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Considerações iniciais
Nos sistemas de produção de leite é reconhecida a relevância dos custos com a
alimentação das vacas, geralmente ultrapassando 50% do custo total de produção.
Sendo assim, é de suma importância realizar o manejo alimentar adequado e oferecer
alimentos de qualidade para maior desempenho dos animais. Dos alimentos que
compõem a alimentação de uma vaca leiteira, um dos principais é a silagem de milho.
Entretanto, fazer uma silagem de milho de boa qualidade não é tarefa simples, sendo
necessário muito estudo, planejamento e gerenciamento.
Uma silagem de boa qualidade possui grande impacto nos custos e no desempenho dos
animais. Como exemplo, ela diminui a necessidade de grandes suplementações com
concentrados energéticos e fornece fibra fisicamente efetiva capaz de estimular a
ruminação e a saúde do rúmen. Vale ressaltar que a produção de uma silagem de boa
qualidade começa muito antes do plantio da semente, dependendo também do manejo
de fertilidade do solo, local e época para a realização do plantio, escolha do híbrido
adequado e preparo e ajuste do maquinário necessário. Desta forma, é fundamental
realizar uma análise do solo para conhecer a fertilidade, o perfil do solo, determinar a
necessidade de corretivos e adubações da área a ser plantada visando máxima
produtividade. A época de plantio varia conforme as características edafoclimáticas de
cada região, devendo sempre buscar o melhor período para garantir o estabelecimento
da lavoura da forma mais uniforme e adequada.
Maquinário utilizado
Após a escolha da época, solo e híbrido, recomenda-se que seja feita a manutenção
preventiva do maquinário que será utilizado de modo a evitar que as atividades da
lavoura sejam interrompidas por problemas mecânicos. A escolha do maquinário é
influenciada pelo tamanho da área a ser plantada, da capacidade dos tratores e do
espaçamento adotado. Atualmente existem as opções no mercado de máquinas
colhedoras tracionadas nos tratores e máquinas autopropelidas, sendo que cada uma
proporciona diferentes possibilidades e estratégias de corte que devem ser observadas.
Colheita
Após o plantio e condução agronômica durante o período de crescimento da planta (veja
mais sobre o assunto neste texto – https://rehagro.com.br/blog/milho-para-silagem/),
chega o momento da colheita. Caso ultrapasse o período ideal de colheita, a planta de
milho acumula MS, reduz o teor de fibra em detergente neutro (FDN), aumenta os
teores de lignina e tem a sua digestibilidade reduzida. Veja na imagem a seguir onde há
representada a relação do estágio de maturidade do milho com os teores de MS, amido e
FDN.
Relação do estágio de maturidade do milho com os teores de matéria seca (MS), amido e fibra em detergente neutro (FDN)
Adaptado de Bal et al., 1997.
Nos estágios iniciais de desenvolvimento a planta de milho possui os grãos pouco
preenchidos por amido. Já no estágio de maturidade fisiológica o teor de MS encontra-
se elevado e a planta aumenta o teor de lignina em suas estruturas, fato que reduz sua
digestibilidade por parte das vacas. Vale ressaltar que a relação dos teores de amido,
matéria seca e FDN podem variar em função do híbrido de milho utilizado.
Assim sendo, o ponto ideal para a colheita do milho é quando a planta atingir entre 34 e
38% de MS e entre 1/2 e 2/3 do grão preenchido por amido. Neste ponto o milho
apresenta o maior acúmulo de amido e o menor teor de fibra. Entretanto, este método
tende a variar de acordo com o híbrido escolhido. Uma alternativa prática para estimar o
teor de MS da planta de milho e determinar a época de colheita é a através do uso de um
forno micro-ondas. Para isso é necessário um forno micro-ondas, uma balança, um prato
de vidro, um copo d’água (~250 ml) e cinco plantas da lavoura bem picadas ou
trituradas. A metodologia consiste em pesar o prato, anotar o seu valor e colocar cerca
de 300 gramas de amostra da planta picada no prato, alojando-o no interior do forno
micro-ondas junto com o copo d’água para evitar o superaquecimento da amostra.
Programa o micro-ondas para uma primeira rodada de 5 minutos na potência de 100%.
Após 5 minutos, retirar o prato, pesar novamente e anotar o valor.
Revirar o material do prato tomando o cuidado para não perder nada da amostra e
renovar o copo d’água. Ajustar o tempo para mais 3 minutos na mesma potência.
Retirar, pesar, anotar novamente, revirar o material e renovar o copo d’água. Continuar
com intervalos de 1 minuto de secagem, sempre revirando a amostra até que o peso seja
constante por 3 rodadas consecutivas. Ao final, descontar o peso da amostra seca do
peso da amostra úmida, dividir pelo peso da amostra úmida e multiplicar por 100. O
resultado é o teor de umidade, que, quando subtraído de 100 obtém-se a MS.
Grão com mais de ¾ da linha do leite – Passou do ponto de colheita – Fonte: Rehagro Consultoria
Linha do leite na ½ – Ponto de colheita correto – Fonte: Rehagro Consultoria
Outro ponto a ser observado é o processamento da planta do milho que deve ser
escolhida após uma análise técnico-econômica. A colheita deve ser feita por uma
máquina que permita o processamento dos grãos de milho de modo a expor o amido,
corte a planta em tamanho adequado para compactação do material, produza fibra em
tamanho capaz de estimular a ruminação das vacas e que reduza a seleção do material
no momento do consumo pelos animais.
Após os grãos decantarem e as folhas estarem sob a superfície, retira-se toda a água
juntamente ao material vegetativo de modo a deixar no balde somente os grãos. Após a
decantação, avaliar visualmente o grau de processamento dos grãos. A presença de
muitos grãos inteiros é indica um processamento inadequado. Se não há muitos grãos
inteiros, mas a maioria dos grãos está apenas cortado ou quebrado, então o
processamento está razoável. Já o processamento adequado é obtido quando o material
não apresenta grãos inteiros ou parcialmente quebrados.
Foto 1: Teste do balde – Fonte: Rehagro Consultoria
Foto 3: Poucos grãos íntegros – Eficiência no processamento do grão – Fonte: Rehagro Consultoria
Foto 4: Muitos grãos íntegros – Falha no processamento do grão – Fonte: Rehagro Consultoria
A metodologia de uso da peneira de Penn State consiste em, incialmente, colocar uma
amostra de aproximadamente 200 gramas de silagem sobre a primeira peneira (19 mm).
Logo após, em uma superfície plana, realizar 5 movimentos horizontais com todo o jogo
de peneiras em uma direção, repetindo este processo em todos os lados por duas vezes,
totalizando 40 movimentos. Ao final, pesar o conteúdo retido do alimento em cada
peneira e calcular de forma proporcional em relação à amostra total pesada inicialmente
(~ 200 gramas). A proporção de alimento retido em cada peneira encontra-se na tabela a
seguir:
Peneira de Penn State e exemplo de separação das partículas do alimento – Fonte: Rehagro Consultoria
Ensilagem
Após a colheita do milho, é necessário realizar a ensilagem deste material. A ensilagem
deve ser feita em silo previamente dimensionado, estando a dimensão relacionada com a
capacidade de compactação do material a ser ensilado e, principalmente, com a
necessidade diária de descarga do material ensilado. No momento de enchimento e
compactação, deve-se ter atenção à camada de silo a ser compactada, onde ela deve ser
homogênea e com 5 a 20 centímetros de espessura. As camadas devem ser espalhadas
de forma a ficarem inclinadas em direção à entrada do silo. Quanto mais compactado,
maior a redução de oxigênio e da temperatura, favorecendo o desenvolvimento de
bactérias produtoras de ácido lático para redução rápida do pH e evitando perdas
quantitativas e nutricionais do material ensilado. Para alcançar uma compactação
adequada, recomenda-se a utilização de máquinas com o peso superior a Peneira de
Penn State e exemplo de separação das partículas do alimento 40% da quantidade total
de silo que chega por hora para ser compactada. Deve-se ter atenção durante a
compactação, principalmente em períodos chuvosos, para que não haja contaminação
excessiva do material ensilado por terra, alterando assim a sua composição
microbiológica.
Foto 1: Compactação de silo com pá-carregadeira – Fonte: Rehagro Consultoria
Remoção da silagem
A remoção de porções de silagem consiste em uma fase crítica do processo, visto que o
material ensilado vedado será exposto ao oxigênio. Para a remoção da silagem,
trabalhos tem mostrado como ideais a meta acima de 250 kg/m²/ dia. Por isso é de suma
importância o dimensionamento do silo, levando em conta a compactação da silagem de
milho e a quantidade de silagem utilizada por dia na fazenda. Todas essas práticas
auxiliam na redução da exposição da silagem ao aquecimento, nas perdas associadas e
na proliferação de microorganismos indesejados.
Para realizar a amostragem, o recomendado é que uma faixa de silagem seja removida
do topo até a base do silo, em toda sua largura. Desta silagem removida, coletar 8 ou
mais amostras em pontos aleatórios, colocando-as em um balde. Despejar as amostras
em uma superfície limpa, separá-las em 4 partes iguais e enviar uma das partes
para o laboratório.
A tabela a seguir apresenta alguns dos valores que são recomendados para uma silagem
de boa qualidade:
Outros parâmetros como fibra em detergente ácido (FDA) e proteína ligada ao FDA
(PIDA – % MS) ainda não possuem valores definidos, no entanto o recomendado é
remoção de silagem através de fresa que sejam os menores possíveis, visto se tratar de
componentes de baixa degradabilidade.
Parâmetros como proteína solúvel (PS – % PB) e amônia (NH3-N %PB) também ainda
não possuem valores definidos, mas, por outro lado, diferentemente de FDA e PIDA, o
recomendado é que apresentem os maiores valores possíveis, pois estão correlacionados
diretamente com a digestibilidade do amido. Ou seja, quanto maior forem os valores de
proteína solúvel e amônia de uma silagem, maior será a digestibilidade do amido e
melhor será o aproveitamento pelos animais. Vale ressaltar que o tempo de ensilagem
contribui para elevação de proteína solúvel e amônia, sendo que o esperado é que
silagens com maior tempo de vedação apresentem maiores valores desses componentes
quando comparadas a silagem de milho de menor tempo de vedação.
Referências
BAL, M. A., COORS, J. G., SHAVER, R. D. Impact of the maturity of corn for use as silage in
the diets of dairy cows on intake, digestion, and milk production. Journal of Dairy Science, v.
80, p. 2497-2503, 1997. (Link)
BARBOSA, Eugenio Faria; JUNIOR, Gilson Sebastião Dias; SALVATI, Gustavo. Silagem de
milho colhida com colhedoras de forragem autopropelidas. Milk Point, 18/04/2019. (Link)
HEINRICHS J & JONES CM. 2013. The Penn State Particle Separator. DSE 2013– 186.
Disponível em: https://extension.psu.edu/penn-state-particle-separator.