Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1726
ESTRESSE TÉRMICO EM FRANGOS DE CORTE
Artigo 162 Volume 09 Número 03 p.1779-1786 Maio/Junho 2012
Artigo Número 162
1727
2000). Os processos de
INTRODUÇÃO termorregulação (termólise e a
A avicultura brasileira vem ao termogênese) que ocorrem durante as
longo dos anos destacando-se em sua trocas de calor sensível (condução,
produção, com aumento da radiação, convecção) e as trocas de
exportação e do consumo interno. calor latente (evaporação e
Isto acompanhado de um vertiginoso condensação) são acionados de
aumento da tecnologia empregada no acordo com a temperatura ambiente,
país, com o respaldo da comunidade paralelamente a sua zona de
cientifica, possibilitando melhorias na termoneutralidade (Macari et al.,
qualidade do produto final. 2002). Devido às características do
Com objetivo de otimizar a metabolismo intenso da ave, de toda
produção industrial de carne, o energia consumida pelo frango
sistema intensivo de produção tem somente 20% são carreados para o
aumentado a densidade de criação de seu crescimento, os outros 80% se
frangos, o que gera alterações dentro destinam à sua manutenção (Abreu &
do ambiente, tanto do ponto de vista Abreu, 2004). Conforme Moura
termodinâmico, quanto da qualidade (2001), as aves tentam compensar
do ar, colocando em risco os aspectos sua reduzida habilidade de dissipar
sanitários, econômicos e de calor latente, em condições de
biosseguridade. estresse térmico, ativando os
Os fatores climáticos têm uma processos fisiológicos e
grande influência no bem-estar comportamentais responsáveis pela
1779
dissipação de calor e redução da respostas do animal é para o
temperatura corporal. O estresse por consumo (Emmans, 1987).
calor é responsável por grandes Silva et al. (2001) pesquisaram
perdas de rendimento nos lotes de aves de duas linhagens: sendo uma
frangos, como consequência há o portadora do gene pescoço pelado e
aumento de mortalidade e conversão outra não portadora, com
alimentar, e também diminuição do empenamento normal, ambas
peso corporal, e as consequências se submetidas a estresse térmico
agravam quando as condições gradativo (38, 40 e 42ºC), em câmara
estressantes ocorrem na fase final, climática. Os resultados obtidos
próximo ao abate. Existe uma sugerem que a linhagem de pescoço
correlação entre a tolerância ao calor pelado possui maior resistência ao
e o aumento da síntese da proteína do estresse térmico em relação à
choque térmico (Hsp70). Evidências linhagem de empenamento normal.
de que a proteína Hsp70 está Os autores ainda concluíram que
envolvida com a termotolerância quanto mais alta foi a capacidade dos
foram mostradas em estudos frangos de ganhar peso, mais eles se
realizados por diversos autores entre beneficiaram do fato de terem áreas
eles (Wang & Edens,1990; Miller & desnudas. A redução do volume de
Qureshi, 1992). penas melhora a dissipação do calor
Fatores ambientais através da área desnuda, promovendo
relacionadas ao clima e instalações, maior tolerância ao calor e melhor
técnicas de manejo, nutrição definem produtividade em condições de altas
1780
temperaturas por serem animais que sugeridos para frangos de corte
não se ajustam perfeitamente aos adultos que variam de 15ºC a 25ºC
extremos de temperatura, por (Timmons & Gates, 1988).
possuírem alto metabolismo e por Portanto, em situações de
terem grande capacidade de retenção grande amplitude térmica, as aves
de calor devido sua cobertura têm sua sobrevivência ameaçada,
corporal. particularmente acima de 38ºC e sob
Altas temperaturas também condições de alta UR. Nessas
alteram o equilíbrio das enzimas situações, as aves diminuem o ganho
pancreáticas nas aves. Routman et al. de peso e a eficiência de conversão
(2003) encontraram alteração na alimentar e também ocorre alteração
amilase pancreática em aves nas exigências nutricionais. Nesse
submetidas ao estresse por calor. processo, os fatores físicos ambientais
Osman & Tanios (1983) relataram que (temperatura, umidade relativa,
o estresse causa um consistente vento, radiação e etc.) tendem a
aumento na atividade da amilase em produzir variações internas nas aves,
frangos, o que pode comprometer a influenciando a quantidade de energia
digestão do amido e, trocada entre ave e ambiente,
consequentemente, o desempenho havendo, muitas vezes, a necessidade
animal. de ajustes fisiológicos para a
Com relação às baixas ocorrência do balanço de calor (Baêta
temperaturas, ocorre um fator & Souza, 1998).
positivo que é o aumento do ganho de De acordo com Medeiros
1781
ºC, dependendo da umidade relativa proporcional ao teor de umidade do
do ar, que pode variar de 40 a 80%. ar. Quanto maior a umidade relativa
Além do desempenho, a do ar, mais dificuldade a ave tem de
temperatura ambiente modifica a remover calor interno pelas vias
retenção de energia, proteína e aéreas, o que leva ao aumento da
gordura no corpo animal e provoca frequência respiratória.
diversas mudanças adaptativas Donald (1998) recomenda a
fisiológicas, entre elas a modificação faixa de UR entre 50% e 60%.
no tamanho dos órgãos, o que Segundo o autor, as trocas térmicas
também contribui para alterar a entre o animal e o ambiente, não são
exigência nutricional das aves, visto afetadas nesse intervalo de UR.
que o gasto de energia pelos tecidos
metabolicamente ativos, como fígado,
intestino e rins são maiores que
VENTILAÇÃO
aquele associado à carcaça (Baldwin A velocidade do ar influencia
et al., 1980). positivamente na condição de conforto
dos animais, ajudando na manutenção
de sua homeostase. Assim, com o
UMIDADE DO AR conhecimento das necessidades
A Umidade relativa do ar (UR) ambientais das espécies, do tipo de
em conjunto com a Temperatura de manejo, clima local e das
bulbo seco (Tbs) possui papel características da tipologia
importante na dissipação de calor construtiva, pode-se projetar o
1782
e 27°C, 50 e 70% e 0,5 e 1,5 m/s, hormônios reprodutivos do
respectivamente. Diversos autores crescimento e mudanças
mostram o efeito atenuante da neuroquímicas. Há uma indicação que
ventilação sobre o desconforto o funcionamento do trato digestivo
térmico para aves (Medeiros, 2001; pode ter um ajuste compensatório
Yanagi Junior et al., 2001). para produção enzimática nas
Portanto, quando a ventilação secreções digestivas em estresse por
natural não atender as exigências calor (Osman & Tanios, 1983).
mínimas das aves, a utilização de A temperatura corporal de uma
sistema de ventilação artificial é um ave oscila em torno de uma faixa de
ponto chave para garantir níveis 41°C, isto pode variar um pouco com
adequados de qualidade do ar, o horário do dia, sua atividade
atuando positivamente na promoção metabólica e o controle desta
do conforto térmico. Lott et al. (1998) temperatura se faz por meio das
encontrou maior ganho de peso com trocas de calor com o ambiente. Se
acondicionamento em túnel com uma ave se encontra em condições de
velocidade do ar a 2 m/s quando temperatura e umidade elevadas, terá
comparado a outros sistemas. Furlan sérias dificuldades de perder ou trocar
et al. (2000) observaram que a calor com o ambiente, ocasionando,
temperatura da crista em frangos assim, um aumento da temperatura
submetidos a temperaturas de 29ºC, corporal (Barbosa Filho, 2004).
reduziu quando submetidos à Para acompanhar as mudanças
ventilação forçada por 10 minutos na temperatura corporal das aves,
1783
de oxigênio e a insuficiência cardíaca. amplamente utilizados em avaliações
A predisposição à ascite é maior nos de bem-estar que propuseram um
frangos porque o pulmão é rígido e modelo de estudo de estresse em
fixo na cavidade torácica e o peso do aves domésticas. Este modelo envolve
órgão em relação ao peso corporal contínua infusão de
diminui em função da idade (Gonzales adrenocorticotropina (ACTH). Já Post
& Macari, 2000). et al. (2003) propuseram uma
Um método frequentemente alternativa no modelo de medida de
utilizado pelos produtores é a estresse utilizando a dieta e
manipulação química do equilíbrio corticosterona (CS).
ácido-básico pela utilização de Entretanto, Dawkins (2003)
compostos químicos como bicarbonato aponta a existência de inúmeros
de sódio (NaHCO3), cloreto de problemas de interpretação nos
potássio (KCl), cloreto de cálcio indicadores de estresse com essas
(CaCl2) e cloreto de amônia (NH4Cl). medidas. O problema consiste no fato
Em condições normais, o organismo de que muitos destes indicadores
da ave é constituído por 70% de bioquímicos e fisiológicos de bem-
água; no entanto, quando submetida estar são melhores indicadores de
a condições de estresse calórico há atividade ou excitação do que
um aumento de perda de água que é realmente das condições de bem-
compensada pelo aumento da estar do animal, variando
ingestão. A perda de água pode naturalmente em função do horário do
alterar a massa corporal, resultando dia, da temperatura e das condições
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABEYESINGHE, S.M. et al. The aversion of broiler chickens to concurrent vibration
and thermal stressors. Applied Animal Behaviour Science, Amsterdam, v.73,
n.3, p.199-215, 2001.
1784
sistemas de produção e condições ambientais, utilizando analise de imagens.
Piracicaba- SP, 2004. Dissertação (Mestrado) – Escola Superior de Agricultura Luiz
de Queiroz, Universidade de São Paulo.
Emmans, G.C. (1987) Growth, body composition, and feed intake. World’s Poultry
FURLAN, R. L., et al. Air Velocity and Exposure Time to Ventilation Affect Body
Surface and Rectal Temperature of Broiler Chickens. J APPL POULT RES, Athens,
v9, p.559-564, 2000.
Lott, B.D., J.D..Air velocity and high tem erature effects on broiler performance.
Poultry Sci.Champaigner, v?, n?, p. 9391-393, 1998.
MACARI, M. Água de beber na dose certa. Aves & ovos, São Paulo, v. 9, n.6, p.
40-
80,1995.
1785
MILLER, L.; QURESHI, M.A. Heat-shock protein synthesis and phagocytic function of
chicken macrophage following in vitro heat exposure. Veterinary Immunologic
Immunopathology, v.30, Amsterdam, p.179-191, 1992.
OSMAN AM, TANIOS NI. The effect of heat on the intestinal and pancreatic levels of
amylase and maltase of laying hens and broilers. Comparative Biochemistry
Physiology, v.75a, n.4 p.563-7, 1983.
Wang, S., and F. W. Edens, Hsp70 mRNA expression in heat stressed chickens.
Comp. Biochem. Physiol. New Yourk, v.107B p. 33–37, 1994.
1786