
mais importante sobre o assunto.
músculo peitoral menor.

Os linfonodos interpeitorais, conhecidos como linfonodos de Rotter,


consistem de um a quatro linfonodos situados entre os músculos grande NOÇÕES DE PROPEDÊUTICA MAMÁRIA
peitoral e pequeno peitoral, ao longo do nervo peitoral lateral.
ESTRATÉGIA DE CONSCIENTIZAÇÃO DAS
ALTERAÇÕES NORMAIS DA MAMA
FISIOLOGIA
A estratégia de conscientização das alterações normais da mama, do inglês
breast awareness, destaca a importância do diagnóstico precoce e, na
ALTERAÇÕES CÍCLICAS DA MAMA
prática, significa orientar a população feminina sobre as mudanças habituais
A mama sofre alterações morfométricas e morfológicas durante todo o ciclo das mamas em diferentes momentos do ciclo de vida e a divulgação dos
menstrual. Estas modificações podem ser observadas tanto no epitélio principais sinais do câncer de mama. Estimula as mulheres a procurar
quanto no estroma. esclarecimento médico sempre que houver qualquer dúvida em relação a
alguma alteração das mamas e a participar das ações de rastreamento do
Na primeira fase do ciclo menstrual, fase proliferativa, os níveis câncer de mama. Esta estratégia mostrou ser mais efetiva do que o ensino

crescentes de estrogênio acarretam um rápido desenvolvimento do tecido do autoexame das mamas, isto é, a maioria das mulheres com câncer de

epitelial e, por conseguinte, ocorre um grande número de mitoses. mama identifica o câncer por meio da palpação ocasional em comparação
com o autoexame.

Na segunda fase do ciclo menstrual, fase secretora, os níveis


Estimula-se que cada mulher conheça seu corpo, observe alterações e,
crescentes de progesterona promovem a dilatação dos ductos mamários e a
eventualmente, realize a autopalpação das mamas, sempre que se sentir
diferenciação das células epiteliais alveolares em células secretoras
confortável para tal (seja no banho, no momento da troca de roupa ou em
(acinares), que se dispõem preferencialmente em uma única camada.
outra situação do cotidiano), sem qualquer recomendação de técnica
específica, valorizando-se a descoberta casual de pequenas alterações
No período pré-menstrual há um aumento do volume mamário, que
mamárias. Os serviços de saúde devem se adequar para acolher, esclarecer e
resulta do aumento dos níveis de estrogênio e de progesterona. O aumento
realizar os exames diagnósticos adequados a partir desta demanda.
de volume deriva de um incremento da circulação local, de um edema
interlobular e da proliferação ductoacinar.
Aprender como as mamas aparentam em diferentes situações pode ajudar a
mulher a reconhecer o que é normal para ela. De maneira resumida, cinco
alterações devem chamar a atenção da mulher (sinais de alerta):

Nódulo ou espessamento que pareçam diferentes do tecido das mamas; ●
USG de mamas ou mamogra as

Mudança no contorno das mamas (retração, abaulamento); prévias.

Desconforto ou dor em uma única mama que seja persistente; ●
Punções e/ou biópsias prévias:

Mudanças no mamilo (retração e desvio); História patológica número, resultado da citologia
pregressa (antece‐ ou histopatológico (hiperplasia

Descarga espontânea pelo mamilo, principalmente se for unilateral. ou carcinoma in situ).
dentes astológicos)

Cirurgias prévias (estéticas ou
ANAMNESE diagnósticas).

Tratamentos efetuados.
A anamnese deve incluir os aspectos gerais de qualquer história clínica,
com ênfase na caracterização minuciosa dos sintomas mamários ●
Idade da menarca e uso de
(Figura 15). hormônios (combinados ou não).

Idade da menopausa e uso de
TH (via e duração do
tratamento).

Ganho de peso após a

História fisiológica
menopausa.

Paridade.

Idade da primeira gestação a
termo.

Lactação e duração.

Intercorrências durante o
aleitamento materno.

FIG. 15 ●
Pesquisar familiares com
carcinoma de mama, inclusive
da linhagem paterna.

A Tabela 1 resume os aspectos de maior importância. História familiar ●


Idade.

Eventual associação com ovário
e cólon.
TAB. 1 HISTÓRIA CLÍNICA NA PROPEDÊUTICA MAMÁRIA. ●
Ocorrência de bilateralidade.

Esmiuçar os sintomas mamários. ●


Per l psicossocial.

Dor: data do início, intensidade, ●
Tabagismo e respectiva carga
História social
localização, irradiação, relação tabágica.
com atividade física, ciclo ●
Uso de álcool ou drogas ilícitas.
menstrual e traumatismo,
presença de febre, uso de
fármacos.

Derrame papilar: início, cor, EXAME CLÍNICO DAS MAMAS
acometimento uni ou VIDEO_02_GIN4
História da doença
multiductal, início espontâneo O Exame Clínico das Mamas (ECM) na investigação diagnóstica é o
atual
ou provocado, uni ou bilateral e procedimento realizado para avaliar sinais e sintomas referidos por
uso de medicamentos. Vale pacientes, a fim de realizar o diagnóstico diferencial entre alterações
lembrar que normalmente só o suspeitas de câncer e aquelas relacionadas a condições benignas.
derrame papilar espontâneo
apresenta valor semiótico.

Nódulo: data da percepção,
velocidade de crescimento,
localização, consistência, relação
com traumatismos ou com ciclo
menstrual.
O ECM era usado como método tanto diagnóstico quanto de rastreamento. ●
Volume;
Como método diagnóstico, é realizado por médico para diagnóstico ●
Forma;
diferencial de lesões palpáveis da mama, é um complemento essencial na
investigação diagnóstica de doenças mamárias e o primeiro método de

Simetria;
avaliação diagnóstica na atenção primária. Como rastreamento, era ●
Retrações ou abaulamentos;
entendido como um exame de rotina feito por profissional de saúde treinado

Alterações da rede venosa;
– geralmente enfermeiro ou médico – realizado em mulheres saudáveis, sem
sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama. Atualmente, o ECM não é ●
Alterações da pele;
recomendado pelo Ministério da Saúde (MS) como estratégia de ●
Alterações do complexo areolopapilar;
rastreamento, pois o balanço entre possíveis danos e benefícios é incerto.
Convém apenas salientar que este posicionamento no MS não é definitivo e,

Descarga papilar (unilateral ou bilateral, cor).
certamente, será reavaliado assim que evidências sobre a eficácia do
rastreamento com ECM estiverem disponíveis.
INSPEÇÃO DINÂMICA

O ECM também é uma oportunidade para o profissional de saúde informar Nesta etapa do exame, o examinador deve solicitar que a paciente:
a população feminina sobre o câncer da mama, sinas de alerta, fatores de
risco, detecção precoce e a composição e variabilidade da mama normal.
1. Realize contração da musculatura peitoral, comprimindo,
Ele é parte integrante da investigação de lesões suspeitas de câncer de
preferencialmente, o quadril com as mãos colocadas uma de cada lado
mama e complementa a política de alerta à saúde das mamas como método
ou comprimindo as palmas das mãos uma contra a outra adiante do
de diagnóstico precoce.
tórax;

A melhor época para a realização do exame das mamas na menacme, em 2. Eleve e abaixe os braços lentamente.

mulheres não histerectomizadas, é na primeira fase do ciclo,


preferencialmente após a menstruação. Mas, independentemente do motivo
PALPAÇÃO DOS LINFONODOS
da consulta, da fase do ciclo menstrual ou da idade da mulher (menacme,
climatério), o exame das mamas deverá ser realizado em todas as consultas.
A palpação consiste em examinar todas as áreas do tecido mamário e
Caso o exame não seja realizado neste período e ocorram dúvidas
linfonodos (axilares, fossas supraclaviculares e infraclaviculares).
diagnósticas, a avaliação deverá ser repetida em época mais favorável.

A palpação das cadeias linfonodais supraclaviculares deve ser realizada com


O ECM deve incluir a inspeção estática, inspeção dinâmica, palpação das
a paciente sentada, mantendo a cabeça semifletida e com leve inclinação
cadeias linfonodais supraclaviculares, infraclaviculares, axilares e das
lateral.
mamas, segundo algumas fontes bibliográficas. Estas etapas do exame
físico serão esmiuçadas a seguir.
Para palpar a região axilar e o seu prolongamento (cauda de Spence), a
paciente deverá estar sentada, o braço homolateral relaxado e o antebraço
INSPEÇÃO ESTÁTICA repousando sobre o antebraço homolateral do examinador. Esta conduta visa
promover o relaxamento da musculatura peitoral. A axila é avaliada com
A inspeção estática tem o objetivo de identificar visualmente sinais movimentos de cima para baixo. Por vezes, pode ser necessário o
sugestivos de câncer. deslocamento do membro superior da paciente em direção à linha axilar
média para facilitar o relaxamento muscular.
Deve ser iniciada com a paciente sentada e com os membros superiores
pendentes, diante de boa iluminação.
PALPAÇÃO DAS MAMAS

É importante o examinador comparar as mamas observando possíveis A palpação das mamas é feita com a paciente em decúbito dorsal, com a
assimetrias, diferenças na cor da pele, textura e padrão de circulação mão correspondente à mama a ser examinada colocada sob a cabeça. O
venosa. sentido horário deve ser adotado na sequência semiológica da palpação.
Deve ser iniciada pela mama normal, de modo suave e com a face palmar
Os aspectos a observar compreendem: dos dedos indo de encontro ao gradeado costal (técnica de Velpeaux). A
seguir, a palpação deve ser realizada com as falanges distais do segundo e
terceiro dedo, semelhante ao tocar de piano (técnica de Bloodgood). O
pinçamento manual deve ser evitado, pois a superposição de glândulas e
lóbulos gordurosos pode conferir a falsa impressão da existência de
nódulos. A região da aréola e da papila (mamilo) deve ser palpada e não
comprimida. No caso da mulher mastectomizada deve-se palpar a parede do
tórax, a pele e a cicatriz cirúrgica.
Durante a palpação, deve-se observar possíveis alterações na temperatura da
QUIMIOPREVENÇÃO
pele e a existência de nódulos. A descrição de nódulos deve incluir
informações quanto ao seu tamanho, consistência, contorno, superfície, Com relação à quimioprofilaxia para o câncer de mama, duas classes de
mobilidade e localização. medicações têm sido mais estudadas: os moduladores seletivos do
receptor de estrogênio (SERM – tamoxifeno e raloxifeno) e os
A pesquisa de descarga papilar deve ser feita aplicando-se compressão inibidores de aromatase (anastrozol e exemestano).
unidigital suave sobre a região areolar, em sentido radial, contornando a
papila. A saída da secreção pode ser provocada pela compressão digital de Os SERM não interferem na produção de esteroides, mas
um nódulo ou área de espessamento, que pode estar localizado em qualquer competem com o estradiol pela ligação com os receptores de
região da mama. A descrição da descarga deve informar se é uni ou
estrogênio e, assim, exercem sua ação anti-hormonal. Os mais estudados
bilateral, uni ou multiductal, espontânea ou provocada pela compressão de
são compostos trifeniletilenos, o tamoxifeno e o raloxifeno, que funcionam
algum ponto específico, coloração e relação com algum nódulo ou
como estrogênio-agonista ou antagonista nos vários tecidos orgânicos. Vale
espessamento palpável.
lembrar que esses medicamentos estão relacionados ao aumento do risco de
eventos tromboembólicos, câncer de endométrio ou acidente vascular
Os resultados alterados do ECM devem ser avaliados e, em caso de encefálico.
suspeição, encaminhados para investigação diagnóstica em um serviço de
referência para o diagnóstico do câncer de mama. Os principais sinais e
Os Inibidores de Aromatase (IA) reduzem a produção de
sintomas que necessitam de referência urgente para investigação diagnóstica
estrogênios, agindo em fontes não gonadais. Por esta razão, funcionam
são os seguintes:
melhor após a menopausa, com os ovários silentes. Os IA atuam
bloqueando a enzima aromatase, que converte androstenediona em estrona

Qualquer nódulo mamário em mulheres com mais de 50 anos;
que, por sua vez, se interconverte em estradiol, principalmente a nível de

Nódulo mamário em mulheres com mais de 30 anos, que persistem por tecido celular subcutâneo.
mais de um ciclo menstrual;

Nódulo mamário de consistência endurecida e fixo ou que vem RISCO BAIXO OU INTERMEDIÁRIO
aumentando de tamanho, em mulheres adultas de qualquer idade;

Descarga papilar sanguinolenta unilateral; As evidências existentes permitem não recomendar o uso da
quimioprofilaxia do câncer de mama em mulheres

Lesão eczematosa da pele que não responde a tratamentos tópicos;
assintomáticas com risco baixo ou intermediário.

Homens com mais de 50 anos com tumoração palpável unilateral;

Presença de linfadenopatia axilar;
RISCO ELEVADO

Aumento progressivo do tamanho da mama com a presença de sinais de
edema, como pele com aspecto de casca de laranja; Não há consenso de que a quimioprofilaxia deva ser recomendada para
mulheres assintomáticas, mesmo em grupos com risco elevado

Retração na pele da mama;
para o desenvolvimento do câncer de mama (INCA). A

Mudança no formato do mamilo.
quimioprevenção pode ser considerada para pacientes com hiperplasia
ductal atípica, hiperplasia lobular atípica e carcinoma lobular in situ,
principalmente em lesões mais extensas ou múltiplas, casos de repetição do
PREVENÇÃO PRIMÁRIA DO CÂNCER DE
quadro ou quando há predisposição hereditária.
MAMA
Como já mencionado, a decisão de se prescrever SERM ou IA para todas as
CONTROLE DOS FATORES DE RISCO
mulheres com risco elevado não é unânime. A conduta requer
A prevenção primária do câncer de mama está relacionada ao controle dos individualização, conforme nível de risco, repercussão emocional do risco,
fatores de risco reconhecidos. Embora os fatores hereditários e muitos faixa etária, comorbidades e tolerabilidade aos fármacos.
daqueles relacionados ao ciclo reprodutivo da mulher não sejam passíveis
de mudança, evidências demonstram uma diminuição do risco relativo para
câncer de mama de aproximadamente 4,3% a cada 12 meses de aleitamento PREVENÇÃO SECUNDÁRIA DO CÂNCER DE
materno, adicionais à redução de risco relacionada à maior paridade. Fatores MAMA
relacionados ao estilo de vida, como obesidade pós-menopausa,
A prevenção secundária inclui estratégias que visam sua detecção precoce.
sedentarismo, consumo excessivo de álcool e terapia de reposição
hormonal, podem ser controlados e contribuir para diminuir a incidência do
câncer de mama, o que historicamente tem sido pouco valorizado. Com O câncer de mama, quando identificado em estágios iniciais (lesões
base em amplo resumo sobre evidências científicas da relação entre menores que dois centímetros de diâmetro), apresenta prognóstico
alimentação, atividade física e prevenção de câncer, estima-se que é favorável. Para isso, é necessário implantar estratégias para a detecção
possível prevenir 28% dos casos de câncer de mama por meio da precoce da doença.
alimentação, nutrição, atividade física e gordura corporal adequada.

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Entre as alterações clínicas que podem corresponder a um câncer de mama,
Sensibilidade ●
Mastodínia.
destacam-se:
mamária pré-mens‐
trual

Nódulo palpável;

Endurecimento da mama;

Mastalgia cíclica (alterações
funcionais benignas da mama).

Descarga papilar;

Mastalgia acíclica (ectasia,

Eritema mamário; adenose, mastite aguda e

Edema mamário em “casca de laranja” (peau d’orange); crônica).
Mastalgia

Retração ou abaulamento;

Dor extramamária (nevralgia
intercostal, contratura muscular,

Inversão, descamação ou ulceração do mamilo;
espondiloartrose vertebral, sín‐

Linfonodos axilares palpáveis. drome de Tietze, doença de
Mondor, angina, colelitíase).

DIAGNÓSTICO PRECOCE ●
Alterações Funcionais Benignas
Adensamentos/cistos
da Mama (AFBM).
A estratégia de diagnóstico precoce contribui para a redução do estágio de
apresentação do câncer de mama. Nessa estratégia é fundamental a ●
Galactorreia.
educação da mulher e dos profissionais de saúde para o reconhecimento dos ●
Descarga papilar anormal (papi‐
Derrame papilar
sinais e sintomas do câncer de mama, assim como o acesso rápido e loma intraductal, ectasia ductal,
facilitado aos serviços de saúde. AFBM, dentre outros).


Fibroadenoma.
RASTREAMENTO ●
Papiloma intraductal.
O rastreamento com o exame de Mamografia (MMG) é a estratégia de ●
Lipomas.
Nódulos dominantes
saúde pública que tem sido adotada em contextos onde a incidência e a

Tumor phyllodes ou loides ou
mortalidade por câncer de mama são elevadas.
lodes.

A MMG é o único exame utilizado para rastreamento, com capacidade de



Hamartomas.
detectar lesões não palpáveis e causar impacto na mortalidade por câncer de

Mastite puerperal.
mama, sendo por isso o exame de imagem recomendado para o
rastreamento do câncer de mama no Brasil. ●
Outros processos in amatórios:

» Esteatonecrose;

DOENÇAS BENIGNAS DA MAMA Doenças inflamatórias


» Eczema areolopapilar;

e infecciosas
pontos principais » Ectasia ductal;

Conhecer: » Abscessos mamários;

● Os principais aspectos clínicos das doenças benignas da mama;


» Abscesso subareolar
● Os métodos propedêuticos empregados na avaliação das mamas, recidivante.
incluindo suas indicações, vantagens e desvantagens;
● O manejo terapêutico das afecções benignas da mama;
● As divergências na literatura relacionadas ao assunto. Sempre que MASTALGIA
existir algo divergente na literatura, você encontrará um símbolo para
que você fique de vivo! Todas as divergências serão listadas ao DEFINIÇÃO
final desta parte.
A mastalgia é um sintoma e não uma doença. É simplesmente a
dor nas mamas. Mas também pode ser relatada como um aumento da
Para facilitar a sua memorização, as doenças benignas da mama serão sensibilidade ou, até mesmo, um ingurgitamento mamário. Ela é um
agrupadas com base em aspectos clínicos (Tabela 1) que, em determinadas sintoma relevante, pois responde por 40% do volume de consultas
afecções, se superpõem (papiloma intraductal, AFBM). ginecológicas na idade reprodutiva da mulher (menacme).

ETIOLOGIA
TAB. 1 CLASSIFICAÇÃO DAS AFECÇÕES BENIGNAS DA MAMA
BASEADA EM ASPECTOS CLÍNICOS.
A etiologia é desconhecida. Várias hipóteses foram aventadas, a saber:
Teoria do Hiperestrogenismo A anamnese deve pesquisar todas as características da dor, tais como:
localização, tipo, intensidade, duração, relação com atividades diárias,
O estrogênio é pré-requisito fundamental para a ocorrência de mastalgia
alimentação e uso de novos medicamentos (hormônios, ansiolíticos,
cíclica. No entanto, vários estudos não encontraram correlação entre os
antidepressivos).
níveis séricos de estradiol e a presença do sintoma.

O exame físico deve ser completo. Durante esta avaliação, o mais


De ciência de Progesterona na Fase Lútea importante é coletar dados que diferenciem a dor cíclica da acíclica.

A hipótese de que menores níveis séricos de progesterona na fase lútea se


correlacionariam com a dor mamária não foi confirmada pela literatura. Em uma paciente com queixa de dor nas mamas, algumas perguntas
devem ser obrigatoriamente respondidas :

Aumento dos Níveis Séricos de Gonadotro nas


● A DOR É CÍCLICA OU ACÍCLICA?
Estudos recentes apontam para uma correlação entre os níveis aumentados
● A DOR É INTRA OU EXTRAMAMÁRIA?
de gonadotrofinas e mastalgia cíclica. Provavelmente, alterações no
mecanismo pulsátil das gonadotrofinas estão envolvidas na etiologia desta ● EXISTEM FATORES PREDISPONENTES?
afecção. ● QUAL É A INTENSIDADE DA DOR?

Alteração no Mecanismo Pulsátil da Prolactina


CLASSIFICAÇÃO
Estudos recentes apontam para uma alteração no mecanismo pulsátil da
prolactina nas pacientes portadoras de mastalgia cíclica. Estas pacientes Existem três grupos de dor nas mamas. A dor relacionada com o ciclo
apresentam uma liberação facilitada deste hormônio. Segundo os estudos, menstrual (cíclica), a dor que não se relaciona com o ciclo menstrual
tais pacientes apresentam picos noturnos mais elevados, diminuição na (acíclica) e a dor que tem origem no tórax ou em outras localizações, mas
amplitude da variação normal circadiana e valores anormalmente que é percebida nas mamas ou nas axilas (dor extramamária).
aumentados pela manhã na fase lútea.
A maioria das mulheres portadoras de mastalgia aguda possui níveis
elevados de depressão e ansiedade. A seguir, detalhamos esta classificação:
Resposta In amatória no Tecido Mamário

Não foi encontrada correlação entre o grau de infiltrado inflamatório, o de


Mastalgia Cíclica
fator de necrose tumoral e o da interleucina 1-beta no tecido mamário de
pacientes portadoras de mastalgia. Como já foi mencionado e o próprio nome já diz, a ocorrência da dor
varia com o ciclo menstrual. Normalmente, ocorre na fase lútea

Ectasia Ductal tardia, frequentemente dois a três dias antes da menstruação. Em geral, é
bilateral e referida nos quadrantes superiores externos, porque aí
Pacientes portadoras de dor mamária submetidas à ultrassonografia das
predomina o tecido glandular. Pode apresentar intensidades diferentes nas
mamas apresentam dilatação ductal mais frequentemente do que mulheres
duas mamas. As AFBM apresentam tipicamente este tipo de dor. Mais
assintomáticas. O grau de dilatação ductal se relaciona com a intensidade do
detalhes sobre essa afecção serão encontrados adiante.
quadro. Nas mastalgias acíclicas foi encontrada correlação entre o local da
dilatação e o sítio do sintoma.
Mastalgia Acíclica

De ciência de Ácidos Graxos Poli-Insaturados (ácido linoleico, Corresponde à dor mamária que não possui associação com o ciclo
ácido digamalinoleico, ácido araquidônico) menstrual. A dor pode ser constante ou intermitente. Várias causas podem
estar envolvidas neste grupo. As causas mamárias mais importantes são a
Atualmente, esta é a teoria mais aceita. Esse estado levaria a uma
ectasia ductal, a adenose esclerosante, a esteatonecrose e as mastites agudas
maior sensibilidade e afinidade dos receptores mamários aos estrogênios e
e crônicas. Mais à frente, essas afecções serão abordadas.
progestogênios. O ácido araquidônico é precursor das prostaglandinas. A
dificuldade na síntese da prostaglandina E1, que é moduladora da ação
hormonal, pode ter influência na gênese da mastalgia. Dor Extramamária ou Dor de Origem Musculoesquelética

Possui origem na parede torácica ou em outros sítios. No entanto,

ESTRATÉGIA DIAGNÓSTICA a dor é percebida na mama.

VIDEO_03_GIN4
São várias as causas extramamárias, na maioria das vezes não é possível
A história clínica e o exame físico devem ser realizados identificá-las. As mais importantes são:
preferencialmente após a menstruação.
● Nevralgia intercostal; A dor que dura mais do que cinco dias ao mês, interfere nas atividades
● Contratura muscular; diárias, na qualidade de vida das pacientes e produz ansiedade deve ser
valorizada e tratada.
● Espondiloartrose vertebral;

● Angina;
Apenas 10 a 15% das pacientes com dor mamária possuem a forma
● Colelitíase; grave.
● Síndrome de Tietze (costocondrite): inflamação da articulação
costocondral. Caracteriza-se por dor torácica com irradiação para a
mama. Clinicamente, manifesta-se por pontos dolorosos à compressão FATORES DE RISCO
das articulações condroesternais, principalmente nos segundo, terceiro e
quarto espaços intercostais; Os fatores de risco devem ser identificados e, se possível, corrigidos.
● Doença de Mondor: tromboflebite de veias superficiais do
tórax e da parte superior do abdome, principalmente da veia Estresse
torácica lateral. É uma lesão rara associada a traumatismo local
A tensão emocional é um fator que pode estar envolvido. A liberação
(espontâneo ou cirúrgico). Clinicamente, manifesta-se por dor aguda na
central de opioides, como a serotonina, pode diminuir a liberação de
topografia da veia trombosada e presença de cordão fibroso no local. Em
dopamina e resultar em aumento da liberação de prolactina. O aumento
geral, é um processo autolimitado. A dor regride após duas ou três
deste hormônio é uma das teorias que tentam explicar a dor mamária cíclica.
semanas e em seis a oito semanas não há mais qualquer evidência da
enfermidade. Não está indicada biópsia. Raramente é necessário o uso de
analgésicos e anti-inflamatórios. Tabagismo

Alguns estudos descrevem uma associação do fumo com a dor mamária


A Tabela 2 resume as diferenças nos aspectos clínicos da mastalgia cíclica e
cíclica.
acíclica.

Retenção Hídrica

Pode ser responsável pelo aparecimento ou piora da mastalgia.

Ingestão de Cafeína ou Metilxantinas

Pode ser responsável pelo aparecimento ou piora da mastalgia, de acordo


com alguns autores.

Atividades Diárias e Uso de Medicamentos (hormônios,


antidepressivos e ansiolíticos)
INTENSIDADE DA DOR
Podem ser responsáveis pelo aparecimento ou piora da mastalgia.

A definição da intensidade da dor facilita a escolha do tratamento para a


mastalgia, que pode ser classificada em: NECESSIDADE DE EXAMES COMPLEMENTARES

Mastalgia Leve A necessidade de exames complementares depende dos achados da


anamnese e do exame físico.
Não interfere na qualidade de vida (sono, relações sexuais) e nas
atividades diárias (trabalho). É importante saber que a indicação de exames complementares nas
pacientes com dor mamária geralmente se baseia em um único
Mastalgia Moderada princípio: excluir a possibilidade de câncer. Normalmente, a
Ultrassonografia (USG) das mamas e/ou a Mamografia (MMG) são os
Interfere na qualidade de vida, mas não nas atividades diárias.
exames mais solicitados. Vale lembrar que, nas pacientes com mastalgia
acíclica e dor extramamária, a radiografia de tórax pode ser útil.
Mastalgia Grave

Interfere na qualidade de vida e nas atividades diárias. ESTRATÉGIA TERAPÊUTICA

NÃO ESQUEÇA

O desconforto mamário pré-menstrual com duração de dois a três dias é


considerado normal e é denominado mastodínia.
Em linhas gerais, as diretrizes (Figura 1) para o tratamento incluem a Danazol (Ladogal®)
exclusão de câncer, orientação da paciente e evitar ao máximo o
É o único medicamento liberado pelo FDA para tratamento da
tratamento medicamentoso. É importante ressaltar que a dor mamária
mastalgia. É um antigonadotrófico que induz uma pseudomenopausa.
ocorre em menos de 1% dos casos de câncer. Vamos sublinhar este princípio
Possui eficácia comprovada nas mastalgias cíclicas e acíclicas, mas não se
para que você não o esqueça: a maioria dos casos de mastalgia não
mostrou superior ao tamoxifeno. Cerca de 20 a 30% das pacientes podem
requer tratamento medicamentoso. O esclarecimento à paciente de
apresentar alguns dos seguintes efeitos colaterais: irregularidade menstrual,
que ela não é portadora de doença maligna e a sustentação mecânica
hirsutismo, engrossamento da voz, oleosidade cutânea, acne, cãibras,
adequada da mama (uso de sutiãs apropriados), associados à anamnese e
cefaleia, náuseas e depressão.
exame físico bem-feitos, resolvem o problema em 80 a 90% dos casos.


Dose: 100 a 200 mg/dia.

Gestrinona (Nemestan®, Dimetriose®)

É um esteroide sintético com propriedades androgênicas, antiestrogênicas e


antiprogestogênicas. Em geral, promove uma diminuição da mastalgia após
três meses de uso. Os efeitos adversos incluem: hirsutismo, acne,
irregularidade menstrual, alteração da voz, diminuição da libido, cefaleia,
depressão e fadiga.


Dose: 2,5 mg duas vezes por semana.

Análogos do GnRH (Zoladex®)


FIG. 1 DIRETRIZES PARA O TRATAMENTO DA MASTALGIA.
Diminui a mastalgia. No entanto, possui efeitos colaterais importantes,
como: alterações menstruais, aumento da oleosidade da pele e do cabelo,
irritabilidade, cefaleia, náusea, depressão, ressecamento vaginal, perda da
libido e diminuição da massa óssea.

TRATAMENTO CLÍNICO

Dose: 3,6 mg/mês.
Em geral, o tratamento medicamentoso está indicado nas
pacientes com duração dos sintomas superior a seis meses,
Bromocriptina (Parlodel®) e Cabergolina (Dostinex®)
com interferências nas atividades diárias e/ou na qualidade de
vida. Assim, o manejo farmacológico da mastalgia deve ser evitado nas São agonistas dopaminérgicos. Apresentam pequena melhora dos sintomas
pacientes com duração dos sintomas inferior a seis meses. quando comparados ao placebo. São medicamentos pouco empregados
devido a efeitos colaterais importantes, que ocorrem em até 30% das
Obviamente, a escolha terapêutica dependerá do tipo de dor pacientes: náuseas, intolerância gástrica, constipação, cefaleia e hipotensão

apresentado pela paciente. É preciso salientar que nenhum dos postural.

fármacos utilizados cura completamente a mastalgia. O que comumente


acontece são períodos mais ou menos longos de remissão.

Dose: bromocriptina: 2,5 a 5,0 mg/dia diariamente; cabergolina: 0,5 a 1
mg/semana.

A seguir, serão listados os medicamentos empregados no tratamento da dor


mamária. O tamoxifeno e o danazol são normalmente reservados para os Ácido Gamalinoleico ou Gamalinolênico ou Óleo de Prímula
casos de mastalgia grave, em função dos efeitos colaterais que possuem. (Gamaline V®)
Cabe aqui a ressalva de que alguns medicamentos são utilizados
empiricamente, pois não possuem eficácia comprovada cientificamente. Cerca de 240 mg/dia de ácido gamalinoleico equivalem a 3 g de óleo de
prímula. O ácido linoleico é um ácido graxo poli-insaturado, precursor de
prostaglandinas do grupo E. O óleo de prímula é um produto natural que
Tamoxifeno (Nolvadex®, Tamoxifeno®, Tecnotax® ) pode ser manipulado em cápsulas de 500 mg ou 1 g. Não possui efeitos
colaterais. A dose recomendada é variável na literatura. Apesar de ser um
É o medicamento mais eficaz no manejo da dor mamária. É um
medicamento empregado amplamente na prática clínica, os estudos recentes
fármaco antiestrogênico que possui uma eficácia de 72 a 90%. Os efeitos
não revelaram benefícios com seu uso no manejo da mastalgia. Há uma
colaterais ocorrem em cerca de 20% das pacientes e incluem alterações
grande controvérsia em relação ao uso destes medicamentos na literatura.
menstruais, náuseas, fogachos, eventos tromboembólicos e câncer de
endométrio.

Dose: uma cápsula de 500 mg diariamente, por 60 dias, ou 1 g até três
vezes ao dia por três a seis meses.

Dose: 10 mg ao dia por dois a seis meses (variável na literatura).
Vitaminoterapia

São empregados dois preparados principais de forma empírica:


Vitamina A, B6 e E (Esclerovitan plus®): duas drágeas ao dia
durante dois a seis meses;

Vitamina E (Ephynal®): uma drágea ao dia por dois a três meses.

Até o momento, não há evidências científicas que suportem a indicação das


vitaminas no manejo da dor mamária.

Progestogênios

A maioria dos estudos com progestogênios, tópicos ou orais, não evidenciou


melhora significativa da mastalgia. Alguns livros didáticos informam que o FIG. 2
tratamento com estes medicamentos não possui benefício superior ao
placebo. Portanto, são necessários mais estudos para avaliar a eficácia do
acetato de medroxiprogesterona em mulheres na menacme no tratamento da
mastalgia cíclica.

ADENSAMENTOS E CISTOS
Iso avonas
(ALTERAÇÕES FUNCIONAIS BENIGNAS DA
Não há evidências científicas para indicação deste medicamento no manejo MAMA)
da mastalgia.
Três espectros clínicos são relevantes nas Alterações Funcionais
Benignas das Mamas (AFBM): mastalgia cíclica (que detalhamos no
Diuréticos tópico anterior), adensamentos e cistos. Cabe aqui destacar que esses
Não há evidências científicas para indicação destes fármacos no manejo da quadros não são propriamente doenças, mas sim manifestações clínicas de
mastalgia. um processo fisiológico comum, que podem estar associadas em diferentes
graus. As questões de prova sobre este assunto, quase sempre, concentram-
se no manejo terapêutico.
Anticoncepcionais Combinados Orais

Não há evidências científicas para indicação destes medicamentos no


manejo da mastalgia. São necessários estudos adicionais. DEFINIÇÃO

O termo AFBM surgiu de um consenso organizado pela Sociedade


Brasileira de Mastologia, em 1994, no Rio de Janeiro. E representou uma
TRATAMENTO CIRÚRGICO
tentativa de uniformizar a nomenclatura. As expressões mastopatia

Até o momento, as evidências sugerem que a cirurgia não possui um papel fibrocística, doença fibrocística e displasia mamária eram empregadas como

importante no tratamento da mastalgia. sinônimos. Atualmente, estas denominações se encontram em desuso pelo
significado de enfermidade e de lesão pré-maligna que atribuíam à
condições fisiológicas.
TRATAMENTO DA DOR EXTRAMAMÁRIA

O tratamento é direcionado à causa base da mastalgia. Normalmente, CLASSIFICAÇÃO INGLESA


consiste no uso de analgésicos e anti-inflamatórios não esteroides.
A escola inglesa liderou uma revolução conceitual e introduziu a
classificação “Aberrações do Normal Desenvolvimento e Involução da
Memorize, então, as possíveis queixas de dor mamária relatadas pelas
Mama” (ANDI).
mulheres (Figura 2).

Hughes e Mansel, autores desta classificação, estabeleceram uma correção


entre as etapas evolutiva e involutiva da mama, com seus respectivos
“distúrbios”, termo por eles empregado para evitar a conotação de doença.
Apenas graus extremos, como os abscessos, o fibroadenoma gigante e as
hiperplasias atípicas seriam considerados verdadeiramente enfermidades.

Convém salientar que a classificação ANDI não é aceita universalmente ou,


mesmo, citada em todos os livros didáticos mais atuais.
Na verdade, a punção de todos os cistos não é necessária, desde que seja
EPIDEMIOLOGIA
possível o acompanhamento ultrassonográfico dos cistos. E a imagem
As AFBM representam as alterações mais frequentes da mama. O pico de ultrassonográfica dos cistos é bem típica: anecoica (preta por dentro),
incidência ocorre dos 25 aos 45 anos. margens bem definidas, redonda ou oval, com reforço acústico posterior.
Diante dessa descrição em uma questão de prova, pense em cisto mamário
(Figura 3).
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

A expressão AFBM não é perfeita. Mas ela reproduz melhor a


fisiopatologia da tríade clássica das AFBM: dor mamária cíclica,
espessamentos mamários e cistos. Vale lembrar que estas
manifestações clínicas se associam em graus variados.

Nas AFBM pode ocorrer, ainda, descarga papilar seroesverdeada,


multiductal, bilateral. Mas a descarga não faz parte da tríade
clássica das AFBM.

ESTRATÉGIA DIAGNÓSTICA E TERAPÊUTICA

Toda vez que aparecer em uma questão uma mulher na menacme, com
mastalgia cíclica, espessamentos e cistos mamários, deve-se pensar em
AFBM. Normalmente, o exame físico minucioso das mamas define o
diagnóstico. FIG. 3 Imagem ultrassonográfica – cisto simples da mama.

EXAME FÍSICO
Em geral, os cistos da AFBM não apresentam risco aumentado para câncer
Devem ser procurados, detalhados e tratados: de mama. As lesões precursoras de câncer de mama que sinalizam a
passagem de um estado fisiológico para um estado patológico são
identificadas pelo grau de hiperplasia e pela presença de atipia.
Mastalgia

Rever o tópico anterior. Por fim, o tratamento cirúrgico dos cistos só está indicado nas seguintes
situações:

Adensamentos

Exclusão de neoplasias dos cistos com várias recidivas, que apresentem
Correspondem a uma área de endurecimento localizado. Ao exame, massa residual pós-punção ou cujo líquido seja sanguinolento;
são achados físicos bidimensionais que aparecem como espessamentos ●
Cisto complexo.
mamários, acompanhados ou não de dor e nodularidade. A possibilidade de
câncer deve ser sempre excluída. Em geral, não requer nenhum tratamento
Guarde a imagem das AFBM (Figura 4).
adicional.

Cistos

Em linhas gerais, são a etapa involutiva do lóbulo mamário. Incidem


em 7 a 10% das mulheres. São tumores de aparecimento rápido, móveis,
elásticos, indolores (maioria), mais frequentes nas porções centrais da
mama. Comumente aparecem a partir dos 35 anos, mas sua incidência
máxima ocorre entre os 40 e 50 anos. Vale aqui a lembrança de que os cistos
podem ocorrer em mulheres mais jovens. O tratamento consiste apenas na
simples punção da lesão, realizada em nível ambulatorial (PAAF).

FIG. 4 ALTERAÇÕES FUNCIONAIS BENIGNAS DA MAMA.


MAS O QUE FAZER EM CASO DE MÚLTIPLOS CISTOS? É Tecido mamário normal (A) e tecido mamário com múltiplos cistos (B).
PRECISO PUNCIONAR TODOS?

DERRAME PAPILAR
O derrame ou descarga papilar ocorre em várias afecções dos ductos
Papiloma intraductal Sanguinolento (50% dos
mamários que, por sua vez, podem se manifestar como secreção, retração,
casos)
infecção ou massa do complexo areolopapilar. Na prática clínica,
estabelecer o diagnóstico diferencial entre essas enfermidades é muito Serossanguinolento (50%
importante, pois o derrame papilar representa 7 a 10% das queixas nos dos casos)
ambulatórios de mastologia. Em aproximadamente 95% dos casos, o
derrame papilar possui uma causa benigna. Entretanto, pode ser uma das
Carcinoma Água de rocha ou sanguino‐

apresentações clínicas de uma malignidade. lento

Gravidez Sanguinolento
Nas provas de residência, este tema é cobrado da seguinte forma: a questão
descreve um tipo de descarga papilar e pergunta-se qual é a hipótese Mastites e processos Purulento
diagnóstica mais provável. Para tanto, em primeiro lugar, é preciso lembrar infecciosos
a diferença entre um derrame papilar fisiológico e patológico. Em segundo
lugar, é necessário distinguir as características do derrame papilar de acordo
com as principais afecções de base.
DERRAMES FISIOLÓGICOS × PATOLÓGICOS

A bilateralidade e a secreção multiductal são fatores preditores de


DEFINIÇÃO
benignidade. O derrame papilar sanguinolento ou em água de rocha,
Derrame papilar corresponde à saída de secreção pela papila. Em acompanhado de secreção espontânea, uniductal, possui maior valor
algumas fontes, o termo descarga papilar é definido como a saída de preditivo para câncer. Além disso, a associação com nódulo ou massa
secreção pela papila fora do ciclo gravídico-puerperal e do período de aumenta em torno de 60% o risco de malignidade.
lactação.
A Tabela 4 resume as características sugestivas de descarga papilar
No entanto, esta definição pode ser considerada um preciosismo destes fisiológica e patológica.
livros didáticos. Aqui, portanto, as descargas papilares do ciclo gravídico-
puerperal não serão excluídas da definição.
TAB. 4 DESCARGA PAPILAR OU DERRAME PAPILAR OU
TELORRAGIA.
O termo derrame papilar possui como sinonímia: descarga papilar, derrame
mamilar e telorragia. FISIOLÓGICA PATOLÓGICA

Descarga provocada Descarga espontânea


CLASSIFICAÇÃO
Multiductal Uniductal
A presença de derrame papilar não necessariamente representa um sinal de
malignidade. Pelo contrário, em 95% dos casos, os derrames são de Bilateral Unilateral
origem benigna. Classificam-se em:
Multicolorida Aquosa/sanguínea

● Fisiológicos; Esporádica Profusa e persistente


● Patológicos;


Galactorreia: define uma secreção láctea, normalmente bilateral; VIDEO_04_GIN4


Pseudoderrames: podem ser causados por mamilos invertidos, lesões
eczematoides, infecção nas glândulas sebáceas de Montgomery e erosões ESTRATÉGIA DIAGNÓSTICA
traumáticas.
ANAMNESE

A Tabela 3 apresenta a coloração do derrame papilar de acordo com as


Em caso de derrame papilar, deve-se investigar: início, cor, acometimento
afecções de base.
uni ou multiductal, início espontâneo ou provocado, uni ou bilateral, uso de
medicamentos, fatores de risco para câncer de mama (idade superior a 50
anos e outros que serão detalhados no tópico câncer de mama), sexo
TAB. 3 COLORAÇÃO DO DERRAME PAPILAR DE ACORDO COM
AFECÇÕES DE BASE.
(derrame papilar em homens está mais associado a carcinoma do que em
mulheres). Vale lembrar que normalmente só o derrame papilar espontâneo
AFBM Seroesverdeado apresenta valor semiótico.

Galactorreia Leitoso
EXAME FÍSICO
Ectasia ductal Amarelo-esverdeado,
espesso Deve responder as seguintes perguntas:
1. É REALMENTE UM DERRAME? MÉTODOS DE IMAGEM

Os métodos de imagem são coadjuvantes na investigação do derrame


2. O DERRAME É ESPONTÂNEO OU PROVOCADO?
papilar.
Aproximadamente dois terços das mulheres não lactantes apresentarão
derrame papilar se estimuladas. A descarga de maior valor semiológico é a
Mamogra a (MMG)
persistente e espontânea.
A MMG apresenta baixa sensibilidade no diagnóstico das descargas
3. QUAL É A COLORAÇÃO DA SECREÇÃO? papilares, porém sua realização é mandatória para avaliar possíveis lesões
A descarga fisiológica possui coloração que varia de amarelo-esverdeado ao concomitantes.
azulado.
Ela é o exame a ser solicitado no rastreamento do câncer de mama.
4. HÁ NÓDULO PALPÁVEL? Consequentemente, deve excluir nódulos, microcalcificações ou outros
achados.
Caso haja nódulo palpável, a investigação dominante é a do nódulo. Mais
detalhes serão encontrados adiante, no tópico “Nódulos”.
Ultrassonogra a das Mamas (USGM)
5. É UMA DESCARGA UNIDUCTAL OU MULTIDUCTAL,
A USGM apresenta baixa sensibilidade no diagnóstico das descargas
UNILATERAL OU BILATERAL, PERSISTENTE OU
papilares e é geralmente complementar à MMG.
INTERMITENTE?
Na ausência de nódulo palpável, devem ser pesquisadas mais informações
sobre a descarga. A expressão radiada é uma etapa fundamental no exame Ressonância Magnética (RM) das Mamas
físico. Consiste na palpação em raios no sentido periferia-centro, seguida de
A RM das mamas vem sendo empregada de forma progressiva na
pressão firme sobre a aréola na tentativa de reproduzir o derrame no
propedêutica do fluxo papilar nos últimos anos. As taxas de falso-positivo e
chamado ponto de gatilho. Esta avaliação é muito importante para a
a limitação na realização de biópsias dificultam a realização desse exame.
identificação de sua topografia e para o planejamento da incisão em caso de
indicação cirúrgica.
Ductogra a

EXAMES COMPLEMENTARES Consiste na cateterização do ducto e injeção de contraste hidrossolúvel, com


realização de mamografias sequenciais para avaliar a árvore ductal,
O Fluxograma 1 resume em que ponto da investigação os exames observando falhas de enchimento ou bloqueio, o que pode ser útil em lesões
complementares devem ser solicitados e as estratégias terapêuticas para o periféricas.
derrame papilar.
Entretanto, é atualmente pouco empregada devido ao desconforto da
técnica, por ser pouco específica e, principalmente, pelo advento da
ultrassonografia, especialmente quando realizada por profissional
experiente.

Ductoscopia

Caracteriza-se pelo uso de um microendoscópio de fibra ótica inserido no


ducto que possibilita visualização direta do epitélio ductal mamário, biópsia
e análise citológica e histológica, tendo alto valor preditivo positivo, mas
com baixa sensibilidade, além de ser doloroso. Também é pouco
empregada.

FLUXOGRAMA 1
A MMG é o exame de imagem padrão e deve excluir nódulos,
microcalcificações ou outros achados.

A USGM é geralmente complementar à MMG. Entretanto, em pacientes


CITOLOGIA DO DERRAME jovens, que normalmente apresentam mamas densas, a USGM
apresenta uma eficiência adequada na definição de lesões. Desse
Possui baixo valor preditivo positivo, pois é de difícil interpretação e modo, a idade também é um fator muito importante na escolha pelo
normalmente hipocelular. Não possui muito valor na indicação de biópsia método de imagem.
cirúrgica.

É importante frisar que, mesmo que ambos os exames sejam normais,


Cabe aqui lembrar que diante de um derrame papilar suspeito e citologia pode ser necessário continuar a investigação do derrame suspeito.
negativa é obrigatório prosseguir com a propedêutica.
Em caso de alterações nestes exames, o manejo terapêutico É uma rara afecção que se caracteriza por um nódulo palpável na região
subsequente deverá obedecer às condutas preconizadas segundo a subareolar. O derrame papilar nem sempre se associa à papilomatose
classificação de BI-RADS da lesão. Mais detalhes serão encontrados no juvenil. Esta enfermidade acomete pacientes entre a segunda e quarta
tópico “Nódulos”. décadas de vida. Como se trata de hiperplasia ductal ou lobular há um
aumento do risco de câncer de mama. Por este motivo, estes pacientes
devem ser acompanhados cuidadosamente.

CAUSAS DE DERRAME PAPILAR


Adenoma de Mamilo
Deve-se tentar definir a causa do derrame. Como já foi dito, são várias as
causas de descarga papilar. A seguir, encontram-se as principais: Representa um tumor raro, benigno e de fácil diagnóstico. Isso porque causa
um nódulo palpável nas camadas superficiais do mamilo. Nesse processo, o
contorno do mamilo pode até ser alterado. Em geral, está associado a
Papiloma Intraductal derrame papilar sanguinolento.
Corresponde à principal causa de derrame papilar sanguinolento
(50% dos casos) ou serossanguinolento (50% dos casos). Doença de Paget
Normalmente, acomete os ductos principais subareolares e pode gerar
Corresponde a uma lesão ulcerada do mamilo. É normalmente unilateral e
nódulo subareolar palpável, em alguns casos, visível. Em geral, não excede
pode estar associada ou não a um nódulo. Sua evolução para ulceração à
2 a 3 mm, é solitário e se localiza nos ductos terminais. O pico de incidência
medida que ocorre infiltração de células neoplásicas na epiderme, pode ser
desta afecção ocorre entre os 30 e 50 anos. Comumente, a abordagem
acompanhada de descarga serosa ou sanguinolenta.
terapêutica consiste em incisão justareolar ou periareolar com
exérese do(s) ducto(s) atingido(s).
Fisiológica

Carcinoma Corresponde a uma secreção apócrina da glândula mamária, que ocorre


normalmente após a manipulação do mamilo. É, em geral, multiductal. A
O carcinoma geralmente causa derrame papilar quando associado a um
nódulo. O derrame papilar espontâneo, uniductal, aquoso (água sua coloração varia de ducto para ducto, de branco-amarelada até

de rocha) ou sanguíneo possui maior valor preditivo positivo para o esverdeada e azulada. Em geral, não possui componente sanguinolento.

câncer de mama.
Gravidez
Ectasia Ductal A descarga papilar da gravidez é sanguinolenta em cerca de 20% dos
Define a dilatação dos ductos e a estagnação de secreção neles. casos. Ocorre por hipervascularização do sistema ductal. É uma
Sua etiologia é desconhecida. A idade é o principal fator de risco. Ela condição benigna.
acomete pacientes entre a quinta e oitava décadas de vida. Não exige
tratamento, desde que o sintoma não seja espontâneo e abundante. A
Galactorreia
descarga típica desta afecção é amarelo-esverdeada e espessa. A exérese do
sistema ductal terminal está indicada se a ectasia representa um incômodo A sua principal causa é farmacológica, sobretudo por medicamentos
para a paciente. Atualmente, a apresentação tumoral desta afecção é rara, psicotrópicos. No entanto, pode ser idiopática ou secundária a adenomas
pois a consulta e o manejo terapêutico são realizados na fase de derrame. hipofisários (Tabela 5). A história de galactorreia, infertilidade e
amenorreia sugere intensamente a possibilidade de adenoma de hipófise. O
exame microscópico da secreção revela gotículas de gordura. É um exame
Alterações Funcionais Benignas da Mama (AFBM)
de fácil execução, rápido e fornece diagnóstico no consultório.
A presença de descarga multiductal, bilateral, de aspecto seroesverdeado é
um achado frequente na AFBM.
TAB. 5 CAUSAS FARMACOLÓGICAS DE GALACTORREIA.

Papiloma Intraductal Múltiplo


HORMÔNIOS
Define a presença de várias áreas papilomatosas no mesmo sistema ductal
que, em geral, se distribuem perifericamente. Por esta razão, não causa

Estrogenioterapia.
derrame papilar com a mesma frequência do papiloma intraductal. Pode ●
Anticoncepcionais orais.
estar associado ao aumento do risco para carcinoma.
ANTI-HIPERTENSIVOS

Papilomatose Juvenil
O “Berek & Novak’s Gynecology” informa que as principais causas de

Verapamil.
derrame papilar sanguinolento são:

Metildopa.
1. Papiloma intraductal;

Betabloqueadores.
2. Carcinoma intraductal.

Labetalol.

Reserpina.
Já o livro “Ginecologia Ambulatorial Baseada em Evidências” considera
que:
FÁRMACOS DE AÇÃO NO SNC
● A ectasia ductal é a causa mais comum de descarga papilar;

Sulpirida.
● O papiloma solitário é a causa mais frequente de descarga papilar

Antagonistas da dopamina (domperidona, clorpromazina, sanguinolenta.
fenotiazinas, tioxantenos, butirofenonas,
difenilbutilpiperidina, dibenzoxazepina, diidroindolona,
procainamida, metoclopramida). O Tratado de Ginecologia – FEBRASGO e as outras referências
bibliográficas empregadas nos concursos de residência médica não

Neurolépticos (fufenazina, haloperidol, pen uridol, pimozida, fazem menção às causas mais comuns de derrame papilar.
pipotiazina).

Antidepressivos tricíclicos (imipramina, amitriptilina,
clomipramina, nortriptilina).
ESTRATÉGIA TERAPÊUTICA

Benzodiazepínicos (amoxapina).
Para conduzir corretamente um caso de derrame papilar, é obrigatório o

Fluoxetina.
diagnóstico diferencial entre o derrame fisiológico e patológico.

OUTROS
O derrame papilar fisiológico não requer investigação nem

Cimetidina. tratamento. A orientação, tranquilização e explicação minuciosa

Ranitidina. do quadro para a paciente são normalmente suficientes.


Estrogenioterapia.
Quando a galactorreia é farmacológica, deve-se suspender o agente

Alfametildopa. causador. Quando a galactorreia é tumoral, o tratamento com bromocriptina

Reserpina. ou cabergolina está indicado nos microadenomas. No caso dos
macroadenomas (acima de 1 cm), a intervenção cirúrgica poderá ser

Sulpirida.
necessária, caso não haja resposta ao tratamento clínico. Vale aqui lembrar

Labetalol. que o prolactinoma é o mais comum dos adenomas hipofisários
(responsável por cerca de 50% dos casos).

Verapamil.

Anticoncepcionais orais.
A investigação e o tratamento do derrame papilar patológico só

Opiáceos. obedecem a uma diretriz: a biópsia cirúrgica é obrigatória. Nenhum

Cocaína e anfetaminas. exame, seja ele de imagem, seja citológico, substitui o valor da histologia na
presença de derrame suspeito. Em alguns casos, a biópsia cirúrgica se presta

Metoclopramida. tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento. Mais detalhes estarão
disponíveis no tópico “Nódulo”.
A hiperprolactinemia é definida por níveis de prolactina em pool acima de
20 µg/ml. A TC ou RM de crânio está indicada nos casos de suspeição de Nos casos cirúrgicos, na paciente que ainda deseja amamentar,
adenomas, principalmente nos casos em que a prolactina encontra-se acima realiza-se uma ressecção seletiva do ducto acometido, orientada
de 100 µg/ml. pelo “ponto de gatilho”.

Já em mulheres sem desejo de amamentação ou pós-


MEMORIZE
menopáusicas, a ressecção seletiva pode ser substituída pela ressecção
PRINCIPAIS CAUSAS DE DERRAME PAPILAR dos ductos principais, com retirada em forma de cone invertido
da árvore ductal.

Os Tratados de Mastologia consideram como as principais causas de


derrame papilar, em ordem sequencial: A técnica cirúrgica será detalhada a seguir.

1. Papiloma intraductal;

2. AFBM e ectasia ductal; TÉCNICAS PARA BIÓPSIA CIRÚRGICA

3. Carcinoma in situ seguido pelo invasor.


Ressecção Parcial de um Único Ducto
As pacientes jovens que desejam amamentar ou as pacientes em que o ducto
afetado é facilmente identificado são as principais candidatas a esta técnica. TAB. 6 NÓDULOS MAMÁRIOS.
O primeiro passo do procedimento inclui a realização de uma incisão
periareolar acompanhada da identificação do ducto alterado, em geral por CARACTERÍSTICAS DE BENIGNIDADE
sua coloração. A seguir, efetua-se uma dissecção do ducto em uma extensão
de 2 a 3 cm, distalmente à mama. Esta conduta se justifica, pois a maioria

Normalmente são móveis.
das lesões situa-se a menos de 5 cm proximais. A utilização de drenos não ●
Apresentam consistência rme e elástica.
está indicada. O fechamento deve ser realizado com fios absorvíveis em

Possuem contornos regulares e margens de nidas.
camadas. Em geral, o resultado estético é muito bom.

CARACTERÍSTICAS DE MALIGNIDADE
Ressecção Total do Sistema Ductal

Normalmente são aderidos.
De forma análoga ao procedimento anterior, o primeiro passo é a realização

Apresentam consistência endurecida (em alguns casos são
de uma incisão periareolar acompanhada de dissecção de todo plano
pétreos).
subareolar e da árvore ductal, em forma de cone invertido, até uma
profundidade de 2 cm. É importante lembrar que a dissecção deve atingir ●
Possuem contornos irregulares e margens inde nidas.
todo o tecido subareolar até a pele do mamilo pelo risco de recorrências. ●
A descarga papilar pode ser sanguinolenta ou em água de
Também não requer a utilização de drenos. Em termos estéticos, é um
rocha.
procedimento satisfatório. No entanto, pode ocorrer diminuição importante
da sensibilidade do mamilo. Além disso, a paciente deverá ser advertida que

Podem ser acompanhados de retração de pele, retração
a amamentação não será mais possível na mama operada. mamilar, invasão da pele ou da parede torácica.

Guarde a imagem da principal causa de derrame papilar patológico, o


papiloma intraductal (Figura 5).
DEFINIÇÃO

Nódulos são lesões que podem ser delimitadas em três


dimensões (largura, comprimento e profundidade). O seu achado é em
geral assimétrico, quando em comparação com a outra mama.

Nem sempre a presença de um nódulo é sinal de malignidade. Em


aproximadamente 80% dos casos, os nódulos palpáveis são de origem
benigna.

Os adensamentos são diferentes dos nódulos porque são lesões delimitadas


FIG. 5 PAPILOMA INTRADUCTAL.
em apenas duas dimensões (largura e comprimento).
Tumor em ducto subareolar (A) e descarga espontânea sanguínea (50%) ou
serossanguinolenta (50%) (B).

ESTRATÉGIA DIAGNÓSTICA

ANAMNESE

NÓDULOS Em caso da presença de nódulos, deve-se investigar a data da percepção,


velocidade de crescimento, localização, consistência, relação com
A descoberta de um tumor palpável na mama é um dos traumatismos ou ciclo menstrual. Além disso, devem ser pesquisados
episódios mais assustadores na vida de uma mulher, embora fatores de risco para câncer de mama.
80% de todos os nódulos palpáveis da mama sejam benignos.

VIDEO_05_GIN4
Uma avaliação diagnóstica (anamnese, exame físico e exames
complementares) minuciosa está associada a um melhor
raciocínio diagnóstico e, por conseguinte, a uma menor EXAME FÍSICO
morbidade das pacientes. O mais importante sobre este tema é
diferenciar um tumor benigno de um maligno (Tabela 6). Para Deve responder as seguintes perguntas:

tanto é necessário que você aprenda as características e os


métodos que auxiliam nesta diferenciação. Preste muita atenção
porque vamos agora “mergulhar de cabeça” em tudo que você
precisa saber sobre o nódulo mamário. Todo conhecimento que
você absorver neste tópico será de grande valia para a próxima
parte deste capítulo, o estudo do câncer de mama.
1ª. A LESÃO É REALMENTE UM NÓDULO?
Tumor phyllodes ●
Pico de incidência:
Os pseudonódulos são achados palpatórios fisiológicos que simulam mulheres entre 30 e 50
tumores por diferenças de consistência do parênquima mamário. Tais anos.
achados podem conduzir a biópsias desnecessárias. Os exemplos de
pseudonódulos incluem: tecido adiposo aprisionado entre os ligamentos

Crescimento rápido,
de Cooper (principalmente nos quadrantes inferiores de pacientes na grande volume e tendência
pós-menopausa), prolongamento axilar, junção costoesternal em à recorrência local.
pacientes magras e diferença de consistência na região subareolar com
Hamartoma ●
Pico de incidência:
o parênquima, dentre outros.
divergente na literatura →
2ª. SE A LESÃO É UM NÓDULO, ELA DEVE SER BEM pacientes na 3ª e 4ª
CARACTERIZADA E OUTRAS PERGUNTAS DEVEM SER décadas (livros de
RESPONDIDAS: mastologia) e na pós-
menopausa (“Rotinas em
1. Há quanto tempo existe o nódulo?
Ginecologia” – 2006).
2. A lesão aumentou de tamanho com o tempo?

São macios, com textura
3. Há história de biópsias ou aspirações prévias de cistos? similar a do parênquima, e
4. A presença da lesão é acompanhada de dor? Se for, esta muito semelhantes aos
dor associa-se ao ciclo menstrual? lipomas e aos
broadenomalipomas.
5. Qual é a idade da paciente?
A idade da paciente é um importante fator que deve ser levado em Carcinoma ●
Pico de incidência:
consideração. Cabe aqui lembrar que as mulheres na pré-menopausa pacientes acima de 50
comumente apresentam adensamentos, que decorrem das variações anos.
hormonais cíclicas e desaparecem no período pós-menstrual. As ●
Lesões de consistência
massas dominantes se diferenciam dos adensamentos, pois sólida.
persistem em todo ciclo menstrual.

Tente memorizar a faixa etária e a lesão fundamental em cada afecção


INVESTIGAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DAS LESÕES NODULARES
(Tabela 7).
PUNÇÃO ASPIRATIVA POR AGULHA FINA (PAAF)

TAB. 7 CORRELAÇÃO DA FAIXA ETÁRIA COM AS PRINCIPAIS


LESÕES NODULARES.
De acordo com alguns livros didáticos, a PAAF é o primeiro passo na
investigação dos nódulos mamários, pois diferencia imediatamente as
lesões císticas das lesões sólidas. É um procedimento ambulatorial, de
AFBM – Adensamen‐ ●
Pico de incidência: 25 aos
simples realização e baixo custo. Possui sensibilidade e especificidade
tos/cistos 45 anos.
superiores a 90% em mãos hábeis e experientes. Pode ser empregada em

Lesões predominan‐ tumores clinicamente identificáveis ou guiada por ultrassonografia ou
temente císticas. exame radiológico (Figura 6).

Fibroadenomas ●
Pico de incidência:
mulheres jovens até 35
anos (20-35 anos); pode
ocorrer na puberdade.

Lesões de consistência
broelástica.

Papiloma intraductal ●
Pico de incidência:
mulheres entre 30 e 50
anos.

Em cerca de 50% dos
casos, apresenta nódulo
subareolar.

FIG. 6 PAAF.
O limite deste método é apenas fornecer material para estudo citopatológico ●
Hematomas (mais frequente).
e não fornecer diagnóstico de invasão tumoral. Demanda citopatologista
com treinamento diferenciado. A PAAF pode ser empregada no in print de ●
Pneumotórax (principalmente em mulheres magras com
peças cirúrgicas no diagnóstico transoperatório de congelação. mamas pequenas).

Infecções.
Alguns fatores podem interferir na escolha do método guia, a saber: ●
Implante tumoral no trajeto da agulha (complicação de
caráter irrelevante).

Método que assegura melhor visualização da lesão;

Localização da lesão na mama;
Cabe aqui lembrar que a PAAF pode ser empregada para fins diagnósticos

Mobilidade da lesão na mama; ou terapêuticos. Neste último caso, diante de um diagnóstico de cisto
simples palpável, a citopunção satisfaz o fim terapêutico.

Experiência do operador;

Disponibilidade do equipamento.
Cistos

A USG permite movimentos multidirecionais. Já a MMG só possibilita a Devem ser enviados para a citologia os líquidos aspirados sanguinolentos.
punção em trajeto único.

Cistos simples: o fluido aspirado não é sanguinolento. A massa
É importante ressaltar que um resultado negativo não exclui a desaparece após a aspiração.
possibilidade de câncer, de forma que, em casos de alta suspeição, ●
Carcinoma intracístico ou neoplasias parcialmente císticas: as
deve-se prosseguir com a propedêutica para confirmação
situações que aumentam a suspeita destas entidades são: líquido aspirado
diagnóstica através do exame histopatológico.
sanguinolento, massa palpável persistente após aspiração do líquido,
recidiva frequente dos cistos (normalmente maior do que duas recidivas
Antes de indicar um método propedêutico, deve-se conhecer as suas de cistos simples).
vantagens, desvantagens e complicações, que são apresentadas nas
Tabelas 8 e 9.
Tumores Sólidos

São diagnosticados após a falha em aspirar líquido com a PAAF. De


TAB. 8 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA PAAF.
qualquer forma, o material que for aspirado, deverá ser encaminhado para
avaliação citológica. É importante lembrar que a citologia isoladamente não
VANTAGENS faz o diagnóstico de câncer. Assim, diante de um nódulo suspeito, a
citologia só possui valor se positiva. Nesta situação, se for negativa, é

Rapidez.
obrigatória a realização de biópsia. Cabe aqui destacar que aspirados falso-

Segurança. positivos são muito infrequentes (menos que 1% dos casos).

Simplicidade.

Boa acurácia. Conduta Após a PAAF


Baixa morbidade. A saída de líquido amarelo-esverdeado e a ausência de massa residual
dispensam o estudo citológico do líquido. Em outras palavras, o líquido

Relativamente indolor.
pode ser desprezado.

Desconforto mínimo.

Baixo custo. O próximo passo consiste na solicitação de exames de imagem para avaliar
o sítio onde a lesão se encontrava. Caso estes exames sejam normais, a

Passível de execução ambulatorial.
paciente só deverá retornar em quatro a seis semanas (segundo os Tratados
de Mastologia).
DESVANTAGENS


Não faz o diagnóstico entre carcinoma in situ e carcinoma Caso os exames revelem alterações sugestivas de malignidade, está
invasor. formalmente indicada a biópsia. É importante salientar que o tipo de exame
de imagem (USG ou MMG) a ser solicitado dependerá da idade da paciente.

O material não pode ser enviado para imuno-histoquímica.

A citologia negativa não conclui a investigação de um nódulo
A presença de um nódulo sólido e/ou de líquido sanguinolento e/ou de
suspeito de malignidade.
nódulo residual ou a existência de mais de duas recidivas de cistos simples
indicam o estudo citológico acompanhado da solicitação de exames de
imagem (solicitados de acordo com a idade da paciente) e da realização de

TAB. 9 COMPLICAÇÕES DA PAAF biópsia (mais detalhes adiante).

ULTRASSONOGRAFIA DAS MAMAS (USGM)


VIDEO_06_GIN4
COMPLEMENTAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA DO
Até o presente momento, não existem ensaios clínicos comprovando a
RASTREAMENTO COM MAMOGRAFIA
eficácia da Ultrassonografia das Mamas (USGM – Figura 7) como
modalidade de rastreamento populacional do câncer de mama. No grupo de
A complementação da mamogra a com a ultrassonogra a
alto risco, a ultrassonografia pode ser utilizada em conjunto com a
pode ser considerada obrigatória e com grande benefício no
mamografia, com a finalidade de melhorar o desempenho do rastreamento.
diagnóstico nas seguintes situações: quando há lesão
palpável sem expressão na mamografia (pela alta densidade
do parênquima mamário ou localização em “zonas cegas”);
nos nódulos regulares ou lobulados, que possam
representar cisto; e nas lesões densificantes (assimetria
difusa, área densa) que podem representar lesão sólida, cisto
ou parênquima mamário.

A complementação não está indicada nas lesões categoria


2, nas lesões categoria 5, nas microcalcificações e na
distorção focal da arquitetura.

A complementação pode ser dispensada nos pequenos


nódulos de aspecto benigno em mamas adiposas.

Nas mulheres assintomáticas com mama densa, a


complementação não é obrigatória, porém existe benefício no
grupo de alto risco.

FIG. 7 ULTRASSONOGRAFIA DE MAMAS.

Achados Ultrassonográ cos

É um método que assegura boa diferenciação entre nódulos sólidos e Alguns achados ultrassonográficos são sugestivos de benignidade
císticos; apresenta adequada eficiência na definição de imagem em mamas (Tabela 11).
densas (pacientes jovens) e complementa o rastreio mamográfico; garante
boa acurácia na identificação de lesões vegetantes intracísticas; permite a
localização de pequenos tumores para retirada cirúrgica ou para punções; TAB. 11 ACHADOS ULTRASSONOGRÁFICOS.
possibilita a avaliação do resultado da quimioterapia primária.
BENIGNIDADE MALIGNIDADE
Em linhas gerais, é um método indicado principalmente em mulheres

Diâmetro laterolateral ●
Margens irregulares.
jovens, lactantes e gestantes, para se evitar a exposição à radiação
maior do que o
ionizante.

Hipoecogenicidade e
craniocaudal
textura heterogênea

Ecogenicidade (achado inespecí co).
As desvantagens incluem a incapacidade na detecção de microcalcificações
homogênea.
e a baixa resolução em mamas lipossubstituídas. A seguir, na Tabela 10, ●
Diâmetro craniocaudal
serão detalhadas suas principais indicações. ●
Bordas bem delimitadas. (anteroposterior) maior do
que o diâmetro

Pseudocápsula ecogênica
laterolateral (nódulo “mais
na.
TAB. 10 ●
Sombras laterais à lesão.
alto que largo”).

Presença de sombra
INDICAÇÕES ●
Reforço acústico posterior. acústica posterior.

As principais indicações da USGM como método diagnóstico



Contornos microlobulares.
são:


Diagnóstico diferencial entre lesão sólida e lesão cística; saiba mais

Alterações no exame físico (lesão palpável), no caso de REFORÇO ACÚSTICO NÃO É SINÔNIMO DE SOMBRA ACÚSTICA
mamogra a negativa ou inconclusiva;

Na jovem com lesão palpável; A sombra acústica posterior e o reforço acústico posterior são artefatos
que ocorrem em decorrência da atenuação do feixe sonoro, por diferentes

Nas alterações do exame clínico no ciclo gravídicopuerperal;
causas.

Na doença in amatória e abscesso mamário;

No diagnóstico de coleções.
Sombra acústica posterior: ocorre em tecidos com alta atenuação e/ou O Colégio Americano de Radiologia propôs em 2003 uma classificação dos
índice de reflexão elevado, resultando na redução importante da amplitude achados ultrassonográficos em seis categorias (Tabela 12). O BI-RADS
dos ecos transmitidos, impedindo o estudo das estruturas posteriores. ultrassonográfico gradua os seus achados em risco para lesão maligna. E
vale dizer que nas pacientes acima de 35 anos, notadamente a partir de 40
Reforço acústico posterior: este artefato ocorre em estruturas com baixa anos, a classificação ultrassonográfica é importante para ajustar o BI-RADS
atenuação ou com menor velocidade de propagação do som em relação mamográfico, principalmente nas categorias 0 (avaliação incompleta), 3
aos tecidos moles. Este fenômeno se manifesta como uma faixa mais clara (achado provavelmente benigno) e 4A (baixa suspeita de malignidade).
posterior à estrutura líquida que o forma, como nos cistos mamários.

Para fins de prova de residência, você precisa memorizar que “reforço TAB. 12 CLASSIFICAÇÃO DE BI-RADS DOS ACHADOS ULTRA-
SSONOGRÁFICOS.
acústico” é sinal ultrassonográfico de benignidade e que “sombra
acústica posterior” é sinal ultrassonográfico de malignidade. Categoria 0: inconclusivo.
Essa categoria é muito menos usada em comparação aos
Confira a diferença destes artefatos: critérios mamográ cos. É empregada, por exemplo, quando se
encontra uma imagem nodular com sinais suspeitos de
malignidade numa paciente jovem (< 35 anos) que não tenha
mamogra a prévia. Nessa situação, apesar de jovem, é
indicada complementação diagnóstica com mamogra a.
Também pode ser utilizada em caso de necessidade de
complementação com exames adicionais (RM) ou comparação
com exames anteriores.

Categoria 1: achados normais.


Não foi encontrada nenhuma anormalidade.

Categoria 2: achados benignos.


Nessa categoria estão enquadrados os cistos simples,
Nódulo sólido, levemente hipoecoico, circunscrito, ovoide, com reforço acústico linfonodos intramamários, lipomas, broadenolipomas,
posterior e sombra lateral, mais “largo do que alto” – fibroadenoma. broadenomas estáveis em exames consecutivos até
completar três anos.

Categoria 3: achados provavelmente benignos.


Geralmente, preconiza-se menor intervalo de seguimento.
Nessa categoria estão os cistos contendo ecos (esparsos ou
com “nível”), microcistos aglomerados, nódulos sólidos com
margens circunscritas, forma oval e orientação paralela à pele,
semelhante à broadenoma. Nessa categoria, a chance de
malignidade é menor que 2%.

Categoria 4: achados suspeitos de malignidade.

Há certa probabilidade de serem malignos (3 a 94%). Está


indicada avaliação histopatológica da lesão.

Categoria 5: achados altamente sugestivos de


malignidade.
Imagem nodular, textura heterogênea, margens irregulares, sombra acústica
posterior. Probabilidade de malignidade ≥ 95%. Recomenda-se estudo
histopatológico da lesão.

Categoria 6: achados com malignidade confirmada.

Restrita a lesões com biópsia prévia. A malignidade está


con rmada antes da instituição da terapêutica.
Classi cação de Bi-RADS Ultrassonográ ca

Mamografia (MMG)
A mamografia é o único exame utilizado para rastreamento, com capacidade
de detectar lesões não palpáveis e causar impacto na mortalidade por câncer
de mama. Por este motivo, é o exame de imagem recomendado para o
rastreamento do câncer de mama no Brasil.

É um exame radiológico realizado no mamógrafo (Figura 8) que


compreende pelo menos duas incidências principais: médio-lateral oblíqua e
craniocaudal (Figuras 9 e 10). É importante lembrar que a avaliação é
comparativa entre os dois lados e com exames prévios.

FIG. 10 MAMOGRAFIA. Incidência craniocaudal.

Por vezes, para um estudo mais adequado das lesões, pode ser preciso a
complementação do exame com outras incidências ou técnicas (compressão
seletiva, ampliação).

A MMG é particularmente útil na avaliação de nodularidades,


adensamentos, calcificações e cistos em mamas adiposas. As imagens das
alterações benignas (Tabela 13) geralmente se resumem a calcificações
grosseiras e nódulos com contornos regulares e nítidos. Contrariamente, as
imagens sugestivas de malignidade (Tabela 13) incluem nódulos
espiculados, sem margens definidas e microcalcificações pleomórficas
agrupadas.

TAB. 13 ACHADOS MAMOGRÁFICOS.

BENIGNIDADE

FIG. 8 MAMÓGRAFO.

Calci cações grosseiras.

Nódulos com contornos regulares e nítidos.

MALIGNIDADE


Microcalci cações pleomór cas agrupadas.

Nódulos espiculados, sem margens de nidas.

Alguns fatores podem alterar a sensibilidade do método (Tabela 14). Cerca


de 10 a 15% dos tumores podem não ser detectados. Na maioria das vezes,
tal fato é atribuído a uma maior densidade mamária.

FIG. 9 MAMOGRAFIA. Incidência médio-lateral.


TAB. 14 FATORES QUE INTERFEREM NA SENSIBILIDADE DA
MMG.


Erro de posicionamento da paciente.

Baixa qualidade da MMG.

Erro na interpretação do exame.

Mamas densas.

Tamanho da lesão mamária.

Lesão com características radiológicas. equivalentes as do
tecido normal.
A Tabela 15 resume as informações clínicas imprescindíveis para a Indicações
interpretação da MMG.
VIDEO_07_GIN4
● Rastreamento de lesões subclínicas em mulheres
assintomáticas: o diagnóstico de câncer em estádio inicial possibilita
TAB. 15 INFORMAÇÕES CLÍNICAS IMPRESCINDÍVEIS PARA A
INTERPRETAÇÃO DA MMG.
uma abordagem terapêutica mais conservadora e assegura um melhor
prognóstico. A idade em que se deve indicar o rastreamento é

Idade cronológica. controversa na literatura. A seguir, serão apresentadas as recomendações
do Ministério da Saúde/INCA (Tabela 17), da American Cancer

Identi cação dos fatores de risco para câncer de mama.
Society (Tabela 18) e do Colégio Brasileiro de Radiologia e

Conhecimento de afecções (infecção), traumatismo ou
Diagnóstico por Imagem (CBR), da Sociedade Brasileira de Mastologia
cirurgias prévias da mama.
(SBM) e da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e

Exame físico da mama. Obstetrícia (FEBRASGO) (Tabela 19) para o rastreamento do câncer de
mama.

Indicação da MMG.

A Tabela 16 descreve os pré-requisitos mínimos e mandatórios para a boa TAB. 17 RECOMENDAÇÕES PARA RASTREAMENTO DO
CÂNCER DE MAMA NA POPULAÇÃO DE BAIXO RISCO
interpretação da MMG
SEGUNDO MINISTÉRIO DA SAÚDE/INCA (2015).

DIRETRIZES PARA A DETECÇÃO PRECOCE DO CÂNCER DE


TAB. 16 PRÉ-REQUISITOS MÍNIMOS E MANDATÓRIOS PARA A
INTERPRETAÇÃO DA MMG.
MAMA NO BRASIL (2015)

< de 50 anos Não recomenda o



Equipamento apropriado.
rastreamento com MMG.

Filmes adequados.
Entre 50 e 69 anos MMG bienal.

Ambiente adequado.

Equipe médica adestrada e capacitada. ≥ 70 anos Contraindicado o
rastreamento com MMG.

Conhecimento de informações clínicas relevantes.

Uso de incidências convencionais e especiais, em caso de Observações importantes:
necessidade de complementação do exame.
1. Nestas diretrizes, o Ministério da Saúde não recomenda o

Negatoscópios bem iluminados. ensino do autoexame das mamas e o uso da

Uso de lupa adequada. ultrassonogra a e da ressonância magnética, em mulheres
de risco padrão, como métodos de rastreamento do câncer
de mama.

Mamogra a Convencional versus Mamogra a Digital 2. O Ministério da Saúde não apresenta recomendação sobre
o exame clínico das mamas (ausência de recomendação)
Estudos recentes têm demonstrado a superioridade do sistema digital sobre como método de rastreamento para o câncer de mama,
o convencional, principalmente em mulheres com menos de 50 anos, com justi cando que o balanço entre possíveis danos e
padrão parenquimatoso heterogêneo ou extremamente denso e mulheres na benefícios é incerto.
pré e perimenopausa.
3. O rastreamento para a população com alto risco para
desenvolvimento de câncer de mama não foi abordado
Na mamografia digital, a aquisição da imagem ocorre quase em tempo real
pelas diretrizes para a detecção precoce do câncer de
tornando o exame mais rápido e confortável para a paciente. A imagem
mama no Brasil (2015).
pode receber tratamentos pós-processamento e recursos na análise digital,
como inversão na escala de cinza, magnificação eletrônica, lupa eletrônica, 4. O Caderno de Atenção Básica – Controle dos Cânceres
mensuração das lesões e alteração de contraste e brilho. de Colo do Útero e da Mama do Ministério da Saúde
(2013) apresenta recomendações sobre o rastreamento do
câncer de mama similares em relação à mamogra a, mas
Mamogra a de Rastreamento versus Mamogra a Diagnóstica
diferentes em relação ao exame clínico das mamas:
A distinção entre estes dois conceitos é de fundamental importância:
POPULAÇÃO-ALVO PERIODICIDADE DOS
EXAMES DE

Mamografia de rastreamento: é o exame solicitado para mulheres
RASTREAMENTO
da população-alvo sem sinais e sintomas de câncer de mama;

Mamografia diagnóstica: é o exame solicitado para pessoas de Mulheres de 40 a 49 anos ECM anual e, se alterado,
qualquer idade com sinais e sintomas de câncer de mama (nódulo, mamogra a.
espessamento, descarga papilar, retração de mamilo, outras). Vale
lembrar que dor não é sintoma de câncer de mama.
Mulheres de 50 a 69 anos ECM anual e mamogra a a ●
Mutação conhecida do BRCA 1 e 2.
cada dois anos. ●
Parentes de primeiro grau com mutação conhecida ou não.
Mulheres de 35 anos ou ECM e mamogra a anual. ●
História de radioterapia no tórax entre as idades de 10 a 30
mais com risco elevado anos.

Pacientes portadoras da síndrome de Li-Fraumeni, síndrome
5. Segundo o Consenso para Controle do Câncer de Mama
de Cowden ou síndrome de Bannayan-Riley-Ruvalcaba.
(2004), os grupos populacionais com risco elevado para o
desenvolvimento do câncer de mama são os seguintes:

Pacientes que apresentem parentes de 1º grau com alguma
das síndromes descritas anteriormente.

Mulheres com história familiar de pelo menos um
parente de primeiro grau (mãe, irmã ou lha) com Deve começar a partir dos 30 anos:
diagnóstico de câncer de mama, abaixo dos 50 anos de ●
Exame clínico anual;
idade;

MMG anual;

Mulheres com história familiar de pelo menos um
parente de primeiro grau (mãe, irmã ou lha) com

RM anual.
diagnóstico de câncer de mama bilateral ou câncer de
Observações:
ovário, em qualquer faixa etária;

Mulheres com história familiar de câncer de mama 1. O autoexame e o exame clínico por ginecologistas não são
masculino; mais recomendados para rastreamento do câncer de mama
na população geral, independentemente da idade!

Mulheres com diagnóstico histopatológico de lesão
mamária proliferativa com atipia ou neoplasia lobular in 2. Mulheres entre 40 e 44 anos que tenham a oportunidade
situ. devem começar o rastreamento mamográ co anual.

6. Atenção às referências bibliográ cas dos concursos de 3. As mamogra as regulares devem prosseguir enquanto as
residência médica, assim como ao Manual do Ministério da mulheres estejam gozando de boa saúde ou tenham uma
Saúde adotado. expectativa de vida de dez anos ou mais longa.

Breast Cancer Screening for Women at Average Risk Guideline Update from the
American Cancer Society.

TAB. 18 RECOMENDAÇÕES PARA RASTREAMENTO DO


CÂNCER DE MAMA SEGUNDO AMERICAN CANCER
SOCIETY.
TAB. 19 RASTREAMENTO DO CÂNCER DE MAMA DE ACORDO
COM CBR, SBM E FEBRASGO.

RASTREAMENTO DAS MULHERES COM RISCO


POPULACIONAL USUAL

Rastreamento anual para as


mulheres entre 40 e 74 anos,
Mamografia
preferencialmente com
técnica digital.


Não existem dados que
deem suporte para o
rastreamento com
ultrassonogra a para todas
as mulheres de risco
Ultrassonografia
populacional usual.
WWW.CANCER.ORG

Deve ser considerada
POPULAÇÃO GERAL como adjunta à
(A PARTIR DOS 45 ANOS) mamogra a nas mulheres
com mamas densas.

MMG anual até os 54 anos.
Não existem dados que

MMG bienal a partir dos 55 anos ou anual para aquelas que deem suporte para o
tiverem a oportunidade de prosseguir com o rastreamento rastreamento com
Ressonância magnética
anual. ressonância magnética para
as mulheres de risco
MULHERES COM RISCO AUMENTADO populacional usual.
Recomenda-se que seja ●
Mulheres com mutação
considerada em associação à dos genes BRCA 1 ou
mamogra a digital (COMBO BRCA 2, ou com parentes
Tomossíntese
ou sintetizada) no de 1° grau com mutação
rastreamento, quando provada, devem realizar o
disponível. rastreamento anual com
mamografia a partir dos
RASTREAMENTO DAS MULHERES DE ALTO RISCO 30 anos de idade.


Mulheres com risco ≥ 20%
ao longo da vida, calculado
por um dos modelos
matemáticos baseados na
história familiar, devem
realizar rastreamento
anual com mamografia
iniciando 10 anos antes
da idade do diagnóstico
do parente mais jovem
(não antes dos 30 anos).

Mulheres com história de
terem sido submetidas à
irradiação no tórax, entre
os 10 e 30 anos de idade,
devem realizar
rastreamento anual com
Mamografia
mamografia a partir do
8° ano após o tratamento
radioterápico (não antes
dos 30 anos).


Mulheres com diagnóstico
de síndromes genéticas
que aumentam o risco de
câncer de mama (como Li-
Fraumeni, Cowden e
outras) ou parentes de 1°
grau acometidos devem
realizar rastreamento
anual com mamografia a
partir do diagnóstico
(não antes dos 30 anos).

Mulheres com história
pessoal de hiperplasia
lobular atípica, carcinoma
lobular in situ, hiperplasia
ductal atípica, carcinoma
ductal in situ e carcinoma
invasor de mama devem
realizar rastreamento
anual com mamografia a
partir do diagnóstico.

Deve ser utilizada como


substituta da ressonância
Ultrassonografia magnética para as mulheres
que não puderem realizá-la
por qualquer motivo.

Mulheres com mutação Recomenda-se que seja
dos genes BRCA 1 ou considerada em associação à
BRCA 2, ou com parentes mamogra a digital (COMBO
Tomossíntese
de 1° grau com mutação ou sintetizada) no
provada, devem realizar rastreamento, quando
rastreamento anual com disponível.
ressonância magnética a
partir dos 25 anos de
idade. ATENÇÃO

Mulheres com risco ≥ 20% LEI 11.664/08
ao longo da vida, calculado
por um dos modelos A Lei 11.664/08, que entrou em vigor em 29 de abril de 2009 (12 meses
matemáticos baseados na após a publicação da lei), garante exame de mamografia às mulheres
história familiar, devem com mais de 40 anos.
realizar rastreamento
anual com ressonância
Ao estabelecer que todas as mulheres têm direito à mamografia a partir
magnética iniciando 10
dos 4 0 anos, a Lei 11.664/2008 reafirma o que já é estabelecido pelos
anos antes da idade do
princípios do Sistema Único de Saúde. Embora tenha suscitado
diagnóstico do parente
interpretações divergentes, o texto não altera as recomendações de
mais jovem (não antes
faixa etária para rastreamento de mulheres saudáveis: dos 50 aos 69
dos 25 anos).
anos.

Mulheres com história de
irradiação no tórax, entre Links:
os 10 e 30 anos de idade, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11664.htm
devem realizar
http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/m
rastreamento anual com
ama/deteccao_precoce
Ressonância magnética ressonância magnética a
partir do 8° ano após o (acesso 10/12/2009).
tratamento radioterápico
(não antes dos 25 anos).

Rastreamento em usuárias de implantes de silicone: os

Mulheres com diagnóstico
implantes de silicone podem ser posicionados anteriormente ou
de síndromes genéticas
posteriormente à musculatura torácica. A técnica deverá ser
que aumentam o risco de
individualizada caso a caso. Em ambas as técnicas (Figura 11), a
câncer de mama (como Li-
glândula mamária fica por cima dos implantes. Então, os implantes não
Fraumeni, Cowden e
interferem no exame clínico.
outras) ou parentes de 1°
Mulheres que tenham colocado implantes de silicone nas mamas podem
grau acometidos devem
realizar a Mamografia (MMG) normalmente. Se os implantes de silicone
realizar rastreamento
forem muito grandes, pode haver alguma dificuldade durante a sua
anual com ressonância
magnética a partir do realização. Por esta razão, a paciente deverá avisar ao técnico que irá

diagnóstico (não antes posicioná-la no mamógrafo que possui silicone nas mamas, para que ele
modifique alguns parâmetros no aparelho. Devido à presença da prótese,
dos 25 anos).
o aparelho deverá exercer menor pressão sob as mamas. Além disso, o

Mulheres com história técnico deverá posicionar a prótese mais para cima e para trás (manobra
pessoal de hiperplasia de Eklund – Figura 12) a fim de que somente o tecido mamário seja
lobular atípica, carcinoma visualizado. Outro detalhe: quando a mamografia é realizada numa
lobular in situ, hiperplasia clínica confiável, não há risco de rompimento da prótese de silicone, mas
ductal atípica, carcinoma estudos comprovam que seu uso pode diminuir a capacidade de
ductal in situ e carcinoma diagnóstico precoce do câncer de mama em até 30%. Assim, se o
invasor de mama devem especialista achar que a imagem gerada é duvidosa, ele poderá requisitar
realizar rastreamento uma ultrassonografia mamária ou, preferencialmente, uma ressonância
anual com ressonância magnética.
magnética a partir do
diagnóstico.
Classi cação de BI-RADS

O Colégio Americano de Radiologia propôs em 1992 uma padronização da


nomenclatura dos achados mamográficos. O principal objetivo desta
padronização foi a criação de uma linguagem universal, que facilitasse a
interpretação da MMG e orientasse a conduta. Foi denominada sistema BI-
RADS (Breast-Imaging Reporting and Data-System).

O BI-RADS (Tabela 20) estabelece categorias para a classificação dos


achados mamográficos e foi adotada pela Sociedade Brasileira de
Mastologia.

TAB. 20 CLASSIFICAÇÃO BI-RADS.

FIG. 11 Posicionamento do implante de silicone em relação à musculatura torácica. Categoria 0: inconclusivo.


Em alguns casos, são necessárias incidências mamográ cas
adicionais (magni cação ou compressão localizada),
complementação com outros métodos de imagem (USG ou
RM) ou comparação com exames anteriores.

Categoria 1: sem achados mamográficos, sem sinais de


malignidade.


Conduta: repetir o exame de acordo com a faixa etária ou
prosseguimento da investigação, se o ECM for alterado.
Acompanhamento a cada dois anos ou anual a partir de 40
anos e anual a partir de 50 anos.

Categoria 2: achados benignos.



Achados benignos: calci cações vasculares, calci cações
cutâneas, calci cações com centro lucente, broadenoma
calci cado, cisto oleoso (esteatonecrose), calci cações de
doença secretória (plasma cell mastitis), calci cações
redondas (acima de 1 mm), calci cações tipo milk of
FIG. 12 MANOBRA DE EKLUND. calcium, os de sutura calci cados, linfonodo intramamário.
A: Posicionamento e tração exclusivamente do tecido mamário. B: Compressão
excluindo as próteses do campo de visão.

Conduta: não merecem investigação. Repetir o exame de
C: O filme mamográfico é obtido. D: Descompressão da mama e retorno do implante acordo com a faixa etária.
para o local adequado.

Categoria 3: achados provavelmente benignos.



Achados provavelmente benignos: nódulo de densidade

Estudo de lesões palpáveis: possibilita a observação das baixa, contorno regular, limites de nidos e dimensões não
características radiológicas (sinais de benignidade ou de suspeição de muito grandes, calci cações monomór cas (puntiformes) e
malignidade). Além disso, a multicentricidade da lesão pode ser isodensas sem con gurar grupamento com características
percebida nos casos de câncer. de malignidade.

● Acompanhamento pré e pós-terapêutico de pacientes com ●


Conduta: a frequência de câncer é de 0,5 a 1,7%.
câncer de mama: visa o rastreio da mama contralateral e a detecção Preconiza-se o acompanhamento semestral no primeiro ano.
de recorrência em pacientes submetidas à cirurgia conservadora. E, Após esse período, o seguimento passa a ser anual, com
ainda, acompanha com eficiência a resposta da quimioterapia pré- período mínimo de dois/três anos. O controle supracitado
operatória. visa con rmar a estabilidade da lesão e, por conseguinte, o
caráter benigno.

Guia para procedimentos invasivos: a estereotaxia permite a
localização da lesão, a punção-biópsia ou marcação pré-operatória com Observação sobre a conduta na categoria 3 de BI-RADS:
guia metálica (agulhamento) de lesões subclínicas (microcalcificações acompanhamento semestral por três anos ou apenas no
suspeitas). primeiro ano? O Ministério da Saúde advoga o seguimento
semestral apenas no primeiro ano, mas essa conduta não é
● Planejamento cirúrgico.
consensual.
● Cancerofobia.
● Pesquisa de sítio primário em câncer oculto.
É um exame não invasivo, de custo elevado, de alta sensibilidade e valor
Categoria 4: achados suspeitos de malignidade.
preditivo positivo de 100% para os tumores invasores maiores de 2 mm. A
Há certa probabilidade de serem malignos (30%). É subdividida RM não identifica microcalcificações ou tumores intraductais ou invasores
em: 4A = suspeição leve; 4B = suspeição intermediária; 4C = menores que 2 mm. Os principais fatores limitantes do método
suspeição alta. correspondem à impossibilidade de localização das lesões subclínicas e sua

Achados suspeitos de malignidade: nódulo de contorno baixa especificidade (35 a 50%).
bocelado ou irregular e limites pouco de nidos,
microcalci cações com pleomor smo incipiente, densidade De acordo com alguns autores, a melhor época para a realização da RM é
assimétrica, algumas lesões espiculadas. entre o 6º e o 17º dia do ciclo menstrual. Fora deste período, podem ser
encontrados achados inespecíficos que podem conduzir a erros de

Conduta: está indicada avaliação histopatológica da lesão.
diagnóstico.
Categoria 5: achados altamente sugestivos de
malignidade.
Indicações

Achados sugestivos de malignidade: nódulo denso e
As indicações e as situações em que a RM não está indicada estão
espiculado, microcalci cações pleomór cas agrupadas,
resumidas na Tabela 21.
microcalci cações pleomór cas seguindo trajeto ductal,
rami cadas, tipo letra chinesa.

Conduta: valor preditivo positivo de 95 a 97%. Recomenda- TAB. 21: RM – INDICAÇÕES E SITUAÇÕES EM QUE NÃO ESTÁ
INDICADA.
se estudo histopatológico da lesão.

Categoria 6: achados com malignidade confirmada. INDICAÇÕES

Deve ser utilizada nos casos em que o diagnóstico por biópsia ●


Casos não conclusivos nos métodos tradicionais (MMG).
foi realizado ou nos casos de avaliação após quimioterapia pré-
operatória (lesão já biopsiada e com diagnóstico de

Carcinoma oculto.

malignidade, mas não retirada ou tratada). ●


Planejamento terapêutico.

Conduta: terapêutica especí ca em Unidade de Tratamento ●
Avaliação de resposta à quimioterapia neoadjuvante, com o
de Câncer. objetivo de avaliar a regressão tumoral.

Suspeita de recidiva.

Avaliação das complicações dos implantes de silicone.
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA (RM)

Avaliação de pacientes com múltiplas cirurgias prévias.
A RM (Figura 13) tem papel importante em diversas situações
diagnósticas. As indicações mais comuns são: estudo da mama contralateral

Avaliação de pacientes submetidas à cirurgia conservadora e
de pacientes com diagnóstico de câncer; na avaliação de focos secundários radioterapia, com o objetivo de diagnosticar eventuais
do tumor na mama ipsilateral; casos não conclusivos nos métodos recidivas tumorais. O período ideal para avaliação é a partir
tradicionais; carcinoma oculto; planejamento terapêutico; avaliação de de 18 meses.
resposta à quimioterapia neoadjuvante; suspeita de recidiva e avaliação das ●
Mulheres com alto risco para câncer de mama com mamas
complicações dos implantes. Também pode ser empregada na elucidação de densas, sobretudo as portadoras de BRCA.
focos de metástases, apresentando especificidade significativa no caso de
implantes ósseos. SITUAÇÕES EM QUE NÃO ESTÁ INDICADA


Avaliação de alterações benignas da mama.

Avaliação de mamas com processos in amatórios.

Avaliação de mamas lactantes.

Detecção e estudo de microcalci cações.

Estudo de lesões espiculadas à MMG, sem história de
abordagem cirúrgica prévia.

TOMOSSÍNTESE MAMÁRIA

FIG. 13 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA. Imagem pós-contraste de lesão nodular de 3


cm, com contornos espiculados e impregnação periférica pelo gadolínio-DTPA.
Representa uma das mais recentes inovações em método de imagem para a Por diminuir a sobreposição de imagens, seu uso parece estar bem indicado
mama. Como já citado, trata-se de um método de imagem digital que per‐ em mamas densas onde lesões menores podem ficar obscurecidas pelo
mite a visualização de planos individuais da mama diminuindo a tecido mamário na mamografia convencional e na melhor avaliação das
sobreposição de estruturas. As imagens são obtidas a partir de uma série de densidades mamárias assimétricas. Já a identificação e
exposições de baixa dose de radiação à medida que o tubo de raio X se caracterização das microcalcificações podem ser prejudicadas
move em uma trajetória em forma de arco sobre a mama (Figuras 14A e devido aos cortes muito finos da imagem e ao obscurecimento
B). A partir daí, são realizadas reconstruções em 3D, com cortes que podem inerente ao método.
chegar a uma espessura de apenas 1 mm. A dose total de radiação utilizada
para o exame é semelhante à utilizada na mamografia digital, porém quando
adicionamos a tomossíntese à mamografia digital, a dose é dobrada, ficando MÉTODOS INVASIVOS
ainda abaixo do limite aprovado pelo Food and Drug Administration
(FDA). VIDEO_08_GIN4
O diagnóstico final do câncer é feito por meio do achado histopatológico.
Assim, nos achados sugestivos de malignidade está indicado o estudo
histopatológico.

Por ser a mama de fácil acesso, várias modalidades diagnósticas foram


sendo desenvolvidas na investigação das lesões mamárias. A biópsia
cirúrgica (excisional) é considerada “padrão-ouro”, porém, no contexto da
apresentação de câncer de mama em estádios avançados, biópsias
minimamente invasivas podem desempenhar um importante papel por
fornecer o diagnóstico antes da terapêutica, seja sistêmica ou cirúrgica, do
ponto de vista do custo-efetividade.

O tipo de procedimento de investigação diagnóstica complementar depende


da lesão encontrada nos achados clínicos (lesões palpáveis e lesões não
palpáveis) e/ou dos resultados radiológicos. Essa indicação compete ao
especialista do serviço de referência, levando em conta a disponibilidade de
procedimentos na região e as condições de saúde da usuária.

A escolha do método de biópsia vai depender da classificação radiológica,


tipo e localização da lesão, composição e tamanho da mama da paciente,
material e equipamentos disponíveis, recursos humanos e características de
cada serviço. Nas lesões não palpáveis da mama classificadas como
categorias 4 e 5 (BI-RADS®) e, eventualmente, nas lesões categoria 3 (BI-
RADS®), a obtenção de material para exame histopatológico pode ser feita
por meio de biópsia cirúrgica e biópsia percutânea (agulha grossa e vácuo).
FIG. 14
A Punção Aspirativa por Agulha Fina (PAAF) pode ser usada para lesões
A: Movimento do tubo de raio X para a realização da tomossíntese.
B: Comparação do posicionamento do tubo de raio X na mamografia e na tomossíntese. palpáveis e impalpáveis, de conteúdo cístico ou sólido.

CORE BIÓPSIA
PUNÇÃO COM AGULHA GROSSA OU BIÓPSIA DE FRAGMENTO OU
Estudos retrospectivos demonstraram diminuição da taxa de reconvocação BIÓPSIA PERCUTÂNEA COM AGULHA GROSSA
de até 42% quando a tomossíntese é associada à mamografia digital no
A Punção por Agulha Grossa (PAG), ou core biopsy, é um procedimento
rastreamento, comparando com o uso da mamografia digital isolada. O uso
da tomossíntese isolada não apresentou a mesma redução. Assim, a eficácia ambulatorial, realizado sob anestesia local, que retira fragmento de tecido
da tomossíntese isolada na substituição da mamografia convencional não mamário para o exame histopatológico por meio de dispositivo automático
está comprovada. para biópsia (pistola), que utiliza agulhas de core de 12 ou 14 Gauge e
pistola própria que obtém fragmentos filiformes do tumor para exame
histopatológico. Requer anestesia local (botão anestésico) e mini-incisão na
Mesmo com resultados bastante promissores, a tomossíntese é um método
pele com lâmina de bisturi. Posiciona-se a agulha pelo pertuito do bisturi até
ainda em estudo. Portanto, seu uso ainda não está consolidado no
a superfície da lesão. A agulha é acoplada a uma pistola. Vários disparos
rastreamento do câncer de mama e não existe um protocolo de
são realizados e amostras de fragmentos são obtidas.
exame definido. Portanto, ainda não está estabelecido se ela deve ser
realizada em uma ou duas incidências e se sempre deve ser acompanhada de
uma mamografia digital.
A introdução da PAG oferece uma opção minimamente invasiva para o
Desvantagens ●
Resultados inconclusivos.
diagnóstico das lesões da mama. Com desempenho semelhante à biópsia
cirúrgica, possui elevada precisão diagnóstica e tem as seguintes vantagens: ●
Pode ocasionar sangra‐
custo 25 a 50% menor; não necessita internação e raramente apresenta mentos, infecção e
complicações; causa menor trauma local, com mínimo de lesões cicatriciais pneumotórax.
que possam gerar imagens pseudotumorais na mamografia; é um ●
Di culdade para acessar:
procedimento rápido e bem tolerado pelas pacientes, com recuperação mais
rápida e, portanto, menor afastamento das atividades do lar e/ou do » Lesões menores que 5

trabalho; tem excelente resultado estético, fato de extrema importância, mm;


principalmente quando é comprovada a natureza benigna da lesão. No caso » Lesões em área de
de lesões não palpáveis (subclínicas), a PAG pode ser guiada por raios X pequena espessura
(estereotaxia) ou ultrassonografia (Figura 15). (retroareolar);

» Lesões próximas à
parede torácica;

» Lesões no prolonga‐
mento axilar;

» Lesões em mamas
muito pequenas.

MAMOTOMIA
BIÓPSIA PERCUTÂNEA A VÁCUO

A biópsia percutânea a vácuo utiliza um sistema de aspiração a vácuo em


conjunto com um sistema de corte, com agulhas de 11 até 8 Gauge (mais
calibrosas), que obtém maior amostra tumoral. Ele pode ser guiado por raios
X (estereotaxia), ultrassonografia ou ressonância magnética (Figura 16).
FIG. 15 CORE BIÓPSIA.

Pode ser empregada nos tumores subclínicos guiados por métodos de


imagem ou em tumores de grandes dimensões. Nas lesões diminutas
(microcalcificações) pode apresentar resultados falso-negativos. Neste
último caso, a mamotomia é geralmente indicada.

As vantagens e desvantagens do procedimento estão na Tabela 22.

TAB. 22 INDICAÇÕES, VANTAGENS E DESVANTAGENS DA


CORE BIÓPSIA.

Indicações ●
Nódulo sólido.

Microcalci cações FIG. 16 MAMOTOMIA.
agrupadas.

Densidade assimétrica.

Distorção de parênquima. Em comparação com a biópsia percutânea com agulha grossa, a biópsia a
vácuo tem as vantagens de obter maior número de fragmentos, maiores e
Vantagens ●
Simplicidade.
mais consistentes, com melhor desempenho nas microcalcificações, com

Rapidez. uma única inserção da agulha. As desvantagens são o custo elevado e a
pequena disponibilidade.

Menor trauma e custo do
que a biópsia cirúrgica.
Em determinadas situações, retira-se toda a lesão para avaliação

Diagnóstico de certeza
histopatológica. É um importante método diagnóstico que apresenta maior
ambulatorial.
custo do que a core biópsia e exige treinamento particular para sua
execução.
Geralmente, não está indicada nos nódulos palpáveis, pois métodos menos Indicada nos casos de lesões menores. Consiste na retirada completa da
sofisticados e de menor custo são recomendados neste caso. lesão. O in print celular é obtido através da fixação, em lâmina, de material
obtido por estas biópsias, no qual a lâmina é “carimbada” diversas vezes
A Tabela 23 resume as indicações, vantagens e desvantagens do pela peça cirúrgica, que depois é encaminhada ao patologista.
procedimento.

Incisional

TAB. 23 INDICAÇÕES, VANTAGENS E DESVANTAGENS DA


MAMOTOMIA
Indicada nos casos de tumores de grandes dimensões. Consiste na retirada
de apenas um fragmento do tumor. A avaliação histopatológica determina o
diagnóstico e orienta a conduta terapêutica.

Esclarecimento de lesões
Indicações
não palpáveis.
Após esta imersão nos métodos propedêuticos, apresentamos os

Realização de todo Fluxogramas 2 e 3, que resumem em que ponto da investigação os exames
procedimento por meio de complementares devem ser solicitados, e as estratégias terapêuticas para os
uma única punção (a nódulos mamários.
agulha é posicionada e
mantida no local da lesão).

Maior amostra de tecido
(maior número de
fragmentos, maiores e
mais consistentes, com
Vantagens
melhor desempenho nas
microcalci cações, com
uma única inserção da
agulha).

Em determinadas
situações é terapêutica
(retira toda a lesão).

Rara a ocorrência de
falsonegativos. FLUXOGRAMA 2


Pode ocasionar
Desvantagens sangramentos, infecção e
pneumotórax.

BIÓPSIA CIRÚRGICA

A biópsia cirúrgica é o método mais tradicional e com maior


disponibilidade. Pode ser incisional, quando há retirada de parte da lesão, e
excisional, quando ocorre retirada total da lesão.

No caso das lesões não palpáveis, a biópsia deve ser orientada por
Marcação Pré-Cirúrgica (MPC), com a finalidade de marcar a lesão,
proporcionando a retirada econômica de tecido mamário, importante
parâmetro a ser considerado, principalmente se a lesão for de natureza
benigna. A MPC pode ser guiada por raios X (estereotaxia), por
ultrassonografia e por ressonância magnética. Para marcar a lesão, pode-se
FLUXOGRAMA 3
utilizar um fio metálico ou marcador radioativo.
Obs.: a biópsia de congelação e o tratamento serão detalhados no tema “Doenças
Malignas da Mama”.

É considerado o padrão-ouro para obtenção de amostra dos tumores para


exame histopatológico. É obrigatória na suspeita de falso-negativo da core
biópsia ou da mamotomia. Em caso de dúvida também deve ser sempre
realizada. saiba mais

Excisional
As mulheres com resultado BI-RADS® 4 ou 5 deverão ser encaminhadas
SOBRE AS CONDUTAS PRECONIZADAS PELO CADERNO DE ATENÇÃO
para a unidade de referência secundária para investigação por exame
BÁSICA CONTROLE DOS CÂNCERES DE COLO DO ÚTERO E DA MAMA DO
histopatológico da lesão, preferencialmente por meio de PAG orientada
MINISTÉRIO DA SAÚDE (2013) NAS LESÕES PALPÁVEIS E NÃO PALPÁVEIS
por método de imagem. Uma vez confirmada a malignidade, deverão ser
encaminhadas para a unidade de referência terciária para início do
Conforme o resultado do ECM e dos exames de imagem, a mulher pode ser
tratamento. Nos casos em que a punção por agulha grossa for
encaminhada a um serviço de referência para prosseguir a investigação
inconclusiva, a investigação deverá prosseguir com biópsia cirúrgica,
diagnóstica ou retornar à rotina do rastreamento. As principais condutas
realizada em unidade de referência secundária ou terciária, dependendo
para lesões palpáveis e não palpáveis estão a seguir especificadas.
do fluxo estabelecido em nível local.

Lesões palpáveis
Mulheres com resultado BI-RADS® 0 deverão ser submetidas a novos
exames de imagem para reclassificação da lesão e deliberação da
Em mulheres com menos de 35 anos, a ultrassonografia é o método de conduta conforme categoria final.
escolha para avaliação das lesões palpáveis. A partir dos 35 anos,
recomenda-se a mamografia, podendo, nos casos anteriormente
O resultado categoria 6 é pouco provável na Atenção Primária à Saúde,
indicados, ser complementada pela ultrassonografia.
pois a mulher com diagnóstico de câncer já deve estar inserida em
unidade terciária para tratamento.
As pacientes com achados benignos sem indicação cirúrgica deverão
permanecer em acompanhamento de rotina na unidade de atenção Fonte: Ministério da Saúde – Caderno de Atenção Básica Controle dos Cânceres de Colo do Útero e
primária, enquanto aquelas com achados benignos com indicação da Mama (2013).

cirúrgica (nódulos sólidos acima de 3 cm, descargas papilares profusas,


abscesso subareolar recidivante) devem ser encaminhadas para QUANDO ESCOLHER CORE BIÓPSIA, MAMOTOMIA OU BIÓPSIA
investigação em unidade de referência na atenção secundária. CIRÚRGICA EXCISIONAL OU INCISIONAL PARA OBTENÇÃO DE MATERIAL
HISTOPATOLÓGICO?
Todas as mulheres com achados clínicos suspeitos, mesmo com exame de
imagem negativo, devem ser submetidas à investigação por Punção A core biópsia ou Punção por Agulha Grossa (PAG), ou core biopsy, é um
Aspirativa por Agulha Fina (PAAF), Punção por Agulha Grossa (PAG) ou procedimento ambulatorial, realizado sob anestesia local, que retira
biópsia cirúrgica, dependendo da disponibilidade do recurso e fragmento de tecido mamário para o exame histopatológico por meio de
características da lesão. Esses procedimentos devem ser realizados em dispositivo automático para biópsia (pistola). São utilizadas agulhas de
serviços ambulatoriais de referência para diagnóstico mamário (nível core de 12 ou 14 Gauge e pistola própria, que obtém fragmentos filiformes
secundário). do tumor para exame histopatológico. A PAG requer anestesia local (botão
anestésico) e mini-incisão na pele com lâmina de bisturi. Posiciona-se a
Lesões não palpáveis agulha pelo pertuito do bisturi até a superfície da lesão. A agulha é
acoplada a uma pistola. Vários disparos são realizados, e amostras de
O resultado da mamografia de rastreamento deve ser analisado pelo fragmentos são obtidas. Suas principais indicações são: nódulo sólido,
profissional solicitante, seguindo a conduta de acordo com a classificação microcalcificações agrupadas, densidade assimétrica e distorção de
parênquima.
BI-RADS®.

A mamotomia ou biópsia percutânea a vácuo utiliza um sistema de


Mulheres com resultado BI-RADS® 1 e 2 devem ser orientadas para
aspiração a vácuo em conjunto com um sistema de corte, com agulhas de
acompanhamento de rotina, na unidade de atenção primária, com
11 até 8 Gauge (mais calibrosas), que obtém maior amostra tumoral. Ela
repetição do exame de acordo com a faixa etária.
pode ser guiada por raios X (estereotaxia), ultrassonografia ou
ressonância magnética. Em determinadas situações, retira-se toda a lesão
Mulheres com resultado BI-RADS® 3 devem permanecer em
para avaliação histopatológica. É um importante método diagnóstico que
acompanhamento por três anos, com repetição do exame a cada seis
apresenta maior custo do que a core biópsia e exige treinamento
meses no primeiro ano e anual nos dois anos seguintes. Devem ser
particular para sua execução. Está indicada para o esclarecimento de
acompanhadas pelo especialista, preferencialmente na unidade de
lesões não palpáveis.
atenção secundária. Uma vez confirmada a estabilidade da lesão, as
mulheres deverão retornar para o acompanhamento na unidade de
atenção primária de acordo com a faixa etária. O estudo histopatológico
das lesões BI-RADS® 3 está indicado nas situações em que houver
impossibilidade de manter o acompanhamento, quando a lesão for
encontrada em concomitância com lesão suspeita ou altamente suspeita
homo ou contralateral, ou em mulheres com indicação precisa para
terapia de reposição hormonal.
A biópsia cirúrgica é o método mais tradicional e com maior Lipoma
disponibilidade. Pode ser incisional, quando há retirada de parte da lesão,
É uma proliferação benigna das células lipídicas. Apresenta-se como um
e excisional, quando ocorre retirada total da lesão. No caso das lesões
nódulo amolecido, bem delimitado e que pode atingir grandes dimensões.
não palpáveis, a biópsia deve ser orientada por Marcação Pré-Cirúrgica
Pode sofrer necrose (citoesteatonecrose) e apresentar áreas endurecidas, que
(MPC), com a finalidade de marcar a lesão, proporcionando a retirada
o confundem com um carcinoma. A macroscopia é muito característica. O
econômica de tecido mamário, a qual é um importante parâmetro a ser
tratamento do lipoma é polêmico na literatura: algumas fontes informam
considerado, principalmente se a lesão for de natureza benigna. A MPC
que a conduta pode ser expectante. Outros advogam seu tratamento
pode ser guiada por raios X (estereotaxia) por ultrassonografia e por
cirúrgico.
ressonância magnética. Para marcar a lesão, pode-se utilizar um fio
metálico ou marcador radioativo. A biópsia excisional consiste na retirada
completa da lesão e está indicada nos casos de lesões menores. A biópsia Tumor Phyllodes ou Filoides
incisional está indicada nos casos de tumores de grandes dimensões, pois
São relativamente raros. Acometem pacientes entre a terceira e quinta
consiste na retirada de apenas um fragmento do tumor. Tanto a core
décadas de vida. Distinguem-se pelo seu crescimento rápido, grande volume
biópsia quanto a mamotomia são preferíveis às biópsias cirúrgicas, mas
e tendência a recorrência local. Apresentam aspecto histológico muito
nem sempre estão disponíveis.
parecido com os fibroadenomas, mas se diferenciam deles pela celularidade
de seu estroma. O tumor filoides possui estroma hipercelular, enquanto o
Para finalizar, a seguir, serão descritas as principais afecções de fibroadenoma comum possui estroma de baixa celularidade. Raramente são
base dos tumores benignos das mamas: bilaterais. Em torno de 20% dos casos sofrem transformação maligna. O
tratamento habitual do tumor filoides consiste em excisão com margens
livres. A exérese desses tumores sem margem de segurança (1-2 cm)
Fibroadenoma
predispõe a recidivas locais.
É o tumor benigno mais prevalente da mama feminina. Sua manifestação
mais comum é um tumor palpável. A faixa etária mais acometida é de
Hamartoma
mulheres jovens entre 20 e 35 anos. Pode ocorrer na puberdade. O risco de
câncer subsequente é o mesmo da população geral. No entanto, sua Corresponde a um tumor benigno, que se manifesta com maior frequência
associação com doenças proliferativas pode resultar em um aumento do na terceira e quarta décadas de vida (segundo os Tratados de Mastologia).
risco para câncer mamário. Segundo o livro “Rotinas em Ginecologia”, 5ª edição, são mais frequentes
na pós-menopausa. É formado por uma quantidade variável de tecido
Tipicamente, apresenta-se como tumor palpável de consistência glandular, gordura e tecido conectivo fibroso. Clinicamente, são macios,
fibroelástica, móvel, indolor, de 2 ou 3 cm em seu maior diâmetro, com com textura semelhante a do parênquima e muito similares aos lipomas e
rápido crescimento inicial, que posteriormente se estabiliza. Pode ser único, aos fibroadenomalipomas. Apenas a histopatologia é capaz de diferenciá-
múltiplo ou subsequente a outro fibroadenoma, em uma mama ou em ambas los. O tratamento consiste na retirada completa do tumor.
as mamas.
Alterações Funcionais Benignas da Mama
O tratamento conservador com acompanhamento pode ser empregado
A lesão elementar é o cisto. Mais informações no tópico “Adensamentos e
quando a imagem apresenta características de benignidade e a paciente
Cistos”.
possui menos de 25 anos. Entre os 25 e 35 anos, a conduta deve ser
individualizada. Já após os 35 anos, a retirada dos nódulos está indicada
quando estas lesões são palpáveis, quando apresentam crescimento rápido,
quando há história familiar de câncer de mama e em caso de imagem
PROCESSOS INFLAMATÓRIOS
ultrassonográfica ou mamográfica duvidosa. Este é um tema que cai muito pouco em provas. Geralmente, as questões
envolvem o agente etiológico e a conduta na mastite aguda puerperal. Não
Há uma forma especial de fibroadenoma conhecida como gigante. Ocorre deixe de ler um pouquinho sobre o assunto, pois surpresas acontecem nas
na puberdade e causa importante assimetria mamária devido ao tamanho (20 provas de residência médica.
a 30 cm).

MASTITE
Papiloma Intraductal
VIDEO_09_GIN4
Corresponde a um tumor da árvore ductal, que acomete principalmente os
Mastite é um processo infeccioso, agudo ou crônico, que pode acometer
ductos subareolares principais. É relativamente frequente. É solitário,
todos os tecidos mamários (glandular, subcutâneo ou pele). Cabe aqui
normalmente não excede 2-3 mm e se localiza nos ductos terminais. Possui
lembrar que a mastite não é o único processo inflamatório das mamas.
como apresentação clínica mais comum a presença de descarga papilar
uniductal serossanguinolenta (50%) ou sanguinolenta (50%), muitas vezes
espontânea ou à compressão do ducto dilatado a montante. A faixa etária Mastite Aguda Puerperal
mais acometida situa-se entre os 30 e 50 anos. Na presença de nódulo e
derrame papilar predomina a investigação do nódulo. A abordagem
terapêutica já foi discutida no tópico derrame papilar.
É a mastite mais comum. Na maioria das vezes deriva de germes saprófitas ● Esteatonecrose ou necrose gordurosa ou granuloma
da pele. Em geral, a presença de fissuras mamárias resulta em quebra dos lipofágico ou citoesteatonecrose: a necrose gordurosa geralmente
mecanismos de defesa do organismo e em aumento do número de bactérias se associa à história de trauma imperceptível ou não. Mas também pode
sobre a pele da mama. A penetração dos germes ocorre pelos linfáticos ocorrer após a cirurgia mamária prévia (ressecção segmentar) ou
superficiais, expostos pelas fissuras mamilares. radioterapia. Ela resulta da saponificação asséptica da gordura por meio
da lipase do sangue e do tecido.
O principal agente etiológico é o Staphylococcus aureus. Pode ser Acomete principalmente mulheres na pós-menopausa com mamas
encontrado com menor frequência o Staphylococcus epidermidis e o volumosas. No entanto, pode ocorrer em pacientes mais jovens.
Streptococcus do grupo B. Nas formas graves, com a consequente O exame físico evidencia tumoração endurecida, mal definida, fixa ao
evolução para ulceração e necrose, associam-se bactérias Gram-negativas plano adjacente e livre dos planos profundos, acompanhada de equimose
aeróbicas (E.coli, Pseudomonas e Serratia) ou germes anaeróbios, (próxima à tumoração) e retração de pele ou da papila. A dor pode ou
como os bacteroides. não estar presente. Em geral, não ultrapassa 2 a 3 cm de diâmetro.
Normalmente, as lesões regridem espontaneamente. A retirada cirúrgica
Possui como fatores de risco a primiparidade e idade menor que 25 anos, da lesão é raramente necessária. O exame histopatológico confirma a
ingurgitamento mamário, fissura mamilar, infecção da rinofaringe do benignidade das lesões.
lactente, má higiene e anormalidades mamilares. ●
Eczema areolopapilar: em linhas gerais, é uma dermatite descamativa
e exsudativa do complexo areolopapilar, muitas vezes bilateral e
O processo tem início com a estase láctea. A seguir, surgem os sinais acompanhada de prurido. Pode ser localizada ou difusa. Nesse caso,
clássicos de inflamação: dor, calor, rubor, de início súbito associado à febre envolve totalmente o mamilo e a aréola.
alta (39 a 40ºC), calafrios e turgência mamária extensa. Pode cursar com Esta afecção se apresenta normalmente em mulheres jovens. Pode ser uni
adenopatia. ou bilateral.
Possui como causas a psoríase, dermatite seborreica, dermatite de
Inclui como medidas profiláticas a higiene vigorosa, a prevenção do contato (tecidos sintéticos dos sutiãs) e dermatite atópica.
ingurgitamento mamário e de fissuras.
O tratamento consiste no isolamento dos antígenos de contato
(desodorantes, cremes, roupa íntima) e no emprego de corticoides
O diagnóstico é facilmente estabelecido pela associação do quadro com o tópicos por 15 dias. Na ausência de melhora, a biópsia da pele da aréola
ciclo gravídico-puerperal, estase láctea e dor intensa. ou da papila se impõe. O principal diagnóstico diferencial é com a
doença de Paget.
O tratamento das pacientes envolve o uso de analgésicos, antitérmicos,

Ectasia ductal: consiste na dilatação dos ductos terminais e na estase
suspensão das mamas, drenagem manual do leite e antibioticoterapia. As
cefalosporinas de primeira geração são uma boa escolha (cefalexina). de secreções nos mesmos. Como consequência deste quadro, pode
Outras opções são a ampicilina, eritromicina e lincomicina. ocorrer descarga papilar (mais informações no tópico “Descarga
Papilar”) e um processo inflamatório crônico do ducto, que produz
fibrose tecidual, retração e/ou desvio da papila.
A evolução arrastada da mastite está frequentemente associada à presença
de germes resistentes aos antibióticos utilizados, dose insuficiente ou A natureza de sua etiologia é desconhecida.
evolução para abscesso mamário. A idade é o principal fator de risco e acomete mulheres no climatério ou
mais idosas (entre a quinta e oitava décadas de vida). Não exige
Só há indicação de suspensão do aleitamento da mama acometida por tratamento desde que o sintoma não seja espontâneo e abundante. Caso
mastite ou abscesso em duas situações clínicas: represente um incômodo para a paciente, está indicada a exérese do
sistema ductal terminal. Atualmente, a apresentação tumoral desta
afecção é rara, pois a consulta e o manejo terapêutico são realizados na

Drenagem purulenta espontânea pela papila;
fase de derrame.

Incisão cirúrgica para drenagem de abscesso flutuante muito próxima do
mamilo.

Abscessos mamários: em geral, resultam de mastites mal
diagnosticadas ou maltratadas. Normalmente, são múltiplos e
multiloculados. Podem envolver qualquer quadrante da mama. No
Outros Processos In amatórios entanto, em geral, predominam nos quadrantes inferiores devido à estase
Estes processos associam-se a traumas sobre a mama, dermatites, processos láctea e a dificuldade de drenagem. Os casos não lactacionais são mais
inflamatórios crônicos e ao abscesso subareolar recidivante. comuns nas mulheres na pré-menopausa.
A apresentação clínica é clássica com sinais inflamatórios. O diagnóstico
normalmente é clínico. A ultrassonografia pode ser empregada para
localização dos abscessos.
O Staphylococcus aureus é o agente frequentemente responsável,
mas alguns abscessos contêm organismos anaeróbicos.
O manejo terapêutico consiste na drenagem cirúrgica sob anestesia geral.
Além disso, outras medidas terapêuticas são necessárias: coleta do
material purulento para cultura, antibiograma, lavagem exaustiva das
cavidades, exérese de todo material necrótico, exploração digital das
lojas profundas do abscesso e drenagem das cavidades. A ●
Adenose não esclerosante.
antibioticoterapia deve obedecer ao antibiograma por no mínimo 14 dias.

Hiperplasia simples.

Abscesso subareolar recidivante: consiste em doença congênita da

Metaplasia apócrina.
papila em que o epitélio pavimentoso estratificado queratinizado da pele
da papila invade o epitélio ductal. Esta invasão implica em descamação ●
Mastite.
córnea, obstrução ductal terminal, estase de secreções, infecção ●
Cistos (macro ou micro).
secundária, granuloma e/ou abscesso com fistulização para a pele. Sem risco aumentado

Metaplasia escamosa.
Ocorre principalmente nas mulheres fumantes, dos 35 aos 50 anos. A (alterações não
evolução é lenta. Responde mal aos antibióticos de amplo espectro. proliferativas) ●
Ectasia ductal.

O tratamento consiste na contenção do processo inflamatório com calor



Hamartoma.
local e antibioticoterapia de amplo espectro. O tratamento cirúrgico ●
Fibroadenoma.
definitivo só pode ser realizado na ausência de sinais inflamatórios. A

Alteração broadenoma‐
cura resulta da ampla excisão do tecido granulomatoso e da reparação
toide.
estética do mamilo. As recorrências ocorrem pela persistência do hábito
de fumar e pelo tratamento cirúrgico insuficiente. ●
Fibrose.


Fibroadenoma complexo.

RISCO DE CÂNCER NAS AFECÇÕES ●


Adenose esclerosante.
BENIGNAS DA MAMA ●
Hiperplasia, moderada ou
Risco discretamente
orida, sólida ou
É importante saber que as afecções benignas da mama possuem um risco de aumentado (1,5 a 2×)
papiliforme.
transformação maligna, e que esse risco de desenvolvimento de câncer de (alterações proliferativas
mama em uma mulher pode ser estimado por três fatores: sem atipias) ●
Papiloma solitário sem
hiperplasia atípica.

Fatores epidemiológicos (grupos de risco); ●
Cicatriz radial (lesão

Testes genéticos (pesquisa de BRCA 1 e BRCA 2);
esclerosante complexa).


Fatores histológicos. Risco moderadamente ●
Hiperplasia ductal atípica.
aumentado (5×) (alterações ●
Hiperplasia lobular atípica.
A quantificação do risco histológico é adquirida pelo acompanhamento, por proliferativas com atipias)
longos períodos, dos casos de afecção benigna submetidos à biópsia, e
Alto risco (10×) carcinoma ●
Carcinoma lobular in situ.
expressada em termos de risco relativo. O risco relativo para carcinoma
invasor a partir de afecções benignas foi determinado em uma reunião do in situ ●
Carcinoma dutal in situ.
Consenso do Colégio Americano de Patologistas, em 1986, alterado OBS.: as principais definições destas alterações encontram-se abaixo.
posteriormente por Page e Dupont. Os resultados, apresentados na
Tabela 24, dobram quando a história familiar de câncer de mama está
presente.
DEFINIÇÕES DAS ALTERAÇÕES MAMÁRIAS
NÃO PROLIFERATIVAS E PROLIFERATIVAS
TAB. 24 RISCO RELATIVO PARA CARCINOMA INVASIVO DA
MAMA BASEADO NO EXAME ANATOMOPATOLÓGICO
SEM ATIPIAS E COM ATIPIAS
DO TECIDO MAMÁRIO BENIGNO, ESTABELECIDO As Tabelas 25, 26 e 27 apresentarão as definições das alterações mamárias
PELO COLLEGE OF AMERICAN PATHOLOGISTS EM
não proliferativas, proliferativas sem atipias e proliferativas com atipias.
1986, MODIFICADO POR PAGE E DUPONT.

TAB. 25 ALTERAÇÕES NÃO PROLIFERATIVAS: LESÕES SEM


RISCO AUMENTADO.

DIAGNÓSTICO CONCEITO

Adenose não esclerosante Aumento do número de


ácinos no lóbulo.

Metaplasia (apócrina/es‐ Transformação do epitélio


camosa) original por outro tipo de
epitélio.
Mastite Processos in amatórios Carcinoma ductal in situ É considerada a lesão
(inclui abscesso subareolar precursora verdadeira, por
recidivante crônico). compartilhar alterações
morfológicas e genéticas
Ectasia ductal Dilatação de ductos com o tumor invasivo.
periféricos com brose e
in amação da parede. Preenchimento dos ácinos do
lóbulo por células
Carcinoma lobular in situ
Hamartoma Processo malformativo. semelhantes às do carcinoma
lobular invasor.
Fibroadenoma Neoplasia benigna bifásica
(epitelial e mesenquimal).

Alteração fibroadenoma‐ Achado histológico


PRINCÍPIOS DO MANEJO DAS AFECÇÕES
toide semelhante ao broadenoma,
BENIGNAS DA MAMA
sem nódulo nítido.
Ao término desta parte, alguns princípios que norteiam o manejo das
afecções benignas da mama devem estar bem sedimentados:

TAB. 26 ALTERAÇÕES PROLIFERATIVAS SEM ATIPIA: LESÕES


COM RISCO DISCRETAMENTE AUMENTADO (1,5 A 2X). ●
Eliminar o mais rapidamente possível o desconforto gerado pela afecção;

DIAGNÓSTICO CONCEITO ●
Excluir sempre câncer;

Preservar a estética sempre que possível;
Adenose esclerosante Aumento do número de
ácinos do lóbulo com brose. ●
Quantificar o risco para câncer a partir de uma biópsia benigna e propor
o esquema de seguimento;
Hiperplasia ductal florida Aumento do número de ●
Orientar e tranquilizar sempre a paciente.
camadas de células epiteliais
nos ductos com
preenchimento completo da
[ DIVERGÊNCIAS NA LITERATURA
luz ou arranjos complexos.
A seguir, apresentaremos algumas das divergências encontradas sobre as
Papiloma ductal isolado ou Proliferação intraductal doenças benignas da mama na literatura. Algumas delas já foram exploradas
solitário papilomatosa dos ductos nas provas de residência médica. Por este motivo, nas provas de
principais. Ginecologia, vale sempre a pena conferir as referências bibliográficas dos
concursos que você irá se submeter. Existem algumas situações em que os
Cicatriz radial Estrutura de arranjo radial
livros didáticos realmente não se entendem! Fique atento a elas!
com ductos obliterados
centrais e dilatados na
periferia.
RESTRIÇÃO DAS METILXANTINAS NO MANEJO DA DOR
MAMÁRIA

TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)


TAB. 27 ALTERAÇÕES PROLIFERATIVAS COM ATIPIAS: RISCO
MODERADAMENTE AUMENTADO (5×). Essa fonte não faz menção à redução do consumo de metilxantinas, como
medida terapêutica das mastalgias.
DIAGNÓSTICO CONCEITO

Hiperplasia ductal atípica Alteração que possui alguns, GINECOLOGIA AMBULATORIAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS
mas não todos os critérios (2016) E WILLIAMS GYNECOLOGY (2016)
para o diagnóstico de
Estes livros não fazem menção a esta divergência.
carcinoma ductal in situ.

Hiperplasia lobular atípica Alteração que possui alguns,


BEREK & NOVAK'S GYNECOLOGY (2020)
mas não todos os critérios
para o diagnóstico de Este livro se limita a informar que a restrição às metilxantinas é uma das
carcinoma lobular in situ. estratégias terapêuticas utilizadas no manejo da dor mamária, mas não
discute sua eficácia.

TAB. 28 CARCINOMA IN SITU: ALTO RISCO (10×). MANUAL DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA DA SOGIMIG (2012)

DIAGNÓSTICO CONCEITO
O livro informa que todas os medicamentos e estratégias disponíveis foram Estes livros não fazem menção a esta divergência.
comparadas com placebo (vitamina E), na maioria dos estudos. E
categorizam a restrição de metilxantinas para tratamento se o benefício for
BEREK & NOVAK'S GYNECOLOGY (2020)
superior ao do placebo.
Este livro não faz menção a esta divergência.

ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)


MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (2017)
Este livro não faz menção a esta divergência.
Este livro não faz menção a esta divergência.
OBS. 1: basicamente, não esqueça que existem fontes que consideram que há benefício no uso das
xantinas no manejo da dor mamária, e outras que consideram que não há benefício.
ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)
OBS. 2: na hora de responder às questões, escolha sempre a alternativa que não representa uma
O livro informa que o emprego destes medicamentos possui comportamento
controvérsia da literatura.
paradoxal. Em alguns casos pioram os sintomas, em outros aliviam.

DIVERGÊNCIAS NO USO DO ÁCIDO GAMALINOLEICO NO OBS.: para fins de prova de residência médica, são necessários mais estudos para recomendar o uso
de ACO no manejo terapêutico da dor mamária.
MANEJO DA DOR MAMÁRIA

TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)


DIVERGÊNCIAS NA DEFINIÇÃO DE DESCARGA PAPILAR
Essa fonte informa que os resultados dos estudos disponíveis não
demonstraram eficácia no tratamento da mastalgia. TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)

Essa fonte informa que a descarga ou derrame papilar consiste em fluxos


GINECOLOGIA AMBULATORIAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS papilares que se exteriorizam espontaneamente pela papila mamária, fora
(2016) E WILLIAMS GYNECOLOGY (2016) do ciclo gravídico-puerperal.

Estes livros não fazem menção a esta divergência.


TRATADOS E LIVROS DE MASTOLOGIA

BEREK & NOVAK'S GYNECOLOGY (2020) Para os tratados e livros de Mastologia, o derrame papilar corresponde à
saída de secreção pela papila fora do ciclo gravídico-puerperal e do período
Este livro informa que são necessários estudos adicionais para comprovar a
de lactação.
eficácia destes medicamentos.

MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (6ª


MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (6ª
EDIÇÃO, 2017)
EDIÇÃO, 2017)
A descarga papilar consiste na eliminação de qualquer secreção
Este livro refere que o uso do óleo de prímula possui benefício superior ao
proveniente do ducto mamário sendo a terceira queixa mamária mais
placebo no tratamento da dor mamária.
frequente.

ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)


GINECOLOGIA AMBULATORIAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS
Esta edição informa que o emprego deste produto natural não foi superior (2016), WILLIAMS GYNECOLOGY (2016), BEREK & NOVAK'S
ao placebo no alívio da dor. GYNECOLOGY (2020) E ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª
EDIÇÃO, 2017)

OBS. 1: basicamente, não esqueça que existem fontes que consideram que há benefício no uso do Estes livros não definem o que é descarga papilar.
ácido gamalinoleico no manejo da dor mamária, e outras que consideram que não há benefício.

OBS.: para fins de prova de residência médica, inclua as descargas do ciclo gravídico-puerperal na
OBS. 2: na hora de responder às questões, escolha sempre a alternativa que não representa uma definição das descargas papilares.
controvérsia da literatura.

CONTROVÉRSIAS EM RELAÇÃO ÀS RECOMENDAÇÕES


DIVERGÊNCIAS NO USO DE ACO NO MANEJO DA DOR
QUANTO À FAIXA ETÁRIA PARA REALIZAÇÃO DE MMG
MAMÁRIA
TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)
TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)
Apresenta as recomendações do Colégio Brasileiro de Radiologia e
Essa fonte não faz menção ao papel do uso do ACO no manejo terapêutico
Diagnóstico por Imagem, da Sociedade Brasileira de Mastologia e
da mastalgia.
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia,
publicadas em 2017, que preconizam o rastreamento com mamografia anual
GINECOLOGIA AMBULATORIAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS nas mulheres na faixa etária entre 40 e 69 anos, embora descreva as
(2016) E WILLIAMS GYNECOLOGY (2016): recomendações do Ministério da Saúde/INCA e da American Cancer
Society/American College of Radiology.
GINECOLOGIA AMBULATORIAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS Este livro apresenta a recomendação do Instituto Nacional do Câncer
(2016) (INCA), que é a mesma do Ministério da Saúde, ou seja, mamografia bianual
dos 50 a 69 anos. A fonte também informa a conduta preconizada pela
Esse livro informa que a American Cancer Society (ACS) preconiza a
Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), que coincide com a da
incidência dupla para todas as mulheres assistomáticas após 40 anos de
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia
idade para o rastreamento do câncer de mama, o qual deverá ser realizado
(FEBRASGO) e do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por
enquanto a paciente estiver em boas condições de saúde. No Brasil, porém,
Imagem (CBR), de mamografia anual a partir dos 40 anos e sem limite de
o Programa de Rastreamento de Câncer de Mama do Instituto Nacional do
idade para interromper o rastreamento. No entanto, o autor não define qual
Câncer (INCA) preconiza a realização da MMG a cada dois anos entre os 50
delas é a ideal.
e 69 anos; para as mulheres entre 40 e 49 anos, a recomendação é o exame
clínico anual das mamas.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE MASTOLOGIA (SBM)

BEREK & NOVAK'S GYNECOLOGY (2020) A orientação atual da SBM deve ser seguida em condições ideais de
recursos para a assistência à saúde. A recomendação é a realização de
Esta fonte segue as recomendações anteriores da American Cancer
mamografia anual a partir dos 40 anos de idade, com a realização de um
Society.
exame basal prévio aos 35 anos. Perceba que é diferente do Ministério da
Saúde.
MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (6ª
EDIÇÃO, 2017) OBS.: para fins de prova de residência médica, caso o concurso não apresente uma referência
bibliográfica específica, siga as recomendações do Ministério da Saúde.
Este livro informa que a partir dos 40 anos todas as mulheres devem fazer
MMG anual, e as mulheres com história familiar ou pessoal importante
devem consultar seu médico a respeito da necessidade de começar a
CONTROVÉRSIAS NO TRATAMENTO DOS LIPOMAS
mamografia em idade mais precoce.
TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)

Essa fonte não faz menção ao tratamento dos lipomas mamários.



Exame clínico a cada três
20-39 anos
anos.
GINECOLOGIA AMBULATORIAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Exame clínico anual. (2016)
A partir dos 40 anos

MMG anual. Esse livro informa que o tratamento é cirúrgico quando ocorre crescimento
da lesão, por questões estéticas e na necessidade de diagnóstico

Mutação conhecida do diferencial com lesão maligna.
BRCA 1 e 2.

Parentes de primeiro grau BEREK & NOVAK'S GYNECOLOGY (2020)
com mutação conhecida
ou não. Este livro não faz menção ao tratamento dos lipomas.


História de radioterapia no
tórax entre as idades de 10 ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)
a 30 anos.
A edição de 2006 informa que a conduta é cirúrgica. A edição de 2011
Mulheres com risco aumentado

Pacientes portadoras da informa que a conduta é cirúrgica e a própria macroscopia antecipa o
síndrome de Li-Fraumeni, diagnóstico.
síndrome de Cowden ou
síndrome de Bannayan- OBS.: para fins de prova de residência médica, a conduta pode ser cirúrgica ou expectante.
Riley-Ruvalcaba.

Pacientes que apresentem
CONTROVÉRSIAS NO AGENTE ETIOLÓGICO DA MASTITE
parentes de 1º grau com
AGUDA PUERPERAL
alguma das síndromes
descritas anteriormente. TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)


Exame clínico anual. Essa fonte informa que os germes mais relacionados à mastite puerperal
Deve começar a partir dos 30 aguda são o Staphylococcus aureus e o Staphylococcus epidermidis, e
anos

MMG anual.
espécies de Streptococcus. E complementa que bactérias, como a

RM anual. Escherichia coli, a Pseudomonas aeruginosa e o Proteus mirabilis, também
podem ser responsáveis pelo quadro infeccioso.

ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017) ROTINAS DE GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)
A mastite aguda é causada em 70% dos casos pelos estafilococos Excetuando o câncer de pele não melanoma, o câncer de mama é o segundo
penicilinase-resistentes; nos demais casos, por estreptococos, micro- tipo de tumor maligno mais frequente no Brasil e no mundo (somando
organismos anaeróbios (presentes em 36%) e colibacilos. mulheres e homens) e, “disparado”, o mais comum entre as mulheres. A
cada ano, aproximadamente 25% dos casos novos de câncer em mulheres
correspondem a tumores de mama. Para o Brasil, estimam-se que 66.280
MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (6ª
casos novos de câncer de mama, para cada ano do triênio 2020-2022. Esse
EDIÇÃO, 2017)
valor corresponde a um risco estimado de 61,61 casos novos a cada 100 mil
Os agentes etiológicos mais comumente encontrados são, em 60 a 80% dos mulheres.
casos, Staphylococcus, Haemophilus, E. coli e bacteroides.

A taxa de mortalidade por câncer de mama, ajustada pela população


GINECOLOGIA BASEADA EM EVIDÊNCIAS (2016) E BEREK & mundial, apresenta uma curva ascendente e representa a primeira causa de
NOVAK'S GYNECOLOGY (2020) morte por câncer na população feminina brasileira.

Ambas as fontes concordam que o principal agente da mastite aguda


Assim, o câncer de mama constitui um grave problema de saúde pública e
puerperal é o Staphylococcus aureus.
faz jus a grandes investimentos em pesquisa, prevenção, diagnóstico
precoce e tratamento.
OBS.: para fins de prova de residência médica, o principal agente da mastite aguda puerperal é o
Staphylococcus aureus.

É importante salientar que o câncer de mama também acomete homens!


Cerca de 1% de todos os casos de câncer de mama incidem no sexo
DOENÇAS MALIGNAS DA MAMA masculino.

O câncer de mama constitui um grave problema de saúde pública e faz jus a


grandes investimentos em pesquisa, prevenção, diagnóstico precoce e ESTRATÉGIA DIAGNÓSTICA
tratamento.
O programa mais efetivo para reduzir a mortalidade do câncer de mama é a
detecção precoce. Neste contexto, o exame clínico em pacientes com
pontos principais sintomas e o estudo mamográfico de rastreamento são instrumentos muito
importantes para o seu diagnóstico.
Conhecer:

Os principais fatores de risco para o câncer de mama;


ANAMNESE

● Os achados sugestivos de malignidade nos exames propedêuticos;


VIDEO_10_GIN4
● As condutas terapêuticas possíveis na abordagem das malignidades Deve-se procurar fatores de risco, sinais e sintomas de câncer.
mamária;
● Os principais fatores prognósticos; A queixa principal mais comum das pacientes corresponde à
● As divergências da literatura sobre o assunto. Sempre que existir presença de tumor, que deve ser bem caracterizado (lembrar das
algo divergente na literatura, você encontrará um símbolo para que perguntas que devem ser feitas quando a paciente refere um nódulo – tema
você fique de vivo! Todas as divergências serão listadas ao final “Doenças Benignas da Mama”). O tumor maligno usualmente tem
do capítulo. crescimento insidioso e localiza-se no quadrante superior externo
ou na região central. Além disso, deve-se desconfiar fortemente de um
tumor unilateral (na maioria das vezes), firme, de consistência
endurecida ou até pétrea. Outro dado que não pode ser esquecido é que
DEFINIÇÃO E EPIDEMIOLOGIA o tumor maligno não dói, só quando já atingiu grandes dimensões. A
descarga papilar pode estar associada (mais detalhes no exame físico).
O câncer de mama pode ser definido como a proliferação maligna das
células epiteliais que margeiam os ductos ou os lóbulos. A proliferação
incontrolável de células anormais surge em função de alterações genéticas, Traumas, exercícios físicos, uso de medicações e início súbito não possuem
sejam elas hereditárias ou adquiridas por exposição a fatores ambientais ou relação com o câncer. A presença de gestação em curso ou o estado
fisiológicos. Tais alterações genéticas podem provocar mudanças no puerperal pode mascarar e dificultar o diagnóstico.
crescimento celular ou na morte celular programada, levando ao surgimento
do tumor. Os antecedentes pessoais (para definir o risco individual) e os antecedentes
familiares de câncer de mama (principalmente em parentes de primeiro
grau) devem ser obrigatoriamente investigados.

Cabe aqui salientar que esses sinais e sintomas podem estar associados a
sinais e sintomas inflamatórios que dificultam o diagnóstico diferencial.
A história clínica coletada de maneira criteriosa e detalhada é fundamental São consideradas como fatores de risco as doenças benignas com padrão
para o estabelecimento do diagnóstico clínico e para a identificação de proliferativo (hiperplasia ductal ou lobular), principalmente se houver
grupos de risco. atipia. Já foi demonstrado que o risco relativo de câncer de mama é de 2,5 a
5,3 vezes maior para as hiperplasias atípicas, e de 1,6 a 1,9 para as
hiperplasias sem atipia.
FATORES DE RISCO
O carcinoma ductal in situ (precursor) e o carcinoma lobular in situ
Sexo
(marcador de risco e precursor) também são lesões de risco. Cabe aqui
Ser mulher é fator de risco! lembrar que alguns autores não consideram o carcinoma lobular in situ um
precursor (apenas um marcador de risco).
É bem mais frequente no sexo feminino, que representa 99% dos casos. O
sexo masculino é acometido por 1% dos tumores malignos de mama. No
Cicatriz Radial ou Lesão Esclerosante Complexa
entanto, essa estimativa pode aumentar nos casos de ginecomastia de
diversas etiologias. Pode simular um câncer de mama, tanto em exames histopatológicos
(macroscopia e microscopia) quanto na mamografia. Estudos recentes
sugerem que a cicatriz radial está associada a um risco aumentado de câncer
Idade
de mama futuro. Normalmente, representa um achado em tecido mamário
O pico de incidência de câncer de mama é controverso na literatura. Para excisado devido à outra anormalidade. Em geral, é múltipla.
fins didáticos, consideramos como fator de risco idade superior a 40 anos. Ocasionalmente pode ser tão grande a ponto de ser detectada pela
mamografia. Nestes casos, descreve-se uma massa espiculada indistinguível
do carcinoma, que requer estudo histopatológico para diferenciação.
Raça Branca

A incidência de câncer de mama é maior na raça branca do que na


História Menstrual: Menarca Precoce e Menopausa Tardia
negra, mas não há diferença nos índices de mortalidade. As mulheres
asiáticas possuem o menor risco para a doença. A idade da primeira menstruação e a idade de início da menopausa
interferem no surgimento do câncer de mama. Quanto mais precoce a idade
da menarca (antes de 11 anos) e tardia a da menopausa (após os 55 anos),
Antecedente Pessoal de Câncer de Mama
maior a chance de doença. Mulheres submetidas à ooforectomia antes da
Mulheres com história prévia de câncer de mama possuem risco de 50% de menopausa apresentam risco relativo menor.
desenvolver um câncer microscópico e um risco de 20 a 25% de
desenvolver um câncer clinicamente aparente na mama contralateral. Atenção: de acordo com o Manual “Controle dos Cânceres de Colo
Uterino e Mama” do Ministério da Saúde (2013), a menarca precoce é
definida como a idade da primeira menstruação menor que 12 anos e a
História Familiar
menopausa tardia é aquela instalada após os 50 anos de idade. A
O passado de câncer de mama em parentes de primeiro grau (mãe, irmã ou primiparidade idosa também é definida como a primeira gravidez após os
filha) aumenta o risco da doença de 2,0 a 2,5 vezes. Em parentes de 30 anos.
segundo e terceiro graus esse risco aumenta em 1,5 a 2,0 vezes.

História Obstétrica: Nuliparidade e Primiparidade Idosa


A história familiar e a idade precoce ao diagnóstico (mulheres com menos
de 50 anos) são importantes fatores de risco para o câncer de mama e O câncer de mama é mais frequente entre as nulíparas e as primíparas
podem indicar predisposição genética associada à presença de mutações em idosas, após os 30 anos (Ministério da Saúde) ou 35 anos (alguns livros
determinados genes. didáticos). A primeira gestação antes dos 20 anos parece exercer efeito
protetor contra o aparecimento da doença.
Entretanto, o câncer de mama de caráter hereditário (predisposição
genética) corresponde a cerca de 5 a 10% do total de casos. Uso de Anticoncepcionais Orais (ACO)

O uso de ACO, de acordo com alguns estudos, parece aumentar um pouco o


Antecedente Pessoal de Outros Tipos de Câncer e RT para risco de Ca de mama. As mulheres que suspenderam o uso de ACO há dez
Linfoma de Hodgkin
anos ou mais têm o risco semelhante ao das mulheres que nunca usaram
A história de outros tipos de tumor, principalmente de endométrio, ovário pílula. No entanto, de forma geral, o uso de ACO parece não influenciar o
ou cólon, e a história de Radioterapia (RT) mediastinal para linfoma de risco de Ca de mama, exceto naquelas mulheres que possuem predisposição
Hodgkin aumentam a probabilidade de um câncer de mama subsequente. genética, isto é, as que são portadoras de mutações no BRCA.

Lesões Histológicas Indicadoras de Risco Terapia Hormonal


O estudo WHI (Women’s Healthy Initiative randomized trial) e o A relação entre álcool e câncer de mama está associada com a ingestão
estudo Million Women Study (desenvolvido no Reino Unido) diária. Quanto maior a dose, maior será o risco de desenvolver câncer de
concluíram que a associação de estrogênios conjugados e de progesterona mama. A ingestão regular de álcool, mesmo que em quantidade moderada –
na terapêutica da síndrome climatérica aumentou o risco de câncer de 30 g/dia –, é considerada um fator de risco.
mama. A maioria dos estudos concluiu que este risco é maior
principalmente quando o uso é superior a dez anos.
Agentes Químicos

É muito importante que você saiba que a relação entre o tempo de uso de É maior a incidência do câncer de mama nos países em que o consumo de
TH e o aumento do risco de Ca de mama é muito controversa na literatura. DDT é maior, fato que ocorre analogamente em outros tipos de tumores.
Em linhas gerais, há a necessidade de novos estudos para resolver este
impasse. Radiação Ionizante

A exposição a radiações ionizantes em idade inferior a 40 anos é fator de


Os Tratados de Mastologia informam que se pode concluir que entre
risco.
mulheres que utilizam TH por menos de cinco anos não há risco de câncer
de mama. Nas que utilizaram por mais de dez anos, fica estabelecida uma
controvérsia. Há, portanto, necessidade de estudos adicionais para elucidar Fatores Geográ cos
o assunto.
A doença é mais comum em países desenvolvidos e industrializados, fato
que justifica sua maior incidência na Europa e América do Norte.
Fatores Nutricionais: Dietas Ricas em Gordura

Uma recente metanálise demonstrou que dietas ricas em gorduras elevam a Sedentarismo
frequência do câncer de mama. Ele é mais encontrado entre as obesas,
sobretudo na pós-menopausa. É considerado um fator de risco, enquanto a prática de atividade física é
considerada um fator protetor.

A OBESIDADE É FATOR DE RISCO PARA O CÂNCER DE MAMA? Genética

Alguns livros didáticos não incluem a obesidade entre os fatores de No ano de 1994, foi evidenciada a primeira mutação genética deletéria
risco para o câncer de mama. envolvida com o câncer de mama e ovário, nomeada BRCA 1. Atualmente,
são conhecidas algumas mutações que interferem no aparecimento do
Vários estudos epidemiológicos também incluem tanto a dieta rica em câncer de mama. As de maior contribuição na frequência de aparecimento
gordura como a obesidade entre os seus fatores de risco. do câncer de mama são as mutações no gene BRCA 1 e BRCA 2.

Tratados de Ginecologia, como o Berek & Novak’s Gynecology, e ●


Mutação no gene BRCA 1: é uma mutação que ocorre no braço
livros como o Manual de Ginecologia e Obstetrícia da SOGIMIG
longo do cromossoma 17, que codifica uma proteína que age como
incluem a dieta e a obesidade entre seus fatores de risco, mas não
supressora tumoral. É responsável por 40% dos casos de câncer com
detalham a associação.
envolvimento genético. Aumenta o risco de câncer, sobretudo na pré-
O Manual “Controle dos Cânceres de Colo Uterino e Mama” do menopausa.

Ministério da Saúde (2013) considera a obesidade, principalmente ●


Mutação no gene BRCA 2: é uma mutação que ocorre no braço
quando o aumento de peso se dá após a menopausa, como fator de longo do cromossoma 13. Este cromossoma também é inativo durante o
risco. processo de oncogênese. A mutação aumenta o risco de doença,
principalmente na pós-menopausa.
Outros livros como “Rotinas em Ginecologia” e “Ginecologia
Ambulatorial baseada em Evidências Científicas” consideram apenas

Doença de Cowden: é uma doença autossômica dominante
a dieta rica em gordura como fator de risco responsável por menos de 1% dos casos de câncer de mama. Está
associada à presença de pólipos harmatomatosos intestinais e
Então, de acordo com Tratados específicos de Mastologia, com o extraintestinais, de localização em pele e mucosas, assim como a
Manual do Ministério da Saúde de Controle do Câncer de Colo Uterino tumores faciais e à hiperceratose palmoplantar.
e Mama (2013) e com artigos científicos recentes, tanto a dieta rica
em gordura quanto a obesidade são fatores de risco para o câncer de
ATENÇÃO
mama. Mas, lamentavelmente, para fins de prova, valerá a informação
disponibilizada na referência bibliográfica do concurso. TABAGISMO E CÂNCER DE MAMA

A relação entre o tabagismo e câncer de mama permanece em


Uso Crônico de Bebidas Alcoólicas discussão.
Alguns artigos encontraram uma correlação positiva. Outros informam ● Parentes de pacientes com câncer de mama que foram
que a correlação encontrada é um viés porque o verdadeiro fator de diagnosticados como portadores da mutação em um dos genes
risco é o uso crônico de bebidas alcoólicas, e geralmente quem fuma, (BRCA 1 ou BRCA 2).
bebe… Outros não encontraram correlação. A maioria dos artigos não
● Pessoas com ascendência Ashkenazi que identificam familiares que
relata associação de risco entre o hábito de fumar e o câncer de mama.
tiveram câncer de mama em idade precoce, menor que 50 anos, ou
que tiveram câncer de ovário em qualquer idade.
E até o momento, a maioria dos livros didáticos não considera o
tabagismo como fator de risco para o câncer de mama. O manual
● Um parente de 1º grau que teve câncer de mama com menos de 30
“Controle dos Cânceres de Colo Uterino e Mama” do Ministério da anos.
Saúde (2013) também não o considera um fator de risco ● Dois parentes de 1º grau com câncer de mama, sendo um
diagnosticado antes dos 50 anos.

VIDEO_11_GIN4 Dois parentes de 1º grau com câncer de mama, ambos


diagnosticados antes dos 60 anos.


MEMORIZE
● Um parente de 1º grau e um parente de 2º grau com câncer de mama,
TESTE PARA MUTAÇÕES NOS GENES BRCA 1 E BRCA 2
sendo que a soma das idades de diagnóstico dos dois é menor que
110 anos.
O teste para mutações nos genes BRCA 1 e BRCA 2 é definido como ● Dois parentes de 1º grau com câncer de mama, um deles com câncer
importante ferramenta para avaliação do risco de desenvolvimento de bilateral.
câncer mamário em circunstâncias seletas.
● Um parente de 1º grau e um parente de 2º grau com câncer de mama,
um deles bilateral.
As condições consideradas como indicadoras de risco para mutações ● Dois parentes de 2º grau, do mesmo lado genético (materno ou
nos genes BRCA 1 e BRCA 2 estão resumidas abaixo. No entanto, mesmo paterno), sendo que a soma das idades de diagnóstico dos dois é
para estas situações, ainda não está claro se a indicação do teste é menor que 80 anos.
mandatória.
● Um parente de 1º grau com câncer de mama e um parente de 1º grau
com câncer de ovário, sendo que nesse paciente o câncer de ovário
Indicadores de risco para mutações nos genes BRCA 1 e BRCA 2 foi identificado em idade menor que 70 anos.
● Dois parentes de 1º grau com câncer de ovário.
● Um parente de 1º grau, homem, com câncer de mama.

Parente de 1º grau: pai, mãe, filho, irmão.

Parente de 2º grau: tio, sobrinho, primo, avó, neto e meio-irmão.

EXAME FÍSICO

O exame físico deve avaliar cuidadosamente as mamas e as cadeias


linfáticas axilares, supra e infraclaviculares.

GIN104039
Lembre-se: a presença de tumor endurecido, de forma variável,
contornos irregulares, limites imprecisos e fixo (aderido a planos
profundos) ou pouco móvel é a apresentação clássica, mas nem sempre
ela é encontrada. Não se esqueça que os tumores podem, ainda, se
apresentar como assimetrias de volume importantes ou edema linfático de
pele. Os casos avançados podem revelar abaulamentos e retrações da pele
(peau d’orange), ulcerações da pele ou da papila e tumores exofíticos.

Pacientes jovens e com mamas mais densas podem mascarar os tumores por
mais tempo, com agravamento do seu prognóstico. Toda vez que for
encontrado um tumor, ele deve ser localizado, medido e relacionado com as
cadeias linfáticas axilares, supra e infraclaviculares. Os linfonodos
permeados pelo tumor encontram-se endurecidos e aderidos a planos
profundos ou pouco móveis.
A descarga papilar pode estar associada e é geralmente uniductal,
espontânea, intermitente. Normalmente, é do tipo água de rocha ou
sanguinolenta. Ocasionalmente, é serossanguinolenta.

Autoexame e Autopalpação das Mamas

O autoexame (Figuras 1 e 2), como o próprio nome sugere, é aquele


realizado pela própria paciente. É realizado de forma padronizada,
sistemática e periódica, normalmente uma vez por mês e uma semana após
o término da menstruação para as mulheres que estão na menacme. Só é
capaz de identificar o nódulo em fase clínica (maior que 1 cm). Apesar de
estudos observacionais iniciais demonstrarem um aumento na detecção de
tumores e também na sobrevida, ensaios clínicos posteriores não
conseguiram comprovar sua eficácia e ainda demonstraram existência de
FIG. 2
riscos à saúde associados à sua prática ao aumentarem o número de
intervenções para doenças benignas.

O autoexame não deve ser confundido com a prática ocasional da


observação e autopalpação da mama, no contexto do conhecimento do
próprio corpo. A autopalpação eventual da mama é uma estratégia de
diagnóstico precoce do câncer, cujo objetivo é tornar as mulheres mais
conscientes do aspecto normal de suas mamas, das variações normais e dos
sinais de alerta. Dessa forma, a autopalpação contribui para ampliar a
capacidade de identificar, de forma mais precoce possível, o aparecimento
de sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama, sem a necessidade de
serem ensinadas a realizar um método padronizado de autoexame.

INVESTIGAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DAS LESÕES


NODULARES

Esta etapa foi descrita na parte de doenças benignas, e você deve revisá-la
exaustivamente. Chamaremos sua atenção apenas para os aspectos
relacionados ao câncer de mama.

PAAF

É o primeiro passo na investigação dos nódulos mamários, pois diferencia


as lesões císticas das lesões sólidas. E o que você não pode esquecer:


Os tumores sólidos são diagnosticados após a falha em aspirar líquido
com a PAAF. De qualquer forma, o material que for aspirado deverá ser
encaminhado para avaliação citológica. A citologia isoladamente não faz
o diagnóstico de câncer e não encerra a investigação de um nódulo
suspeito. Assim, diante de um nódulo suspeito, a citologia só possui
valor se for positiva. Se for negativa, é obrigatória a realização de
biópsia.

FIG. 1
Ultrassonogra a

É um método que assegura boa diferenciação entre nódulos sólidos e


císticos.

Alguns achados ultrassonográficos são sugestivos de malignidade


(Figura 3), tais como margens irregulares, hipoecogenicidade e textura
heterogênea (achado inespecífico), diâmetro craniocaudal (anteroposterior)
maior do que o diâmetro laterolateral (nódulo “mais alto que largo”),
presença de sombra acústica posterior, contornos microlobulares, entre
outros.
É útil no estudo da mama contralateral, na avaliação de focos secundários
do tumor na mama ipsilateral, no rastreio de recidiva local do tumor e na
avaliação de pacientes em uso de implantes mamários. Também pode ser
empregada na identificação de focos de metástases, avaliação de resposta à
quimioterapia neoadjuvante e possui especificidade significativa no caso de
implantes ósseos.

FIG. 3

Mamogra a

É o principal método de rastreamento do câncer de mama. Suas indicações,


suas vantagens e desvantagens também já foram descritas na parte de
doenças benignas.

FIG. 5 Nódulo maligno evidenciado pela RM.


Alguns achados são sugestivos de malignidade (Figura 4), a saber: nódulos
espiculados, de limites mal definidos com distorção do parênquima
adjacente, presença de microcalcificações (< 0,5 mm) pleomórficas (i.e. de
formatos diferentes) agrupadas. Vale lembrar que é o único exame capaz de
identificar microcalcificações agrupadas. As axilas são também avaliadas na
busca de linfadenomegalias.
Tomossíntese Mamária ou Mamogra a Tridimensional ou
Mamogra a Tomográ ca

De acordo com as Diretrizes do Consenso Nacional protocoladas pelo


Ministério da Saúde e pelo INCA, a tomossíntese mamária introduziu a
tecnologia digital à mamografia, permitindo a avaliação tridimensional da
mama. As imagens bidimensionais da mamografia são menos sensíveis em
mulheres com mamas densas, sobretudo aquelas que estão em maior risco
de desenvolver câncer de mama. Ela é uma técnica que oferece múltiplas e
finas imagens da mama obtidas a partir de diferentes ângulos do tubo de
raios X, enquanto a mama permanece estática e ligeiramente comprimida,
permitindo cortes finos, passíveis de serem reconstruídos pelo computador
em imagens tridimensionais.

Assim, ao minimizar a sobreposição de tecido mamário sobrejacente, tem o


FIG. 4 ACHADOS MAMOGRÁFICOS DO CÂNCER DE MAMA. potencial de aumentar a detecção precoce de lesões ocultas por
A: observamos uma massa de contornos espiculados.
sobreposição de estruturas e pequenos tumores, em especial, aqueles não
B: identifica-se as microcalcificações pleomórficas agrupadas.
calcificados, que se apresentam como assimetrias, distorções arquiteturais e
nódulos espiculados.

Até o momento, apesar de promissor e como já mencionado no capítulo


anterior, não foram identificados estudos sobre a sua eficácia no
Ressonância Magnética (RM) rastreamento e na redução da mortalidade geral por câncer de mama. Por

É um exame não invasivo, de custo elevado, de alta sensibilidade e valor esta razão, deve ser indicada em casos específicos e não em substituição à
mamografia.
preditivo positivo de 100% para os tumores invasores maiores de 2 mm. A
RM não identifica microcalcificações, ou tumores intraductais ou invasores
menores que 2 mm. Cintilogra a

Os principais fatores limitantes do método correspondem à impossibilidade


de localização das lesões subclínicas e sua baixa especificidade (35-50%).
É amplamente empregada para rastreamento e diagnóstico de metástases à
TENHA EM MENTE ESTE CONCEITO
distância, sobretudo implantes ósseos. Para diagnóstico de lesões mamárias
carece de bons resultados.
O diagnóstico do câncer de mama requer perfeita interação destes
especialistas:
Tomogra a Computadorizada

Não possui valor no estudo do tecido mamário. Pode ser utilizada no


rastreio e diagnóstico de metástases.

Radiogra a Simples

Utilizada no rastreio e diagnóstico de lesões ósseas ou pulmonares


produzidas pelos tumores mamários.

LOCALIZAÇÃO DAS LESÕES SUBCLÍNICAS

As lesões que não são palpáveis requerem métodos de localização mais


sofisticados. A seguir, descrevemos os principais métodos.

Estereotaxia Guiada por MMG ou USG


HISTÓRIA NATURAL DO CÂNCER DE MAMA
As lesões subclínicas, ou seja, impalpáveis, requerem a assistência de
A história natural do câncer de mama pode ser dividida em fase pré-clínica,
métodos de localização da área suspeita no pré-operatório. Assim, a
que compreende o intervalo de tempo entre o surgimento da primeira célula
localização espacial ou estereotaxia pode ser realizada através da
maligna e o desenvolvimento do tumor até atingir condições de ser
mamografia ou pela ultrassonografia, que identifica o tumor caso ele exista.
diagnosticado clinicamente, e fase clínica, que inicia a partir deste
Em centros de excelência, a ressonância magnética também pode ser
momento.
empregada para esse fim.

Apesar do avanço das técnicas propedêuticas e da divulgação das


Após a localização da lesão de interesse pelos métodos de imagem, realiza-
campanhas de rastreio, a maior parte dos tumores de mama é diagnosticada
se sua marcação com a aplicação local de um fio de aço, que possui ponta
na fase de massa palpável. Os tumores de intervalo, aqueles que surgem
tipo arpão (fio guia de Kopans), pelo qual o cirurgião se guiará para acessar
após mamografia normal antes de completar o intervalo recomendado para
a área da lesão.
repetição do exame, são ainda frequentes.

Radioguided Ocult Lesion Localization (ROLL) Existe incerteza sobre a sequência de eventos iniciais da evolução do câncer
da mama. Admite-se que o carcinoma da mama passe por uma fase in situ,
É um recurso empregado para efetuar a marcação da lesão subclínica
através da injeção de substância coloide de elevado peso molecular ligada onde a membrana basal está preservada, evoluindo para a ruptura desta
ao tecnécio 99, também orientada por método de imagem. Nesta técnica, a membrana, progredindo para a forma infiltrativa ou invasiva (carcinoma
retirada do segmento mamário é auxiliada pelo uso de um detector de raios infiltrante ou invasor). Porém, estudos de biologia molecular apontam para
gama. a possibilidade de o carcinoma invasor ter origem diferente do carcinoma in
situ, podendo se tratar de entidades distintas e não fases evolutivas de uma
mesma doença. O carcinoma invasor pode permanecer por tempo variável
DIAGNÓSTICO HISTOPATOLÓGICO como doença local, ou seja, limitada à mama, ou evoluir com propagação
regional e disseminação à distância. No carcinoma da mama, a
Os principais métodos que permitem o estudo histopatológico foram disseminação ocorre principalmente a partir da via linfática e mais
descritos na segunda parte deste capítulo – “Doenças Benignas da Mama”. raramente por via hematogênica pura.
Memorize as indicações, vantagens e desvantagens de cada um deles,
porque eles caem nas provas.

Mas há um método, ainda não descrito, que fornece o resultado


histopatológico na hora, porque é realizado com o patologista na sala do
centro cirúrgico.

Exame de Congelação

Em algumas situações, podemos eleger o exame histopatológico


peroperatório, que objetiva a terapêutica no mesmo ato cirúrgico, logo após
a definição histopatológica.
Além da riqueza de capilares linfáticos existentes na mama, ocorre a
A primeira célula maligna aparece no epitélio ductal suscetível,
formação de novos vasos linfáticos peritumorais. A parede desses vasos é ativada por fatores genéticos ou ambientais, tais como radiação e
altamente permeável, podendo permitir a penetração de células malignas no agentes químicos. O epitélio de revestimento ductal, formado
interior do vaso, dando início ao processo de disseminação tumoral. Uma
basicamente por uma ou duas camadas celulares, inicia sua
vez dentro dos canais linfáticos, estas células são transportadas pela linfa até
proliferação motivado por estímulos hormonais, fato que acarreta
atingir o primeiro gânglio de drenagem da região tumoral, chamado
uma elevação do número de células acima da membrana basal.
linfonodo sentinela. A partir deste, os êmbolos tumorais poderão seguir até
Denominamos essa proliferação epitelial de hiperplasia típica. Na
atingir as cadeias ganglionares regionais comprometendo outros linfonodos, maior parte das vezes essa proliferação epitelial cessa nesse estágio,
principalmente os da cadeia axilar e, com menor frequência, os da cadeia sem traduzir perigos posteriores. No entanto, em determinadas
mamária interna. Seguindo o fluxo linfático, as células tumorais
situações, os gatilhos da iniciação tumoral alteram o protótipo celular,
embolizadas podem ultrapassar os linfonodos regionais, chegar à circulação
culminando na chamada hiperplasia atípica, ou seja, ocorrência de
sanguínea e atingir alvos mais distantes, podendo levar a formação de
atipias leves em espaços restritos. As hiperplasias atípicas evoluem
implantes tumorais metastáticos.
para os reais precursores morfológicos dos carcinomas invasores, os
carcinomas intraductais ou intralobulares (*).
Geralmente, o câncer da mama cresce lentamente. Porém, eventualmente,
apresenta crescimento rápido e maior possibilidade de disseminação. Esse O carcinoma intraductal ou intralobular, pelos mais diferentes
comportamento heterogêneo está relacionado a características próprias do estímulos – angiogênicos, hormonais, enzimáticos, entre outros –
tumor, tais como grau de diferenciação histológica e presença de receptores continuam sua proliferação celular, rompem a membrana basal
moleculares, que determinam sua velocidade de crescimento e potencial de ductal, penetram no estroma mamário, podem permear e embolizar os
originar metástases, podendo ainda ser influenciado por outros fatores, vasos sanguíneos e linfáticos do sistema de circulação da mama, e
como a exposição a estímulos hormonais, resposta imune e estado evoluir para carcinoma invasor.
nutricional.
História natural do câncer de mama:

Tempo de Duplicação Celular Epitélio Normal



Segundo o “Berek & Novak´s Gynecology”, o período médio de
duplicação celular é de aproximadamente 100 dias. Se o tempo de Hiperplasia Epitelial Típica
duplicação de um tumor fosse constante e ele se originasse de uma única ⇩
célula, aproximadamente somente após oito anos é que seria obtido um Hiperplasia Epitelial Atípica
tumor de 1 cm.

Carcinoma Intraductal ou Intralobular (*)
Metástases à Distância ⇩

Embora o câncer de mama possa disseminar para qualquer órgão, o Carcinoma Invasor
envolvimento de ossos, pulmões e fígado ocorre em mais de 85% das
mulheres que desenvolvem metástase à distância. Alguns autores também Obs.: ainda não se sabe se todos os tumores passam
consideram o cérebro como um sítio de metástases à distância. É importante necessariamente por todos esses estágios. Entretanto, já é consenso
lembrar que o carcinoma infiltrante tende a se disseminar, na literatura que o processo de proliferação celular ocorre de forma
preferencialmente, pela via linfática ou pela via hematogênica. insidiosa.

MEMORIZE

SÍTIOS MAIS COMUNS DE METÁSTASES À DISTÂNCIA


O sítio mais habitual de metástases à distância é o esqueleto.
Metástases pulmonares, hepáticas e cerebrais também ocorrem com
frequência.

HISTÓRIA NATURAL DO CÂNCER DE MAMA

A história natural da doença permanece com algumas lacunas,


apesar dos avanços da ciência na compreensão da gênese,
crescimento e disseminação tumoral.

FIG. 6
Os subtipos podem ser encontrados em associação uns com os outros,
CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DO CÂNCER
principalmente nas formas não comedo. São as chamadas formas mistas.
DE MAMA
VIDEO_12_GIN4 O risco de acometimento da mama contralateral não é característico do
O câncer de mama apresenta um grupo de neoplasias epiteliais malignas CDIS
com grande diversidade estrutural. Em torno de 70 a 80% dos casos são
classificados como carcinoma ductal invasor sem que seja realizada a ●
Carcinoma Lobular In Situ (CLIS): não se apresenta como lesão
diferenciação entre os subtipos de carcinoma ductal que, por vezes,
palpável, normalmente não há expressão mamográfica, e não é visível
apresentam melhor prognóstico. Faremos menção apenas aos tipos
macroscopicamente ao exame histopatológico. Constitui um achado
histológicos mais importantes:
microscópico incidental a partir de um tecido mamário removido
cirurgicamente por outro motivo. É detectado mais frequentemente na
Carcinoma In Situ pré-menopausa, sugerindo influência hormonal no desenvolvimento ou
manutenção dessa lesão.
Corresponde à doença local, ou seja, à lesão restrita ao epitélio. Em outras
O padrão histológico é o de hiperplasia lobular atípica, com presença de
palavras: não ocorre infiltração do estroma.
células epiteliais pequenas, não coesas, dispostas no interior dos ácinos e,
por vezes, com extensão para os ductos terminais e intermediários.
Comumente, é abordado como uma etapa na sequência de eventos que vai
Alguns autores não o consideram uma lesão precursora como o CDIS.
da hiperplasia ao carcinoma invasor. No entanto, é importante reconhecer
Por outro lado, outros autores (Page e Fisher) o consideram como uma
que nem sempre este processo é contínuo. Assim, é provável que nem todos
lesão precursora do câncer de mama. Esta questão permanece uma
os carcinomas in situ evoluam para a forma invasiva e, inversamente, que
polêmica na literatura. No entanto, todos os autores concordam que o
nem todo carcinoma invasor passe obrigatoriamente pela etapa in situ.
CLIS representa um indicador biológico de aumento de risco
para o desenvolvimento de um tumor invasor, devido ao seu
É classificado nas formas lobular e ductal. Os adjetivos ductal e lobular não
grande potencial para multicentricidade e bilateralidade.
se referem necessariamente à topografia da lesão na árvore ductal, mas ao
Devido aos motivos expostos anteriormente, o CLIS deve ser tratado
fenótipo celular, já que praticamente todas as formas se originam da unidade
com biópsia excisional e acompanhamento meticuloso. Alguns autores
ducto terminal-lobular. As neoplasias lobulares originam-se quase sempre a
sugerem a realização da mastectomia profilática bilateral.
partir dos ácinos, mas as lesões ductais podem originar-se tanto em ácinos
quanto em ductos e, frequentemente, ocupam os dois compartimentos da
árvore mamária. A Tabela 1 a seguir apresenta as principais diferenças entre CDIS e CLIS.


Carcinoma Ductal In Situ (CDIS): é considerada lesão precursora
do câncer de mama. Na maioria das vezes, tem prognóstico
favorável. Caracteriza-se à microscopia pela presença de dilatação da
luz dos ductos e pelo achado de células de padrão ductal com alterações
malignas que não invadem a membrana basal.
O tipo celular característico é a célula grande, poligonal, coesa, com
tendência aos arranjos ductal e/ou papiliforme e graus variáveis de atipia
nuclear. A disposição dessas células no interior dos ductos define os
subtipos histológicos. Os principais são:

» Cribiforme: caracteriza-se por proliferação celular que deixa espaços


regulares, em geral redondos, de bordas nítidas. Representa o subtipo
de melhor prognóstico no que se refere ao risco de recidiva e invasão;

» Micropapilar: apresenta tufos de células neoplásicas fazendo


saliência em direção ao lúmen, desprovidos de eixo vascular.
Normalmente é encontrado em associação ao cribiforme;

» Papilar: apresentação semelhante ao micropapilar, mas com eixos


fibrovasculares evidentes. Possui bom prognóstico; Carcinomas In ltrantes (Invasivos)

» Sólido: as células ocluem totalmente o espaço luminal dos ductos Corresponde à doença invasiva, ou seja, quando ocorre infiltração do
envolvidos; estroma mamário.

» Comedocarcinoma: é o de pior prognóstico, caracterizado pela


distensão dos ductos envolvidos, anaplasia celular e necrose central,
comumente associado ao carcinoma inflamatório. O material
necrótico frequentemente sofre calcificação, que pode ser detectada na
mamografia. Comumente, evolui para invasão e o grau da necrose
parece ser o fator de maior predição para o risco de recorrência na
mama ipsilateral após o tratamento.

Carcinoma ductal infiltrante: é o tipo de câncer de mama invasivo Doença de Paget: é uma desordem do mamilo e aréola, caracterizada
mais comum, correspondendo a 70 a 80% das lesões invasivas clinicamente pela aparência eczematoide, com a presença de erosão e
diagnosticadas após biópsia. A capacidade de provocar reação estromal é descamação. Histologicamente, caracteriza-se pela presença de células
que produz diferentes formas de apresentação, determinando retração de tumorais que acometem a epiderme das papilas mamárias. É obrigatória
pele quando há reação fibrótica intensa, ou abaulamentos quando o a distinção deste tumor com o eczema areolar. A destruição da papila é a
crescimento é tuberoso e com pouca fibrose. Esta reação estromal pode principal característica da doença de Paget.
ser intensa, resultando em estroma denso e firme, responsável por sua Ao contrário do eczema, afeta primeiramente o mamilo e em seguida a
antiga denominação como carcinoma cirroso. Esta característica parece aréola. A realização da biópsia está indicada em caso de persistência do
ser responsável pela frequente massa palpável de consistência pétrea ao prurido apesar do uso de corticoterapia tópica. A biópsia objetiva a
exame clínico, e pela grande expressão radiológica e ultrassonográfica, diferenciação entre eczema e doença de Paget.
com presença de lesão sólida típica dos carcinomas invasivos. O
Estudos recentes têm evidenciado que o tratamento conservador da
prognóstico é bom em casos de carcinoma ductal isolado, e péssimo em
doença de Paget pura com radioterapia é uma alternativa factível.
casos de metástases.

Carcinoma inflamatório: é uma forma distinta de câncer de mama

Carcinoma lobular infiltrante: é pouco frequente. Corresponde a 5 a
localmente avançado, caracterizado clinicamente por eritema, edema,
10% na maioria das séries. O achado típico é de uma área mal definida,
calor e endurecimento da pele, com o aspecto característico em “casca de
infiltrada, espessada na mama, com pouca expressão mamográfica.
laranja” (peau d’orange). Pode haver ou não a presença de nódulo
Apresenta maior tendência à bilateralidade e multicentricidade. Está mais
palpável. Histologicamente, caracteriza-se pela invasão das células
associado ao uso da TH do que o câncer ductal invasivo. Normalmente
tumorais no sistema linfático regional e à distância. A biópsia deve ser
não observamos lesão macroscópica. Microscopicamente, evidenciam-se
realizada a partir de amostras da pele, tecido subcutâneo e parênquima.
células pequenas e ovais, que infiltram o estroma na forma característica,
em “fila indiana”. A perda da coesão que caracteriza as células ●
Carcinoma papilífero: responde por 1 a 2% dos carcinomas de mama.
neoplásicas deste tipo histológico está relacionada com a perda da Incidem preferencialmente na pós-menopausa. Normalmente, acometem
expressão do gene da molécula de adesão da E-caderina. Células em anel a região central da mama. Constitui-se de nódulo não encapsulado de
de sinete podem ser observadas. Em 2/3 dos casos há associação com o células neoplásicas epitelioides ou fusocelulares, sem papilas bem
CLIS. Em alguns casos, o CDIS também pode estar presente. formadas. A ausência de células mioepiteliais no interior da lesão é

Carcinoma mucinoso (coloide): possui crescimento lento e se característica. Frequentemente, manifesta-se com derrame papilar
sanguinolento.
distingue pelo acúmulo de mucina ao redor das células tumorais. Em
determinadas situações, atinge grandes volumes. Parece ser mais comum
em pacientes mais idosas. Normalmente apresenta aparência gelatinosa
ao exame macroscópico, com tendência a serem bem circunscritos. É
ESTADIAMENTO DO CÂNCER DE MAMA
caracterizado por proliferação de grupamentos de células redondas, O estadiamento é utilizado como estratégia para definir prognóstico e
uniformes com mínima quantidade de citoplasma eosinófilo. Os orientar a conduta terapêutica. As últimas alterações na classificação foram
grupamentos de células neoplásicas variam em tamanho e forma, editadas pela AJCC (American Joint Commitee on Cancer) em 2017
podendo ser encontrados arranjos tubulares, papilíferos, cribiformes ou
e entraram em vigor em 2018. A classificação empregada é a TNM
trabeculares. Pertence ao grupo das lesões invasivas com bom
(Tabela 2).
prognóstico.

Carcinoma tubular: responde por aproximadamente 2% dos
carcinomas de mama. É caracterizado pela presença de estruturas TAB. 2 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ENTRE CARCINOMA DE
PAGET E ECZEMA AREOLAR.
tubulares ou glandulares bem formadas infiltrando o estroma. Os túbulos
tendem a ser alongados, com presença de células colunares e
DOENÇA DE PAGET ECZEMA AREOLAR
frequentemente há protusões citoplasmáticas apicais. Raramente,
apresenta metástases axilares. Também possui bom prognóstico. ●
Unilateral. ●
Normalmente bilateral.

Carcinoma medular: representa 5% dos carcinomas de mama. É ●
Evolução lenta. ●
Evolução rápida.
circunscrito ao exame macroscópico e, em alguns casos, há presença de

Evolução centrífuga. ●
Evolução centrípeta.
necrose ou hemorragia ao redor. As células tumorais são pouco
diferenciadas (alto grau histológico) e possuem uma reação ●
Destruição da papila. ●
Lesão descamativa.
linfocitoplasmática em associação. São considerados os seguintes ●
Pouco ou ausência de ●
Lesão pruriginosa.
critérios anatomopatológicos para o diagnóstico de carcinoma medular: prurido.
padrão de crescimento sincicial em mais de 75% do tumor; ser

Responde ao corticoide
histologicamente circunscrito; estruturas glandulares e tubulares

Sem resposta aos tópico.
ausentes; células neoplásicas com núcleos muito pleomórficos, de alto corticoides. ●
Não tem massa associada.
grau (grau 3) e nucléolos evidentes; infiltrado inflamatório ●
Pode ter massa associada
linfoplasmático. Todos esses critérios devem estar presentes para o seu (o que piora muito o
diagnóstico. Normalmente, o prognóstico é mais favorável do que o do prognóstico).
câncer ductal infiltrante, apesar da sua aparência histológica ruim.
Ocorre mais frequentemente em pacientes mais jovens e tem sido
QUAIS EXAMES DE ESTADIAMENTO DEVEM SER SOLICITADOS
associado a mutações do BRCA 1.
NO PRÉ-OPERATÓRIO?

O mais importante neste momento é excluir a presença de doença
pNX Os linfonodos regionais não podem
metastática, que a princípio impossibilita o tratamento curativo e
ser avaliados (por exemplo,
contraindica a ressecção do tumor da mama. Cada referência diz uma coisa
removidos previamente ou
diferente sobre os exames necessários. A princípio, as pacientes com
removidos, mas não para estudo
tumores iniciais podem ser estadiadas com cintilografia óssea, RX de tórax,
patológico).
US de abdome e pelve (lembre-se dos sítios mais comuns de metástase:
osso, pulmão, fígado!), LDH e fosfatase alcalina (para ajudar na detecção de pN0 Ausência de metástase para
metástases ósseas). Pacientes com doença mais avançada (a partir do linfonodos regionais.
estágio IIB, ou III, dependendo da referência) devem ser submetidas a TC
de tórax, abdome e pelve em substituição ao RX de tórax e à US de abdome pN1 Metástase para linfonodo(s)
e pelve. axilar(es) ipsilateral(is) móvel(is).

pN1a Apenas micrometástases


(nenhuma maior que 0,2 cm).

pN1b Metástase para linfonodo(s)


(qualquer uma maior que 0,2 cm).

pN1bi Metástase para um a três


linfonodo(s), qualquer uma maior
que 0,2 cm e todas menores que 2
cm em sua maior dimensão.

pN1bii Metástase para quatro ou mais


linfonodos, qualquer uma maior
que 0,2 cm e todas menores que 2
cm em sua maior dimensão.

pN1biii Extensão do tumor além da


cápsula de uma metástase para
linfonodo menor que 2 cm em sua
maior dimensão.

pNbiv Metástase para um linfonodo com


2 cm ou mais em sua maior
dimensão.

pN2 Metástase para linfonodos axilares


ipsilaterais xados entre si ou a
outras estruturas.

pN3 Metástase para linfonodo(s)


mamário(s) interno(s) ipsilateral(is).

PROGNÓSTICO
Antes de aprofundarmos o conhecimento nos fatores
prognósticos do câncer de mama, é importante frisar que fator
preditivo não é sinônimo de fator prognóstico. O domínio deste
conceito é importante, pois ele é cobrado em provas.

CLASSIFICAÇÃO PATOLÓGICA (PN)

Esta classificação baseia-se na dissecção linfática axilar com ou sem


dissecção do linfonodo sentinela. Observe a Tabela 4.

TAB. 14

Fator prognóstico: é qualquer marcador que pode ser associado ao Mamas Muito Pequenas
tempo livre de doença ou sobrevida global na ausência de terapia
Existem autores que advogam uma maior ocorrência de recidiva, sobretudo
sistêmica adjuvante. São considerados fatores prognósticos:
nas acometidas por tumores de maiores dimensões, pela impossibilidade de
características demográficas, anatomopatológicas (ex.: tamanho tumoral,
retirar o tumor com uma boa margem de segurança.
tipo histológico, grau histológico etc.) e alguns marcadores biológicos
associados ao crescimento e à progressão tumoral (índice mitótico,
fração de fase S, Ki67). Linfonodos Axilares

Fator preditivo: é qualquer marcador associado à resposta ou à sua A presença de linfonodos positivos representa o principal fator de risco para
falta para uma terapia específica. O status dos receptores hormonais e o recidiva sistêmica da doença. É recomendação da maior parte dos
HER2 são considerados fatores preditivos e prognósticos do câncer de oncologistas que seja efetuada terapêutica sistêmica sempre que houver
mama. acometimento linfonodal. O prognóstico piora em função do número de
linfonodos acometidos. Além disso, o comprometimento extracapsular dos
linfonodos aumenta a chance de recidiva.
AVALIAÇÃO DOS FATORES PROGNÓSTICOS
A avaliação dos fatores prognósticos é imprescindível para a
definição da conduta terapêutica a ser instituída e para avaliar
as chances de recidiva local ou sistêmica. Aqui, serão abordados
apenas os fatores prognósticos tradicionais.

FATORES PROGNÓSTICOS TRADICIONAIS

FATORES DE RECIDIVA

Invasão de Vasos e Linfáticos

Aumenta as chances de recidiva no câncer de mama.

Margens da Lesão

A presença de margens livres é o principal fator para baixo risco de recidiva


local.

FIG. 7
Idade

Pacientes jovens, usualmente abaixo dos 40 anos, de acordo com a maioria


das referências ou com idade inferior a 35 anos, segundo o Ministério da
Saúde, têm maior risco de recidiva local. A paciente mais jovem, na pré-
menopausa, com frequência apresenta diagnóstico em fases mais avançadas Tamanho do Tumor
da doença (as mamas mais densas dificultam o achado clínico e
radiológico), com tumores de maior tamanho, indiferenciados, aneuploides, É notória a relação entre as dimensões do tumor primário e as taxas de
receptor hormonal negativo e com axila positiva. recidiva e mortalidade. Tumores menores que 1 cm associam-se a
prognósticos favoráveis. Por outro lado, tumores menores que 2 cm se
beneficiam de terapia sistêmica adjuvante.
Componente Intraductal Extenso

Pode estar presente em associação ao câncer invasor. Se extenso, é um fator Multicentricidade


de risco para recidiva local apenas quando as margens da lesão não são
avaliadas. Parece refletir a existência de multicentricidade e câncer residual. Refere-se a focos neoplásicos múltiplos, independentes, identificados no
Se as margens da lesão são avaliadas e não estão comprometidas, deixa de mesmo tecido. Se presente, torna maior a chance de recidiva. É comum no
ser fator de risco. O reconhecimento do componente intraductal extenso câncer do tipo lobular.
normalmente é feito através da mamografia, onde se evidencia
microcalcificações, mesmo após o tratamento.
Grau Histológico

O sistema mais empregado de graduação histológica consiste na observação


Hereditariedade
de formação tubular, grau de diferenciação nuclear e índice mitótico. É
É considerado fator de risco para recidiva local a presença de mutação no atribuído, então, um grau numérico (I, II, III) que resulta num escore que,
gen BRCA 1 e BRCA 2. É comum estarem presentes em mulheres com quanto mais elevado, pior o prognóstico.
forte história familiar de Ca de mama e ovário.

Tipo Histológico
Os carcinomas in situ ou não invasores, e alguns invasores bem Recentemente, para lidar com esta limitação da morfologia, tem-se
diferenciados – mucinoso, tubular, medular, papilar – possuem melhor classificado também os carcinomas mamários com base em perfis de
prognóstico. expressão de marcadores moleculares (imuno-histoquímica) e em perfis de
expressão gênica (tissue microarrays e exames de perfil de expressão de
múltiplos genes como Oncotype™ e Mammagene®) – Tabela 5.
Receptores Hormonais (ER)

A mensuração dos receptores estrogênicos e de progesterona é um


procedimento padrão na avaliação das pacientes com câncer de mama. A
sobrevida livre de doença é notoriamente maior nas pacientes que
apresentam receptores positivos.

OUTROS FATORES PROGNÓSTICOS


Ploidia: quanto maior o número de DNA aneuploide, pior o prognóstico Estes métodos têm sido de importância prática no momento da decisão entre
da doença. tratamento conservador ou intervenção com quimioterapia quando as lesões
são pequenas (usualmente menores que 1,0 cm) e com demais fatores
● Receptor do fator de crescimento epidérmico (EGF receptor):
prognósticos tradicionais favoráveis (ausência de metástase sistêmica, tipo
se presente, tem relação com piora do prognóstico e ER negativo. histológico favorável, grau histológico baixo, estágio da axila negativa,

Cathepsina D: é a protease envolvida no mecanismo molecular avaliação dos receptores hormonais positiva, avaliação da expressão do
associado com a migração e invasão das células tumorais. Seu nível HER2 negativa).
elevado é relacionado com menor intervalo livre de doença e menores
taxas de sobrevida. Mais detalhes estão disponíveis na versão digital dessa apostila.

HER2/neu: oncógene presente no cromossomo 17 que, quando
amplificado, é relacionado à maior incidência de axila positiva, GRADUAÇÃO HISTOLÓGICA E ÍNDICE PROGNÓSTICO DE
resistência à hormonioterapia e pior prognóstico. NOTTINGHAM

Expressão aberrante da E-caderina: em relação à E-caderina, sabe-
Além da determinação dos estágios de desenvolvimento, extensão e do tipo
se que é uma molécula de adesão que permite a associação entre as
histológico, os carcinomas são graduados histologicamente (Tabela 6 e
células, mantendo a integridade dos tecidos. Particularmente no câncer
Quadro 1) na tentativa de prever a agressividade intrínseca potencial
de mama, a expressão aberrante da E-caderina, comum no câncer ductal
(biológica) dentro de um mesmo tipo histológico em um determinado
invasivo, tem sido correlacionada à ocorrência de metástases à distância.
estágio de desenvolvimento.

Ki67: o Ki67 é um anticorpo monoclonal, específico para um antígeno
nuclear expresso apenas em fase de proliferação. Ele identifica células,
normais e tumorais, em diferentes estágios do ciclo celular (G1 tardio, S,
M e G2). Assim, em outras palavras, é um fator de proliferação celular
TAB. 6 GRADUAÇÃO HISTOLÓGICA – NOTTINGHAM.

usado no carcinoma de mama, como fator prognóstico. No entanto, FORMAÇÃO TUBULAR


convém lembrar que é um indicador prognóstico fraco. Sua avaliação é
obtida por meio da técnica imuno-histoquímica utilizando o espécime Maioria do tumor (> 75%) 1 ponto
cirúrgico.
Consequentemente, do ponto de vista prático, não é utilizado
Moderada (10-75%) 2 pontos

rotineiramente em decisões terapêuticas e não é aplicado de forma


Pouca ou nenhuma (< 10%) 3 pontos
isolada para alguma mudança terapêutica.
Sua expressão tem relação direta com o tamanho tumoral, grau PLEOMORFISMO NUCLEAR
histológico, invasão vascular, status axilar e expressão do HER2.
Mulheres com alto índice de Ki67 (> 11%), mais frequentemente Pequenos, regulares e uniformes 1 ponto
apresentam tumores grandes, graus histológicos elevados, invasão
vascular e expressão do HER2.
Aumento moderado do tamanho e da 2 pontos
variabilidade

Marcada variação 3 pontos


SUBTIPOS MOLECULARES DO CÂNCER DE MAMA

CONTAGEM MITÓTICA*
As classificações essencialmente baseadas na morfologia (forma das células
e tecidos malignos à microscopia) não significam necessariamente 0-11 1 ponto
prognósticos distintos quando agrupados pelo estadiamento TNM.
12-22 2 pontos

> 23 3 pontos
*Com a objetiva de 400× do microscópio Leica®, modelo 020-528-500 DM/L5 (como cada marca
de microscópio tem um tamanho de campo para a objetiva de 400×, deve a contagem ser
ajustada a cada modelo).

QUADRO 1
ÍNDICE PROGNÓSTICO DE NOTTINGHAM (PARA CARCINOMAS
INVASORES)

(Tamanho do tumor em cm × 0,2)


+ grau histológico
+ estágio dos linfonodos axilares*

* 1 = nenhuma metástase; 2 = 1 a 3 metástases; 3 = 4 ou mais metástases.

Os mesmos grupos de estudo que criaram as graduações, combinaram as


mesmas com outras informações de extensão/estadiamento para criar
índices prognósticos, como o de índice prognóstico de Nottingham
(Quadro 1), sempre com informações de patologia, para tentar prever o
comportamento individual de cada tumor em cada paciente e auxiliar na
escolha do tratamento mais apropriado.
TRATAMENTO

O índice prognóstico de Nottingham pode ser utilizado para discriminar O tratamento se baseia nos fatores prognósticos citados. Visa o controle
as pacientes em três grupos baseados na sobrevida em 15 anos locorregional e sistêmico do câncer de mama, de forma a proporcionar uma
de acompanhamento médio: boa qualidade de vida às pacientes e diminuir as taxas de mortalidade.


Valores inferiores a 3,4 = 80% de chance de sobreviver à doença;
TRATAMENTO CIRÚRGICO

Entre 3,4 e 5,4 = 42% de chance de sobreviver à doença;
Consiste na abordagem do tumor primário e da axila, com ou sem

Superiores a 5,4 = 13% de chance de sobreviver à doença. associação da radioterapia. Indicada para as pacientes sem doença
metastática à distância (ou seja, portadoras de câncer de mama até o estágio
III).
RESUMO DOS FATORES PROGNÓSTICOS

As Tabelas 7 e 8 apresentam os principais fatores prognósticos para CIRURGIAS CONSERVADORAS


recidiva local e sistêmica e os descritos pela AJCC, 2018,
respectivamente. Estas abordagens cirúrgicas preservam boa parte da mama. Limitam-se à
ressecção da área que contém o tumor, com boa margem de segurança. O
fator principal da extensão cirúrgica corresponde ao volume tumoral. O
ideal é que o volume do tumor corresponda a 20% do volume total
mamário. Estas cirurgias estão indicadas para tumores pequenos ou mesmo
maiores, desde que haja boa relação entre o volume tumoral e o da mama.
Oferecem como grande vantagem a estética e a possibilidade de
salvaguardar o complexo areolopapilar.

Segundo consenso realizado pela Sociedade Brasileira de Mastologia, há


três modalidades cirúrgicas que podem ser empregadas no tratamento
conservador do câncer de mama, a saber:

VIDEO_13_GIN4

Tumorectomia: corresponde à ressecção total do tumor, sem a
preocupação de se estabelecer margem de segurança;

Setorectomia ou segmentectomia: consiste na ressecção do setor
que engloba o tumor, com margem de segurança de, pelo menos, 1 cm;

Quadrantectomia: é a ressecção de qualquer setor mamário que
engloba o tumor, com ampla margem de segurança, da pele suprajacente
e da aponeurose do músculo grande peitoral subjacente.
CIRURGIAS RADICAIS
Na prática, o que diferencia a quadrantectomia da segmentectomia é
que, na primeira é retirado um fragmento de pele da mama. Isso não
MASTECTOMIA
acontece na segmentectomia.
Está indicada nos casos de tumores malignos infiltrantes que ocupam mais
Vale aqui lembrar que a realização da cirurgia conservadora impõe de 20% do volume da mama ou em casos de tumores localmente avançados.
sempre a realização da radioterapia adjuvante, ou seja, após a cirurgia
(mais detalhes no tópico sobre radioterapia). Pode ser classificada como:

No tumor maligno infiltrante que compromete apenas até 20% do volume ●


Mastectomia simples: corresponde à exérese apenas da mama, com
da mama, deve-se promover a cirurgia conservadora associada à extensão variável da pele que a recobre, incluindo sempre o complexo
radioterapia. Se as margens cirúrgicas estiverem comprometidas, deve- areolopapilar. Possui como principal indicação os tumores multicêntricos
se ampliá-las. É importante salientar que todo tumor infiltrante impõe a ou intraductais (CDIS) extensos. Nos casos de carcinomas in situ
abordagem axilar (mais detalhes no tópico sobre esvaziamento axilar). extensos, em que se imagine ser necessária mastectomia simples pela
multicentricidade da lesão, é recomendada a avaliação da axila por LS, já
que isso não será mais possível em um segundo momento, caso se
saiba mais encontre alguma área de invasão na peça, por já ter sido ressecado todo
SOBRE AS INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES DA CIRURGIA parênquima mamário, no qual se fazem as injeções para marcação do LS.
CONSERVADORA DA MAMA ●
Mastectomias radicais: estão indicadas para os tumores infiltrantes,
nos quais o volume ou a multicentricidade não permitem a cirurgia
A cirurgia conservadora da mama busca otimizar os resultados do conservadora.
controle oncológico local adequando ao resultado estético, preservando a
» Mastectomia radical clássica ou técnica Halsted: corresponde
simetria e o equilíbrio entre a mama tratada e a normal.
à ressecção de todo tecido mamário, dos músculos peitorais maior e
menor, além do esvaziamento axilar. É uma técnica que está em
Em linhas gerais, as indicações para a preservação de parte da glândula
desuso.
mamária, ou seja, para a cirurgia conservadora incluem:
» Mastectomia radical modificada segundo a técnica de
Patey: é a mais empregada atualmente para os tumores que ocupam
● Desejo da paciente, desde que a mesma preencha os critérios eletivos
mais de 20% do volume da mama, porém ainda não são localmente
(vide abaixo);
avançados. Realiza-se a retirada da mama e do pequeno peitoral,
● Tumor primário único: até 3,5 cm avaliando relação tamanho do associado ao esvaziamento axilar. Em outras palavras, preserva o
tumor/volume da mama; músculo peitoral maior.
● Capacidade de realizar a ressecção com margens livres » Mastectomia radical modificada segundo a técnica de
● Estágios iniciais do câncer de mama; Madden: preserva ambos os músculos peitorais. O esvaziamento
axilar também está incluído.
● Acesso à radioterapia complementar.

Contraindicações absolutas: MEMORIZE

Pacientes submetidas à mastectomia podem desenvolver a síndrome de


● Impossibilidade de realizar radioterapia complementar; Stewart-Treves ou angiossarcoma pós-mastectomia. Origina-se das
● Relação tumor/mama desfavorável; células endoteliais e se manifesta como linfedema do membro superior.
A incidência é de aproximadamente 0,45% nos primeiros cinco anos de
● Tumores multicêntricos, pois a recidiva local tende a ser maior;
sobrevida. A maioria apresenta tumor em região superior do membro e
● Persistência de margens comprometidas após ampliação; alguns na parede torácica e ombro. Pode se apresentar como tumor
ulcerado ou massa fixa. O tratamento é baseado na excisão do tumor e
● RT prévia sobre a mama ou tórax.
quimioterapia, apresentando mau prognóstico.

Contraindicações relativas:

ESVAZIAMENTO AXILAR
● Gestação;
● Microcalcificações suspeitas de malignidade difusas na mamografia; A cadeia linfática axilar é a mais acometida. A abordagem axilar
● Tumores estágio III (considerar a relação tamanho do tumor/mama) – a está indicada sempre que o tumor primário for infiltrante,
paciente pode ter uma mama de grande volume, permitindo a independentemente de seu volume ou da cirurgia realizada para extirpá-lo.
ressecção de tumores grandes. Assim, tanto os tumores pequenos ou mesmo as lesões subclínicas que
permitam cirurgias conservadoras na mama requerem abordagem axilar,
desde que seja identificada a invasão estromal (tumores infiltrantes). Esta
Portanto, a relação tumor/mama, informação que frequentemente as
abordagem pode ser realizada pela técnica do linfonodo sentinela ou pelo
bancas de residência médica omitem na confecção das questões de
esvaziamento axilar clássico.
residência, é determinante para a realização da cirurgia conservadora.
Por definição, o carcinoma ductal in situ caracteriza-se por uma TÉCNICA DO LINFONODO SENTINELA
proliferação de células epiteliais malignas dentro dos ductos mamários,
confinadas pela membrana basal, sem evidência de invasão do estroma. Em 1994, foi desenvolvida uma técnica denominada linfonodo sentinela
(Figura 9) que objetiva determinar a real necessidade de esvaziamento
Assim, não possui potencial para metastatizar para linfonodos regionais, axilar completo. Injeta-se na mama afetada um corante vital (isossulfan azul
exceto na presença de componente invasor. Dessa forma, a avaliação axilar ou azul patente) ou um coloide marcado com tecnécio 99. O primeiro
através da biópsia de linfonodo sentinela (mais detalhes adiante) não deve linfonodo de drenagem linfática é identificado e retirado cirurgicamente, e é
ser realizada rotineiramente, apenas em casos selecionados. essa estrutura que é denominada como linfonodo sentinela. Vale ressaltar
que ele pode estar situado na cadeia mamária interna. A seguir, é realizado
exame histopatológico de congelação que define a presença de
ESVAZIAMENTO AXILAR CLÁSSICO
comprometimento tumoral.
Abordagem cirúrgica clássica consiste na ressecção dos linfonodos contidos
nos três níveis da axila (Figura 8).

FIG. 9

FIG. 8

De acordo com a maioria das fontes bibliográficas, a biópsia do linfonodo


sentinela está indicada em todas as pacientes com carcinoma de mama
Classificação dos Linfonodos Axilares invasor e axila clinicamente negativa.
Existem várias classificações para os linfonodos axilares. A classificação de
Berg (Figura 8) é a mais utilizada. saiba mais

Possui como principal referência o músculo peitoral menor e divide-se em


três níveis:


Nível I: linfonodos localizados lateralmente à borda externa do músculo
peitoral menor;

Nível II: linfonodos localizados sob e entre as bordas do músculo
peitoral menor;

Nível III: linfonodos localizados medialmente à borda interna do
músculo peitoral menor.

A lesão do nervo torácico longo é um tema comumente abordado nas


provas de residência médica: ele se situa ao longo do gradil costal. É
responsável pela inervação do músculo serrátil anterior, que é importante
para a fixação da escápula à parede torácica, durante a adução do ombro e a
extensão do braço. Tem origem na face posterior dos ramos ventrais de C5,
C6 e C7. Sua lesão implica em quadro conhecido por escápula alada.
1. SOBRE A ABORDAGEM DA AXILA NO CÂNCER DE MAMA Seu uso mais comum é no pós-operatório, ou seja, radioterapia adjuvante,
para diminuir as taxas de recidiva. A princípio, a RT deverá ser realizada
O envolvimento dos linfonodos axilares permanece como o fator
apenas no plastrão. Todas as candidatas à radioterapia devem realizá-la até
prognóstico mais importante para estimar risco de recidiva e sobrevida
no máximo 16 semanas após a cirurgia. A RT deve englobar toda a mama,
em pacientes com carcinoma de mama. Associado ao tamanho do
com dose total de 50 Gy (25 sessões de 2 Gy).
tumor e aos receptores hormonais, o comprometimento linfonodal
exerce papel essencial nas decisões terapêuticas, tanto para o
tratamento locorregional quanto sistêmico. INDICAÇÕES DE RADIOTERAPIA ADJUVANTE
Os programas de rastreamento mamográficos têm resultado na
Está obrigatoriamente indicada:
identificação de tumores de mama em estágios mais precoces, com
menor risco de comprometimento axilar, casos em que a dissecção
● Após cirurgias conservadoras da mama;
axilar radical seria desnecessária quando o linfonodo sentinela é
negativo. ● No caso de tumores maiores que 4 cm (5 cm segundo
Os danos anatômicos causados pela dissecção axilar total podem algumas referências);
resultar em linfedema, lesão nervosa, disfunção motora, entre outras ● Na presença de quatro ou mais linfonodos axilares
complicações e que algumas vezes comprometem a funcionalidade do acometidos.
membro superior homolateral ao esvaziamento, e a qualidade de vida
da paciente. Dessa forma, a identificação de um linfonodo que
Também pode ser indicada nas cirurgias radicais em que a
represente o status axilar sem a necessidade de dissecção axilar extensão da doença não garantiu segurança total através da
completa, fez da análise do linfonodo sentinela um importante
cirurgia.
instrumento da mastologia atual. Com a conclusão dos ensaios clínicos
randomizados, a biópsia do linfonodo sentinela tem sido realizada sem
posterior avaliação axilar, quando esta é negativa. Vale lembrar mais QUIMIOTERAPIA
um aspecto: a biópsia do linfonodo sentinela só pode ser realizada em
axila clinicamente negativa. Visa auxiliar no tratamento locorregional, controlar e tratar o surgimento de
As contraindicações de biópsia de linfonodo sentinela incluem: metástases à distância. Normalmente é recomendada para pacientes com
tumores infiltrantes, linfonodos positivos ou quando o tumor é grande.
● Comprometimento axilar confirmado por citologia ou histologia;
Alguns autores recomendam que seja oferecido também às pacientes com
● Tumores localmente avançados e carcinoma inflamatório. linfonodos negativos, pois o tratamento quimioterápico parece ser o
Para facilitar sua memorização para as provas, guarde a seguinte principal responsável por afetar a evolução natural da doença,
informação: com melhora estatisticamente significante da sobrevida. É
importante aliada no combate à doença apesar dos efeitos colaterais.
● Tumores infiltrantes = abordagem da axila, que pode ser pelo
estudo do linfonodo sentinela ou pelo esvaziamento axilar clássico,
Pode ser administrada de três formas, conforme será detalhado a seguir.
+ quimioterapia adjuvante. Se o estudo do linfonodo sentinela for
negativo, não há necessidade de realizar o esvaziamento axilar
completo. QT NEOADJUVANTE OU PRÉ-OPERATÓRIA

A QT neoadjuvante, também conhecida como QT pré-cirúrgica, é aquela


2. ROLL
realizada anteriormente ao procedimento definitivo (cirúrgico ou
O ROLL (Radioguided Ocult Lesion Localization) é um recurso
radioterápico). Ela foi originalmente usada para tratamento de carcinoma
empregado para efetuar a marcação da lesão subclínica através da
mamário localmente avançado, mas sua indicação foi estendida ao tumor de
injeção de substância coloide de elevado peso molecular ligada ao
mama operável para possibilitar cirurgias conservadoras.
tecnécio 99, também orientada por método de imagem. Nesta técnica,
a exérese do segmento mamário é auxiliada pelo uso de um detector
Assim, ela se propõe a diminuir o tamanho tumoral, de forma a possibilitar
de raios gama.
cirurgias conservadoras em tumores grandes. Em alguns casos, possibilita
que uma cirurgia mutiladora se transforme em uma cirurgia mais
3. SNOLL conservadora. Além disso, é capaz de diminuir metástases distantes.
A sigla SNOLL corresponde a Sentinel Node and Occult Lesion
Localization. O SNOLL é uma técnica cirúrgica que se constitui no Nos carcinomas localmente avançados (estágio III) há consenso na literatura
somatório do ROLL com a biópsia de linfonodo sentinela. para sua indicação. O exame clínico a partir de T2 > 3 cm de diâmetro e/ou
T2 > 2 cm se N1/2 já mostra benefícios na sua indicação. No entanto, para
estas situações, existem algumas controvérsias na literatura, e na prática
clínica estes casos são individualizados.
TRATAMENTO ADJUVANTE E NEOADJUVANTE

RADIOTERAPIA

Tem como principal indicação o controle locorregional da doença. Em


alguns poucos casos é empregada no pré-operatório para reduzir o volume
tumoral.
Como desvantagens, incluem-se a possibilidade de perda de tempo para a QT PARA TRATAMENTO DE METÁSTASES À DISTÂNCIA
realização da cirurgia, principalmente em tumores resistentes, o aumento
Mesmo as pacientes com doença M1 podem ter uma sobrevida prolongada!
das complicações cirúrgicas e da radioterapia, alteração do tumor primário,
Existem inúmeras opções de quimioterapia para pacientes com câncer de
dificultando a análise histopatológica e alteração do valor prognóstico da
mama. Devido à toxicidade dos esquemas envolvendo múltiplos
análise linfonodal. O esquema normalmente utilizado é o composto por
quimioterápicos, como os utilizados na QT adjuvante e neoadjuvante, a
antraciclinas + ciclofosfamida + fluorouracil.
tendência nas pacientes metastáticas é o uso de medicações isoladas. As
mais utilizadas são as antraciclinas e os taxanos. A tendência atual é que
QT ADJUVANTE apenas as pacientes com metástases sintomáticas recebam QT. As pacientes
com metástases assintomáticas geralmente recebem apenas
Propõe-se complementar o tratamento cirúrgico, diminuindo as taxas de
hormonioterapia, caso a neoplasia expresse receptores de estrogênio (vide
recidiva e os índices de mortalidade. Deverá ser iniciada idealmente quatro
tópico a seguir) – neste caso, a QT é “guardada” para o momento em que a
a seis semanas após a cirurgia.
paciente se tornar sintomática.

A indicação de terapia adjuvante decorre da presença de fatores de mau


prognóstico, a saber: HORMONIOTERAPIA


Idade inferior a 35 anos; Consiste na utilização de substâncias que inibam ou diminuam a atividade
dos hormônios endógenos (estrogênio e progesterona) sobre a mama. Por

Tamanho do tumor: o tamanho da neoplasia está relacionado com o esta razão, está indicada para os tumores receptores hormonais positivos
número de linfonodos envolvidos e com o tempo de desenvolvimento de (RE+ e RP+).
metástases. Há consenso de que, em tumores maiores que 1 cm, ela está
indicada;
Pode ser ablativa ou cirúrgica (ooforectomia), ou medicamentosa.

Grau de diferenciação: pouca diferenciação nuclear é considerada fator
de mau prognóstico; Assim como a QT, a hormonioterapia pode ser empregada como terapia

Status axilar: quanto maior o número de linfonodos axilares envolvidos, neoadjuvante, adjuvante ou no controle de metástases à distância. Mas é
maiores serão os índices de recidiva e menores os índices de sobrevida; importante lembrar que não deve ser administrada ao mesmo tempo em que
a QT.

Receptores hormonais: a ausência dos receptores de estrógeno ou
progesterona no tumor indica pior prognóstico;
Tumores da pré-menopausa e em mulheres jovens possuem maior chance de

Invasão angiolinfática: a presença de invasão é considerada fator de mau ser receptor negativo. Sabe-se que esses receptores estão presentes nos
prognóstico; núcleos das células tumorais e possuem funções vitais para o

Expressão do HER2. desenvolvimento da doença.

Em linhas gerais, sua indicação é individualizada na prática clínica. Os Os medicamentos mais utilizados por períodos de tempo variáveis são:
livros didáticos são evasivos e não disponibilizam indicações concretas.
Mas para fins de prova de residência médica, ela está quase sempre indicada
nos tumores infiltrantes da mama.

A QT adjuvante deverá preferencialmente incluir um quimioterápico da


classe das antraciclinas (epirrubicina ou doxirrubicina/adriamicina) e, no
caso de axila positiva, também um taxano (docetaxel ou paclitaxel).
Existem inúmeros esquemas disponíveis, razão pela qual não nos
alongaremos no assunto. Apenas como curiosidade: os mais utilizados na
prática são o AC (Adriamicina + Ciclofosfamida), o FEC (5-Fluoracil +
Epirrubicina + Ciclofosfamida), o FAC (5-Fluoracil + Adriamicina +
Ciclofosfamida) e o TAC (docetaxel + adriamicina + ciclofosfamida) por 4
a 6 ciclos, que costuma durar entre 12 e 18 semanas. Um esquema clássico,
o CMF (Ciclofosfamida + Metotrexato + 5-Fluoracil) é pouco utilizado
atualmente pois não inclui uma antraciclina.

Observações:

1. No caso de a paciente ter recebido QT neoadjuvante, não há


necessidade de QT adjuvante (é “uma ou outra”);

2. Caso a paciente tenha indicação tanto de radioterapia quanto


de quimioterapia adjuvantes, a QT deve preceder a RT.

Tamoxifeno: é um modulador seletivo dos receptores de estrogênio. No TERAPIA ALVO-DIRIGIDA
entanto, na mama funciona como um verdadeiro antagonista. O uso de
tamoxifeno adjuvante é recomendado nos casos de receptor estrogênico O trastuzumabe (Herceptin®) é um anticorpo monoclonal desenvolvido
positivo (estudo NSABP-24), pois reduz a recorrência local global, para bloquear o receptor de membrana. Pacientes que superexpressam o
diminui recidiva na forma de carcinoma invasor, bem como a ocorrência HER2 devem ter o trastuzumabe incorporado na terapia adjuvante por um
de novo tumor na mama contralateral. Como nos outros órgãos apresenta ano (concomitante à QT e depois de forma isolada). Além disso, as
sua função primária de agonista, pode desencadear efeitos colaterais co‐ pacientes que receberem QT neoadjuvante e superexpressarem o HER2
mo aumento do risco de câncer de endométrio em 2,4 vezes, indução da também devem receber o trastuzumabe na neoadjuvância.
ovulação (ação similar ao clomifeno), aparecimento de fogachos de
difícil controle, aumento do risco para trombose e aumento do risco para Atenção: trata-se de um anticorpo monoclonal (“terapia alvo-dirigida” ou
desenvolvimento de catarata em 1,6 vezes. Deve ser administrado na targeted therapy ), e não um quimioterápico! Esse tipo de medicamento
dose de 20 mg/dia durante cinco anos, com efeitos observados por até atua sobre determinadas proteínas de membrana ou citoplasmáticas
dez anos do início da medicação. Atualmente, é utilizado expressas em maior quantidade nas células tumorais, minimizando os
profilaticamente em pacientes portadoras de mutações genéticas, porém efeitos deletérios sobre as células normais.
novos estudos ainda estão em desenvolvimento para confirmação desta
indicação.
A imuno-histoquímica faz uma interpretação qualitativa baseada na

Inibidores da aromatase: merecem destaque o anastrozol, o letrozol intensidade da coloração. Nela, os tumores podem ser classificados em 0
e o exemestano. Também são utilizados durante cinco anos após a (ausência de coloração de membrana), 1+ (fracamente positivo), 2+
cirurgia. Os estudos até o momento mostraram benefício discretamente (positividade intermediária) e 3+ (fortemente positivo, intensa coloração de
superior ao tamoxifeno quanto à redução do risco de recidiva, porém os toda membrana em mais de 10% das células neoplásicas).
IA têm custo mais alto. Sua ação está na inibição da conversão de
androgênios em estrógenos nos tecidos periféricos, por intermédio do A amplificação gênica é medida pelo Fluorescence In Situ
bloqueio da ação das enzimas do complexo citocromo p450. Possuem Hibridization (FISH). Essa técnica é mais fidedigna do que a imuno-
efeitos colaterais semelhantes ao tamoxifeno, porém em menor
histoquímica para estabelecer prognóstico e é inclusive aplicável em
frequência. Além disso, podem causar redução da densidade óssea.
estudos citológicos. O teste de FISH classifica-se como positivo ou

Análogos do GnRH: a gosserrelina é o mais utilizado. Normalmente negativo.
são administrados após a quimioterapia com CMF.
Só se beneficiam do tratamento com o trastuzumabe (Herceptin®) aqueles
tumores que têm imuno-histoquímica positiva 3+ ou FISH positivo. Assim,
HORMONIOTERAPIA COMO TRATAMENTO ADJUVANTE
pacientes com imuno-histoquímica 2+ (positividade intermediária) devem
Na prática, toda paciente com exame imuno-histoquímico evidenciando ser submetidas ao teste de FISH para determinar a positividade.
positividade de receptores hormonais é candidata à hormonioterapia durante
cinco anos. Esta deve ser iniciada após a QT adjuvante (caso haja
indicação), nunca de forma concomitante. Na prática, os mais utilizados são SUBTIPOS MOLECULARES DO CÂNCER DE
o tamoxifeno e os Inibidores da Aromatase (IA), sendo que esses últimos só MAMA
devem ser utilizados na pós-menopausa. Entenda: em mulheres na pós-
menopausa, a fonte endógena de estrógenos é a conversão de andrógenos O câncer de mama apresenta alta heterogeneidade clínica, morfológica e

em estrógenos pela enzima aromatase. Na pré-menopausa, a principal fonte biológica, fato esse justificado pela existência de diversas formas

de estrógenos é o próprio ovário, e a inibição da aromatase não levará à moleculares. Diferentes perfis de expressão gênica foram caracterizados,
possibilitando a identificação de subtipos moleculares distintos, com fatores
supressão hormonal desejada – para essas pacientes, a principal opção de
tratamento é o tamoxifeno, que age diretamente sobre os receptores prognósticos e alvos terapêuticos específicos.

estrogênicos.
São cinco os subtipos moleculares do Ca de mama: luminal A, luminal B,

Existem estudos em andamento avaliando se existe redução adicional de superexpressão de HER2, basaloide e mama-normal símile. Recentemente,

risco prolongando o tratamento de cinco para até dez anos ou utilizando outro subtipo foi descoberto, o claudin-low.

cada medicamento durante cinco anos (estratégia switch – exemplo: cinco


anos de tamoxifeno seguidos por cinco anos de inibidor da aromatase).
Existe ainda uma proposta alternativa de switch, empregando cada
IMUNO-HISTOQUÍMICA NA CLASSIFICAÇÃO
medicamento por dois anos e meio. Não há dados conclusivos até o
DOS SUBTIPOS
momento.
Apesar de o perfil de expressão gênica ser considerado o teste padrão-ouro
para a subtipagem molecular do câncer de mama, em países com recursos
HORMONIOTERAPIA COMO TRATAMENTO DE DOENÇA limitados, como o Brasil, torna-se necessária a utilização de técnicas menos
METASTÁTICA complexas e financeiramente mais viáveis que possam identificar os
subtipos moleculares. Para tal finalidade, a anatomia patológica conta com a
Obviamente só está indicada nas pacientes com positividade receptores
imuno-histoquímica, técnica tecidual in situ, utilizada na determinação do
hormonais. Devido ao seu menor espectro de efeitos adversos em relação à
perfil de expressão proteica e que é de bastante valia para a patologia
QT, é a forma de tratamento ideal para pacientes com metástases pouco
mamária atual.
sintomáticas.
A imuno-histoquímica mantém a vantagem de avaliar a expressão de ●
Luminal B: os tumores do subtipo luminal B exibem, em sua maioria,
proteínas no contexto da morfologia do tumor, podendo ser aplicada a receptores hormonais positivos, embora por vezes esses sejam expressos
pequenas amostras como biópsias extraídas por agulha fina, em laboratórios em baixos níveis e não raramente apresentem alto índice proliferativo.
clínicos ou de pesquisa, com menores custos e com um rápido tempo de São caracterizados por expressarem genes associados ao HER2 e a um
execução. maior número de genes de proliferação celular, que incluem a expressão
de genes MKI67 (Ki67), CCNB1 e MYBL2. Seu maior índice de
proliferação celular traz consigo um pior prognóstico em relação aos
tumores luminais A. A expressão de RE, RP, HER2 e, mais
SUBTIPO MOLECULAR CLASSIFICAÇÃO COM O
recentemente, a utilização do índice do Ki67, distinguem o subtipo
ÍNDICE DE Ki67 DE 14%
luminal A do luminal B.
PADRÃO DE IMUNO‐
Uma nova estratificação foi proposta para esse subgrupo em: luminal B e
MARCAÇÃO
luminal/HER2. O subtipo luminal B, mais recentemente, tem sido
caracterizado pela positividade de pelo menos um dos receptores
Luminal A RE+ e/ou RP+, HER2- e Ki67
hormonais, ser HER2 positivo (luminal HER2), e quando o HER2 é
<14%
negativo, por ter um índice de Ki67 igual ou superior a 14% de células
Luminal B RE+ e/ou RP+, HER2- e Ki67 neoplásicas imunomarcadas. Essa nova subclassificação, com a
≥14% utilização do índice de Ki67, tem alterado significativamente os valores
de prevalência até então encontrados para os subtipos luminais, uma vez
RE+ e/ou RP+, HER2+
que tumores com alto índice proliferativo, até então classificados como
(luminal HER2)
luminais A, segundo os novos parâmetros, são classificados como
luminais B.
Superexpressão de HER2 RE-, RP- e HER2+
O subtipo luminal B foi significativamente associado a um maior risco
Basaloide RE-, RP-, HER2-, CK5+ e/ou de recorrência e a uma menor sobrevida livre da doença específica em
EGFR+ todas as categorias de tratamento adjuvante sistêmico; e, ainda, associado
à maior possibilidade de resistência ao tamoxifeno, demonstrando se
Triplo-negativo não RE-, RP-, HER2-, CK5- e
beneficiar mais do que o subtipo luminal A de quimioterapia associada a
basaloide EGFR-
antiestrogênicos.
HER2: receptor tipo 2 do fator de crescimento epidérmico humano; EGFR: receptor tipo 1 do
fator de crescimento epidérmico; RE: recep tor de estrogênio; RP: receptor de progesterona;
CK5: citoceratina.

Superexpressão de HER2: o subtipo superexpressão de HER2, como
o próprio nome indica, possui elevada expressão da oncoproteína HER2,
porém apresenta negatividade para receptores hormonais. Pacientes com
SUBTIPOS MOLECULARES DO CÂNCER DE diagnóstico primário de carcinoma de mama e com superexpressão de
MAMA HER2 possuem um pior prognóstico em relação aos pacientes que não
apresentam essa amplificação gênica.

Luminal A: os subtipos luminais têm denominação advinda da
similaridade que as células neoplásicas desses grupos possuem com as A positividade de HER2 parece estar associada relativamente, mas não
células mamárias normais, que ficam em contato direto com o lúmen dos em absoluto, à resistência às terapias endócrinas. Esse efeito pode ser
ductos mamários, as chamadas células luminais. específico para as terapias moduladoras seletivas do receptor de
estrógeno, como o tamoxifeno, e talvez não para terapias de depleção de
O subtipo molecular luminal A, que representa cerca de 60% dos casos estrogênio, como os inibidores de aromatase, utilizados em mulheres
dos carcinomas de mama, apresenta, em relação aos demais, o melhor após a menopausa.
prognóstico. Na sua maioria, são tumores que apresentam receptor de
estrogênio positivo e baixo grau histológico. Os antiestrogênicos, As terapias-alvo contra HER2 são muito eficazes, tanto na forma
tamoxifeno e inibidores de aromatase, são as terapias alvo-específicas adjuvante, quanto no contexto metastático. O trastuzumabe é um
utilizadas para o seu tratamento sistêmico. anticorpo monoclonal humanizado que melhora as taxas de resposta,
reduz a progressão da doença e melhora a sobrevida quando utilizado
Classificam-se como luminais A os tumores positivos para Receptor de
isoladamente ou adicionado à quimioterapia em câncer de mama
Estrogênio (RE) e/ou Receptor de Progesterona (RP), e negativos para metastático.
amplificação e/ou superexpressão de HER2. Estudos recentes informam
que esse subtipo deve ainda apresentar um índice de Ki67, avaliado por
imuno-histoquímica, inferior a 14% de células neoplásicas ●
Basaloide: o subtipo basaloide, caracterizado pela expressão de vários
imunomarcadas. genes expressos em células basais/mioepiteliais, demonstra padrão
prognóstico mais reservado, associado a menor sobrevida livre da doença
e a menor sobrevida global. Morfologicamente, é caracterizado por alto
grau histológico, por elevado índice mitótico, pela presença de áreas de
necrose central e pelo destacado infiltrado linfocitário. Apresenta
negatividade tanto para os receptores hormonais, quanto para a
superexpressão de HER2. Espera-se assim, que pacientes com esse
perfil, não se beneficiem do uso do trastuzumabe, nem de terapias
hormonais, como o tamoxifeno, e nem dos inibidores de aromatase.

Claudin-low: o subtipo claudin-low, recentemente identificado, é
caracterizado por uma baixa expressão de genes envolvidos com junções TAB. 10 DIRETRIZES DE TRATAMENTO PROGNÓSTICO DE VAN
NUYS.
celulares ocludentes e glicoproteínas de adesão célula-célula, incluindo
as claudinas 3, 4 e 7; as ocludinas e a E-caderina. 4-6 Apenas excisão
Apresenta uma baixa ou ausente expressão de marcadores de
7-9 Excisão + Radioterapia
diferenciação luminal e moderada expressão de genes de proliferação. É
normalmente um carcinoma do tipo ductal invasor, com alta frequência
10-12 Mastectomia
de diferenciação metaplásica e medular. Demonstra um padrão
imunofenotípico triplo-negativo não basaloide e não possui ainda
marcadores imuno-histoquímicos protocolados para a sua caracterização
e nem terapêutica específica. CARCINOMA INFILTRANTE

Os Fluxogramas 1 e 2 resumem a conduta nos carcinomas infiltrantes da


mama.
FLUXOGRAMAS DE CONDUTA NO
CARCINOMA MAMÁRIO

CARCINOMA IN SITU

A controvérsia na abordagem do CDIS da mama não se limita ao tipo de


cirurgia. A forma de apresentação da doença, que mudou com o uso da
mamografia de rotina e propiciou o diagnóstico de lesões impalpáveis, e o
reconhecimento de que a doença pode ter vários tipos de apresentação
clínica e patológica, sugerem que esta doença requer abordagens distintas.
Estas incluem a ressecção econômica (cirurgia conservadora) com ou sem a
adição de radioterapia até a indicação de mastectomia. Importante é
salientar que há necessidade de estudos com grande número de pacientes e
com seguimento longo, para nos certificarmos da eficácia da melhor
abordagem terapêutica para estes tumores.

FLUXOGRAMA 1
Pacientes com CDIS apresentam um risco dez vezes maior de desenvolver
carcinoma invasor que a população geral. Além disso, 50% dos CDIS de
alto grau evoluem para carcinoma invasor, 40% dos CDIS de baixo grau
evoluem para carcinoma invasor e 70% dos carcinomas invasores têm
componente in situ.

Existem vários tratamentos aceitáveis para CDIS, incluindo setorectomia,


quadrantectomia, setorectomia + radioterapia com ou sem intervenção
hormonal, quadrantectomia + radioterapia com ou sem intervenção
hormonal e mastectomia. A despeito dessas opções, não há benefício
comprovado em termos de sobrevida com qualquer uma dessas
intervenções. Portanto, a escolha do procedimento provavelmente não afeta
a sobrevida, mas terá um impacto potencialmente significativo no risco de
recorrência local.

Como guia para tratamento adequado dessas lesões utiliza-se o Índice


Prognóstico de van Nuys (Tabela 9) que considera fatores preditivos de
FLUXOGRAMA 2
recorrência para definir a extensão do tratamento a ser seguido (Tabela 10).
Entre esses fatores incluem-se o grau nuclear, a presença de comedonecrose,
extensão da lesão e margens de ressecção adequadas (maiores que 10 mm).

SARCOMA MAMÁRIO

São tumores pouco frequentes na mama. Possuem algumas características


especiais que os diferem dos carcinomas. As massas tumorais que podem
atingir grandes volumes produzem metástases preferencialmente por via
hematogênica, e não comprometem os linfáticos regionais. Os sarcomas
respondem mal à QT e RT. A cirurgia representa a principal conduta
terapêutica.
A ultrassonografia mamária é geralmente o primeiro exame a ser
CÂNCER DE MAMA NA GRAVIDEZ
solicitado, após o exame clínico.
É o câncer de mama que surge durante a gestação ou até um ano de
puerpério. Segundo estudos recentes, a gravidez parece não alterar o curso A mamografia, apesar de ter sua sensibilidade alterada pelas mudanças
da doença. No entanto, esses casos são graves por apresentarem com arquiteturais da mama advindas da gestação/lactação, é imperativa. O
frequência um diagnóstico tardio do tumor. Por outro lado, o manejo destes exame não é particularmente útil nesta população, uma vez que a
casos é difícil, pois a gravidez traz uma série de dúvidas em relação ao radiodensidade do tecido mamário no período gestacional e
tratamento, que pode produzir várias alterações no concepto. lactacional reduz significativamente a sensibilidade do método.
Apesar disso, deve ser utilizada com a finalidade de descartar
Todas as decisões em relação ao diagnóstico e tratamento devem ser microcalcificações difusas.
exaustivamente discutidas pela equipe multiprofissional e com a paciente.

A ressonância magnética não foi estudada de maneira sistemática para


Mais detalhes sobre o tratamento recomendado em gestantes com câncer de o diagnóstico do câncer de mama na gestação/lactação. Deve-se evitar
mama estão disponíveis abaixo.
usá-la no primeiro trimestre devido a ausência de experiência quanto a
possíveis alterações na organogênese fetal. O uso do gadolínio é
contraindicado durante a gestação, mas pode ser considerado no
CÂNCER DE MAMA NA GESTAÇÃO
período pós-parto, caso a mamografia/ecografia sejam inconclusivas.
Trata-se de uma situação clinicamente desafiadora, pois tanto o bem-estar Durante a gestação, deve ser utilizada somente quando a
materno quanto o fetal devem ser considerados no planejamento ecografia for inadequada e caso leve à mudança na tomada de
terapêutico. decisão clínica.

Os estudos prospectivos abrangendo esta situação são escassos. Grande O procedimento de escolha para diagnóstico histopatológico é a
parte das evidências clínicas ainda é limitada a séries retrospectivas e relatos core biópsia, que pode ser realizada com segurança durante a gestação.
de casos. Os maiores riscos de infecção e fístula mamária podem ser minimizados se
a paciente suspender o aleitamento por pelo menos 48 horas previamente à
biópsia.
DEFINIÇÃO

É definido como o câncer de mama diagnosticado no período A PAAF para avaliação citológica não é recomendada, pois as

gestacional, desde a concepção até um ano após o parto ou alterações hormonais durante a gravidez podem levar a resultados falso-
qualquer período durante a lactação. positivos e falso-negativos.

EPIDEMIOLOGIA TRATAMENTO

O câncer de mama associado à gestação é um evento relativamente As estratégias terapêuticas são determinadas pela biologia do tumor,
incomum. estadiamento da doença, idade gestacional e preferências da
paciente, devendo envolver equipe multidisciplinar.

A incidência exata é desconhecida. Estudos demonstram


aproximadamente 15 a 35 casos para cada 100.000 gestações, sendo mais TRATAMENTO CIRÚRGICO
comum o diagnóstico no primeiro ano após o parto do que durante a
gravidez. A estimativa é que corresponda a cerca de 10% dos casos de A cirurgia pode ser realizada seguramente durante qualquer
câncer de mama diagnosticados abaixo dos 40 anos em países ocidentais. etapa da gravidez e o tratamento dependerá tanto do período
gestacional quanto do estadiamento da doença. Os efeitos da
anestesia geral e da cirurgia não parecem aumentar o risco fetal e a maioria
DIAGNÓSTICO dos agentes anestésicos parecem ser seguros para o feto, sendo rara a

A apresentação clínica do câncer de mama em gestantes/lactantes não difere ocorrência de abortamento espontâneo.

da apresentação usual. Tipicamente, se apresenta como tumoração


palpável não dolorosa. A terapêutica cirúrgica deve seguir o mesmo protocolo de pacientes não
grávidas. No entanto, cirurgia conservadora realizada em idade gestacional
muito precoce está associada com um grande atraso na radioterapia pós-
Comumente, é diagnosticado em estágios mais avançados,
operatória.
principalmente aqueles diagnosticados durante a lactação, com massas
volumosas e alta incidência de envolvimento linfonodal.
Nos casos iniciais de câncer de mama que ocorram no final da
gestação, pode ser efetuada a quadrantectomia, com a radioterapia
O atraso no diagnóstico é o principal motivo para justificar o
pior prognóstico dessas pacientes. sendo postergada para o pós-parto, pois é contraindicada no período
gestacional devido aos riscos de malformação fetal e abortamento.
A cirurgia conservadora da mama seguida de radioterapia mostrou-se É pouco frequente. A proporção é de um homem para cada 100 mulheres
equivalente à mastectomia isolada, tanto em pacientes grávidas quanto em com a doença. Em geral, é grave devido ao seu diagnóstico tardio. As
não grávidas, devido a radioterapia poder ser postergada e realizada após a formas de evolução e tratamento divergem muito pouco do referido para as
administração de quimioterapia adjuvante ou neoadjuvante. mulheres.

Em estágios mais avançados ou no início da gestação, a


[ DIVERGÊNCIAS NA LITERATURA
mastectomia total é o procedimento de escolha.

A seguir, apresentaremos algumas das divergências encontradas sobre as


ATENÇÃO doenças malignas da mama na literatura. Algumas delas já foram
exploradas nas provas de residência médica. Por este motivo, nas provas de
A radioterapia é contraindicada na gestação, pois mesmo com a Ginecologia, vale sempre a pena conferir as referências bibliográficas dos
proteção abdominal, a dose de radiação fetal é extremamente elevada. concursos que você irá se submeter. Existem algumas situações em que os
livros didáticos realmente não se entendem! Fique atento a elas!

A investigação axilar segue os mesmos protocolos do câncer de


mama da mulher não grávida. Existem estudos relevantes na literatura CONFUSÃO EM RELAÇÃO AO PICO DE INCIDÊNCIA DO
mostrando que a biópsia do linfonodo sentinela com o uso de CÂNCER DE MAMA
Tecnécio-99m (Tc99m) é efetiva para a paciente e segura para o
TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)
feto (exposição fetal menor que 0,1 mGy). Alguns estudos demonstraram
que o uso do (Tc99m) não interfere no desenvolvimento físico e intelectual Não faz menção à essa informação.
das crianças cujas mães foram submetidas ao procedimento. No momento, o
uso do azul patente, em contrapartida, está contraindicado devido à
GINECOLOGIA AMBULATORIAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS
falta de estudos demonstrando a segurança do método (pode ocasionar (2016), WILLIAMS GYNECOLOGY (2016) E BEREK & NOVAK´S
impregnação ocular no feto). GYNECOLOGY (2020)

Esses livros não fazem qualquer menção quanto à idade de maior incidência
Diante do receio de alguns cirurgiões em prolongar o tempo cirúrgico na
de câncer de mama.
reconstrução mamária de gestantes com câncer de mama, foi avaliado o
impacto do procedimento nessa população. O tempo médio de cirurgia foi
inferior a duas horas e não houve complicações maternas e fetais, ou seja, a MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (6ª
reconstrução mamária imediata nesse grupo de pacientes é segura e EDIÇÃO, 2017)
deve ser realizada quando indicada. Esse livro informa que o pico de incidência ocorre entre 45-55 anos e que a
doença é considerada pouco comum antes dos 35 anos.

TRATAMENTO SISTÊMICO
ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)
A quimioterapia (QT), quando administrada no primeiro trimestre de
O livro informa que embora as estatísticas demonstrem aumento mundial da
gravidez, tem sérios efeitos teratogênicos. Entretanto, no segundo
sua incidência em todas as idades, sabe-se que após os 35 anos e,
e terceiro trimestres, não resulta em malformações estruturais,
especialmente, após os 50 anos, há crescimento progressivo de sua
mas pode acarretar prematuridade, rotura prematura das membranas
incidência.
ovulares e crescimento intrauterino restrito.

OBS.: para fins didáticos, consideramos idade maior do que 40 anos.


A QT pode ser administrada com segurança em gestantes com câncer de
mama usando os esquemas padrões baseados em antraciclinas. O regime
quimioterápico mais usado em gestantes com câncer de mama é a
CONTROVÉRSIAS EM RELAÇÃO AO TEMPO DE USO DE
combinação de doxorrubicina e ciclosfosfamida (AC) ou 5- TH E RISCO DE Ca DE MAMA
fluouracil, doxorrubicina e ciclofosfamida (FAC). Esses esquemas
devem ser seguidos por taxano quando indicado. TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)

Essa fonte não faz menção à associação TH e câncer de mama.


Os taxanos também podem ser administrados durante a gestação. Apesar
de existirem menos dados disponíveis, parecem ser seguros durante o
GINECOLOGIA AMBULATORIAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS
segundo e terceiro trimestres da gestação, com mínima toxicidade (2016)
materna, fetal ou neonatal.
Esse livro informa que há um aumento significativo do risco de câncer de
mama, de aproximadamente 30 a 45%, para as mulheres com mais de cinco
CÂNCER DE MAMA NO HOMEM anos de TH.

LIVROS E TRATADOS DE MASTOLOGIA


Os livros de Mastologia relatam que nas mulheres que utilizam TRH por Essa fonte informa que as neoplasias intraepiteliais lobulares foram
menos de cinco anos, não há risco de câncer de mama. Nas que utilizaram recentemente reconhecidas como lesão precursora, já que até então era
por mais de cinco anos fica estabelecida uma controvérsia. Nas que interpretada apenas como lesão de risco.
utilizaram TH por dez anos ou mais, há certamente um aumento do risco.

BEREK & NOVAK´S GYNECOLOGY (2020)


BEREK & NOVAK´S GYNECOLOGY (2020)
Esse livro não faz menção a esta informação.
Esse livro refere que o risco está aumentado mesmo nas pacientes que
usaram TH por curtos períodos, mas não informa que período é esse.
MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (2017)

O carcinoma lobular in situ é considerado lesão de risco.


MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (6ª
EDIÇÃO, 2017)

Este livro cita a TH entre os fatores de risco para câncer de mama, mas não GINECOLOGIA AMBULATORIAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS
(2016)
tece comentários adicionais.
Esse livro não faz menção a esta informação.

ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)


ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)
O livro informa que o risco é maior após dois anos de uso de TH.
Considera o carcinoma ductal in situ e lobular in situ como lesão precursora
OBS.: em linhas gerais, há necessidade de novos estudos para resolver este do câncer de mama.
impasse.
OBS.: (*) alguns autores consideram apenas o carcinoma ductal in situ
como lesão precursora do câncer de mama. Outros consideram também o
CONFUSÃO EM RELAÇÃO À LESÃO PRECURSORA DO carcinoma lobular in situ como lesão precursora. Esta questão permanece
CÂNCER DE MAMA (*) controversa nos livros didáticos.

TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)


O diagnóstico de massa pélvica em mulheres sintomáticas ou em exames de
rotina tornou-se um evento comum no dia a dia do ginecologista. O advento
da Ultrassonografia Transvaginal (USGTV) contribuiu significativamente
para o diagnóstico diferencial das massas anexiais e representa o método
propedêutico mais utilizado para avaliação dos tumores ovarianos.

É importante salientar que a maioria das tumorações císticas visualizadas à


USGTV representa estruturas normalmente presentes nos ovários durante
um ciclo ovulatório. Assim, os tumores ovarianos que aparecem mais
frequentemente e produzem sintomas agudos são normalmente de origem
fisiológica. Em contraste, os tumores malignos do ovário são os mais letais
entre os tumores ginecológicos e geralmente permanecem silenciosos até
que sejam intratáveis.

Aproximadamente um quarto das pacientes se apresentarão com a doença


em estádio I com excelente taxa de sobrevida em longo prazo. No entanto,
não existem testes de rastreamento efetivos para o câncer de ovário e os
sintomas são pouco perceptíveis. Consequentemente, três quartos das
pacientes estão em estádio avançado da doença no momento do diagnóstico.
Cirurgias agressivas de citorredução, seguidas de quimioterapia à base de
platina, em geral, resultam em remissão clínica. Contudo, até 80% das
mulheres apresentam recidiva, levando à progressão da doença e ao óbito.

Ao longo deste capítulo, chamaremos a atenção para o que é mais


importante sobre os tumores ovarianos. Assim, não esgotaremos o tema,
mas forneceremos subsídio para que nas provas, ou na sua prática médica,
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS você possa discutir casos com ginecologistas e oncologistas sempre que for

DOENÇAS DOS OVÁRIOS necessário.

pontos principais

Córtex: camada externa que contém o epitélio germinal que
● Conhecer as principais particularidades dos tumores de ovário
origina os folículos. É nesta região que encontramos os folículos
benignos, limítrofes e malignos.
ovarianos em diferentes estágios de desenvolvimento;
● Saber os principais marcadores tumorais.

Medula: camada central constituída por estroma de tecido
● Distinguir as diferenças ultrassonográficas nos achados dos tumores conjuntivo frouxo com maior número de fibras elásticas,
potencialmente benignos e malignos. algumas fibras musculares lisas, além de considerável
● Entender por que não está indicado o rastreamento do câncer de quantidade de vasos espiralados (principalmente veias), o que
ovário na população geral. confere a esta camada um aspecto cavernoso;
● Saber os fatores de risco e proteção do câncer de ovário. ●
Hilo (rete ovarii): região da zona de união do ovário ao mesovário,
● Conhecer os principais fatores prognósticos do câncer de ovário. através da qual se inserem as fibras nervosas e os vasos
sanguíneos. O mesovário corresponde a um folheto duplo de peritônio
● Saber o estadiamento do câncer de ovário e as condutas
que envolve os ovários por onde transitam os vasos e nervos ovarianos.
terapêuticas preconizadas para cada estádio.
● Conhecer as principais controvérsias na literatura sobre o assunto. A vascularização arterial se faz pelas artérias ovarianas, ramos da
Sempre que existir algo divergente na literatura, você encontrará um aorta abdominal que transitam pelos ligamentos infundíbulo-pélvicos e
símbolo para que você fique de vivo! Todas as divergências
chegam aos ovários pelo mesovário, e pelos ramos ovarianos da artéria
serão listadas ao final do capítulo.
uterina.

A circulação venosa se faz pelo plexo pampiniforme que drena para


CONCEITOS FUNDAMENTAIS as veias ovarianas e daí para a veia cava inferior, à direita, e veia
renal, à esquerda. Os linfáticos partem do mesênquima pelo hilo e
ANATOMIA DOS OVÁRIOS acompanham a vascularização arterial para atingir os linfonodos aórticos e
pré-aórticos.
Os ovários são estruturas intraperitoneais, sólidas, de cor branca rósea, que
apresentam superfície lisa até a puberdade, tornando-se rugosa à medida que
as ovulações acontecem. Na menopausa, apresentam-se enrugados.
DIVISÃO FUNCIONAL OVARIANA

Na mulher nulípara, ocupam a fossa ovárica (fossa de Waldeyer) que O ovário é uma glândula com funções gametogênicas e endócrinas,
corresponde a uma fossa peritoneal de formato triangular, limitada que são reguladas através do eixo hipotálamo-hipófise-ovário. Os
pela artéria ilíaca interna, pelo ureter e pela inserção do estímulos se iniciam nos neurônios hipotalâmicos do núcleo
ligamento largo na parede lateral da cavidade pélvica. Aí se situa arqueado, que são encarregados da síntese e secreção pulsátil do
graças à suspensão do ligamento suspensor do ovário (ligamento hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), que por sua vez
infundíbulo pélvico), ligamento próprio do ovário (útero-ovárico) e regula a síntese e liberação das gonadotrofinas (hormônio folículo-
ligamento de coadaptação (fixa a extremidade tubária do ovário ao estimulante – FSH, hormônio luteinizante – LH). As gonadotrofinas viajam
infundíbulo da tuba uterina, assegurando o contato entre eles – Figura 1). pela circulação sistêmica para se ligarem aos seus receptores específicos nas
gônadas femininas. No ovário, o FSH induz a maturação folicular bem
como a síntese de estrogênios e progesterona. O LH estimula a
secreção de andrógenos e a luteinização dos folículos pós-
ovulatórios.

Funcionalmente, o ovário se divide em dois compartimentos que interagem


entre si nas diversas etapas da maturação folicular (Figura 2):

FIG. 1 Relação anatômica do ovário.

Após o parto, a posição do ovário se altera em função do estiramento


ligamentar produzido pela gravidez. Os ligamentos tornam-se mais longos e
frouxos, o que justifica seu posicionamento em posição mais inferior na
cavidade pélvica.

Anatomicamente, o ovário consiste em três regiões:


Os ovários são órgãos complexos, responsáveis pela gametogênese e
produção hormonal cíclica fundamental para manutenção da função
reprodutiva. Além disso, os hormônios ovarianos exercem importantes
funções no aparelho reprodutor feminino, assim como em outros órgãos: o
coração, cérebro e tecido ósseo.

Neste contexto, a sequência de eventos que culmina com a liberação de


apenas um oócito maduro, formação do corpo lúteo e posterior luteólise – se
não houver gravidez – pressupõe o crescimento e regeneração de estruturas
intraovarianas, o que parece tornar os ovários suscetíveis a inúmeras
alterações estruturais e funcionais.

Assim, com objetivo didático, o capítulo será dividido em afecções


benignas e malignas ovarianas.

DOENÇAS BENIGNAS DOS


FIG. 2

OVÁRIOS

Intersticial: formado por células do estroma e da teca externa;
As doenças benignas dos ovários incluem uma variedade de entidades.

Folicular: contém o oócito, as células da granulosa e as células da teca Desde a aplasia ovariana até os ovários supranumerários, passando por
interna. alterações funcionais até sua insuficiência prematura. A diversidade
histológica dos ovários, compostos por três tecidos de origem embriológica
De acordo com sua organização estrutural, definem-se cinco fases de distinta, dificulta a identificação de fatores de risco para as doenças
desenvolvimento folicular (Figura 3): benignas do ovário. Dessa forma, os tumores ovarianos podem corresponder
a tumores não neoplásicos, tumores proliferativos (neoplásicos),
tumores sólidos benignos, tumores funcionantes e tumores
limítrofes (Quadro 1).

FIG. 3 Corte longitudinal do ovário e suas estruturas funcionais


Folículos primordiais;

Folículos primários;

Folículos secundários;

Folículos terciários;

Folículos de Graff (folículo pré-ovulatório).

Após a ocorrência da ovulação, a estrutura folicular evolui até a formação


do corpo lúteo, considerada a fase final de maturação do folículo.

FISIOLOGIA OVARIANA
No período pós-menopausa, os tumores benignos são menos comuns e
aumenta a incidência de malignidade.

Para simplificar o estudo, o Quadro 2 apresenta as causas de


massa anexial de acordo com a frequência e faixa etária.

VIDEO_14_GIN4
QUADRO 2
CAUSAS DE MASSA ANEXIAL POR FREQUÊNCIA E FAIXA
ETÁRIA

INFÂNCIA

● Tumor de células germinativas


● Cisto funcional

ADOLESCÊNCIA

● Cisto funcional
● Gravidez ectópica
● Teratoma cístico benigno ou outro tumor de células germinativas
● Tumor ovariano epitelial

MENACME

● Cisto funcional
● Gravidez ectópica
● Tumor ovariano epitelial

PERIMENOPAUSA

● Tumor ovariano epitelial


● Cisto funcional

PÓS-MENOPAUSA

● Tumor ovariano (maligno ou benigno)


● Cisto funcional

Modificado do livro “Berek & Novak’s Gynecology”.

TUMORES OVARIANOS BENIGNOS NA


INFÂNCIA
(PRÉ-MENARCA)
Outro fator a ser considerado é a ocorrência das doenças benignas em
mulheres de todas as faixas etárias, com diferenças na etiologia e no manejo Os cistos funcionais são diagnosticados desde o nascimento. De acordo
terapêutico. com algumas fontes bibliográficas, embora não seja consenso, são os
tumores ovarianos benignos mais comuns na infância, apesar de serem bem
mais frequentes em adolescentes entre os 12 e 14 anos.
Na infância e adolescência, predominam os tumores originados das células
germinativas.
Lesões císticas simples, uniloculares e de pequenas dimensões (até 5 cm,
segundo alguns livros, mas também não é consenso) podem ser controladas
Em mulheres na menacme, as alterações mais frequentes incluem os cistos
clinicamente e acompanhadas por ultrassonografia por dois a três meses.
funcionais do ovário, os endometriomas e os tumores epiteliais do ovário,
como o cistoadenoma seroso e o cistoadenoma mucinoso.
Em tumores sólidos, multilobulados e de dimensões mais amplas, a
abordagem cirúrgica se impõe.
Nessa faixa etária, segundo alguns autores, o ovário apresenta maior
CISTOS FUNCIONAIS E OUTROS TUMORES
mobilidade anatômica, propiciando torções e lesão definitiva por
NÃO NEOPLÁSICOS
isquemia e necrose.
Neste grupo incluem-se cistos foliculares, cistos lúteos, cistos
tecaluteínicos, endometriomas, abscessos tubo-ovarianos e ovários
TUMORES OVARIANOS BENIGNOS NA policísticos.
ADOLESCÊNCIA
(PÓS-MENARCA) Será dada ênfase aos três primeiros, cistos chamados de funcionais, visto
que os outros tumores não neoplásicos serão abordados em apostilas
O aumento das gonadotrofinas pode gerar cistos ovarianos funcionais.
específicas.
Cistos simples, de pequenas dimensões, podem ser acompanhados
clinicamente, enquanto em tumores complexos, a avaliação cirúrgica deve
ser sempre considerada. CISTO FOLICULAR

De um modo geral, os tumores dessa faixa etária devem ser tratados como É o cisto funcional mais comum (Figura 1). É definido como um
doenças benignas, pois, na maioria das vezes, resolvem-se espontaneamente cisto simples que possui mais que 3 cm. Normalmente, apresenta
após a menstruação. A opção cirúrgica deve ser considerada apenas após menos que 8 cm no maior diâmetro.
novo exame ultrassonográfico que mostre persistência da massa.

É importante salientar que as doenças pélvicas de origem infecciosa, como


abscesso tubo-ovariano, e a gravidez ectópica devem ser
consideradas como diagnóstico diferencial.

TUMORES OVARIANOS BENIGNOS NO


PERÍODO REPRODUTIVO
(MENACME)
Durante o período reprodutivo, a maior parte das massas ovarianas é
benigna (80%) e aproximadamente 2/3 delas ocorrem em mulheres entre
20 e 44 anos.

FIG. 1 CISTO FOLICULAR.


A maioria dos tumores não produz sintomas ou apresenta sintomas
inespecíficos, como dor abdominal, sintomas urinários e/ou
gastrointestinais. Em caso de tumores produtores de hormônios
(funcionantes), sinais como sangramento genital podem estar presentes. Origina-se de um folículo estimulado pelas gonadotrofinas
hipofisárias que não se rompeu durante o ciclo menstrual. Como
dependem da estimulação cíclica dos ovários, eles são mais frequentes nas
TUMORES OVARIANOS BENIGNOS NA PÓS- pacientes que menstruam e mais raros em mulheres menopausadas. Cistos
MENOPAUSA foliculares isolados podem surgir na infância e a secreção de gonadotrofinas
maternas pode ocasionalmente levar ao surgimento de cistos no período
A incidência de malignidade aumenta com a idade. Na pós-
fetal.
menopausa, os ovários tornam-se mais difíceis de serem visualizados à
Ultrassonografia Transvaginal (USGTV) ou palpados em exame clínico de
Estes cistos habitualmente são achados incidentais, mas podem romper ou
rotina devido a sua atrofia.
torcer o ovário, causando dor abdominal e sinais peritoneais.

Estudos epidemiológicos indicam que, nesta fase, aproximadamente 3 a 5%


Normalmente, se resolvem espontaneamente em quatro a oito
das pacientes terão uma massa anexial confirmada por ultrassonografia. Em
se tratando de tumor maligno, 60 a 70% são diagnosticados nos estádios semanas com conduta expectante. Para cistos de 8 cm, o período
mais avançados (estádios III e IV). Além disso, a frequência de malignidade para regressão completa pode ser de até três meses. A taxa de regressão para
aumenta de 0,3% em tumores císticos uniloculares para 36% em tumores cistos maiores de 8 cm continua indeterminada, embora se recomende um
sólidos multiloculares e para até 39% em tumores sólidos primários. período de observação antes de se decidir pela cirurgia.

CISTO DO CORPO LÚTEO OU LUTEÍNICO


PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS
TUMORES OVARIANOS BENIGNOS
São cistos menos comuns que os cistos foliculares.
Este tópico requer atenção, pois ele resume as principais
características dos tumores ovarianos benignos.
O cisto luteínico resulta do corpo amarelo que se tornou cístico O início da torção e os sintomas da dor abdominal, muitas vezes,
devido à hemorragia excessiva na cavidade folicular. Pode ainda coincidem com levantamento de peso, exercício ou relação sexual. O
ser causado por um acúmulo anormal de líquido cístico, quadro clínico apresenta respostas reflexas autonômicas, como náuseas e

provavelmente em consequência do estímulo excessivo do hormônio vômitos. Sabidamente, a dor piora com a atividade física e com a mudança
de posição. O sinal mais importante é a constatação de uma grande massa
luteinizante (LH).
pélvica ao exame físico. Pequena elevação da temperatura e leucocitose
podem acompanhar o infarto anexial. Deve-se suspeitar do diagnóstico em
Sua evolução natural é semelhante à do cisto folicular, apresentando qualquer mulher com dor aguda e massa anexial.
regressão espontânea na maior parte dos casos.

A conduta na torção desencadeada por um tumor ovariano depende da


Os cistos não rotos podem causar dor, provavelmente devido ao presença de infarto ou necrose. Se o tecido não sofreu infarto, a torção
sangramento para a cavidade fechada do cisto. Podem, ainda, causar pode ser desfeita e realizada cistectomia. Se houver necrose, deve ser
sintomas semelhantes ao da torção anexial. Mais detalhes estão disponíveis realizada ooforectomia.
adiante, no quadro “Saiba Mais” sobre a Torção Anexial.

No entanto, sua rotura e consequente hemorragia são mais comuns


devido à vascularização de sua parede (Figura 2).

FIG. 2 A: CORPO LÚTEO. B: CISTO DE CORPO LÚTEO.

Os sinais de rotura e hemorragia incluem hipersensibilidade bilateral ao


exame pélvico, sendo que o risco de rotura é maior nas pacientes usuárias
de anticoagulantes.

A rotura é mais comum do lado direito. Geralmente, acontece entre o


20º e o 26º dia do ciclo e pode ocorrer durante o coito. Na ocorrência dessa
complicação, deve-se fazer o diagnóstico diferencial com gravidez ectópica
devido à dor pélvica que ocorre em ambas as situações.

A conduta conservadora é adotada em caso de estabilidade


hemodinâmica. Em caso de hemoperitônio importante, a
abordagem cirúrgica se impõe, mas a preservação do ovário
CISTO TECALUTEÍNICO

acometido deve ser incentivada.


São os cistos funcionais menos comuns. Normalmente, são
bilaterais e incidem na gravidez, especialmente nas gestações
saiba mais molares (1/4 das gestações molares e 10% dos coriocarcinomas). Podem
TORÇÃO ANEXIAL se associar a gestações múltiplas, gestações molares, coriocarcinoma,
diabetes, sensibilização Rh, uso de citrato de clomifeno, indução da
A torção anexial é um evento incomum, mas representa uma importante ovulação por gonadotrofina da menopausa humana ou por gonadotrofina
causa cirúrgica de abdome agudo na mulher. A torção do pedículo coriônica humana e uso de análogos do GnRH. Os cistos tecaluteínicos são
vascular de um ovário, tuba uterina ou de um cisto paratubário resulta em multicísticos, podem atingir grandes dimensões (até 30 cm) e tendem a
isquemia e em rápido início da dor pélvica aguda. regredir espontaneamente (Figura 3).

A torção de um pedículo ovariano, apesar de frequentemente associada a


cistos ou tumorações ovarianas, pode ocorrer em um ovário normal,
especialmente em pré-púberes.
FIG. 3 CISTO TECALUTEÍNICO.

TUMORES PROLIFERATIVOS
NEOPLÁSICOS

TUMORES EPITELIAIS

O pico de incidência ocorre entre 20 e 40 anos.

Cistoadenoma Seroso
FIG. 4 CISTOADENOMA SEROSO.
Os tumores epiteliais serosos originam-se do epitélio superficial do
ovário, representam 15 a 25% dos tumores benignos e são bilaterais em 7 a
12% dos casos (Figura 4).
A faixa etária de maior incidência situa-se entre 20 e 50 anos. São
frequentemente multiloculares, raramente com septações grosseiras,
podendo apresentar projeções papilares e calcificações e, ao corte, mostram
conteúdo claro ou acastanhado. Possuem consistência firme, base larga e
coloração pálida medindo de cinco a quinze centímetros, raramente
atingindo maiores dimensões. Corpos de Psammoma, que são áreas de
granulações calcificadas, podem estar presentes espalhados pelo tumor e
podem ser identificados pelos raios X. Geralmente, esses tumores são
assintomáticos e detectados em exames pélvicos de rotina ou à
ultrassonografia.

A conduta terapêutica depende da idade e da paridade. A cirurgia é o


tratamento definitivo. A preservação ovariana deve ser incentivada em
pacientes sem definição reprodutiva, tomando-se o cuidado de retirar o
tumor da cavidade sem o rompimento de sua cápsula. Em caso de suspeita
de malignidade, está indicado o exame histológico por congelação no
peroperatório, embora estes tumores não se prestem bem a essa avaliação.
Por esta razão, o estudo em parafina para firmar a ausência de invasão
estromal está sempre indicado.

Aproximadamente 20% dos cistoadenomas serosos são malignos e 5 a 10%


dos tumores epiteliais são limítrofes.

Cistoadenoma Mucinoso

VIDEO_15_GIN4
O cistoadenoma mucinoso (Figura 5) representa 15% dos tumores Representa 10 a 15% de todos os tumores ovarianos. É normalmente
benignos. São bilaterais em 5 a 7% dos casos. São geralmente mais unilateral. A bilateralidade incide em 10 a 12% dos casos. O risco de se
volumosos que os tumores serosos, constituindo os grandes tumores tornar maligno é raro (1%) e maior na pós-menopausa. A neoplasia maligna
abdominais, chegando até a 50 cm de diâmetro. mais comum que se desenvolve no teratoma inicialmente benigno é o
carcinoma de células escamosas.

São compostos de combinações variadas de elementos


ectodérmicos, mesodérmicos e endodérmicos, ou seja, apresentam
células bem diferenciadas de todos os três folhetos embrionários.
Caracteristicamente, há cistos uniloculares contendo folículos
pilosos e um material de consistência sebácea. Também podem ser
encontrados cartilagem, osso, dentes, áreas de calcificação e
tecido tireoidiano (Figura 6).

FIG. 6 CISTO DERMOIDE OVARIANO (note na ultrassonografia a grande área


ecodensa com sombra acústica posterior).

O período etário de maior incidência concentra-se na menacme, com pico


maior em torno dos 30 anos.

FIG. 5 CISTOADENOMA MUCINOSO (note o aspecto multilocular na


ultrassonografia). A torção do pedículo é a complicação mais frequente e incide em
3,5% dos casos. Ela é mais frequente neste tipo histológico, provavelmente
devido ao seu elevado conteúdo de gordura. Este excesso de gordura
permite que eles flutuem nas cavidades abdominal e pélvica, dando a
A faixa etária de maior incidência situa-se na terceira e quarta décadas.
sensação de mobilidade ao exame físico e de localização anterior ao útero
São geralmente multilobulados, císticos, de conteúdo mucoide e
ocasionalmente.
acastanhados ao corte.

O tratamento de escolha é cirúrgico. Em pacientes sem definição


Uma complicação que foi associada a estes tumores é o pseudomixoma
reprodutiva, o tratamento conservador (cistectomia ovariana) com
peritoneal, caracterizado pela secreção exacerbada de material mucinoso e
preservação do ovário está indicado. Em pacientes com prole constituída, a
gelatinoso, levando à formação de ascite, a qual recidiva com frequência
ooforectomia pode ser realizada. Independentemente da abordagem
após o tratamento cirúrgico. Vale salientar que essa complicação é mais
cirúrgica, deve-se ter cuidado para que não ocorra o extravasamento de seu
comum nos carcinomas mucinosos, podendo também ser secundária
conteúdo na pelve. Na cirurgia laparoscópica, o ovário é colocado dentro de
à mucocele do apêndice e ao carcinoma bem diferenciado do cólon.
um saco plástico impermeável e resistente, cuja boca pode ser fechada
(endobag). Inicialmente, realiza-se o esvaziamento do conteúdo líquido
O tratamento é cirúrgico. A extensão da cirurgia depende da idade da para reduzir seu volume e, posteriormente, fecha-se o endobag (Figura 7)
paciente e das pretensões reprodutivas. Naquelas que desejam engravidar, a para evitar o extravasamento do conteúdo residual do cisto (cabelos, ossos,
conduta pode ser conservadora, mas, logo que possível, é mais prudente dentes) na retirada da peça.
realizar a ooforectomia. A histerectomia total abdominal e salpingo-
ooforectomia bilateral são reservadas para pacientes na pós-menopausa.

TUMORES DE CÉLULAS GERMINATIVAS

Teratoma Cístico Benigno ou Teratoma Cístico Maduro ou Cisto


Dermoide
É um tumor raro, geralmente sólido, que pode ser bilateral e levar ao
aumento do ovário em até doze centímetros.

Em aproximadamente 25% dos casos, associam-se com virilização, que


tem início no segundo trimestre da gestação, produzindo
testosterona, levando a níveis plasmáticos elevados, que explica porque
alguns autores o chamam de androluteoma. Com isso, a masculinização de
um feto do sexo feminino pode ocorrer.

FIG. 7 ENDOBAG.
A maioria dos casos regride espontaneamente, mas o aumento persistente
do tumor indica a cirurgia.

Em caso de extravasamento do conteúdo, deve-se proceder a uma rigorosa


limpeza com repetidas lavagens da cavidade abdominal, evitando assim TUMORES FUNCIONANTES
uma peritonite química. TUMORES DO ESTROMA GONÁDICO

FEMINILIZANTES
A conduta no cisto dermoide torcido depende da presença de infarto ou
necrose. Se o tecido não sofreu infarto, a torção pode ser desfeita e realizada
Tecomas
cistectomia. Se houver necrose, deve ser realizada ooforectomia.
Originam-se do estroma cortical dos ovários. São geralmente
unilaterais e raramente malignos.
TUMORES SÓLIDOS BENIGNOS
Fibroma Os tecomas representam 2% dos tumores ovarianos, com predomínio na
pós-menopausa. Durante o período reprodutivo, o tumor é raro.
É o tumor do cordão sexual mais comum. Particularmente, derivam
das células estromais da granulosa, mas não apresentam
Em aproximadamente 75% dos casos, produzem estrógenos. Seus
atividade hormonal.
sintomas correlacionam-se com sua indução estrogênica e incluem
sangramento genital e hiperplasia endometrial na pós-menopausa. Durante a
Ao corte, possui um aspecto firme, espiralado, branco na superfície e
menacme, o seu diagnóstico é mais difícil, pois os efeitos estrogênicos
raramente apresenta sinais de degeneração.
produzidos pelo tumor se confundem com aqueles fisiologicamente
encontrados nessa fase da vida.
Um aspecto curioso nestes tumores é a associação com ascite (10 a 15%) e
hidrotórax (1%), o que caracteriza a síndrome de Meigs. O tratamento recomendado é a ooforectomia, reservando-se a histerectomia
com salpingectomia bilateral para pacientes mais idosas.

Tumor de Brenner

É identificado pela sua histopatologia incomum, com ilhotas de células VIRILIZANTES


cuboides claras, os chamados ninhos de células de Walthard.
Gonadoblastomas

São tumores epiteliais benignos, constituídos por epitélio É um tumor misto, constituído por elementos germinativos
transicional, mas vale salientar que tem seus equivalentes malignos e (geralmente representado pelo disgerminoma) e elementos do cordão
limítrofes. Raramente, ocorre transformação maligna. Trata-se de tumor sexual (elementos das células da granulosa e de Sertoli). Logo, podem
sólido que pode estar associado à síndrome de Meigs. produzir androgênios e estrogênios. O tratamento recomendado
é a ooforectomia.

ATENÇÃO
Pacientes com disgenesia gonadal e presença de cromossoma Y
A fisiopatologia da síndrome de Meigs parece decorrer de uma pressão
são consideradas de alto risco para o desenvolvimento deste tumor. Nestes
intratorácica negativa, ocorrendo passagem de líquido através do
casos, a conduta é a gonadectomia.
diafragma por meio de poros. A síndrome se resolve completamente ao
se retirar o tumor.
STRUMA OVARII
Também estão associados à síndrome de Meigs os fibromas,
ocasionalmente, os tumores de Brenner e Krukenberg (mais detalhes Representa uma variante do teratoma cístico maduro (Figura 8), em
sobre ele adiante). que se observa predomínio de mais de 50% de tecido tireoidiano
(20% dos teratomas têm pequenos focos de tecido tireoidiano). Por esta
razão, caracteriza-se pela produção ectópica de hormônios
Luteoma da Gravidez tireoidianos. Em 5% dos casos, desenvolve sintomas de tireotoxicose.
A seguir, é apresentada a conduta básica diante de uma massa
anexial… Mas não necessariamente todos os itens serão
realizados!

1. Anamnese e exame físico.

2. USGTV.

3. Dopplerfluxometria.
FIG. 8 STRUMA OVARII.
A: as setas indicam o tumor formado por tecido tireoidiano. 4. Ressonância Magnética (RM).
B: massa complexa ovariana, medindo 7,1 × 5,3 cm, apresentando componentes sólido
e cístico. 5. CA-125.

6. Outros marcadores tumorais: alfafetoproteína, hCG, LDH, CA-19-9.

7. Cirurgia.
Possui baixo potencial de malignidade.
O dilema clínico é sempre o mesmo na avaliação diagnóstica de
um tumor ovariano: excluir a malignidade!
TUMORES LIMÍTROFES

Os tumores limítrofes ou de baixo potencial maligno ou borderline, No diagnóstico diferencial das massas ovarianas, considera-se a
respondem por 10 a 15% dos tumores epiteliais. São um grupo especial de mulher, o estado menopausal (pré ou pós-menopausa), os
neoplasias cujo comportamento biológico e aspecto histopatológico os sintomas, o tamanho da massa, os achados ultrassonográficos e
coloca entre os tumores benignos e os francamente malignos. as titulações dos marcadores tumorais...

São lesões que tendem a permanecer limitadas aos ovários por A seguir, será destacado o que é mais importante sobre estes
longos períodos, com baixo potencial de crescimento e invasão. aspectos...

Por esta razão, apresentam bom prognóstico.

ANAMNESE E EXAME FÍSICO


Ocorrem predominantemente antes da menopausa, em mulheres entre 30 e
50 anos, ou seja, mais precocemente que os tumores invasivos. A idade Aproximadamente 7% das mulheres na pré e pós-menopausa apresentam
média de pacientes com tumores limítrofes fica em torno dos 46 anos. massas ovarianas que podem ser líquidas, sólidas ou mistas. O risco para
câncer de mama em mulheres sem predisposição familiar é maior aos 60
Cerca de 20 a 25% dos tumores limítrofes disseminam-se além do ovário. anos e gira em torno de 1,7%. Quando há predisposição familiar, o risco
São capazes de se metastatizar, porém não apresentam invasão estromal. relativo aumenta para 4,5%.

Os critérios para o diagnóstico de tumores limítrofes são: Idade

Cistos na pré-menopausa são comuns e usualmente benignos, incluindo os



Hiperplasia epitelial com pseudoestratificação em tufo, cribiforme e
cistos funcionais, os endometriomas e os ovários policísticos. O risco de
micropapilar;
malignidade aumenta com a idade e a maioria das massas malignas é

Atipia nuclear e aumento da atividade mitótica; diagnosticada na pós-menopausa.

Grupos celulares isolados;

Ausência de invasão verdadeira do estroma, ou seja, sem destruição Sintomas
tecidual. Nenhum ou poucos sintomas vagos e inespecíficos são observados, o que
pode postergar a propedêutica. Isso explica porque apenas 25% das
Estudos recentes revelam a possibilidade de tratamento conservador, mulheres são diagnosticadas com a doença maligna limitada aos ovários.
sobretudo nas pacientes com pretensões reprodutivas. No entanto, o
acompanhamento das pacientes é necessário. A utilização de tratamento
Exame Físico
adjuvante permanece controversa.
O diagnóstico ocorre pela detecção de um tumor anexial assintomático
durante o exame pélvico rotineiro. Mas o exame clínico da pelve não é
ABORDAGEM DIAGNÓSTICA DOS TUMORES adequado para avaliar as dimensões ou outras características ovarianas,
OVARIANOS BENIGNOS principalmente em mulheres na pós-menopausa, obesas ou que tenham o
útero aumentado de volume. Isto quer dizer que, diante de uma massa
Depende da faixa etária e dos sinais e sintomas presentes.
pélvica constatada no exame físico, está indicada a realização de
ultrassonografia.
Embora a avaliação clínica inicial seja fundamental, é inegável a
contribuição dos métodos de imagem e dos marcadores
tumorais no diagnóstico e tratamento destes tumores.
ULTRASSONOGRAFIA (USG)
1. Geralmente, cistos funcionais são pequenos (5 cm ou menos),
A ultrassonografia é exame fundamental na avaliação das massas ovarianas uniloculares e com paredes internas lisas, enquanto os cistos
e no diagnóstico diferencial com outras afecções ginecológicas e não neoplásicos são maiores (mais que 5 cm), multiloculares, contêm
ginecológicas. Ela permite diferenciar massa cística de sólida e identificar áreas sólidas e possuem irregularidades na parede interna.
os padrões ultrassonográficos característicos de cada tumor. Deve ser
2. Cistos uniloculares de todos os tamanhos geralmente são
realizada, preferencialmente, pela via vaginal, podendo ser complementada
benignos. Apenas 2% dos uniloculares maiores de 10 cm são
pela via abdominal. Assim, é possível a visualização de ambos os ovários
histologicamente malignos.
com maior precisão diagnóstica, sobretudo em mulheres menopausadas e
também na presença de grandes massas pélvicas. Vale dizer que a 3. Cistos malignos têm septos grossos, paredes internas irregulares,
diferenciação entre os cistos funcionais e cistos neoplásicos na pré- margens pouco definidas e podem se associar com ascite. A
menopausa pode ser dificultada pelas mudanças cíclicas causadas pela presença desta última aumenta em quatro vezes a possibilidade de
ovulação. O risco de malignidade na pré-menopausa é menor que 1% e, na malignidade em mulheres na pré-menopausa e em oito vezes na
pós-menopausa, pode chegar até a 10%. pós-menopausa.

4. As massas multilobulares são mais frequentemente malignas (8%)


Vários critérios morfológicos ultrassonográficos têm sido propostos para que as unilobulares (0,3%) tanto em mulheres na pré quanto na
distinguir tumores ovarianos benignos dos malignos, embora não exista, até pós-menopausa.
o momento, um exame ideal para este fim.
5. Tumores com partes sólidas, semissólidas ou mistas são
frequentemente malignos. Componentes sólidos internos são o
O Quadro 3 apresenta as características ultrassonográficas das massas achado mais constante nas lesões malignas. No entanto, tumores
ovarianas. totalmente sólidos são raros e representam apenas 16% de todos
os tumores malignos.
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6. O diâmetro do cisto está intimamente relacionado com o risco de
malignidade. Massas com diâmetro maior que 8-10 cm apresentam
risco elevado de malignidade.

7. A bilateralidade à USG aumenta em três vezes o risco de


malignidade.

DOPPLERFLUXOMETRIA COLORIDA

O método deve ser avaliado conjuntamente com aspectos clínicos da


paciente, aspectos ultrassonográficos do tumor e marcadores tumorais. Na
triagem pré-operatória do câncer de ovário, a dopplerfluxometria colorida
aprimora a ultrassonografia e reduz seu falso-positivo de 3,3% para 0,5%.
O Quadro 4 disponibiliza algumas dicas para as provas de Portanto, é útil no diagnóstico diferencial entre lesões benignas e malignas.
residência...

O princípio de sua aplicação ancora-se no fato de que se observa


QUADRO 4 neoangiogênese nos tumores malignos, caracterizada pela proliferação de
DICAS IMPORTANTES vasos desprovidos de músculo liso, apresentando, portanto, baixa resistência
ao fluxo vascular. A neovascularização tem valor especial quando presente
nos septos dos tumores císticos, acertando o diagnóstico em 98% dos casos.
As lesões malignas normalmente apresentam baixo índice de pulsatilidade
(IP < 1,0) e baixo índice de resistência (IR < 0,40).

Atenção: massas inflamatórias e os cistos de corpo lúteo podem mimetizar


uma massa suspeita de malignidade, pois podem apresentar índices de baixa
resistência à dopplerfluxometria. Isto explica a alta taxa de falso-positivos
quando esse procedimento é usado isoladamente.

O Quadro 5 resume as características clínicas, ultrassonográficas


e dopplerfluxométricas dos tumores benignos dos ovários que
deverão nortear o raciocínio clínico.
Os teratomas císticos benignos normalmente não secretam marcadores
tumorais.

PUNÇÃO ASPIRATIVA E ANÁLISE CITOLÓGICA

No líquido ovariano, a citologia não apresenta sensibilidade confiável.


Além disso, o derramamento das células durante a punção pode aumentar o
estadiamento, no caso de um câncer ovariano. Dessa forma, a punção e
análise citológica do cisto ovariano não devem ser usadas para
fins diagnósticos.

ABORDAGEM TERAPÊUTICA DOS TUMORES


OVARIANOS BENIGNOS

Diante de um diagnóstico de massa anexial, é necessário decidir qual


conduta tomar, seja ela expectante, clínica ou cirúrgica. Sabidamente, a
idade da paciente, o aspecto ultrassonográfico do tumor e a presença de
complicações são fatores importantes na definição da conduta.
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA (RM)
A escolha da via operatória, laparotômica, laparoscópica ou
A RM também pode ser uma alternativa na avaliação das massas anexiais,
laparoscópica assistida por robótica, é baseada na presunção da origem
principalmente em gestantes, adolescentes e mulheres virgens.
da massa, idade da paciente, etiologia do tumor, manutenção
ou não da fertilidade, avaliação criteriosa dos exames
O uso da RM associado à USGTV aumenta a sensibilidade em lesões complementares e na habilidade do cirurgião.
malignas e a especificidade em lesões benignas.

Pode ser útil na avaliação de teratomas ovarianos com imagens atípicas à INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
USGTV, na avaliação de coágulos que mimetizam massas sólidas na
USGTV e massas sólidas como fibrotecomas e fibromas ovarianos. De acordo com algumas fontes bibliográficas, na infância,
aproximadamente 80% das neoplasias ovarianas são malignas.
Por esta razão, o diagnóstico correto e o tratamento adequado são
MARCADORES TUMORAIS primordiais.

As dosagens dos marcadores tumorais devem ser utilizadas em conjunto


Na adolescência, os cistos funcionais e os tumores de células
com o exame pélvico, os achados ultrassonográficos e a dopplerfluxometria
germinativas são os mais encontrados. Nos primeiros, a conduta
colorida.
expectante com acompanhamento permite a resolução espontânea da
maioria dos casos e evita intervenções cirúrgicas desnecessárias. Nos
CA-125 segundos, o tratamento consiste na cistectomia simples com preservação do
ovário.
O antígeno cancerígeno (CA) 125 é o marcador tumoral mais sensível para
os tumores epiteliais, especialmente os serosos. No entanto, algumas situações, como torção anexial, presença de
hemorragia intra-abdominal com instabilidade hemodinâmica e suspeita de
O CA-125 pode estar aumentado (valor acima de 35 mUI/ml) em 1% das gravidez ectópica, podem requerer intervenção cirúrgica imediata.
pessoas sadias, 6% das mulheres com doença benigna, 28% em mulheres
com doenças malignas não ginecológicas e 82% das pacientes com câncer Na maioria das vezes, a laparoscopia pode ser realizada e um preceito
ovariano epitelial. importante não pode ser esquecido: os anexos devem ser preservados
sempre que possível.

OUTROS MARCADORES TUMORAIS


A Figura 9 resume a abordagem das massas ovarianas durante a infância e
adolescência.
O CA-19-9 é particularmente mais sensível para tumores ovarianos
mucinosos.

Mais detalhes sobre os marcadores tumorais serão encontrados mais


adiante, no capítulo sobre Doenças malignas dos ovários, no tópico
“Diagnóstico”, item “Marcadores Tumorais”.
● Tumores císticos em pacientes pré-púberes.
● Tumores sólidos em qualquer faixa etária.
● Tumores císticos maiores que 5 cm e persistentes por mais de seis
meses.
● Tumores mistos, cístico sólido, independentemente do tamanho e
persistente por mais de três meses.
● Mulheres assintomáticas com cistos maiores que 10 cm.
● Presença de achados suspeitos para malignidade,
independentemente do tamanho: aparência ultrassonográfica do
cisto, nenhuma mudança ou aumento no tamanho, níveis elevados
FIG. 9
de CA-125 (> 200 U/ml), ascite, suspeita de doença metastática, ou
história familiar de um parente de primeiro grau com câncer de
mama ou de ovário.

PRÉ-MENOPAUSA A Figura 10 descreve a conduta na abordagem cirúrgica dos tumores


ovarianos na pré-menopausa.
Cistos Funcionais

Nesta fase, muitos cistos são funcionais e regridem sem tratamento.

As massas anexiais com características sugestivas de cistos funcionais


podem ser acompanhadas clinicamente, desde que a paciente se apresente
assintomática. Os cistos funcionais costumam se romper espontaneamente,
sem maiores repercussões, em período de até três ciclos menstruais,
independentemente do uso de anovulatórios. A crença de que o emprego de
contraceptivos orais poderia suprimir os cistos não foi confirmada, segundo
diversos estudos prospectivos randomizados. No entanto, os
anticoncepcionais combinados orais são efetivos na redução de risco de
cistos ovarianos subsequentes.

Os cistos sintomáticos devem ser avaliados imediatamente. No entanto, nas


massas suspeitas de serem funcionais com poucos sintomas, está indicado
apenas o tratamento clínico com analgésicos. O tratamento cirúrgico deve
ser evitado pelo risco potencial de desenvolver aderências pélvicas que
possam interferir com a fertilidade. A abordagem cirúrgica está indicada
na presença de dor intensa, suspeita de torção ou malignidade.

FIG. 10 MANEJO DOS TUMORES ANEXIAIS EM MULHERES NA PRÉ-


MENOPAUSA.
Massas Ovarianas Benignas

A maioria das massas ovarianas é benigna. Embora a probabilidade de


malignidade seja baixa, ela deve ser sempre levada em consideração. A
abordagem terapêutica dependerá da presença de sintomas e da suspeita de
malignidade.
PÓS-MENOPAUSA
O tratamento cirúrgico está indicado na presença de dor ou lesões A estratégia da abordagem dos tumores ovarianos nesta fase pode ser
suspeitas. A via de escolha deve ser laparoscópica em mãos treinadas e resumida da seguinte forma:
experientes, em virtude da morbidade reduzida e da recuperação rápida.
Preconiza-se abordagem cirúrgica conservadora com preservação do ovário
acometido, quando possível, principalmente em pacientes com pretensões
reprodutivas.

INDICAÇÕES DE ABORDAGEM CIRÚRGICA DOS TUMORES


OVARIANOS NA PRÉ-MENOPAUSA

Naquelas pacientes com risco mínimo de desenvolver câncer de ovário, Pouco frequente, o câncer de ovário é o tumor ginecológico
pode ser adotada conduta expectante com acompanhamento. Assim, mais difícil de ser diagnosticado e o de menor chance de cura.
mulheres com cistos uniloculares < 5 cm e níveis normais de CA-125 Cerca de 3/4 dos cânceres desse órgão apresentam-se em
podem ser acompanhadas a cada seis meses com avaliação do índice estádio avançado no momento do diagnóstico. Ele representa
morfológico (avaliação do volume tumoral, estrutura da parede e um grande desafio, pois apesar dos avanços dos métodos
septações) e com dosagens de CA-125. Mas vale salientar que a propedêuticos e terapias oncológicas, a sobrevida das pacientes
morfologia tumoral e os níveis de CA-125 se alteram com o passar do não se alterou nas últimas décadas.
tempo, de forma que o seguimento adequado destas pacientes é
imprescindível. Caso este não seja possível, o tratamento cirúrgico se Os principais aspectos “cobrados” nos concursos de residência
impõe; médica serão resumidos a seguir...

Naquelas com risco intermediário e alto, a exérese cirúrgica deve ser
prontamente realizada. Tumores ovarianos complexos ou níveis de CA-
125 elevados na pós-menopausa indicam realização imediata de cirurgia. EPIDEMIOLOGIA

No Brasil, esperam-se 6.650 casos novos de câncer de ovário, para o triênio


INDICAÇÕES DE ABORDAGEM CIRÚRGICA DOS TUMORES OVARIANOS 2020-2022. Esse valor corresponde a um risco estimado de 6,18 casos
NA PÓS-MENOPAUSA novos a cada 100 mil mulheres.

● Cistos maiores de 5 cm*, independentemente das características O câncer de ovário representa 3,6% dos tumores femininos. Ele é
ecográficas (*o tamanho não é consenso na literatura). responsável por uma alta letalidade, já que seu diagnóstico é realizado
tardiamente. Em cerca de 75% dos casos, a doença já se encontra em
● Mulheres na pós-menopausa com cisto sintomático.
estágios avançados no momento do diagnóstico. Apesar dos avanços
● Concentração sérica de CA-125 > 35 U/ml. diagnósticos e terapêuticos dos últimos 20 anos, o índice de mortalidade
permanece o mesmo.
● Ascite ou outros sinais clínicos suspeitos de doença metastática.

A Figura 11 resume a abordagem das massas ovarianas na pós-menopausa.


ETIOPATOGENIA

A etiologia dos tumores ovarianos permanece desconhecida, apesar de


várias teorias e de muitos estudos tentarem esclarecer as relações entre
causa e efeito. Acredita-se que a origem das neoplasias ovarianas esteja
relacionada a um conjunto de fatores, como os ambientais, os
reprodutivos, os alimentares, os infecciosos, à exposição a
agentes teratogênicos e às questões endócrinas e genéticas. A
rotina ovulatória (Figura 1), por meio de traumatismos repetidos no ovário,
foi apontada como causa de inclusões epiteliais. A transformação para
malignidade seria favorecida por esses fatores.

FIG. 11 MANEJO DOS TUMORES ANEXIAIS EM MULHERES NA PÓS-


MENOPAUSA.

DOENÇAS MALIGNAS DOS


OVÁRIOS
EPITÉLIO DA SUPERFÍCIE OVARIANA

Esse primeiro modelo baseia-se no ambiente pró-inflamatório causado


por eventos de ovulação, no padrão de expressão de cistos de
inclusão de ovário e nos biomarcadores compartilhados pelo epitélio
da superfície ovariana e crescimento maligno.

EPITÉLIO DAS FÍMBRIAS DA TUBA UTERINA

O modelo que sugere uma origem não ovariana baseia-se na descrição de


lesões de precursores tubários, na evidência genética de portadores de
mutação BRCA 1/2 e em estudos experimentais em animais.

A origem tubária do carcinoma seroso de ovário, a partir da porção


intraepitelial da tuba uterina, tem sido proposta. A implantação direta
de células do epitélio das fímbrias da tuba na superfície do
ovário, em áreas de epitélio roto pela ovulação, formaria cistos de
inclusão, com posterior transformação para carcinoma seroso de
baixo ou alto grau histológico.

Independentemente do sítio de origem, o câncer epitelial de ovário, o


câncer de tuba uterina e o câncer peritoneal primário têm como
característica típica a disseminação peritoneal precoce de metástases.

A inclusão do câncer tubário e do câncer peritoneal primário na


designação de câncer epitelial de ovário é geralmente aceita com base
nas muitas evidências que apontam para uma derivação comum do
epitélio mülleriano e carcinogênese semelhante dessas três neoplasias.

FATORES DE RISCO

O conhecimento dos fatores de risco (Quadro 1) é sempre um


tópico importante em questões das provas de residência. Então,
FIG. 1 Momento exato da ovulação.
tenha muita atenção na leitura do que vem a seguir...

Para fixar!!!
Alguns cânceres de ovário resultam da inativação do gene p53 e
mutações no revestimento das células epiteliais da tuba uterina,
QUADRO 1
das quais as células cancerosas são posteriormente depositadas nos
FATORES DE RISCO DO CÂNCER DE OVÁRIO
ovários e promovem a formação de câncer. Isso é especialmente
verdadeiro para o subconjunto de tumores epiteliais serosos de alto grau em
mulheres com mutações no BRCA.

Ainda não está claro se o epitélio da superfície ovariana pode contribuir


para esse processo ou se ele sofre alterações metaplásicas e dá origem
aos tumores epiteliais serosos de alto grau de forma independente.

Dois modelos teóricos são descritos para explicar a carcinogênese do câncer


de ovário. Um de origem no epitélio da superfície ovariana e outro
de origem tubária. Nenhum dos dois modelos, que serão descritos a
seguir, demonstrou clara superioridade sobre o outro.

ORIGEM DO CARCINOMA OVARIANO



Câncer ovariano isolado: na maioria das famílias que apresentam
● História familiar mãe, irmã ou filha com câncer específico de ovário, a relação genética
foi verificada no lócus BRCA 1 do cromossomo 17q21. Em
● Fatores genéticos
algumas situações, a relação genética foi encontrada no lócus BRCA 2
» Câncer ovariano isolado
do cromossomo 13q12. Apresenta risco aumentado em 3 a 4 vezes;
❯ Lócus BRCA 1 do cromossomo 17q21 ●
Síndrome de câncer de mama-ovário hereditária: é a relação
» Síndrome de câncer mama-ovário hereditária hereditária mais comum. Representa 85 a 95% de todos os casos de
❯ Lócus BRCA 1 do cromossomo 17q21 (maioria) câncer de ovário hereditário identificados. O maior risco da relação
hereditária está em mulheres com a incidência de dois ou mais casos de
❯ Lócus BRCA 2 do cromossomo 13q12
parentes de primeiro grau com câncer de ovário. Na maioria das famílias
» Síndrome de câncer ovário-cólon = síndrome de Lynch II que apresentam mãe, irmã ou filha com a síndrome de câncer mama-
ovário, a relação genética também foi verificada no lócus BRCA 1 do
❯ Autossômica dominante
cromossomo 17q21. Em algumas situações, a relação genética foi
● Idade (± 60 anos) encontrada no lócus BRCA 2 do cromossomo 13q12;
● Menarca precoce e menopausa tardia (controverso) ● Síndrome de câncer ovário-cólon (síndrome de Lynch II ou
● Nuliparidade câncer colorretal não polipoide hereditário): é uma doença
● Raça branca autossômica dominante que tem sido encontrada em pacientes com
câncer de ovário hereditário e em outros tipos de câncer, tais como:
● Uso de indutores da ovulação
endométrio, urogenital e outros sítios gastrointestinais primários. O
● Fatores ambientais (exposição ao asbesto é controversa) câncer colorretal é o principal representante desta síndrome, e o câncer
de endométrio é a segunda malignidade mais comum em mulheres
● Dieta rica em gordura saturada
afetadas. Segundo estudos recentes, as mulheres com este tipo de câncer
● Endometriose respondem por 1% dos cânceres ovarianos.
● Tabagismo
● Obesidade Idade

A incidência aumenta com a idade e é mais prevalente na sexta e


sétima décadas de vida. A idade média do diagnóstico é de 63
História Familiar anos. Mais de 70% das pacientes apresentam doença avançada ao
diagnóstico inicial.
É o fator de risco mais importante para o desenvolvimento do
câncer de ovário. A história familiar positiva eleva o risco em três a
Aproximadamente 30% dos tumores ovarianos na pós-menopausa são
quatro vezes, em caso de uma parente de primeiro grau (mãe, irmã ou filha)
malignos, enquanto apenas 7% dos tumores epiteliais ovarianos na pré-
acometida.
menopausa são francamente malignos.

Fatores Genéticos
Menarca Precoce e Menopausa Tardia
Na presença de síndromes hereditárias, o risco de desenvolver um câncer de
Embora seja um tema controverso na literatura, alguns livros consideram a
ovário pode chegar a 50% ao longo da vida. Identificam-se três padrões
menarca precoce e a menopausa tardia como fatores de risco para o câncer
distintos de hereditariedade:
de ovário.

Paridade

A doença apresenta maior incidência nas nulíparas. Há um aumento


de 30 a 60% do risco. E quanto maior a paridade, menor o risco de
câncer de ovário.

A idade do primeiro parto não está envolvida com o aumento do


risco de câncer ovariano.

Raça

É mais comum na raça branca do que na negra.

Uso de Indutores da Ovulação


Pacientes que são submetidas a protocolos de indução ou Laqueadura Tubária
estimulação ovariana controlada, seja com citrato de clomifeno ou
A laqueadura tubária reduz o risco de câncer de ovário epitelial em cerca de
gonadotrofinas, grupo em que estão inseridas as mulheres inférteis, 30%. Possíveis explicações seriam a diminuição do fluxo sanguíneo
apresentam um risco maior para o câncer de ovário. ovariano pela laqueadura e diminuição potencial da migração de fatores
carcinogênicos pela trompa até a cavidade peritoneal.
Fatores Ambientais

A incidência de tumores ovarianos varia entre países diferentes, o que Salpingo-ooforectomia Pro lática
sugere a influência destes fatores. Países industrializados, com exceção do Em geral, indicada para mulheres com mutação BRCA 1 e/ou BRCA
Japão, elevam em duas vezes o risco. A exposição ao asbesto/carbonato de
2.
cálcio (talco) na genitália externa tem sido referenciada como fator de risco.
No entanto, esta relação é controversa e apresenta resultados conflitantes na
literatura.
QUIMIOPREVENÇÃO E CIRURGIAS
REDUTORAS DE RISCO
Fatores Nutricionais
Em linhas gerais, os agentes quimiopreventivos devem estar
Dietas ricas em gordura saturada estão associadas à elevação em associados à baixa toxicidade e fácil administração. Devem também
1,5 vezes do risco de câncer de ovário. estar isentos de efeitos carcinogênicos de outros tumores, como o
câncer do cólon, do pulmão, entre outros.

Endometriose
Em relação às evidências atuais do potencial para prevenção do câncer de
O risco de transformação maligna de um endometrioma é estimado em ovário, os dados epidemiológicos apontam fortemente para um papel
2,5%. A endometriose pode ser encontrada em carcinoma ovariano protetor dos contraceptivos orais, como já mencionado.
mucinoso, seroso, endometrioide e de células claras em 1.4, 4.5, 19.0 e
35.9%, respectivamente.
Os resultados de revisões sistemáticas em relação ao uso de anti-
inflamatórios não esteroides foram inconsistentes e, até o momento, os
Tabagismo dados publicados são insuficientes para respaldar essa
indicação.
O tabagismo tem sido associado ao desenvolvimento de carcinoma
mucinoso, mas não ao do carcinoma seroso, mas as referências
A salpingo-ooforectomia redutora de risco em mulheres com
bibliográficas não explicam esta associação.
mutação BRCA 1 e/ou BRCA 2 pode reduzir o risco de câncer de
ovário, tuba uterina e peritônio em 71 a 96%, além da diminuição
Obesidade
de 50 a 68% no risco de câncer de mama. Existe risco residual
O índice de massa corporal maior ou igual a 30 kg/m² está para câncer peritoneal primário após esse procedimento nessas
associado a um pequeno, porém significante, risco de neoplasia maligna de mulheres com alto risco para câncer. O câncer ovariano oculto é,
ovário. ocasionalmente, encontrado após este procedimento, o que reforça a
necessidade da revisão histopatológica meticulosa das tubas uterinas e
ovários.
FATORES DE PROTEÇÃO
Devido à provável origem tubária do carcinoma seroso de ovário, mulheres
A malignidade ovariana surge de um processo anômalo de regeneração com prole definida e risco habitual para câncer de ovário são candidatas à
da superfície epitelial na ovulação. Assim, fatores que promovem salpingectomia redutora de risco no momento de cirurgias abdominais ou
inibição da função ovariana reduzem o risco de câncer de ovário. pélvicas.

Amamentação RASTREAMENTO

A inibição da função ovariana pela lactação reduz o risco de câncer de O objetivo do rastreamento para qualquer tipo de câncer é detectar
ovário em mulheres que teriam amamentado. precocemente a doença. No entanto, até o momento, não foi possível
comprovar os benefícios do rastreio no câncer de ovário.

Uso de Contraceptivos Orais


ENTÃO NÃO HÁ BENEFÍCIO EM DETECTAR PRECOCEMENTE
O uso de contraceptivos orais é um fator protetor à carcinogênese, ESSE CÂNCER?
reduzindo os riscos em aproximadamente 50%. Ele é o único modo de
quimioprevenção documentado para tumores ovarianos. O uso A princípio, todo câncer detectado de forma precoce é
de progesterona isoladamente também é associado a uma diminuição do potencialmente mais curável…
risco.
Em parte, a assertiva é correta. Contudo, até agora, na maioria dos estudos
Na população geral, o rastreamento por exame pélvico, CA-125 ou
realizados, não foi encontrada diferença significativa de diagnóstico da
outros marcadores tumorais, ultrassonografia transvaginal ou
doença em estádio inicial entre as pacientes submetidas ou não ao rastreio.
combinação de testes não reduz a mortalidade de câncer de ovário.
Assim, até o momento, não existem evidências que justifiquem o
Isso ocorre porque a sensibilidade dos métodos de rastreio é menor em emprego rotineiro desses testes para rastreamento do câncer de ovário.
pacientes com neoplasia de ovário em estágio inicial.

Além disso, o número de mortes por câncer de ovário não vem mostrando
POPULAÇÃO DE ALTO RISCO
diferença estatisticamente significativa na população geral submetida ao
rastreio. Dessa forma, o rastreamento não é recomendado para as pacientes
Nas populações consideradas de risco, mutações BRCA ou
sem alto risco de câncer de ovário.
portadoras da síndrome de Lynch ou com história familiar de câncer de
ovário, o rastreamento rotineiro também não é recomendado,
pois os procedimentos empregados, como dosagem sérica de CA-125 e a
EXAMES PARA RASTREAMENTO
ultrassonografia transvaginal, não diminuíram a taxa de mortalidade e nem
A utilidade da ultrassonografia e dos marcadores tumorais para aumentaram a taxa de sobrevida.
rastreamento do câncer epitelial ovariano ainda não está bem
definida.
DIAGNÓSTICO
A dopplerfluxometria colorida, para avaliar a vascularização dos vasos Devido à evolução insidiosa da doença, a maioria das pacientes, no
ovarianos, mostrou ser útil como método auxiliar da momento do diagnóstico, possui doença disseminada na cavidade
ultrassonografia para o diagnóstico de câncer de ovário, mas não peritoneal.
mostrou utilidade como método de rastreamento

O CA-125 pode ser útil para o diagnóstico precoce de câncer epitelial CLÍNICO
ovariano. Levando em consideração a sensibilidade deste teste diagnóstico,
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
o CA-125 é capaz de detectar 50-60% das pacientes com doença nos
estádios I e II. Os dados indicam que a especificidade do CA-125 é maior
Muito se diz sobre a falta de manifestação clínica inicial dos tumores
quando o teste é associado à ultrassonografia transvaginal ou quando os
ovarianos. Mas a verdade é que os sintomas clínicos iniciais não são
níveis são acompanhados com o tempo.
valorizados por médicos e pacientes, pois são vagos e inespecíficos.

Estes dados incentivaram o desenvolvimento de estudos de rastreio


Os primeiros sintomas sugerem a presença de doença em andar superior do
retrospectivos, que concluíram que os resultados falso-positivos para
abdome, com o aparecimento de sensação de plenitude gástrica,
CA-125 e ultrassonografia transvaginal e, consequentemente, o
saciedade precoce, dispepsia ou distensão abdominal e
custo-benefício destes testes, particularmente em mulheres na
constipação intestinal. Assim, as primeiras manifestações são
pré-menopausa, desestimula sua utilização rotineira para
atribuíveis ao tubo digestivo em até 70% dos casos.
rastreamento de câncer ovariano.
Ocasionalmente, pacientes nos estádios iniciais apresentam dor pélvica.

POPULAÇÃO DE RISCO HABITUAL Os sinais clínicos apresentam-se de forma variada e tipicamente incluem
massa ovariana palpável ao toque vaginal bimanual e/ou à
Na população não considerada de risco, apesar de não ser consenso, palpação do abdome. Mais raramente, ocorrem torções ou roturas
é aceitável após a menopausa: tumorais que acarretam sintomas agudos. Nos casos avançados, o quadro
típico é ilustrado por caquexia, ascite e abdome volumoso e dispneia

Exame pélvico anual; ocasionada pela restrição dos movimentos respiratórios ou derrame pleural.

Ultrassonografia transvaginal anual.

EXAME FÍSICO
Em caso de alterações nesses exames, está indicada investigação
complementar, que inclui: Características da massa ovariana identificadas ao toque e/ou à palpação
abdominal, como seu tamanho, seu contorno, seu grau de mobilidade ou

Dosagem de CA-125; aderência aos tecidos vizinhos, além da presença ou não de ascite, servem
para auxiliar o médico na conduta propedêutica.

Dopplerfluxometria colorida;

Laparoscopia diagnóstica → individualizar caso a caso para confirmar a O toque retal permite a avaliação do grau de aderência da massa aos
real indicação. ligamentos uterossacros, da presença de nodulações em fundo de saco de
Douglas e da irressecabilidade cirúrgica do tumor em casos avançados de
infiltração pélvica.
Outros achados incluem ascite, derrame pleural, massa umbilical (nódulo É o primeiro exame a ser solicitado na avaliação de massa
umbilical metastático), conhecida como nódulo umbilical metastático da anexial. Ela permite a definição das características morfológicas das
Irmã Maria José (Sister Mary Joseph's Nodule). Esses achados são massas ovarianas, úteis para estabelecimento do diagnóstico e conduta
inespecíficos e podem estar associados às neoplasias gástricas, pancreáticas, adequada.
da vesícula biliar e aos tumores intestinais.

CRITÉRIOS DE SASSONE
Não raramente, ocorre o comprometimento da doença fora do
abdome, sendo o local mais comum de acometimento o espaço pleural. Utilizando os critérios de Sassone, descritos na Tabela 1, obtém-se um
valor preditivo negativo em torno de 96% para neoplasia ovariana.

MEMORIZE

Os sintomas e sinais clínicos associados ao diagnóstico de tumores TAB. 1 CRITÉRIOS DE SASSONE (LINHA CLARA) E OUTROS
CRITÉRIOS AUXILIARES NO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
malignos de ovário.
DE MASSAS ANEXIAIS BENIGNAS E MALIGNAS (LINHA
ESCURA).

Sintomas Associados ao Diagnóstico de Tumores Malignos de Ovário


TUMORES POTENCI- TUMORES POTENCI-
ALMENTE BENIGNOS ALMENTE MALIGNOS
● Dor abdominal (leve a moderada).
Massa na menacme. Massa na pós-menopausa ou
● Sintomas “dispépticos”: empachamento – saciedade gástrica na pré-púbere.
precoce; distensão abdominal pós-prandial; diminuição do apetite;
vômitos após alimentação. Diâmetro menor que 8 cm. Diâmetro maior que 8 cm.
● Alteração do padrão do hábito intestinal: constipação ou diarreia;
Unilateral. Bilateral.
afilamento das fezes; alteração da consistência do material fecal.
● Sensação de inchaço em membros inferiores; sangramento vaginal; Cápsula na. Cápsula espessa.
dispneia.
Homogêneo (conteúdo Heterogêneo (conteúdo
anecoico). misto/necrose).
Sinais Clínicos Associados ao Diagnóstico de Tumores Malignos de
Unilobular. Multilobular.
Ovário

Incomum a presença de Muito comum a presença de


● Estado nutricional: emagrecimento; sinais de desnutrição. papilas intracísticas. papilas intracísticas.

● Edema de membros inferiores: uni ou bilateral; c ompressão d e v Septações delgadas. Septações espessas (> 3
asos r etroperitoneais na pelve dificultando o retorno venoso. mm).
● Aumento do volume abdominal: ascite; massas palpáveis (geralmente
Ausência de ascite. Presença de ascite (> 100 ml)
de consistência sólido-císticas e pouco móveis); linfonodomegalias
ou ascite hemorrágica.
inguinais.
● Exame do tórax: abafamento do murmúrio vesicular; chiados e sibilos Cápsula intacta. Cápsula rota.
durante o ciclo respiratório; linfonodomegalias axilares e
Superfície lisa. Irregularidades internas ou na
supraclaviculares.
superfície.
● Exame ginecológico:
Móvel. Aderente.
» Caracterização da massa (dimensões, mobilidade e consistência).

❯ Fundo de saco vaginal: nódulos palpáveis à escavação Rara a presença de papilas na Muito comum a presença de
retrouterina indicam carcinomatose peritoneal. superfície. papilas na superfície.

❯ Toque retal: compressões extrínsecas, integridade da mucosa e Ausência de implantes. Implantes peritoneais.
avaliação parametrial.
Incomum a presença de Comum a presença de
aderências. aderências.

DIAGNÓSTICO POR EXAMES Fluxo de alta resistência ao Fluxo de baixa resistência ao


COMPLEMENTARES Doppler. Doppler.

ULTRASSONOGRAFIA PÉLVICA Ausência de neovasculari‐ Presença de neovascula‐


zação ao Doppler. rização ao Doppler.
A ausência dessas alterações fornece garantia muito boa, em relação a não Convém lembrar que o corpo lúteo também tem fluxo de baixa resistência,
se estar diante de um tumor maligno ovariano ou tubário, mas a presença mas suas características ultrassonográficas são diferentes dos tumores
deles também não é indicativa de certeza de malignidade. malignos. Em termos ecográficos, são cistos de características variadas,
com conteúdo ecogênico e heterogêneo (na maioria das vezes), que reflete o
sangramento, formação do coágulo e retração do mesmo evolutivamente, o
CRITÉRIOS DE SUSPEIÇÃO DE MALIGNIDADE ATRAVÉS DA
que fisiologicamente acontece após a rotura folicular na ovulação. Observa-
ULTRASSONOGRAFIA
se à dopplerfluxometria colorida um anel periférico de vasos, com fluxo de
Inicialmente, é importante frisar que mesmo massas de aspecto benigno baixa resistência, RI menor que 0,40 e PI menor que 1,0.
podem representar neoplasias malignas. Dessa forma, na avaliação de uma
massa, deve-se levar em conta a história clínica, sintomas, presença de Geralmente, são unilaterais e variam de 5 a 11 mm.
fatores de risco e idade da paciente.

RESSONÂNCIA MAGNÉTICA (RM) E TOMOGRAFIA


ULTRASSONOGRAFIA: CRITÉRIOS DE SUSPEIÇÃO DE MALIGNIDADE COMPUTADORIZADA (TC) DO ABDOME E PELVE

São lesões sugestivas de malignidade à USG: Permitem a avaliação de toda a cavidade abdominal e, portanto, podem ser
utilizados para estimar a extensão e os locais de acometimento tumoral.

1. Cistos > 8 cm;


Dessa forma, são de grande auxílio no pré-operatório durante a
2. Cistos que apresentam septos espessos (> 3 mm), papilas,
programação da cirurgia de massas sugestivas de malignidade, mas não
espessamento da parede do cisto, nodularidades, multiloculações,
oferecem dados adicionais em relação à ultrassonografia na avaliação inicial
presença de componente sólido no seu interior (muito sugestivo);
das massas ovarianas.
3. Massas sólidas.
Vale ressaltar que estes instrumentos propedêuticos devem ser
criteriosamente utilizados, avaliando-se a disponibilidade, os custos e as
É importante ressaltar que a ultrassonografia é exame com elevada
limitações do método, sobretudo da TC de pelve. Do ponto de vista
sensibilidade, porém sua especificidade não é tão elevada, o que significa
diagnóstico, a RM de pelve deve ser indicada diante de achados
dizer que uma imagem sugestiva de malignidade em grande número de
ultrassonográficos duvidosos e/ou indeterminados.
casos não corresponderá a um câncer.

Comparada à TC e à PET-CT, a RM teve maior precisão na detecção de


DOPPLERFLUXOMETRIA estadiamento peritoneal, bem como alta precisão na identificação de
metástases à distância.
Avalia a velocidade do fluxo sanguíneo pelo tumor. Baseia-se no fato de que
os vasos neoformados, por estímulos angiogênicos, apresentam alterações
TOMOGRAFIA EMISSORA DE PÓSITRONS (PET-CT)
estruturais, logo, fluxo sanguíneo de alta velocidade e baixa resistência.
Deve ser utilizada quando possível, pois pode indicar vascularização nos
A PET-CT tem alto potencial para informar a operabilidade da doença,
septos, além da existência ou não de shunts arteriovenosos comuns nas
porém existem dados limitados para justificar seu uso de forma rotineira.
neoplasias malignas. Índices de resistência com valores inferiores a
0,4 e índices de pulsatilidade com valores inferiores a 1,0 podem
Em um estudo prospectivo em comparação à tomografia computadorizada,
sinalizar neovascularização.
a PET-CT foi significativamente melhor na detecção da extensão da doença,
com a presença de carcinomatose envolvendo as superfícies peritoneais
A associação da avaliação dopplerfluxométrica aos achados morfológicos subdiafragmáticas e do intestino delgado. Mas, em última análise, não se
ultrassonográficos eleva a predição negativa para próximo dos 98%, com correlacionou com a extensão da cirurgia necessária.
significativas variações, em virtude da experiência do examinador,
qualidade do aparelho empregado e alterações nas imagens características
dos tumores, dependendo da idade. RADIOGRAFIA DE TÓRAX OU TC DE TÓRAX

Deve ser usada na avaliação pré-operatória.


NÃO ESQUEÇA

Massa anexial com fluxo de baixa resistência à dopplerfluxometria


significa que não há dificuldade (resistência) ao fluxo sanguíneo naquela
massa, ou seja, que existe neovascularização e, portanto, lesão
provavelmente maligna.
IMPORTANTE Tumores epiteliais
CA-19-9
(micinosos)
● O diagnóstico nas fases iniciais (tumor confinado aos ovários)
frequentemente ocorre pela detecção de um tumor anexial CEA Tumores epiteliais
assintomático, durante o exame pélvico rotineiro.
Tumores de células de
● A solicitação de ultrassonografia de abdome total e pélvica pode fazer Testosterona
Sertoli-Leydig
a diferença no diagnóstico da doença em fase inicial, caracterizada
por pequeno aumento do volume anexial ou ascite pouco volumosa.
Tumores de células da
Na pós-menopausa é mandatória sua execução na presença desses Estradiol
granulosa
sintomas.
AFP: alfafetoproteína; BhCG: gonadotrofina coriônica humana; DHL: desidrogenase lática;
CEA: antígeno carcinoembrionário.
● O diagnóstico durante laparoscopias ou laparotomias por outras
indicações, sejam elas de ordem ginecológica ou não, não é
incomum. Em alguns casos, ocorre durante o tratamento cirúrgico de
tumores ovarianos supostamente benignos, sobretudo em pacientes
CA-125
jovens.
● A presença de massa pélvica sólida de qualquer tamanho, fixa, Esse biomarcador tumoral, que consiste em uma glicoproteína de alto peso
bilateral e de consistência heterogênea ao exame físico, é sugestiva molecular, tem sensibilidade entre 50 e 60% e especificidade de 90% em
de neoplasia maligna. Da mesma forma, ovários palpáveis em mulheres em estádios precoces da doença. Sua expressão é aumentada em
mulheres pós-menopáusicas devem ser avaliados, uma vez que, nesta 90% das vezes nas pacientes com câncer epitelial de ovário, sendo
faixa etária, espera-se que os ovários tenham seus tamanhos normalmente expresso em tecidos derivados de epitélios müllerianos e
diminuídos, dificultando sua palpação e, às vezes, sua visualização celômicos. Ele é o único biomarcador atualmente utilizado em tais
por ultrassonografia. pacientes. Entretanto, este marcador tem menos valor no diagnóstico de
tumores epiteliais do tipo mucinoso, nos quais os resultados falso-negativos
podem ultrapassar 20%.

ATENÇÃO
A utilização deste marcador atua na detecção precoce de câncer de ovário,
Às vezes, a ascite e o derrame pleural podem ocorrer na presença de uma vez que o aumento dos seus níveis pode preceder a detecção clínica em
doença benigna ovariana. A síndrome de Meigs corresponde a tumor mais de um ano. Todavia, como já antes mencionado, essa técnica ainda não
benigno de ovário (fibroma é o mais frequente) + ascite + derrame está bem estabelecida na prática, não existindo consenso internacional de
pleural. seu uso como exame de screening.

ATENÇÃO
MARCADORES TUMORAIS
Se os tumores epiteliais são os mais comuns e o CA-125 é o principal
São substâncias sintetizadas pelo tumor ou a ele associadas, identificáveis marcador destes tumores, toda vez que eu encontrar uma massa anexial,
nos fluidos corpóreos. Podem ser solicitados e devem ser interpretados a dosagem deste marcador deve ser solicitada!
conforme suas particularidades, discutidas a seguir. A Tabela 2 resume a
associação entre os marcadores e histologia tumoral.

CEA

TAB. 2 MARCADORES SÉRICOS DOS TUMORES OVARIANOS. O antígeno carcinoembriônico pode estar aumentado em tumores epiteliais,
sobretudo nos tumores mucinosos. Contudo, é outro marcador altamente
MARCADOR TUMOR inespecífico, que pode estar elevado em vários outros cânceres e diversas
condições benignas.
Teratoma imaturo

Tumores de células de
AFP
Sertoli-Leydig BETA-HCG

Tumor de saco vitelínico Os coriocarcinomas acompanham-se de níveis elevados deste marcador.

Disgerminoma
BhCG ALFAFETOPROTEÍNA
Coriocarcinoma
O teratoma imaturo, o tumor de saco vitelínico e os tumores de células de
Disgerminoma
DHL Sertoli-Leydig podem apresentar níveis elevados destes marcadores.
Teratoma imaturo
Outras fontes advogam que os tumores do seio endodérmico e os mistos das
CA-125 Tumores epiteliais células germinativas também podem cursar com níveis elevados.
CA-19-9 ● Teratoma;

O CA-19-9 é um antígeno carboidrato de superfície celular, sendo também


● Struma ovarii;

conhecido como antígeno de Lewis. É um marcador específico para tumores ● Disgerminoma;


mucinosos. Possui maior sensibilidade do que o CA-125 para os
● Carcinoma embrionário;
cistoadenocarcinomas mucinosos, com especificidade de 80%. Tem baixa
sensibilidade para os tumores não mucinosos. É considerado positivo acima ● Tumor de seio endodérmico;
de 40 U/ml. ● Coriocarcinoma;
● Gonadoblastoma.
ESTRADIOL
Tumores derivados do estroma gonadal e cordões sexuais:
É um marcador dos tumores das células da granulosa.
● Tumor de células da granulosa;
● Tecoma;
TESTOSTERONA ● Arrenoblastoma;
É um marcador do tumor de células de Sertoli-Leydig. ● Fibroma;
● Tumor de células de Sertoli;

CLASSIFICAÇÃO HISTOPATOLÓGICA ● Tumor de células de Leydig;

VIDEO_17_GIN4 ● Ginandroblastoma.
As neoplasias malignas dos ovários são classificadas de acordo com a
linhagem das células de origem.
Este assunto é adorado em concursos pelo grande número de
Os tumores primários podem ser classificados em três categorias: neoplasias tipos histológicos. Classicamente, o câncer de ovário é dividido
epiteliais; neoplasias germinativas; neoplasias do estroma e cordões sexuais. quanto ao tecido que ele reproduz. Assim, essas neoplasias são
divididas em câncer epitelial, tumor de células germinativas e

Devido à diversidade dos subtipos de cânceres dos ovários, existem tumores dos cordões sexuais e estroma gonadal (Figura 2).

diferenças importantes na carcinogênese, nas manifestações, no tratamento


e prognóstico.

A maioria dos cânceres ovarianos é de origem epitelial (65 a 70%). A


Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) define a
classificação histopatológica dos tumores ovarianos baseada na histogênese.

CLASSIFICAÇÃO DOS TUMORES OVARIANOS

Tumores epiteliais:

● Cistoadenocarcinoma seroso;
FIG. 2 Classificação do tumor de ovário quanto ao tecido que ele reproduz.
● Cistoadenocarcinoma mucinoso;
● Cistoadenocarcinoma endometrioide;
● Tumor de células claras;
● Tumor seroso papilífero;
TUMORES EPITELIAIS
● Tumor de Brenner;
● Tumor de células transicionais. Os adenocarcinomas, é bom que se diga, respondem por 80-
90% dos tumores malignos ovarianos.
Tumores germinativos:
Dos cânceres epiteliais, o tipo histológico seroso é o mais frequente e
representa 42% dos casos. Os tipos menos comuns incluem o carcinoma
mucinoso (12%), endometrioide (15%), de células claras (6%), de Brenner e
indiferenciado (17%).
Os tumores epiteliais derivam da transformação maligna do epitélio São tumores císticos com cavidades revestidas por epitélio secretor
da superfície ovariana (celômico), o qual é contíguo com o mesotélio de mucina. As células epiteliais de revestimento contêm mucina
peritoneal. O epitélio celômico reveste as depressões formadas pela rotura intracitoplasmática e se assemelham às da endocérvice, do piloro gástrico
folicular a cada ovulação. Com o processo de regeneração, esse epitélio ou do intestino. Correspondem a 12% dos tumores epiteliais. É o
pode se diferenciar em epitélio tubário, dando origem aos tumores tumor ovariano que atinge as maiores dimensões (até um metro
serosos; epitélio endometrial, dando origem aos tumores de diâmetro), podendo ocupar toda a cavidade abdominal.
endometrioides; epitélio endocervical ou colônico (intestinal) ou do
piloro gástrico originando os tumores mucinosos; epitélio endometrial O tumor mucinoso de baixo potencial maligno ou limítrofe normalmente é
durante a gestação, originando os tumores de células claras e em de diagnóstico difícil. Comumente, o epitélio mucinoso bem diferenciado
epitélio urotelial, originando os tumores de Brenner. Além disso, uma pode ser encontrado adjacente a um foco pouco diferenciado. Por esta razão,
parcela desses tumores não se diferencia, que obviamente dá origem aos é importante fazer muitos cortes de várias áreas no tumor mucinoso para
indiferenciados. identificar a alteração mais maligna.

Em relação aos carcinomas mucinosos malignos, a bilateralidade é


TUMORES SEROSOS encontrada em 8 a 10% dos casos. Como a maioria dos carcinomas
mucinosos ovarianos possuem células do tipo intestinal, não é possível
Surgem por invaginação do epitélio superficial do ovário. São assim
distingui-los do carcinoma metastático do trato gastrointestinal apenas com
denominados porque secretam líquido seroso, como as células secretoras base na histologia. As neoplasias primárias do ovário raramente
tubárias. Frequentemente, estas invaginações associam-se a focos de metastatizam para a mucosa do intestino, embora seja comum o
material estranho, denominados corpos de Psammoma ou comprometimento da serosa. Já as lesões gastrointestinais costumam incluir
psamomatosos. Esses corpos podem corresponder a agentes irritativos o ovário por extensão direta de disseminação vascular linfática.
que produzem aderências e o aprisionamento dos epitélios de superfície. Em
80% dos carcinomas serosos, apresentam-se como áreas de granulação Relembrando: os tumores, principalmente gastrointestinais, que
calcificada fina, dispersos no tumor e que podem ser visíveis à metastatizam para os ovários recebem os nome de “tumores de
radiografia, as quais também podem ser observadas na variante benigna. Krukenberg”. Mais detalhes serão encontrados adiante.

Classificam-se em três subtipos histológicos: O epitélio neoplásico pode secretar grandes quantidades de material
mucoide ou gelatinoso, levando à rotura da cápsula ovariana e

Benignos: o cistoadenoma seroso é um dos tumores benignos mais extravasamento do conteúdo para a pelve e cavidade abdominal. O
frequentes e pode malignizar; pseudomixoma peritoneal é o termo clínico usado para descrever a
presença deste material circundado por tecido fibroso. Este fenômeno causa

Limítrofes: representam aproximadamente 10% dos tumores serosos
uma extensa adesão das alças intestinais, podendo resultar em obstrução
ovarianos, e 50% deles incidem antes dos 40 anos de idade;
intestinal. Esta complicação é um importante indicador de malignidade,

Malignos: nesses tumores, há invasão do estroma. Os uma vez que não é observada com frequência em tumores mucinosos
cistoadenocarcinomas são os tumores malignos mais benignos. Pode também ser secundário a um carcinoma do apêndice
comuns (75%), com faixa etária mais alta. São bilaterais em bem diferenciado (adenocarcinoma apendicular) ou a outro câncer
aproximadamente 35% dos casos e, geralmente, não ultrapassam 25 cm gastrointestinal primário e raramente a uma mucocele do apêndice.
de diâmetro.

Nos cistoadenocarcinomas serosos bem diferenciados, há Apresenta frequentemente elevação de CEA e resposta parcial à
predomínio de estruturas papilares e glandulares. Os indiferenciados quimioterapia.
caracterizam-se por lâminas sólidas de células, pleomorfismo nuclear e
elevada atividade mitótica. O cistoadenocarcinoma seroso papilífero alto
TUMORES ENDOMETRIOIDES
grau é um dos tumores epiteliais de pior prognóstico, e possui importante
associação com carcinomas infiltrantes.
Os carcinomas endometrioides representam 15% dos tumores epiteliais.
Eles têm associação com endometriose em 10 a 20% dos casos. O potencial
maligno da endometriose é muito baixo, embora seja possível uma transição
É necessário um corte por congelamento para distinguir entre tumores
serosos benignos, limítrofes e malignos, porque o exame macroscópico do epitélio benigno para o maligno.

isolado não consegue fazer essa distinção.


O tumor limítrofe possui amplo espectro morfológico. Pode se assemelhar a
um pólipo endometrial ou à hiperplasia endometrial complexa. Quando há
glândulas em fileira dupla sem estroma interposto, classifica-se o tumor
TUMORES MUCINOSOS
como endometrioide diferenciado. Quando os tumores limítrofes têm um
componente fibromatoso, denominam-se adenofibromas.
Os carcinomas endometrioides malignos do ovário caracterizam-se por um O sintoma inicial em pacientes com tumores das células germinativas
padrão adenomatoso com todas as possíveis variações de epitélios maligno costuma ser a dor abdominal aguda. Dor abdominal crônica,
encontrados no útero. Geralmente, estão associados a lesões malignas no massa pélvica assintomática, sangramento vaginal anormal e distensão
endométrio (carcinoma de endométrio) em 10 a 15% dos casos. A abdominal são outros sintomas que podem ser encontrados.
identificação da doença multifocal é importante, pois a sobrevida em cinco
anos das pacientes com metástase do útero para o ovário é de 30 a 40%.
Os tumores de células germinativas são frequentemente associados a
Naquelas com doença multifocal sincrônica, ou seja, doença nos ovários e
atividades hormonais ou enzimáticas, e os marcadores séricos são a
no endométrio, a sobrevida em cinco anos é de 75 a 80%. Se o aspecto
Alfafetoproteína (AFP), a gonadotrofina coriônica humana (hCG) e a
histológico dos tumores endometriais e ovarianos é diferente, é provável
desidrogenase láctica (LDH).
que os dois representem duas lesões primárias distintas. Se forem
semelhantes, o tumor endometrial deve ser considerado um tumor primário
distinto, caso seja superficialmente invasivo e bem diferenciado. DISGERMINOMA

É o tumor mais comum de células germinativas malignas


TUMORES DE CÉLULAS CLARAS
(Figura 3) e responde de 30 a 40% de todos os cânceres ovarianos com
origem nas células germinativas.
O carcinoma de células claras representa 6% dos tumores malignos
ovarianos.

Ele se caracteriza por diversos padrões histológicos básicos, a saber:


tubulocístico, papilar, reticular e sólido. Os tumores são constituídos por
células claras e células em cabeça de prego que projetam seus
núcleos para o citoplasma apical. Algumas vezes são encontradas áreas
focais de endometriose e carcinoma endometrioide. O carcinoma de células
claras do ovário é histologicamente idêntico ao tecido presente em útero e
vagina de mulheres expostas intraútero ao dietilestilbestrol.

O carcinoma maligno de células claras é o de pior prognóstico


entre os epiteliais, pois produz metástases precoces. Coexistem
frequentemente com outros tipos celulares e apresentam como FIG. 3 Disgerminoma.

manifestações clinicolaboratoriais hipercalcemia e hiperpirexia,


normalmente associadas à doença metastática. Como anteriormente
mencionado, este tipo histológico é extremamente agressivo e, quando a
O disgerminoma representa apenas 1 a 2% das neoplasias primárias de
doença é ainda limitada aos ovários, apenas metade das pacientes apresenta
ovário.
sobrevida em cinco anos.

Podem ocorrer em qualquer idade, mas muitos casos ocorrem na


TUMOR DE BRENNER adolescência e no início da fase adulta. Como esta neoplasia incide em
pacientes jovens, o disgerminoma é a malignidade ovariana mais
Raramente, sofre transformação maligna. Trata-se de um tumor sólido que comum observada na gravidez.
contém epitélio transicional. Quando acompanhado de ascite e derrame
pleural, constitui a síndrome de Meigs.
É um tumor de crescimento rápido, geralmente unilateral (85% dos
casos), podendo causar sintomas compressivos e quadro de
abdome agudo em decorrência de sua rotura ou torção do pedículo
TUMORES DE CÉLULAS GERMINATIVAS
vascular. O sintoma inicial mais comum é um aumento do volume
Essa classe de tumores é rara e responde por 1 a 2% de todas as abdominal e a presença de uma massa no abdome inferior.
malignidades ovarianas.

São encontrados em ambos os sexos e podem surgir em sítios


Nas duas primeiras décadas de vida, aproximadamente 70% dos tumores gonadais ou extragonadais. Em 5% dos casos são encontrados em
ovarianos são de origem germinativa. Portanto, ocorrem principalmente em mulheres com alterações gonadais, como a disgenesia gonadal pura
mulheres jovens e crianças. (46, XY) ou mista (45, X; 46, XY) e a síndrome da insensibilidade
completa aos androgênios (síndrome de Morris; 46, XY). Nesses
O tipo histológico maligno mais comum é o disgerminoma, casos, o disgerminoma se desenvolve frequentemente em um
seguido pelo teratoma imaturo e pelo tumor do seio gonadoblastoma preexistente. Por essa razão, pacientes na pré-menarca com
endodérmico. Entre os tumores benignos, como já foi visto, o mais massa pélvica devem ser submetidas à determinação do cariótipo.
comum é o teratoma maduro ou cisto dermoide.
Raramente, este tumor secreta marcadores tumorais, o que é mais comum
quando a histologia é mista. Pode se associar à elevação da Lactato
Desidrogenase (LDH) ou do hCG, quando contém células
sinciotrofoblásticas gigantes produtoras de gonadotrofinas.

Na análise histopatológica, observa-se a presença de células


gigantes multinucleadas e nucléolos proeminentes. O estroma
quase sempre é infiltrado por linfócitos e, frequentemente, contém
granulomas semelhantes aos encontrados na sarcoidose.

Na maioria dos casos, aproximadamente 70% das vezes, o disgerminoma é


diagnosticado no estádio I. Aproximadamente 85 a 90% dos tumores em
estádio I são limitados a um ovário (estádio Ia) e 10 a 20% são
bilaterais. Esse tumor germinativo é o único maligno que possui
FIG. 4 Teratoma imaturo.
essa taxa significativa de bilateralidade. Outros tumores de células
germinativas são raramente bilaterais.

Os disgerminomas caracterizam-se por sua predileção pela Enquanto os teratomas maduros possuem tecidos bem diferenciados
disseminação linfática (particularmente para linfonodos para-aórticos (dentes, cabelos e pele), cujo crescimento celular é, de certa forma, mais
altos) e sua sensibilidade à quimioterapia e radioterapia. Seu lento e controlado, os teratomas imaturos apresentam tecidos
tratamento é basicamente cirúrgico e consiste na exérese da lesão primária e embrionários e fetais pouco diferenciados, nos quais pode haver mais
estadiamento cirúrgico apropriado. facilmente um crescimento descontrolado.

Como o tumor acomete principalmente meninas e jovens, deve-se Os marcadores tumorais são negativos, exceto quando há tumor de células
considerar a preservação da fertilidade e o emprego de germinativas misto.
quimioterapia, de acordo com a necessidade. Naquelas em que a
salpingo-ooforectomia unilateral foi realizada, uma cuidadosa Os teratomas imaturos são classificados de acordo com um
inspeção do ovário contralateral e uma exploração minuciosa são sistema de graduação, variando de 1 a 3, que se baseia no grau de
mandatórias para descartar doença disseminada. Em caso de ovário diferenciação e na quantidade de tecido imaturo. A determinação da
contralateral com tamanho, forma e consistência normais, pode-se deixá-lo quantidade de tecido indiferenciado tem importância para o prognóstico.
in situ, assim como a tuba e o útero. Um tumor grau 1 é aquele no qual há elementos imaturos em menos que
um Campo microscópio de Pequeno Aumento (CPA); o tumor grau 2
O tratamento conservador sem radioterapia ou quimioterapia possui um a três CPA com elementos imaturos; e um tumor grau 3 tem
adjuvante no estádio Ia se associa a um excelente prognóstico, mais de três CPA com esses elementos. Quanto maior o grau, pior o
sobrevida em torno de 90%. prognóstico.

Nas pacientes na pré-menopausa com lesões aparentemente limitadas a um


TERATOMA IMATURO OU TERATOMA MALIGNO OU ovário, está indicada ooforectomia unilateral e estadiamento cirúrgico. O
TERATOBLASTOMA OU TERATOMA EMBRIONÁRIO
envolvimento contralateral é raro neste tumor. O local mais comum de
disseminação é o peritônio. Pacientes com estágio Ia grau 1 possuem
Representa o segundo tipo mais comum de neoplasia maligna
prognóstico excelente e não requerem quimioterapia adjuvante. Nas
das células germinativas, embora represente menos de 1% de todos os
pacientes com tumores estádio Ia, grau 2 ou 3, a quimioterapia adjuvante se
cânceres de ovário. Distingue-se dos seus correspondentes benignos
impõe.
(teratoma maduro) na medida em que seus componentes tissulares se
assemelham àqueles observados no embrião e no feto, e não no adulto.
É possível haver elementos teratomatosos imaturos associados a outros
tumores de células germinativas, como tumores de células germinativas
O teratoma imaturo puro do ovário (Figura 4) é observado mais
mistas. A presença de focos de tumor de seio endodérmico em meio ao
frequentemente em mulheres jovens, com maior frequência nas duas
teratoma imaturo geralmente reflete o componente mais agressivo e de pior
primeiras décadas. Aproximadamente 50% deles ocorrem entre 10 e 20
prognóstico.
anos de idade. Ele representa 10 a 20% de todas as neoplasias malignas
observadas em mulheres com menos de 20 anos de idade, e 30% das mortes
A radioterapia não é opção de tratamento primário em pacientes com
por câncer nesta faixa etária. Raramente, incide em mulheres na pós-
teratoma imaturo. E mais, não há evidências de que sua associação com a
menopausa. Normalmente, é unilateral.
quimioterapia se associe à maior taxa de controle da doença, em relação à
quimioterapia isolada.
A taxa de sobrevida em cinco anos em mulheres em todos os estádios de É também um tumor muito agressivo e raro. Incide em mulheres com
teratomas imaturos puros é de 70 a 80%, e de 90 a 95% nas pacientes com menos de 20 anos.
estádio I determinado cirurgicamente.
Sua estrutura histológica é semelhante à do coriocarcinoma
gestacional metastático para os ovários. Dessa forma, secreta
TUMOR DO SEIO ENDODÉRMICO OU CARCINOMAS DO SACO
VITELINO OU CARCINOMAS DO YOLK SAC grandes quantidades de hCG. Este marcador é útil na monitorização da
resposta da paciente ao tratamento. Em 50% das pacientes com altos níveis
São neoplasias derivadas do saco vitelínico primitivo. Por esta razão, são de hCG, cujas lesões surgiram antes da menarca, foi constatada precocidade
também chamados de tumores do saco vitelínico ou carcinomas do yolk isossexual. Esse tumor frequentemente secreta também Alfafetoproteína
sac. Estão em terceiro lugar em ordem de frequência entre as (AFP).
neoplasias malignas das células germinativas. Ocorrem mais
comumente em mulheres jovens, com idade média de 16 a 18 anos. Um O prognóstico é sombrio, de forma que a maioria das pacientes já apresenta
terço das pacientes encontram-se na pré-menarca no momento do metástases viscerais no momento do diagnóstico.
diagnóstico.
Foi observada resposta completa ao tratamento com quimioterápicos
Histologicamente, o achado característico é o de estruturas papilíferas empregados na doença trofoblástica gestacional (esquema metotrexato,
conhecidas como corpúsculo de Schiller-Duval em que o espaço cístico actinomicina D e ciclofosfamida).
é revestido por uma camada de endotélio achatado ou irregular do qual se
projeta um tufo semelhante a um glomérulo, que tem núcleo vascular.
GONADOBLASTOMAS

Produzem alfafetoproteína, cujos níveis apresentam uma boa correlação


É um tumor constituído por elementos germinativos e
com a extensão da neoplasia. São 100% unilaterais e apresentam o pior
elementos do cordão sexual. Logo, é um tumor misto, geralmente
prognóstico entre os tumores germinativos. A biópsia do ovário representado pelo disgerminoma e elementos das células da granulosa e de
contralateral é contraindicada pela unilateralidade da lesão. Sertoli.

Recomenda-se que todas as pacientes recebam quimioterapia adjuvante


A Tabela 3 resume os marcadores tumorais dos tumores de
ao tratamento cirúrgico. Este consiste na salpingo-ooforectomia células germinativas.
unilateral e biópsia de congelação para o diagnóstico.

A realização da histerectomia e da anexectomia contralateral não altera a


sobrevida. Qualquer metástase deve ser removida, mas o estadiamento
cirúrgico minucioso não é necessário, pois todas as pacientes se beneficiam
da quimioterapia.

CARCINOMA EMBRIONÁRIO

É um tumor bastante raro e extremamente agressivo que incide em


pacientes muito jovens, com idade média de 14 anos. Pode secretar
estrogênios e levar a um quadro de pseudopuberdade precoce e
hemorragia genital irregular. Os tumores tendem a ser grandes e são
unilaterais em 2/3 dos casos.

Eles diferem do coriocarcinoma ovariano, pois não possuem células


sinciciotrofoblásticas e citotrofoblásticas.

Caracteristicamente, estes tumores secretam alfafetoproteína e hCG, que


são importantes marcadores para determinação da extensão da doença e da
resposta ao tratamento.

O tratamento dos carcinomas embrionários consiste na salpingo-


ooforectomia unilateral seguida de quimioterapia.

TUMORES DE CÉLULAS DOS CORDÕES


CORIOCARCINOMA NÃO GESTACIONAL PURO DO OVÁRIO
SEXUAIS/ESTROMA GONADAL
Representam 5 a 8 % de todos os tumores malignos ovarianos. Derivam do Em menores proporções que os fibromas, o tumor de Krukenberg e o
estroma, que é constituído a partir do cordão sexual da gônada embrionária. tumor de Brenner podem cursar com a síndrome de Meigs.
Devido ao fato do mesênquima gonadal indiferenciado poder dar origem
tanto a células femininas (granulosa e teca) quanto a masculinas (Sertoli-
Leydig), os tumores estromais ovarianos podem conter todos estes tipos TUMORES DE SERTOLI-LEYDIG
celulares. São benignos ou de baixo grau de malignidade e podem ser
produtores de hormônios. ANDROBLASTOMA/ARRENOBLASTOMA

São tumores malignos de baixo grau extremamente raros, representando


0,2% dos tumores ovarianos.
TUMORES DA TECAGRANULOSA

São tumores, em geral, malignos de baixo grau e podem ser encontrados em Em geral, são unilaterais e incidem com maior frequência entre os 20 e 40
qualquer faixa etária. Em 2/3 dos casos apresentam-se em mulheres após a anos de idade.
menopausa. São bilaterais em somente 2% dos casos, variam de poucos
milímetros até 20 cm de diâmetro. Possuem superfície lisa e lobulada. As Possuem como principal característica a produção de androgênios, o que
porções sólidas são granulares e frequentemente trabeculadas. causa virilização em mais de 70% das mulheres acometidas. Os níveis
plasmáticos de androstenediona e testosterona encontram-se elevados
São compostos quase totalmente por células da granulosa ou por uma enquanto os de sulfato de di-hidroepiandrosterona estão normais ou apenas
mistura de células da granulosa e da teca. As células da granulosa, em levemente elevados, sinalizando a origem ovariana e não adrenal do excesso
alguns casos, tendem a se dispor em pequenos grupos ao redor de uma de androgênios.
cavidade central que se torna rica em um material acidófilo, fazendo com
que a lesão se assemelhe a um folículo primordial – o corpúsculo de A salpingo-ooforectomia unilateral com avaliação cuidadosa do
Call-Exner. ovário contralateral é o tratamento de escolha.

Os tumores da tecagranulosa possuem importância clínica não só pelo fato


GINANDROBLASTOMAS
de serem neoplasias malignas (mesmo que de baixo grau), mas também por
terem capacidade de secretar grandes quantidades de estrogênio, o que leva São tumores benignos raros associados com a produção de androgênios e
a uma série de consequências clínicas. estrogênios, podendo causar tanto virilização como produção excessiva de
estrógenos. Raramente sofrem transformação maligna. O tratamento
Em meninas jovens, destacam-se o surgimento de pseudopuberdade recomendado é a salpingo-ooforectomia unilateral.
precoce. Em mulheres adultas, ressaltamos o aumento do risco de
hiperplasia endometrial, doença cística da mama e câncer de
endométrio. TUMORES METASTÁTICOS

O enfoque dos tumores metastáticos será direcionado para o mais “cobrado”


A salpingo-ooforectomia unilateral com avaliação minuciosa do ovário em provas.
contralateral é o tratamento de escolha.

TUMOR DE KRUKENBERG
TECOMAS E FIBROMAS
Responde por 30-40% dos cânceres metastáticos para os ovários e podem
Raramente os tecomas e fibromas têm características de malignidade. São ser responsáveis por aproximadamente 2% dos cânceres ovarianos.
tumores sólidos, geralmente unilaterais e ocorrem geralmente na
perimenopausa.
É frequentemente bilateral (80%), cresce no estroma ovariano e possui as
características células em anel de sinete, com produção de mucina
Os tecomas frequentemente produzem estrógenos, enquanto os fibromas intracelular e infiltração sarcomatosa difusa do estroma ovariano
não apresentam atividade hormonal. Curam-se pela remoção cirúrgica (Figura 5).
(salpingo-ooforectomia unilateral).

Os fibromas são os tumores do cordão sexual mais comuns. São tipicamente


benignos, mas, recentemente, fibromas celulares foram descritos e são
considerados de baixo potencial de malignidade.

Contrariamente, fibrossarcomas são raros, mas são considerados tumores


extremamente agressivos. O comportamento desses tumores se correlaciona
com a atividade mitótica e com o grau de anaplasia.

Ascite está presente em 10 a 15% dos casos e hidrotórax em 1%, este último
caracterizando a síndrome de Meigs. A síndrome se resolve completamente
ao se retirar o tumor.
É comum, mas acontece mais tardiamente. Tal disseminação segue o
ligamento infundíbulo pélvico para comprometer os linfonodos para-
aórticos e ao redor da veia cava. Cerca de 10% dos pacientes que se
apresentam com tumores localizados possuem metástases para linfonodos
para-aórticos. A disseminação linfática também pode seguir através do
ligamento largo e canais parametriais atingindo os linfonodos pélvicos,
abrangendo a cadeia obturadora e as cadeias ilíacas interna e externa. A
drenagem linfática pelo ligamento redondo é menos comum, mas, quando
acontece, envolve os linfonodos inguinais.

Hematogênica

É rara e, geralmente, ocorre em estágios avançados da doença.

NÃO ESQUEÇA

1. O sítio mais habitual de metástases à distância é o fígado, seguido


pelas metástases pulmonares e cerebrais.

2. Se o câncer de ovário pode se propagar por todas estas vias, o


FIG. 5 Tumor de Krukenberg.
tratamento deverá incluir avaliação rigorosa da cavidade abdominal
e superfície peritoneal; retirada dos ovários, trompas e útero;
avaliação e biópsia de linfonodos pélvicos e para-aórticos e rastreio
O tumor primário está mais frequentemente localizado no de metástases à distância. Este conceito já está sendo antecipado,
estômago, embora também possa ser proveniente do cólon, da mama ou pois faz parte dos princípios do estadiamento do câncer de ovário,
das vias biliares. Em alguns casos, nunca é encontrado um tumor primário. que serão oportunamente esmiuçados adiante.

O prognóstico é reservado, pois geralmente a doença só é descoberta


quando a doença primária é avançada. ESTADIAMENTO
O estadiamento do câncer de ovário é de grande valia para o
VIAS DE DISSEMINAÇÃO prognóstico e o tratamento da doença.

A propagação do câncer de ovário pode ocorrer basicamente de


quatro formas, sendo uma delas bem rara. CONCEITOS INICIAIS

TUMORES COM SUSPEITA DE MALIGNIDADE


Transcelômica

O modo mais comum e mais precoce da disseminação é por esfoliação das Nos casos duvidosos, o emprego da laparoscopia auxilia o estabelecimento
células do ovário que se implantam na cavidade peritoneal. As células do diagnóstico preciso e a escolha da melhor opção terapêutica. A
malignas esfoliativas propagam-se pela cavidade peritoneal através do fluxo identificação das características macroscópicas dos tumores e,
de líquido peritoneal desencadeado pelos movimentos respiratórios, eventualmente, o seu emprego para coleta de material deles (líquido
movimentos peristálticos e movimentação da própria paciente, originando intracístico e fragmentos da cápsula) confirma a vocação diagnóstica da via
implantes peritoneais. laparoscópica.

Continuidade ou Extensão Direta Achados Intraoperatórios Sugestivos de Malignidade

O comprometimento capsular do tumor facilita a disseminação direta pela ●


Implantes peritoneais.
vizinhança, ou seja, pelas trompas, útero, ovário contralateral e peritônio ●
Áreas de hemorragia e necrose.
pélvico.

Aderências a outros órgãos.

Ascite.
Linfática

Rotura da cápsula.

Excrescências na cápsula.

Áreas sólidas.

Bilateralidade.
TUMORES COM CARACTERÍSTICAS NEOPLÁSICAS MALIGNAS Profilaxia de Fenômenos Tromboembólicos

Tumores com características malignas devem ser abordados cirurgicamente, Uso de meias elásticas e/ou de equipamento para compressão pneumática
com rigorosa avaliação pré-operatória. Os seguintes exames devem ser durante a cirurgia.
realizados em busca de metástases: citologia cervical e endometrial, exames
bioquímicos e hematológicos, ultrassonografia total abdominal, radiografia Considerar profilaxias medicamentosas (anticoagulante) no pós-operatório e
de tórax, dosagem de CA-125 e colonoscopia (na suspeita de invasão
durante o período de convalescença por 21 dias.
intestinal). Nos casos de tumores disseminados com malignidade
confirmada, a melhor opção é a laparotomia, já que o resultado
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do tratamento laparoscópico do câncer ovariano avançado ainda
não está bem estabelecido.
ABORDAGEM CIRÚRGICA

CIRURGIA DE ESTADIAMENTO

LAPAROTOMIA × LAPAROSCOPIA NO CÂNCER DE OVÁRIO

De acordo com as Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas de Neoplasia


Maligna Epitelial de Ovário do Ministério da Saúde (2019), o uso da
laparoscopia tem sido indicado como a melhor modalidade para
avaliar a distribuição do tumor e prever a ressecção cirúrgica
para atingir o objetivo de citorredução ótima.

Estudos mostram que o estadiamento laparoscópico é seguro e


fornece uma avaliação mais confiável da extensão da carga tumoral. Alguns
centros demonstraram validade externa utilizando a avaliação laparoscópica
da distribuição tumoral para esse fim. Além disso, um estudo randomizado
demonstrou que a avaliação laparoscópica era de valor aditivo para prever o
desfecho de cirurgias citorredutoras e evitar, assim, laparotomias fúteis.
Todo o material obtido por punção ou biópsia deve ser submetido a exame
cito ou histopatológico.

Convém salientar, no entanto, que algumas fontes bibliográficas


ainda consideram a laparotomia como padrão-ouro no
tratamento cirúrgico do câncer de ovário.

PRINCÍPIOS GERAIS DO ESTADIAMENTO CIRÚRGICO DO


CÂNCER DE OVÁRIO

Antes de sedimentá-los, vale relembrar dois aspectos


importantes…

PONTOS FUNDAMENTAIS

1. O estadiamento de todos os cânceres ginecológicos é cirúrgico,


exceto o estadiamento da neoplasia de colo uterino.

2. A doença é estadiada e tratada ao mesmo tempo! Ou seja, o


estadiamento cirúrgico já é terapêutico.

RECOMENDAÇÕES PARA ABORDAGEM CIRÚRGICA

Durante a laparotomia, que é ainda a via recomendada pela maioria dos


livros didáticos, devem ser realizados obrigatoriamente os seguintes
procedimentos.

PROFILAXIAS

Incisão mediana ampla, caso se opte pela laparotomia. Convém Tumores malignos de células germinativas e os tumores malignos do
pontuar que algumas fontes bibliográficas advogam o uso da estroma gonadal
laparoscopia apenas para os casos duvidosos, pois ela auxiliaria no
estabelecimento do diagnóstico preciso e na escolha da melhor opção São “estadiados” cirurgicamente da mesma maneira que os tumores
terapêutica. epiteliais malignos.
● Coleta de líquido ascítico nas lojas parietocólicas e
subdiafragmáticas ou realização de lavado peritoneal na sua
ausência. O momento ideal é após a celiotomia parietal, antes da ESTADIAMENTO DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE
GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA
manipulação de órgãos ou massas.

Realizar inventário minucioso da pelve e da cavidade O câncer de ovário é classificado primariamente dos estádios I ao IV, de
abdominal, descrevendo os seguintes achados: ascite (características acordo com os sistemas de classificação da Federação Internacional de
Ginecologia e Obstetrícia (FIGO – Tabela 4 e Figura 6).
do líquido); características da massa principal (dimensões e
integridade da cápsula); presença de implantes visíveis sobre as
superfícies do peritônio pélvico e visceral de órgãos
abdominais (fígado, baço, estômago, cúpulas diafragmáticas, TAB. 4 ESTADIAMENTO FIGO DO CÂNCER DE OVÁRIO, TUBA DE
FALÓPIO E PERITÔNIO.
mesentério, alças intestinais); avaliar presença de aderências
descrevendo sua localização; realizar palpação de linfonodos ESTADIAMENTO CIRÚRGICO

retroperitoneais (descrever localização, número, tamanho e


Neoplasia limitada aos ovários
consistência dos linfonodos suspeitos. Estádio I
ou tuba de falópio.
● Iniciar procedimentos excisionais:
Tumor limitado a um ovário ou tuba
» Começar pela excisão do tumor principal preservando superfícies
IA de falópio, sem tumor na superfície
íntegras e enviá-lo para biópsia de congelação. Se o resultado for do ovário ou tuba.
positivo para malignidade, realizar os demais procedimentos que
compõem o estadiamento cirúrgico completo; Ambos os ovários ou tubas de
IB falópio afetados; sem tumor na
» Biópsias peritoneais: nos casos em que a superfície peritoneal
superfície do ovário ou tuba.
parecer normal, devem ser realizadas múltiplas biópsias peritoneais na
pelve (goteiras parietocólicas e subdiafragmáticas) e biópsia da Tumor limitado a um ou dois
cápsula de Glisson; ovários ou tubas de falópio, com
» Histerectomia total extrafascial com salpingo-ooforectomia presença de um dos seguintes
bilateral e omentectomia infracólica: observação – a eventos: cápsula rota na cirurgia
ooforectomia unilateral em pacientes com desejo de (IC1); tumor na superfície ovariana
IC (de um ou ambos os ovários) ou
preservação da fertilidade deve ser considerada em casos
tuba de falópio ou, então, cápsula
muito bem selecionados;
rota antes da cirurgia (IC2);
» Retirar toda massa tumoral visível, evitando deixar doença citologia da ascite ou lavado
residual maior que 1 cm de diâmetro (citorredução ótima); peritoneal positivo para células
neoplásicas (IC3).
» Linfadenectomia pélvica e para-aórtica dos linfonodos
suspeitos de invasão: algumas referências falam em
Doença envolvendo um ou
linfadenectomia para todas as pacientes, outras
ambos os ovários ou tubas de
mencionam avaliação dos linfonodos no ato cirúrgico e
Estádio II falópio com extensão para pelve
exérese apenas dos nódulos suspeitos ;
ou, então, carcinoma primário do
» Implantes macroscópicos: está indicada sua ressecção para peritônio.
estudo histopatológico e exame de congelação;
Doença afetando o útero e/ou
» Omentectomia infracólica. IIA
tubas e/ou ovários.

Extensão para outros tecidos


IIB
PARTICULARIDADES SOBRE ESTADIAMENTO DOS TUMORES pélvicos intraperitoneais.
OVARIANOS EPITELIAIS E NÃO EPITELIAIS

Tumores malignos epiteliais mucinosos

O Tratado de Ginecologia da FEBRASGO e outras referências também


preconizam a apendicectomia em casos de carcinoma mucinoso, pois o
raro carcinoma mucinoso de apêndice pode apresentar metástase para
ovário e mimetizar um carcinoma ovariano primário.
Convém pontuar que o estadiamento da American Joint Committee
Doença envolvendo um ou
on Cancer entrou em vigor em janeiro de 2018. Apesar disto,
ambos os ovários ou tubas de
falópio ou carcinoma primário de nenhum livro didático de Ginecologia ainda o apresenta. Por esta razão e
pelo fato do estadiamento da FIGO nortear as condutas
peritônio, com doença além da
Estádio III** terapêuticas, optamos por não disponibilizá-lo.
pelve ou para linfonodos
retroperitoneais, sempre com
confirmação citológica ou
histológica. GRAUS HISTOLÓGICOS DO CÂNCER DE
OVÁRIO
Linfonodos retroperitoneais
Além do estádio, a definição do grau de diferenciação tumoral ao exame
positivos.
histopatológico também é determinante da terapêutica a se adotar. Ele é
IIIA1(i) – Metástases até 10 mm definido por um escore baseado na avaliação microscópica
em sua maior dimensão. tumoral.

IIIA IIIA1(ii) – Metástases maior do que


10 mm em sua maior dimensão.
CLASSIFICAÇÃO EM GRAUS HISTOLÓGICOS DO CÂNCER DE
IIIA2 – Envolvimento peritoneal OVÁRIO
extrapélvico, com ou sem
linfonodos retroperitoneais Os graus de diferenciação histológica subdividem-se da forma apresentada a

positivos. seguir.

IIIB Metástases peritoneais


Grau X
macroscópicas fora da pelve de até
IIIC
2,0 cm em sua maior dimensão, O grau de diferenciação não pode ser avaliado.
com ou sem linfonodos
retroperitoneais positivos.
Grau I (G1) – Bem Diferenciado
Metástases à distância excluindo
Estádio IV Define o padrão de crescimento de células indiferenciadas menor ou igual a
metástase peritoneal.
5%.

Derrame pleural com citologia


IVA
positiva para células neoplásicas. Grau II (G2) – Moderadamente Diferenciado

Metástases intraparenquimatosas Corresponde ao padrão de crescimento de células indiferenciadas entre 6 e


e para órgãos extra-abdominais 50%.
IVB
(incluindo linfonodos inguinais e
fora da cavidade abdominal).*
Grau III (G3) – Indiferenciado
*Linfonodos inguinais comprometidos são definidos como estágio IV, bem como os demais
linfonodos acometidos fora da cavidade abdominal (supraclaviculares, axilares). Consiste no padrão de crescimento de células indiferenciadas maior do que
**Envolvimento da superfície hepática (cápsula do órgão) é considerado estádio III.
50%.

TRATAMENTO DO CÂNCER DE OVÁRIO


Como já foram descritas as etapas cirúrgicas e como é realizado
o estadiamento, convêm pontuar algumas expressões que os
cirurgiões costumam usar, relacionadas à cirurgia para
tratamento do câncer de ovário. Aproveitaremos para introduzir
alguns conceitos novos.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O tratamento de pacientes com suspeita de câncer de ovário deve ser


conduzido por profissionais com experiência e treinamento na condução
desses casos.

FIG. 6 ESTADIAMENTO DO CÂNCER DO OVÁRIO.


Neste contexto, convém pontuar que o tratamento do câncer de ovário pode Para pacientes selecionadas, as cirurgias minimamente invasivas, por via
apresentar potencial curativo ou paliativo, dependendo do estádio da laparoscópica ou por via robótica, têm sido cada vez mais empregadas para
neoplasia e da diferenciação tumoral. Nos casos de potencial curativo, com diagnóstico, predição de ressecabilidade, estadiamento e cirurgia
doença potencialmente ressecável, a interação multidisciplinar com citorredutora.
envolvimento do cirurgião e do oncologista clínico é de extrema
importância, pois o tratamento pode envolver a indicação de quimioterapia Nas situações em que não é possível uma citorredução de forma ideal ou em
prévia ou adjuvante à intervenção cirúrgica. que há a possibilidade de ruptura da massa tumoral, a via de cirurgia deve
ser convertida para laparotomia. A ruptura inadvertida da massa durante a
cirurgia pode alterar o estadiamento de IA para IC1. A mudança no
Os pilares do manejo terapêutico dos tumores malignos de ovário
prognóstico dessas pacientes é controversa.
encontram-se em duas modalidades principais, a cirurgia e a
quimioterapia, que podem ser empregadas de forma isolada ou
No entanto, torna-se um fator decisivo na indicação de tratamento
combinada.
adjuvante. Também não se pode estabelecer o risco de disseminação
intraperitoneal e metástase no sítio de punção após a cirurgia laparoscópica,
embora estudos experimentais sugiram alto risco.
ENCAMINHAMENTO AO
ONCOGINECOLOGISTA
CIRURGIA FUNDAMENTAL
O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG) e a Sociedade
de Ginecologistas Oncológicos recomendam que pacientes que Corresponde à histerectomia total com salpingo-ooforectomia
apresentarem, pelo menos, uma das características a seguir deverão ser bilateral, omentectomia infracólica e citorredução tumoral.
referenciadas para um especialista em ginecologia oncológica.
Em casos selecionados, pode ser indicada a apendicectomia, no caso de
Na Pós-Menopausa se tratar de tumor mucinoso ou de aderência do apêndice ao tumor.

Inclui elevação dos níveis de CA-125, ascite, massa fixa ou nodular,


Pela maioria das referências, a cirurgia será considerada ótima quando
evidência de metástases abdominais ou à distância, história familiar de uma
todo tumor for ressecado ou quando permanecer tumor residual
ou mais parentes de primeiro grau com câncer de ovário ou de mama.
menor ou igual a 1 cm, e subótima quando houver persistência de
tumor maior que 1 cm.
Na Pré-Menopausa

Compreende níveis de CA-125 muito elevados (> 200 U/ml), ascite, Nas pacientes com estádios IA e IB (G1 ou G2), é recomendado o
evidência de metástase abdominal ou à distância, história familiar de uma tratamento cirúrgico isolado.
ou mais parentes de primeiro grau com câncer de ovário ou de mama.

Para as pacientes em idade fértil que desejam gestar e apresentam


TRATAMENTO PRIMÁRIO DO CÂNCER DE tumores bem diferenciados, a salpingo-ooforectomia unilateral
OVÁRIO pode ser considerada uma opção devido ao baixo índice de recidiva.
Todas as mulheres com suspeita de câncer epitelial invasivo de
ovário devem ser avaliadas por um cirurgião ginecologista ou Nos demais casos, procede-se à histerectomia abdominal total com
cirurgião oncológico antes do início da terapia para determinar salpingo-ooforectomia bilateral e omentectomia, avaliação e
quais as pacientes são candidatas à cirurgia citorredutora biópsia do peritônio diafragmático, goteiras parietocólicas,
primária. peritônio pélvico, amostragem ou linfadenectomia pélvica e de
para-aórticos, além de lavado peritoneal para pesquisa de células
malignas.
CIRURGIA CONSERVADORA

A conduta em relação à linfadenectomia intra-abdominal


A cirurgia com preservação da fertilidade pode ser uma possibilidade em
ainda é muito heterogênea. Inexistem evidências de nível 1 sobre o
casos selecionados de mulheres sem prole definida. São
papel da linfadenectomia pélvica e para-aórtica sistemática em pacientes
candidatas: portadoras de carcinomas epiteliais estádio IA G1-2
com câncer de ovário avançado com ressecção macroscópica completa de
(ocasionalmente no grau 3 ou estádio IC), tumores borderline de
linfonodos clinicamente negativos. Estudos indicam que a
ovário nos estádios I a III e tumores germinativos malignos
linfadenectomia sistemática de linfonodos clinicamente
(todos os estádios). Esse procedimento consiste no estadiamento
negativos deveria ser omitida para reduzir a morbimortalidade
cirúrgico completo com preservação do útero e de todo ou parte de um
pós-operatória.
ovário.

CIRURGIAS MINIMAMENTE INVASIVAS


Para pacientes com neoplasia de histologia mucinosa, indica-se Nos tumores em estádios avançados, nem sempre é possível uma
apendicectomia e investigação do trato gastrointestinal cirurgia primária citorredutora ótima, e alguns centros procedem a uma
(endoscopia e colonoscopia) com o intuito de verificar se a lesão ovariana cirurgia subótima. Nesses casos, existe um fundamento teórico para uma
não é uma metástase do trato gastrointestinal. segunda intervenção cirúrgica, no intervalo da quimioterapia,
com o intuito de ressecção máxima. Contudo, os resultados dessa
conduta em estudos randomizados são conflitantes.
CIRURGIA CITORREDUTORA

A conclusão de duas revisões sistemáticas recentes foi de que a


O objetivo da citorredução inicial é a remoção da maior quantidade
heterogeneidade dos resultados impede uma recomendação
de tecido tumoral possível, assim como da doença metastática,
definitiva e que a escolha entre cirurgia primária extensa ou quimioterapia
facilitando a ação da quimioterapia e atenuando os sintomas de massa.
prévia seguida de cirurgia de citorredução deve considerar o caso
específico da paciente e a disponibilidade de cirurgiões
Evidências mostram que a sobrevida livre de doença nas pacientes que
altamente treinados.
tiveram citorredução completa é significativamente maior que nas pacientes
que tinham alguma doença macroscópica pós-operatória.
A recomendação é que a cirurgia de intervalo, quando indicada, seja
A incorporação de procedimentos radicais no abdome na cirurgia realizada após três ciclos de quimioterapia. Entretanto, a cirurgia pode
citorredutora para o câncer de ovário avançado aumenta consideravelmente ser realizada após quatro a seis ciclos com base no julgamento clínico
as taxas de citorredução completa e melhora a sobrevida. do ginecologista oncológico.

Ou seja: mesmo pacientes com doença aparentemente irressecável,


teoricamente, beneficiam-se de cirurgia, que neste caso deve objetivar a
SALPINGO-OOFORECTOMIA PROFILÁTICA
ressecção da maior massa tumoral possível!
Pacientes de alto risco para neoplasia de ovário (síndromes hereditárias)
com prole completa podem se beneficiar da ooforectomia bilateral
A citorredução é uma cirurgia complexa, com riscos e complicações
profilática após os 35 anos.
associadas ao procedimento. Estudos demonstraram que as mulheres
com câncer de ovário que são tratadas por um cirurgião oncológico são
mais propensas a passarem por um bom estadiamento e uma cirurgia
TRATAMENTO ADJUVANTE
citorredutora adequada em comparação àquelas atendidas por
ginecologistas e cirurgiões gerais, além de apresentarem uma sobrevida
TRATAMENTO QUIMIOTERÁPICO (QT)
maior.
QT ADJUVANTE

O papel da QT adjuvante baseada em composto de platina associada a


CIRURGIA SECOND-LOOK OU CIRURGIA DE
taxano (carboplatina + paclitaxel) para pacientes com câncer de ovário em
REVISÃO
estágios iniciais de alto risco ou avançados após a cirurgia de
A cirurgia de second-look consiste em uma nova cirurgia após tratamento citorredução está bem consolidado na literatura. A QT deve ser
quimioterápico, em pacientes sem sinais clínicos, laboratoriais ou de preferencialmente iniciada quatro a seis semanas após a cirurgia.
imagem de persistência tumoral.
Geralmente, é indicada nas seguintes pacientes:

PCDT MS – DIRETRIZES DIAGNÓSTICAS E TERAPÊUTICAS DE


NEOPLASIA MALIGNA EPITELIAL DE OVÁRIO

Estádios Ia e Ib, caso sejam grau III (tumores indiferenciados);

Estádio Ic em diante (independentemente do grau de diferenciação).
A cirurgia de second-look seria realizada após o término da
quimioterapia adjuvante para avaliação da resposta tumoral e ressecção Algumas referências ainda apontam a necessidade de quimioterapia
de possíveis lesões residuais. No entanto, este tratamento não adjuvante em TODAS as pacientes com carcinoma de células
acrescenta resultados positivos à sobrevida, estando, de modo geral, claras.
contraindicado.

QT PRÉVIA
(NEOADJUVANTE)
CIRURGIA SECUNDÁRIA
(DEBULKING OU CITORREDUÇÃO DE
INTERVALO)
Nos casos em que não é possível realizar uma cirurgia primária TRATAMENTO RADIOTERÁPICO
completa, seja pela condição clínica da paciente limitante, seja pela
presença de ascite volumosa, ou em razão de extensão tumoral maciça, A evolução dos quimioterápicos, evidenciada pelo aprimoramento de sua
indica-se a QT neoadjuvante à base de taxano (paclitaxel) e eficácia e pela minimização dos efeitos colaterais, tem diminuído o
composto de platina (cisplatina ou carboplatina) por três a seis emprego da radioterapia no tratamento das neoplasias ovarianas. As
ciclos, seguidos de cirurgia para citorredução máxima e, após, de malignidades ovarianas apresentam variada resposta à RT. Os tumores
quimioterapia adjuvante com o mesmo esquema, no caso de resposta à germinativos são mais sensíveis, enquanto os carcinomas epiteliais
quimioterapia neoadjuvante. Ou seja, o número mínimo total é de seis ciclos apresentam sensibilidade moderada.
de quimioterapia prévia e adjuvante no caso de resposta tumoral ao
esquema quimioterápico empregado na neoadjuvância. Seu uso em câncer de ovário é controverso. A radioterapia, em tese, deveria
abranger toda a cavidade abdominal devido ao padrão de propagação da
doença. Entretanto, como há necessidade de colocação de protetores sobre
QUIMIOTERAPIA INTRAPERITONEAL os rins e fígado, a mesma não atua de forma totalmente satisfatória sobre as
regiões das goteiras parietocólicas e sobre a cúpula diafragmática, locais
A carcinomatose peritoneal representa uma forma devastadora de comuns de metástase. A grande extensão a ser irradiada, a sensibilidade das
progressão do câncer de ovário com um mau prognóstico. Ao se fazer o vísceras abdominais e a limitação da dose de segurança desencorajam seu
diagnóstico, dois terços das pacientes com câncer de ovário já uso na terapêutica de neoplasias ovarianas. Ou seja, não é utilizada na
desenvolveram carcinomatose peritoneal e mais de um terço já se apresenta prática!
com ascite. A gênese dessa entidade clínica pode ser explicada por vários
modelos biológicos. Quando os tumores grandes são reduzidos, as células
tumorais residuais tornam-se mais sensíveis à quimioterapia e são
estimuladas a voltar à fase proliferativa do ciclo celular, tornando-se mais RESUMO DO TRATAMENTO: CARCINOMAS
ativas e suscetíveis ao efeito citotóxico da terapia antiblástica. EPITELIAIS DO OVÁRIO

Alguns quimioterápicos que atuam na terapia sistêmica do câncer de ovário ESTÁDIOS


podem ser considerados para administração intraperitoneal. O efeito
sinérgico com o calor é devido ao fato de o aumento da temperatura poder Tratamento cirúrgico:
aumentar a capacidade de resposta das células tumorais aos agentes
● Cirurgia fundamental:
citotóxicos.
HTA + anexectomia
bilateral → estadiamento
A cisplatina, a doxorrubicina, a oxaliplatina e a mitomicina C foram mais
cirúrgico.
utilizadas. O paclitaxel e o docetaxel também demonstraram eficácia devido
à farmacocinética favorável. Não é necessária terapia
adjuvante.
Ia e Ib grau I e II
Pacientes com doença primária ou recorrente após cirurgia
Obs.: tumor borderline e
citorredutora completa, sem doença macroscópica, podem se
pacientes no estágio Ia graus
beneficiar da quimioterapia intraperitoneal hipertérmica
I ou II, que desejem gestar →
(HIPEC). As evidências disponíveis sugerem que a quimioterapia
anexectomia unilateral.
intraperitoneal adjuvante aumenta a SG em pacientes com citorredução Indica-se a reoperação
ótima. No entanto, devido à toxicidade significativa do esquema, associada posterior para término do
à baixa experiência da maioria dos centros com seu uso, esse tratamento tratamento depois de atingida
tornou-se menos disseminado. a prole completa.

A HIPEC associada à citorredução de intervalo pode ser uma opção Cirurgia fundamental +
para pacientes estadiadas como FIGO IIIC e IV, desde que realizada em Ia e Ib grau III e Ic terapia adjuvante (QT

centros especializados que tenham expertise nessa técnica. combinada).

Cirurgia citorredutora +
Essa forma de tratamento demanda a instalação de um cateter específico. poliquimioterapia.

Obs. 1: no estádio II, a


ATENÇÃO cirurgia primária completa
Os esquemas aqui relatados se referem aos carcinomas epiteliais do II e III com excisão de toda massa
ovário. O tratamento quimioterápico dos tumores germinativos e das tumoral é quase sempre
células do cordão sexual é realizado com outros esquemas possível.
quimioterápicos, que não abordaremos aqui, pois não costumam ser Obs. 2: o tratamento
“cobrados” nas provas de residência médica.
adjuvante é mandatório (QT).
Tratamento cirúrgico (cirurgia SEGUIMENTO
citorredutora em casos
IV Existem poucas recomendações de como deve ser realizado o seguimento
individualizados) ou
das pacientes com câncer de ovário após o tratamento inicial, porque tanto a
poliquimioterápico exclusivo.
detecção precoce da recidiva da doença por métodos de imagem, quanto
Fonte: Berek & Novak’s Gynecology. pela elevação do CA-125 não mostraram alterar os resultados. Ainda é
desconhecido se a dosagem sérica do CA-125 traz algum benefício.

TRATAMENTO DO CÂNCER DE TUBA UTERINA DIVERGÊNCIAS NA LITERATURA


[
O câncer de tuba uterina, tanto em estádio inicial ou avançado,
A seguir, apresentaremos algumas das divergências encontradas sobre os
é tratado da mesma forma que as neoplasias malignas de
tumores de ovário na literatura. Algumas delas já foram exploradas nas
ovário, com combinação ou não de cirurgia e quimioterapia.
provas de residência médica. Por este motivo, nas provas de Ginecologia,
vale sempre a pena conferir as referências bibliográficas dos concursos que
A maioria das mulheres com doença no estádio I é tratada com você irá se submeter. Existem algumas situações em que os livros didáticos
quimioterapia adjuvante devido à estrutura luminal do órgão, com realmente não se entendem! Fique atento a elas!
consequente risco de derramamento de células na cavidade abdominal.

MENARCA PRECOCE E MENOPAUSA TARDIA: SÃO


FATORES PROGNÓSTICOS FATORES DE RISCO PARA CÂNCER DE OVÁRIO?

A Tabela 5 apresenta os fatores prognósticos no câncer epitelial de ovário TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)
precoce e avançado. Não inclui a menarca precoce e a menopausa tardia entre os seus fatores
de risco.

TAB. 5 FATORES PROGNÓSTICOS NO CÂNCER EPITELIAL DE


OVÁRIO PRECOCE E AVANÇADO. ROTINAS EM GINECOLOGIA (2017)

ESTÁDIOS PRECOCES (I E II) Uma parcela do risco de desenvolvimento do câncer de ovário parece ser
diretamente proporcional ao número de ciclos ovulatórios ocorridos durante

Estadiamento (IA-IB vs. IC vs. II). a vida. As ovulações repetitivas ocorridas durante a menacme são vistas
com maior frequência em pacientes com menarca precoce, menopausa

Rotura da cápsula ovariana (quando considerado o estádio II
tardia e nuliparidade, constituindo situações de risco.
da doença).

Grau de diferenciação celular → indiferenciado é o de pior
prognóstico. WILLIAMS GYNECOLOGY (2016)


Tipo histológico → o pior é o carcinoma de células claras. Esta fonte considera a menarca precoce e a menopausa tardia como
fatores de risco.

Idade (5ª e 6ª décadas).

Citologia do líquido ascítico (positivo ou negativo).
BEREK & NOVAK´S GYNECOLOGY (2020)
ESTÁDIOS AVANÇADOS (III E IV) Este livro informa que, embora tenha havido diversas variáveis
epidemiológicas correlacionadas ao câncer de ovário, nenhuma foi tão

Tamanho do tumor residual após a cirurgia (≤ 1 cm vs. > 1
fortemente correlacionada como a história e a duração da vida reprodutiva.
cm).
A menarca precoce e a menopausa tardia aumentam o risco de câncer

Estadiamento (III vs. IV). ovariano. Estes fatores e a relação entre paridade e infertilidade e o risco de
câncer ovariano levaram à hipótese de que a supressão da ovulação pode

Tipo histológico → o pior é o carcinoma de células claras.
ser um fator importante.

Idade (5ª e 6ª décadas).

Grau de diferenciação celular → indiferenciado é o pior
MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (6ª
prognóstico. EDIÇÃO, 2017)

Acometimento linfonodal.

Obs.: também são considerados fatores de mau prognóstico:

● Volume da ascite;

● Ploidia → aneuploidia é indicativa de mau prognóstico;

● Extensão da doença residual após a cirurgia;

● Aumento do CA-125 durante o tratamento.


Informa que, no passado, estudos epidemiológicos e histopatológicos GINECOLOGIA AMBULATORIAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS
indicaram que os carcinomas ovarianos se originariam a partir da superfície (2016)
epitelial ovariana. Pela teoria de Fathalla da “ovulação incessante”,
A terceira e última edição (2016) não detalha as indicações de
elaborada a partir de estudos que estabeleceram a relação entre o número
linfadenectomia para-aórtica.
de ovulações durante a vida das mulheres e o risco de desenvolvimento de
câncer ovariano, a carcinogênese ocorreria a partir de distúrbios
A segunda edição deste livro informa que a linfadenectomia pélvica e para-
reparadores das repetidas lesões epiteliais ovarianas provocadas pelas
aórtica está indicada como estadiamento sempre que a avaliação da
“ovulações incessantes”. Contudo, esta teoria falhou por não ter sido
cavidade indique estágio menor que IIIC, pois a presença de metástase
possível documentar lesões precursoras ou etapas iniciais de
linfática determinará estadiamento IIIC.
carcinogênese no tecido ovariano.

ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)


LINFADENECTOMIA NO CÂNCER DE OVÁRIO
A última edição do livro preconiza a abertura do retroperitônio para
TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019) linfadenectomia para-aórtica e pélvica bilateral. A fonte informa que é
discutida a necessidade de sua realização sistemática na doença intra-
Esta fonte advoga a realização da linfadenectomia pélvica e para-aórtica. E
abdominal avançada. Nos estádios avançados, pode-se realizar a retirada
ainda complementa que a linfadenectomia para-aórtica deve ser realizada
somente dos linfonodos aumentados, com o objetivo de citorredução.
bilateralmente até pelo menos o nível da mesentérica superior e,
idealmente, até os vasos renais.

CIRURGIA ÓTIMA NO CÂNCER DE OVÁRIO


WILLIAMS GYNECOLOGY (2016)
TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)
Esta fonte informa que a etapa mais importante para o prognóstico é a
Esta fonte informa que, atualmente, a cirurgia citorredutora considerada
linfadenectomia para-aórtica infrarrenal, que também deve ser realizada.
ótima é aquela que apresenta ausência de doença residual macroscópica
pós-operatória.
GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA – FEBRASGO PARA O MÉDICO
RESIDENTE (2016)
ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)
Este livro informa que a cirurgia é considerada completa quando inclui
Atualmente, o volume tumoral residual pode ser classificado de três
histerectomia, anexectomia bilateral, linfadenectomia pélvica e para-
aórtica, omentectomia infracólica de rotina (e supracólica, se houver maneiras:

comprometimento pela neoplasia), biópsias múltiplas de peritônio (cúpulas


diafragmáticas), goteiras parietocólicas e escavações reto e vesicouterinas. ● Citorredução completa: não há doença residual macroscópica;
● Citorredução ótima: a doença residual é menor que 1 cm;

BEREK & NOVAK´S GYNECOLOGY (2020) ● Citorredução subótima: a doença residual é maior que 1 cm.

Este livro informa que os espaços retroperitoneais devem ser explorados


para avaliar os linfonodos pélvicos e para-aórticos. A dissecção OUTRAS FONTES BIBLIOGRÁFICAS
retroperitoneal é realizada p or i ncisão do p eritônio s obre o m úsculo
psoas. Isso pode ser realizado na face ipsilateral somente nos tumores Alguns autores definem cirurgia ótima como aquela onde a presença de

unilaterais. Quaisquer linfonodos aumentados devem ser ressecados e tumor residual que não ultrapassa 1 cm. Outros autores citam 0,5 cm e

enviados para corte por congelamento. Se não houver metástases, deve ser outros 2 cm. Há ainda os que preconizam que a cirurgia ótima é aquela em
que não ocorre doença residual macroscópica.
realizada linfadenectomia pélvica formal.

MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (6ª


EDIÇÃO, 2017)

Este livro recomenda a linfadenectomia para-aórtica e pélvica, indicada


como estadiamento, sempre que a avaliação da cavidade indique estádio
menor que IIIA1, pois a presença de metástase microscópica em algum
desses linfonodos determinará pelo menos esse estadiamento, ou exérese
de linfonodos clinicamente acometidos, visando à citorredução completa.

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