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Interpretação de Texto Profª Adriana

Nome: Nº Série:

Data: 04/09 /2012 3º Trimestre

Curso: TÉCNICO EM
Nota:
INFORMÁTICA
Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a
inteligência” (Jó 28:28).

Texto I
O MENINO E A BORBOLETA ENCANTADA – Rubem Alves
          Mil e uma noites haviam se passado desde que o Pássaro
Encantado partira. Então ele voltou. Era madrugada. A Menina o viu tão
logo a luz alegre do sol fez brilhar as suas penas. Ela o estava
esperando. Os apaixonados esperam sempre... Ah! Como foi bom
aquele abraço de saudade! Desta vez as suas penas estavam coloridas
com as cores das florestas sobre as quais voara. O Pássaro Encantado
pôs-se então a cantar os seres das matas, árvores, orquídeas, regatos,
cachoeiras, elfos e gnomos... A Menina não se cansava de ouvir. Ouvia
e pedia que ele contasse de novo as mesmas estórias, do mesmo jeito.
E assim viviam os dois se amando por dias e dias. Mas sempre chegava
o momento em que o Pássaro dizia: “Menina, o voo me chama. Preciso
partir. É preciso partir para que o nosso amor não tenha fim. O amor
precisa de saudade para viver...” A Menina chorava baixinho, mas
compreendia. E assim o amor acontecia entre partidas e retornos.

As asas do Pássaro pareciam incansáveis. Estavam sempre à


procura de lugares desconhecidos. Ele já visitara montanhas
encantadas, planícies geladas, lagos, rios, abismos, castelos, uma
cidade construída na divisa entre a realidade e a fantasia, um reino onde
era proibido estar triste, lugares sagrados, vulcões, o país dos dragões
verdes e dos gigantes amarelos, jardins, selvas verdes, mares azuis,
praias brancas... Sobre todos esses lugares ele lhe contara estórias. A
Menina não tinha asas. Mas ela voava nas estórias que o Pássaro lhe
contava.

Mas os anos foram se passando. O Pássaro envelheceu. Suas


asas já não eram as mesmas da juventude. E também os seus sonhos
já não eram os sonhos da mocidade. Deseja-se partir quando é manhã.
Mas quando o sol se põe o que se deseja é voltar. E assim um desejo
novo surgiu no coração do Pássaro crepuscular: voltar...

O sol acabara de se pôr. Vênus brilhava no horizonte. Foi então


que a Menina o viu. Suas penas pareciam incendiadas pelo sol. Depois
do abraço ele disse para a Menina algo que nunca lhe dissera antes:
“Menina, conte-me as estórias da minha ausência...” E foi assim que,
pela primeira vez, o Pássaro se calou e a Menina lhe contou estórias.

Por muitos dias o Pássaro e a Menina gozaram do seu amor. Mas


o Pássaro já não era o mesmo. Algo acontecera com os seus olhos. Já
não procuravam horizontes longínquos. Eles olhavam as coisas simples
que havia na sua casa, coisas que sempre estiveram lá, mas que ele
nunca havia visto. Não vira porque o seu coração estava em outro lugar.
É o coração que nos diz o que é para ser visto.

Aconteceu então, num dia como os outros, o Pássaro abraçou a


Menina, e ele sentiu, nas costas da Menina, algo que nunca sentira.

“Menina, o que é isso?” ele perguntou. Ela enrubesceu e


respondeu:

“Asas, pequenas asas... Estão crescendo nas minhas costas...”.

E para que ele as visse baixou sua blusa. E ele viu. Sim,
pequenas asas, delicadas asas, asas de borboleta, coloridas, diáfanas,
frágeis... E ele percebeu que a Menina se preparava para voar. Sua
Menina se transformara numa borboleta...

O Pássaro sorriu uma mistura de alegria e de tristeza. Sentiu um


leve tremor nos lábios, aquele mesmo tremor que vira nos lábios da
Menina a primeira vez que lhe dissera: “Eu quero partir...” Chegara a
hora em que ela partiria e ele ficaria. Ele seria, então, aquele que
esperaria.  Como é dolorido ficar! A solidão de quem fica é maior que a
solidão de quem parte! Quem parte vai para mundos novos, cheios de
maravilhas desconhecidas. Quem fica, fica num espaço vazio, de
objetos velhos, esperando, esperando, contando os dias.

O momento da despedida chegou. A Menina, flutuando com suas


grandes asas de borboleta, disse ao Pássaro: “Preciso partir...”.

O Pássaro teve vontade de chorar. Queria lhe dizer: “Não vá. Eu a


amo tanto.” Mas não disse. Lembrou-se de que essas haviam sido as
palavras que a Menina lhe dissera, quando ele partira pela primeira vez.
O Pássaro temia por ela. Suas asas eram tão frágeis, asas de borboleta
que quebram-se a toa. Queria estar com ela para consolá-la na solidão
e no cansaço. Mas não fez gesto algum. Ele sabia que os abraços que
não se abrem são mortais para o amor.

Ele estendeu a sua mão num gesto de despedida. A Borboleta


voou e nela pousou. Ele se aproximou dela, como se fosse beijá-la. Mas
não beijou. Apenas soprou suas asas suavemente. “Voa, minha linda
Borboleta”, ele disse, se despedindo.  A Borboleta bateu suas asas,
voou e desapareceu na distância.

Então, ao olhar de novo para si mesmo ele não se reconheceu. Já


não era o Pássaro Encantado de penas coloridas. Transformara-se num
Menino... Um Menino que não sabia voar. Um Menino que esperava a
volta da Borboleta Encantada. Então ele voaria nas asas das estórias
que ela haveria de lhe contar...

1. De acordo com o autor, a menina sempre esperava seu amigo voltar.


Transcreva do primeiro parágrafo, o trecho que afirma o motivo dessa
espera.
2. A cada reencontro o pássaro trazia novidades em suas penas. De que
forma ele expressava a descrição dos lugares de onde viera? Explique.
3. A partir do momento em que a menina reconhece que seu amigo
havia mudado de comportamento, ela se vê diante de um desafio.
a) Qual foi esse desafio? Discorra sobre a mudança que ocorre no
relacionamento entre ela e o pássaro.
b) De acordo com o autor, a partir do 6º parágrafo, por que a menina
também se mostrou diferente? Justifique sua resposta,
4. No 5º parágrafo Rubem faz menção às coisas que o pássaro nunca
dera valor. Ao transpor essas “coisas” para a atualidade em que vivemos,
pode-se considerar que damos importância aos valores familiares, afetivos?
Comente.
5. “Como é dolorido ficar”... Mas o pássaro sabia que “os abraços que
não se abrem são mortais para o amor”. Explique quais são as intenções do
autor ao expressar esses comentários.
6. No desfecho da história é que o autor expressa como ele criou o título.
Em sua opinião, qual seria a intenção de Rubem Alves ao utilizar esse artifício?
7. Reflita sobre os diversos aspectos da vida do ser humano. Um dia,
todos nós temos que alçar voos longínquos atrás de novos objetivos. Escreva
sobre algo que possa ser comparado a essa metáfora em sua vida.

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