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Embrapa Milho e Sorgo

Sistema de Produção, 1

Colheita e pós-colheita
Evandro Chartuni Mantovani

Cultivo do Milho Colheita


O agricultor deve integrar a colheita ao sistema de produção e planejar todas as
Economia da Produção
Zoneamento Agrícola fases, para que o grão colhido apresente bom padrão de qualidade. Nesse
Clima e Solo sentido, várias etapas, como a implantação da cultura, até o transporte, secagem
Ecofisiologia e armazenamento dos grãos têm de estar diretamente relacionadas.
Manejo de Solos
Fertilidade de Solos Para um melhor escoamento da safra depois de colhida, alguns aspectos devem
Cultivares ser levados em consideração desde o planejamento de instalação. Num sistema
Plantio de produção em que, por exemplo, o milho vai começar a ser colhido com o teor
Irrigação de umidade superior a 13%, alguns pontos decisivos devem ser destacados:
Plantas daninhas
Doenças área total plantada e data de plantio de cada gleba;
Pragas produtividade de cada gleba;
Colheita e pós-colheita número de dias disponíveis para a colheita;
Mercado e comercialização número de colhedoras;
Coeficientes técnicos distância entre os silos e as glebas;
Referências bibliográficas número de carretas graneleiras;
Glossário velocidade da colheita;
Revisores número de horas de colheita/dia;
teor de umidade do grão;
capacidade do secador; e
capacidade do silo de armazenamento.

O milho está pronto para ser colhido a partir da maturação fisiológica do grão, o
que acontece no momento em que 50% das sementes na espiga apresentam uma
pequena mancha preta no ponto de inserção das mesmas com o sabugo. Todavia,
se não houver a necessidade de antecipação da colheita, esta deve ser iniciada
quando o teor de umidade estiver na faixa entre 18-20%. Para tal, o produtor
deve levar em consideração a necessidade e disponibilidade de secagem, o risco
de deterioração, o gasto de energia na secagem o preço do milho na época da
colheita.

Planejamento da Colheita

Para melhorar o rendimento, as áreas devem ser divididas com carreadores, de


forma a facilitar a movimentação da colhedora e o escoamento da colheita pelas
carretas ou caminhões.

Diferença de produtividade das glebas, assim como desuniformidade nas


condições da cultura no campo, também podem alterar a capacidade efetiva de
utilização da colhedora, isto é, a quantidade de milho colhida em determinada
área, por unidade de tempo.

A fim de obter uma boa colheita, devem ser considerados também os seguintes
itens:

a regulagem do espaçamento entre cilindro e côncavo;


a velocidade de rotação do cilindro;
o teor de umidade do grão;
a qualidade do grão e as perdas.

O conjunto formado pelo cilindro e o côncavo constitui-se no que pode ser


chamado de "coração" do sistema de colheita, e exige muita atenção na hora da
regulagem. O cilindro adequado para a debulha do milho é o de barras, e a
distância entre este e o côncavo é regulada de acordo com o diâmetro médio das
espigas. A distância deve ser tal que a espiga seja debulhada sem ser quebrada e
o sabugo saia inteiro ou, no máximo, quebrado em grandes pedaços.

Outro ponto fundamental diz respeito à relação entre a rotação do cilindro e o


teor de umidade. A rotação do cilindro debulhador é regulada conforme o teor de
umidade dos grãos, ou seja, quanto mais úmidos, maior será a dificuldade de
debulhá-los, exigindo maior rotação do cilindro batedor. À medida que os grãos
vão perdendo umidade, eles se tornam mais quebradiços e mais fáceis de serem
destacados, sendo necessário reduzir a rotação do debulhador.

A regulagem de rotação do cilindro e a abertura entre o cilindro e o côncavo é


uma decisão entre a opção de perda e grãos quebrados, sem nunca ter os dois
fatores 100% satisfatórios. Por exemplo, em caso de sementes, pode-se optar
por uma perda maior, com menos grãos quebrados.

Pesquisas realizadas na Embrapa Milho e Sorgo, com uma colhedora automotriz,


confirmam que, em teores de umidade mais altos (22-24%), há uma maior
dificuldade para se destacar a semente do sabugo, sendo recomendado colher
com rotações na faixa entre 600 e 700 rpm. À medida que os grãos vão secando
no campo, as rotações mais baixas são recomendadas, pela facilidade de
debulhar, além de reduzir risco de danificação mecânica na semente.

No caso da colhedora de cilindro helicoidal, acoplada ao trator, verificou-se que a


debulha foi mais eficiente, tendo-se conseguido retirar praticamente todos os
grãos dos sabugos, apesar de o mecanismo debulhador não ter regulagem para
variação de rotação.

Durante a regulagem do sistema de debulha, devem ser verificadas algumas


partes da colhedora como: tanque graneleiro, para ver se há grãos quebrados;
elevador da retrilha, para saber se há muito material voltando para o sistema de
debulha; e saída da máquina, a fim de verificar se está saindo grão preso ao
sabugo e se o sabugo está sendo muito quebrado.

Qualidade dos grãos

No final da década de 70, a Embrapa realizou uma avaliação dos danos


mecânicos em grãos de milho durante a colheita. O método utilizado aliava
inspeção visual à determinação de um índice de danos, baseado na avaliação do
poder germinativo de sementes com diferentes categorias de danos. Os
resultados mostraram que, em todas as situações, o índice de danos é menor
quando os grãos foram colhidos em rotações mais baixas e teores de umidade
inferiores a 16%.

Verificou-se, também, que a quantidade de grãos com danificação muito severa


(grãos quebrados com mais da metade faltando) não foi afetada pela rotação do
cilindro na faixa de 400 a 700 rpm, para a automotriz, e na faixa de 850 a 980
rpm, para a colhedora acoplada ao trator. Entretanto, a danificação dessa
categoria aumentou à medida que o teor de umidade aumentava de 12 a 14%,
(dano de 2 a 3%) para 20 a 24% (dano de 6 a 8%), tendo sido maior também na
colheita pela máquina acoplada ao trator.

A quantidade de grãos com danos considerados grandes (trincas no embrião,


menos da metade do grão faltando) não foi afetada pela rotação do cilindro (550
a 700 rpm) quando o teor de umidade estava alto, começando a ser afetada pela
rotação (400 a 550 rpm) nas faixas mais baixas de umidade.

Grãos com danos aparentemente menos severos apareceram em maior


quantidade em todos os casos, em teores de umidade mais baixos, mesmo
tendo-se usado rotações de cilindro mais baixas. Os resultados mostram que,
para rotações do cilindro debulhador entre 400 e 550 rpm e grãos com umidade
entre 14 e 20%, o percentual de danos foi em torno de 25%, considerando a
colhedora automotriz. Já no caso da colhedora acoplada ao trator, mais de 50%
dos grãos apresentaram esse tipo de dano em todas as situações.

Perdas

A velocidade de trabalho recomendada para uma colhedora é determinada em


função da produtividade da cultura do milho, por causa da capacidade admissível
de manusear toda a massa que é colhida junto com o grão. A faixa de velocidade
de trabalho varia de 4 a 6 km/h, mas em colheita, o trabalho é medido em
toneladas/hora. Portanto, ao tomar a decisão de aumentar ou diminuir a
velocidade, não se deve preocupar com a capacidade de trabalho da colhedora
em hectares/hora, mas verificar se os níveis toleráveis de perdas de 1,5 sacos/ha
para o milho estão sendo obtidos.

Existem quatro tipos de perdas:

Pré-colheita - O primeiro tipo de perda ocorre no campo sem nenhuma


intervenção da máquina de colheita e deve ser avaliada antes de iniciar a
colheita mecânica. Essa avaliação, tem, também, o objetivo de saber se uma
cultivar apresenta ou não problemas de quebramento excessivo de colmo, se é
adaptada ou não para colheita mecânica.

Plataforma - As perdas de espigas na plataforma são as que causam maior


preocupação, uma vez que apresentam efeito significativo sobre a perda total.
Podem ter sua origem na regulagem da máquina de colheita, mas, de maneira
geral, estão relacionadas com: a adaptabilidade da cultivar à colhedora
(uniformidade da altura da inserção de espiga, altura de inserção de espiga,
porcentagem de acamamento de plantas, porcentagem de quebramento de
plantas); o número de linhas das semeadoras, que deverá ser igual ou múltiplo
do número de bocas da plataforma de colheita, e parâmetros inerentes à
máquina de colheita (velocidade de deslocamento, altura da plataforma,
regulagem das chapas de bloqueio da espiga e regulagem do espaçamento entre
bocas).

Grão soltos - As perdas de grãos soltos (rolo espigador e de separação) e de


grãos no sabugo estão relacionadas com a regulagem da máquina. O rolo
espigador, geralmente no final da linha, recebe um fluxo menor de plantas e,
com isso, debulha um pouco a espiga, ou então a chapa de bloqueio está um
pouco aberta e/ou com espigas menores que o padrão, entrando em contato com
o rolo espigador. As perdas por separação são ocasionadas quando ocorre
sobrecarga no saca-palha, peneiras superior ou inferior um pouco fechadas,
ventilador com rotação excessiva, sujeira nas peneiras.

Grãos nos sabugos - Esse tipo de perda ocorre em função da regulagem do


cilindro e côncavo e apresenta, como possíveis causas, a quebra do sabugo antes
da debulha, grande folga entre cilindro e côncavo, velocidade elevada de avanço,
baixa velocidade do cilindro debulhador, barras do cilindro tortas ou avariadas,
côncavo torto e existência de muito espaço entre as barras do côncavo.

Nos teores de umidade mais altos, testes indicaram que a perda de grãos no
sabugo foi o que mais contribuiu para o aumento da perda total. Por isso,
rotações mais altas (600 a 800 rpm) são mais indicadas.

Nos teores de umidade mais baixos, a perda de espigas, após a colheita, foi a
maior responsável pelas perdas totais, e a rotação mais indicada está na faixa de
400 a 600 rpm.

A secagem natural do milho no campo traz benefícios no sentido de economizar


energia na secagem artificial, mas, à medida que o milho seca, diminui a
concorrência com as plantas daninhas, aumentando a incidências destas. Este
fato traz inúmeros problemas para a operação de colheita mecânica, como, por
exemplo, o embuchamento das colhedoras com plantas daninhas, impedindo que
as máquinas tenham bom desempenho.
Exemplo de cálculo para uso da colhedora

Considerando-se uma colhedora trabalhando a uma velocidade de 5 km/h e com


plataforma de quatro bocas, espaçadas 90 cm entre si, em um campo cuja
produtividade é de 6.000 kg/ha, a capacidade teórica de colheita é:

Se no período de uma hora foram colhidos 1,42 ha de milho, a eficiência de


campo é igual a:

No caso de colheita mecânica, são aceitáveis valores médios de eficiência de


campo entre 70% e 80% ou, em outras palavras, 20% a 30% do tempo perdido
em manobras, desembuchamento, consertos, entre outros.

Considerando que as áreas a serem colhidas, de modo geral, apresentam


produtividades (t/ha) desuniformes, é importante relacionar a capacidade efetiva
de trabalho em colheita em t/h.

Cálculo de Capacidade Efetiva de Trabalho (CET):

Se, por exemplo, uma determinada colhedora automotriz estiver trabalhando em


dois locais diferentes, campos A e B, com produtividades de 7 t/ha e 3 t/ha,
respectivamente, e eficiência de campo de 80%, o tempo necessário para colher
o campo B poderá ser menor, mas a quantidade colhida, por tempo, é maior em
A. Justifica-se, assim, a redução da velocidade de colheita, para evitar
embuchamento. Pode-se, então, fazer o seguinte cálculo de Capacidade Efetiva
de Trabalho (CET):

Campo A: velocidade 3 km/h

Campo B: Velocidade 5 km/h

Para estimar esta velocidade, com colhedoras que não possuem medidores de
velocidade (velocímetro), procede-se da seguinte maneira:

Conta-se o número de passos largos (cerca de 90 cm/passo) tomados em 20


segundos, caminhando na mesma velocidade e ao lado da colhedora;

Multiplica-se este número de passos por um fator 0,16 para obter a velocidade
em km/h.

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