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(xx. TextoA m EDUCAGAO LITERARIA: Crénica de D. Jodo I Capitulo Xt Do alvorogo que foi na cidade cuidando! que matavom o Meestre?, e como al? fol Alvoro Panez e muitas gentes com ele, L De cima nom minguava quem braadar que o Mestre era vivo, e o Conde Joam Femandex* morto; mas. {sto nom queria neu ret, dizendo: —Pois se vivo é, mostrae-no-lo e vee-lo-emos. Entom os do Meestre vendo tam grande alvorogo como este, ¢ que cada vez se acendia mais, disserom que fosse sua mercee de se mostrar aaquelas gentes, doutra guisa® poderiam quebrar as portas, ou the poer 0 ogo, e entrando assi dentro per forga, nom lhe poderiam depois tolher® de fazer o que quisessem. Ali se mostrou o Meestre a a grande janela que viinha sobre a rua onde estava Alvoro Paaez e a mai forga de gente, e disse: — Amigos, apacificae vos, ca eu vivo e sfo som, a Deus gracas. E tanta era a torvagam’ deles,c asi tinham jé me crenga que 0 Mestre era morto, que taes havia i que aperfiavom* que nom era aquele; porem conhecendo-o todos claramente, houveram gram prazer quando 0 vvirom, ¢ deziam u s contra os outro: —0 que mal fez! Pois que matou o treedor do Conde, que nom matou logo a aleivosa com ele! Creedes em Deos, ainda Ihe hé de viinr? algu mal per ela. Oolhae e vede que maldade tam grande, mandarom-no ‘chamar onde ia jé de seu caminho, pera o matarem aqui per traigom. © aleivosa! jé nos matou u senhor, € ‘agora nos queria matar outro; leixae-a, ca ainda hé mal d’acabar por estas cousas que faz. E sem divida, se eles entrarom dentro, néo se escusara a Rainha de morte”, ¢ fora maravilha quantos eram da sua parte ¢ do Conde poderem escapar. O Mestre estava aa janela, e todos olhavom contra ele dizendo: —O Senhor! como vos quiseram matar per treigom, bento seja Deus que vos guardou desse treedor! Viinde-vos, dae ao demo esses Paagos, ndo sejaesIé mais. E em dizendo esto muitos choravom com prazer de o veer vivo. Vendo el estonce!" que ne a duvida tinha em sua seguranca, deceo afundo e cavalgou com os seus acompanhado de todolos outros que era maravilha de veer. Os quaes mui ledos"? arredor dele, braadavom dizendo: — Que nos mandais fazer, Senhor? Que querees que fagamos? Eel Ihe respondia, aadur!? podendo seer ouvido, que Iho gradecia muito, mas que por estonce nom havia deles mais mester'¢, E assi encaminhou pera os Paagos do Almirante u pousava 0 Conde dom Joam ‘Afonso, irmao da Rainha, com que havia de comer. As donas da cidade, pela rua per u ele ia saiam todas aas Janelas com prazer dizendo altas voze —Mantenha-vos Deos, Senhor! Bento seja Deos que vos guardou de tamanha traigom, qual vos tinham bastecida! ‘Ca nenhu por estonce podia outra coisa cuidar. E indo assi ataa entrada do Ressio, e 0 Conde viinha com todolos seus, ¢ outros bods da cidade que 0 aguardavom, assim como Afons' Eanes Nogueira, e Martim Afonso Valente, e Estavam Vaasquez Filipe, € Alvoro do Rego, e outros fidslgos; e quando vio o Meestre ir daquela guise, foi-o abragar com prazere disse: —Mantenha-vos Deos, Senhor! Sei que nos tirastes de grande cuidado, mas vés mereciees esta honra melhor que nés. Andae, vamos logo comer. assi forom pera os Paagos u pousava 0 Conde, (0) evidend:pesand, ()epeferanteinavam, (2) Meese: Mee de Avi, fro D. Jao )rlr: vi (pati. (0) dose escusara a reinhade morte «Rant nk ria vit (4) Conde Joam Fernandes: Coe Anis, sobre galego parrio serena I os casteanoe ma crise dink, (1) estonce eto, (6) dour pst dota ance (2) edo: contentes Scanned with CamScanner 1. Delimite as trés sequéncias centrais do excerto apresentado, relacionando cada uma dessas sequéncias com ‘@espaco em que ocorrem. 2.0 Mestre de Avis é apresentado como o salvador da situaco politica; isto é: como se fosse uma espécie de ser predestinado por Deus. Comprove a veracidade da afirmacéo, fundamentando a sua resposta com quatro transcrigGes textuais. 3. O excerto evidencia o protagonismo da personagem coletiva. Identifique-a e explicte a importancia do seu papel no desenrolar dos acontecimentos. 4. Mostre de que maneira as formas verbals conferem dinamismo ao texto. 5, Ferno Lopes parece ter testemunhado os acontecimentos, descrevendo-os de forma realista e colorida. Tendo em conta o referido anteriormente, caracterize o seu papel enquanto narrador. TextoB Capitulo 115 Per que guisa estava a cidade corregida para se defender, quando el-Rei de Castela pos cereo sobre ela, ll ‘Nom leixavom os da cidade, por serem assi cercados, de fazer a barvacia! d’arredor do muro da parte do arreal, des a porta de Santa Caterina, ataa torre d’Alvoro Paaez, que nom era ainda feita, que seriam dous tiros de besta; e as mocas sem neu medo, apanhando pedra pelas herdades, cantavom altas vozes dizendo: Esta Lixboa prezada, miré-la e leixé-la. Se quiserdes cameiro, qual derom ao Andeiro; se quiserdes cabrito, qual derom a0 Bispo. 10 e outras razées semelhantes. E quando os migos os torvar? queriam, eram postos em aquel cuidado em que forom os filhos de Israel, quando Rei Serges, filho de rei Dario, deu licenga ao profeta Neemias que refezesse os muros de Jerusalem, que guerreados pelos vezinhos d’arredor, que os nom algassem?, com a mao poinham a pedra, € na outra tinham a espada pera se defender; ¢ os Portugueses fazendo tal obra, ‘tinham as armas junto consigo, com que se defendiam dos migos quando se trabalhavom de os. embargart, que anom fezessem. 15 "As outras cousas que pertenciam ao regimento da cidade, todas eram postas em boa ¢ igual ordenanga; i nom havia nu que com outro levantasse arroido nem Ihe empecesse per talentosos excessosS, mas todos usavom d’amigavel concordia, acompanhada de proveito comu © que fremosa cousa era de veer! U tam alto e poderoso senhor como el-Rei de Castela, com tanta ao _Mltdom de gentesassi per mar come per terra, postas em tam grande e bos ordenana,teercereada tam nobre cidade! E ela assi guarnecida contra ele de gentes e d’armas com taes avisamentos® por sua guarda e defensom! Em tanto que diziam os que o virom, que tam fremoso cerco de cidade nom era em memoria A 'home s que fosse visto de mui longos anos ata aquel tempo. Scanned with CamScanner (1) barvacda: barbaci, muro com fungio de defesa (4) embargar: impedir. das muralhas, um pouco menor que a parede da (5) nem the empecesse per talentosos excessos: nem Ihe ‘muralha, ‘causasse dano por atos intencionalmente desordeiros, (© avisamentos: precaucies, (2) torvarsatrapalbar, perwrbar. ) que os nom algassem: para que nfo erguessem os muros, 6. Identifique o acontecimento histérico descrito neste excerto. 7. Mostre de que forma Lisboa ¢ os seus habitantes preparam a defesa da cidade. Justifique a sua resposta com transcrig6es textuais. 8. Comprove que a caracterizacdo de D. Joo de Castela e seu exército contribui para enaltecer a populacio de Lisboa, Scanned with CamScanner

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