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DOI: 10.5433/1679-0359.2021v42n2p769
Destaques
A temperatura superficial foi maior na estação seca.
A frequência respiratória foi maior na estação seca.
O teor de proteína do leite foi maior na estação seca.
Gordura e lactose permaneceram-se na estação seca e chuvosa.
Abstrato
O objetivo deste estudo foi analisar o efeito das estações seca e chuvosa sobre a produção, qualidade do leite
(lactose, gordura, proteína, sólidos totais, CBT e CCS) e fisiológica (temperatura retal e superficial e frequência
respiratória e cardíaca) de vacas mestiças (holandesas/zebu) em lactação, sob regime de pastejo rotacionado
em pasto cultivado, utilizando 10 vacas mestiças (holandesas/zebu) em lactação, peso vivo médio de 500±30
kg, e no período chuvoso estavam entre o quarto e quinto meses de lactação e no período seco situaram-se
entre o sétimo e o oitavo mês de lactação com produção inicial média de 18±4kg de leite/vaca/dia, mantendo a
homogeneidade do lote nas duas épocas. Os animais foram mantidos em sistema de criação semi-intensivo,
utilizando pastejo rotacionado em pastagem de Brachiaria decumbens, em uma área de 3 hectares, onde havia
um conglomerado de árvores que fornecia 5m²/animal de sombra natural, para abrigar os animais no costas
quentes As estações e horários do dia influenciaram significativamente (P <0,05) a temperatura ambiente,
1 Zootecnista do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, UFPB, Areia, PB, Brasil. E-mail:
evaldo@cca.ufpb.br
2 Prof. Titular, Unidade Acadêmica de Engenharia Agronômica, Universidade Federal de Campina Grande, UFCG, Campina Grande,
PB, Brasil. E-mail: araujodermeval@gmail.com; wallacebosa@hotmail.com
3
Pesquisadores, Instituto Nacional do Semiárido, Campina Grande, PB, Brasil. E-mail: neilalr@hotmail.com; george.vieira@
insa.gov.br
4 Prof. Titular, Centro de Ciências Agrárias, UFPB, Areia, PB, Brasil. E-mail: ariosvaldo.medeiros@gmail.com
5 Prof. Associado, Centro de Ciências Agrárias, UFPB, Areia, PB, Brasil. E-mail: sgonzaganeto@gmail.com
6 Doutorando em Zootecnia, Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Universidade Estadual de Maringá, UEM, Maringá,
RP, Brasil. E-mail: rogerioaleson@hotmail.com
*Autor para correspondência
Recebido: 30 de março de 2020 - Aprovado: 24 de novembro de 2020
Cardoso, EA et al.
umidade relativa do ar e índice de temperatura e umidade do globo negro. A frequência respiratória e a temperatura
superficial foram maiores (P < 0,05) na estação seca e os valores de temperatura retal e frequência respiratória
foram semelhantes (P > 0,05) nas estações. A produção de leite e proteína apresentaram diferença significativa (P
< 0,05) dependendo das épocas do ano. Com o auxílio de variáveis fisiológicas (temperatura retal e superficial e
frequência cardíaca e respiratória), mesmo assim, as vacas diminuíram sua produção e aumentaram a concentração
de proteína no leite.
Palavras-chave: Brachiaria decumbens. Proteína do leite. Contagem de células somáticas. Contagem bacteriana total.
Resumo
O objetivo desta pesquisa foi analisar o efeito das estações secas e chuvosas sobre a produção, qualidade do
leite (gordura, lactose, proteína, sólidos totais, CTB e CCS) e as variáveis fisiológicas (temperatura retal e
superficial e frequência respiratória e cardíaca) de vacas mestiças (holandês/zebu) em lactação, sob regime de
pastejo rotacionado em pastagem cultivada, utilizando-se 10 vacas mestiças (holandês/zebu) em lactação, peso
vivo médio de 500±30 kg, sendo que no período chuvoso estavam entre o quarto e quinto mês de lactação e no
período seco ficaram entre o sétimo e oitavo mês de lactação com uma produção média inicial de 18 ± 4kg de
leite/vaca/dia, mantendo a homogeneidade do lote nas duas estações. Os animais foram mantidos em sistema
semi-intensivo de criação, utilizando pastejo rotacionado em pastagem de Brachiaria decumbens, numa área de
3 hectares, onde existia um conglomerado de árvores que propiciavam 5m²/animal de sombra natural, para
abrigar os animais em horários mais quentes faça dia. As estações do ano e os horários do dia influenciaram
significativamente (P < 0,05) a temperatura do ambiente, a umidade relativa do ar e o índice de temperatura do
globo negro e umidade. A frequência respiratória e a temperatura superficial foram mais elevadas (P < 0,05) na
estação seca e os valores da temperatura retal e frequência respiratória foram semelhantes (P > 0,05) nas
estações. A produção e a proteína do leite tiveram diferença significativa (P < 0,05) em função das estações do
ano. Com o auxílio das variáveis fisiológicas (temperatura retal e superficial e frequência cardíaca e respiratória),
mesmo assim, as férias diminuíram sua produção e aumentaram a concentração de proteína no leite.
suplementação volumosa e/ou concentrada (RC Souza et al., O experimento foi realizado no setor de pecuária
2015). leiteira da Universidade Federal da Paraíba, Areia, PB,
localizada na mesorregião do Agreste Paraibano e microrregião
Os elementos climáticos interferem significativamente
do Brejo Paraibano, localizada a 6°58'12” S e 35°45'15”
no comportamento, na fisiologia, na produção e na qualidade
do leite bovino, especialmente em animais geneticamente
W Gr, 620 m acima do nível do mar. O clima da região segundo
melhorados (Lima et al., 2013), e variáveis fisiológicas como
a classificação de Köppen é do tipo As' (quente e úmido), com
temperatura retal e superficial e frequências cardíaca e
chuvas de outono-inverno e período seco de 5 a 6 meses.
respiratória podem alterar-se em laticínios melhorados. vacas
criadas em ambientes quentes (Pereira, Cunha, Cecon, &
A coleta de dados foi realizada em duas épocas distintas,
Faria, 2008; Ávila, Jácome, Faccenda, Panazzolom, & Muller,
caracterizando duas fases experimentais, o período chuvoso
2013). O consumo de matéria seca e água também pode
(julho/agosto) e o período seco (outubro/novembro).
diminuir, alterando o funcionamento gastrointestinal. Isto
provoca uma diminuição na produção e alterações nas
respostas fisiológicas, com bovinos leiteiros com maior
composição genética de animais europeus, como a raça
Animais, piquetes e dieta
Holandesa, apresentando maior sensibilidade ao estresse
térmico do que vacas com maior percentual de composição O estudo utilizou 10 vacas mestiças (holandesa/
genética zebuína (Perissinotto et al. ., 2009; Lima et al., 2013). zebu) em lactação com peso vivo médio de 500 ± 30 kg. No
período chuvoso estavam entre o quarto e o quinto meses de
lactação e no período seco estavam entre o sétimo e o oitavo
mês de lactação. A produção média foi de 18 ± 4 kg de leite/
vaca/dia, e a homogeneidade do lote foi mantida nas duas
O objetivo desta pesquisa foi investigar o efeito da safras.
envolvendo animais, sendo submetido ao em cada piquete (938,00, 2.464,00 e 1.096 m², respectivamente)
Cardoso, EA et al.
Concentrado composto por 20% de soja individualmente. Após a ordenha matinal o Concentrado composto
por
feijão, 20% soja,
20% de farelo20% de farelo48%
de algodão, de algodão,
animais 48% de moídos
inteiros milho integral
foram moído,
levados8%
de de farelo
volta aos de trigo No milho, 8% de
piquetes.
farelo de trigo e 4% de sal mineral às 14h00 os animais foram levados para a ordenha e foi fornecido sal mineral 4%
duas vezes ao dia, na proporção de 1 kg de ração para cada 4 L de leite produzido.
fornecido duas vezes ao dia, na proporção de 1 kg de sala para a segunda ordenha. Ao final da alimentação a cada 4 L
de leite produzido por vaca, nesta, os animais retornavam aos piquetes em cochos individuais.
onde pernoitaram.
do leite (gordura, proteína, lactose e sólidos totais), foram mensurada pela auscultação dos sons cardíacos com auxílio
realizadas contagem de células somáticas (CCS) e contagem de estetoscópio flexível, ao nível da região laríngeo-traqueal,
bacteriana total (CBT). contando o número de movimentos e batimentos durante 20
Cardoso, EA et al.
onde: Yik é a variável dependente, µ é a medida geral, Si é 03h00) a 82,79 (das 12h00 às 15h00), enquanto no período
o efeito fixo da estação (i = 1 seca, i = 2 chuva) e Eik é o chuvoso variou de 67,54 a 76,49 das 00h00 às 03h00 e das
tabela 1
Efeito do período seco e chuvoso e do período do dia nos parâmetros ambientais registrados durante o experimento
Temporada Período Temperatura ambiente (ºC) (ºC) Umidade relativa (%) 19,75 b BGTHI
As diferentes letras da coluna diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Índice de temperatura e umidade do globo negro = BTHI.
mesa 2
Efeito do período seco e chuvoso sobre os parâmetros fisiológicos de vacas leiteiras mestiças
Temporada
Variáveis SEM Valor P
Seco (24,05 ºC) Chuvoso (21,14 ºC)
Temperatura retal (ºC) 38,78a 38,69a 0,05 0,0620
As diferentes letras da coluna diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Índice de temperatura e umidade do globo negro = BTHI.
Embora os animais tenham sido mantidos em animais mantidos em ambiente sombreado e em repouso no
ambientes acima da zona de conforto térmico, nos horários período da tarde, citaram valores de TR de 38,0 a 39,0 °C e
mais quentes do dia, principalmente no período seco do ano, atribuíram esse aumento ao calor necessário para manter a
seu TR esteve dentro da normalidade para a espécie, 37,5 a temperatura corporal dos animais devido à maior radiação
39,3 °C (Rocha, Salles, Moura e Araújo, 2012). Lima e cols. solar direta ou indireta que acumula
(2013), em pesquisa no período de verão no estado de
Pernambuco, Brasil, com mestiços durante o dia. Ávila et al. (2013) trabalharam com vacas
Holandesas em diferentes épocas (chuvosa e
Cardoso, EA et al.
primavera) e observou uma temperatura ambiente média em estresse, os bovinos utilizam os mecanismos fisiológicos de perda de
torno de 37 °C. Perissinotto et al. (2009) relataram que TR calor corporal, como aumento da FR e sudorese, para evitar a
na faixa de 38,7 a 39,2 °C e FR menor ou igual a 54 mov/min hipertermia, constituindo um meio eficiente de perda de calor por
indicam estado de conforto térmico. evaporação (Ávila et al., 2013). Lima e cols. (2013), avaliando três
Tabela 3
Efeito da estação seca e chuvosa na produção e qualidade do leite de vacas leiteiras mestiças
Temporada
Variáveis SEM Valor P
Seco (24,05 ºC) Chuvoso (21,14 ºC)
Produção de leite (kg dia-1) 16.51b 19.02a 2,57 0,0292
Gordo (%) 4.22a 4.08a 0,93 0,5310
Proteína (%) 3.75a 3.53b 0,29 0,0006
Lactose (%) 4.44a 4.44a 0,28 0,9771
Sólidos totais (%) 12h90 13.24a 0,76 0,1421
Registro de TBC (n mL-1) 1.20a 1.13a 0,35 0,5685
Registro CCS (n mL-1) 1,90a 2.21a 0,22 0,0679
Erro padrão significa = SEM; Contagem bacteriana total = CBT; Contagem de células somáticas
=CCS; Letras diferentes na linha diferem entre si pelo teste de Tukey-Kramer a 5% de probabilidade.
A menor produção de leite no período seco pode pela ativação de mecanismos fisiológicos de perda de calor,
ser devida às condições ambientais. Valores mais elevados como aumento de FR e ST, que gastam energia. Em ambas
de AT e ITGU causam estresse térmico nos animais, devido as épocas, a produção de leite pode ser considerada boa
à menor disponibilidade e qualidade da forragem que neste para animais mestiços no Nordeste do Brasil.
período apresenta maiores valores de fibra, bem como
Vacas leiteiras mantidas em ambientes observaram maior nível de contaminação no leite produzido
termicamente confortáveis alimentam-se durante o dia, por pequenos produtores, que utilizam menos tecnologia em
melhorando sua produção e produtividade (Vilela et al., sua produção. Saravanan, Das e Panneerselvam (2015)
2013). Entre os problemas da produção de leite a pasto nas estudaram grupos de vacas leiteiras e observaram valores
regiões tropicais está a sazonalidade na produção de de CCS semelhantes aos deste estudo. Bernabucci et al.
forragem: a maior parte da produção de matéria seca (2015) e Bertocchi et al. (2015) observaram valores de CCS
concentra-se na estação chuvosa e muitas vezes há falta de superiores aos desta pesquisa em
alimentos na estação seca, o que pode levar à diminuição
da produção de leite. consumo de matéria seca e leite de vacas Holandesas em diferentes épocas do ano.
Cardoso, EA et al.
Perissinotto, M., Moura, DJ, Cruz, VF, Souza, SRL, Lima, Souza, BB, Silva, IJO, Mellace, EM, Santos, RFS, Zotti, CA, &
KAO, & Mendes, AS (2009). Conforto térmico de bovinos Garcia, PR (2010).
leiteiros confinados em clima subtropical e mediterrâneo Avaliação do ambiente físico elevado pelo sombreamento
pela análise de configurações fisiológicas utilizando a sobre o processo termorregulatório em novas leiteiras.
teoria dos conjuntos fuzzy. Revista Ciência Rural, 39(5),
1492-1498. doi: 10. 1590/S0103- Agropecuária Científica no Semi-Árido, 6(2), 59-65. doi:
10.30969/acsa.v6i2.69
forrageira com feno de maniçoba ou silagem de sorgo e composição do leite e previsões econômicas. Arquivo
duas proporções de concentradas na dieta de vacas em Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 67(2),
564-572. doi: 10.1590/1678-7799