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A Teologia do Coaching, A Substituta da Teologia da

Prosperidade
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A teologia da prosperidade já apanhou


demais. Seus grandes ícones já foram
expostos e desmascarados.
Infelizmente ela ainda faz vítimas pela
falta de conhecimento do povo,
principalmente nas periferias, público
alvo desse tipo de “teólogos”.
Felizmente ela está cada vez mais
marginalizada e ficando limitada a
determinadas igrejas. Um bom
números de crentes tem um grande
repúdio por esse tipo de abordagem
“evangélica”. Pois bem, eis que temos
uma substituta para a tal da teologia da
prosperidade (TP). Eu a chamo de
teologia do coaching (TC). Usareis as
siglas a partir de agora.
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A Cultura do Coaching

Sou formado em administração. Cursei quatro anos de faculdade e fiz outros cursos na
área. Na época o coaching não era tão conhecido como hoje. Sempre valorizei cursos com
conteúdos práticos como finanças, marketing e recursos humanos. Nunca fomos
ensinados que precisaríamos de pessoas nos acompanhando para ensinar, direcionar,
motivar e cobrar. Nós mesmos faríamos isso. Então a cultura do coaching chegou. Vá a
uma seção de administração e negócios de uma livraria hoje e você perceberá o que estou
dizendo. Nunca me dei bem com ela para ser sincero. E quero explicar a razão usando
duas citações do Instituto Brasileiro de Coaching. Primeiro, o que é o coaching?

“Um mix de recursos que utiliza técnicas, ferramentas e conhecimentos de diversas


ciências como a administração, gestão de pessoas, psicologia, neurociência, linguagem
ericksoniana, recursos humanos, planejamento estratégico, entre outras visando à
conquista de grandes e efetivos resultados em qualquer contexto, seja pessoal,
profissional, social, familiar, espiritual ou financeiro”¹

Agora pergunto: como o coaching acontece?

“Conduzido de maneira confidencial, o processo de Coaching é realizado através das


chamadas sessões, onde um profissional chamado Coach tem a função de estimular,
apoiar e despertar em seu cliente, também conhecido como coachee, o seu potencial

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infinito para que este conquiste tudo o que deseja”²

Antes de continuar deixe-me dizer algo para que fique claro. Acredito na liberdade de
trabalho honesto. Se você gosta ou trabalha honestamente com isso, ok, é a sua escolha.
Por mais que eu tenha críticas a essa prática, aqui entrarei na relação do coaching com a
igreja. Usarei essas duas respostas dadas para analisar biblicamente o que chamo de TC.
Minha argumentação será essa: Igreja e evangelho não combinam com o coaching e não
devem se misturar jamais. Quando isso acontece temos uma nova TP com uma roupagem
mais humanista e existencialista.

Junto com o coaching cresceu o chamado empreendedorismo de palco (EP). São aqueles
profissionais que trabalham com palestras motivacionais e grandes palestras de coaching.
Esse mercado tem crescido assustadoramente e também tenho sérias dificuldades com
ele. Aqui se aplica a mesma observação que fiz aos profissionais de coaching. Mesmo
assim indico um ótimo texto escrito por Ícaro de Carvalho chamado Por que o
empreendedorismo de palco irá destruir você. O autor começa com uma afirmação que
capta bem o ponto onde quero chegar:

“O empreendedorismo é a nova religião do homem moderno. Materialista e secular, ele


substituiu os Santos do seu altar por fotografias de homens bem sucedidos; os seus
Evangelhos são livros como “O sonho grande” e “A força do Hábito”. Ele acredita, de
alguma maneira, que tudo aquilo irá aproximá-lo do seu objetivo principal: sucesso, fama e
dinheiro…de preferência agora!”³

Essa cultura construída em torno do coaching e do EP é em sua maioria materialista. O


objetivo de muitos é o sucesso financeiro, e isso significa enriquecer. Com um fator
especial: o mais rápido possível. É comum ler e ouvir grandes promessas e ensinamentos
sobre como trabalhar menos e ganhar mais. O foco está no esforço intelectual e físico
daquele que está buscando seu lugar ao sol. É dessa cultura de palco, sonhos, riquezas e
promessas que estou falando. Já viu onde isso vai chegar na igreja? Vamos falar disso
agora!

— O Coaching na Igreja

Eu já vi palestras de coaching acontecendo onde deveria haver uma pregação da Palavra.


Isso mesmo, em pleno culto público. Infelizmente essa cultura chegou em muitas igrejas. E
se eu já não me dou bem com ela no mercado de trabalho, na igreja não tenho medo de
dizer que ela é minha inimiga. Assim como repudio a TP também o faço com essa nova
onda da TC. Em alguns sentidos essa segunda chega a ser pior do que a primeira. Vamos
analisar três pontos que constroem a TC.

•Humanismo: O coaching utiliza de técnicas humanas num indivíduo que é o centro de


tudo para que este alcance seus objetivos humanos. Muitos pastores e líderes tem
enveredado por esse caminho. Tratam suas pregações como palestras motivacionais da
fé que confundem fé com força e vontade, evangelho com motivacionismo e Cristo com
um palestrante. O foco está naquilo que o homem pode fazer através da sua fé pessoal. Fé
essa que passa por Cristo, mas que tem seu objeto na própria pessoa e nos seus esforços
dirigidos. Muitas “pregações” tem o mesmo objetivo do coaching, ou seja, estão “visando à
conquista de grandes e efetivos resultados em qualquer contexto, seja pessoal,
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profissional, social, familiar, espiritual ou financeiro”. O apelo pode ser até espiritual, mas
ainda assim Você já deve ter escutado muito coisas do tipo “como ser o melhor marido”,
“como atrair e fidelizar pessoas para o reino”, “alcançando sucesso através da fé.”. Tudo
isso travestido de espiritualidade…

•Materialismo: há um desejo enorme em conquistar coisas. Sejam elas produtos do


mercado como carros, casas, roupas, viagens ou algo mais “espiritual” como paz, pessoas,
bom casamento, filhos educados, castidade, etc. As pessoas querem conquistar, possuir e
avançar, sendo tudo isso fruto não da humilhante auto confrontação e negação de si
mesmo, mas da auto-afirmação. O papel do pastor se tornou muito parecido com o do
coach: “estimular, apoiar e despertar em seu cliente (ovelha)… o seu potencial infinito para
que este conquiste tudo o que deseja”. É exatamente isso que essa mistura humanista-
materialista busca: o potencial infinito de cada ser humano para conquistar aquilo que ele
deseja. Há uma conexão com o existencialismo, onde o indivíduo e sua busca pessoal por
significado em si mesmo passa a ser o centro do pensamento filosófico.

•Ceticismo: Humanismo e materialismo são marcas de seres céticos. A crença no Deus da


Bíblia é cada vez mais fraca onde esse tipo de cultura se manifesta. Como eu já disse, a TC
busca descobrir o potencial de cada pessoas para que ela alcance seus próprios objetivos.
Dependência de Deus é algo apenas fantasiado. Orações são feitas apenas para que Deus
abençoe nossos planos e para que Ele nos dê apoio em nossa própria empreitada. O
sobrenatural é esquecido e Deus vai ficando cada vez mais distante. Na TC o soberano é o
indivíduo com suas decisões de fé e sucesso. Em muitas igrejas tudo que você vai
encontrar nos púlpitos são mensagens sobre o que os homens podem fazer para serem
alguma coisa melhor do que já são. Até a mistura com conteúdos de coaching, marketing
pessoal e psicologia você encontrará. Aliás, tem sido comum pastores e líderes entrarem
nesses cursos e palestras para serem mais persuasivos, contagiantes e teatrais (pra não
usar manipuladores). O Espírito Santo não tem muito espaço na TC, mesmo que usem seu
nome.
São por esses motivos principais que digo que a TC está substituindo a TP.

Esse discurso tem atraído jovens, empresários, profissionais liberais, e todo o tipo de
gente, principalmente na classe média. E aqui está a transição entre as duas abordagens.
A TP faz uma barganha com Deus crendo que Ele efetuará milagres para benefício material
e espiritual do homem. A TC eliminou a barganha ao deixar Deus de longe, mas passou a
ter no próprio homem a força “milagrosa” para seu benefício material e espiritual. Na TP
ainda há uma certa dependência de Deus e seu agir sobrenatural, enquanto na TC o
homem declarou sua independência. O relacionamento de barganha foi substituído para o
relacionamento de platéia. O Deus da TC está assistindo e torcendo pelos grandes
empreendedores no palco da fé. Talvez você ache ruim o uso do palavra coaching, mas
pelo que você entenda a expressão completa “teologia do coaching” que estou usando
para definir esse tipo de abordagem..

Essa é uma teologia mais sutil, que parece mais humilde, mas na verdade transborda
soberba ainda mais do que a tenebrosa TP. Seu ambiente menos escandaloso e mais
conformado a cultura secular permite que esse tipo de abordagem lote igrejas e obtenha
grande aceitação. Geralmente se fala o que as pessoas querem ouvir e pecados são
tratados como pedra e obstáculos no caminho que devem ser superados. A pregação fica
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até mais dinâmica, com uso de mídias, frases de efeito e motivação mútua. Tudo isso
associado com o desejo material dos nossos dias só contribuem para que a TC ganhe
terreno. Logo logo nós teremos grandes problemas com ela e talvez ela chegue ao mesmo
patamar da TP. Que Deus nos livre e proteja disso!

O que Jeremias e Tiago Diriam?

Não quero tornar esse texto num texto longo demais. Portanto, encerrarei apenas com três
passagens bíblicas (quem sabe um artigo completo poderá sair em breve sobre o tema).
Compare com as ideias da TC e veja como a Bíblia é contrária a isso. Jeremias profetizou
para um povo orgulho e que confiava em suas próprias forças e em sua “tradição
espiritual”. Contra isso Deus falou por meio do profeta:

“Assim diz o Senhor: “Não se glorie o sábio em sua sabedoria nem o forte em sua força
nem o rico em sua riqueza, mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em compreender-me e
conhecer-me, pois eu sou o Senhor, e ajo com lealdade, com justiça e com retidão sobre a
terra, pois é dessas coisas que me agrado”, declara o Senhor” (Jeremias 9:23,24)

Num momento mais a frente ele resume bem sua mensagem ao povo:

“Assim diz o Senhor: Maldito é o homem que confia nos homens, que faz da humanidade
mortal a sua força, mas cujo coração se afasta do Senhor… Mas bendito é o homem cuja
confiança está no Senhor, cuja confiança nele está” (Jeremias 17:5-7)
Encerro com a passagem de Tiago, um verdadeiro balde de água fria na teologia do
coaching:

“Ouçam agora, vocês que dizem: “Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade,
passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro”. Vocês nem sabem o
que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por
um pouco de tempo e depois se dissipa. Ao invés disso, deveriam dizer: “Se o Senhor
quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. Agora, porém, vocês se vangloriam das suas
pretensões. Toda vanglória como essa é maligna.” (Tiago 4:13-16)

TP e TC, ambas são maléficas e distantes do cristianismo bíblico que leva o homem a
negar a si mesmo, humilhar-se diante de Deus e depender dele em tudo. Ter sucesso
profissional e conquistar riquezas não é pecado em si, mas isso não pode ser um dos
pontos centrais de nossa espiritualidade cristã. Cuidado para não substituir a teologia da
prosperidade pela teologia do coaching, em ambas o deus que adoram é o mesmo: o
homem.

Texto: Pedro Pamplona

Evangelho em Foco

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