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Sobre o que iremos conversar hoje?

Anemia Ferropriva
Anemia ferropriva: concentração anormalmente
baixa de hemoglobina circulante.
Conhecer a epidemiologia da anemia ferropriva e
seus determinantes.
proteína plasmática que transporta
oxigênio do sangue aos tecidos e células
Conhecer as ações do Ministério da Saúde para
combate da anemia no Brasil.
Este tipo de anemia ocorre quando a ingestão
de ferro não é suficiente para atingir
as necessidades diárias – deficiência
prolongada de ingestão e/ou perdas sanguíneas

Anemias Quadro 1- Classificação hematimétrica das anemias

90% de todos os tipos de anemia no mundo Macrocítica VCM > 94 e CHCM >31
se devem à carência de ferro. Normocítica-normocrômica VCM 82 a 92 e CHCM > 30

Anemias nutricionais (megaloblásticas) Microcítica-hipocrômica VCM <80 e CHCM <31

Legenda: VCM: volume corpuscular médio


CHCM: concentração de hemoglobina corpuscular médio
Deficiência de B12 Ácido fólico
Macrocítica: poderá se diagnosticada como hemolítica,
Outros tipos perniciosa ou por deficiência de folato.
v Talassemia: deficiência na síntese de Normocítica-normocrômica: gravidez, hiperhidratação,
hemoglobina (hereditária) doença renal, cirrose ou hipotireoidismo.
v Falciforme: decorrente da má formação da Microcítica-hipocrômica: deficiência de ferro, talassemia.
hemácia.

Quadro 1: Pontos de corte para discriminar a condição de anemia.


Sinais clínicos da anemia
ferropriva
GRUPO HEMOGLOBINA

ü palidez 6 meses a 5 anos 11 g/dl

ü anorexia 5 a 11 anos 11,5 g/dl


ü apatia
12 a 13 anos 12 g/dl
ü irritabilidade
> 13 anos, homens 13 g/dl
ü redução da capacidade de atenção e déficits
psico-motores > 13 anos, mulheres 12 g/dl

Gestantes 11 g/dl

Fonte: OMS

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Figura 2 – Células sanguíneas normais e com anemia
Figura 1 – Hemoglobinômetro portátil

Fonte: Sizer e Whitney, 2003.

Anemia Ferropriva Classificação da prevalência de anemia em


Magnitude: relação à importância como problema de Saúde
ü Mais frequente na infância (sociedades ricas Pública
e pobres). Nível de importância como problema Prevalência
da saúde pública

Normal £ 4,9%
Brasil (PNDS, 2006):
ü Altas prevalências em todo território nacional
Leve 5% - 19,9%
ü Atinge todas as classes de renda
ü Estudos recentes indicam prevalência:
Moderado >20% - <39,9%
ü 20,9% em crianças - 25,5% (Nordeste) e 10,4%
(Norte).
Grave ³ 40%
ü Mulheres 29,4%
ü Homogeneidade nas diferentes regiões do país.
Fonte: WHO, 2001

Fatores determinantes da anemia


Anemia Ferropriva
ferropriva em menores de dois anos

Grupos biológicos de risco:


Hábito alimentar
ü crianças 4 a 24 meses Crescimento inadequado
elevado
ü escolares
Inibidores da
ò consumo
ü adolescentes do sexo feminino e mulheres em absorção e ausência
de ferro de facilitadores
Aumento das
idade fértil necessidades de
ü gestantes ferro
Absorção
ü nutrizes inadequada/
insuficiente

Anemia ferropriva

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Principais causas da anemia Principais causas da anemia
ü Consumo alimentar Países em desenvolvimento
• ingestão inadequada de ferro • multiparidade
• administração de leite de vaca a crianças • parasitoses
menores de 4 meses • baixa ingestão de Fe heme
• alimentos que diminuam a biodisponibilidade

do ferro Países desenvolvidos


ü Enteroparasitoses • h consumo de alimentos com baixa densidade
ü Infecções localizadas ou sistêmicas de Fe

Principais causas da anemia Anemia por deficiência de Fe no Brasil

Estudos feitos desde a década de 70 indicam que


ü Dieta (baixa renda)
a anemia em crianças menores de 24 meses está
6% de Fe biodisponível
mais associada com a qualidade da dieta (láctea)
do que com a renda ou nível social da família.

Crianças maiores de 24 meses ü Alteração:


ü a renda e consequentemente a ingestão de • da prática alimentar
alimentos são fatores etiológicos importantes • do poder de compra
da anemia carencial.
• da oferta de alimentos
ü ferro ingerido por essa população não é
qualitativa e quantitativamente adequado

Quadro 1- Fe biodisponível em alimentos (por 1 mg de Fe total) Estágios da deficiência de ferro


Alimento % absorção Fe (mg)
1º: diminuição dos estoques de Fe
Leite materno 50 0,5 - aporte de ferro é incapaz de suprir as necessidades

Carne 20 0,2
2º: decréscimo no transporte de Fe
- diminuição do ferro sérico
Leite de vaca 8 0,08

3º: depleção de Fe no organismo


Gema de ovo 3 0,03
- anemia por deficiência de ferro - hemoglobina abaixo
dos padrões para idade e sexo

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Tabela 1: Evolução dos indicadores do consumo médio de energia
e de ferro em crianças de 6 a59 meses da cidade de São Paulo.
Danos Consequências biológicas e sociais
da anemia ferropriva
Crianças:
Indicadores de 1984/85 1995/96
consumo • Retardo do crescimento
Consumo de 1152,2 1417,6
• Comprometimento do desenvolvimento e
energia (kcal/dia) coordenação motora
Adequação do 91,2 109,8
• Retardo do desenvolvimento cognitivo
consumo de - prejuízo do desenvolvimento da linguagem
energia%
Consumo de 6,2 7,6 - dificuldades de aprendizagem (desatenção)
ferro - fadiga
Densidade de ferro 5,4 5,4 • Menor resistência às infecções
(mg ferro/1000
kcal) Anemia ferropriva severa em crianças de pouca
Fonte: Monteiro e cols, 2000 idade ® problemas de desenvolvimento cognitivo
irreversíveis.

Danos Consequências biológicas e sociais Danos


da anemia ferropriva
Consequências biológicas e sociais
•Gestantes da anemia ferropriva
Nascimento de crianças com baixo peso
Aumento da mortalidade peri-natal
•Anemia e Mortalidade Adultos
Formas moderada e severa: mortalidade infantil • Fadiga
e materna • Menor produtividade no trabalho

Óbitos ocorrem com maior freqüência nos períodos


Anemia, performance e produtividade no trabalho
do stress fisiológico. Ex. Anemia + Doença febril
ü Baixa concentração sérica de hemoglobina ® decréscimo
aguda ou período pré-parto/parto
da capacidade de transportar oxigênio ® diminuição da

Prejuízo no transporte de O2 e a da função capacidade de trabalho

cardiovascular (em função dos baixos níveis


de hemoglobina)

Prevenção e Intervenção Prevenção e Intervenção


Medidas de controle da deficiência de ferro e da • Adequação da qualidade e variedade de
anemia ferropriva alimentos nas refeições (alimentos com alta
densidade de ferro em combinação com vegetais
1) Melhoria das práticas alimentares para e frutas ricos em ácido ascórbico)
aumentar o consumo e a biodisponibilidade
de ferro e de outros nutrientes envolvidos na
• Orientações para evitar alimentos que possam
eritropoiese (riboflavina, folato, vitamina B-
inibir a absorção de ferro:
12, vitamina A)
chá, café – taninos, flavonóides, polifenóis
•Promoção do aleitamento materno
leite - cálcio
ü Atentar à vulnerabilidade materna
cereais integrais, fibras, feijões – fitatos
espinafre, beterraba – oxalato

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Fisiologia da criança x alimentação Prevenção e Intervenção
2) Fortificação de alimentos
Capacidade gástrica
ü tempo médio de esvaziamento
3) Práticas de atenção à saúde pré e peri-natal
• depende da composição, concentração e do
• Suplementação medicamentosa com ferro
volume da refeição • Prevenção do nascimento de crianças pré-termo,
ü volume da refeição salgada até 12 meses pode de hemorragia e infecção
variar de 100 a 200g • Adequação de intervalos inter-partais
ü refeição balanceada: difícil atingir • Promoção do contato precoce com o aleitamento
recomendação de ferro. materno
Ex. 100 g carne 2,6 mg ferro

Prevenção e Intervenção Suplementação medicamentosa


4) Suplementação medicamentosa com ferro para
crianças - prevenção e tratamento
ü Forma curativa – grupos ferro deficiente
ü Forma profilática direcionada a grupos de risco
5) Medidas de investimento em saneamento básico
e de controle de infecções Fatores que limitam a efetividade destas medidas:
• Controle de doenças parasitárias ü “pobreza” do quadro assintomático da carência
• Prevenção de repetidas infecções de ferro
ü efeitos colaterais –mais notáveis do que da
6) Promoção da orientação e educação em saúde e anemia
nutrição para equipe de pessoal, tanto os ü pacientes pouco motivados
profissionais com nível de decisão como os de ü longa duração do tratamento
execução de medidas

Programa Nacional de
Suplementação de Ferro

É um programa do Ministério da Saúde destinado

à suplementação preventiva de todas as


crianças de 6 a 24 meses com ferro.

Suplementa-se com ferro e ácido fólico:


Ä Gestantes a partir da 20ª semana gestacional
Ä Mulheres até o 3º mês após parto
Ä Mulheres pós-aborto

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Quadro 2: Suplementação profilática de ferro para crianças
menores de dois anos segundo maturidade e peso de Educação Nutricional
nascimento
Estimular o consumo quantitativo e qualitativo de
alimentos fonte de diversos nutrientes:

ü baixo custo
ü não produz efeitos indesejáveis

Dificuldades na modificação de hábitos alimentares


Þ estratégia a longo prazo. Combate duas causas
das deficiências nutricionais:
ü o desconhecimento da população sobre o assunto

Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria, 2012 ü monotonia dieta

Considerações gerais sobre o veículo de fortificação:


Fortificação de alimentos
1) O alimento deve ser consumido pela maioria da
Considerações clássicas no planejamento de um
população
programa de fortificação de alimentos:
2) Alimento com preço acessível à população de
1) Justificativa da importância da implementação baixa renda (mais vulnerável às deficiências
da medida de fortificação de alimentos nutricionais)
2) Definição da população-alvo 3) Alimento deve ser comercializado em todas as
3) Seleção do veículo de fortificação e definição regiões do país
dos níveis de responsabilidade (legislação, 4) As características organolépticas do alimento
indústria, distribuição, comercialização e devem ser preservadas
marketing) 5) O alimento não deve sofrer perdas de nutrientes
4) Reconhecimento da infra-estrutura operacional, no processamento doméstico
técnica e do sistema de controle de qualidade 6) O alimento deveria ser consumido de forma
5) Avaliação do impacto regular e em quantidades constantes pela população

Fortificação de alimentos COMPROMISSO SOCIAL PARA A REDUÇÃO DA


ANEMIA POR CARÊNCIA DE FERRO NO BRASIL
Suplementação das farinhas de trigo e de milho
com ferro e ácido fólico: priorizada entre as diretrizes da PNAN
v Objetivo redução da anemia por deficiência de
ferro em pré-escolares e escolares
v 4,2 mg ferro/100 gramas farinha, valor
correspondente a 30% IDR e 150 µg ácido a fortificação de farinhas de
fólico trigo e de milho com ferro
v Podem ser usados o sulfato ferroso desidratado
fumarato ferroso, ferro reduzido – 325-mesh
Tyler, ferro eletrolítico – 325-mesh Tyler, Participação da indústria
EDTA de ferro e sódio e ferro bisglicina quelado de alimentos

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Modelo de determinação da anemia na infância

Determinantes proximais
• adequação do consumo de ferro
• nível de exposição da criança a doenças (malária e
enteroparasitoses)
Determinantes intermediários
• disponibilidade de alimentos
• cuidados alimentares e de saúde
• saneamento do meio
Determinantes distais
• renda familiar
• capacidade em alocar a renda
• escolaridade materna
• inserção das famílias no processo social de produção
(classe social)

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