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Sobe o Perdão: 7

Lições Do Poço Escuro


7 julho 2020

Como perdoar alguém? Como perdoar uma traição? Como


perdoar a si mesmo? Por que perdoar uma pessoa? O que
significa perdoar 70×7? Como saber mais sobre perdão na
Bíblia?

Essas são perguntas que frequentemente recebo em minhas


redes sociais. Decidi escrever este artigo e ministrar uma live ao
vivo para responder as maiores questões sobre o perdão e sobre
como perdoar.

Antes de começar a escrever Deus me levou à história de José,


um dos exemplos mais lindos e profundos sobre perdão das
Escrituras. Sua história é contada a partir de Gênesis 37.

Quem era José?

José, o filho mais novo e amado de Jacó, foi uma pessoa que
teve sonhos divinos revelando sua missão e, por conta disso, aos
17 anos foi lançado em um poço e vendido como escravo pelos
próprios irmãos.
Isso mesmo: pelos próprios irmãos!

Depois, já no Egito, foi lançado injustamente na prisão por uma


questão envolvendo a esposa de seu senhor, Potifar. José tinha
muitos motivos para ter uma vida despedaçada, amargurada e
cheia de feridas.

Contudo, ele tomou decisões de elevado nível espiritual e se


tornou um dos maiores exemplos bíblicos de perdão. Perdoou
todos os que lhe causaram dor e teve seu nome registrado como
um dos responsáveis pela conservação da nação de Israel.

A história de José é narrada nos 13 capítulos finais de Gênesis,


com incontáveis lições para o nosso crescimento na fé.

No estudo de hoje, eu gostaria de me concentrar no momento


que considero mais dramático da narrativa: o momento em que
os irmãos o lançam no poço.

O poço da história de José provavelmente era um poço


abandonado. Era um lugar escuro, seco e sem nenhum recurso.
É certo que José se sentiu vulnerável, indefeso e com muito
medo, sem saber o que fazer na situação (ele era apenas um
jovem de 17 anos!).
É a partir do poço que retiraremos 7 preciosas lições sobre
como lidar com ofensas, feridas, dívidas abertas e cura.

É a partir desse dolorido evento que José passou e relacionando-


o com alguns ensinamentos de Cristo, que mergulharemos em
importantes ensinamentos que mudarão sua perspectiva sobre o
perdão.

Continua lendo o artigo para:

 Entender que cedo ou tarde você será ofendido e ferido.


 Saber que as dores nos levam ao crescimento.
 Saber como e porquê perdoar quem lhe feriu.
 Aprender a ficar mais resistente às ofensas e ataques.
 Saber como aproveitar as oportunidades de perdão.
 Descobrir como se ver livre da culpa e muito mais.
Será uma jornada libertadora!

Vamos iniciar com a primeira lição: você inevitavelmente será


lançado no poço.

1 Você será lançado no poço


Mas, logo que José chegou a seus irmãos, despiram-no da túnica, a

túnica talar de mangas compridas que trazia, e o jogaram na cisterna. A

cisterna estava vazia, sem água.


Gênesis 37:23,24

Para dar algum contexto, lembremos que José era o filho mais
amado de Jacó (além de ser o leva-e-traz da fofoca).

Aos 17 anos, José teve dois sonhos que o colocavam em posição


de autoridade perante sua família. Os irmãos ficaram com inveja
e ódio e o lançaram no poço, o que para mim, é a parte mais
dramática da história de José.

Todavia, ser lançado no poço não é exclusividade de


José. Todos nós seremos lançados no poço em algum momento
da vida.

“Que poço é esse, Ramon?”

É o poço da ofensa, da liberdade tolhida e da dívida que as


pessoas farão conosco.

Neste estudo, o poço é uma metáfora para esse dolorido


momento em que alguém contrai grande dívida conosco, nos
ofendendo e nos ferindo gravemente na alma.

Não quero esconder a realidade:

As pessoas vão nos trair, nos ofender, nos abusar e por aí vai.
Para você ser lançado no “poço da dívida” basta estar vivo. As
relações humanas pressupõem atritos, discussões, mágoas,
dívidas profundas entre muitas outras maldades.

Precisamos entender, entretanto, que a dor que Deus permite é a


dor do crescimento e não da destruição, mesmo que cause
angústia temporária:

[…] toda disciplina, ao ser aplicada, não parece ser motivo de alegria,

mas de tristeza […]

Hebreus 12:11

Perceba que antes de cada “salto na vida”, José passou por um


processo de humilhação:

 Ser lançado no poço e ser vendido como escravo o


levou a ser líder na casa de Potifar.
 Ser lançado injustamente na prisão preparou o caminho
para que ele se tornasse governador do Egito.
Ser ofendido, atacado ou ferido é um processo de crescimento
que todo cristão terá que passar para que seja impulsionado para
outros níveis na fé.

Todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a


Deus, até as situações ruins!
Cito como exemplo o meu amigo Júnior Rostirola. O poço dele
foi uma terrível relação com seu pai o que acabou o levando ao
nível em que ele está hoje, tendo um ministério que promove cura
nas famílias.

Em vez de você reclamar porque foi lançado no poço da ferida,


por que você não tenta enxergar de uma diferente perspectiva? É
muito provável que o processo de cura leve você para um nível
mais elevado na fé.

Se o poço é inevitável o processo de perdão é sinônimo de


crescimento e isso é uma boa coisa.

Tudo isso passa por entender qual é o nosso destino.

2 No poço, não esqueça seu destino


Tenha consciência do seu destino em Cristo.
Sonhei que estávamos amarrando feixes no campo, e eis que o meu

feixe se levantou e ficou em pé, enquanto os feixes de vocês o rodeavam

e se inclinavam diante do meu.

Gênesis 37:7

José sonhou e acreditou que seus sonhos eram proféticos. Ele


sabia qual era o seu destino.
A Bíblia não relata José entrando em desespero ao ser lançado
no poço e depois na prisão (é claro que ele deve ter enfrentado
angústia). Todavia, não há relatos de murmuração, falta de fé ou
atos de desonra contra Deus. A impressão que temos é que ele
se manteve imperturbável na caminhada.

Isso nos ensina muito sobre termos consciência sobre o nosso


destino. Nunca esqueça para onde você está indo! Não se trata
de um destino terrenal, mas nosso destino eterno. Estamos a
caminho da Nova Jerusalém!

Se José sabia que Deus era com ele e a missão que iria cumprir,
nós devemos saber que Deus é conosco e que estamos
caminhando para a vida eterna com Cristo e isso deveria mudar
nossa perspectiva com relação ao perdão.

Costumamos ter uma ideia errada da vida no porvir, por isso,


muitos parecem não desejar ir para lá. Talvez, porque tenham a
imagem de um lugar monótono, anuviado, translúcido e com
anjos cantando “Glória, glória, aleluia” para sempre. Para muitos
cristãos, Deus ainda é aquele velhinho encurvado sentado no
trono jogando raios para todo lado.

Esquecem que a Nova Jerusalém é um lugar puro, perfeito, de


infinito amor, felicidade e plenitude de vida. Um lugar tão
vibrantemente especial que é impossível descrever com nossas
linguagens e mentalidades limitadas.

Por que pensar nisso? O que isso tem a ver com perdão? Muitas
pessoas me fazem a seguinte pergunta:

“Ramon, se eu não perdoar não vou para o céu?”

Em primeiro lugar, essa não é uma pergunta madura. Pelo nível


da pergunta nós identificamos o nível espiritual da pessoa. Uma
pergunta mais madura seria essa:

“Quem está indo para um reino tão puro e perfeito como a Nova
Jerusalém não perdoaria?”

Outra pergunta surge: “Uma pessoa verdadeiramente salva, que


tem a natureza transformada, escolherá não perdoar seus
ofensores?”

Mais uma pergunta retórica: “Um cristão que foi perdoado pelo


Senhor decidiria não perdoar as pequenas dívidas que o próximo
faz com ele?”

Cristo responde essa pergunta em Marcos 11:26:


Mas, se vocês não perdoarem, também o Pai de vocês, que está nos

céus, não perdoará as ofensas de vocês.

Marcos 11:26 (grifo meu)

Nosso destino é um reino perfeito. É um lugar de perdoados e de


perdoadores. Não dá para fugir disso.

Quem está indo para lá é quem demonstra uma natureza


perdoadora, dentro de um processo de crescimento espiritual
gradual.

A cada dia aprendemos a nos conformar com os princípios do


reino do qual fazemos parte. Deus nos perdoou de uma grande
dívida e agora aprendemos a perdoar as pequenas dívidas que
as pessoas fazem conosco diariamente. Nossa vida é liberar
perdão!

Russel Champlin diz:

O espírito de ódio e a incapacidade de perdoar faz parar o crescimento

espiritual e anula a oração. A graça nos transforma e nunca nos declara

bons se não o somos. Quem não perdoa não é perdoado.

Russel Champlin

Isso nos leva à segunda lição:


3 No poço, não se considere “bom” o
bastante
Ao primogênito José chamou de Manassés, pois disse: “Deus me fez

esquecer todo o meu trabalho e toda a casa de meu pai.”

Gênesis 41:51

Já que ainda não chegamos ao nosso destino, precisamos


conformar nossas vidas e evitar o sentimento orgulhoso que
impede o perdão.

Uma coisa interessante é que José nunca se considerou “bom o


suficiente” para não liberar perdão a todos que o feriram. Muito
pelo contrário, antes mesmo de ter contato com os irmãos, em
seu coração ele já havia liberado perdão.

Isso fica claro em Gênesis 41:51 quando José põe o nome de


seu primogênito de Manassés (“Deus me fez esquecer”). Os 13
anos de servidão e aprisionamento agora são “águas passadas”
para José. Ele virou a página e seguiu com sua vida.

Isso é um exemplo muito confrontador para nós!

José não se considerou bom o suficiente para não esquecer a


dívida que os irmãos tinham com ele. Mais a frente, quando se
revelou aos irmãos, desceu da posição de governador do Egito e,
chamando os irmãos para perto, se colocou no nível deles para
abraçá-los (Gênesis 45).

Que coração humildemente elevado!

Esse é um dos maiores motivos de não perdoarmos: o orgulho de


nos consideramos “bons o suficiente”. Frequentemente,
classificamos as pessoas como “boas” ou “ruins”.

Às vezes, olhamos para uma pessoa carismática e dizemos: “Ela


é tão boa que só falta Jesus”.

Isso é um problema porque quem não tem Jesus não tem


nada! Para nos sentir bem, nos consideramos pessoas boas
porque não somos como Hitler ou Stalin, ou como um ladrão,
traficante ou assassino.

Nos acostumamos tanto com a ideia de sermos bons que quando


nossa honra é atacada ou nossa liberdade tolhida não admitimos.
Somos orgulhosos demais para admitir uma dívida aberta contra
nós.

Ainda bradamos: “Isso eu não admito. Eu não mereço isso. Não


tem perdão!”
Isso responde a seguinte pergunta: “Por que não consigo liberar
perdão?” Em última instância, o motivo é o orgulho.

O problema é que no dia do juízo não vamos ser comparados


com Hitler ou Stalin, seremos comparados com Cristo! Por
quê? Porque ele é o nosso modelo perfeito.

Se não formos achados cobertos por Cristo, “bons o suficiente”


através do sacrifício dele, estaremos perdidos.

A única forma de não ser condenado é estando nele (Romanos


8:1). Portanto, se Cristo vive em nós, não temos mais o direito de
não perdoar.

Quer um exemplo de uma pessoa que se achou “boa”


demais? Pedro.

Em certa ocasião, Pedro pergunta a Cristo:

[…] Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe

perdoe? Até sete vezes?

Mateus 18:21

Pedro, ainda com a mente legalista e religiosa, buscava um limite


para a “quantidade de acertos”, uma regra sobre quantas vezes
se deveria perdoar.
A tradição entre os judeus era perdoar 3 vezes. Quando Pedro
falou em 7 vezes provavelmente pensou que estava “acima da
média”. Ele pensou que estava sendo muito generoso. Contudo,
Cristo vem e remove todos os limites do perdão:

“Vocês devem perdoar 70×7.”

Setenta vezes sete indica plenitude, já não há limites para o


perdão. No reino, as coisas são diferentes. Agora, nós temos
uma natureza perdoadora, que perdoa todas as dívidas abertas
contra nós.

Esse é o padrão elevado do Reino de Deus. Cristo trouxe um


ideal elevadíssimo, mas esse é o modelo que devemos seguir.

Você pode pensar que perdoar 70×7 é uma tarefa impossível.


José não só nos ensina que é possível, como ainda demonstra
como ser incrivelmente imune contra às ofensas do dia a dia.

Isso nos leva à lição #4: nunca esqueça sua identidade.

4 Não esqueça sua identidade


Quem tem a identidade de Cristo perdoa as ofensas.
José teve ainda outro sonho, que ele contou aos seus irmãos,
dizendo: “Sonhei também que o sol, a lua e onze estrelas se
inclinavam diante de mim”. – Gênesis 37:9

José tinha certeza que Deus era com ele.

Ele já tinha contado um sonho e os irmãos haviam ficado com


raiva. Quando teve o segundo sonho, decidiu contar mesmo
sabendo que haveria oposição.

Ele sabia de sua identidade em Deus, por isso as dívidas abertas


contra ele não o tiraram do caminho. Uma pessoa precisa estar
muito segura com relação à sua identidade para revelar
previsões tão ousadas em meio a um ambiente tão hostil.

Normalmente, escutamos: “Não compartilhe seu sonho com


quem não sabe sonhar”. Tão forte era a certeza de José sobre
sua identidade e missão divina que ele não precisou seguir esse
conselho.

Aprendemos com José a não sermos facilmente afetados por


ofensas infundadas. Aprenda uma coisa: ter uma consciência de
sua identidade em Cristo vai tornar você mais forte contra
críticas, fofocas, mentiras e ataques dos mais variados tipos.
É muito interessante como a raiva e a inveja dos irmãos parecem
não afetar José de nenhuma forma.

Preste atenção nesta ilustração:

Imagine que você está na fila do banco e alguém lhe chama de


Fernando, sendo que seu nome é João. A primeira coisa que
você faz é corrigir a pessoa: “Opa, como vai? Meu nome não é
Fernando, é João”.

A pessoa retruca: “Você é José, não minta para mim”. Então,


começa uma discussão. A pessoa acusando você de ser
Fernando e você falando seu nome verdadeiro. Que situação!

A maneira de resolver a questão é pegar seu documento de


identidade onde está escrito “João” e mostrar para a pessoa. Isso
calará a boca dela. A verdade é uma arma contra a mentira.

De vez em quando, sou atacado com alguma ofensa nas redes


sociais. É um ou outra pessoa que não concorda com o que
postei e me ataca no nível pessoal.

Poucos dias atrás alguém me chamou de “ladrão” no meu inbox


do Instagram, porque supostamente “todo pastor é ladrão”.
Também já fui acusado de mentiroso, falso profeta, golpista e
congêneres. Tudo por causa de discordâncias sobre
questiúnculas, que não têm valor algum para a fé.

Antigamente, eu ficaria abalado, com o emocional abatido por


alguns dias. Contudo, hoje em dia costumo “puxar meu RG
espiritual” e busco segurança de quem eu sou em Cristo. Antes
de ser tomado por um sentimento de ira ou raiva, eu me
questiono:

 Espera aí: sou mesmo um “ladrão” ou um golpista?


 Essa informação condiz com a realidade ou é um ataque
barato?
 Aquilo que o ofensor falou é a minha real identidade em
Cristo?
 Vale mesmo a pena criar uma mágoa contra uma
pessoa que não me conhece e que não sabe o que está
falando?
Quanto mais seguro você se sente em Cristo, mais difícil será
para você se sentir ofendido. Se Cristo é o nosso modelo lembre
de quantos ataques ele teve que suportar sem ficar abalado.
Tenho lutado para aprender a perdoar rápido tais tipos de
ataques. Simplesmente, os deixo passar.

Quem não esquece sua identidade não se sente ofendido


facilmente. Se você é filho de Deus e tem um relacionamento
profundo com Ele não há crítica ou ataque que vá lhe
derrubar. Portanto, foque em sua identidade e aprenda a perdoar
rápido as dívidas que as pessoas fazem com você.

Para experimentar essa realidade de perdão, aprenda a perdoar


dívidas pequenas. Como você irá perdoar as grandes dívidas se
você não consegue perdoar:

 O síndico do seu prédio que atazanou sua vida?


 Sua sogra que lhe tratou mal?
 Seu amigo que chegou atrasado e nem pediu
desculpas?
 Um motorista que fechou sua frente no trânsito?
 Uma cunhada que maldisse você?
 Um colega do trabalho que defende um partido político
diferente do seu?
Começando pelas coisas pequenas do dia a dia, nunca perca a
chance de liberar perdão.

Isso nos leva a lição #5: aproveite as oportunidades de perdão.

5 Aproveite as oportunidades de
perdão
Já aconteceu alguma vez de você pôr a meia, calçar o tênis e
depois de um tempo perceber que tinha ficado uma pequena
pedra dentro da meia?
Uma vez aconteceu comigo e isso me perturbou o dia todo. Por
preguiça ou negligência (tirar tênis e a meia para tirar a pedra ia
dar um trabalhão) eu deixei aquilo de lado e o dia inteiro a pedra
ficou incomodando.

Não era um incômodo tão grande, mas era persistente.

A falta de perdão é como uma “pedra no sapato”. Aquele


problema fica ali pendente, machucando e tirando sua paz. Você
até consegue viver com aquilo, mas incomoda.

Um dia você está no supermercado e a pessoa que o ofendeu


passa bem do seu lado e vocês não trocam uma palavra (no
máximo, sai aquele sorriso amarelo).

No outro dia, você a vê no Shopping e se vê mudando de direção


para que a pessoa não lhe veja. Antes de dormir, você pensa na
pessoa e isso tira a sua paz. Esse incômodo não vai sair de sua
vida se você não decidir parar para tirar a “pedra do sapato”.

Você precisa aproveitar as chances de acerto que a vida (ou


o Senhor) providencia!

José aproveitou a oportunidade que teve de se acertar com os


irmãos. Imagine por quanto tempo isso o incomodou! Quando
teve a oportunidade ele a agarrou com os dois braços.
O general inglês James Oglethorpe, do século 17, costumava
dizer: “Nunca perdôo”. John Wesley, pai da igreja metodista, uma
vez o respondeu: “Espero que você nunca peque”. Wesley sabia
que aquele que muito perdoa, muito é perdoado.

Uma pessoa que não libera perdão vive incomodada. Ela vive se
escondendo, evitando pessoas, lugares e situações. Pense no
quão terrível é uma mágoa na família que impede a comunhão
familiar. Certamente, você já passou por alguma situação de
dizer: “Não posso ir àquele lugar porque fulano estará lá”. Que
prisão!

Para se ver livre disso, aproveite as oportunidades de “tirar a


pedra no sapato”. Aproveite todas as chances que você tem de
acertar suas pendências com as pessoas.

Seja prático! Hoje temos WhatsApp, Telegram e Messenger.


Envie uma mensagem dizendo: “Fulano, preciso falar com você”.
Tenha coragem e isso vai ser cura para sua vida.

“Ramon, o que fazer quando não há oportunidade?”

Em certas ocasiões, pode ser que a pessoa com quem tenho


pendência não queira contato ou até mesmo esteja falecida.
Pode até ser que a pessoa seja próxima de você, mas não há
nenhum arrependimento da parte dela. O que fazer então?
O teólogo Champlin dá uma dica:

O perdão deve funcionar mesmo na ausência de arrependimento.

Russel Champlin

Quando não é possível o contato com o ofensor/ofendido a


recomendação é que a pessoa busque um acerto direto com
Deus. Em caso de uma pessoa já falecida o processo de perdão
ocorre do lado de quem está vivo. É um acerto que acontece
dentro do coração da pessoa, em que ela libera sinceramente
toda a dívida de quem já foi e recebe o perdão de Deus.

Tanto faz se a parte ofensora está viva ou não, em último caso o


perdão é o que vem Deus. Basta sinceramente pedir perdão
diante Dele e seguir com a vida, sem culpa e sem qualquer
pendência. Se pensar que precisa de ajuda no processo,
compartilhe com alguém de confiança que possa lhe ajudar.

Agora, se você tiver oportunidade de se acertar com quem lhe


feriu, faça isso. Se não tiver oportunidade, crie-as!

6 Você não foi criado para morar no


poço
Há o tempo para cura e perdão.
José beijou todos os seus irmãos e chorou, abraçado com eles. Depois,

os seus irmãos falaram com ele.

Gênesis 45:15

Um lição que aprendi sobre feridas e perdão é essa: uma grande


ferida exige mais tempo para curar e cicatrizar.

Dependendo da forma como ofenderam você é normal haver um


tempo maior para curar (semanas, meses e, como no caso de
José, se passaram anos). Passou um bom tempo até acontecer o
acerto final entre José e seus irmãos (mais de 13 anos). Portanto,
em alguns casos não adianta acelerar o processo.

Não acelere o processo

Não adianta querer curar rápido uma ferida muito grande e muito
recente. Por exemplo, o marido trai a esposa e exige restauração
instantânea. Aí, sai falando para os outros:

“Tá vendo, pedi perdão, mas ela não quer me perdoar”.

Não é assim. Em situações mais complicadas é necessário “ler


as situações” e saber se movimentar com sabedoria.

Muita gente me pergunta sobre como perdoar uma traição, por


exemplo. Não há uma fórmula secreta para isso. Aliás, não há
uma fórmula secreta para qualquer tipo de perdão. Perdoar é
uma decisão, mesmo que seja necessário algum tempo para
“baixar a poeira” e realizar o acerto.

Se você foi ferido com gravidade, provavelmente há um tempo de


dor que você enfrentará. Faz parte do processo de cura e
cicatrização. Se foi você quem gravemente feriu alguém, respeite
o tempo e saiba quando buscar o perdão.

Não atrase o processo

Se por um lado devemos esperar um certo tempo até o acerto,


por outro não podemos nos acostumar a ficar no poço. Você
até pode ser lançado no poço, mas não nasceu para morar no
poço!

Existe tempo adequado para todas as coisas, inclusive “[…]


tempo de curar […]” – Eclesiastes 3:3.

Não é sábio decidir se acostumar com um problema que deveria


ser passageiro. Um filho de Deus não deve viver com o coração
cheio de mágoa e ressentimento.

Se o tempo da cura está chegando, se a cicatrização estiver


acontecendo vá preparando seu coração para liberar a pessoa
da dívida que ela fez com você.
Não estou dizendo que é fácil, mas esse é o caminho a seguir.
Eu mesmo já tive que passar por essa experiência algumas
vezes na vida. Não é fácil, mas é necessário.

Gosto muito dessa frase:

Embora as feridas não tenham sido culpa sua, a cura é responsabilidade

sua. Embora seu passado possa não ter culpa sua, o seu futuro é

responsabilidade sua.

Se o tempo chegou, livre-se dessa prisão. Você não nasceu para


morar no poço. O poço é apenas um lugar temporário para levar
você ser impulsionado para um nível mais elevado.

Caso você queira vencer a procrastinação no processo de


perdão, recomendo o artigo: Como Não Procrastinar e
Desbloquear Seu Crescimento.

Só não fique adiando o que não precisa adiar.

Deus tem para você um propósito maior do que um poço escuro


e isso nos leva à última lição:

7 O poço prepara você para um


legado maior
Deus me enviou adiante de vocês, para que fosse conservado para

vocês um remanescente na terra e para que a vida de vocês fosse salva

por meio de um grande livramento. Assim, não foram vocês que me

enviaram para cá, e sim Deus, que fez de mim como que um pai de

Faraó, e senhor de toda a sua casa, e como governador em toda a terra

do Egito.

Gênesis 45:7,8 (grifo meu)

É muito interessante ver como José tinha consciência da


soberania de Deus em todas as situações difíceis que passou.
Em nenhum momento ele imputou culpa aos irmãos por ter sido
lançado no poço e ter sido vendido como escravo. Muito pelo
contrário, ele afirma que foi Deus quem o havia trazido para o
Egito.

Dificilmente, temos uma visão tão elevada quanto a de José


quando somos lançados no poço. Quando somos ofendidos
rapidamente imputamos culpa aos nossos agressores. Não
percebemos que as situações que passamos podem
ter propósitos maiores do que imaginamos.

O que aconteceria se José não tivesse perdoado os


irmãos? O que aconteceria se ele ficasse magoado ou
ressentido e decidisse se vingar dos irmãos?

Vamos fazer um rápido exercício de causa e efeito:


 Provavelmente, os irmãos de José seriam mortos.
 Como José já vivia como um egípcio, seus filhos seriam
criados como egípcios.
 Com Jacó morto, os irmãos de José mortos e José
vivendo como egípcio, seria o fim do povo de Israel.
 Não haveria o povo hebreu escravizado no Egito.
 Não haveria Moisés libertando o povo.
 Não haveria povo de Israel entrando na Terra prometida.
 Não haveriam os juízes, Saul, Davi, Salomão e os
demais reis.
 Não haveria o nascimento de Cristo e ele não morreria
por nós.
É claro que isso é só um exercício de causa e efeito, do ponto de
vista da lógica humana. Sabemos que até os menores detalhes
estão debaixo da permissão de Deus (Mateus 10:29).

O que desejo ressaltar é que o acerto de José com seus irmãos


não foi um mero acerto familiar, mas um acontecimento
com desdobramentos que nos afetam até hoje!

A história de José nos ensina que o processo de acerto não é


apenas entre duas pessoas, mas pode ser o começo de muitas
outras histórias que cumprirão os propósitos eternos de Deus lá
na frente.
Imagine quantas coisas maravilhosas são perdidas quando há
uma mágoa entre duas pessoas. Imagine dois irmãos que se
brigam na adolescência e levam mágoa para a vida adulta. Eles
casam e constituem família, mas por causa da dívida que têm
suas famílias crescem separadas.

Os filhos, netos e bisnetos não têm relacionamento e crescem


separados, como desconhecidos. Tente imaginar quantas
coisas boas são perdidas por causa da falta de perdão.

Por outro lado, quando há acerto, imagine quantas coisas boas


podem surgir disso. O processo de perdão que você terá que
passar não é apenas um processo duro e de humilhação, mas
pode ser o ponto de partidas de lindas histórias que você viverá
em breve.

Minha família é um exemplo disso. Hoje, conduzimos


uma vibrante igreja que tem sido sal e luz em nossa cidade.
Contudo, nossa história é recheada de lutas e perseguições
(como a história de qualquer comunidade cristã, eu suponho).

O que aconteceria se estivéssemos desistido de nosso chamado


por causa de perseguições, ofensas e traições? Não sei onde
estaríamos, mas quando vejo onde chegamos me alegro por
não termos desistido.
O poço prepara você para um legado maior.

As dores que você vencer serão a ignição de histórias lindas e


abençoadoras, que poderão tocar muitas pessoas no futuro. Por
isso, digo: vale a pena lutar pelo acerto. O perdão vale a pena!

Finalizo este artigo com um trecho do livro A Última Flecha, de


Erwin MacManus:

O que fazemos nessa vida tem implicações infinitas, nossas histórias são

maiores que a História. Nossas histórias não terminam quando

morremos, elas são apenas o começo de histórias muito maiores. Você

precisa viver como se sua vida dependesse disso porque nunca é

somente a sua vida que está envolvida.

Erwin MacManus

Nunca mais esqueça: o poço prepara você para um legado


maior do que você imagina. Que o Senhor lhe ajude a liberar
perdão e se acertar com quem precisa.

Vai ser libertador!

Resumo: sobre perdão e como


perdoar
Como Perdoar: As 7 Lições do Poço Escuro (Resumo).
Chegamos ao fim de mais um estudo. Espero que a jornada
tenha sido edificante para a sua vida. Se precisar de mais
informações conecte-se comigo pelos seguintes canais:

 Instagram: respondo muitas dúvidas por lá.


 Telegram: participe da nossa comunidade no Telegram.
 Super Live RT: assista minha aula ao vivo sobre este
tema. Para isso, basta se cadastrar gratuitamente nesta
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Vamos agora ao resumo com os melhores pontos do artigo:

 José tinha de tudo para ter o coração ferido e magoado,


mas escolheu o caminho do perdão.
 Ser lançado no poço da ofensa não é exclusividade de
José. Todos seremos ofendidos e também seremos
ofensores de alguém.
 A dor que Deus permite é a dor do crescimento.
 Antes de cada salto na vida, José passou por um
processo de humilhação.
 Estamos a caminho da Nova Jerusalém, um reino
perfeito e puro. É um reino feito de perdoados e
perdoadores.
 Se não perdoarmos, não receberemos perdão de Deus
(Marcos 11:26).
 Nunca se considere “bom o bastante” para não perdoar.
 O maior motivo que impede as pessoas de perdoarem é
o orgulho.
 Quantas vezes devemos perdoar? Quantas vezes
forem necessárias. Cristo removeu todos os limites do
perdão.
 Não esqueça sua identidade em Cristo. Caminhe firme e
não se deixe abalar facilmente por ofensas infundadas.
 Comece aprendendo a perdoar pequenas coisas. Se
você não perdoar as pequenas coisas, como perdoará
as grandes ofensas?
 Aproveite as oportunidades de acerto que aparecem em
sua vida.
 Tire a “pedra no sapato”: não seja negligente, resolva o
que precisa ser resolvido.
 Quem muito perdoa, muito é perdoado.
 Se a pessoa não se arrepende do mal que lhe fez ou se
você tem um problema com quem já faleceu, resolva a
questão diretamente com Deus. Dobre os joelhos,
peça perdão e siga a vida sem culpa.
 Sobre o processo de perdão: (1) não acelere o processo
e (2) não atrase o processo. Aprenda a se movimentar
com sabedoria. Você não nasceu para morar no poço,
portanto não tenha feridas de estimação.
 O processo de acerto entre duas pessoas pode ter
grandes desdobramentos. Pode ser o começo de
histórias que cumprirão os propósitos de Deus lá na
frente.
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