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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

DISCIPLINA: NUTRIÇÃO DE RUMINANTES

DOCENTE: PROFª DRª JULIANA SILVA DE OLIVEIRA

ENSILAGEM DO GRÃO ÚMIDO E DIGESTIBILIDADE DO AMIDO PARA


RUMINANTES

Guilherme Medeiros Leite

AREIA-PB

2020
ENSILAGEM DO GRÃO ÚMIDO E DIGESTIBILIDADE DO AMIDO PARA
RUMINANTES

A prática de ensilar consiste no método de conservação por meio de


fermentação anaeróbia, de maneira a conservar alimento para as épocas de menor
oferta, permitindo que a produção de ruminantes continue durante os períodos
sazonais. A ensilagem ocorre de maneira anaeróbia, após o fechamento do silo, onde
os microrganismos utilizam os substratos, principalmente os carboidratos solúveis,
para fermentar, e resultam na produção de ácidos orgânicos, como ácido lático,
acético, butírico, propiônico e em etanol.

Porém, para realizar a ensilagem, preconiza-se que o material ensilado tenha


entre 30-35% de matéria seca (MS), permitindo que haja uma boa compactação do
material, e possua teores de carboidratos solúveis entre 6 e 12%, para que haja um
processo fermentativo adequado. Quando ensilado, recomenda-se que a faixa de pH
esteja entre 3,8 e 4,2, faixa considerada ótima para a proliferação de bactérias láticas,
produzindo o ácido lático (MCDONALD; HENDERSON; HERON, 1991).

Quando as forragens ensiladas possuem altos teores de umidade, ou seja,


possuem teores de MS abaixo do recomendado pela literatura, costuma-se aditivar
essas silagens com, principalmente, algum concentrado, possuindo efeito absorvente.
Esse efeito promove a redução do excesso de umidade, aumentando assim, o teor de
MS.

Com essa adição de concentrados na silagens, começaram a preparar e utilizar


na forma de ração pronta, que é a mistura dos ingredientes que compõem a dieta dos
animais, porém, de maneira previamente preparada e ensilada, fornecendo aos
animais já na sua forma pronta de consumo, sem adicionar mais nenhum tipo de
concentrado. Já alguns produtores, aproveitam os períodos de safra pra armazenar
grandes quantidade de alimentos que utilizam na alimentação dos animais, como o
milho e a soja.

Porém, quando armazenados durante grande quantidade de tempo, esses


ingredientes irão deteriorar e/ou aparecer problemas, como insetos e roedores. Uma
saída para tal, seria o armazenamento na forma de silagem, que é o que vem
acontecendo mais recentemente nas propriedades. Os produtores aproveitam os
baixos preços das sacas de milho, que é o principal ingrediente energético que
compõe a dieta dos animais, e estão ensilando esse material, garantindo assim, preço
baixo e alimento para os períodos subsequentes.

Devido ao alto teor de MS, o milho possui baixa atividade em água, restringindo
assim, a atuação dos microrganismos e prejudicando a fermentação. Apresenta ainda
baixa quantidade de carboidratos solúveis dissolvidos em água, resultando em um
maior tempo para que haja a solubilização do amido e retardando a queda do pH da
silagem (ARCARI et al., 2016).

Existem alguns fatores que possuem importância sobre a digestibilidade do


amido do milho, tais como o tamanho de partícula, teor de umidade e tipo de
endosperma. Porém, essa digestibilidade é influenciada pela proteína zeína do milho,
que está intimamente ligada aos grânulos de amido, de modo que a matriz-hidrofóbica
consiga impedir a fixação microbiana, fermentação ruminal e digestão enzimática
(GIUBERTI et al., 2012).

Devido aos maquinários e a variabilidade pluviométrica podem resultar em


atraso da colheita da safra e aumento do teor de MS. Em decorrência de todos esses
fatores, observou-se que se faz necessário a reidratação do milho, ou seja, aumentar
seu teor de umidade e reduzir o teor de MS, de maneira a facilitar a solubilização do
amido e aumentar a atividade de água, permitindo que haja uma fermentação
adequada e que não retarde a queda do pH dessa silagem de grão úmido.

De acordo com Hoffman et al. (2011), quando comparado com o milho laminado
tradicional, o milho de alta umidade substitui o tradicional no uso diário devido a sua
maior digestibilidade do amido do grão, ocorrendo devido ao processo de silagem,
que permite a proteína zeína do endosperma ficar mais solúvel durante a fermentação.

Apesar de garantir estoque de milho enquanto está na safra e os preços


acessíveis, ao ensilar o milho de alta umidade ou reidratar, essas silagens apresentam
problemas de deterioração aeróbia após abertura dos silos. Alguns estudos com a
inoculação de Lactobacillus buchneri, que é um tipo de bactéria heterofermentativa,
produzindo assim, tanto o ácido lático quanto acético, possuindo efeito antifúngico e
melhorando a estabilidade aeróbia dessas silagens, mostram que ele possui efeito
benéfico e positivo para silagens de milho de alta umidade (BASSO et al., 2012) e
reidratado (DA SILVA et al., 2018).

Oliveira et al. (2019) ao estudarem a inclusão das enzimas glucoamilase e


amilase nas silagens de milho reidratado, observaram que as inclusões aumentaram
as perdas por gases e por efluentes quando comparados ao tratamento controle, sem
adição de enzimas, além de reduzir a recuperação de matéria seca dessas silagens.

Nesse mesmo estudo, ao alimentar cordeiros com silagens de milho


reidratados com as enzimas, observaram que os animais obtiveram mais ingestão e
digestibilidade de MS, proteína bruta (PB) e ingestão de amido do que o tratamento
sem inclusão de enzimas.

Esse efeito de maior ingestão e digestibilidade é resultado da adição das


enzimas, que permitem uma maior solubilização do amido, resultando em uma maior
taxa de degradação. Porém, como resultado das enzimas, os produtos finais são,
respectivamente, glicose, maltose e dextrinas para glucoamilase e amilase, que são
monossacarídeos e oligossacarídeos, aumentando a susceptibilidade a ocorrência de
acidose ruminal (OLIVEIRA et al., 2019).

Nos estudos de Ferraretto et al. (2015), ao estudarem a adição de proteases


exógenas e inoculação bacteriana em silagens de milho reidratado, observaram que
a digestibilidade ruminal do amido in vitro foi superior no tratamento de milho
reidratado ensilado por 30 dias ao comparar aos tratamentos de milho moído seco e
milho moído reidratado, ambos sem ensilar.

Esses resultados estão relacionados ao processo de ensilagem devido a


ruptura da matriz proteica que está vinculada aos grânulos de amido, permitindo que
as proteases exógenas adicionadas aumentassem a digestibilidade in vitro e
reduzissem as concentrações da proteína zeína (FERRARETTO et al., 2015).

Nesse estudo de Ferraretto et al. (2015), foi observado interação entre a


utilização da protease, porém, sem interação da inoculação microbiana sobre o efeito
da digestibilidade.

Ao compararem a degradabilidade do grão de amido das silagens de milho de


alta umidade com milho reidratado nos estudos de Da Silva et al. (2019), no ensaio
de digestibilidade in situ de 12 e 24h de incubação, os autores observaram diferença
entre os tratamentos durante os tempo de armazenamento (15, 30, 60, 90, 120, 180,
240 e 300 dias), sendo significativo até 180 dias para a incubação de 12 horas e até
120 dias para a incubação de 24 horas. Porém, apesar de não existir diferença
significativa para os demais tempos de armazenamento, as silagens de milho
reidratado obtiveram melhores resultados para a digestibilidade.

Estes resultados estão ligados com a redução gradual da concentração de


prolamina. Essa redução se dá devido a atividade proteolítica microbiana, sendo mais
eficaz durante o processo de ensilagem para a redução da proteína zeína (DA SILVA
et al., 2019).

Sabe-se que a ensilagem do milho reidratado além de proporcionar estoque de


alimento, de maneira a minimizar os custos do produtor, evitando aquisição de milho
durante os altos preços, ainda favorece sua utilização por melhorar a digestibilidade
do amido, garantindo melhor aproveitamento.
REFERÊNCIAS

MCDONALD, P; HENDERSON, A.R; HERON, S.J.E. The biochemistry of silage (2nd).


Marlow Bottom: Chalcombe Publications, eds. 1991.

ARCARI, M. A. et al. Effect of substituting dry corn with rehydrated ensiled corn on
dairy cow milk yield and nutrient digestibility. Animal Feed Science and Technology,
v. 221, p. 167-173, 2016.

GIUBERTI, G; GALLO, A; MASOERO, F. Quantification of zeins from corn, high-


moisture corn, and corn silage using a turbidimetric method: Comparative efficiencies
of isopropyl and tert-butyl alcohols. Journal of dairy science, v. 95, n. 6, p. 3384-
3389, 2012.

HOFFMAN, P. C. et al. Influence of ensiling time and inoculation on alteration of the


starch-protein matrix in high-moisture corn. Journal of dairy science, v. 94, n. 5, p.
2465-2474, 2011.

BASSO, Fernanda Carvalho et al. Fermentation and aerobic stability of high-moisture


corn silages inoculated with different levels of Lactobacillus buchneri. Revista
Brasileira de Zootecnia, v. 41, n. 11, p. 2369-2373, 2012.

DA SILVA, N. C. et al. Fermentation and aerobic stability of rehydrated corn grain


silage treated with different doses of Lactobacillus buchneri or a combination of
Lactobacillus plantarum and Pediococcus acidilactici. Journal of dairy science, v.
101, n. 5, p. 4158-4167, 2018.

DA SILVA, Naiara C. et al. Influence of storage length and inoculation with


Lactobacillus buchneri on the fermentation, aerobic stability, and ruminal degradability
of high-moisture corn and rehydrated corn grain silage. Animal Feed Science and
Technology, v. 251, p. 124-133, 2019.

FERRARETTO, L. F.; FREDIN, S. M.; SHAVER, R. D. Influence of ensiling, exogenous


protease addition, and bacterial inoculation on fermentation profile, nitrogen fractions,
and ruminal in vitro starch digestibility in rehydrated and high-moisture corn. Journal
of dairy science, v. 98, n. 10, p. 7318-7327, 2015.
OLIVEIRA, Euclides R. et al. Effects of exogenous amylolytic enzymes on
fermentation, nutritive value, and in vivo digestibility of rehydrated corn silage. Animal
Feed Science and Technology, v. 251, p. 86-95, 2019.

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