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Sommerfelt et al., / Revista Brasileira de Higiene e Sanidade Animal (v.9, n.

3) (2015) 450-464

Revista Brasileira de Higiene e Sanidade Animal


Brazilian Journal of Hygiene and Animal Sanity
ISSN: 1981-2965

Artigo
Efeito da temperatura do ambiente sobre a gestação
de fêmeas suínas e impactos econômicos relacionados
Environmental temperature effect on the gestation sows and related economic
impacts
Ines Markus Sommerfelt 1, Claudete Rempel *2
1
Bióloga formada pelo Centro Universitário UNIVATES, Lajeado, RS/Brasil.
2
Doutora em Ecologia, Professora do Centro Universitário UNIVATES, Lajeado,
RS/Brasil.
RESUMO: Este trabalho foi realizado junto a uma granja suinícola do Vale do
Taquari, Rio Grande do Sul, com os objetivos de comparar a quantidade de leitões
nascidos vivos por estação do ano, impactos econômicos relacionados e verificar a
relação de perdas como retorno ao cio, abortos, teste de prenhez negativo (TPN) e
mortes com a estação do ano (inverno e verão) durante a gestação fêmea suína. As
matrizes suínas reprodutoras avaliadas pertencentes à genética Camborough, de ordem
de parto variada, desde o primeiro até oito partos. Para verificação das amostras valeu-
se da análise estatística descritiva e inferencial, apresentados em forma de médias
(desvios padrão) e teste t para comparação dos grupos. Para correlacionar a média de
temperatura do inverno e do verão com as perdas de leitões foi utilizada a correlação de
Pearson. Observou-se, a partir dos dados analisados, que há diferença estatística
significativa nas perdas (t = 4,3803; p = 0,0119), sendo a média de perdas maior no
verão [188,4 (53,02)] do que no inverno [114,2 (17,01)]. Não há diferença estatística
significativa na média de leitões mortos (mumificados ou natimortos) (t = -2.4572; p =
0,0698), no entanto, há diferença estatística significativa na média de leitões nascidos
no verão [19.615,6 (995,16)] e no inverno [21.122,8 (1.421,18)] (t = -6.5361; p =
0,0028). Também se verificou que há correlação forte, positiva e significativa entre a
média de perdas com a temperatura ambiente (r = 0,7575; p = 0,0111).

Palavras-chave: temperatura, matrizes, estação do ano.


ABSTRACT: This work was carried out in a pig farm in the Vale do Taquari,
Rio Grande do Sul, with the objective of comparing the number of piglets born alive per
season, economic impacts related and the relation of losses in return to estrus, abortion,
negative pregnancy test (TPN) and deaths with the season (winter and summer) during
the swine female pregnancy. Breeding sows evaluated belonging to genetic
Camborough of varying birth order, from the first to eight births. To check the samples
drew on descriptive and inferential statistical analysis, presented as mean (standard
deviation) and t test to compare the groups. To correlate the average winter and summer
temperature with losses of piglets Pearson's correlation was used. It was observed from
the data analyzed, there is a statistically significant difference in losses (t = 4.3803, p =
0.0119), with a mean greater losses in the summer [188.4 (53.02)] of in the winter

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[114.2 (17.01)]. There is no statistically significant difference in mean dead piglets


(mummified or stillborn) (t = -2.4572, p = 0.0698), however, there is no statistically
significant difference in mean piglets born in the summer [19615.6 (995.16 )] and
winter [21122.8 (1421.18)] (t = -6.5361, p = 0.0028). It was also found that there is
strong positive and significant correlation between the average loss to the ambient
temperature (r = 0.7575, p = 0.0111).

Keywords: temperature, matrices, season.


________________________
Autor para correspondência. E.Mail: * crempel@univates.br>
Recebido em 10/05/2015; Aceito 17/09/2015
http://dx.doi.org/10.5935/1981-2965.20150041

INTRODUÇÃO adequações por parte dos produtores. O


No Brasil, a produção de suínos clima externo influencia
cresceu a partir de 1990, em função de consideravelmente na produção e
avanços em conhecimentos em reprodução dos suínos. O metabolismo
genética, nutrição, sanidade, reprodução elevado, a camada de tecido adiposo e o
e manejo. A criação passou a ser sistema termorregulador pouco
intensiva e os animais passaram a desenvolvido fazem do suíno um dos
permanecer confinados até o abate. As animais domésticos mais sensíveis a
principais raças exploradas no país, altas temperaturas. Eles podem morrer
Landrace, Large White e Duroc, são se a temperatura retal chegar a 44,5°C,
estrangeiras, sendo estas as que isso porque não suam (LEE; PHILLIPS,
suportam melhor temperaturas mais 1948). As glândulas sudoríparas são
baixas. A região Sul é a maior produtora funcionais, não respondem à exposição
de suínos no país, onde o clima é sub- do animal ao calor (SILVA, 2010).
tropical e as temperaturas mínimas A zona térmica neutra dos
giram em torno de 12°C, em média . suínos acontece quando há o mínimo de
A reprodução de suínos é desperdício de energia e está limitada
diretamente afetada pelas condições pelas temperaturas muito elevadas e
adversas do ambiente. O estresse muito baixas. Para regular a temperatura
calórico é um dos limitantes na corporal constante em ambientes com
produção brasileira, portanto a variações climáticas, o organismo
capacidade de adaptação dos animais às precisa então perder calor ou aumentar
constantes de alterações de temperaturas sua taxa de produção, ingerindo mais
deve ser alvo de observações e alimento e queimando tecido adiposo
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em caso de temperaturas baixas. representam 40% da produção total de


(SOUZA, 2002). A faixa ideal de calor animal. Quando a temperatura está
temperatura para porcas na fase de abaixo da zona de conforto da fêmea
gestação (dura em média 115 dias no esse calor sensível é ativado e será
suíno) é de 18°C a 21°C. Se a dissipado, aquecendo, dessa forma, o
temperatura ultrapassar essa faixa, ambiente (NÄÄS, 2000).
podem ser associadas perdas na Já quando a temperatura está
produção e falhas reprodutivas, acima da zona de conforto do animal,
ocasionando também perdas tem-se o calor latente e haverá perda
econômicas (MOURA, 1999). evaporativa (ZERT, 1969). Mecanismos
As altas temperaturas podem ser fisiológicos e reações comportamentais
responsáveis por mortalidade são responsáveis pela tentativa de
embrionária nos primeiros 30 dias de manter a homeostase do organismo,
gestação e, por isso, reduzir as taxas de como a frequência respiratória, o
parto e diminuir o tamanho da leitegada balanço hídrico, a temperatura corporal
(número de leitões nascidos por matriz) e interações sociais (PANDORFI,
(VAN DER LENDE, 2000). Nas porcas 2005).
em gestação, a perda de calor irá ocorrer Porcas em gestação em
por condução, radiação, convecção e ambientes com altas temperaturas
evaporação da água de sua pele. Essa podem ter aumento no número de
evaporação acorre por respostas mumificados (leitão que morre a partir
comportamentais, o suíno irá procurar de 35 dias de gestação, não interrompe
locais molhados ou úmidos, o que o processo permitindo o nascimento dos
promove maior dissipação de calor pelo outros fetos) e até ter reduzido o
processo evaporativo. Pode ocorrer número de nascidos vivos. Ventiladores,
também diminuição no consumo de quando instalados, auxiliam na
alimentos, com o objetivo de diminuir o regulação da temperatura, por
calor produzido pelas reações melhorarem as condições de conforto
metabólicas do processo de digestão, das porcas, pois favorecem a troca de
que deverá ser dissipado para o calor por convecção (NÄÄS, 2000). Por
ambiente (SILVA, 2010). O calor isso, é necessário que, em regiões de
sensível é aquele que é composto por clima mais quente ou estações do ano
componentes não evaporativos, e em que as temperaturas aumentem, haja

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climatização do ambiente onde os condições devem ser observadas em


suínos estão confinados. todas as fases de criação, objetivando
Um alto índice de mortalidade maximizar o bem-estar dos animais
pode ser observado durante os meses de visando à máxima produtividade do
verão, em matrizes comerciais em plantel (COLLIN et al., 2001a).
confinamento, sendo que há um Dessa forma, os objetivos deste
aumento dos batimentos cardíacos e por trabalho são:
consequência a maior mortalidade de - caracterizar a produção de
animais (CHAGNON; D’ALLAIRE; leitões de uma granja de suínos do Vale
DROLET, 1991). do Taquari, de 2010 a 2014.
As funções de reprodução - comparar a quantidade de
podem ser afetadas pelo estresse nascidos vivos por estação do ano e
calórico, tais como ocorrência e impactos econômicos relacionados;
intervalo entre ovulações, demonstração - verificar a relação de perdas de
de estro (cio), viabilidade dos gametas, leitões recém-nascidos com a
sobrevivência dos embriões e temperatura ambiente no período de
desenvolvimento fetal. Isso poder gestação;
resultar em alterações no desempenho - verificar a relação de perdas
como intervalo entre parto e concepção como retorno ao cio, abortos, teste de
e taxa de concepção (RAY; HLBACH; prenhez negativo e mortes com a
ARMSTRONG, 1993). estação do ano (inverno e verão)
Se o feto for expulso antes dos durante a gestação.
110 dias de gestação sem que nenhum MATERIAL E MÉTODOS
dos fetos sobreviva além de 24 horas, O acompanhamento da
está caracterizado o aborto (VARGAS; cobertura, gestação e lactação das
WENTZ; BORTOLOZZO, 2006). fêmeas foi realizado em uma granja
Tentar manter a temperatura suinícola localizada no município de
ambiente próxima da zona de conforto Teutônia, na região do Vale do Taquari,
dos suínos é o ideal. Valores muito Rio Grande do Sul, nos períodos de
diferentes dos próximos à região de inverno e verão dos anos de 2010, 2011,
conforto térmico perturbam o 2012, 2013 e 2014.
mecanismo termodinâmico, o que A cidade está situada a 53
reflete no desempenho dos suínos. Essas metros de altitude, as coordenadas

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geográficas do município são latitude do vento. Os ventiladores foram


29° 26' 56'' Sul e longitude 51° 48' 48'' colocados à altura de 1,60 m do solo e
Oeste. Segundo o INMET, Instituto distanciados 15 m um do outro. A
Nacional de Meteorologia, o verão quantidade de ventiladores foi calculada
compreende entre os dias 21 de de acordo com as dimensões dos
dezembro e 20 de março e o inverno galpões, a capacidade dos ventiladores e
ocorre entre 21 de junho a 22 de a categoria animal.
setembro, sendo que as médias Os ventiladores são acionados
esperadas de temperatura nestas quando a temperatura ambiente
estações são 25°C e 15,4°C, ultrapassa 21°C. O controle da
respectivamente. temperatura é realizado por meio de
As fêmeas avaliadas são da termômetro posicionado no centro dos
genética Camborough com ordem de galpões, a meia altura do corpo dos
parto variada, desde o primeiro até oito animais.
partos. O acompanhamento foi As porcas foram alojadas no
conduzido nos 10 galpões de gestação galpão de gestação no momento da
da granja, construídos de alvenaria. Três primeira inseminação. Foram realizadas
desses galpões têm 79 m de 2,6 inseminações em média por porca,
comprimento, 11 m de largura e 3 m de sendo a primeira no dia (hora 0) da
altura, com cobertura de telha de detecção do estro (aceitação do macho
Brasilit®. Os demais sete galpões têm pela fêmea); a segunda, 24 horas após a
50 m de comprimento, 8 m de largura e primeira; e a terceira, 24 horas após a
3 m de altura, com cobertura de telhas segunda. Somente foi utilizado o sêmen
de barro. As laterais são abertas e que apresentou motilidade acima de
providas de uma mureta de 0,8 m de 70%, oriundo da empresa
altura e cortinas para impedir a AGROCERES PIC®.
passagem de vento em dias mais frios e Nos galpões menores as porcas
controlar a entrada de iluminação solar. foram transferidas para baias coletivas
Nos galpões há instalado um após 50 a 60 dias de cobertura, já nos
sistema de ventilação, nos quais há galpões maiores elas permaneceram nas
ventiladores com capacidade de vento celas individuais até uma semana antes
para 15 m, dispostos nas laterais dos do parto.
galpões, posicionados a favor da direção

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A alimentação das porcas desde Ao término do período


a cobertura até o 28º dia de gestação foi experimental, foram coletados dados de
constituída por ração de gestação, cobertura, repetição de estro, aborto,
fornecida na quantidade de 2,2 kg/dia, mortes, teste de prenhez negativo,
uma vez ao dia, pela manhã. Do 29° dia número de partos, quantidade de leitões
de gestação até o 89° dia, as fêmeas nascidos, mumificados e natimortos
receberam 1,8 kg/dia de ração e do 90° (leitão com desenvolvimento perfeito,
dia até o parto receberam 3,0kg. Essas mas que nasce morto).
quantidades são recomendadas pela Os dados de repetição de estro e
AGROCERES PIC®. Até os 90 dias de número de parições foram utilizados
gestação a fêmea precisa recuperar o para o cálculo da taxa de repetição de
peso perdido na lactação e depois estro, da taxa de repetição de estro
manter o escore corporal ideal, por isso regular e irregular e da taxa de parição.
se fornecem diferentes quantidades de Para o cálculo da taxa de repetição de
ração. O fornecimento maior de ração a estro regular, foram consideradas as
partir dos 90 dias de gestação acontece repetições entre 18 e 25 dias pós-
porque no final da gestação os cobertura e para a taxa de repetição
nutrientes são priorizados para o feto e irregular, as repetições entre 25 e 38 e
para o crescimento do complexo acima de 45 dias pós-cobertura. A
mamário, ao invés do ganho de peso da coleta dos dados foi feita com auxílio de
fêmea suína (THEIL; LAURIDSEN; um programa de lançamento de dados,
QUESNEL, 2014). PIG CHAMP, que é utilizado pela
Para obtenção de dados granja para controle da produção.
representativos do ambiente, foram As perdas durante os dois
anotadas diariamente as temperaturas períodos foram analisadas e realizaram-
máxima e mínima do termômetro se cálculos para saber o custo das
colocado no centro do galpão. Os dados perdas obtidas nos parâmetros avaliados
obtidos foram posteriormente utilizados durante o estudo. Os dados foram
para conferir a variação da temperatura analisados através de estatística
ao longo dos anos compreendidos no descritiva e inferencial. Os dados de
estudo. A coleta dos dados referentes ao tendência central são apresentados na
meio ambiente foi realizada durante forma de média (desvio padrão). Os
todo o período do inverno e verão. resultados foram tabulados em planilha

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Excel e analisados no software dados PIG CHAMP, foi verificado que


BIOESTAT 5.0. Para avaliar a não há diferença estatística significativa
diferença entre a cobertura, perdas, nas coberturas das matrizes, realizadas
número de leitões mortos e número de pela empresa, de acordo com a estação
leitões nascidos no inverno e no verão do ano (t = -0.8406, p = 0,4479), sendo
foi utilizado o teste t de Student. Para a média de coberturas realizada no
correlacionar a média de temperatura do período de 2010 a 2014 no verão de
inverno e do verão com as perdas de 1.828,0 (94,39) e no inverno de 1.850,8
leitões foi utilizada a correlação de (80,33). A figura 1 mostra as coberturas
Pearson. Para todos os testes foi realizadas em cada período durante os
adotado o nível de significância ≤ anos do estudo, foram realizadas ao
0,05. todo 9140 coberturas no verão e 9254
RESULTADOS E DISCUSSÃO no inverno, enquanto na tabela 1 têm-se
A partir da análise dos dados as médias de temperatura durante o
obtidos do programa de lançamentos de inverno e o verão no período analisado.
Figura 1. Cobertura de porcas de 2010 a 2014 no inverno e no verão
2000 1972
1943
1899 1891
1900
1803 1819
1779 1791 1793
1800
1704
1700

1600

1500
2010 2011 2012 2013 2014

Cobertura Verão Cobertura Inverno

Fonte: Dados da Pesquisa


Tabela 1. Média de temperatura (ºC) no inverno e no verão de 2010 a 2014
ANO VERÃO (ºC) INVERNO (ºC)
2010 26,23 16,12
2011 26,07 15,28
2012 26,4 18,09
2013 24,37 16,11
2014 26,83 17,37
Fonte: Dados da Pesquisa

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Os suínos são homeotérmicos, comprovado nesse estudo, onde se


fazem troca de calor com o ambiente, observaram que no verão houve maiores
regulando sua temperatura corporal, perdas, tanto de retorno ao cio, abortos,
porém seu aparelho termorregulador é teste de prenhez negativo e mortes. Há
pouco desenvolvido, o que deixa a diferença estatística significativa nas
espécie muito sensível ao calor, quando perdas (retornos, abortos, TPN, mortes)
adulta (IANA, 2011). no inverno e verão (t = 4,3803; p =
Se as temperaturas 0,0119), sendo a média de perdas maior
ultrapassarem as faixas de 18°C a 21°C no verão [188,4 (53,02)] do que no
podem ocorrer perdas na produção e inverno [114,2 (17,01)], como pode ser
falhas reprodutivas, ocasionando perdas observado na figura 2.
econômicas (MOURA, 1999). Isso foi
Figura 2. Perdas de coberturas de 2010 a 2014 no inverno e verão

300 282
250
200 165 172 172
151 141
150 117 111 107
95
100
50
0
2010 2011 2012 2013 2014

Perda Verão Perda Inverno

Fonte: Dados da Pesquisa


Ao verificarmos as perdas por forma, analisaram-se os relatórios da
ano avaliado, percebe-se que, no verão granja e verificou-se que a taxa de
de 2014, as mesmas foram maiores do parição foi mais baixa em 2014,
que nos anteriores. Isso pode estar conforme pode ser observado na Tabela
associado também com o fato de que as 2, mais um dado que corrobora com a
máximas de temperatura em 2014 foram ideia de que a taxa de parição está
maiores do que nos demais anos. Dessa correlacionada com a temperatura.

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Tabela 2. Taxa de parição no período de 17 de janeiro a 11 de fevereiro de 2010 a 2014


ANO COBERTURAS PERDAS TAXA DE
PARIÇÃO (%)
2010 511 44 91
2011 492 58 88
2012 497 63 87
2013 571 60 89
2014 591 94 84
Fonte: Dados da Pesquisa
Não há diferença estatística nascidos no verão [19.615,6 (995,16)] e
significativa na média de leitões mortos no inverno [21.122,8 (1.421,18)] (t = -
(mumificados ou natimortos) no inverno 6.5361; p = 0,0028). O total de nascidos
e verão (t = -2.4572; p = 0,0698), no vivos e mortos no verão e no inverno
entanto, há diferença estatística pode ser visualizado na Figura 3.
significativa na média de leitões
Figura 3. Total de leitões nascidos vivos e mortos no período de 2010 a 2014
25000
1987 1758
2556 2005 1403 1065
20000 2187 1910 1567
1602

15000

22772 22559
10000 19390 20361 20052 19870 20639 20635
19001 18413

5000

0
Verão Inverno Verão Inverno Verão Inverno Verão Inverno Verão Inverno
2010 2011 2012 2013 2014

Vivos Mortos

Fonte: Dados da Pesquisa


A tabela 3 apresenta o número granja analisada, no período de 2010 a
de leitões nascidos vivos, mumificados 2014.
e natimortos no inverno e no verão na

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Tabela 3. Número de leitões nascidos vivos, mumificados e natimortos no inverno e


verão de 2010 a 2014
NASCIMENTO DE LEITÕES INVERNO VERÃO
Leitões nascidos vivos 105.614 98.078
Mumificados 3.013 2.615
Natimortos 6.860 5.822
Taxa de parição (%) 93 89
Fonte: Dados da Pesquisa
Uma taxa de parição realista 105.614 e 98.078, leitões nascidos vivos
para os sistemas de reprodução de alto no inverno e verão, respectivamente.
desempenho é de 90% ou mais Levando em conta que a
(SILVEIRA; BRANDT; MENDES, mortalidade de leitões no verão foi de
2006). A taxa de parição obtida no 9,64% até o desmame, que acontece
verão foi de 89%, enquanto que no quando o leitão possui em torno de 21
inverno a média foi de 93%, conforme dias de idade, ao final restaram 88.624
pode ser observado na tabela 2, leitões para serem vendidos nessa
revelando que os resultados do verão estação. Considerando que cada leitão
estão abaixo do esperado. foi vendido por US$ 31,90 dólares, em
Quando a temperatura está média, agregados os custos de
acima da termoneutralidade do suíno, o produção, a empresa recebeu US$
estresse calórico se faz presente. Näas 2.825.659,99 dólares pelos leitões
(2000) sugere que as coberturas em vendidos no verão entre 2010 e 2014.
temperaturas mais altas geram maior Enquanto isso, no inverno a
número de leitões mumificados, o que mortalidade foi de 9,02%, em média,
não se confirmou neste estudo, pois as até o desmame. Foram vendidos, ao
diferenças não foram significativas. serem desmamados, 96.088 leitões.
Porém o número de leitões nascidos no Cada leitão também foi vendido por
verão foi menor do que no inverno, o US$ 31,90 dólares, em média, então a
que gerou perdas econômicas empresa recebeu US$ 3.065.105,75
significativas durante esses anos dólares pela venda desses leitões.
avaliados. No trabalho, conforme A diferença nas vendas foi de
apresentado na tabela 2, teve-se ao todo US$ 239.445,76 dólares indicando
importante perda econômica nesse

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período. Se esse valor for dividido pelos descontando uma mortalidade média de
cinco anos avaliados, a perda foi de 9,33%, a granja deixou de vender 6.833
US$ 47.889,15 dólares por ano. Com leitões, o que resulta em US$
esta diferença seria possível pagar o 217.791,80 a menos de retorno.
quadro de funcionários desta granja por Há correlação forte, positiva e
três meses. significativa entre a média de perdas
Ainda é possível fazer outro (retornos, abortos, TPN, mortes) com a
cálculo, considerando que a diferença temperatura ambiente (r = 0,7575; p =
de nascidos entre os períodos foi 0,0111). Na tabela 4 são apresentadas as
significativa (t = 4,3803; p = 0,0119), perdas relacionadas ao retorno ao cio,
tivemos uma diferença de 7.536 leitões abortos e mortes no inverno e no verão.
nascidos vivos a menos. Então,
Tabela 4. Perdas relacionadas ao retorno ao cio, aborto e mortes no inverno e verão de
2010 a 2014
PERDAS DE COBERTURAS INVERNO VERÃO
Retornos 219 375
Abortos 145 227
Mortes de fêmeas 160 217
TOTAL 524 819
Fonte: Dados da Pesquisa
Um aumento nos batimentos aumenta o tempo em que a matriz
cardíacos pode ser observado nos meses permanece vazia no plantel e acaba
de verão, aumentando os casos morte de incidindo diretamente na taxa de
matrizes comerciais em confinamento parição da granja. Isso acontece
(CHAGNON; D’ALLAIRE; DROLET, porque a gestação não foi reconhecida
1991). pela fêmea, houve morte precoce do
Durante os meses do verão, embrião ou falha na fecundação
conforme observado na tabela 3, foi (PARANHOS; VARGAS, 2007).
verificado que de 2010 a 2014 A fêmea que não estiver coberta
morreram 217 fêmeas, enquanto que no ao ser realizado o exame
inverno morreram 160. ultrassonográfico, é considerada “vazia”
O retorno ao cio é um fator ou com TPN (teste de prenhez negativo)
crítico para a criação de suínos, isto se ela não tiver apresentado sinais

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de estro e com a proximidade do parto forma: 1) retorno irregular se houver


não apresentam sinais de distensão retorno ao cio antes do 35° dia após a
abdominal e desenvolvimento das cobertura; 2) retorno regular 2, se
glândulas mamárias (VARGAS; houver retorno entre 36-46 dias após a
WENTZ; BORTOLOZZO, 2006). cobertura; 3) retorno tardio, se houver
O exame de ultrassonografia é retorno depois de 47 dias; e 4) vazias,
uma ferramenta muito importante para sem terem retornado ao cio (SPÖRKE,
diagnosticar precocemente e com 2006).
maior precisão as fêmeas não cobertas. Na tabela 5 pode-se observar a
Ele é realizado aos 25-35 dias. Se a diferença do retorno ao estro e do
gestação for negativa quando for número de fêmeas que não ficaram
realizada a ultrassonografia, as falhas prenhas no inverno e no verão, no
podem ser caracterizadas da seguinte período avaliado (2010 a 2014).
Tabela 5. Retorno ao estro e fêmeas “vazias” nos períodos de inverno e verão entre
2010 e 2014
RETORNO DE CIO VERÃO INVERNO
Menor que 18 6 2
18-25 regular 152 95
26-37 irregular 107 57
38-46 56 31
Acima 46 tardio 54 34
TPN( vazia) 123 47
Fonte: Dados da Pesquisa
Na tabela 5 pode ser verificado perdas maior no verão do que no inverno.
que o número de repetições ao estro foi Não há diferença estatística significativa
maior no verão do que no inverno, na média de leitões mortos (mumificados
indicando que esta variável analisada ou natimortos) em cada estação do ano,
pode estar relacionada com a estação do no entanto, há diferença estatística
ano em que é realizada a inseminação. significativa na média de leitões nascidos
CONCLUSÃO no verão e no inverno. Também se
Observou-se, a partir dos dados verificou que há correlação forte, positiva
analisados, que há diferença estatística e significativa entre a média de perdas
significativa nas perdas, sendo a média de com a temperatura ambiente. Diante dos

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dados avaliados, pode-se inferir que a IANA PIMENTEL MANI; Avaliação das
criação de suínos requer conhecimento e condições climatológicas do município de
dedicação por parte dos envolvidos no Jatai - GO para produção de suínos; 22 de
manejo desses animais. Respeitar e junho de 2011.
observar o comportamento das matrizes é INMET- INSTITUTO NACIONAL DE
fundamental para bons resultados nessa METEOROLOGIA. Disponível em
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ser observado, já que impactos ?r=clima/mesTempo>. Acesso em: 14 jun.
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