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Há muito mais “sede de Deus” do que se possapensar

Pe. Ángel Fernández Artime – Reitor-mor dos Salesianos

Hoje há muita necessidade de escuta, de diálogo franco


e gratuito, de encontros pessoais que não julgam
nem condenam, e muita necessidade
de silêncio e de presença de Deus.

Caros amigos do Boletim Salesiano, acabei de participar no funeral do Papa


Emérito Bento XVI. Foi ele mesmo que, um ano após o início do seu serviço como
Pontífice, escreveu a magnífica Encíclica "Deus Caritas est", e nela esta a firmação que
me parece a essência da magnífica fragrância do pensamento cristão: “Ao início do ser
cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um
acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo
decisivo” (Deus Caritas est, 1). Certamente essa Pessoa é Jesus Cristo. E partindo desta
afirmação, Bento XVI deixa-nos afirmações como estas:
• “Jesus Cristo é a Verdade feita Pessoa, que atrai o mundo a Si.
• A luz irradiada por Jesus é a luz da verdade. Todas as outras verdades são
fragmentos da Verdade que é Ele e a que elas se referem.
• Jesus é a estrela polar da liberdade humana: sem Ele ela perde a sua orientação,
porque sem o conhecimento da verdade, a liberdade adultera-se, isola-se e reduz-se a
estéril arbítrio.
• Com Ele redescobre-se a liberdade, reconhece-se como criada para o bem e
exprime-se através de ações e comportamentos caridosos.
• Por isso Jesus dá ao homem a plena familiaridade com a verdade e convida-o
continuamente a viver nela.
• E nada mais do que o amor à verdade pode impelir a inteligência humana para
horizontes inexplorados.
• Jesus Cristo, que é a plenitude da verdade, atrai a si o coração de cada homem,
dilata-o e enche-o de alegria”.
Continuemos, portanto, a promover, meus amigos,
aqueles encontros de Vida que nos dão vida profunda,
porque há mais “sede de Deus” do que se diga,
do que se faça crer.

Em poucas frases, sólidas e densas, há todo um ensinamento cristão que está bem longe
de ser uma “moral” ou um conjunto de regras frias e rígidas privadas de vida. A vida cristã é antes
de tudo um verdadeiro encontro com Deus.
E é isto que afirmei no título desta mensagem. Na minha opinião e profunda convicção,
há muito mais sede de Deus do que imaginamos, do que parece. Não é que eu pretenda mudar as
estatísticas dos estudos sociológicos ou desenhar uma realidade fictícia. Claro que não pretendo
fazê-lo, mas desejo fazer compreender que no “vis à vis”, no encontro “face a face” com a vida
real de muitas pessoas, de muitos pais e mães, de muitas famílias, de muitos adolescentes e jovens,
o que se encontra, com grande frequência, é uma vida difícil, uma vida que deve ser “curada”
todos os dias, relações humanas em que o amor é desejado e necessário, que devem ser curadas
em cada pequeno gesto, em cada pormenor, em cada ação. E neste “face a face” há muita
necessidade de escuta, de diálogo franco e gratuito, de encontros pessoais que não julgam nem
condenam, e muita necessidade de silêncio e de presença de Deus.
Digo-o com grande convicção. Precisamente aqui, em Valdocco-Turim, onde estou,
surpreende-me e enche-me de alegria quando um grupo de jovens toma a iniciativa de convidar
outros jovens para uma hora de presença, de silêncio e de oração diante de Jesus Eucarístico, isto
é, uma hora de adoração eucarística, e uma centena de pessoas – tantos são os jovens – respondem
ao encontro. Ou então em Roma, no Sacro Cuore, quando nos reuníamos na quinta-feira à noite,
e os jovens e jovens casais, alguns com os seus meninos, e também casais de noivos estavam
presentes neste momento porque sentiam que a sua vida tinha necessidade deste encontro com
uma Pessoa que dá sentido à nossa vida
E experimentei-o como exemplo em muitas nações e lugares. É por isso que nesta página
eu os convido a fazer como faria Dom Bosco. Não hesitou um instante em propor aos seus rapazes
a experiência do encontro com Jesus. E aquele Deus que é presença, que é Deus-conosco, como
celebramos no Natal, é também o mesmo Deus que chama, que convida, que tranquiliza em cada
encontro pessoal, em cada momento de repouso n’Ele.
Recordo uma das muitas “surpresas” de Dom Bosco. Narra ele nas Memórias: “Entrava
eu na igreja pela sacristia e vi um jovem elevado à altura do santo Sacrário atrás do coro, em ato
de adorar o Santíssimo Sacramento, ajoelhado no ar, com a cabeça inclinada e apoiada na porta
do Sacrário, em suave êxtase de amor como um Serafim do Céu. Chamei-o pelo nome e ele logo
se sacudiu e desceu muito perturbado, pedindo-me que não dissesse nada a ninguém. Repito que
poderia contar muitos outros fatos semelhantes para dar a conhecer que todo o bem que Dom
Bosco faz, deve-o especialmente aos seus filhos”.
É possível que Jesus seja ainda o mesmo Deus que quer encontrar-se hoje conosco e com
muitos outros, ou então nos envergonhemos e tenhamos medo de percorrer este caminho? É
possível que muitos de nós não ousem convidar outros a experimentar aquilo que estamos vivendo
e que nos foi gratuitamente dado e oferecido? É possível que, por nos dizerem que tudo isso não
é de moda e é pouco atual, acreditemos na torrente de mensagens negativas e percamos a força
de testemunhar que muitos de nós continuam a gozar de cada encontro com Aquele que é o Senhor
da vida? O Papa Bento estava convencido de que a sua vida e a sua fé eram “certas” e isto é
grande, um encontro com o seu Senhor, e foi assim que o Papa Francisco se despediu dele nas
últimas palavras da sua homilia: “Bento, fiel amigo do Esposo, seja perfeita a tua alegria ao
escutar definitivamente e para sempre a sua voz”.
Continuemos, portanto, a promover, meus amigos, aqueles encontros de Vida que nos
dão vida profunda, porque há mais “sede de Deus” do que se diga, do que se faça crer.

Fraternidade no combate à fome


Realizada nos dias 22 de fevereiro a 2 de abril,
a Campanha da Fraternidade 2023 traz como
lema “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14,16)
e convida todos os cristãos a se unirem no combate
à fome e à miséria no Brasil.
Com o tema “Fraternidade e Fome” e o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer!”
(Mt 14,16), a Campanha da Fraternidade deste ano busca sensibilizar a sociedade
brasileira e, especialmente, os cristãos católicos, para enfrentarem o flagelo da fome,
sofrido por milhares de brasileiros e brasileiras.
Como explica a presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB) na apresentação do Texto-base da CF 2023, a Campanha da Fraternidade é o
modo brasileiro de celebrar a Quaresma, que em 2023 vai de 22 de fevereiro (Quarta-
feira de Cinzas) até 2 de abril (Domingo de Ramos). É, assim, um convite para que nesse
período tão importante de preparação para a Páscoa do Senhor, possamos “considerar a
fome como referência para nossa reflexão e nosso propósito de conversão”.
“Que, portanto, esta Quaresma seja vivida em forte espírito de solidariedade. Que
nosso jejum abra nosso coração aos irmãos e irmãs que sofrem com a fome. Que nossa
solidariedade seja intensificada. Que saibamos encontrar soluções criativas para a
superação da fome, seja no nível mais imediato, assistencial, seja no nível de toda a
sociedade. [...] Que o Senhor Jesus nos possa um dia dizer: ‘Vinde (...) eu estava com
fome, e me destes de comer; todas as vezes que fizestes isso a um destes mínimos que
são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!’ (Mt 25,34.40)”.

Texto-base da CF 2023
Para orientar os fiéis na vivência da Campanha da Fraternidade, as Edições CNBB
preparam, todos os anos, uma série de subsídios, entre os quais estão o cartaz da CF, o
Hino, a Oração e o Texto-base.
O Texto-base da CF 2023 é dividido em quatro capítulos, distribuídos em 100
páginas. O Capítulo I – “Na fonte da Palavra” – apresenta uma reflexão baseada no texto
bíblico que inspirou o lema da Campanha (Mt 14,13-21) e que descreve o milagre
realizado por Jesus, que tomou cinco pães e dois peixes e os multiplicou para dar de comer
a uma multidão.
No Capítulo II – “VER a realidade da fome” – são apresentados os números da
fome no Brasil e abordadas as causas desse flagelo, além das iniciativas que já são
realizadas no país para sua superação.
O Capítulo III – “ILUMINAR com a luz da Palavra” – busca fundamentar o
combate à fome e à miséria à luz do Evangelho. Por fim, no Capítulo IV – “AGIR para
transformar a realidade da fome”, são apresentadas as propostas de combate à fome nos
planos pessoal, da ação comunitária-eclesial e da ação sociopolítica.

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