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Acompanhamento Terapêutico e Inclusão Escolar
Acompanhamento Terapêutico e Inclusão Escolar
Terapêutico e
Inclusão
Escolar
Profa. Débora Mariana Stahelin
Prof. Jairson José Leichtweis Reis
Prof. José Carlos Lunelli
Profa. Nislândia Santos Evangelista
Indaial – 2022
1a Edição
Elaboração:
Profa. Débora Mariana Stahelin
Prof. Jairson José Leichtweis Reis
Prof. José Carlos Lunelli
Profa. Nislândia Santos Evangelista
S781a
ISBN 978-85-515-0487-1
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Acadêmico, seja bem-vindo ao livro didático Acompanhamento Terapêutico
e Inclusão Escolar. Nesta disciplina, você compreenderá, a partir de diferentes óticas,
conceitos e questões específicas sobre o tema da inclusão, em constante diálogo com
as demandas próprias do Acompanhamento Terapêutico. Neste sentido, esta disciplina
tem o intuito de lançar um olhar sensível sobre os tópicos que tratará.
Desejamos uma boa jornada a todos e sucesso frente aos desafios intelectuais,
éticos e pessoais proporcionados pelo estudo do Acompanhamento Terapêutico e
Inclusão Escolar.
Bons estudos!
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................72
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................139
REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 206
UNIDADE 1 -
ACOMPANHAMENTO
TERAPÊUTICO, INCLUSÃO
SOCIAL E ESCOLAR
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
1 INTRODUÇÃO
3
2 PARADIGMAS CIENTÍFICOS E SOCIAIS
Para pensarmos sobre inclusão e exclusão, partiremos da concepção de
paradigmas para compreendermos a trajetória histórica ou como surgem novas formas
de perceber determinados fenômenos quando mudamos as lentes utilizadas e quando
surgem novas necessidades na sociedade.
Paradigmas são o grupo de regras estabelecidos por alguma teoria que pode
ser rejeitada ou posta em evidência como a “certa”. A ciência ser normal, atualmente,
significa que ela é atrelada, necessariamente, às concepções/interesses das classes
dominantes? Thomas Kuhn desenvolve uma leitura sobre a história das revoluções
científicas em que não há, de fato, cumulação de conhecimento, mas antes substituições
de um paradigma que vem incorporado com conceitos, abordagens, metodologias,
instrumentos e regras próprios que servirá de substituo do paradigma vigente, ou seja,
a ciência normal.
DICAS
Para expandir seus conhecimentos, leia na íntegra o livro de Thomas Kuhn, que ao
mesmo tempo que discute a construção do que conhecemos como ciência, como
se desenvolvem os paradigmas científicos e sociais, também questiona este modelo
estabelecido. Este é um cânone para pensarmos sobre a formação de pensamentos e,
consequentemente, também a construção de políticas públicas, afinal, a construção de
conhecimento e a solidificação de práticas sociais caminham juntas.
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Na ciência normal, há universalização das regras e busca-se sempre uma
verdade ou uma concordância geral, os cientistas montam o quebra-cabeça a partir
de regras previamente estabelecidas. Na medida em que surgem anomalias (e podem
surgir de diversas formas), muda-se o jeito de olhar, muda-se a perspectiva. Kuhn (1975)
faz analogias com a metáfora de figura e fundo, da Gestalt, em que se muda o que estará
mais em evidência a depender do paradigma. No entanto, o autor critica esse modelo
de não cumulação de conhecimento, competição entre pesquisadores, a existência
de manuais que guiam as regras do jogo, sem dar ao estudante a noção histórica da
ciência e, portanto, o quanto os conceitos são abstratos que se atualizam à realidade e
não estão descolados da realidade social e política.
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O processo histórico relacionado às pessoas com deficiência, ainda hoje,
tem se delineado de forma segregativa e exclusiva. Embora as práticas tenham esse
sentido, os argumentos para segregação e exclusão estão sempre acompanhados de
uma localização cultural e social correspondente a cada período histórico (ARANHA,
2005). Dessa maneira, vamos postular sobre diferentes perspectivas – paradigmas –
referentes à relação da sociedade ocidental com a deficiência de acordo com o modelo
de organização econômica e sociopolítica vigente que deu o alicerce para uma forma de
pensamento e para determinadas práticas sociais.
ATENÇÃO
Acadêmico, precisamos ficar atentos às terminologias, mas sem cometer
anacronismos históricos. Assim, termos como “deficiência” ou “deficiente”
são relativamente recentes, surgidos em meados do século XX. Embora
utilizemos esses termos para pensar em outros períodos históricos,
precisamos lembrar que não havia essa terminologia, embora houvesse
uma série de modos sociais de funcionar em relação às pessoas que fugiam
da norma em termos de corpo físico, mental ou social.
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O filósofo Michel Foucault, em uma de suas pesquisas, aborda o tema da
história da loucura e aponta-nos para a reconfiguração do social. Dito de outra for
ma, no início da Idade Média, havia uma quantidade, em franco crescimento, dos casos
de lepra, de forma que havia um local específico para alojar leprosos. Essa medida
continha a contaminação ainda maior da doença. A lepra, na alta Idade Média, era o
verdadeiro temor e terror da população que, de acordo com Foucault (1978), um a cada
cem parisiense teve contato com a doença. O fato da diminuição radical da doença
deixou esses espaços de internação ao léu e só foram de fato reavivados quase dois
séculos depois, onde a loucura, por assim dizer, tomou conta do medo e do imaginário
popular, e assim vemos, novamente, reações de divisão, de exclusão e de purificação
dos indivíduos (FOUCAULT, 1978).
Assim, instituições tais como conventos e asilos, além dos próprios hospitais
psiquiátricos passam a constituir um local de confinamentos. Pode-se falar, em
alguma medida, que se tratava de prisões voltadas àqueles que são diferentes. Esses
dados têm extrema influência da Medicina, pois esta passou a produzir e sistematizar
conhecimentos que mediavam e categorizavam os indivíduos de acordo com critérios
socialmente aceitos. Este paradigma era amplamente aceito e considerado como ético
e legítimo até, pelo menos, o século XX, por volta da década de 1960, onde passou a ser
examinado e criticado.
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A partir de agora, pensaremos em termos de normalização e de
desinstitucionalização.
Esse paradigma de serviço servia como uma luva para o sistema educacional
e para os centros de reabilitação. O problema da lógica de normalização está justa-
mente em buscar padrões universais de categorias ou estágios que todos alcancem,
da mesma maneira, e sob a mesma temporalidade. Dessa forma, logo em seu início,
este modelo de serviço passou por duras críticas da ala acadêmica, que julgava não ser
adequado – nem ético – expectar que todos os indivíduos fossem “iguais” e, ao mesmo
tempo, como se a diferença tivesse um fator de menor valor, o que em absoluto não tem
(ARANHA, 2005).
9
Este Paradigma está atrelado, portanto, à ideia crua de inclusão, pois busca
suportes e instrumentos que garantam o acesso da pessoa com deficiência a qualquer
recurso e/ou evento da sociedade. A diferença deste paradigma em relação aos outros
está na forma como se delineia, ou seja, não busca segregas nem normalizar o indivíduo,
mas reconhece suas diferenças e potencialidade para agir de acordo com elas. Assim,
a pessoa com deficiência passa a ser reconhecida como humana, como cidadã, como
digna e com direitos que devem ser garantidos e respeitados.
Por isso, pensando a partir de Thomas Kuhn, podemos questionar se, de fato,
há cumulação de conhecimento ou se há uma substituição de um termo por outro
sem considerar a construção do outro modo. Um ponto diferente da ideia de inclusão
é, justamente, que a margem e a quantidade de “indivíduos diferentes” têm sido tão
grandes ao nível de ser modificado o ponto central do que se considera a norma. Ou,
ainda, o ponto central que partimos para pensar o que é normal tem sido cada vez mais
exigente e inflexível ao ponto de “caber” cada vez menos indivíduos?
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3 DEFICIÊNCIA: CONCEPÇÕES SOCIAIS
Há diferentes compreensões e definições para o termo “deficiência”. De uma
maneira geral, pressupõe-se que haja variações de alguma das habilidades que podem
ser classificadas como restrição ou lesão (DINIZ; SANTOS, 2009). Contudo, não há
consenso entre os atores da área sobre quais variações ou quais funcionalidades que
poderia, por si, indicar uma deficiência. Isto porque há pessoas que apresentam lesões
e não necessariamente são deficiências e, de forma similar, há pessoas sem lesões
que estão no espectro da deficiência. Trata-se, portanto, de uma fronteira tênue entre
o conceito e as possibilidades de expressões da diversidade humana. Deste modo,
podemos compreender o conceito (acadêmico, político e social) da deficiência a partir
de, pelo menos, duas frentes.
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Assim, podemos refletir que a deficiência já foi vista de diversas maneiras e
o debate ainda segue em aberto. Em outros tempos, a deficiência já foi vista como
um drama pessoal ou familiar. Como vimos há pouco, já foi atribuída benção ou praga
divina. Não obstante, hoje não falamos que a causa de deficiência reside num pecado
ou numa ausência de Deus, não se trata de culpa ou azar, agora o discurso volta-se para
aspectos genéticos, doenças degenerativas.
Assim, o modelo social articula por um outro tipo de deficiência, sendo esta
compreendida como uma experiência de desigualdade compartilhada por pessoas com
diferentes tipos de barreiras ou impedimentos. Desse modo, não se trata de pensar o
surdo, o cego, o autista ou outra categoria a partir de suas particularidades físicas ou
relacionais, mas trata-se de barreiras, impedimentos e discriminações que se constroem
pela cultura da normalidade. Falamos, então, de um modelo social que questiona os
padrões de normalidade estabelecidos. Neste sentido, os estudos da deficiência
aproximam-se dos estudos culturais para respeitar – quiçá exaltar – as diferenças em
termos de constituição pessoal e social dos diferentes. Trata-se, portanto, de colocar
uma ótica sobre as pessoas com deficiência a partir de seus próprios termos.
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Um dos obstáculos para a escolarização é justamente as barreiras culturais,
sejam elas físicas (ausência ou precariedade nas instalações para acessibilidade, ar-
quitetônica, técnica ou comunicacional), atitudinais (como reprodução de estereóti-
pos e estigmas em relação às pessoas com deficiência) (FREITAS, 2016). Em outras
palavras, barreiras que correspondem também ao social e aos políticos implicam na
forma, na expectativa e nas possiblidades de escolarização deste grupo. Assim, de
uma maneira geral, há uma baixa expectativa em relação às pessoas com deficiência,
seja em relação à aprendizagem ou em relação à produção e inserção no mercado de
trabalho. Por esta via, consideramos que se trata de uma visão social arraigada em
preconceitos que têm uma carga histórica. Por outro lado, se pensarmos num contex-
to sem as barreiras impostas socialmente, as deficiências não seriam evidenciadas,
mas apenas pontuais diferenças.
3.2 NEURODIVERSIDADE
A neurodiversidade é uma abordagem dentro do campo dos “estudos da
deficiência” que busca a compreensão dos sujeitos a partir da diferença e da identidade.
Por esta via, a perspectiva da neurodiversidade afasta-se do discurso de médicos,
educadores e especialistas que tratam as deficiências como doenças/lesões (ORTEGA,
2009). Boa parte do material produzido sobre os estudos da deficiência são de autores
e pesquisadores “deficientes” e sua origem foi fermentada junto ao bojo de outros
movimentos a partir da década de 1970, como a reforma psiquiátrica, o feminismo e os
movimentos de raça.
CURIOSIDADES
Temple Grandin é uma mulher autista que é levada por sua mãe para a fazenda da tia,
com o intuito de integrar a jovem com o campo, animais e, consequentemente, um alívio
aos pontos negativos que o autismo trazia para ela na cidade. Assim, neste lugar, Grandin
– um tanto arredia com as pessoas a sua volta –, começa a observar o modo como os
trabalhadores lidam com a criação do gado que existe na fazenda: desde a alimentação
até o abate.
13
Em um desses momentos, Grandin cria uma espécie de objeto, baseado no tronco
de contenção – hoje usualmente utilizado com o gado –, apelidada de “Máquina
do Abraço”. Como não gosta de ser tocada por ninguém, nem mesmo pela mãe, a
personagem sente a necessidade de se sentir protegida nos momentos de angústia e
medo. Dessa forma, sempre que se sente acuada, ela recorre à “Máquina do Abraço”
a fim de se acalmar.
Atualmente, Grandin dá palestras em diversos países, contando um pouco de sua
história e de como o autismo não se tornou uma barreira invencível para que pudesse
chegar aonde chegou. Há inúmeras produções que contam a história de Grandin,
como um filme intitulado com seu nome, e o livro escrito por ela mesma. Além disso,
há também disponível um TED em que Grandin aborda sobre a necessidade de todos
os tipos de mentes, um elogio à alteridade. Você pode ver em: https://bit.ly/3jd75MH.
A socióloga com síndrome de Asperger, Judy Singer, foi quem cunhou o termo
“neurodiversidade”, em um texto intitulado Por que você não pode ser normal uma vez
na sua vida? De um “problema sem nome” para a emergência de uma nova categoria de
diferença. Para a autora, o movimento da neurodiversidade surgiu a partir de um terreno
fértil para a autoconfiança das mães que passaram a questionar as visões dominantes
que a culpavam pelo transtorno autista dos filhos.
14
políticos de deficientes, movimentos de autodefesa e auto advocacia,
especialmente de surdos, que estimulou a autorrepresentação da
identidade autista (ORTEGA, 2009, p. 72).
DICAS
O livro A Diferença Invisível, uma história em quadrinhos escrita por Julie Dachez,
e ilustrada por Mademoseille Caroline, conta a história de uma mulher que foi
diagnosticada, aos 27 anos, com síndrome de Asperger. A narrativa foca a rotina da
protagonista, Margueritte, em sua vida privada, com seus amigos e no seu ambiente
de trabalho, mostra como ela era incompreendida e os movimentos que fez para
assumir sua alteridade sem a necessidade de patologização. Essa história é também
autobiográfica, servindo de inspiração e representatividade.
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FIGURA – CAPA DO LIVRO (À ESQUERDA) E PÁGINA DO LIVRO (À DIREITA)
FONTE: Os autores
A partir dessas óticas, foi-se construindo outra lógica linguística para se pensar,
compreender e debater sobre estudos de deficiência, sobretudo com autores que se
afastam da lógica marxiana, como Derrida e Foucault. Com estas novas referências,
podemos repensar as questões da normalização como também um pressuposto da
deficiência. Isso vai no sentido de que uma construção social, onde se coloca um marco
para o que consideramos “normal” e o que sai dessas margens delimitadas, passa a
configurar como “anormal”. Desse modo, a deficiência é uma construção social tal como
a normalidade também é, e isso passa a regulamentar os corpos e, não obstante, recusar
a aceitação daqueles que fogem aos padrões estabelecidos (ORTEGA, 2009).
16
No Brasil, a publicação da Revista Estudos Surdos (2006-2009) ganha
destaque com pesquisas e publicações que mostram perspectivas que visam à
alteridade e não um diagnóstico. Além disto, boa parte dos autores é surdo, o que
também proporciona mais representatividade da categoria, alimentando a lógica de
cultura e identidade específicos.
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O movimento da neurodiversidade, especificamente em relação à cultura
autista, está relacionada também à inflexão com as concepções psicanalíticas. Ou seja,
o autismo passa a ser visto não mais a partir do viés psicanalítico, mas a partir do viés
biológico e cerebral. A contribuição da psicanálise para a compreensão do autismo estava
fortemente vinculada a uma culpabilização da família pelo estado do filho, de forma a
argumentar em termos de falhas no estabelecimento das relações do indivíduo. Uma
dessas teses diz respeito à “mãe-geladeira”, que atribui o autismo da criança à ausência
de afeto por parte da mãe. De todo modo, mesmo as perspectivas psicanalíticas têm
sido atualizadas neste sentido em prol de uma compreensão mais neurológica.
A partir dos anos 1960 surgem as primeiras associações que reúnem pais,
médicos, cientistas e professores que buscam pesquisas biomédicas sobre o autismo
e estando focadas na educação deste grupo, como por exemplo, o grupo Cure Autism
Now. Estas organizações recebem críticas no sentido de terem uma visão limitada do
transtorno e limitarem as experiências das pessoas autistas. No Brasil, associações de
pais e professores que buscam a cura para o autismo também têm crescido, como por
exemplo, a Associação de Amigos Autistas (AMA) e a Associação de Amigos da Criança
Autista (AUMA).
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os ativistas autistas, esta modalidade de terapia determina um tipo de comportamento
adequado, não respeitando, assim, a neurodiversidade. A complexidade disto vai se
ampliando no sentido de que se há um movimento que luta contra estas terapias,
também há menos investimentos públicos para as terapias voltadas para o autismo,
o que torna também os ativistas do autismo como alvo de críticas por recusarem o
financiamento das terapias.
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Acadêmico, até aqui, vimos um panorama geral dos paradigmas que envolvem
a inclusão em termos históricos e críticos. Vimos diferentes pontos de vista de
compreender, lidar e educar aqueles que são considerados diferentes. Você considera
que alguma forma é superior à outra ou que há formas erradas de pensar a inclusão/
exclusão?
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Paradigmas são o grupo de regras estabelecidas por alguma teoria que pode ser
rejeitada ou posta em evidência como a “certa”.
• O Paradigma da Exclusão, embora não tivesse este nome, representa a forma pela
qual a sociedade relacionava-se com a deficiência na Antiguidade e na Idade Média.
•
• O Paradigma da Segregação implica institucionalizar as pessoas com deficiência.
• O paradigma da Integração busca que o indivíduo se integre sem que haja formas
estruturais de fazê-lo.
• O Modelo Social, em vigor, questiona o modelo biomédico e oferece uma leitura social
e cultural para compreender a opressão sofrida pelas pessoas com deficiência.
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AUTOATIVIDADE
1 Compreender a deficiência é algo complexo na sociedade contemporânea, visto que
o debate está, ainda, em franco crescimento e não há consenso sobre alguns pontos
essenciais, o que contribui para várias perspectivas de deficiência e de inclusão. Cite
os paradigmas de relação entre a pessoa com deficiência e a sociedade.
22
5 O movimento da neurodiversidade, uma forma de compreensão de diagnósticos
neurológicos, surgido a partir da década de 1970, carrega, como pressuposto:
23
24
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, vimos no tópico anterior, a relação social, política e econômica
que a sociedade estabelece com as pessoas com deficiência ou, de uma maneira
geral, com as pessoas que apresentam algum tipo de diferença ou distante da norma
estabelecida. Este cenário nos dá alicerce para continuarmos o debate sobre inclusão
e pensarmos de que forma o paradigma atual sobre inclusão funciona e se configura.
Quais são os pontos de discussão? Como se pensa a inclusão? Qual a perspectiva
crítica da inclusão? E quais políticas têm sido implementadas para dar conta desta
construção de a/normalidade e ex/inclusão?
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2 GOVERNOS DA INCLUSÃO/EXCLUSÃO
A inclusão pode ser compreendida como “um conjunto de práticas que
subjetivam os indivíduos a olharem para si e para o outro, fundadas em uma divisão
platônica das relações; também pode ser entendida como uma condição de vida em
luta pelo direito de se autorrepresenta...” (VEIGA-NETO, 2001, p. 34). Contudo, até o
momento de ser considerada como este conjunto de prática que abarca subjetividades
e individualidades, o processo de inclusão e exclusão passou por outros processos até
se delinear como um dispositivo biopolítico e neoliberal.
INTERESSANTE
FOUCAULT E BIOPOLÍTICA: “A biopolítica se constitui em um conjunto de tecnologias de
biopoder que, desde o século XVIII, se configura numa forma de exercer um poder sobre a
vida da população, particularmente, se responsabilizando pela sua saúde, pelos cuidados
com a procriação e o sexo entre os seus integrantes, com vistas a formar políticas capazes
de governar, de regulamentar e normalizar os seus modos de existência, tomando-a como
objeto de várias ciências para tal e formando um corpo social, relativamente, homogêneo.
Antes de estar sujeito ao império do poder soberano a quem caberia o direito sobre a sua
morte e ao poder disciplinar ou, de uma, “anátomo-política do corpo” (FOUCAULT, 1997),
a biopolítica se ocuparia de administrar a vida da população, evitando que morra, para
fazê-la viver, se ramificando pelas diversas artes de governo e atuando sobre o corpo de
cada indivíduo para que este último a governe por e para si mesmo, segundo os saberes
científicos e as tecnologias do biopoder vigentes. Tais saberes e tecnologias, por sua
vez, trazem a promessa de prolongarem a sua existência, ainda que para torná-la mais
produtiva e ao mesmo tempo menos prenhe de vida, enquanto que a sua liberdade se
reduz a esse jogo de perder a vivacidade para servir a algo que lhe assegure a sobrevivência,
com as possibilidades de viver somente dentro de uma racionalidade econômica, algo
que fundamentará o liberalismo. No neoliberalismo, de acordo com Foucault (2008),
a biopolítica se torna um modo de existência, marcado pelo empresariamento de si e
pela formação do capital humano, encontrando aí e nessa espécie de individuação um
processo de coesão e de constituição do corpo social. Ao problematizar tanto aquela
quanto essa forma de liberdade, segundo Judith Revel (2005, p. 27), nas suas obras tardias
e em seus cursos no final da vida, Foucault propõe uma rearticulação da política com a
ética ou, melhor seria dizer, a bipolítica “representaria a passagem do político ao ético”
em sua obra. Isso ocorreria na medida em que coloca a vida não apenas como lócus
de controle pelas tecnologias cada vez mais sofisticadas de biopoder e da política, como
também de um contrapoder ou de algo que extrapola qualquer dominação plena e resiste
ao poder que pretende subjugá-la, criando outras formas de subjetivação”. Este trecho
foi retirado do artigo “Da exclusão a um modelo identitário de inclusão: a deficiência como
paradigma biopolítico”, de autoria de Pedro Ângelo Pagni. Acesse o link e leia o artigo na
íntegra: https://bit.ly/3JmX3TM.
26
FIGURA – MICHEL FOUCAULT
27
Uma das práticas que, implícitas ou explícitas, sempre é posta em cena é a
necessidade de que os indivíduos sentem em estarem sempre em atividade, de forma
que ninguém pode, efetivamente, ficar de fora, parar, elaborar um ócio. Pelo contrário,
todos (todos!) precisam estar nas malhas sociais, seja através do Estado, seja através
do mercado. Imbricada a esta noção, está o fato de que numa lógica neoliberal todos
precisam estar incluídos na lógica do Estado ou mercado ou política ou comunidade,
ainda que nem todos tenham as mesmas condições de acesso ou de permanência.
“Para tanto, as condições principais de participação são três: primeiro, ser educado em
direção a entrar no jogo; segundo, permanecer no jogo (permanecer incluído); terceiro,
desejar permanecer no jogo” (LOPES, 2009, p. 155).
Essa lógica implica um movimento que soa muito natural, pois é construído
e incutido de maneira simultaneamente sutil e coercitiva, da escola para o mercado
de trabalho. A escola é a instituição obrigatória socialmente para as crianças, pois é
quem vai garantir esta compreensão do funcionamento da sociedade e contribuirá para
a produção de corpos e de subjetividades que levará ao mercado de trabalho – ou ficará
frustrado pela falta de acesso a estes nichos.
28
Para isso, as ações do Estado, quando esse opera em consonância
com uma lógica de mercado, devem ser desencadeadas para que
mesmo aqueles que não possuem formas de gerar seu próprio
sustento consigam recursos para girar, mínima e localmente, uma
rede de consumo (LOPES, 2009, p. 156).
Por estas vias, podemos pensar como políticas públicas se delineiam quando
se trata de “os anormais” e os espaços públicos, ou seja, de que forma os sujeitos
que fogem às normas socializarão ou não em sociedade. Estes “anormais” são “[...]
divididos cada vez mais em numerosas categorias que a Modernidade tem incansável
e incessantemente inventado: os sindrômicos, deficientes, psicopatas, os surdos, os
cegos, os aleijados, os rebeldes, os pouco inteligentes, os estranhos, os ‘outros’” (VEIGA-
NETO, 2001, p. 23).
29
Para Foucault, esse polimórfico grupo ao qual hoje denominamos os
anormais formou-se "a partir de três elementos, cuja constituição
não foi exatamente sincrônica" (Foucault, 1997, p. 61): os monstros
humanos, o indivíduo a corrigir e o onanista. É claro que todos esses
três "tipos" já existiam desde tempos muito remotos; a novidade que
se afirma, desde início do século XIX, é tanto o agrupamento deles
numa categoria mais ampla quanto vê-los muito menos como um
objeto de curiosidade e muito mais como um problema (VEIGA-NETO,
2001, p. 29, grifos do autor).
DICAS
Jefrey Cohen, em seu texto A Cultura dos Monstros: sete teses, elabora uma ideia
de que o corpo do monstro é um corpo cultural. Isto significa que toda a ideia de
monstruosidade é construída num arsenal cultural do que seria o ideal antagônico ao
monstro. Isto serve para pensarmos os personagens do cinema ou de lendas míticas,
mas também serve para refletirmos sobre quem são as figuras, em nossa sociedade,
que são personificadas como monstruosas. Nas palavras do autor, “Qualquer tipo de
alteridade pode ser inscrito através “construído através” do corpo monstruoso, mas, em
sua maior parte, a diferente monstruosa tende a ser cultural, política, racial, econômica
e social” (COHEN, 2000, p. 32). Em outros termos, o corpo do deficiente só é visto como
monstruoso na medida em que os padrões de normalidade são rígidos a um ponto
isotrópico, que não tolera qualquer tipo de diferença, mas é o que se busca até o
limite. Por outro lado, o corpo diferente é o que escapa à norma, por isso é desenhado,
muitas vezes, como um perigo, pois não foge dos critérios estabelecidos a priori. Para
ater-se mais a estas teses, leio o texto do autor, na íntegra, que está presente no livro
Pedagogia dos Monstros: os prazeres e os perigos da confusão de fronteiras.
30
FIGURA – CAPA DO LIVRO PEDAGOGIA DOS MONSTROS: OS PRAZERES E OS PERIGOS DA
CONFUSÃO DE FRONTEIRAS
Assim, através desta organização social que também implica uma organização
e um ajustamento dos corpos dos indivíduos, é possível identificar médias e margens,
anomalias e correções. É a partir desta estrutura – que parte de muitos saberes, mas
que dialogam e se retroalimentam – que se inclui ou exclui-se categorias, estilos de
vida, determinados corpos e determinados tipos de desejo.
Dentro deste novo conjunto de modalidades que passam por crivos disciplinares,
judiciais e judiciários, os loucos – ou uma ideia de loucura que se foi delineando
lentamente – passaram a ocupar um lugar especial nos conhecimentos psi (Psiquiatria
e Psicologia). Deste modo, questões como indisciplina, rebeldia, indocilidade que
antes não tinham um estatuto moral marginal ou pejorativo, agora são cada vez mais
enquadradas no bojo das loucuras inscritas em manuais e estatísticas da psiquiatria. Na
categoria de “loucos” entra diversos tipos de indivíduos, deficientes, diferentes.
31
medicina) e está relacionado com adoecimento do próprio corpo. Assim, uma série de
nomenclaturas e descrições são elencadas a fim de medir e mesurar a mente humana.
Ainda neste pensamento, consagra-se a ideia de cura, pois assim como a medicina sara
as doenças do corpo, também cura os males da mente (SCHNEIDER, 2009).
Não obstante, essa inclusão não é dada, a priori. Essa inclusão não é algo
natural em termos de natureza ou em termos de sociedade. Assim como direitos
humanos, democracia e cidadania, a inclusão também se trata de uma construção, com
historicidade em diálogo com aspectos políticos e econômicos. Partindo da compreensão
de um mundo isotrópico, com um equilíbrio perfeito e pleno, qualquer sinal de diferença
dentro duma lógica rigidamente estabelecida, pode ser vista como disfunção, pois
32
quebra a noção de equilíbrio (VEIGA-NETO, 2011). É nesse cenário delineado com base
numa falsa ideia de equilíbrio – ou de normalidade – que a inclusão aparece, para incluir,
para colocar no desenho isotrópico, aqueles que fogem aos equilíbrios anunciados.
De acordo com Castel (1984), a definição de deficiência passou por um crivo ju-
rídico, sendo enquadrada em termos de leis e procedimentos que o Estado, ou a estru-
tura social, precisaria lidar. Neste sentido, em 1967, uma concepção de deficiência seria:
33
Por esta definição, vemos o estatuto de deficiência ganhar o delineamento da
inaptidão, do deslocado, daquele que foge à média padrão. Neste sentido, a deficiência,
física ou mental, visível ou sugestionável, passa pelo crivo da eficiência. Se a figura do
louco, em outros momentos, pode ser considerada como genial, na figura do deficiente
sempre há algo que falta, nunca há eficiência plena do corpo e das atividades (CASTEL,
1984). Isto, é claro, se referindo à definição de deficiência por onde as leis passaram a ser
desenvolvidas. Assim, a linha de pensamento mais forte sobre a deficiência foi pensada a
partir da medicina e da psiquiatria social que se preocupavam com aspecto de trabalho,
de reinserção social, de adaptação profissional, classificação social e recuperação de
mão de obra.
Nas palavras de Castel (1984, p. 106), “se esta tradição visa incluir mais do
que excluir, ela o fez banalizando a deficiência como sob a forma de um déficit que
se pode compensar. A atenuação da deficiência se obtém através dos processos de
aprendizagem que diferem profundamente da terapia”. Por outro lado, porém, essas
34
medidas podem indicar um movimento diferente àquele que coloca unicamente no
organismo e busca, sempre, a etiologia do problema e passa a ser mais concentrado
na performance, na mudança de comportamento através da aprendizagem, através
de exercícios de desenvolvimento. Isso, como temos visto, pode indicar um tipo de
problema ou de marginalização, mas também se afasta de uma medida essencialmente
biológica e higienista deste quadro.
A escola, como um lugar que identifica aqueles que fogem à norma, identifica os
anormais, se justifica sob o contexto de que se cobra responsabilidade do governo ou
de outra instituição na ação de corrigir este indivíduo, socializar ao ponto que ele está
apto para a vida social (PAGNI, 2017). Busca-se, assim, o aspecto funcional e utilitário
em incluir os deficientes no mercado de trabalho. Isto dialoga com o que foi exposto no
Tópico 1 sobre a relação da sociedade com os desajustados estar também relacionado
com a lógica de produção, de trabalho e de economia do momento e do local.
Assim, esta investigação, esta linha de corte que é colocada entre o normal e
o anormal também se torna um estudo de mapeamento dos riscos da população, ou
seja, identificar quais indivíduos precisariam estar sujeitos às políticas que promovem a
superação de déficits e, assim, se estabelece uma hipotética igualdade, volta-se ao ideal
do isotropismo (PAGNI, 2017). Nestes estudos, nestas cartografias sobre os desajustados
desenvolvem-se políticas estatais, investimentos privados e regulações de mercado em
busca de finalidades e tecnologias voltadas especificamente a este público desajustado,
que indica uma suposta falha num mundo em que a racionalidade opera em nome de
um tipo de perfeição e faz parte do jogo buscar um tipo de igualdade a todos.
Uma outra problemática que surge a partir desta concepção social que preza
sempre por um ideal de perfeição, a famigerada isotropia, está relacionada com
“aumentar até o limite” a margem do que seria a normalidade. Nas sociedades ocidentais
atuais, a normalidade volta-se para o corpo idealmente padrão, para o corpo malhado,
lipoaspirado, fitness, sem marcas, sem estrias, sem idade (PAGNI, 2017). Ou seja, este
padrão de normalidade é cada vez mais distante da realidade palpável das populações,
de forma que a ideia de deficiência acaba por atingir cada vez mais pessoas que estão
corporalmente distantes do ideal, como pessoas obesas, idosas, pessoas queer, não
binárias, pessoas negras, pessoas baixas demais, pessoas altas demais, pessoas que
pertencem a algum tipo de subcultura, entre outros.
35
3 INCLUSÃO ESCOLAR
A Educação Inclusiva, hoje, é um dos pontos marcantes das políticas voltadas
para as pessoas com deficiência. A Educação Inclusiva propõe que todas as pessoas
participam do processo de escolarização formal do ensino em todos os níveis sociais.
Para tal, além da busca pela garantia de acesso, também se busca a permanência desta
população, oferecendo-lhe meios para que a educação seja efetivada.
Para que a inclusão escolar seja posta em prática, uma série de documentos
e legislações são utilizadas, como a elaboração de políticas públicas, a organização
da escola, o envio de recursos financeiros e materiais pedagógicos, a preparação de
pessoal, professores e gestores, a preparação do espaço físico caso sejam necessárias
a liberação de barreiras (DELMLING; MOSCARDINI, 2012).
Portanto, pensamos a partir dos paradigmas, pois é isto que uma educação
verdadeiramente inclusiva requer, pois atinge, afeta e modifica todos os envolvidos, pois
mexe na raiz, na estrutura e nos atores envolvidos; por isso, há supressão da subdivisão
entre o que seria ensino especial e o que seria ensino regular. Na prática, todos devem
fazer parte do ensino regular, isto porque a inclusão é antagônica da segregação, da
separação por hierarquias, porque é uma quebra de paradigma em relação a outros
modelos que integram sem incluir ou mesmo que excluem efetivamente.
36
das dificuldades no sistema educacional brasileiro, como desnutrição e disfunção
neurológica. Alguns trechos da fala dos profissionais entrevistados na pesquisa de
Moysés e Collares (1994, p. 64):
37
A via de ensinar e aprender sem que haja de antemão um ponto de chegada,
um pódio limite. Ou, ao contrário, um modo de aprender que não precise ser demarcado
por linhas específicas que prendem as possibilidades da criança em criar e imaginar
outras coisas, experienciar outros modos de maturar informações. Quando olhamos a
partir da alteridade, não da falta, não da ausência, não da doença, então vemos mais
necessidade e mais potência num encontro do que, muitas vezes, na necessidade de
intervenção medicamentosa para casos de problemas comportamentais.
Sendo feitas estas considerações, voltamos ao aspecto da inclusão. Será que ela
tem sido implementada de forma a reconhecer as diferenças no interior da escola, entre
alunos que vêm de diferentes lugares, diferentes classes sociais, diferentes acessos a
bens e à cultura. Além disto, estas políticas reconhecem e valorizam as diferenças ou
atuam para que todos estejam mais perto da linha do “normal” socialmente estabelecido?
38
Acredita-se, portanto, que é a partir da ética, numa dimensão crítica, que se
alcança a inclusão. A partir da ética aproxima-se da compreensão pela diferença, pela
alteridade. Por isso, a inclusão precede e advoga por uma escola plural, democrática
e transgressora (MANTOAN, 1999). Ela é transgressora na medida que abala a ordem
estabelecida, que questiona a norma, que coloca lentes sobre a imprevisibilidade e a
capacidade de mudança no olhar e na postura com os diferentes. Por isso, num contexto
de educação inclusiva não há uma sala específica para os “Portadores de Necessidades
Especiais” porque nem mesmo se coloca este termo para se referir a determinadas
pessoas; o aluno de uma educação inclusiva não tem uma identidade fixa, não é
essencial nem permanente em si, mas está aberto a aprendizagens e a ensinagens. É a
este direito às diferenças que a educação inclusiva prega.
4 DOCUMENTOS OFICIAIS
Os marcos legais que apontam para o direito à educação estão preconizados
em documentos oficiais em nível internacional e nacional. Em termos internacionais,
a Declaração Mundial sobre Educação Para Todos, aprovada pela Conferência Mundial
sobre Educação para Todos, em Jomtien, Tailândia, de 5 a 9 de março de 1990, por
exemplo, é um documento que preconiza que qualquer pessoa com deficiência tem
direito de expressar opiniões, desejos ou insatisfações em relação à educação que
recebe. De forma similar, a família também tem o direito inerente de ser consultada
sobre as propostas de educação e quais as formas mais apropriadas às necessidades e
aspirações de suas filhas e filhos.
39
De todo modo, vale destacar que mesmo que se organize leis que garantam a
inclusão, o conceito de diferença ainda apresenta grandes preconceitos, discriminação
e exclusão, isto sendo percebido também em muitas políticas educacionais voltadas
para a inclusão.
Assim, os alunos que, muitas vezes, são enviados para classes especiais não
chegam a ter um diagnóstico, mas apresentam uma série de características que, por
si, são discriminatórias, como ser indisciplinado ou ser pobre. Isso implica estar fora
dos critérios de como deveria ser ou se comportar nos muros da escola. Além disso,
há muitas dúvidas sobre a precisão dos textos legais para organizar planos de aulas
ou propostas educacionais concretas, sendo tudo vago e generalizante. Isso freia as
iniciativas, ou mesmo faz com que elas retrocedam.
40
Neste sentido, uma escola inclusiva é aquela onde as crianças aprendem juntas,
independentemente das dificuldades inerentes a elas. Isto significa um grande desafio
no ramo educacional, visto que se preconiza que a escola se adapte às crianças, seja
através de currículos apropriados, seja através de mudanças na estrutura ou nos arranjos
organizacionais. Portanto, não se pretende que as crianças se adaptem ao ambiente,
mas sim que o ambiente ofereça meios facilitadores e respeito às peculiaridades de
cada criança. Assim, crianças com deficiência têm o direito de receber suporte extra
requerido para assegurar uma educação mais efetiva.
41
III – professores com especialização adequada em nível médio ou
superior, para atendimento especializado, bem como professores do
ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas
classes comuns;
IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva
integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas
para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho
competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem
como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas
áreas artística, intelectual ou psicomotora.
42
INTERESSANTE
A Lei Ordinária Federal nº 12.764, de 7 de dezembro de 2012 institui a Política Nacional
de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Essa lei
é denominada “Lei Berenice Piana” em homenagem à mãe que luta pelos direitos das
pessoas com autismo e institui para todos os efeitos legais que o autismo é considerado
uma deficiência. O Art. 3º desta lei trata dos direitos conferidos à pessoa com transtorno
do espectro autista, quais sejam:
43
A Lei nº 13.861, de 18 de julho de 2019 vigora que nos censos demográficos
realizados a partir de 2019 serão inclusas as especificidades inerentes ao transtorno
do espectro autista, em consonância com o § 2º do art. 1º da Lei nº 12.764, de 27 de
dezembro de 2012.
44
Política Nacional
Institui para todos os efeitos legais que o
de Proteção dos
autismo é considerado uma deficiência.
Direitos da Pessoa 2012, Brasil
Também discorre sobre os direitos das
com Transtorno do
pessoas com TEA.
Espectro Autista (TEA)
FONTE: Os autores
45
No que diz respeito à educação, as crianças, tidas como recém-chegadas
são consideradas um nível hierárquico inferior e, portanto, devem ser disciplinadas e
treinadas moralmente para desenvolver e adquirir os pré-requisitos necessários para
que, enfim, sejam consideradas humanas (BIESTA, 2013). Tal abordagem de socialização
humanista, sem surpresas, incita desigualdades e não considera o singular, preocupa-
se com a ordem vigente. Dessa forma, questões teóricas e filosóficas sobre a questão do
homem têm implicações práticas e refletem como pensamos as estratégias e processos
educacionais.
46
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A inclusão não é dada, a priori. A inclusão não é algo natural em termos de natureza
ou em termos de sociedade.
• A linha de pensamento mais forte sobre a deficiência foi pensada a partir da medicina
e da psiquiatria social que se preocupavam com aspecto de trabalho, de reinserção
social, de adaptação profissional, classificação social e recuperação de mão de obra.
• A escola como um lugar que identifica aqueles que fogem à norma, identifica os anormais.
• Para que a inclusão escolar seja posta em prática, uma série de documentos e legisla-
ções são utilizadas, como a elaboração de políticas públicas, a organização da escola.
• A Convenção sobre o Direito das Pessoas com Deficiência foi divulgada em Nova
York, em 2006, e promulgada no Brasil a partir do Decreto nº 6.949 em julho de 2009.
47
AUTOATIVIDADE
1 Os documentos que regem algumas práticas da educação inclusiva têm caráter
internacional e nacional. Entre os documentos internacionais há a Declaração de
Salamanca. Sobre este documento, marque V para Verdadeiro e F para Falso.
48
Estão CORRETAS apenas:
a) ( ) Estão corretas apenas I e III.
b) ( ) Estão corretas apenas I, II e III.
c) ( ) Estão corretas apenas III e IV.
d) ( ) Estão corretas apenas II e III.
5 A inclusão escolar requer, entre outras coisas, uma quebra de paradigma em relação às
antigas formas de se relacionar, socializar e educar os diferentes. Um desses aspectos é
abandonar a ideia de “diferença fixa”. Comente sobre o termo.
49
50
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
E INCLUSÃO ESCOLAR
1 INTRODUÇÃO
51
A definição de Kant diz que “o fim da educação é desenvolver, em cada indivíduo,
toda a perfeição que ele seja capaz” (DURKHEIM, 1983). Perfeição se colocada no sentido
de harmonia pregada por Durkheim, seria inviável para a realização individual, afinal,
não devemos fazer todos a mesma coisa. Imagina se absolutamente todas (já quase) 8
bilhões de pessoas do planeta Terra fizessem especialização em educação?
52
Então, já entendemos que para que haja educação precisamos que a geração
mais velha haja sobre a mais jovem. Agora, precisamos entender como se constitui
essa natureza nos outros sistemas educacionais que existiram em outros tempos e sob
outras normas. Educação, em todos os tempos, é una e múltipla.
DICAS
A socióloga da infância aborda os conceitos de “ofício de criança” e “ofício de aluno”
para pensar a situação da criança na sociedade moderna. Sirota (2001) discute que a
emergência de uma Sociologia da Infância deve-se ao surgimento do chamado “ofício
de criança”, em que se busca uma discussão sobre a infância, afastando-se dos termos
da sociologia da educação. O ofício de criança, nas sociedades que determinam a
escolaridade como exercício obrigatório das crianças, revela o desempenho de papéis
institucionalmente prescritos, validando a condição de aluno e atribuindo progressos
em termos de maturidade e desenvolvimento (SIROTA, 2001). Para Sarmento (2011,
p. 588), “com a escola, a infância foi instituída como categoria social dos cidadãos
futuros, em estado de preparação para a vida social plena”, pois ao ocupar-se
53
essencialmente do aluno, a instituição destaca a figura do aprendiz,
que é avaliado, premiado ou sancionado tendo como meta a idade
adulta. Sob essa perspectiva, desaparece a “criança” enquanto sujeito
que carrega emoções, saberes e aspirações, nascendo o sujeito “aluno”.
Para compreender melhor, leia o artigo A Emergência de uma Sociologia
da Infância: evolução do objeto e do olhar, de autoria de Régine Sirota,
no Cadernos de Pesquisa, em 2001. Segue o link para acesso: https://
bit.ly/3jckWmB.
Assim, a escola também é responsável, tal como nas palavras de Durkheim, pela
socialização das crianças, e este processo está vinculado à interação entre gerações,
entre o velho e o novo. Por esta via, a escola é responsável oficial pela preparação do
cidadão futuro – estes sendo, em seu início, crianças. Na escola se alfabetiza, na escola
se consegue diplomas, na escola se prepara o corpo para que fique sentado por horas
seguidas, tal como depois será necessário na vida adulta.
54
situação psicológica que também está fora. Neste sentido, a atuação do acompanhante
terapêutico está voltada não apenas para as fronteiras em termos de espaços, mas
sobretudo nas interrupções de processo do paciente. Ou seja, isso implica uma atuação
em que se favorece que os movimentos do sujeito sigam um fluxo num sentido de
administrar o “fora” e o “dentro”.
Desse modo, os atendimentos do AT, como toda sua prática, não têm um caráter
fixo e homogêneo, sendo relativizados, em termos de configuração, de acordo com a
demanda de cada paciente. Os atendimentos podem ocorrer uma, duas ou mais vezes
durante a semana e o tempo de duração pode ir em até três horas (PITIÁ; FUREGATO,
2009). As atividades realizadas devem promover os objetivos terapêuticos traçados
para o restabelecimento do indivíduo em sociedade e com o mundo que o cerca.
55
de possibilidades, também pode caber à atuação do AT uma expansão de possibilidades
e fronteiras para além da escola, mas que também subsidiariam e guiaram formas de
educação e de socialização que calhassem em cada caso de acompanhamento. Para
tal, o que importa é a sensibilidade atrelada à técnica e à prática do AT.
56
Para tal, além das éticas necessárias para se trabalhar com inclusão e com
saúde mental, por exemplo, também é necessário pensar a inclusão a partir de um
sistema social, político e econômico mais amplo, de forma que são muitos os atores
e as instituições envolvidas. Em outras palavras, a inclusão deve contar com serviços
especializados, caso seja necessário, e também precisam estar numa escola regular.
Não se deve negar um serviço especializado assim como não se deve negar o acesso
e garantir a permanência da criança na sala de aula regular. Para tal, é necessário que
haja toda uma reorganização do sistema educacional, com revisão de paradigmas
relacionais, burocráticos, éticos e políticos para lidar com o outro (SERENO, 2006).
Este cenário implica, como temos debatido até aqui, uma crise na instituição
escolar em relação ao seu contato com a loucura, com a deficiência, enfim, com a
diferença. A escola como um território conservador e rígido quanto às diferenças é
posta à prova em suas estratégias para a produção de subjetividade e de identidades
(SERENO, 2006). Não obstante, é esta crise de visão e de paradigma que pode indicar
uma abertura para um outro tipo de desenvolvimento social e pessoal das crianças.
ESTUDO DE CASO
“Marcos, um menino autista de 11 anos, separava tão bem esses espaços
que durante bom tempo deixou sua loucura, desorganização, para as
Oficinas Terapêuticas, organizando-se na escola. Depois, tudo se
misturou, a desorganização ocupou todos os espaços, em casa e na
escola. Queria ele deixar sua marca? De qualquer jeito, e isso torna-
se relevante, alguns meses após esse tumulto, falou a primeira frase
(de sua vida) na escola, dirigindo-se para o AT, que conversava com
a professora: “vem me pegar!”, estabelecendo um laço inédito de
relação, usando um repertório infantil em que está implícita a dimensão
do jogo! O efeito disso foi sensacional. A professora foi muito elogiada:
“ela o ensinou a falar!”. Isto disparou um movimento da escola (que nos
toma como parceiros, e também à família) de inseri-lo na rede de saúde
de seu município, próximo de São Paulo, articulando alternativas para
um tratamento na região, a fim de garantir maior frequência, consistência
e continuidade de seu projeto escolar” (SERENO, 2006, p. 173).
57
Há dois tempos de processo de escolarização para crianças com transtornos
mentais, a saber: i) a ambientação; ii) depois da entrada na sala de aula. O primeiro, a
ambientação, diz respeito aos primeiros momentos, como entrar na escola, compreender
os códigos e os signos do ambiente, desenvolver um tipo de repertório escolar para se
adaptar à classe. Este tempo primeiro de ambientação é respeitado e acompanhado
pelo AT, que observa o ritmo e as necessidades, e que busca captar toda as linguagens
e formas possíveis estabelecidas para a convivência dentro e fora da escola ou da sala
de aula. Isso implica observar como a criança se relaciona, com quem ela estabelece um
tipo de vínculo, quais objetos ela se interessa, quais tipos de diálogo estabelece, com
quem e por quanto tempo. Este é o tempo fértil para a compreensão e disseminação de
códigos sociais.
58
as novas medidas decididas e elaboradas pelos mesmos e, por
acompanhar o sujeito, ter uma intervenção mais frequente e mais
apropriada nos diversos ambientes afetados (REIS, 2012, p. 195).
CURIOSIDADES
O Brasil é um dos países que mais apresenta diagnóstico de TDAH em
crianças e, também nessa linha, é o segundo maior consumidor mundial
de metildenidato (Ritalina, Concerta); a venda destes medicamentos tem
crescido cada vez mais em “ritmo assombroso: 71.000 caixas em 2000;
739.000 em 2004; 1147.000 em 2008; em 2010 as vendas passaram de
2 milhões de caixas” (MOYSÉS; COLLARES, 2013, p. 68). O tratamento
farmacológico pode ocorrer no sentido de diminuir a impulsividade e a
atividade motora e aumentar a vigilância, além de melhorar a memória
recente e o desempenho escolar. Um dos fármacos mais comuns nestes
casos é o metilfenidato, que se trata de um psicoestimulante e seu
efeito recai sobre os aspectos comportamentais que duram o tempo do
efeito do fármaco, não auxiliando nos casos de autoestima ou mudança
no quadro do transtorno (ROTTA, 2016). Este fármaco é conhecido
comercialmente como Ritalina, com duração de cerca de quatro horas.
Outra forma de encontrar comercialmente o metilfenidato é através do
Concerta, com tempo de ação de até 12 horas.
59
um ambiente relativamente previsível. Atividades físicas costumam ser recomendadas
neste caso também, o que se considera um tipo de ensino ativo. Verificar também se
há a necessidade de um reforço de conteúdo em determinadas disciplinas (REIS, 2012).
60
IMPORTANTE
O capacitismo como preconceito e discriminação se manifesta principalmente quando
uma pessoa subestima a capacidade da outra pelo simples fato de ela ser pessoa com
deficiência. Geralmente a pessoa com deficiência é tratada de forma infantilizada, e
pormenorizada pelo simples fato de ter alguma deficiência que é visível, sem ser notada
ou percebida pela sua capacidade, mas apenas pela sua deficiência. Entender o que é
capacitismo é muito importante, principalmente pelo fato de que, por não ser muito
conhecido, acabamos praticando de forma involuntária. Como é o caso dos vieses
inconscientes, o capacitismo também pode ser evitado quando compreendido e
estudado. Manifestações capacitistas: Pessoas sem deficiência que utilizam
os banheiros para pessoas com deficiência, ou até mesmo pessoas sem
deficiência que questionam a necessidade do banheiro adaptado; Pessoas
que se admiram ao ver alguma pessoa com deficiência vivendo sua vida
normalmente e fazem comentários como “ela vive a vida como se
fosse normal”; Pessoas que ficam surpresas com a conclusão
de curso de uma pessoa com deficiência; Parabenizações pela
pessoa com deficiência ter feito alguma coisa “mesmo com
essas condições”. Expressões capacitistas que devemos evitar:
cego de raiva; dar uma de joão sem braço; sequelado; mongol;
deformado; capenga.
O “faz as mesmas coisas que todos” – fala tão presente em relação a crianças
com problemas de desenvolvimento – muitas vezes encobre com uma aparente
democracia e pé de igualdade com os outros, o anonimato e a ausência de projeto de
vida no qual uma criança é lançada. Frequentar a escola simplesmente “porque todos
vão”, se bem possa ter um aparente efeito normalizador, não implica a inclusão social
de uma criança se esta ida à escola não a toma num projeto maior de transmissão de
cultura (JERUSALINSKY, 2002, p. 33).
É neste sentido que o AT pode atuar junto a crianças que apresentem proble-
mas de desenvolvimento e contribuir para sua autonomia e, assim, também com sua
cidadania. Há, contudo, algumas precauções que devem ser tomadas, como a atenção
às demandas e necessidades do paciente. Deste modo, não basta que o AT passe a
apresentar uma série de atividades que julgue importante e necessário para o pacien-
te, pois isto seria uma mera transmissão e não uma apropriação por parte do paciente.
Assim, as práticas devem fazer sentido, sobretudo, para o paciente.
Para que isso seja possível em sua gama vasta de possibilidades, é necessário
que o AT se desprenda da formalidade e da temporalidade padrão, os roteiros prontos,
tudo com script e hora marcada, afinal, isto é ir no sentido contrário da criança. Assim,
os diagnósticos e as medicações importam para saber a demanda, mas na hora do
acompanhamento, a presença e a disponibilidade do AT em estar com coração e cabeça
abertas para o momento é força propulsora de atravessamentos e mudanças.
62
LEITURA
COMPLEMENTAR
ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO EM ESCOLA REGULAR:UM CASO DE
INCLUSÃO
Introdução
Caracterização do Caso
63
(caracterizada pela perda total ou parcial da função motora, resultando em vários níveis
de comprometimento e incapacidade – BASTELLI, 2010), comprometendo grande
parte de suas funções motoras e de comunicação. Apesar de seu quadro, o menino foi
alfabetizado pela mãe durante os anos precedentes, e participa da maioria parte das
atividades em que a turma na qual está inserido atua.
V já foi avaliado por diversos profissionais da área de saúde. No entanto, apre-
senta características peculiares de comportamento que não se enquadram em diag-
nósticos simples de autismo ou de transtorno invasivo. Ele frequenta o ensino regular
desde a pré-escola, sempre com o auxílio de um at individual em sala de aula.
Intervenção
Acompanhei V desde agosto do ano de 2009, até o final do ano letivo, no mês
de dezembro. Durante este período, foi realizado o acompanhamento diariamente,
sempre às tardes, durante as atividades acadêmicas. V cursou em 2009 o segundo ano
curricular, dos nove anos do ensino fundamental. O currículo inclui aulas de Português,
Matemática, Ciências, Educação Física, Música, Artes Visuais e Informática/Biblioteca,
das quais V participou integralmente, e aulas de História, Geografia e Inglês, das quais
V não participou. Isso se deve a duas principais razões: tempo e foco. Devido às suas
limitações, V precisa de mais tempo que a maioria dos alunos para realizar as mesmas
tarefas. Como o foco de sua aprendizagem foi determinado em algumas áreas, foram
privilegiadas as disciplinas relacionadas às áreas contempladas.
Segundo Santos (2009), “é por meio da criação de ações e pela realização
de atividades ligadas ao cotidiano dos pacientes que a clínica do at terapêutico se
realiza, buscando retomar ou criar inserções sociais não estereotipadas e capazes de
contemplar a alteridade que é própria ao paciente e a todos nós”.
Durante uma tarde típica na escola, V chega com outras crianças já no horário
da aula começar, pelo ônibus escolar. A primeira tarefa como at é levá-lo até a sala de
aula, através das escadas. V sempre solicitava apoio para andar, e descia as escadas
degrau por degrau, sempre começando pelo mesmo pé (esquerdo). Normalmente, o
acompanhado chegava bem disposto e sentia voluntariamente na última carteira
64
de uma das fileiras. Uma das funções do at é lembrá-lo de cumprimentar colegas e
professoras, uma vez que esse comportamento ainda não é totalmente espontâneo.
Segundo Moreno (1993), “a evolução consciente através do treino da espontaneidade
abre novos horizontes para o desenvolvimento da raça humana.” Assim, mesmo as
atividades mais básicas podem exigir treino antes de se tornarem espontâneas.
Para a maioria das crianças que convivem com V na escola, ser “especial”
significa ter alguns comportamentos peculiares e várias limitações. A atitude de muitos
reflete um comportamento que é geralmente dispensado a crianças mais novas – a
atitude que teriam com um irmãozinho mais novo, por exemplo. A maioria das crianças
tem curiosidade e busca contato com V, e é muito importante para o at estar atento a
essas tentativas de aproximação, pois elas formam uma base sólida para o processo de
socialização do acompanhado. Como V não se verbaliza oralmente, seu at passa a ser
uma espécie de porta-voz de suas necessidades, impressões e atitudes – uma grande
responsabilidade.
Com relação às atividades acadêmicas, o foco sempre foi que V pudesse
acompanhá-las no ritmo mais aproximado possível da média da turma, desde que
pudesse verificar sua aprendizagem efetiva dos conteúdos. V não possui dificuldades
65
intelectuais significativas, com exceção da dificuldade de se manter atento do início
ao fim de uma tarefa qualquer. Para V, as instruções devem ser concisas e a tarefa
não deve requerer mais do que dez minutos de atenção focada, pois, além de perder o
foco da atividade, a criança mostra crescente irritabilidade toda vez que é submetida a
tarefas prolongadas.
V parece compreender a maior parte do que é lhe dito, pois responde a estímulos
verbais, alterando em diversas ocasiões seu comportamento. O trabalho de AT com
V deve sempre considerar este fato, mesmo porque o trabalho envolve que ambos
assumam algumas responsabilidades em relação ao processo (LONDERO e PACHECO,
2006). V demonstra também consciência de suas limitações, tanto em ocasiões em que
se mostra frustrado e irritado como em circunstâncias de esquiva de tarefas, quando
parece duvidar de suas capacidades.
Apesar de tudo, o AT foi realizado com um enfoque positivo, ou seja, não apenas
par- tindo das capacidades de V, mas também valorizando os incrementos de repertório
e as mudanças favoráveis de comportamento, com menos ênfase a comportamentos
inapropriados ou aparentes perdas de repertório. “O objetivo principal nesta área é
permitir ao paciente um melhor desenvolvimento, conduzindo-o a um relacionamento
social mais amplo, em casa e na comunidade, com ênfase à realização das atividades
do dia a dia, à autoajuda e à comunicação oral” (CARVALHO, 2010).
66
Devido à sua condição de hemiparesia, V tem mais dificuldade de movimentação
nos membros do lado direito do corpo. Sua exploração sinestésica do meio ambiente
se dá quase que exclusivamente com a mão esquerda – ele a usa para pegar objetos,
sinalizar, interagir com o próprio corpo e com as demais pessoas. Sua mão direita
permanece imóvel grande parte do tempo, com ocasionais movimentos, a maioria
dos quais sem grande objetividade. Quando anda, V não articula completamente os
pés, o que causa a impressão de que ele arrasta as pontas dos pés – principalmente
o pé direito. Obviamente, V usa a mão esquerda para escrever e usar objetos como
cola e tesoura, em sala de aula. Apesar de limitado pelo escasso uso da mão direita,
seu domínio de materiais e atividades escolares é satisfatório. V parece ter consciência
de sua limitação física, e se mostra bastante frustrado quando não consegue realizar
alguns movimentos.
Como at, uma de minhas principais preocupações era auxiliar V tanto em suas
atividades como na interação social – principalmente nas atividades curriculares e,
de maneira geral, como “intérprete” –, entretanto sem transmitir uma impressão de
incapacidade àqueles que o cercam, na medida do possível. A maioria das crianças
que interagem com V diariamente percebeu minha presença de maneira positiva,
pois manifestavam suas opiniões de que eu “ajudava V” ou era “amigo dele”. Como
apontado por Barretto (2001), a pessoa que auxiliava o paciente nos seus afazeres
cotidianos costumava ser chamada de amigo-qualificado, mas se distingue do que hoje
entendemos como a função do at. É claro que uma das funções do at é justamente
esclarecer suas funções. Ademais, procurava sempre auxiliar as outras crianças em
momentos de dificuldade – um aspecto muito interessante do trabalho.
Considerações Finais
67
No presente, podemos notar manifestações de independência por parte de
V. Ele já costuma andar sozinho em terrenos planos, solicitando apoio apenas para
subidas, descidas e terrenos irregulares. Em diversas ocasiões, demonstra preferência
em explorar lugares e objetos por conta própria. Nessas ocasiões, preferi privilegiar a
iniciativa da criança e apenas observar, deixando para intervir apenas se necessário como
facilitador ou para prevenir acidentes iminentes. Outra mudança positiva observada
foi na movimentação de V. Ele passou a subir escadas sozinho e a arriscar andar em
terrenos menos regulares por conta própria, sempre sob o olhar do acompanhante.
Ele continua realizando atividades que auxiliam em sua propriocepção, como aulas
de natação e capoeira, além da aula regular de educação física na escola. Os ganhos
motores são sensíveis, embora muitas vezes sutis, e o aumento gradual na atividade
física, estimulado pelo at nas aulas de educação física e de capoeira, principalmente,
também parece refletir em um comportamento mais calmo e menos estereotípico em
sala de aula.
68
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Para que haja educação precisamos que a geração mais velha haja sobre a mais jovem.
69
AUTOATIVIDADE
1 Para Durkheim, Educação é um dos pilares da sociedade, devido à função social que
ela ocupa. Defina o que é Educação para Durkheim.
70
5 O acompanhamento terapêutico no ambiente escolar representa uma ruptura com
antigos paradigmas e também lida com algumas dificuldades na atuação. Sobre a
função do AT no processo de inclusão, assinale apenas a opção CORRETA:
71
REFERÊNCIAS
ARANHA, M. Projeto Escola Viva: garantindo o acesso e permanência de todos os
alunos na escola: necessidades educacionais especiais dos alunos. Brasília: Ministério
da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2005.
72
CAIADO, K.; LAPLANE, A. Programa Educação inclusiva: direito à diversidade: uma
análise a partir da visão de gestores de um município-polo. Educ. Pesqui., v. 35, n. 2, p.
303-315, 2009.
COHEN, J. A Cultura dos Monstros: sete teses. In: COHEN, J. Pedagogia dos Monstros:
os prazeres e os perigos de fronteiras. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
DINIZ, D.; BARBOSA, L.; SANTOS, W. Deficiência, Direitos Humanos e Justiça. Revista
Internacional de Direitos Humanos, v. 6, n. 11, p. 65-77, dez. 2009.
73
JERUSALINSKY, J. O acompanhamento terapêutico e a construção de um protago-
nismo. Revista de psicanálise, ano XV, n. 163, p. 32-41, out. 2002.
MANTOAN, M. Inclusão escolar: O que é? Por quê? Como fazer? São Paulo:
Summus, 1999.
74
ROTTA, N. L. Dispraxias. In: ROTTA, N. T.; LYGIA, O.; RIESGO, R. S. (Orgs.) Transtornos
da aprendizagem: abordagem neurobiológica e Multidisciplinar. 2. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2016.
VEIGA-NETO, A. Incluir para Saber. Saber para Incluir. Pro-posições, v. 12, n. 2-3, p. 35-
36, jul./nov. 2001.
75
76
UNIDADE 2 —
ASPECTOS E DIAGNÓSTICOS
DOS TRANSTORNOS
RECORRENTES AO
AMBIENTE ESCOLAR
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
77
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
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78
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
OS TRANTORNOS GLOBAIS E DE
APRENDIZAGEM
1 INTRODUÇÃO
A inclusão passou por um grande processo histórico de mudanças, evoluindo e
mudando em suas características para que, em seus períodos, pudesse alcançar a sua
atual transformação. Não a muito tempo, podemos recordar que a visão da pessoa com
deficiência era de uma pessoa louca, doente e incapaz, dessa forma sendo excluída da
sociedade e de todo convívio social. Ainda antes de alcançar os pressupostos atuais
da pessoa com algum tipo de deficiência, era atribuído, absolutamente, ao sujeito a
responsabilidade de se adaptar à sociedade (BRASIL, 2001).
NOTA
A Declaração Mundial sobre Educação para Todos é um plano de ação
no qual as nações do mundo afirmam que toda pessoa tem direito à
educação. A conferência foi realizada de 5 a 9 de março em 1990, onde foi
reconhecido como direito fundamental de todos, sendo estes, mulheres
ou homens, dentre todas as idades, todos devem ter acesso à educação.
A Declaração de Salamanca foi um documento elaborado na Conferência
Mundial sobre Educação Especial, que possuía o objetivo de fornecer
bases e diretrizes para a estrutura de uma reforma política de todos os
sistemas educacionais, focando a inclusão social.
79
A deficiência é um fenômeno construído socialmente, pensando assim,
transforma em dever a sociedade se movimentar em direção da igualdade, possibilitando
e oportunizando ajustes que adéquem o sistema para o desenvolvimento humano de
formas diferenciadas para as necessidades e condições específicas que determinados
grupos possuem, sendo esses direitos agora assegurados por lei (AMARAL, 1998).
Assim, a inclusão se torna algo cada vez mais presente em discussões e deba-
tes da atualidade, sempre em visão da defesa dos direitos de todos, principalmente dos
antes não assegurados, as pessoas com deficiência, nos planos de educação de ensino
regular. Mesmo ainda sendo perceptível que em muitos lugares essa inclusão ainda
apresente grandes dificuldades, principalmente se referindo às necessidades educacio-
nais de pessoas com deficiência. O movimento para a inclusão continua, se adaptando e
procurando desenvolver a inclusão e desenvolvimento social (BRASIL, 2003).
80
INDICAÇÃO DE FILME
Um amigo inesperado – After Thomas, 2006
81
O conceito de Transtornos Globais do Desenvolvimento surge no final
dos anos 60, derivado especialmente dos trabalhos de M. Rutter e D.
Cohen. Ele traduz a compreensão do autismo como um transtorno
do desenvolvimento. O autismo é explicado e descrito como um
conjunto de transtornos qualitativos de funções envolvidas no
desenvolvimento humano. Esse modelo explicativo permitiu que o
autismo não fosse mais classificado como psicose infantil, termo que
acarretava um estigma para as famílias e para as próprias crianças
com autismo. Além disso, o modelo permite uma compreensão
adequada de outras manifestações de transtornos dessas funções
do desenvolvimento que, embora apresentem semelhanças,
constituem quadros diagnósticos diferentes. A compreensão dos
transtornos classificados como TGD, a partir das funções envolvidas
no desenvolvimento, aponta perspectivas de abordagem, tanto
clínicas quanto educacionais, bastante inovadoras, além de contribuir
para a compreensão dessas funções no desenvolvimento de todas
as crianças (BELISÁRIO FILHO; CUNHA, 2010, p. 12).
QUADRO 1 – AUTISMO
Prejuízo no desenvolvimento
da interação social e da comu-
nicação. Pode haver atraso ou Prejuízo no funcionamen-
ausência do desenvolvimento to ou atrasos em pelo
da linguagem. Naqueles que a menos 1 das 3 áreas: Inte-
Antes dos 3 anos de
possuem, pode haver uso es- ração social; Linguagem
idade
tereotipado e repetitivo ou uma para comunicação social;
linguagem idiossincrática. Re- Jogos simbólicos ou ima-
pertório restrito de interesses e ginativos.
atividades. Interesse por rotinas
e rituais não funcionais.
82
QUADRO 2 – SÍNDROME DE RETT
Desenvolvimento de múltiplos
déficits específicos após um pe-
ríodo de funcionamento normal
nos primeiros meses de vida.
Desaceleração do crescimen-
to do perímetro cefálico. Perda
das habilidades voluntárias das Primeiras manifesta-
mãos adquiridas anteriormen- ções após os primeiros
Presença de crises con-
te, e posterior desenvolvimen- 6 a 12 meses de vida.
vulsivas. Desaceleração
to de movimentos estereoti- Prejuízos funcionais do
do crescimento do perí-
pados semelhantes a lavar ou desenvolvimento dos
metro cefálico.
torcer as mãos. 6 meses aos primeiros
O interesse social diminui após anos de vida.
os primeiros anos de manifes-
tação do quadro, embora pos-
sa se desenvolver mais tarde.
Prejuízo severo do desenvolvi-
mento da linguagem expressi-
va ou receptiva.
Diferentemente do Autismo,
podem não existir atrasos
Tem início mais tardio do clinicamente significativos
Prejuízo persistente na
que o Autismo ou é perce- no desenvolvimento cog-
interação social. Desen-
bido mais tarde (entre 3 e nitivo, na linguagem, nas
volvimento de padrões
5 anos). Atrasos motores habilidades de autoajuda
restritos e repetitivos de
ou falta de destreza mo- apropriadas à idade, no com-
comportamento, inte-
tora podem ser percebidos portamento adaptativo, à ex-
resses e atividades.
antes dos 6 anos. ceção da interação social, e
na curiosidade pelo ambien-
te na infância.
83
QUADRO 4 – TRANSTORNO DESINTEGRATIVO DA INFÂNCIA
Regressão pronunciada em
múltiplas áreas do funciona-
mento, após um desenvolvi-
mento normal constituído de
comunicação verbal e não ver-
bal, relacionamentos sociais,
jogos e comportamento adap-
tativo apropriado para a idade. O transtorno não é melhor
As perdas clinicamente signi- explicado pelo Autismo ou
ficativas das habilidades já ad- Esquizofrenia. Excluídos
Após 2 anos e antes
quiridas em pelo menos duas transtornos metabólicos
dos 10 anos de idade
áreas: linguagem expressi- e condições neurológicas.
va ou receptiva, habilidades Muito raro e muito menos
sociais ou comportamento comum do que o Autismo.
adaptativo, controle intestinal
ou vesical, jogos ou habilida-
des motoras.
Apresentam déficits sociais
e comunicativos e aspectos
comportamentais geralmente
observados no Autismo.
84
2.1 TRANSTONO GLOBAL DO DESELVOLVIMENTO
NO APRENDER
Tendo em mente que as crianças com TGD não conseguem lidar com mudanças
abruptas, barulho e com pessoas desconhecidas, colocar essas crianças na escola se
torna um local onde todas as coisas que angustiam esses indivíduos acontecem de
uma vez só, assim, se torna claro o grande desafio que esse movimento irá proporcionar.
Muitas dessas crianças, nesse momento de inserção, podem se isolar em resposta à
agonia que estão passando, ou até mesmo ter respostas mais agressivas, porém
isso não deve ser tomado como o comportamento natural da criança. Com isso, fica
perceptível a necessidade de um profissional qualificado para lidar com as crianças com
Transtorno Global de Desenvolvimento, sabendo como lidar com esses momentos e
como compreender o aluno, de forma a auxiliar a criança a integrar o ambiente escolar
e, juntamente, integrar o ambiente escolar a ele, diminuindo o sofrimento do indivíduo
(MAGALHÃES, 2018).
É natural que crianças pequenas, nos ensinos iniciais, muitas vezes ao entrar na
escola têm receio de deixar seus pais, acabam chorando ou até mesmo sendo agressivas
com os professores, pois para pequenas crianças, deixar seus entes queridos e ter uma
mudança da rotina é algo difícil, até mesmo para alguns pais que têm medo de deixar
seus filhos na escola por receio de que não serão bem cuidados, medo de deixar com
pessoas desconhecidas. Essa perspectiva sobre as crianças pequenas fica ainda mais
destacada em crianças com TGD. Então, é de grande importância que nos dias iniciais
da criança na escola seja proporcionado a ela boas experiências, aprendendo a rotina e
a convivência com os outros alunos da forma mais previsível o possível para ela.
85
envolvendo antecipação, adiamento da atuação imediata, entre
outros. A diferença é que a necessidade de exercício explícito de
ensino e aprendizagem empreendidos junto à criança com TGD, em
tais situações, torna visível tal processo (BELISÁRIO FILHO; CUNHA,
2012, p. 23).
86
Romero (apud COLL et al., 1995) coloca o TGA como um atraso maturativo, dessa
forma, oportunizando e criando atrasos no processo de aprendizagem da criança, tendo
assim uma característica grave para a criança. O autor ressalta que elas também podem
ser advindas de lesões ou algum tipo de dano ao cérebro.
Outras pesquisas que também estudaram o TGA trazem resultados em homo-
geneidade, os quais podem ser utilizados para trazer mais clareza às características
do TGA (TORRES et al. 1990). Os quadros a seguir representam as características da
constituição do TGA.
87
4 Possível disfunção do sistema nervoso.
Dificuldade
Oscilação da Impulsividade
Déficit da atenção da abstração-
memória emocional
generalização
Pobre
Déficit na autorregulação
Déficit na expressão Imprecisão
seletividade (na atenção,
verbal sensoperceptual
sensoperceptual emoções e
comportamentos).
Astenia (de
Pobre autocontrole Apatia
Incongruência aparição rápida ou
emocional (choro, (desinteresse,
afetiva tardia, com curso
riso, crises em geral) desmotivação)
progressivo)
INDICAÇÃO DE FILME
89
Como estrelas na terra: O jovem Ishaan tem muita dificuldade para se
concentrar nos estudos e mal consegue escrever o alfabeto. Depois de
diversas reclamações da escola, o pai, que acredita que Ishaan não faz as
tarefas por falta de compromisso, decide levá-lo a um internato, o que leva
o menino a entrar em depressão. Mas, um professor substituto de artes,
Nikumbh, logo percebe o problema de Ishaan, e entra em ação com seu
plano para devolver a ele a vontade de aprender e, sobretudo, viver.
Outros autores, como Torres (1990), colocam a causa do TGA como a lentidão
maturativa do sistema nervoso e que tem principal relação com agentes genéticos que
são inatos ou podem ser adquiridos de alguma forma no decorrer do desenvolvimento da
criança e isso é o que atrapalha a evolução da criança em seu processo de maturidade.
Por fim, ainda se torna importante destacar que o diagnóstico desse transtorno
tem grande frequência entre as idades de 7 a 9 anos, correspondendo às séries iniciais
da educação. Também é importante destacar que na literatura se torna muito mais fácil
encontrar conteúdo sobre os transtornos específicos de aprendizagem do que sobre
os Transtornos Gerais. Esse fato pode acontecer quando estamos cientes de que, ao
falar de transtornos específicos, estes são muito mais fáceis de serem diagnosticados e
percebidos do que quando falamos de Transtornos Gerais (DIAZ, 2011).
90
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Não a muito tempo, podemos recordar que a visão da pessoa com deficiência era de
uma pessoa louca, doente e incapaz, dessa forma, sendo excluída da sociedade e de
todo convívio social, mas essa visão já passou por grandes mudanças.
• Foi através da atualização das políticas e diretrizes que o Brasil fez seu caminho para
a melhor inserção dessas pessoas na sociedade.
• É comum que o diagnóstico de TGA seja feito de forma tardia, porém é possível fazer
esse diagnóstico com antecedência prestando atenção já nos primeiros sinais de atraso.
91
AUTOATIVIDADE
1 Existem alguns transtornos que se enquadram no quadro do TGD, pois apresentam
grave comprometimento no desenvolvimento do indivíduo (APA, 2014). Os Transtornos
Globais de Desenvolvimento (TGD) são aqueles que se referem a um grupo de
transtornos do neurodesenvolvimento, sendo assim, são os transtornos que afetam
o desenvolvimento de uma criança, em que eles são apresentados no indivíduo de
forma precoce, podendo se apresentar até mesmo antes da idade escolar. Tendo isso
em mente, analise as sentenças a seguir e classifique V para verdadeiro e F para falso,
referente ao TGD.
FONTE: APA – American Psychiatric Association. DSM-V: manual diagnóstico e estatístico de transtornos
mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
2 Uma grande demanda de alunos acaba reprovando ou até mesmo evadindo de suas
escolas por apresentarem transtornos de aprendizagem. Este é um assunto, que
muitas vezes, faz-se faltante para os professores, logo, se tornando ainda mais fácil
de não compreender esses alunos e de fortalecer essas dificuldades (TULESKI, 2007).
Analise as sentenças a seguir e classifique V para verdadeiro e F para falso referente
ao TGA.
92
( ) O TGA pode ser colocado como um atraso maturativo, dessa forma, oportunizando
e criando atrasos no processo de aprendizagem da criança.
( ) Lentidão maturativa do sistema nervoso e que essa relação tem principal relação
com agentes genéticos que são inatos ou podem ser adquiridos de alguma forma
no decorrer do desenvolvimento da criança.
( ) O prejuízo desses indivíduos em suas capacidades são qualitativos e definem as
condições de forma atípica quando se trata do nível de desenvolvimento mental da
criança.
( ) Percebendo a deficiência como a perda de uma ou mais funções do indivíduo,
sendo elas físicas, psicológicas ou sensoriais.
I- Autismo
II- Síndrome de Rett
III- Transtorno de Asperger
IV- Transtorno Desintegrativo da Infância
93
4 Os Transtornos Globais de Desenvolvimento (TGD) são aqueles que se referem a um
grupo de transtornos do neurodesenvolvimento, sendo assim, são os transtornos
que afetam o desenvolvimento de uma criança, em que eles são apresentados
no indivíduo de forma precoce, podendo se apresentar até mesmo antes da idade
escolar. Disserte sobre os transtornos que fazem parte do TGD.
94
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
TRANSTORNO GLOBAL
DO DESENVOLVIMENTO (TGD)
E ESCOLARIZAÇÃO DESTES ALUNOS
1 INTRODUÇÃO
A expressão autismo foi utilizada pela primeira vez por Bleuler em 1911, para
designar a perda do contato com a realidade, o que acarretava uma grande dificuldade
ou impossibilidade de comunicação. Kanner, em 1943, usou a expressão autismo na
descrição de 11 crianças que apresentavam em comum comportamentos bastante
originais. Kanner sugeriu que se tratava de uma inabilidade inata para estabelecer com
outras pessoas contato afetivo e interpessoal e que era uma síndrome bastante rara,
porém, provavelmente, mais frequente do que o esperado, pelo pequeno número de
casos diagnosticados. Em 1944, Asperger descreveu casos em que havia algumas
características semelhantes ao autismo em relação às dificuldades de comunicação
social em crianças com inteligência normal (BRAGA JUNIOR; BELCHIOR; SANTOS, 2015).
95
• Transtorno Autista.
• Transtorno de Rett.
• Transtorno Desintegrativo da Infância.
• Transtorno de Asperger.
• Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra Especificação.
96
Klin (2006) descreve que na sequência das publicações de Kanner, em 1943,
surgiram as contribuições referentes às pesquisas de Hans Asperger, colaborando
com a percepção denominada como psicopatia autística, diferenciando a partir do
estudo do déficit intelectual, a Síndrome do Autismo. O autor relata que a Síndrome de
Asperger se trata de uma alteração na personalidade, em que as crianças apresentavam
comprometimento nos relacionamentos interpessoais e na comunicação não verbal,
contudo mantinham as habilidades intelectuais preservadas.
São diversos os campos de estudos sobre o TEA. Segundo Paula et al. (2017), se
destacam aqueles desenvolvidos sob o escopo das Ciências da Saúde – com princípios
na genética ou na neurologia, pesquisas sobre as causas orgânicas e tratamentos com
medicamentos, e pela psicologia – com abordagens comportamentalistas, pautada na
análise experimental do comportamento nos estudos da aprendizagem, cognitivistas
que investigam como o transtorno afeta o comportamento e as interações sociais, e a
psicanalítica expressa a reflexão do outro visando à subjetivação, sendo utilizado como
terapia, o ambiente escolar. Diante da perspectiva cognitiva e psicanalítica, Oliveira
(2014) descreve que para o autista, o ato de ir à escola, frequentar este ambiente
social pode, a partir dessa inserção escolar, ser possível uma retomada e reorganização
da estrutura psíquica deste sujeito.
97
2.1 TGD NA VISÃO DA CID-10 E DO DSM-IV
Os Transtornos Globais do Desenvolvimento caracterizam-se por um compro-
metimento grave e global em diversas áreas do desenvolvimento: habilidades de inte-
ração social, habilidades de comunicação ou presença de estereótipos de comporta-
mento, interesses e atividades. Os prejuízos qualitativos que definem essas condições
representam um desvio acentuado em relação ao nível de desenvolvimento ou idade
mental do indivíduo (APA, 2002).
98
Ainda de acordo com a APA (2002), nesses casos, o desenvolvimento se
encontra acentuadamente anormal ou prejudicado em três áreas principais: repertório
restrito de atividades e interesses, interação social e comunicação. No que se refere
à interação social, o prejuízo é considerado amplo e persistente, marcado por vários
comportamentos não verbais, como a não manutenção de contato visual direto,
expressão facial pobre, posturas e gestos corporais não condizentes com a ação
realizada. Essas manifestações contribuem, fundamentalmente, para a dificuldade de
desenvolver relacionamentos, compartilhar interesses, participar de jogos e brincadeiras
sociais. As brincadeiras, jogos de imitação ou rotinas da infância também tendem a
aparecer fora de contexto ou de um modo mecânico.
99
Espectro Autista devem ser diagnosticados como transtorno da Comunicação Social,
da Linguagem e da Fluência, dependendo de suas características específicas (BRAGA
JUNIOR; BELCHIOR; SANTOS, 2015).
• Transtorno Autista.
• Transtorno de Rett.
• Transtorno Desintegrativo da Infância.
• Transtorno de Asperger.
• Transtorno Global Sem Outra Especificação.
100
INDICAÇÃO DE LEITURA
Caro acadêmico, para aprofundar o seu conhecimento no assunto,
sugerimos a leitura da seguinte cartilha: Transtorno Globais do
Desenvolvimento, de Schmidt, de 2010, que pode ser acessada pelo link:
https://bit.ly/37szWd7.
• Transtorno de Rett
101
• Transtorno Desintegrativo da Infância
O Transtorno Desintegrativo da Infância foi descrito pela primeira vez pelo Dr.
Theodore Heller em 1908, muitos anos antes do primeiro diagnóstico de autismo. É por
isso que também é chamado de síndrome de Heller, é um transtorno extremamente
raro, caracterizado por seu início tardio e tem um padrão distinto de regressão em
múltiplas áreas do funcionamento que sobrevém a um período de pelo menos dois anos
de desenvolvimento normal. No entanto, por volta dos três ou quatro anos, perdem
repentinamente as habilidades adquiridas, que causa atrasos no desenvolvimento de
habilidades motoras, funções sociais, linguagem e habilidades sociais. Nesse transtorno,
não há deterioração continuada; após a regressão inicial, chega-se a um estado
estável, mas com grande impacto durante toda a vida (BELISÁRIO FILHO; CUNHA, 2010;
SCHMIDT, 2010; BRAGA JUNIOR; BELCHIOR; SANTOS, 2015).
102
QUADRO 11 – TRANSTORNO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO SEM OUTRA ESPECIFICAÇÃO
• Transtorno Autista
103
infância são mais sutis e mais difíceis de definir do que observar após os 2 anos de idade
da criança. O transtorno autista é mais comum nos meninos, com uma proporção de
três meninos para cada menina afetada. Quanto mais cedo se descobrir, mais recursos
poderão usar para estimular a criança (COHEN; MARCELLI, 2010; SCHMIDT, 2010).
104
QUADRO 12 – TRANSTORNO AUTISTA
• Transtorno de Asperger
Pode-se destacar que para ser considerado com Asperger, se faz necessário
que as dificuldades do indivíduo, tanto da interação social quanto dos interesses
restritos, devem resultar em um prejuízo significativo no seu funcionamento social ou
ocupacional. Isso quer dizer que tais dificuldades interferem negativamente na relação
do indivíduo com as pessoas no ambiente de trabalho ou social (SCHMIDT, 2010; BRAGA
JUNIOR; BELCHIOR; SANTOS, 2015).
105
QUADRO 13 – TRANSTORNO DE ASPERGER
DICA
Caro acadêmico, para aprofundar o seu conhecimento no tema, sugerimos
a leitura da seguinte cartilha: Transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/ superdotação e o atendimento educacional especializado, de
Braga Júnior e Belchior, de 2015, que pode ser acessado pelo link: https://
bit.ly/3uYPVb8.
106
Bueno (2012) aponta que grande parte dos escritos acadêmicos sobre as polí-
ticas de educação especial implementadas após a promulgação da atual Constituição
Federal e, mais especialmente, após a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, considerando que atra-
vés destas legislações acarretou avanços significativos nos processos de escolariza-
ção de alunos com deficiência. Conforme o autor, a ênfase dada à inclusão é um ponto
importante desses avanços.
De qualquer forma, não cabe ao ensino regular excluir ninguém e sim buscar
recursos e meios para a inclusão. Os alunos com TGD têm garantido por lei seu acesso e
permanência nas escolas e a construção de um sistema que seja capaz de desenvolver
suas habilidades e potencialidades e atender as suas demandas. Cabe a cada um
envolvido no processo de escolarização, levando inclusive em consideração todas as
possíveis dificuldades envolvendo a rotina da escola regular e seus desafios, buscar o
melhor para a interação de todos os alunos (CAPELLINI; RODRIGUES, 2009).
CAPÍTULO V
DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
[...] Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta
Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na
rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.
(Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado,
na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de
educação especial.
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou
serviços especializados, sempre que, em função das condições
específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes
comuns de ensino regular.
[...] § 3º A oferta de educação especial, nos termos do caput deste
artigo, tem início na educação infantil e estende-se ao longo da vida,
observados o inciso III do art. 4º e o parágrafo único do art. 60 desta
Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.632, de 2018)
107
[...] Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilida-
des ou superdotação: (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização
específicos, para atender às suas necessidades;
II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir
o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude
de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o
programa escolar para os superdotados;
III - professores com especialização adequada em nível médio ou
superior, para atendimento especializado, bem como professores do
ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas
classes comuns;
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva
integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas
para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho
competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem
como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas
áreas artística, intelectual ou psicomotora;
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais
suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.
Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro nacional de alu-
nos com altas habilidades ou superdotação matriculados na educa-
ção básica e na educação superior, a fim de fomentar a execução de
políticas públicas destinadas ao desenvolvimento pleno das poten-
cialidades desse alunado. (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015)
Parágrafo único. A identificação precoce de alunos com altas habi-
lidades ou superdotação, os critérios e procedimentos para inclusão
no cadastro referido no caput deste artigo, as entidades responsá-
veis pelo cadastramento, os mecanismos de acesso aos dados do
cadastro e as políticas de desenvolvimento das potencialidades do
alunado de que trata o caput serão definidos em regulamento.
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão
critérios de caracterização das instituições privadas sem fins
lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação
especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo Poder Público.
[...] Parágrafo único. O poder público adotará, como alternativa
preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação na própria rede pública regular de
ensino, independentemente do apoio às instituições previstas neste
artigo. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) (BRASIL, 1996, s.p.).
Através da constituição fica evidenciado que o aluno com TGD tem garantido
em lei seu direito de estar presente na escola e sobretudo aprender de igual maneira.
Com isso se faz necessário destacar políticas públicas que favoreçam não só a presença
destes indivíduos, mas também a permanência e o aprendizado adequado. Uma das
políticas que têm impactado o processo de inclusão na escola comum é o oferecimento
das diversas possibilidades de atendimento educacional especializado. Os sistemas de
ensino podem adotar diversas modalidades do ensino, como ensino colaborativo, sala
de recursos multifuncional, sala de recursos categorial, atendimento individualizado em
sala de aula inclusiva realizado por professor especializado e ensino itinerante, dentre
outras iniciativas regionais que garantam suporte educacional visando atender às
necessidades dos alunos com TGD (FONSECA; WALTER; FERREIRA-DONATI, 2014).
108
Vale destacar a iniciativa da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo
instituiu a Resolução SE nº 68/2017, que também reafirma que ao aluno com TGD,
devidamente matriculado na rede estadual de ensino, será assegurado Atendimento
Educacional Especializado – AEE, e deve ter garantido seu pleno desenvolvimento
respeitando sua individualidade e necessidades específicas, “todos os profissionais
da escola estarão envolvidos no Atendimento aos Alunos Público-Alvo da educação
especial, com o objetivo de reduzir ou eliminar barreiras, propiciando o apoio necessário
a todos eles” (SÃO PAULO, 2017, s.p.).
109
Contudo, as pesquisas na área de educação inclusiva, em grande parte, têm
se restringido a descrever e constatar as dificuldades enfrentadas pelos profissionais
professores regentes em sala de aula, sem que se amplie os estudos para as condições
efetivas que os diferentes sistemas oferecem para que a inclusão possa ocorrer com
qualidade (HEREDERO, 2010; BUENO, 2012).
110
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
111
AUTOATIVIDADE
1 Os Transtornos Globais do Desenvolvimento são uma categoria diagnóstica que inclui
um grupo de transtornos e estão incluídas cinco categorias diagnósticas: Transtorno
Autista, Transtorno de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância, Transtorno de
Asperger e Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra Especificação. Todos
estes transtornos apresentam sintomas em comum, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
112
( ) Observa-se melhor seus traços por volta de 1 a 3 anos de vida.
( ) Observa-se melhor seus traços por volta dos 2 a 3 anos de vida.
( ) As manifestações do transtorno na primeira infância são mais sutis e mais difíceis
de definir do que observar após os 3 anos de idade da criança.
( ) O transtorno autista é mais comum nos meninos, com uma proporção de três
meninos para cada menina afetada.
5 Através da constituição fica evidenciado que o aluno com TGD tem garantido em lei
seu direito de estar presente na escola e, sobretudo, aprender de igual maneira. Com
isso se faz necessário destacar políticas públicas e regionais que favoreçam não só
a presença destes alunos, mas também a permanência e o aprendizado, e suporte
educacional visando atender às necessidades dos alunos com TGD. Uma das políticas
que têm impactado o processo de inclusão na escola comum é o oferecimento das
diversas possibilidades de atendimento educacional especializado. Classifique V para
as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
113
114
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
PROCESSOS DE AVALIAÇÃO E DE
DIAGNÓSTICO DOS TRANSTORNOS
1 INTRODUÇÃO
O fato de não se saber como proceder de forma correta diante de alguma criança
com dificuldades acaba tornando a escola uma reprodutora do problema, sendo incapaz
de auxiliar nesses casos devido sua forma de organização. O que torna esta temática tão
complexa está nos fatores geradores dos problemas de aprendizagem, que podem ser
os de ordem biológica, psicológica, pedagógica e social (SILVA, 2008). Dockell e McShane
(1997) analisam as dificuldades de aprendizagem, os aspectos psicopedagógicos e
demonstraram que a memória é fator indispensável a tais aprendizagens.
115
Acadêmico, neste tópico, abordaremos as seguintes temáticas: as dificuldades
de aprendizagem abordando parte do histórico de como surgiram as dificuldades
de aprendizagem até o diagnóstico, como ocorre a classificação das dificuldades de
aprendizagem, como acontece a avaliação dos trasntornos de aprendizagem, como
ocorre o diagnóstico e, por fim, o tratamento das dificuldades de aprendizagem.
116
No ano de 1963 ocorreu a fundação oficial do campo de estudo das dificuldades de
aprendizagem, quando Samuel Kirk popularizou o termo Dificuldades de Aprendizagem
em uma comunicação apresentada na Conference on Exploration into Problems of the
Perceptually Handicapped Child, nos Estados Unidos (CRUZ, 1999). Nesta conferência,
Kirk utilizou o termo dizendo o seguinte:
Através deste discurso foi criada a Assocition for Children with Learning
Disabilities (ACLD), que mais tarde, em 1989, mudou o nome para Learning Disabilities
Association of América (LDA) (SILVA, 2008).
DICAS
Para uma melhor compreensão da temática de dificuldades de aprendizagem,
recomendamos a leitura do seguinte livro: Dificuldades de Aprendizagem de A a Z: guia
completo para educadores e pais, de Corinne Smith e Lisa Strick, de 2007.
117
FONTE: SMITH, C.; STRICK, L. Dificuldades de aprendizagem de A a Z: um
guia completo para pais e educadores. Porto Alegre: Artmed, 2007.
118
O campo das dificuldades de aprendizagem agrupa uma série de conceitos,
critérios, teorias, modelos e hipóteses, sendo um fenômeno extremamente complexo.
Historicamente, já foi aceito que as dificuldades de aprendizagem incluiriam dificuldades
acadêmicas e não acadêmicas. As acadêmicas seriam as dificuldades de leitura,
matemática, soletração e escrita, e as não acadêmicas são os problemas visomotores, no
processamento fonológico, na linguagem, na memória e também problemas perceptivos
(SILVA, 2008). Já para Lozano e Rioboo (1998), há a existência das dificuldades de
aprendizagem permanentes, que afetam as partes cognitiva, sensorial, física, motora,
afetiva, emocional e sociocultural, englobando uma base neuropsicológica, biológica
ou constitucional afetada. Também mencionam as dificuldades de aprendizagem
transitórias que surgiriam em algum momento do processo de aprendizagem, e
corresponderiam aos déficits de funções superiores (cognitivas, linguagem, raciocínio
lógico, perceptivo-atencional, afetivo-emocionais transitórias e as devidas à baixa
qualidade socioambiental), e às estratégias e técnicas básicas de aprendizagem.
119
É comum que crianças com o desenvolvimento intelectual normal apresentem uma
diferença entre o nível de sucesso na área em que se situa a dificuldade específica e os
níveis de sucesso em outras áreas do funcionamento cognitivo (SILVA, 2008).
Transtorno Manifestação
Dislexia (comprometimento da
Problemas com a leitura
leitura)
120
O baixo rendimento é uma manifestação das dificuldades de aprendizagem, e
pode ser um indicativo de que a criança pode apresentar dificuldades de aprendizagem.
Segundo Sanchez (1998), os critérios para identificar alunos de risco são: dois anos
de atraso no seu nível em leitura ou matemática, suspensões anteriores, participação
em programas de apoio, ausências escolares frequentes, reprovação em algum ano e
recomendação do professor.
DICAS
Para compreender melhor a temática tratada neste tópico, sugerimos a leitura do DSM-5
no capítulo dos transtornos de aprendizagem.
121
A CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças) denomina essa
situação, no capítulo intitulado Transtorno do Desenvolvimento das Habilidades Esco-
lares, descrevendo como:
DICAS
Para compreender melhor a temática tratada neste tópico, sugerimos a leitura da CID- 10
capítulo Transtorno do Desenvolvimento das Habilidades Escolares.
122
4 AVALIAÇÃO DOS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM
A avaliação interdisciplinar é fundamental para fechar um diagnóstico em
transtornos de aprendizagem, o trabalho em equipe mostra quais habilidades estão
mais deficitárias no indivíduo. Essa avaliação envolve três grandes áreas, que são a
neuropsicologia, fonoaudiologia e psicopedagogia. Na avaliação psicológica, observa-
se os problemas de coordenação motora fina, déficit de memória operacional e
problemas de lateralidade. O teste psicológico WISC-IV é utilizado para mostrar o nível
intelectual, e os subescores que atingem menores resultados são os de aritmética,
códigos, informações e dígitos. As avaliações fonoaudiológicas podem demonstrar
um déficit em memória e síntese auditiva, problemas de processamento auditivo e um
déficit desproporcional da consciência fonológica. Na avaliação psicopedagógica, a
leitura de palavras pode demostrar piores resultados em palavras de baixa frequência,
irregulares, e percebe-se erros visuais e sonoros frequentes. Na leitura de textos, pode
ser observado se o indivíduo o faz de uma maneira silabada, e são cometidos erros por
substituição viso-sonora, além de erros compatíveis com série escolar mais baixa. No
ditado, acontecem trocas fonéticas, e o indivíduo apresenta dificuldades com o uso de
números e suas relações (BRITES, 2020).
Os testes são selecionados a partir de uma hipótese com base nas queixas e na
história de vida do estudante. A hipótese vai ser confirmada ou descartada à medida que
ocorre a testagem, variando os instrumentos de acordo com os resultados apresentados
pelo paciente. É importante que a avaliação neuropsicológica comece pela anamnese,
quando serão avaliados vários aspectos, desde como foi o encaminhamento para a
avaliação e as principais queixas dos pais e professores até coletar o maior número de
informações sobre o comportamento do avaliado e sua história de vida (BRITES, 2020).
123
Conforme Brites (2020), os testes em que a avaliação vai se basear são
divididos em baterias que podem ser: fixas, em que serão avaliadas determinadas
funções, como as baterias de memória, inteligência ou as que abrangem determinadas
funções neuropsicológicas, e flexíveis, em que os testes que se adaptam aos problemas
e necessidades específicas de cada caso, que são selecionados pelo neuropsicólogo.
124
Avaliação médica dos transtornos de aprendizagem inclui uma detalhada
história familiar da criança, exame físico, neurológico e do desenvolvimento neural, para
encontrar a causa do distúrbio. As anormalidades físicas e sinais neurológicos podem
indicar causas médicas que podem ser tratáveis. Problemas de coordenação motora
podem indicar déficits neurológicos ou retardo do desenvolvimento neural. Os níveis de
desenvolvimento são avaliados de acordo com critérios padronizados. Já a avaliação
psicológica pode identificar os distúrbios de conduta, ansiedade, depressão e reduzida
autoestima, que estão frequentemente associados, e devem ser diferenciados das
dificuldades de aprendizagem. Devem ser analisadas as atitudes na escola, a motivação,
o relacionamento com os colegas e a autoconfiança (SULKES, 2020).
DICAS
Recomendamos o acesso ao site: https://satepsi.cfp.org.br/. O SATEPSI foi
desenvolvido pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) com o objetivo de
avaliar a qualidade dos instrumentos psicológicos para uso profissional
e divulgar informações sobre os testes psicológicos à comunidade e
aos profissionais psicólogos. No site do SATEPSI são apresentados os
instrumentos que podem ser usados pelos psicólogos que incluem os
psicológicos favoráveis e instrumentos não privativos do psicólogo e
também os testes que não podem ser utilizados na prática profissional.
125
FIGURA 3 – MODELO DE RESPOSTA À INTERVENÇÃO
126
O aluno com dificuldades de aprendizagem nem sempre é identificado como tal
por conseguir alcançar o desempenho mínimo necessário para ser aprovado. É o baixo
rendimento que leva ao insucesso na vida escolar, às baixas notas é que indicam que
os alunos que podem ter dificuldades de aprendizagem, se destacando do seu grupo de
sala de aula. Isso pode acarretar consequências no âmbito do grupo que nem sempre
são positivas para o sujeito (SILVA, 2008).
6 TRATAMENTO
O tratamento da maioria dos transtornos de aprendizagem focaliza a conduta
educacional, mas também pode envolver tratamentos médicos, comportamentais e
psicológicos. Os programas de ensino com uma abordagem estratégica podem amenizar
o uso dos fármacos e possibilitar ensinar a criança como aprender (SULKES, 2020).
127
DICAS
Algumas novidades na área de dificuldades de aprendizagem são a maior conscientização
da sociedade sobre esta problemática, em virtude disto foi criada a Lei nº 14.254, que
institui o acompanhamento integral para educandos com dislexia, transtorno do déficit de
atenção com hiperatividade (TDAH) ou outro transtorno de aprendizagem. Com a criação
desta nova política poderá ser feita a identificação precoce do transtorno, encaminhamento
da criança para diagnóstico e apoio educacional na rede de ensino, e o terapêutico
especializado na rede de saúde. Segundo a nova lei, as escolas da educação básica das
redes pública e privada devem garantir o cuidado e a proteção a esses alunos garantindo
seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, com auxílio das
redes de proteção social governamental ou não governamental. Conforme
a nova lei, caso seja verificada a necessidade de intervenção terapêutica, ela
deverá ser realizada em serviço de saúde em que seja possível a avaliação
diagnóstica, com metas de acompanhamento por equipe multidisciplinar.
Os sistemas de ensino devem garantir aos professores da educação básica
amplo acesso à informação, inclusive quanto aos encaminhamentos que
devem ser tomados, e capacitação continuada.
128
LEITURA
COMPLEMENTAR
DIFERENÇAS ENTRE DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E TRANSTORNOS DE
APRENDIZAGEM
129
De acordo Moojen et al. (2016), a dificuldade de aprendizagem está relacionada
diretamente com problemas de ordem pedagógica, sociocultural, emocional ou até
mesmo neurológica. Porém os transtornos de aprendizagem são oriundos das disfunções
do sistema nervoso central e relacionados a problemas da aquisição e processamento
da informação adquiridas dentro do seu meio ambiente.
TRANSTORNO DE APRENDIZAGEM
130
O transtorno de aprendizado e caracterizado por problemas relacionados a
distúrbios de ordem interna ou externa do indivíduo, apresentando dificuldades no
uso da escrita, leitura, calculo, raciocínio entre outros, problemas esses que se não
acompanhados de forma adequada e em tempo hábil podem gerar danos irreparáveis a
criança (CIASCA, 2003).
DISLEXIA
131
e dificuldades em memorização a curto prazo, organização, na orientação “como
seguir uma indicação de um caminho”, a execução de tarefas de modo sequencial, a
compreensão de textos e o aprendizado de uma segunda língua (RODRIGUES, 2016).
DISCALCULIA
132
evidenciando a incapacidade de operar com quantidades numéricas; a não distinção
dos sinais das operações; demonstração de dificuldade na leitura de números e não
conseguir localizar espacialmente os sinais e operações de multiplicação e divisão (DA
SILVA; DA COSTA, 2008).
133
Os jogos também podem ser utilizados como subsídio para o desenvolvimento
da aprendizagem, através de movimentos corporais (como palmas), possibilitando a
percepção e compreensão da relação das palavras com os gestos, utilizando a repetição
como meio de memorização. Podem ser utilizados também artifícios tecnológicos
como o trabalhos e aulas gravados para proporcionar melhor entendimento do aluno
(SCHIRMER; FONTOURA; NUNES, 2004; SILVA, 2013).
De acordo com Silva (2011) atitudes como proporcionar mais tempo para
conclusão das atividades, auxiliar o aluno a realizar anotações, marcações e destaques
em texto, adaptar as atividades de acordo com as necessidade do aluno, simplificar
instruções escritas, destacar as partes convenientes e mais importantes, diminuir o
texto a ser lido, evitar objetos, ações que ocasionem a distração do aluno, são algumas
das atividades que se devem ser desenvolvidas pelo professor.
A pessoa com discalculia deve ser estimulada a realizar uma relação mais
próxima com os números, ou seja, da quantidade com a assistência de materiais
próximos a sua realidade e de maneira concreta que estimulem seu interesse e favoreça
a capacidade de aprendizado.
134
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A maioria das dificuldades de aprendizagem não tem causas orgânicas e nem está
relacionada com as atividades cognitivas da criança, mas tem relação com problemas
educativos ou ambientais. A família e o ambiente são importantes no processo de
aprendizagem, já que a falta de determinadas experiências pode comprometer
aspectos como, por exemplo, a coordenação motora.
135
• A avaliação nada mais é do que um recorte momentâneo de um estado em que
o indivíduo se apresenta. Por este motivo, não se faz apenas uma avaliação, mas
sim várias avaliações, buscando os melhores resultados. É muito importante que o
profissional esteja atento a todas as esferas da aprendizagem.
• Todos os alunos são diferentes, tanto em suas capacidades, quanto em suas motiva-
ções, interesses, ritmos evolutivos, estilos de aprendizagem, situações ambientais e
sabemos que este é um processo complexo em que estão incluídos inúmeros fato-
res: alunos, professores, concepção e organização curricular e metodologias.
136
AUTOATIVIDADE
1 Os transtornos de aprendizagem são os transtornos que causam discrepâncias entre
os níveis reais de desempenho acadêmico, e envolvem deficiências ou dificuldades
na concentração, atenção, linguagem ou processamento visual de informações. Com
relação ao diagnóstico destes transtornos, assinale a alternativa CORRETA:
137
3 A classificação das dificuldades de aprendizagem pode ser feita através do sistema
etiológico ou do sistema funcional. De acordo com a classificação das dificuldades de
aprendizagem, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
138
REFERÊNCIAS
AMARAL, L. Sobre crocodilos e avestruzes: falando de diferenças físicas, preconceitos
e sua superação. In: AQUINO, J. G. (Org.). Diferenças e preconceitos. São Paulo:
Summus, 1998.
139
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 20 dez. 1996. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 14 fev. 2022.
BRASIL. Lei 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial da União. Brasília,
DF, 06 jul. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 15 fev. 2022.
140
DIAZ, F. O processo de aprendizagem e seus transtornos. Salvador: EDUFBA, 2011.
KLIN, A. Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral. Rev. Bras. Psiquiatr., São
Paulo, v. 28, n. 1, p. 3-11, maio 2006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbp/a/
jMZNBhCsndB9Sf5ph5KBYGD/?lang=pt. Acesso em: 13 fev. 2022.
141
MOUSINHO, R. Transtornos específicos de aprendizagem – dislexia. In: MARQUESAN
I.; SILVA, H., TOMÉ, M. Tratado das especialidades em fonoaudiologia. São Paulo:
Grupo Editorial Nacional, 2014.
142
SILVA, M. C. Dificuldades de aprendizagem: do histórico ao diagnóstico. 2008.
Disponível em: https://www.psicologia.pt/artigos/ver_artigo.php?codigo=a0408.
Acesso em: 13 fev. 2022.
VIZIM, M. Educação Inclusiva: O Avesso e o Direito de uma mesma realidade. In: SILVA,
S.; VIZIM, M. Políticas Públicas: Educação, Tecnologias e Pessoas com Deficiências.
São Paulo: Associação de Leitura do Brasil, 2003.
143
144
UNIDADE 3 —
ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO
DO ACOMPANHAMENTO
TERAPÊUTICO, ANAMNESE,
ENTREVISTA, MODELOS DE
INTERVENÇÃO E PLANO
TERAPÊUTICO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
145
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
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146
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
ESCOLA E AS DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM
1 INTRODUÇÃO
A inclusão escolar se relaciona, historicamente, com a noção da diferença.
O pensamento atual aponta para uma ressignificação da diferença, para um
reconhecimento da diferença como inerente à constituição humana. Através das leis e
da elaboração dos projetos políticos voltados à “diferença”, se debruça, inicialmente, para
o atendimento das demandas para contornar as situações de exclusão e discriminação.
Direitos resguardados por lei como a educação, lazer, trabalho e direitos estão descritos
na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Brasil, Lei 13.146/15), entretanto,
a sociedade tem que ser convidada e envolvida a acolher a diversidade como forma de
garantir o direito de todos, e com isso surgem as ações inclusivas e os movimentos
de acolhimento e aceitação da diferença como recurso minimizador da exclusão e do
abandono social (BRASIL, 2015).
Mas a dita educação inclusiva vem com suas dificuldades físicas e institucio-
nais que se refletem na necessidade de formação qualificada e de apoio técnico no
trabalho com os alunos, no entendimento do professor sobre a inclusão, devido às
mudanças no cotidiano do seu trabalho, e, principalmente, no processo de ensino,
que ainda está parado no formato tradicional binário ensinar-aprender, vinculado às
premissas de ajuste ou correção do indivíduo, modelo que não viabiliza o processo de
inclusão (CABRAL; MARIN, 2017).
147
al. (1999) situam que a nomeação deste profissional que acompanha as crianças na es-
cola como Acompanhante Terapêutico é um empréstimo do Acompanhante Terapêutico
que surge a partir da Reforma Psiquiátrica, e isto pode ser entendido pela função que
o acompanhante realiza tanto na rua como na escola, uma vez que participa da reinte-
gração do paciente no universo social e faz uma ponte entre estes sujeitos e as mais
diversas problemáticas que possam enfrentar no laço social. Este seria o ponto comum
entre o que a autora nomeia como Acompanhante Terapêutico da Reforma Psiquiátrica
e o Acompanhante Terapêutico na escola. Portanto, coube então a este profissional no-
vamente tirar vantagens e poder acompanhar a loucura onde ela esteve sempre excluí-
da, no caso da infância, trata-se necessariamente do território escolar (SERENO, 2006).
148
Faz-se importante essa socialização inicial, por isso é importante garantir o
direito ao acesso à escola para todas as crianças. Segundo Kupfer (2006), a escola
garante um lugar de pertinência, quem vai à escola recebe o estatuto de criança. Além
disso, a escola representa uma passagem de uma convivência apenas familiar para uma
ampliação dos laços sociais.
A forma pela qual as crianças lidam com as regras, com a justiça e a moral varia
no decorrer do processo de desenvolvimento. Para Moura (2003), a escola pode ser
pensada e considerada um território. Território este que se refere ao espaço entendido
como um local composto de relações, com suporte material e eventuais regras de
relações. Para o autor, esse espaço se constitui juntamente aos outros integrantes
deste território e aquilo que justifica estar aí.
Para as crianças, nesse território escolar, nas suas relações com os seus iguais,
descobrem que é necessária a reciprocidade para agir conforme as regras, levando
em conta que as regras são efetivas, desde que as pessoas envolvidas na situação
concordem em aceitá-las. Sua procedência não mais deriva da autoridade externa, mas
resultam de acordos entre os indivíduos envolvidos e, portanto, podem ser modificadas
(PIAGET, 1994).
149
Este meio escolar pode ser considerado um microcosmo da sociedade, onde a
criança se relaciona com muitas outras pessoas, com diferentes graus de conhecimento
com as quais estabelece as mais diversas relações, sendo, além disso, um ambiente
que, em si mesmo, constitui um sistema social, com normas e funcionamento alheios à
criança, mas nos quais esta é mergulhada e deve ir compreendendo (PALÁCIOS; COLL;
MARCHESI, 1995).
150
FIGURA 1 – NA SALA TODOS SÃO IGUAIS
Com relação à Lei nº 9.394/96, vale frisar que seu capítulo V trata da educação
especial, no qual é afirmado que a educação das pessoas com necessidades especiais
se deve dar, preferencialmente, na rede regular de ensino. Segundo Baumel e Moreira
(2001), essa questão tem gerado muita polêmica, principalmente para as escolas, pois se
de um lado a busca por uma educação de qualidade é uma luta travada historicamente,
por outro, as ações governamentais sustentadas em práticas neoliberais, que apontam
para a organização autônoma da população e para a formação de associações privadas,
entendendo ser este o caminho para uma “sociedade igualitária”, têm causado incertezas
e inquietações em relação à atuação do Estado na garantia e no cumprimento de suas
obrigações para a efetivação de uma educação que respeite a diversidade.
151
Diante disso, a escola se encontra com a responsabilidade de pensar em es-
tratégias que possam viabilizar este processo de interação, ou seja, que viabilizem a
permanência destas crianças na escola, a convivência e a interação com as outras
crianças, com os professores, a participação ativa delas no cotidiano escolar, e, prin-
cipalmente, que elas possam ser inseridas num projeto pedagógico (PEGORELLI, 2011).
152
A concepção da escola, de uma maneira geral, ainda visa ao fim em si, e não
a processo do aprender por diferentes caminhos. A busca por resultados positivos
(sendo os resultados ditos positivos, considerados os altos índices de aprovação, em
contraposição à repetência e evasão escolar) ao longo da experiência escolar tende
a direcionar o trabalho pedagógico, pois há conteúdos programáticos que devem
ser trabalhados em uma organização temporal inflexível, e a escola, pelo papel dos
professores, são cobrados por isso. Essa tendência a focalizar os resultados, e não o
processo de aprendizagem dificulta a inserção de alunos com necessidades educacionais
especiais em classes regulares de ensino. A escola tem que levar em consideração que
está lidando com seres diferentes, que caminham com ritmos diferentes. Se a escola
não valoriza as diferenças, acaba por privilegiar apenas alguns alunos, em termos
de disponibilidade de informações e acesso ao conhecimento científico, mas para o
desenvolvimento humano em nada contribui, pelo contrário, fortalece o individualismo
e a competição que movem o mundo do trabalho hoje (CORNELSEN, 2007).
Parra (2009) relata em sua pesquisa que mesmo nas escolas públicas, que são
o alvo principal da legislação, desde as leis federais até a lei distrital, como no caso do
Distrito Federal, não se tem hoje uma garantia de atendimento educacional adequado.
Sua experiência com crianças atendidas por terapeutas do grupo e matriculadas na
rede pública de ensino demonstrou a grande discrepância entre o que vem ocorrendo
na prática e o que está escrito nos documentos:
153
Ensino Especial (CEE), o que deveria ser considerado um absurdo,
pois é exatamente o contrário do que estabelece a proposta de
inclusão escolar. Na ocasião, a professora explicou que as atividades
realizadas com Gustavo em sala de aula eram as mesmas que
seriam propostas no CEE, com a vantagem de que nesse último o
garoto teria uma atenção maior – na classe de condutas típicas,
havia duas professoras e ele estudava com mais dois colegas; no
CEE, ele teria a exclusividade de um professor. A professora havia
trabalhado durante anos em centros como esse e se mostrava
bastante favorável ao local, alegando ser equivocada a visão que
todos têm de ser um ambiente que incentiva a segregação. Contudo,
os pais estiveram no CEE e a impressão que tiveram, segundo relato
dos mesmos, não está de acordo com o que afirmou a professora.
Sentiram que, ao contrário do que a professora havia dito, o centro
era sim um ambiente segregador. Além disso, afirmaram que a pouca
estrutura que oferece estava malconservada. Esse fato chamou
bastante atenção e suscitou questionamentos quanto ao sistema de
ensino público em geral, principalmente o fato de uma professora
participante do sistema educacional inclusivo estar propondo o
caminho inverso ao do processo de inclusão escolar de uma criança
(PARRA, 2009, p. 116-117).
É preciso estar alerta às diversas formas de exclusão que ocorre dentro do meio
escolar, desde as ligadas aos aspectos sociais, políticos, raciais e culturais, que em sua
maioria acabam por promover o preconceito, a competição e o individualismo. É preciso
conceber este espaço educativo como uma mola mestra na formação de pessoas
humanas, mais solidárias, mais cooperativas e autônomas (CORNELSEN, 2007).
154
um conflito de paradigmas entre psicólogos e educadores em relação a esse assunto.
Para a equipe terapêutica de uma aluna, por exemplo, a inserção do Acompanhante
Terapêutico seria uma ferramenta a mais no processo de inclusão da criança. No
entanto, para a escola, parece que o Acompanhante Terapêutico deve assumir uma
posição de saber e poder, que acaba desvirtuando essa proposta.
155
confirmado por Coelho (2006), ao relatar que o Acompanhamento Terapêutico não se
limita somente a pacientes diagnosticados como psicóticos, esse profissional também
intervém em indivíduos com autismo, e acrescenta que essa ampliação exige do
Acompanhante Terapêutico capacidades diferenciadas do trabalho com os pacientes
com psicose. Tomando como base a maneira pela qual a inclusão escolar está sendo
feita atualmente, o Acompanhamento Terapêutico é sugerido, como forma de facilitar
esse processo na inclusão escolar, em alguns casos específicos.
De acordo com Alves (2003, p. 39), “a escola é o meio onde a criança retira
recursos para atuar por meio das condutas educativas disponíveis a ele”, ou seja, a
escola é o ambiente onde esses pequenos sujeitos aprendem a se comportar dentro
do contexto social externo, sendo o modelo de socialização e de aprendizagem que a
criança possui e o maior influenciador de suas condutas fora do ambiente escolar.
156
IMPORTANTE
Como já vimos anteriormente, sempre é bom reforçar que a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (9394/96) defende o direito de todos à
educação, assim como a inclusão escolar. Porém, além disso, a inclusão
celebra a diversidade a fim de amparar uma política de respeito ao
outro, gerando uma educação sem preconceitos, em que é respeitada a
diferença e enfatizada a necessidade que a escola tem em se modificar
e se adaptar, se necessário, desde a sua estrutura até o seu projeto
curricular, para desta forma acolher a todos os seus alunos.
157
Nesse lugar subjetivo do entre, o Acompanhante Terapêutico escolar pode
investir na possibilidade de criar vínculos entre a criança acompanhada e os outros
envolvidos em seu dia a dia, além de envolver a criança a ser introduzida em um contexto
de rotinas e regras, considerando que ao submeter a criança a essas regras, supõe-se
a existência de um sujeito, o que pode produzir efeitos terapêuticos benéficos para esta
criança (ASSALI et al., 1999). O Acompanhante Terapêutico escolar atua, também, com
diálogo frequente como referência para a criança, disponibilizando um apoio sobretudo
quando esta precisa sustentar funções subjetivas e simbólicas na relação com o aluno,
para além da função pedagógica (KUPFER; PETRI, 2000).
Aqui, cabe uma breve explicação do que seria esse conceito do holding,
geralmente traduzido como sustentar ou segurar, o termo faz referência ao suporte
físico e psíquico oferecido ao bebê pela sua progenitora ou seu cuidador. Envolve um
padrão empático e uma rotina nos cuidados desse bebê, no período logo posterior
ao seu nascimento e se expressa como um conjunto de comportamentos afetivos
relacionados ao alimentar, limpar, proteger, ou seja, os cuidados concretos com o
bebê, que necessita estar fisicamente seguro, contido e psicologicamente acolhido ou
sustentado para desenvolver-se de maneira satisfatória. O holding permite uma certa
estabilidade e previsibilidade do ambiente, o que é fundamental para o amadurecimento
desse indivíduo, toda vez que se compreende profundamente um paciente, e se
demonstra através de uma interpretação correta e feita no momento certo, se está de
fato sustentando este paciente (MEDEIROS; AIELLO-VAISBERG, 2014).
158
destacar e comemorar suas produções bem-sucedidas. Dessa forma, o Acompanhante
Terapêutico também traduz e introduz para a criança as regras impostas pela escola, ao
mesmo tempo em que cria um espaço para a autonomia daquele aluno, dando-lhe voz
e lugar, valorizando a subjetividade do indivíduo acompanhado.
159
que o Acompanhante Terapêutico se envolve com as questões curriculares da escola e
executa intermediações entre os envolvidos com a inclusão escolar, visando ao bem-
estar e ao pleno desenvolvimento da criança, visto que seu foco está na criança e isso
faz com que ele permaneça um acompanhante da criança e não da escola.
160
Fisioterapia e Educação Física têm atuado como Acompanhantes Terapêuticos, com
perspectivas teóricas e metodológicas diversificadas. Isso significa que os objetivos e
as intervenções podem assumir características bem diferentes, de acordo com o pro-
fissional que atua e com a sua respectiva abordagem teórica. Parra (2009) menciona
que a atuação do Acompanhamento Terapêutico Escolar deve levar em consideração o
fato de que a criança se encontra em processo de construção psíquica. Por isso, é im-
prescindível a compreensão de que a inclusão é um processo singular que se faz caso
a caso, respeitando as subjetividades de cada criança, turma, professor, coordenador e
currículo pedagógico (JERUSALINSKY, 2016)
Nesse sentido, Jerusalinsky (2016) enfatiza que o diálogo entre família, escola
e clínicos é fundamental, e o Acompanhamento Terapêutico Escolar pode contribuir
significativamente com o processo inclusivo se for convocado não para obstruir, mas para
fazer circular as possíveis faltas que possibilitam que todos se questionem e busquem
saídas diante das dificuldades desta criança. Por, muitas vezes, ser um profissional que
adentra o espaço escolar, mas vem de fora, o Acompanhante Terapêutico Escolar tem
a chance de produzir questionamentos sobre os ideais e revelar a impossibilidade das
tarefas educativas, ao mesmo tempo em que trabalha constantemente com os demais
atores escolares, construindo um lugar possível e suportável para a criança juntamente
às outras crianças na escola (SPAGNUOLO, 2017).
161
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Com relação à Lei nº 9.394/96, vale frisar que seu capítulo V trata da educação espe-
cial, no qual é afirmado que a educação das pessoas com necessidades especiais se
deve dar, preferencialmente, na rede regular de ensino.
162
AUTOATIVIDADE
1 A criança, desde sua concepção, já pertence a um determinado grupo social
denominado de família, tendo por estes integrantes as suas necessidades básicas
supridas e estão programadas intrinsecamente para serem satisfeitas em sociedade.
O grupo social onde a criança nasce também necessita da incorporação deste novo
indivíduo para manter-se e sobreviver e, por isso, também lhe transmite a cultura
acumulada ao longo dos anos de vivência. Assinale as alternativas CORRETAS:
163
5 A presença constante do Acompanhante Terapêutico escolar pode acabar camu-
flando as possíveis faltas da escola, pode permitir que aquilo que sabidamente faz
parte das responsabilidades da escola não seja visto desta forma, pois o acompa-
nhante é posicionado ou se coloque em tal posição como sendo aquele profissional
que pode ou deveria resolver todas as questões de aprendizagem ou relacionado
ao comportamento desta criança. O acompanhante pode vir a ocupar o lugar deno-
minado de para-choque diante daquilo que fracassa no encontro da criança com a
escola. Referente a esta expressão, assinale as alternativas CORRETAS:
164
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
ATUAÇÃO DO ACOMPANHANTE
TERAPÊUTICO ESCOLAR
1 INTRODUÇÃO
O acompanhamento terapêutico foi desenvolvido inicialmente como uma
alternativa aos asilos psiquiátricos, sendo um recurso que possibilitava a inclusão social
a partir de um método em que os usuários dos centros de saúde mental circulavam
pelos diferentes espaços da vida pública acompanhados (NASCIMENTO et al., 2019).
A grande demanda do Acompanhamento Terapêutico com crianças ocorre no âmbito
escolar, pois a escola é um dos principais contextos de socialização infantil. Por isso,
levando em consideração os movimentos sociais e políticos atuais, que promovem uma
escola mais inclusiva, hoje se fala em Acompanhamento Terapêutico Escolar (ATE).
Quando consideramos o Acompanhamento Terapêutico com crianças, é importante
que este seja um trabalho voltado para a socialização das que apresentam um psíquico
grave (COELHO, 2007).
De acordo com Nascimento et al. (2019), existem ainda muitas dúvidas sobre
como se caracteriza a atuação do Acompanhante Terapêutico no âmbito escolar,
quais são as possibilidades e entraves dessa prática diante das demandas da inclusão
escolar. Por isso, se faz necessária uma reflexão sobre essas questões devido à atuação
do acompanhante terapêutico escolar ter se tornado uma prática crescente, sendo
marcada por certo grau de ambiguidade e falta de consenso.
165
Parra (2009) destaca que o acompanhamento terapêutico com crianças
com sofrimento psíquico grave acontecia, inicialmente, por encaminhamento da
escola a partir de uma demanda de queixa escolar. De acordo com Fráguas (2004),
o acompanhamento terapêutico passou por uma extensão de seu conceito e de sua
atuação, o que fez com que fosse introduzido como um recurso auxiliar nos projetos de
inclusão escolar. Algumas escolas passaram a solicitar o trabalho do acompanhamento
terapêutico com o objetivo de facilitar a inclusão de crianças com deficiências.
166
INDICAÇÃO DE LEITURA
Para uma maior compreeensão sobre a temática abordada neste tópico, sugerimos
a leitura da Lei nº 13.146 de 2015 através do livro Estatuto da Pessoa com Deficiência:
comentários à Lei 13.146/2015.
167
Às instituições privadas, de qualquer nível e modalidade de ensino,
aplica-se obrigatoriamente o disposto nos incisos I, II, III, V, VII, VIII,
IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV, XVI, XVII e XVIII do caput deste artigo, sendo
vedada a cobrança de valores adicionais de qualquer natureza em
suas mensalidades, anuidades e matrículas no cumprimento dessas
determinações (BRASIL, 2015, s.p.).
Na Lei 12.764 de 2012 consta que a pessoa com TEA, incluída nas classes
comuns de ensino regular, tem direito a um acompanhante especializado, em casos de
necessidade comprovada. A garantia do direito a um acompanhamento especializado é
um avanço na direção da efetivação da inclusão (BRASIL, 2012).
168
3 DIFERENÇAS ENTRE O ACOMPANHANTE TERAPÊUTICO
ESCOLAR E O ACOMPANHANTE ESPECIALIZADO
Tendo em conta o disposto na LBI/2015, entende-se que os profissionais
de apoio escolar são profissionais do ensino médio que devem cumprir requisitos
relacionados com higiene, locomoção e alimentação. O acompanhante especializado
trabalha com crianças com TEA no contexto de serem incorporados ao sistema regular
de ensino. Não é possível determinar qual a peculiaridade da prática de tal profissional,
ou seja, se ele é responsável por cuidados básicos ou pelo processo de ensino. Mas fica
claro que os profissionais devem ser especializados em questões sobre o Transtorno
do Espectro Autista (TEA). Já o Acompanhante Terapêutico Escolar é responsável por
mediar o processo de integração escolar do aluno (NASCIMENTO et al., 2019).
Diante disso, foram observadas três representações distintas entre eles, embora
sirvam a um propósito semelhante: apoiar alunos com certas dificuldades no processo
de inclusão escolar. Mas como apoiá-lo? Para quais áreas da experiência escolar os
alunos precisam de apoio? Talvez as tentativas de responder a essas perguntas nos
levem a escolher o profissional certo, pois as necessidades podem variar, por exemplo,
169
em cuidados pessoais, ensino e subjetivos. É importante notar que o cuidado pessoal
é destinado aos profissionais de apoio escolar, e as questões pedagógicas e subjetivas
a um acompanhante especializado ou um acompanhante terapêutico escolar,
entendendo que existem semelhanças entre essas atuações, mesmo que difiram na
formação necessária (NASCIMENTO et al., 2019).
170
O acompanhante terapêutico escolar atua em constante diálogo com os pro-
fessores do aluno, apoiando quando precisa sustentar funções subjetivas e simbólicas
na relação com o aluno, para além da função pedagógica (KUPFER; PETRI, 2000).
171
No entanto, o estudo realizado por Sanini, Sifuentes e Bosa (2013) sugere que a
presença de adultos na sala pode dificultar o processo de inclusão. Isso pode ser devido
ao fato de outras crianças não estarem mais em contato com o adulto, o que, por sua
vez, pode levar a um menor contato com as crianças que estão acompanhadas.
172
Matos e Diniz (2014) revelam um círculo vicioso que envolve as práticas desse
profissional, levantando dados de que os profissionais eram, em sua maioria, recém-
formados ou com poucos anos de prática e que começaram a atuar como acompanhantes
sendo estagiários de psicologia. O Acompanhamento Terapêutico Escolar surge como
possibilidade de ter um trabalho, mas a função tem mostrado uma certa desvalorização
profissional, com baixas remunerações e sem direitos trabalhistas, assim, muitos
estagiários deixam o acompanhamento quando se tornam mais experientes e possuem
condições de um retorno financeiro e profissional mais satisfatório.
É muito importante o avanço nas políticas voltadas para a inclusão escolar, mas
elas por si só não garantem a efetivação de maneira a contemplar todos os aspectos
no processo de inclusão. O Acompanhamento Terapêutico Escolar é uma ferramenta
de mediação no processo inclusivo, considerando os efeitos terapêuticos que abrem
espaço para emergência do sujeito. A atuação do Acompanhante terapêutico é marcada
por uma indefinição e de delimitação do que pode ser realizado, o que dificulta a prática
profissional do acompanhante (NASCIMENTO et al., 2019).
174
FIGURA 9 – CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR
175
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Na Lei 12.764 de 2012 consta que a pessoa com TEA, incluída nas classes comuns
de ensino regular, tem direito a um acompanhante especializado, em casos de
necessidade comprovada. A garantia do direito a um acompanhamento especializado
é um avanço na direção da efetivação da inclusão.
176
• Os profissionais de Psicologia, Educação, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, e de
outras áreas, têm contribuído para a realização do Acompanhamento Terapêutico
Escolar a partir de perspectivas metodológicas diferentes.
177
AUTOATIVIDADE
1 A grande demanda do Acompanhamento Terapêutico com crianças ocorre no âmbito
escolar, pois a escola é um dos principais contextos de socialização infantil. Por isso,
levando em consideração os movimentos sociais e políticos atuais, que promovem
uma escola mais inclusiva, hoje se fala em Acompanhamento Terapêutico Escolar
(ATE). Com base nisso, assinale a alternativa CORRETA:
178
3 Os acompanhantes não só proporcionam a aprendizagem, mas também formam
a consciência dos alunos, mediando a relação dos alunos com os saberes formais
e informais da escola, bem como as relações que as crianças desenvolvem neste
contexto. Com base nessa afirmação, classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:
179
180
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
VISÃO GERAL SOBRE A APRENDIZAGEM
E O PROCESSO DE ANAMNESE
1 INTRODUÇÃO
181
Nos últimos anos, vem se fortalecendo um movimento em nível mundial para o
acesso universal à educação formal. E no Brasil, a gratuidade da educação fundamental
é garantida através de leis em vigor, por meio de escolas públicas, entre 6 e 14 anos.
Desde a última década, a maioria das crianças brasileiras estão matriculadas no ensino
fundamental. A oportunidade de acesso à escola deixou de ser deficiente para a maioria
da população, porém quando se fala em qualidade de educação e a evasão escolar,
estes ainda são problemas que carecem serem superados. O atual acesso universal
às escolas e a maior exigência educacional fizeram do mau desempenho escolar e da
dificuldade em aprender queixas muito frequentes das escolas e, consecutivamente, nos
consultórios médicos. Essa situação torna necessária a atualização e aperfeiçoamento
dos profissionais da educação e da saúde, para uma melhor identificação e abordagem
destas crianças (FORTES, 2014; SIQUEIRA, 2011).
182
Desde as primeiras oportunidades que a criança tem de se comunicar, ela já
passa a ser avaliada pela sociedade que a cerca através da observação das suas capa-
cidades intelectuais e motoras antes mesmo dela iniciar na escola. Quando a criança
entra no final de sua primeira infância, seus avanços começam também a ser media-
dos através de seu desempenho apresentado na escola, sendo, neste primeiro conta-
to dentro da escola, o momento em que a criança demonstra com mais clareza suas
dificuldades e limitações, assim como suas aptidões e talentos. As oportunidades de
aprendizagem se apresentam a todo o momento em que a criança se depara com uma
nova situação. No ambiente escolar, tanto com a demanda acadêmica de aprendiza-
gem quanto através da interação social com as outras crianças e adolescentes, estas
oportunidades se apresentam em inúmeras situações. No entanto, quando apresenta
alguma dificuldade de aprendizagem, é importante que professores estejam atentos
para perceber e intervir, com o claro propósito de que essas dificuldades de aprendi-
zagem sejam sanadas. No entanto, essas dificuldades podem atrapalhar de maneira
significativa, neste momento é importante que haja o rápido reconhecimento para in-
tervir precocemente, comunicando e orientando a família desta criança para buscar as
intervenções necessárias. Quando as dificuldades de aprendizagem se tornam incapa-
citantes, elas podem se caracterizar como um transtorno de aprendizagem, neste caso
tornando mais difícil o tratamento e assim exigindo que o foco de intervenção seja mais
específico e intensivo (REBOLLO; RODRÍGUEZ, 2006; FORTES, 2014).
183
de déficit de atenção/hiperatividade (TDA/H) e transtorno de desenvolvimento de
coordenação (TDC), estes também são listados ao mau desempenho escolar. Todas estas
condições têm base neurobiológica; ou seja, são intrínsecas ao indivíduo (SIQUEIRA,
2011; SIQUEIRA; GIANNETTI, 2011).
184
em diferentes países, e acomete mais meninos do que meninas, com proporções de
2:1 e 3:1. Podem co-ocorrer com outras desordens, como o TDAH e outros transtornos
mentais, como os Transtornos de Ansiedade, Depressão e Transtorno Bipolar (TB). Essas
morbidades não excluem o diagnóstico de TEA, porém dificultam o seu diagnóstico
(BRITES, 2020; CRUZ, 2017).
De acordo com Brites (2020), é importante definir se a criança está dentro dos
critérios do DSM-V para afirmar que ela está em um quadro de transtorno específico
de aprendizagem. Esses critérios são adequados e resultado de anos de pesquisas e
evidências científicas sobre os transtornos de aprendizagem.
185
• Critério D – as dificuldades de aprendizagem são significativas, mas não podem ser
explicadas por alguns problemas, como os exemplificados na Figura 11, adiante.
De acordo com o DSM-5 (2014), o TEA também pode ser especificado quanto à
gravidade:
186
FIGURA 11 – PROBLEMAS QUE NÃO PODEM SER INCLUÍDOS NO TRANSTORNO ESPECÍFICO DE
APRENDIZAGEM
187
FIGURA 12 – ANAMNESE
188
3.2 JOGOS E DESENHOS
Dentro do processo de avaliação também é possível trabalhar com jogos, que
serão escolhidos de forma a estarem adaptados para a idade da criança. É necessário
ter claro o motivo da aplicação e o que será avaliado durante a execução, sempre de
acordo com a queixa (BRITES, 2020).
De acordo com Brites (2020), durante a realização dos desenhos, devem ser
analisados aspectos como a coordenação motora, a distribuição espacial, e uma análise
geral do desenho, observando se há componentes psicológicos presentes.
189
A Escala de Inteligência Wechsler para Crianças – 3ª edição (WISC-III) – tem como
objetivo avaliar a capacidade intelectual de crianças, adolescentes e adultos. O WISC-
III é composto por 13 subtestes, organizados em dois grupos: Verbais e Perceptivos-
motores ou de Execução, que são aplicados nas crianças em ordem alternada, ou seja,
um subteste de Execução e depois um subteste verbal e vice-versa. Os Subtestes
Verbais são compostos pelos itens: Informação, Semelhanças, Aritmética, Vocabulário,
Compreensão e Dígitos, enquanto que os subtestes de Execução são formados pelos
itens: Completar Figuras, Código, Arranjo de Figuras, Cubos, Armar Objetos, Procurar
Símbolos e Labirintos (CRUZ, 2005; MOUTINHO, 2014).
O WISC III é um teste padrão que faz parte do conjunto de testes da Escala We-
chsler e tem como objetivo medir três níveis de Quociente de Inteligência dos sujeitos
avaliados: QI total, QI verbal e o QI de execução. O teste é composto majoritariamente por
figuras, e as tarefas dadas aos que passam pelo teste geralmente envolvem nomeá-las,
classificá-las, separá-las, organizá-las em sequência etc. (CRUZ, 2005; MOUTINHO, 2014).
190
3.4 ASPECTOS PSICOMOTORES
Na avaliação psicopedagógica, é de igual importância que sejam avaliados
aspectos psicomotores das áreas básicas. São aplicados testes de equilíbrio, coordenação
global e fina, esquema e imagem corporal, dominância e lateralidade (BRITES, 2020).
191
FIGURA 17 – ASPECTOS IMPORTANTES A SEREM AVALIADOS NA LEITURA
192
LEITURA
COMPLEMENTAR
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA DE CRIANÇA COM ALTERAÇÕES NO
DESENVOLVIMENTO: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Modalidade de aprendizagem
193
As modalidades de aprendizagem sintomáticas são geradas por um desequilíbrio
nos movimentos de assimilação e/ou acomodação. O excesso (hiper) ou escassez (hipo)
em um desses movimentos afeta o resultado (aprendizagem), ou seja, dificuldades de
aprendizagem estão relacionadas a uma hiperatuação ou hipoatuação de um desses
processos. Quando há o predomínio da assimilação, de aprendizagem são da ordem
da não resignação, o que leva o sujeito a interpretar os objetos de modo subjetivo, não
internalizando as características próprias do objeto. Quando a acomodação predomina,
o sujeito não empresta sentido subjetivo aos objetos, antes, resigna-se sem criticidade.
Desenvolvimento Infantil
Participante
194
dos transtornos de aprendizagem, que são específicos e de origem neurobiológica.
Assim, dificuldades de aprendizagem podem estar associadas a problemas pedagó-
gicos, sociais, deficiência intelectual ou ser secundários a outros transtornos.
F83: Transtornos específicos misto do desenvolvimento. Esta categoria agrupa
transtornos que apresentam ao mesmo tempo sinais de um transtorno específico do
desenvolvimento da fala e da linguagem, das habilidades escolares, e das funções
motoras, mas sem a predominância suficiente de elementos para constituir o
diagnóstico principal.
F98.8: Outros transtornos comportamentais e emocionais especificados com início
habitualmente na infância ou adolescência. Inclui sintomas como comer unhas, déficit
de atenção sem hiperatividade, enfiar os dedos no nariz, masturbação exagerada e
sucção do polegar.
Instrumentos
195
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Entrevista com os pais: durante a entrevista a mãe relatou que Pedro é autista
(apesar dessa informação não constar no relatório médico), tem problemas na fala e
dificuldades de socialização. Faz acompanhamento neurológico, fonoaudiólogo e usa os
medicamentos Risperidona e Tofranil. Na entrevista, foi evidenciado que Pedro tem um
primo (filho de um tio por parte de mãe), com a idade de 7 anos, que também é autista.
A mãe relatou que Pedro nasceu de parto normal, sem complicações e começou a falar
com 1 ano 2 meses.
196
Hora do Jogo Diagnóstica: após apresentar a caixa, foi solicitado ao grupo para
realizar a atividade. Pedro não fez inventário, pegou um livro e ficou folheando, depois
pegou a lata de palitos e brincou um pouco, sem demonstrar muita vontade, por fim, fez
um desenho, utilizando canetinhas e papel sulfite, porém não terminou. Essa atitude
demonstra a dificuldade da criança em se apropriar do objeto de conhecimento desejado;
o contato superficial com a caixa e com os objetos oferecidos sugere dificuldades em
lidar com a situação e com o não conhecer.
197
Déficits relacionados às funções motoras, descritos na CID-10 F83, foram evi-
denciados durante a execução das atividades de Sondagem da Escrita, e nos Testes
piagetianos, e percebidos também nas brincadeiras e jogos lúdicos (montagem de que-
bra-cabeça, pega-varetas, entre outras). Prejuízos relacionados à desatenção não foram
evidenciados na avaliação, Pedro se mostrou atento às normas e às consignas solicitadas.
CONCLUSÃO
198
A avaliação psicopedagógica deve possibilitar o entendimento das especifici-
dades e necessidades da criança, suas dificuldades, sua relação com o outro e com
a aprendizagem, possibilitando delinear ações terapêuticas para atendimento dessas
necessidades. Limitações e direções futuras apontam para o fato de que o atendimento
em grupo não otimiza o processo de avaliação e o próprio desenvolvimento das crian-
ças, exceto com relação à interação social e comunicação, uma vez que muitas crian-
ças que chegam às clínicas de psicopedagogia podem requerer atenção individualizada
para lidar com suas dificuldades.
199
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• É importante definir se a criança está dentro dos critérios do DSM-V para afirmar que
ela está em um quadro de transtorno específico de aprendizagem. Esses critérios
são adequados e resultado de anos de pesquisas e evidências científicas sobre os
transtornos de aprendizagem.
200
• É muito importante a análise do material escolar da criança, para que se possa
verificar se está adequado ao nível escolar dela.
• Dentro do processo de avaliação também é possível trabalhar com jogos, que serão
escolhidos de forma a estarem adaptados para a idade da criança. É necessário ter
claro o motivo da aplicação e o que será avaliado durante a execução, sempre de
acordo com a queixa.
201
AUTOATIVIDADE
1 É importante que se leve em consideração que o desempenho apresentado na escola
depende de diferentes fatores: as características da escola tais como as instalações
físicas, o material pedagógico e a qualificação dos professores, a estrutura familiar
também interfere dependendo do nível de escolaridade dos pais, presença dos pais
e interação dos pais com escola e quanto a ajuda para a execução dos deveres e
as características do próprio indivíduo. Com relação a isso, assinale a alternativa
CORRETA:
202
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.
203
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