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A TORRADEIRA

...no dia 12 de maio de 1998, as 10:00 da manhã Eduardo levanta de sua cama.

Ele olha ao redor e sente uma sensação de ter acordado do mesmo lado da cama,
no mesmo horario, com os mesmos barulhos, com as mesmas perguntas na
cabeça: que dia é hoje ?, quem é Li ?, eu estou vivo ? (que alivio é estar vivo). Um
pensamento reconfortante surge em sua mente: era tudo um sonho. Logo pensa:
dejavus e loucuras da manhã pós sonho.

Eduardo faz como seu ser faria, levanta da cama as 10:00, toma banho as 10:05,
prepara seu uniforme as 10:13, passa o café as 10:20 (sempre amargo sem açucar,
filtrado 2 vezes e fervendo) e liga pela primeira vez a torradeira as 10:30, ele
observa aquele objeto regrado, diciplinado a entregar sua refeição, tostada. Perde
uma meia as 10:35, mas não a acha, logo as meias troca por outro par, as 10:40
ele sai de casa, e pensa consigo no caminho: cedo demais (para um homem rico).

Eduardo poderia fazer diferente, mas as forças do destino impedem essa louca
vontade de inovar. Ele passa de frente a uma loja antiga, e por coincidencia, lá
está ela, a linda, regrada, diciplinada e potente torradeira, por algum motivo ele
sente uma vontade indescritivel de comprar este objeto.

E mais uma vez ele gastava as horas de escravo por algo sem alma, mas dessa vez
era diferente, pelo menos para ele. A torradeira era normal, velha, enferrujada,
triste, sem cores e com o cabo descascado, mas é claro que esses aspectos só
podem ser imaginados e vistos pelo o leitor sensato, que, diferentemente de
Eduardo, consegue enxergar os defeitos de uma coisa, mesmo com o obstaculo da
idolatração diminuindo a visão, bom, pelo menos deveria.

E, como é de se esperar, as 12:30 ele sai do trabalho, almoça ?, hoje não, come
torrada, a torradeira funciona, eu sei que é dificil acreditar mas é verdade, mesmo
com os defeitos que apresentei ela funciona, porém ela tem algo peculiar, ela
funciona quando quer, isso encanta o Eduardo, como um objeto tem um ser ?, ou
melhor, como o objeto não é seu ser ?.

Então, as 16:45, ele é expulso do trabalho, ele não entende a injustiça, só o


desejo. Pela torradeira ele pensa, já que ela é apenas um objeto, utencilio de
cozinha , e com ela no braço ele anda, quando de repente ouve algo.

-Ei.

-Eu ?

-É, você.

- Então, quem fala comigo ?

-Eu, vós não irá entender, é diferente de tudo já viu.

-Eu não me importo -ele se importa, tem medo do novo- se mostre para mim, juro
não temer sua presença.

-Estou nos seu braços, me chamo Li.

Enfim, a torradeira fala, ironico não ?, metafora ?, critica a modos de vida ?, ou só


uma historia de fantasia ?, você que sabe.

E, lá pelas 22:00, seu horario de sono profundo, ele se vê com Li, sentado em um
extremo oposto na mesa, de frente ao utencilio. Vinho, coca, cachaça, pinga,
cerveja, qualquer coisa teria tido o mesmo efeito, qualquer coisa teria o matado
da mesma forma, mas a morte é rotina, e sempre o mesmo copo vidro com
entalhos de flor com água em seu interior cai, em palavras mais dramaticas,
despenca, enquanto Eduardo segura o fio desemcapado e frita como o pãozinho
na torradeira.

E agora, ele cai, frito, tostado, torrado, seria insensível dizer que é uma Torrada
humana ?, não sei, depois de tanto narrar uma historia acaba se pensando esse
tipo de coisa. É o fim ?, não, para mim não, infelizmente, estou cansado de ser
escrito, e...

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