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Poder para Testemunhar
Poder para Testemunhar
Poder para Testemunhar
A.F.
“...e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e
ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia e que em Seu nome se pregasse
arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de
Jerusalém. Vós sois testemunhas destas coisas. Eis que envio sobre vós a promessa
de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de
poder”. (Lucas 24:46-49 – ARA)
O texto de Atos 1:8 torna óbvio o entendimento de que o recebimento de poder (do
grego δύναμις, “dínamis”) prometido por Jesus, cumpriria um objetivo primaz na vida dos
futuros apóstolos, qual seja, a capacitação sobrenatural para “irem por todo o mundo e
pregarem o Evangelho de Cristo a toda criatura” (Mc 16.15). Jesus promete asseguradamente
a descida do Espírito Santo sobre cada um deles, “mas recebereis poder, ao descer sobre vós
o Espírito Santo”, e logo em seguida faz uso do conectivo “e” (no grego καὶ), para explicar de
forma brilhante aos discípulos que esse acontecimento não seria um fim em si mesmo, mas o
início de um grande comissão, a principal missão na vida de todos os crentes a partir de então,
a de servirem de testemunhas poderosas do Senhor Jesus, “e sereis minhas testemunhas tanto
em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra”.
O texto de Lucas, por conseguinte, evidencia a mesma temática, porém, se
utilizando de um recurso linguístico onde a ordem do texto se inverte. Primeiramente, Jesus
indica ao grupo de discípulos qual seria a principal missão da Igreja a partir daquele
momento, “e que em Seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas
as nações, começando de Jerusalém” (v.47). Em seguida, Jesus afirma categoricamente o
grau de responsabilidade e comprometimento que essa missão exigiria daqueles que a
desempenhassem, afinal eles eram Suas testemunhas.
Talvez muitos de nós quando lemos ou falamos a palavra “testemunhas”, não nos
atentemos para o seu real significado, mas na língua original em que o Novo Testamento foi
escrito, o grego, a palavra usada para “testemunhas” é μάρτυρες (martyres), expressão
também usada para se referir à palavra mártir – μάρτυρας (martyras). O que isso significa?
Significa que, nesse contexto, ser testemunha vai muito além de atestar um fato que você
mesmo presenciou. Vai muito além de ser um representante de alguém. Ser testemunha é estar
preparado para ser um mártir, ou seja, para morrer em prol da causa que você defende se
preciso for. Jesus deixou isso claro para os discípulos, que para serem testemunhas e levarem
o Evangelho adiante cumprindo a grande comissão dada por Ele, todos precisariam estar
dispostos a perderem suas próprias vidas.
Não é difícil conjecturar o que essas palavras de Jesus provocaram no interior
daqueles homens. E obviamente que, para passarem por tudo aquilo e se tornarem verdadeiras
testemunhas dispostas a entregar suas vidas por Cristo, eles precisariam de algo a mais.
Aqueles homens simples, que foram chamados por Jesus, andaram com Ele e presenciaram
tudo o que Ele fez, ainda assim não estavam plenamente preparados e capacitados para saírem
pelo mundo pregando o Evangelho sob o risco de serem mortos por causa de sua fé.
Jesus, que tem a solução para todas as nossas dificuldades, logo tratou de lhes
acalmar e apresentar a solução. “Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei,
pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder” (v.49). O que Jesus estava
dizendo para os seus discípulos era que, a ajuda que eles precisavam estava prestes a chegar!
O dínamís (poder) de Deus seria derramado sobre eles, mediante o batismo com o Espírito
Santo. Um poder dinâmico, explosivo, forte, expansivo e capacitador, que os habilitaria a
testemunharem efetivamente, eficazmente e eficientemente a respeito de Cristo e do Seu
Evangelho com intrepidez, ousadia e destemor. Mesmo diante das circunstâncias mais difíceis
e perigosas. Mesmo diante da morte!
Podemos constatar então, ao ler a continuação da história narrada no livro de Atos
dos Apóstolos, que a promessa de Cristo se cumpriu: “E todos foram cheios do Espírito
Santo” (At 2.4). Naquele mesmo instante, aqueles homens antes “vestidos”, foram
“revestidos” de poder do Alto, e agora devidamente capacitados, deram início ao
cumprimento da grande missão dada por Jesus. Ousadamente começaram a pregar o
Evangelho, a espalhar a mensagem da cruz e da ressurreição e a anunciar a Jesus Cristo como
o Messias, Único e suficiente Salvador de todos os homens. A mensagem de Cristo logo se
espalhou pelo mundo. O poder recebido por aqueles homens cumpriu o seu real objetivo, a
pregação do Evangelho. Todos, sem exceção, perderam suas vidas como mártires, como
verdadeiras testemunhas, sem se importar com suas próprias vidas. Antes, tinham o desejo de
ver o Evangelho anunciado a toda criatura.
Finalmente, a conclusão a que chegamos é que o revestimento de poder, experiência
essa posterior à conversão e recebida através do batismo com o Espírito Santo, nada tem a ver
com elitismo espiritual ou manifestações espetaculosas e grotescas como temos visto hoje. O
revestimento de poder é uma experiência única e individual, cujo objetivo primordial reside
em capacitar e habilitar o crente em Jesus para pregar o Evangelho com ousadia, mesmo
diante de toda e qualquer circunstância adversa, estando disposto a abdicar da própria vida
pela causa de Cristo. É claro que não podemos deixar de ressaltar que existem outras
operações gloriosas e poderosas da pessoa do Espírito Santo no ser humano. Ele regenera o
pecador, habita no crente e o enche de gozo, o santificando e renovando. Porém, não podemos
nos esquecer que, em primeiro lugar, recebemos poder para testemunhar!