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LUCIANA MARIA PEREIRA DE SOUSA

O DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO


ADEQUADA DE MULHERES NO SISTEMA
PRISIONAL DA PARAÍBA

NATAL/RN
2020
LUCIANA MARIA PEREIRA DE SOUSA

O DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO


ADEQUADA DE MULHERES NO SISTEMA
PRISIONAL DA PARAÍBA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Saúde Coletiva, Centro de
Ciências da Saúde da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, como requisito para a
obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva.

Orientador: Profª Drª Cláudia Helena Soares de


Morais Freitas

Natal/RN
2020
Ficha Catalográfica

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN


Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Alberto Moreira Campos - -Departamento de Odontologia

Sousa, Luciana Maria Pereira de.


O direito humano à alimentação adequada de mulheres no
sistema prisional da Paraíba / Luciana Maria Pereira de Sousa.
- Natal, 2020.
89 f.: il.

Orientadora: Profª Drª Cláudia Helena Soares de Morais


Freitas.
Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) - Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde,
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Natal, RN, 2020.

1. Direito à Alimentação - Dissertação. 2. Prisão -


Dissertação. 3. Mulheres - Dissertação. 4. Política de Saúde -
Dissertação. I. Freitas, Cláudia Helena Soares de Morais. II.
Título.

RN/UF/BSO BLACK D585

Elaborado por MONICA KARINA SANTOS REIS - CRB-15/393


DEDICATÓRIA

Para Francisco Pereira de Sousa, maior e mais profundo amor que


conheci e que me motiva todos os dias a ser, a crer e a viver.
AGRADECIMENTOS

Longos e difíceis dois anos de formação e aprendizados, também de luta, medo e luto. Olhar
para os caminhos percorridos e aonde cheguei até agora me traz felicidade e o desejo de
agradecer a todas as pessoas que contribuíram e contribuem nessa trajetória. Sou grata
também à força e a misericórdia divina que me acompanham.

Aos meus familiares, sobretudo meu pai Francisco Pereira de Sousa, minha mãe Maria do
Socorro de Sousa e minha irmã Maria Lauricélia Pereira de Sousa, honro e agradeço pelo
amor e cuidado, pela confiança e paciência, pelos ensinamentos e por todo o esforço somado
para o meu crescimento e formação do que sou hoje.

Aos que amo, aos meus amigos e às minhas amigas, pela amizade, amor, paciência, força e
por contribuírem diariamente na forma de enxergar e sentir o mundo com mais esperança,
afeto e amparo.

Aos que diretamente contribuíram para a realização deste trabalho: Sávio Gomes pelo
companheirismo, amorosidade e amizade presente em todas as etapas do mestrado (e não
apenas do mestrado), pelas leituras, ideias, contribuições teóricas e técnicas; Maria Helena
Galvão, por acompanhar cada fase desde o início desse percurso, sobretudo na mediação para
orientação da dissertação, pela constante presença e valiosa amizade; e Joyciamara Medeiros
pela colaboração fundamental nas transcrições das entrevistas.

À Déborah Melo, Danyelle Farias, Félix Júnior, Fillipe de Oliveira, Geísa Dias, Hannah
Shiva, Israel Castro, Luciana Moura e Priscylla Alves pelo amparo, expectativa, sugestões
para a dissertação, por acompanharem e inspirarem esse percurso e tantos outros.

À Ana Mayara, Andrezza Duarte, Bruna Coelho e Talita Araújo, pelo companheirismo diário,
cumplicidade, apoio e por tornarem a rotina mais leve e agradável.

À Sedruoslen Guelir pelo apoio e contribuição na etapa inicial do mestrado, pela leitura e
sugestões sobre o material final.
À Cláudia Helena Soares de Morais Freitas, a quem também dedico este trabalho, expresso
meu profundo agradecimento por alçar voo comigo e me acolher, ouvir, orientar, motivar e
acreditar em mim. Seu exemplo de cuidado e mediação pedagógica foi fundamental para que
eu voltasse a ver sentido no que eu já não acreditava que seria possível. Assim, creio na
misericórdia divina que nos ajuda a escolher quem estará conosco nos diferentes momentos
que atravessamos.

À Lannuzya Veríssimo e Oliveira pela empatia, atenção e disponibilidade na revisão e


discussão das ideias iniciais do projeto e sempre que foi possível no desenvolvimento deste
trabalho.

À Severina Alice da Costa Uchoa, mulher comprometida com o desenvolvimento da pesquisa


e construção do conhecimento, gratidão pela atenção na escuta, pelo acolhimento na leitura e
disponibilidade para contribuir na dissertação.

À Gabriela Maria Cavalcanti Costa, referência importante em estudos sobre população


privada de liberdade no ambiente prisional. Honra e gratidão por aceitar, avaliar e contribuir
valiosamente para a qualidade deste trabalho.

À Ana Claudia Cavalcanti Peixoto de Vasconcelos, nutricionista que primeiro me inspirou a


aprofundar no campo da nutrição e saúde coletiva, do Direito Humano à Alimentação
Adequada e da Segurança Alimentar e Nutricional. Gratidão pela presença atenciosa em mais
uma etapa da minha formação e por essa presença ser repleta de sentido, cuidado e afeto.

Às colaboradoras que aceitaram contribuir com a pesquisa: mulheres privadas de liberdade no


sistema prisional da Paraíba, pelas informações cedidas e relatos compartilhados, por darem
voz à realidade vivenciada em cárcere. Às colaboradoras da gestão do sistema prisional, da
gestão da política de saúde prisional no estado e da assistência em saúde prisional: pela
disponibilidade e informações cedidas.

À Secretaria de Administração Penitenciária (SEAP-PB) e à Secretaria de Estado da Saúde


(SES-PB), através da Coordenação de Saúde do Sistema Prisional, pela anuência para a
realização deste trabalho, apoio para execução da pesquisa e documentos disponibilizados
para o estudo.

À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, especialmente os funcionários, professores e


estudantes que fazem parte do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, meu
reconhecimento, gratidão e defesa pelo direito à educação superior pública, equânime e de
qualidade e contra os cortes sucessivos que ameaçam a ciência brasileira.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Ministério da


Educação (MEC), pelo papel histórico e fundamental na consolidação da pós-graduação.
RESUMO

O direito à alimentação é parte dos direitos fundamentais da humanidade e refere-se a um


conjunto de condições necessárias e essenciais para que todos os seres humanos, de forma
igualitária e sem nenhum tipo de discriminação, existam, desenvolvam suas capacidades e
participem plenamente e dignamente da vida em sociedade. Um contexto desafiador para a
realização do direito à alimentação é o cenário do sistema prisional brasileiro. Em 2016, com
42 mil mulheres privadas de liberdade. Na Paraíba encontra-se 620 mulheres no sistema
prisional do estado. A superlotação amplia a chance de exposição a precárias condições e
dificulta o acesso dessa população à alimentação de qualidade, efetiva e equânime,
representando assim um problema relevante no âmbito da saúde pública. O objetivo deste
estudo é analisar a efetivação do direito humano à alimentação adequada de mulheres no
sistema prisional da Paraíba. Trata-se de um estudo de caso único, com abordagem
qualitativa, desenvolvido nas quatro penitenciárias que recebem mulheres em conflito com a
lei no estado da Paraíba: O Centro de Reeducação Maria Júlia Maranhão em João Pessoa, a
Penitenciária feminina de Campina Grande, a Penitenciária Feminina de Patos e a
Penitenciária Feminina de Cajazeiras. Os sujeitos da pesquisa são representantes da Secretaria
de Administração Penitenciária da Paraíba, nutricionista do almoxarifado geral da
administração penitenciária do estado (1), coordenadora da saúde prisional (1), médica e
enfermeira da equipe de saúde prisional da unidade com maior número de mulheres privadas
de liberdade da Paraíba (2) diretoras das penitenciárias para mulheres do estado (4), mulheres
em situação de cárcere, em regime fechado há no mínimo um ano (12) e as mulheres em
situação de cárcere que desenvolvem atividade laboral nas cozinhas das penitenciárias
estudadas (8), totalizando 28 participantes. A coleta de dados foi mediante entrevista semi-
estruturada, diário de campo e pesquisa documental. Para a análise dos dados foi utilizado o
método da Análise de conteúdo. Os resultados são apresentados através das categorias: 1-
Contexto do Encarceramento Feminino na Paraíba; 2- O acesso à alimentação adequada de
mulheres em situação de cárcere na Paraíba; e 3- Percepção das mulheres privadas de
liberdade a respeito do direito a alimentação adequada. Observamos que o contexto do
encarceramento inviabiliza a efetivação do direito à alimentação no que se refere a
disponibilidade de alimentos, adequação, acessibilidade e estabilidade do fornecimento.
Como conclusão, evidencia-se que as mulheres no sistema prisional da Paraíba, as dimensões
do direito à alimentação que se referem a estar livre da fome e ao direito à alimentação
adequada, não são efetivamente realizadas. A alimentação para o ser humano deve ser
entendida como processo de transformação da natureza em gente saudável e cidadã. Para isso,
é fundamental que processos que promovam o direito à alimentação considerem os princípios
que se relacionam com o mesmo e, assim, superem práticas discriminatórias e autoritárias.

Palavras-chave: Direito à Alimentação; Prisão; Mulheres; Política de Saúde.


ABSTRACT

The right to food is part of the fundamental rights of humanity and refers to a set of necessary
and essential conditions for all human beings, in an equal way and without any type of
discrimination, exist, develop their activities and participate directly and with dignity in the
life in society. A challenging context for the realization of the right to food or the scenario of
the Brazilian prison system. In 2016, 42,000 women were deprived of their liberty. In Paraíba,
620 women are found in the state prison system. Overcrowding increases the chance of
exposure to precarious conditions and difficulty in accessing quality, effective and equitable
food, showing it as a relevant problem in the field of public health. The aim of this study is to
analyze the realization of the human right to adequate food for women in the Paraíba prison
system. This is a unique case study, with a qualitative approach, developed in the four prisons
that receive women in conflict with a law in the state of Paraíba: The Maria Júlia Maranhão
Reeducation Center in João Pessoa, a female Penitentiary in Campina Grande, a Patos
Women's Penitentiary and Cajazeiras Women's Penitentiary. The research subjects are
representatives of the Paraíba Penitentiary Administration Secretariat, general nutritionist
general store of the state penitentiary administration (1), prison health coordinator (1), doctor
and nurse of the prison health team of the unit with the largest number of women prisoner of
liberty in Paraíba (2) director of penitentiaries for women in the state (4), women in prison, in
a closed regime for at least one year (12) and as women in prison who develop work activities
in the kitchens of penitentiaries studied (8), totaling 28 participants. Data collection was
carried out through semi-structured interviews, field diaries and documentary research. For
data analysis, the content analysis method was used. The results are presented through the
categories: 1 - Female Incarceration Context in Paraíba; 2- Access to adequate food for
women in prison in Paraíba; and 3- Perception of women deprived of liberty and respect for
the right to adequate food. We observed that the context of incarceration precludes the
realization of the right to food with regard to food availability, adequacy, accessibility and
stability of supply. In conclusion, evidence that it is not a prison system in Paraíba, as
dimensions of the right to food that refer to being free from hunger and the right to adequate
food, are not effectively implemented. Food for humans must be understood as a process of
transforming nature into healthy and citizens. For this, it is essential that processes that
promote the right to food consider the principles that relate to it and, therefore, overcome
discriminatory and authoritarian practices.

Key words: Food and Nutrition Security; Prisons; Women; Health Policy
LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Categorias e subcategorias da análise dos dados..................................................................36


Quadro 2. Caracterização das Informantes-Chave................................................................................45
Quadro 3. Caracterização das Colaboradoras Cozinheiras....................................................................46
Quadro 4. Caracterização das Colaboradoras: mulheres em regime fechado.......................................49
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 12
2 REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................................................... 17
3 OBJETIVOS ................................................................................................................................... 30
3.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................................ 30
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................................... 30
4 MÉTODO ....................................................................................................................................... 31
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................................... 39
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................................72
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 75
APÊNDICES ........................................................................................................................................... 83
ANEXOS ................................................................................................................................................ 86
1 INTRODUÇÃO

A alimentação é assegurada como direito humano, no âmbito internacional, através da


Declaração Universal de Direitos Humanos, datada de 1948 (ONU, 1948), do Pacto
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – PIDESC, de 1992 e,
posteriormente, em 1996, pela Cúpula Mundial da Alimentação, organizada pela Organização
das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), onde se associou
definitivamente o papel fundamental do direito à alimentação a todas e todos.
De acordo com o relatório anual da FAO, intitulado “O estado da segurança alimentar
e da nutrição no mundo”, publicado em 2019, cerca de 820 milhões de pessoas no mundo não
tiveram acesso suficiente a alimentos em 2018, em 2017 o número apresentado foi 811
milhões, apontando para um crescimento consecutivo da fome no contexto mundial,
principalmente em países com crescimento econômico estagnado. Além disso, o relatório
apresenta e denuncia o crescimento da desigualdade de renda em países onde há o aumento da
fome, tornando mais agravante a situação de pessoas vulneráveis e marginalizadas. Outro
dado importante diz respeito a probabilidade de sofrer insegurança alimentar maior para
mulheres do que para homens em todos os continentes, com maior diferença na América
Latina (FAO, 2019).
No Brasil, a alimentação como direito social foi assegurada a partir do ano de 2010,
com a Emenda Constitucional nº 64 (BRASIL, 2010). O conceito de Direito Humano a
Alimentação Adequada (DHAA) pressupõe a garantia da Segurança Alimentar e Nutricional
(SAN) (MALUF, 2010), que diz respeito a uma alimentação que contemple os aspectos
biológicos e sociais, atendendo aos princípios da variedade, equilíbrio, moderação, prazer
(sabor), às dimensões de gênero e etnia, e às formas de produção sustentáveis e seguras
(BRASIL, 2006).
São marcos políticos e sociais importantes nesse sentido, a saber: em 2003 a criação
do Programa Fome Zero, para o qual todas as políticas sociais deveriam convergir; em 2004 a
criação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) assumindo a
responsabilidade federal pelo Programa Fome Zero juntamente com a SAN; a partir de 2004,
a realização das Conferências Nacionais de Segurança Alimentar e Nutricional, com
frequência quadrienal; em 2006 a recriação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional (CONSEA); e em 2014 a saída do Brasil do Mapa da Fome.

12
O CONSEA propiciou, entre outras relevantes providências, a aprovação da Lei
Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN), em que fortalece que a SAN seja
entendida como um fenômeno cujo enfrentamento não pode prescindir de caminhos como a
intersetorialidade e o diálogo interdisciplinar (VASCONCELOS, 2013). Dessa forma, de
acordo com o Art. 2º da LOSAN, a alimentação adequada é definida como direito
fundamental do ser humano, inerente à dignidade da pessoa humana e indispensável à
realização dos direitos consagrados na Constituição Federal, devendo o poder público adotar
as políticas e ações que se façam necessárias para promover e garantir a segurança alimentar e
nutricional da população (BRASIL, 2006).
Nos últimos anos o Direito Humano à Alimentação Adequada não tem sido prioridade
nas agendas políticas inerentes ao governo federal. Desde 2016 o Brasil vem vivenciando
retrocessos em torno da SAN, como a extinção de programas, ações e estratégias
governamentais, iniciados pelo presidente Lula, com o Fome Zero, no começo de seu governo
e continuados pela presidenta Dilma Rousseff, que possibilitaram, na ultima década, dar um
passo significativo em torno da redução das desigualdades e enfrentamento da fome, como a
saída do Brasil do Mapa da Fome. Atualmente tem seguido um caminho contrário ao anterior.
Segundo a Síntese de Indicadores Sociais (SIS), do IBGE, entre 2016 e 2017, a pobreza da
população passou de 25,7% para 26,5%. Já os extremamente pobres, que vivem com menos
de R$ 140 mensais, pela definição do Banco Mundial, saltaram de 6,6%, em 2016, para 7,4%,
em 2017 (IBGE, 2018).
Em janeiro de 2019, uma das primeiras medidas da atual gestão do governo federal foi
a extinção do CONSEA, que representava um órgão institucional da participação da sociedade
nas políticas voltadas a SAN e na articulação da administração pública que defenda os
cidadãos da violação do Direito Humano à Alimentação Adequada. A Medida Provisória –
MP Nº870, de 1º de janeiro de 2019, recebeu mais de 500 emendas parlamentares, entre estas
a que recriava o CONSEA, em resposta às manifestações e luta da sociedade civil contrária a
MP. Apesar do posicionamento contrário da população, o governo federal sancionou, no dia
18 de junho de 2019, a Medida Provisória Nº 870, agora Lei Nº 13.844. A confirmar essa Lei,
o presidente Jair Bolsonaro vetou o inciso que trata sobre a recriação do órgão (BRASIL,
2019).
Outra mudança, a partir da MP Nº 870 é a reestruturação dos ministérios, onde a
responsabilidade pela Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN)
passa a ser competência do Ministério da Cidadania.

13
O conceito de Direito Humano à Alimentação Adequada é abrangente e refere a
disponibilidade de alimentos, adequação, acessibilidade e estabilidade do fornecimento. Além
disso, o direito à alimentação tem duas dimensões: a primeira diz respeito ao direito de estar
livre da fome e a segunda dimensão refere-se ao direito à alimentação adequada. Para realizar
as duas dimensões é fundamental a utilização de todos os direitos humanos (ABRANDH,
2010).
Embora a abrangência do conceito de alimentação adequada e das dimensões do
direito à alimentação não seja de conhecimento de todos, e a falta desse conhecimento
fragiliza a participação das pessoas na exigência da sua realização, o não cumprimento da
obrigação de promover alimentação a todos por parte do Estado constitui um ato ilícito
(BRASIL, 2014).
O direito à alimentação é um tema estimulante para problematização e motiva a
reflexão desde a sua construção histórica até sua inclusão, ainda recente, entre os direitos
sociais. Também produz discussões sobre seu significado e alcance, tanto pelo desafio de sua
concretização social, como, especialmente, para grupos sociais minoritários, a exemplo das
pessoas privadas de liberdade (DUNCK, 2017).
Embora a liberdade seja restringida e os direitos políticos suspensos, as pessoas presas
não perdem a dignidade da pessoa humana. A Lei de Execução Penal, em seu Art. 3º,
determina que “Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos atingidos
pela sentença ou pela lei” (BRASIL, 1984).
De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), nas unidades prisionais do
Brasil, no período de 2010-2011, a alimentação das pessoas privadas de liberdade não pode
ser considerada adequada. Nos relatórios oficiais do CNJ a ausência ou escassez de água
potável, a má qualidade ou insuficiência da alimentação fornecida as pessoas presas em várias
unidades prisionais do país aparecem como regra. Desse modo, verifica-se que a realização do
direito à alimentação não tem grande efetividade na realidade das pessoas privadas de
liberdade no sistema prisional, que reflete ainda como um problema de saúde pública
(DUNCK, 2017).
Diante desse cenário que aponta para a violação do direito à alimentação das pessoas
privadas de liberdade, compreendendo que este direito básico antecede outros direitos, as
instituições do âmbito da justiça devem atuar para concretizar a sua efetivação. No entanto, é
indispensável considerar que quando se trata de grupos vulneráveis, a exclusão se torna ainda
maior em relação à população feminina, principalmente quando são negras, indígenas,

14
lésbicas, residentes em área rural e em condição de cárcere, fatores que aumentam a situação
de vulnerabilidade, exclusão, opressão e violação de direitos (FRANÇA, 2016).
No Brasil, é cada vez maior a população feminina em situação de cárcere. Dados do
Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias revelam que, em 2016, a população
prisional feminina atingiu a marca de 42 mil mulheres privadas de liberdade, o que representa
um aumento de 656% em relação ao início dos anos 2000 (BRASIL, 2018).
Esta realidade expõe as precárias condições de confinamento que muitas vezes
impossibilitam o acesso dessas mulheres a direitos básicos como o direito à alimentação e à
saúde. A maioria das mulheres encarceradas se caracteriza por ser jovens, com filhos, baixo
nível de escolaridade e renda familiar precária que pode contribuir para maior condição de
vulnerabilidade (LIMA, 2013).
Considerando que a alimentação das mulheres que vivem sob o sistema prisional ainda
é pouco conhecida no Brasil e que a própria escassez de sistematização sobre o tema aponta
para necessidade de analisar esse espaço, considerando ainda que os estudos publicados
contemplam mais os aspectos sanitários e da gestão da alimentação coletiva do que o aspecto
do direito humano, cabe ressaltar a originalidade desta dissertação em seu esforço teórico e
metodológico, no contexto da saúde pública, ao investigar a temática sobre o Direito Humano
à Alimentação Adequada de mulheres no sistema prisional.
A realização do direito humano à alimentação às mulheres privadas de liberdade
pressupõe a existência de políticas públicas especificas que visem a efetividade deste direito e
o monitoramento da implementação dessas políticas, de maneira que sejam coerentes na
concretização deste direito nos presídios brasileiros. Neste contexto, as instituições de justiça
devem corroborar para construção do significado e alcance do direito à alimentação adequada
observando-se as disposições da Lei Orgânica da Segurança Alimentar e Nutricional e exigir a
concretização desse direito na realidade das mulheres privadas de liberdade (DUNCK, 2017).
Para criar estratégias em torno da efetivação do direito à alimentação das mulheres
privadas de liberdade é necessário escutá-las e possibilitar sua participação na construção de
diagnósticos, propostas e monitoramento, bem como perceber a compreensão de outros
sujeitos importantes, na responsabilidade dessa temática no sistema prisional, como os
trabalhadores e gestores que atuam nesse campo. Nesse sentido, a questão que norteia este
estudo é: Como se caracteriza o Direito Humano à Alimentação Adequada de mulheres
privadas de liberdade na Paraíba?

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Pressupõe-se que o Direito Humano à Alimentação Adequada, que contempla acesso,
disponibilidade, adequação e estabilidade não seja efetivado para as mulheres privadas de
liberdade na Paraíba.
Vislumbrando tal pressuposto, o objetivo deste estudo é analisar a efetivação do
Direito Humano à Alimentação Adequada em mulheres privadas de liberdade na Paraíba,
este estudo também pretende dar visibilidade ao tema, que apresenta uma literatura escassa, e
colaborar com a ampliação do conhecimento sobre o direito à alimentação de mulheres no
sistema carcerário feminino. Nessa perspectiva, buscaremos a compreensão de elementos
importantes que poderão subsidiar formulação de políticas públicas voltadas à garantia de
melhores condições de vida, bem como a implementação da legislação vigente.
Além disso, a temática da alimentação e nutrição está contemplada na Agenda
Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde (BRASIL, 2018), que deve gerar produtos que
ampliem os horizontes da inserção desse tema voltado às populações específicas e
marginalizadas também no campo da pesquisa. Dessa forma, produzindo subsídios que
contemplem e direcionem ações em torno desses segmentos sociais no escopo das políticas de
saúde com ênfase na alimentação e nutrição.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 CENÁRIO DO ENCARCERAMENTO DE MULHERES NO BRASIL

A criação do sistema penitenciário feminino, teve início com o Decreto de Lei 12.116
em 11 de agosto de 1941, onde o governo brasileiro formalizou a criação de presídios
femininos, que tinha como objetivo principal separar homens e mulheres no sistema
carcerário. Através do seu Art. 1º “É criada junto a Penitenciária do Estado e sujeita às leis e
regulamentos em vigor, no que lhe for aplicável, uma seção destinada ao ‘Presídio de
Mulheres’, subordinadas à administração daquele estabelecimento” (GRINCHPUM;
MARTINS, 2016).
No Brasil, a perspectiva de gênero é pouco considerada nas discussões e pesquisas
sobre o cenário de encarceramento. Os dados oficiais sobre encarceramento de mulheres no
país têm como objetivo promover um avanço qualitativo na produção e divulgação de
informações penitenciárias, porém quando se discute política criminal a ausência de
informações sobre as mulheres presas dificulta a geração de afirmações que representem de
fato a situação do sistema penitenciário feminino brasileiro (ITTC, 2017).
Documentos oficiais como o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias-
2018, o Mapa do Encarceramento - 2014 e o Mapa da Violência - 2015 indicam o crescimento
da população carcerária de mulheres desde o ano 2000 (OLIVEIRA, 2017).
De acordo com o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – Infopen
Mulheres (2018), o número de mulheres privadas de liberdade no Brasil em Junho de 2016, é
de 42.355. As unidades que participaram do levantamento somam 27.029 vagas
disponibilizadas para mulheres. A taxa de ocupação é de 156,7% e o déficit global de 15.326
vagas, somente entre mulheres. Importante considerar que os números apresentados no
relatório acerca desta população encontram-se subnotificados por falta de informações
disponibilizadas pelos estados da federação sobre as mulheres em situação de cárcere
(BRASIL, 2018). O Infopen Mulheres, em sua segunda edição, e a mais recente, publicada em
2018, com dados de até junho de 2016, não superou a baixa adesão dos estados na
sistematização e disponibilização de dados que possam ser representativos e confiáveis em
relação ao número total de mulheres encarceradas no Brasil (BRASIL, 2018).
Mesmo com números subnotificados de mulheres privadas de liberdade, o Brasil
encontra-se na quarta posição mundial, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, da China e

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da Rússia em relação ao tamanho absoluto de sua população prisional feminina. Quanto à
taxa de aprisionamento, que indica o número de mulheres presas para cada grupo de 100 mil
mulheres, o Brasil, com taxa de 40,6, ocupa a terceira posição entre os países que mais
encarceram, ficando atrás apenas dos Estados Unidos (65,7) e da Tailândia (60,7) (BRASIL,
2018).
A Constituição Brasileira, em seu artigo 5º, prevê que a pena seja cumprida em
estabelecimentos apropriados, determinado pela natureza do delito, a idade e o sexo. Porém,
na prática essa determinação não acontece, pelo elevado número da população carcerária
(GRINCHPUM; MARTINS, 2016).
A população prisional feminina no Brasil atingiu, em junho de 2016, um aumento de
656% em relação ao total registrado no início dos anos 2000, quando 6 mil mulheres se
encontravam no sistema prisional, hoje essa realidade é representada por 42 mil mulheres. No
mesmo período em 2016, 45% das mulheres presas no Brasil não haviam sido ainda julgadas
e condenadas. Nesse cenário, a taxa de ocupação é de 156,7%, o que significa dizer que em
um espaço destinado a 10 mulheres, encontram-se custodiadas 16 mulheres no sistema
prisional (BRASIL, 2018).
Com relação ao perfil sociodemográfico da população feminina privada de liberdade
no Brasil, 50% é formada por mulheres jovens com até 29 anos, 62% composta por mulheres
negras, 66% da população prisional feminina não acessou o ensino médio, tendo concluído,
no máximo, o ensino fundamental e apenas 15% concluiu o ensino médio. Com relação ao
estado civil, 62% da população prisional é solteira. No que se refere a existência de pessoas
com deficiência, 1% da população prisional feminina é composta por mulheres com
deficiência, onde a maior parte destas mulheres apresenta deficiência intelectual, seguida pela
proporção de pessoas com deficiência física (BRASIL, 2018).
Informações acerca da quantidade de filhos das pessoas presas são pouco disponíveis
em todo o país, mas é um dado importante considerando o impacto do encarceramento sobre
as famílias e comunidades das pessoas presas. Apenas 7% (2.689 mulheres) da população
prisional feminina, em Junho de 2016, tinha disponível dados sobre número de filhos. Nesse
sentido, dada a baixa representatividade da amostra, não é possível extrair conclusões para a
totalidade da população prisional feminina no Brasil. No entanto, as informações referentes às
2.689 mulheres revela que 74% das mulheres privadas de liberdade têm filhos (BRASIL,
2018).

18
Com relação a natureza dos crimes, o tráfico de drogas corresponde a 62% das
incidências penais pelas quais as mulheres privadas de liberdade foram condenadas ou
aguardam julgamento e esse número expressa que 3 em cada 5 mulheres que se encontram no
sistema prisional respondem por crimes ligados ao tráfico. Em seguida está o roubo (11%) e
furto (9%) (BRAIL, 2018).
A maioria das mulheres está em situação de cárcere por tráfico de drogas, muitas
vezes por serem envolvidas em relacionamentos com traficantes (OLIVEIRA, 2017). Para
Lagarde (2005), são dois os tipos de mulheres ligadas às drogas: as que são presas por
cometerem delito ao lado de seus companheiros e as que são pressionadas a cometer delito
pelo homem preso, principalmente quando há visita ao encarcerado, que representa uma das
obrigações cumpridas aos presos.
Quanto ao tempo total da pena, 70% das mulheres privadas de liberdade foi condenada
a até, no máximo, 8 anos de prisão (BRASIL, 2018).
No que tange a gestão de serviços penais e garantias de direito, o sistema de
informação do Departamento Penitenciário Nacional deve ser alimentado com informações
sobre acesso à saúde, educação e trabalho. Segundo o Levantamento Nacional de Informações
Penitenciárias de 2018, 84% das mulheres privadas de liberdade encontra-se custodiada em
unidades que contam com estrutura prevista no módulo de saúde; 25% da população prisional
feminina está envolvida em algum tipo de atividade educacional, entre aquelas de ensino
escolar e atividades complementares; e 24% da população prisional feminina está envolvida
em atividades laborais, internas e externas aos estabelecimentos penais (BRASIL, 2018).
Diante do perfil do cenário de encarceramento feminino no Brasil, apesar da escassa
perspectiva de gênero na política criminal, é possível identificar um crescimento com relação
a atenção pelo poder público ao sistema prisional feminino. Entre as medidas que apontam
essa mudança, está a publicação da tradução oficial das Regras de Bangkok pelo Conselho
Nacional de Justiça, em 8 de março, dia internacional de luta das mulheres, de 2016, fruto de
uma articulação com o Instituto Terra, Trabalho e Cidadania e com a Pastoral Carcerária. Este
documento original da Organização das Nações Unidas apresenta diretrizes para o tratamento
de mulheres presas e medidas não privativas de liberdade para mulheres infratoras (ITTC,
2017).
As Regras de Bangkok tem como objetivo promover o enfrentamento à desigualdade e
violência de gênero e buscar mudanças do panorama relacionado com o encarceramento
feminino no país, considerando que este documento internacional se baseia no

19
reconhecimento da condição de desigualdade social a que a mulher está inserida para
estabelecer obrigações aos Estados em matéria de justiça criminal. Uma das obrigações
apontadas é a aplicação de alternativas ao encarceramento, que inclui alternativas à prisão
provisória (BRASIL, 2016).
Ainda no dia 8 de março de 2016, foi sancionado e publicado pela presidenta Dilma
Rousseff o Marco Legal de Atenção à Primeira Infância - Lei n.º 13.257/16, que altera, entre
outros, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n.º 8.069/90) e o Código de Processo
Penal. A alteração aumenta as possibilidades de substituição da prisão preventiva pela
domiciliar, que integra o artigo 318 do Código de Processo Penal (ITTC, 2017).
No âmbito do Poder Executivo, foi instituída a Política Nacional de Atenção às
Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional – PNAMPE,
pela portaria interministerial nº 210, de 16 de janeiro de 2014. O objetivo dessa política é
reformular as práticas do sistema prisional brasileiro, contribuindo para a garantia dos direitos
das mulheres, nacionais e estrangeiras, por meio de uma política pública integrada de acesso
aos serviços básicos públicos e por meio de produção de dados que norteiem as políticas
públicas (BRASIL, 2014).
Apesar das iniciativas do sistema de justiça à aplicação de medidas que visa diminuir a
desigualdade de gênero no encarceramento, ainda há muitos desafios para a transformação da
realidade no que diz respeito as violações de direitos ligadas as mulheres em privação de
liberdade. Desvendar e compreender as situações de violências, inclusive institucionais, e a
inclusão de mudanças no processo criminal são tarefas necessárias e urgentes à aplicação
concreta de alternativas às mulheres em conflito com a lei (ITTC, 2017).
O encarceramento de mulheres submete essa população a poderes que
obrigatoriamente projetam suas vidas para outros, sendo apropriadas pela sociedade e pela
cultura, pela mediação dos outros, do seu corpo e de sua subjetividade, de sua autonomia
(OLIVEIRA, 2017). As mulheres presas estão submetidas à prisão de maneira ampla e suas
vidas são definidas por seus delitos que são definidos por instituições de poder (estatais e
sociais) e por indivíduos envolvidos no delito e na coerção (LAGARDE, 2005).
O elevado crescimento da população feminina no sistema prisional e a alta taxa de
ocupação, em detrimento da capacidade estrutural e condições inadequadas no cárcere,
favorecem a vulnerabilidade das pessoas em situação de privação de liberdade e tanto sustenta
quanto agrava a não preservação ou a violação dos direitos humanos (OLIVEIRA, 2013). Para
Goffman (1999), a justiça não predomina em ambientes de reclusão. Dentro do cárcere, toma

20
forma no descaso generalizado em relação à saúde, na estrutura precária, na alimentação
inadequada e na violência que substitui o cuidado.
A privação da liberdade corporal implica a privação da liberdade relativa do sujeito,
considerando que nenhuma ação, atividade, trabalho ou repouso, nada que se faça na prisão é
similar ao correspondente realizado fora dela. Nesse contexto, a privação da liberdade
corporal repercute em outras privações, como a ruptura física e a dificuldade de manter
relações familiares; a exclusão do trabalho, a ruptura com relações e atividades que apoiam a
identidade de cada pessoa (OLIVEIRA, 2017). A privação de liberdade está sempre
acompanhada por outras penas, que, marginalizam a mulher na sociedade, na política, no
jurídico (LAGARDE, 2005).
A ineficácia do sistema penal é contraditória e causadora de erros, pois ocupa o lugar
de igualdade formal entre os sujeitos de direito concomitante com a desigualdade
considerável, reforçada pelo próprio sistema criminal, que determina as chances de alguém
ser etiquetado como criminoso” (MENDES, 2014).
Diante desse cenário, onde se apontam desafios de várias perspectivas como
estruturais, sociais, políticos e jurídicos, a reformulação do sistema de justiça criminal, que
deve abranger não só o direito penal e a criminologia, mas o controle social, é necessária
enquanto possibilidade de reverter impactos das características do sistema penal baseado na
prisão punitiva (OLIVEIRA, 2017).
O cenário de encarceramento feminino pode ser refletido pela criminologia, nome
dado à ciência que estuda a criminalidade a partir das condições da criminalização, o sistema
penal, os mecanismos do controle social e o comportamento da pessoa em conflito com a lei,
que, entre as suas classificações, apresenta a criminologia crítica, a qual se posiciona à luz das
ideias do marxismo (SUMARIVA, 2017).
A criminologia crítica é uma alternativa teórico-ideológica, fundada no materialismo
dialético, que lentamente supera o paradigma etiológico, enquanto uma criminologia de
denúncia, de oposição à violência, à desigualdade e à opressão, que desafia as relações
existentes e representa uma manifestação contra o poder das classes dominantes,
representadas pelo Estado (CIRINO DOS SANTOS, 2014).
Esta classificação da criminologia trabalha a partir da ideia de criminalidade como
“bem negativo” desigualmente distribuído de acordo com as prioridades do sistema
socioeconômico e com a posição social do indivíduo (OLIVEIRA, 2017). Ainda que os
teóricos e clássicos marxistas não aprofundassem sobre a questão criminal, muitos apontaram

21
o caráter classista do poder punitivo. Nesse sentido, a criminologia crítica na América Latina
é comprometida com a problematização e crítica ao sistema de justiça criminal e com o
enfrentamento da opressão e da violação dos direitos humanos. Nessa direção, se consolida
pelo caráter de movimento de resistência sem perder a sua ligação política com a
transformação social (ANDRADE, 2012).
A partir da vertente crítica, outro modelo de pensamento jurídico que questiona o
encarceramento como medida de punição, diz respeito a criminologia feminista. Com aporte
teórico da categoria gênero, tem por objetivo trazer para o centro dos estudos criminológicos a
perspectiva das mulheres, a fim de criar novos modelos, parâmetros e paradigmas que
considere o papel da mulher interpretado por ela mesma (OLIVEIRA, 2017).
Mendes (2014) explica que o paradigma feminista implica uma mudança radical e
completa nas perspectivas de gênero, de modo que não se limite a novas análises ao sistema
falho. Nesse sentido, o autor destaca que, adotar o ponto de vista feminista significa uma
transformação epistemológica, que deve partir da realidade vivida pelas mulheres, dentro e
fora do sistema de justiça criminal.
Essa perspectiva de discussão sobre sistema que aumenta a opressão vivenciada pelas
mulheres pode ser refletida através do texto de Simone de Beauvoir (1980), em seu clássico O
Segundo Sexo, uma das obras fundadoras do feminismo do século XX, onde afirma que
diferenças físicas entre os sexos não mais poderiam justificar uma hierarquia social e política.
A obra ainda denuncia que, por ser criada dentro de uma mesma estrutura de sociedade, a
opressão está articulada em todos os aspectos do problema das relações entre os sexos, nas
categorias sociológicas, econômicas e psicológicas (OLIVEIRA, 2017).
Tanto a criminologia crítica quanto o feminismo são movimentos de libertação que
lutam pela abolição da injustiça e opressão (GERLINDA SMAUS, 1991). Baratta (1999)
explica que não é mais possível analisar o fenômeno criminal sem considerar a perspectiva de
gênero. Consequentemente a criminologia crítica não pode mais afastar-se do feminismo,
sendo necessária a construção de uma única criminologia crítica feminista (CIRINO DOS
SANTOS, 2014).
Sendo assim, a luta pela tomada de consciência da problemática que envolve o cenário
de encarceramento feminino tanto por parte da sociedade civil, das entidades e grupos
defensores dos direitos, como do poder público, tem unido esforços para diagnosticar e
elaborar iniciativas nas políticas criminais e sistema prisional com intuito de abolir formas de

22
violências e violações de direitos que prejudicam mulheres nas instituições penais no Brasil
(ARRUDA, 2015).

2.2 DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO DE MULHERES PRIVADAS DE


LIBERDADE

De acordo com Valente (2002), os Direitos Humanos são todos “aqueles que os seres
humanos possuem, única e exclusivamente, por terem nascido e serem parte da espécie
humana”. Esses direitos referem-se a um conjunto de condições necessárias e essenciais para
que todos os seres humanos, de forma igualitária e sem nenhum tipo de discriminação,
existam, desenvolvam suas capacidades e participem plenamente e dignamente da vida em
sociedade (BRASIL, 2016).
No âmbito internacional, os Direitos Humanos foram firmados através da Declaração
Universal dos Direitos Humanos (1948) e reafirmados pelos Pactos Internacionais de
Direitos Civis e Políticos e de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1992), “ambos
ratificados pelo Brasil e incorporados à legislação nacional por meio de Decretos
Legislativos” (VALENTE, 2002).
A Declaração Universal dos Direitos Humanos inclui a alimentação em seu artigo 25,
parágrafo 1°: “Todos têm direito a um padrão de vida adequado à saúde e ao bem estar
próprio e de sua família, incluindo alimentação” (RUDNICKI; PASSOS, 2012). Assim, o
Direito Humano à Alimentação é parte desses direitos fundamentais da humanidade. Ou seja,
é um direito inalienável, que deve ser assegurado pelo Estado, através de leis e políticas
sociais públicas.
O Direito à Alimentação, como direito fundamental, foi incluído na Constituição
Federal (CF), passando a figurar como direito social no seu artigo 6°, após a Emenda
Constitucional 064/2010, que incluiu o direito à alimentação entre os direitos individuais e
coletivos. Sendo assim, o artigo passou a ter a seguinte redação: “são direitos sociais a
educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição” (BRASIL, 2013).
Entendendo que alimentação é uma necessidade básica -- diferenciada do querer, dos
desejos, das vontades, na medida em que implica a “ocorrência de sérios prejuízos à vida
material dos homens e à atuação destes como sujeitos (informados e críticos) caso não sejam

23
adequadamente satisfeitas (GOMES JUNIOR, 2015 apud PEREIRA, 2002) --, e
compreendendo direitos básicos como o direito à satisfação dessas necessidades humanas, o
direito à alimentação adquire um caráter indivisível e não hierarquizável em relação a outros
direitos.
Comer não pode se reduzir à mera sobrevivência biológica. É mais do que reprodução
da espécie. Alimentação, enquanto direito básico, deve sair da noção de urgência, de simples
acesso a produtos alimentícios, para alcançar a satisfação da necessidade psicológica, cultural,
espiritual e histórica dos seres humanos. Segundo Valente (2002), a alimentação adequada é
fundamental para a construção de seres humanos saudáveis, conscientes de seus direitos e
deveres como cidadãs e cidadãos do Brasil e do mundo e da sua responsabilidade para com
seus descendentes. Portanto, a alimentação adequada não pode ser reduzida a uma ração
nutricionalmente balanceada.
O autor ainda aborda o conceito da fome e da alimentação, num panorama de Direitos
Humanos, incorporando as dimensões relacionadas a diferentes aspectos como, história,
cultura, psicologia e espiritualidade dos seres humanos, incluindo a questão básica da
dignidade humana. Neste sentido, explica Valente (2002, p. 57):
Ver os filhos passarem fome é passar fome. Comer lixo é passar fome.
Comer o resto do prato dos outros é passar fome. Passar dias sem comer é
passar fome. Comer uma vez por dia é passar fome. Ter que se humilhar
para receber uma cesta básica é passar fome. Trocar a dignidade por comida
é passar fome. Ter medo de passar fome é estar cativo da fome. Estar
desnutrido também é passar fome, mesmo que a causa principal não seja
falta de alimento.

A fome enquanto fenômeno central para a compreensão da alimentação como direito


humano só foi visibilizada a partir da contribuição teórica das obras apresentadas por Josué de
Castro, inicialmente por volta de 1950. A maior delas, Geografia da Fome, traduzida para
mais de 40 idiomas, consolidou o conceito de que a fome era um problema social, resultante
da forma de organização social da produção e distribuição dos alimentos. Dessa forma, a
fome e a desnutrição não são uma ocorrência natural, mas resultado das relações sociais e de
produção que os homens estabelecem entre si. Tendo a fome razões políticas, deveria ser
superada por meio da modificação das estruturas sociais que a ocasionam (MOVIMENTO
SEM TERRA, 2015). Josué de Castro foi ainda fundador, diretor, influenciador da criação ou
participante dos primeiros órgãos públicos brasileiros voltados para a questão alimentar
nacional (SILVA, 2016). Ele inicia sua obra Geografia da Fome questionando a omissão em
torno da fome como um tema ainda muito invisibilizado naquela época:

24
[...] Quais são os fatores ocultos desta verdadeira conspiração de silêncio em
torno da fome? Trata-se de um silêncio premeditado pela própria alma da
cultura: foram os interesses e os preconceitos de ordem moral e de ordem
política e econômica de nossa chamada civilização ocidental que tomaram a
fome um tema proibido, ou pelo menos pouco aconselhável de ser abordado
publicamente (CASTRO, 1984, p.29).

Nessa perspectiva, considerando a complexidade da fome e da alimentação na visão


ampla dos Direitos Humanos, no mesmo ano em que foi incluído o direito à alimentação na
Constituição Federal, também foi implantada a Política Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional (PNSAN), com vistas a assegurar o Direito Humano à Alimentação Adequada
(BRASIL, 2010). Outro marco importante no contexto da nutrição e alimentação no Brasil foi
a publicação da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) com objetivo de
melhorar as condições de alimentação, nutrição e saúde da população brasileira, mediante a
promoção de práticas alimentares adequadas e saudáveis, a vigilância alimentar e nutricional,
a prevenção e o cuidado integral dos agravos relacionados à alimentação e nutrição (BRASIL,
2012).
A alimentação adequada é um direito humano básico e para que seja cumprido é
fundamental a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), que é definida no Brasil como a
garantia do direito de todos ao acesso a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e de
modo permanente, com base em práticas alimentares saudáveis e respeitando as
características culturais de cada povo (MALUF; MENEZES, 2012).
A alimentação é adequada quando é nutricionalmente balanceada - de acordo com o
ciclo de vida e as necessidades alimentares -, saborosa, culturalmente apropriada, amplamente
variada, predominantemente de origem vegetal, in natura ou minimamente processada, livre
de transgênicos e de contaminantes físicos, biológicos ou químicos, como os agrotóxicos
(BRASIL, 2017). A alimentação adequada deve ter origem de sistema alimentar sustentável,
fundado em princípios da agroecologia, que referem a biodiversidade, resiliência, eficiência
energética, justiça e proporciona a manutenção de culturas alimentares, a valorização do
alimento de qualidade, à educação alimentar, a melhoria da saúde, assim como ações que
tratam o mercado a partir da ótica dos consumidores e valoriza a sustentabilidade ambiental,
social, cultural e econômica (MOVIMENTO SEM TERRA, 2015).
A agroecologia está fortemente vinculada à noção de soberania alimentar que definida,
de acordo com o Fórum Mundial de Soberania Alimentar (2001), como o direito dos povos a
definir suas próprias políticas e estratégias sustentáveis de produção, distribuição e consumo

25
de alimentos que garantam o direito à alimentação para toda a população, respeitando suas
próprias culturas e a diversidade dos modos camponeses, pesqueiros e indígenas de produção
agropecuária, de comercialização e de gestão dos espaços rurais, nos quais a mulher
desempenha um espaço fundamental, uma vez que toca a elas, principalmente, a provisão da
casa e a lida associada à produção dos alimentos que vão à mesa da família.
Para os movimentos sociais agrários, como a Via Campesina e o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra, a articulação da luta dos povos em defesa da alimentação
adequada compreende que, apesar de distintos, os conceitos de Soberania Alimentar e
Segurança Alimentar e Nutricional se relacionam de modo que o acesso à alimentação
adequada, condição para realização do direito à alimentação, não pode perder de vista seu
modelo de produção, o que torna a Soberania Alimentar elementar e que abarca a noção de
Segurança Alimentar e Nutricional (GOMES JUNIOR; ANDRADE, 2013).
É com a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN), de 2006 que é
criado o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), onde se assegura o
direito à alimentação como um direito básico. A LOSAN afirma que a SAN é condição
necessária ao direito à alimentação, e considera as dimensões “sociais, econômicas,
ambientais, culturais e regionais, o respeito à soberania dos países para estabelecer o que e
como produzir alimentos e como consumi-los, respeitando os hábitos e as práticas culturais
dos povos, sem perder de vista tudo o que se relaciona às exigências de uma vida saudável”
(GOMES JUNIOR, 2015; p. 181).
Dentre os desafios identificados pelo Plano Nacional de SAN (PLANSAN 2016-
2019), ainda se faz presente a necessidade de promoção do “acesso universal à alimentação
adequada e saudável, com prioridade para as famílias e pessoas em situação de insegurança
alimentar e nutricional” (BRASIL, 2017). Nisso se inclui o Direito à Alimentação no sistema
penitenciário brasileiro.
Para Valente (2002, p. 20), “a alimentação é um direito do cidadão, e a Segurança
Alimentar e Nutricional para todos é um dever do Estado e responsabilidade da sociedade”.
Ou seja, independente da situação em que se encontre o ser humano, é tarefa do Estado
assegurar a sua segurança alimentar e nutricional, para além dos “riscos de um colapso
biológico da vida, motivados pela fome e pela desnutrição” (GOMES JUNIOR, 2015 p. 46).
Qual é a alimentação devida para quem viola as leis do Estado? Sobre essa questão
declara Coyle (2002, p. 58):

26
Já foi mencionado o dilema que as administrações penitenciárias podem ter
de enfrentar em países onde a população, de um modo geral, sofre de fome
devido à falta de alimentos nutritivos em quantidades suficientes. Nesses
casos, deve-se aceitar o fato de que os presidiários não possam receber
alimentos nutritivos em quantidades suficientes porque os cidadãos
cumpridores da lei também estão sofrendo nesse aspecto. É possível
compreender esse argumento. Entretanto, ao privar as pessoas de sua
liberdade, o Estado assume a obrigação de cuidar delas adequadamente.
Trata-se de uma obrigação absoluta que não pode ser desconsiderada.

A Lei de Execução Penal possui regramento específico que visa oportunizar sua
assistência da pessoa em cárcere. Assim, no artigo 11, consta que o auxílio será material, à
saúde, jurídica, educacional, social e religiosa e no artigo 12 diz que o subsídio material ao
preso consistirá no fornecimento, dentre outros, de alimentação (RUDNICKI; PASSOS,
2012).
Portanto, não se trata de enfrentar simplesmente as restrições de acesso aos alimentos
por parte daqueles que, por se encontrarem privados de liberdade, não possam alcançá-los.
Trata-se, na síntese de Gomes Junior (2015, p.47) sobre a tese de Valente (2002), “de
assegurar a qualquer cidadão, independentemente de quaisquer condições, que seu direito
esteja garantido”. Sendo assim, o direito à alimentação das pessoas em situação de privação
de liberdade só pode ser garantido se considerado como um dos direitos básicos,
fundamentais para o prosseguimento da vida dos sujeitos encarcerados.
No âmbito do sistema prisional, a Portaria Interministerial do Ministério da Saúde e do
Ministério da Justiça nº 1, de 2 de janeiro de 2014, institui a Política Nacional de Atenção
Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional e orienta a
implantação de ações de promoção da saúde que garantam alimentação adequada, atividades
físicas, garantia de condições salubres de confinamento e acesso a atividades laborais
(BRASIL, 2014).
Em seguida, voltado para a população feminina no sistema prisional, é publicada a
Portaria Interministerial nº 210 de 16 de janeiro de 2014, que institui a Política Nacional de
Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional,
que apresenta, enquanto diretriz, a humanização das condições do cumprimento da pena,
garantindo os direitos básicos, entre eles a alimentação e, enquanto meta, determina a
assistência material, incluindo a alimentação, o respeito aos critérios nutricionais básicos e
casos de restrição alimentar (BRASIL, 2014).
Essas legislações são importantes, do ponto de vista legal, para exigir das esferas
responsáveis, o cumprimento da lei, no que tange ao direito à alimentação no contexto do

27
encarceramento de mulheres. Podemos observar que este assunto vem se apresentando de
maneira mais específica nos últimos anos.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Sistema Carcerário de 2012 mostrou
que o sistema prisional brasileiro desrespeita diversos direitos das pessoas em privação de
liberdade, alguns básicos para a dignidade da pessoa humana, como por exemplo o de receber
uma alimentação digna. Ainda assim, esse tema recebe pouca atenção tendo em vista sua
significância (BRASIL, 2012).
Em 2017, foi instituída a Resolução Nº 3, de 5 de outubro de 2017 que dispõe sobre a
prestação de serviços de alimentação e nutrição às pessoas privadas de liberdade e aos
trabalhadores no sistema prisional e, voltada para essa resolução, a Recomendação nº
4/2017/CONSEA que estabelece parâmetros para a garantia da prestação de serviços de
alimentação e nutrição às pessoas privadas de liberdade e aos trabalhadores no sistema
prisional, tendo por base os princípios do direito à alimentação e as diretrizes e fundamentos
do Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2017).
Mais recente, a Resolução Nº 9, de 6 de dezembro de 2017, trata sobre o Direito
Humano à Alimentação Adequada de mulheres e adolescentes em privação de liberdade, em
especial gestantes, lactantes e com filhos e filhas e orienta que o direito à alimentação não
deve ser interpretado em um sentido estrito ou restritivo, que o analisa em termos de um
pacote mínimo de calorias, proteínas e outros nutrientes específicos. Determina também que
são obrigações imediatas dos Estados que assinam o Pacto Internacional sobre Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais garantir a erradicação da fome, evitar retrocessos sociais e
realizar ações para que a garantia do direito à alimentação se dê sem qualquer discriminação
econômica, social, ambiental, de raça, etnia, geração ou gênero (BRASIL, 2017).
Sabendo que a saúde é consequência das condições de alimentação, habitação,
educação, renda, emprego, lazer, acesso a serviços de saúde e outros, no sistema prisional o
Estado passa a assumir todas essas responsabilidades, não só no sentido de proporcionar
atendimentos médicos e de outros profissionais da saúde, mas também de estabelecer
condições para promoção do bem estar geral (FABRIS et al., 2016).
É tarefa do Estado brasileiro enfrentar a questão social através de políticas sociais
públicas que representam “respostas e formas de enfrentamento às expressões multifacetadas
da questão social no capitalismo” (BEHRING, 2011).

28
Explorar a questão da mulher encarcerada sob uma perspectiva crítica dos direitos
humanos, com enfoque no direito humano a alimentação pode contribuir para a promoção e a
proteção da saúde, proporcionando o potencial de crescimento e desenvolvimento humano,
com qualidade de vida e cidadania. A violência, a criminalidade, o encarceramento em massa
da população, assim como a alimentação inadequada e até mesmo a fome, são algumas das
expressões da chamada questão social. Questão esta que consiste na desigualdade social
decorrente das contradições do modo de produção capitalista, cujo fundamento é a exploração
do capital sobre o trabalho.

29
3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL


Analisar a efetivação do Direito Humano à Alimentação Adequada em mulheres privadas de
liberdade na Paraíba.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


a) Compreender as percepções de mulheres no sistema prisional a respeito do Direito
Humano à Alimentação Adequada;
b) Caracterizar o acesso à alimentação de mulheres no sistema prisional da Paraíba;
c) Identificar desafios e alcances para a realização do Direito Humano à Alimentação
Adequada no sistema prisional.

30
4 MÉTODO

4.1 CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA

Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, adotada por ser uma forma adequada
para entender um fenômeno social em sua complexidade, buscando a possibilidade de
aprofundamento nas particularidades do comportamento dos indivíduos (LEWIN; SOMEKH,
2015).
Para Landim et al. (2006), a pesquisa qualitativa trabalha com valores, crenças,
representações, hábitos, atitudes e opiniões. Em vez da medição, seu objetivo é conseguir um
entendimento mais profundo e, se necessário, subjetivo do objeto de estudo, sem preocupar-se
com medidas numéricas e análises estatísticas. Cabe-lhes, adentrar na subjetividade que
envolve os fenômenos sociais, voltando a pesquisa para grupos delimitados em extensão,
porém possíveis de serem abrangidos intensamente.
O método utilizado para alcançar os objetivos desta pesquisa consiste no estudo de caso
único que tem como propósito descrever e aprofundar a existência de um fenômeno, de modo
a fazer uma análise generalizante. Dessa forma, contribui de maneira significativa para a
compreensão que temos dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos. Em
todas essas situações, a clara necessidade pelos estudos de caso surge do desejo de se
compreender fenômenos sociais complexos, que permite uma investigação para se preservar
as características holísticas e significativas dos eventos da vida real (YIN, 2001).

4.2 UNIDADE DE ANÁLISE

O estudo de caso único integrado teve como unidade de análise o estado da Paraíba, e
foi desenvolvido nas quatro penitenciárias femininas subordinadas a Secretaria de
Administração Penitenciária da Paraíba: O Centro de Reeducação Maria Júlia Maranhão em
João Pessoa, a Penitenciária Feminina de Campina Grande, a Penitenciária Romero Nóbrega
em Patos e a Penitenciária Feminina de Cajazeiras.

4.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO

31
De acordo com relatório de população carcerária da Gerência de Inteligência e
Segurança Orgânica Penitenciária- GISOP e Secretaria de Administração Penitenciária da
Paraíba, em janeiro de 2019, ao todo, a população carcerária feminina no estado da Paraíba é
de 487 mulheres, sendo essas 184 em regime fechado provisório e 181 sentenciadas; 77 em
regime semi-aberto e 45 em regime aberto.
O estudo foi desenvolvido com três grupos de participantes, denominados Informantes-
chave (trabalhadoras da gestão penitenciária), colaboradoras cozinheiras - CC (mulheres em
cárcere privado cozinheiras das penitenciárias) e colaboradoras mulheres, aquelas em situação
de cárcere com no mínimo 12 meses cumprindo pena em regime fechado.
O primeiro grupo foi constituído pelos informantes-chave, trabalhadoras da gestão
estadual da Secretaria de Administração Penitenciária da Paraíba (SEAP), as quais são
diretoras das unidades penitenciárias de João Pessoa, Campina Grande, Cajazeiras e Patos, a
nutricionista do Almoxarifado Geral da SEAP, a coordenadora da Saúde Prisional, uma
médica e uma enfermeira da equipe de saúde prisional totalizando 8 informantes-chave,
identificadas por GP (Gestão Prisional) 1 até GP8, escolhidas de forma aleatória entre os
números 1 a 8. As informantes-chave trazem contribuições sobre a caracterização da
alimentação de mulheres privadas de liberdade no estado da Paraíba e na identificação de
desafios, alcances e iniciativas para a realização do Direito Humano à Alimentação
Adequada no sistema prisional na Paraíba.
Minayo (1996) chama a atenção para a importância do processo de definição de
informantes-chave em uma pesquisa qualitativa. Para a autora, deve-se, neste momento,
preocupar-se mais com o aprofundamento e a abrangência da compreensão do s sujeitos da
pesquisa com o qual a pesquisa se relaciona.
Para compreender as percepções das mulheres privadas de liberdade a respeito do
direito à alimentação, participaram da pesquisa as colaboradoras que são mulheres em
situação de cárcere com no mínimo 12 meses cumprindo pena em regime fechado e mulheres
privadas de liberdade cozinheiras das penitenciárias para mulheres.
No grupo de colaboradoras cozinheiras, foi considerado o critério de inclusão
mulheres privadas de liberdade que trabalhavam nas cozinhas das penitenciárias femininas na
ocasião da pesquisa. Participaram duas cozinheiras de cada penitenciária, apontadas pela
direção como cozinheiras-chefe, totalizando em 8 (oito) mulheres.

32
Para o grupo de colaboradoras mulheres em cárcere privado, estas foram selecionadas
considerando o critério de inclusão: mulheres com permanência em cárcere, em regime
fechado, há pelo menos 12 meses e que não mudaram o regime prisional durante esse período.
Foram excluídas do estudo as mulheres que não aceitassem assinar o TCLE.
Participaram do estudo 12 (doze) mulheres privadas de liberdade em regime fechado
há pelo menos um ano, três de cada penitenciária, alcançando a saturação na coleta de dados.
Portanto, participaram do estudo um total de 28 pessoas.
Houve a tentativa de entrevistar o Secretário de Administração Penitenciária da
Paraíba. O contato foi estabelecido com os assessores que responderam que o Secretário
aceitava participar da pesquisa se fosse enviado por e-mail (o mesmo usado para contato com
os assessores) as questões da entrevista. Neste sentido, as respostas do secretário à entrevista
seriam encaminhadas também por e-mail. Essa condição não foi aceita pelas pesquisadoras
deste estudo, uma vez que essas entrevistas são individuais e realizadas pessoalmente.

. 4.4 PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS DE COLETA DOS DADOS

Para a coleta de dados foi utilizado como recursos a entrevista semiestruturada, a


consulta documental e o diário de campo. De acordo com Gil (2009) a coleta de dados em
estudos de caso é mais complexa do que em outras modalidades de pesquisa que utiliza uma
única técnica para a obtenção de dados, apesar de outras técnicas possam ser utilizadas de
forma complementar. O estudo de caso demanda a obtenção de dados a partir de técnicas
diversas com intuito de qualificar os resultados obtidos. Yin (2001) apresenta que, para esse
tipo de estudo, é necessária a triangulação entre diferentes fontes de dados. A escolha pela
multiplicidade das fontes de dados possibilita a triangulação de evidências e amplia a
confirmação de fatos e fenômenos pesquisados, aumenta a consistência dos achados e a
qualidade do estudo (YIN, 2001).

4.4.1 Entrevistas

A entrevista é usada pelas ciências sociais como lócus privilegiado de análise da


cultura, da ação social e da experiência, tanto de âmbito pessoal como social, colocando em
causa a natureza da cultura e da condição humana (CASTELLANOS, 2014).

33
Foi utilizada a técnica de entrevista semiestruturada em profundidade, sendo
caracterizada pela utilização de um roteiro aberto. Segundo Quaresma e Boni (2005), essa
técnica reflete à combinação de perguntas abertas e fechadas, onde o participante tem a
possibilidade de discorrer sobre o tema proposto. Caracteriza-se como semiestruturada ou em
profundidade quando o pesquisador realiza outras indagações dentro da temática norteadora,
como forma de buscar a compreensão do que o participante está narrando. A entrevista, no
entanto, não tem por objetivo buscar respostas verdadeiras, mas captar as subjetividades
presentes no discurso do sujeito (MORÉ, 2015).
Dessa forma, a entrevista é compreendida como uma proposta de diálogo e/ou
conversações em torno de um questionamento norteador, que neste estudo reflete sobre como
se caracteriza a realização do Direito Humano a Alimentação Adequada no sistema prisional
feminino da Paraíba.
Foram entrevistadas duas cozinheiras de cada penitenciária, apontadas pela direção
como cozinheiras-chefe, totalizando em 8 (oito) entrevistas semiestruturadas individuais com
mulheres privadas de liberdade que trabalham na cozinha das penitenciárias. Foram 12 (doze)
mulheres privadas de liberdade em regime fechado há pelo menos um ano, três de cada
penitenciária, alcançando a saturação na coleta de dados. A escolha se deu por sorteio. De
posse da lista de mulheres em regime fechado, disponibilizada pela direção em cada
penitenciária, excluindo quem estivesse há menos de 12 meses, a pesquisadora apontava um
nome da lista de forma aleatoria e as agentes penitenciárias chamavam e direcionava cada
mulher para o local da entrevista. Ao final de cada entrevista era realizado o sorteio para a
entrevista seguinte. Todas as mulhres sorteadas aceitaram participar da pesquisa. A
amostragem foi concluída quando a “saturação teórica” de uma categoria ou grupo de casos
foi atingida ou quando não surgiu mais nada novo (FLICK, 2009).
Nas entrevistas individuais foram abordadas questões que possibilitaram o
entendimento a respeito da caracterização do acesso a alimentação no sistema prisional, bem
como os alcances, limites e iniciativas para a garantia do Direito Humano à Alimentação
Adequada e ainda as percepções das mulheres privadas de liberdade e da gestão das
penitenciárias femininas do estado da Paraíba sobre o direito à alimentação.
A coleta de dados aconteceu nos meses de janeiro e fevereiro de 2019. As entrevistas
realizadas com as diretoras e colaboradoras aconteceram em salas reservadas nas unidades
penitenciárias, em horários pactuados com a gestão das penitenciárias. A entrevista com a
nutricionista do Almoxarifado ocorreu no Centro de Ciências da Saúde da Universidade

34
Federal da Paraíba, a pedido da entrevistada. Cada entrevista foi realizada pela pesquisadora e
pela pessoa entrevistada sem a presença de terceiros. Fora da sala onde aconteciam as
entrevistas, ficavam algumas agentes penitenciárias. Em uma das penitenciárias do interior do
estado a direção não permitiu que as mulheres presas, que não faziam parte da equipe da
cozinha, permanecessem sem algemas durante a entrevista. Na mesma unidade, as agentes
penitenciárias ficavam muito próximo à porta da sala, que estava aberta, sendo preciso a
pesquisadora e colaboradoras se afastarem para o final da sala para não ser ouvidas pelas
agentes durante a entrevista e garantir o sigilo da coleta de dados.
Os dados foram gravados e transcritos pela pesquisadora. Cada entrevista teve duração
em média de 30 minutos. Foram feitas notas de campo durante e após as entrevistas a fim de
facilitar a observação da pesquisadora sobre atitudes das entrevistadas, no sentido de
contribuir com as entrevistas subsequentes e impressões gerais sobre a etapa de coleta de
dados. O processo interpretativo acompanhou toda a fase de coleta dos dados, mantendo-se
um permanente diálogo com os conteúdos que emergiam em cada entrevista, e com os
sentidos que se construíam em cada uma delas.

4.4.2 Consulta documental

No que tange a consulta documental, foram utilizados documentos cedidos pela


Secretaria de Administração Penitenciária da Paraíba (SEAP). Os arquivos disponibilizados
pela SEAP/PB foram:
1- Plano de Metas – Ano Base 2019, que apresenta um conjunto de elementos do que se
pretende alcançar, por trimestre, e organizado por temas de prioridade, dessa
secretaria, para o ano de 2019.
2- Relatório de Gestão – Ano Base 2018, que contextualiza o perfil do sistema prisional
paraibano nos bancos de dados nacional e apresenta as ações da SEAP/PB em 2018.
Também foi realizada pesquisa por meio de homepages oficiais, relatórios e
documentos de entidades não-governamentais e entidades governamentais, além de
publicações científicas em periódicos acadêmicos.
A pesquisa documental em estudos de caso fomenta e qualifica a corroboração das
evidências das outras fontes de dados utilizadas na pesquisa. Neste sentido, esse recurso
acompanhou todo o processo desta investigação, no qual tomamos como referência desde as

35
entrevistas, o referencial teórico, os documentos disponibilizados pela Secretaria de
Administração Penitenciária, até a sistematização do produto final.
Foi também solicitado formalmente documentos explicativos sobre a saúde no sistema
prisional na Paraíba, relatórios de gestão, plano de ações, cartilha ou arquivos que pudessem
ampliar a contextualização dessa temática neste estudo, porém a solicitação não foi atendida
apesar de ter sido realizadas várias tentativas e contatos com a coordenação das equipes de
saúde prisional no estado.

4.4.3 Diário de Campo

Para registro e documentação da pesquisa foi utilizado o diário de campo, onde as


anotações foram registradas durante as entrevistas e nos momentos em que havia necessidade
de articulação com a administração penitenciária, a exemplo da articulação e solicitação de
liberação para entrevistas. Também foram registradas no diário de campo as impressões,
sentimentos e reflexões percebidas nos diálogos com a gestão do sistema prisional e durante
as entrevistas na coleta de dados, buscando, como explica Flick (2009), “captar o
comportamento cotidiano nas situações naturais”.
O diário na pesquisa deve documentar o processo de abordagem de um campo, as
experiências e os problemas no contato com o campo ou com os entrevistados, e a aplicação
dos métodos. Fatos importantes e questões de menor relevância ou fatos perdidos na
interpretação, na generalização, na avaliação ou na apresentação dos resultados, vistos a partir
das perspectivas do pesquisador individual, também devem ser incorporados. Uma
documentação desse tipo não é apenas um fim em si mesma ou um conhecimento adicional,
servindo também à reflexão sobre o processo de pesquisa (FLICK, 2009).

4.5 ANÁLISE DOS DADOS

Para a análise dos dados foi utilizado o método da Análise de Conteúdo na modalidade
Temática (Bardin, 2011). Os procedimentos orientados pela análise de conteúdo
compreendem as seguintes etapas: a pré-análise é a fase em que o material é organizado para
ser analisado com o objetivo de torná-lo operacional, sistematizando as ideias iniciais. Nessa
etapa foi feita a transcrição e organização das entrevistas e a leitura flutuante para poder

36
identificar o sentido geral das informações obtidas e refletir de forma ampla e geral sobre o
conteúdo das entrevistas.
A fase seguinte do referencial metodológico foi a exploração do material. Aqui foi
realizada uma leitura exaustiva das entrevistas e do caderno de campo, buscando uma maior
apropriação das informações registradas e a articulação entre as fontes de dados utilizadas.
Esta é a fase da descrição analítica, orientado pelas hipóteses e referenciais teóricos,
procedendo-se assim a organização dos temas e categorias nos conteúdos apreendidos.
Durante a leitura das falas, frase a frase, se selecionava as citações que são os pequenos
trechos ou frases passíveis de análise as quais eram relacionadas as temáticas com base nos
referenciais teóricos e empíricos.
As entrevistas foram gravadas, transcritas e analisadas pela pesquisadora que também
utilizou caderno de campo para anotações para somar ao conteúdo do material transcrito.
Após leitura exaustiva das entrevistas e do caderno de campo, buscando uma maior
apropriação das informações registradas e a articulação entre as fontes de dados utilizadas,
procedeu-se a organização dos temas e categorias nos conteúdos apreendidos.
Os eixos para análise temática foram determinados a partir dos objetivos da pesquisa e
das entrevistas com os participantes.
Considerando os objetivos, às questões de pesquisa e o referencial teórico e
metodológico que conduziu a essa interpretação, resultou na construção de duas categorias
com suas subcategorias, demonstrados no quadro a seguir:

Quadro 1. Categorias da análise dos dados


Categorias Subcategorias
1. Contexto do Encarceramento Caracterização dos sujeitos da pesquisa
Feminino na Paraíba
2. O acesso à alimentação adequada Da aquisição dos alimentos à marmita entregue nas
de mulheres em situação de cárcere celas
na Paraíba
3. Percepção das mulheres privadas A Alimentação e seus significados
de liberdade a respeito do direito à
alimentação adequada

Após a criação das categorias, considerando o referencial teórico, questões norteadoras


e os objetivos, foi realizada a interpretação dos dados. As observações coletadas pelo diário de
campo complementaram a análise e discussão dos resultados.

37
4.6 ASPECTOS ÉTICOS

A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de


Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba – CEP/CCS, sob o parecer nº
3.051.442; CAAE: 02613218.9.0000.5188 (Anexo A) e adotou os princípios éticos
contemplados nas diretrizes e nas normas regulamentadoras para a pesquisa que envolve seres
humanos – Resolução n° 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), sobretudo quanto ao
consentimento livre e esclarecido dos sujeitos participantes, sigilo e confidencialidade dos
dados.
Nessa perspectiva, todas as participantes foram informadas sobre o objetivo da
pesquisa, seus procedimentos, riscos, desconfortos e benefícios, garantia do anonimato e
direito de participarem ou não e também de desistirem em qualquer momento da pesquisa,
sigilo dos dados e guarda do material coletado sob a responsabilidade do coordenador da
pesquisa. Todas assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o Termo
de Autorização para Gravação de Voz.
Para resguardar o anonimato dos sujeitos envolvidos, foram atribuídos códigos de
identificação das informantes-chave (diretoras das penitenciárias femininas, equipe de saúde
prisional e nutricionista que trabalha no Almoxarifado): GP1, GP2, [...] GP8. Foram também
atribuídos códigos de identificação para as colaboradoras e colaboradoras cozinheiras: C1, C2
[...] C12; CC1, CC2 [...] CC6.

38
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A estruturação dos resultados e discussão está organizada de modo a ressaltar no


estudo de caso a pluralidade das fontes de dados e evidências, inicialmente apresentando o
contexto do caso, a partir da consulta documental, entrevistas e literatura possibilitando
ampliar a compreensão sobre o objeto investigado inserido em uma realidade social.
Após a contextualização do encarceramento feminino na Paraíba, as categorias
seguintes discutem sobre acesso e percepção das mulheres sobre o Direito Humano à
Alimentação Adequada nesse contexto.

5.1 CONTEXTO DO ENCARCERAMENTO FEMININO NA PARAÍBA

O contexto dessa pesquisa é situado no estado da Paraíba, na região Nordeste do


Brasil. O estado tem 223 municípios divididos entre 15 regiões geográficas, com população
de 3.766.528 habitantes, maioria mulheres com idade na faixa etária de 30 a 39 anos (IBGE,
2019).
As informações para a descrição do contexto de encarceramento feminino nesse estado
foram adquiridas através de documentos cedidos pela Secretaria de Administração
Penitenciária da Paraíba (SEAP) e subsídios de domínio público, acessados através da
internet, a exemplo do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – DEPEN,
2018, entre outros relatórios e produtos oriundos de pesquisa científica que sistematizaram
informações e dados do sistema penitenciário paraibano.
O estado da Paraíba possui 620 mulheres no sistema prisional, entre essas, 393
cumprem pena em regime fechado, distribuídas nas 4 penitenciárias femininas do estado. Os
municípios e as penitenciárias que recebem mulheres em conflito com a lei na Paraíba são:
João Pessoa – Centro de Reeducação Feminina Maria Júlia Maranhão; Campina Grande –
Penitenciária Feminina de Campina Grande; Patos – Presídio Feminino de Patos; Cajazeiras –
Penitenciária Padrão de Cajazeiras (SEAP, 2019). As características desse cenário carcerário e
do perfil das mulheres privadas de liberdade na Paraíba são semelhantes aos dados do perfil
nacional das mulheres no sistema prisional no Brasil (BRASIL, 2018).
Segundo os dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – Infopen
Mulheres (2018) com informações referentes ao primeiro semestre de 2016, na Paraíba, a taxa
de ocupação é de 168%. O perfil das mulheres encarceradas é maioria de mulheres adultas, na

39
faixa etária de 30 a 34 anos (27%), negras (79%), solteiras (60%), com escolaridade até
ensino fundamental incompleto (54%).
O percentual de mulheres envolvidas em atividades educacionais no sistema prisional
da Paraíba não ultrapassa 25%, das quais mais da metade estão concluindo o ensino
fundamental. O percentual de mulheres no sistema penal em atividade laboral é de 16%, onde
a maioria executa trabalho interno, que se refere ao trabalho desenvolvido no próprio sistema.
A maioria recebe menos de ¾ do salário mínimo mensal. Não há registro de mulheres na
Paraíba cujas famílias recebem auxílio-reclusão (BRASIL, 2018).
Apenas 11 mulheres no sistema prisional estão registradas como mães, todas na
categoria que refere ao número de filhos até 6. Há 14 mulheres gestantes, dessas 12 estão em
unidades que tem cela adequada. E lactantes foram registradas 11 mulheres (BRASIL, 2018).
Estabelecimentos penais que têm cela/dormitório adequado para gestantes corresponde
a 60%. Com berçário e/ou centro de referência materno-infantil, apenas 2 e com capacidade
para 11 bebês. Não há registo de estabelecimentos penais que têm creche (BRASIL, 2018).
O percentual de estabelecimentos penais femininos com local específico para visita
íntima é 33%. A média de visitas sociais por pessoa privada de liberdade no estado é de 0,8%
para mulheres. Podemos observar uma diferença significativa ao compararmos com a média
para homens que é 9,5% (BRASIL, 2018).
Quanto a distribuição dos crimes tentados/consumados entre os registros das mulheres
privadas de liberdade, 60% corresponde a tráfico, 15% corresponde a roubo, 12% corresponde
a homicídio e 8% corresponde a furto. O tempo total de penas das mulheres condenadas, na
maioria, é em média 8-15 anos (BRASIL, 2018).
De acordo com o Relatório de Gestão da SEAP (2018):
O contexto Paraibano, segundo dados da Gerência de Inteligência e
Segurança Orgânica da Secretaria de Administração Penitenciária da
Paraíba, referentes ao mês de dezembro de 2018, o estado possui 12.491
pessoas privadas de liberdade, para um total de 7.069 vagas, o que gera um
déficit de 5.422 vagas no sistema penitenciário e um contexto de super
encarceramento que opõe ao gestor público um leque de desafios, uma vez
que garantir a segurança das unidades e promover a dignidade de todos os
atores do sistema prisional, sobretudo num contexto de transição econômica
e política, exige uma maior capacidade de planejamento e melhores
estratégias de alocação dos recursos materiais e humanos.

Esse déficit de vagas, de acordo com Geopresídios, 2018, é o terceiro maior dentre os
estados da região nordeste e o segundo maior dentre os 12 estados brasileiros classificados
pelo CNJ como de menor porte. Apesar do cenário desafiador, a SEAP afirma que vem

40
empenhando esforços no cumprimento dos objetivos de uma execução penal cidadã, que são:
a garantia da segurança com respeito indeclinável aos direitos (SEAP, 2018).
Dos presos condenados e internados do Estado, 11.787 decorrem de decisões da
Justiça Estadual, 23 da Justiça Federal e 15 decorrem de decisões de ambas as justiças. Assim,
a Paraíba é o estado nordestino com o maior número de pessoas privadas de liberdade em
razão de decisão da Justiça Estadual. Na Paraíba, os números são de 994 (8,40%) de
condenados em execução provisória, 6.838 (57,76%) de condenados em execuções definitiva,
e 4.006 (33,84%) de pessoas presas sem condenação. Esses números colocam a Paraíba como
o 6º estado brasileiro com o menor percentual de presos sem condenação e o estado
nordestino com o maior número de presos condenados em execução definitiva (SEAP, 2018).
O Relatório de Gestão da SEAP apresenta dados do sistema paraibano nos bancos de
dados nacional. Uma parte considerável desses dados é apresentada em imagens de tabelas
coletadas do sistema nacional sem que haja discussão sobre o material ou sobre as
informações disponibilizadas. Também não há informação no relatório a respeito da
representatividade dos números, faltando informar se os dados que estão no sistema
correspondem ao número total de pessoas presas ou se há subnotificação do sistema, portanto
baixa representatividade. O relatório também não distinguiu a população carcerária paraibana
por sexo ou por unidade prisional, sendo assim não é possível, pelo relatório, desagregar as
informações e especificá-las sobre o cenário do encarceramento de mulheres no estado.
Com relação à saúde, na Paraíba há 11 unidades prisionais com enfermaria e 2 com
unidade materno-infantil. De acordo com o Relatório de Gestão (2018), a avaliação das
instalações sanitárias e instalações de saúde foram apontadas como ruim, numa escala que
varia entre ótimo, bom, regular e ruim (SEAP, 2018).
O acesso à saúde acontece a partir das Equipes de Saúde Penitenciária (ESP) que
atendem as Unidades Prisionais que estão localizadas em regiões geográficas distintas,
respondendo aos presídios com maior concentração populacional, e ainda, em locais
estratégicos para atender as demandas de Unidades Prisionais Femininas com menos de 100
apenadas, bem como apoiam os presídios e cadeias que não tem equipe de saúde prisional
através do Projeto Saúde Itinerante. São contempladas as penitenciárias femininas com maior
numero de mulheres em cárcere. Há duas penitenciárias femininas no estado que não tem
equipe se saúde prisional, uma localizada na região da Borborema, onde as mulheres tem
como referência a equipe de saúde prisional da penitenciária masculina, e outra localizada na

41
região do Alto Sertão, neste caso as mulheres são atendidas na Unidade Básica de Saúde pela
equipe do território local e não equipe de saúde prisional.
Atualmente tem implantadas onze Equipes de Saúde Penitenciária compostas por:
médicos, psicólogos, odontólogos, assistentes sociais, enfermeiros, técnicos em enfermagem e
auxiliares em saúde bucal. Através de capacitações, essas equipes foram orientadas a priorizar
a prevenção dentro das linhas de cuidado integral: monitoramento de hipertensão arterial,
controle de diabéticos, diagnóstico e tratamento das DST’s/HIV, busca ativa dos sintomáticos
respiratórios (detecção de casos novos de tuberculose), considerando a alta incidência de
tuberculose em ambientes prisionais. Neste sentido, as equipes estão orientadas a encaminhar
a demanda que não tem resolutividade na atenção primária para os serviços específicos da
Rede de Atenção à Saúde, integrando desta forma os diversos modelos de Atenção à Saúde
(SEAP, 2019).
As ações realizadas pelas equipes de saúde são do tipo assistencial por atendimento
clínico. São realizadas consultas por demanda livre, em que as agentes penitenciárias
identificam quem são as mulheres que precisam de atendimento da equipe de saúde e
direcionam essas mulheres para a equipe. Também é realizado atendimento voltado ao
rastreio de patologias específicas. Neste contexto, a equipe de saúde prisional que atende no
presídio de mulheres em João Pessoa, desenvolve, mensalmente, ações específicas de rastreio
às Infecções Sexualmente Transmissíveis, com testagem rápida e citológico, ações voltadas as
doenças crônicas como teste de glicemia e aferição da pressão arterial de todas as mulheres
encarceradas na penitenciária.
Quanto a assistência farmacêutica, a equipe de saúde prisional realiza a dispensação de
medicamentos, como é realizado pelas Equipes de Saúde da Família. Conforme é apresentado
a seguir:
Vem às medicações de Atenção Básica como antibióticos, analgésicos
antiinflamatórios, xaropes, materiais para sutura. Tudo que necessita para
uma Atenção Básica aqui tem. Certo? Também vêm os psicotrópicos, os
anti-hipertensivos e vem também os anti-glicemiantes. Aí, raramente quando
falta à gente busca na Unidade Básica de Saúde. (GP6)

Quando há necessidade de encaminhamento para a atenção especializada e/ou


hospitalar, é acionada a regulação da rede de saúde para referenciar o serviço que possa
responder e dá resolutividade a demanda apresentada. Portanto, a equipe de saúde prisional
deve ter o cuidado em viabilizar a confecção do Cartão do SUS para todas as mulheres presas,
inclusive para as que ingressam na penitenciária sem registro ou documentos.

42
Garantir o direito à alimentação e o direito à saúde de pessoas privadas de liberdade no
sistema prisional no Brasil é um desafio contínuo. Considerando o conceito ampliado de
saúde e a perspectiva de cidadania e justiça social, entendemos e apontamos que as
experiências em instituições prisionais devem preservar a saúde das pessoas privadas de
liberdade. Diante disso, ressalta-se que essa população em seu contexto e na sua
complexidade aparece como elemento essencial na busca da garantia e da promoção dos
direitos amplamente afirmados nas bases documentais nacionais, a exemplo da Constituição
Federal de 1988 (LIMA et al, 2013).
Em relação às atividades de educação em saúde realizadas nas penitenciárias,
geralmente essas ações acontecem esporadicamente e são realizadas por instituições de ensino
que desenvolvem projetos no âmbito do sistema prisional. As equipes de saúde não têm um
calendário com agendas de atividades nessa perspectiva.
Há, nas penitenciárias de maior população prisional, cela específica para pessoas
diagnosticadas com patologias crônicas ou que necessitem de atenção especial, a exemplo as
mulheres soro positivas. A respeito desse espaço, sabe-se que:
Esta cela é ocupada por quem é soro positivo ou quem tem pressão alta,
quem tem diabetes. Uma pessoa que necessita de ter um cuidado especial,
ela fica separada. A não ser se ela não quiser, tem delas que não querem
ficar separadas nessa ala da saúde, elas querem ficar juntas. É um direito
delas, entendeu? (GP6)

Quando foi questionado o que muda em relação às celas comuns e a “cela da saúde”,
todas as entrevistadas responderam que muda apenas o espaço, por ser uma cela em que
normalmente há menor quantidade de mulheres presas comparadas às celas comuns e, há
ainda a possibilidade, caso haja visitas às pessoas que estão nessa cela, de receber das visitas
alguns alimentos que auxiliem no estado de saúde dessas pessoas, a exemplo de frutas e leite.
A alimentação ofertada nessas celas é a mesma ofertada nas demais celas.
Em 2015, a avaliação da alimentação e avaliação da cozinha foi considerada regular,
entre as opções que variavam entre ótimo, bom, regular e ruim. Não há detalhamento de como
é feita essa avaliação no sistema carcerário da Paraíba (SEAP, 2018).
No tocante as ações desenvolvidas em 2018, no contexto da saúde e da alimentação,
foram realizadas atividades referentes ao outubro rosa nas unidades prisionais femininas do
estado, incluindo exames citológicos, busca de sintomáticos respiratórios e testagens rápida.
Também foram desenvolvidas ações de formação para equipes de saúde com temática voltada
para o Cuidado e Atenção aos Usuários de Álcool e Drogas no Sistema Prisional. Houve

43
ainda o Curso de Boas Práticas em Manipulação de Alimentos, em João Pessoa, com carga
horária de 20h, para agentes penitenciários responsáveis pelo setor de almoxarifado e pela
cozinha das unidades prisionais, conforme divulgação na internet, na página virtual da
SEAP/PB (SEAP, 2018).
O Relatório de Gestão conclui explicando que há ainda um conjunto de outras ações
não narradas nesse documento, como por exemplo, as ações de inteligência e contra-
inteligência da Gerência de Planejamento e Segurança da Informação – GEPLASI e as ações
assistenciais desenvolvidas localmente pelas unidades prisionais do estado, que corroboram
com o processo de construção do perfil técnico e profissional da gestão penitenciária no
estado. Também afirma que, de acordo com o inciso XV, do artigo 6º da norma federal que
instituiu o Sistema Único de Segurança Pública, a SEAP busca por “racionalizar e humanizar
o sistema penitenciário e outros ambientes de encarceramento”.
O Plano de Metas (2019) da Administração Penitenciária na Paraíba referencia outros
documentos de gestão pública do sistema criminal: o Modelo de Gestão para a Política
Prisional elaborado, em 2016, pelo Departamento Penitenciário Nacional em parceria com o
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD; a Lei de Execução Penal
nº.7.210/84; Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária de 2015; e o Plano Nacional
de Segurança Pública e Defesa Social. Esses documentos são referidos pelo Plano de Metas
como marcos nacional orientadores da gestão pública na área penitenciária.
Além dessas referências, o Plano ainda cita a Lei Estadual nº. 8.186/2007 que define a
Estrutura Organizacional da Administração Direta do Poder Executivo Estadual, a Lei
Complementar nº. 74/2007 que define as áreas, os meios e as formas de atuação do poder
executivo, o Plano de Governo do Estado da Paraíba (gestão 2019) e os princípios
constitucionais da administração pública, de acordo com o artigo 37 da Constituição Federal.
Os documentos citados pelo Plano de Metas apresentam em seu escopo orientações
que apontam para reconhecimento da igual dignidade entre todos os atores que integram o
sistema penitenciário; o empoderamento e o protagonismo dos sujeitos encarcerados, maior
participação social, incentivo às alternativas penais e fomento à justiça restaurativa e a
perspectiva do desencarceramento.
Referem também a garantia de efetivação dos direitos fundamentais e o acesso a
políticas públicas sociais, o enfrentamento a todas as formas de violação dos direitos
humanos, garantia dos direitos das pessoas com transtornos mentais, atenção especial a
mulher encarcerada conforme sua condição, bem como que a gestão penitenciária assegure a

44
vigilância e a contenção nas unidades prisionais, articuladas com a garantia da dignidade e
produzindo ambientes seguros que possam facilitar o processo de reintegração à sociedade.
A partir das orientações do conjunto destes referenciais nacionais e estaduais, a
SEAP/PB estabeleceu três postulados para nortear a gestão penitenciária no ano de 2019, que
são: 1) Modernização da gestão penitenciária e otimização dos procedimentos administrativos
e de segurança; 2) Valorização e aperfeiçoamento do servidor e dos serviços penitenciários; 3)
Garantia de direitos, fomento à reintegração e participação social (SEAP, 2019).
As metas distribuídas entre esses postulados referem a estruturação da administração
penitenciária, ampliação de espaço físico, construção de sala de aula, adequação dos espaços
físicos e instalação dos equipamentos a fim de viabilizar a implantação de oficinas a exemplo
da Oficina de Corte e Costura Industrial, ampliar oferta de vagas para formação de
trabalhadores do sistema prisional, ofertar vagas para capacitação em saúde mental,
realização de palestras motivacionais, oficinas pedagógicas e ampliação das ações de
educação e empregabilidade (SEAP, 2019).
Voltado para as demandas de saúde, as metas apontam para realizar reunião com a
Secretaria de Agricultura Familiar e Desenvolvimento do Semiárido e com a EMEP a fim de
verificar a possibilidade de uma parceria e diagnóstico das possíveis unidades prisionais a
serem beneficiadas com a implantação de 04 hortas, implantação de horta em 3 unidades
prisionais do Estado, realização de ações de saúde itinerante em unidades prisionais que não
possuem equipes de saúde, realizar exames citológicos na população carcerária feminina
(SEAP, 2019).
No que se refere a caracterização dos sujeitos da pesquisa, o perfil de formação e
tempo de experiência da equipe de gestão prisional e representantes da equipe de saúde
prisional é composto por mulheres, profissionais da área da saúde e de ciências humanas,
quatro das oito mulheres entrevistadas afirmaram escolaridade em nível de pós-graduação,
apenas duas dessas possuem pós-graduação na área de gestão no sistema prisional. A
experiência de trabalho no sistema prisional é ampla, em termo de tempo de atuação referido,
algumas dessas mulheres atuaram ou continuam atuando no sistema prisional masculino.
Apenas duas profissionais foram admitidas mais recentes ao cargo que ocupam, conforme
apresentado em Quadro 2:
Quadro 2. Caracterização das Informantes-Chave.
Experiência Tempo no
ID Formação Pós-Graduação no Sistema Cargo Atual
Prisional em em meses
meses

45
GP1 Nutrição Vigilância Sanitária/ 84m 84m
Saúde Pública
GP2 História Gestão Penitenciária 120m 84m
GP3 Direito Gestão Prisional 60m 24m
GP4 Educação Física Não 72m 60m
GP5 História Não 84m 72m
GP6 Enfermagem NI 84m 2m
GP7 Medicina NI NI 2m
GP8 Psicologia Terapia Cognitivo 50m 50m
Comportamental
Fonte: dados da pesquisa, 2019
GP = Gestão Prisional
NI = Não Informado

Conhecer o perfil dos profissionais que trabalham no sistema prisional pode


representar um indicador estratégico para o planejamento de recursos humanos e a assistência
prestada por esse grupo (COSTA et al., 2014). O cenário evidenciado pelos profissionais
participantes do estudo refere a multiprofissionalidade que compõe a equipe de gestão
prisional e representantes da equipe de saúde. Essas trabalhadoras, articuladas com suas
equipes nas penitenciárias onde atuam, têm atribuições fundamentais como o planejamento, a
promoção e a vigilância das ações de gestão prisional e de atenção à saúde, à luz do trabalho
interdisciplinar.
O perfil das mulheres privadas de liberdade que participaram deste estudo, revela um
grupo com mulheres com idade entre 22 e 56 anos, dividido, quase igualmente, em mulheres
que afirmaram raça parda/negra ou branca, a maioria com escolaridade fundamental
incompleta, advindas de trabalho informal, sentenciadas ao cumprimento de pelo menos 10
anos de pena. Conforme caracterização apresentada no Quadro 3 e Quadro 4.

Quadro 3. Caracterização das Colaboradoras Cozinheiras.


ID Idade Raça Escolaridade Profissão Período do Período que
cumprimento trabalha na
da pena cozinha
CC1 26 Branca Superior Estudante 30m 21m
Incompleto
CC2 41 Branca Fundamental Doméstica 24m 12m
Incompleta
CC3 32 Branca Fundamental Faxineira 22m 10m
Incompleto
CC4 38 Branca Fundamental Vendedora 53m 3m
Incompleto
CC5 49 Parda Fundamental Carroceira 23m 8m
Incompleto

46
CC6 22 NS Médio Desempregada 23m 6m
Completo
CC7 42 Parda Fundamental Doméstica 40m 19m
Incompleta
CC8 26 Negra Sem Faxineira 12m 4m
Escolaridade
Fonte: dados da pesquisa, 2019
NS = Não soube declarar

As cozinheiras nos presídios da Paraíba são mulheres que estão presas em regime
fechado. Diferente do estudo realizando por Rudnicki (2012) em Porto Alegre, em que as
cozinheiras eram mulheres presas em regime provisório, sendo aquelas que não tiveram
processos julgados, sendo, portanto, alta a rotatividade, uma vez que essas mulheres podiam
ser inocentadas, ou receberem a oportunidade de cumprir pena em regimes aberto ou
semiaberto, na Paraíba as cozinheiras das penitenciárias são as já sentenciadas, avaliadas por
bom comportamento, preferencialmente as que possuem pena com maior período, pois o
trabalho permite a remissão, que se trata da redução de um dia de pena a cada três dias de
trabalho. Além disso, elas podem ter acesso a comida de melhor qualidade, já que também
estão envolvidas no preparo das refeições dos agentes penitenciários e administrativos do
presídio, que muitas vezes acrescentam ingredientes para refeições diferenciadas do que é
servido nos pavilhões. Outra possibilidade é a chance de armazenamento dos alimentos que
recebem das visitas, ampliando a duração dos gêneros alimentícios e do acesso a comida
diferente do que é ofertado no presídio e da rotina das demais mulheres presas que ocupam os
pavilhões e não trabalham no presídio.
Para trabalhar na cozinha, há requisitos: não ter unhas cumpridas, não usar esmalte,
não fumar e possuir uma higiene pessoal adequada. O cuidado com a higiene encontra limite
na falta de condições propiciadas pelo Estado no contexto prisional; desta forma, as presas
que trabalham na cozinha frequentemente não utilizam uniformes ou Equipamento de
Proteção Individual (RUDNICKI, 2012).
A respeito do trabalho no sistema prisional, executado pelas pessoas em privação de
liberdade, em destaque neste estudo as trabalhadoras da cozinha, podemos observar que
embora esteja de acordo com a Lei de Execuções Penais (Lei n.º 7.210, de 11/07/1984), que
refere que todos os presos condenados no Brasil têm direito ao trabalho e sua remuneração,
apenas uma minoria destes presos têm oportunidade de trabalho e recebem alguma
remuneração. As mulheres presas sinalizam interesse pela oportunidade de trabalho na
instituição total, mas são poucas vagas para o tamanho da demanda. Para Zackseski (2001), a

47
situação da oferta de oportunidades de emprego para a população carcerária é diferente, tanto
na entre os diversos estabelecimentos prisionais, quanto no que se refere ao gênero dos
destinatários. Nessa perspectiva, a escassez de oferta de trabalho contribui para a superlotação
dos presídios, pois oferece apenas para um número muito pequeno de mulheres a
oportunidade de remição ou evolução da pena.
Além do trabalho, outro aspecto da Lei supracitada é o direito das pessoas presas à
educação, que envolve a reintegração social e estimula seu retorno ao convívio social, com
intuito de assistir os indivíduos para que esses não sintam necessidade de cometer infrações
novamente Neste sentido, o Art. 17 da Lei de Execução Penal: “assegura que a assistência
educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e do
internado”. E assegura ainda a remição de 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de
frequência escolar - atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou
superior, ou ainda de requalificação profissional - divididas, no mínimo, em 3 (três) dias
(BRASIL, 1984).
A partir de uma parceria estabelecida com a Secretaria Estadual de Educação - SEE, o
que tem possibilitado que nas unidades prisionais o ensino regular aconteça através da
Educação de Jovens e Adultos (EJA), sendo esta composta por aulas regulares que abrangem
os níveis de alfabetização, de 1ª a 4ª série, de 5ª a 8ª série e de ensino médio. Em 2019 são
1.890 alunos matriculados. O Eixo Educação também é responsável pela aplicação de exames
de certificação, sendo estes: o Exame Nacional do Ensino Médio para pessoas privadas de
liberdade (ENEM-PPL) e o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e
Adultos para pessoas privadas de liberdade (ENCCEJA PPL). O Projovem Urbano que visa à
formação integral de jovens entre 18 e 29 anos que não concluíram o ensino fundamental,
para estimular que estes possam ser inseridos no mercado de trabalho (SEAP, 2019).
Há ainda o projeto “Cidadania é Leitura, Ressocialização e Educação”, que tem por
objetivo promover o estímulo a leitura no interior das celas das unidades prisionais e ainda
permite aos reeducandos remir a pena através desta leitura. Para que isso aconteça, o
reeducando tem um mês para fazer a leitura do livro e um resumo do mesmo, e deverá
apresentá-lo oralmente para uma comissão avaliadora. Dependendo do seu desempenho em
ambas as atividades, ocorrerá o deferimento ou não dos dias a serem diminuídos da pena.
Caso aprovado na avaliação, o reeducando terá direito a quatro dias de remissão por obra.

48
Além das ações descritas, o projeto Cidadania é Liberdade também busca estimular
práticas esportivas nas unidades prisionais com foco nos benefícios que o esporte traz para a
saúde física e mental (SEAP, 2019).
Apesar da intencionalidade, a ação de educação formal, com turmas de ensino
fundamental ou médio, no sistema penitenciário é inferior à demanda existente de pessoas
com interesse em iniciar ou dar continuidade aos estudos, considerando a superlotação frente
as iniciativas de educação disponíveis nos presídios. É importante destacar que a população
de mulheres no sistema prisional da Paraíba com baixa escolaridade (até ensino fundamental
incompleto) é de 54% (BRASIL, 2018), situação semelhante à do perfil de colaboradoras
desta pesquisa onde a maioria das mulheres também não concluíram o ensino fundamental,
conforme Quadro 4:

Quadro 4. Caracterização das Colaboradoras: mulheres em regime fechado.

ID Idade Raça Escolaridade Profissão Duração Período do


da pena cumprimento
da pena
C1 27 Branca Superior Auxiliar NI 33m
Incompleto Almoxarifado
Hospitalar
C2 35 Parda Fundamental Auxiliar 180m 36m
Incompleto Serviços Gerais
C3 36 Parda Médio Desempregada 120m 114m
Incompleto
C4 27 Branca Fundamental Garçonete 456m 60m
Incompleto
C5 32 Parda Fundamental Doméstica 168m 33m
Incompleto
C6 38 Branca Fundamental Cuidadora 132m 17m
Incompleto
C7 32 Branca Médio Camareira NI 55m
Completo
C8 47 Parda Fundamental Desempregada 180m 14m
Incompleto
C9 56 Parda Fundamental Agricultora NI 72m
Incompleto
C10 51 Parda Fundamental Doméstica 180m 60m
Incompleto
C11 46 Parda Sem Faxineira 186m 72m
Escolaridade
C12 39 Branca Fundamental Comerciante 192m 48m
Incompleto
Fonte: dados da pesquisa, 2019
NI = Não Informado

49
Com relação a raça autodeclarada pelas colaboradoras, observamos que para algumas
mulheres havia um desconforto em receber a pergunta sobre qual a raça elas se declaravam.
As mulheres de pele mais clara afirmavam rapidamente a raça branca, enquanto as mulheres
de pele mais escura demoravam pensando na resposta, ou não souberam declarar, ou faziam
algum comentário antes de responder qual a raça, no sentido de justificar que pegou muito sol
e por isso a pele ficou mais escura, por exemplo.
Um dos dilemas que se coloca diante de questões raciais diz respeito à determinação
da raça. Um aspecto importante é a autodeclaração que considera a percepção do próprio
indivíduo sobre sua raça. A consideração do critério da autodeclaração mostra-se como um
mecanismo que procura combater injustiças culturais e simbólicas e está de acordo com a
mudança de paradigma que foca no reconhecimento de identidade e na ideia de que raça é
uma experiência e uma escolha do indivíduo, e não algo a ser imposto por um terceiro
(PANIZZI, 2016).
Os processos pelos quais o ser humano é acometido ao longo de sua vida estão ligados
à construção de sua identidade. Segundo Hall (2006, p. 13), “O sujeito assume identidades
diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um ‘eu’
coerente” (MARQUES, 2018).
No contexto brasileiro, a raça é fortemente associada à cor da pele. Uma das questões
que se coloca diante das classificações raciais diz respeito à variação social da cor (OSORIO,
2003), que está relacionada a elementos que interferem na tomada de decisão das pessoas para
definir sua raça, como a classe social, ou a consciência racial de quando a autodeclaração é
feita. Nessa perspectiva, a raça também é um fator importante que gera desigualdades no
nosso país. Contudo, é preciso reconhecer que esses dois fatores, classe social e raça, estão
intimamente ligados (PANIZZI, 2016).
Ressalta-se aqui que, no Brasil, a chamada democracia racial, que prega que existe
uma suposta igualdade entre as raças e ignora que somente a cultura europeia é exaltada,
enquanto inferioriza as demais, inclusive a cultura negra. Nota-se que a ideologia do
branqueamento influenciou a construção da identidade do povo brasileiro, negando a
existência da herança de outros povos, principalmente do africano, na composição dessa
identidade. Quando mencionado, esse povo aparece de forma folclorizada ou estereotipada
(MARQUES, 2018).
Diante dessa realidade, ressaltam-se os desafios que o negro enfrenta para ressignificar
ou afirmar sua identidade. Segundo Santos e Silva (2005, p. 40), “o processo de

50
fortalecimento da identidade racial brasileira é uma possibilidade de enfrentamento da
discriminação racial”. Tais enfrentamentos fazem parte do cotidiano do negro em todos os
aspectos: sociais, culturais e econômicos que influenciam na construção ou no fortalecimento
da identidade de cada pessoa (MARQUES, 2018).
Observamos que as mulheres colaboradoras deste estudo advêm de uma realidade
ocupacional mais voltada ao trabalho informal e de baixa remuneração. Vidal e Santos (2015),
em estudo sobre mulher e execução da pena refere o perfil da população carcerária feminina
de baixa escolaridade, com renda inferior a um salário mínimo, inserida no mercado informal
especialmente como doméstica e com envolvimento com drogas seja pelo uso ou pelo tráfico.
Neste estudo o tipo de crime referente a pena que as colaboradoras cumprem também
esteve mais relacionado ao tráfico de drogas, que se reflete como crime com maior nível de
repressão e punição penal. A repressão em torno do tráfico tem forte repercussão na opinião
pública, com ênfase midiática, inclusive na exposição de infratores e nas operações de
abordagem policial (VIDAL; SANTOS, 2015). O proibicionismo às drogas no Brasil é uma
estratégia falida para coibir o consumo e comércio das substâncias ilícitas. Todavia colabora
ainda mais com a seletividade do sistema penal que se caracteriza pelas questões sociais,
raciais e de gênero. Neste sentido, acaba prendendo mulheres pelo tráfico, sendo estas
primárias no mundo do crime (BRAZ; CORRÊA, 2018).
Cabe ressaltar que a subordinação de mulheres no tráfico é constantemente relatada
como situação associada a envolvimentos amorosos com homens, este olhar para o problema
reforça a subordinação das mulheres e desconsidera as escolhas ou condicionamentos sobre
contextos e subjetividades presentes nas desigualdades das relações de poder, de classe, de
raça e de gênero que permeiam a criminalidade (VIDAL; SANTOS, 2015).
Diante da apresentação das características das mulheres que fazem parte deste estudo e
do contexto onde estão inseridas, serão apresentadas a seguir as categorias que foram
definidas para exposição dos resultados e discussão, buscando demonstrar a compreensão dos
apontamentos das falas mais significativas sobre o objeto do estudo.

5.2 O ACESSO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA DE MULHERES EM SITUAÇÃO


DE CÁRCERE NA PARAÍBA

À alimentação adequada é um direito humano inerente a todas as pessoas de ter acesso


regular, permanente e irrestrito, quer diretamente ou por meio de aquisições financeiras, a

51
alimentos seguros e saudáveis, em quantidade e qualidade adequadas e suficientes,
correspondentes às tradições culturais do seu povo e que garanta uma vida livre do medo,
digna e plena nas dimensões física e mental, individual e coletiva (ABRANDH, 2013). Este
direito se torna realidade quando todas as pessoas, têm acesso físico e econômico a todo
tempo à alimentação adequada ou aos meios para sua aquisição (FAO, 2014). Neste sentido,
“o acesso à alimentação é um direito humano em si mesmo, na medida em que a alimentação
constitui-se no próprio direito à vida. Negar este direito é antes de tudo, negar a primeira
condição para a cidadania, que é a própria vida” (Relatório do Brasil para a Cúpula Mundial
de Alimentação, Roma – 1994 p.7).
Diante dessa perspectiva, essa categoria apresenta as características do acesso a
alimentação das mulheres privadas de liberdade na Paraíba, a partir das falas das mulheres
privadas de liberdade, das cozinheiras das unidades prisionais e das informantes-chave. O
questionamento central dessa categoria é: Como se dá o acesso a alimentação nas
penitenciárias femininas? Além desse questionamento, buscou-se compreender também como
se dá o acesso à alimentação adequada diante de necessidades alimentares especiais, e ainda
como se dá o acesso à água.
Em todas as penitenciárias, as etapas de aquisição dos alimentos são realizadas pelo
setor de almoxarifado da SEAP/PB. A pessoa responsável pela lista de compras de alimentos
tem formação em nutrição e ocupa o cargo de técnica administrativa do almoxarifado central
da administração penitenciária no estado. Não há uma vaga específica para o cargo de
nutricionista, que seja destinado à gestão da alimentação no sistema prisional da Paraíba.
Entretanto, as unidades prisionais referenciam essa técnica administrativa do almoxarifado
como a nutricionista responsável pela alimentação nas instituições penitenciárias do estado.
Cada unidade prisional tem o seu próprio setor de almoxarifado local. A lista de
compras de alimentos, bem como o quantitativo de pessoas que se alimentam nas unidades
prisionais (funcionários e população encarcerada) é inicialmente enviada do almoxarifado
local para o almoxarifado central. As agentes penitenciárias dos almoxarifados locais que
elaboram a lista de compras se baseiam nos produtos e gêneros que já são rotineiramente
entregues nas unidades.
A lista de compras enviada ao almoxarifado central é inicialmente avaliada pelo setor
sobre seu quantitativo e tipo de produtos, em seguida parte para a licitação da mercadoria com
os fornecedores. Nos municípios do interior do estado, os fornecedores entregam diretamente
nas unidades e na capital entregam ao almoxarifado que faz a distribuição em caminhão para

52
as unidades prisionais. Nas penitenciárias maiores a distribuição dos “secos”, como chamam
os alimentos procedentes da feira, incluindo ovos, é semanal, nas menores é mensal. Hortifrúti
e carnes a entrega é semanal para unidades maiores e quinzenais para unidades menores. Os
fornecedores têm acesso ao mapa de entrega com informações de dias e quantidades que
devem deixar nas unidades.
Existe uma comissão de funcionários do almoxarifado central que confere os produtos
recebidos antes de enviar para as unidades. No recebimento da feira, é feito a conferência dos
gêneros por parte do entregador e do recebedor nas unidades. Os produtos secos são
armazenados nos almoxarifados locais, enquanto as carnes e hortifrúti são armazenados em
câmaras (unidades maiores) e freezers (unidades menores). Cada unidade tem sua rotina de
retirada dos produtos do estoque para a cozinha. Nas unidades maiores a retirada é diária, nas
unidades menores a retirada é semanal, onde a chefe do almoxarifado local disponibiliza para
a cozinha os gêneros que devem ser usados durante a semana.
Quanto aos gêneros alimentícios das feiras, a lista geralmente segue um padrão
conforme é descrito no trecho a seguir:
Arroz, feijão, macarrão, farinha de mandioca, café, açúcar, tempero
colorau, cominho, ovos, o milho para mungunzá, o leite de coco. Vai
aquelas sopas em pó, é como se fosse uma base para sopa, o frango inteiro,
aí eles guardam pescoço, pé para botar nessa sopa também, vai frango,
fígado...E na semana santa vai peixe. Nas penitenciárias que têm berçário
vai o leite, farinha láctea, arrozina (IC1).

São esses os alimentos que compõe as preparações oferecidas nas penitenciárias onde este
estudo foi realizado. Os alimentos de hortifrúti previstos para entrega nas unidades são cebola,
batata, cenoura e tomate, porém todos os relatos destacaram a ausência de qualquer gênero
desse tipo há pelo menos cinco semanas. Um motivo levantado por parte das colaboradoras é
que a falta desses gêneros alimentícios está relacionada com o início do ano e os processos
licitatórios demoram mais entre o final e o começo do ano. Algumas colaboradoras referiram
a falta de verduras há meses e a ausência de frutas há anos. Apenas uma das penitenciárias
dispõe de uma horta local, cuidada por mulheres que estão presas, para o consumo da
penitenciária. Coentro, cebolinha e alface foram os vegetais destacados nas falas que referiam
a essa produção. A horta nem sempre atende a necessidade local da cozinha devido a alta
demanda diária.
Sobre a elaboração do cardápio, tanto as colaboradoras cozinheiras quanto as
informantes-chave de cada penitenciária feminina informaram que os cardápios são

53
elaborados pela ‘chefe’ (nome dado a agente penitenciária responsável pelo almoxarifado
local) de almoxarifado, a partir dos produtos disponíveis, na semana, mas seguindo uma
rotina semelhante em todas as unidades: desjejum: pão e café; almoço: arroz, feijão,
macarrão, as vezes uma farofa e algum tipo de carne que geralmente é galinha ou é fígado;
lanche da tarde: café; jantar: sopa ou mungunzá, ou cuscuz com ovo, ou frango, ou fígado;
arroz de leite com ovo ou alguma carne.
Dado de estudo realizado em Porto Alegre – RS refere que a comida servida
diariamente na penitenciária divide-se em cinco itens: arroz, feijão, carne, guarnição (massa,
polenta ou refogado) e salada. O cardápio e a forma como os alimentos são preparados é
definido pelos trabalhadores da cozinha, que sentem dificuldade diante da escassa variedade
disponível (RUDNICKI, 2011).
A ausência de maiores orientações sobre o cardápio é refletida na fala de uma
cozinheira quando afirma: “a chefe do almoxarifado chega assim: Tal dia faça isso! Mas a
gente não tem acesso a ninguém para dar orientação... isso aqui é melhor, faça desse jeito
que é mais saudável. A gente não tem de jeito nenhum (CC1). Outras cozinheiras também
afirmaram que não conhecem nenhuma nutricionista responsável pela alimentação e nutrição
no sistema prisional, e que as orientações sobre alimentação são recebidas pelas diretoras ou
chefe de almoxarifado.
Como mencionado no início desta subcategoria, não há uma nutricionista de referência
em cada penitenciária, no entanto há, no setor do almoxarifado da SEAP, uma trabalhadora
com cargo de técnica administrativa, que por ser profissional nutricionista, fica responsável
pelo pedido dos alimentos destinados às penitenciárias. Ela também acompanha a situação de
entrega pelos fornecedores e assume as atividades Nutrição em Alimentação Coletiva nas
unidades do sistema prisional, que somadas totalizam 78 (setenta e oito) unidades entre
penitenciárias e cadeias, com uma população carcerária em torno de 12.686 mil pessoas, entre
elas aproximadamente 853 pessoas estão em regime aberto (SEAP, 2019).
De acordo com a Resolução do Conselho Federal de Nutricionista (CFN) Nº 600, de
2018, que dispõe sobre a definição das áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições e
indica parâmetros numéricos mínimos de referência, por área de atuação, a área de Nutrição
em Alimentação Coletiva, tem como subárea a Gestão em Unidades de Alimentação e
Nutrição que contempla entre os serviços de alimentação coletiva as unidades prisionais. Esta
resolução orienta que compete ao nutricionista responsável por essa área planejar, organizar,
dirigir, supervisionar e avaliar os serviços de alimentação e nutrição; realizar assistência e

54
educação alimentar e nutricional à coletividade ou a indivíduos sadios ou enfermos em
instituições públicas e privadas. Com relação aos parâmetros numéricos mínimos de
referência para atuação do nutricionista nesse campo de atuação, a recomendação mínima é de
1 (um) nutricionista, com carga horária de 12 horas, para serviços com até 100 (cem) número
de grande refeição, o que corresponde a refeição com 30% a 40% do Valor Energético Total
(VET) diário, conforme legislação do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT)
vigente (CFN, 2018).
Nesse contexto, para que seja possível atender as necessidades de gestão da
alimentação no sistema prisional, é imprescindível a existência do cargo de nutricionista e a
contratação de profissionais responsáveis por esse cargo e pelas atribuições que compete nas
unidades prisionais. Além disso, é necessário fazer o dimensionamento de recursos humanos
para atender a demanda nessas unidades, tendo em vista o alto número de refeições servidas
diariamente.
A preparação das refeições é realizada pelas cozinheiras que são mulheres privadas de
liberdade que trabalham na cozinha garantindo as refeições das agentes penitenciárias, dos
funcionários e das mulheres encarceradas. A média do número de cozinheiras por unidade
prisional feminina é de dois a seis, dependendo do tamanho da população da unidade. A
função de cozinhar no presídio é concedida às mulheres presas que são escolhidas pelas
chefes de disciplina a partir do interesse pelo trabalho, se há sinalização de interesse em
desempenhar essa função, e do comportamento com as detentas e funcionários do presídio.
O trabalho na cozinha pode ser remunerado ou não remunerado. Se for remunerado, o
pagamento é feito na conta da trabalhadora. Todas recebem em troca remissão do tempo de
trabalho pelo tempo da pena em que a cada três dias de trabalho, é remitido um dia da pena.
Além dessas vantagens, quem trabalha na cozinha tem alguns benefícios como ter acesso a
cozinha, onde pode armazenar alimentos por mais tempo para uso pessoal, ter acesso a
dormitórios fora do pavilhão e próximo da cozinha.
Normalmente são preparados cardápios diferentes para as mulheres presas e para os
funcionários e agentes penitenciárias. As cozinheiras afirmam que o que muda no cardápio
servido para os trabalhadores é devido a outros alimentos, que na maioria das vezes são
adquiridos pelos próprios agentes penitenciários, como molhos diferentes, carnes, massas para
panqueca ou lasanha, entre outros ingredientes, que entram na elaboração do cardápio do dia.
O cardápio dos trabalhadores é decidido por eles e providenciado pelas cozinheiras que
muitas vezes também se alimentam dessas preparações mais incrementadas.

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Quanto a distribuição e realização das refeições, as mulheres encarceradas recebem as
refeições nas marmitas e se alimentam nas próprias celas. Uma pessoa ou mais fica
responsável pela ‘correria’, termo usado para a função de recolher e entregar materiais nas
celas. A pessoa responsável pela correria fica uma parte do tempo no corredor, recolhe as
marmitas das celas, leva para a cozinha, espera que sirvam a comida e distribui as refeições
para as mulheres presas, mais tarde ela recolhe e repete o ciclo na refeição seguinte.
Observamos que cada penitenciária segue um padrão de gestão para o acesso à
alimentação, todavia em virtude das características locais existem algumas diferenças. Quanto
mais superlotado, mais limitado é o acesso a alimentação, sempre referida como alimentação
de característica monótona. Em unidades prisionais menores, é maior a possibilidade de
ofertar condições para melhorar o padrão alimentar, incrementando preparações com
ingredientes da própria feira, a exemplo da sopa, que recebe mais pedaços de carne, ou
possibilitando o acesso a aparelho de aquecimento de água nas celas, o mergulhão.
A entrada de alimentos através das visitas é uma segunda possibilidade de acesso à
alimentação nos presídios, considerando que a primeira possibilidade é o acesso à alimentação
ofertada pela instituição, porém esse acesso é limitado em virtude das normas de segurança,
estabelecidas através da Resolução 001/CECP/07, que tem por objetivo uniformizar condutas
para garantir direitos e estabelecer obrigações, bem como preservar a segurança e a disciplina
nas unidades prisionais no estado da Paraíba (PARAÍBA, 2007).
De acordo com o Art 13 dessa resolução estadual, é autorizada a entrada de legumes e
cereais apenas cozido para consumo, frutas partidas em rodelas ou fatias e descascadas,
exceto maçã, uva e banana que podem ser inteiras, observando-se o peso referido na resolução
para cada tipo de alimento, isto ocorre para que não sejam ocultados objetos proibidos e para
evitar que a entrada de frutas possa ser utilizada para destilação ou fabricação de bebidas. É
permita a entrada de leite em pó, doce em tablete e refrigerante de cor clara. Não é permitida a
entrada de alimentos congelados (PARAÍBA, 2007).
Além das restrições institucionais, outra limitação refere-se ao fato da ausência de
visitas sociais para as mulheres presas. De acordo com o Ministério da Justiça e Segurança
Pública, a Paraíba juntamente com os estados do Amazonas, Maranhão e Rio Grande do
Norte, destacam-se com a diferença na média de visitas realizadas nos estabelecimentos
masculinos que é 5 vezes maior que a média nos estabelecimentos femininos (BRASIL,
2018).

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Com relação as visitas, as colaboradoras expressam nas falas a importância desse
direito e o contentamento de poder receber outros alimentos além do que tem acesso através
da instituição:
Quem tem visita é rainha, quem não tem, não é ninguém. É muita gente sem
visita, muita! Eu sempre peço a minha mãe pra trazer um negócio ou outro
pra gente comer. Como eu cozinho tem dia que eu não quero nem chegar
perto do comer. (CC1)

Algumas unidades de sentido destacam-se no depoimento acima e se referem a figuras


de linguagem e forma metafórica de expressar a condição de dependência da visita para ter
acesso a outras possibilidades de comer.
Há naturalmente uma barreira que envolve a instituição penal e a condição de cárcere
e as relações afetivas e familiares, que culminam, muitas vezes, no abandono dos familiares,
amigos e, sobretudo, da separação dos filhos (LIMA et al, 2013), e, nestes casos, na
manutenção da fome e má nutrição das apenadas.
Segundo Leite (2017), há uma discrepância entre o número de visitas recebidas por
apenados do gênero masculino quando comparados às do gênero feminino, pois, na estrutura
familiar clássica do patriarcado, é a figura feminina que assume o papel de cuidadora. No
entanto, o encarceramento de mulheres rompe esta estrutura e desorganiza os papéis postos,
resultando na negligência do cuidado para com a mulher, quando esta não depende de outra
mulher.
A comida trazida pelas famílias é responsável pelo resgate à identidade individual das
apenadas, tornando-se o principal elemento pré-prisional, um veículo de expressão e
renovação de vínculos externos, pois os alimentos, muito além de nutrir, significam e
comunicam (ROSANELI et al, 2015). No entanto, algumas barreiras estruturam-se neste
sentido, como a distância e os gastos para visitações, corroborando nos mais diversos cenários
(PEREIRA, 2016)
Quem não recebe visita desenvolve outras estratégias para adquirir produtos entre as
mulheres presas. Uma dessas estratégias é a troca ou ‘venda’ como elas se referem ao trabalho
dentro das celas. É como uma troca de favores, mas organizada com valores e pré-requisito
entre as próprias mulheres encarceradas. Podemos observar no trecho a seguir, quando uma
colaboradora explica o processo de trocas:
Aqui a gente tem oportunidade, como tem muita gente que não tem visita,
então a gente tenta ajudar umas as outras, tá entendendo? Troca de favores,
se eu lavo o seu prato durante a semana inteira você me dá uma carteira de
derby, com a carteira de derby eu posso comprar uma palma de banana ou

57
posso comprar três bolachas, se eu fizer uma faxina também já ganho algo
em troca. A gente pede para fazer faxina, pergunta, se oferece para fazer
faxina que é organizada em escala, se oferece para lavar pratos, lavar
roupas, e é assim que a gente ganha e consegue comprar os nossos
materiais. (C1)

Ainda para quem não recebe visita, o Estado mensalmente entrega um kit de higiene
contendo um creme dental, um sabonete, um pacote de absorvente e um xampu. Ademais, o
acesso das mulheres a alimentos e produtos externos ao que é oferecido pela instituição
prisional, além das alternativas citadas anteriormente, se dá quando entidades religiosas ou
filantrópicas fazem doação às unidades prisionais.
Como estratégias para armazenamento e conservação, existem alguns mecanismos
desenvolvidos pelas próprias mulheres encarceradas para manter os alimentos em bom estado
de consumo. Entre esses mecanismos há a salinização de água onde o alimento pode ficar
imerso. Alimentos como queijo, presunto e mortadela ficam imersos na solução de água com
sal ou água com tempero em pó tipo sazon. Esse último acontece em penitenciárias onde não
são permitidos entrada de sal nas celas.
Outra estratégia é para manter a temperatura dos líquidos. Para manter frio, utiliza-se o
recipiente de plástico com água ou refresco enrolados em toalha molhada ou imersos em
balde com água. Para manter a temperatura quente, a exemplo do café, as mulheres pegam o
forro do colchão ou a espuma de um colchão e costura ao redor formando uma capa de
espuma para garrafas de plásticos e mantendo, dessa forma, aquecido.
A promoção da garantia do direito à alimentação passa pelo acesso ao abastecimento e
disponibilidade, de forma contínua, de água potável. A água também é entendida como
alimento, além disso, a água possui grande importância para o preparo dos alimentos e na
garantia da higiene. Assim, podemos dizer que o Direito Humano à Água compõe o Direito à
Alimentação. Nesse sentido, são reconhecidas como violações ao direito à alimentação,
passíveis de interposição de instrumentos de recurso para exigir a sua garantia, situações em
que as pessoas estão passando sede ou tendo acesso inadequado ou dificultado à água limpa e
a saneamento de qualidade (BRASIL, 2014).
O acesso à água das mulheres privadas de liberdade na Paraíba pode ser refletido a
partir dos relatos a seguir:

A gente só tem acesso à água dentro do banheiro, a gente tem que encher as
nossas garrafas e deixar perto da nossa cama, quem dorme no chão deixa
no cantinho no chão as garrafas e toma. O único lugar que tem água na cela

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é o banheiro. A gente lava os pratos no banheiro, lava a verdura no
banheiro quando vem de casa, lava fruta dentro do banheiro (C1).

Aí para tomar a gente coloca numa garrafa a água do chuveiro, coloca na


garrafa, e sempre, sempre que colocamos para deixar um pouco parecida
com a da geladeira, enrolamos numa toalha molhada, aí coloca dentro de
um balde que tenha bastante água para ficar parecendo que ela está gelada,
e também não fica com muito cloro (C2).

Observamos que a Penitenciária Feminina de Campina Grande possui as maiores


limitações com relação ao acesso a água devido ao racionamento que a cidade enfrenta há
anos. A falta de água na cidade é de dois a três dias por semana e seu impacto pode ser
percebido conforme a fala abaixo:

Água é assim, chega aí passa... É difícil água aqui. A gente guarda, tem uns
acessórios de guardar a água para fazer a comida. E tem as caixas de lavar
a louça essas coisas, mas é separada, é tampadinha e bem. É muito difícil, é
muito difícil até para elas lá dentro também que às vezes não chega água. É
difícil a água aqui (CC4)

Estudo realizado por Dunk (2018), que discute alimentação, prisão e pena, e apresenta
o diagnóstico sobre a alimentação nas instituições prisionais elaborado a partir de informações
contidas em relatórios oficiais de inspeções, realizadas em algumas unidades prisionais por
representantes do Poder Legislativo, Judiciário e Executivo. Em períodos entre 2007 a 2017,
os dados referentes à Paraíba são de 2011 e revelam que na Paraíba os dados são de 2011 e
indicam que problemas de fornecimento de água e esgoto são gerais e gravíssimos em
praticamente todas as unidades prisionais. Destaca a situação de esgoto a céu aberto, que
acarreta em odor desagradável, bem como a proliferação de insetos e animais. Refere também
que há unidades prisionais com problemas de abastecimento de água.
Na Penitenciária Feminina de Patos, o acesso a água tem uma característica que difere
das outras unidades, nessa unidade as mulheres receberam em cada cela um pote para
armazenar a água e manter mais fria, conforme é manifestado através da fala da colaboradora
a seguir:
É... a direção da unidade deu a gente a regalia da gente ter um pote, aqueles
potes de barro, que a água fica gelada na cela (C7).

A fala da colaboradora sobre o tema acesso à agua no sistema prisional feminino do


estado, permite compreender como a mulher em situação de prisão percebe seu papel no
sistema criminal. Regalia, o termo usado para referir a concessão da gestão a disponibilizar
um objeto de cerâmica que possibilita manter a água em temperatura agradável para o
consumo, indica a noção de privilégio.

59
Tal como o direito à alimentação adequada, entre outros como educação e trabalho,
foram necessários muitos anos, desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)
para que o direito humano à água (DHA) viesse a ser efetivamente considerado um direito
humano. A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2010,
reconheceu, por meio da Resolução n° 64/292 o direito à água potável e limpa e o direito ao
saneamento como direito humano que é essencial para o pleno gozo da vida e de todos os
direitos humanos” (COSTA, 2014).
As necessidades alimentares especiais estão referidas na Política Nacional de
Alimentação e Nutrição como as necessidades alimentares, sejam restritivas ou
suplementares, de indivíduos portadores de alteração metabólica ou fisiológica que causem
mudanças, temporárias ou permanentes, relacionadas à utilização biológica de nutrientes ou a
via de consumo alimentar. Dessa forma, são exemplos de necessidades alimentares especiais:
erros inatos do metabolismo, doença celíaca, HIV/aids, intolerâncias alimentares, alergias
alimentares, transtornos alimentares, nefropatias, etc (BRASIL, 2012).
A Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e
Egressas do Sistema Prisional, refere a garantia de direitos básicos, entre eles a alimentação e
inclui, enquanto meta, o respeito aos critérios nutricionais básicos e casos de restrição
alimentar (BRASIL, 2014). Nesse sentido, essa categoria parte do questionamento de como
ocorre a alimentação para as mulheres com necessidades alimentares especiais no sistema
prisional paraibano.
Um aspecto importante para refletir sobre necessidades alimentares especiais no
sistema prisional feminino refere-se à vivência da maternidade no cárcere. Condição que
exige cuidados especiais que também envolve a alimentação. As mulheres grávidas no
sistema prisional da Paraíba ocupam celas em uma área especial, chamada de berçário. No
berçário as mulheres têm direito a permanecer desde que descobrem que estão grávidas, até os
seis meses após o nascimento do bebê. Em relação à alimentação, de acordo com a técnica
administrativa responsável pela licitação de alimentos para as unidades prisionais da Paraíba,
o almoxarifado geral acrescenta na feira das unidades que tem berçário, maior quantitativo de
leite, adição de farinha láctea e amido de milho com farinha de arroz. Se houver dificuldade
com amamentação, as mães oferecem para o bebê o leite, da marca Italac, que as unidades
recebem atualmente nas feiras. As diretoras das penitenciárias afirmaram que é flexibilizada a
entrada de outros alimentos, como maior quantidade de frutas, pelos familiares.

60
A condição da vivência da maternidade no sistema prisional é desfavorável. Apesar do
direito de permanecer com o filho por um período de tempo de até seis meses, e sob a lei que
preconiza que deve existir a estrutura de berçários no sistema prisional, para que as mães
privadas de liberdade também possam cuidar dos filhos, inclusive amamenta-los, há ainda a
separação das crianças do cuidado da mãe institucionalizada e entregue a algum responsável,
sendo essa separação uma das maiores fontes de sofrimento em seus cotidianos (OLIVEIRA,
2013).
Observamos que em todas as penitenciárias o acesso à alimentação diante das
necessidades alimentares especiais é limitado. É necessário um laudo médico para então
solicitar à direção do presídio providências que visem oferecer uma alimentação adequada,
porém normalmente as substituições são realizadas com alimentos que a penitenciária já
recebe usualmente, que dificulta aumentar a abrangência de possibilidades para substituições
necessárias e restringe ainda mais a oferta de alimentos. Os trechos a seguir ajudam a refletir
como essa problemática é percebida pelos sujeitos que vivenciam o contexto do cárcere:
Não tem outra alternativa, a gente não tem nem de onde tirar. A gente já
pede pra colocar quase nada de sal já pra... a gente não tem estrutura pra
da alimentação diferenciada. Se for constatado que uma presa tenha algo
desse tipo, se a medica ver que ela precisa de outras coisas que não são
fornecidas no presidio, obvio que ela vai pedir autorização pra receber da
família; mas fora isso, ela só pode receber da família as mesmas coisas de
todo mundo. E preciso de uma autorização judicial mediante o laudo do
médico para que a gente trate tudo de acordo com a lei. (IC2)

Tipo, é pressão alta? Retira um pouco do sal. É problema de estômago?


Retira um pouco do tempero. De intolerância não, mas de pressão alta,
gastrite aí a gente resolve por aqui mesmo porque é uma coisa do cardápio
(ingredientes) e a gente mesmo tira. (IC5)

Para viabilizar o acesso à alimentação das pessoas com necessidades alimentares


especiais, privadas de liberdade, além do que é ofertado na unidade prisional, que
compreendemos como limitado, uma alternativa é receber da família alimentos que
contribuam para uma alimentação mais adequada. Nesse sentido, novamente é levantada a
questão do abandono familiar e da ausência de visitas mediante situações em que o estado não
consegue garantir a realização de direitos para as pessoas custodiadas e responsabiliza a
família, que muitas mulheres não têm quem possa fazer esse papel, para viabilizar o que deve
ser cumprido pelo próprio sistema criminal. Essa contradição onde o sistema criminal não
consegue garantir o que determina em suas leis viola aspectos do direito à alimentação como a
disponibilidade de alimentos, adequação, acessibilidade e estabilidade do fornecimento.

61
O quadro da alimentação desenhado no sistema penitenciário destoa do que é
preconizado pelo Guia Alimentar para a População Brasileira. O mesmo tem caráter norteador
das ações de alimentação e nutrição e das práticas alimentares da população brasileira, além
de conceituar a alimentação adequada e saudável, afirmando que a alimentação diz respeito à
ingestão de nutrientes, mas também indicando os alimentos que contêm e fornecem os
nutrientes, como alimentos são combinados entre si e preparados, as características do modo
de comer e as dimensões culturais e sociais das práticas alimentares (BRASIL, 2017).
Considerando a alimentação como vital para a manutenção da vida no aspecto
biológico, social e cultural, o Estado, ao manter pessoas sob sua custódia, obriga-se a mantê-
las adequadamente alimentadas, por força de normas ético jurídicas. Nesse sentido, a ausência
de alimentação adequada em um ambiente institucionalizado, como a prisão, configura
castigo corporal e psicológico. Ressalta-se que o direito à alimentação funciona então como
um limite à atividade política de punir, uma reserva ética-jurídica, que visa resguardar a
própria dignidade da pessoa humana e diminuir o sofrimento no cárcere (DUNCK, 2018).

5.3 PERCEPÇÃO DAS MULHERES PRIVADAS DE LIBERDADE A RESPEITO DO


DIREITO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA

Essa categoria reflete a compreensão das mulheres privadas de liberdade sobre


significados e sentidos da alimentação. A questão norteadora dessa categoria é “Fale sobre o
que significa alimentação para você?” Observamos que há uma diversidade na compreensão
dos significados associados à alimentação: liberdade, direito, família, domingo, aceitação,
Deus, diversidade, nutrientes, dificuldade, fome, pobreza, desperdício, estabilidade.
Compreendemos que os sentidos atribuídos ao significado da alimentação são também
reflexos da experiência com o cárcere e do processo social e histórico em que as mulheres
vivenciam a sua relação com a alimentação. Em seguida, algumas falas significativas sobre
essa questão apontam pistas para a problematização da temática.
É um direito. A gente ta privada da liberdade, a gente tem direito pelo
menos à alimentação. Então no meu ponto de vista a unidade tinha que ter
responsabilidades de cuidar para que a alimentação suprisse as
necessidades (C7).

A ONU estabelece regras mínimas para o tratamento de reclusos, adotadas também


pelo Brasil e conhecidas como regras de Nelson Mandela. Estas norteiam princípios básicos
para o comprometimento do Estado com a dignidade da pessoa em situação de cárcere e, no

62
que compete à alimentação, orienta que “a administração deve fornecer a cada recluso, a
horas determinadas, alimentação de valor nutritivo adequado à saúde e à robustez física, de
qualidade e bem preparada e servida” (BRASIL, 2016, p. 23).
Alimentação na prisão moderna funciona como um castigo, permanente e arbitrário,
mas institucionalmente aceito, fundado no racismo institucional, apesar do Estado se obrigar a
assegurar a alimentação como direito social a todos, sem discriminação (art. 6º, CF/88) e a
prestar assistência material ao preso (art. 12, Lei 7.210/84) (DUNCK, 2018).
A compreensão sobre a alimentação emerge nas falas das colaboradoras sob diversos
aspectos que remetem a alimentação a dádiva divina, afeto, comensalidade e liberdade.

Significa que a gente tem que agradecer a Deus pelo deitar e o levantar e a
gente ter o que comer porque tem tanta gente que não tem o que comer, e a
gente aqui têm, quer dizer a gente em casa também tem né? Mas às vezes a
gente passa por aperto. (CC2)

Tem gente que xinga, que joga, e diz ‘’eu lá quero isso’’ eu acho que é gente
que nunca conheceu a fome né. (C4)

O atual Informe sobre o Direito Humano à Alimentação e à Nutrição Adequadas


2019: autoritarismo, negação de direitos e fome, lançado em novembro de 2019,
destaca que o Brasil saiu do Mapa da Fome da FAO em 2014, o que significa que menos de
5% de sua população vivia em situação de insegurança alimentar. Apesar das causas
estruturantes da desigualdade e da violação ao Direito Humano à Alimentação Adequada
persistirem nesse período, especialmente em razão do modelo de desenvolvimento e do
modelo de produção e consumo de alimentos adotado no país, a redução da pobreza e a
ampliação do acesso às políticas públicas foram determinantes para diminuir a pobreza e para
que o país reduzisse o número de pessoas sofrendo de fome. Apesar disso, ressaltamos que
alguns grupos como povos indígenas, povos e comunidades tradicionais, e as mulheres negras
(aqui cabe lembrar que a população no sistema prisional é predominantemente negra),
continuavam apresentando os indicadores mais altos de insegurança alimentar e nutricional
(FIAN BRASIL, 2019).

Assim, no meu ponto de vista, a alimentação adequada é só nos domingos


que é o que vem da família. (C2)

Pra mim a alimentação mais saudável é a liberdade, para mim é essa. Você
está com a sua família, almoçar com a sua família. (C11)

63
O significado e dimensão afetiva da alimentação contempla a relação entre as pessoas,
está presente nas refeições familiares, momentos de encontro, de conversação, de
comensalidade, que relaciona a criação e manutenção de formas de sociabilidade potentes e
prazerosas. Nesse sentido, as mulheres ocupam uma posição fundamental na alimentação da
família, pois são elas que controlam, compram os alimentos, preparam, socializam os filhos
para aceitá-los e distribuem a comida entre os componentes da família. Além disso, as
mulheres têm maior acesso do que os homens a informações acerca da alimentação,
provenientes de várias fontes e de programas diversos de orientação. As mulheres são
mediadoras entre universos nos quais predominam regras alimentares diversificadas e podem
ser agentes transformadores de hábitos alimentares (ROMANELLI, 2006).
A comida, o afeto e a identidade estão emaranhados num complexo tecido social. São
laços indissociáveis, que fortalecem o povo e o lugar. No Brasil, as organizações e redes
sociais integradas ao Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
sinalizam a importância de repensar a relação que temos com os alimentos, fortalecendo-os
como elemento da memória, da identidade e do afeto, no sentido ainda de reconhecer a
comida como patrimônio constitui-se com suas especificidades culturais e com suas lutas pelo
direito à alimentação adequada e saudável (FBSSAN, 2019).
No sistema penitenciário? Tem que ter alimentação né. Agora assim tão
saudável como a gente quer acho que não tem como ser. Porque assim, já
vem todos os mantimentos né? Feijão, arroz, farinha, essas coisas. Eu acho
que para o preso tá bom né. Para mim como presa eu aceito, se eu não
quisesse ta aqui eu não tinha aprontado né. Não tenho que estar exigindo
não, nesse ponto aí eu sou muito correta, muito justa. (C4)

A alimentação passa, portanto, a compor o conjunto de sinais e sentidos atribuídos às


penas para torná-las temíveis, para que suas desvantagens se personifiquem na ausência de
qualquer prazer (FOUCAULT, 2014). A fome como instrumento de penalização nos presídios
remete aos cenários de miséria ligados à história do Brasil, retomando os modelos coloniais,
onde nasce a prisão-pena, tendo como foco não a disciplina do corpo, mas a incapacitação de
cativos, libertos, menores e escravos fugitivos (DUNK, 2018). Nesta perspectiva, o comer e a
comida no sistema penitenciário articulam-se como negativas do reconhecimento da cidadania
dos sujeitos através da regulação dos “prazeres da boca” (CUNHA, 2018).
Sentidos são complexos e abrangentes. Estes são revestidos de valores simbólicos
expressos na linguagem que tenta traduzir o significado da alimentação. Esses sentidos são
refletidos no processo social onde as mulheres vivenciam suas trajetórias e nos permite seguir
uma análise com foco na condição e no perfil da realidade que representam. Por isso também

64
tão necessário valorizar a compreensão de quem vivencia uma realidade subalterna sobre
temas que dizem respeito a sua condição humana.
Esta categoria também reflete sobre as mudanças alimentares vivenciadas pelas
colaboradoras a partir do encarceramento. Parte do questionamento sobre como se
caracterizava a rotina alimentar antes da prisão e durante esse período, se houve mudanças,
quais mudanças e que impactos foram observados com essa transição.
As respostas se dividem naqueles que referem que não houve mudança porque antes
de ser presa já se alimentava com uma rotina parecida de preparações semelhantes ao que é
servido no presídio, e mulheres que afirmam que houve diferença na alimentação destacando
a limitação do acesso, a impossibilidade de escolhas alimentares, e a ausência de preparações
que representam as suas preferências alimentares, podendo repercutir na relação com a
comida: prazer, identidade cultural, pertencimento.
Algumas mulheres, ao comparar a alimentação antes e durante o período em prisão,
apontam para situações em que a condição social vivenciada ameaça o direito à alimentação
antes mesmo do encarceramento:
A minha era simples: Feijão arroz, as vezes era ovo, salsicha quando dava
tempo cozinhar. Porque negócio de carroça não tem muito futuro não.(CC4)

Porque às vezes eu passava necessidade aí aqui a comida é melhor, assim,


para mim né, não sei para as outras pessoas que a gente não sabe a vida
delas, mas a minha eu me alimento melhor aqui do que na rua (CC3).

As mulheres institucionalizadas no sistema prisional em sua maioria são


jovens, solteiras, possuem filhos, têm baixo nível de escolaridade e renda familiar precária,
oriundas de trabalhos informais, ocupações de baixa qualificação com baixos salários ou em
situação de desemprego. Muitas vezes são pessoas com vínculo familiar precário e que
atravessam problemas com estigmatização social e altos níveis de problemas de saúde com
ênfase no sofrimento mental (LIMA et al, 2013).
Romanelli (2006) chama a atenção para o fato de que a dieta da população
pobre é monotonamente repetida, menos por falta de conhecimento do que pelo significado
que os alimentos considerados “fortes” ocupam no sistema classificatório alimentar, bem
como pelas condições socioeconômicas em que vivem.
Em seguida, trechos que afirmam diferenças negativas da alimentação comparando a
experiência antes do cárcere e durante o período em prisão. Observamos que a noção dos
alimentos vegetais como símbolo de alimentação saudável também emerge no discurso das

65
mulheres. Outro sentido importante que aparece na fala de uma das mulheres é a aproximação
da condição de felicidade na reflexão sobre a alimentação, apontando ainda para a ideia de
que esse entendimento só foi possível a partir da vivência em outra realidade, mais
desafiadora, no caso o espaço de prisão.

Mudou tanta coisa. Me alimentava muito bem, né? Eu pensava que eu não
era feliz, e eu vim descobri isso aqui dentro. Eu era feliz, é porque eu não
sabia... Mas eu vim descobrir aqui dentro. (C11)

A superlotação dos estabelecimentos penais, além de tornar mais difícil o acesso


equânime aos direitos básicos, traz outras consequências, tais como: indisciplina, indignação,
conflito, precariedade de higiene, aumento do consumo de drogas, opressão e de diversas
formas de violências físicas e psicológicas. Além disso, as pessoas privadas de liberdade no
sistema prisional passam por uma ruptura brusca de perda da liberdade, autonomia e relações
familiares, sobretudo as mulheres (LIMA et al, 2013).
O processo histórico de cada indivíduo, as subjetividades da condição humana e seu
papel na sociedade influenciam na forma de ver, perceber e expressar na linguagem as
perplexidades das representações dos acontecimentos, da experiência particular ou coletiva
que envolve a alimentação. Assim também com a história e a condição social, a classe, a cor,
o lugar de fala, o engajamento ou aproximação com a criticidade da realidade, o processo
histórico do contexto onde essa população específica está inserida e as desigualdades sociais
representam os sujeitos que vivenciam esse contexto e tentam expressar na fala as
informações que são frutos da diversidade de elementos individuais e sociais.
Priorizou-se ainda compreender como a alimentação no sistema prisional de mulheres
na Paraíba é avaliada do ponto de vista das mulheres que estão presas e das informantes-chave
que vivenciam o sistema prisional na gestão. Houve aspectos favoráveis e fragilidades. Os
aspectos favoráveis decorrem em alguns relatos, como já apontado anteriormente nessa
discussão, a submissão da mulher em conflito com a lei ao estado de seu encarceramento, a
qual se coloca em condição inferior e com pouca dignidade para apontar os entraves nas
questões que são transversais ao acesso à direitos básicos, como se a condição de presa fosse
suficiente para silenciar suas impressões, sentimentos e representações.
Pra mim nada é ruim, tudo é bom. Eu to presa mesmo.(risos) Nada é ruim
pra mim, tudo é bom. Tá presa, tem que comer o que a casa oferece. (CC6)

66
Outras falas apontam para a insatisfação com a alimentação que é oferecida no
presídio, reconhecem as dificuldades, retornam a falta de alguns alimentos considerados
importantes para compor uma alimentação saudável, reforçam a liberdade como condição
para a satisfação da alimentação.

O direito à alimentação adequada, eu acho que seja o direito a uma


alimentação suficiente e equilibrada. Uma alimentação em quantidade
suficiente, mas que contenha todos os nutrientes ali que a gente precise. Que
tenha fruta, verdura, legume, proteína, cereais. Né? A gente sabe que não
tem tudo isso aqui, que a gente conhece as dificuldades, mas a gente tenta
fazer ao máximo com o que a gente recebe. (IC5)

Por uma parte para melhor, por uma parte para pior, porque assim não
adianta a gente comer tudo e não tá no canto que... né. Aí eu preferia tá na
rua, com certeza, passando necessidade do que tá aqui (CC3)

A gente não tem acesso à comida de qualidade, saudável é raro vir essas
coisas, quer dizer uma verdura, por exemplo, comer uma salada, não tem, e
logo eu que sou diabética não posso está comendo tudo, aí é que piora.
(CC1)

Os trechos acima trazem aspectos que avaliam a alimentação problematizando a sua


condição pessoal enquanto mulher presa com diabetes, com suas preferências alimentares e
suas necessidades, utiliza em sua linguagem unidades de sentido para expressar o
contraditório, que não se tem acesso contínuo (raro) à alimentação saudável e a obrigação de
comer e aceitar (comendo tudo) que o Estado oferece.
A maioria das pessoas que se encontra nos presídios é culturalmente, socialmente e,
por vezes, fisicamente mais frágil, estando assim mais vulneráveis e, por consequência, mais
disponíveis para o adoecimento. E isso remete aos direitos humanos uma forma de buscar
dignidade para essas pessoas (LIMA et al, 2013). Em consonância com a problemática
apresentada na Política Nacional de Alimentação e Nutrição no Brasil (2013), os indicadores
de saúde e nutrição refletem as desigualdades de renda e raça que ainda persistem no país:
mulheres negras e de baixa renda apresentam maiores percentuais de doenças crônicas quando
comparadas a mulheres, da mesma idade, brancas e de renda mais alta (BRASIL, 2013).
Refletimos sobre os desafios, situações-limite e queixas sobre o direito humano a
alimentação na condição de privação de liberdade. A compreensão dos desafios foi presente
nas entrevistas de forma transversal, mesmo para as mulheres que avaliaram de forma positiva
a alimentação no sistema prisional, mas também mostraram insatisfação em alguns aspectos

67
seja na pouca variação do cardápio, ou no sentido de falta de alimentos que faziam parte do
seu cotidiano antes da prisão, ou ainda da impossibilidade de escolha alimentar.
A principal queixa que podemos observar em todas as entrevistas foi a falta de
alimentos de origem vegetal, seja para tempero, salada, comer in natura. Em seguida, a
monotonia do cardápio sobretudo de preparações de origem animal que variam entre frango e
fígado foi também uma das maiores reclamações. O trecho a seguir ilustra como esse desafio
é percebido pela colaboradora:
A minha principal queixa é o cardápio que não varia que é o fígado. Tudo
bem que a gente precisa do fígado que tem a vitamina e tudo, mas é demais
esse fígado, tem dia que o fígado está amargo, tem dia está verde, ninguém
aguenta, na minha cela mesmo ninguém mais come fígado, a gente deixa de
almoçar porque vem fígado (C1)

Observamos que a rejeição da comida pode ser um dos elementos para o desperdício
que também é apontado como um desafio da alimentação no sistema prisional. Esse aspecto
foi mais enfatizado nas entrevistas das informantes-chave que administram as unidades
prisionais.
Em algumas entrevistas, foram apontadas queixas como o baixo teor de sal na comida,
mas que há uma compreensão que o teor de sal deve ser baixo para evitar doenças. A falta de
ingredientes para elaboração de receitas mais completas também foi apontada como desafio
tanto pelas mulheres presas, quanto pelas gestoras e sobretudo pelas cozinheiras. Um dos
exemplos é a sopa, com poucos ingredientes além da base em pó que vem na feira.
Outros desafios apontados, principalmente por parte da gestão, dizem respeito a
estrutura dos prédios e da cozinha, por serem antigos e sem reforma. Além disso, a falta de
equipamentos, a manutenção dos equipamentos que estão nas unidades, falta de utensílios,
entre outros elementos como destacados na fala da informante-chave:
O principal desafio é o ambiente. Para que sirva o alimento seguro, porque
não é só questão de liberar a alimentação, mas onde que você faz
alimentação, então precisa de reforma da infraestrutura que é muito
precária. Como eu sempre falo, por exemplo, se tem um buraco naquele
local mas que ao menos o buraco seja higiênico. As estruturas são antigas
demais, tem esgoto a céu aberto. Tem vez que tem a comida e não tem onde
cozinhar. Faltam panelas, equipamentos, os equipamentos que tem não tem
manutenção. Agora, nós temos verdadeiros artistas, tem panela furada e
eles fazem massa de pão e tampam o buraco para cozinhar. Até uma panela
que explodiu eles usaram o aço para fazer facas (IC1).

A informante-chave também refere que orienta a higienização do ambiente, mas que


este é tão falho que apenas a higienização não é suficiente. Destaca-se ainda na fala anterior

68
que as pessoas presas tentam encontrar alternativas criativas para o uso dos equipamentos e
utensílios que apresentam defeito.
Também foi apontado pelas gestoras a falha de entrega dos fornecedores como um dos
problemas mais comuns e que determina outras situações como a falta de ingredientes, a
repetição do cardápio, a necessidade de reelaboração das preparações com poucas
possibilidades de variedade de alimentos.
Em todas as entrevistas às gestoras, informantes-chave, onde foi questionado se existe
algum documento orientador sobre alimentação no sistema prisional, seja resolução, portaria,
política, lei, plano de trabalho, no âmbito local, estadual ou federal, a maioria afirmou que não
tinha conhecimento de nenhuma orientação nesse sentido. Apenas uma informante-chave
citou a Lei de Execução Penal em que refere que toda pessoa em situação de cárcere tem
direito à alimentação. Outra informante-chave citou que usa como referência o PAT
(Programa de Alimentação do Trabalhador) tanto na indústria como no sistema prisional da
Paraíba e que ouviu falar que existe uma orientação na SEAP/PB sobre a quantidade de
calorias que as pessoas presas deve ter como referência diária, mas que não teve acesso a esse
documento. Após a entrevista, a pesquisadora solicitou esse documento à SEAP/PB, mas não
houve informação da existência dessa orientação.
Sobre as possibilidades de enfrentamentos dos desafios identificados anteriormente, a
ideia é compreender como os sujeitos encaram os problemas vivenciados na realidade do
cárcere, com relação à alimentação, e quais estratégias ou iniciativas são utilizadas para
diminuir as dificuldades.
Todos os relatos referem a visita como a principal estratégia para encarar as
dificuldades. São as visitas que levam de alguma forma um pouco do mundo externo ao
cárcere. Quem não recebe visita está sujeito a negociar com as outras mulheres presas para
que possam dividir o que recebem. Esse processo de negociação é a ferramenta das mulheres
encarceradas para conseguir encarar os desafios, como expressa a fala a seguir:
A gente compartilha o pouco que tem, se eu tiver alguma fruta e aquela
outra menina não tiver, o que eu comer vou dar para ela, por exemplo, se eu
levo a minha comida e tem duas, três que não aguentou comer a comida do
convívio, eu compartilho com elas mesmo que o que eu fique para mim seja
bem pouco, mas não tem problema, dá para compartilhar com quem estiver
com fome. (CC7)

Além da negociação nas celas, outro elemento comum enfatizado é a necessidade de


se adaptarem diante das situações problemáticas, a fim de evitar maiores conflitos. O adaptar-

69
se aparece nas falas das entrevistadas com múltiplos sentidos, as mais significativas para o
ponto de vista desse estudo são: adaptar-se ao cardápio, adaptar-se a convivência, adaptar-se
ao sistema.
Na busca pela redução das experiências de sofrimento, as mulheres constroem,
diariamente, estratégias de enfrentamento para adaptarem-se à institucionalização prisional e
aos seus desdobramentos. E é essa busca que surge como força impulsionadora de suas
atividades para consigo mesmo e com seu próximo. Nesse sentido, tomam como alternativa a
espiritualidade e a resiliência, como parte da vida do ser humano e de sua condição de
existência, buscando estabelecer um movimento de adaptação diante das adversidades e a
possibilidade da construção de um novo caminho a partir do enfrentamento de ambientes e
situações estressoras (LIMA et al, 2013).
Os relatos das colaboradoras nem sempre apontou para a solidariedade entre as
mulheres presas, algumas relatavam que tem celas que há mais facilidade em manter boa
relação com as pessoas, mas em geral é comum conflitos, brigas, competitividade e
indiferenças. O clima potente de tensão.
Queiroz (2015), em seu livro “Presos que Menstruam”, sugere que a situação sobre o
clima de pouca solidariedade entre as mulheres está relacionada com as análises da feminista
e escritora Simone de Beauvoir que discute a relação entre as mulheres e refere que as
mulheres estão acostumadas a enxergar a outra como rival, onde um dos elementos é a
atenção e o amor masculinos. Enquanto isso, os homens costumam buscar os outros como
cúmplices de suas conquistas, para validar sua masculinidade, por exemplo. Nesse sentido, na
sociedade patriarcal a competição entre as mulheres é uma estratégia para dividi-las e mantê-
las submissas.
Assim como adaptar-se à realidade pode representar uma alternativa de autocontrole, é
também percebido, pelas colaboradoras, a necessidade de responsabilização da secretaria
(SEAP/PB) como instância que deve garantir os direitos das mulheres custodiadas pelo
estado.
Ao questionar sobre a agenda de encontros das diretoras dos presídios junto a
secretaria, todas informaram que não existe uma rotina sobre planejamento, avaliação ou
elaboração de estratégias, esses encontros acontecem apenas quando é solicitado, mediante
uma demanda local. Com relação às principais pautas da gestão penitenciária, a reintegração
social é a mais apontada como pauta prioritária.

70
A respeito do problema que refere a atrasos e falta de entrega dos fornecedores, as
informantes-chave explicam que essa demanda deve ser resolvida entre as penitenciárias
diretamente com os fornecedores locais e almoxarifado das penitenciárias. Se for problema
com entrega de fornecedor ao almoxarifado geral, então essa demanda deve ser dialogada
entre fornecedor e almoxarifado geral da SEAP/PB.
Investigar a situação das condições de alimentação da mulher encarcerada contribui
para possibilitar a abertura de caminhos na direção da construção de políticas públicas
efetivas e eficientes, capazes de trabalhar a alimentação deste segmento populacional a partir
de uma concepção mais abrangente, que substitua o plano emergencial (de simples acesso a
alimentos para sobrevivência biológica) por um entendimento da questão alimentar como um
dos requerimentos que, “juntamente com outros de ordens diversas, compõem as fontes de
energia que atendem à demanda necessária de uma ordem particular de condicionantes
essenciais ao pleno desenvolvimento da pessoa humana” (GOMES JUNIOR, 2015; p. 65).

71
6 CONSIRAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa, ao partir da compreensão das mulheres no sistema prisional, dá voz as


experiências silenciadas sobre a realidade que vivenciam no cárcere. Dessa forma, o trabalho
se preocupou em perceber os sujeitos como autores de sua própria história, identificando
como pessoas ativas do processo histórico, social e cultural em que estão inseridos e
provocando a construção do pensamento sobre a realidade e os fenômenos que cercam.
Partindo dessa premissa, foi investigada a efetivação do Direito Humano à
Alimentação Adequada em mulheres privadas de liberdade na Paraíba. Essa análise contou
com a caracterização do acesso à alimentação, a identificação de desafios e alcances, e a
compreensão de mulheres no sistema prisional a respeito do referido direito social
fundamental. A escolha pelo estudo de caso, possibilitando a articulação entre diferentes
fontes de dados e a contextualização da realidade onde esta temática está inserida, foi
essencial para responder a questão da pesquisa e alcançar os objetivos propostos.
A relação do contexto com o Direito Humano à Alimentação Saudável, portanto, dá
subsídios para repensar as ações do Estado na garantia do DHAA, bem como do respeito à
cidadania e dignidade humana de mulheres apenadas, de forma a garantir sua qualidade de
vida e minimizar os riscos à saúde que estas possuem ao ingressar no sistema carcerário.
Além de estimular a expressão das mulheres no sistema prisional, também contempla a visão
de outros sujeitos importantes, como os profissionais e direção da administração penitenciária,
de modo a considerar novos elementos de análise, a partir do olhar da instituição prisional,
que podem ser refletidos através das experiências desses indivíduos.
O estudo de caso é um método potente para evidenciar que o cenário do sistema
prisional na Paraíba é semelhante a realidade nacional, onde o encarceramento massivo é
desproporcional às condições estruturais, o perfil das mulheres presas reafirma o racismo
institucional e a desigualdade de classe e gênero, o abandono à mulher é uma realidade que
submete ainda mais a punição social, a política de repressão ou guerra às drogas afeta
desproporcionalmente as mulheres e territórios mais vulneráveis, o encarceramento feminino
é um sistema de punição violento, patriarcal, opressor e de negação de direitos às mulheres
além do que já é historicamente inacessível.
As condições de alimentação no cárcere refletem a violação à condição de humano e
os direitos básicos constitucionais, sendo este contexto fruto de desigualdades estruturais.
Gera-se, assim, a manutenção de um sistema de opressão de mulheres, onde o Estado, na

72
medida em que deve garantir o direito à dignidade, muitas vezes, deixa de agir em prol da
manutenção e fiscalização destas condições.
A precariedade do acesso à alimentação adequada revela o descompasso das ações e
políticas de alimentação e nutrição para a população brasileira com a efetivação destas ações
em situação de desigualdade social, como as prisões, e infringindo o DHAA, gerando
manutenção da situação de Insegurança Alimentar e Nutricional (ISAN).
É necessário que o Estado assuma seu papel efetivando os princípios de cidadania e
dignidade também nos espaços em que institucionaliza pessoas em conflito com a lei e não
apenas assumir um papel de caráter punitivo. Essa responsabilidade é coletiva entre as esferas
municipal, estadual e nacional, que devem dialogar no sentido de encontrar estratégias de
superação dos desafios, compartilhar planejamento, avaliação e monitoramento.
Alguns caminhos para a consolidação da responsabilidade coletiva é a articulação de
agendas que reúna os setores envolvidos com a administração penitenciária, entre eles os
setores saúde, educação, trabalho e cultura. No caso da Paraíba, a articulação entre setores
das três esferas governamentais deve preocupar-se em garantir estrutura que ofereça
capacidade física, respeitando o cumprimento das normas administrativas correspondentes,
especialmente relativas às condições sanitárias e de produção de alimentos, acesso à agua
potável, o respeito às orientações relativas à metragem e aeração das celas. Ainda, que dê
condição às pessoas e maior acesso a cuidados especializados e ações de promoção à saúde e
à alimentação adequada, compreendendo a alimentação no perfil de saúde e doença, de modo
a fazer parte de uma agenda prioritária das ações desenvolvidas no sistema prisional.
A Administração Penitenciária da Paraíba deve garantir a contratação de profissionais
nutricionistas, respeitando o dimensionamento necessário de recursos humanos, para a gestão
da alimentação coletiva nas unidades penais. Além disso, é preciso que a gestão prisional
conheça a legislação que orienta prestação de serviços de alimentação e nutrição às pessoas
privadas de liberdade e aos trabalhadores no sistema prisional, em consonância com as
políticas de alimentação e nutrição vigentes. Somado a isso, deve oferecer um leque de
alimentos saudáveis mais diversos, que inclua, conforme preconiza o Guia Alimentar da
População Brasileira, grãos, raízes, tubérculos, farinhas, legumes, verduras, frutas, castanhas,
leite, ovos e carnes – e variedade dentro de cada tipo – feijão, arroz, milho, batata, mandioca,
tomate, abóbora, laranja, banana, frango, peixes etc.
Essas iniciativas devem ser pensadas em coerência com a problematização da
realidade, das questões estruturais que atravessam o modelo do sistema penal e punitivo, de

73
modo a romper com a estruturação opressora do sistema e defender a dignidade, bem-viver e
liberdade das mulheres.
A devolutiva deste trabalho vem sendo elaborada em torno de propor uma discussão
com a Secretaria de Atenção Penitenciária e Coordenação de Saúde no Sistema Prisional na
Paraíba, com a apresentação de um relatório técnico, apresentando os principais achados da
pesquisa. A discussão pretende discutir alternativas para a gestão considerando os desafios
que limitam ou tornam inacessíveis os direitos às mulheres no sistema prisional.
Considerando a conjuntura brasileira de retrocessos e desmontes das políticas e
estratégias que visam a garantia de direitos, sobretudo no atual governo federal, sugere-se que
mais estudos possam ser desenvolvidos na perspectiva abordada por esta pesquisa, de modo
que contemplem o impacto do encarceramento sobre o perfil nutricional e consumo alimentar,
a avaliação da segurança alimentar e nutricional, cultura, ato de comer e comensalidade e a
reflexão sobre sistema alimentar, produção, aquisição e distribuição de alimentos para a
população privada de liberdade.

74
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82
APÊNDICES

APENDICE 1: TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA GRAVAÇÃO DE VOZ

Eu, _________________________________, depois de entender os riscos e benefícios que a


pesquisa intitulada O DIREITO HUMANO A ALIMENTAÇÃO ADEQUADA NO
SISTEMA PRISIONAL FEMININO DA PARAÍBA poderá trazer e, entender especialmente
os métodos que serão usados para a coleta de dados, assim como, estar ciente da necessidade
da gravação de minha entrevista, AUTORIZO, por meio deste termo, os pesquisadores
Cláudia Helena Soares de Morais Freitas (coordenadora) e Luciana Maria Pereira de Sousa
(colaboradora) a realizar a gravação de minha entrevista sem custos financeiros a nenhuma
parte.
Esta AUTORIZAÇÃO foi concedida mediante o compromisso dos pesquisadores acima
citados em garantir-me os seguintes direitos:
1. poderei ler a transcrição de minha gravação;
2. os dados coletados serão usados exclusivamente para gerar informações para a pesquisa
aqui relatada e outras publicações dela decorrentes, quais sejam: revistas científicas,
congressos e jornais;
3. minha identificação não será revelada em nenhuma das vias de publicação das informações
geradas;
4. qualquer outra forma de utilização dessas informações somente poderá ser feita mediante
minha autorização;
5. os dados coletados serão guardados por 5 anos, sob a responsabilidade do(a)
pesquisador(a) coordenador(a) da pesquisa Luciana Maria Pereira de Sousa, e após esse
período, serão destruídos e,
6. serei livre para interromper minha participação na pesquisa a qualquer momento e/ou
solicitar a posse da gravação e transcrição de minha entrevista.

João Pessoa (__/___/___).

____________________________________
Assinatura do participante da pesquisa

____________________________________________
Assinatura e carimbo da pesquisadora responsável

ESTE DOCUMENTO DEVERÁ SER ELABORADO EM DUAS VIAS; UMA FICARÁ


COM O PARTICIPANTE E OUTRA COM O PESQUISADOR RESPONSÁVEL

83
APENDICE 2: TCLE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado (a) Senhor (a)


Esta pesquisa é sobre O Direito Humano a Alimentação Adequada no sistema prisional
feminino da Paraíba e está sendo desenvolvida por Profa Claudia Helena Soares de Morais
Freitas (coordenadora da pesquisa) e por Luciana Maria Pereira de Sousa (nutricionista
colaboradora). O objetivo do estudo é analisar a realização do Direito Humano à Alimentação
Adequada em mulheres privadas de liberdade na Paraíba. A finalidade deste trabalho é
contribuir com a pesquisa científica e sistematização de saberes sobre a realidade de uma
parcela da sociedade marginalizada, que vive em situação específica de cárcere, e a garantia
de um direito básico como a alimentação, permitindo avaliar a implementação de iniciativas
coerentes com as políticas públicas e recomendações legais. Solicitamos a sua colaboração
para participar de uma entrevista semi-estruturada, com aproximadamente 30 minutos de
duração, como também sua autorização para apresentar os resultados deste estudo em eventos
da área de saúde e publicar em revista científica. Por ocasião da publicação dos resultados,
seu nome será mantido em sigilo. Informamos que essa pesquisa não oferece riscos,
previsíveis, para a sua saúde. Informamos que essa pesquisa pode apresentar riscos aos
participantes são mínimos e os pesquisadores envolvidos estarão disponíveis para
esclarecimento de qualquer dúvida em relação ao conteúdo, objetivos e metodologia, bem
como ao roteiro da entrevista. Os riscos possíveis em estudos com aplicação de questionário e
entrevistas podem ser de constrangimento, desconforto, cansaço ou aborrecimento ao
responder questionários ou alterações de comportamento durante a gravação de áudio. O
participante terá garantido, sem nenhum prejuízo, o direito de se recusar a participar ou retirar
seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa. Dessa forma, este estudo assume a
responsabilidade de, por meios dos pesquisadores responsáveis, dar assistência integral às
complicações ou danos decorrentes dos riscos previstos ou não no termo de consentimento e
resultante da participação dos sujeitos envolvidos. Os benefícios de participar deste estudo
são representados por caráter coletivo, contribuindo com o desenvolvimento da pesquisa
científica, por meio de informações cedidas através dos participantes, que colaboram com o
esclarecimento das questões levantas e esboçadas na elaboração desse trabalho. Nesse sentido,
enquanto benefício indireto ao participante, destaca-se o conhecimento gerado e visibilidade à
temática que envolve o acesso a população carcerária sobre a efetivação de direitos básicos
como o direito à alimentação. Esclarecemos que sua participação no estudo é voluntária e,
portanto, o(a) senhor(a) não é obrigado(a) a fornecer as informações e/ou colaborar com as
atividades solicitadas pelo Pesquisador(a). Caso decida não participar do estudo, ou resolver a
qualquer momento desistir do mesmo, não sofrerá nenhum dano, nem haverá modificação na
assistência que vem recebendo na Instituição (se for o caso). Os pesquisadores estarão a sua
disposição para qualquer esclarecimento que considere necessário em qualquer etapa da
pesquisa. Diante do exposto, declaro que fui devidamente esclarecido(a) e dou o meu

84
consentimento para participar da pesquisa e para publicação dos resultados. Estou ciente que
receberei uma cópia desse documento.

_______________________________________________
Assinatura do Participante da Pesquisa

OBERVAÇÃO: (em caso de analfabeto - acrescentar)

Espaço para impressão


dactiloscópica

______________________________________
Assinatura da Testemunha

Contato do Pesquisador (a) Responsável: Caso necessite de maiores informações sobre o


presente estudo, favor ligar para a pesquisadora Profª Drª Cláudia Helena Soares de Morais
Freitas. Endereço: Departamento de Clínica e Odontologia Social da Universidade Federal da
Paraíba Campus I. Cidade Universitária CEP: 58.051-900 - João Pessoa-PB Telefone: (83)
3216 7251 Ou Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade
Federal da Paraíba Campus I - Cidade Universitária - 1º Andar – CEP 58051-900 – João
-7791 – E-mail: comitedeetica@ccs.ufpb.br

Atenciosamente,

___________________________________________
Assinatura do Pesquisador Responsável

___________________________________________
Assinatura do Pesquisador Participante

Obs.: O sujeito da pesquisa ou seu representante e o pesquisador responsável deverão rubricar


todas as folhas do TCLE apondo suas assinaturas na última página do referido Termo.

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ANEXOS

ANEXO 1: APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA

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88
ANEXO 2: TRABALHO APRESENTADO NO CONGRESSO BRASILEIRO DE
CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS EM SAÚDE

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