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Silagem de grão úmido

1. INTRODUÇÃO

A produção animal depende do milho, sorgo e cevada como fontes principais de energia,
sendo que, no Brasil, o milho exerce um importante papel na alimentação animal, sendo o
cereal mais comumente utilizado para bovinos.

Existem várias formas de utilização do milho, como silagem, milho grão inteiro, moído,
floculado, etc. Dentre as várias alternativas, o uso de silagem de grãos úmidos de milho pode
constituir uma alternativa importante para a utilização desse cereal na alimentação animal,
sendo, atualmente, uma das tecnologias de maior expansão no setor produtivo pela sua
eficiência na conservação do milho, reduzindo os custos com alimentação em criações de
suínos e bovinos leiteiros.

A tecnologia de ensilagem de grãos úmidos de milho já é descrita desde a década de 70 e


utilizada por muitos confinadores nos Estados Unidos. No Brasil, a silagem de grãos úmidos de
cereais foi introduzida a partir de 1981 na região de Castro – PR pelos criadores de suínos e,
posteriormente, utilizada na alimentação de bovinos de leite e de corte.

O uso desta tecnologia traz inúmeras vantagens, permitindo, por exemplo, antecipação da
colheita, liberando terra para outras culturas; utilização de um sistema de armazenamento
mais simples e econômico, evitando o ataque de roedores e carunchos nos grãos, diminuindo
deste modo as perdas a campo; e conservação do valor nutritivo por um maior período de
tempo.

A silagem de grãos úmidos de milho consiste na conservação do milho grão, moído ou inteiro,
com umidade entre 35 e 45%, pela fermentação e redução do pH. A Tabela 1 apresenta a
composição bromatológica do milho seco comparada com a silagem de grãos úmidos de milho,
de acordo com o NRC (2001). Segundo dados do NRC (2001), a silagem de grãos úmidos de
milho é mais energética do que o milho seco e apresenta pequena diferença na concentração
de fibra.

Tabela 1. Composição média do milho seco moído e da silagem de grãos úmidos de milho
Composição Milho seco moído Silagem de grãos úmidos de milho
MS = matéria seca; NDT = nutrientes digestíveis totais; PB = proteína bruta; FDN = fibra
insolúvel em detergente neutro; FDA = fibra insolúvel em detergente ácido; NEL = energia
líquida para lactação; ME = energia metabolizável.Fonte: Adaptado do NRC (2001).

É grande a variação da umidade observada nos diferentes trabalhos, mas esta está entre 27-
36%. Apesar da grande variação da umidade, em geral, o valor nutritivo da silagem de grão
úmido de milho apresenta melhores resultados quando o valor é próximo de 32%.
O armazenamento de grãos de milho sob a forma de silagem não é feito apenas para reduzir
perdas. O armazenamento de grãos de milho, através da ensilagem, promove alterações
químico-físicas nas moléculas do amido, facilitando a ação das enzimas amilolíticas
microbianas rumenais e das enzimas pancreáticas na sua digestão. Essas alterações podem
ocorrer devido à elevação da temperatura no interior do silo no início do processo da
ensilagem, promovendo a gelatinização dos grãos de amido, o que possibilita o seu maior
aproveitamento pelos ruminantes.

A composição química da silagem de grãos úmidos de milho (Tabela 2) pode variar em função
do teor de umidade no momento da ensilagem e da proporção de sabugo presente, entre
outros fatores. Apesar do aumento na digestibilidade do grão de milho neste tipo de silagem,
alguns estudos têm mostrado que a solubilização do nitrogênio ocorre durante o período de
fermentação e armazenagem da silagem de grãos úmidos, acarretando a diminuição no teor
de nitrogênio protéico ao longo do tempo de armazenagem.

Tabela 2. Composição química da silagem de grãos úmidos de milho


Variáveis DeBrabander et al. (1992) Jobim et al. (1997) Reis et al. (2000) Santos et al. (2000)
Taylor e Kung Jr (2002)
>
Fonte: Jobim et al. (2003)

Apesar da pequena queda nos teores protéicos, é consenso que o uso de silagem de grãos
úmidos de milho melhora a eficiência alimentar, seja devido ao desempenho semelhante com
menor consumo ou por consumo semelhante com melhor desempenho. Existem estudos
americanos que obtiveram melhor eficiência alimentar entre 9 e 25%, com redução de
consumo, quando se utilizou silagem grão úmido de milho.

Outros estudos mostram que as dietas contendo silagem de grãos úmidos de milho têm maior
digestibilidade da matéria seca, matéria orgânica, nitrogênio não-protéico, extrato etéreo e
nutrientes digestíveis totais (NDT) em comparação com rações de milho seco, por unidade de
matéria seca. No entanto, não foram observadas diferenças entre rações com silagem de grãos
úmidos de milho ou milho seco para digestibilidade da proteína bruta e da fibra em detergente
neutro (FDN). Estes maiores valores de NDT podem ser explicados devido às alterações
relacionadas ao amido, refletindo em um melhor padrão de fermentação ruminal da silagem
de grão úmido de milho.

Os efeitos obtidos pelo processo de ensilagem do grão úmido de milho também refletem no
ambiente rumenal, podendo promover redução da relação acetado:propionato em lactação,
além de elevar a concentração de ácidos graxos voláteis do rúmen (acetato, propionato e
butirato).

Essa alteração na produção de ácidos graxos voláteis no rúmen foi observada em bovinos
confinados durante 70 dias alimentados com silagem de grãos úmidos de milho, milho seco
esmagado e misturas de ambos na proporção 67:33 e 33:67, respectivamente. Nos animais
alimentados com silagem de grãos úmidos de milho e as misturas, em relação ao milho seco
esmagado, houve maior ganho de peso e melhor eficiência alimenta. Porém, nem todos os
estudos apresentam diferenças na produção de ácidos graxos voláteis no rúmen, mas na
grande maioria sempre há aumento dos índices produtivos, seja na produção de leite ou de
carne.
Com relação à produção e composição do leite, os estudos são contraditórios quanto a
porcentagem de gordura. Estudos constataram que vacas alimentadas com silagem de grãos
úmidos de milho produziram mais leite (39,8 kg/dia) em relação às vacas que receberam grãos
secos de milho (38,0 kg/dia) na dieta, uma diferença de 4,6% superior em produção de leite a
favor da silagem de grãos úmidos. Juntamente com a maior produção de leite, também houve
maior produção de proteína (kg/dia) para as vacas que receberam silagem de grãos úmidos em
relação às alimentadas com grãos secos na dieta.

Com isso, destaca-se que o aumento na digestibilidade do amido pode refletir em elevação na
produção de leite, de proteína microbiana no rúmen e melhorar a utilização de nitrogênio pela
vaca e, também, que a fermentação ruminal foi favorecida pela alta disponibilidade de amido,
o que eleva a utilização da amônia rumenal e promove maior suprimento de energia para o
animal.

Tabela 3. Efeito do processamento dos grãos de milho sobre a produção e composição do leite
de vacas
>

Fonte: Adaptado de San Emeterio et al. (2000)

Wilkerson et al. (1997) registraram produção de 2,0 kg/dia de leite a mais para vacas da raça
Holandesa que receberam silagem de grãos de milho na dieta ao comparar grãos úmidos e
grãos secos, além de duas formas de processamento dos grãos (amassados ou moídos). Além
disso, o teor de proteína e de gordura no leite foram maiores para as vacas que receberam
grãos moídos na dieta, independente da forma de conservação (Tabela 4).

Tabela 4. Ingestão de matéria seca, produção e composição do leite de vacas da raça


Holandesa alimentadas com grãos de milho seco ou ensilados úmidos em diferentes formas de
processamento
>
Fonte: Adaptado de Wilkerson et al. (1997)

Atualmente, com a mudança nos conceitos sobre a eficiência do uso do amido pelos
ruminantes, está comprovado o melhor desempenho animal quando alimentados com amido
de alta degradação ruminal. No entanto, no Brasil não têm sido realizado trabalhos científicos
avaliando os possíveis benefícios do uso da silagem de grãos úmidos na alimentação de vacas
leiteira, embora seja uma prática corrente em muitas regiões do país.

A partir dos resultados de estudos e das observações de campo nas fazendas brasileiras que
utilizam a silagem de grão úmido de milho, pode se evidenciar que o processo de ensilagem de
grãos úmidos de milho provoca alterações na conformação do amido do grão e,
consequentemente, no local de digestão e na digestibilidade desse amido para ruminantes,
resultando em mais energia disponível.

A maior quantidade de energia da silagem de grão úmido de milho, por sua vez, promove
maior disponibilidade de energia para os processos produtivos do animal, como a produção de
carne e leite.

Além disso, essa tecnologia pode contribuir para solucionar graves problemas de
armazenagem de grãos nas fazendas, onde normalmente ocorrem grandes perdas qualitativas
e quantitativas, em função do ataque de insetos e de ratos.

Fonte: Milkpoint/Rehagro

Silagem de grão úmido

• estocamos somente os grãos da planta de milho.


• Colheita com colheitadeira convencional e deve ser realizada quando a umidade dos
grãos estiver entre 30 e 40%.

• os grãos devem ser moídos finos (suínos), quebrados ou laminados (bovinos de corte e
leite e ovinos), com o objetivo principal de favorecer a compactação.

• devem ser armazenados em silos tipo bunker, trincheira ou bag’s, bem compactados e
cobertos com lona plástica preta ou de dupla face.

• silagem de grão úmido é uma ótima opção para armazenar grãos de milho por longo
período, com baixo custo e, principalmente, mantendo o valor nutricional.

• 1000 a 1300 kg (15 a 19 sacos com 13% de umidade) de grãos úmidos por metro
cúbico de silo.

• Uma silagem de grão úmido de qualidade depende da escolha de híbridos de milho


que apresentem grãos sadios e alto valor nutricional.

Vantagens

• Não existem taxas e impostos.

• Não há transporte do produtor para a cooperativa ou fábrica de rações

• Não existe desconto de umidade, impurezas e grãos ardidos.

• Não há custo de armazenamento.

• A colheita é antecipada em 3 a 4 semanas.

• Ocorrem menores perdas por ataque de fungos, ratos, carunchos e traças

• Possui maior digestibilidade e, conseqüentemente, melhora o desempenho animal

• Melhora a sanidade dos animais, causando menos diarréias.

• Tem alta concentração de energia, para balancear com alimentos protéicos.

Seu custo independe do preço de mercado

Desvantagens

• Dificuldade ou impossibilidade de comercialização.

• Necessidade de preparo diário da dieta aos animais.

• A mistura do grão úmido com o núcleo poderá gerar aquecimento e provocar diarréia
nos animais.

• A silagem corretamente produzida melhora sensivelmente o tempo entre a mistura e


o fornecimento aos animais, sem alterar a qualidade nutricional.

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