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A vida será boa e linda.

Eram exatas 6:48 da manhã de uma quarta feira, eu estava de toalha saindo do
banheiro quando eu escuto minha mãe falando ao telefone, logo percebi que ela estava a
falar com o meu pai e ao observar a minha irmã em desespero, eu simplesmente entendi
o que estava acontecendo. De uma conversa tão longa, só uma frase foi o suficiente pra
me fazer entrar em desespero também.
— Eu sinto muito Rogério, que ela descanse em paz. — minha mãe diz ao
telefone. Minhas pernas já não são fortes o suficientes para me manter de pé, então, eu
simplesmente me jogo no colo de minha mãe, sem saber o que dizer, em total agonia,
naquele momento só consigo chorar. Minha mãe diz algo que não consigo assimilar
muito bem, algo sobre a vontade de Deus e que eu deveria ser forte. Logo vou procurar
uma roupa preta, algo que nunca imaginei ter que fazer, até mesmo minha mãe que não
costumava gostar das mulheres de meu pai, se arruma. Não consigo fazer nada além de
pensar nele, na dor que ele deve estar sentindo, perder o grande amor da sua vida não
deve ser algo fácil de digerir.
Chegando no velório, não consigo segurar as lágrimas ao ver o semblante de
meu pai, o olhar caído, as mãos tremendo, soluçando de tanto chorar. A filha dela,
Isabela, vem até mim e me abraça pedindo para que eu falasse algo, um discurso
simples mas com significado e eu apenas concordo.
Todos ali presentes me olham enquanto eu começo a suar frio, sem saber por
onde começar, eu apenas falo;
— O nome dela era Helena, que significa resplandecente, ou seja, aquela que
brilha e eu posso afirmar com a plena certeza que ela brilhou, ela brilhou o suficiente
pra iluminar milhares de vidas, ou pelo menos a minha. Ela tinha somente 36 anos e
foram 36 anos de muitas lutas e muita felicidade, eu posso dizer com certeza que ela
sempre foi grata por tudo, ela demonstrava isso com o olhar e quando necessário, lutava
para defender todos que amava, algo que eu acho incrível é como todos ao redor dela
conseguiam sentir o amor que ela transmitia através de gestos simples, que eram os
preferidos dela. Helena deixa para trás um esposo, uma filha de 17 anos, uma de 3 e eu,
que não sou filha de sangue, mas ela sempre deixou claro que amava como uma mãe
ama uma filha. Helena deixa um caminho trilhado com amor, alegria, gratidão e
simpatia, a partir de hoje, a única coisa que nós podemos fazer é tentar nunca esquecer
disso e jamais permitir que a Laurinha esqueça da mulher grandiosa que sua mãe era.
Do dia em que te conheci, até o último dia da minha vida, te amo. — Eu termino
soluçando e com a voz falhando, meu pai me abraça e consigo sentir por pelo menos 1
segundo que ele ia ficar bem.
Hoje, quase 4 anos após o falecimento dela, eu tive esse devaneio sobre o que eu
queria falar, deveria ter dito tudo isso que imaginei e um pouco mais, pois era isso que
eu sentia, mas como a criança que eu era, nunca consegui expressar 10% do meu amor
por ela, um amor maior do que um de um filho para mãe.
Eu queria que tivesse sido assim, queria ter tido a chance de dizer as mais belas
palavras, pois ela merecia mais do que qualquer outra pessoa, mas eu não disse nada.
Helena foi minha madrasta, mas eu nunca gostei de chama- lá assim, para mim
ela era mãe, amiga, irmã, família e não apenas madrasta, ela perdeu a vida para uma
doença que tira tudo da pessoa e eu à admiro tanto por ela nunca ter deixado o câncer
tirar a sua essência, que por sinal era a mais linda que eu já tinha visto, ela tinha um
coração imensamente bom e uma alma que assim como seu nome, resplandecia luz e
amor. Dali pra frente percebo o quanto sou forte e ainda vou ter que ser, por mim, pelo
meu pai e por Laura, minha irmã que hoje tem quase 8 anos.
Só hoje, depois de alguns anos, muitos choros e amadurecimento, eu sinto que
ela finalmente está em paz. Então, eu também estou e sei que meu pai vai ficar, só
consigo sorrir e pensar nela com amor e finalmente entendo a frase que um dia li:
“E a vida será boa e linda, mas não sem um coração partido. Com a morte, vem
a paz mas a dor é o preço de quem vive, como o amor é assim que sabemos que estamos
vivos”.

Aluna: Sara Roberta Magalhães Ribeiro // Turma: 2E informática.

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