Profª: Deborah Uhr Resenha crítica do texto: “Tempos Compulsivos”.
No livro “Tempos Compulsivos” de autoria de Sandra Edler, pode-se evidenciar a
busca pela compreensão da vida contemporânea. Levando em consideração a dimensão da obra, o capítulo “O Estado Crônico de Infelicidade” será o objeto de estudo desta resenha a qual será feita observações e críticas sobre o assunto. No início do capítulo já é apresentada a ideia do desconforto constante. Essa expressão que é utilizada pela autora se refere àquilo que ela afirma que não pode ser definido de forma concisa. Para buscar explicar sobre o que seria esse desconforto, a autora recorreu à filosofia de Freud em o “Mal-Estar da Civilização” para compreender como as questões pessoais corroboraram para a análise crítica da ideia abordada acima. Nesse momento, o principal objeto utilizado da obra de Freud se refere à satisfação pessoal dos homens com a vida cotidiana e, por isso, associa o viver em sociedade e a cultura contemporânea como elementos que impedem o homem de atingir a satisfação pessoal, o que ela considera ser o alvo do nosso corpo. De acordo com o texto, é notório que a civilização se impõe sobre a satisfação e o viver em sociedade influenciam diretamente nisso. Não à toa, a cultura que mais cresce nesse contexto é a cultura do individualismo que leva o homem ao desconforto e ao ódio. E isso tudo é uma reação ao fato de não se ter na vida contemporânea um objeto fixo de satisfação, visto que, com a velocidade de transformação da cultura, aquilo que já passou se torna um tanto obsoleto. É nesse ponto que se observa o efeito da subjetividade (individual, própria de cada indivíduo) que o torna sempre angustiado e insatisfeito com a sua forma de ser e viver. Nesse ponto da forma de como se viver, cabe-se destacar algumas características. O ponto principal de construção do texto é contrastar o conflito entre o viver de forma coletiva e a satisfação pessoal, onde, a autora afirma que é preciso renunciar a sua própria satisfação para se viver bem em sociedade. Os homens, os sujeitos, nesse girar da roda e o avançar da cultura cada vez mais, tratam com horror a questão da diferença. Por não se ter como Freud afirmou, um objeto fixo como objetivo final, a nova cultura que se sobrepõe dias após dia se comportando como um reflexo dessa vivência cada vez mais acelerada e mais individualista em que se busca uma satisfação sem saber o que realmente seria mesmo isso. Nessa questão de ofuscar, a cultura oferece o alicerce à vida desse sujeito que busca uma verdadeira satisfação baseado nessa cultura. Corroborando esse ponto, a autora recorrer a Baudelaire e sua expressão poética “Paraísos Artificiais” para compreender como essa cultura tenta se impor como um anestésico na forma de lidar do homem com seu impulso de buscar sempre sair da infelicidade interna que tanto o angústia. E essa infelicidade se expressa, se escancara mais ainda quando abordamos a vida e seus efeitos compulsivos que levam os homens aos vícios, às drogas, como forma de buscar uma fuga de sua realidade, bem como, à fuga de sua insatisfação retomando o ponto primordial do texto. No uso dos tóxicos, a autora recorreu a Freud e sua visão da psicanálise para entender como essa euforia trazida a partir do uso leva a uma satisfação momentânea do homem que neste momento está em fuga da sua realidade. Além disso, aborda que outras práticas orientais ajudam o homem a buscar novas perspectivas de fugir da infelicidade, insatisfação atendendo o seu desejo impulsivo de ansiedade e inquietude. Já do ponto de vista psicanalítico, essa fuga gerou um conflito psíquico. Esse se expressava antigamente por meio da cegueira, paralisias e convulsões em que Freud identificou algo além dos sintomas médicos. Na realidade, eram sintomas reacionais dessa cultura contemporânea que já foi caracterizada acima e que agora está sendo vista como opressora e como um elemento que torna aguda a crise histérica dos homens. Essa crise histérica se depreciou e desapareceu das grandes cidades devido ao elevado ganho de velocidade e ritmos frenéticos, fazendo com que aumentasse as compulsões e patologias do sintoma social. Esse aumento é caracterizado pela rápida busca de satisfação, pressa e aceleração e que nenhum homem moderno possui a capacidade de esperar e possui sempre o desejo de se anteceder aos fatores como forma de se mostrar inserido nesse contexto da vida social nas grandes cidades. Portanto, de acordo com o exposto acima, percebemos a nossa imersão dentro da perspectiva de Sandra Edler. Utilizando-se da psicologia e da psicanálise, ela procura buscar o entendimento da sociedade moderna como consequência de grandes processos históricos que levou o homem à busca da felicidade que, nesse contexto atual, parece ser inalcançável já que somos produtos da evolução de um sistema que necessita da velocidade e do individualismo para se afirmar como princípio norteador das novas realidades humanas.