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Revista Eletrônica Nutritime, Artigo 162

v.9, n° 03 p.1779- 1786 – Maio/Junho 2012

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ESTRESSE TÉRMICO EM FRANGOS DE CORTE
Artigo 162 Volume 09 — Número 03 p.1779-1786 Maio/Junho 2012
Artigo Número 162

FATORES QUE INTERFEREM NO ESTRESSE


TÉRMICO EM FRANGOS DE CORTE

ESTRESSE TÉRMICO EM FRANGOS DE CORTE


Artigo 162 Volume 09 — Número 03 p.1779-1786 Maio/Junho 2012
Marcos José Batista dos Santos, Carlos Bôa-Viagem Rabello,
Heliton Pandorfi, Thaysa Rodrigues Torres, Priscila Antão dos
Santos, Luiz Carlos Lemos Camelo

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2000). Os processos de
INTRODUÇÃO termorregulação (termólise e a
A avicultura brasileira vem ao termogênese) que ocorrem durante as
longo dos anos destacando-se em sua trocas de calor sensível (condução,
produção, com aumento da radiação, convecção) e as trocas de
exportação e do consumo interno. calor latente (evaporação e
Isto acompanhado de um vertiginoso condensação) são acionados de
aumento da tecnologia empregada no acordo com a temperatura ambiente,
país, com o respaldo da comunidade paralelamente a sua zona de
cientifica, possibilitando melhorias na termoneutralidade (Macari et al.,
qualidade do produto final. 2002). Devido às características do
Com objetivo de otimizar a metabolismo intenso da ave, de toda
produção industrial de carne, o energia consumida pelo frango
sistema intensivo de produção tem somente 20% são carreados para o
aumentado a densidade de criação de seu crescimento, os outros 80% se
frangos, o que gera alterações dentro destinam à sua manutenção (Abreu &
do ambiente, tanto do ponto de vista Abreu, 2004). Conforme Moura
termodinâmico, quanto da qualidade (2001), as aves tentam compensar
do ar, colocando em risco os aspectos sua reduzida habilidade de dissipar
sanitários, econômicos e de calor latente, em condições de
biosseguridade. estresse térmico, ativando os
Os fatores climáticos têm uma processos fisiológicos e
grande influência no bem-estar comportamentais responsáveis pela

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dessas aves em uma relação direta dissipação de calor para o ambiente
com o desempenho dos animais. Aves externo, mantendo as asas afastadas
submetidas a altas temperaturas têm do corpo, aumentando sua área de
depressão do consumo, além de superfície corporal, facilitando perdas
permanecerem prostradas com as

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por convecção. Quando a temperatura
asas abertas tentando dissipar calor, ambiente se aproxima da temperatura
quando associado à alta umidade das aves, 41° C, a eficiência dos
relativa do ar o problema se agrava meios sensíveis de troca de calor
podendo levar as aves a óbito. Outros decresce. Nesse ponto o mecanismo
fatores climáticos e fisiológicos principal de perda de calor passa a ser
também interferem negativamente no o processo de evaporação de água
desempenho animal. pelo trato respiratório. Quanto maior
O conhecimento dos fatores que for à pressão de vapor do ambiente,
interfere no bem-estar das aves é maior é a dificuldade de liberação de
necessário para projetar aviários mais calor por meios evaporativos. O
eficientes e tomadas de decisões aumento dos movimentos
emergenciais assegurando a máxima respiratórios se torna eficiente apenas
eficiência produtiva das aves. quando a umidade relativa ambiental
se encontra em níveis menores que
AMBIÊNCIA E 80%. Quando as trocas evaporativas
já não são mais efetivas na perda de
ESTRESSE TÉRMICO calor, as aves entram em prostração
Os animais de produção estão podendo chegar à morte (Moura,
sujeitos a fatores estressores, como o 2001).
frio e o calor, o que pode desviar a Existem dois tipos gerais de
energia de produção para sua energia resposta: uma específica e outra não-
de mantença. No entanto, a condição específica. Por exemplo, frangos
de conforto térmico animal dentro de mantidos em alta temperatura
uma instalação é que o balanço ambiente apresentam elevação da
térmico seja nulo, ou seja, o calor temperatura corporal, como resposta,
produzido pelo organismo animal, o frango aumenta a frequência
somado ao calor ganho do ambiente, respiratória e promove vasodilatação
seja igual ao calor perdido (Nääs, nos músculos esqueléticos para maior

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dissipação de calor e redução da respostas do animal é para o
temperatura corporal. O estresse por consumo (Emmans, 1987).
calor é responsável por grandes Silva et al. (2001) pesquisaram
perdas de rendimento nos lotes de aves de duas linhagens: sendo uma
frangos, como consequência há o portadora do gene pescoço pelado e
aumento de mortalidade e conversão outra não portadora, com
alimentar, e também diminuição do empenamento normal, ambas
peso corporal, e as consequências se submetidas a estresse térmico
agravam quando as condições gradativo (38, 40 e 42ºC), em câmara
estressantes ocorrem na fase final, climática. Os resultados obtidos
próximo ao abate. Existe uma sugerem que a linhagem de pescoço
correlação entre a tolerância ao calor pelado possui maior resistência ao
e o aumento da síntese da proteína do estresse térmico em relação à
choque térmico (Hsp70). Evidências linhagem de empenamento normal.
de que a proteína Hsp70 está Os autores ainda concluíram que
envolvida com a termotolerância quanto mais alta foi a capacidade dos
foram mostradas em estudos frangos de ganhar peso, mais eles se
realizados por diversos autores entre beneficiaram do fato de terem áreas
eles (Wang & Edens,1990; Miller & desnudas. A redução do volume de
Qureshi, 1992). penas melhora a dissipação do calor
Fatores ambientais através da área desnuda, promovendo
relacionadas ao clima e instalações, maior tolerância ao calor e melhor
técnicas de manejo, nutrição definem produtividade em condições de altas

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o ambiente que circunda os animais, temperaturas ambientais (até 32º C).
bem como determinam a capacidade
dos animais de responder aos
estímulos ambientais, que agem de
TEMPERATURA
A temperatura é o mais

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forma interativa com potencial de
afetar o desempenho e a qualidade da importante elemento meteorológico
carne (Bertol, 2004). que influi diretamente para o conforto
Em aves jovens a temperatura térmico e funcionamento geral dos
ambiental associada ao metabolismo processos fisiológicos, por envolver a
pode ser crítica e gerar mortes. A superfície corporal dos animais, afeta
produção do calor do corpo aumenta diretamente a velocidade das reações
com a entrada de alimento, devido à que ocorrem no organismo que
termogênese induzida pela influenciam a produção animal. A
alimentação. Algumas drogas tais temperatura interna das aves é de
como a nicarbazina e outros 41,1 ºC, e por se tratarem de animais
compostos químicos tais como os homeotermos, o seu sistema
clorofenóis e nitrofenóis também fisiológico trabalha para manter esta
aumentam a produção do calor do temperatura estável, acionando assim
corpo. Verifica-se aumento linear mecanismos de repostas quando elas
entre a proporção de frangos que são submetidas a desafios térmicos.
morrem em galpões fechados e a alta No caso de animais em
temperatura ambiental associada ao confinamento o problema se agrava
metabolismo. em função do seu espaço físico, que
O consumo das aves é suprimido diminui ao longo do ciclo produtivo,
com a maior taxa de crescimento das isso faz com que a produção de calor
penas, dado que os processos de gerado pelas aves aumente no interior
ingestão de alimento e crescimento do galpão, além de dificultar sua
geram calor que deve ser dissipado dissipação (Abeyesinghe et al., 2001).
para o ambiente na zona da Animais pesados têm sua área
termoneutralidade. Se o animal se de superfície relativa reduzida,
afasta da zona termoneutra e não dificultando ainda mais a troca de
consegue dissipar calor uma das calor para o ambiente. Frangos de
corte são muito sensíveis a altas

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temperaturas por serem animais que sugeridos para frangos de corte
não se ajustam perfeitamente aos adultos que variam de 15ºC a 25ºC
extremos de temperatura, por (Timmons & Gates, 1988).
possuírem alto metabolismo e por Portanto, em situações de
terem grande capacidade de retenção grande amplitude térmica, as aves
de calor devido sua cobertura têm sua sobrevivência ameaçada,
corporal. particularmente acima de 38ºC e sob
Altas temperaturas também condições de alta UR. Nessas
alteram o equilíbrio das enzimas situações, as aves diminuem o ganho
pancreáticas nas aves. Routman et al. de peso e a eficiência de conversão
(2003) encontraram alteração na alimentar e também ocorre alteração
amilase pancreática em aves nas exigências nutricionais. Nesse
submetidas ao estresse por calor. processo, os fatores físicos ambientais
Osman & Tanios (1983) relataram que (temperatura, umidade relativa,
o estresse causa um consistente vento, radiação e etc.) tendem a
aumento na atividade da amilase em produzir variações internas nas aves,
frangos, o que pode comprometer a influenciando a quantidade de energia
digestão do amido e, trocada entre ave e ambiente,
consequentemente, o desempenho havendo, muitas vezes, a necessidade
animal. de ajustes fisiológicos para a
Com relação às baixas ocorrência do balanço de calor (Baêta
temperaturas, ocorre um fator & Souza, 1998).
positivo que é o aumento do ganho de De acordo com Medeiros

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peso, mas, associado a isso, há o (2001) temperaturas menores que
aumento da taxa de conversão 10°C promovem redução no ganho de
alimentar. peso e na eficiência alimentar, entre
A faixa de temperatura de 10 e 21°C a eficiência alimentar

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conforto térmico varia de acordo com permanece afetada. Para ambientes
a espécie e sua constituição genética, com temperaturas entre 15 e 26°C,
idade, peso e tamanho corporal, verifica-se melhor eficiência alimentar
estado fisiológico, dieta alimentar, e ganho de peso, entre (21 e 30°C) e
exposição prévia ao calor (32 e 38°C) implica em decréscimo na
(aclimatação), variação da ingestão alimentar de 1,5 e 4,6%,
temperatura de bulbo seco (Tbs), respectivamente; temperaturas entre
umidade relativa do ar (UR), 29 e 32°C o consumo alimentar
velocidade do vento (Vv) e radiação diminui significativamente, então o
incidente no ambiente de criação ganho de peso é baixo; temperaturas
(Qg). entre 32 e 35°C o consumo alimentar
Segundo Fabrício (1994), as diminui, o ganho de peso é
temperaturas ambientais ideais para prejudicado, o consumo de água
frangos de corte de acordo com a fase passa a ser superior ao dobro do
de criação, do nascimento ao abate, normal, nesta faixa de temperatura
são: de 1 a 7 dias, temperatura de ambiente a temperatura interna da
35°C; de 8 a 14 dias, temperatura de ave começa a aumentar;
32°C; de 15 a 21 dias, temperatura temperaturas entre 35 e 38°C têm
de 29°C; de 22 a 28 dias, prostração por calor: medidas
temperatura de 27°C; de 29 a 35 emergenciais são necessárias para o
dias, temperatura de 24°C e de 35 resfriamento das aves.
dias até o abate temperatura de Considerando-se que a
21°C. temperatura interna das aves oscila
A zona de conforto térmico entre 40 e 41 ºC, a temperatura
para aves a partir da segunda e ambiente indicada para frango de
terceira semanas de vida oscila entre corte, poedeiras e matrizes, poderá
15ºC e 26ºC, para valores de UR de oscilar entre 15 e 28 ºC, sendo que
50% a 70%, segundo Yousef (1985), nos primeiros dias de vida a
estando de acordo com os limites temperatura deve ficar entre 33 a 34

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ºC, dependendo da umidade relativa proporcional ao teor de umidade do
do ar, que pode variar de 40 a 80%. ar. Quanto maior a umidade relativa
Além do desempenho, a do ar, mais dificuldade a ave tem de
temperatura ambiente modifica a remover calor interno pelas vias
retenção de energia, proteína e aéreas, o que leva ao aumento da
gordura no corpo animal e provoca frequência respiratória.
diversas mudanças adaptativas Donald (1998) recomenda a
fisiológicas, entre elas a modificação faixa de UR entre 50% e 60%.
no tamanho dos órgãos, o que Segundo o autor, as trocas térmicas
também contribui para alterar a entre o animal e o ambiente, não são
exigência nutricional das aves, visto afetadas nesse intervalo de UR.
que o gasto de energia pelos tecidos
metabolicamente ativos, como fígado,
intestino e rins são maiores que
VENTILAÇÃO
aquele associado à carcaça (Baldwin A velocidade do ar influencia
et al., 1980). positivamente na condição de conforto
dos animais, ajudando na manutenção
de sua homeostase. Assim, com o
UMIDADE DO AR conhecimento das necessidades
A Umidade relativa do ar (UR) ambientais das espécies, do tipo de
em conjunto com a Temperatura de manejo, clima local e das
bulbo seco (Tbs) possui papel características da tipologia
importante na dissipação de calor construtiva, pode-se projetar o

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pelos animais. Altos valores de Tbs e sistema de ventilação natural ou
UR são extremamente danosos para a artificial para melhorar às exigências
produção, sendo que no interior de de ventilação para os animais.
instalações zootécnicas, a UR é função A renovação do ar no interior
da temperatura do ambiente de da instalação permite a redução da

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criação, do fluxo de vapor d’água transferência de calor da cobertura,
oriundo dos animais, das fezes e/ou facilitando as trocas de calor corporal
da cama e do sistema de ventilação. por convecção e evaporação (Baeta &
Em ambientes no qual a Souza, 1997). A ventilação é
temperatura atinge valores próximos necessária para eliminar o excesso de
ou acima da temperatura corporal do umidade do ambiente e da cama,
animal, a perda de calor passa a provenientes da respiração das aves e
ocorrer principalmente pela dos excrementos, o que possibilita a
evaporação, que é influenciada pela renovação do ar e elimina odores
UR. (Tinôco,1998).
Nessas condições, a Para as aves adultas, a
evaporação sofre os efeitos da velocidade do ar máxima
elevação da UR, que reduz o recomendada é de aproximadamente
gradiente de vapor d’água presente 0,2 m/s no inverno e 0,5 m/s no
no local, diminuindo, o potencial de verão, segundo estudos de (Llobet &
evaporação do vapor d’água via Gondolbeu, 1980; Curtis, 1983).
sistema respiratório e o ambiente que Contudo, esse limite pode ser menor
o cerca (Barbosa Filho, 2004). para as aves mais jovens, para evitar
A ofegação nas aves é um dos a ocorrência de doenças pulmonares
meios mais eficientes de se dissipar o (Curtis, 1983).
calor em condições de estresse Estudos realizados por Yousef
térmico, sendo ainda que, se a (1985) e Medeiros (2001), sobre a
umidade relativa estiver apropriada, a influência do ambiente térmico na
maioria das aves será capaz de produtividade de frangos de corte
dissipar seu calor metabólico por meio entre a 4ª e a 6ª semanas de idade
da ofegação. Oliveira et al. (2006) das aves, demonstraram que as faixas
afirmam que a capacidade das aves de Tbs, UR e Vv que resultam em
em suportar o calor é inversamente maior desempenho, ocorrem entre 21

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e 27°C, 50 e 70% e 0,5 e 1,5 m/s, hormônios reprodutivos do
respectivamente. Diversos autores crescimento e mudanças
mostram o efeito atenuante da neuroquímicas. Há uma indicação que
ventilação sobre o desconforto o funcionamento do trato digestivo
térmico para aves (Medeiros, 2001; pode ter um ajuste compensatório
Yanagi Junior et al., 2001). para produção enzimática nas
Portanto, quando a ventilação secreções digestivas em estresse por
natural não atender as exigências calor (Osman & Tanios, 1983).
mínimas das aves, a utilização de A temperatura corporal de uma
sistema de ventilação artificial é um ave oscila em torno de uma faixa de
ponto chave para garantir níveis 41°C, isto pode variar um pouco com
adequados de qualidade do ar, o horário do dia, sua atividade
atuando positivamente na promoção metabólica e o controle desta
do conforto térmico. Lott et al. (1998) temperatura se faz por meio das
encontrou maior ganho de peso com trocas de calor com o ambiente. Se
acondicionamento em túnel com uma ave se encontra em condições de
velocidade do ar a 2 m/s quando temperatura e umidade elevadas, terá
comparado a outros sistemas. Furlan sérias dificuldades de perder ou trocar
et al. (2000) observaram que a calor com o ambiente, ocasionando,
temperatura da crista em frangos assim, um aumento da temperatura
submetidos a temperaturas de 29ºC, corporal (Barbosa Filho, 2004).
reduziu quando submetidos à Para acompanhar as mudanças
ventilação forçada por 10 minutos na temperatura corporal das aves,

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com velocidade de 4,2 m/s. Yahav et utiliza-se como variável resposta a
al. (2004) estudando a perda de calor temperatura retal, que dará uma idéia
em frangos obtiveram melhor de como o organismo em questão
desempenho com velocidades do está reagindo às condições ambientais

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vento de 2 m/s em comparação a 0,8 a que está exposto. Contudo, como
e 1,5 m/s. este método tem se mostrado
invasivo, muitos pesquisadores
adotam como alternativa o uso do
RESPOSTAS termômetro de infravermelho,
FISIOLÓGICAS DAS fazendo medições da crista, barbela e
canela das aves.
AVES AO ESTRESSE A hiperventilação pulmonar,
POR CALOR ocasionada pelo aumento dos
Componentes ambientais movimentos respiratórios, leva à
imprevisíveis promovem um “estado perdas significativas de CO2 fazendo
emergencial” que resulta em com que ocorram perturbações no
mudanças nos padrões endócrinos e equilíbrio ácido-básico sanguíneo das
metabólicos do organismo. A fisiologia aves que, dependendo do tempo de
define como “estressores” os exposição, podem levá-las a óbito.
estímulos ambientais que levam a Devido a insuficiente oxigenação, o
uma alteração na homeostase e a ritmo cardíaco aumenta na tentativa
resposta correspondente de um de suprir mais oxigênio para o
animal conhecido como “resposta ao metabolismo oxidativo dos tecidos em
estresse” (Möstl & Palme, 2002). rápido crescimento, causando uma
Em condições de estresse, as hipertensão pulmonar.
aves podem responder com alterações Com prolongada falta de
fisiológicas e bioquímicas. Os oxigênio, mecanismos de regulação
resultados são: elevada taxa cardíaca, do organismo da ave são acionados
aumento de corticosterona plasmático para manter a homeostase. O quadro
e níveis de catecolaminas, hipertrofia é agravado ainda mais pelo aumento
e atrofia da adrenal, da resistência ao fluxo sanguíneo no
imunossupressão, mudanças nos pulmão, que promove o desequilíbrio
entre a necessidade e o fornecimento

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de oxigênio e a insuficiência cardíaca. amplamente utilizados em avaliações
A predisposição à ascite é maior nos de bem-estar que propuseram um
frangos porque o pulmão é rígido e modelo de estudo de estresse em
fixo na cavidade torácica e o peso do aves domésticas. Este modelo envolve
órgão em relação ao peso corporal contínua infusão de
diminui em função da idade (Gonzales adrenocorticotropina (ACTH). Já Post
& Macari, 2000). et al. (2003) propuseram uma
Um método frequentemente alternativa no modelo de medida de
utilizado pelos produtores é a estresse utilizando a dieta e
manipulação química do equilíbrio corticosterona (CS).
ácido-básico pela utilização de Entretanto, Dawkins (2003)
compostos químicos como bicarbonato aponta a existência de inúmeros
de sódio (NaHCO3), cloreto de problemas de interpretação nos
potássio (KCl), cloreto de cálcio indicadores de estresse com essas
(CaCl2) e cloreto de amônia (NH4Cl). medidas. O problema consiste no fato
Em condições normais, o organismo de que muitos destes indicadores
da ave é constituído por 70% de bioquímicos e fisiológicos de bem-
água; no entanto, quando submetida estar são melhores indicadores de
a condições de estresse calórico há atividade ou excitação do que
um aumento de perda de água que é realmente das condições de bem-
compensada pelo aumento da estar do animal, variando
ingestão. A perda de água pode naturalmente em função do horário do
alterar a massa corporal, resultando dia, da temperatura e das condições

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em perda de peso (Macari et al., de alojamento.
2002).
Estudos como os de Beker &
Teeter (1994) e Macari (1995),
CONSIDERAÇÕES

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chamam a atenção também para o FINAIS
aspecto da temperatura da água O conhecimento dos fatores
fornecida às aves, que interfere no que interferem no estresse térmico
seu consumo e tende a diminuir animal é uma ferramenta
quando a temperatura da água indispensável para melhorias no
aumenta. Existem alguns hormônios ambiente de produção garantindo a
que são utilizados como indicativo do máxima eficiência produtiva das aves.
stress, como é o caso dos
corticosteróides, que têm sido

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