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O AMBIENTE, FUNÇÃO E PERFORMANCE ANIMAL

ROLIM DE MOURA - RO
SETEMBRO/2023
AULA 01

Respostas dos animais às influências ambientais externas


O animal é um sistema termodinâmico aberto, que continuamente troca
energia com o ambiente. Como necessitam manter a constância da condição interna
os animais precisam dispor de mecanismos para suportar as variações externas,
através de reações defensivas, garantindo a manutenção de suas funções vitais.
Esta constância do ambiente interno do animal é chamada de homeostase, portanto,
qualquer fator que venha atrapalhá-la estará pondo em risco a vida do animal. Mas
deve-se entender esta homeostase como um processo dinâmico (homeocinese), no
qual pequenas variações ocorrem naturalmente e são controlados constantemente
por sistemas de feedback negativo.
O ambiente externo é constituído de todos os fatores físicos (luz, temperatura,
som), químicos (concentração de oxigênio, gases tóxicos) e biológicos
(microorganismos patogênicos) que envolvem o animal. Apesar da complexidade
das relações ecológicas existentes entre o ambiente e o animal, as respostas às
influências de cada fator ambiental segue um esquema básico.
Este esquema é constituído por um estímulo qualquer (chamado input ou
entrada), que é captado por um receptor, passo aferente (transmissão deste
estímulo levando-o ao seu respectivo centro processador), seguido pelo passo de
integração e decisão de resposta (no centro processador), passo eferente que leva
um sinal do centro processador ao órgão ou célula solicitada para a resposta
(efetor), que por sua vez providenciará a resposta (output) ao estímulo captado.
A manutenção da homeostase se dá através de sistemas de controle que
seguem o esquema acima descrito. Em geral, o sistema neural é responsável pela
captação e processamento dos estímulos, acionando ou não (via mecanismos
neuro-endócrinos) o sistema endócrino para colaborar na ativação das respostas
nos órgãos efetores (geralmente músculos e glândulas).
Elementos Neurais
O neurônio é a unidade funcional do sistema neural. É constituído por três
partes funcionais: dendrito e corpo, responsáveis pela geração do potencial de ação
em resposta a um estímulo; o axônio, que propaga o estímulo ao longo do seu
comprimento, e os terminais axônicos responsáveis pela transferência do potencial
ao próximo componente do sistema através das sinapses. Receptores são dentritos

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especializados de nervos aferentes que captam as variações de energia externas e
as transformam em potenciais de ação. O potencial de ação é a única forma de
informação “legível” para o sistema nervoso central (medula espinhal e cérebro). O
sistema nervoso central, principalmente o cérebro, é responsável pela coordenação
de diversas funções no organismo: controle do equilíbrio, coordenação muscular,
decisões conscientes ou não em resposta à estímulos externos, controle do sono e
do despertar, etc, e é ele que coordena grande parte das funções no animal.

Elementos Neuro-endócrinos
A manutenção da homeostase geralmente envolve sistemas de controle mais
complexos que os puramente neurais. Os mecanismos neuro-endócrinos
representam uma transição funcional e estrutural entre os sistemas neural e
endócrino. O hipotálamo é uma estrutura presente no cérebro crucial na regulação
da temperatura corporal, osmorregulação, sede, fome, impulso sexual, controle da
hipófise, entre outros. É constituído de neurônios que têm como função produzir
hormônios em resposta a determinados estímulos. Estes hormônios poderão ser
carreados ao longo de seus axônios até a hipófise posterior, onde serão secretados
diretamente no sangue (oxitocina e vasopressina), ou transportados via circulação
porta até a hipófise anterior, onde controlarão a síntese de outros hormônios -
hormônio do crescimento, adenocorticotrofina e gonadotrofina – para a secreção no
sangue. Assim, o hipotálamo é uma ligação entre o cérebro e a hipófise,
potencializando a inserção de componentes hormonais aos arco-reflexos.
Outros exemplos de elementos neuroendócrinos são a medula adrenal, que
é um gânglio simpático (responsável pela produção dos hormônios epinefrina e
noraepinefrina, nos mamíferos e aves, respectivamente) e a glândula pineal que
secreta melatonina (os estímulos de luminosidade reduzem a atividade da enzima
que converte serotonina a melatonina).

Elementos endócrinos
As glândulas endócrinas secretam hormônios diretamente no sistema
vascular sanguíneo para afetar células-alvo específicas ou ter ação mais sistêmica,
afetando uma ampla variedade de células. Estes hormônios servem como
mensageiros aos efetores. Eles servem como ligação entre sistemas neural-
endócrino ou mesmo endócrino-endócrino, sendo fundamental no controle e

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integração de diversas funções corporais indispensáveis à manutenção das
condições corporais estáveis, mesmo em condições de variação do ambiente e do
status nutricional.

Adaptação ao ambiente: terminologia e conceitos gerais


Adaptação: se refere a qualquer característica funcional, estrutural ou
comportamental dos animais que favoreça a sobrevivência ou reprodução em um
determinado ambiente (especialmente os extremos e adversos).
Tensão: qualquer reação funcional, estrutural e comportamental a determinado
estímulo ambiental.
Stress: qualquer situação ambiental que provoque reações adaptativas, podendo
ser crônico ou agudo. Estressor é o fator ambiental responsável pela resposta, como
por exemplo alta temperatura.

Adaptação Induzida
A adaptação de um animal a determinado ambiente estressante depende não
só de sua capacidade genética para tal, como exige uma anterior experiência
(vivência) com este ambiente, a partir da qual haverá a indução das reações de
adaptação. A Aclimatação ou aclimação se refere às variações compensatórias a
um único fator ambiental estressante. Em geral, ocorre em situações artificiais ou
experimentais, visto que em condições naturais diversos fatores atuam
simultaneamente. Aclimatização se refere à adaptação, dentro de dias ou semanas,
a um ambiente em que diversos fatores alteram ao longo do tempo. O animal se
torna habituado a determinado estímulo quando este ocorre repetidas vezes. Neste
caso, as sensações e respostas associadas a estes repetidos estímulos tendem a
diminuir.

Ambiente, função e performance


Os animais têm três principais funções vitais: a mantença (manutenção da
vida e sobrevivência), reprodução (perpetuação da espécie) e a produção (objetivo
principal na criação dos animais domésticos – carne, leite, ovos). Em condições
ambientais favoráveis os animais podem desenvolver todos os processos vitais. No

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entanto, sob condições adversas, as funções de mantença têm prioridade levando a
uma redução nos processos reprodutivos e produtivos.
O estresse influencia a partição dos nutrientes para a mantença, reprodução e
produção, e tem grande influência no desempenho dos animais. Ele pode alterar as
funções internas dos animais (como por exemplo a síntese protéica), desviar os
nutrientes (tendo como prioridade a mantença), reduzir processos produtivos,
dificultar o desenvolvimento de resistência a doenças e ainda, aumentar a
variabilidade entre indivíduos (respostas individuais a determinado agente estressor
variam muito dentro de cada espécie).

Efeitos ambientais sobre a performance animal


Os efeitos do ambiente sobre a produção podem se dar de forma direta ou
indireta. A influência do fotoperíodo sobre o desenvolvimento reprodutivo de frangas
de postura é um exemplo do efeito direto do ambiente. Geralmente os produtores
tendem a subestimar a influência do ambiente na produção animal devido à pequena
influência direta do ambiente na vida do homem. A qualidade da alimentação das
vacas sofre grande variação em função da estação do ano, o que representa um
efeito indireto do ambiente sobre a performance animal.

Adaptabilidade a ambientes adversos: fisiologia versus produção


Embora o estresse comprometa a produtividade, o animal estressado pode
retribuir com uma produção aceitável. Apesar de serem menos adaptadas
fisiológicamente às condições tropicais, vacas holandesas são, ainda assim, mais
produtivas que animais mais adaptados (gado zebu ou cruzado). Isso demonstra a
importância de se avaliar não só os índices de adaptabilidade fisiológica como
também os índices de adaptabilidade produtiva. A interação entre estes índices são
pouco conhecidos devido à dificuldade de se pesquisá-los. Nem todo esforço
fisiológico prejudica a produtividade. Isso depende da intensidade do mesmo, já que
muitas vezes fica abaixo do limiar de redução da produtividade.

Ambiente e Performance
Os elementos ambientais que constituem o ambiente prático onde os animais
são criados ocorrem em combinações e intensidades que variam em função do
espaço e tempo, o que dificulta o seu estudo. Estes ambientes vão desde

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completamente naturais (pastoreio extensivo em pastagens nativas) até
completamente artificial (confinamento total). Em geral, o confinamento se dá muito
mais em função da necessidade humana de facilitar o manejo do que de se garantir
um ambiente adequado aos animais. O confinamento tem sido uma tendência na
produção animal, e sob esta condição, a capacidade do animal de modificar o
ambiente a seu redor ou se mover para um mais favorável é mínimo. Daí a
importância que tem sido atribuído à ambiência nos modernos sistemas de
produção.
O desempenho animal é função de fatores genéticos, ambientais e da
interação genética-ambiente. Existe interação quando a expressão genética de
determinada característica varia em função do ambiente. Em condições de frio
(10ºC) novilhos da raça Brahma apresentam ganho de peso bastante inferiores a
novilhos da raça Shorthorn. Na temperatura de 27ºC a situação se inverte e os
animais Brahmas apresentam ganhos de peso superiores.
Interação nutrição-ambiente. Um dos exemplos mais comuns deste tipo de
interação é a relação entre o consumo de energia e a temperatura ambiente. O
consumo de alimento tende a ser inversamente proporcional à temperatura
ambiental. Em temperaturas elevadas o consumo de alimento reduz. Como as
exigências nutricionais de alguns nutrientes – especialmente aqueles não envolvidos
no metabolismo de energia – são relativamente independentes da temperatura
ambiente e da taxa de consumo de alimentos, a concentração dos mesmos na dieta
deverá aumentar quanto mais altas as temperaturas.

Alterações nas instalações animais


Com a evolução dos sistemas de produção, os ambientes das instalações
para a criação dos animais têm passado por sucessivas alterações. Muitas vezes
estas alterações se dão por atenderem a aspectos econômicos da atividade e
muitas vezes não representam maior conforto para os animais. Estas alterações
levam principalmente os produtores a se questionarem se os atuais ambientes
práticos de criação têm limitado o desempenho animal.
Com exceção da avicultura, os ganhos em eficiência alimentar ocorridos nas
últimas décadas foram bastante reduzidos. Provavelmente, melhorias nas áreas da
nutrição e genética compensaram (mascararam) a piora nas condições ambientais.
Isto têm tornado a ambiência o fator limitante à performance de animais no campo.

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O estudo das relações ecológicas entre os animais domésticos e seus
ambientes de criação é fundamental para se atingir melhores desempenhos
biológicos e econômicos em qualquer atividade zootécnica. Apesar da necessidade
de aumentar os conhecimentos na área de nutrição e genética, é no manejo –
ambiência, instalações, equipamentos e controle de doenças – que poderá haver
maiores ganhos futuros.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CURTIS, S. E. Environmental Management in Animal Agriculture. AMES The
IowaState University, 1983, 409p.

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