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O Uso Da Argamassa Estabilizada Como Alternativa para o Aumento Da Produtividade Nos Canteiros de Obra - Marco Antonio Moser
O Uso Da Argamassa Estabilizada Como Alternativa para o Aumento Da Produtividade Nos Canteiros de Obra - Marco Antonio Moser
Resumo
Tem-se buscado a industrialização do setor da construção civil como forma de aumentar a
produtividade. Nas obras, a produção de argamassa é um dos pontos críticos, sendo uma
atividade dependente não apenas da mão de obra, mas, também, da logística de fornecimento
de insumos. Assim, o presente trabalho apresenta a argamassa estabilizada como alternativa
para a redução dos fluxos nos canteiros. O artigo tem, como objetivo, definir as
características do material, apontar suas vantagens e desvantagens e fazer uma análise de
custo/benefício, através de um comparativo com argamassas convencionais. A partir dessa
análise, avaliar se sua utilização foi vantajosa em um estudo de caso onde a argamassa
utilizada era a estabilizada. Os dados de produtividade e custo foram coletados na obra em
questão, em pesquisas de mercado e referenciais teóricos. Os resultados indicam que, para o
empreendimento analisado, a argamassa estabilizada se mostrou vantajosa nos quesitos
mensurados. Podendo ser adquirido em grande escala e armazenado durante dias sem perder
suas características, é um produto cujo uso, se bem implementado, pode diminuir a
necessidade da mão de obra e acelerar os processos.
1. Introdução
O presente estudo ressalta a importância da industrialização da construção civil como meio
para o aumento da produtividade do setor, tratando, especificamente, do uso da argamassa
estabilizada nos canteiros de obra.
No Brasil, os processos construtivos ainda são muito artesanais, sendo altamente dependentes
da mão de obra. Por conseguinte, as construtoras enfrentam problemas relacionados à falta de
qualificação de seus operários, resultado de uma cultura de pouco investimento em
treinamento e capacitação.
A produção de argamassa nos canteiros de obra é uma atividade em que fica evidenciada a
necessidade de diminuir a interferência humana, a fim de reduzir o número de fluxos e
eliminar os erros e vícios do processo de produção in loco. Neste contexto, surge, como
alternativa, o uso da argamassa estabilizada, produzida fora do canteiro sob rigoroso controle
de qualidade e entregue nas obras pronta para o uso, podendo conservar, por até 72 horas,
suas condições de trabalhabilidade.
O trabalho tem, como objetivo geral, apresentar a argamassa estabilizada como solução viável
para as construtoras que convivem com o problema da produção artesanal do material. São
objetivos específicos do artigo: definir as características do produto, apontar suas vantagens e
desvantagens, fazer uma análise de custo/benefício e apresentar um estudo de caso.
Para verificar viabilidade técnica e econômica do uso da argamassa estabilizada, foi feita uma
análise de custo/benefício, comparando-a com a utilização de argamassas convencionais. A
partir desta análise, verificou-se se o uso da argamassa estabilizada foi vantajoso em um
estudo de caso de uma obra localizada na Grande Florianópolis, que consumiu este material
ao longo do ano de 2014.
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De acordo com Shmid (2011), além dos retardadores de pega, outros aditivos também podem
compor o traço das argamassas, como os incorporadores de ar, plastificantes, redutores de
retração e corantes. O uso de aditivos incorporadores de ar e plastificantes permite a obtenção
de argamassas de boa trabalhabilidade com uma quantidade moderada de cimento, o que
auxilia no controle da retração da argamassa. Neste aspecto, outro cuidado importante é a
utilização de areias com boa distribuição granulométrica.
Distribuir as cargas atuantes nas paredes de maneira uniforme por toda a área dos
blocos;
Garantir a estanqueidade das juntas, impedindo a entrada de água das chuvas;
Absorver deformações, tanto as de origem térmica quanto higroscópica.
Trabalhabilidade adequada;
Boa aderência;
Resistência mecânica satisfatória;
Capacidade de absorção de deformações.
Trabalhabilidade adequada;
Baixa retração;
Boa adesão inicial e aderência;
Baixa permeabilidade;
Resistência mecânica satisfatória (principalmente, a superficial);
Capacidade de absorção de deformações.
5. Análise de custo/benefício
Como a análise orçamentária é um dos principais objetos de interesse deste estudo, a obtenção
de informações referentes aos custos envolvidos precisava representar a realidade local.
Assim, mantido o anonimato dos fornecedores, serão apresentados os preços praticados em
Florianópolis e região. Em alguns casos em que não foi possível obter os valores diretamente
dos fornecedores, estes foram retirados do sistema SINAPI, da Caixa Econômica Federal,
entre outras fontes.
de encargos sociais para os operários. Para fins de simplificação, não foram considerados os
custos relativos à betoneira, como energia elétrica e depreciação do equipamento.
O custo da argamassa estabilizada praticado pela fornecedora para a obra que foi objeto do
estudo de caso aqui apresentado foi de R$ 210,00/m³. Nota-se que, para o caso estudado, a
argamassa estabilizada apresenta um custo 30,0% menor que a argamassa convencional de
assentamento e 25,0% menor que a de reboco, tendo comprovada sua viabilidade econômica.
Segundo Shmid (2011), o rendimento do trabalho é até 35,0% maior, ocorrendo a redução dos
tempos improdutivos no inicio e no final das jornadas de trabalho.
6. Estudo de caso
Durante o ano de 2014, realizou-se o acompanhamento de uma obra localizada no município
de São José, na Grande Florianópolis, em Santa Catarina, que utilizou a argamassa
estabilizada para assentamento de blocos cerâmicos e para revestimento de paredes em
reboco.
O empreendimento em questão possui área construída de 10.657,72 m², sendo composto por
duas torres, uma com nove pavimentos e a outra com dez (Figura 1). Por se tratar de uma obra
do Programa Minha Casa Minha Vida, da Caixa Econômica Federal, o curto prazo de
execução (dois anos) exigia que a construtora adotasse medidas que otimizassem seus
processos. Entre as soluções escolhidas, destaca-se a utilização da argamassa estabilizada em
substituição à argamassa convencional. Um dos fatores que possibilitou essa escolha foi a
proximidade geográfica de quatorze quilômetros com a central dosadora que fornecia o
material.
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relação ao peso do cimento, variando com o tempo de estabilização desejado (quanto maior o
teor deste aditivo, maior o tempo de estabilização). A proporção de aditivo incorporador de ar
varia entre 0,1% e 0,6% sobre o peso do cimento, também variando de acordo com a
quantidade desejada de ar incorporado. A relação água/cimento adotada é 1,0.
Tabela 3 – Limites de resistência de aderência à tração (Ra) para emboço e camada única
Fonte: NBR 13749:1996 – Revestimento de paredes e tetos de argamassas inorgânicas - Especificação
Para a obra em questão, segundo esta tabela, o limite mínimo de resistência de aderência à
tração deveria ser de 0,30 MPa. Os ensaios realizados apontaram resistências entre 0,31 e 0,35
MPa, obedecendo aos limites da referida Norma. É importante ressaltar que a aderência não é
uma propriedade da argamassa, mas do sistema a ser avaliado (substrato, preparo do substrato
e revestimento).
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A NBR 13528:2010 estabelece sete formas diferentes de ruptura neste ensaio. Nos ensaios
realizados na obra, a ruptura foi na interface substrato/chapisco, tal qual o exemplo B da
figura 7. Neste caso, a Norma determina que “o valor de resistência à tração é igual ao valor
obtido no ensaio”.
Figura 7 – Formas de ruptura no ensaio de resistência de aderência à tração para um sistema de revestimento
com chapisco
Fonte: NBR 13528:2010 – Revestimento de paredes de argamassas inorgânicas – Determinação da resistência de
aderência à tração
Carasek (2007) aponta alguns fatores que influenciam na aderência da argamassa sobre bases
porosas, tais como condições climáticas e qualidade de execução.
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Figura 8 – Fatores que exercem influência na aderência de argamassas sobre bases porosas
Fonte: CARASEK (2007)
Na obra, a ponte de ligação entre a argamassa de reboco e a alvenaria era realizada por uma
camada de chapisco, que era misturado no próprio canteiro, pois a empresa não vendia este
tipo de argamassa. Assim, o custo com o serviço de chapisco se manteve inalterado em
relação ao processo convencional.
Em entrevista com alguns operários que utilizavam esta argamassa na obra, foram feitos
comentários positivos em relação à sua trabalhabilidade e praticidade. Como aspecto negativo
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citado por alguns entrevistados, está o tempo de espera para sarrafear a argamassa após sua
aplicação, demorando mais para endurecer em comparação com a argamassa convencional.
Tal fato explica-se pelo uso do aditivo retardador de pega.
7. Conclusão
Conforme demonstrado no presente trabalho, o uso da argamassa estabilizada pode gerar
benefícios – em termos de economia e produtividade – para as obras correntes. Foram
apresentadas as principais características do material, tendo sido apontadas suas principais
vantagens e desvantagens. Os principais cuidados a serem tomados em sua utilização também
tiveram menção no trabalho, haja vista que esta solução depende de algumas ações específicas
da parte dos usuários – construtoras, gestores das obras, operários – para atingir os índices de
eficiência desejados. Realizou-se uma análise de custo, que apontou uma economia, variando
entre 25,0% e 30,0%, da argamassa estabilizada em relação a argamassas convencionais. Foi
mostrado um estudo de caso de uma construtora que utilizou a argamassa estabilizada,
visando a otimização dos seus processos, tendo obtido êxito em sua experiência com o
material. Os ensaios de resistência também apontaram a viabilidade técnica da argamassa
estabilizada. Ficou claro, também, que as construtoras que pretendem implementar o uso
desta argamassa devem adotar algumas medidas – tanto executivas quanto de gestão – para
aproveitar ao máximo o potencial de utilização deste material.
Como sugestão para trabalhos futuros, seria interessante fazer esta mesma análise para outras
regiões do País, com os preços lá praticados.
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Referências
ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6502: Rochas e
solos. Rio de Janeiro, 1995.
TCPO. Tabela de Composição de Preços para Orçamentos. São Paulo: Editora Pini, 2003.