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INTRODUÇÃO

Ao longo da história, na dinâmica da vida, o jogo,o esporte, a dança, a ginástica e a luta , vêm se
consolidando enquanto manifestações inegáveis da cultura e da linguagem corporal. A cultura do
movimento sempre foi, em maior ou menor grau, fonte de poder criativo, da educação e da sociabilidade.
Conforme a LDB, a Educação Física integrada à proposta pedagógica da escola é componente curricular
da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, e recupera,
portanto o sentido e o significado da cultura e da linguagem corporal, colaborando para que a escola
contribua na construção de uma cidadania de qualidade , cujo exercício reúna conhecimentos e
informações para um protagonismo responsável, em que sejam exercidos direitos que vão além da
representação política tradicional. Assim, compreende-se o papel pedagógico significativo da Educação
Física na constituição dos sujeitos, da sociedade e do mundo.
O processo de ensino- aprendizagem em Educação Física, na escola, deve buscar desenvolver um
conjunto de saberes no campo da cultura corporal através de jogos,esportes,lutas,ginástica e danças que
fundamentam , aprofundam e ampliam o entendimento e a compreensão do educando nessa área,
relacionando com outras áreas, contribuindo para a formação do indivíduo que é produtor e
transformador dessa cultura.
“O aluno do Ensino Médio, após, ao menos, onze anos de escolarização , deve possuir sólidos
conhecimentos sobre aquela que denominamos cultura corporal. Não é permitida, ao cidadão do novo
milênio, uma postura acrítica diante do mundo. A tomada de decisão para sua autoformação passa,
obrigatoriamente, pelo cabedal de conhecimentos adquiridos na escola. A Educação Física tem nesse
contexto, um papel fundamental e insubstituível “. (BRASIL, PCNEM,2000,p.15).
De acordo com os PCNs, as competências e os conteúdos de ensino das áreas curriculares devem ser
consideradas a partir de fatos, conceitos e princípios que assegurem a construção do conhecimento
socialmente produzido e respondam às necessidades da vida cotidiana.
“ Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou a sua
construção”. ( PAULO FREIRE,2001, p.25)
Assim, a Educação Física, ao lado das demais disciplinas, pode contribuir para a formação de estudantes
autônomos e críticos, em relação à sua cultura corporal, oportunizando posicionar-se criticamente em
relação às práticas corporais ora divulgadas pela mídia ,ora oriundas do senso comum ,quanto ao belo, à
estética,aos valores culturais, morais e sociais. A leitura da realidade pelas práticas corporais permite fazer
com que estas se tornem chaves de leitura do mundo.
Nesse sentido, a oferta da disciplina,deve ser garantida para todos os educandos do Ensino Médio,
principalmente do ensino noturno, que também necessitam dos conhecimentos e das atividades da
Educação Física. É necessário que essa condição seja garantida através da elaboração do projeto político
pedagógico da escola.
ASPECTO LEGAL DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO

“A educação física integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação


Básica, ajustando-se às faixas etárias e as condições da população escolar,sendo facultativa nos cursos
noturnos.(LDBEN,1996).
Após muitos debates e esclarecimentos acerca de pontos polêmicos do artigo citado, principalmente se no
ensino noturno seria facultativo o oferecimento da disciplina ou a participação do aluno, o Congresso
Nacional aprovou um novo documento legal para a Educação Física no Brasil. Trata-se do Decreto-Lei nº
10.793/03, que isenta da prática da Educação Física vários alunos e alunas julgados ora como
incapazes,ora como privilegiados. Entre os alunos “dispensados”, encontram-se os trabalhadores com
jornada superior a seis horas; mulheres com prole, maiores de 30 anos; pertencentes ao serviço militar;
portadores de deficiência. O Decreto em questão, pressupõe um padrão que exclui justamente a
diversidade de trajetórias de vida dos alunos que freqüentam a escola.
No contexto dos ordenamentos legais, não podemos deixar de tratar das especificidades do Ensino Médio
definidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio (Resolução CEB nº 3, de 26 de junho de
1998). Esse documento aponta os seguintes princípios: Art.2º: A organização curricular de cada escola
será orientada pelos valores apresentados na Lei 9.394, a saber:
I- os fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos , de respeito ao bem comum e à
ordem democrática,
II- os que fortaleçam os vínculos de família, os laços de solidariedade humana e da tolerância recíproca.
Art.3º: Para observância dos valores mencionados no artigo anterior, a prática administrativa e
pedagógica dos sistemas de ensino e de suas escolas, as formas de convivência no ambiente escolar, os
mecanismos de formulação e implementação de política educacional, os critérios de alocação de recursos,
a organização do currículo e das situações de ensino-aprendizagem e os procedimentos de avaliação
deverão ser coerentes com os princípios estéticos, políticos e éticos.
Os princípios estéticos, políticos e éticos referidos, requerem uma profunda revisão dos dispositivos de
exclusão contidos no Decreto Lei nº 10.793/03.
Como pensar uma “Política da Igualdade” que deixa à margem do processo pedagógico estudantes do
Ensino Médio noturno?
Como pensar uma “ Estética da Sensibilidade”, na qual as práticas corporais da Educação Física podem
ser uma fonte riquíssima de formas “lúdicas e alegóricas de conhecer o mundo” , se essas práticas são
ensinadas para poucos de uma forma excludente?
Como pensar uma “Ética da Identidade” em uma prática pedagógica que determina quem pode e quem
não pode ter acesso a esse saber, definindo sujeitos “ dispensáveis” de tal prática ?
As questões colocadas acima, remetem aos professores de Educação Física um grande debate sobre a
coerência da contribuição de sua prática pedagógica nessa etapa da educação básica, com base nos
princípios expostos pela referida Resolução. É no desenho não coerente e não consensual dos
ordenamentos legais que os professores de Educação Física são chamados a tomar posicionamento
político e pedagógico de sua prática educativa.A vida escolar foi bastante modificada pela Lei de
Diretrizes e Bases(1996),dando abertura à iniciativa das escolas e à equipe pedagógica,incluindo o
professor de Educação Física que,nesse momento,passa a ser mais exigido quanto à sua
qualificação,participação efetiva e uso do seu conhecimento,principalmente,no que corresponde ao
planejamento de atividades que contemplem aos interesses,cultura e necessidades dos alunos.O professor
de Educação Física deve buscar a todo custo,uma integração com o trabalho desenvolvido na
escola,colocando o seu componente curricular no mesmo patamar de seriedade e compromisso com a
formação do educando.
De acordo com Barni e Schneider(2003,p.2)
“...a Educação Física,e em especial a do ensino médio,é um componente que em grande parte das vezes.é
marginalizado,discriminado,desconsiderado,chegando até por vezes a ser excluído dos projetos políticos
pedagógicos de algumas escolas”.
A Lei de Diretrizes e Bases(1996),em vigor,ao ser interpretada, indica uma direção obrigatória - a busca
pelo aperfeiçoamento constante dos professores envolvidos com o ensino.De acordo com Mattos(1994):
...” o professor de Educação Física não deve encontrar no comodismo,no individualismo e no
ressentimento a solução de seus problemas na escola.Acrescenta que os professores devem ter muita
persistência,criatividade e competência para o desempenho de suas tarefas.
A legislação é clara em garantir ao aluno a oferta do componente curricular, mas quem deve garantir o
tempo e o espaço adequados a ele são os professores a partir de sua perspectiva de trabalho pedagógico ,
dos registros de suas experiências, de sua participação política e pedagógica na comunidade escolar, e de
sua proposta político- pedagógica específica no interior do projeto da escola.Portanto,como membro da
comunidade escolar,o professor de Educação Física tem o dever de participar e de ajudar a definir os
rumos e os objetivos da “educação”,apresentando argumentos que posam qualificar os seus
conhecimentos e justificar a presença da disciplina para a cidadania.
OS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO

O Ensino Médio deve ser entendido como uma etapa da formação básica especificamente pensada para
alunos cujo perfil não se define tão somente pelo recorte cronológico da juventude ou da vida adulta, mas
também por características socioculturais que possam definir o sentido que esses mesmos dão às
experiências vivenciadas na escola.
Os alunos de nossas escolas e aulas de Educação Física não são apenas jovens. Mais que esse recorte
geracional ou uma faixa de idade, eles agregam a essa condição, um conjunto de marcas simbólicas que
são extremamente importantes para a sua constituição.
As formas como os alunos enxergam a escola e suas possibilidades de práticas corporais são várias: como
forma de ascensão social, espaço de encontro, local de expressão e troca de afetos, lugar de tédio e de
rotinas sem sentidos, entre outros. Cada uma dessas formas precisa ser pensada pela escola ao construir
sua relação com os alunos.
Em função do processo de democratização do acesso à escola, e da implementação de políticas que
buscam garantir a permanência dos alunos na educação básica, podemos afirmar que uma parcela
significativa dos alunos que freqüentam as escolas de ensino médio são jovens, muitos deles
trabalhadores pertencentes às camadas médias e populares.
Existe a idéia errônea de a prática de atividades físicas no período noturno levariam os alunos ao
cansaço,influenciando negativamente no desempenho escolar,e consequentemente excluindo as aulas de
Educação Física no período noturno.No entanto estudos mostram que ocorre exatamente o contrário.
Segundo Mattos e Neira(2007,p.96)
“A atividade física moderada que vise o despertar da atenção para as necessidades corporais tais como
alongamento muscular,descompressão da coluna vertebral,lubrificação das articulações,correta respiração
e o relaxamento acessam a energia despendida com o estresse vivenciado no dia-a-dia propiciando um
melhor funcionamento do organismo”.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil,1997),reforçam essas afirmações defendendo a idéia de que
a atividade física proporciona a produção de substâncias químicas produzidas pelo cérebro,glândula
pituitária e outros tecidos como as endorfinas que reduzem a sensação de cansaço de dor e produz um
estado de euforia,além de esse efeito persistir durante duas a cinco horas após a atividade
física.Bento(1991),aponta uma linha de pensamento que se aprofunda nesse sentido:
“Uma Educação Física atenta aos problemas do presente não poderá deixar de eleger a educação da saúde
como uma das suas orientações centrais.Se pretende prestar serviços valiosos à educação social dos
alunos,se pretende contribuir para uma vida produtiva,criativa e bem-sucedida,a Educação Física encontra
na orientação pela educação da saúde um meio de concretização das suas pretensões,formulações e
justificações”.(pág.104)
Ficam evidentes então os grandes benefícios mentais e físicos que esses alunos podem
usufruir,principalmente os alunos do período noturno que em sua maioria tem uma jornada de trabalho
intensa,necessitando de uma Educação Física diferenciada do turnos diurnos.
Os jovens que chegam às escolas de Ensino Médio são portadores de saberes e praticantes de
determinadas experiências construídas em outros espaços e tempos sociais. A escola necessita reconhecer
o contexto e a realidade de aprendizagem social de seus alunos. As manifestações de rua, as festas e as
práticas de esportes , constituem lugares de formação e produção cultural que precisam ser reconhecidos e
trabalhados dentro da escola. Em relação às vivências de práticas corporais, muitas questões ainda estão
por ser discutidas, vivenciadas , analisadas e criticadas,pois temos jovens com experiências muito
distintas, fruto de uma infância e adolescência desenvolvidas em situações e condições muito diferentes
dos pontos de vista social, econômico, moral, cultural, religioso e étnico.
Entendemos que um dos papéis da Educação Física, é compreender e discutir junto a esses jovens os
valores e significados que estão por trás dessas práticas corporais e sua importância para uma melhor
qualidade de vida. A Educação Física não pode continuar sendo vista como uma disciplina que prima pelo
desenvolvimento da aptidão física de seus alunos e nada mais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

É lamentável como os alunos que estudam à noite, são discriminados em suas formações. Perguntamo-
nos por que ao aluno do Ensino Médio no período noturno, não deve ser propiciada uma formação que
contemple os conhecimentos sobre seu corpo e suas possibilidades, sua expressividade, seu tempo livre e
a vivência das manifestações da cultura corporal. Vale refletir sobre o que justifica que a escola ao optar
por ter em seu currículo aulas de Educação Física, não possa realizá-la no mesmo período das demais
disciplinas, como ocorre com Ensino Médio no período diurno, se a mesma possui profissional habilitado
e condições físicas para as aulas no período noturno. Os alunos do Ensino Médio noturno têm o direito a
Educação Física eficiente, de modo que todos tenham condições de realizá-la e dela tirar proveito tanto
nos aspectos físicos, mental, social e emocional.No caso especial da Educação Física no ensino
noturno(56% das matrículas),cabem iniciativas no sentido de instrumentalizar o cidadão através da
aquisição de uma bagagem de conhecimentos que lhe permita atuar de forma eficaz sobre a manutenção
de sua saúde,a gerência de seus momentos de lazer e a aquisição de vocabulário motor que possibilite um
diálogo social diversificado.
A Educação Física tem que lutar por sua legitimidade entre os demais componentes curriculares,tem que
buscar seus princípios fundamentais, questionando quais são os seus objetivos, seus conteúdos, suas
metodologias, de modo a dizer da importância junto aos demais saberes escolares.
Segundo MATTOS E NEIRA(2000,p.25):”[...] para inserir a Educação Física dentro do currículo escolar
e colocá-la no mesmo grau de importância das outras áreas de conhecimento, é através de fundamentação
teórica, da vinculação das aulas com objetivos do trabalho, da não improvisação e, principalmente, da
elaboração de um plano que atenda às necessidades, interesses e motivação dos alunos.
Sendo assim, entendemos que a Educação Física no contexto escolar , possui uma particularidade em
relação aos demais componentes curriculares. Trata-se de um componente que pode contribuir para
formação do cidadão com instrumentos e conhecimentos diferenciados daqueles chamados tradicionais no
mundo escolar, portanto temos que lutar para oferecê-la e incluí-la como componente da grade curricular
para o ensino noturno.
REFERÊNCIAS

-BARNI,Mara J.,SCHNEIDER,Ernani J.A Educação Física no Ensino Médio:Relevante ou


Irrelevante.Instituto Catarinense de Pós-Graduação,nº3,ago/dez.2003.Disponível
em:http://www.icp.com.br/hp/revista/índex.php.Acesso em 10 maio 2008.

-BRASIL.República federativa do Brasil.Lei nº9.394:Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação


Nacional.Brasília,1996.

________.República Federativa do Brasil.Decreto-Lei nº 10.793/03.

_________.Conselho Nacional de Educação.Resolução CEB nº3,de 26 de junho de 1998.Institui as


Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.

-FREIRE, P.Pedagogia da Autonomia:saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e


Terra,2001.

-LINGUAGENS,CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS/Secretaria de educação Básica.-


Brasília:Ministério da Educação,Secretaria da Educação Básica,2006.

-MATTOS.Mauro Gomes de.Educação Física na adolescência : construindo o conhecimento na escola/


Mauro Gomes de Mattos e Marcos Garcia Neira. 4.ed.-São Paulo: Phorte,2007.

-ORIENTAÇÕES CURRICULARES ESTADUAIS PARA O ENSINO MÉDIO: Área de Linguagens,


Códigos e suas Tecnologias/ Secretaria da Educação.- Salvador: A Secretaria,2005.

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