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Ambiência na Produção Animal - Apostila - SOUZA, C.F.

DEA/UFV

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA
CONSTRUÇÕES RURAIS E AMBIÊNCIA

AMBIÊNCIA NA PRODUÇÃO ANIMAL


(Elaborada para as disciplinas ENG 350 – Construções Rurais e ENG
451 – Construções Rurais e Ambiência )

Adaptada do livro: BAÊTA, F.C.; SOUZA, C.F..


Ambiência em edificações rurais – conforto
animal. Editora UFV. Viçosa, MG. 2010. 269p.

Cecília de Fátima Souza e-mail: cfsouza@ufv.br


Profa. Associada II / Construções Rurais e Ambiência
Departamento de Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Viçosa

SETEMBRO - 2014
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1) INTRODUÇÃO

O avanço nos sistemas produtivos animais neste final de século, tanto do ponto
de vista genético quanto do gerencial, faz com que o meio ambiente adequado seja
condição indispensável para que os animais possam expressar seu máximo produtivo,
associado ao seu bem-estar.
O meio ambiente é o conjunto de todos os fatores que afetam direta ou
indiretamente, sendo os fatores térmicos os que causam os efeitos mais sentidos pelos
animais, alem da alimentação e agentes patógenos.
Pode-se dizer que o ambiente compreende todas as variáveis físicas, químicas,
biológicas, sociais e climáticas que interagem com o animal. O ambiente térmico é
resultante da ação das variáveis climáticas.
Ambiência é o estudo dessas relações.
Assim, as instalações devem ser projetadas de forma a amenizar os extremos
destas variáveis e proporcionar bem-estar aos animais, o que pode ser conseguido por
meio de materiais e técnicas construtivas adequadas ou por meio de modificações.

2) O ANIMAL E O MEIO AMBIENTE

ANIMAL
energia
AMBIENTE

SISTEMA TERMODINÂMICO

O animal porta-se como um sistema termodinâmico, que continuamente troca


energia com o ambiente.
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3) AMBIENTE

Para o entendimento sobre o que define o ambiente térmico torna-se importante


a abordagem de alguns conceitos básicos:

3.1) O CLIMA

Clima é o conjunto habitual de elementos físicos, químicos e biológicos que


definem a atmosfera de um determinado local.
Tempo é o estado instantâneo da atmosfera.
Clima integra as condições de tempo para certo período, em cada região.
O somatório das condições atmosféricas faz um lugar da superfície terrestre ser
mais ou menos habitável.
Elementos climáticos são grandezas meteorológicas que variam no tempo e no
espaço e comunicam ao meio atmosférico suas características e propriedades peculiares,
como temperatura, umidade, vento, nebulosidade, pressão atmosférica, etc.
Fatores climáticos influenciam os elementos climáticos, modificando o clima
de um local. Como exemplo pode-se citar a altitude, o relevo, a latitude, o tipo de solo,
a vegetação, etc.
Clima = interação de todos esses elementos e fatores.
Macroclima se refere às condições climáticas medias, em larga escala, da
atmosfera aberta em uma extensa área.
Microclima se refere às condições climáticas medias, em pequena escala, da
vizinhança imediata do homem ou animal. Define o microambiente ou ambiente local.

3.1.1) Variação dos ELEMENTOS climáticos: Radiação Solar, Temperatura e


Umidade do Ar

SOL = maior fonte de energia para a Terra: irradia cerca de 56 x 1026 calorias
por minuto.

A radiação solar direta é energia eletromagnética de ondas curtas, que atinge a


terra após ser parcialmente absorvida pela atmosfera e exerce grande influência na
distribuição anual das temperaturas no globo.

Moléculas de ar e poluentes espalham a radiação solar direta em todas as


direções, definindo a componente chamada difusa, que constitui cerca de 6% da
radiação solar que alcança o topo da atmosfera terrestre.

Quando os raios do Sol atingem o solo, parte da radiação é transformada em


calor, que é transferido para o ambiente, produzindo alterações em um importante
agente térmico do ambiente: a temperatura. Essa alteração normalmente segue um ciclo
característico ao longo das horas do dia e ao longo dos dias do ano.

A incidência da radiação solar, em conjunto com o regime de movimentação do


ar (ventos) e proximidade do mar determinam as condições de umidade relativa do ar,
outro importante agente térmico do ambiente, em um determinado local. A umidade
atmosférica é conseqüência da evaporação das águas e da transpiração das plantas.
Dessa forma, está intimamente ligada à presença de oceanos e cobertura vegetal local.
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4) ESTRESSE

Muitas vezes, os fatores e elementos ocorrem em extremos que dificultam a


sobrevivência.
Existem áreas na superfície da Terra nas quais, apesar dos extremos ambientais,
as espécies se adaptam sem perdas significativas na produção, reprodução e
manutenção. Isso significa que, em vários casos, os animais se portam como as plantas,
isto é, adaptam-se ao ambiente em que foram inseridos em favor de sua sobrevivência.
Assim, aclimatização refere-se a ajustamentos fisiológicos adaptativos
duradouros, que resultam em aumento de tolerância a continuas ou repetidas exposições
a vários estressores climáticos.
Porém, toda situação ambiental que provoca uma resposta adaptativa é
considerada estressora, isto é, define uma situação de estresse no animal. O termo
estresse esta relacionado ao conjunto de reações do organismo a agressões de ordem
física, psíquica, infecciosa, e outras, capazes de perturbar-lhe.
O estresse pode ser crônico, quando é gradual e constante, ou agudo, quando é
brusco e intenso. Por exemplo, variações bruscas de temperatura do ar são consideradas
estressantes e, em certos casos, podem causar até morte.
Quando submetido a ambiente estressante, varias funções internas do animal são
alteradas: há redução do crescimento, da resistência a doenças, variação da freqüência
respiratória e da temperatura retal, variação na ingestão de alimentos, etc. com
conseqüente redução na produção.

5) HOMEOTERMIA

O animal que mantém a temperatura do núcleo corporal dentro de limites


relativamente estreitos, mesmo que a temperatura ambiental flutue e que a sua atividade
varie intensamente é chamado homeotermo.
O processo por meio do qual o animal mantém a temperatura do núcleo corporal
aproximadamente constante perante as flutuações externas denomina-se homeotermia,
homeostase ou homeocinese.
É importante mencionar que a temperatura corporal dos homeotermos varia nas
diferentes partes do corpo, sendo que, por meio de equações adequadas, pode-se estimar
a temperatura do núcleo corporal, tendo-se a medida da temperatura retal ou da
superfície da pele.
O homeotermo controla o seu ambiente interno por meio de respostas de
adaptação a quaisquer alterações que ocorram no ambiente externo.

6) MECANISMOS DE REGULAÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL

As situações ambientais desfavoráveis são recebidas e analisadas por


mecanismos neurais e então o animal formula respostas.
O cérebro é fundamental na resposta formulada pelo animal, mais
especificamente o hipotálamo, onde está o centro de regulação da temperatura e a
glândula pituitária, responsável pela produção de hormônios, agentes químicos no
processo de regulação da temperatura.
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A medula, extensão do cérebro, acompanha a coluna vertebral e contém


receptores para todos os estímulos recebidos do ambiente externo e tais receptores se
comunicam com as demais partes do corpo.
As informações sobre o ambiente externo (estímulos) são transmitidas ao
sistema nervoso central por outras unidades importantes no processo, os neurônios
aferentes que fazem parte do sistema nervoso periférico (pele). Do sistema nervoso
central os estímulos são conduzidos, também por meio de neurônios ao agente
especifico que aciona as reações chamadas homeocinéticas.
As reações correspondem aos mecanismos termorregulatórios e podem, por
exemplo, ser tremores corporais, quando o cérebro recebe informação de que o
ambiente externo está frio.
Quando o animal responde com uma determinada reação, está buscando manter
a sua temperatura corporal, ou seja, buscando manter o equilíbrio homeostático.

7) CARACTERIZAÇÃO DA ZONA DE CONFORTO TÉRMICO E DAS


TEMPERATURAS AMBIENTAIS CRÍTICAS

A caracterização do ambiente térmico envolve os efeitos da temperatura e


umidade do ar, da radiação solar e da movimentação do ar (vento) sobre o animal, e
pode ser feita por meio de uma única variável, chamada temperatura efetiva.
Para determinada faixa de temperatura efetiva ambiental, o animal mantém
constante a temperatura corporal, com mínimo esforço dos mecanismos
termorregulatórios. É a chamada zona de conforto térmico (ZCT), na qual não há
sensação de frio ou calor e o desempenho do animal em qualquer atividade é otimizado.
Nesta faixa de temperaturas ambientais, apenas o metabolismo normal fornece a energia
(calor) necessária para manter a temperatura corporal no nível normal. Fora dessa faixa,
o animal homeotermo ajusta sua produção de calor, buscando manter controlada sua
temperatura interna.
A produção de calor corporal é resultante da atividade metabólica, que é
influenciada pela temperatura do ambiente externo, pelo tamanho ou peso do corpo,
pelo plano de nutrição e pelo isolamento térmico do animal. O metabolismo basal está
relacionado com a quantidade de calor que o organismo desprende por hora, quando em
jejum, em absoluto repouso e em ambiente confortável. Pode ser estimado por meio da
seguinte equação:

Q = 2,9 W0,75 ......................................................................................................(1)

em que

Q = taxa metabólica, em kcal por hora;


W = Massa corporal do animal, em kg.

Quando o ambiente térmico externo (temperatura e umidade do ar, ventilação e


radiação solar) varia muito fora da ZCT, ocorrem variações na temperatura corporal do
animal e na sua produção de calor corporal. Na Figura 1 está representado o diagrama
de variação das respostas dos animais diante da variação das temperaturas efetivas
ambientais.
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FIGURA 1 – Variação das Temperaturas Efetivas Ambientais.

Com base na Figura 1, observa-se que a zona de conforto térmico é limitada


pelas temperaturas efetivas ambientais dos pontos A e A’; a zona de moderado conforto
ou de variação nula na produção de calor corporal, pelas temperaturas efetivas
ambientais dos pontos B e B’; a zona de homeotermia, pelas temperaturas efetivas
ambientais dos pontos C e C’; e a zona de sobrevivência, pelas temperaturas efetivas
ambientais dos pontos D e D’.
Nas temperaturas efetivas ambientais situadas na faixa limitada pelos pontos A e
D, o animal está estressado por frio e naquelas de A’ a D’, por calor.
A temperatura efetiva ambiental do ponto B e a temperatura crítica inferior
(TCI) e abaixo desta o animal aciona seus mecanismos termorregulatórios para
incrementar a produção e a retenção de calor corporal, compensando a perda de calor
para o ambiente, que se encontra frio. Nessa faixa, a capacidade do animal de aumentar
a taxa metabólica torna-se relevante para a manutenção do equilíbrio homeotérmico.
Abaixo da TCI, outras respostas do animal como a vasoconstrição piloereção são
acionadas objetivando aumentar a retenção do calor corporal.
Para temperaturas efetivas ambientais abaixo daquela definida no ponto C, o
animal não consegue mais balancear a sua perda de calor para o ambiente e a
temperatura corporal começa a declinar rapidamente, acelerando o processo de
resfriamento. Se o processo continua por muito tempo ou se nenhuma providencia é
tomada, o nível letal, D, é atingido e o animal morre por hipotermia.
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A temperatura efetiva ambiental do ponto B’ é denominada temperatura crítica


superior (TCS). Acima dessa temperatura, o animal aciona seus mecanismos
termorregulatórios para auxiliar a dissipação do calor corporal para o ambiente, uma vez
que, nessa faixa, a taxa de produção de calor metabólico normalmente aumenta,
podendo ocorrer também aumento da temperatura corporal. Nessa faixa, entram em
ação os mecanismos de defesa física contra o calor, como a vasodilatacao geral, a
sudorese, a ofegação etc. Quando a temperatura efetiva ambiental atinge o ponto C’, por
mais que esses mecanismos funcionem, não conseguem obter o resfriamento necessário
para a manutenção do equilíbrio homeotérmico e a temperatura corporal aumenta cada
vez mais. Na temperatura efetiva ambienta do ponto D’, o animal morre por
hipertermia.
Na zona de hipertermia, os mecanismos de controle da temperatura não são
capazes de providenciar suficiente resfriamento para manter a temperatura corporal em
seu nível normal.

8) DISSIPAÇÃO DO CALOR CORPORAL/ FORMAS DE TRANSFERÊNCIA


DE CALOR ANIMAL-AMBIENTE

Energia sob forma de calor flui do animal sempre que ocorre produção de calor
pelo metabolismo e quando se verifica um gradiente térmico animal-ambiente. Dessa
forma, trocando energia com o ambiente em que vive, o animal consegue sobreviver e
produzir por longo período, mesmo com as variações climáticas extremas.
As formas sensíveis de transferência de calor são aquelas em que os fluxos são
causados por gradientes de temperatura. São a condução, a convecção e a radiação.
As formas latentes são aquelas em que os fluxos são causados por gradientes de
pressão de vapor d’água. São a evaporação e a condensação.
Considerando as trocas de calor entre o animal e o ambiente, pode-se dizer que,
à medida que a temperatura ambiental aumenta, os fluxos latentes aumentam
progressivamente.
Na Figura 2 está representada a partição do calor dissipado por vacas leiteiras
em vias latentes e sensíveis. Nos processos de troca de calor latente, inicialmente há
movimentação de água no interior do corpo do animal ate alcançar a epiderme, em taxa
que depende também do gradiente de pressão de vapor; depois ocorre a difusão do
vapor d’água para o ambiente a partir da pele e dos pulmões. Isso significa que a perda
de calor ocorre na conversão para vapor, tanto do suor secretado pelas glândulas da pele
quanto da umidade proveniente do trato respiratório.
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FIGURA 2 – Representação da Partição do Calor dissipado por Vacas Leiteiras em vias


Sensíveis e Latentes.

Os bovinos possuem aproximadamente 1000 glândulas sudoríparas por cm² nos


órgãos inferiores, 2000 por cm² no tronco e 2500 por cm² no pescoço.
A função termorregulatória do suor é completada quando ocorre sua evaporação
para o ar circundante, pois esse ar carreia grande quantidade de energia sob forma de
calor, evitando o superaquecimento corporal e produzindo sensação de conforto. A
perda de calor por meio de perda de umidade pela pele é diretamente afetada pelo
gradiente de pressão de vapor d’água entre a superfície (corpo do animal) e o ar.
Além da troca evaporativa de calor através da pele, ocorre também evaporação a
partir do trato respiratório do animal, e isso constitui um poderoso meio de controle
homeotérmico, muito significativo para várias espécies.
A perda de calor latente pela respiração é função da taxa metabólica, uma vez
que o aumento de calor metabólico conduz a aumento na freqüência respiratória.

9) ÍNDICES DO AMBIENTE TÉRMICO

Vários índices têm sido desenvolvidos com o objetivo de expressar o conforto


animal com relação a um determinado ambiente.
As primeiras pesquisas relacionadas a índices de conforto foram realizadas nos
EUA, na década de 20, e foram direcionadas para seres humanos.
As pesquisas seguiram e em 1959, THOM desenvolveu o “Índice de
Desconforto” ou “Índice de Temperatura e Umidade” (ITU), o primeiro a ser utilizado
em avaliações de ambiente animal, cuja equação foi a seguinte:

ITU = 0,72 (tbs + tbu) + 40,6 ...........................................................................(2)


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em que

ITU = índice de temperatura e umidade;


tbs = temperatura de bulbo seco, ºC; e
tbu = temperatura de bulbo úmido, ºC.

Em 1962, BIANCA desenvolveu o “Índice de Temperatura Efetiva” para


bovinos, obtido por:

TE = 0,35 tbs + 0,65 tbu ...................................................................................(3)

em que

TE = temperatura efetiva, em ºC.

Em 1969, outros índices foram desenvolvidos, também para humanos, já


considerando outras variáveis como a taxa de suor requerida para manutenção do
conforto em ambientes quentes.
Em 1976, após 13 anos seguidos de pesquisas com bovinos nos EUA, foram
publicados valores críticos de ITU. Ambientes seguros são representados por índices de
até 74; de 74 a 78, exigem cuidado, alerta; de 79 a 84 são perigosos; e de 85 em diante,
estão em condição de emergência.
Em 1979, STEADMAN desenvolveu o “Índice de Temperatura Aparente”, que
considerou os efeitos da temperatura, umidade e velocidade do ar e ainda níveis de
radiação solar, sendo, portanto, melhor do que os anteriores na previsão do conforto
ambiental, sendo usado na maioria dos casos para seres humanos. Esse índice foi
reconhecido e as faixas estabelecidas foram as seguintes: de 27 a 32ºC, cuidado; de 32 a
40ºC, de extremo cuidado; de 40 a 54ºC, perigoso; e maior que 54ºC, de extremo
perigo.

BUFFINGTON et alii (1981) propuseram o “Índice de Temperatura de Globo e


Umidade” (ITGU), desenvolvido com base no ITU, incorporando no cálculo do ITU o
valor da temperatura de globo negro. É um dos mais usados na atualidade para definição
do nível de conforto de um ambiente quente, uma vez que engloba num único valor, os
efeitos combinados da temperatura, umidade e velocidade do ar e ainda da radiação
solar. O cálculo é feito por meio da seguinte equação:

ITGU = tgn + 0,36 tpo + 41,5 ...........................................................................(4)

em que

ITGU = índice de temperatura de globo e umidade;


tgn = temperatura de globo negro, ºC; e
tpo = temperatura do ponto de orvalho, ºC.

A temperatura de globo negro é medida pelo termômetro de globo negro, que


consiste de uma esfera oca de cobre, com 15 cm de diâmetro e 0,5 mm de espessura,
pintada externamente com duas camadas de tinta preta fosca para maximizar a absorção
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de radiação solar; no interior da qual é inserido o elemento sensor de temperatura, o


termômetro ou termopar (Figura 3).

FIGURA 3 – Esquema de montagem do termômetro de globo negro (SOUZA et al.,


2002; SOUZA et al., 2007)

BAÊTA (1985), estudando o comportamento de vacas leiteiras de alta produção,


da raça holandesa, preta e branca, em câmara climática, desenvolveu um índice térmico
denominado “Índice de Temperatura Equivalente” (ITE), para temperatura do ar entre
16 e 41ºC, umidade do ar entre 40 e 90% e velocidade do ar entre 0,5 e 6,5 m/s.
Observou que um acréscimo de 1ºC no ITE, acima das condições termoneutras, causou
decréscimo de 2,5% na produção do leite.
Outro indicador de conforto térmico bastante utilizado é a “Carga Térmica de
Radiação” (CTR) que quantifica a radiação solar recebida do espaço circundante,
calculada por:

CTR = σ (TRM) 4 ..............................................................................................(5)

em que

CTR = carga térmica de radiação, W.m-2 ;


σ = constante de Stefan Boltzmann, 5,67 x 10-8 W.m-2.K-4 ; e
TRM = temperatura radiante média, K.
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Para regiões de clima frio, pode ser utilizado o “Índice de Temperatura Baixa e
Vento” (ITBV), que caracteriza o efeito climático resultante de baixas temperaturas com
altas velocidades de movimentação do ar.

10) ACONDICIONAMENTO TÉRMICO DAS INSTALAÇÕES

Acondicionamento térmico é o processo por meio do qual são controlados, de


forma individual ou conjunta, por meios naturais ou artificiais, os níveis das variáveis
do ambiente, como temperatura, umidade, movimento e pureza do ar, e da radiação
solar no interior de uma construção, com objetivo de se obter melhores condições de
conforto.
A condição térmica do meio é uma das variáveis mais importantes a ser
considerada na definição da solução arquitetônica apropriada para o conforto ambiental,
buscando-se otimizar a produção.
O acondicionamento térmico natural consiste na utilização racional de técnicas e
materiais de construção, na escolha da correta orientação e forma adequada da
construção.
Algumas técnicas mais podem ser utilizadas para o acondicionamento natural
das instalações:
 o uso de vegetação ao redor da construção reduz a incidência da radiação e
conseqüente absorção pelos animais (paisagismo circundante);
 a localização correta das aberturas de entrada e saída de ar na construção
favorece a ventilação;
 orientação das construções;
 disposicao das construcoes;
 concepção arquitetônica da instalação;
 inclinação dos telhados, beirais;
 proteção das faces leste e oeste da instalação;
 sombreamentos naturais e artificiais;
 tipos de materiais de cobertura e suas associações;
 usos de forros;
 materiais dos envoltórios (paredes e fechamentos);
 favorecimento da ventilação natural.

O acondicionamento térmico artificial consiste na utilização de operações de


purificação, aquecimento, umidificação, refrigeração, desumidificação do ar etc. Em
alguns casos, são utilizadas operações conjuntas, como ventiladores conjugados a
umidificadores ou desumidificadores.
Outro item a ser considerado é a atividade do habitante da construção que
contribui na carga de calor gerada na construção, por meio do calor corporal. Isso
diferencia a concepção arquitetônica adotada para cada caso.
É importante frisar que, nos trópicos, construções muito elaboradas são
raramente justificáveis, pois as mais simples, na maioria das vezes, têm boa qualidade
ambiental. A consideração do aspecto econômico é relevante, uma vez que o custo das
acomodações abrange boa porcentagem do total produzido.

10.1) Materiais de Construção

Numa construção, a envolvente ou divisória é o componente que separa o espaço


interno do ambiente externo e geralmente é composto de materiais opacos,
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transparentes e, ou translúcidos, que permitem prevenir ou modificar o efeito direto


das variáveis climáticas, dependendo das suas dimensões características como um todo
e das suas propriedades termofísicas. Quando as condições térmicas da construção não
são controladas por meios artificiais, ou materiais podem afetar, de forma significativa,
a temperatura do ar internamente e nas superfícies e consequentemente o conforto dos
ocupantes.
Os materiais de construção, como qualquer outro corpo, sofrem processos de
transferência de calor e fazem variar a carga de calor da construção. Os processos
sensíveis de transferência de calor são: condução, convecção e radiação.
A condutividade (K) é uma importante característica térmica que define o fluxo
de calor por condução através de um determinado material na unidade de tempo, por
unidade de espessura, por unidade de área do material e por unidade de gradiente de
temperatura, sendo usual expressá-la em kcal/(mºC h).
A condutividade térmica da água, 0,50 kcal/(mºC h) é maior do que a do ar, 0,02
kcal/(mºC h) e significando que os materiais que contêm ar em seus interstícios
funcionam como isolantes térmicos, isto é, são menos capazes de conduzir calor. Se a
água ocupa os poros do material, desloca o ar e isto reduz o isolamento.
A mesma comparação pode ser feita entre a madeira, com K variando de 0,04 a
0,14 kcal/(mºC h) e o concreto, entre 0,70 e 1,21 kcal/(mºC h), o que influi
sobremaneira na escolha adequada de um material.
O fluxo térmico por condução é diretamente proporcional à superfície por onde
passa o calor e ao gradiente de temperatura, ou seja:

q = K . A (ΔT/ Δx) .............................................................................................(6)

em que

q = fluxo térmico por condução, kcal/h;


K = condutividade térmica do meio, kcal/(mºC h);
A = área da superfície por onde passa o calor, m²;
ΔT = diferença de temperatura entre os dois pontos considerados na t ransmissão
de calor, ºC; e
Δx = esp essu ar d o material ou d stância
i entre os dois pontos onde as
temperaturas foram medidas, m.

Outra propriedade importante que influi no processo de transmissão de calor por


condução é a capacidade térmica, que se refere ao total de calor requerido para elevar
a temperatura de uma unidade de volume de um muro, ou unidade de área da superfície,
em 1 ºC; expressa em kcal/m³ ou kcal/m². Indica que os materiais podem se aquecer de
forma diferenciada para mesma quantidade de calor recebida.
Quando o envelope da construção é composto por varias camadas, o fluxo de
calor em cada camada causa uma elevação de temperatura com conseqüente
transferência de calor para a próxima camada, porém, em quantidade menor, e assim
sucessivamente. Dessa forma, cada camada recebe menos calor e é sujeita a menor
aumento de temperatura que a mais externa, adjacente. Isso significa que sempre ocorre
armazenamento de calor na estrutura do envelope durante as horas de temperatura
externa mais alta, que é transferido por condução, num processo inverso, durante as
horas de temperatura externa mais baixa.
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Do exposto anteriormente, pode-se afirmar que qualquer modificação ou


diferença térmica produzida em uma das superfícies do fechamento, ou no meio
imediato, não é notada instantaneamente na outra face. Isso caracteriza o retardo
térmico do material, sendo expresso pelo tempo gasto para que uma diferença térmica
ocorrida em um dos meios manifeste-se na superfície oposta.
No processo de transferência de calor por convecção, o calor é transferido de
uma parte para outra de um fluido, em razão do movimento relativo de suas partículas,
provocado por gradiente de pressão, os quais são gerados por diferenças de temperatura
e de densidade na sua massa fluida, que originam as correntes convectivas que removem
o calor. Neste processo, a característica térmica considerada é o coeficiente de
convecção (h).
É importante mencionar que o processo de troca de calor por condução exige o
contato de superfícies sólidas e o de convecção envolve um fluido (gás ou liquido) e
uma superfície sólida, por exemplo, numa construção, uma parede e o ar circundante.
Ainda é necessário frisar que, na maioria dos casos, os processos se interagem na
transferência total de calor.
A transferência de calor por radiação ocorre por meio de ondas eletromagnéticas
que fluem através de meio transparente entre dois pontos ou mais, que se encontram em
diferentes temperaturas. Assim, pode-se dizer que as trocas de calor por radiação estão
sempre ocorrendo entre os materiais e na construção como um todo. A característica
física mais importante nesse processo é a emissividade, embora seja importante
destacar o fator forma do material.
A transferência de calor pode ainda ocorrer por meio de processos latentes de
evaporação e de condensação, nos quais ocorre a mudança de estado da água de líquido
para vapor ou vice-versa. Ambos envolvem consideráveis quantidades de energia, por
exemplo, a evaporação ou mudança de estado de um grama de água do estado liquido
para vapor requer aproximadamente 2450 J (joules) ou 585 calorias, energia esta que é
ganha pelo corpo no qual ocorre a condensação ou perdida pelo corpo à partir do qual
ocorre a evaporação.
Vários fatores podem afetar as trocas latentes de calor, ente eles o nível de
pressão de vapor, que geralmente é mais alto no ambiente externo.

10.2) Ventilação

Um dos meios de amenizar o desconforto causado por um ambiente aquecido é


provocar o deslocamento das massas de ar quente, que significa renovar o ar por meio
de formas adequadas de ventilação.
A renovação do ar é de extrema importância, visto que uma simples atividade
biológica provoca consumo de oxigênio e desprendimento de gás carbônico, alterando a
constituição do ar e trazendo desconforto. Ainda devido ao efeito benéfico da ventilação
na remoção do vapor d’água, proveniente da transpiração dos ocupantes, de processos
de cozimento, de lavagens, banhos etc.
A excelência da ventilação está no fato de que, se aplicada de forma correta,
permite abaixar a temperatura de interiores em épocas quentes do ano, quando o
desconforto térmico é bem acentuado.
As características da ventilação de interiores devem ser distintas para inverno e
para verão (Figura 4). Os dispositivos usados para essa finalidade, como as janelas,
devem permitir que o fluxo de ar circule bem acima da altura media dos ocupantes, é a
chamada ventilação higiênica. No verão, o fluxo de ar deve ser bem abundante.
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FIGURA 4 – Formas adequadas de ventilação para o inverno e para o verão.

10.2.1) Ventilação Natural

Na ventilação natural ocorre o movimento normal do ar, provocado por


diferenças de pressão ou de temperatura entre os meios considerados. Pode ser
intensificada por meio de aberturas dispostas convenientemente na construção. As
coberturas devem estar em lados opostos para promover fluxo cruzado.
Na ventilação natural térmica, as diferenças de temperatura produzem variações
de densidade do ar no interior dos ambientes, as quais provocam diferenças de pressão e
resultam no efeito de tiragem ou termossifão, também chamado efeito “chaminé”.
Assim, se uma edificação dispuser de aberturas próximas do piso e do teto e se o
ar do interior estiver a uma temperatura mais elevada que o ar do exterior, o ar mais
quente, menos denso, tenderá a escapar pelas aberturas superiores. Ao mesmo tempo, o
ar do exterior, mais frio, e por isso mais denso, penetra pelas aberturas inferiores,
causando fluxo constante no interior do volume.
A taxa de ventilação no interior de uma construção, considerando as forcas do
vento, pode ser determinada por:

Qv = E . A . V .....................................................................................................(8)

em que

Qv = fluxo de ar causado pelas forças do vento, m³/s;


E = efetividade da abertura (0,50 a 0,60 para ventos perpendiculares; 0,25 a 0,35
para ventos diagonais e 0,35 para construções agrícolas);
A = área livre da entrada de ar, m²; e
V = velocidade do ar (pode ser a média para a localidade em questão), m/s.
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Considerando as forças térmicas, a taxa de ventilação pode ser determinada por:

Qch = 0,128 . A . h (Ti – To) .............................................................................(9)

em que

Qch = fluxo de ar causado pelo efeito chaminé, m³/s;


A = área da abertura menor, m²;
h = medida a partir da metade da altura da abertura de entrada até metade da
altura da abertura de saída do ar, m;
Ti = temperatura média do ar interno na altura h, ºC; e
To = temperatura do ar externo na sombra, ºC.

10.1.1.1) Lanternim

Uma forma eficiente de direcionar o fluxo de ar é locar a abertura de saída na


cumeeira do telhado, denominada lanternim, muito utilizada em construções rurais
como pocilgas, galpões de avicultura e galpões de máquinas. A largura da abertura do
lanternim pode ser calculada com 0,025 m para cada 2 m de largura da construção ou a
sua área com 1 a 1,5% da área do piso, procurando-se adotar soluções flexíveis
(aberturas reguláveis) que possam se ajustadas para as condições de inverno e verão.
Na Figura 5, podem ser visualizados alguns tipos de abertura na cumeeira de telhados
de construções ventiladas naturalmente.
Se a construção tiver forro, o fluxo poderá ser direcionado para o lanternim por
meio de aberturas feitas ao longo do beiral, o que criará um colchão de ar entre a
cobertura e o forro, num processo chamado ventilação do ático, muito eficiente para
reduzir a carga térmica da construção em épocas quentes.

FIGURA 5 - Alguns tipos de abertura na cumeeira de telhados de construções


ventiladas naturalmente.
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10.2) Ventilação Artificial

A ventilação artificial (mecânica) é produzida por dispositivos especiais que


requerem energia, especialmente elétrica, para o seu funcionamento, como exaustores,
ventiladores etc.

10) MODIFICAÇÕES AMBIENTAIS

Consistem na utilização de processos artificiais objetivando atenuar a ação de


elementos danosos presentes no ambiente térmico natural.
Modificações ambientais primárias são aquelas de simples execução e que
permitem proteger o animal, durante períodos de clima extremamente quente ou frio,
ajudando-o a aumentar ou reduzir sua perda de calor corporal. Podem ser citados alguns
exemplos:

 Sombreamento – coberturas, árvores etc. Pode reduzir cerca de 30% ou mais na


Carga Térmica da Radiação Solar (CTR), quando comparada à carga recebida
pelo animal ao ar livre, o que interfere nos níveis de temperatura retal, taxa
respiratória e consequentemente no processo produtivo. O tipo de material
utilizado na cobertura bem como os processos de manutenção são de extrema
importância.
 Orientação da cobertura – leste/oeste no hemisfério sul
 Altura da cobertura
 Beiral
 Quebra ventos – dispositivos naturais ou artificiais, normalmente vegetação,
destinados a deter ou, pelo menos diminuir a ação dos ventos fortes sobre as
construções.

Modificações ambientais secundárias correspondem ao manejo do


microambiente interno das instalações, envolvendo maior nível de sofisticação nos
equipamentos e processos, como iluminação, ventilação, aquecimento e refrigeração,
isolados ou conjugados.
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Podem ser consultados:

BAÊTA, Fernando da Costa ; SOUZA, C. F. . Ambiência em edificações rurais -


conforto animal. 2. ed. Viçosa: ufv, 2010. v. 2. 269p .

SOUZA, C. F. ; TINÔCO, Ilda de Fátima Ferreira ; BAÊTA, Fernando da


Costa ; FERREIRA, Williams Pinto Marques ; SILVA, R. S. . Avaliação de materiais
alternativos para confecção do termômetro de globo-negro.. Ciência e
Agrotecnologia , Lavras/MG, v. 26, n.1, p. 157-164, 2002.

SOUZA, C. F. ; CUSTODIO, D. O. ; FERREIRA, Williams Pinto Marques ; SILVA, J.


M. A. . Citer II - aplicativo para cálculo de índices do ambiente térmico para conforto
animal.. Engenharia na Agricultura, v. 15, p. 75-77, 2007.

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