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TERMODINÂMICA
APLICADA
Vítor A. F. Costa
2006/2007
ÍNDICE i
PREFÁCIO v
PARTE I - FUNDAMENTOS
1. INTRODUÇÃO 1.1
1.1 Relevância da análise termodinâmica de sistemas de engenharia 1.2
1.2 Conceitos e terminologia 1.3
1.3 Propriedades das substâncias operantes 1.9
Propriedades de um Gás Ideal 1.9
Propriedades de um gás real ou de um vapor 1.11
Propriedades de sólidos e de líquidos 1.12
Tabelas de propriedades e diagramas de propriedades 1.13
Propriedades de uma mistura bifásica líquido-vapor 1.12
1.4 Processos realizados por gases ideais 1.15
1.5 Metodologia para análise de problemas em Termodinâmica Aplicada 1.17
1.6 Referências 1.18
PARTE II - APLICAÇÕES
7. MOTORES ALTERNATIVOS DE COMBUSTÃO INTERNA 7.1
7.1 Introdução 7.2
Aspectos construtivos 7.2
Motores de dois e de quatro tempos 7.5
Nomenclatura usual no estudo dos motores alternativos de combustão interna 7.8
7.2 Ciclos térmicos 7.11
7.3 Balanço energético de um motor 7.15
7.4 Motores para equipar veículos 7.17
7.5 Referências 7.19
- ii -
Funcionamento básico 9.3
Aspectos construtivos 9.3
9.2 Ciclo de Rankine 9.7
Ciclo de Rankine teórico 9.7
Interacções energéticas 9.8
Ciclo de Rankine real: identificação de perdas 9.12
9.3 Técnicas para melhorar o desempenho das instalações com turbinas de vapor 9.14
Sobre-aquecimento e re-aquecimento 9.14
Regeneração 9.16
9.4 Características das substâncias operantes e ciclos combinados 9.21
A água como substância operante 9.21
O mercúrio como substância operante 9.21
Ciclo combinado 9.21
9.5 Co-geração 9.24
9.6 Referências 9.26
- iii -
Estado físico do combustível 11.17
Influência do excesso de ar 11.18
Combustão a volume constante 11.19
11.4 Temperatura de chama 11.21
11.5 Dissociação e formação de NOx 11.22
Dissociação 11.22
Formação de NOx 11.22
11.6 Análise exergética de sistemas reactivos 11.23
Exergia química de um hidrocarboneto puro Cm H n 11.23
Exergia química do monóxido de carbono puro CO 11.26
Exergia química da água pura H 2 O 11.26
Exergia química do azoto puro N 2 , e de qualquer componente gasoso puro que
exista no ambiente 11.27
Exergia química de uma mistura de Gases Ideais que existem no ambiente 11.28
Valores tabelados da exergia química específica molar 11.28
Contabilização da exergia total 11.29
11.7 Referências 11.29
- iv -
PREFÁCIO
O presente texto pretende ser um guia no estudo da disciplina de Termodinâmica Aplicada.
Ele não substitui a consulta de outras fontes, nomeadamente as referências indicadas no fim
de cada capítulo. Aí, sim, podem ser encontradas descrições detalhadas sobre os vários
aspectos relacionados com a Termodinâmica Aplicada, o que não era possível de aglutinar
num texto intencionalmente contido e de objectivos muito específicos.
Um estudo sólido de Termodinâmica Aplicada pressupõe alguma formação prévia em
Termodinâmica. No presente caso, as matérias são expostas pressupondo que, por parte dos
alunos, houve a frequência e aprovação prévia na disciplina Termodinâmica Macroscópica
(disciplina do 2º ano da Licenciatura em Engenharia Mecânica).
As matérias encontram-se divididas em duas partes: Fundamentos e Aplicações. Na
primeira parte são trabalhados, aprofundados e alargados os conceitos introduzidos em
Termodinâmica Macroscópica, de modo a preparar o aluno para proceder às aplicações da
termodinâmica a sistemas do universo da engenharia, objecto da segunda parte. Ainda que os
fundamentos visem as aplicações, a sua validade e aplicabilidade não se esgota de modo
nenhum aí, pretendendo-se sim formar os alunos para proceder à análise termodinâmica de
sistemas qualquer que seja o seu âmbito, complexidade e natureza. Na parte das aplicações a
ênfase é colocada na análise dos sistemas com os quais, com maior probabilidade, o
Engenheiro Mecânico virá a tomar contacto. Todavia, tal em nada restringe a aplicação dos
fundamentos a problemas e/ou sistemas de natureza diferente.
No que concerne as aplicações abordadas, apenas os aspectos termodinâmicos dos
sistemas são analisados, sem que seja dada ênfase aos detalhes relacionados com os aspectos
construtivos dos elementos e sistemas em causa. Tal implica (e requer) geralmente formação
e conhecimento complementar, que sai fora do âmbito da disciplina e, consequentemente, do
presente texto.
É dada especial relevância ao modo como as diversas variáveis condicionam o
desempenho termodinâmico dos sistemas em análise, e quais as medidas a tomar com o
objectivo de perseguir melhores performances e identificar os principais constrangimentos.
Os aspectos positivos e negativos das várias vias alternativas a seguir são explorados, para
assim ser apreendido um mais completo quadro da interdependência existente entre as
variáveis que condicionam a performance termodinâmica dos sistemas. A análise feita incide
sobre modelos simplificados dos sistemas reais, em que as hipóteses adoptadas são
fundamentais para simplificar a análise, conduzindo, ainda assim, a resultados
qualitativamente correctos. Outro aspecto especialmente importante é que a análise
simplificada, regra geral, permite antever como, e em que sentido, a variação de uma ou
várias variáveis afecta a performance termodinâmica dos sistemas analisados. Resultados
quantitativamente correctos necessitam da consideração de modelos mais completos, mais
conhecimento especializado e envolvem uma maior quantidade de informação.
Muitas das figuras presentes no texto foram obtidas por recurso ao ‘scanning’ de
figuras disponíveis em textos relacionados com as matérias tratadas. Como a generalidade
dessas obras está em língua inglesa, o texto que faz parte das próprias figuras encontra-se,
muitas das vezes, também ele, em língua inglesa.
As tabelas de propriedades incluídas no fim do texto pretendem ser apenas um
auxiliar para a resolução de problemas simples, devendo ser consultadas tabelas mais
completas, contemplando outras substâncias e outras propriedades, quando a complexidade
dos problemas assim o exigir. Também aqui houve recurso ao ‘scanning’, havendo algum
texto das tabelas que se encontra em língua inglesa.
Anteriormente, no plano curricular do Curso de Licenciatura em Engenharia
Mecânica da Universidade de Aveiro, existia a disciplina Máquinas Térmicas sem que esta
fosse precedida de uma disciplina de Termodinâmica Aplicada. O entendimento dos
princípios básicos de funcionamento das Máquinas Térmicas encontra-se na Termodinâmica
Aplicada, pelo que, nessa altura, muito do conteúdo da disciplina Máquinas Térmicas versava
sobre matérias que, de facto, são do âmbito da Termodinâmica Aplicada. Por esse facto,
muito do conteúdo do presente texto fazia parte do texto de apoio então elaborado, pelo
mesmo autor, para a disciplina de Máquinas Térmicas.
- ii -
PARTE I – FUNDAMENTOS
1. INTRODUÇÃO
O termo Termodinâmica deriva da junção das palavras gregas thermé (calor) e dynamikos
(força), as quais constituem as interacções básicas das máquinas térmicas com o exterior
(receber calor e fornecer potência mecânica). A Termodinâmica, como ramo do
conhecimento, encontra as bases do seu desenvolvimento na análise das máquinas térmicas
iniciais sendo, no entanto, de aplicabilidade muito mais geral. Aplicar os conhecimentos de
Termodinâmica ao estudo das máquinas térmicas é, um pouco, refazer a história ao
contrário. A Termodinâmica é, na essência, o estudo da energia. Este estudo é alargado às
formas e transformações de energia, bem como às interacções da energia com as
propriedades da matéria. Uma porção de matéria possui um número elevadíssimo de
partículas elementares, não sendo possível descrever com exactidão o estado dessa porção
de matéria pelo conhecimento do estado de cada uma das partículas elementares que a
constituem. Recorrendo à Termodinâmica, o número de propriedades macroscópicas que
caracterizam essa porção de matéria é muito reduzido, sendo assim possível descrever o
seu estado através de uma quantidade diminuta de informação, que são as suas
propriedades macroscópicas. O termo macroscópico deve ser retido, já que a
Termodinâmica clássica é uma ciência do macroscópico. As suas leis fundamentais são
estabelecidas em termos das propriedades macroscópicas dos sistemas analisados. Convém
no entanto referir que uma análise estatística do que se passa em termos microscópicos é
possível, levando a conclusões que não se afastam das simples observações efectuadas
sobre as propriedades macroscópicas. Neste capítulo apenas serão abordados os tópicos de
Termodinâmica relevantes para o estudo das máquinas térmicas.
1.1. RELEVÂNCIA DA ANÁLISE TERMODINÂMICA DE
SISTEMAS DE ENGENHARIA
As actividades que envolvem e servem as populações dos países industrializados estão
fortemente dependentes da utilização de energia. As actividades de tais países baseiam-se
fortemente na indústria transformadora e nos transportes, sectores que são dois dos grandes
utilizadores dos recursos energéticos. Por sua vez, as actividades domésticas e o sector dos
serviços são fortemente dependentes da energia eléctrica. No entanto, a Natureza, de um
modo geral, não fornece a energia numa forma tal que permita a sua utilização imediata,
havendo pois a necessidade de a converter nas formas desejadas. A partir dos recursos
disponíveis na Natureza é relativamente imediata a obtenção de energia calorífica, não
sendo esta forma de energia directamente aplicável nos sectores de actividade
mencionados, excepção feita apenas aos processos de aquecimento. Surge pois a
necessidade de converter a energia calorífica em energia mecânica, conversão essa que é
realizada recorrendo às máquinas térmicas. As máquinas térmicas surgem assim como
dispositivos conversores de energia calorífica em energia mecânica. Convém ainda referir
que uma parcela significativa da energia eléctrica actualmente utilizada é obtida a partir de
dispositivos movimentados mecanicamente por máquinas térmicas. Outras necessidades
como a preservação e conservação de alimentos, bem como a criação de condições de
conforto térmico em habitáculos, requerem a utilização de um tipo especial de máquinas
térmicas, as máquinas frigoríficas. Por acção da energia mecânica que recebem, efectuam
essencialmente a remoção de calor de uma zona a temperatura mais baixa para uma zona a
temperatura mais alta.
O entendimento do funcionamento dos sistemas referidos, e logo da capacidade de
intervenção sobre eles, independentemente da sua complexidade, requer usualmente
conhecimentos específicos do domínio da Termodinâmica Aplicada. Todavia, muitas das
matérias objecto de estudo em Termodinâmica Aplicada não esgotam a sua aplicabilidade
nos sistemas acima mencionados, de que apenas se destacaram alguns de maior relevância,
e são igualmente de extrema importância para o entendimento e análise de sistemas da
mais variada natureza e nível de complexidade. Tal como a aplicabilidade da Mecânica se
estende à generalidade dos sistemas, também a aplicabilidade da Termodinâmica Aplicada
se estende à generalidade dos sistemas.
Muitos dos sistemas mencionados acima envolvem manipulação e transformação de
matéria e de energia, bem como a necessidade de quantificação das parcelas mássicas e
energéticas envolvidas. Ora este é o âmbito do tratamento termodinâmico dos sistemas. A
Mecânica estabelece balanços de forças e de momentos, e conduz à quantificação de forças
e de binários, ao passo que a Termodinâmica Aplicada estabelece balanços de massa e de
energia, e conduz à quantificação de massa e de energia. Daqui resulta que a análise
mássica e energética de sistemas se apoia em conhecimentos de Termodinâmica Aplicada.
- 1.2 -
O entendimento do modo como se relacionam as variáveis que condicionam o
funcionamento ou operação de um sistema permite actuar sobre esse sistema, seja em fase
de projecto ou mesmo quando este já se encontra em funcionamento, permite efectuar uma
actuação sustentada rumo a uma melhoria da performance desse sistema. Igualmente
importante é o facto de a Termodinâmica permitir estabelecer limites para os índices de
performance dos sistemas, os quais não são possíveis de obtenção apenas por métodos
intuitivos , e assim contribuir para uma análise mais completa e realista da performance
termodinâmica dos sistemas reais.
Os tempos actuais são de grande complexidade e incerteza no que concerne aos
recursos energéticos, aos custos da energia e à repercussão destes custos sobre o custo final
de bens e serviços. A análise energética dos sistemas, com vista ao aumento da sua
performance e a uma utilização mais racional da energia, e consequentemente a uma
redução de custos e a um aumento de competitividade, bem como a análise do recurso a
sistemas alternativos de fornecimento de energia, apenas pode ser conduzida de modo
sustentado por detentores de competências na análise tais sistemas. O objectivo
fundamental alargado da disciplina de Termodinâmica Aplicada é conferir competências
aos alunos para que estes, de um modo sustentado e com espírito simultaneamente
analítico, inovador e crítico, procedam analisem e conduzam intervenções sobre sistemas
envolvendo transferência e transformação de massa e de energia.
Sistema termodinâmico
A análise termodinâmica é efectuada sobre um sistema, o qual necessita de ser definido de
forma inequívoca. Tal constitui o primeiro passo fundamental do processo de análise,
ficando assim estabelecido com precisão o que está a ser analisado. O sistema fica contido
no interior de uma fronteira, a qual marca a separação entre o sistema e as suas
vizinhanças, aqui entendidas como tudo o que é exterior à fronteira que encerra o sistema
no seu interior. As interacções existentes entre o sistema e as suas vizinhanças têm lugar
através da fronteira que delimita o sistema. Há aqui uma perfeita analogia com o que é
usualmente feito em mecânica: para estudar o movimento de um corpo (sistema): isola-se
esse corpo dos corpos restantes, sendo a acção dos corpos não considerados sobre o sistema
levada em consideração através de forças e momentos que são, neste caso, as interacções
sentidas pelo corpo em análise (sistema). Uma vez definido o sistema e identificadas as
- 1.3 -
suas interacções relevantes com as vizinhanças, uma ou mais leis físicas são aplicadas com
o objectivo de avaliar o comportamento do sistema sob a acção dessas interacções.
No que respeita à fronteira delimitadora do sistema, ela diz-se impermeável se não é
atravessada pela massa (no caso contrário diz-se permeável), e adiabática se não permite
trocas de calor entre o sistema e as suas vizinhanças (no caso contrário diz-se diatérmica).
Tipos de sistemas
O modo como o sistema interage com as suas vizinhanças, através da fronteira, permite
distinguir vários tipos de sistemas termodinâmicos. Se a fronteira é impermeável, isto é,
não atravessada pela massa, estamos perante um sistema fechado. Se, pelo contrário, a
massa flui de modo a atravessar a fronteira do sistema, trata-se de um sistema aberto. Neste
caso, o sistema termodinâmico é usualmente referido como volume de controlo, delimitado
externamente pela superfície de controlo. As porções da superfície de controlo através das
quais flui a massa são designadas portos de entrada ou portos de saída. Quando se trata de
sistemas abertos, a análise é feita sobre a porção particular de massa contida, em cada
instante, no interior da superfície de controlo.
Se o sistema é fechado, ele é também por vezes referido como massa de controlo.
Se, para além de a fronteira ser impermeável, o sistema fechado não tem qualquer outra
interacção energética com as suas vizinhanças diz-se ser um sistema isolado.
Propriedades termodinâmicas
As grandezas que descrevem o estado e o comportamento macroscópico de um sistema
termodinâmico recebem o nome de propriedades termodinâmicas. O estado do sistema é a
condição especificada pelos valores das suas propriedades termodinâmicas.
As propriedades termodinâmicas são as características macroscópicas do sistema,
tais como o seu volume, pressão e temperatura, cujos valores numéricos num dado instante
não dependem da história (passado) do sistema. Qualquer uma das propriedades citadas é,
num dado instante, quantificada pelo valor que resulta da sua medição nesse mesmo
instante. O número de propriedades termodinâmicas é considerável, sendo os valores de
algumas delas obtidos por medição directa e os de outras obtidos a partir destes mediante
expressões que os relacionam.
Se o valor associado a uma propriedade termodinâmica do sistema pode ser obtido
como a soma dos valores dessa mesma propriedade associados a partes do sistema, trata-se
de uma propriedade aditiva, cujo valor numérico depende do tamanho (massa) do sistema.
Tal propriedade é, por isso, uma propriedade extensiva. Como exemplos temos o volume e
a energia. Se, pelo contrário, o valor de uma propriedade é independente do tamanho
(massa) do sistema, trata-se de uma propriedade intensiva. Como exemplos temos a
pressão e a temperatura.
Um aspecto especialmente relevante no que concerne as propriedades
termodinâmicas é que elas se encontram relacionadas, e não podem tomar valores
- 1.4 -
quaisquer. Assim, uma vez fixados os valores de algumas propriedades termodinâmicas, os
valores das restantes variáveis termodinâmicas vêm condicionados pelos valores tomados
pelas primeiras. Muito em particular, um sistema termodinâmico constituído por uma
substância pura possui apenas dois graus de liberdade, isto é, apenas há a liberdade de
estabelecer duas condições para os valores das suas propriedades termodinâmicas. Se for
imposta uma condição às propriedades desse sistema ele passa a ter apenas um grau de
liberdade, isto é, apenas pode ser imposta uma condição às propriedades termodinâmicas
restantes. Se forem impostas duas condições às propriedades termodinâmicas do sistema
ele fica sem qualquer grau de liberdade, e todas as propriedades termodinâmicas vêm
estabelecidas e perfeitamente determinadas em função das duas condições impostas. O que
foi referido é conceptualmente verdadeiro apara qualquer substância pura, qualquer que
seja o seu estado físico.
Como se verá mais adiante, uma coisa é saber que o valor de uma ou mais variáveis
termodinâmicas está condicionado à partida pelas condições impostas ao sistema, e outra
coisa é encontrar o valor numérico dessa ou dessas variáveis termodinâmicas. Tomemos o
exemplo dos Gases Ideais, cujo comportamento é descrito por uma equação de estado
muito simples
PV = mRT (1.1)
a qual estabelece uma relação entre volume, pressão e temperatura do sistema. Facilmente
se constata que se, por exemplo, se atribuir um valor à pressão, o valor do volume passa a
depender apenas da temperatura (passa a haver apenas um grau de liberdade). Se se
fixarem, por exemplo, os valores da pressão e do volume (imposição de duas condições
sobre os valores das propriedades) o valor da temperatura vem imposto, e deixa de haver
qualquer liberdade para o atribuir. O que se analisou diz respeito a um Gás Ideal, mas vale,
conceptualmente, para qualquer substância. Podemos considerar que, para qualquer
substância, há uma equação de estado que impõe relações entre as suas propriedades, e que
apenas são deixados dois graus de liberdade ao sistema, com a particularidade de que, para
a generalidade das substância de interesse não é conhecida a equação de estado sob a forma
de uma relação matemática e , geralmente, apenas dispomos dessa informação na forma de
gráficos, de diagramas ou de tabelas.
- 1.5 -
interfaces delimitadoras dos agrupamentos de matéria que se encontram em diferentes
fases.
Substância pura é aquela cuja composição química é uniforme e invariável. Do que
se disse anteriormente sobre fases, uma substância pura pode existir em mais que uma fase
já que as diferentes fases se caracterizam por uma mesma composição química mas
diferentes estruturas físicas.
Processo
Processo é a evolução sofrida por um sistema termodinâmico, durante a qual há a variação
de uma ou mais propriedades termodinâmicas. Um processo fica identificado pelos estados
inicial e final do sistema que o sofre, em conjunto com o conhecimento das interacções
existentes entre o sistema e as suas vizinhanças durante essa evolução. O percurso
associado ao processo é identificado como a sucessão de estados por que passa o sistema,
do estado inicial ao estado final. O caso especial do processo em que os estados inicial e
final são coincidentes recebe o nome de processo cíclico ou, simplesmente, ciclo
termodinâmico.
A manutenção do valor de uma propriedade termodinâmica durante um processo
constitui um dos critérios usuais para classificar os processos. Um processo a temperatura
constante é dito ser isotérmico, um processo a volume constante é dito ser isocórico ou
isométrico, um processo a pressão constante é dito ser um processo isobárico, e assim
sucessivamente. O tipo de interacções existentes entre o sistema e as suas vizinhanças
constitui um outro critério para a classificação dos processos termodinâmicos. No caso de
ser um processo em que não há trocas de calor com as vizinhanças diz-se um processo
adiabático.
- 1.6 -
m
ρ = lim (1.2)
V →V ' V
grandeza que pode variar no espaço e no tempo, e tem as unidades kg/m3. É, pontualmente,
a massa contida na unidade de volume. Dada esta eventual variação, a massa contida num
volume V é calculada como
m= ρdV (1.3)
V
Fnormal
p = lim (1.4)
A → A' A
- 1.7 -
Fig. 1.1. Escalas de pressão [4].
T (º C) = T (K ) − 273.15 (1.5a)
T (K ) = T (º C) + 273.15 (1.5b)
- 1.8 -
métodos mais simples e mais populares consiste em usar a propriedade de certos corpos se
expandirem quando sujeitos a aquecimento, isto é, a um aumento de temperatura,
propriedade que recebe o nome de dilatabilidade. Tal é o caso dos termómetros de
mercúrio ou de álcool.
A propriedade termodinâmica temperatura possui um significado e implicações
muito profundas em termodinâmica, sendo a existência de diferenças de temperatura a
causa das transferências de calor. Por isso, a explanação feita constitui apenas um breve
resumo que se pretende suficiente para o fim em vista.
PV = nR T (1.6)
Pv = R T (1.7)
- 1.9 -
em que v [m3/kmol] é o volume específico molar, isto é, o volume ocupado por uma
kilomol do gás.
Muitas vezes interessa referir os valores das propriedades numa base mássica e não
numa base molar, pelo que a equação dos gases perfeitos é manipulada para dar
R R
PV = (nM ) T =m T = mRT (1.8)
M M
Pv = RT (1.9)
O modelo de Gás Ideal estabelece ainda que a energia interna específica de um Gás
Ideal é função apenas da temperatura, isto é, u = u (T ) . A energia interna não é definida em
termos absolutos, mas qualquer diferença de energia interna específica verificada num
qualquer processo 1-2 é calculada como
2
u 2 − u1 = c v dT (1.10)
1
δq
cv = (1.11)
dT v
O seu significado físico é o da relação entre a quantidade de calor recebida ou cedida pela
unidade de massa da substância e a variação de temperatura induzida por essa troca de
calor, ocorrendo este processo a volume constante.
Como a energia interna específica de um Gás Ideal é função apenas da temperatura,
como h = u (T ) + Pv = u (T ) + RT vem que a entalpia específica de um Gás Ideal é também
função apenas da temperatura, isto é, h = h(T ) . A diferença de entalpia específica
verificada num qualquer processo 1-2 é calculada como
2
h2 − h1 = c P dT (1.12)
1
- 1.10 -
δq
cP = (1.13)
dT P
c P − cv = R (1.14)
u 2 − u1 = c v (T2 − T1 ) (1.15)
h2 − h1 = c P (T2 − T1 ) (1.16)
Se os calores específicos não são constantes, é necessário conhecer a sua dependência face
à temperatura para assim poder efectuar as integrações anteriores.
Apesar da simplicidade do modelo de gás ideal, os melhores valores da energia
interna específica e da entalpia específica, entre outras, podem ser obtidos de tabelas, como
função apenas da temperatura.
- 1.11 -
particular. Convém referir que, neste caso, a dependência das propriedades face à
temperatura continua a ser extremamente forte, se bem que não única: variáveis como a
pressão também influenciam o valor das propriedades.
c P = cv = c (1.17)
- 1.12 -
Fig. 1.3. Diagramas Pv e Ts das propriedades das substâncias [2].
- 1.13 -
mv mv
x= = (1.18)
mtotal mv + ml
O valor de x está compreendido no intervalo [0; 1], sendo que se x = 1 temos vapor
saturado, se 0 < x < 1 temos uma mistura saturada líquido+vapor, e se x = 0 temos líquido
saturado.
O valor de qualquer propriedade extensiva (volume, energia interna, entalpia,
entropia, etc.) do sistema é obtido como a soma das contribuições de cada uma das partes
que o constituem. Tomando, como exemplo, o caso do volume, temos que
V = V v + Vl (1.19)
O volume do sistema total pode ser expresso como o produto da massa total do sistema
pelo volume específico do sistema, v, o mesmo se passando com cada uma das porções de
líquido e de vapor tomadas individualmente. Assim a Eq. (1.19) vem
(mv + ml )v = mv vv + ml vl (1.20)
isto é
mv ml
v= vv + vl (1.21)
m v + ml m v + ml
ou seja
v = xv v + (1 − x )vl (1.22)
- 1.14 -
v − vl
x= (1.24)
vv − vl
Também esta expressão, derivada para o volume, é aplicável a qualquer outra propriedade
extensiva.
PV n = C te (1.25)
Tabela 1.1. Processos politrópicos sofridos por um gás ideal de calores específicos constantes.
- 1.15 -
O cálculo trabalho W12 é obtido como
2
P V − P1V1
W12 = − PdV = 2 2 (n ≠ 1) (1.26)
1− n
1
2 2
dV V P
W12 = − PdV = − mRT = − mRT ln 2 = −mRT ln 1 (1.27)
1 1
V V1 P2
2 2
Q12 = δQ = m c P dT = mc P (T2 − T1 ) (1.28)
1 1
um resultado idêntico sendo obtido para o caso da transformação isocórica. Para o caso da
transformação isotérmica, dU = 0 e δQ = −δW , isto é, Q12 = −W12 .
Para os processos isobárico a variação de entropia é calculada como
2 2
δQ mc P dT T
S 2 − S1 = = = mc P ln 2 (1.29)
1
T 1
T T1
dT dT T
dS = mc P = (1.30)
T dS P mc P
Por sua vez, para um processo isocórico tem-se que δQ = mcv dT , e obtém-se
dT dT T
dS = mc v = (1.31)
T dS V mc v
- 1.16 -
A derivada dT dS representa o declive correspondente a uma transformação num
diagrama TS e, como c P > cv temos que a curva correspondente a uma transformação
isobárica é aí representada com uma inclinação menor que a da curva correspondente a
uma transformação isocórica. Tal encontra-se ilustrado no diagrama TS da Fig. 1.4.
Os resultados anteriores são válidos se se estiver perante calores específicos
constantes. No caso de os calores específicos não serem constantes, mas variarem com a
temperatura, o coeficiente da isentrópica não é constante e deixamos de poder usar a
expressão PV γ = C te (γ = c P cv ) para relacionar quaisquer dois pontos sobre uma
isentrópica. Quando se está perante um processo isentrópico e é para efectuar uma
evolução isentrópica entre os pontos 1 e 2 usa-se uma das expressões
v2 v P2 P
= r2 ou = r2 (1.32)
v1 S v r1 P1 S Pr1
- 1.17 -
que leve em consideração os componentes/elementos ou interacções relevantes para
o problema em análise;
5) Estabelecer, com clareza, as hipóteses a considerar na análise. Para esta tarefa será
importante ter alguma experiência na análise de problemas do mesmo tipo, alguma
da qual pode ser adquirida com as aulas práticas de Termodinâmica Aplicada;
6) Estabelecer relações entre o que se conhece e o que se pretende conhecer. Para tal
usam-se princípios físicos, usualmente sob a forma de equações, devendo ter
sempre presente o que se conhece e o que se pretende conhecer, de modo a chegar
ao resultado pretendido com o menor esforço, e com menores probabilidades de
erro. Trabalhar/manipular essas equações ou relações, de modo a obter expressões
de onde seja possível obter o resultado pretendido;
7) Se houver lugar a substituições numéricas estas devem ser efectuadas nesta etapa, e
o que houver a calcular deve ser calculado nesta etapa/fase. É necessário prestar
especial atenção aos valores numéricos usados e às unidades em que se encontram
as várias variáveis que são substituídas nas equações ou expressões obtidas;
8) Efectuar uma análise crítica dos valores numéricos obtidos, e avaliar a sua
coerência. Ter especial atenção à ordem de grandeza dos valores obtidos e os seus
sinais. Daqui se podem obter indicadores importantes de que algo pode estar errado
nos passos anteriores;
1.6. REFERÊNCIAS
1. Cengel, Y. A. & Boles, M. A., Thermodynamics: An Engineering Approach, 2nd Ed.,
McGraw-Hill, NY, 1994.
2. Bejan, A., Advanced Engineering Thermodynamics, Wiley, NY, 1988.
3. Moran, M. J. & Shapiro, H. N., Fundamentals of Engineering Thermodynamics, 2nd Ed,
Wiley, NY, 1993.
4. Wark, K. Jr, Thermodynamics, 5th Ed., McGraw-Hill, NY, 1989.
- 1.18 -
2. BALANÇO DE UMA GRANDEZA
GENÉRICA
em que os subscritos pretendem significar o seguinte: in entrada, gen geração, out saída e
sto acumulação. O ponto sobre a grandeza Φ pretende significar que cada termo representa
uma razão temporal (uma taxa), isto é, Φ sto = ∂Φ ∂t .
Como exemplo elucidativo considere-se o princípio de conservação expresso pela
Eq. (2.1) aplicado a uma conta bancária: a razão temporal à qual lá é depositado dinheiro
(termo in) adicionada à razão temporal à qual o dinheiro é gerado na própria conta (termo
gen, resultado da remuneração devida, por exemplo, à aplicação de uma taxa de juro),
- 2.2 -
subtraída da razão temporal à qual é retirado dinheiro da conta (termo out) é igual à razão
temporal à qual o dinheiro está a ser acumulado nessa conta (termo sto). Se o termo de
acumulação é positivo, a conta possui cada vez mais dinheiro à medida que o tempo passa,
acontecendo o inverso se o termo de acumulação for negativo.
Um outro exemplo elucidativo pode ser dado pela análise energética do corpo
humano. O corpo humano recebe energia através dos alimentos ingeridos, Φin , e liberta
energia Φ out sob a forma de feses, urina, sudação, humidade associada ao sistema
respiratório, calor para o ambiente (o corpo humano só se mantém sem problema, por
longos períodos, se a temperatura corporal for superior à temperatura ambiente) e
realização de trabalho sob a forma de actividade física. No interior do corpo não há geração
nem destruição de energia, Φ gen = 0 ,mas apenas transformações que levam a que a
energia mude o estado em que se apresenta. No interior do corpo humano há acumulação
de energia, Φsto , nos tecidos adiposos, os quais aumentam ou diminuem em volume e em
massa consoante a quantidade de energia acumulada. A Eq. (2.1) estabelece, por isso, que
se a taxa de entrada de energia ultrapassa a taxa de saída de energia há uma acumulação
positiva de energia, acompanhada de um aumento da massa (e volume) das gorduras do
corpo. Se, pelo contrário, a taxa de saída de energia ultrapassar a taxa de entrada de
energia, há uma acumulação negativa de energia no corpo, acompanhada de uma
diminuição da massa (e volume) das gorduras do corpo. O que foi referido para o corpo
humano aplica-se ao corpo dos animais em geral, e o balanço de energia enunciado pode
ser usado de diferentes modos e com diferentes fins, de que se destacam os tratamentos de
emagrecimento (usuais em pessoas) e tratamentos de engorda (usuais em animais). Um
tratamento detalhado destes aspectos pode ser encontrado em [1].
Os exemplos anteriores foram introduzidos devido à familiaridade de todos nós
com balanços desse género. Em Termodinâmica Aplicada, os balanços de conservação são
estabelecidos para grandezas tais como a massa, a energia e a entropia, que são grandezas
que obedecem a princípios de conservação. Para o balanço poder ser estabelecido, é
necessário conhecer as taxas de entrada e de saída da grandeza em causa, bem como a
relação que estabelece a geração dessa grandeza no interior do sistema. Para tal, é
necessária uma análise criteriosa do problema em causa e o correcto estabelecimento das
interacções do sistema em análise com as suas vizinhanças.
2.3. REFERÊNCIAS
1. Cengel, Y. A. & Boles, M. A., Thermodynamics: An Engineering Approach, 2nd Ed.,
McGraw-Hill, NY, 1994.
2. Bejan, A., Advanced Engineering Thermodynamics, Wiley, NY, 1988.
- 2.3 -
3. Moran, M. J. & Shapiro, H. N., Fundamentals of Engineering Thermodynamics, 2nd Ed,
Wiley, NY, 1993.
4. Wark, K. Jr, Thermodynamics, 5th Ed., McGraw-Hill, NY, 1989.
- 2.4 -
3. PRINCÍPIO DE CONSERVAÇÃO DE
MASSA
∂mcm
=0 (3.1)
∂t
que não é mais que a tradução matemática do facto de a massa global do sistema fechado
permanecer constante.
Se o sistema fechado é composto por N espécies químicas diferentes, o princípio de
conservação de massa para a espécie química particular i estabelece que
∂mi
mi , gen = (3.2)
∂t
N
mi , gen = 0 (3.3a)
i =1
N
∂mi
=0 (3.3b)
i =1 ∂t
isto é, não há geração nem destruição da massa global do sistema, apesar de no seu interior
poderem ocorrer reacções químicas.
- 3.2 -
3.2. CONSERVAÇÃO DE MASSA PARA UM SISTEMA
ABERTO
Contrariamente a um sistema fechado, um sistema aberto troca massa com as suas
vizinhanças através da fronteira que o delimita, a qual é neste caso permeável. A aplicação
do princípio de conservação expresso pela Eq. (2.1) a um volume de controlo conduz a
No interior do volume de controlo não há geração global de massa, pelo que mgen = 0 . Por
sua vez, a taxa de acumulação de massa no interior do volume de controlo pode ser
expressa sob a forma de uma razão temporal como ∂mcv ∂t . No que respeita às entradas e
saídas de massa do volume de controlo, estas têm lugar através dos portos de entrada e de
saída, sendo a entrada global de massa o somatório das diversas entradas parciais, o mesmo
se passando com a saída global de massa. A Eq. (3.4) é por isso reescrita como
∂mcv
= m− m (3.5)
∂t in out
N N N N
mi,in + mi,gen − mi,out = mi,sto (3.7)
i =1 i =1 i =1 i =1
em que cada um dos termos dentro de parêntesis se identifica com cada um dos termos da
Eq. (3.4) e, pelas razões apontadas anteriormente,
N
mi,gen = 0 (3.8)
i =1
- 3.3 -
ou seja, globalmente não há geração nem destruição de massa.
Neste ponto convém ainda notar que, no que concerne ao estabelecimento da
conservação de massa, o caso de um sistema fechado pode ser visto como um caso
particular de um sistema aberto, em que são nulas as interacções mássicas através das
fronteiras do sistema.
3.3. REFERÊNCIAS
1. Cengel, Y. A. & Boles, M. A., Thermodynamics: An Engineering Approach, 2nd Ed.,
McGraw-Hill, NY, 1994.
2. Bejan, A., Advanced Engineering Thermodynamics, Wiley, NY, 1988.
3. Moran, M. J. & Shapiro, H. N., Fundamentals of Engineering Thermodynamics, 2nd Ed,
Wiley, NY, 1993.
4. Wark, K. Jr, Thermodynamics, 5th Ed., McGraw-Hill, NY, 1989.
- 3.4 -
4. PRINCÍPIO DE CONSERVAÇÃO DE
ENERGIA
PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA
O conceito de energia é relativamente bem apreendido se bem que seja mais complexo que
o conceito de massa. Tal deve-se em grande parte às diferentes formas sob as quais a
entidade energia se pode apresentar, bem como às conversões que podem ocorrer entre as
diferentes formas de energia.
Energia interna
A energia interna U de um sistema termodinâmico é definida como o somatório de todas as
formas de energia microscópicas associadas a esse sistema. Tais formas microscópicas de
energia podem ainda ser isoladas como energia sensível, energia latente, energia química e
energia nuclear.
- 4.2 -
e novas ligações atómicas que se estabelecem, com a consequente alteração da energia
química associada a cada molécula e, por conseguinte, ao sistema.
Uma vez introduzidas todas as formas microscópicas de energia numa propriedade global,
a energia interna, falta agora considerar as formas macroscópicas de energia.
1
KE = mV 2 (4.1)
2
PE = mgz , (4.2)
Energia total
Do que foi referido anteriormente, a energia total de um sistema é obtida como
- 4.3 -
1
E = U + mV 2 + mgz + m(...) , (4.3a)
2
1
e = u + ke + pe = u + V 2 + gz + (...) , (4.3b)
2
Doravante, neste texto, admitir-se-á que apenas estão presentes a energia cinética de
translação e a energia potencial gravítica como formas macroscópicas de energia.
- 4.4 -
A fronteira de um sistema fechado foi introduzida como sendo aquela que é
impermeável, isto é, não atravessada pela massa, nada tendo sido dito no que respeita a ser
atravessada pela energia. Refere-se agora que tal fronteira pode ser atravessada pela
energia, desde que se trate das interacções energéticas calor ou trabalho.
Trabalho
A transferência energética entre um sistema e as suas vizinhanças sob a forma de trabalho
ocorre através da fronteira do sistema, sendo trabalho entendido em Termodinâmica como
toda a interacção energética que pode ser directamente utilizada para elevar um peso. Tal
definição não é mais que uma adaptação da definição usual de trabalho, o qual está
associado a uma força que actua ao longo de uma trajectória, sendo o trabalho posto em
jogo na trajectória infinitesimal ds dado por δW = F.ds . Aplicando esta expressão entre os
estados 1 e 2 resulta que
2
W12 = F.ds (4.5)
1
sendo este trabalho dependente do modo como F varia ao longo da trajectória, isto é, o
trabalho depende da trajectória de integração, não sendo opor isso uma variável
termodinâmica. Esta é uma das características apresentadas pelas diferenciais inexactas,
por oposição ao que se passa com as diferenciais exactas, e daí a utilização do símbolo δ
para a diferencial e não d. Adicionalmente, escreve-se W12 e não ∆W = W2 − W1 .
Uma situação comum em Termodinâmica encontra-se ilustrada na Fig. 4.1, em que
o sistema termodinâmico é o fluido à pressão P contido na câmara cilíndrica delimitada por
uma tampa rígida num dos extremos e por um êmbolo com um área de secção transversal A
que se desloca sem atrito no outro extremo.
A força exercida sobre o êmbolo móvel é dada por F = − PAi , em que i é a normal interior
à fronteira do sistema, neste caso o êmbolo móvel. Admitindo que o processo de expansão
sofrido pelo fluido é suficientemente lento, de modo a haver uma uniformidade da pressão
em todos os pontos da câmara, trata-se de um processo quasi-estático, constituído por uma
- 4.5 -
sucessão de estados de equilíbrio do fluido. O trabalho posto em jogo na deslocação
infinitesimal +dxi do êmbolo é obtido como δW = − PAdx = − PdV , sendo por isso o
trabalho posto em jogo na evolução 1-2 dado por
2
W12 = − PdV (4.6)
1
Calor
Uma transferência energética entre o sistema e as suas vizinhanças sob a forma de calor
ocorre através da fronteira do sistema sempre que existir uma diferença de temperatura
entre eles, sendo que o calor se transfere da zona a temperatura mais elevada para a zona a
temperatura mais baixa, e a fronteira possa ser atravessada pelo calor. Tal fronteira é dita
ser diatérmica; na situação oposta, em que não é atravessada pelo calor, a fronteira é dita
ser adiabática. Assim, as interacções energéticas entre um sistema e as suas vizinhanças
são classificadas como calor ou como trabalho, podendo ser tomadas como trabalho todas
as interacções energéticas que não sejam o resultado da existência de uma diferença de
temperatura entre o sistema e as suas vizinhanças.
Tal como o trabalho, o calor não é uma propriedade termodinâmica do sistema mas
apenas energia em trânsito a atravessar a sua fronteira, pelo que se trata também de uma
diferencial inexacta. De modo análogo ao que se fez para o trabalho, o calor posto em jogo
na evolução 1-2 dado por
2
Q12 = δQ (4.7)
1
- 4.6 -
A transferência de calor que tem lugar é função da diferença de temperatura e de
determinados coeficientes de transferência, os quais têm a ver com os mecanismos através
dos quais o calor é transferido. Existem dois mecanismos básicos de transferência de calor,
que são a condução e a radiação. O modo de transferência de calor por convecção não
constitui um modo básico de transferência, resultando sim de uma combinação dos
mecanismos de condução e radiação num fluido em escoamento
Potência
As instalações usuais são concebidas para funcionar de um modo contínuo, sendo por isso
comum as referências a potências e não a trabalho ou a calor. Em tais instalações, o que é
usualmente importante é o calor absorvido por unidade de tempo (a potência calorífica
absorvida) e o trabalho fornecido por unidade de tempo (a potência mecânica fornecida), e
não propriamente os valores absolutos do trabalho ou do calor envolvidos.
Uma vez definidas a interacções energéticas infinitesimais δQ e δW ocorrendo no
intervalo de tempo ∆t , as potências calorífica e mecânica instantâneas são obtidas,
respectivamente, como
δQ
Q = lim (4.8a)
∆t → 0 ∆t
δW
W = lim (4.8b)
∆t → 0 ∆t
Os valores médios destas potências são obtidos de modo análogo, sendo que, neste caso,
numerador e denominador são valores finitos bem definidos.
∂Ecm
∂t
= (
Q +W − Q +W ) ( ) (4.9)
in out
ou então, fazendo Q = Q− Q eW = W− W,
in out in out
∂ECM
= Q +W (4.10)
∂t
- 4.7 -
Se a relação anterior for aplicada a um ciclo, como a energia total E é uma propriedade
termodinâmica cujo integral cíclico é nulo, obtém-se
isto é, uma máquina térmica que opera ciclicamente liberta, por ciclo, uma quantidade de
trabalho igual ao calor total absorvido nesse mesmo ciclo.
Para um sistema fechado que apenas sofra variações na sua energia interna, a
equação de conservação de energia pode ser escrita na forma diferencial como
dU = δQ + δW (4.12)
∂E cv
= Q + W + me − me (4.13)
∂t in out
em que e é a energia total por unidade de massa nos portos de entrada e de saída.
Explicitando as diversas formas de e obtém-se
∂E cv 1 1
= Q + W + m u + V 2 + gz − m u + V 2 + gz (4.14)
∂t in
2 out
2
- 4.8 -
Trabalho de fluxo para um volume de controlo
Tome-se como referência a Fig. 4.2, em que, durante o intervalo de tempo infinitesimal ∆t
no volume de controlo vc entra a massa δmin e sai a massa δmout através dos seus portos
de entrada e de saída. Por uma questão de simplicidade de análise, considera-se apenas um
porto de entrada e um porto de saída.
fluxo
Wout = − Pout vout mout (< 0 ) (4.15b)
- 4.9 -
∂Ecv 1 1
= Q + Wcv + m u + Pv + V 2 + gz − m u + Pv + V 2 + gz (4.17)
∂t in
2 out
2
∂Ecv 1 1
= Q + Wcv + m h + V 2 + gz − m h + V 2 + gz (4.18)
∂t in
2 out
2
que é a forma usual da equação que estabelece o princípio de conservação de energia para
um sistema aberto.
4.6. REFERÊNCIAS
1. Cengel, Y. A. & Boles, M. A., Thermodynamics: An Engineering Approach, 2nd Ed.,
McGraw-Hill, NY, 1994.
2. Bejan, A., Advanced Engineering Thermodynamics, Wiley, NY, 1988.
3. Moran, M. J. & Shapiro, H. N., Fundamentals of Engineering Thermodynamics, 2nd Ed,
Wiley, NY, 1993.
4. Wark, K. Jr, Thermodynamics, 5th Ed., McGraw-Hill, NY, 1989.
- 4.10 -
5. SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA
ENTROPIA
δW ≥ 0 , (5.1)
1T
isto é, já que é impossível uma tal máquina fornecer trabalho mecânico, dá-se a
eventualidade de necessitar que se lhe forneça trabalho mecânico. Se o sistema operar
reversivelmente, sem qualquer tipo de perdas, a desigualdade da expressão anterior dá
lugar à igualdade. Em termos de calor, atendendo a que δW = − δQ , obtém-se que
1T
δQ ≤ 0 . (5.2)
Sendo a temperatura absoluta sempre positiva, a expressão anterior pode ser reescrita como
δQ
≤ 0. (5.3)
1T T
QH QL
+ ≤ 0, (5.4)
T H TL
δQ
≤0, (5.5)
T
δQ rev
= 0. (5.6)
T
- 5.2 -
5.2. A PROPRIEDADE ENTROPIA
O conceito de entropia é mais difícil de apreender que os conceitos de massa ou de energia,
se bem que usualmente se associe a entropia a noção de desordem. Etimologicamente,
deriva de ener (energia) e tropos (transformação). No presente contexto, a propriedade
entropia será introduzida como uma propriedade derivada, resultado da análise energética
de ciclos térmicos.
Em termos matemáticos, se o integral cíclico é nulo é porque a função integranda é
uma diferencial total exacta. Em termos termodinâmicos, tal significa que δQ rev T é o
diferencial de uma propriedade termodinâmica, a qual recebeu de Clausius o nome de
entropia, a qual é designada pela letra S. A partir da Eq. (5.6) pode assim escrever-se que
δQrev
dS = (5.7)
T
e que
2 2
δQ rev
= dS = S 2 − S1 (5.8)
1
T 1
2 1
δQ δQ δQ
= + ≤ 0, (5.9)
T 1
T 2
T
- 5.3 -
Como o processo de retorno 2-1 é reversível,
2
δQ
− ( S 2 − S1 ) ≤ 0 , (5.10)
1
T
isto é
2
δQ
(S 2 − S1 ) − ≥ 0. (5.11)
1
T
2
δQ
S g = ( S 2 − S1 ) − ≥ 0. (5.12)
1
T
Q Q ∂S
ms + + Sg − ms + = , (5.13)
in i T out j T ∂t
- 5.4 -
em que se assumiu que nas porções de fronteira i há entrada de calor no sistema e que nas
porções j há saída de calor do sistema. Esta equação é reescrita como
∂S Q
Sg = − + ms − ms ≥ 0 . (5.14)
∂t sc T out in
∂S Q
Sg = − ≥ 0. (5.15)
∂t sc T
− W QH + QL T
η= = = 1− L (5.16)
QH QH TH
- 5.5 -
Fig. 5.1. Máquina térmica de Carnot [4].
Esta é a maior eficiência possível para uma máquina que opere entre estas temperaturas, e
que é um valor bem abaixo dos 100%. Para o caso das máquinas reais, as quais estão longe
de operar reversivelmente, devemos pois julgar a sua eficiência relativamente à eficiência
da máquina de Carnot e não relativamente ao valor 100%.
Quando se trata de uma máquina frigorífica tal como a representada na Fig. 5.2,
podem ser perseguidos dois objectivos distintos com uma tal máquina: remover o calor Q L
da fonte fria à temperatura T L (acção refrigeração com máquina frigorífica), ou ceder o
calor Q H na fonte quente à temperatura T H (acção de aquecimento com bomba de calor).
Neste caso, não se fala propriamente de eficiência térmica, termo este reservado
para as máquinas térmicas libertadoras de potência mecânica, usando-se sim o coeficiente
de desempenho, COP. Para a função refrigeração o coeficiente de desempenho do
refrigerador de Carnot vem
QL QL TL
COP = = = (5.17)
W − Q H + Q L T H − TL
- 5.6 -
valor este que pode ser bem superior à unidade. Para a função aquecimento o coeficiente de
desempenho da bomba de calor de Carnot vem
− QH − QH TH
COP = = = (5.18)
W − Q H + Q L TH − T L
A máquina de Carnot reversível opera entre as temperaturas THC e TLC , e não entre as
temperaturas das fontes quente e fria, T H e T L . Quando tal máquina opera de modo a
maximizar o trabalho mecânico fornecido ao exterior, obtém-se que a sua eficiência é dada
por
12
TH
η erp = 1 − (5.19)
TL
- 5.7 -
em que erp significa Endo-Reversible engine for maximum Power.
O valor da eficiência assim obtido é menor que o de uma máqina de Carnot e,
curiosamente, está bastante próximo do valor da eficiência encontrada nas grandes e muito
eficientes máquinas térmicas associadas a instalações de produção de energia eléctrica.
5.6. REFERÊNCIAS
1. Cengel, Y. A. & Boles, M. A., Thermodynamics: An Engineering Approach, 2nd Ed.,
McGraw-Hill, NY, 1994.
2. Bejan, A., Advanced Engineering Thermodynamics, Wiley, NY, 1988.
3. Moran, M. J. & Shapiro, H. N., Fundamentals of Engineering Thermodynamics, 2nd Ed,
Wiley, NY, 1993.
4. Wark, K. Jr, Thermodynamics, 5th Ed., McGraw-Hill, NY, 1989.
- 5.8 -
6. EXERGIA E ANÁLISE EXERGÉTICA
6.1. INTRODUÇÃO
Quando um sistema termodinâmico não está em equilíbrio com outros sistemas com os
quais pode trocar massa e/ou energia existe a possibilidade de ocorrerem processos
espontâneos, a partir dos quais se pode extrair trabalho mecânico útil para satisfazer os
nossos propósitos. Devido a essa ausência de equilíbrio, existe a oportunidade de extrair
trabalho mecânico útil do sistema quando se permite que este evolua para o equilíbrio com
os outros sistemas com os quais pode interagir, sendo que essa oportunidade pode ser
aproveitada ou não. Isto é, o sistema pode evoluir para o equilíbrio com os sistemas com os
quais pode interagir, sem que nenhum aproveitamento tenha sido feito do potencial
existente para a obtenção de trabalho útil ou, pelo contrário, pode ser feito o
aproveitamento do trabalho útil que é possível extrair das transformações espontâneos
sofridas pelo sistema quando este evolui rumo ao equilíbrio.
A exergia, ou disponibilidade, indica-nos o trabalho máximo que é possível extrair
de um sistema quando este evolui rumo ao equilíbrio. Trata-se, pois, de um conceito da
maior importância quando se pretende avaliar o potencial de aproveitamento de um sistema
no que concerne à obtenção de trabalho útil, que é um dos maiores objectivos quando se
trata de avaliar o valor energético de um bem, sistema ou processo.
Devido a imperfeições, os processos reais são irreversíveis, e a irreversibilidade
aparece claramente como correspondendo a uma destruição de exergia, isto é, a uma
destruição do potencial de obtenção de trabalho útil quando os sistemas evoluem rumo ao
equilíbrio. Um dos objectivos do analista de sistemas energéticos é, pois, identificar os
pontos de maior destruição de exergia e procurar melhorar os sistemas no sentido de não
desperdiçar o potencial de aproveitamento de trabalho mecânico útil existente.
A exergia pode ser vista como o trabalho útil máximo possível de ser extraído de
um sistema quando este evolui até ao equilíbrio, mas pode também ser encarada como o
trabalho mecânico mínimo que é necessário fornecer a um sistema quando é para este
evoluir no sentido de ficar numa situação de não equilíbrio com os sistemas com os quais
pode interagir. No entanto, e por ser mais apelativo, neste texto enfatizaremos a exergia, ou
disponibilidade, como o trabalho útil máximo possível de ser extraído de um sistema
quando este evolui para o equilíbrio com o ambiente em que se encontra.
- 6.2 -
concerne à energia potencial do ambiente, esta não sofre variações uma vez que a sua
posição relativamente à vertical não se altera.
O sistema em análise pode evoluir, interagindo com o ambiente, até ficar em
equilíbrio com o ambiente. À medida que o sistema evolui a possibilidade de obtenção de
trabalho mecânico vai diminuindo, e deixa de existir quando o sistema fica em equilíbrio
com o ambiente. Nestas condições diz-se que o sistema ficou no estado morto, isto é, em
equilíbrio com o ambiente, e não é possível experimentar mais evoluções espontâneas. Para
o retirar do estado morto será necessário fornecer-lhe energia. A exergia corresponde, pois,
ao máximo trabalho útil que é possível extrair do sistema quando este evolui entre um dado
estado inicial e o estado morto.
No que se segue apenas será considerada a exergia associada a transformações
acompanhadas de variações de pressão, volume e temperatura. A quantificação da exergia e
a análise exergética de sistemas cujas transformações incluem, também, variações na
composição química será tema abordado no Capítulo 11.
Quantificação da exergia
Para quantificar a exergia considere-se o sistema representado na Fig. 6.1. O sistema
fechado em análise, com energia total E, volume V e entropia S interage com o ambiente à
temperatura T0 e pressão P0 . A fronteira do sistema pode variar, e acomodar as variações
de volume sofridas pelo sistema. O sistema e o ambiente constituem um sistema
combinado, o qual está encerrado por uma fronteira fechada e rígida, através da qual
apenas podem existir interacções energéticas com o Universo exterior sob a forma de
trabalho mecânico, Wc .
- 6.3 -
∆Ec = Qc + Wc (6.1)
1
( )
∆Ec = ∆Es + ∆Ee = (U 0 − U ) + m V02 − V 2 + mg ( z0 − z ) +
2 s
(6.2)
1
( )
(U 0 − U ) + m V02 − V 2 + mg ( z0 − z )
2 e
1 2
∆Ec = ∆Es + ∆Ee = (U 0 − U ) + ∆U e − m V + gz (6.3)
2
1 2
∆Ec = (U 0 − U ) + (T0 ∆Se − P0 ∆Ve ) − m V + gz (6.5)
2
Este resultado para a variação da energia total do sistema combinado pode ser substituído
na Eq (1), e esta equação vem, explicitando para −Wc
1 2
−Wc = (U − U 0 ) − (T0 ∆Se − P0 ∆Ve ) + m V + gz (6.6)
2
A fronteira do sistema combinado á rígida, pelo que a variação de volume sofrida pelo
ambiente iguala, a menos do sinal, a variação de volume sofrida pelo sistema em análise,
pelo que se pode escrever que
- 6.4 -
1 2
−Wc = (U − U 0 ) + P0 (V − V0 ) − T0 ∆Se + m V + gz (6.8)
2
já que não há variações nas condições do ambiente, bem como não há irreversibilidades no
ambiente. Por seu turno, como não há transferência de calor através da fronteira do sistema
combinado, o balanço de entropia para o sistema combinado fornece que
∆S c = S g (6.10)
∆S e = ( S − S 0 ) + S g (6.11)
1 2
−Wc = (U − U 0 ) + P0 (V − V0 ) − T0 ( S − S0 ) + m V + gz − T0 S g (6.12)
2
Nesta altura convém notar que o trabalho que é possível extrair de um sistema,
quando este evolui entre um estado inicial e um estado final, é máximo quando o processo
sofrido pelo sistema é reversível, isto é, isento de geração de entropia. Por isso, o trabalho
máximo que pode ser obtido quando o sistema em análise evolui entre um dado estado
inicial e o estado morto é dado pela parte encaixilhada da Eq. (6.12). A exergia é, por
definição, esse trabalho máximo, isto é, define-se uma propriedade, exergia, através da
expressão
1 2
A = ( −Wc )max = (U − U 0 ) + P0 (V − V0 ) − T0 ( S − S0 ) + m V + gz (6.13)
2
( )
É também importante notar que o termo T0 S g S g ≥ 0 representa o decréscimo,
face ao máximo possível, no trabalho que é possível obter pelo facto de o sistema sofrer
uma evolução com algum nível de irreversibilidade. Deste modo, a irreversibilidade
aparece associada à perda de oportunidade de obtenção de trabalho útil dos sistemas
quando estes sofrem processos espontâneos. Na realidade não há processos isentos de
- 6.5 -
irreversibilidade, pelo que o termo T0 S g assume sempre alguma importância, ainda que se
deva procurar reduzi-lo ao mínimo possível.
A expressão de definição de exergia encontra-se na Eq. (6.13). No entanto, é muitas
vezes conveniente expressar a exergia numa base mássica, pelo que se define a exergia
específica como
A W 1
a= = − c = ( u − u0 ) + P0 ( v − v0 ) − T0 ( s − s0 ) + V 2 + gz (6.14)
m m max 2
Por sua vez, uma variação de exergia entre os estados 1 e 2 pode ser calculada como
1 2
∆A12 = A2 − A1 = (U 2 − U1 ) + P0 (V2 − V1 ) − T0 ( S 2 − S1 ) + m
2
( )
V2 − V12 + g ( z2 − z1 ) (6.15)
ao passo que a correspondente variação da exergia específica pode ser calculada como
1 2
∆a12 = a2 − a1 = ( u2 − u1 ) + P0 ( v2 − v1 ) − T0 ( s2 − s1 ) +
2
( )
V2 − V12 + g ( z2 − z1 ) (6.16)
Analogamente ao que foi feito para a massa, para a energia e para a entropia, também pode
ser estabelecido o balanço de entropia para sistemas fechados. Para tal considere-se o
princípio de conservação de energia para um sistema fechado que evolui entre os estados 1
e 2 expresso como
2
E2 − E1 = δ Q + W (6.17)
1
ou então
2
1 2
(U 2 − U1 ) + m
2
( )
V2 − V12 + g ( z2 − z1 ) = δ Q + W (6.18)
1
2
δQ
S2 − S1 = + Sg (6.18)
1
T b
- 6.6 -
notando que, na Eq. (6.18), o quociente δ Q T é calculado sobre a fronteira do sistema.
Multiplica-se a Eq. (6.18) por T0 e subtrai-se esse resultado à Eq. (6.17), resultando
2
1 2 T
(U 2 − U1 ) + m
2
( )
V2 − V12 + g ( z2 − z1 ) − T0 ( S 2 − S1 ) = 1 − 0 δ Q + W − T0 S g (6.19)
Tb
1
Adicionando P0 (V2 − V1 ) a cada um dos lados desta equação, e tendo presente a Eq. (6.15),
obtém-se
2
T
( A2 − A1 ) = 1 − 0 δ Q − −W − P0 (V2 − V1 ) − T0 S g (6.20)
1
Tb
∂A T dV
= 1 − 0 Q j − −W − P0 − T0 S g (6.21)
∂t j Tj dt
As Eq. (6.20) e (6.21) são formas diferentes da equação de balanço de exergia para
um sistema fechado. O primeiro termo do lado direito expressa a transferência de exergia
associada à transferência de calor, o segundo termo expressa a transferência de exergia
associada à transferência de trabalho, e o último termo representa a destruição de exergia,
associada à irreversibilidade da transformação sofrida pelo sistema em análise. A análise e
intervenção nos sistemas deve sempre ter em vista a minimização do termo de destruição
de de exergia (ou de geração de entropia), o que corresponde a maximizar a extracção de
trabalho útil do potencial existente para essa extracção de trabalho útil. O termo relativo à
transferência de exergia associada à transferência de trabalho inclui dois termos: o primeiro
tem a ver com o trabalho mecânico efectivamente trocado entre o sistema e as suas
vizinhanças, e ou outro termo tem a ver com o facto de as variações de volume do sistema,
se existirem, estarem associadas a uma compressão ou expansão do ambiente, o qual se
encontra à pressão P0 .
É também possível observar que o termo de transferência de exergia associado à
transferência de calor corresponde ao trabalho associado a uma máquina de Carnot a operar
entre a temperatura da fronteira do sistema, Tb , e a temperatura do ambiente, T0 .
- 6.7 -
Quando se trata de um sistema aberto, é necessário ter presente que há o trabalho de
escoamento a levar em conta na contabilização da exergia. De facto, massa a entrar no
sistema comprime-o, e realiza trabalho sobre o sistema, ao passo que massa a sair do
sistema expande o sistema, e extrai-lhe trabalho mecânico.
δ W = PdV (6.22)
ao passo que o trabalho recebido (do sistema) pelo ambiente, notando que dVe = −dV , é
calculado como
δ We = P0 dV (6.23)
Convém ter presente a convenção de sinais adoptada para o trabalho: trabalho recebido
pelo sistema é positivo e trabalho cedido pelo sistema é negativo. Deste modo, o trabalho
líquido recebido pelo sistema, associado ao escoamento de saída considerado, é
δ W f = − ( P − P0 ) dV (6.24)
- 6.8 -
δW f
dt
= Wf ( )out = − dm
dt
( Pv − P0v ) = −m ( Pv − P0v ) (6.26a)
out
Se se tratar de uma entrada de massa em vez de uma saída de massa, a expressão análoga à
anterior vem
δW f
dt
( )in = dm
= Wf
dt
( Pv − P0v ) = m ( Pv − P0v ) (6.26b)
in
1 2
ma = m ( u − u0 ) + P0 ( v − v0 ) − T0 ( s − s0 ) + V + gz (6.28)
2
Deste modo, o balanço de exergia para um sistema aberto vem, a partir da Eq. (6.21), como
∂A T dV
= 1 − 0 Q j − − Wcv + m ( Pv − P0 v ) − m ( Pv − P0 v ) − P0 +
∂t j T j in out dt
1 2
m ( u − u0 ) + P0 ( v − v0 ) − T0 ( s − s0 ) + V + gz −
in 2 (6.29)
1 2
m ( u − u0 ) + P0 ( v − v0 ) − T0 ( s − s0 ) + V + gz −
out 2
T0 S g
Esta equação pode ser re-escrita juntando os termos relativos às entradas e às saídas, e vem
- 6.9 -
∂A T dV
= 1 − 0 Q j − −Wcv − P0 +
∂t j T j dt
1 2
m ( u − u0 ) + ( Pv − P0 v0 ) − T0 ( s − s0 ) + V + gz −
in 2 (6.30)
1 2
m ( u − u0 ) + ( Pv − P0 v0 ) − T0 ( s − s0 ) + V + gz −
out 2
T0 S g
∂A T dV
= 1 − 0 Q j − −Wcv − P0 + ma f − ma f − T0 S g (6.31)
∂t j T j dt in out
em que
a f = a + ( Pv − P0v ) =
1 2
= ( u − u0 ) + ( Pv − P0 v0 ) − T0 ( s − s0 ) + V + gz =
2
1 2 (6.32)
= ( u + Pv ) − ( u0 + P0v0 ) − T0 ( s − s0 ) + V + gz =
2
1 2
= ( h − h0 ) − T0 ( s − s0 ) + V + gz
2
- 6.10 -
( )
que pode ser perdida Q1 pelo sistema através de parte da sua fronteira à temperatura T1 ,e
( )
o remanescente Qu pode ser usado, de forma útil, à temperatura Tu .
Fig. 6.3. Sistema para análise exergética da geração de calor e do uso do calor [3].
0 = Qs + Q1 + Qu (6.33)
notando que, de acordo com a convenção de sinais, Qs > 0 , e que Q1 < 0 e Qu < 0 . O
balanço de exergia conduz a
T T T
0 = 1 − 0 Qs + 1 − 0 Q1 + 1 − 0 Qu (6.34)
Ts T1 Tu
−Qu
η= (6.35)
Qs
T T T
− 1 − 0 Qu 1− 0 1− 0
Tu −Qu Tu Tu
ε= = =η (6.36)
T Qs T T
1 − 0 Qs 1− 0 1− 0
Ts Ts Ts
- 6.11 -
Desta equação pode ser visto que a eficiência exergética apenas se aproxima de 1 se
a temperatura de utilização do calor Tu se aproximar de Ts , o que não é manifestamente o
caso na generalidade das situações de interesse. Tal significa que usar directamente o calor
obtido da queima de um combustível, a uma temperatura alta, para efeitos de aquecimento
a temperatura baixa corresponde a uma deficiente utilização do calor, e a uma considerável
destruição de exergia. O calor a temperatura elevada tem um grande potencial para
produzir trabalho mecânico em máquinas térmicas, e o calor por estas rejeitado, a uma
temperatura consideravelmente mais baixa, esse sim pode ser usado para efeitos de
aquecimento sem que tal corresponda a uma destruição de exergia apreciável. Assim
sendo, a análise da eficiência exergética aconselha, ela mesma, a combinação de sistemas
de extracção de potência mecânica e de aquecimento, ou seja, a utilização de sistemas
energéticos combinados, e de técnicas como a co-geração.
(
0 = Wcv + m a f ,in − a f ,out − T0 S g ) (6.37)
( )
m a f ,in − a f ,out = −Wcv + T0 S g (6.38)
ou seja, a exergia (máximo trabalho útil disponível) libertada pela corrente fluida ao
atravessar a turbina aparecerá sob dois efeitos: o desenvolvimento de trabalho mecânico na
turbina, −Wcv , e a o remanescente sob a forma de exergia destruída, T0 S g .
A eficiência exergética da turbina pode ser definida como
ε=
−Wcv
=
( )
m a f ,in − a f ,out − T0 S g
= 1−
T0 S g
(6.39)
(
m a f ,in − a f ,out ) (
m a f ,in − a f , out ) (
m a f ,in − a f , out )
onde é notório que as perdas por irreversibilidade resultam num descréscimo da eficiência
exergética da turbina. Apenas se S g = 0 seria ε = 1 .
No caso de um compressor ou de uma bomba operando em regime permanente, o
balanço exergético é o mesmo que o expresso pela Eq. (6.37). Todavia, neste caso a Eq.
(6.37) reescreve-se como
- 6.12 -
( )
Wcv = m a f ,out − a f ,in + T0 S g (6.40)
ε=
(
m a f ,out − a f ,in ) = Wcv − T0 S g = 1 − T0 S g (6.41)
Wcv Wcv Wcv
Também neste caso é notório que as perdas por irreversibilidade resultam num descréscimo
da eficiência exergética do compressor ou da bomba. Apenas se S g = 0 seria ε = 1 .
No que concerne a sistemas de outra natureza, podem extrair-se conclusões
igualmente importantes acerca do seu desempenho e da sua eficiência exergética. Uma vez
munidos das ferramentas que permitem efectuar a análise exergética dos sistemas, através
da sua aplicação criteriosa é possível avaliar, e melhorar, o desempenho dos sistemas. Essa
análise criteriosa permitirá também identificar onde estão, e quais são, as maiores
debilidades dos sistemas, e que vias podem ser adoptadas com vista a melhorar o seu
desempenho.
6.6. REFERÊNCIAS
1. Cengel, Y. A. & Boles, M. A., Thermodynamics: An Engineering Approach, 2nd Ed.,
McGraw-Hill, NY, 1994.
2. Bejan, A., Advanced Engineering Thermodynamics, Wiley, NY, 1988.
3. Moran, M. J. & Shapiro, H. N., Fundamentals of Engineering Thermodynamics, 2nd Ed,
Wiley, NY, 1993.
4. Wark, K. Jr, Thermodynamics, 5th Ed., McGraw-Hill, NY, 1989.
- 6.13 -
PARTE II – APLICAÇÕES
7. MOTORES ALTERNATIVOS DE
COMBUSTÃO INTERNA
- 7.2 -
válvulas permanecem normalmente fechadas, por meio de molas, e o seu accionamento é
feito por meio de excêntricos montados num veio (conhecido como árvore de cames),
sendo que a válvula é actuada no sentido da abertura quando a sua base é actuada pelo
ressalto do excêntrico. A sincronização do movimento de abertura e fecho das válvulas
com o movimento alternativo do êmbolo é conseguida por meio de transmissões de
engrenagens ou de ligações sem escorregamento, estabelecidas entre o veio motor e a
árvore de cames. Na Fig. 7.2 pode ser analisado, em corte, um motor alternativo de
combustão interna.
- 7.3 -
Fig. 7.3. Motor Wankel e o seu funcionamento básico [1].
Neste motor, não há elementos com movimento alternativo, pelo que as velocidades de
rotação que podem ser atingidas são muito maiores. Existe um rotor de forma
(aproximadamente) triangular, cujo movimento de rotação é induzido pela acção de
expansão dos gases de combustão, e que contacta com o veio de saída do motor através de
uma engrenagem de dentado interior. Ao rodar o rotor, roda também o veio do motor. De
notar a particularidade de este motor não necessitar de válvulas: à medida que o rotor
evolui, nas posições adequadas estabelecem-se as ligações adequadas com as condutas de
entrada do ar e de saída dos gases por meio de janelas rasgadas no estator. A vedação na
zona de contacto rotor-estator é um dos grandes problemas postos por esta forma
construtiva.
À partida, qualquer forma construtiva que permita ter câmaras de volume
alternadamente variável pode ser usada como forma construtiva de base para um motor de
combustão interna. No entanto, a forma construtiva que mais é usada, e a que se encontra
mais desenvolvida do ponto de vista tecnológico, é a forma êmbolo-cilindro atrás referida,
e representada na Fig. 7.1. Por esse facto, apenas vai ser esta a forma abordada neste
tratamento.
Durante a fase de queima do combustível desenvolvem-se temperaturas
consideravelmente elevadas. Se tal é favorável do ponto de vista do desempenho
termodinâmico dos motores, não é tão favorável assim do ponto de vista dos materiais que
dão corpo aos componentes que estão sujeitos a essas temperaturas elevadas. Vamos ter
materiais sujeitos a solicitações mecânicas (pressões) elevadas, vindo as suas propriedades
de resistência mecânica degradadas pelas temperaturas elevadas. Daí que interesse manter
os níveis térmicos a que se encontram os materiais dentro de limites aceitáveis, o que leva
- 7.4 -
a providenciar o arrefecimento da parte exterior da câmara onde ocorre a combustão. Esse
arrefecimento pode ar feito por um escoamento forçado de ar, ou então, em motores mais
potentes, por um sistema de arrefecimento a água. A água de arrefecimento extrai calor do
motor, e cede-o ao ar ambiente através de um permutador de calor, usualmente referido
como radiador.
- 7.5 -
3. Tempo de expansão. O êmbolo chega ao PMS, o combustível (que entrou misturado
com o ar, ou que é injectado para o interior da câmara nesse instante) é inflamado,
dá-se a libertação de calor, e a acção de expansão dos gases de combustão força o
êmbolo no movimento descendente. É este o tempo de efectiva produção de
trabalho do motor; é esta a fase em que o êmbolo, no seu movimento forçado no
sentido descendente, força o veio motor a rodar;
4. Tempo de escape. O êmbolo atinge o PMI, a acção de expansão terminou, e a
válvula de escape abre. O êmbolo, no seu movimento ascendente, força os gases de
combustão para fora da câmara. Quando o êmbolo atinge o PMS, a válvula de
escape fecha, e dá-se início a um novo ciclo.
- 7.6 -
Tomando a Fig. 7.5 como referência, temos:
1. Tempo de compressão. O êmbolo, no seu movimento ascendente, fecha as janelas
de admissão e de escape, e efectua a compressão ao ar (ou, eventualmente, da
mistura ar-combustível) na câmara. Entretanto, simultaneamente com a subida do
êmbolo, ocorre uma acção de depressão na câmara existente na sua parte inferior,
com a correspondente entrada de ar (ou, eventualmente, de uma mistura ar-
combustível) para aí.;
2. Tempo de expansão. O êmbolo chega ao PMS, o combustível (que entrou misturado
com o ar, ou que é injectado para o interior da câmara nesse instante) é inflamado,
dá-se a libertação de calor, e a acção de expansão dos gases de combustão força o
êmbolo no movimento descendente. É este o tempo de efectiva produção de
trabalho do motor; é esta a fase em que o êmbolo, no seu movimento forçado no
sentido descendente, força o veio motor a rodar, tal como acontece no caso dos
motores de quatro tempos. Simultaneamente, na câmara localizada sob o êmbolo,
dá-se a compressão do ar (ou da mistura ar-combustível) aí residente. Quando o
êmbolo se aproxima do PMI ficam a descoberto as janelas de admissão e de escape.
O ar (ou mistura ar-combustível) comprimido na câmara inferior é forçada a entrar
na câmara superior, através do canal de transferência e, no seu movimento de
entrada, força os gases de combustão a sair através da janela de escape. O êmbolo
inicia o seu movimento de subida, e dá-se início a um novo ciclo.
- 7.7 -
O motor Wankel apresentado na Fig. 7.3 pode ser considerado um motor de 4
tempos, já que, numa rotação do rotor de forma triangular, são identificadas as fases de
admissão, compressão, expansão e escape.
- 7.8 -
3. Segmentos. Elementos em forma de anel, que se encontram alojados no êmbolo,
cujo objectivo é tornar mais eficaz a vedação na zona de contacto entre o êmbolo e
a parede interna do cilindro;
4. Cambota, ou veio de manivelas. Trata-se do veio motor, ao qual se encontram
ligados, por meio de articulações excêntricas, os êmbolos. Por questões de
equilíbrio, e dadas as montagens excêntricas referidas, pode conter massas de
equilíbrio;
5. Biela. É o componente que estabelece a ligação entre o êmbolo e a cambota;
6. Válvulas. São compostas por um tronco cilíndrico, ocorrendo a transição gradual
para a forma de disco na sua extremidade inferior. Existem, em princípio, duas por
cada cilindro, uma para a admissão e uma para o escape. Devido à acção das molas,
as válvulas estão normalmente fechadas, isto é, encontram-se fechadas na ausência
de qualquer ordem de comando. Quando se lhe imprime movimento no sentido
longitudinal, dá-se a sua abertura;
7. Árvore de cames, ou eixo de distribuição. Trata-se de um veio, no qual estão
montados excêntricos, e que roda sincronizado com o veio do motor (para um
motor usual a quatro tempos, roda a uma velocidade de rotação que é metade da
velocidade de rotação do motor). Quando o ressalto de um excêntrico toca o tronco
da sua respectiva válvula, ou dispositivos mecânicos que aí fazem chegar essa
acção, dá-se a abertura da válvula contra a compressão da mola. Quando, na
rotação, o ressalto deixa de exercer a sua acção, a válvula fecha por acção da
respectiva mola. Se a acção dos ressaltos se efectua directamente sobre o tronco
cilíndrico das válvulas, a árvore de cames tem que estar localizada de modo a
permitir essa acção directa e, neste caso, diz-se que se tem uma árvore de cames à
cabeça. Há ainda motores que recorrem a mais que uma árvore de cames para
comando das válvulas;
8. Conduta de admissão. Conduta através da qual ocorre a chegada de ar fresco ou,
eventualmente, de uma mistura ar-combustível, ao cilindro, dando-se essa entrada
no cilindro se a respectiva válvula se encontrar aberta;
9. Conduta de escape. Conduta através da qual ocorre a saída dos gases queimados no
interior do cilindro, dando-se essa saída do cilindro se a respectiva válvula se
encontrar aberta;
10. Vela de ignição. No caso de motores a gasolina, é o componente responsável pela
emissão de uma faísca capaz de provocar a inflamação da mistura ar-combustível,
no instante pretendido;
11. Injector. No caso de motores Diesel, é o componente responsável pela injecção do
combustível, sob a forma de uma pulverização fina, no instante pretendido, durante
o tempo pretendido, em cada ciclo;
- 7.9 -
12. Circuito de refrigeração. Para manter a temperatura dos materiais sujeitos a
solicitações térmicas intensas, e a solicitações mecânicas exigentes, dentro de
limites aceitáveis, promove-se o seu arrefecimento. Tal acontece sobretudo
promovendo o arrefecimento do cilindro, por meio de ar ou de água, que circula na
sua parte exterior;
13. Bloco de cilindros, ou bloco do motor. É o bloco mecânico em que se encontram
alojados os cilindros e, eventualmente, outros componentes e acessórios;
14. Cárter. É a parte mais inferior do motor, e que actua como tampa inferior do bloco
do motor. Devido à sua posição, é aí que se recolhe o óleo usado para a lubrificação
do motor, e é daí que uma bomba o aspira e força a circular por todo um conjunto
de canais, de modo a efectuar a lubrificação adequada dos diversos componentes
que a requerem;
15. Culassa. É o bloco onde se encontram montadas as válvulas, as velas de ignição ou
os injectores de combustível e, eventualmente, a árvore de cames, bem como outros
componentes e acessórios. Para efeitos de protecção, é usualmente coberta por uma
chapa na sua parte superior. Do ponto de vista do bloco do motor, actua como a sua
tampa superior.
- 7.10 -
Tomando como referência a Fig. 7.7, há que reter algumas definições usuais, introduzidas a
partir do movimento alternativo executado pelo êmbolo:
1. Ponto Morto Superior (PMS). É a posição extrema, mais acima, assumida pelo
êmbolo no seu movimento alternativo;
2. Ponto Morto Inferior (PMI). É a posição extrema, mais abaixo, assumida pelo
êmbolo no seu movimento alternativo;
3. Volume do cilindro. É o maior volume definido pelo conjunto êmbolo-cilindro, isto
é, é o volume da câmara cilíndrica quando o êmbolo se encontra no PMI;
4. Volume da câmara de combustão. É o menor volume definido pelo conjunto
êmbolo-cilindro, isto é, é o volume da câmara cilíndrica quando o êmbolo se
encontra no PMS;
5. Curso. É a distância percorrida, longitudinalmente, pelo êmbolo, entre o PMS e o
PMI;
6. Taxa de compressão. É a relação entre o volume do cilindro e o volume da câmara
de combustão. De outro modo, é a relação entre o volume máximo e o volume
mínimo ditado pelo conjunto êmbolo-cilindro;
7. Cilindrada. É o volume varrido pelo êmbolo numa viagem entre o PMS e o PMI, e
que é obtido como o produto da curso com a área da secção transversal da câmara
cilíndrica.
Ciclo Otto
No ciclo Otto (ciclo teórico dos motores a gasolina) o processo de combustão é tomado
como ocorrendo instantaneamente e, por isso, a volume constante. Uma combustão a
volume constante toma o nome de explosão, e tais motores são usualmente referidos como
motores de explosão. Além disso, assume-se também que o alívio de pressão associado à
fase de escape ocorre instantaneamente, isto é, ocorre a volume constante. As fases de
compressão e expansão são assumidas como muito rápidas, sem que haja tempo para a
ocorrência de trocas de calor significativas nesse curto intervalo de tempo, e são por isso
tomadas como adiabáticas, ou isentrópicas.
- 7.11 -
Fig. 7.8. Ciclo Otto teórico, no diagrama PV e no diagrama TS [2].
O ciclo teórico Otto encontra-se representado na Fig. 7.8, nos diagramas PV e TS. O
tempo de admissão e de escape são coincidentes e encontram-se representados através da
linha a1 na figura.
A aplicação da Primeira Lei da Termodinâmica, aplicada a um ciclo, resulta em
Como o ciclo Otto é assumido ser efectuado reversivelmente, o calor trocado durante o
ciclo, Qciclo , é dado pela área encerrada pelo ciclo no diagrama TS, visto que
ou seja, é dado pela área encerrada pelo ciclo no diagrama PV. Assim sendo, são iguais as
áreas encerradas pelo ciclo Otto no diagrama PV e no diagrama TS.
Assumindo que a substância operante é um gás ideal de calores específicos
constantes (análise fria), e tendo presente que, para um sistema fechado,
U b − U a = Qab + Wab , e que U b − U a = mcv (Tb − Ta ) para um gás ideal, as interacções
energéticas experimentadas durante um ciclo Otto podem ser facilmente calculadas. Os
correspondentes resultados encontram-se resumidos na Tabela 7.1.
Q W
1-2 0 mcv (T2 − T1 )
2-3 mcv (T3 − T2 ) 0
3-4 0 mcv (T4 − T3 )
4-1 mcv (T1 − T4 ) 0
Σ Qciclo Wciclo
- 7.12 -
A eficiência térmica do ciclo, definida como
Wciclo − Wciclo
η= = . (7.4)
Q23 Q23
vem
T4 − T1 1
η = 1− = 1− , (7.5)
T3 − T2 r −1)
(γ
Fig. 7.9. Variação da eficiência térmica do ciclo Otto com a taxa de compressão [2].
Se a substância operante não for um gás ideal, ou se for um gás ideal de calores
específicos variáveis com a temperatura (análise quente), procede-se do mesmo modo, mas
os resultados não podem ser encontrados e expressos de forma tão simples.
Ciclo Diesel
No ciclo Diesel (ciclo teórico dos motores a gasóleo) o processo de combustão é tomado
como ocorrendo durante a fase de expansão, de modo a manter-se constante a pressão. Tais
motores são usualmente referidos como motores de combustão. Uma vez mais, assume-se
também que o alívio de pressão associado à fase de escape ocorre instantaneamente, isto é,
ocorre a volume constante. As fases de compressão e expansão são assumidas como muito
rápidas, sem que haja tempo para a ocorrência de trocas de calor significativas nesse curto
intervalo de tempo, e são por isso tomadas como adiabáticas, ou isentrópicas.
- 7.13 -
Fig. 7.10. Ciclo teórico Diesel, no diagrama PV e no diagrama TS [2].
O ciclo teórico Otto encontra-se representado na Fig. 7.10, nos diagramas PV e TS.
Os tempos de admissão e de escape são coincidentes nos diagramas e não se encontram
representados na figura.
De igual modo ao que foi exposto para o ciclo Otto, continua válida a Eq. (7.1).
Como o ciclo Diesel é assumido ser efectuado reversivelmente, o calor trocado durante o
ciclo é dado pela área encerrada pelo ciclo no diagrama TS, e são iguais as áreas encerradas
pelo ciclo Diesel no diagrama PV e no diagrama TS.
Assumindo que a substância operante é um gás ideal de calores específicos
constantes (análise fria), e as considerações feitas aquando de idêntica análise para o ciclo
Otto, as interacções energéticas experimentadas durante um ciclo podem ser facilmente
calculadas. Os correspondentes resultados encontram-se resumidos na Tabela 7.2.
Q W
1-2 0 mcv (T2 − T1 )
2-3 mc P (T3 − T2 ) − P3 (V3 − V2 )
3-4 0 mcv (T4 − T3 )
4-1 mcv (T1 − T4 ) 0
Σ Qciclo Wciclo
A eficiência térmica do ciclo, definida como expresso pela Eq. (7.4), vem
1 rcγ − 1
η = 1− , (7.6)
r (γ −1) γ (rc − 1)
V
rc = 3 (7.7)
V2
- 7.14 -
é usualmente referida como relação de corte.
O termo dentro do parêntesis recto da Eq. (7.6) é sempre superior ou, no limite,
igual à unidade, pelo que, comparando com a Eq. (7.5), se conclui que, para a mesma taxa
de compressão, a eficiência do ciclo Diesel é menor que a eficiência do ciclo Otto. Na
realidade, tal não se passa assim por os motores Diesel operarem com muito maiores taxas
de compressão que os motores Otto. Valores típicos da taxa de compressão andam
próximos de 20. De reter que a eficiência térmica aumenta com o aumento da taxa de
compressão e diminui com o aumento da relação de corte.
Aumentando a relação de corte obtém-se um maior trabalho por ciclo, mas com
uma menor eficiência. Por isso, não é usualmente possível procurar, em simultâneo, o
trabalho máximo e a eficiência máxima. O aumento de um é usualmente obtido com o
sacrifício do outro.
Se a substância operante não for um gás ideal, ou se for um gás ideal de calores
específicos variáveis com a temperatura (análise quente) procede-se do mesmo modo, mas
os resultados não podem ser encontrados e expressos de forma tão simples.
- 7.15 -
fluido de arrefecimento do motor, Qc, e ; e (v) Potência calorífica associada à
entalpia dos gases de escape, expulsos para a atmosfera a uma temperatura elevada,
H e, s , a .
Um aspecto fundamental a reter deste balanço energético é que tudo o que for
pedido ao motor, para auxiliar ao seu próprio funcionamento (trabalho de retorno), resulta
invariavelmente numa diminuição da potência mecânica disponibilizada no veio do motor.
Se pensarmos, por exemplo, no motor de um automóvel, como meio para a sua
auto-locomoção, todos os sistemas de lubrificação, direcção assistida, ar condicionado,
iluminação, limpa-vidros, ventilação do habitáculo, etc., resultam, invariavelmente, numa
- 7.16 -
diminuição da potência disponibilizada pelo motor para a locomoção do veículo. Do ponto
de vista do presente contexto podem ser entendido como perdas, já que actuam
negativamente face ao fim em vista: a locomoção do veículo.
d 1
m u + V 2 + gy = Wm − Watrito , (7.8)
dt 2
- 7.17 -
A Eq. (7.8) vem agora
2 dt
( )
1 d 2 W
V + Vgsenα = m − µ R g cos α +
m
1
2m
ρaC D A f V 2 V , (7.9)
ou então
d 2
dt
( ) W 1
V = 2 m − 2 gsenα + 2 µ R g cos α + ρ a C D A f V 2 V .
m m
(7.10)
dY W 1
= 2 m − 2 gsenα + 2 µ R g cos α + ρ a C D A f Y Y . (7.11)
dt m m
Wm 1
= µR g + ρ aCD A f V 2 V . (7.12)
m 2m
Neste caso, a potência disponibilizada para o motor necessita apenas de alimentar as perdas
por dissipação devidas ao atrito de rolamento com a estrada e ao atrito viscoso de
escoamento através do ar.
De reter que as perdas de potência por atrito viscoso, devido à interacção veículo-ar,
são proporcionais ao cubo da velocidade, e que assumem uma importância tanto maior
quanto maior for o valor da velocidade do veículo. Para que estas perdas sejam baixas, ou o
- 7.18 -
veículo se desloca a baixa velocidade, ou então trata-se de um veículo com uma boa
aerodinâmica, o que se traduz através de um baixo coeficiente de arrasto C D .
É usual referir a potência de um dado motor em cavalos. Neste caso, deve ter-se
presente a seguinte conversão: 1cv⇔735.5W.
7.5. REFERÊNCIAS
1. Heywood, J. B., Internal Combustion Engine Fundamentals, McGraw-Hill, NY, 1988.
2. Wark, K. Jr, Thermodynamics, 5th Ed., McGraw-Hill, NY, 1989.
3. Cunha, C., Máquinas Térmicas, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
4. Grimson, J., Mechanics and Thermodynamics of Fluids, McGraw-Hill, London, 1970.
- 7.19 -
8. INSTALAÇÕES COM TURBINAS DE
GÁS
Fig. 8.1. Instalação com turbina de gás, aberta para a atmosfera ou então fechada [4].
- 8.2 -
Tal como se pode constatar da Fig. 8.1, os componentes principais de uma
instalação deste tipo são componentes abertos, através dos quais flui a substância operante,
sem que esta esteja, em qualquer instante, aprisionada em qualquer câmara.
Para que a instalação funcione é necessário garantir que esta está a ser atravessada
pela substância operante, o que obriga a que, para arranque da instalação, tenha que ser
fornecido um impulso rotacional inicial.
Aspectos construtivos
As instalações com turbinas de gás podem apresentar diferentes configurações, consoante o
fim a que se destinam. Ainda assim, no núcleo de uma instalação com turbinas de gás é
sempre possível identificar uma zona em que se dá a compressão da substância operante,
seguida do seu aquecimento (usualmente na câmara de combustão), seguida da expansão
da substância operante, geralmente numa turbina. Sempre que a compressão é feita por
recurso a um compressor, a potência para o seu accionamento é garantida pela potência
desenvolvida na turbina.
Quanto ao modo como o escoamento ocorre na turbina, podemos ter turbinas
radiais, em que a substância operante flui essencialmente segundo a direcção radial, isto é,
perpendicularmente ao eixo da turbina, que tem as suas pás com a configuração adequada,
ou então turbinas axiais, em que o fluido escoa essencialmente segundo uma direcção
paralela ao eixo da turbina, tendo as suas pás uma configuração adequada a este tipo de
escoamento. O mesmo se passa para o escoamento através do compressor. Em qualquer
dos casos, as turbinas são geralmente constituídas por fiadas de pás móveis (alojadas no
rotor) seguidas de fiadas de pás fixas (alojadas no estator), servindo as pás fixas para
direccionar o escoamento antes deste dar entrada na próxima fiada de pás móveis.
Quanto ao modo como se dá a transferência de energia dos gases para as pás da
turbina, podemos ter essencialmente dois tipos: turbinas de impulso e turbinas de reacção.
Ainda assim, existe sempre uma componente de reacção nas turbinas, usualmente definida
como grau de reacção.
Turbinas de impulso. Neste caso, o fluido escoa ao longo de uma tubeira, de modo a ser
atirado contra as pás da turbina, resultando a acção de movimento das pás da turbina da
troca de quantidade de movimento que ocorre entre os gases e as pás. O princípio de
funcionamento deste tipo de turbinas pode ser analisado na Fig. 8.2.
Turbinas de reacção. Neste caso, o gás escoa numa tubeira que termina num convergente,
de modo a que o gás seja expulso com uma velocidade consideravelmente elevada. A acção
de expansão assim experimentada resulta numa componente de reacção que é aproveitada
para fazer movimentar as pás da turbina. O princípio de funcionamento deste tipo de
turbinas encontra-se ilustrado na Fig. 8.3 através de um esquema muito simples.
- 8.3 -
Fig. 8.2. Ilustração do princípio de funcionamento das turbinas de impulso [7].
- 8.4 -
Fig. 8.4. Ilustração do conjunto de pás de turbina, fixas e moveis, para: (a) Turbina
de impulso; e (b) Turbina de reacção [6].
Quanto à forma geral das instalações envolvendo turbinas de gás, esta pode ser
muito variada, dependendo do fim específico a que se destina a instalação. Na Fig. 8.5
encontra-se representada uma instalação de pequenas dimensões, cujo objectivo é a
disponibilização de potência mecânica para um fim não especificado.
Uma situação de uso frequente deste tipo de instalações pode ser encontrada na propulsão
de veículos, dada a relação vantajosa existente entre a potência desenvolvida e o peso da
- 8.5 -
instalação e, em especial, em aeronaves. Na Fig. 8.6 encontra-se representado um motor de
avião, que mais não é que uma instalação com turbina de gás, ainda que com um fim muito
específico.
Fig. 8.6. Exemplo de uma instalação com turbina de gás para propulsão de
aeronaves.
- 8.6 -
Tomando a Fig. 8.7 como referência, temos a seguinte sequência de processos
sofridos pela substância operante: (i) Compressão isentrópica (ou adiabática) 1-2, no
compressor, até ser atingido o máximo valor de pressão no ciclo; (ii) Aquecimento
isobárico 2-3, por participação (câmara de combustão), ou não (permutador de calor), da
substância operante no processo gerador de calor; (iii) Expansão isentrópica 3-4, na
turbina; e (iv) Arrefecimento isobárico 4-1 (se se tratar de uma máquina de combustão
interna, tal corresponde à rejeição dos produtos de combustão para a atmosfera e sua
substituição por ar fresco vindo da atmosfera).
- 8.7 -
P P P
rP = max = 2 = 3 . (8.1)
Pmin P1 P4
Interacções energéticas
É comum, neste tipo de instalações, assumir como desprezáveis as variações na energia
cinética e potencial gravítica da substância operante, pelo que um balanço energético (aos
sistemas abertos que são os seus componentes individuais) se resume a um balanço
entálpico. Nas situações em que esta hipótese não seja válida, tais como, por exemplo,
aplicações das turbinas de gás a sistemas de propulsão, será feita especial referência a esse
facto.
As principais interacções energéticas ocorrem:
1. No compressor, em que não há qualquer interacção energética sob a forma de calor
com o exterior (compressor adiabático),
Wc W12
= = h2 − h1 . (8.2)
m m
Qin Q23
= = h3 − h2 . (8.3)
m m
3. Na turbina, em que não há qualquer interacção energética soba forma de calor com
o exterior (turbina adiabática),
Wt W34
= = h4 − h3 . (8.4)
m m
Qout Q41
= = h1 − h4 . (8.5)
m m
- 8.8 -
De notar que a utilização, pelo compressor, de parte da potência mecânica
desenvolvida na turbina é uma interacção energética interior à própria instalação, e que não
é observável do exterior. Do exterior apenas são observáveis as interacções energéticas sob
a forma de calor nas fontes quente e fria, Qin e Qout , bem como a potência efectivamente
disponibilizada para o exterior, dada por
Wciclo = Wt + Wc . (8.6)
<0 <0 >0
Wciclo Wt Wc
= + = (h4 − h3 ) + (h2 − h1 ) . (8.7)
m m m
Wc m h −h
f tr = = 2 1 (8.8)
Wt m h3 − h4
tomando esta fracção valores tipicamente próximos de 0.3, ou seja, o compressor absorve
tipicamente para o seu funcionamento 30% da potência mecânica desenvolvida na turbina.
A eficiência térmica do ciclo de Brayton, definida como a relação entre o que a
instalação dá e o que a instalação requer, em termos energéticos, é dada por
Wt + Wc W + Wc (h3 − h4 ) − (h2 − h1 ) h −h
η= =− t = = 1− 4 1 . (8.9)
Qin Qin h3 − h2 h3 − h2
Os termos entálpicos presentes nas equações anteriores podem ser calculados por
recurso a valores disponíveis em tabelas, no caso geral.
Se a substância operante puder ser considerada um gás ideal de calores específicos
constantes, esse cálculo vem simplificado e os resultados são expressáveis através de
relações simples. Se se trata de um gás ideal de calores específicos variáveis com a
temperatura (análise quente), os pontos 1 e 2 localizados sobre uma adiabática estão
relacionados através de equações do tipo da Eq. (2.67), ou seja,
v2 v P2 P
= r2 ou = r2 (8.10)
v1 S v r1 P1 S Pr1
em que v r e Pr são o volume reduzido e a pressão reduzida, cujos valores são obtidos de
tabelas como função apenas da temperatura.
- 8.9 -
Trabalho associado a uma variação de pressão, num sistema aberto
Estamos habituados a calcular o trabalho posto em jogo em processos em que ocorre uma
variação de volume, estando a substância operante encerrada na câmara cujo volume varia
(sistema fechado), como
2 2
W12 = − PdV = −m Pdv (8.11)
1 1
0 = Q + Wcv + mh − mh . (8.12)
in out
Dividindo pelo caudal mássico m , o qual é assumido ser o mesmo à entrada e à saída (uma
única entrada e uma única saída), obtém-se
Aplicando agora esta equação a um processo infinitesimal, é possível extrair que, num tal
processo
0 = δq + δwcv − dh . (8.14)
isto é
- 8.10 -
δwcv = vdP (8.17)
ou então
2
Wcv
(wcv )s = = vdP (8.18)
m s 1
Fig. 8.9. Ilustração gráfica do trabalho posto em jogo numa variação de pressão [4].
- 8.11 -
Caso de a substância operante ser um gás ideal de calores específicos
constantes
Interacções energéticas
Neste caso, e como a entalpia de um gás ideal é função apenas da temperatura, as
interacções energéticas dadas pelas Eqs. (8.2)-(8.5) vêm, respectivamente,
Wc
= c P (T2 − T1 ) . (8.19)
m
Qin
= c P (T3 − T2 ) . (8.20)
m
Wt
= c P (T4 − T3 ) . (8.21)
m
Qout
= c P (T1 − T4 ) . (8.22)
m
γ
cP = R. (8.23)
γ −1
(γ − 1) γ
(1 − γ ) γ = T P (1 − γ ) γ P2
T1 P1 2 2 T 2 = T1 (8.24)
P1
(γ −1) γ
(1− γ ) γ = T P (1− γ ) γ P2
T3 P3 4 4 T3 = T4 . (8.25)
P1
Introduzindo os resultados das Eq. (8.24) e (8.25) nas Eq. (8.19) e (8.21), respectivamente,
conclui-se que
(γ −1) γ
Wc
m
P
= c P T1 2
P1
− T1 =
γ −1
γ
[(
RT1 rP
γ −1) γ
−1 ] (8.26)
- 8.12 -
(γ −1) γ
Wt
m
P
= c P T4 − T4 2
P1
=−
γ
γ −1
[(
RT4 rP
γ −1) γ
]
−1 . (8.27)
2 2
Wc
m
= vdP =C P −1 γ dP =
C
1
[P (
2
γ −1) γ
− P1 ]
γ −1
1 p [
(γ −1) γ = γ RT r (γ −1) γ − 1 (8.28) ]
1 1 − +1
γ
resultado igual ao expresso pela Eq. (8.26). Pela mesma via, só que agora integrando entre
os pontos 3 e 4, se pode obter o trabalho desenvolvido na turbina, chegando-se ao mesmo
resultado expresso pela Eq. (8.27).
As interacções energéticas experimentadas durante o ciclo de Brayton, realizado por
um gás ideal de calores específicos constantes, encontram-se resumidas na Tabela 8.1.
Q m W m
1-2 0
γ −1
γ
RT1 rP [( γ −1) γ
]
−1
2-3 c P (T3 − T2 ) 0
3-4 0 −
γ
γ −1
[(
RT4 rP
γ −1) γ
−1 ]
4-1 c P (T1 − T4 ) 0
Σ (Q m)ciclo ( )
W m ciclo
c P (T3 − T4 ) − c P (T2 − T1 ) T −T
η= = 1− 4 1 (8.29)
c P (T3 − T2 ) T3 − T2
- 8.13 -
Dividindo os resultados das Eq. (8.24) e (8.25) chega-se a que
T3 T4
= . (8.31)
T2 T1
A expressão da eficiência térmica do ciclo, Eq. (8.29), pode ser re-arranjada tendo presente
o resultado da Eq. (8.31), como
T4 − T1 T T T −1 T
η = 1− = 1− 1 4 1 = 1− 1 . (8.32)
T3 − T2 T2 T3 T2 − 1 T2
T1 − (γ −1) γ
η = 1− = 1 − rP (8.33)
T2
resultado cuja expressão gráfica se encontra na Fig. 8.10 para o caso de γ = 1.4 . Daí se
conclui que quanto maior a relação de pressão maior a eficiência térmica do ciclo, pelo que
são desejáveis elevados valores deste parâmetro para assim obter ciclos mais eficientes.
Fig. 8.10. Eficiência térmica do ciclo de Brayton realizado por um gás ideal de
calores específicos constantes, em função da relação de pressão [4].
No entanto, há que ter presente que maiores relações de pressão implicam maiores relações
de temperatura, sendo especialmente importante a temperatura máxima atingida no ciclo,
T3 , à qual vai estar sujeita a zona da entrada da turbina. Devido ao limite metalúrgico
imposto pelos materiais de que é construída, o limite máximo para esta temperatura anda
actualmente pelos 1700K (≈1400ºC), e assim surge um limite para a relação de pressões
máxima actualmente praticável sem pôr em risco a integridade mecânica da turbina.
- 8.14 -
Máxima eficiência e máxima potência mecânica para uma dada temperatura máxima
à entrada da turbina
Fig. 8.11. Influência de diferentes relações de pressão, para uma mesma temperatura
à entrada da turbina [4].
- 8.15 -
Maximização do trabalho desenvolvido por ciclo, por unidade de massa
Assumindo uma substância operante de calores específicos constantes, a potência
desenvolvida, por unidade de caudal mássico, é dada por
W
= (h4 − h3 ) + (h2 − h1 ) = c P [(T4 − T3 ) + (T2 − T1 )] < 0 (8.34)
m
<0 >0
W
= c P [(T3 − T4 ) − (T2 − T1 )] . (8.35)
m
W T T T T
= c P T1 3 − 4 3 − 2 + 1 (8.36)
m T1 T3 T1 T1
(γ −1) γ (γ −1) γ
W T T P P
= c P T1 3 − 3 1 − 2 +1 . (8.37)
m T1 T1 P2 P1
∂W m (2γ −1) γ −1 γ
γ − 1 T3 P1 P
= c P T1 − 2 =0 (8.38)
∂ (P2 P1 ) γ T1 P2 P1
γ [2(γ −1)]
P2 T
= 3 . (8.39)
P1 T1
- 8.16 -
2
W T3
= c PT1 −1 . (8.40)
m máx T1
12
T1
(η ) W m = 1− . (8.41)
máx T3
T1P1
(1−γ ) γ = T P (1−γ ) γ (8.42)
2 2
γ (γ −1)
P2 T
= 3 . (8.43)
P1 máx T1
Nesta situação,
T1
η = η máx = 1 − (8.44)
T3
W
=0 (8.45)
m
ou seja, estamos perante um ciclo extremamente eficiente mas que não fornece nenhum
trabalho útil, o que é, manifestamente, uma situação limite indesejável.
- 8.17 -
Assim, numa situação prática, há a necessidade de compatibilizar os valores da
eficiência térmica do ciclo com a potência desenvolvida, por unidade de caudal mássico,
não se podendo pretender, em simultâneo, elevados valores para ambos.
As conclusões extraídas permanecem válidas também para a situação em que os
calores específicos do gás não são constantes, não podendo no entanto o cálculo ser
efectuado de uma forma tão simples pois é necessário levar em consideração o modo como
a temperatura afecta os calores específicos.
Em termos reais, passa-se algo parecido com o que se encontra ilustrado na Fig.
8.12, havendo uma abaixamento de pressão quando a substância operante evolui em
contacto com a fonte quente e em contacto com a fonte fria, acompanhada de um aumento
de entropia do fluido face à situação de reversibilidade. De igual modo, a compressão, no
compressor, bem como a expansão, na turbina, ocorrem acompanhadas por um aumento de
entropia. As evoluções acompanhadas de irreversibilidade são representadas a traço
interrompido nos diagramas devido ao facto de, em rigor, aí a penas se poderem representar
sucessões de estados de equilíbrio, o que não acontece quando há irreversibilidades
presentes.
- 8.18 -
Interessa no entanto reter que as maiores irreversibilidades, em termos relativos,
acontecem no compressor e na turbina pelo que, na generalidade dos casos, os cálculos
apenas contemplam estas irreversibilidades e tomam como desprezáveis as
irreversibilidades presentes na fonte quente e na fonte fria.
A existência de irreversibilidades leva a que todos os dispositivos sejam menos
performantes que no caso de não existirem irreversibilidades, isto é, um compressor real
(irreversível) necessita de uma maior potência para o seu accionamento que um compressor
ideal (reversível), ao passo que uma turbina real (irreversível) cede ao exterior uma menor
potência mecânica que no caso de se tratar de uma turbina ideal (reversível). Para avaliar o
quanto se afasta o desempenho de um componente real do seu equivalente ideal define-se a
eficiência isentrópica desse componente. Neste caso, o modo de quantificar a eficiência
isentrópica depende do facto de se tratar de um dispositivo que absorve energia mecânica
ou de um dispositivo que cede energia mecânica.
Para um dispositivo que recebe energia mecânica, tal como um compressor, define-
se a eficiência isentrópica como
(Wc m)s h −h
ηc = = 2s 1 ≤ 1 (8.46)
(Wc m) h2 − h1
ao passo que para um dispositivo que cede energia mecânica, tal como uma turbina, esta
eficiência é definida como
ηt =
(Wt m) =
h4 − h3
≤1 (8.47)
(Wt m)s h4 s − h3
em que se faz uso do índice s para identificar as evoluções isentrópicas bem como os
pontos atingidos por evoluções isentrópicas.
- 8.19 -
Arrefecimento interno das pás da turbina
A eficiência térmica de uma instalação será tanto mais elevada quanto mais elevada for a
temperatura a que se encontra sujeita a corrente gasosa à entrada da turbina (temperatura da
fonte quente) a qual é, no entanto, limitada por razões metalúrgicas. Com o objectivo de ter
a maior temperatura possível na turbina, mas sem a fazer perigar do ponto de vista da sua
integridade mecânica, é comum o recurso a turbinas com pás arrefecidas internamente,
sendo os processos de arrefecimento usados de vários tipos. Conseguem-se deste modo
instalações bastante eficientes e íntegras do ponto de vista mecânico, se bem que à custa de
uma complexidade acrescida da turbina e, em particular, das suas pás.
Regeneração
A temperatura dos gases à saída da turbina é ainda, na generalidade dos casos, bem
superior à temperatura que se verifica à saída do compressor, pelo que o aproveitamento de
parte do calor presente nos gases à saída da turbina para aquecer os gases antes de estes
entrarem em contacto com a fonte quente resulta numa menor potência calorífica requerida
à fonte quente. Com este procedimento consegue-se assim melhorar a eficiência global da
instalação. Este procedimento encontra-se ilustrado na Fig. 8.13.
- 8.20 -
efectuar uma parte, pelo que a variação de entalpia experimentada pela corrente gasosa à
saída do compressor não é a maior possível, (h4 − h2 ) , mas apenas uma fracção deste
valor, (h x − h2 ) . A relação
∆hreal hx − h2
η reg = = . (8.48)
∆hmáx h4 − h2
Fig. 8.14. Perfil de temperatura num regenerador: (a) (Real); e (b) Ideal [4].
QH
= h3 − h x . (8.49)
m
(h4 − h3 ) + (h2 − h1 )
η=− (8.50)
h3 − hx
(h4 − h3 ) + (h2 − h1 ) .
η=− (8.51)
h3 − h2 − η reg (h4 − h2 )
>0
- 8.21 -
Assim, face à situação em que não há regeneração, há uma diminuição no
denominador da expressão da eficiência térmica e, por isso, a eficiência térmica vem
melhorada, sendo tanto maior quanto maior for a efectividade do regenerador. Na situação
hipotética de um regerador de efectividade unitária a eficiência térmica viria
(h − h3 ) + (h2 − h1 ) h −h
(η )η reg =1 =− 4 = 1− 2 1 . (8.52)
h3 − h2 − (h4 − h2 ) h3 − h4
- 8.22 -
Desta figura resulta evidente o aumento da área encerrada pelo ciclo, ou seja, da
potência desenvolvida, por unidade de caudal mássico. No diagrama Pv resulta evidente a
diminuição do trabalho gasto no processo de compressão, representando a área tracejada a
redução conseguida com o arrefecimento intermédio entre dois estágios de compressão
consecutivos. A máxima redução conseguida é aquela que corresponde a uma compressão
isotérmica, ao longo da isotérmica correspondente a T = T1 . Será visto mais adiante que a
isotérmica é, efectivamente, o limite a que corresponde o menor trabalho de compressão.
De reter que a temperatura mínima que se pode obter no arrefecimento é à partida
igual à temperatura de entrada dos gases na instalação, isto é, igual a T1 . A obtenção de
temperaturas inferiores a T1 , a temperatura ambiente, requer o uso de sistemas de
refrigeração, com os seus próprios custos de operação.
Do ponto de vista energético, importa ter presente que há um abaixamento entálpico
da corrente gasosa quando esta atravessa o arrefecedor intermédio, abaixamento este que
corresponde a uma interacção energética com o exterior sob a forma de calor cedido, sendo
a potência de compressão, por unidade de caudal mássico, calculada como
Wc m = (hc − h1 ) + (h2 − hd ) .
Para a situação geral em que há N estágios de compressão, com N − 1 estágios de
arrefecimento intermédio, em que à saída de cada estágio de arrefecimento a temperatura é
sempre a mesma e igual a T1 , e à saída de cada estágio de compressão é sempre a mesma e
igual a T2 , é possível encontrar a relação entre as pressões de cada dois estágios de
compressão consecutivos de modo a minimizar o trabalho dispendido na compressão, no
caso de se estar perante uma substância operante que se comporta como um gás ideal de
calores específicos constantes. Como a temperatura conseguida em cada arrefecimento
intermédio é T1 , sendo esta temperatura a temperatura atmosférica (a menor possível de
obter na instalação), tal corresponde a estarmos perante um permutador de calor com uma
efectividade unitária, isto é, no qual ocorre a maior permuta de calor que é possível ocorrer,
acompanhada da maior variação de temperatura dos gases que é possível ocorrer.
Na situação enunciada, se a temperatura à entrada de um estágio de compressão é
T1 e à saída desse estágio de compressão é T2 , atendendo que o processo de compressão é
isentrópico, pode escrever-se que
γ (γ −1)
Pi +1 T
= 2 = C te (8.54)
Pi T1
- 8.23 -
ou seja
Pi P
= i +1 = C te (8.55)
Pi −1 Pi
Pi = Pi −1 Pi +1 (8.56)
Wc (hc − h1 ) (h2 − hd )
= + (8.57)
m ηc ηc
Wc c P
= [(Tc − T1 ) + (T2 − T1 )] = c P T1 Tc + T2 − 2 (8.58)
m ηc ηc T1 T1
(γ −1) γ (γ −1) γ
Tc P T2 P2
= int = (8.59)
T1 P1 Td Pint
(γ −1) γ (γ −1) γ
Wc c P Pint P2
= T1 + −2 . (8.60)
m ηc P1 Pint
(γ −1) γ (γ −1) γ
∂ cP Pint P2
T1 + −2 =0 (8.61)
∂Pint η c P1 Pint
- 8.24 -
de onde se obtém que
Assim, constata-se que a pressão intermédia dada pela Eq. (8.56) é aquela que minimiza o
trabalho de compressão.
Em geral, para N estágios de compressão, com N − 1 estágios de arrefecimento
intermédio, mantendo-se constante a relação de pressão entre cada dois estágios
consecutivos, temos que
PN +1 P P3 P2
= N = ... = = =r (8.63)
PN PN −1 P2 P1
ou seja
P2 = rP1
P3 = rP2 = r 2 P1
(8.64)
...
PN +1 = r N P1
1N 1N
P P
r = N +1 = max . (8.65)
P1 Pmin
N
Pf
N (γ −1) γ
RT1 N
Wc
=
m N i =1
vdP =
γ RT1
γ − 1 ηc
Pf
Pi
−1 =
γ
γ − 1 ηc
[r (γ −1) γ
]
− 1 .(8.66)
Pi i =1 i =1
ou seja
Wc
m N
=N
γ RT1 (γ −1) γ
γ − 1 ηc
r −1 [ ] (8.67)
- 8.25 -
(γ −1) (γN )
Wc γ RT1 Pmax
=N −1 . (8.68)
m N γ − 1 ηc Pmin
(γ −1) (γN )
γ RT1 Pmax RT1 Pmax
lim N −1 = ln . (8.69)
N → +∞ γ − 1 ηc Pmin ηc Pmin
máx P máx P
Wc 1 1 RT P
= vdP = vdP = 1 ln max . (8.70)
m T ηc ηc ηc Pmin
Pmin Pmin
- 8.26 -
expansão, com um re-aquecimento intermédio da substância operante, pode ser encontrada
na Fig. 8.16. Desta figura resulta evidente o aumento da área encerrada pelo ciclo, ou seja,
da potência desenvolvida, por unidade de caudal mássico.
De reter que, no máximo, e devido à temperatura máxima admissível na turbina, a
temperatura máxima que se pode obter no re-aquecimento é, à partida, T3 .
Do ponto de vista energético, importa ter presente que há um aumento entálpico da
corrente gasosa quando esta atravessa o re-aquecedor intermédio, aumento este que
corresponde a uma interacção energética com o exterior sob a forma de calor recebido,
sendo a potência de expansão, por unidade de caudal mássico, calculada como
Wt m = (ha − h3 ) + (h4 − hb ) .
- 8.27 -
em que i e i + 1 são dois patamares de pressão consecutivos, neste processo de expansão
em estágios. Como T3 e T4 são os mesmos para quaisquer dois patamares de pressão
consecutivos, temos que
γ (γ −1)
Pi +1 T
= 4 = C te (8.72)
Pi T3
ou seja
Pi P
= i +1 = C te (8.73)
Pi −1 Pi
Pi = Pi −1 Pi +1 (8.74)
Wt
m N
= −η t N
γ
γ −1
[
RT3 r (γ −1) γ − 1 ] (8.75)
(γ −1) (γN )
Wt γ Pmax
= −η t N RT3 −1 . (8.76)
m N γ −1 Pmin
- 8.28 -
como o descrito entre cada dois estágios de expansão consecutivos, facilmente se constata
da Eq. (8.76) que
(γ −1) (γN )
γ Pmax Pmax
lim − ηt N RT3 −1 = −ηt RT3 ln . (8.77)
N → +∞ γ −1 Pmin Pmin
Esta situação limite de um muito grande número de estágios de expansão com re-
aquecimento intermédio, em que, em cada re-aquecimento intermédio se atinge a
temperatura T3 , é equivalente a ter uma expansão isotérmica à temperatura T3 .
De notar que este valor não é mais que o trabalho posto em jogo numa expansão
isotérmica num só estágio, entre Pmax e Pmin , em que a turbina tem uma eficiência
isentrópica η t , o qual pode também ser calculado como
minP
Wt P
= η t vdP = −η t RT3 ln max . (8.78)
m T Pmin
Pmax
Ciclo de Ericsson
As situações extremas anteriormente analisadas de uma compressão isotérmica e de uma
expansão isotérmica correspondem a um ciclo térmico teórico bem conhecido, denominado
como ciclo de Ericsson. Este ciclo é caracterizado por possuir duas evoluções isentrópicas
(na turbina e no compressor) e duas evoluções isotérmicas (nas fontes quente e fria).
Fig. 8.17. O ciclo de Ericsson como uma situação limite ideal [4].
- 8.29 -
Neste ciclo é facilmente identificada a temperatura constante da fonte quente, TH , e a
temperatura constante da fonte fria, TH . A eficiência térmica deste ciclo é facilmente
calculada como
Wt + Wc QH + QL Q T
η=− = = 1+ L = 1− L . (8.79)
QH QH QH TH
- 8.30 -
8.4. TURBINAS DE GÁS USADAS PARA PROPULSÃO
Uma das utilizações comuns das turbinas de gás pode ser encontrada na propulsão de
veículos, de que assumem especial importância as aeronaves. No entanto, existem também
turbinas de gás para propulsionar veículos terrestres e aquáticos.
Exemplos de sistemas de propulsão de aeronaves podem ser encontradas na Fig.
8.6, em que são identificáveis, em série e por esta ordem, o compressor, a câmara de
combustão, a turbina e a exaustão dos gases para a atmosfera, a grande velocidade. Neste
tipo de máquinas não é desprezável a variação de energia cinética experimentada pela
substância operante entre a entrada e a saída da instalação.
Q Wcv 1 1 2
0= + + hin + Vin2 − hout + Vout . (8.80)
m m 2 2
Nesta equação está a assumir-se que são desprezáveis as variações de energia potencial
gravítica, e que o caudal mássico é constante ao longo de toda a instalação. Na realidade,
há a adição do caudal mássico de combustível na câmara de combustão. Há também a
consideração do termo de calor, que corresponde ao aquecimento da substância operante,
bem como do termo de trabalho que corresponde ao vencer das forças de atrito do veículo
propulsionado, de modo a que este se possa deslocar relativamente ao ar (assumido estar
em repouso).
Assumindo que o observador deste dispositivo está no solo, ele vê o fluido à
entrada do sistema com velocidade nula, Vin = 0 , e vê o fluido sair do sistema com uma
velocidade que é Vout = (V2 − Vv ) , em que Vv é a velocidade com que o veículo
propulsionado se desloca. A Eq. (8.80) vem, por isso,
- 8.31 -
Q Wcv 1
0= + + (h1 + 0) − h2 + (V2 − Vv )2 . (8.81)
m m 2
Idêntico balanço pode ser estabelecido, mas agora com o observador solidário com
o propulsor, sendo que neste caso ele vê o fluido à entrada do sistema com velocidade
Vin = Vv , e vê o fluido sair do sistema com uma velocidade que é Vout = V2 , não vendo
nenhuma interacção energética sob a forma de trabalho mecânico, já que esta troca ocorre
entre o veículo propulsionado e o ar e não propriamente entre o propulsor e o ar. A Eq.
(8.80) vem, por isso, para esta situação
Q 1 1
0= + 0 + h1 + Vv2 − h2 + V22 . (8.82)
m 2 2
W
− cv = Vv (V2 − Vv ) (8.83)
m
que não é mais que a potência desenvolvida, por unidade de caudal mássico, com o
objectivo de vencer as forças de atrito e garantir que o veículo se move relativamente ao ar
sob a acção do propulsor.
A potência de propulsão pode ser obtida como o produto da força de propulsão pela
velocidade a que o veículo se movimenta, sendo, por isso,
− W prop 1 2
η prop = = = . (8.86)
2 2 V2
− W prop + m(V2 − Vv ) (V − Vv ) 1+
1+ 2 Vv
Vv (V2 − Vv )
Das Eq. (8.85) e (8.86) conclui-se que, quando a velocidade do veículo é nula, é
nula também a eficiência de propulsão, sendo máxima a força de propulsão, isto para um
dado caudal mássico e para uma dada velocidade à saída. Pelo contrário, se a velocidade do
- 8.32 -
veículo igualar a velocidade de saída, é máxima e igual à unidade a eficiência de propulsão,
sendo nula a força de propulsão.
Um resultado interessante pode ser obtido se se procurar obter a velocidade do
veículo Vv que, para uma dada velocidade de saída V2 , maximizar a potência de
propulsão. Tal é obtido fazendo
∂ W ∂
− cv = [Vv (V2 − Vv )] = 0 (8.87)
∂Vv m ∂Vv
V
Vv = 2 (8.88)
2
W 2
− cv = Vv2 η prop = (8.89)
m máx 3
o que não é uma situação muito favorável do ponto de vista da eficiência de propulsão.
- 8.33 -
De reter, no entanto, que, no caso geral, os termos de pressão são consideravelmente
menores que aqueles de vidos ao impacto e reacção da corrente gasosa através do sistema
propulsor.
Na situação em que o veículo se movimenta em regime subsónico, a pressão à
entrada iguala a pressão atmosférica pelo que a força de propulsão vem simplesmente
Sistemas de propulsão
Para efeitos de propulsão, as turbinas de gás apresentam a vantagem de ter uma relação
muito favorável entre a potência de propulsão que permitem desenvolver e o seu peso, e
daí o seu largo uso em aplicações tais como a aeronáutica. Ainda assim, podem apresentar-
se sob várias formas, de que se resumem a seguir as mais importantes.
Turbojet
É o modelo base deste tipo de sistemas, e que apresenta três secções fundamentais: o
difusor, à entrada, a parte geradora de gás quente (compreendendo o compressor, a câmara
de combustão e a turbina), e o convergente à saída (para promover a saída dos gases com
elevada velocidade e, assim, um elevado poder de propulsão).
- 8.34 -
desenvolvida pela turbina apenas tem que ser suficiente para alimentar o compressor e
outros órgãos auxiliares, tais como o sistema de alimentação de combustível, sistemas
geradores de electricidade, etc. À saída da turbina os gases têm uma pressão
consideravelmente superior à pressão atmosférica, pelo que se dá a sua expansão através do
convergente, daí resultando elevados valores de velocidade à saída e, consequentemente,
um elevado poder de propulsão.
De notar, no diagrama Ts, elaborado para uma situação ideal, sem
irreversibilidades, que a compressão se faz em dois estágios distintos, ocorrendo uma
primeira compressão no difusor e uma segunda compressão no compressor propriamente
dito. Numa situação real ocorrem os correspondentes processos, só que acompanhados do
aumento da entropia específica devido à presença de irreversibilidades, bem como o
abaixamento de pressão ao longo da câmara de combustão. Por sua vez, a expansão ocorre
também em dois estágios distintos, sendo que um primeiro estágio de expansão tem lugar
na turbina, seguido de uma segunda expansão através do convergente de saída até ser
atingida a pressão atmosférica.
Numa tentativa de aumentar o poder de propulsão, há situações em que se adiciona
um pós-queimador à instalação, cuja função é re-aquecer os gases que saem da turbina e
aumentar o seu poder de expansão rumo à saída, assim se conseguindo um maior poder de
propulsão.
Turbo-fan
Neste caso, o essencial passa-se como descrito anteriormente para o turbojet, havendo duas
diferenças a registar: À entrada, antes do compressor, existe um grande ventilador,
accionado à custa da potência desenvolvida na turbina, que força um escoamento de ar, de
elevado caudal, através de uma tubeira que envolve perifericamente o motor propriamente
dito.
- 8.35 -
Fig. 8.22. Diagrama esquemático de um turb-fan [4].
Turbo-hélice
Uma situação limite do turbofan é o turbo-hélice, em que o ventilador é substituído por
uma hélice, e não há qualquer limitação exterior ao fluxo de ar envolvente. Neste caso, o
by-pass ratio assume valores bem mais elevados, podendo mesmo aproximar-se de 100.
- 8.36 -
Em geral, os sistemas de turbo-hélice são mais eficientes que os sistemas de
turbofan, mas o seu uso encontra-se limitado a velocidades inferiores a (aproximadamente)
600km/h e a altitudes inferiores a (aproximadamente) 9000m. No entanto, estão em
desenvolvimento e teste soluções que são uma combinação dos turbofans e dos turbo-
hélice, as quais se espera melhorarem significativamente o desempenho deste tipo de
sistemas de propulsão.
Ramjet
Trata-se de um sistema extremamente simples, sem partes móveis, em que não há
compressor nem turbina, e que é usado em situações que exigem propulsão a muito
elevadas velocidades, tais como mísseis.
Neste caso, a compressão tem lugar apenas no difusor de entrada (o que exige que
este tipo de propulsor inicie o seu funcionamento quando já se desloca a uma velocidade
elevada), e a queima do combustível provoca o aumento de temperatura dos gases e,
consequentemente, a sua expansão rumo à saída de modo a obter o efeito de propulsão
desejado. De referir ainda que o ramjet usado para velocidades supersónicas recebe
usualmente o nome de scramjet.
8.5. REFERÊNCIAS
- 8.37 -
1. Wark, K. Jr, Thermodynamics, 5th Ed., McGraw-Hill, NY, 1989.
2. Cengel, Y. A. & Boles, M. A., Thermodynamics: An Engineering Approach, 2nd Ed.,
McGraw-Hill, NY, 1994.
3. Bejan, A., Advanced Engineering Thermodynamics, Wiley, NY, 1988.
4. Moran, M. J. & Shapiro, H. N., Fundamentals of Engineering Thermodynamics, 2nd Ed,
Wiley, NY, 1993.
5. Boyce, M. P., Gas Turbine Engineering Handbook, Gulf Publishing Company, Houston,
TX, 1982.
6. Mattingly, J. D., Elements of Gas Turbine Propulsion, McGraw-Hill, NY, 1996.
7. Eastop, T. D., McConkey, A., Applied Thermodynamics for Engineering Thechnologists,
5th Ed., Addison Wesley Longman, Essex, 1993.
- 8.38 -
9. INSTALAÇÕES COM TURBINAS DE
VAPOR
Fig. 9.1. Representação esquemática de uma instalação com turbina de vapor [4].
- 9.2 -
Fig. 9.2. Componentes principais de uma instalação com turbina de vapor para a
produção de electricidade [4].
Aspectos construtivos
As turbinas usadas nas instalações de vapor podem ser turbinas de impulso ou de reacção,
resultando geralmente duma associação de ambos os efeitos, isto é, possuem sempre algum
grau de reacção. As turbinas de impulso e de reacção foram já abordadas aquando do
estudo das instalações com turbinas de gás. As turbinas de vapor são usualmente turbinas
de tipo axial.
O componente mais importante da turbina de vapor é o rotor, podendo haver
componentes destes capazes de gerar potências de algumas centenas de MW. O rotor
encontra-se montado num estator, também ele com pás, o qual pode ser aberto em dois
meios-corpos para efectuar a manutenção, quer do rotor quer do estator. A estrada do vapor
(a alta pressão) possui uma pequena área de secção transversal, ao passo que a saída do
vapor (já expandido e ocupando, por isso, um volume consideravelmente maior) possui
- 9.3 -
uma área de secção transversal consideravelmente maior que a entrada. Especial
importância assumem os rolamentos em que se apoia o rotor, bem como as vibrações a que
este se encontra sujeito, as quais, acima de um determinado nível, podem levar à ruína do
sistema. Especial importância assume também a vedação na zona de entrada do vapor na
turbina, a pressão elevada, o que é usualmente conseguido através de um sistema de anéis
que formam um labirinto.
Alguns exemplos de rotors de turbinas de vapor podem ser observados na Fig. 9.3,
e na fig. 9.4 podem ser observadas associações rotor-estator de duas turbinas de vapor. Na
Fig. 9.5 pode ser observada uma turbina de vapor, em corte, e na Fig. 9.6 pode ser
observado o aspecto geral de uma instalação envolvendo uma turbina de vapor.
- 9.4 -
Fig. 9.5. Exemplo de turbina de vapor, em corte.
A caldeira deste tipo de instalações pode ser de tipo muito variado, e apresenta um
sério e vasto conjunto de requisitos relacionados com a segurança, manipulação de
combustível, sistemas de queima e remoção de resíduos de combustão (no caso de
combustíveis sólidos), tratamento dos gases de combustão, etc. Trata-se de sistemas em
que há um fluido pressurizado sujeito à acção do calor, ocorrendo a sua vaporização no
interior da caldeira. Como, no interior da caldeira propriamente dito, o vapor está em
contacto com o líquido, ambos coexistem em equilíbrio, isto é, no interior da caldeira
obtém-se vapor saturado. Se se pretende obter vapor sobre-aquecido tal é feito fazendo
passar o vapor saturado no sobre-aquecedor, que mais não é que uma zona quente,
geralmente colocada na zona de saída dos gases queimados para a atmosfera. Na tentativa
de arrefecer os gases de combustão, de modo a extrair deles o máximo calor, isto sem fazer
baixar a temperatura a ponto de poder haver a formação de ácidos que vão corroer a
instalação, muitas caldeiras possuem um economizador, que mais não é que um
- 9.5 -
permutador de calor colocado imediatamente antes da saída dos gases de combustão para a
atmosfera.
Alguns exemplos de caldeiras podem ser observados nas Figs. 9.7, 9.8 e 9.9.
- 9.6 -
Fig. 9.9. Pormenor do interior de uma caldeira [5].
Tomando a Fig. 9.10 como referência, temos a seguinte sequência de processos sofridos
pela substância operante: (i) Elevação de pressão da substância no estado líquido, de modo
isentrópico, entre os estados 3-4, na bomba, até ser atingido o máximo valor de pressão no
- 9.7 -
ciclo (no fim deste processo, a substância operante é, usualmente, líquido sub-arrefecido);
(ii) Aquecimento isobárico 4-1, acompanhado de mudança de fase líquido-vapor, quando a
substância operante contacta termicamente com a fonte quente (este processo compreende,
tipicamente, o aquecimento sensível 4-a do líquido, a mudança de fase líquido-vapor a-1, e
pode ainda compreender o sobreaquecimento do vapor entre os pontos 1 e 1’); (iii)
Expansão isentrópica 1-2 (ou 1’-2’, no caso de haver, à entrada da turbina, vapor sobrea-
aquecido) em que, à saída da turbina é usual existir uma mistura bifásica líquido-vapor; e
(iv) Arrefecimento isobárico 2-3, quando a substância operante contacta termicamente com
a fonte fria, acompanhado da mudança de fase vapor-líquido da proporção de substância
operante que ainda existe no estado de vapor à saída da turbina (daí que a fonte fria deste
tipo de instalações receba o nome de condensador).
A turbina está preparada para trabalhar essencialmente com vapor, podendo, no
entanto, admitir a presença de alguma da substância operante na fase líquida. É comum, à
saída da turbina, ser admissível um título da mistura bifásica líquido-vapor mínimo de
aproximadamente 0.9.
De igual modo ao que foi analisado aquando do estudo das instalações com turbinas
de gás, a aplicação da Primeira Lei da Termodinâmica, aplicada a um ciclo, resulta em
Qciclo = −Wciclo . Como o ciclo de Rankine é assumido ser efectuado reversivelmente, o
calor trocado durante o ciclo, Qciclo , é dado pela área encerrada pelo ciclo no diagrama TS,
visto que Qciclo = TdS . Por sua vez, o trabalho posto em jogo no ciclo é calculado como
Wciclo = − PdV , ou seja, é dado pela área encerrada pelo ciclo no diagrama PV. Assim
sendo, são iguais as áreas encerradas pelo ciclo de Rankine no diagrama PV e no diagrama
TS.
Interacções energéticas
É comum, neste tipo de instalações, assumir como desprezáveis as variações na energia
cinética e potencial gravítica da substância operante, pelo que um balanço energético (aos
sistemas abertos que são os seus componentes individuais) se resume a um balanço
entálpico.
As principais interacções energéticas ocorrem:
1. Na bomba, em que não há qualquer interacção energética soba forma de calor com
o exterior (bomba adiabática),
Wb W34
= = h4 − h3 >0 (9.1)
m m
- 9.8 -
4
Wb
= vdP ≈ v3 (P4 − P3 ) (9.2)
m
3
Qin Q41
= = h1 − h4 > 0 (9.3)
m m
Qin
= h1 − h4 = (ha − h4 ) + (h1 − ha ) + (h1' − h1 ) (9.4)
m
aquecimento mudança de eventual
do líquido fase sobreaquecimento
sub − arrefecido líquido − vapor do vapor
3. Na turbina, em que não há qualquer interacção energética soba forma de calor com
o exterior (turbina adiabática),
Wt W12
= = h2 − h1 < 0 (9.5)
m m
4. No contacto térmico com a fonte fria, em que não há qualquer interacção energética
com o exterior sob a forma de trabalho mecânico,
Qout Q23
= = h3 − h2 < 0 (9.6)
m m
Similarmente ao que acontece nas instalações com turbinas de gás, a utilização, pela
bomba, de parte da potência mecânica desenvolvida na turbina é uma interacção energética
interior à própria instalação, e que não é observável do exterior. Do exterior apenas são
observáveis as interacções energéticas sob a forma de calor nas fontes quente e fria, Qin e
Qout , bem como a potência efectivamente disponibilizada para o exterior, dada por
Wciclo = Wt + Wb (9.7)
<0 <0 >0
Wciclo Wt Wb
= + = (h2 − h1 ) + (h4 − h3 ) (9.8)
m m m
- 9.9 -
A fracção da potência mecânica desenvolvida na turbina que é absorvida pela
bomba é também usualmente referida como fracção de trabalho de retorno, definida, neste
caso, como
Wb m h − h3
f tr = = 4 (9.9)
Wt m h1 − h2
tomando esta fracção valores tipicamente próximos de 0.01, ou seja, a bomba absorve
tipicamente para o seu funcionamento 1% da potência mecânica desenvolvida na turbina.
Este valor tão baixo deve-se essencialmente ao muito baixo valor do volume específico do
líquido presente na bomba, o qual é muitas vezes menor que o volume específico do vapor
que se expande na turbina [convém aqui recordar a Eq. (5.18)]. Daí que, deste ponto de
vista, as instalações de vapor devam ser, em princípio, mais eficientes que as instalações a
gás. Se, deste ponto de vista tal é verdade, também é verdade que os níveis térmicos que
podem ser atingidos nas instalações envolvendo turbinas de gás são consideravelmente
superiores aos que são permitidos nas instalações de vapor, o que afecta negativamente a
eficiência das instalações de vapor.
Os termos entálpicos presentes nas equações anteriores necessitam ser calculados
por recurso a valores disponíveis em tabelas, no caso geral. Neste caso, a substância
operante não poder ser modelada como um gás, e muito menos como um gás ideal. Daí que
não haja expressões compactas para os resultados da análise ao ciclo de Rankine, situação
que acontece na análise do ciclo de Brayton.
Wt + Wb W + Wb (h1 − h2 ) − (h4 − h3 ) h − h3
η= =− t = = 1− 2 (9.10)
Qin Qin h1 − h4 h1 − h4
- 9.10 -
Influência da pressão na caldeira e da pressão no condensador
Sendo o ciclo de Rankine ideal um ciclo reversível, é possível obter uma expressão para a
sua eficiência térmica em termos de temperaturas médias. Tomando a Fig. 9.10 como
referência, a fase de adição de calor (por unidade de caudal mássico) que tem lugar na
caldeira, entre os pontos 4 e 1, como é reversível, pode ser expressa como
1
Qin
= Tds = T in (s1 − s 4 ) (9.12)
m rev
4
1
1
T in = Tds (9.13)
(s1 − s4 ) 4
O valor do integral dado pela Eq. (9.12) não é mais que a área 1-b-c-4-a-1 na Fig. 9.10.
Por sua vez, no condensador, como a fase de condensação tem lugar a uma
temperatura constante, pode escrever-se de modo análogo que
3
Qout
= − Tds = Tout (s 2 − s3 ) = Tout (s1 − s 4 ) (9.14)
m rev
2
Qout m T
η = 1− = 1 − out (9.15)
Qin m T in
expressão em tudo similar à obtida para a eficiência térmica do ciclo (reversível) de Carnot.
Fig. 9.11. Efeito da pressão na eficiência térmica do ciclo de Rankine: (a) Variação
da pressão na caldeira; e (b) Variação da pressão no condensador [4].
- 9.11 -
O valor da eficiência térmica cresce por isso à medida que se aumenta a temperatura
(média) correspondente à fase de adição de calor, ou então se diminui a temperatura à qual
ocorre a mudança de fase vapor-líquido no condensador.
Uma maior valor da temperatura média da fase de adição de calor corresponde a
uma isobárica correspondente a uma maior pressão, tal como ilustrado na Fig. 9.11a, em
que se manteve constante a pressão no condensador. Assim, a maiores valores da pressão
na caldeira estão associados maiores valores da eficiência térmica do ciclo de Rankine,
como é o caso do ciclo 1´-2´-3-4´-1’.
Um menor valor da temperatura da fase de condensação corresponde a uma
isobárica correspondente a uma menor pressão, tal como ilustrado na Fig. 9.11b, em que se
manteve constante a pressão na caldeira. Assim, a menores valores da pressão no
condensador estão associados maiores valores da eficiência térmica do ciclo de Rankine,
como é o caso do ciclo 1-2´’-3’’-4’´-1. No entanto, a menor temperatura disponível para
promover a mudança de fase vapor-líquido é, usualmente, a temperatura atmosférica, pelo
que é usual ter, no condensador, pressões inferiores à pressão atmosférica (à qual o vapor
de água condensa à temperatura de 100ºC). A substituição do condensador por um circuito
aberto leva a um aumento da pressão e, por isso, a uma menor eficiência térmica do ciclo.
Ainda assim, seria difícil e de custos extremamente elevados conseguir o caudal de água,
devidamente tratada, para circular continuamente através da instalação. Com o circuito
fechado consegue-se uma maior eficiência térmica e usa-se apenas água devidamente
tratada no interior da instalação, a qual fica assim sujeita a uma muito menor acção da
corrosão.
- 9.12 -
(Wb m)s h − h3
ηb = = 4s <1 (9.16)
(Wb m) h4 − h3
ηt =
(Wt m) =
h2 − h1
<1 (9.17)
(Wt m)s h2 s − h1
- 9.13 -
instalação, o que é perfeitamente compatível com o facto de este tipo de instalações ser,
geralmente, fixo.
Sobre-aquecimento e re-aquecimento
Da análise da Fig. 9.10 facilmente se constata que aumentando a pressão na caldeira ou
diminuindo a pressão no condensador, numa tentativa de aumentar a eficiência da
instalação, tal resulta numa diminuição da qualidade da mistura bifásica líquido-vapor à
saída da turbina. Valores baixos da qualidade da mistura (tipicamente inferiores a 0.9)
levam a que haja a acção de impacto das gotículas de líquido sobre as pás da turbina, daí
resultando erosão e uma menor eficiência da turbina. Para que se consiga um melhor
desempenho global das instalações reais, tendo elevadas pressões na caldeira e baixas
pressões no condensador, sem que a qualidade da mistura não desça abaixo de 0.9, estas
incluem, geralmente, sobre-aquecimento e reaquecimento da substância operante.
À entrada da turbina é necessário ter vapor, na condição de saturação ou então na
condição de sobre-aquecido, isto é, para lá do estado de saturação. O sobre-aquecimento do
vapor é efectuado num permutador de calor separado, usualmente colocado de modo a
extrair calor dos gases de combustão que saem da caldeira. Com o sobre-aquecimento, tal
como facilmente se conclui da análise à Fig. 9.10, consegue-se ter a substância operante no
estado 2’ à saída da turbina, a que corresponde uma qualidade da mistura manifestamente
superior à que corresponde ao estado 2 (em que à entrada da turbina o vapor se encontrava
apenas no estado de saturação). Além disso, a temperatura correspondente à fase de
aquecimento aumentou, ou seja, aumentou a temperatura T in presente na Eq. (9.15), daí
resultando então uma maior eficiência térmica para o ciclo. Para além disso, aumentou a
área encerrada pelo ciclo no diagrama Ts, ou seja, com o sobre-aquecimento aumentou-se
também o trabalho desenvolvido pelo ciclo. De reter que, ao calcular as interacções
energéticas associadas ao ciclo, há que contabilizar também o termo de entrada de calor
correspondente à fase de sobre-aquecimento do vapor.
Um outro modo de aumentar o desempenho da instalação, sem que a qualidade da
mistura à saída da turbina desça abaixo de 0.9, consiste em efectuar a expansão em
estágios, intercalados de re-aquecimento da substância operante. Tal encontra-se ilustrado
na Fig. 9.13. Esta prática resulta num aumento da temperatura média da fase de adição de
calor, T in , resultando por isso num aumento da eficiência térmica do ciclo.
Adicionalmente, resulta também num acréscimo da qualidade da mistura à saída (de cada
um dos estágios de expansão) da turbina, bem como num maior trabalho desenvolvido por
ciclo. De reter que, ao calcular as interacções energéticas associadas ao ciclo, há que
contabilizar um termo adicional de entrada de calor, correspondente à fase de re-
aquecimento da substância operante, sendo o calor total adicionado calculado como
- 9.14 -
Qin = m[(h1 − h6 ) + (h3 − h2 )] (9.18)
- 9.15 -
Regeneração
O objectivo da regeneração consiste, de modo idêntico ao que foi analisado aquando do
estudo das instalações com turbinas de gás, em conferir um ganho entálpico à substância
operante antes desta dar entrada na caldeira, sendo por isso necessário dispôr de uma
menor potência de aquecimento na caldeira. O modo de efectuar a regeneração apresenta-se
essencialmente segundo duas formas distintas, consoante o tipo de permutador de calor
usado para fazer a troca de calor entre o fluido que sai da turbina e o fluido que vai entrar
na caldeira.
- 9.16 -
Continuando a ter a Fig. 9.15 como referência, as interacções energéticas presentes no ciclo
são:
Na caldeira
Na turbina
No condensador
Na bomba 1
Na bomba 2
Wb 2 = m(h7 − h6 ) (9.23)
O balanço energético para o permutador de contacto directo, assumindo que este não troca
calor com o exterior através das suas paredes, vem
de onde se obtém
h − h5
y= 6 (9.25)
h2 − h5
η=−
W
=−
[m(h2 − h1 ) + (1 − y )m(h3 − h2 )] + [(1 − y )m(h5 − h4 ) + my (h7 − h6 )]
(9.26)
Qin m(h1 − h7 )
ou seja
η=−
[(h2 − h1 ) + (1 − y )(h3 − h2 )] + [(1 − y )(h5 − h4 ) + y(h7 − h6 )]
(9.27)
(h1 − h7 )
- 9.17 -
Regeneração com permutador de correntes separadas
Neste caso, a troca de calor entre as correntes extraída e não extraída não tem lugar com o
contacto directo entre essas correntes, mas sim num permutador de calor em que essas
correntes não contactam directamente uma com a outra. Como as correntes não se
misturam, pode-se assim ter a situação de as correntes que trocam calor se encontrarem a
pressões diferentes.
Na Fig. 9.16 podem ser analisados dois modos distintos de proceder à remoção do
condensado que se forma em tais permutadores de calor, em que o condensado ou é
bombeado para a pressão da caldeira (caso a) ou então sofre um abaixamento de pressão
numa válvula, de modo a que permanece constante a entalpia (um processo acompanha do
de irrreversibilidade, mas com h7 − h8 ), até ser atingida a pressão do condensador (caso b).
- 9.18 -
Qin = m(h1 − h6 ) (9.28)
Na turbina
No condensador
Na bomba
Wb = m(h5 − h4 ) (9.31)
O balanço energético para o permutador de correntes separadas, assumindo que este não
troca calor com o exterior através das suas paredes, vem
de onde se obtém
h − h5
y= 6 (9.33)
h2 − h7
η=−
W
=−
[m(h2 − h1 ) + (1 − y )m(h3 − h2 )] + [m(h5 − h4 )] (9.34)
Qin m(h1 − h6 )
ou seja
η=−
[(h2 − h1 ) + (1 − y )(h3 − h2 )] + [(h5 − h4 )] (9.35)
(h1 − h6 )
- 9.19 -
Fig. 9.18. Instalação com regeneração com recurso a múltiplas extracções e
múltiplos permutadores de calor [4].
- 9.20 -
para se ter uma instalação com uma elevada eficiência térmica, o que se consegue com uma
elevada temperatura da fase de adição de calor, torna-se necessário operar a temperaturas
acima da temperatura crítica. Se bem que tal seja possível, implica a utilização de
equipamentos sujeitos a pressões muito altas, com consequências associadas em termos de
custos e de segurança.
Uma outra característica menos vantajosa da água é que, às temperaturas normais
de troca de calor no condensador, apresenta pressões de condensação inferiores à pressão
atmosférica, com o risco de haver fugas de ar para o interior do condensador, as quais são
difíceis de detectar.
Ciclo combinado
Como a temperatura de condensação do mercúrio é compatível com a temperatura de
vaporização da água, uma opção óbvia é o recurso a um ciclo binário. Há assim um ciclo
global que é constituído por dois ciclos componentes, um com elevadas temperaturas na
fase de adição de calor em que a substância operante é o mercúrio, e o outro, operando a
uma temperatura mais baixa durante a fase de adição de calor em que a substância operante
é a água.
- 9.21 -
O que liga estes dois ciclos é um permutador de calor, de modo a que a fonte fria do
ciclo de mercúrio é a fonte quente do ciclo de vapor de água. A caldeira onde o mercúrio
entra em ebulição pode ainda servir para levar o vapor ao estado de sobre-aquecido.
Consegue-se assim uma instalação que é globalmente mais eficiente, apesar de apresentar
maiores custos de investimento e uma maior complexidade.
Tomando a Fig. 9.19 como referência, a eficiência de um tal ciclo é obtida como
isto é
O balanço energético ao permutador de calor que liga os dois ciclos, admitindo que este
não troca calor com o exterior, fornece
ou seja, a relação entre os caudais mássicos de mercúrio e de água deve ser tal que
mm hd − he
= (9.39)
ma h3 − h2
(Wt , g + Wt , v ) + (Wc + Wb )
η=− (9.40)
Qin
isto é
- 9.22 -
Fig. 9.20. Ciclo combinado gás-vapor [4].
ou seja, a relação entre os caudais mássicos de gás e de água deve ser tal que
mg h − h7
= 6 (9.43)
mv h5 − h4
9.5. CO-GERAÇÃO
É comum encarar a inevitabilidade da existência de uma fonte fria para as máquinas
térmicas como algo de extremamente indesejável e, inevitavelmente, prejudicial, já que não
permite tirar partido de todo o poder calorífico do combustível. Uma técnica que permite
aproveitar integralmente, ou quase integralmente, o poder calorífico do combustível, é a
co-geração, a qual resulta na utilização conjugada do calor para efeitos de produção de
potência mecânica e de potência calorífica de aquecimento.
Do processo de queima de um combustível obtêm-se temperaturas extremamente
elevadas, as quais são excelentes para actuarem como fontes quentes das máquinas
- 9.23 -
térmicas, pois uma máquina térmica será tanto mais eficiente quanto maior a temperatura
da sua fonte quente. Esta temperatura é de tal maneira elevada que é, em muitos casos,
incompatível com os níveis térmicos (mais baixos) desejáveis em processos industriais de
aquecimento ou outros. Assim, aproveita-se o calor a elevada temperatura para alimentar as
máquinas térmicas, geradoras de potência mecânica, e usa-se o calor rejeitado na fonte fria
dessas máquinas térmicas para alimentar, em termos de potência calorífica, um qualquer
processo que necessite de calor. Se, eventualmente, for necessário um nível térmico
elevado no processo de aquecimento, pode efectuar-se o desvio de parte da substância
operante a alta temperatura e misturá-la com a substância operante a uma menor
temperatura.
ηQin = −W (9.44)
representa calor que é rejeitado na fonte fria. Este calor é usualmente libertado na fonte fria
a uma temperatura tal que é demasiado baixa para que consiga alimentar, de modo
eficiente, uma qualquer máquina térmica. Assim, usa-se este calor não para alimentar
nenhuma máquina térmica mas sim para alimentar um qualquer processo que necessite de
- 9.24 -
calor (para aquecer, secar, cozer, etc.), podendo ser usado na totalidade para um tal fim ou
apenas uma sua fracção f.
Um coeficiente de aproveitamento do calor obtido no processo de combustão pode
ser definido como
9.6. REFERÊNCIAS
1. Wark, K. Jr, Thermodynamics, 5th Ed., McGraw-Hill, NY, 1989.
2. Cengel, Y. A. & Boles, M. A., Thermodynamics: An Engineering Approach, 2nd Ed.,
McGraw-Hill, NY, 1994.
3. Bejan, A., Advanced Engineering Thermodynamics, Wiley, NY, 1988.
4. Moran, M. J. & Shapiro, H. N., Fundamentals of Engineering Thermodynamics, 2nd Ed.,
Wiley, NY, 1993.
5. Woodruff, E. B., Lammers, H. B. & Lammers, T. F., Steam Plant Operation, 7th Ed.,
McGraw-Hill, NY, 1998.
6. Joel, R., Basic Engineering Thermodynamics, 5th Ed., Addison Wesley Longman, Essex,
1996.
- 9.25 -
10. SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO
- 10.2 -
Fig. 10.2. Ciclo de refrigeração de Carnot [4].
Coeficientes de desempenho
Quando se está perante máquinas de refrigeração, o seu coeficiente de desempenho não é
referido como uma eficiência, mas efectivamente como coeficiente de desempenho,
referenciado como COP (Coefficient Of Performance). É que é possível ter, neste tipo de
máquinas, coeficientes de desempenho superiores à unidade, contrariamente ao que
acontece com as máquinas térmicas propriamente ditas, as quais nunca conseguem
converter integralmente o calor que recebem em trabalho mecânico.
Máquina frigorífica
O ciclo de refrigeração representado na Fig. 10.2, devido ao facto de ser reversível,
apresenta o maior índice de desempenho possível para uma máquina de refrigeração
- 10.3 -
operando entre as mesmas temperaturas TC e TH , o qual pode ser quantificado, como a
relação entre o que a máquina dá e o que a máquina pede, pela expressão
Qin m TC (s a − sb ) TC
COP = = = (10.1)
Wc m + Wt m (TH − TC )(s a − sb ) TH − TC
Bomba de calor
Convém notar que uma máquina de refrigeração pode ser usada para refrigeração
propriamente dita, por remoção de calor de uma zona a mais baixa temperatura, ou então
para aquecimento, em que o efeito pretendido é, neste caso, o calor libertado na fonte
quente. Neste caso diz-se que a máquina de refrigeração opera como uma bomba de calor,
bombeando calor do nível térmico mais baixo para o nível térmico mais elevado. O
coeficiente de desempenho da máquina de refrigeração representada na Fig. 10.2, quando
opera como bomba de calor, é então
Qout m T H (s a − s b ) TH
COP = − = = (10.2)
Wc m + Wt m (TH − TC )(s a − sb ) TH − TC
TH T − TC + TC TC
COP = = H = 1+ >1 (10.3)
TH − TC TH − TC TH − TC
Uma vez mais, como estamos perante a bomba de calor de Carnot, estamos perante a
bomba de calor que apresenta o máximo coeficiente de desempenho possível quando opera
entre as temperaturas TC e TH .
Este resultado é deveras interessante. De facto, constata-se que o coeficiente de
desempenho da máquina de refrigeração quando opera como bomba de calor, é uma
unidade mais elevado que o coeficiente de desempenho da máquina de refrigeração quando
opera com o objectivo de refrigeração propriamente dito (e ambas as máquinas operam
entre as mesmas temperaturas). Ou seja, as máquinas de refrigeração são mais eficazes
como máquinas de aquecimento que como máquinas de arrefecimento.
O resultado da Eq. (10.3) pode ser entendido de outro modo, por aplicação da
Primeira Lei da Termodinâmica à máquina de refrigeração. Um balanço energético,
- 10.4 -
contabilizando apenas as únicas interacções energéticas existentes, na forma de calor e de
trabalho, fornece
Qout Qin
COP = = 1+ (10.6)
Wc − Wt Wc − Wt
- 10.5 -
Fig. 10.3. Componentes principais de uma instalação de refrigeração (por
compressão de vapor) [4].
TC' TC − ∆TC
COP = = (10.7)
TH' − TC' TH + ∆TH − (TC − ∆TC )
- 10.6 -
ou seja
TC ∆TC TC
COP = − < (10.8)
TH − TC + (∆TH + ∆TC ) TH − TC + (∆TH + ∆TC ) TH − TC
ou seja
TC ∆TC TC
COP = 1 + − < 1+ (10.10)
TH − TC + (∆TH + ∆TC ) TH − TC + (∆TH + ∆TC ) TH − TC
- 10.7 -
Interacções energéticas
Tendo como referência a Fig. 10.3, as principais interacções energéticas que têm lugar são:
1. No compressor, em que não há qualquer interacção energética com o exterior sob a
forma de calor (compressor adiabático),
Wc
= h2 − h1 (10.11)
m
Qout
= h3 − h2 (10.12)
m
Qin
= h1 − h4 (10.13)
m
h3 = h4 (10.15)
Assim, a expansão que ocorre na válvula de expansão tem lugar a entalpia constante,
recebendo um tal processo o nome de laminagem.
O coeficiente de desempenho de um ciclo de refrigeração por compressão de vapor
vem então
Qin h1 − h4
COP = = (10.16)
Wc h2 − h1
- 10.8 -
Bombas de calor por compressão de vapor
O mesmo sistema de refrigeração analisado anteriormente pode ser usado para fins de
aquecimento, recebendo então o nome de bomba de calor. As interacções energéticas que
têm lugar são calculadas exactamente do mesmo modo, sendo apenas o seu coeficiente de
desempenho calculado de modo diferente. Neste caso, o que se obtém de útil é − Qout ,
pelo que o coeficiente de desempenho da bomba de calor é calculado como
− Qout h − h2
COP = =− 3 (10.17)
Wc h2 − h1
Fig. 10.5. Sistema de refrigeração por compressão de vapor a operar como bomba de
calor, para aquecer o interior de um compartimento [4].
- 10.9 -
Fig. 10.6. Representação esquemática de uma bomba de calor com sistema ‘inverter’
[4].
Fig. 10.7. Ciclo de refrigeração por compressão de vapor, com perdas na válvula de
expansão e no compressor [4].
- 10.10 -
Assim, e à semelhança do que já foi feito para os compressores das instalações com
turbinas de gás, a eficiência isentrópica do compressor vem
ηc =
(Wc m)s h − h1
= 2s (10.18)
(Wc m) h2 − h1
Relação pressão-temperatura
O que se pretende, essencialmente, de um fluido refrigerante é que ele opere de tal modo
que a temperatura no condensador ande um pouco acima da temperatura onde é para ser
descarregado o calor − Qout , e que a temperatura no evaporador ande um pouco abaixo da
temperatura do meio de onde é recebido o calor Qin . São estas temperaturas que,
conjugadas com as propriedades do fluido refrigerante usado, determinam as pressões a
que o fluido se deve encontrar no evaporador e no condensador.
Para acompanhar as evoluções sofridas pela substância operante à medida que esta
progride numa instalação de refrigeração, é comum o recurso ao diagrama Ph do fluido
refrigerante em causa. Um tal diagrama encontra-se representado, de forma genérica, na
Fig. 10.8.
Fluidos refrigerantes
O fluido refrigerante mais usado até há bem pouco tempo, em instalações de refrigeração
por compressão de vapor, foi (e ainda é, em muitas instalações) o diclorodifluorometano
(CCl2F2), conhecido como Refrigerante 12, R12, ou então com o nome comercial de Freon-
12 ou Genatron-12. Outro fluido refrigerante também de vasta aplicação é o Refrigerante
11 (triclorofluorometano, CCl3F). Tais substâncias são por vezes referidas como
hidrocarbonetos halogenados, ou clorofluorocarbonados (CFC’s).
- 10.11 -
Descobriu-se, recentemente, que a libertação de tais substâncias para a atmosfera
leva a uma degradação da camada de ozono, protectora da entrada da radiação ultra-violeta
na Terra, o que ditou o abandono de tais fluidos refrigerantes, pelo menos em termos de
instalações novas (Conferência de Montréal, Canadá, em 1987). Como substitutos dos
clorofluorocarbonados surgiram os hidrofluorocarbonados. Como grande substituto do
Refrigerante 12 apareceu o tetrafluoroetano (CF3CFH2), conhecido como Refrigerante
R134a, o clorodifluorometano (R22, CHClF2) e o diclorotrifluoroetano (R123, CHCl2F3),
os quais são actualmente aceitáveis do ponto de vista ambiental.
Um outro fluido refrigerante, especialmente importante para as unidades de
refrigeração por absorção, é a amónia, NH3, conhecida como o Refrigerante 717 ou,
simplesmente, como R117.
Fig. 10.9. Cascata com dois ciclos de refrigeração por compressão de vapor [4].
- 10.12 -
Para a situação representada há dois ciclos de refrigeração por compressão de
vapor, cada um com o seu próprio compressor, e um permutador de calor estabelecendo a
ligação entre esses dois ciclos. Essencialmente, o que se pretende do ciclo combinado é que
o fluido refrigerante do ciclo A apresente uma relação pressão-temperatura na saturação tal
que permite efectuar o efeito de refrigeração a uma temperatura baixa sem que tenha que se
encontrar a uma pressão muito baixa no evaporador, e que o fluido refrigerante do ciclo B
apresente uma relação pressão-temperatura na saturação tal que permite efectuar a rejeição
de calor no condensador sem que tenha que se encontrar a uma pressão muito elevada.
Um balanço energético ao permutador que liga ambos os ciclos, admitindo que este
não troca calor com o exterior através da sua superfície, fornece que
m A hB,5 − hB,8
= (10.20)
m B h A,2 − h A,3
Qin (
m A h A,1 − h A,4 )
COP = = (10.21)
( ) (
Wc, A + Wc, B m A h A,2 − h A,1 + m B hB,6 − hB,5 )
se esta opera com o objectivo de refrigeração, ou como
Qout (
m B h B ,7 − h B ,6 )
COP = =− (10.22)
Wc, A + Wc, B ( ) (
m A h A,2 − h A,1 + m B hB,6 − hB ,5 )
se esta opera como bomba de calor.
- 10.13 -
casos, inferior à temperatura ambiente. Uma solução para ultrapassar esta questão
encontra-se ilustrada na Fig. 10.10.
- 10.14 -
separação é também x (todo o vapor é separado). A parte do caudal não desviado, m(1 − x ) ,
segue pela outra válvula de expansão onde é expandida até à pressão do evaporador.
Um balanço energético à câmara de flash, admitindo que esta não troca calor com o
exterior através da sua superfície, fornece
isto é, a qualidade da mistura no estado 6, que iguala a fracção de caudal desviado sob a
forma de vapor na câmara de flash, é calculada como
h − h6
x= 7 (10.24)
h7 − h9
Por sua vez, o balanço energético ao permutador de calor de contacto directo, admitindo
que este não troca calor com o exterior através da sua superfície, fornece que
Aspectos construtivos
Os sistemas de refrigeração por compressão de vapor são dos mais usados, pelo que
assume especial importância referir alguns dos aspectos construtivos relacionados com
eles. No entanto, este sistemas podem assumir formas muito variadas, e incorporar
dispositivos de comando e controlo também muito variados, sendo apenas aqui indicados
os aspectos construtivos mais essenciais.
Na Fig. 10.11 encontra-se representado esquematicamente o sistema de refrigeração
associado a um frigorífico de uso doméstico.
- 10.15 -
Fig. 10.11. Representação esquemática de um frigorífico de uso doméstico [5].
- 10.16 -
Fig. 10.13. Sistema de refrigeração industrial [5].
Compressores
Os compressores usados nestas instalações são, muitas vezes, compressores alternativos de
êmbolo.
- 10.17 -
Fig. 10.15. Representação esquemática do funcionamento de um compressor de
êmbolos, com válvulas auto-accionadas (b) Admissão; (d) Descarga [5].
- 10.18 -
Evaporadores
Os evaporadores podem assumir formas muito diferentes consoante a situação particular a
que se destinam, encontrando-se representados na Fig. 10.17 dois tipos de evaporadores
comuns em instalações de refrigeração de pequena/média dimensão.
Condensadores
Também os condensadores podem assumir formas muito diferentes consoante a situação
particular a que se destinam, encontrando-se representados na Fig. 10.18 dois tipos de
condensadores comuns em instalações de refrigeração.
Válvula de expansão
A válvula de expansão pode apresentar-se sob diversas formas, sendo no entanto comum
que apareça sob a forma de uma válvula de expansão termostática ou de um simples tubo
capilar nas instalações de pequena dimensão. No entanto, muitas e variadas formas de
comando e controlo podem ser adoptadas para o dispositivo de expansão em causa, cuja
descrição detalhada pode ser encontrada na Ref. 5.
- 10.19 -
O objectivo primordial da válvula de expansão é manter um determinado nível de
sobre-aquecimento à saída do evaporador, não permitindo que haja a entrada de líquido
para o compressor. Para comandar a válvula é usado um bolbo, montado à saída do
evaporador, o qual contém um fluido com um elevado coeficiente de dilatação, fazendo-se
sentir a acção deste fluido (por meio de um diafragma) sobre o órgão móvel da válvula.
Uma temperatura mais elevada provoca uma maior abertura da válvula, e uma temperatura
mais baixa provoca um maior fecho da válvula. Na Fig. 10.19 encontra-se representado o
princípio de funcionamento de uma válvula de expansão termostática.
- 10.20 -
10.3. REFRIGERAÇÃO POR ABSORÇÃO
Estes sistemas de refrigeração têm algumas características comuns aos sistemas de
refrigeração por compressão de vapor. Uma diferença está em que aqui não se recorre à
compressão de um vapor mas sim à pressurização de um líquido. Ora, como o líquido tem
um muito menor volume específico que o vapor, o trabalho associado à fase de compressão
é, por isso, muito menor nos sistemas de refrigeração por absorção. No entanto, uma vez
bombeado o líquido, interessa agora fazê-lo passar ao estado de vapor para que possa de
seguida passar no condensador. Tal é feito por adição de calor, no chamado gerador da
instalação, o que deve acontecer a uma temperatura elevada.
A substância operante usada é uma solução composta por um fluido refrigerante e
de um absorvente, sendo comum o uso da amónia como refrigerante e da água como
absorvente. Outra possibilidade frequente é o uso do brometo de lítio como refrigerante e
da água como absorvente.
Um instalação de refrigeração por absorção encontra-se representada na Fig. 10.21,
em que é visível, na parte esquerda dessa figura, que este sistema apenas difere do sistema
de refrigeração por compressão de vapor pelo modo como o processo (global) de
compressão tem lugar.
Para a situação ilustrada na Fig. 10.21, em que se usa a amónia como refrigerante e
a água como absorvente, a amónia (o refrigerante) circula através do condensador, da
- 10.21 -
válvula de expansão e do evaporador. O absorvente (a água) apenas é chamado a intervir na
fase de compressão.
O compressor é substituído pelo conjunto representado na parte da direita da Fig.
10.21. No absorvedor, a amónia, no estado de vapor, que sai do evaporador no estado 1, é
absorvida pela água líquida. Este processo de absorção é exotérmico e, como a quantidade
de amónia que pode ser absorvida pela água é tanto maior quanto menor for a temperatura,
torna-se necessário promover um meio de remover o calor gerado no absorvedor. A
solução forte amónia-água formada no absorvedor é bombeada para a pressão mais alta da
instalação, que é a pressão do gerador. No gerador, a adição de calor a uma temperatura
relativamente elevada leva a que a amónia abandone a solução, evapore e se solte da água,
havendo assim a separação numa parte de amónia apenas (no estado de vapor) e numa
outra parte que é uma solução fraca (líquida) de amónia em água. A amónia assim separada
progride através do condensador, da válvula de expansão e do evaporador tal como
qualquer outro fluido refrigerante. Por sua vez, a solução fraca de amónia em água sofre
um abaixamento de pressão numa válvula de expansão e retorna ao absorvedor. Neste
processo, o trabalho mecânico fornecido à bomba é consideravelmente inferior ao que seria
necessário fornecer a um compressor de uma instalação de refrigeração por compressão de
vapor que lhe seja equivalente em termos de poder de refrigeração. No entanto, há que
contar também com a parcela de energia necessária para alimentar o gerador.
Se o sistema analisado é para efectuar refrigeração propriamente dita, o seu
coeficiente de desempenho pode ser calculado como
Qin
COP = (10.29)
Wb + QG
- 10.22 -
Fig. 10.22. Sistema de refrigeração por absorção amónia-água, modificado [5].
- 10.23 -
Neste sistema existem três fluidos envolvidos: água, amónia e hidrogénio. O
sistema não tem partes móveis, e a pressão total, a menos das perdas, é constante através de
todo o sistema. Tomando a pressão total como a soma das pressões parciais, o que só é
estritamente correcto para gases ideais, verifica-se então que a soma das pressões parciais
dos vários fluidos em presença iguala, sempre, a pressão total reinante na instalação. O
fluido refrigerante é a amónia, o absorvente é a água, e o hidrogénio está presente para,
devido a diferenças de densidade, permitir a circulação natural da substância operante.
Tomando o lado direito da Fig. 10.23 com referência, temos que a amómia líquida
deixa o condensador e entra no evaporador, dando-se então a evaporação no seio do
hidrogénio a baixa temperatura, a que corresponde uma baixa pressão parcial do
hidrogénio. A mistura gasosa amónia-hidrogénio entra então no absorvedor, no qual dá
entrada também uma solução fraca de amónia-água vinda do separador, ocorrendo a
absorção do vapor de amónia por parte da água, formando-se assim uma solução forte
amónia-água, e o hidrogénio volta para o evaporador. A solução forte amónia-água passa
então no gerador, onde recebe calor de uma fonte de calor a temperatura elevada,
formando-se aí vapor que flui rumo ao separador. No separador há a formação de uma
solução fraca amónia-água, a qual flui para o absorvedor. A amónia, no estado de vapor,
que deixa o separador, segue para o condensador, onde é condensada, prosseguindo depois
para o evaporador. Tal como se encontra representado, a entrada energética para um tal
sistema de refrigeração é apenas o calor de entrada no gerador, o qual pode provir de uma
combustão de um qualquer combustível, ou mesmo da captação de energia solar. Tal torna-
o especialmente apto para ser usado em situações em que não é fácil ter disponível outra
energia que não o simples calor para o seu funcionamento, o que acontece em pequenas
unidades de refrigeração para fins domésticos, ou outros.
Este tipo de instalação apresenta um baixo coeficiente de desempenho, o qual pode
ser melhorado forçando a circulação por recurso a uma bomba, o que acontece em
instalações industriais que funcionam segundo este princípio.
- 10.24 -
componentes substituídos por meros permutadores de calor em que a substância operante é,
invariavelmente, um gás. Devido ao facto de a substância operante ser sempre um gás, a
temperatura aumenta à medida que a fase de adição de calor (na fonte fria) tem lugar, e a
temperatura diminui à medida que a fase de rejeição de calor (na fonte quente) tem lugar.
Fig. 10.24. Ciclo de Brayton com funcionamento invertido, para refrigeração [4].
Wt
= h4 − h3 (10.30)
m
Qin
= h1 − h4 (10.31)
m
Wc
= h2 − h1 (10.32)
m
- 10.25 -
Qout
= h3 − h2 (10.33)
m
ηc =
(Wc m)s h − h1
= 2s <1 (10.34)
(Wc m) h2 − h1
ηt =
(Wt m) =
h4 − h3
<1 (10.35)
(Wt m)s h4 s − h3
Qin m h1 − h4
COP = = (10.36)
Wt m + Wc m (h4 − h3 ) + (h2 − h1 )
− Qout m h3 − h2
COP = =− (10.37)
Wc,1 m + Wc,2 m (h4 − h3 ) + (h2 − h1 )
- 10.26 -
consideravelmente menores que as que podem ser atingidas sem o recurso ao permutador
de calor de regeneração. Como a temperatura T4 é consideravelmente mais baixa,
consegue-se assim que a fase de adição de calor (efeito de refrigeração) ocorra a níveis
térmicos consideravelmente mais baixos.
Fig. 10.25. Representação esquemática de uma instalação com turbina de vapor [4].
Qin m hb − h4
COP = = (10.38)
Wt m + Wc m (h4 − h3 ) + (h2 − h1 )
− Qout m ha − h2
COP = =− (10.39)
Wc,1 m + Wc, 2 m (h4 − h3 ) + (h2 − h1 )
Liquefacção de gases
Na indústria ocorre com frequência a necessidade de proceder à liquefacção de gases, de
que são exemplos a separação do oxigénio e do nitrogénio do ar atmosférico, e a
preparação de alguns combustíveis líquidos.
Convém ter presente que acima da temperatura crítica uma substância existe apenas
na fase gasosa. Ora, os gases que são mais comumente liquefeitos apresentam temperaturas
críticas muito baixas (hélio: -268ºC; hidrogénio: -240ºC; nitrogénio: -147ºC), pelo que
nenhuma destas substância existe no estado líquido às condições atmosféricas.
Adicionalmente, com os sistemas de refrigeração analisados não se conseguem obter
temperaturas assim tão baixas para proceder à liquefacção dos gases. Este processo requer,
- 10.27 -
por isso, o recurso a ciclos muito especiais, sendo apresentado aqui o ciclo de Linde-
Hampson para a liquefacção de gases, o qual se encontra representado na Fig. 10.26.
O gás ‘fresco’ é misturado com gás não condensado, oriundo do ciclo anterior, e
essa mistura, no estado 2, é comprimida num compressor de múltiplos estágios de
compressão com arrefecimento intermédio entre cada dois estágios de compressão
consecutivos. Devido ao grande número de estágios de compressão e de arrefecimentos
intermédios, o processo de compressão aproxima-se de um processo de compressão
isotérmico. O gás comprimido a alta pressão, e a elevada temperatura, no estado 3, é
arrefecido por um agente externo de arrefecimento, passando para o estado 4.
Posteriormente, o gás comprimido sofre um outro arrefecimento, num permutador de calor
em que cede calor à corrente de gás ainda não comprimida, abandonando o permutador de
calor no estado 5. Posteriormente, o gás sofre uma laminagem numa válvula de expansão,
passando ao estado 6, em que já é uma mistura bifásica líquido-vapor. Num separador, a
porção de líquido assim formada, no estado 7, é removida como gás liquefeito, e a parte do
gás não liquefeito, no estdo 8, vai passar no permutador de calor da instalação, onde
promove o segundo arrefecimento da corrente gasosa a alta pressão, após o que se mistura
com o gás ‘fresco’ a ser processado, seguindo essa mitura para o compressor.
- 10.28 -
10.5. REFERÊNCIAS
1. Wark, K. Jr, Thermodynamics, 5th Ed., McGraw-Hill, NY, 1989.
2. Cengel, Y. A. & Boles, M. A., Thermodynamics: An Engineering Approach, 2nd Ed.,
McGraw-Hill, NY, 1994.
3. Bejan, A., Advanced Engineering Thermodynamics, Wiley, NY, 1988.
4. Moran, M. J. & Shapiro, H. N., Fundamentals of Engineering Thermodynamics, 2nd Ed.,
Wiley, NY, 1993.
5. Dossat, R. J., Principles of Refrigeration, 4th Ed., Prentice-Hall, Englewood Cliffs, NJ,
1997.
6. Joel, R., Basic Engineering Thermodynamics, 5th Ed., Addison Wesley Longman, Essex,
1996.
7. Eastop, T. D., McConkey, A., Applied Thermodynamics for Engineering Technologists,
5th Ed., Addison Wesley Longman, Essex, 1993.
- 10.29 -
11. COMBUSTÍVEIS E COMBUSTÃO
Funcionando usualmente a atmosfera como a fonte fria das máquinas térmicas, interessa
encontrar fontes quentes que permitam obter elevadas temperaturas e, assim, máquinas
térmicas de elevada eficiência térmica. As fontes térmicas podem ser muito variadas, indo
desde fontes térmicas naturais (energia solar ou energia geotérmica) até sistemas tão
sofisticados como reactores nucleares. A solução mais comum consiste em proceder à
queima de um combustível, qualquer que ele seja. Podem ser combustíveis sólidos (carvão
mineral ou vegetal, lenha, resíduos florestais, resíduos domésticos e industriais, etc.),
combustíveis líquidos (óleos minerais ou vegetais, álcoois, gasolina, gasóleo, petróleo,
nafta, etc.) ou gasosos (gás butano, gás propano, gás natural, etc.). Em princípio, tudo o que
possa ser queimado e produzir calor pode ser usado para abastecer de calor a fonte quente
de uma máquina térmica. Os combustíveis sólidos apresentam problemas de acentuada não
uniformidade nas suas propriedades, poder calorífico dependente de variados factores,
soluções de transporte e armazenagem, dispositivos especiais de queima e formação de
cinzas, os quais nem sempre são fáceis de resolver. Os combustíveis líquidos e gasosos são
os mais fáceis de armazenar e queimar, e não produzem resíduos que levantem problemas
adicionais. Apresentam uma muito elevada densidade energética: possibilidade de obter
grandes quantidades de calor de cada unidade de massa ou de volume de combustível. As
soluções tecnológicas para o seu transporte, armazenamento e queima estão perfeitamente
amadurecidas, e o risco envolvido na sua manipulação é mínimo. Questões cada vez mais
preocupantes são as emissões de poluentes associadas e o seu carácter não renovável e,
portanto, finito. O presente tratamento é especialmente dedicado a este tipo de
combustíveis, se bem que muitos dos aspectos elementares de combustão que vão ser
abordados sejam válidos para qualquer outro tipo de combustível.
11.1. INTRODUÇÃO
O processo de queima de um combustível consiste na oxidação de alguns dos seus
constituintes elementares. Usualmente, trata-se sobretudo da oxidação do carbono e do
hidrogénio presente nos combustíveis. Quando determinadas questões de segurança
relacionadas com a manipulação do hidrogénio estiverem resolvidas, teremos a obtenção
de calor por oxidação do hidrogénio (gasoso), resultando como produto água. Numa
reacção química ocorre essencialmente a variação da energia interna do combustível, na
sua componente de energia química (alteração do modo como os átomos se encontram
ligados)
Ainda assim, nos casos a analisar no presente contexto, pode haver variações das
componentes sensível e latente da energia interna do combustível as quais são, no entanto,
muito pequenas quando comparadas com a variação na componente química da energia
interna.
Como combustível temos qualquer material, ou conjunto de materiais, que, quando
queimados, libertam energia calorífica. Assim, estamos especialmente interessados em
reacções exotérmicas. A queima do combustível consiste na oxidação de alguns dos seus
componentes, podendo para tal ser usado oxigénio puro produzido para o efeito, ou usar o
oxigénio do ar atmosférico. Esta última é a situação mais comum, e também considerada
no presente contexto.
O ar atmosférico
O ar atmosférico é uma mistura de gases, cuja composição em percentagem volúmica, ou
molar é, aproximadamente,
20.9% O2; 78.1% N2; 0.9% Ar; CO2; He; Ne, H, ...
- 11.2 -
21% O2; 79% N2
Tendo presente que, numa dada massa de ar, existem 79 21 = 3.76 moles de azoto para
uma mole de oxigénio, a massa molar aparente do ar pode ser calculada como
CmHn.
- 11.3 -
Nome usual Fórmula química Designação técnica Estado físico
Gasolina C8H18 Octano Líquido
Gasóleo C12H26 Dodecano Líquido
Gás natural CH4 Metano Gasoso
Gás doméstico C3H8 Propano Gasoso
Metanol CH3OH Álcool metílico Líquido
O processo de combustão
O processo de combustão pode ser expresso como
- 11.4 -
extremamente tóxicos. Tais substâncias constituem actualmente uma preocupação do ponto
de vista ambiental, e são compactamente designadas como NOx.
Combustão estequiométrica
Para a situação em que ocorre a combustão completa do combustível CmHn em presença do
ar atmosférico (O2+3.76N2), pode expressar-se essa reacção como
Convém notar que esta equação está escrita considerando uma mole de combustível, sendo
usual tal prática na análise dos processos de combustão.
Uma vez conhecidos os valores dos coeficientes m e n, por conhecimento da
composição do combustível, restam para determinar os coeficentes a, b, c, d e e. Tal é
conseguido através de um balanço molar efectuado às espécies elementares presentes na
equação. Assim obtém-se
C: m=b
H: n = 2c
. (11.4)
O: 2a = 2b + c + 2e
N : 2 × 3.76a = 2d
Deste sistema de equações ressalta que temos 5 incógnitas e apenas 4 equações, daí
resultando um sistema possível mas indeterminado. Para progredir, interessa introduzir
uma condição (equação) adicional.
Diz-se que estamos em presença de uma combustão estequiométrica se a
quantidade de ar usada é tal que o oxigénio presente é exactamente o necessário para
oxidar os componentes do combustível. Assim, não há oxigénio livre nos produtos de
combustão, isto é,
e =0. (11.5)
n
a = m+
4
b=m
n
c= . (11.6)
2
n
d = 3.76 m +
4
e=0
- 11.5 -
e Eq. (11.3) é re-escrita comno
n n n
1Cm H n + m + (1O2 + 3.76N 2 ) → mCO2 + H 2 O + 3.76 m + N 2 + 0O 2 . (11.7)
4 2 4
ea ea n
4.76 1 + a = 4.76 1 + m+ (11.8)
100 100 4
moles de ar por cada cada mole de combustível. Nesta expressão, ea é o excesso de ar,
definido numa base molar percentual. Se ea = 0 tem-se um excesso de ar nulo (combustão
estequiométrica), se ea > 0 tem-se um excesso de ar positivo (ar a mais, face ao
combustível que se tem, tomando a situação estequiométrica como referência) e diz-se que
temos uma mistura pobre, e se ea < 0 tem-se um excesso de ar negativo, ou seja, um
déficit de ar (ar a menos face ao combustível que se tem, tomando a situação
estequiométrica como referência) e diz-se que se tem uma mistura rica. No caso dos
motores alternativos de combustão interna que equipam os automóveis, são comuns
excessos de ar da ordem de 20 a 30%.
Quando se tem uma combustão com excesso de ar, esse ar usado a mais vai
aparecer como ar nos produtos de combustão, sem que participe no processo de combustão.
Ele apenas aumenta a probabilidade de que a combustão ocorra em toda a sua extensão.
Havendo ar nos produtos de combustão, há oxigénio livre nos produtos de combustão. A
Eq. (11.7) vem, neste caso,
- 11.6 -
n ea
1C m H n + m + 1+ (1O 2 + 3.76 N 2 ) →
4 100
. (11.9)
n n ea
→ mCO 2 + H 2 O + m + 3.76 N 2 + (1O 2 + 3.76 N 2 )
2 4 100
ou então
n
1C m H n + m + (1O 2 + 3.76 N 2 ) + m + n ea
(1O 2 + 3.76 N 2 ) →
4 4 100
estequiométrica excesso de ar
. (11.10)
n n n ea
→ mCO 2 + H 2 O + 3.76 m + N 2 + m + (1O 2 + 3.76 N 2 )
2 4 4 100
estequiométrica excesso de ar
Numa eventual situação em que seja usado oxigénio puro como substância
oxidante, basta anular os termos onde aparece o coeficiente 3.76 referente ao azoto.
Se, do ponto de vista da queima mais completa do combustível, o recurso a um
excesso de ar é vantajoso, do ponto de vista energético ele não é assim tão vantajoso, tal
como será analisado adiante. Ainda assim, verifica-se ser globalmente vantajosa a
utilização de um excesso de ar.
Relação ar-combustível
Uma grandeza que importa conhecer é a relação existente entre a massa de ar usada na
combustão face à massa de combustível queimada. Esta relação pode ser estabelecida numa
base molar ou numa base mássica.
Pelo que foi estabelecido anteriormente, o número de moles de ar envolvidas no
processo de combustão de uma mole do combustível CmHn é
n ea
AC = 4.76 m + 1+ , (11.11)
4 100
M ar n ea M ar
AC = AC = 4.76 m + 1+ . (11.12)
M comb 4 100 M comb
- 11.7 -
n M ar
4.76 m +
( AC )est 4 M comb 1
φ= = = . (11.13)
( AC )real n ea M ar 1+
ea
4.76 m + 1+
4 100 M comb 100
Entalpia de formação
Comecemos por considerar a situação ilustrada na Fig. 11.1, em que oxigénio e carbono
(como exemplo de substância a oxidar) entram na câmara de combustão à pressão de 1
atmosfera e à temperatura de 25ºC, dá-se a combustão no interior da câmara, e os produtos
de combustão abandonam a câmara igualmente à pressão atmosférica e à temperatura de
25ºC. Estas condições de pressão e de temperatura são conhecidas como condições padrão,
ou condições de referência ( P0 , T0 ) .
C + O 2 → CO 2 . (11.14)
- 11.8 -
A aplicação do princípio de conservação de energia à câmara de combustão (operando em
regime permanente, sem trocas de energia com o exterior na forma de trabalho mecânico, e
com variações desprezáveis na energia cinética e na energia potencial gravítica) conduz a
(
0 = Qcv )( P0,T0 ) + ( mChC + mO2 hO2 )( P0,T0 ) - ( mCO2 hCO2 )( P0,T0 ) , (11.15)
ou então,
( Q )( P0,T0 ) nC nO2
( hCO2 )( P0,T0 ) =
nCO2
+
nCO2
hC +
nCO2
hO2 =
( P0,T0 ) . (11.17)
( Q )( P0,T0 )
nCO2
(
+ hC + hO2 )( P0,T0 )
- 11.9 -
condições. O correspondente valor mássico da entalpia de formação pode ser obtido
dividindo a entalpia de formação molar pela massa molar da substância em causa, isto é
Deve notar-se que os valores tabelados das entalpias de formação padrão são
negativos quando se trata de reacções exotérmicas. Tal é apenas uma consequência de se
ter assumido como negativo o calor cedido por um sistema ao exterior. Os valores de
entalpias de formação para algumas das substâncias mais usuais nos processos de
combustão de interesse no presente âmbito encontram-se na Tabela 11.2.
- 11.10 -
º
h (T , P ) = h f + ∆ h (T0 , P0 )→ (T , P ) , (11.20a)
Deste modo, a entalpia de uma substância é igual à sua entalpia de formação padrão mais a
variação de entalpia quando a substância evolui entre as condições padrão e as condições
reais a que está sujeita. Usualmente, os valores da entalpia de formação padrão são obtidos
de tabelas, ao passo que o valor da variação de entalpia ∆ h (T0 , P0 )→ (T , P ) é também obtido
das tabelas de propriedades, esta como função da temperatura e da pressão. Para os
elementos, a entalpia de formação padrão é nula, e apenas há que contabilizar o termo de
variação de entalpia. Para os compostos, há que contabilizar ambos os termos entálpicos.
Calor de reacção
Consideremos agora a situação ilustrada na Fig. 11.2 em que temos ar nas condições
(Ta , Pa ) e o combustível nas condições (Tc , Pc ) , entrando ambos numa câmara de
combustão, que pode trocar calor e trabalho com o exterior, e os produtos de combustão
(
abandonam a câmara nas condições T p , Pp . )
A reacção química envolvida é aquela expressa, em termos mássicos, pela Eq. (11.9),
n ea
1C m H n + m + 1+ (1O 2 + 3.76 N 2 ) →
4 100
. (11.9)
n n ea
→ mCO 2 + H 2 O + m + 3.76 N 2 + (1O 2 + 3.76 N 2 )
2 4 100
- 11.11 -
(
− Q + Wcv = −) nh + nh . (11.21)
p r
Numa situação prática, importa maximizar o termo − Q + Wcv , isto é, extrair da( )
combustão o maior valor possível de calor e de trabalho. Como calor e trabalho cedidos são
negativos, o seu simétrico é positivo. Usualmente, do processo de combustão pretendemos
extrair calor, se bem que também possa haver trabalho a ser extraído desse processo. Se o
processo de combustão ocorre a volume constante (explosão), o termo de trabalho,
calculado como W = − PdV é nulo.
Convém, neste ponto, reter que o processo de combustão está associado a variações
na energia interna das substâncias envolvidas, apesar de usualmente o balanço energético
do processo de combustão ser estabelecido em termos de entalpias e contém assim, ainda
que de modo implícito, as variações de energia interna.
Especificando agora, na Eq. (11.21), para os produtos de reacção e para os
reagentes, levando em consideração o facto de se estar a efectuar o cálculo para um caudal
molar de combustível nc ,
Q Wcv n n ea
−
nc
+
nc
= − m h CO 2 + h H 2 O + m +
2 4
3.76h N 2 +
100
1h O 2 + 3.76h N 2 ( ) +
p
.
n ea
1h C m H n + m +
4
1+
100
(
1h O 2 + 3.76h N 2 )
r
(11.22)
O termo correspondente aos produtos pode ser calculado como
n n ea
m h CO 2 +
2
hH 2O + m +
4
3.76h N 2 +
100
(
1h O 2 + 3.76h N 2 ) =
p
º n º
m h f + ∆h + h f + ∆h + . (11.23)
CO 2 2 H2O
n º ea º º
m+ 3.76 h f + ∆ h + 1 h f + ∆h + 3.76 h f + ∆ h
4 N2 100 O2 N2
- 11.12 -
n n ea
m h CO 2 +
2
h H 2O + m +
4
3.76h N 2 +
100
(
1h O 2 + 3.76h N 2 ) =
p
º n º
m h f + ∆h + h f + ∆h + . (11.24)
CO 2 2 H 2O
n ea
m+
4
3.76∆ h N 2 +
100
(
1∆ h O 2 + 3.76∆ h N 2 )
O termo correspondente aos reagentes pode ser calculado como
n ea
1h C m H n + m +
4
1+
100
1h O 2 + 3.76h N 2( = )
r
. (11.25)
n ea
º
1 h f + ∆h + m+
4
1+
100
(
1∆ h O 2 + 3.76∆ h N 2 )
CmHn
Q Wcv
− + =
nc nc
n º n ea
º
− m h f + ∆h +
2
h f + ∆h + m+
4
3.76∆ h N 2 +
100
1∆ h O 2 + 3.76∆ h N 2 ( )
CO 2 H2O p
n ea
º
+ 1 h f + ∆h + m+
4
1+
100
(
1∆ h O 2 + 3.76∆ h N 2 )
CmHn r
. (11.26)
Os termos de variação de entalpia para o azoto podem ser agrupados para dar
[(∆h)p − (∆h)r ]N 2
( )0 0 p p
( )
= ∆ h (T , P )→ (T , P ) − ∆ h (T , P )→ (T , P )
0 0 a a N2
=
, (11.27)
(∆h)(Ta , Pa )→ (T0 , P0 ) + (∆h )(T0 , P0 )→ (T p , Pp )
N2
- 11.13 -
constatar que o mesmo se passa com o excesso de oxigénio não interveniente no processo
de combustão.
A Eq. (11.26) é agora reescrita como
Q Wcv º n º
− + = − m h f + ∆h + h f + ∆h +
nc nc (< 0 ) 2 (< 0 )
CO 2 H 2O p
º n
1 h f + ∆h + m+ ∆h O 2 − . (11.28)
(< 0) 4
CmH n r
m+
n
4
( )
3.76 ∆ h r → p N +
2
ea
100
[( ) (
1 ∆ h r → p O + 3.76 ∆ h r → p N
2 2
) ]
Os maiores termos nesta equação são as entalpias de formação, pelo que são
sobretudo essas que condicionam o valor do calor a extrair da combustão. Ainda assim,
convém avaliar a influência dos restantes termos da equação.
Analisemos a primeira linha da equação. Como as entalpias de formação do dióxido
de carbono e da água são ambas negativas, elas contribuem para um maior valor de
( )
− Q nc + Wcv nc , isto é, para o calor e trabalho a extrair da câmara de combustão.
Adicionalmente, como a entalpia é uma função forte da temperatura e uma função fraca da
pressão, quanto menor for a temperatura de saída dos produtos de combustão menor será o
valor de ∆ h associado ao dióxido de carbono e à água, e maior será o valor de
( )
− Q nc + Wcv nc . Daí que os produtos de combustão devam ser arrefecidos o mais
possível para deles se extrair a maior quantidade de calor possível. Por sua vez, quanto
maior for essa temperatura, maior será o valor de ∆ h , o qual poderá ser francamente
(
positivo ( T p > T0 ), e menor vem o valor de − Q nc + Wcv nc . Da Tabela 11.2 )
facilmente se constata que h ºf > h ºf , pelo que tudo deve ser feito para que a
CO 2 CO
combustão seja o mais completa possível.
Da análise à segunda linha concluímos que quanto maior for a temperatura dos
reagentes maior é o valor dos termos ∆ h nessa linha, e maior é a sua contribuição para o
( )
valor de − Q nc + Wcv nc . Tal corresponde, na prática, a pré-aquecer o oxigénio (ar) e o
combustível antes de os introduzir na câmara de combustão. Se a temperatura deles for
baixa, os termos ∆ h presentes nesta linha são também baixos, e contribuem pouco para o
(
valor de − Q nc + Wcv nc . )
A terceira linha da Eq. (11.28) contém substâncias que apenas acompanharam
aquelas que sofreram reacções químicas, tendo-se mantido a sua composição química
inalterada durante o processo de combustão. O primeiro termo desta linha diz respeito ao
azoto que perdeu o oxigénio que o acompanhava, dado este último ter reagido com o
- 11.14 -
carbono e o hidrogénio. Quanto maior for a temperatura do ar de entrada e menor a
temperatura dos produtos de combustão, menor será este termo, e maior será o valor de
( )
− Q nc + Wcv nc . Numa situação em que o ar de entrada estiver a uma temperatura
maior que a temperatura de saída dos produtos de combustão, pode mesmo acontecer ser
(
positivo, e contribuir assim para um maior valor de − Q nc + Wcv nc . )
º º
h f + ∆h = h f + ∆h , (11.29)
H 2O (H 2 O )l
º
em que hf = −285.84 MJ/kmol . Todavia, se a temperatura dos produtos de
(H 2 O )l
combustão é suficientemente elevada de tal modo que a água presente nos produtos de
combustão está na forma de vapor, o termo relativo à presença de água nos produtos de
combustão vem
º º
h f + ∆h = h f + ∆h , (11.30)
H 2O (H 2 O )v
- 11.15 -
º
em que hf = −241.83 MJ/kmol . Verifica-se assim que se a água estiver sob a
(H 2 O )v
forma de vapor nos produtos de combustão temos uma redução de (n 2) × 44.01 MJ/kmol, c
no calor extraído da reacção, quando apenas estamos a considerar o termo de entalpia de
formação. Usualmente a temperatura dos produtos de combustão à saída da câmara é
( )
suficientemente alta para que a água aí esteja sob a forma de vapor e o termo ∆ h (H O ) é
2 v
francamente positivo. Deste modo, o valor de − Q nc + Wcv nc( ) vem francamente
reduzido. Por esta razão, retira-se menos calor da queima do combustível e diz-se que o
calor extraído, por unidade molar de combustível, quando toda a água presente nos
produtos de combustão está na forma de vapor é o poder calorífico inferior do combustível,
a pressão constante. De modo análogo, o calor extraído, por unidade molar de combustível,
quando toda a água presente nos produtos de combustão está na forma líquida é o poder
calorífico superior do combustível, a pressão constante.
Se as condições de entrada dos reagentes e de saída dos produtos de combustão são
as mesmas, quer na situação em que a água está presente nos produtos de combustão na
forma de vapor quer na situação em que está na forma líquida, é possível extrair da Eq.
(11.28) que
Q Q n º º n
= + hf − hf = × 44.01 MJ/kmol, c . (11.31)
nc sup nc inf 2 H 2 O, l H 2 O, v 2
Esta diferença não é mais que o calor latente de evaporação correspondente à massa de
água formada, por cada mole de combustível queimada. Usualmente, refere-se o poder
calorífico inferior do combustível como PCI, e o seu poder calorífico superior como PCS,
ambos numa base mássica. Este resultado encontra-se representado de forma gráfica na
Fig. 11.4.
- 11.16 -
Fig. 11.4. Poder calorífico inferior e poder calorífico superior do combustível.
Uma vez avaliada a influência do estado físico em que se encontra presente a água
nos produtos de combustão, importa referir o que se passa com combustíveis que contêm
níveis apreciáveis de água no estado líquido. Tal é o caso, por exemplo, de madeiras verdes
ou muito húmidas. Como os produtos de combustão são expelidos a temperaturas
consideravelmente elevadas, para as quais a água se encontra no estado de vapor, é
necessário dispender da energia necessária para provocar a mudança de fase líquido-vapor
dessa água. Essa importante parcela energética é obtida à custa do calor desenvolvido na
combustão, restando assim uma muito menor quantidade de calor disponível para alimentar
qualquer processo que necessite de calor.
º º
h f + ∆h = h f + ∆h , (11.32)
CmHn (C m H n )l
º º
h f + ∆h = h f + ∆h . (11.33)
CmHn (C m H n ) g
Para as mesmas condições de entrada dos reagentes e para as mesmas condições de saída
dos produtos de combustão, excepto que num caso o combustível está no estado gasoso e
no outro está no estado líquido, a Eq. (2.28) fornece-nos que
- 11.17 -
Q Q º º
− =− hf − hf . (11.34)
nc C H , l nc C H , g C m H m ,l CmHm , g
m m m m
A entalpia de formação do combustível no estado líquido é maior (em valor absoluto) que a
entalpia de formação do combustível no estado gasoso, sendo a diferença entre os dois o
calor latente de evaporação do combustível. Deste modo, o lado direito da equação é uma
quantidade positiva, ou seja, nas condições enunciadas, notando que Q nc é um valor
negativo,
Q Q º º
= + hf − hf . (11.35)
nc C H , g nc C H , l C m H m ,l CmHm , g
m m m m
Influência do excesso de ar
Analisemos agora as implicações energéticas do uso do excesso de ar sobre o valor do
calor extraído da câmara de combustão. O termo de excesso de ar encontra-se na terceira
linha da Eq. (11.28), como
- 11.18 -
m+
n ea
4 100
[ ( ) (
3.76 ∆ h r → p N + 1 ∆ h r → p O .
2 2
) ] (11.36)
− ( Q + Wcv ) = − nu + nu , (11.37)
p r
Q Wcv n n ea
− +
nc nc
= − mu CO2 + u H 2O + m +
2 4
3.76u N 2 +
100
(
1u O2 + 3.76u N 2 ) +
p
.(11.38)
n ea
1u C m H n + m +
4
1+
100
(
1u O2 + 3.76u N 2 )
r
u = h − Pv . (11.39)
Recordando agora o valor dado pela Eq. (11.20a) para a entalpia, obtém-se
- 11.19 -
º
u (T , P ) = h (T , P ) − Pv = h f + ∆ h (T0 , P0 )→ (T , P ) − Pv (T , P ) . (11.40)
[ ]
∆ h (T0 , P0 )→ (T , P ) = ∆u (T0 , P0 )→ (T , P ) + Pv (T , P ) − P0 v (T0 , P0 ) , (11.41)
º
u (T , P ) = h f + ∆u (T0 , P0 )→ (T , P ) − P0 v (T0 , P0 ) . (11.42)
Q Wcv º n º
− + = − m h f + ∆u + h f + ∆u +
nc nc CO 2 2 H2O p
º n
1 h f + ∆u + m+ ∆u O 2 −
Cm H n 4
r .(11.43)
n ea
m+
4
(
3.76 ∆u r → p )N2 + 100 1( ∆u r → p ) + 3.76 ( ∆u r → p )
O2 N2
+
n n
P0 mv CO2 + v H 2O − 1v Cm H n − m + vO2
2 4 (T0 , P0 )
De notar a existência de uma linha adicional nesta equação, face à Eq. (11.28), termo esse
que engloba os termos do tipo P0 v .
Como o volume específico dos gases é consideravelmente maior que o volume
específico dos líquidos e sólidos, apenas interessa levar em consideração, na última linha
da Eq. (11.43), os volumes específicos dos componentes gasosos. Se, adicionalmente, esses
componentes gasosos puderem ser considerados gases ideais, incluindo o próprio
combustível, cada um dos produtos P0 v 0 pode ser tomado como sendo P0 v 0 = RT0 , e a
última linha desta equação vem − RT0 (1 − n 4) .
- 11.20 -
11.4. TEMPERATURA DE CHAMA
Q n n
− =− h+ h, (11.44)
nc p nc r nc
Q n º n º
− = − hf + hf +
nc p
nc r
nc
valor independente das condições . (11.45)
de entrada e de saída
n n
− ∆ h(T0 , P0 )→(T p , Pp ) + ∆ h(T0 , P0 )→(Tr , Pr )
p nc r nc
Quanto maior for a temperatura de saída dos produtos maior a sua entalpia, e menor será o
( )
valor de − Q nc . O inverso também é verdadeiro, isto é, se pretendermos os produtos de
combustão a elevada temperatura na saída, não pode haver perdas de calor consideráveis
entre a câmara de combustão e o exterior.
Para um dado calor perdido, por unidade molar de combustível, a temperatura a que
se têm os produtos e combustão, também referida como temperatura de chama, é aquela a
que correspondem valores de variação de entalpia que obedecem à Eq. (11.45). Para efeitos
de cálculo é, à partida, necessário operar iterativamente, com recurso a tabelas ou
expressões que nos forneçam os valores de entalpia envolvidos. Arbitra-se um valor da
temperatura à saída, após o que se testa a Eq. (11.45). Como a entalpia cresce com a
temperatura, é fácil avaliar se temos um excesso ou um déficit de entalpia à saída e,
consequentemente, se o valor arbitrado para a temperatura é demasiado alto ou demasiado
baixo, respectivamente.
Na situação limite de a câmara não perder qualquer calor para o exterior, isto é, se a
câmara for adiabática, obtém-se o maior valor possível para a temperatura dos produtos de
combustão à saída da câmara, a qual recebe o nome de temperatura adiabática de chama.
Da Eq. (11.44) vem
- 11.21 -
n n
h= h, (11.46)
p nc r nc
Dissociação
Quando o nível térmico desenvolvido num processo de combustão é consideravelmente
elevado, podem ocorrer reacções de dissociação. Usualmente, levamos os elementos a
reagir para obter compostos e, desse modo, calor (reacções exotérmicas). Nas reacções de
dissociação ocorre o contrário, isto é, temos os compostos a dissociarem-se para dar
elementos, e a respectiva reacção química é endotérmica. Do ponto de vista dos processos
que necessitam de calor para operar, o fenómeno da dissociação é manifestamente
indesejável. Um exemplo de uma tal reacção química é
1
CO + O 2 ↔ CO 2 , (11.47)
2
a qual pode ocorrer para níveis térmicos acima de (aproximadamente) 2200K (≈1900ºC).
Formação de NOx
Um outro aspecto a considerar, quando os níveis térmicos são elevados, é a formação de
óxidos de azoto (NO e NO2), usualmente referidos como NOx. Tais substâncias são
extremamente nocivas para a vida, e apenas são toleradas emissões muito baixas de NOx.
Há três factores que podem ser identificados como principais responsáveis pelo
aparecimento da formação de NOx: elevados níveis térmicos, elevadas concentrações de
azoto nos combustíveis, e elevada concentração de oxigénio disponível na reacção. O uso
de um excesso de ar, e logo de um excesso de oxigénio face ao estritamente necessário,
funciona assim como um promotor do aparecimento de NOx; no entanto, o uso do excesso
de ar baixa os níveis térmicos atingidos, pelo que o seu resulta numa situação de
compromisso, também no que respeita à formação de NOx.
Elevadas concentrações de azoto no combustível, tal como, por exemplo, quando se
trata da queima de lixos orgânicos, são também promotoras da formação de NOx. Quando o
- 11.22 -
teor em oxigénio é elevado e o teor em azoto é elevado e, adicionalmente, o nível térmico é
elevado, criam-se condições propícias à formação de NOx.
Uma descrição detalhada da formação de NOx nos processos de combustão que
ocorrem nos motores de combustão interna pode ser encontrada na Ref. 4.
- 11.23 -
uma mistura de Gases Ideais, que não reagem entre si. As condições de saída do dióxido de
carbono e do vapor de água resultantes da reacção química que ocorre no interior do reactor
mostrado na Fig. 11.6 são as mesmas que as existentes no ambiente.
De acordo com a abordagem feita no Capítulo 6, a exergia termomecânica deste
combustível é nula uma vez que ele se encontra em equilíbrio mecânico e térmico com o
ambiente. Todavia, se houver condições para que este reaja com o oxigénio presente no ar
do ambiente, ver-se-á que o valor da sua exergia não é nulo. Esta exergia ‘adicional’ é a
exergia química que, somada com a componente termomecânica da exergia dá a exergia
total do hidrocarboneto.
Relembrando a Eq. (11.7), e levando em conta apenas as substâncias que entram
efectivamente na reacção, a reacção química que ocorre é
n n
1Cm H n + m + O 2 → mCO 2 + H 2 O (11.48)
4 2
Q Wcv n n
− + = 1hCm H n + m + hO2 − mhCO2 + h H 2 O (11.49)
nc nc 4 r 2 p
1 Q n n S gen
0= + 1s Cm H n + m + s O2 − ms CO2 + s H 2 O − T0 (11.50)
T0 nc 4 r 2 p nc
W n n
− cv = 1hCm H n + m + hO2 − mhCO2 + h H 2 O −
nc 4 r 2 p
(11.51)
n n S gen
T0 1s C m H n + m + s O2 − ms CO2 + s H 2 O − T0
4 r 2 p nc
- 11.24 -
em causa, e representa o grau de irreversibilidade desse processo. No caso de o processo
(
ser reversível vem −T0 S gen nc = 0 e é )
Wcv n n
− = 1hCm H n + m + hO2 − mhCO2 + h H 2 O −
nc max 4 r 2 p
(11.52)
n n
T0 1s Cm H n + m + s O2 − ms CO2 + s H 2 O
4 r 2 p
valor limite que recebe o nome de exergia química específica molar do combustível Cm H n
em causa,
ch n n
a Cm H n = 1hCm H n + m + hO2 − mhCO2 + h H 2 O −
4 r 2 p
(11.53)
n n
T0 1s Cm H n + m + s O2 − ms CO2 + s H 2 O
4 r 2 p
( ) ( )
si T0 , yie P0 = si (T0 , P0 ) − R ln yie (11.54)
em que si (T0 , P0 ) é a entropia específica molar absoluta nas condições (T0 , P0 ) , a Eq.
(11.53) pode reescrever-se como
ch n n
a Cm H n = 1hCm H n + m + hO2 − mhCO2 + h H 2 O( g ) −
4 2
( P0 , P0 )
n n
T0 1s Cm H n + m + s O2 − ms CO2 + s H 2O( g ) + (11.55)
4 2
( P0 , P0 )
e (
m+ n 4)
RT0 ln
(y ) O2
m n2
(y ) (y )
e
CO 2
e
H2O
- 11.25 -
Exergia química do monóxido de carbono puro CO
Admitindo que a reacção química em causa, envolvendo monóxido de carbono puro, é
agora
1
1CO + O 2 → 1CO 2 (11.56)
2
ch 1
a CO = 1hCO + hO2 − 1hCO2 −
2 ( P0 , P0 )
1
T0 1s CO + s O2 − 1s CO2 + (11.57)
2 ( P0 , P0 )
12
RT0 ln
( )
e
yO
2
1
(y )
e
CO 2
Se, pelo contrário, o monóxido de carbono não é puro mas faz parte de uma mistura
gasosa de Gases Ideais, onde participa com a fracção molar yCO , e cuja pressão parcial na
mistura é assim yCO P0 , é esta a pressão parcial que corresponde à sua entrada no reactor e
não a pressão P0 . Neste caso, a contribuição do monóxido de carbono para a exergia
química da mistura, por mole de CO, é aquela dada pela Eq. (11.57), mas com a fracção
molar de CO entrando no termo logarítmico, o qual assume a forma
12
ln ( yCO ) (y ) (y ) .
e
O2
e
CO 2
- 11.26 -
Neste caso, e tal como ilustrado na Fig. 11.7, a água entra no reactor no estado líquido nas
e
condições (T0 , P0 ) , e abandona o reactor como vapor nas condições T0 , yH
2O
P0 , sem ( )
que tenha ocorrido qualquer reacção no reactor. A exergia química específica molar da
água pura vem nestas condições, e tendo presente a Eq (11.55), como
ch
{
a H 2 O = 1h H 2 O( l ) − 1h H 2 O( g ) }( P0 , P0 )
{
− T0 1s H 2 O( l ) − 1s H 2 O( g ) }( P0 , P0 )
+
(11.58)
1
RT0 ln
e
yH
2O
Exergia química do azoto puro N 2 , e de qualquer componente gasoso puro que exista
no ambiente
Neste caso, e tal como ilustrado na Fig. 11.8, o azoto entra no reactor no estado gasoso nas
e
condições (T0 , P0 ) , e abandona o reactor como gás nas condições T0 , yN P0 , sem que ( 2
)
tenha ocorrido qualquer reacção no reactor.
A exergia química específica molar do azoto puro vem, nestas condições, e tendo presente
a Eq (11.55), como
ch
{
a N 2 = 1h N 2 − 1h N 2 }( P , P ) − T0 { 1s N
0 0
2 − 1s N 2 }( P , P ) +
0 0
(11.59)
1
RT0 ln
e
yN
2
ou seja
- 11.27 -
ch 1
a N 2 = RT0 ln (11.60)
e
yN
2
De modo análogo, para qualquer componente gasoso puro i, que exista no ambiente
com uma fracção molar yie e cuja pressão parcial no ambiente é, por isso, yie P0 , a sua
exergia química específica molar é
ch 1
ai = RT0 ln (11.61)
yie
ch yi
ai = RT0 ln (11.62)
yie
ch yi
A = RT0 ni ln (11.63)
i yie
ch yi
a mistura = RT0 yi ln (11.64)
i yie
ch 1
a mistura = RT0 yi ln + RT0 yi ln ( yi ) (11.65)
i yie i
ch ch
a mistura = RT0 yi ai + RT0 yi ln ( yi ) (11.66)
i i
- 11.28 -
Valores tabelados da exergia química específica molar
O ambiente sob o qual operam os diferentes sistemas pode ser variado, não só em termos
de pressão e de temperatura, mas também no que concerne à sua composição química. Para
procurar dar resposta a estes casos há valores tabelados da exergia, não havendo no entanto
unanimidade acerca do modelo usado nem quanto á contabilização da exergia química.
Neste caso é necessário levar em consideração outros parâmetros, e consultar literatura
mais especializada [1,2,5].
At 1
at = = ( u − u0 ) + P0 ( v − v0 ) − T0 ( s − s0 ) + V 2 + gz + a ch (11.67)
m 2
Por seu turno, a exergia específica total de escoamento, tendo presente a Eq. (6.32),
é calculada como
Atf 1 2
atf = = ( h − h0 ) − T0 ( s − s0 ) + V + gz + a ch (11.68)
m 2
11.7. REFERÊNCIAS
1. Bejan, A., Advanced Engineering Thermodynamics, Wiley, NY, 1988.
2. Moran, M. J. & Shapiro, H. N., Fundamentals of Engineering Thermodynamics, 2nd Ed.,
Wiley, NY, 1993.
3. Wark, K. Jr, Thermodynamics, 5th Ed., McGraw-Hill, NY, 1989.
4. Heywood, J. B., Internal Combustion Engine Fundamentals, McGraw-Hill, NY, 1988.
5. Moran, M. J., Availability Analysis: A Guide to Efficient Energy Use, ASME Press, New
York, 1989.
- 11.29 -
Apêndice A: TABELAS
Tabela A.3. Massa molar e propriedades críticas de algumas substâncias comuns [1].
- A.2 -
Tabela A.4. Propriedades do ar, tomado como gás ideal [1].
- A.3 -
Tabela A.5. Propriedades do Nitrogénio N2, tomado como um gás ideal [1].
- A.4 -
Tabela A.5 (cont.). Propriedades do Nitrogénio N2, tomado como um gás ideal [1].
- A.5 -
Tabela A.6. Propriedades do Oxigénio O2, tomado como um gás ideal [1].
- A.6 -
Tabela A.6 (cont.). Propriedades do Oxigénio O2, tomado como um gás ideal [1].
- A.7 -
Tabela A.7. Propriedades do vapor de água H2O, tomado como um gás ideal [1].
- A.8 -
Tabela A.7 (cont.). Propriedades do vapor de água H2O, tomado como um gás ideal [1].
- A.9 -
Tabela A.8. Propriedades do Monóxido de Carbono CO, tomado como um gás ideal [1].
- A.10 -
Tabela A.8 (cont.). Propriedades do Monóxido de Carbono CO, tomado como um gás
ideal [1].
- A.11 -
Tabela A.9. Propriedades do Dióxido de Carbono CO2, tomado como um gás ideal [1].
- A.12 -
Tabela A.9 (cont.). Propriedades do Dióxido de Carbono CO2, tomado como um gás ideal
[1].
- A.13 -
Tabela A.10. Propriedades do Hidrogénio H2, tomado como um gás ideal [1].
- A.14 -
Tabela A.11. Entalpia sensível, acima das condições padrão, para alguns gases tomados
como gases ideais [2].
- A.15 -
Tabela A.12. Entalpia de formação, energia de Gibbs de formação, e entropia absoluta de
várias substâncias nas condições padrão (1 atm e 25ºC) [1].
- A.16 -
Tabela A.14. Propriedades da água saturada (líquido-vapor): Tabela de temperatura [1].
- A.17 -
Tabela A.14 (cont.). Propriedades da água saturada (líquido-vapor): Tabela de temperatura
[1].
- A.18 -
Tabela A.15. Propriedades da água saturada (líquido-vapor): Tabela de pressão [1].
- A.19 -
Tabela A.16. Propriedades do vapor de água sobre-aquecido [1].
- A.20 -
Tabela A.16 (cont.). Propriedades do vapor de água sobre-aquecido [1].
- A.21 -
Tabela A.16 (cont.). Propriedades do vapor de água sobre-aquecido [1].
- A.22 -
Tabela A.16 (cont.). Propriedades do vapor de água sobre-aquecido [1].
- A.23 -
Tabela A.17. Propriedades da água como líquido sub-arrefecido (ou comprimido) [1].
- A.24 -
Tabela A.18. Propriedades da água saturada (sólido-vapor): Tabela de temperatura [1].
- A.25 -
Tabela A.19. Propriedades de saturação (líquido-vapor) do Refrigerante 12: Tabela de
temperatura [1].
- A.26 -
Tabela A.20. Propriedades de saturação (líquido-vapor) do Refrigerante 12: Tabela de
pressão [1].
- A.27 -
Tabela A.21. Propriedades do Refrigerante 12 como vapor sobre-aquecido [1].
- A.28 -
Tabela A.21 (cont.). Propriedades do Refrigerante 12 como vapor sobre-aquecido [1].
- A.29 -
Tabela A.21 (cont.). Propriedades do Refrigerante 12 como vapor sobre-aquecido [1].
- A.30 -
Tabela A.22. Propriedades de saturação (líquido-vapor) do Refrigerante 134a: Tabela de
temperatura [1].
- A.31 -
Tabela A.23. Propriedades de saturação (líquido-vapor) do Refrigerante 134a: Tabela de
pressão [1].
- A.32 -
Tabela A.24. Propriedades do Refrigerante 134a como vapor sobre-aquecido [1].
- A.33 -
Tabela A.24 (cont.). Propriedades do Refrigerante 134a como vapor sobre-aquecido [1].
- A.34 -
Tabela A.24 (cont.). Propriedades do Refrigerante 134a como vapor sobre-aquecido [1].
- A.35 -
Tabela A.24 (cont.). Propriedades do Refrigerante 134a como vapor sobre-aquecido [1].
REFERÊNCIAS
1. Moran, M. J. & Shapiro, H. N., Fundamentals of Engineering Thermodynamics, 2nd Ed.,
Wiley, NY, 1993.
2. Heywood, J. B., Internal Combustion Engine Fundamentals, McGraw-Hill, NY, 1988.
- A.36 -