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ANÁLISE DA TEMPERATURA DE INCUBAÇÃO DOS NINHOS DE LEPIDOCHELYS OLIVACEA

(ESCHOLTZ, 1829), NO LITORAL NORTE DO ESPIRITO SANTO, COMO FORMA DE ESTIMAR A


RAZÃO SEXUAL
Vasconcelos, G. D.1. 4; Bérnils, R. S.1.; Xavier, B. L. 1.; Maia, T.G. S.2.; Caetano, A. E.3.
1-Universidade Federal do Espirito Santo; 2-Universidade Estadual de Feira de Santana; 3-
Universidade Federal de Goiás.4-Projeto Tamar-ICMBio- Espírito Santo.
RESUMO
As tartarugas marinhas são répteis da ordem dos testudinatas e apresentam o desenvolvimento e a
diferenciação sexual dos ovos dependentes do calor do ambiente onde se encontram. A determinação
sexual nas tartarugas marinhas depende da temperatura na qual os ovos são incubados, uma
determinada faixa de temperatura produz apenas machos e outra exclusivamente fêmeas, existindo
ainda um intervalo de transição onde são gerados ambos os sexos. Com o objetivo de comparar a
temperaturas dos ninhos estudados, com valores já estipulados para Lepidochelys olivacea em outras
áreas de estudo, indicando a possível razão sexual produzida no Litoral do Espírito Santo, foi inserido,
até 24h após a deposição dos ovos, um data logger (termômetro, modelo RC5 e Ebutton) em cada
ninho considerado da espécie em estudo. Foram monitorados N=15 ninhos da espécie Lepidochelys
olivacea, as médias de temperatura ao qual os ninhos foram submetidos ao longo da incubação,
apresentaram diferença significativa entre as ninhadas (P=0,000). E o comparitvo com valores
estipulados para a espécie na Costa Rica e no Brasil, em Sergipe, mostrou diferença no direcionamento
da razão sexual.
PALAVRAS- CHAVE- tartarugas marinhas, pivotal, incubação, desova

INTRODUÇÃO
As tartarugas marinhas são repteis da ordem dos testudinatas e apresentam o desenvolvimento e a
diferenciação sexual dos ovos dependentes do calor do ambiente onde se encontram. Esses répteis
necessitam do fornecimento de calor ambiental para o desenvolvimento dos filhotes. É comprovado
que a razão sexual desses animais está diretamente relacionada com a temperatura da areia e o tempo
de incubação dos ninhos (Ferreira Junior, 2009). Lepidochelys olivácea, conhecida como tartaruga
oliva, pequena ou comum, tem distribuição circunglobal, desovando preferencialmente em locais com
temperaturas mais elevadas (Marcovaldi & Marcovaldi 1999, Castilhos & Tiwari 2006).
A determinação sexual nas tartarugas marinhas depende da temperatura na qual os ovos são
incubados, uma determinada faixa de temperatura produz apenas machos e outra exclusivamente
fêmeas, existindo ainda um intervalo de transição onde são gerados ambos os sexos. O valor de
temperatura onde é gerado igual proporção de machos e fêmeas é denominado pivotal (ideal) (Ferreira
Júnior, 2009) (Marcovaldi et al. 1997).
OBJETIVO
Monitoramento da temperatura dos ninhos de Lepidochelys olivacea desde a postura até a eclosão dos
filhotes, com o objetivo de comparar com outras temperaturas já determinadas para esse táxon,
indicando a possível razão sexual produzida no Litoral do Espírito Santo.
MATERIAL E MÉTODOS
Esse estudo foi realizado no litoral da Vila de Povoação e Vila de Regência, ambas pertencentes à
cidade de Linhares-ES. O trabalho de campo ocorreu entre os meses de outubro de 2015 a dezembro
2015 e entre fevereiro a março 2016, por questão de logística não foi possível monitorar em janeiro.
Os monitoramentos foram noturnos por meio de busca ativa na praia, para localização das fêmeas de
L. olivácea ou somente dos ninhos como é mais frequente. Para análise da temperatura dos ninhos foi
inserido, até 24h após a deposição dos ovos, um data logger (termômetro, modelo RC5 e Ebutton) em
cada ninho considerado da espécie em estudo. Os loggers registraram a temperatura durante todo o
tempo de incubação a intervalos de duas horas e foram retirados no momento da eclosão dos filhotes.
Os dados de temperatura registrados, foram transferidos para um computador através de um software
específico (RC 4&5 Conventional (V2.0) e OneWireViewer).

RESULTADOS E DISCUSSAO
Foram monitorados N=15 ninhos da espécie Lepidochelys olivacea. As quinzes desovas monitoradas,
resultaram em um somatório (∑) de 1724 ovos, com sucesso de eclosão médio dos ninhos de 80,27%
(tabela 1), o que é considerado um número alto de filhotes eclodidos em cada desova. As fêmeas de
tartarugas marinhas tendem a escolher locais que favorecem o bom desenvolvimento dos filhotes.
Chelonia mydas que desova em sedimentos mais grossos apresenta um menor sucesso de eclosão na
Ilha Ascensão (Mortimer, 1990). Eretmochelys imbricata (Linnaeus, 1758) (Horrocks & Scott, 1991) e C.
caretta (Hays & Speakman, 1993) elegem os pontos da praia onde o sucesso da eclosão é maior e
onde a praia é mais plana e de menor movimentação (Wood & Bjordnal, 2000). Nesse aspecto, os
ninhos de L. olivacea apresentaram mais da metade dos filhotes eclodidos, salvo a exceção do ninho
2113 com Sucesso de Eclosão médio de 34,84% (Tabela 1).
O tempo médio de incubação foi de 50,46 dias, não ocorreu diferença significativa entre o tempo de
incubação dos ninhos (Tabela 1). Quanto ao número de ovos depositados por ninho, obtivemos em
média 114,93 ovos (Tabela 1). Analise do tempo de incubação e tamanho da ninhada foi determinado
para C. caretta e E. imbricata no litoral Sul do estado da Bahia, onde C. caretta a média foi de 94,4
ovos e para E. imbricata foram de 118,3. A duração média da incubação, para as duas espécies foi de
aproximadamente 56,9 dias para C. caretta e 58,3 dias para E. imbricata (Camillo, Romero, Leone et.al,
2009). As características das ninhadas de tartarugas marinhas, como número de ovos, duração da
incubação e sucesso de eclosão podem variar de acordo com características das fêmeas e com
características das praias de nidificação (Miller 1997).
TABELA 1- Características dos ninhos monitorados, TI (Tempo de Incubação), FV (Filhotes vivos), NE
(ovos não eclodidos), NAT (Natimortos) e SE (Sucesso de eclosão).

Ninho T I (DIAS) F V ã NE NAT TOTAL SE%

167 51 78 16 0 94 82.97
67 51 102 5 2 109 93,57
360 49 91 21 15 127 71,65
381 49 103 4 10 117 88,03
460 49 117 16 0 133 87,96
461 52 137 3 4 144 95,13
483 51 119 6 3 128 92,96
525 47 119 7 5 131 90,83
1439 49 108 13 3 124 87,09
1465 51 102 8 2 112 91,07
1834 48 76 9 2 87 87,35
1906 55 77 14 0 91 84,61
1983 51 64 49 3 116 55,17
2113 53 46 84 2 132 34,84
2061 51 48 23 8 79 60,75
Média 50,46 92,46 18,53 4,1 114,93 80,27

As médias de temperatura ao qual os ninhos foram submetidos ao longo da incubação, apresentaram


diferença significativa entre as ninhadas (P=0,000) (Figura 1). O ninho ND atingiu o maior valor de
temperatura média 32,5ºC (Figura 1) e o ninho NL a temperatura média de incubação de 29ºC (Figura
1). No entanto, o valor da temperatura não influenciou os dias de incubação entre os diferentes ninhos,
não havendo correlação entre os valores médios de temperatura e tempo de incubação em dias.
De acordo com Ferreira Junior (2009), Maxwell et al., (1988); Godley et al., (2001), o calor metabólico
aumenta ao longo da incubação tornando-se mais intenso a partir do segundo terço do desenvolvimento
embrionário. Nesse período, ocorre um aumento de temperatura influenciada pelo desenvolvimento
dos filhotes, o que torna esse período fundamental para definição do sexo. Os valores de temperatura
média durante o segundo terço de incubação dos ninhos, apresentou diferença significativa. ANOVA F
(14;3140) =21.855; p=0.0000; KW-H (14;3155) = 1806.3158. (Figura 2).

Estudos feitos na Costa Rica, mostraram valores para Lepidochelys olivacea, com uma grande faixa
de transição ao longo da temperatura pivotal variando de 28,5 a 31 °C (Spotila et al., 1987, Wibbels et
al., 1998). Comparando com as temperaturas médias obtidas até o momento no Litoral do Espirito
Santo, no segundo terço da incubação, poderíamos estimar o ninho NL média de 27°C (Figura 2) com
razão voltada para machos, NA, NB, NC, NE, NF, NG, NH, NM, NO (Figura 2) com valores dentro do
intervalo de transição, direcionando a razão sexual 1:1, com iguais proporções de machos e fêmeas e
os ninhos ND, NI, NJ, NK e NN, com valores médios no segundo terço acima de 31°C, sugerindo uma
produção de fêmeas.

A temperatura pivotal de L. olivacea em Pirambu é de 30,65 °C, a maior entre as tartarugas marinhas
que desovam no Brasil. A faixa de transição em torno da temperatura pivotal, na qual são gerados
ambos os sexos, varia de 29,94° a 31,2, semelhante ao de outras tartarugas marinhas, mas com uma
pequena diferença quando comparada a Costa Rica (28,5 a 31°C). Considerando os valores de
Sergipe- Brasil como mais precisos para comparação com o Espírito Santo, percebemos diferença nos
no direcionamento sexual das desovas, NA, NL, NM e NO (Figura 2) com razões sexuais direcionada
para machos, NA, NB, NC, NE, NF, NG, NH, NM e NO (Figura 2) com igual razão sexual gerando
ambos os sexos e os ninhos ND, NI, NJ, NK e NN (Figura 2) com médias indicando fêmeas.

Figura 1- Média de temperatura durante todo o período de incubação dos ninhos de L. olivacea.

Figura 2- Média da temperatura do segundo terço de incubação dos ninhos de L. olivacea.

Os dados são preliminares, e o estudo ainda se encontra em andamento.

Agradecimento

Agradecimento ao Projeto Tamar-ICMBio pela parceria na execução da pesquisa.


REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

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