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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS


DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA E CIÊNCIA DOS ALIMENTOS
MEDICINA VETERINÁRIA

Elias Eduardo Leonardi

GRÃO ÚMIDO DE MILHO (SILAGEM)

Santa Maria
2022
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1 Introdução

A silagem de grão úmido de milho está sendo cada vez mais utilizada no Brasil,
permitindo aos produtores estocar os grãos em suas propriedades de uma maneira prática,
econômica e sem alterar os valores nutricionais do milho.
Nesse viés, é indiscutível a importância do valor nutricional do grão de milho na
alimentação de suínos, aves, bovinos e ovinos, principalmente como fonte de energia.

1.1 Etapas do processamento da silagem de grão úmido de milho

A silagem de grãos úmidos de milhos nada mais é que armazenagem de grãos em


atmosfera modificada, ou seja, na ausência de oxigênio, minimizando os desenvolvimentos
de fungos, bactérias patogênicas, ácaros e roedores, visando o desenvolvimento de bacté-
rias homofermentativas, sendo estas altamente desejável para a produção de ácido lático e
diminuição do pH da silagem, contemplando em uma silagem de boa qualidade.
Dessa forma, a silagem de grão úmido de milho tem sido utilizada para solucionar
problemas de armazenamento de cereais nas propriedades rurais, melhorando tanto o valor
nutricional deste alimento, bem como a redução do grau de contaminação nas dietas dos
animais.

1.1.1 Primeiro etapa - escolha do híbrido

Uma silagem de grão úmido de alta qualidade inicia com a escolha do híbrido de
milho, objetivando a adaptação regionalizada, ciclo da cultura, produtividade, resistência a
micotoxinas e baixa porcentagem de grãos ardidos.
O híbrido deve apresentar além destas características, um elevado valor nutricional
principalmente no que se refere aos níveis de proteína e óleo. Desa forma, o híbrido que,
tanto para grão seco como para silagem de grão úmido, apresentar mais energia, mais
proteína e maior potencial de resposta animal por quilo de alimento, para produção de
carne, leite, ovos, melhorando a eficiência na produção animal deve ser o escolhido.

1.1.2 Segunda etapa - colheita

A colheita do grão de milho é uma etapa fundamental na qualidade da silagem, por


isto os maquinários utilizados neste processo devem estar em bom estado de manutenção.
Durante a colheita deve-se priorizar o ponto de debulha, ou seja, a facilidade que o grão se
solta do sabugo, uma vez que influencia no rendimento do material ensilado.
Com isso, o teor de umidade do grão no momento da colheita deve ser de 30 a
35%, considerado o ideal. Além disso, o grão deve ter no mínimo 26 e máximo 40% de
teor de umidade, pois em umidade superior a 40% a quantidade de água excessiva no
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grão, interfere na maturação fisiológica resultando em perda de matéria seca, fermentação


excessiva e perda de energia durante a estocagem. Quando a matéria seca excede ao ideal,
umidade inferior a 26% dificulta o processo de moagem além de interferir negativamente a
ação das bactérias e fungos anaeróbios que irão fermentar a massa moída de milho, pois
terá consistência endurecida, o que poderá acarretar maior perda na passagem pelo trato
digestório, resultando no baixo aproveitamento do amido disponível para fermentação no
rúmen.

1.1.3 Terceira etapa - processamento do grão úmido

A moagem dos grãos úmidos é um procedimento necessário, pois, além de facilitar


a compactação, também melhora a absorção de nutrientes no trato digestório do animal.

1.1.4 Quarta etapa - compactação

A compactação pode ser feita com tratores e tem fundamental importância no


resultado final da silagem, pois visa à remoção de todo o oxigênio no interior da massa
ensilada. A compactação permite a fermentação anaeróbia com produção de ácido lático,
propiônico e outros que reduzem o pH da massa ensilada em torno de 3,5, favorecendo a
conservação por vários meses ou anos.

1.1.5 Sexta etapa - fechamento do silo

A rapidez e a qualidade no processo de fechamento do silo são o gargalo determi-


nante para a obtenção de uma silagem duradoura e qualidade desejável. O fechamento do
silo não precisa ser diário, pode ser cheio por vários dias, desde que evite ficar mais de 10
horas sem receber material novo sob a última camada compactada exposta ao ar, portanto
deve-se colher milho suficiente para moer no mesmo dia, não deixando para o dia seguinte.
Além disso, quando terminar de moer o volume colhido no dia faz-se a última
compactação, adicionando-se o inoculante em cada camada a ser compactada e então se
cobre a superfície do silo com a lona, no dia seguinte retira-se a lona, inocula-se novamente
e continua o processo normalmente até o fim da colheita dos grãos. Para o fechamento do
silo é de extrema importância que se retire todo o ar sob a lona, para isso, pode-se utilzar
uma camada de terra ou areia

1.1.6 Sétima etapa - abertura do silo e retirada da silagem

No momento da abertura do silo, observa-se a temperatura, que normalmente deve-


se estar próxima à temperatura do ambiente, entretanto se estiver quente significa que o
ciclo fermentativo não se completou e não deve ser fornecida aos animais.
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Com relação à coloração, deve ser amarelada, o cheiro é característico e o sabor é


ácido, devem-se descartar locais com odores estranhos, pois indicam estado de putrefação.
Estes locais devem ser retirados e nunca fornecidas aos animais.
O tempo necessário para que ocorra a fermentação da silagem é de 21 a 28 dias,
desde o enchimento do silo até a sua abertura. Após aberto o silo, o produtor deve retirar
uma camada maior que 10 cm de largura, a fim de evitar a entrada de oxigênio em seu
interior e posterior deterioração, e fornecer diariamente aos animais.

1.2 Utilização na alimentação animal

1.2.1 Bovinos

Bovinos alimentados com dietas à base de grãos possuem certa instabilidade na


população microbiana, devido às variações na produção de ácidos graxos voláteis e dimi-
nuição do poder tamponante do rúmen, visto que há menos mastigação e produção de
maiores níveis de propionato e butirato.
Com isso, a utilização da silagem de grão úmido de milho na alimentação de bovinos,
promove uma redução no consumo, porém observa-se ganhos significativos em relação a
melhoria da eficiência alimentar, cerca de 9 a 25%, sendo confirmada por várias fontes na
literatura, obtendo resultando ainda mais consistentes em relação a conversão alimentar.
Dessa forma, fica evidente que ruminantes que são suplementados com silagem de
grão úmido ingerem menos quantidade de alimento e são mais eficientes em comparação a
utilização do grão seco.

1.2.2 Suínos

Em suínos verifica-se que o método de estocagem, sob a forma de silagem de


grãos úmidos, melhora a disponibilidade dos nutrientes do milho. Apesar disso, é relatado
baixa concentração de amido nas fezes desses animais assumindo, assim, uma digestão
completa do amido tanto em dietas contendo milho seco, quanto em dietas com milho
úmido.
Porém, verifica-se que em dietas à base de milho úmido, a quantidade de amido que
passou para o ceco foi cerca de três vezes menor, em comparação à dieta com milho seco.
Além disso, observa-se que a produção de silagem de milho causou hidrólise do amido,
aumentando em até dez vezes a quantidade de glicose livre no alimento em relação ao
milho seco.
Dessa forma, é evidente que para suínos, a silagem de grãos úmidos de milho apre-
senta maior digestibilidade da matéria seca, da energia e do nitrogênio e determina maiores
ganhos de peso e eficiência alimentar em comparação com as rações com milho seco. A
silagem de grãos úmidos de milho pode substituir com vantagens o milho seco nas rações
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de leitões nas fases inicial, crescimento e terminação, desde que sejam rigorosamente
atendidos os princípios básicos de confecção e uso da silagem.

1.2.3 Ovinos

Na alimentação de ovinos, não há efeito nos níveis de ganho médio diário de peso
vivo, idade ao abate, peso e rendimento das carcaças quentes e frias, indicando que a
silagem de grãos úmidos de milho pode ser utilizada em substituição ao milho moído na
alimentação de cordeiros. O tratamento com 50% de silagem de grãos úmidos apresenta
os melhores resultados econômicos e o tratamento sem silagem de grãos úmidos é o de
menor rentabilidade.

1.2.4 Frangos de corte

Na alimentação de frangos de corte, os grãos úmidos de milho podem ser utilizados


sem afetar o desempenho, dietas que contêm milho com alto teor de umidade foram
equivalentes em termos de valor nutricional às dietas com grãos secos de milho, em uma
mesma base de umidade, quando se trabalhou com níveis adequados de suplementação
protéica.
Estes resultados não correspondem aos observados com relação a suínos e bovinos,
nos quais a utilização de silagem de grãos úmidos de milho melhorou a eficiência alimentar
em comparação com os animais que receberam ração com grão de milho seco. Com isso,
recomenda-se que a silagem de grãos úmidos de milho seja utilizada em substituição total
aos grãos secos de milho nas dietas de frangos de corte até os 21 dias de idade.

1.3 Desvantagens da utilização do grão úmido de milho

As desvantagens da utilização do grão úmido de milho são poucas, dentre elas estão
a dificuldade ou impossibilidade de comercialização e a necessidade do preparo diário da
dieta aos animais, pois a mistura do grão úmido com o núcleo poderá gerar aquecimento e
provocar diarréia nos animais. Apesar de que a silagem corretamente produzida melhora
sensivelmente o tempo entre a mistura e o fornecimento aos animais, sem alterar a qualidade
nutricional.
Ademais, vale ressaltar que, para alguns animais de produção, o custo em compara-
tivo com o de outros alimentos de sua categoria não é vantajoso, além da possível presença
de fungos, micotoxinas, sementes tóxicas e resíduos de pesticidas.
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1.4 Conclusão

Com base no levantamento bibliográfico realizado, torna-se evidente que o proces-


samento da silagem de grão úmido de milho, devido a seus múltiplos usos na alimentação
animal, é uma tecnologia que pode contribuir de forma significativa para melhorar os ín-
dices de produtividade dos animais, devido sua digestibilidade desejada, aproveitamento
e desempenho do amido pelo animal, quando comparada a utilização de outros cereais,
desde que a confecção e o fornecimento da silagem aos animais seja realizada de maneira
adequada.

1.5 Referências bibliográficas

PEREIRA, Kárito Augusto et al. Aspectos Nutricionais e Confecção de Silagem


de Grão Úmido de Milho para a Alimentação de Bovinos: revisão de literatura. Revista
Eletrônica Nutritime, v. 14, n. 1, p. 4944-4953, 2017.
OLIVEIRA, Ricardo Pinto de et al. Valor nutritivo e desempenho de leitões ali-
mentados com rações contendo silagem de grãos úmidos de milho. Revista Brasileira
de Zootecnia, v. 33, p. 146-156, 2004.
SARTORI, José Roberto et al. Silagem de grãos úmidos de milho na alimentação
de frangos de corte. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 37, p. 1009-1015, 2002.
ALMEIDA JÚNIOR, Gercílio Alves de et al. Desempenho, características de car-
caça e resultado econômico de cordeiros criados em creep feeding com silagem de
grãos úmidos de milho. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 33, p. 1048-1059, 2004.
JOBIM, Clóves Cabreira; REIS, Ricardo Andrade; RODRIGUES, Luis Roberto Dean-
drade. Avaliação da silagem de grãos úmidos de milho. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
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