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Educação Ambiental e Cidadania
Educação Ambiental e Cidadania
www.iesde.com.br
Educação Ambiental e Cidadania
Autores
Nathieli K. Takemori Silva
Sandro Menezes Silva
2010
Sumário
A questão ambiental no planeta Terra..................................................................................... 7
O uso do solo..............................................................................................................................59
Tipos de solos...........................................................................................................................................60
Os ciclos biogeoquímicos.........................................................................................................................62
A degradação do solo e a qualidade de vida.............................................................................................63
A conservação dos solos e a produção de alimentos....................................................................................65
O uso sustentável do solo.........................................................................................................................68
Efeito estufa.................................................................................................................................... 77
A atmosfera...............................................................................................................................................77
Causas do efeito estufa...................................................................................................................................79
Consequências................................................................................................................................................82
Medidas mitigadoras.................................................................................................................................83
A camada de ozônio...................................................................................................................89
Radiação solar...........................................................................................................................................89
O ozônio e sua função escudo de radiação ultravioleta............................................................................90
A destruição da camada de ozônio............................................................................................................90
A causa da destruição................................................................................................................................91
As consequências da destruição da camada de ozônio.............................................................................92
Medidas mitigadoras e Educação Ambiental............................................................................................94
A hipótese Gaia.....................................................................................................................97
A origem da hipótese Gaia........................................................................................................................97
As evidências da hipótese.........................................................................................................................98
Ações humanas e a hipótese Gaia.............................................................................................................100
Perspectivas futuras..................................................................................................................................100
Matrizes energéticas..............................................................................................................103
Petróleo.....................................................................................................................................................104
Usinas hidrelétricas...................................................................................................................................105
Biomassa...................................................................................................................................................106
Energia solar fotovoltaica.........................................................................................................................107
Energia eólica...........................................................................................................................................108
Energia nuclear.........................................................................................................................................108
Uso racional das matrizes energéticas.............................................................................................................. 110
Perspectivas futuras..................................................................................................................................111
A Carta da Terra....................................................................................................................141
Princípios..................................................................................................................................................142
Referências............................................................................................................................165
Anotações..............................................................................................................................171
Apresentação
D
esde que o homem surgiu no planeta, utiliza recursos da natureza para suprir suas neces-
sidades básicas, relacionadas principalmente à alimentação, abrigo e obtenção de energia.
Certamente, vem daí essa postura consumista em relação aos recursos naturais, que durante
vários anos foram vistos como “infinitos”. O desenvolvimento social e cultural da espécie humana,
até chegarmos nas características atuais, foi bastante rápido. Se a idade do planeta fosse condensada
em apenas um ano, a espécie humana teria surgido aproximadamente às 23 horas e 45 minutos, do
dia 31 de dezembro, ou seja, nossa existência é muita curta quando comparada a outras espécies com
as quais dividimos a Terra atualmente.
O antropocentrismo coloca o homem no centro do universo, postulando que tudo o que existe
foi concebido e desenvolvido para a satisfação humana. Essa ideia de que tudo nos pertence tem sido a
principal justificativa para essa “dominação” dos recursos pelo homem, prática usual há muito tempo.
Ainda hoje essa corrente filosófica tem forte influência nas decisões do homem em relação ao uso dos
recursos naturais. Porém, várias pessoas já passaram a considerar com maior atenção o pensamento
biocêntrico, valorizando a natureza pelas suas características intrínsecas e não somente pela sua utili-
dade prática, partindo do pressuposto de que todas as espécies têm direito à vida, independentemente
do seu grau de complexidade.
A inclusão da Educação Ambiental nos programas formais de ensino-aprendizagem é funda-
mental, mas não pode ser a única iniciativa para mudar essa mentalidade. Ações diretas de mobili-
zação e conscientização, além da difusão do pensamento biocêntrico, desde a educação infantil até
à idade adulta, assim como a atualização de pais e professores sobre esse tema, também devem ser
consideradas quando se planeja um programa de Educação Ambiental.
Este livro traz várias informações pertinentes sobre esse assunto, com a intenção de servir
como um apoio para os educadores que irão atuar na área. Inicia-se o curso apresentando a postura do
homem em relação à natureza desde os tempos remotos até os dias de hoje, mostrando que tais rela-
ções vêm sendo cada vez mais pautadas na ideia de recursos infinitos, postura que fica mais evidente
quando se explora o tema recursos hídricos. Nesse tema, são enfocadas as principais características
da água, os problemas referentes ao mau uso desse patrimônio e o que está sendo feito para minimizar
os impactos decorrentes da ação humana sobre esse recurso.
A questão dos resíduos sólidos, um dos maiores problemas na maioria das cidades brasileiras, é
abordada neste livro de maneira a trazer informações sobre ações e posturas que os cidadãos podem
ter para colaborar na minimização dos seus impactos sobre a natureza. Outro tema abordado é o solo,
sua origem e principais características, a maneira como é utilizado e as implicações deste na manu-
tenção da qualidade ambiental.
Passa-se então ao tema atmosfera, enfocando o aquecimento global provocado pelo efeito estufa
e a diminuição da camada de ozônio. Esses temas estão relacionados não só nas suas respectivas cau-
sas, como também nas ações que devem ser tomadas para minimizar, e, quem sabe, frear os processos
que ocasionam os efeitos nocivos.
O tema matrizes energéticas é apresentado a fim de mostrar as várias formas de geração de
energia, com ênfase principalmente nos efeitos positivos e negativos de cada forma, enfatizando a
principal fonte de energia da atualidade, o petróleo, em contraposição aos efeitos benéficos das fontes
energéticas renováveis, principalmente as menos poluentes.
Também é apresentada a hipótese Gaia, que considera o planeta um superorganismo capaz de
se autorregular. A hipótese é mostrada e explicada para que o leitor saiba que, apesar de amplamente
conhecida, existem outras formas de pensamento em relação a essa questão, algumas inclusive con-
frontantes com esta. A hipótese Gaia relaciona-se com o que se chamou de Carta da Terra, que, por
sua vez, constitui o fundamento básico da Ecopedagogia, todas estas com forte influência do pensa-
mento antropocêntrico, tema que encerra o conteúdo do livro.
O objetivo principal do curso é fazer com que o próprio leitor reflita e avalie sua postura como
cidadão frente aos principais temas ambientais contemporâneos, para que depois atue como um edu-
cador mais consciente do seu papel transformador; afinal de contas, como podemos ensinar alguma
coisa na qual não acreditamos? Como ensinar crianças e adultos a serem responsáveis pelo ambiente
se nós, que temos essa responsabilidade, não nos sentimos assim e não agimos assim?
Boa leitura e uma ótima autoavaliação!
Nathieli Keila Takemori Silva
O
com Mes tra d o e m B o tâ -
homem, desde as espécies ancestrais relacionadas, sempre dependeu de nica pela me s ma u n iv e r-
sidade.
recursos naturais1 para sua sobrevivência, buscando na natureza, como
todas as demais espécies animais, seus meios de alimentação, abrigo, Lice n c ia d o e m C i-
proteção contra o frio, entre outras necessidades básicas. Consequentemente, ências Bio ló g ic a s p e la
Universid a d e Federal
sempre provocou um impacto sobre a natureza e, para ilustrar esses impactos, do Paran á ( U F P R ) , c o m
existem vários exemplos na história dos povos antigos, os quais foram responsá-
Mestrado e D o u to ra -
do em Bio lo g ia Ve g e ta l
pela U niv e rs id a d e Es ta -
veis pela exploração excessiva de algum recurso natural, visto pela abordagem dual de C a mp in a s .
antropocentrista de questão ambiental.
Os Anasazi, que viviam no deserto do Novo México, construíram os pue-
blos, edificações que abrigavam as pessoas e que chegavam a quase 1 hectare de
1 Recursos naturais. a) De-
nominação que se dá à
totalidade das riquezas mate-
extensão, ocupando milhares de troncos de árvores retiradas da própria região da riais que se encontram em es-
tado natural, como florestas
construção. Mas não era um deserto? Existem registros de que na ocasião em que e reservas minerais. b) São
os mais variados meios de
os pueblos foram construídos, eram cercados não por um deserto nu, mas por uma subsistência que as pessoas
obtêm diretamente na nature-
floresta de árvores decíduas e pinheiros. za. c) O patrimônio nacional
nas suas várias partes, tanto
Istock Photo. os recursos não renováveis,
como jazidas minerais, e os
renováveis, como florestas e
meios de produção. d) Fon-
tes de riquezas materiais que
existem em estado natural;
tais como florestas, reservas
minerais etc.; a exploração
ilimitada dos recursos natu-
rais pode levá-la à exaustão
ou à extinção. e) Recursos
ambientais obtidos direta-
mente da natureza, podendo
classificar-se em renováveis
e inexauríveis ou não reno-
váveis; renováveis quando,
uma vez aproveitados em um
determinado lugar e por um
dado período, são suscetí-
veis de continuar a ser apro-
veitados nesse mesmo lugar,
ao cabo de um período de
tempo relativamente curto;
exauríveis quando qualquer
exploração traz consigo, ine-
vitavelmente, sua irreversível
diminuição.
principal predador do moa era a águia-gigante, espécie maior do que a maior ave
relacionada atualmente vivente – a águia-real ou harpia – foi extinta na mesma
época, muito provavelmente porque ficou sem seu principal item alimentar com a
extinção do moa.
Heinrich Harder.
A economia e a Terra
(BROWN, 2003)
Nos últimos séculos da civilização maia, uma nova sociedade evoluiu na
Ilha de Páscoa, uma área com cerca de 166 quilômetros quadrados no Pacífico
Sul, aproximadamente 3 200 quilômetros a oeste da América do Sul e 2 200
quilômetros da Ilha Pitcairn, a região habitada mais próxima. Assentada em
torno de 400 d.C., essa civilização prosperou numa ilha vulcânica com solos
ricos e vegetação viçosa, com árvores de 25 metros de altura e troncos de 2
metros de diâmetro. Registros arqueológicos dão conta que os ilhéus se ali-
mentavam principalmente de frutos do mar, particularmente golfinhos – um
mamífero que só podia ser capturado com arpões lançados de grandes canoas
oceânicas, uma vez que não apareciam localmente em grande número.
A sociedade da Ilha de Páscoa prosperou durante vários séculos, atingin-
do uma população estimada em 20 mil. À medida que seus números cresciam,
a derrubada de árvores superava a recuperação sustentada das florestas. Final-
mente, desapareceram as grandes árvores necessárias para a construção das
grandes e resistentes canoas oceânicas, privando os ilhéus do acesso aos gol-
finhos e reduzindo, dessa forma, o suprimento alimentar da ilha. Os registros
arqueológicos mostram que, a certa altura, ossadas humanas se misturaram às
ossadas dos golfinhos, sugerindo uma sociedade desesperada que recorreu ao
canibalismo. Hoje, a ilha é habitada por cerca de 2 000 pessoas.
8
A questão ambiental no planeta Terra
“Esta é a nossa diferença crucial em relação aos Maoris: eles não sabiam
ler e escrever. Nós sabemos, e entendemos as consequências do que se passou,
e fazemos cálculos e projeções para o futuro. Nós, como espécie, não temos a
desculpa da ignorância para repetir os mesmos erros.”
Fernando Fernandez
ambientais, pois gera desmatamento para os vários usos do solo, aumenta a pres-
são de caça, o tráfico de animais e o extrativismo, aumenta a poluição, provoca
mudanças climáticas, estimula atividades ambientalmente depredatórias e gera a
degradação da qualidade de vida em geral.
Pensando nisso, muitos de nós já começamos a pensar no futuro e em for-
mas alternativas para diminuir os impactos que estamos causando no ambiente.
As atitudes que foram tomadas até agora continuam sendo necessárias, porém são
insuficientes. Ainda é preciso mais!
A conservação deve ser ensinada em todos os lugares – escola, casa, tra-
balho. As pessoas aprendem quando observam outros fazendo, assim como as
crianças. Reeducar uma sociedade que cresceu depredando o ambiente onde vive
é uma tarefa difícil, mas não impossível. É importante lembrar que, com uma
população cada vez mais numerosa, mudar o mundo sozinho fica cada vez mais
difícil. Obviamente ninguém está pensando nisso, mas se cada um fizer sua parte
na construção de um mundo mais justo, ficará bem mais fácil.
10
A questão ambiental no planeta Terra
A situação ambiental pela qual passa atualmente o planeta não tem anteceden-
tes na história geológica mais recente. A degradação dos ambientes naturais, a
fragmentação de habitats, a sobre-exploração de algumas espécies, a poluição e a
contaminação biológica são as causas mais importantes da perda de biodiversida-
de. As desigualdades sociais contribuem significativamente nesse quadro, se con-
siderarmos que grande parte da diversidade biológica do planeta encontra-se nos
países mais pobres. Dessa forma, é necessário primeiramente acabar com essas
desigualdades, o que só será possível através de mudanças culturais, econômicas,
políticas e sociais. A cultura do “ter e possuir” já levou os Estados Unidos ao topo
da lista dos países que mais poluem o ambiente.
Como escreveu a jornalista Liana John (2004),
o homem não precisa deixar a cidade, nem regredir para um tempo sem conforto ou tec-
nologia para voltar a fazer parte da natureza. Ele precisa repensar suas ações, considerar
as consequências de cada uma delas sobre o ambiente e os outros seres vivos. E usar o
conhecimento em benefício do bem comum.
11
A questão ambiental no planeta Terra
O que é Agenda 21
(BRASIL, 2004)
A Agenda 21 é um plano de ação para ser adotado global, nacional e localmente, por organi-
zações do sistema das Nações Unidas, governos e pela sociedade civil, em todas as áreas em que
a ação humana impacta o meio ambiente. Constitui-se na mais abrangente tentativa já realizada de
orientar para um novo padrão de desenvolvimento para o século XXI, cujo alicerce é a sinergia da
sustentabilidade ambiental, social e econômica, perpassando em todas as suas ações propostas.
Contendo 40 capítulos, a Agenda 21 Global foi construída de forma consensuada, com a con-
tribuição de governos e instituições da sociedade civil de 179 países, em um processo que durou
dois anos e culminou com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro, em 1992, também conhecida por Rio 92.
Além da Agenda 21, resultaram desse mesmo processo quatro outros acordos: a Declaração
do Rio, a Declaração de Princípios sobre o Uso das Florestas, a Convenção sobre a Diversidade
Biológica e a Convenção sobre Mudanças Climáticas.
O programa de implementação da Agenda 21 e os compromissos para com a carta de
princípios do Rio foram fortemente reafirmados durante a Cúpula de Joanesburgo, ou Rio +
10, em 2002.
A Agenda 21 traduz em ações o conceito de desenvolvimento sustentável.
A comunidade internacional concebeu e aprovou a Agenda 21 durante a Rio 92, assumindo,
assim, compromissos com a mudança da matriz de desenvolvimento no século XXI. O termo
Agenda foi concebido no sentido de intenções, desígnio, desejo de mudanças para um modelo de
civilização em que predominasse o equilíbrio ambiental e a justiça social entre as nações.
Além do documento em si, a Agenda 21 é um processo de planejamento participativo que
resulta na análise da situação atual de um país, estado, município, região, setor e planeja o futuro
de forma sustentável. E esse processo deve envolver toda a sociedade na discussão dos principais
problemas e na formação de parcerias e compromissos para a sua solução a curto, médio e longo
prazos. A análise do cenário atual e o encaminhamento das propostas para o futuro devem ser
realizados dentro de uma abordagem integrada e sistêmica das dimensões econômica, social, am-
biental e político-institucional da localidade. Em outras palavras, o esforço de planejar o futuro,
com base nos princípios da Agenda 21, gera inserção social e oportunidades para que as socieda-
des e os governos possam definir prioridades nas políticas públicas.
É importante destacar que a Rio 92 foi orientada para o desenvolvimento, e que a Agenda 21
é uma Agenda de Desenvolvimento Sustentável, em que, evidentemente, o meio ambiente é uma
consideração de primeira ordem. O enfoque desse processo de planejamento apresentado com o
nome de Agenda 21 não é restrito às questões ligadas à preservação e conservação da natureza,
mas sim a uma proposta que rompe com o desenvolvimento dominante, em que predomina o eco-
nômico, dando lugar à sustentabilidade ampliada, que une a Agenda ambiental e a Agenda social,
ao enunciar a indissociabilidade entre os fatores sociais e ambientais e a necessidade de que a
degradação do meio ambiente seja enfrentada juntamente com o problema mundial da pobreza.
Enfim, a Agenda 21 considera, entre outras, questões estratégicas ligadas à geração de emprego e
12
A questão ambiental no planeta Terra
renda; à diminuição das disparidades regionais e interpessoais de renda; às mudanças nos padrões
de produção e consumo; à construção de cidades sustentáveis e à adoção de novos modelos e ins-
trumentos de gestão.
Em termos das iniciativas, a Agenda 21 não deixa dúvida. Os Governos têm o compromisso
e a responsabilidade de deslanchar e facilitar o processo de implementação em todas as escalas.
Além dos Governos, a convocação da Agenda 21 visa mobilizar todos os segmentos da sociedade,
chamando-os de “atores relevantes” e “parceiros do desenvolvimento sustentável”.
Essa concepção processual e gradativa da validação do conceito implica assumir que os prin-
cípios e as premissas que devem orientar a implementação da Agenda 21 não constituem um rol
completo e acabado: torná-la realidade é antes de tudo um processo social no qual todos os envol-
vidos vão pactuando paulatinamente novos consensos e montando uma Agenda possível, rumo ao
futuro que se deseja sustentável.
1. Forme um grupo de três pessoas e descreva o papel do homem na natureza durante a Pré-His-
tória. Discorra sobre a forma como os povos primitivos tratavam o ambiente onde viviam.
13
A questão ambiental no planeta Terra
3. Por que não podemos mais agir como antigamente? Qual a diferença entre o ambiente pré-
-histórico e o atual?
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. 6. ed. São
Paulo: Cultrix, 2001.
Esse livro trata de assuntos relacionados aos sistemas vivos, trazendo uma nova linguagem para
a sua compreensão.
FERNANDEZ, Fernando. O Poema Imperfeito. 2. ed. Curitiba: UFPR, 2004.
Esse livro é composto de crônicas sobre biologia, conservação da natureza e seus heróis. A
abordagem é bem-humorada, porém comprometida com a conservação, levando o leitor a uma refle-
xão profunda sobre o verdadeiro papel do homem na conservação da natureza.
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Recursos
hídricos e cidadania I
H
á 150 anos, a possibilidade de escassez de água era algo impensável. O
que não foi previsto era o aumento da população mundial, que triplicou
no século XX. Mais pessoas, mais consumo. Com esse aumento, cresceu
o consumo de água pela irrigação de lavouras e também pela indústria. O resulta-
do foi um aumento de seis vezes no consumo total de água.
Nosso país é privilegiado com 12% da água doce do mundo. Mesmo assim,
algumas regiões, como a grande São Paulo, sofrem com a escassez desse recur-
so. E não é por causa de falta de fontes, e sim por causa da poluição dos rios dos
quais era captada a água para abastecer a cidade. Hoje, é preciso buscar água em
fontes mais distantes. Isso também acontece no estado da Califórnia, nos Estados
Unidos, que depende de neve derretida vinda do distante estado do Colorado para
abastecer suas cidades.
De acordo com o Banco Mundial, cerca de 80 países hoje enfrentam proble-
mas de abastecimento. Os dados da ONU apontam que mais de 1 bilhão de pes-
soas não têm acesso a fontes de água de qualidade. A escassez de água potável é
uma das principais causas de conflitos entre países. A região de Golan, no Oriente
Médio, por exemplo, possui vários aquíferos1 e está na mira de outros países que 1 Camada porosa e perme-
ável de rocha ou sedimen-
não possuem reservatórios desse recurso. to que contém grandes quan-
tidades de água subterrânea
e que permite fácil desloca-
O uso inadequado também compromete a disponibilidade de água. Nos últi- mento da água.
16
Recursos hídricos e cidadania I
17
Recursos hídricos e cidadania I
Abastecimento público
Utilizamos a água em várias atividades de nosso dia a dia. Higiene pessoal,
alimentação, matar a sede, lavar roupa e lavar louça. Porém, sua distribuição está
comprometida por causa do aumento da demanda, do desperdício, da poluição
e da urbanização descontrolada – que atinge regiões de mananciais4. Antes de
chegar até as casas, a água passa por um processo de tratamento. Após seu uso, a
água deve passar novamente por um tratamento antes de ser lançada no ambiente.
Infelizmente não é bem isso que acontece em muitos lugares.
Gráfico 1 – Porcentagem de água que o brasileiro usa diariamente
Outras atividades
(PEGORIN, 2003, p. 41-47)
3%
Higiene pessoal
(lavar roupa e
escovar os dentes)
12%
Tomar banho
25%
Cozinhar, lavar louça
e beber
4 Locais onde há descarga
e concentração natural
de água doce originada de
27%
lençóis subterrâneos e de Descarga de
águas superficiais, que se
mantêm graças à existência banheiro
de um sistema especial de 33%
proteção proporcionado pela
vegetação.
18
Recursos hídricos e cidadania I
Indústria
O setor industrial utiliza muita água, representando cerca de 25% do consu-
mo total do planeta. A água pode ser utilizada diretamente como matéria-prima
5 É o principal composto
químico da parede celu-
lar nas plantas e em alguns
na fabricação de bebidas, como os refrigerantes. Também serve para a transmis- protistas.
são de calor, ou seja, para aquecer ou resfriar algo. Na culinária, também utiliza-
mos a água como meio de transmitir calor quando utilizamos o banho-maria. Na
6 Composto químico que
constitui a parede celular
secundária de alguns tipos
de células nas plantas vas-
indústria, o vapor de água é utilizado para aquecer os banhos de revestimento de culares. Depois da celulose,
a lignina é o polímero mais
peças metálicas, como a galvanoplastia. Nos alambiques, a água gelada é utilizada abundante em um vegetal.
para condensar o destilado (por exemplo, cachaça). Na fábrica de papel, a água é Sua presença dá maior sus-
tentabilidade para a parede
utilizada para lavar a celulose5 e remover a lignina6. celular.
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Recursos hídricos e cidadania I
Geração de energia
Após a descoberta da energia elétrica, o estilo de vida das pessoas mudou
muito. Hoje, nos centros urbanos, não se imagina uma casa sem energia elétrica,
apesar de existirem muitas ainda no mundo.
São várias as formas de se conseguir a geração de energia elétrica e uma
delas é através das usinas hidrelétricas, ou seja, utilizando-se a água.
Em uma usina hidrelétrica, a água contida nas barragens é direcionada para
passar pelas turbinas da usina, movimentando-as e assim gerando a energia elétrica.
Apesar dos impactos ambientais causados durante a construção e operação
de uma usina hidrelétrica, esta ainda é uma das formas mais limpas de se obter
energia elétrica.
Turismo e lazer
Existem regiões do Brasil bastante conhecidas pelos seus atrativos turís-
ticos relacionados à água. O litoral brasileiro tem pouco mais de 9 mil quilô-
metros de extensão, e o turismo é um fator importante. Locais no interior do
país, como a região do Pantanal, por exemplo, também são pontos turísticos.
Outros exemplos são as águas termais de Minas Gerais, Goiás e São Paulo.
Nada melhor do que um banho de mar, cachoeira ou rio. Algumas pessoas
ainda preferem praticar esportes, como iatismo, remo, rafting, mergulho, surfe,
entre outros. A prática do surfe inclusive deixou de ser apenas na água salgada
7 O encontro das correntes
contrárias junto à foz pro-
dos oceanos. No Brasil, muitos surfistas estão pegando as ondas da pororoca7,
voca uma elevação súbita das principalmente no rio Amazonas.
águas, formando uma onda
com 3 a 6 metros de altura
que corre rio adentro. Essas
ondas chegam a durar mais
de uma hora. Hidrovias
O transporte de produtos é sempre uma questão muito importante, princi-
palmente em um país tão extenso como o Brasil. Diferentemente do transporte
rodoviário, o transporte através de barcos e navios consome menos combustíveis
e apresenta um custo de mão de obra mais baixo.
20
Recursos hídricos e cidadania I
Aquicultura
Aquicultura é o cultivo de espécies animais que vivem na água. Entre eles
estão os peixes, os crustáceos e os moluscos. Dessa maneira, abastece-se o mer-
cado de alimentos e também o lazer, através dos pesque-pagues.
Irrigação agrícola
No mundo todo, a irrigação é a atividade que mais consome água. Infeliz-
mente, as técnicas utilizadas no Brasil não são adequadas e acabam gerando mui-
to desperdício. Apenas 40% da água é efetivamente utilizada, o restante é perdido
na evaporação antes de chegar à planta ou através do uso incorreto das técnicas,
ou seja, porque a irrigação não é feita em horário ou período adequado.
21
Recursos hídricos e cidadania I
As principais causas
8 Introdução de um agente
indesejável em um meio
onde este não existia previa-
da contaminação8 da água
Efluentes9 domésticos – Quando damos a descarga, a água que escorre
mente.
A eutrofização
A palavra eutrofização deriva do grego eu (que significa bom, verdadeiro) e
trophein (nutrir), ou seja, bem nutrido. Dessa maneira, o processo consiste no en-
riquecimento das águas com nutrientes em um ritmo que não pode ser compensa-
do pela sua eliminação definitiva através da mineralização total. Esses nutrientes
podem vir de várias fontes, entre elas: esgotos domésticos, despejos industriais,
22
Recursos hídricos e cidadania I
As bacias hidrográficas
No Brasil, existem cinco grandes bacias hidrográficas: Amazônica, Prata,
São Francisco, Araguaia-Tocantins e Atlântico Sul.
A Bacia Amazônica, formada pelo Rio Amazonas e seus afluentes, é consi-
derada a maior bacia hidrográfica do mundo, com uma drenagem de 5,8 milhões
de quilômetros quadrados. Ela abrange a Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia e
Brasil. Neste localiza-se nos estados do Amazonas, Pará, Amapá, Acre, Roraima,
Rondônia e Mato Grosso. O Rio Amazonas é responsável por 20% da água doce
despejada anualmente nos oceanos.
A Bacia do Prata é a segunda maior bacia da América do Sul. Os rios Para-
guai, Paraná e Uruguai juntos drenam 10,5% do território brasileiro. Ela atravessa
quatro países: Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai. No Brasil, ela abrange os
estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina
e Rio Grande do Sul.
A Bacia do São Francisco é a terceira maior bacia do Brasil, e a única intei-
ramente brasileira. Ela ocupa 8% do território brasileiro, abrangendo as regiões
Sudeste e Nordeste e um pouquinho da região Centro-Oeste.
As matas ciliares
As matas ciliares são as florestas associadas aos cursos d’água. Mesmo estan-
do protegidas por leis federais, sua destruição é preocupante. Elas representam uma
barreira física, regulando os processos de troca entre os ambientes terrestre e aquá-
tico. Sua presença reduz a possibilidade de contaminação da água por sedimentos,
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Recursos hídricos e cidadania I
A bacia hidrográfica
como unidade de planejamento
As bacias hidrográficas proporcionam uma visão integrada do conjunto das
condições naturais e das atividades humanas desenvolvidas. Pelo seu caráter inte-
grador das dinâmicas ocorridas no ambiente da bacia hidrográfica, são excelentes
áreas de estudos para o planejamento, facilitando o acompanhamento do processo
de renovação ou manutenção dos recursos naturais.
Entre os princípios básicos praticados nos países que avançaram na gestão
de recursos hídricos, o primeiro é o da adoção da bacia hidrográfica como unida-
de de planejamento. Tendo-se os limites das bacias como o que define o perímetro
da área a ser planejada, fica mais fácil fazer o confronto entre as disponibilidades
e as demandas, essenciais para um determinado balanço hídrico.
Como uma mesma bacia hidrográfica localiza-se em vários estados, seu pa-
pel também é o de descentralizadora das ações de gestão dos recursos hídricos,
transformando o processo em um planejamento regional desenvolvido em cada ba-
cia hidrográfica, com a atuação do Estado, da população e das organizações civis.
Conclusão
A água é um dos recursos naturais essenciais para a existência da vida. Sem
ela, a vida na Terra, como a conhecemos, não seria possível. No entanto, os seres
humanos esquecem da importância desse recurso quando o tratam como produto
descartável, usando, tornando imprestável e jogando fora. Os ecossistemas que
“se virem” para filtrar e neutralizar essa poluição.
Só que os ecossistemas são responsáveis pela produção da água de boa qua-
lidade para a vida em suas diferentes formas, e quando desequilibrados não con-
seguem exercer sua função. Falta de cobertura vegetal, solos impermeabilizados e
lixo são apenas alguns dos problemas enfrentados pelas bacias hidrográficas.
A água é um bem de uso comum. Todos podem usufruir, mas não “deveriam”
poluir. Sem a informação e a conscientização, esse recurso poderá se tornar escasso
em pouco tempo, aumentando os problemas ambientais, sociais e econômicos.
24
Recursos hídricos e cidadania I
25
Recursos hídricos e cidadania I
26
Recursos hídricos
e cidadania II
A capacidade de armazenamento de água da maioria dos reservatórios já foi
muito reduzida pelo assoreamento e falta de cuidado com as margens. Mas é só co-
meçar a chover que, aliviados com a abundância de água, deixamos de nos preocupar
com o controle dos desperdícios e dos excessos. E deixamos de sentir a falta que a
água faz nos ecossistemas, uma questão que se torna tanto mais crítica quanto maior a
disputa em torno dos múltiplos usos dos recursos hídricos em atividades humanas.
Liana John
O
aumento da população mundial tem como umas das consequências
mais diretas o aumento proporcional do consumo dos recursos naturais.
No caso da água, além do consumo crescente, a falta de cuidados com
os reservatórios, que muitas vezes também são usados para disposição final dos
efluentes domésticos, comerciais e industriais, têm sido os principais fatores de
degradação. A deterioração dos ecossistemas, principais geradores e mantenedo-
res da qualidade da água, também tem causado a diminuição dos estoques de água
utilizável para consumo humano.
A percepção da necessidade de regulamentação do uso da água tem promo-
vido uma série de propostas de leis que disciplinam esse uso, em todos os níveis
de administração pública. Na década de 1990, a questão da água foi bastante dis-
cutida e instituiu-se a Lei de Recursos Hídricos, em 1997.
28
Recursos hídricos e cidadania II
Princípio do poluidor-pagador
O princípio do poluidor-pagador, também conhecido como usuário-paga-
dor, tem o objetivo de promover o uso racional dos recursos naturais, visando a
preservação desses recursos para as gerações futuras. Esse princípio prevê que os
responsáveis diretos ou indiretos pela degradação de qualquer ambiente deverão
pagar pelos prejuízos causados. Recursos como a água e o ar são bens públicos
e sua poluição acarretará em mais prejuízos para a população, além da perda de
qualidade desses recursos.
Esse princípio não serve para afirmar que quem paga pode poluir, mas sim
para evitar que pessoas ajam sem pensar nas consequências de seus atos. Dessa
maneira, o pagamento efetuado pelo poluidor não lhe dá o direito de poluir. A di-
ficuldade encontrada está no fato da quantificação de valores que devem ser pagos
para a recomposição ambiental e nos valores devidos em multas indenizatórias.
Na legislação brasileira, o princípio do poluidor-pagador é referenciado no
artigo 4.º, VII, combinado com o parágrafo 1.º do artigo 14, da Lei 6.938/81 – Lei da
Política Nacional do Meio Ambiente – que diz que é obrigação do poluidor, culpado
ou não, indenizar ou reparar danos causados ao meio ambiente ou a terceiros afeta-
dos por sua atividade. Ele também é reforçado pela Constituição Federal de 1988, ar-
tigo 225, parágrafo 3.º, que afirma: “as condutas e atividades consideradas lesivas ao
meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais
e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.
No caso do uso da água, é responsabilidade do usuário-poluidor o custo de
despoluição da água por ele utilizada. Assim, uma empresa ou pessoa que utilize
água de um rio, deve retornar essa água ao rio com a mesma qualidade de quando
foi captada. A cobrança pelo uso e/ou poluição dos recursos hídricos é um ins-
trumento de gestão para induzir os usuários a serem mais racionais no uso desse
recurso e a preservarem o meio ambiente.
29
Recursos hídricos e cidadania II
Importância da Educação
Ambiental no uso dos recursos hídricos
No Brasil, as pessoas estão acostumadas com a ideia de abundância de
água, afinal de contas, é o país que possui 12% da água doce do mundo. Sem a
consciência de que esse recurso pode acabar, é comum encontrar pessoas lavando
a calçada com a mangueira aberta sem necessidade, utilizando jatos d’água (“vas-
soura hidráulica”), ou então escovando os dentes com a torneira aberta, jogando
fora água potável. Os exemplos de desperdício e despreocupação são muitos: la-
vagem de veículos com água tratada, o uso de válvulas sob pressão nas descargas
dos vasos sanitários, o despejo das águas servidas de banho e lavagens em geral,
sem a preocupação com a racionalização de consumo e/ou reutilização. Um meio
para evitar a falta de água no futuro está nas ações de educação e conscientização
das pessoas, incluindo todas as classes sociais e todos os setores: agrícola, indús-
tria, comércio, residências e escolas. Ensinar a inter-relação que existe entre solo,
água, ar e seres vivos é um modo de alcançar o objetivo de se ter cidadãos mais
comprometidos com o futuro do planeta.
Segundo dados do Banco Mundial, mais de 2,2 milhões de pessoas morrem
todo ano e metade dos leitos hospitalares em todo o mundo estão ocupados por
pacientes com doenças causadas pelo consumo de água contaminada e pela falta
de saneamento. As crianças com até cinco anos são as mais afetadas, sendo 6 000
mortes infantis por dia. Essa realidade ocorre especialmente nos países em desen-
volvimento, como Brasil, China e Índia. Uma pesquisa da Unesco sobre a qualida-
de dos mananciais de 122 países mostrou que a Bélgica é o país com pior qualidade
de água por causa da escassez de seus lençóis freáticos, da poluição causada pelas
indústrias e a falta de tratamento de resíduos. Nos primeiros lugares, estão Finlân-
dia, Canadá, Nova Zelândia, Reino Unido e Japão. Ainda de acordo com o relató-
rio, os rios asiáticos são os mais poluídos do mundo, e metade da população nos
países pobres está exposta a água contaminada por esgoto ou resíduos industriais.
Conclusão
Apesar da aparente abundância de água que temos em nosso país, sua dis-
tribuição é desigual, sendo que nas regiões em que há mais cidades, a água já está
se tornando escassa. O mesmo acontece no mundo. Países mais desenvolvidos
demandam mais água, mas neles a drenagem desse recurso nem sempre é boa.
31
Recursos hídricos e cidadania II
Alguns países já tratam esse recurso como não renovável e apresentam for-
mas de uso mais conscientes. Porém, a poluição da água ainda é uma realidade
triste na maioria das regiões do planeta. Ensinar as crianças sobre a importância
desse recurso é fundamental para evitar que ele se esgote.
Na legislação, nosso país já evoluiu, agora é necessário que os cidadãos to-
mem consciência e repensem seus hábitos.
O Aquífero Guarani
(SÃO PAULO, 2005)
32
Recursos hídricos e cidadania II
Até hoje, muitos poços foram perfurados para a exploração da água subterrânea, sem a devi-
da preocupação com sua proteção, sendo cada caso ou problema tratado isoladamente. Diante da
demanda por água doce, faz-se necessário o entendimento amplo desse sistema hídrico, de forma
a gerenciar e proteger esse recurso.
Para tanto, é necessário organizar os dados e sistemas existentes, de forma que seja possível
integrar a utilização dos bancos de dados dos diversos países abrangidos pelo Aquífero Guarani
e modelar a hidrodinâmica do sistema, permitindo identificar as áreas mais frágeis que deverão
ser protegidas.
1. Formem grupos de três pessoas e respondam: Qual é a bacia que drena a região onde você
mora? Quais os rios que fazem parte dessa bacia?
2. Discuta com o seu grupo se existem ou não problemas em relação ao abastecimento de água em
sua cidade. Caso existam, quais são eles?
33
Recursos hídricos e cidadania II
4. Com a turma toda, discuta quais as atitudes que os cidadãos podem tomar para melhorar a qua-
lidade de vida na cidade, em relação aos recursos hídricos. Formule um programa de Educação
Ambiental que vise informar os cidadãos sobre o caráter finito dos recursos hídricos e sobre a
importância da água para todos.
Mais de um sexto da população mundial, 18%, o que corresponde a 1,1 bilhão de pessoas, não
têm acesso ao fornecimento de água. A situação piora quando se fala em saneamento básico, que não
faz parte da realidade de 39% da humanidade, ou 2,4 bilhões de pessoas (UM SEXTO, 2005).
BORGHETTI, Nadia Rita Boscardin; BORGHETTI, José Roberto; ROSA FILHO, Ernani Francisco
da. Aquífero Guarani: a verdadeira integração dos países do Mercosul. 1. ed. Rio de Janeiro: Funda-
ção Roberto Marinho, 2004. v. 1, 214p.
Agregam-se nessa obra informações gerais sobre a disponibilidade e o uso da água no mundo,
além das informações mais importantes sobre o Aquífero Guarani, como extensão, características
geológicas e hidroquímicas, e as aplicações do seu geotermalismo na agropecuária, na indústria e
no turismo hidrotermal. Conceitos básicos de águas subterrâneas e aquíferos, além de um glossário,
objetivam facilitar a compreensão do assunto para aqueles leitores que não estão familiarizados com
o tema. Uma lista com os municípios localizados sobre o Guarani, e o mapa esquemático do mesmo
em lâminas de acetatos, também são apresentados.
O livro é ilustrado com gráficos e infográficos, mapas detalhados, cortes tridimensionais e
transparências em acetato. (Disponível em: <www.oaquiferoguarani.com.br>.)
Site da Agência Nacional das Águas (ANA): < www.ana.org.br>
Nesse site, encontram-se informações sobre a Lei de Recursos Hídricos, a Outorga de Direito
de Uso de Recursos Hídricos e informações sobre os Comitês de Bacias Hidrográficas, quais são e
como estão funcionando.
34
Resíduos
sólidos e cidadania
H
á uma tendência clara de aumento da população mundial e, na mesma
medida em que ela cresce, também cresce a necessidade de recursos na-
turais. Como consequência, a produção de resíduos da atividade humana
é crescente, e na maior parte dos casos eles são descartados e conhecidos pelo
nome de lixo.
A espécie humana tem usado o planeta como uma grande “lata de lixo”, sem
se importar com a possibilidade de algum dia não haver mais espaço para dispor
a grande quantidade de resíduos que produz diariamente. Estima-se que, em mé-
dia, um cidadão de Tóquio produza cerca de 1 quilo de lixo por dia, formado em
grande parte por materiais que, devidamente separados e processados, podem ser
reutilizados ou reciclados.
Reduzir a quantidade de lixo produzida e dar a ele a correta destinação. O
lixo é hoje o grande desafio da maioria das cidades, visto que os impactos socio-
ambientais do lixo são cada vez mais preocupantes, com destaque para a contami-
nação das fontes de água usadas para o abastecimento público e a degradação da
paisagem e de seus atributos naturais.
Estima-se que cada brasileiro produza entre 0,5 e 1 quilo de lixo por dia, en-
quanto países como os Estados Unidos têm cidades em que cada habitante chega a
produzir 3 quilos de lixo por dia. O país produz cerca de 200 milhões de toneladas
de lixo por ano, e é considerado o que mais gera lixo no mundo. Isso porque se
o desenvolvimento é maior, aumentam também a renda per capita e o poder de
consumo, gerando uma quantidade maior de resíduos sólidos.
A diferença na composição do lixo dos norte-americanos em relação ao lixo
brasileiro é que eles geram menos resíduos sólidos orgânicos, enquanto no Brasil
mais da metade do lixo é composto por matéria orgânica, em grande parte resul-
tante do desperdício de alimentos.
Entende-se por lixo os restos das atividades humanas, considerados
pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis. Normalmen- O que é resíduo
te, apresentam-se sob estado sólido, semissólido ou semilíquido. Podem sólido ou lixo?
originar-se da indústria, dos serviços públicos e das atividades domésticas.
Em todos os locais onde há consumo de recursos naturais, há geração de
resíduos sólidos.
Resíduos sólidos e cidadania
Densidade
alta alta alta baixa
demográfica
Geração de lixo
alta alta média baixa
(per capita)
teor médio de
alto teor de
embalagens
embalagens;
Característica do alto teor de e grande alto teor de restos
grande quantidade
lixo embalagens quantidade de alimentos
de resíduos de
de restos de
jardinagem
alimentos
total (programas
Coleta do lixo total inadequada inadequada
de coleta seletiva)
incineração para aterro sanitário; lixão (há a
gerar energia; algumas preocupação
Destinação final
aterro sanitário iniciativas de em criar aterros lixão
do lixo
com controle reciclagem; sanitários);
ambiental compostagem reciclagem
Aterros
Existem três tipos diferentes de aterros: os sanitários, os controlados e os
industriais. Os aterros sanitários são locais especialmente projetados para receber
resíduos sólidos de origem domiciliar. Os terrenos recebem um tratamento de
impermeabilização para evitar que o chorume penetre no solo e contamine as
águas. Os resíduos depositados são compactados e recobertos por camadas de
terra. O projeto inclui a drenagem da água, captação e tratamento do chorume,
além da captação e tratamento dos gases que se originam da decomposição dos
resíduos, entre eles, o metano e o dióxido de carbono, os quais contribuem para o
aquecimento global. Hoje, pode-se transformar o metano em energia elétrica. Por
causa dos impactos ambientais e dos conflitos com a vizinhança, é difícil de se
conseguir um local para a construção de aterros.
Os aterros controlados nada mais são do que lixões que passaram por certas
adequações operacionais. Normalmente não atendem às especificações técnicas de
controle de poluição, pois o terreno não é impermeabilizado como acontece nos ater-
ros sanitários. Também não apresentam tratamento do chorume e nem dos gases.
Os aterros industriais são locais especialmente projetados para receber os
resíduos industriais perigosos. Devem garantir que esses resíduos não causem
danos à saúde pública e ao ambiente. No Brasil, nem todos os rejeitos industriais
são adequadamente tratados, e ainda não se sabe quais serão exatamente as con-
sequências desse descaso.
Incineração
Na incineração, os resíduos sólidos são queimados em temperaturas acima
de 800ºC. Esse processo gera poluentes sólidos (cinzas), líquidos (lamas) e gasosos,
tendo, como as demais formas de disposição final, um certo impacto ambiental. As
cinzas devem ser destinadas a aterros de resíduos perigosos, e a emissão de gases
deve ser controlada por filtros. Além da geração de poluentes, a incineração tem a
desvantagem de ser um processo de alto custo de implantação e de operação. Por
outro lado, durante a queima, pode ser gerada energia elétrica ou térmica.
Com a incineração, há uma redução de 70% da massa e de 90% do volume
dos resíduos, fazendo-se assim uma economia de espaço nos aterros. Outra van-
tagem é a esterilização dos resíduos, destruindo-se bactérias e vírus. Por isso, a
incineração é recomendada no tratamento dos resíduos hospitalares.
Compostagem
O processo de compostagem consiste na decomposição da matéria orgânica
pela ação de agentes biológicos microbianos na presença de oxigênio, necessi-
tando de condições físicas e químicas adequadas para levar à formação de um
produto de boa qualidade, chamado de composto. Pode ser uma alternativa para
a destinação final dos resíduos orgânicos, sendo utilizada no meio rural há mui-
to tempo. Nesse processo, a matéria orgânica é decomposta, gerando composto
39
Resíduos sólidos e cidadania
Coleta seletiva
A coleta de lixo seletiva é um processo de recolhimento de produtos reci-
cláveis, como papéis, vidros, metais, plásticos e orgânicos, que são previamente
separados pelos geradores. Ela auxilia o trabalho nas usinas de triagem de lixo,
além de os materiais poderem ser vendidos às indústrias recicladoras. A separação
do lixo por categorias agiliza o processo de reciclagem dos materiais, reduzindo
assim o consumo dos recursos naturais. Vários municípios brasileiros já contam
com um programa de coleta de lixo reciclável separadamente do lixo comum.
Essa consciência também se reflete nas famílias de baixa renda que hoje sobrevi-
vem da catação de lixo reciclável.
40
Resíduos sólidos e cidadania
41
Resíduos sólidos e cidadania
Não queime o lixo, pois ele pode soltar gases tóxicos e prejudiciais à
sua saúde.
Todo o lixo que incluir agulhas, latas, material cortante e perfurante em
geral, deve ser acondicionado em papel ou em recipientes com tampas,
como as latas de biscoito ou leite em pó.
Evite estacionar veículos em frente aos pontos de disposição de lixo pela
população, pois dificulta o trabalho dos coletores de lixo e aumenta a sua
carga de trabalho.
Evite pendurar sacos de lixo em portões, grades ou árvores, pois o co-
letor de lixo terá de realizar um grande esforço para realizar a coleta
desses sacos.
Evite a utilização de sacos muito grandes, pois ficam muito pesados,
especialmente se houver resíduos como terra, entulhos etc.
Procure na sua cidade, através da prefeitura ou das empresas que rea-
lizam a coleta de lixo, se há algum tipo de serviço especial para coleta
de objetos grandes ou bagulhos, tais como mesas, vasos sanitários, pias,
televisões etc.
Não jogue pilhas e baterias no lixo, pois elas contêm substâncias tóxicas
prejudiciais à saúde de todos. As pilhas e baterias já utilizadas devem
ser entregues aos estabelecimentos que as comercializam ou à rede de
assistência técnica autorizada para repasse aos fabricantes ou importado-
res, para que estes adotem os procedimentos de reutilização, reciclagem,
tratamento ou disposição final adequada.
Mantenham os cães presos para evitar ataques e agressões aos coletores
de lixo no momento da coleta.
Aguarde o término da limpeza das ruas de feira para poder transitar
com os veículos. Não esperar pode provocar o atropelamento dos cole-
tores de lixo.
A produção, coleta e disposição final do lixo nas grandes cidades, nas in-
dústrias e no meio rural são questões que devem receber uma atenção especial de
cada cidadão, assim como do Poder Público. Aos cidadãos cabe a função de redu-
zir o consumo de produtos que gerem lixo, separar e acondicionar adequadamente
o lixo produzido e atuar conscientemente, no sentido de cobrar do Poder Público
a destinação correta dos resíduos. Ao Poder Público, além da regulamentação de
todos os processos relacionados ao lixo, cabe implantar um sistema eficiente de
coleta seletiva e destinação final dos resíduos, levando em consideração sua ori-
gem e as respectivas características físicas e químicas.
42
Resíduos sólidos e cidadania
43
Resíduos sólidos e cidadania
1. Forme grupos de até cinco pessoas com seus colegas para fazer uma avaliação do lixo produzi-
do na sua casa e no seu ambiente de trabalho. Procure monitorar a produção de lixo diária por,
no mínimo, uma semana, separando o material nas seguintes categorias: papel, plástico, vidro,
metal e orgânico. Junte o material de cada categoria ao final do período monitorado e procure
um local para fazer a pesagem, que pode ser uma farmácia, um armazém ou uma usina de reci-
clagem, caso sua cidade tenha uma.
44
Resíduos sólidos e cidadania
1.2. Faça uma comparação entre a produção de lixo no ambiente doméstico e no ambiente de
trabalho, considerando as diferentes categorias de lixo.
2. Discuta os resultados no grupo, prepare uma apresentação sintética sobre essa discussão e apresen-
te para o restante da turma. Solicite a um membro do grupo que relate os aspectos mais impor-
tantes da discussão para incorporar ao trabalho final.
3. Organize uma rodada de discussões com seus colegas sobre experiências na sua escola, na
sua comunidade ou na sua casa, sobre a separação, reutilização e reciclagem do lixo. Procure
organizar as experiências relatadas em um quadro e avalie as possibilidades de adotar as ações
bem-sucedidas.
D’ALMEIDA, Maria Luiza Otero; VILHENA, André (Coord.). Lixo Municipal: manual de gerencia-
mento integrado. 2. ed. São Paulo: IPT/Cempre, 2000. (Publicação IPT 2.622).
Trata-se de uma excelente publicação informativa sobre resíduos sólidos no ambiente urbano,
com orientações técnicas destinadas à coleta, transporte e disposição final do lixo, além de muita
informação sobre a reciclagem de diferentes tipos de materiais. Apresenta ainda uma coletânea de
leis que disciplinam a questão do lixo nos municípios, servindo como uma boa referência no assunto.
Há a possibilidade de acessar o site do Cempre – Compromisso Empresarial pela Reciclagem – onde
informações atualizadas sobre o tema estão à disposição, de forma rápida e confiável. O endereço é
<www.cempre.org.br>.
Site eletrônico do Ministério das Cidades: <www.cidades.gov.br>.
Site oficial do Ministério no qual é possível encontrar várias informações sobre ações de coleta
e destinação dos resíduos sólidos, saneamento e demais atribuições do Poder Público municipal em
diferentes regiões brasileiras. Permite acesso a programas governamentais, possibilidades de finan-
ciamentos e parcerias voltadas à gestão municipal dos resíduos sólidos.
45
Resíduos sólidos e cidadania
46
Resíduos
sólidos e cidadania II
A
população mundial em notável crescimento e o consequente aumento no
uso dos recursos naturais têm gerado uma quantidade cada vez maior de
resíduos sólidos, de diferentes naturezas, genericamente chamados de lixo.
Mesmo as projeções mais otimistas apontam para cenários futuros, nos quais essa
questão é decisiva para a manutenção da qualidade de vida do homem, não havendo
outra alternativa viável que não seja reduzir a quantidade de resíduos produzidos,
reutilizar tudo o que for possível e, principalmente, reciclar o lixo que pode ser
utilizado em novos produtos. É o que se conhece popularmente como “os três Rs”:
Reduzir, Reutilizar e Reciclar.
Há quem acrescente a essa tríade mais dois Rs, que todo educador deve con-
siderar. Os cinco Rs são:
Repensar hábitos e atitudes;
Reduzir o consumo e diminuir a geração e o descarte de resíduos sólidos;
Reutilizar para aumentar a vida útil de cada produto;
Reciclar para transformar o resíduo em um novo produto;
Recusar produtos que agridam a saúde e o ambiente.
No Brasil, o lixo coletado diariamente é de cerca de 228 mil toneladas. De
todo esse lixo, apenas 4% é reciclado e, do restante, 20% é jogado em rios e várzeas.
Apenas 8% dos municípios brasileiros têm programas de coleta seletiva de lixo. O
Quadro 1 mostra a proporção de resíduos sólidos de diferentes naturezas que são re-
ciclados no Brasil. Embora alguns materiais tenham percentuais relativamente altos
de reciclagem (como o alumínio), outros ainda têm muito a crescer nesse sentido,
seja porque ainda não têm um valor de mercado atraente para investidores, como o
PET, seja porque a tecnologia disponível para a reciclagem ainda é pouco difundida
e empregada, como é o caso das embalagens longa vida.
Percebe-se também que os materiais com maior percentual de reciclagem são
aqueles que têm maior valor no mercado de recicláveis, como as latas de alumínio
e alguns tipos de papel.
Resíduos sólidos e cidadania II
A coleta seletiva
A coleta seletiva é o recolhimento dos resíduos sólidos previamente sepa-
rados por categorias, de acordo com sua composição química. Ela se inicia com
a separação do lixo, que é feita pelos próprios geradores ou pelos catadores de
materiais recicláveis. É parte do processo de reciclagem, pois após a coleta os
materiais estão prontos para serem vendidos às centrais, indústrias que fazem o
reaproveitamento do material.
Para o município, a coleta seletiva e adequada destinação final do lixo não
podem ser vistas como atividades lucrativas. O tratamento dos resíduos sólidos
deve ser implantado com base em seus benefícios sociais e ambientais, entre os
quais podem ser destacados:
redução de custo com aterros sanitários ou incineração;
aumento da vida útil dos aterros sanitários;
diminuição de gastos com áreas degradadas pelo mal acondicionamento
do lixo;
conscientização da população sobre o meio ambiente;
uma comunidade mais educada, o que representa uma economia de re-
cursos gastos com limpeza pública;
melhoria das condições ambientais e de saúde pública do município;
48
Resíduos sólidos e cidadania II
A coleta seletiva pode ser feita porta a porta, assim como acontece com a
coleta normal. Outra forma é a coleta seletiva voluntária, na qual a população de-
posita seu lixo em recipientes específicos, dispostos em pontos da cidade denomi-
nados pontos de entrega voluntária (PEVs) ou locais de entrega voluntária (LEVs).
Nesses pontos, recipientes (lixeiras) com cores específicas e simbologia adequada
auxiliam o cidadão a depositar seu lixo. O sucesso da coleta seletiva está relacio-
nado com a sensibilização ambiental da população.
49
Resíduos sólidos e cidadania II
Azul Papel/papelão
Vermelho Plástico
Verde Vidro
Amarelo Metal
Preto Madeira
Laranja Resíduos perigosos
Resíduos ambulatoriais e de
Branco
serviço de saúde
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Resíduos sólidos e cidadania II
Reciclagem
Reciclagem de papel
No Brasil, cerca de 99% da pasta celulósica utilizada na fabricação do papel
vem da madeira, e o restante vem de materiais como sisal, bambu e línter2 de algo- 2 A parte da fibra que fica
fortemente aderida à se-
mente. Para se obter o línter,
dão. A pasta celulósica pode ser produzida a partir do próprio papel, ou seja, a partir é preciso submeter o caroço
do algodão, separado da fi-
da reciclagem. No entanto, o papel não é infinitamente reciclável, pois com seu pro- bra, a um segundo processo,
cessamento as fibras perdem qualidade. Os principais fornecedores de papel para a chamado de deslinteração.
É utilizado para encher col-
chões, travesseiros e almofa-
reciclagem são a indústria e o comércio, representando 86%, e o lixo domiciliar 10%. das, para fazer fios de alguns
Reciclar papel é importante para evitar que mais árvores sejam cortadas. Outro ponto tipos de tapetes, na produção
de celulose, na indústria têx-
importante a ser abordado é a diminuição do consumo de papel e o desperdício. til (rayon e algodão artificial)
e na indústria de verniz, entre
outras. É ainda matéria bási-
Alguns papéis não podem ser reciclados, são eles: papel vegetal, papel im- ca da elaboração do algodão
pregnado com substâncias impermeáveis (resina sintética, betume etc.), papel- absorvente, bem como do
algodão para fins cirúrgicos.
carbono, papel sanitário usado (essa categoria inclui o papel higiênico, papel toa- Na indústria bélica, é em-
pregado na preparação de
lha, guardanapo e lenço de papel), papel sujo, engordurado ou contaminado com pólvora, pois dele se obtêm
produtos químicos nocivos à saúde, certos tipos de papel revestidos (com parafina explosivos.
Reciclagem de plástico
Plásticos são produtos obtidos a partir do petróleo. Embora apresentem pou-
ca massa, isto é, cerca de 4 a 7% da massa total do lixo, eles ocupam muito espaço,
representando de 15 a 20% do volume do lixo. Isso dificulta sua disposição nos
aterros, pois ocupam mais espaço, prejudicando a compactação da camada de
lixo. Além disso, por serem impermeáveis, dificultam a decomposição da matéria
orgânica. Os plásticos também não devem ser queimados, pois o produto final de
sua combustão são gases poluentes e tóxicos. Um exemplo é o PVC ou policloreto
51
Resíduos sólidos e cidadania II
de vinila, aquele que usamos como filme plástico na cozinha. A queima do PVC
gera dioxinas que são substâncias tóxicas e cancerígenas, e junto há a liberação
de cloro, o qual pode originar o ácido clorídrico, que é bastante corrosivo. A re-
ciclagem dos plásticos traz várias vantagens, como a redução do volume de lixo
encaminhado aos aterros, economia de energia e petróleo, geração de empregos,
a redução de cerca de 30% no preço de produtos de plástico reciclado, além das
melhorias ambientais, como redução do consumo de energia, água e petróleo. Isso
evita que os plásticos fiquem no ambiente até serem totalmente degradados, o
que poderia causar a morte de animais que os ingerem por tomá-los como presas,
como é o caso dos peixes, que comem plástico por ser semelhante às algas.
Os plásticos são divididos em duas categorias mais importantes.
Termofixos – Representam 20% do consumo, e são os que não permitem
reciclagem, pois não se fundem novamente (ex.: EVA ou poliacetato de
etileno vinil, material bastante utilizado hoje para artesanato). Apesar de
não permitirem reciclagem, ainda podem ser utilizados em outras aplica-
ções, por exemplo, condicionadores de asfalto.
Termoplásticos – Os mais utilizados e podem ser reciclados várias ve-
zes. Nessa categoria, estão os polietilenos de baixa e de alta densidade
(PEBD e PEAD), o policloreto de vinila (PVC), o poliestireno (PS), o
polipropileno (PP), o politereftalato de etileno (PET) e as poliamidas
(náilon).
Quadro 3 – Tipos de plástico
52
Resíduos sólidos e cidadania II
Reciclagem de vidro
O vidro é um produto obtido da fusão de compostos inorgânicos, sendo seu
principal componente a sílica (SiO2). Ele pode ser reutilizado inúmeras vezes, pois
permite a esterilização em altas temperaturas. Também pode ser reciclado, não
havendo perda de massa durante o processo (1t de caco de vidro = 1t de vidro novo
= economia de 1,2t de matéria-prima virgem). Os vidros levam muito tempo para
se decompor, mais de 1 milhão de anos, e com isso geram problemas de espaço
nos aterros. Sua reciclagem tem ainda como ponto benéfico a redução do uso de
energia.
Alguns tipos de vidro não podem ser reciclados, como espelhos, vidros
de janelas e box de banheiro, vidros de automóveis, cristais, lâmpadas, tubos
de televisão, válvulas, ampolas de medicamentos e os vidros temperados de
uso doméstico.
Já existem recursos para se reciclar o vidro das lâmpadas. Para isso, é neces-
sário que o gás de mercúrio existente nelas seja retirado e tratado adequadamente,
para que não polua o ambiente.
leta no prazo de até um ano após a compra. Os postos de coleta são de responsa- sejam reutilizadas.
53
Resíduos sólidos e cidadania II
Uso de água — 40 58 50
Poluição do ar 95 85 74 20
Poluição da água 97 76 35 —
Perspectivas futuras
Para sermos cidadãos responsáveis, precisamos adotar práticas de recicla-
gem, coleta seletiva e redução do consumo de recursos naturais, e temos que ir
além: informar outras pessoas, exigir atitudes e posicionamentos dos governos,
54
Resíduos sólidos e cidadania II
mostrar que somos consumidores conscientes e que queremos o melhor para nos-
sa família, e principalmente para o planeta.
Vale lembrar aqui novamente dos cinco Rs: Repensar, Reutilizar, Reciclar,
Reduzir e Recusar.
Repense seus hábitos e atitudes com relação aos recursos naturais.
Procure reutilizar tudo o que ainda tiver proveito, e quando achar que não
serve mais, mande para a reciclagem. Reduza o consumo dos recursos naturais no
seu dia a dia e recuse produtos que agridem o meio ambiente, por eles mesmos ou
devido ao seu respectivo processo de fabricação.
Além disso, informe, ensine outras pessoas. Somos responsáveis pela saúde
do planeta, mas temos a obrigação de agir localmente. Não podemos mudar o
mundo todo de uma vez, mas podemos começar pela nossa casa, pela nossa escola
ou ambiente de trabalho, pela nossa cidade.
São vários os exemplos, espalhados por diferentes países, de ações que bus-
cam equacionar de uma forma mais “amigável” a questão da produção de resíduos
sólidos. A Suécia, somente para citar um destes, é o maior produtor mundial de
veículos automotivos. Lá, as fábricas recebem de volta os carros que não estão
mais em condições de trafegar e utilizam suas partes na fabricação de novos auto-
móveis. O proprietário que devolver seu carro velho recebe um valor em dinheiro
como premiação. Desse modo, barateia-se o custo de produção comprando-se ma-
téria-prima de segunda mão, e não é preciso ter depósitos para os carros velhos.
Aqui no Brasil, as bandejas de isopor4 são utilizadas pelos fumicultores 4 O nome Isopor é marca re-
gistrada da Knauf-Isopor
e designa comercialmente o
para a germinação das sementes de tabaco. Depois de germinadas, as mudas são material fabricado por essa em-
transplantadas para o campo. Dessa maneira, não é mais necessária a utilização presa. Quimicamente, o isopor
chama-se poliestireno expan-
do brometo de metila5, que antes era utilizado na prevenção das pragas. Essa é dido ou EPS (sua sigla interna-
cional).
uma experiência iniciada no estado do Rio Grande do Sul e que hoje é utilizada
por 90% dos produtores do país. No entanto, as bandejas que têm vida útil de três
ou quatro safras estavam sendo descartadas de forma incorreta pelos produtores 5 O brometo de metila é uma
substância prejudicial à ca-
mada de ozônio e seu uso está
agrícolas. Nas últimas sete safras, utilizaram-se cerca de 6 milhões de bandejas. sendo banido em todo o plane-
ta, pelo Protocolo de Montreal
Com iniciativa da Associação Brasileira do Poliestireno Expandido (Abrapex), em (1987).
Conclusão
A quantidade de lixo no Brasil ainda não é das maiores do mundo. No en-
tanto, o exemplo dos países desenvolvidos serve de aviso para nós brasileiros. Mu-
dar nossos hábitos de consumo para reduzir a quantidade de lixo mandado para os
aterros e lixões é um passo importantíssimo. Escolher produtos em embalagens
recicláveis e consumir apenas o necessário, além de separar o lixo e entregá-lo aos
postos de coleta seletiva ou ao sistema de transporte do lixo, também devem fazer
parte do dia a dia dos cidadãos. O fato de existir um símbolo de reciclável na em-
balagem que você leva para sua casa não significa que ela será automaticamente
reciclada, principalmente se ela for mandada junto com o lixo orgânico para um
aterro ou lixão. As atitudes tomadas por nós hoje serão refletidas, no futuro, em
um país mais limpo e em um ambiente mais saudável.
O dia 13 de abril de 2005 marcou a partida de uma importante contribuição do Brasil para
o desenvolvimento tecnológico, o meio ambiente e a geração de emprego e renda. As empresas
56
Resíduos sólidos e cidadania II
Klabin, Tetra Pak, Alcoa e TSL Ambiental inauguraram, em Piracicaba (SP), uma nova planta de
reciclagem de embalagens cartonadas que utiliza tecnologia de Plasma para separação total do
alumínio e do plástico.
Esse processo revoluciona o modelo atual de reciclagem das caixinhas longa vida, que até
então separava o papel, mas mantinha o plástico e o alumínio unidos. O embrião do projeto de
Plasma nasceu no Brasil há cerca de sete anos, com uma parceria entre o Grupo de Plasma do
Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), da Universidade de São Paulo, e a Tetra Pak.
Para a construção da planta – que é operacionalizada pela TSL Ambiental – foram investi-
dos cerca de 12 milhões de reais, compartilhados entre as quatro empresas. O processo consiste
em aplicar energia elétrica para produzir um jato de plasma a 15 000ºC, que aquece a mistura
de plástico e alumínio. O plástico é, então, transformado em composto parafínico e o alumínio é
totalmente recuperado na forma de lingotes de alta pureza.
A emissão de poluentes na recuperação dos materiais é próxima a zero, e o processo apresen-
ta eficiência energética de cerca de 90%.
A Klabin possui uma fábrica para reciclar a camada de papel das embalagens cartonadas
vizinha à planta de Plasma, e é a responsável pelo fornecimento do alumínio com o plástico. Há
capacidade para processar 8 000 toneladas por ano desse material – o que equivale à reciclagem
de 32 mil toneladas de embalagens longa vida. O lingote será encaminhado para a Alcoa – forne-
cedora da folha fina de alumínio – e será direcionado para a produção de uma nova caixinha. Já a
parafina será comercializada para a indústria petroquímica nacional e poderá ter várias utilidades,
como a fabricação de detergentes.
57
Resíduos sólidos e cidadania II
1. Reflita sobre sua atitude diante do assunto resíduos sólidos e cidadania. Repense seus hábitos
e a forma como você trata o lixo em casa. Liste a seguir pontos que você, como cidadão, pode
melhorar.
3. Discuta com a classe maneiras de se reaproveitar o lixo ou meios de atingir outras pessoas e
sensibilizá-las com a questão do lixo. Liste abaixo as ideias que lhe pareceram mais viáveis.
D
esde que o homem começou a praticar a agricultura, há cerca de 10 mil
anos, vem provocando alterações no solo dos locais por onde passa. Essas
alterações têm sido tanto mais severas quanto têm avançado as tecnolo-
gias voltadas ao aumento da produção agrícola. Mas esse não é o único uso que
o homem faz do solo. O solo tem sido utilizado também para erguer cidades e
explorar minérios, e invariavelmente essas atividades estão associadas a algum 1 Conjunto de processos
que ocasionam a desin-
tegração e a decomposição
tipo de degradação, sendo as consequências mais comuns a erosão, a contamina- dos minerais em geral, pela
ção de aquíferos e o assoreamento dos rios, canais e lagos. Em geral, a retirada ação de agentes atmosféricos
e biológicos. É sinônimo de
da vegetação nativa, seja ela uma floresta ou um campo, é o primeiro passo para meteorização.
O solo apresenta três fases: sólida, líquida e gasosa. As fases líquida e gaso-
sa preenchem os espaços entre os corpos tridimensionais da fase sólida. O ar que
4 Trata-se de um silicato de
alumínio, cálcio e mag-
nésio hidratado, associados a
compõe a fase gasosa é composto por gases atmosféricos e gases provenientes das minerais presentes na argila,
resultante da intemperização
reações que ocorrem no sistema água-solo-planta. Na fase líquida, a retenção da de rochas ígneas efusivas,
metamórficas e sedimentares
água está relacionada ao tipo de solo, mais especificamente às suas características em ambientes mal drenados
(MACHADO; MOREIRA;
físicas e químicas. ZANARDO et al., 2005).
Horizonte A
Horizonte B
Horizonte C
Rocha matriz
(a) (b) (c)
Figura 1 – Perfil esquemático de três tipos de solo: (a) solo sob floresta de coníferas (Coniferous
forest), na qual o folhedo decompõe-se lentamente resultando em um horizonte superficial ácido e com
pouca matéria orgânica humificada; (b) solo sob floresta caducifólia (Deciduous forest), na qual o folhedo
decompõe-se mais rapidamente e forma um solo mais fértil, com mais matéria orgânica; (c) solo sob campo
(grassland) onde há uma camada orgânica bastante espessa, resultante da morte anual das partes aéreas
das plantas e consequente acúmulo sobre o solo.
Tipos de solos
Cambissolo – classe de solo com horizonte B incipiente, não hidromór-
fico, ou seja, sem efeito direto da ação da água, com uma sequência inci-
piente de horizontes.
60
O uso do solo
61
O uso do solo
Os ciclos biogeoquímicos
Os nutrientes inorgânicos, como o nitrogênio, o fósforo e o cálcio, são es-
senciais para o crescimento e para o metabolismo dos seres vivos. Esses nutrientes
são incorporados de diferentes formas e mais tarde retornam para o ambiente,
geralmente quando o indivíduo morre e entra em decomposição. Isso também
acontece com o carbono, por exemplo, presente na atmosfera como dióxido (CO2)
ou monóxido de carbono (CO). O dióxido de carbono é a fonte de carbono para
as plantas, passando a compor moléculas de carboidratos através do processo de
62
O uso do solo
A degradação do solo
e a qualidade de vida
A ocupação dos solos pelas cidades, a completa desestruturação A ocupação urbana e
do solo e seu isolamento provocam o que se chama de impermeabili- as atividades agríco-
zação urbana. Normalmente, a água que cai sobre o solo é drenada las são as principais
para um aquífero, rio ou lago. Nos solos urbanos, o asfalto, as calçadas
causas da degrada-
e as construções atuam como barreiras, não deixando que a água seja
ção dos solos.
63
O uso do solo
drenada para o solo e deste para a alimentação da bacia hidrográfica. Para permitir
que haja essa drenagem, são construídas tubulações e galerias pluviais que levam
a água até um ponto de escoamento para algum rio. Frequentemente ocorre o acú-
mulo de lixo e sedimentos nessas tubulações, tendo como resultado uma diminui-
ção da capacidade de drenagem do sistema, provocando as enchentes nos períodos
mais chuvosos.
Os deslizamentos de encostas em regiões montanhosas é outro problema
urbano decorrente do uso inadequado do solo. Os deslizamentos de terra podem
ocorrer naturalmente e são importantes modelando a paisagem da superfície ter-
restre. Porém, com a interferência humana, principalmente com a ocupação desor-
denada de áreas de risco, os deslizamentos ocorrem e causam grandes prejuízos.
Em 1993, segundo dados da Defesa Civil da ONU, os deslizamentos de terra
causaram 2 517 mortes no mundo, ficando em terceiro lugar entre os desastres
naturais que mais afetam a humanidade. Nas grandes cidades brasileiras, têm sido
um problema frequente, sendo suas principais causas os cortes de encostas para
implantação de moradias e estradas, a remoção da vegetação nas encostas mais
íngremes, atividades de mineração, disposição final inadequada do lixo e dos es-
gotos domésticos.
Nas áreas rurais, os principais fatores de degradação do solo são a erosão e
a contaminação química com adubos e defensivos agrícolas.
A erosão é provocada basicamente pela falta de proteção do solo, combi-
nada à ação das chuvas, ventos e temperatura. Alguns solos são mais frágeis e
suscetíveis à erosão do que outros, e são mais rapidamente degradados pela ação
do tempo. Quando a cobertura vegetal é retirada, a umidade do solo diminui e
consequentemente sua fauna e microfauna também diminuem. Com a perda de
matéria orgânica, responsável em grande parte pela agregação do solo, este fica
menos agregado, facilitando a remoção dos grãos pela ação do vento e da chuva.
Menos estável e compactado, o solo perde a porosidade e tem menor taxa de infil-
tração da água, aumentando o escoamento superficial e diminuindo a resistência
ao impacto das gotas de chuva.
Erosão
As matas ciliares, isto é, as florestas que acompanham o curso dos rios,
protegem os solos contra o fluxo superficial de sedimentos e evitam que parte do
solo erodido seja levado para dentro dos rios. Essa proteção contribui para evitar
o assoreamento dos rios, evidenciado pela diminuição da profundidade do rio e
consequente aumento de sua largura.
Outra consequência possível da supressão da cobertura vegetal é a desertifi-
cação, entendida como a diminuição drástica do potencial biológico da terra pela
perda de água, levando a condições ambientais semelhantes a desertos. No Brasil,
até os anos 1970, as observações de desertificação restringiam-se ao semiárido
nordestino. Porém, hoje se sabe que existem outros núcleos de desertificação em
vários locais do território brasileiro, como, por exemplo, no extremo sudoeste do
Rio Grande do Sul.
64
O uso do solo
arsênico e flúor e que agem por contato, matando a praga por asfixia. Os pesticidas
orgânicos podem ser de origem vegetal ou sintéticos. Os de origem vegetal são de
baixa toxicidade e de curta permanência no ambiente, sendo utilizados em algu-
mas práticas agroecológicas, como o piretro, extraído do crisântemo, e a rotenona,
extraída do timbó. Os pesticidas orgânicos sintéticos (organossintéticos) persistem
por muitos anos nos ecossistemas, contaminando-os e trazendo uma série de pro-
blemas de saúde para os seres humanos.
66
O uso do solo
67
O uso do solo
70
O uso do solo
71
O uso do solo
Ao ser introduzido para uso no combate a pragas, o DDT – o mais poderoso pesticida que o
mundo já conhecera – terminou por mostrar que a natureza é vulnerável à intervenção humana.
A maior parte dos pesticidas é efetiva contra um ou outro tipo de insetos, mas o DDT era capaz
de destruir de imediato centenas de espécies diferentes de insetos. O DDT, cujo inventor recebeu
o Prêmio Nobel, tornou-se conhecido durante a Segunda Guerra Mundial, quando foi usado pelas
tropas americanas contra insetos causadores da malária. Ao mesmo tempo, na Europa, começou a
ser usado sob a forma de pó, eficiente contra pulgas e outros pequenos insetos.
No livro Silent Spring (Primavera Silenciosa), lançado em 1962, Rachel Carson mostrou
como o DDT penetrava na cadeia alimentar e acumulava-se nos tecidos gordurosos dos animais,
inclusive do homem (chegou a ser detectada a presença de DDT até no leite humano!), com o risco
de causar câncer e dano genético.
A grande polêmica movida pelo instigante e provocativo livro é que não só ele expunha os
perigos do DDT, mas questionava de forma eloquente a confiança cega da humanidade no progres-
so tecnológico. Dessa forma, o livro ajudou a abrir espaço para o movimento ambientalista que se
seguiu. Juntamente com o biólogo René Dubos, Rachel Carson foi uma das pioneiras da conscien-
tização de que os homens e os animais estão em interação constante com o meio em que vivem.
Quando o DDT se tornou disponível para uso também por civis, poucas pessoas desconfiavam
do miraculoso produto, talvez apenas aquelas que eram ligadas a temas da natureza. Uma dessas pes-
soas foi o escritor E. W. Teale, que advertia: “Um spray que atua de forma tão indiscriminada como o
DDT pode perturbar a economia da natureza tanto quanto uma revolução perturba a economia social.
Noventa por cento dos insetos são benéficos e, se são eliminados, as coisas em pouco tempo fogem
do controle”.
Outra dessas pessoas foi Rachel Carson, que propôs um artigo para o Reader’s Digest falando
sobre a série de testes que estavam sendo feitos com o DDT próximo de onde ela vivia, em Ma-
ryland. A ideia foi rejeitada.
Treze anos mais tarde, em 1958, a ideia de Rachel de escrever sobre os perigos do DDT
teve um novo alento, quando ela soube da grande mortandade de pássaros em Cape Cod, causa-
da pelas pulverizações de DDT. Porém, seu uso tinha aumentado tanto desde 1945 que Rachel
não conseguiu convencer nenhuma revista a publicar sua opinião sobre os efeitos adversos do
DDT. Ainda que Rachel já fosse uma pesquisadora e escritora reconhecida, sua visão do assun-
to soava como uma heresia.
73
O uso do solo
1. Relacione a seguir as vantagens e desvantagens da agricultura convencional, que utiliza adubos e de-
fensivos químicos (agrotóxicos). Compare-a com a agricultura orgânica e suas principais técnicas.
74
O uso do solo
2. Cite as principais formas de uso sustentável do solo, comentando as vantagens de cada técnica.
3. Forme um grupo de três pessoas e discuta como um cidadão, que não é um agricultor, pode agir
para amenizar os impactos de suas ações sobre o solo.
4. Organize os principais pontos da discussão e apresente uma síntese das ideias do grupo para o
restante da turma.
75
O uso do solo
GUERRA, Antonio José Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista da (Org.). Geomorfologia e Meio Am-
biente. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. 372p.
Esse livro trata das relações entre a geomorfologia, ou seja, o estudo das diferentes feições da
Terra, e o meio ambiente, considerando seus diversos aspectos e elementos. São vários temas trata-
dos, sendo uma consulta fundamental para profissionais e estudantes que têm interesse na ocupação
da superfície terrestre e na consequente degradação dos ambientes naturais, de forma a aplicar esses
conhecimentos na melhoria da gestão ambiental.
Disponível em: <www.planetaorganico.com.br>.
Esse site trata de assuntos ligados ao tema conservação do solo, como as implicações do uso de
agrotóxicos, a compostagem e a agricultura orgânica, mostrando ainda técnicas e informações sobre
os produtos orgânicos. O site tem um glossário para os termos utilizados no texto, facilitando assim a
compreensão, mesmo daqueles que nunca tiveram contato direto com o assunto.
Disponível em: <www.estadao.com.br/ext/ciencia/zonasderisco/dano.htm>.
Esse é o site oficial do jornal O Estado de São Paulo e traz informações sobre produtos tóxicos
normalmente usados em produtos de limpeza ou agrotóxicos, entre outros. São informações sobre
o que são esses produtos, onde são encontrados, qual a sua origem, os impactos ambientais que sua
utilização provoca e os riscos à saúde humana.
Disponível em: <www.taps.org.br/aorganica17.htm>.
A TAPS (Temas Atuais na Promoção da Saúde) é um centro de estudos que mantém uma bi-
blioteca e um website abrangendo diversas áreas relacionadas com a saúde. Nesse site, encontram-se
diversos temas relacionados à saúde, além de curiosidades, perguntas e respostas pertinentes ao tema
alimentação, envolvendo produção orgânica de alimentos e outras técnicas e hábitos alimentares.
76
Efeito estufa
A atmosfera
A
Terra é circundada por uma camada gasosa espessa denominada atmosfe-
ra. Ela é formada por vários estratos que contribuem para a conservação
da temperatura do planeta e a filtração dos raios solares. Uma série de
fenômenos importantes se processa na atmosfera, como os deslocamentos de mas-
sas de ar e os ventos, as precipitações meteorológicas e as mudanças do clima.
A atmosfera é composta por diferentes camadas, formadas basicamente pe-
los mesmos gases. As camadas da atmosfera são:
troposfera – camada que está em contato direto com a superfície ter-
restre. Situa-se desde zero quilômetros até 17 quilômetros de altura, na
região entre os trópicos, e até cerca de 7 quilômetros nos polos. Essa
é a camada onde acontecem os fenômenos climáticos e onde os seres
vivos conseguem respirar normalmente. O ar nessa camada é composto
78% por gás nitrogênio (N2), 21% por gás oxigênio (O2), 0,93% por ar-
gônio (Ar), 0,03% por gás carbônico (CO2) e 0,04% por outros gases1. 1 Os outros gases que com-
põem a atmosfera são:
Hélio (He), Ozônio (O3), Hi-
Além disso, pode-se encontrar cinzas, micro-organismos, poeira e vapor drogênio (H), Criptônio (Kr),
d’água. Metano (CH4), Xenônio (Xe)
e Radônio (Rn).
78
Efeito estufa
efeito estufa natural, a atmosfera mantém sua temperatura cerca de 33ºC mais
quente do que seria se não houvesse a retenção do calor pelas moléculas de gás
carbônico e água.
O aquecimento do ar, da terra e da água proporcionam os movimentos do ar
na atmosfera e da água nos oceanos. Os deslocamentos do ar2 são determinantes 2 Os deslocamentos do ar
na horizontal são cha-
mados de ventos, e os des-
na distribuição do calor e da umidade na atmosfera, pois ativam a evaporação e locamentos na vertical, de
79
Efeito estufa
Tempo de 50-200 anos meses semanas e 60-100 anos 150 anos 10 anos
vida na meses
atmosfera
Taxa anual 0,5% 0,7-1,0% 0,5-2,0% 4% 0,3% 0,9%
de aumento
Contribuição 60% 8% 12% 5% 15%
relativa ao
efeito estufa
80
Efeito estufa
Os átomos de carbono ficam disponíveis para os demais níveis tróficos da água. Sua distribuição vertical
é restrita à zona eufótica (com
luz), onde graças à presença
cadeia alimentar. Ao serem ingeridos, os compostos orgânicos são degradados até de energia luminosa, realiza o
formar novamente dióxido de carbono e água. processo fotossintético.
81
Efeito estufa
tais, são carboidratos, isto é, substâncias à base de carbono. Por isso, quando esses
seres vivos são queimados, há uma grande liberação de dióxido de carbono para
a atmosfera.
A combustão em um motor de automóvel libera a energia contida nos com-
bustíveis para que o motor funcione. Combustíveis provenientes do petróleo,
como a gasolina e o diesel, também são ricos em carbono. Observe a reação de
combustão da gasolina (C8H18):
Consequências
Durante os últimos 70 anos, a temperatura da superfície da Terra apresentou
um aumento médio de 0,6ºC. As cidades europeias tiveram um aumento de pelo
menos 1ºC na temperatura máxima nos últimos 30 anos. Madri registrou tempe-
raturas 2ºC mais altas do que durante os anos 1970. Outras cidades europeias que
tiveram grande aumento da temperatura foram Londres, Paris, Estocolmo, Lisboa
e Atenas, nas quais as temperaturas registradas estavam 1,5ºC mais altas.
O aumento da temperatura modifica o padrão de movimentação do ar no
globo terrestre, e consequentemente muda o regime de chuvas e de circulação dos
oceanos. A mudança climática pode diminuir a disponibilidade de água doce, a
produção e a distribuição de alimentos, a propagação sazonal de doenças infeccio-
sas transmitidas por vetores, como a malária, a dengue e a esquistossomose.
Estimativas baseadas em pesquisas científicas apontam que, em 2050, a re-
gião amazônica poderá estar 5 ou 6ºC mais quente do que é hoje, ocasionando
mais chuvas para a região Sul e menos chuvas para a região Nordeste.
Outra consequência do aumento de temperatura é o degelo das calotas po-
lares e das neves das montanhas. O derretimento do gelo dos polos vai ocasionar
um aumento do nível dos oceanos, além de alterar a salinidade da água. Esses
82
Efeito estufa
Medidas mitigadoras
Protocolo de Kyoto
Em 1997, na 3.ª Conferência das Partes no Japão, os países industriali-
zados comprometeram-se a reduzir suas emissões de gases do efeito estufa em
83
Efeito estufa
pelo menos 5%, em relação aos índices registrados em 1990. Esse compromisso é
chamado de Protocolo de Kyoto. O primeiro período do compromisso é de 2008 a
2012. Cada país tem uma meta específica a ser alcançada. Os Estados Unidos não
aderiram ao Protocolo, mesmo sendo responsáveis por 25% da emissão total dos
gases de efeito estufa.
Três instrumentos de cooperação, também conhecidos como “mecanismos
flexíveis”, foram adotados para atingir os objetivos da redução: o comércio de
4 Em inglês, o IC é conheci-
do como Joint Implemen-
tation (JI).
emissões, a implementação conjunta4 (IC) e o mecanismo de desenvolvimento
limpo5(MDL).
No IC, os países industrializados comprometidos com a redução de emissão
dos gases do efeito estufa receberão créditos por financiar projetos que diminuam
5 Em inglês, o MDL é conhe-
cido como Clean Develop-
ment Mechanism (CDM). ou revertam a emissão desses gases. Os projetos poderão ser desenvolvidos ape-
nas em países que tenham assinado o compromisso. Os projetos de IC estão sendo
desenvolvidos no leste da Europa e na ex-União Soviética, sendo financiados pela
União Europeia, Canadá e Japão.
No MDL, países industrializados podem investir em projetos que diminuam
ou revertam a emissão de gás carbônico na atmosfera. Com isso, esses países re-
cebem créditos de carbono, ou seja, podem descontar esses créditos na quantidade
de CO2 emitida em seu território, e assim atingir a meta estabelecida pelo Proto-
colo. Os projetos podem ser desenvolvidos em outros países que não participem
do Protocolo de Kyoto.
Alguns países em desenvolvimento, como o Brasil, a China e a Índia, estão
entre os maiores emissores atuais de CO2. No entanto, até 2012, eles não têm me-
tas de redução e sua participação está restrita ao MDL.
Aqui estão alguns exemplos de projetos para redução ou reversão da emis-
são de gás carbônico na atmosfera:
substituição dos ônibus de transporte coletivo urbano movidos a diesel
por ônibus elétricos;
transformação dos lixões em aterros sanitários, com tratamento do bio-
gás (metano);
sequestro de carbono, ou seja, usar plantio de árvores para captar e assi-
milar o CO2 atmosférico;
utilização de outras fontes energéticas, como a solar ou a eólica, entre
outras.
84
Efeito estufa
Sequestro de carbono
As florestas em crescimento absorvem mais dióxido de carbono do que flo-
restas maduras ou em declínio. Isso se explica por causa da taxa de fixação do
carbono através da fotossíntese, que é maior quando uma planta está crescendo.
Quando uma floresta está madura, a taxa de fotossíntese é compensada pela taxa
de respiração das plantas. Desse modo, a quantidade de dióxido de carbono fixado
durante a fotossíntese acaba retornando para a atmosfera através da respiração da
planta. Entretanto, esse fato não pode ser usado como desculpa para o desmata-
mento, pois a retirada da cobertura vegetal também interfere no efeito estufa.
Os projetos de sequestro de carbono têm o objetivo de recuperar áreas degra-
dadas, através do plantio de árvores que assimilarão o carbono atmosférico. Isso
também se aplica à preservação de áreas florestais com riscos de serem destruídas.
Entre as práticas agrícolas que restauram a capacidade dos solos como
reservatório de carbono podem ser citadas: reflorestamento, cultivo de culturas
perenes (culturas extrativistas, como seringueira, cacau, castanhas, fruticultura
etc.), uso adequado de fertilizantes químicos e adubos orgânicos, pastagens bem
manejadas, agrofloresta e práticas de conservação do solo.
85
Efeito estufa
86
Efeito estufa
agora com a adesão dos russos ao Protocolo de Kyoto, o que deverá emprestar um novo impulso
à questão. O Brasil, por conta do clima e das amplas extensões territoriais, deve estar atento aos
diversos aspectos em torno das propostas e dos acordos internacionais voltados à mitigação das
mudanças climáticas.
Por ocasião da 9.ª Conferência das Partes da Convenção do Clima, ocorrida em Milão, em
2003, instituições governamentais e não governamentais brasileiras envolveram-se em exaustivas
discussões acerca da possibilidade de se utilizar áreas ciliares, protegidas pelo Código Florestal,
para o desenvolvimento de projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo – MDL.
O resultado dessa mobilização foi um acordo internacional que acena com a possibilidade de
se desenvolver projetos de reflorestamento ao longo de corpos d’água, com base no MDL, promo-
vendo a proteção do meio ambiente, a conservação da biodiversidade, da água e dos solos e, ao
mesmo tempo, gerando créditos de carbono.
Não se trata de adicionar ou contrapor ao Código Florestal nenhum novo dispositivo, nem
mesmo de reinterpretá-lo, mas apenas de viabilizar programas de recuperação de áreas degradadas
e restauração de florestas nativas em grande escala, promovendo a absorção e fixação de carbono,
além dos ganhos para o meio ambiente.
Levantamento da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo estima em mais de 1
milhão de hectares de áreas marginais aos corpos d’água, que se encontram desprovidas da pro-
teção oferecida pela vegetação ripária, que, além de proteger a água e o solo, reduziria o assorea-
mento dos rios e o aporte de poluentes, criaria corredores para o fluxo gênico entre remanescentes
florestais, abrigaria e alimentaria espécies da fauna nativa e estabeleceria barreiras contra a disse-
minação de pragas e doenças nas culturas agrícolas.
Mas somente para recuperar as matas ciliares paulistas seria necessário produzir, plantar e
manter mais de 2 bilhões de mudas. É nesse ponto que os programas e projetos com o objetivo de
recuperar essas áreas apresentam a sua maior fragilidade: a insuficiência de recursos financeiros,
o que poderia ser contornado com a remuneração pela absorção e fixação de carbono por florestas
ciliares, em conformidade com o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), previsto pelo
Protocolo de Kyoto, e que poderá impulsionar de forma extraordinária as ações de reflorestamento
com espécies nativas em São Paulo.
É em tal contexto que a Secretaria de Meio Ambiente está implementando o Programa de Re-
cuperação de Matas Ciliares, para o qual já obteve o apoio do GEF – Global Environment Facility
– aguardando-se apenas a aprovação final, com previsão de implementação do projeto já em 2005.
O projeto prevê a realização de estudos para a valoração dos serviços ambientais prestado
pelas florestas ciliares, especialmente o sequestro de carbono. Estão em desenvolvimento, no mo-
mento, estudos para suprir a carência de informações, além da análise e adequação de metodologias
para a definição da linha de base e para avaliar e monitorar os estoques de carbono absorvido por
matas ciliares.
As informações produzidas serão divulgadas e disponibilizadas sob a forma de um guia de
orientação, de modo a possibilitar sua aplicação por instituições públicas e privadas, para que pos-
sam propor projetos de recuperação de matas ciliares que gerem créditos de carbono.
A nossa expectativa é de que, dessa maneira, se consiga reduzir custos e dissipar incertezas de
modo a viabilizar o aporte de recursos do “mercado de carbono” para a recuperação de matas ciliares.
87
Efeito estufa
2. Forme um grupo de três pessoas e relacionem quais são as atitudes que cidadãos comuns podem
tomar para evitar a emissão de gases do efeito estufa.
3. Compartilhe suas ideias com a turma toda. Relacione as melhores ideias que podem ser usadas
em um programa de Educação Ambiental.
88
A camada de ozônio
A
atmosfera é responsável pela vida na Terra, pois impede que o calor rece-
bido do Sol seja totalmente dissipado para o espaço. Os gases que consti-
tuem a atmosfera são provenientes de várias reações químicas, entre elas
as que ocorrem no metabolismo dos seres vivos. O gás carbônico, por exemplo,
proveniente da respiração dos seres vivos, é responsável pela absorção da radiação
infravermelha, aquecendo a troposfera. O ozônio é um outro gás também respon-
sável pela vida, pois filtra a radiação solar nociva, a radiação ultravioleta.
O ozônio está presente na troposfera em uma quantidade bem pequena. No
entanto, é na estratosfera que ele aparece em maior quantidade, formando uma
camada de cerca de 15 quilômetros de espessura (entre 20 e 35km de altura no
Equador e 14 e 30km nos polos). O ozônio começou a acumular-se na estratosfera
há cerca de 400 milhões de anos, permitindo com isso o desenvolvimento da vida
no planeta até as formas que conhecemos hoje. A radiação ultravioleta provoca
mudanças na constituição genética dos seres vivos, por isso se diz que a vida é
frágil perante esse tipo de radiação.
Radiação solar
De todo o espectro solar, os seres humanos são capazes de enxergar apenas
a parte conhecida como luz branca ou luz visível. Essa luz corresponde à faixa do
espectro solar compreendida entre o vermelho e o violeta, passando por todas as
cores do arco-íris. A parte do espectro que é barrada na camada de ozônio é aque-
la compreendida entre 400 e 100 nanômetros, chamada de radiação ultravioleta, e
esta ainda é separada em três tipos:
Radiação ultravioleta A – corresponde à faixa do espectro solar que
varia do comprimento de onda de 400 até 320 nanômetros. Não é barrada
na atmosfera e, apesar de menos nociva, também pode causar danos aos
seres humanos. A ultravioleta A pode causar o eritema solar (vermelhi-
dão na pele). Além disso, potencializa a ação da ultravioleta B.
Radiação ultravioleta B – corresponde à faixa do espectro solar que varia
do comprimento de onda de 320 até 280 nanômetros. Nos seres humanos,
sabe-se que a ultravioleta B provoca envelhecimento precoce, eritema
solar, queimaduras, imunossupressão1 e câncer de pele. 1 O estado no qual o siste-
ma imunológico é supri-
mido, deixando o indivíduo
Radiação ultravioleta C – corresponde à faixa do espectro solar que mais suscetível à ação dos
agentes patogênicos.
varia do comprimento de onda de 280 até 100 nanômetros. Essa radiação
não atinge a superfície terrestre e não se sabe ao certo quais são suas
ações sobre organismos vivos.
A camada de ozônio
90
A camada de ozônio
A causa da destruição
Alguns produtos são considerados responsáveis pela destruição da camada
de ozônio. O clorofluorcarbono (CFC), usado nos aerossóis e como gás refrigerante
em aparelhos de ar-condicionado e refrigeradores; óxidos de nitrogênio, provenien-
tes da desnitrificação do solo; e o metilbrometo, usado como pesticida e conservan-
te de produtos – são alguns gases que podem destruir a camada de ozônio.
Quando esses gases chegam até a estratosfera, as moléculas são quebradas
pela radiação ultravioleta, liberando os átomos que as compõem. Um átomo de
cloro, por exemplo, consegue destruir cerca de 100 mil moléculas de ozônio.
Quando há a presença de átomos que reagem facilmente com o
Mas o ozônio não
oxigênio, a velocidade de produção é mais baixa que a de destruição
do ozônio, pois quando o oxigênio O2 tem seus átomos separados está o tempo todo
pela radiação ultravioleta, estes reagem com as outras substâncias sendo produzido e
presentes e não formam o ozônio como acontece normalmente. destruído?
Além disso, outro fato terrível é que a molécula de CFC é bastante estável,
permanecendo na atmosfera entre 60 e 100 anos. Ou seja, na metade do século
XXI, mesmo que o uso de CFC seja banido, o que foi lançado no século XX ainda
vai estar atuando sobre a camada de ozônio.
Em 1987, o Programa das Nações Unidas para Proteção do Meio Ambiente
conseguiu a adesão de 31 países no Protocolo de Montreal, o qual determinou que
a produção mundial de CFC deveria cair pela metade até o ano 2000. Dois anos
depois do Protocolo de Montreal, mais 50 países aderiram, inclusive o Brasil. Os
países decidiram que até o ano 2000 a produção de CFC deveria ser totalmente
interrompida. Alemanha, Dinamarca e Holanda interromperam a produção desse
gás em 1994, os EUA pararam sua produção em 1996. A previsão é que os países
em desenvolvimento parem de produzir o gás até 2010.
Outras substâncias nocivas à camada de ozônio ainda precisam de mais
atenção, como: tetracloreto de carbono, utilizado como solvente; clorofórmio, uti-
lizado como anestésico e solvente; dióxido de nitrogênio, usado na produção do
ácido nítrico e produzido naturalmente por bactérias desnitrificantes, que têm sua
ação acentuada por causa do uso exagerado de fertilizantes no solo.
Para entender por que a camada de ozônio está sendo destruída apenas em
alguns locais, é preciso entender a movimentação do ar no globo terrestre.
Na região do Equador, onde a incidência da radiação solar é mais intensa,
ocorre a ascensão das massas de ar e isso gera um deslocamento da Por que o buraco
atmosfera. O movimento de rotação da Terra, combinado a essa as- na camada de
censão, gera os padrões de deslocamento atmosférico mostrados na ozônio é maior na
figura.
Antártida?
91
A camada de ozônio
Células de Células de
Hadley Hadley
Na faixa dos trópicos, conhecidos como Centros de Alta Pressão, esse des-
locamento ocorre tanto em direção ao Equador como em direção aos polos, onde
as massas de ar descrevem um movimento circular em torno de um ponto deno-
minado Vórtex Polar. É justamente nessa região que se acumulam diversos gases,
entre os quais aqueles responsáveis pela destruição do ozônio.
As consequências
da destruição da camada de ozônio
As principais consequências da destruição da camada de ozônio para os
2 s.f. Turvação do cristalino
(a lente do olho) – Muitas
cataratas principiam pelo
seres vivos são as queimaduras e o câncer de pele. Além disso, a catarata2 e a
queda do sistema imunológico, deixando os indivíduos mais suscetíveis a doenças
aparecimento de pequeninas
manchas no cristalino, as causadas por patógenos.
quais interferem ligeiramente
na visão. Podem causar a ce- A radiação ultravioleta B é altamente oxidante, podendo modificar a estrutu-
gueira quando se estendem a
todo o cristalino, que fica de ra genética das células, dependendo do tempo de exposição. Uma das consequên-
um branco leitoso e opaco. As
cataratas ocorrem por várias cias mais graves é o desenvolvimento do melanoma maligno, tipo de câncer que
razões: velhice (catarata se-
nil); inflamações oculares ou
pode levar à morte.
ferimento no olho; diabetes;
perturbações do funciona-
mento da glândula paratireoi-
de; ou ainda a criança pode
nascer com a doença (catarata
A Agência Norte-Americana de Proteção Ambiental estima que 1% de re-
congênita). ©2002 Enciclopé-
dia Koogan Houaiss Digital.
dução da camada de ozônio provocaria um aumento de 5% no número de pesso-
Segundo dados da Organiza- as que contraem câncer de pele. Em setembro de 1994, foi divulgado um estudo
ção Mundial de Saúde, entre
12 e 15 milhões de pessoas realizado por médicos brasileiros e norte-americanos, no qual se demonstrava
estão cegas, no mundo intei-
ro, devido à catarata, cerca que cada 1% de redução da camada de ozônio desencadeava um crescimento
de 20% desse total (mais ou
menos 3 milhões) podem ter
específico de 2,5% na incidência de melanomas. A incidência de melanoma,
tido como causa a exposição aliás, já está aumentando de forma bastante acelerada. Entre 1980 e 1989, o nú-
excessiva aos raios UV.
92
A camada de ozônio
mero de novos casos anuais nos Estados Unidos praticamente dobrou; segundo
a Fundação de Câncer de Pele, enquanto que em 1930 a probabilidade de as
crianças americanas terem melanoma era uma para 1 500, em 1988 essa chance
era uma para 135.
Em 1995, já se observava um aumento nos casos de câncer de pele e ca-
tarata em regiões do hemisfério Sul, como a Austrália, Nova Zelândia, África
do Sul e Patagônia. Em Queensland, no nordeste da Austrália, mais de 75%
dos cidadãos acima de 65 anos apresentam alguma forma de câncer de pele;
a lei local obriga as crianças a usarem grandes chapéus e cachecóis quando
vão à escola, para se protegerem das radiações ultravioleta. A Academia de
Ciências dos Estados Unidos calcula que apenas naquele país estejam sur-
gindo anualmente 10 mil casos de carcinoma de pele por causa da redução
da camada de ozônio. O Ministério da Saúde do Chile informou que desde
o aparecimento do buraco no ozônio sobre o Polo Sul, os casos de câncer de
pele no Chile cresceram 133%; atualmente, o governo fez campanhas para
a população utilizar cremes protetores para a pele e não ficar exposta ao Sol
durante as horas mais críticas do dia.
A radiação UV-B também inibe a atividade do sistema imunológico hu-
mano, o mecanismo natural de defesa do corpo. Além de tornar mais fáceis as
condições para que os tumores se desenvolvam sem que o corpo consiga com-
batê-los, supõe-se que haveria um aumento de infecções por herpes, hepatite e
infecções dermatológicas provocadas por parasitas (GEOMUNDO, 2005).
As plantas reagem à maior exposição aos raios UV-B diminuindo sua área
foliar e aumentando a espessura das mesmas; essa é uma reação bastante co-
mum. Entretanto, isso não é ruim, pois é um meio de proteção desenvolvido, ou
estimulado, pela maior presença de radiação UV-B. Por outro lado, o que mais
foi pesquisado foi a reação das plantas de interesse econômico, como a soja, que
apresenta uma diminuição na sua produção proporcional ao aumento da radiação
ultravioleta. O pinheiro que é plantado para a fabricação de papel, Pinus taeda,
apresentou menor crescimento com o aumento da radiação.
Nos ecossistemas aquáticos também há prejuízo, pois com maior incidência
de raios UV-B, o fitoplâncton, maior consumidor de gás carbônico do planeta, tem
sua produtividade reduzida, e consequentemente deixa de fixar o gás carbônico
em compostos orgânicos através da fotossíntese.
Na verdade, a clorofila, pigmento responsável pela fotossíntese, é degradada
quando exposta a intensa radiação solar. Logo, a planta perde parte de sua capaci-
dade de fotossintetizar, diminuindo seu metabolismo e retardando seu crescimen-
to, ou muitas vezes morrendo.
Há efeitos sobre os animais também, como larvas de peixes e nematódeos.
Já se constatou também que rebanhos apresentam um aumento de enfermidades
oculares, como conjuntivite e câncer, quando expostos a uma incidência maior
de UV-B.
93
A camada de ozônio
Medidas mitigadoras
e Educação Ambiental
A partir do momento em que se soube da destruição da camada de ozônio,
os países mobilizaram-se no sentido de tentar reverter a situação. Os primeiros
passos foram parar de usar o CFC e ensinar a população a se proteger da ação da
radiação UV-B.
De acordo com o IBGE, o Brasil reduziu em 21% o consumo de CFC no
período entre 1997 e 2000, colaborando com o Protocolo de Montreal, do qual é
signatário. Esse protocolo, criado em 1987, foi a primeira medida tomada pelos
países para evitar a total destruição da camada de ozônio.
As medidas de proteção contra a exposição da radiação ultravioleta incluem
roupas adequadas, chapéus e uso de filtros solares, de preferência com fator de
proteção alto. Para os olhos, óculos escuros com lentes antirraios UV.
É aconselhável não ficar ao Sol entre 10 e 14 horas, quando os níveis de
radiação ultravioleta estão no máximo (durante o horário de verão, esse período
ocorre entre 11 e 15 horas. Também se deve levar em conta as propriedades de
reflexão do solo. Grama, solo e água refletem menos de 10% dos raios UV inci-
dentes. A neve, porém, reflete 80%, enquanto a areia reflete entre 10% e 25%. É
importante lembrar que, apesar de fazê-lo menos intensamente, a radiação indire-
ta (o chamado mormaço) com o céu nublado também afeta a pele.
Outra informação importante é que a sensibilidade de cada pessoa à radia-
ção ultravioleta depende do tipo de pele, o qual é um fator genético que não se
modifica pela ação de agentes físicos e químicos. Ou seja, fazer bronzeamento
artificial ou usar os produtos “autobronzeadores” não vai proteger mais a pele da
radiação ultravioleta.
Além de usar protetor solar e óculos escuros para se proteger, é preciso pro-
teger o planeta Terra. Para isso, podemos mudar nossos hábitos e passar a consu-
mir produtos que não contenham CFC ou não utilizem gases nocivos à camada de
ozônio na sua formulação ou processo de produção. Por isso, é muito importante
manter-se atualizado com relação ao que acontece na sua cidade e no mundo para
poder agir como um cidadão responsável e multiplicador de informação.
Hoje, os gases dos aerossóis estão sendo substituídos por uma mistura de
propano e butano. Pode-se encontrar no rótulo do produto um selo indicando
que aquele produto não contém CFC. Muitos refrigeradores e aparelhos de ar-
-condicionado antigos ainda utilizam o CFC como gás refrigerante. No entanto, já
existem no mercado refrigeradores que possuem HFC (hidrofluorcarbono) e ciclo-
pentano (um hidrocarboneto), além de outros gases, podendo o consumidor optar
94
A camada de ozônio
2. Quais os problemas que surgem para os organismos vivos com a destruição da camada de ozônio?
95
A camada de ozônio
Temos uma natureza riquíssima e uma população consciente e alerta para as questões do am-
biente. No entanto, o país precisa combater a desigualdade. [...] Quem está agredindo mais os ecossis-
temas do Brasil e do planeta é a riqueza. O padrão de consumo que existe no Brasil e no mundo hoje
é insustentável.
Presidente do IBGE, em entrevista sobre a conferência Rio +10, em 2002 (GÓIS, 2002).
96
A hipótese Gaia
A
hipótese Gaia surgiu no final da década de 1960, e até hoje é bastante criti-
cada por vários pesquisadores. Ao afirmar que a Terra é um superorganis-
mo capaz de autorregulagem, a hipótese vai contra todas as afirmações de
que a Terra é simplesmente uma “bola” de rocha com vida sobre ela. As grandes
dimensões do planeta e longas escalas de tempo dificultam pensar em Gaia como
um ser vivo de maneira concreta. A palavra Gaia é de origem grega e significa
“Deusa Terra” ou “Mãe Terra”.
do com Dian Hitchcock sobre um artigo que estávamos preparando... Foi nesse momento
que, num lampejo, vislumbrei Gaia. Um pensamento assustador veio a mim. A atmosfera
da Terra era uma mistura extraordinária e instável de gases, e, não obstante, eu sabia que
sua composição se mantinha constante ao longo de períodos de tempo muito longos. Será
que a Terra não somente criou a atmosfera, mas também a regula – mantendo-a com uma
composição constante, num nível que é favorável aos organismos vivos? (LOVELOCK
apud TIO ALÊ, 2005)
As evidências da hipótese
O calor irradiado pelo Sol aumentou cerca de 25% desde que a vida surgiu
na Terra. O questionamento de Lovelock foi como a temperatura conseguiu se
manter estável, com um clima favorável à vida, durante 4 bilhões de anos? A
resposta encontrada foi Gaia, a Terra como um superorganismo capaz de regular
suas condições físicas e químicas. Nessa hipótese, os fatores bióticos agem sobre
os abióticos modificando o ambiente. Todas as evidências apontam para essa re-
lação entre os fatores.
Para explicar e comprovar que a Terra é um superorganismo, os cientistas
citam vários acontecimentos no planeta como sendo evidências da hipótese. A
formação de ilhas por corais, as dunas com vegetais, a acidez do solo, surgimento
do oxigênio na atmosfera, entre outros.
Durante milhões de anos, a Terra foi habitada apenas por micro-organis-
mos anaeróbios, ou seja, que não dependem do oxigênio para sobreviver. Com
98
A hipótese Gaia
99
A hipótese Gaia
Perspectivas futuras
Para conservar é preciso amar. [...] minha visão de ecologia, ao contrário de muitos livros
lançados sobre o assunto, não está centralizada no homem. Se quisermos ter sucesso em
conservação da natureza, precisamos de uma outra lógica diferente da nossa lógica econô-
mica atual. [...] só vamos poder conservar a natureza se o fizermos para o seu próprio bem.
Fernando Fernandez
100
A hipótese Gaia
[...] A projeção animista também serve de base para uma moderna religião travestida de
ciência, que atende pelo nome de hipótese Gaia. A ambiciosa ideia, formulada pelo químico
James Lovelock, é de que o planeta inteiro teria evoluído para servir de abrigo adequado à vida,
e funcionaria como uma espécie de superorganismo autorregulado. A fragilidade da argumen-
tação de Gaia chega a ser comovente. Toda e qualquer característica do ajuste Terra-organismos
apontada como evidência a favor da hipótese Gaia, é explicada de maneira muito mais simples
e óbvia por seleção natural. Por exemplo, Lovelock argumenta que o planeta desenvolveu uma
alta concentração de oxigênio em sua atmosfera para se tornar acolhedor para os animais, que
respiram oxigênio. No entanto, é infinitamente mais simples e plausível conceber que, por ser o
oxigênio um recurso abundante, a seleção natural tenha favorecido os organismos que desenvol-
veram a capacidade de utilizá-lo. A popularidade da hipótese Gaia, apesar de evidente falta de
bons argumentos a seu favor, a meu ver é bastante fácil de explicar: Gaia fala exatamente o que
as pessoas queriam ouvir, ao fornecer um motivo “superior”, maior que nós, pelo qual devería-
mos agir corretamente com o nosso planeta, que afinal de contas também seria um organismo
101
A hipótese Gaia
vivo. O segundo livro de Lovelock chama-se As Idades de Gaia; é bem claro que pelo menos a
ideia de Gaia de fato é muito antiga: nada mais é que a velha projeção animista em grandiosa
escala, com uma roupagem “modernosa” e pseudocientífica. O caráter religioso também é bas-
tante claro, não faltando nem mesmo a revelação (o próprio Lovelock afirma ter percebido que o
nosso planeta era vivo ao ver pela primeira vez uma foto da Terra vista do espaço). Como qual-
quer religião, Gaia pode ser efetiva em mobilizar pessoas por uma causa, no caso a conservação.
Porém, uma vez que Gaia não se assume como religião e prefere manter seu disfarce de ciência,
espero que a conservação não dependa dela, pois cedo ou tarde vai surgir alguém para dizer “o
rei está nu”, como alguns aliás já estão fazendo (FERNANDEZ, 2004, p. 237-238).
1. Forme um grupo de três pessoas e discuta a hipótese Gaia, levantando aspectos positivos e
negativos.
2. Ainda em grupo, discuta se a hipótese Gaia pode ser verdadeira, ou não passa de religião, como
é apresentado no texto complementar.
3. Exponha suas conclusões para a turma e discuta com os outros colegas sobre o que o seu grupo
escreveu na atividade 2.
TAVARES, Marina de Lima; EL-HANI, Charbel Niño. Um Olhar Epistemológico Sobre A Trans-
posição Didática da Teoria Gaia. Disponível em: <www.if.ufrgs.br/public/ensino/vol6/n3/v6_n3_
a4.htm>. Acesso em: 29 set. 2005.
102
Matrizes energéticas
Q
uando o homem passou a dominar o fogo, percebeu que tinha em mãos
uma importante fonte de energia, capaz de não só aquecê-lo nos perí-
odos mais frios como também preparar o seu alimento. Notou também
que o fogo poderia ser um importante aliado no manejo da vegetação natural para
práticas de cultivo e criação de animais, além de utilizar o fogo como uma técnica
de caça. O uso da energia transformou o poder de produção do homem, e conse-
quentemente provocou uma série de impactos no ambiente.
Dessa época até chegarmos à Revolução Industrial, na qual a energia
calorífica serviu para movimentar os primeiros motores a vapor, foi um Quantos anos
pulo em termos tecnológicos. Curioso por natureza, o homem continuou queimando
buscando novas formas de energia, visando atender suas diferentes necessi- combustíveis que
dades, agora num mundo em franca expansão tecnológica e industrial. poluem até
No entanto, sabe-se que para gerar energia há um custo e esse custo que o homem
não é baixo. Produzir cada vez mais em menos tempo é resultado do avanço percebesse o mal
tecnológico. Mas qual o preço desse avanço? Até agora, pelo menos para que vinha fazendo
o ambiente, o resultado foi extinção de espécies, ar poluído, chuva ácida, ao planeta?
efeito estufa, desmatamento.
No final do século XX, começou a preocupação com a substituição das fon-
tes de energia, pois estudos mostravam que as fontes de petróleo estavam se es-
gotando. Novas fontes de energia foram desenvolvidas, mais limpas e renováveis.
No entanto, as novas alternativas ainda não conseguiram substituir as antigas
formas poluidoras de geração de energia.
Petróleo
O petróleo é uma substância oleosa, inflamável, menos densa do que a água, Corel Image Bank.
com cheiro característico, e de cor que varia entre negro e castanho escuro. Sua
origem mais provável é da decomposição incompleta dos organismos marinhos
em ambiente com pouca oxigenação, o que formou as reservas dessa substância,
que é composta por grandes quantidades de carbono. Através de técnicas de des-
tilação, craqueamento térmico, alquilação e craqueamento catalítico, o petróleo
é refinado, derivando diversas outras substâncias, como combustíveis (gasolina e
diesel), lubrificantes, plásticos, fertilizantes, medicamentos, tintas e tecidos.
Os combustíveis derivados do petróleo, quando queimados, liberam uma
grande quantidade de dióxido de carbono, além dos óxidos de enxofre, poluindo
o ar atmosférico. Quando a queima acontece na presença de pouca quantidade de
oxigênio, o resultado é a liberação de monóxido de carbono. Caso não haja oxigê-
nio, haverá liberação de carbono na forma de fuligem.
104
Matrizes energéticas
Usinas hidrelétricas
O uso da água para geração de ener-
gia aparentemente não causa problemas de
poluição. No entanto, a implantação de uma
usina hidrelétrica provoca vários proble-
mas sociais e ambientais. O represamento
do rio causa o alagamento de uma grande
área ocupada por vegetação nativa, plan-
tações, criação de animais, expulsando os
moradores locais. Além disso, a inundação
e o represamento do rio interferem drasti-
camente no regime hidrológico da região,
afetando a vegetação, a fauna e as popula-
ções ribeirinhas.
105
Matrizes energéticas
Biomassa
O uso da biomassa para produção de energia sig-
B. Navez.
106
Matrizes energéticas
107
Matrizes energéticas
Energia eólica
O vento é capaz de gerar energia de uma forma totalmente limpa e renová-
vel. Em 2002, já eram produzidos cerca de 24 500 megawatts no mundo todo, sen-
do que o mercado para energia eólica movimentava cerca de seis bilhões de dóla-
res só com a fabricação dos aerogeradores. O custo da energia eólica em muitos
países já alcançou os custos da energia gerada por hidrelétricas e termoelétricas.
A capacidade geradora das usinas eólicas em regiões brasileiras, em que a
média anual de velocidade dos ventos é de 8 metros por segundo, chega a 40%,
sendo que em locais como o litoral nordestino essa capacidade chega a 60%.
Hoje, no Brasil, existem usinas eólicas em Taíba, Prainha e Mucuripe (Ce-
ará), Palmas (Paraná) e Bom Jardim da Serra (Santa Catarina). Isso representa
apenas 22,2 megawatts de potência eólica.
Em nosso país, os períodos mais secos coincidem com os períodos de mais
vento, ou seja, quando os reservatórios das hidrelétricas ficam com menor capaci-
dade, as usinas eólicas passam a produzir mais energia.
Com a crescente demanda de energia no mundo aliada às necessidades de
controle ambiental, preservação da natureza e crescimento autossustentado, o
aproveitamento dos ventos é uma alternativa que deve ser explorada. Os avanços
tecnológicos e redução dos custos desse tipo de energia fazem dela uma das tec-
nologias que mais cresce em todo o mundo, cerca de 40% ao ano.
Energia nuclear
A energia nuclear não emite gases poluentes na atmosfera, sendo que em
alguns países europeus ela fornece mais da metade da energia elétrica utilizada.
No entanto, gera o lixo nuclear ou lixo radioativo que permanece ativo durante
muito tempo, representando uma ameaça para o ambiente. A instalação de uma
usina nuclear necessita de muito investimento. No Brasil, a primeira usina foi
implantada em 1972, a Angra I, mais conhecida como “vaga-lume” por causa
do fornecimento de energia frequentemente interrompido. Angra II recebeu seus
equipamentos em 2000, 25 anos após o acordo de compra com a Alemanha. Para
Angra III, já foram investidos 750 milhões de dólares em equipamentos, mas sua
construção foi adiada por falta de recursos e por causa das críticas ao programa
nuclear (conte-se aqui a ineficiência de Angra I). Em 2002, a França se interessou
108
Matrizes energéticas
109
Matrizes energéticas
Perspectivas futuras
As fontes renováveis são uma forma de aumentar o acesso à eletricidade, ge-
rar empregos, descentralizar a geração elétrica e reduzir os impactos ambientais.
Cresce a compreensão de que uma boa diversificação e substituição de carvão, pe-
111
Matrizes energéticas
112
Matrizes energéticas
a) A demanda emergencial por geração no Sistema Elétrico Brasileiro pode ser em grande
parte atendida pela grande rapidez de implantação de Usinas Eólicas em escala de giga-
watt, pois para tais usinas as autorizações ambientais são descomplicadas, e o arrenda-
mento das pequenas áreas necessárias é feito sem prejuízo das atividades econômicas e
ambientais existentes. Uma usina eólica de 100 megawatts, por exemplo, pode ser ins-
talada em menos de um ano, sendo que uma PCH e/ou termoelétrica da mesma potência
levaria de três a cinco anos para ser construída.
b) A capacidade tecnicamente comprovada da geração eólica pode vir a atender até 20% de
nossa demanda elétrica, reforçada pela revelação progressiva de existência de um enor-
me potencial eólico no Brasil – recurso natural inesgotável, estratégico, cuja “matéria-
-prima”, o vento, tem custo zero.
c) Grande parte desse potencial situa-se em regiões de baixo desenvolvimento industrial e
residencial, consequentemente em regiões de baixo consumo de energia elétrica, sendo
tais regiões, na sua imensa maioria, precariamente atendidas por redes fracas, ou até
mesmo sem acesso a energia elétrica.
d) Temos atualmente instalados no Brasil apenas 2,22 megawatts de geração eólica, sendo
20,5 megawatts (91%) em escala comercial e instalados pela única fabricante nacional
de aerogeradores, a Wobben Windpower, mas tais usinas já comprovaram com sucesso a
viabilidade dos aproveitamentos eólicos no Brasil.
e) A energia eólio-elétrica gerada no Brasil está interligada aos sistemas elétricos das res-
pectivas concessionárias distribuidoras de energia elétrica, adjacentes às respectivas usi-
nas eólicas, sem qualquer interferência prejudicial a esses sistemas.
f) A vocação da eólica é também de suprimento energético às pontas de sistemas elétricos,
o que comprovadamente aumentará a confiabilidade e estabilidade elétrica do Sistema
Interligado Brasileiro, desde que garantida escala de participação.
g) Há comprovada complementaridade sazonal entre as fontes eólica e hidráulica no Brasil,
potencializando uma maior confiabilidade e estabilidade sazonal do Sistema Elétrico
113
Matrizes energéticas
1. Forme um grupo de três pessoas e pesquise quais as fontes de energia utilizadas na sua cidade.
Inclua na sua lista todos os estabelecimentos que utilizam energia e de onde vem essa energia
que eles usam.
114
Matrizes energéticas
2. Quais os impactos que essas fontes causam em sua cidade e nos arredores?
3. Quais as condições climáticas de sua cidade? Com base em sua resposta, liste as fontes de ener-
gia renovável que poderiam ser implementadas.
115
Matrizes energéticas
Imagine que você saiu para jantar com o pessoal do escritório, todas as 100 pessoas do seu departamento. Você
está numa fase difícil de dinheiro, mas... Como a conta vai ser dividida por igual, por que não pedir lagosta? Se
todo o resto do departamento pedir filé com fritas que custa 10 reais, e você pedir a lagosta de 40 reais, todos
pagarão R$10,30. Sua vantagem então será de R$29,70, contra um acréscimo de módicos R$0,30 para cada um
dos outros colegas. Genial, não? (MARINHO, 2002)
O que você acaba de ler é um exemplo da tragédia dos comuns, que hoje precisa ser combatida
para impedir que o planeta seja destruído. O Protocolo de Kyoto e outros protocolos já postulados
pelo homem são meios para se evitá-la. A não adesão dos Estados Unidos e da Austrália ao Protocolo
de Kyoto, por exemplo, pode ser considerada uma atitude igual a quem pediu lagosta no exemplo an-
terior, da mesma forma que pensar que a não substituição das fontes de energia em um país pequeno
não faria a menor diferença na poluição do planeta.
ORTIZ, Lúcia Schild (Org.). Fontes Energéticas de Energia e Eficiência Energética: opção para
uma política energética sustentável no Brasil. Campo Grande: Fundação Heinrich Böll/Coalizão Rios
Vivos, 2002. 208p.
O livro documenta o Seminário Internacional, de mesmo título, que aconteceu em 2002 na capi-
tal brasileira. O acontecimento reuniu pesquisadores, representantes da indústria de energia, ambien-
talistas, líderes de movimentos sociais, sindicalistas, membros de cooperativas de eletrificação rural e
parlamentares no intuito de ampliar e descentralizar o debate sobre a matriz energética brasileira.
116
Avaliação
de impactos ambientais
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
D
evido às atividades humanas, as características ambientais do planeta têm
sofrido uma série de alterações, algumas indesejáveis para o próprio ho-
mem, como doenças, diminuição na disponibilidade de recursos, alterações
nas paisagens naturais, mudanças no clima global, somente para citar as mais conhe-
cidas. E justamente por este ser um fato incontestável, é que a partir de meados do
século passado, mais exatamente nos anos de 1960, nos Estados Unidos, iniciou-se
um processo mais intenso de discussão e de definição sobre o que é impacto ambien-
tal, e de que forma ele pode ser mensurado, valorado e minimizado, com vistas a
uma melhor qualidade ambiental.
No Brasil, a avaliação de impactos ambientais surgiu em decorrência de exi-
gências de organismos financiadores internacionais, para depois ser considerada
uma informação necessária no sistema de licenciamento ambiental, para só nos
anos de 1980 passar a ser incorporada oficialmente como uma ferramenta do Sis-
tema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA.
A Constituição Federal de 1988 definiu como responsabilidade do Poder Pú-
blico e da coletividade zelar por um ambiente de qualidade para as atuais e as fu-
turas gerações, e exigiu para a instalação de qualquer obra ou atividade potencial-
mente causadora de degradação ambiental o estudo prévio de impacto ambiental,
assunto cuja normatização anterior era uma resolução do Conselho Nacional de
Meio Ambiente – CONAMA –, a Resolução 1/86, de 23 de janeiro de 1986.
Conforme definido na Resolução citada, define-se como impacto ambiental
“qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do
meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia re- O que é impacto
sultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afeta a ambiental?
saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e
econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a quali-
dade dos recursos ambientais”.
Essa definição é bem abrangente e ressalta tanto os aspectos relacionados
à qualidade de vida e à saúde do homem, como os referentes aos ecossistemas e
ambientes naturais, incluindo a biota e os recursos naturais.
Avaliação de impactos ambientais
118
Avaliação de impactos ambientais
Impactos ambientais e
licenciamento ambiental
Um aspecto muito importante relacionado aos impactos ambientais de um
empreendimento é o processo de licenciamento ambiental, obrigação legal neces-
sária à instalação de qualquer atividade potencialmente poluidora ou degradadora
do ambiente. A participação social no processo de tomada de decisão em relação
a essa atividade é garantida com a realização das Audiências Públicas.
A obrigação de avaliar os empreendimentos ou atividades e expedir as li-
cenças é compartilhada pelos Órgãos Estaduais de Meio Ambiente e pelo Insti-
tuto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais – Ibama –, como partes
integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA. O Ibama atua
principalmente no licenciamento de grandes projetos de infraestrutura cujos im-
pactos atinjam mais de um estado ou área da União, como nas atividades do setor
petroleiro na plataforma continental.
As principais diretrizes legais para a execução do licenciamento ambiental
são expressas na Lei 6.938/81 e nas Resoluções CONAMA 1/86 e 237/97. O Mi-
nistério do Meio Ambiente pode definir a competência estadual ou federal para o
licenciamento, tendo como fundamento a abrangência do impacto.
O processo de licenciamento ambiental pode ser dividido em três tipos de
licenças:
licença prévia (LP) – é solicitada pelo empreendedor ao órgão ambien-
tal na fase de planejamento da atividade, e contém os requisitos básicos
a serem atendidos nas fases de localização, instalação e operação, obser-
vados os planos municipais, estaduais ou federais de uso do solo.
licença de instalação (LI) – é concedida no início da implantação do
empreendimento, de acordo com as especificações constantes do projeto
executivo aprovado.
licença de operação (LO) – autoriza o início da atividade e o funciona-
mento dos equipamentos pertinentes, após as devidas verificações reali-
zadas pelo órgão responsável do cumprimento das condições colocadas
na licença de instalação.
O processo de licenciamento ambiental de um empreendimento consiste
basicamente no interessado dirigir-se ao órgão estadual de meio ambiente para
obter informações sobre os trâmites necessários, devendo reunir a documentação
solicitada e protocolar o pedido no órgão. Os técnicos do órgão realizam uma
vistoria no local de implantação de empreendimento a ser licenciado e a licença
ambiental é expedida quando o solicitante atender aos requisitos exigidos pelo
órgão responsável do estado.
Após a expedição da licença, o empreendedor deverá publicar o recebimen-
to desta no Diário Oficial do estado e num periódico de grande circulação, no
prazo de 30 dias, sob pena de perda da validade da licença.
119
Avaliação de impactos ambientais
120
Avaliação de impactos ambientais
Características do estudo
de impacto ambiental (EIA)
Os estudos de impacto ambiental são atividades técnicas e científicas que
abordam diferentes aspectos de um empreendimento degradador do ambiente, e
incluem um diagnóstico ambiental, a identificação, previsão, medição, interpreta-
ção e valoração dos impactos, e a definição de medidas mitigadoras e programas
de monitoramento dos impactos ambientais.
O relatório de impacto ambiental é um documento do processo da avaliação
de impacto ambiental, e deve trazer todos os elementos necessários para a tomada
de decisão do órgão ambiental em relação ao empreendimento, bem como para
o público em geral, afetado por este. Deve ser elaborado em linguagem clara e
acessível, e discutir de forma integrada os impactos negativos e positivos do em-
preendimento em questão.
Os estudos de impacto ambiental geralmente seguem uma Quais as principais partes
sequência de etapas previamente definidas, que têm como base
a regulamentação da questão no país (Resolução CONAMA
de um estudo de impacto
1/86). As principais etapas do estudo estão dispostas a seguir. ambiental?
121
Avaliação de impactos ambientais
se, que não tenha nenhum vínculo direto ou indireto com o proponente, e será
responsável tecnicamente pelos resultados e avaliações apresentadas.
Essa equipe normalmente é formada por profissionais de diferentes forma-
ções: biólogos, geólogos, geógrafos, engenheiros florestais, agrônomos, sociólo-
gos, engenheiros civis, historiadores, educadores, entre outros.
124
Tipo de Principais impactos Principais medidas mitigadoras
empreendimento
Agropecuária Perda de biodiversidade. Conservação de áreas previstas na legislação, como áreas de preservação permanente e
mais comuns
Contaminação do agricultor com Práticas de cultivo adequadas às características naturais dos ecossistemas locais.
agroquímicos. Emprego de práticas ambientalmente adequadas, como adubação verde, rotação de
culturas, controle biológico, manejo integrado de pragas, diminuindo ao máximo o uso
de fertilizantes e agrotóxicos.
Utilização correta dos equipamentos de proteção individual (EPI).
Uso de agrotóxicos e fertilizantes com orientação de técnicos especializados e seguindo
todas as instruções do fabricante.
Poluição do ar com material particulado Não utilização de queimadas como práticas de manejo ou, quando necessárias, com
devido às queimadas. anuência e supervisão do órgão ambiental regulador e seguindo a legislação pertinente.
Degradação do solo e desertificação de Utilização de práticas de conservação do solo, como rotação de culturas, plantio direto,
áreas. pousio, adubação verde, implantação de curvas de nível e terraços, entre outras.
Redução da utilização de máquinas pesadas.
Reflorestamento com espécies nativas das áreas mais íngremes e/ou com solos mais
frágeis.
(DIAS, 1999. Adaptado.)
Quadro 1 – Principais impactos e medidas mitigadoras das atividades produtivas
Avaliação de impactos ambientais
125
126
Tipo de Principais impactos Principais medidas mitigadoras
empreendimento
Produção animal Perda de biodiversidade. Conservação de áreas previstas na legislação, como áreas de preservação permanente e
reservas legais, garantindo o isolamento destas das áreas utilizadas para o pastoreio.
confinamento.
Avaliação de impactos ambientais
Degradação do solo. Fazer rotação de pastagens, observando a capacidade de suporte dos pastos e controlando
o tempo de duração do pastoreio.
Adotar medidas de controle de erosão nas pastagens, mesclando diferentes espécies de
forragem.
Não acesso dos animais a áreas instáveis, como encostas íngremes e locais com solos
rasos.
Contaminação do meio, dos alimentos Práticas de administração dos rebanhos adequadas às características naturais do
e do homem pelo uso excessivo de ecossistema local.
agroquímicos, remédios e hormônios. Limitação do uso de insumos que possam contaminar as pastagens e de remédios e
hormônios em doses acima das recomendadas pelo fabricante.
Uso correto e com a orientação de veterinários, seguindo todas as instruções do
fabricante.
Respeito à legislação vigente.
Utilização inadequada da água para Planejamento do uso da água pelo rebanho dentro das unidades produtivas.
dessedentação do rebanho. Instalação de fontes de água e sal na pastagem em locais adequados para a dessedentação
e afastados dos cursos de água.
Quadro 1 – Principais impactos e medidas mitigadoras das atividades produtivas
Tipo de Principais impactos Principais medidas mitigadoras
empreendimento
Aquicultura Degradação de ambientes úmidos e Atender a legislação e não implantar cultivos em áreas de preservação permanente, como
perda de biodiversidade nos locais de beiras de rios, várzeas e manguezais.
implantação dos cultivos.
Alteração do fluxo de água e diminuição Localizar os tanques de cultivo em locais definidos de forma a não interromper os usos
da disponibilidade de água para outras tradicionais da água da região, buscando, na medida do possível, o uso múltiplo da água
finalidades. dos tanques.
mais comuns (continuação)
Requerer a outorga pelo uso da água de forma a controlar o uso dentro das vazões
permitidas àquela bacia.
Contaminação do meio com efluentes e Tratar os efluentes antes do lançamento no meio e evitar o uso desnecessário e sem a
produtos químicos usados na produção. devida orientação técnica de produtos químicos, drogas e insumos para a produção.
Introdução de espécies exóticas e Evitar o uso de espécies exóticas nos cultivos, dando preferência, se for o caso, àquelas
patógenos associados. que já tenham seus principais aspectos biológicos bem conhecidos.
Observar a legislação específica que orienta a utilização de espécies exóticas em
ambientes naturais.
Aumento dos níveis de carbono, Determinar a capacidade de suporte dos tanques, adequando a produção e o tratamento
nitrogênio e fósforo no meio. das águas a essa capacidade.
Alterações nas características socio- Promover o envolvimento das populações locais nos processos decisórios relativos à
econômicas regionais. implantação dos projetos de aquicultura.
Agroindústria Supressão de ambientes naturais e Localizar a unidade conforme as especificidades do local, atendendo a legislação relativa
perda de biodiversidade nos locais às áreas de preservação permanente, protegendo os cursos de água e demais locais de
de implantação das unidades de relevância ambiental.
beneficiamento.
Alteração dos padrões de drenagem Avaliar a constituição geológica e o padrão de relevo para buscar alternativas que
superficial. garantam a manutenção dos mananciais, sem comprometer seus usos e seu papel para a
biota original.
Avaliação de impactos ambientais
127
128
Tipo de Principais impactos Principais medidas mitigadoras
empreendimento
Agroindústria Contaminação das águas pelo Instalar equipamentos para monitoramento e tratamento dos efluentes, seguindo a
lançamento de efluentes e disposição legislação relativa ao lançamento destes no ambiente.
inadequada de resíduos sólidos. Dispor os resíduos sólidos de forma adequada e em local devidamente preparado para
essa finalidade, que atenda a legislação e os critérios técnicos pertinentes.
Implantar formas alternativas de reutilização e reciclagem de resíduos sólidos nos
processos produtivos.
Contaminação do ar por material Estudar alternativas de locação do empreendimento que evitem a dispersão de material
mais comuns (continuação)
Indústria em geral Poluição da água e do solo pela emissão Reduzir o volume de despejos, procurando reutilizar e reciclar os resíduos, se possível na
de efluentes, produtos químicos e própria cadeia produtiva.
substâncias orgânicas diversas, tóxicas Tratar de forma adequada todo e quaisquer efluentes produzidos, procurando lançar os
ou não, com diferentes ações sobre os resíduos tratados no ambiente em condições melhores do que o corpo receptor.
organismos vivos. Instalar sistemas de filtragem de efluentes.
Definir um plano de contingência para casos de vazamentos de produtos industriais.
Atender à legislação vigente, para cada tipo de produção industrial, com especial atenção
àquelas com maior potencial poluidor e de degradação ambiental.
Quadro 1 – Principais impactos e medidas mitigadoras das atividades produtivas
Tipo de Principais impactos Principais medidas mitigadoras
empreendimento
Indústria em geral Poluição do ar pela emissão de material Estudar alternativas de locação do empreendimento que evitem a dispersão de
particulado, substâncias químicas, substâncias químicas, material particulado e fumaça para áreas habitadas, com especial
fumaça e vapor de água, entre outros. atenção às substâncias tóxicas e/ou que produzam odores desagradáveis.
Empregar técnicas de filtragem e redução das emissões, adequando o processo às
características da matéria-prima utilizada e ao tipo de resíduo produzido.
Monitorar as emissões continuamente e desenvolver técnicas que permitam detectar
mais comuns (continuação)
Turismo Aumento no consumo de recursos Planejar a utilização da água e implantar técnicas de reutilização desse recurso, além de
naturais como água e energia. medidas de sensibilização para que as pessoas não desperdicem água.
Definir a capacidade de suporte do local de forma que a população de turistas não
provoque uma sobrecarga na utilização dos recursos.
Estabelecer um plano diretor para o local de utilização turística, de forma a disciplinar o
uso do espaço atendendo a legislação e normas técnicas vigentes.
Aumento na produção de efluentes Adequar os sistemas de coleta, tratamento e disposição final dos resíduos sólidos e de
domésticos e comerciais, além de esgoto para atendimento das demandas sazonais geradas pela atividade turística.
resíduos sólidos de diferentes origens. Realizar campanhas de sensibilização e conscientização quanto ao lixo e ao esgoto.
Avaliação de impactos ambientais
129
130
Tipo de Principais impactos Principais medidas mitigadoras
empreendimento
Turismo Aumento na exploração de animais Estabelecer medidas de controle dos estoques naturais das principais espécies exploradas,
visados pela atividade turística, como como forma de estabelecer as bases para uma utilização que considere as necessidades de
crustáceos, peixes e moluscos. reposição desses estoques.
Atender às normas e a legislação vigente referente à espécie explorada.
Divulgar as épocas de “defeso” das espécies e realizar campanhas que desestimulem o
turista a consumir esses recursos nessas épocas.
Fiscalizar as atividades de exploração de plantas e animais nativos.
mais comuns (continuação)
Supressão da vegetação nas minerações Estudar alternativas de locação que considerem a presença de remanescentes de
a céu aberto e nos locais de implantação vegetação nativa em bom estado de conservação, atendendo à legislação específica e, se
das minas subterrâneas. necessário, às normas técnicas de diagnóstico da vegetação e da fauna e de resgate de
espécies ameaçadas.
Estabelecer áreas sob regime especial de proteção que abriguem os ecossistemas
destruídos como forma de compensar as perdas decorrentes do empreendimento, quando
não existirem alternativas adequadas de locação.
Implantar medidas de proteção da vegetação, com cortinas vegetais, redução da emissão
de pó e planejamento de medidas de restauração da vegetação pós-lavra.
Contaminação do ambiente devido ao Implantar sistemas de tratamento e destinação de efluentes que considerem as principais
lançamento de efluentes nos corpos drenagens locais e as especificidades do material produzido.
d´água superficiais e subterrâneos, no Dedicar especial atenção para que em escavações não sejam contaminadas as águas
solo, e de material particulado no ar e subterrâneas, implantando sistemas que garantam a sua qualidade.
sobre a vegetação. Utilizar barreiras de contenção para material particulado e efluentes do processo de
mineração.
Avaliação de impactos ambientais
131
132
Tipo de Principais impactos Principais medidas mitigadoras
empreendimento
Abastecimento de água Alterações nos cursos d´água e Implantar programas de proteção das nascentes e das matas ciliares, se necessário com a
e tratamento de esgoto no balanço hídrico local, pela recomposição da vegetação, conservação do solo e planejamento territorial.
remoção da vegetação, erosão das Implantar medidas de monitoramento da qualidade da água que é captada e da que é
margens, alterações na flora e fauna e despejada após o tratamento do esgoto doméstico e industrial.
muns (continuação)
rebaixamento do lençol freático. Atender à legislação vigente relativa às áreas de preservação permanente.
Contaminação da água e do solo pela Estudar alternativas de locação que considerem a presença de remanescentes de
disposição inadequada de lodo e águas vegetação nativa em bom estado de conservação, atendendo à legislação específica e, se
Avaliação de impactos ambientais
residuárias do sistema de tratamento da necessário, às normas técnicas de diagnóstico da vegetação e da fauna e de resgate de
água e do esgoto. espécies ameaçadas.
Estabelecer áreas sob regime especial de proteção que abriguem os ecossistemas
destruídos como forma de compensar as perdas decorrentes do empreendimento, quando
não existirem alternativas adequadas de locação.
Implantar medidas de proteção da vegetação, com cortinas vegetais, redução da emissão
de pó e planejamento de medidas de restauração da vegetação pós-lavra.
Riscos ao ambiente e ao homem devido Monitorar as atividades de captação, processamento e distribuição/disposição final.
a falhas no sistema de processamento e Implantar um sistema de alerta e comunicação entre as unidades de bombeamento e
reserva da água e do esgoto. processamento.
Aumento no risco de contaminação e Empregar tecnologias que permitam um controle sobre os reservatórios de água, esgoto e
comprometimento da saúde pública pela lodo, de forma a dar as condições adequadas de reserva e processamento.
disseminação de vetores de doenças que Monitorar os pontos de acúmulo de água e esgoto para detecção de eventuais surtos de
dependem da água para se proliferar. desenvolvimento de espécies vetores de doenças.
Supressão da vegetação nas áreas Restaurar área equivalente dentro das mesmas condições ambientais, especialmente
de implantação das estações de quando o empreendimento é instalado em áreas de preservação permanente.
processamento.
Resíduos sólidos Disposição final imprópria (lixões) com Estabelecer um sistema adequado de coleta e disposição final dos resíduos, atendendo à
possibilidade de provocar uma série de legislação pertinente em nível federal e municipal.
impactos ao ambiente e ao homem. Promover a divulgação das rotinas de coleta e disposição final do lixo, com campanhas
de redução, reutilização e reciclagem de resíduos.
Quadro 1 – Principais impactos e medidas mitigadoras das atividades produtivas mais co-
Tipo de Principais impactos Principais medidas mitigadoras
empreendimento
Resíduos sólidos Geração de odores, cinzas e gases Isolar áreas de transporte e processamento do lixo com cortinas vegetais e estabelecer
provenientes dos aterros sanitários e uma zona de amortização dos impactos, em que a ocupação humana seja restrita.
demais formas de disposição final do Instalar sistemas de filtragem, depuração, tratamento e reutilização dos produtos do
lixo. processamento do lixo.
Contaminação de águas subterrâneas Implantar sistema de drenagem superficial para evitar a infiltração e o escoamento das
e superficiais por lixiviação do aterro águas pluviais na área do aterro.
sanitário.
mais comuns (continuação)
Conflitos sobre o uso de áreas para Planejar a localização da unidade de tratamento e disposição final em função do plano
aterros sanitários onde existem locais já diretor do município e implantar zonas de proteção no entorno da área definida.
habitados. Realizar todos os trâmites previstos na legislação referente aos impactos ambientais,
esclarecendo a população nas Audiências Públicas sobre as características do
empreendimento.
Supressão da vegetação nas áreas de Restaurar área equivalente dentro das mesmas condições ambientais, atendendo à
implantação dos aterros e demais formas legislação específica relativa às áreas que necessitam de proteção especial.
de disposição final. Implantar projeto de recomposição paisagística em aterros que já tenham chegado à sua
capacidade máxima de armazenamento de lixo.
Obras de irrigação Erosão do solo. Projetar adequadamente o sistema de drenos e a lâmina de irrigação a ser aplicada.
Saturação e salinização do solo. Utilizar técnicas com maior controle da quantidade de água, evitando a irrigação
excessiva.
Implantar sistema de controle da lâmina de irrigação para controlar o balanço de sais na
zona radicial.
Instalar e manter um sistema adequado de drenagem.
Lixiviação dos nutrientes do solo. Aplicar corretamente os fertilizantes evitando a perda de nutrientes como nitrogênio e
fósforo.
Evitar a irrigação excessiva.
Surgimento de algas e pragas, além Evitar a perda de nutrientes provenientes da agricultura para a água com o uso de práticas
do aumento da incidência de doenças agrícolas adequadas.
relacionadas à água. Implementar medidas de prevenção e controle de agentes biológicos que possam provocar a
Avaliação de impactos ambientais
133
134
Tipo de Principais impactos Principais medidas mitigadoras
empreendimento
Obras de irrigação Redução da vazão do rio à jusante do Reduzir a retirada de água buscando manter níveis adequados aos demais usos do
ponto de captação da água. manancial.
Implementar sistemas de controle da distribuição da água entre os usuários, limitando a
utilização aos níveis de recarga.
Proteger a vegetação ciliar evitando o assoreamento dos mananciais.
Evitar a irrigação excessiva e o desperdício de água.
mais comuns (continuação)
Avaliação de impactos ambientais
Alteração ou perda da vegetação Avaliar as opções de locação do empreendimento de forma a evitar a intervenção em
e da fauna que ocorre nas áreas de áreas frágeis do ponto de vista ambiental, prevendo corredores para a movimentação da
implantação do sistema de captação e fauna.
distribuição de água. Implantar programas de recomposição das matas ciliares e controle da qualidade da água
empregada no sistema.
Transporte Degradação de ecossistemas nos locais Analisar alternativas de locais para implantação que evitem áreas ambientalmente mais
de instalação de estradas, portos, frágeis, como manguezais, encostas íngremes, locais com solos rasos e várzeas, além de
aeroportos e terminais rodoviários e de atender à legislação vigente sobre as áreas que demandam proteção especial.
cargas. Limitar a supressão da vegetação aos locais de implantação do projeto, prevendo a
recomposição das áreas utilizadas somente na etapa de implantação das obras.
Implantar áreas sob proteção especial, que, dependendo da situação, podem ser relativas
à adequação à legislação ou então criando algum tipo de área protegida como medida
compensatória.
Fragmentação de habitats pelo Avaliar alternativas de locação que minimizem esse impacto, evitando que o traçado
isolamento provocado pelas rodovias, dessas obras passem por áreas com vegetação em bom estado de conservação, em
ferrovias e hidrovias. unidades de conservação ou em áreas sob algum tipo de proteção legal.
Estabelecer corredores para o deslocamento da fauna e manutenção das conexões da
vegetação, com vistas a manter viáveis ecologicamente os fragmentos resultantes da
intervenção.
Implantar campanhas educativas com os usuários das estradas para atender aos limites de
velocidade em áreas especialmente importantes para a conservação da flora e da fauna.
Quadro 1 – Principais impactos e medidas mitigadoras das atividades produtivas
Tipo de Principais impactos Principais medidas mitigadoras
empreendimento
Transporte Movimentação de grande quantidade de Avaliar o desenho arquitetônico mais adequado de forma a evitar a alteração de áreas
matéria resultante de cortes, aterros e ambientalmente importantes e frágeis.
demais modificações da topografia dos Planejar as intervenções utilizando áreas de empréstimo e de “bota-fora” de
locais de implantação. forma integrada e que prevejam uma recomposição ambiental após o término do
empreendimento.
Proteger as superfícies de terrenos expostos por terraplenagens e cortes de terreno, com
materiais naturais ou artificiais, instalando estruturas de dissipação de energia e de
mais comuns (continuação)
Represas Alterações climáticas decorrentes da Avaliar alternativas de formação do reservatório de forma a diminuir os efeitos de
formação dos reservatórios. grandes áreas com lâmina de água sobre o clima local.
Avaliação de impactos ambientais
135
136
Tipo de Principais impactos Principais medidas mitigadoras
empreendimento
Represas Supressão de áreas extensas com Analisar alternativas para redução do tamanho do reservatório de forma a evitar a
vegetação nativa e com diferentes inundação de áreas com vegetação nativa e com sistemas produtivos.
sistemas de uso da terra. Planejar a reintegração das áreas do canteiro de obras, de empréstimo e de bota-fora à
paisagem local e recuperação das áreas degradadas com finalidades de proteção da flora e
da fauna.
Implantar um programa de conservação da flora e da fauna no entorno do reservatório,
com criação de unidades de conservação e restauração das áreas que demandam proteção
mais comuns (continuação)
especial.
Avaliação de impactos ambientais
Mudanças nas características Reassentar a população urbana e rural diretamente afetada em locais dotados de
socioeconômicas da região com a infraestrutura adequada em relação aos serviços básicos de atendimento à população
chegada de mais pessoas, retirada (saúde, educação, saneamento, fornecimento de água e energia etc.).
de populações da área diretamente Reordenamento das atividades produtivas da região, com relocação de várias obras da
afetada, implantação de infraestrutura área inundada para novos locais, incluindo monumentos, patrimônio arqueológico e
e demais atividades relacionadas ao paisagístico, templos, centros comunitários, cemitérios, entre outros.
empreendimento. Adequar a infraestrutura dos municípios atingidos para desenvolver programas de uso
múltiplo do reservatório, integrando a população à nova situação após a conclusão das
obras.
Alterações na bacia hidrográfica, Estabelecer medidas de controle e monitoramento da erosão e de conservação do solo na
nos fluxos hídricos, nos processos de bacia hidrográfica.
transporte e deposição de materiais, Controle do nível do reservatório para evitar grandes variações nos fluxos hídricos.
na navegabilidade dos rios afetados, Ordenar o uso do solo e a ocupação da bacia hidrográfica.
no nível das águas subterrâneas, entre
Supressão da vegetação na zona inundada de forma a evitar a diminuição dos fluxos no
outros.
interior do reservatório.
Construir canais de desvio dos sedimentos.
Quadro 1 – Principais impactos e medidas mitigadoras das atividades produtivas
Avaliação de impactos ambientais
137
Avaliação de impactos ambientais
Quais são os condicionantes, Miranda não sabe detalhar. Nem o professor Ademir Reis sabe
dizer se o estudo genético de suas bromélias está entre eles. Ibama e Ministério do Meio Ambien-
te, se nem confirmaram a licença, que dirá explicar seus termos.
Essa falta de transparência irrita os ambientalistas. E não é de hoje. Miriam Prochnow, co-
ordenadora da Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA), diz que desde o início do ano tentam
marcar uma reunião com Marina Silva para tratar de Barra Grande, mas a ministra se nega a
recebê-los. Uma das líderes do movimento de resistência à hidrelétrica, ela estava atônita ao te-
lefone, nesta terça-feira de manhã. “A concessão dessa licença é algo absolutamente degradante.
Mostra o que é a política ambiental do governo. Diante desse fato, feito dessa forma, não tenho
mais esperanças”, desabafou.
Em nota divulgada na parte da tarde, Miriam também diz estranhar que o anúncio da licença
tenha sido feito pela senadora Ideli Salvatti (PT/SC). “O que ela tem a ver com isso?”, pergunta.
O site da senadora dá a pista de que a decisão partiu da Casa Civil, agora sob o comando da ex-
-ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff.
Dilma não se pronunciou, mas o presidente da BAESA tem na ponta da língua o discurso
que faz a cabeça da ministra. “O Brasil precisa de energia, e a solução viável é a oferta hidrelé-
trica. Temos 20% da água do planeta. Temos que resolver esses conflitos pesando todos os lados
da questão”, diz Carlos Miranda. E o lado ambiental de Barra Grande está resolvido com sobras,
reafirma. Até porque, segundo ele, “não tem essa vegetação toda lá”. Miranda garante que a maior
parte da floresta íntegra vai ficar acima do nível da represa, e põe em dúvida até a motivação ori-
ginal da crise: o estudo de impacto ambiental da Engevix. “Novas análises estão sendo feitas e
parece que o estudo inicial estava certo”, sugere. Isso, apesar de o Ibama ter reconhecido a fraude
no relatório da Engevix, multado e descadastrado a empresa, e estabelecido a enorme lista de
“condicionantes” ambientais que a BAESA aceitou, sem pestanejar muito.
Ainda assim, é tentador acreditar no que Carlos Miranda afirma com veemência. Como é
tentador torcer para que a bromélia Dyckia distachya tenha sido encontrada em São Joaquim. Até
porque, a essa altura, não resta muito a fazer para os que defendem a floresta. A não ser torcer ou
espernear. A segunda opção já mobilizou a Associação de Preservação do Meio Ambiente do Alto
Vale do Itajaí (Apremavi), que pretende “bloquear a caixa de correio” do Poder Executivo com
mensagens garrafais de protesto contra a licença de operação para Barra Grande.
E, no front antibarragens, não falta trabalho pela frente. A começar pela rara bromélia. Se de
fato foram encontrados exemplares em São Joaquim, começa agora uma nova corrida para salvá-
-la, pois também ali será construída uma hidrelétrica, a de Paiquerê. Já sua prima próxima Dyckia
ibiramensis protagoniza um escândalo com o mesmo script de Barra Grande, mas em versão re-
duzida. Bromélia exclusiva da região de Ibirama (SC), está ameaçada por uma Pequena Central
Hidrelétrica (PCH). Detalhe: a obra ganhou licença prévia da FATMA, órgão estadual de meio
ambiente, mas o estudo de impacto simplesmente desapareceu. Será que era da Engevix?
138
Avaliação de impactos ambientais
1. Faça uma visita a um distrito industrial, porto, aeroporto, área agrícola, usina hidrelétrica, ater-
ro sanitário ou lixão, ou algum outro empreendimento em sua cidade ou região que tenha pro-
vocado impactos sobre o meio ambiente. Faça uma lista dos prováveis impactos verificados e
avalie-os quanto às suas características em termos de forma de manifestação, periodicidade,
reversibilidade etc., listando-os conforme os itens abaixo:
a) consequências sobre o meio físico;
b) consequências sobre o meio biológico;
c) consequências sobre o meio socioeconômico.
2. Forme um grupo de quatro pessoas e discuta as observações que cada um fez. Reúna os dados
em uma matriz de impactos, procurando reconhecer os pontos em comum que os empreendi-
mentos apresentam e seus respectivos impactos. Tente reconhecer também quais são os impac-
tos que poderão ser potencializados ou minimizados reciprocamente (sinergia).
Site do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis: <www.
ibama.gov.br>.
Nesse site podem ser encontradas informações sobre licenciamento ambiental e avaliação de
impacto ambiental no Brasil, com toda a regulamentação sobre o assunto, incluindo leis, decretos,
resoluções e instruções normativas.
139
Avaliação de impactos ambientais
140
A Carta da Terra
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a huma-
nidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interde-
pendente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promes-
sas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade
de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com
um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global
baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e
numa cultura da paz. Para chegar a esse propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra,
declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da
vida, e com as futuras gerações. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2005)
A
Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada em 1945, tendo como
objetivos o estabelecimento da paz, os direitos humanos e o desenvolvi-
mento equitativo dos países. A questão ambiental passou a fazer parte dos
objetivos da ONU apenas a partir de 1972, após a Conferência de Estocolmo sobre
Entorno Humano.
Em 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(CMAD) sugeriu a criação de uma declaração sobre a proteção ambiental e de-
senvolvimento sustentável. Em 1992, na Eco 92, iniciou-se o projeto da Carta da
Terra, que foi terminado em 2002.
A Carta da Terra será um código de ética para o planeta, equivalente
à Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ela é baseada em princí- Para que a
pios e valores que consideram a natureza como riqueza a ser preservada Carta da Terra?
durante o desenvolvimento das sociedades.
A situação global
Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental,
redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo ar-
ruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos equitativamente
e o fosso entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os
conflitos violentos têm aumentado e são causa de grande sofrimento. O crescimento sem
precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As
bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não ine-
vitáveis. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2005)
A Carta da Terra
Responsabilidade universal
Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade
universal, identificando-nos com toda a comunidade terrestre bem como com nossa co-
munidade local. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo
no qual a dimensão local e global estão ligadas. Cada um compartilha da responsabilidade
pelo presente e pelo futuro, pelo bem-estar da família humana e de todo o mundo dos seres
vivos. O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido
quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida,
e com humildade, considerando o lugar que ocupa o ser humano na natureza.
Necessitamos com urgência de uma visão compartilhada de valores básicos para propor-
cionar um fundamento ético à comunidade mundial emergente. Portanto, juntos na espe-
rança, afirmamos os seguintes princípios, todos interdependentes, visando um modo de
vida sustentável como critério comum, através dos quais a conduta de todos os indivíduos,
organizações, empresas, governos, e instituições transnacionais será guiada e avaliada.
(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2005)
Princípios
Na Carta da Terra, os princípios abrangem não só a ecologia, como as so-
ciedades, a economia e a democracia, pois para preservar a natureza é necessário
o desenvolvimento de sociedades pacíficas e cidadãos responsáveis.
142
A Carta da Terra
esse princípio coloca como a questão da ética na utilização das tecnologias, sendo
de responsabilidade do homem a promoção do bem comum.
143
A Carta da Terra
144
A Carta da Terra
145
A Carta da Terra
O caminho adiante
Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo.
Tal renovação é a promessa dos princípios da Carta da Terra. Para cumprir essa promessa,
temos que nos comprometer a adotar e promover os valores e objetivos da Carta.
Isso requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdepen-
dência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com imagi-
nação a visão de um modo de vida sustentável aos níveis local, nacional, regional e global.
Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa, e diferentes culturas encontrarão suas
próprias e distintas formas de realizar essa visão. Devemos aprofundar e expandir o diá-
logo global gerado pela Carta da Terra, porque temos muito que aprender a partir da busca
iminente e conjunta por verdade e sabedoria.
A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isso pode significar es-
colhas difíceis. Porém, necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade
com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo
com metas de longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade têm um
papel vital a desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os
meios de comunicação, as empresas, as organizações não governamentais e os governos
são todos chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, socieda-
de civil e empresas é essencial para uma governabilidade efetiva.
Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar
seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações respeitando os
acordos internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da
Terra como um instrumento internacional legalmente unificador quanto ao ambiente e ao
desenvolvimento.
Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo
compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação da luta pela justiça
e pela paz, e a alegre celebração da vida. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS,
2005)
146
A Carta da Terra
A Carta da Terra fala por si só e não precisa de muitas explicações. Ela foi
feita para ser entendida por qualquer cidadão do planeta. Você deve ter observado
que o objetivo principal da carta é mostrar que o planeta depende de nossas ati-
tudes. É a partir do respeito pela vida que a humanidade vai conseguir prosperar.
Não importa sua religião ou credo, posição social ou raça – cada um deve encon-
trar uma maneira de respeitar a vida em todas as suas formas e tentar multiplicar
esse respeito. A informação e o entendimento do funcionamento integrado de
todo o planeta é uma forma de buscar o respeito pela vida. As crianças de hoje
serão os governantes de amanhã. Cabe a nós, educadores, informá-las e educá-las
para construir uma sociedade que respeite o ambiente em que vive.
Acima de tudo, garantir a vida no planeta representa assegurar o direito que
todas as espécies têm de viver pelos seus respectivos valores intrínsecos, e não
por apresentarem alguma utilidade para a espécie humana.
1. Reflita sobre a Carta da Terra. Quais os problemas sociais, ambientais e econômicos existentes
na sociedade em que você vive (escolha entre cidade ou bairro)?
2. Formem grupos de três pessoas e escolham um princípio que vocês considerem mais importan-
te. Discutam sobre esse princípio.
3. Discorra sobre possíveis métodos para aplicar o princípio na sociedade em que você ou o seu
grupo vive (escolha entre os locais que cada pessoa do grupo analisou na atividade 1). Anote os
meios sugeridos pelo grupo.
RUSCHEINSKY, Aloísio (Org.). Educação Ambiental: abordagens múltiplas. 1. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2004. 184p.
Esse livro trata de uma leitura crítica da Carta da Terra.
147
A Carta da Terra
148
Uma nova ética
ambiental através da
Ecopedagogia
E
m 1854, “O Grande Chefe Branco”, em Washington, fez uma oferta por uma
grande área de território indígena e prometeu uma “reserva” para os índios.
A resposta do chefe Seattle, considerada uma das declarações mais profun-
das já feitas sobre o meio ambiente, é a seguinte:
Como você pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? A ideia é estranha para nós. Se
nós não somos donos da frescura do ar e do brilho da água, como você pode comprá-los?
Cada parte da Terra é sagrada para o meu povo. Cada pinha brilhante, cada praia de areia,
cada névoa nas florestas escuras, cada inseto transparente, zumbindo, é sagrado na memó-
ria e na experiência de meu povo. A energia que flui pelas árvores traz consigo a memória
e a experiência do meu povo. [...] (CARTA, 2005)
Ecopedagogia
Depois da instituição da Carta da Terra, o ensino sobre a importância da na-
tureza passou a ser fundamental no processo de conservação do ambiente. Como
ferramenta de apoio para colocar a Carta da Terra em prática, uma nova corrente
pedagógica vem sendo desenvolvida: a Ecopedagogia.
Essa nova pedagogia reforça a ideia de que o planeta Terra é um organismo
vivo. De acordo com ela, é através do ensino de que os seres vivos e o planeta de-
pendem um do outro para coevoluírem e continuarem a existir que o ser humano
conseguirá desenvolver uma sociedade planetária, que tenha responsabilidade e
comprometimento perante todas as formas de vida.
A Ecopedagogia foi instituída não apenas para ser aplicada nas escolas, mas
também para ser praticada por todas as instituições e indivíduos que pretendem
mudar a maneira atual do homem pensar, mudar o mundo.
Ecopedagogia e a sociedade
O crescente número de seres humanos habitando a Terra, a crença de que os
recursos naturais são infinitos e o padrão de consumo de muitas regiões do pla-
neta, especialmente países mais ricos, tornam a natureza insustentável. A rapidez
com que consumimos os recursos naturais é insustentável, pois o ambiente não
consegue repor o que foi retirado na mesma velocidade.
Uma nova ética ambiental através da Ecopedagogia
Carta da Ecopedagogia
(INSTITUTO PAULO FREIRE, 1999)
Na sua forma mais simples, a Educação Ambiental tem por objetivo mostrar aos alunos, e
sobretudo às crianças, a importância do ambiente em que vivemos, que deve ser preservado como
um tesouro que temos a responsabilidade de guardar, e que não devemos destruir nem desperdiçar.
Cuidar do meio ambiente pode ser entendido como mais um dos princípios morais e éticos que tam-
bém são objeto de preocupação dos educadores – as crianças devem aprender a ser responsáveis,
cumprir suas obrigações, respeitar os mais velhos, tratar bem a seus semelhantes, não se compor-
tar de modo agressivo.
153
Uma nova ética ambiental através da Ecopedagogia
154
Uma nova ética ambiental através da Ecopedagogia
ecológicos, formados por florestas, rios, mares e campos, assim como as espécies vegetais e ani-
mais, são frágeis e insubstituíveis, e estão ameaçados pelo crescimento da indústria, da tecnolo-
gia e da ocupação dos espaços pelos homens. Os interesses das pessoas devem se subordinar à
necessidade de preservação das espécies e dos ambientes naturais. Para isso, a sociedade deveria
ser organizada para atender no máximo às necessidades das pessoas, e não a seus desejos. As tec-
nologias usadas na agricultura e na indústria deveriam ser as mais simples, fazendo uso intensivo
de mão de obra, e poupando ao máximo o uso de recursos naturais, como a água e os minerais.
O ambientalismo geocêntrico é uma forma extrema de ambientalismo, na medida em que exige,
para se realizar, de uma profunda transformação na maneira pela qual as sociedades estão orga-
nizadas.
A visão oposta, também extrema, é a visão antropocêntrica, para a qual a natureza existe
para servir ao homem, e não haveria limites éticos ao uso de recursos naturais e à intervenção e
transformação dos ambientes naturais para servir aos interesses humanos. Essa noção faz parte
do pensamento moderno que surgiu com a Revolução Industrial no século XVIII, que supõe que
os recursos da natureza seriam infinitos, e que a capacidade humana de encontrar soluções para
seus problemas, necessidades e ambições, através da ciência, da tecnologia e pela organização de
grandes sistemas administrativos e produtivos, seriam também ilimitados. O antropocentrismo é
também uma visão extrema, na medida em que não coloca limites à ação de indivíduos ou firmas,
vê com ceticismo todas as tentativas de proteger e regular o uso dos ambientes e dos recursos na-
turais, sem atentar para os evidentes problemas que a expansão descontrolada do uso dos recursos
naturais vem criando. Na sua forma extrema, a visão antropocêntrica se opõe às tentativas de
governos e organizações internacionais de limitar a ação de indivíduos e firmas como contrárias
ao progresso, e acredita na capacidade dos mercados de irem corrigindo, por si mesmos, os desa-
justes gerados pela espoliação dos ambientes e dos recursos naturais.
É entre esses dois extremos que surge o que se denomina, hoje, de “desenvolvimento sustentá-
vel”. Esse termo foi consagrado e passou a ser adotado por instituições internacionais, governos e
organizações comunitárias em todo o mundo, a partir do já famoso relatório de 1987 da Comissão
Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento denominado Our Common Future, Nosso
Futuro Comum, que ficou conhecido como o Relatório Brundtland, o nome de sua presidente. A
perspectiva do desenvolvimento sustentável é uma perspectiva claramente antropocêntrica, no
sentido de que seus documentos expressam a preocupação com o futuro das pessoas, e não com a
natureza enquanto tal. No entanto, ao contrário das formas extremas do modernismo, o desenvol-
vimento sustentável supõe que a natureza tem limites, que o progresso humano não pode conti-
nuar de forma ilimitada e incontrolável, e que deve haver uma responsabilidade coletiva pelo uso
dos recursos naturais. O valor fundamental expresso pelo Relatório Brundtland não é o primado
da natureza, nem o primado da liberdade individual, mas a responsabilidade intergeneracional: a
ideia de que é necessário atender às necessidades do presente sem comprometer a habilidade das
gerações futuras de atender a suas próprias necessidades.
Tanto quanto as demais perspectivas, o desenvolvimento sustentável é uma ideologia, um
valor, uma ética. Sua vantagem sobre as outras perspectivas é que busca incorporar os conheci-
mentos que vêm se acumulando nos últimos anos sobre os problemas ambientais trazidos pelo pro-
gresso descontrolado, e busca encontrar um espaço para o atendimento das necessidades humanas
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Uma nova ética ambiental através da Ecopedagogia
156
Uma nova ética ambiental através da Ecopedagogia
1. Analise a Carta de Ecopedagogia individualmente. Anote os pontos que você considera como
os mais importantes.
157
Uma nova ética ambiental através da Ecopedagogia
158
Antropocentrismo e uso
dos recursos naturais
A
filosofia (do grego philos – amigo de, afim de, amante de, que gosta de;
sophia – saber, conhecimento, ciência) pode ser entendida como um con-
junto de conceitos, práticos ou teóricos, sobre os seres vivos, sobre o ho-
mem e sobre suas respectivas inter-relações com as forças naturais. Propõe uma
atitude reflexiva, crítica ou especulativa sobre todo o saber racional. Pode também
ser entendida como um sistema de princípios que determinam uma certa ordem
de conhecimentos.
Nomes como Sócrates e Pitágoras representam o início do pensamento filo-
sófico, do papel do homem no planeta e de suas relações com a natureza. Outros
nomes, como Platão e Aristóteles, consideram a espécie humana como superior às
demais espécies, pois o homem é visto como fonte de conhecimento, de sabedoria
e sagacidade. Esse pensamento permeia diferentes abordagens filosóficas da natu-
reza humana, razão pela qual a humanidade é separada da natureza.
A doutrina do antropocentrismo coloca o homem como centro do universo e
ensina que tudo foi criado por Deus para atender às suas necessidades. Diante dis-
so, o homem, com seu “poder divino” legitimou suas ações contra a natureza. O
antropocentrismo também coloca o homem como detentor de grande força, capaz
de construir e ordenar o mundo no âmbito social, político e ambiental.
A legislação é escrita pelo homem e, logo, baseia-se no antropocentrismo.
A declaração escrita na Rio 92 fixa o homem no centro da política ambiental e
chama o que não é humano de “recursos”, explicitando a ideia utilitarista sobre a
natureza.
Em contrapartida, tem-se o biocentrismo, que reconhece os direitos intrín-
secos à própria natureza, inspirando a ética do equilíbrio, colocando todos os se-
res vivos em pé de igualdade. O biocentrismo defende que se o homem tem direito
de sobreviver, assim também têm os outros seres vivos.
Conclui-se que o antropocentrismo é o substrato filosófico da proteção ambiental. Radica
no autointeresse, em razões econômicas, em justificativas religiosas, estéticas, culturais,
recreacionais. Constrói-se o mito das ‘futuras gerações’. Formata-se uma reação biocên-
trica, ainda não totalmente esclarecida, com as cores de um antropocentrismo retifica-
do, mitigado, emancipado. Percebe-se uma apropriação mercadológica, que transita num
discurso messiânico, apocalíptico, escatológico, que alberga oportunistas, que vendem
uma bandeira, por alguns minutos de fama, comprovando o vaticínio de Andy Warhol.
(GODOY, 2005)
Antropocentrismo e uso dos recursos naturais
A evolução do homem
O homem, como o conhecemos hoje, difere de seus ancestrais pelo tamanho
do encéfalo e maxilar e pela postura bípede, sendo que os hábitos tribal e preda-
dor prevalecem até hoje. O Homo sapiens sapiens provavelmente surgiu há cerca
de 200 mil anos, sendo seu ancestral mais próximo o Homo erectus, que saiu da
África há mais de 1,5 milhão de anos.
Há duas possíveis explicações para o surgimento da espécie humana atual: a
primeira é a que defende que o Homo sapiens derivou do Homo erectus na África
e só depois se espalhou pelo planeta; a segunda hipótese é de que o Homo erectus,
pressionado pela seleção natural, derivou para formas similares ao Homo sapiens
em diferentes partes do planeta, mais ou menos simultaneamente. Pela análise de
DNA mitocondrial realizada nos últimos tempos, a teoria multirregional é a mais
adequada. Essa análise é utilizada porque o DNA mitocondrial é herdado apenas
da mãe e tem uma taxa de mutação regular, permitindo utilizá-lo como um relógio
molecular no estudo da evolução da espécie.
O período em que o homem vive é dividido por alguns historiadores em Pré-
-História (do surgimento do homem até o aparecimento da escrita, cerca de 4000
a.C.) e História. A Pré-História compreende duas épocas.
Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada (de 600000 até 10000 a.C.)
– o homem utiliza lasca de ossos ou pedras para matar suas caças e co-
letar frutos e raízes. O primeiro Homo sapiens, o homem de Neandertal
(Homo sapiens neanderthalensis), já conhecia o fogo e utilizava lingua-
gem articulada para se comunicar. Entre 40000 e 18000 a.C., surge o ho-
mem de Cro-Magnon, Homo sapiens sapiens, mais alto que o Neandertal
e com a testa mais desenvolvida; produzia seus próprios instrumentos,
como facas de lâmina de sílex (pedra bastante resistente) e o arco e fle-
cha. O homem de Cro-Magnon tinha um nível cultural mais elevado do
que o homem de Neandertal, pois cultuavam os mortos, depositando ali-
mentos, adornos, utensílios e armas. Quando o Homo sapiens sapiens e
o Homo sapiens neanderthalensis entraram em contato, houve conflitos
nos quais o Homo sapiens sapiens quase sempre vencia. Por causa da
redução drástica do número de indivíduos da subespécie Homo sapiens
neanderthalensis, esta extinguiu-se cerca de 27 mil anos atrás.
Neolítico ou Idade da Pedra Polida – na transição do Paleolítico para
o Neolítico (entre 15000 e 10000 anos a.C.), a Terra começou a ficar mais
parecida com o que ela é hoje: era o fim da Era Glacial. Com condições
mais favoráveis à sua sobrevivência, o homem foi abandonando a vida
de caçador e coletor e começou a cultivar cereais e a domesticar animais
(diz-se que a domesticação começou quando os caçadores traziam os
filhotes dos animais abatidos para seus filhos). Nessa época, o homem vi-
via em sociedades e produzia seu alimento, inventou a cerâmica e usava
o barro para construir moradias. No final dessa época, o homem passou
a utilizar metais como o cobre, facilmente trabalhados a frio, para fazer
suas ferramentas. É nessa época também que surgem os primeiros regis-
tros escritos no Egito.
160
Antropocentrismo e uso dos recursos naturais
A mudança de pensamento
Nossa capacidade de raciocínio e entendimento dos fenômenos do planeta
nos trouxe a um nível de consciência que não nos permite tratar o ambiente de for-
ma tão displicente, ora como uma fonte “inesgotável” de recursos, ora como um
depósito infindável de descartes e resíduos da atividade humana. Pelo menos uma
parcela da população está hoje preocupada com o futuro. Seja por razões antro-
pocêntricas ou biocêntricas, uma nova linha de ações e pensamentos está se for-
mando. O desenvolvimento de uma nova postura diante do ambiente caracteriza a
revolução natural, que se contrapõe à Revolução Industrial. Considerar a água, os
minerais, o solo, o ar e as espécies como recursos ou como um patrimônio é uma
questão de opção. Pense a respeito!
Bem-vindo a este capítulo, caro companheiro da espécie Pan sapiens. Caso você, caro lei-
tor, tenha estranhado o tratamento, deixe-me recordá-lo que Pan é o gênero ao qual pertencem
os chimpanzés, dos quais os zoólogos reconhecem duas espécies (Pan troglodytes, o chimpanzé
comum, e Pan paniscus, o chimpanzé pigmeu ou bonobo). Estudos genéticos recentes, entretanto,
têm mostrado que 98,4% dos genes humanos são idênticos aos genes dos chimpanzés. A diferença
161
Antropocentrismo e uso dos recursos naturais
genética entre nós e os chimpanzés, portanto, é de apenas 1,6%, um valor menor que o existente entre
muitas espécies que são normalmente colocadas em um mesmo gênero. Por exemplo, as duas espécies
de gibão (gênero Hylobates) diferem em 2,2% dos seus genes. Há várias diferenças morfológicas su-
perficiais entre homens e chimpanzés, causadas pelos tais 1,6%, mas as similaridades são muito
maiores e mais profundas. Por exemplo, a hemoglobina, o principal pigmento que carrega oxigênio
no sangue, é uma molécula complexa com 287 unidades – todas elas idênticas em homens e chim-
panzés. Refletindo sobre essa evidência, Jared Diamond escreveu: “só mesmo um taxonomista da
espécie humana seria capaz de colocar a espécie Homo sapiens em um gênero diferente de Pan”.
Para a maioria de nós, essa extrema semelhança com nossos parentes mais próximos deve
parecer no mínimo um pouco chocante. [...]
Como bem lembrava o professor de poesia, interpretado por Robin Williams em A Socieda-
de dos Poetas Mortos, ver o mundo sob uma nova perspectiva é sempre interessante. Mas neste
capítulo quero argumentar que a mudança de perspectiva defendida acima é muito mais que um
exercício interessante, pois a visão errônea que temos de nós mesmos é uma das maiores causas
não só da crise ecológica, como da própria crise de valores no mundo atual. [...]
Então, voltemos com novos olhos àquela clássica questão “por que estamos aqui?”. Muitos
neurônios e muita tinta ainda são gastos com essa pergunta, que já deixou de ser filosófica. O nosso
como é o nosso porquê. Kozlovsky não tem receio de chegar à conclusão óbvia: “nós sabemos hoje
que o processo evolutivo não tem direção, nem esquema geral, nem objetivo final. O mundo vivo
não está indo para lugar nenhum. [...] evolução não tem nenhum propósito. Nem temos nós.”
Se em pleno século XXI essa constatação pode ainda ser perturbadora para alguns, isso nos
faz perceber melhor o que Simpson queria dizer em seu comentário [...]. O fato de que a evolução
não teve, em nenhum momento, o objetivo de levar até nós, dói em nossa arrogância antropocên-
trica. Necessitamos de uma explicação confortável, imploramos por ela. Era tão melhor pensar
que todo o Universo girava em torno de nós e, no entanto, tivemos que engolir Copérnico. Como
consolo, nos restou que pelo menos a evolução neste planetinha de terceira classe na periferia de
uma galáxia comum se destinava a produzir seres tão perfeitos como nós, e até hoje nossa cultura
cotidiana é razoavelmente bem-sucedida em sua recusa em engolir Darwin. [...]
2. Faça uma pesquisa em sites, livros, artigos e revistas sobre situações que ilustrem cada uma das
tendências filosóficas citadas na questão anterior. Podem servir discursos, entrevistas, palestras,
materiais institucionais diversos, entre outros.
4. Com qual das duas correntes filosóficas você se identifica? Por quais razões?
162
Antropocentrismo e uso dos recursos naturais
BOFF, Leonardo. Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres. Rio de Janeiro: Ática, 1995.
Esse livro oferece uma visão ampla e crítica das várias correntes da ecologia – ambiental, men-
tal, social e integral –, discutindo seus pressupostos filosóficos, culturais e espirituais.
GODOY, Arnaldo Sampaio Moraes. Fundamentos Filosóficos do Direito Ambiental. Disponível
em: <www.arnaldogodoy.adv.br/publica/fundamentosfil.htm>. Acesso em: 1 out. 2005.
Esse texto trata da influência das correntes filosóficas do antropocentrismo e do biocentrismo
no embasamento teórico da legislação ambiental brasileira.
163
Antropocentrismo e uso dos recursos naturais
164
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Referências
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Anotações
Anotações
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Anotações
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Anotações
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Hino Nacional
Poema de Joaquim Osório Duque Estrada
Música de Francisco Manoel da Silva
Parte I Parte II
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido Brasil, de amor eterno seja símbolo
De amor e de esperança à terra desce, O lábaro que ostentas estrelado,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido, E diga o verde-louro dessa flâmula
A imagem do Cruzeiro resplandece. – “Paz no futuro e glória no passado.”
Dos filhos deste solo és mãe gentil, Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Pátria amada,
Brasil! Brasil!
Educação Ambiental e Cidadania Educação Ambiental e Cidadania