Você está na página 1de 7
A BASE DA PB: TEORIA DA CRISE A_palavra crise ralmente_evoca_uma representagio trdgica de acontecimentos negatives relacionados a vida, Inundagées, incéndios, catéstrofes em geral podem ser considerados crises, como também circunstdncias mais particulares que ameagam o lar, a propriedade ou a pessoa. (DATTILIO; FREEMAN, 1995). A crise é em geral considerada um perfodo de extrema dificuldade, seja para o individuo, seja para um grapo de individues, no qual os mecanismos de enfrentamento fisico ¢ psicolégico estéo extraordinariamente tensos. Uma crise inclui ao menos a ameaga de redugao significativa ou perda de alguma capacidade ou fungéo-importante; 6 um momento de risco, no quala capacidade de adaptag&o sera gravemente testada. Pode- se dizer lambém que 6 um periodo de desequilibrio emocion: ( As crises - embora venham sempre acompanhadas de { angiistias e sensagoes de catdstrofe — nao sao necessariamente | negativas, mas constituem ocasibes de mudangas que requerem | algum tipo de solugdo, A resohigéo adequada do ume crise “tem efeitos benéficos aprecidveis para a pessoa e, além disso, proporciona recursos que a preparam para enfrentar melhor as situagdes criticas futuras; quer dizer, enriquecem e ajudam a amadurecer. Por outro Jado, nao enfrentar convenientemente essas situagées deixa o individuo com maior vulnerabilidade para vollar a cair, quer dizer, fa-lo-4 mais débil ou fragil. © vocébulo chinés para crise 6 escrito com uma combinagao dos simbolos de “perigo” ¢ “oportunidade”. £ i i i | 28 TEMAS EM PSICOLOGIA II: PSICOTERAPIA BREVE-FOCAL exato que uma crise representa néo s6 uma possivel redugéo ou perda de capacidade, mas também uma oportunidade para crescer e desenvolver-se, Uma crise pessoal é um perfodo de maxima alteragao potencial em termos pessoais - para melhor ou pier. Segundo Sé et al, (2008), a expressdo “crise” provém da palavra grega krisis, que significa “decisio” e deriva do verbo Kxino, que quer dizer “eu decido, separo, julgo”.A constatacio da existéncia de fases criticas ao longo da vida dos individuos data de muito tempo. Ultimamente, porém, tem surgido uma preocupagéo maior na area de satide com esses pontos de mudanga, em fungao de sua possivel relagao com a instalagao de distirbios mentais. Segundo Gerald Caplan (1980), crise é um estado de perturbagéo que ocorre quando o individuo € exposto a_um problema insuperavel pelos seus modos habituais de solugio de problemas. “O fator essencial que influi na ocorréncia de uma crise é um desequilibrio entre a dificuldade e a importéncia do problema, .por um lado, e 0s recursos imediatamente dispontveis para resolvé-lo” (CAPLAN, 1980, p. 54). Dé-se uma interferéncia em uma érea maior ou menor de funcionamento, de acordo com a intensidade e 0 significado do problema e da tensio. O individuo 6 “perturbado”. Essa perturbacéo esté usualmente associada a sentimentos subjotivos de desconforto, como angistia, medo, culpa ou vergonha, segundo a natureza da situacdo. Durante essa fase, a tenso, que num individuo est relacionada a questées biol6gicas fundamentais de input e descarga de estimulo e ¢ concebida como operando num plano mais organico do que psicolégico, pode elevar-se substancialmente; 6 possfvel que flutue em picos sucessivos ou entéo que atinja um estado elevado e constante. 0 efeito SU Ss dana Mn teeter cena Se See ee da elevacao de tensdo sobra o funcionamento de individuo deve-se, em parte, a sua intensidade e, em parte, a sua duragao (CAPLAN, 1980, p. 54). Segundo o mesmo autor, o efeito total processa-se em uatro fases caracterfsticas: ; rogressivo da tensdo, diante da ineficdcia das respostas na continuagao dos estimulos; Fase 3: Uma nova elevacao de tenséo leva o sujeito a ultrapassar-wm terceiro limiar, quando enti acode a suas reservas de forca e a seus mecanismos de emergéncia para solucionar problemas (mobilizagao dos esforgos e reservas de energia). H4 uma certa desorganizagao do funcionamento, pelo que a pessoa aparenta ser menos eficiente do que usualmente 6 que pode assumir a forma de atividade relacionada principalmente com a tensativa de descarga da tensao interna e aparentemente nao-motivada pela situagao externa, ou pode adotar-a forma de sucessivas tentativas abortadas de énsaio-e- exro para resolver o problema externo. Em conseqiiéncia dessa mobilizagao de esforgo e redefinigao da situagao, o problema pode ser resolvido. Fase 4: Se o problema continua e nao pode ser resolvido com a satisfagao da necessidade nem evitado pela renincia a_necessidade ou pela distorgio perceptual, entao a tensio tempo, atingindo um ponto de ruptura. Ocorre entéo uma ave desorganizagio do individuo, com resultados drasticos para sua personalidade. Segundo Aguiar et al., houve uma grande concentragao de pesquisas e publicagdes sobre crises e sua relagéo com etapas da vida e com eventos acidentais em tomo de 1960. “A partir desta época, houve grande impulso no desenvolvimento de técnicas que permitissem uma rapida abordagem des crises, ¢ so multiplicaram as publicacdes que trouxeram & tona as, intervengoes em crise, as psicoterapias broves © as téenicas focais” (CORDICLLTI, 1993, p. 138) Podemos citar Lindeman, apud Caplan, 1980, que publicou um trabalho a respeito de um evento catastréfico ocorrido em Boston, em 1942: 0 chamado Coconut Grove Fire, qne foi um incéndio ocorrido em um clube noturno, quando se comemorava a vitéria de uma partida de futebol. Nessa incéndio, morreram quinhentes pessoas e ficaram machucadas ouiras tantas. Entdo, nessa tragédia, muitas pessoas perderam alguns parentes ou mesmo toda a sua familia. Assim, o referido autor fez estudos a respeito das reagées desencadeadas pela perda sdbita de pessoas amadas. Bollak @ Small (1989), em publicacéo originalmente de 1978 (Emergency psychotherapy and brief psychotherapy), defendem a tese dé que ndo h4 diferencas significativas entre qua se chama de psicoterapia breve, de emergéncia ou de crises. Afirmam que todas s4o técnicas breves, oriundas teoriocamente da_psicandlise, com adaptag6es _estratégicas para situagoes de emergéncia ou de crises, ¢ aceitando também a utilizagao de outras fontes de conhecimento, tais como as comportamentais, a utilizagaéo de medicamentos, etc. Etes afirmam que: Na vida de quase todos nés, existem situagées que podem levar a problemas psicolégicos mais importantes. Nascimento, casamento, morte, problemas familiares ou ¢ projuizo, financeiros, filhos em dificuldades e pais em desacordo se infiltram na existéncia de todos os seres humanos. O psicoterapeuta nao pode se recusar a tratar estes problemas com psicoterepia breve, mais do que pods 0 medico se recusar a esiancar ume hemorragia arterial, porque o paciente necessita de um curso prolongado de tratamento renal (BELLAK; SMALL, 1980, p.4) Moffat (1981) enfatiza que a crise se manifesta pela invaséo de uma experiéncia de paralisagao da continuidade do processo da vida. Nos nos sentimos confusos e s6s. O futuro se nos apresenla vazio e o presente congelado. A intelisidade da perturbacao resulta numa crise de crescimento (evolutiva) ou de conseqiiéacia de uma mudanga imprevista (frauimatica). Af, comecamos a nos perceber como “outro”, isto é, temos uma _experiéncia de despersonalizagao. Isto ovoca uma descontinuidade na vida, deixando de ser uma histéria coerente, organizada. O que adoece, pois, no estado de criss 6 0 “processo de viver”. A histéria fica descontinua, €, portanto, o eu pode se perceber como sucessao ininteligivel e se fragmentar sem atinar como conceber sua nova situacao (como codificé-la) e sem saber como atuar; pois as estratégias com que contava j4 nao se adaptam as novas circunstancias. Com isto entra-se em crise (MOFFAT, 1983, p.13). Lemeruber (1984) considera que as trés primeiras fases deserites por Caplan (1980) poderiam ser consideradas como um estégio “potgncialmente critico” e a tltima fase, sim, seria o estégio de ruptura ou de crise propriamente dita, que englobaria também a insatisfacéo e/ou a distorcao perceptiva. Esta autora propde que este enfoque corrige melhor a impressao deixada pelo conceito de Caplan (1980), de que as fases do desenvolvimento, tais como a adolescéncia, 0 nascimento de um filho sejam sinénimos de crise. Repetindo, sua proposta & a cle que o texno crise seje aplicado somente numa situagao de fuplura. Concordamos com Aguiar et al. in Cordiolli, 1993, no sentido de usar 0 termo crise conforme definido pelos autores apresentados anteriormente, néo apenas pelo fato de que ja jezey essad as enb ered eoyestiqo asenb epesed eur ‘doqs ud, wm ours weazes ‘oyuowajoauesep ossou op o8uo] ov STETA saSTIO Se SepOr,, ‘JOSKId VAN] Uo} PULTE OWL) ouumry oyzeurafoauasep Op sesey sesrearp seu srempeu soyyuoo @ opeparsue vro8 wequre} 7A 10d yys0, onb ov open pzayrour v ‘o\sTP wETY “SepLG] tas issod soosismnbe Sacw Sub eied OuGuIMbesop wih SU OS fe lod Wop vs DUUpMU We wolfdull Bey VAOU ‘TeunI0U osin9 0 opurnBos ‘oyrauTTAToAUOsop nes we opUMIOAE wenuguos seossad se anb amd enb sourproou05 -__-sonqjaq 8 wpe apepy ‘eIugOse}OPY ‘eroupyuy ‘[ewwu-gug ‘Sopopy sv swjzea WessOM wioquIa “Wopio uissur ea “Sosa suISe Jod Wessed “TeuLION ojeUITAjOANAsap iii Wea aH apsap "SeOssa Se SEPA} | SoNpIAIpUT So SOpo) iii Wispio Vins BU Wapadns 66 GN SoWeIse op SOALTD Zy ag OuBUTA O|USTATATOATASOp o ‘opguos asa ‘soptajosox 10s UroAep stoaystaard soq]JU09 sopeutueyep yenb ou ‘seaTynjosa sedvjo sv arjuo ojuessagse ovdrsuen ep oporied um v azoyor 9s onb zea eum ‘ondiqure elas zeaye) (9461) wosytg rod astro eieyed ep osn Q ‘ouBUMY [eA O[OIO Ov seyUIEUT soyPsop ap atigs eurxord e wrereyueryua ered 1081a 0 2 saopnde se urleaoauesap seossed se ‘searnyoaa sastio sesse opueaosoxy, oaHedepe opwswieyioduio op sogiped op owiinbe v wxed STeIMSUIUpUY MapquIe) seuT “TTeSTOATUN 9 sToastAaI OF ORT oyusMTAjoAUasSp op ,SosuIO, ule wTPy (9Z61) vos ‘ounsep osdoud 0 opuepueyop ‘syoayssod svysodsox sep onbo} o ajuqe weywisod on ‘sonuyyuco sogdeydepe o soysnfe ‘sogSvsuvn ‘seSuepnu weajoaue enb ‘Goldie sein ZoA Upwo sossjuioidaios opiituinsse “Sonn 30 iss Ted Wop opepissooow vo SjuSUTOOMpeMD op [SMOISA Tin MTS witin eped “OpUSTATATOANASOp oO FETOT SUT died sepepioge ies Wiondp onb seank sejore) no soResop eb ‘3SIYO VO WIHOSL ‘ad VO 3Sv8 V SHOE Sd uidy “Sliout v giv CTUSTATOET O Spe “WPA Up BAay BPRD ‘sO\nw ayso opunBeg (9261) WORT ANT toy euTPIep us Taaarosap a nopnyse se AoYyou WaNb ~ [EWA O[T9 Op OBO} Oo! ureaqoatasap 8s anb se ~ s[eya sesiso se oyodser wo HTT B ao OpoUT tin Bp aquiNDiS no BL-LINDIPAS Sp oreUT HIN EUG: Onipjaqpuy oto opdajos Was Bers wan TeyMaIyTS ap OApIAIpT op spapraedsow epaynan] p eiieus vac) wali onb za eu | -GTipsATpUT Op Bpra Be aaamd ayuOUIEANVOax Oportod win UTBAATe feppiodafo} 13 9 sosuo sep vonsysoqereo wmeo1} Y STOABIIASUT Os and ‘SOARN|OA: soorped so woo sepeuoroejer sv sepnoyred wra ‘sasto PY Sey ‘oyuameynaryua o ered stetoadso sogpnde ep ovsisinbe vy no [euorsrpe oytremrefereid ap oyour sod sepyyseye uroras ay sjaajssed ‘steuorsenyts sastio se feroadsa ura ‘speaysyaoad soste: sey109 sey1ae epod 0s onb Sunnze Joye CQ “Wosoy syeNd Wiel Aigjeniese Bp onb sozmnlaid 80 opumrodns susursadaays BS] Hy we Wes VAesHEs oesHjoT vam OpUEHUCAIS ves "e _asonviyED SeTD vu op Hes 98 Bp BNjouKLL HOTU y ONO ap’ ‘Oped tn op wpeitas no eperoUsT “epeIpE 18s 9pod OGH asIT | “SPEPITGEHTASUT ens g sosto sep vons}reyoRIED epunes y “epyznpor 0s-vw10} opdt9y” 8 ‘opensi 9 ou0s 0 ‘aosers9p amnade G “seperey[e ops seorZoToIsy soos, se’ ‘vrougnboxy won “OoiROPIsy Oud ou owssur [SATsTA MUTE p-oseq TEI wpiA wr wATSUTTOL eyNpUSD Eun Spie;GISSOduIT no opavjpaowrp “oupyApaT OF WooduAT ss Sey cojsedurt nev apie sje SyaoTEyTe OF DELS BND Yl ToImEMONLEp SjuoTETTE OF renoumg “umaynuepy se anb seopspreyoure9 sex) uraywosardh sostio sv ‘(e861 “HSOOH NVA) THOM ‘mA soure[ opunsog SRTIOTST OPINS BOTT HLT aab bpgeabisd/eiso[oaisd up odurea ou oyereyiodunr euidipeiec Tim eagonb onbsod wyquiey sew ‘opexBesuos symejseq vis! WOOF SUE VIdVEALDOISS 1 VISOIONISa WS SVMAL um “bglango” de todas as conquistas realizedas até um dado o la _nosse vida visando dat continuidade @ outras a travessia. A tarefa que nos é solicitada em cada pit stop ianlas aguisicé: gue seréo feiias a partir d tarefa que nos é solicitada em cacla pit stop 6: ‘dar passagem para as proximas aquisic6es’. Para tanto, é preciso ‘abandonar aquilo que jé nao serve mais ou transformé-lo em algo novo. § quando paramos para abrir a nossa ‘bagagem existencial’ @ separamos as roupas que j4 néo nos servem mais, abrindo espago para que outras aquisigées sejam feitas. Com isso, o processo da separecao-individuagao vai sendo aprimorado durante @ nossa vida, Vamos deixando para tras o que nao nos cabe mais e vamos adquirinda novos conceitos e valores, conquistando maior autonomia e aumentando a nossa capacidade de lidar com os desafios que a cada nova fase iré surgir (PRIGOL, 2011). Ao_conhecermos as etepas do ciclo vital, podemos predizer alguns dos fienies que : frente a ditas mudancas e que 4 habitual que se apresentern (de maneira manifesta ou néo), A idade nao pode ser o tinico critério na avaliagdo do grau de desenvolvimento do individuo, pois sto varies as dimensées da maturidade, entre as quais: emocional, familiar, social, intelectual e fisica. bom salientar que as modificagdes (nas crises vilais) requerem um tempo de adapiagao para enfrentar novos desafios que formam parie do desenvolvimento normal da vida. Além das crises de desenvolvimento, Erikson (1976) fela também das crises acidentais, que sfio aquolas desencadeadas por fondmanos vitals como perda ou ameaca de perda e aumento de bens afetivos, fisicos ou materiais. Tais “crises inesperadas” sdéo aqueles que sobrevém bruscamente e que ix: morte precoce do i | | | tivas quanto as “Tanto as crises evolut s inasperadas podem _ser_atravessadas_pelas pessoas/famflias de diversas mansiras, dependenda dos recursos psfquicos que tenham e das © 6 prévias (a adaptagio a crises anteriores © 9 aprendizado que fizerem_a partir destas experiéncias). Tais crises imprevisiveis devern ser enfrentadas quando aparecem, sofrendo a incerteza das suas vicissitudes; pelo contrério, as previsiveis podem ser esperades e estarse preparado para resolvé-las com éxito. Daf a importéncia de conhecer este iltimo tipo de crise, de saber quando e como aparecem, para planificar as estratégias ou medidas que permitam abordar essas circunstancias dificeis da melhor maneira possivel. Destaco a importante proposta de Simon (1989) que inova a Teoria da Crise quando acrescenta a sua definicia. uma classificagao etiolégica. Para este autor, a crise € uma situagéo nova e potencialmente transformadora, cor a qual o individuo se depara em alguns momentos de sua vida. As crises podem ser classificadas por um aumento ou reducdo significativa do universo pessoal, sendo este constituido da prépria pessoa e de todos os objetos que a cercam. Diante da pressdo emocional ocasionada pela situagao critica, ha Tiscos de _prejuizo para o universo pessoal. Assim, o referido autor classifica as crises por aquisicao, no caso do aumento e perda, no caso da diminuigdo do universo pessoal. No caso de crises por perda, ha risco de o individuo tentar aliviar suas tensdes através de atitudes auto-ayressivas (auto-mutilagéo e até suicidio) ou projegao da culpa em alguém menos resistente. Nas crises por aquisicao, os riscos sao de fuga direta @ indireta, ou, ainda, o risco de o sujeito admitir mais do que pode. Na crise por perda, os objetivos do apoio s4o ajudar a pessoa a aceitar a perda, lider com os sentimentos precominantes, evitar riscos_¢ incentivar © reinteresse por sen universo pessoal, ou ‘novemente no campo experioncial 36 TEMAS EM PSICOLOGIA I: PSICUTERAPIA BREVE-FOCAL No.caso das crises por aquisigao, os objetivos sio auxiliar pessoa a accitar os ganhos ou rever os projetos, j4 que estes podem ser demasiado ambiciosos e para além da realizacao. Se ocorrer este Ultimo caso, deve-se ajudar, se necessdrio, a pessoa a assumir a sua limitagao. Pode-se ainda tabalhar com os sentimentos predominantes ¢ evitar riscos. Afirma Simon, 1989, ainda, que, como 0 conceito de crise s6 tem seu valor dentro do paradigma de que as experiéncias_ sao_pessoais ¢ singularos, wma determinada situacéo pode, para uma pessoa, diminuir o seu universo pessoal e, para outra, aumentar, Apresenta também modelos de prevengao nas crises prevencao passiva e ativa. Na prevengao passiva, a crise jé esté instalada ¢ apenas é possivel tentar ‘contorné-la”, Na_prevengao ativa, a crise ainda vai se instalar e, por isso os profissionais de satide tém condigdes de preparar a pessoa ¢ 0 ambiente para que a crise n4o ogoma ou que sua | mals aienuada. Na verdade, ele propée que se atue para converter a ‘crise por aquisig&o em progresso e evitar que a crise por perda provoque regressao. Assim, 9 desfecho da crise depende da resolugio de um complexo de forgas conflitantes durante 0 periodo de desaquilfbrio, Algumas das forcas originam-se no intimo do individuo e relacionam-se com sua estrutura da personalidade e_experiéncia_biopsicossocial_passada. Algumas das. forcas originam-se em seu meio ambiente, sobretudo as mudangas na intensidade das circunstancias perigosas e ajuda ou oposicao propositada de outras pessoas sua familia, seus amigos & aquelas pessoas que prestam assisténcia formal ou informal a quem ele podera acudir. Quando ¢ hora_de_procurar_ajuda_especializada? Quando o individuo e/ou a familia _apresenta dificuldades na _transposigao de uma fase ou etapa do_desenvolvimento de vida trouxer humano para outza ou quando a crise do cic! 37 A BASE DA PB: TEORIA DA CRISE um softimento importante atrapalhando a rotina de vida da pessoa, 6 importante procurar ajuda de um especialista no ‘'assunto e iniciar um tratamento. Simon, 1989, oferece um modelo para a equipe de satide mais ampla, que chamou de psicohigienistas e que deve estar inserido nas instituigbes para que a equipe possa atuar nos momentos mais importantes da crise. Isso representa uma democratizagéo do servigo de prevengao crise, tornando o servico acessivel ao piiblico em geral e, principalmente, instalado nos locais onde as crises ocorrem ou podem ocorrer. No caso do psicélogo, seria ideal, a presenga este profissional em todas as esferas de atengio a satide a fim de provenir maiores transtornos ocasionados pelas situagoes criticas mais diversas. No‘mundo hodierno, onde as crises est4o presentes para além da esfera do esperado devido aos “avangos” da atualidade que provocam 0 aumento da violéncia, como também, sérios desastres ambientais ¢ econémicos, além, das ‘situagoes de vulnerabilidade social que muites sujeitos estao expostos nas guerras entre povos, nos pafses subdesenvolvidos etc. ‘i : Assim, se fala de uma nova especialidade da Psicologia ligada as_emergéncias e desastres, entendida esta como um ramo que visa a estudar 0 comportamento das pessoas e grupos humanos que esto expostos a esses tipos de riscos, desde a agao preventiva até o pés-trauma, e @ realizagao de estratégias de intervencao psicossocial que visam a mitigagao e preparagéo da populagéo, prevengao ¢ redugdo respostas inadequadas durante o evento de impacto e facilitando posterior reabilitagéo ¢ reconstrugao. Encontramos com relagao a este tema, estudos de varios autores, principalmente, colegas da América Latina, que se obrigaram a adentrar neste campo em virtude da propria convivéncia com desastres naturais (PARADA, 2004, RAFFO, 5, RODRIGUEZ, 2003, BENVENISTE, 2600 apud SA, 2008). entanto, mesmo nao querendo aprofundar este tema por ar de um vasto campo para discussio ¢ reflexéo, devemos saltar que tem seu embasamento na teoria da Crise, que e ser “acessada” na sua inlervengao psicolégica, Podemos ind, assim, intervencao em crise, segundo Sé et al, 2008: exercer influéncia no fincionamento psicolégico do individuo durante o periado de desequilforio, © objetivo é ajudar a acionar a parte sauddvel preservada da pessoa, assim como seus recursos sociais, enfrentando de maneira adaplativa os efeitos do estresse (SA et al, 2008, p.5). Areferida autora esclarece que: Nessa oporlunidade, devem-se _facilitar _as Gondigdes necessérias para que. se estabeleca na. funcionamento psicol6gico, interpessoal e social, ‘diante da nova situacio, Cabe lembrar que, no momento da crise, as defesas do individuo esto falhas, desativadas, de tal forma que ele se encontra mais receptivo & ajuda e os mfnimos esforgos podem ter resultados m&ximos (SA etal., 2008, p.6). Para a referida autora, os profissionais que atuam com tipo de intervengoes devem ser ativos e diretos, orientados ster objetivos rapidos, devem ser dgeis e flexiveis para car ein pratica agaes para a resolugdo de problemas e para peragdo das miltiplas dificuldades que possam surgir no esso de atengéo, procurando satisfazer as necessidades Hatas do sujeito em orise utilizando-se de todos os recursos oniveis, tude num perfode de tempo reduzido. G que propomos aqui é fazer uma intervengao em crise baseada na técnica da Psicoterapia breve-focal de apoio, pois encontramos muitas somelhangas nas propostas de atuacdo pelos referidos autores. Assim, no decorrer dos capttulos, vamos observar como se atua dentro da técnica da PBA, como também conhecer alguns casos atendidos em alguns contextos como o hospital e o plantao psicolégico. REFERENCIAS AGUIAR et al. Intervenges em crise. In CORDIOLI, A.V. Psicoterapias — Abordagens atuais. Porto’ Alegre: Artes médicas, 1993. BELLAK; SMALL. Psicoterapia de emergéncia & Psicoterapia breve. Porto Alegre: Artes médicas, 1980. CAPLAN, G. Prineipios de Psiquiatria Preventiva. Rio de Janeiro: Zahar, 1980. CORDIOLI, A. V. Psicoterapias - Abordagens atuais. Porto Alegre: Artes médicas, 1993. DATTILIO;FREEMAN. Estratégiascognitivo-comportamentais de intervengaéo em situagies de crise. Porto Alegre: Artes médicas, 1995. 4 ERIKSON, E. H. Identidade; juventude e crise, Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1976. LEMGRUBER, Vera. Psicoterapia Breve: a ‘Técnica focal. Porto Alegre: Artes médicas, 1984. MOFFAT, A. Terapia da crise - Teoria temporal do psiquismo. Sao Paulo: Cortez Editora, 1987. SA, Samantha Dubugras; Werlang, Blanca Susana Guevara e Paranhos, Mariana Esteves Revista Bresileira de Terapias Cognitivas, Volume 4, Ntimero 1.

Você também pode gostar