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Área 55

O Brasil na Rota Alienígena


Área 55
O Brasil na Rota Alienígena

Donnefar Skedar
organizador

1ª EDIÇÃO
ISBN: 9780463780039
Copyright © Elemental Editoração, 2020
ELEMENTAL EDITORAÇÃO
Ficha do livro
Título Original: Área 55 – O Brasil na Rota Alienígena, 2019
Copyright © 2019 Elemental Editoração
Copyright © desta edição: Elemental Editoração, 2020
Escrito por: Debora Gimenes, Marcella Alves de Sousa, Carlos H. F. Gomes, Condessa Da Escuridão,
Rangel Elesbão, Fernando Rômbola, Humberto Lima.
Capa: Revisão & Etc
Revisão de texto: Revisão & Etc
Imagens e Vetores: Freepik
ISBN: 9780463780039
Editor: Smashwords, Inc.
Diagramação e Edição: Elemental Editoração

Seloee.weebly.com

1. Ficção 2. Nacional 3. Português 4. Ufologia


1. Título 2. Livro Digital

Todos os direitos desta obra se reservam somente ao autor, qualquer forma de reprodução não
autorizada por expresso pelo autor, será considerada crime conforme previsto na lei dos direitos
autorais.
LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998
Índice
Ficha do Livro
Apresentação
Introdução
Luzes que Matam
Võo 169, Kátharsis Paradoxal
Mudinho e seu novo amigo
Piloto 047F
Olho Nu
Sementes no Espaço
Luzes no Céu
Posfácio
Biografias
Apresentação

Com a temática vinda de histórias de ET’s e OVNI’s, surgiram das


imaginações férteis de sete autores desfechos, possibilidades, para o que um
dia ganhou as manchetes de jornais e de outros veículos de comunicação no
Brasil.
Casos que ficaram famosos ao longo dos anos e que se tornaram um
mistério, questionamentos sempre foram e ainda são levantados sobre a
veracidade dos acontecimentos...
Será que o governo tem algum envolvimento, esconde materiais e até
mesmo um exemplar dessa espécie tão intrigante que mexe com a fantasia da
população brasileira? Relatos não passam de histórias inventadas para ganhar
notoriedade? E os famosos quinze minutos de fama? Ou será que de fato
existe vida inteligente fora da Terra, uma inteligência que supera a humana, e
que tem como objetivo ajudar, ou escravizar? Tudo isso alimenta a
imaginação fazendo a cabeça girar para encontrar respostas.
Nós, autores, esperamos que cada conto inspirados em histórias
diferentes possa conectar você, leitor, a um mundo desconhecido, que foge
dessa realidade que fazemos parte. Ficaremos felizes em trocarmos ideias
sobre os casos originais e a nossa versão, por isso deixaremos o nosso e-mail
para contato.
Obrigada até aqui.
Agora é com você.
Aproveite a leitura!
Marcella Alves de Sousa
Introdução

Área 55.
Tão temida e desconhecida, onde quem foi não voltou, e quem pretende
ir a receiam.
Nessa antologia reunimos os melhores contos baseados nos maiores
casos já descritos no universo “Objetos Voadores Não Identificados’’, os
famosos OVNI’s. Tivemos a ideia de juntar 10 brilhantes mentes dispostas a
te levar em algum lugar seguro (ou nem tanto) do Brasil.
Vocês temem o desconhecido? Não? Pois, deveriam.
Já se depararam com supostas luzes piscantes no céu e acharam que fora
um simples avião, ou apenas uma coincidência?
Digo a vocês: não existem coincidências, aviões não emitem esses tipos
de luzes piscantes da qual falaremos aqui.
Ah, claro, mas o ser humano nos surpreende e você, leitor, insiste em
não acreditar que possa existir vida fora da Terra, não é?
Bom, posso fazer-lhes acreditar.
Bem-vindos à bordo! Desejo que façam uma boa viagem nessa nave e
se, por acaso, a nossa conexão falhar e não puder me ver mais, se sentir que
está adormecendo e tendo sonhos com seres desconhecidos de cabeças
grandes, olhos profundos, parecendo estar em órbita, e com a pele
acinzentada/esverdeada... sinto muito dizer, mas você foi abduzido.

Condessa Da Escuridão
Luzes que Matam

Debora Gimenes

Baseado no Caso Operação Prato


— Como assim você lembrou o que aconteceu em abril de 1977? —
José Maria Macena perguntou, surpreso.
José Maria Macena era um homem de 62 anos, militar aposentado, e
que morava no Maranhão desde os dezoitos anos. Ele conheceu Marialva na
época dos incidentes alienígenas, conhecidos posteriormente como Operação
Prato, começaram a namorar naquele mesmo ano e se casaram quando a
menina obteve a maioridade.
— Olha, Zé, eu comecei a ter uns flashes na cabeça, umas imagens
daquele dia! — começou a falar a morena de 57 anos num sotaque carregado,
enquanto enrolava a ponta da trança com os dedos.
— Do nada, mulher de Deus! — o marido coçava a careca, preocupado.
— Achei que isso já tivesse terminado, ô diacho!
— Terminou, Zé! — Ela jogou a trança para trás e ergueu o tronco,
aparentando ser mais alta. — Além de que, o tal comandante lá não se matou
há mais de vinte anos? O que os ET’s iam querer conosco depois de tanto
tempo?
— Será que ele se matou mesmo, Alvinha? Eu conheci o Coronel
Uyrange Hollanda, tenho minhas dúvidas que ele tenha se matado.
— Foi horrível o que o meu vilarejo e outras cidadelas passaram
naquele ano. Aquelas luzes ferindo a gente, aquele homem morto e...
— O que foi, Alvinha?
Zé ficou assustado ao ver a esposa pálida, correu para pegar uma
cadeira e sentou a mulher, que estava prestes a desmaiar.
— Vou buscar um copo d’água para você.
Eles vão voltar para me pegar. Vão fazer comigo o que fizeram com o
Coronel Hollanda e farão o mesmo com as testemunhas que sobreviveram a
eles. Diacho, não posso deixar o Zé saber disso, senão eles vão vir atrás dele
também, Marialva pensava na última lembrança, enquanto o marido voltava
com um copo de água.
— Você está tremendo, Marialva! O que aconteceu? Do que você se
lembrou?
— Nada não, Zé! — Ela se levantou com dificuldade.
O corpo de Alvinha doía muito e o local onde, no passado havia uma
pele necrosada e dois furos, agora ardia demais!
Melhor você ir ao mercado sozinho, preciso me deitar.
Zé ficou observando a esposa caminhar lentamente para o quarto, ficou
preocupado, mas conhecendo a teimosia da mulher decidiu deixá-la em paz...
pegou a carteira, a chave do carro e seguiu para o mercado. No caminho
observou um caminhão do exército seguindo para a Ilha dos Caranguejos.
— O que está acontecendo, diacho?
Estacionou em frente ao mercado. Mesmo estando distraído, fez as
compras do dia sem esquecer nada, havia muitas pessoas comprando, pois era
fim de mês.
— Bom dia, Zé! — Cumprimentou o vizinho estendendo a mão para
ele, que aceitou de bom grado. — Só vai levar isso?
— Só, a minha aposentadoria só sai no quinto dia útil. E você? Está
trabalhando?
De repente ambos ouviram um grito do lado de fora do mercado. Uma
mulher olhava para o céu com o semblante apavorado. Eles correram para
fora e viram um círculo grande cobrindo o sol, fazendo com que todo o lugar
ficasse escuro. Zé correu para o carro e dirigiu de volta para casa. Eram 10
horas e 30 minutos, e o dia transformara-se em noite, mas ele sabia que não
se tratava de um eclipse. Estacionou o carro de qualquer jeito, não se lembrou
de trancar as portas e entrou a saltos na casa, gritando pela esposa, foi quando
um raio entrou pela porta do quarto do casal e Zé, ainda no corredor,
desmaiou com a energia vinda do cômodo.
Acordou um tempo depois com o corpo dolorido. As pessoas gritavam
pelas ruas, outras choravam, estava tudo escuro e luzes coloridas iluminavam
o céu com um som que lembrava o estalar de chicotes. Levantou-se com
dificuldade e foi até o quarto procurar pela esposa. Apesar da falta de luz,
percebeu que ela não estava lá. Saiu para o quintal e nada, até que percebeu a
janela do quarto chamuscada. Foi até a rua tentar saber o que estava
acontecendo e teve a visão mais assustadora de sua vida. Pessoas corriam
desesperadas para todos os lados, como baratas tontas, e do céu um raio
descia a todo momento fazendo com que uma pessoa desaparece. Uma
criatura de uns três metros de altura, crânio alongado como um ovo deitado,
braços e pernas compridos, e ligados a um tronco magérrimo atacava uma ou
outra mulher que conseguia capturar, e com tentáculos, que saíam de um
orifício do crânio, sugava seu sangue. Zé não conseguia distinguir se a
criatura tinha olhos, nariz ou ouvido.
Correu para o final da rua, ia entrar na mata e tentar se esconder. Se a
esposa não fosse levada por eles, provavelmente estaria morta. Não havia o
que fazer por ela no momento.
Ficou na mata a noite toda.
Quando o dia amanheceu ele não ouvia mais os gritos e nem o som dos
chicotes vindo das luzes, mas, mesmo assim, andou sorrateiro pelas ruas até
chegar em casa. Estava toda aberta, assim como o carro. Ele entrou no
veículo, abrindo o porta-luvas com cuidado. Estava ali a sua pistola. Conferiu
se continuava carregada e a enfiou atrás das calças e pegou um caibro. Só
usaria a pistola em último caso, não desejava chamar a atenção, e com muita
cautela entrou na casa, vasculhou tudo e não encontrou nada. Então decidiu ir
até o vizinho.
— João! João! — Ele chamou o amigo, quase sussurrando. Minutos
depois um menino de oito anos saiu de dentro da casinha do cachorro.
— Meu pai foi raptado por aquelas luzes, seu Zé, e minha mãe foi
comida pela criatura!
— Onde está a sua irmã, menino?
— Lá dentro... chorando! — o menino mostrou uma machadinha. —
Eu vou ficar aqui de guarda como o cachorro faz! Se eles voltarem eu mato
eles!
Zé entrou na casa procurando pela menina mais velha dos vizinhos.
Clarice tinha 16 anos e estava chorando abraçada a uma almofada, enquanto
ouvia as notícias em rede nacional.
— Quando foi que as luzes voltaram, Clarice?
— Pouco depois que eles foram embora. Eu peguei minha mãe caída na
rua e coloquei ela na cama, tava esperando meu pai para resolver o que fazer,
mas o Pedrinho me disse que ele foi abduzido por um dos raios — a menina
caiu num choro profundo. — O que eu vou fazer, seu Zé?
— Você viu o que aconteceu com a Marialva?
— Ela foi a primeira a ser abduzida. Eu vi quando o raio entrou pela
janela do quarto, estava no quintal, mas desmaiei com a energia dele... e
quando acordei a loucura estava formada e minha mãe estava sendo sugada
por aquela coisa.
O homem abaixou a cabeça, sentido. Não poderia ter salvo a mulher,
mas com certeza ajudaria aquelas crianças.
— O que estão falando aí?
— Eles chegaram de repente, invadiram a órbita da Terra, não sei o que
são, e vieram para a nossa região, pegaram o que quiseram e foram embora
— a menina enfiou o rosto na almofada e voltou a chorar.
“Pedimos para que os sobreviventes das regiões atacadas se
dirijam a base militar mais próxima de vocês com poucos pertences.
Tranquem suas casas e deixem a região para a sua segurança.
Monitoraremos o lugar dos ataques nos próximos dias para termos
certeza de que não há nenhum invasor escondido. Aquele que tiverem
parentes assassinados, por favor entrar em contato pelo 0800-555-555
e providenciaremos a retirada do corpo.”
Após ouvir as notícias, ele pegou as crianças e dirigiu-se para a base da
Ilha dos Caranguejos, sem ideia de quando voltaria para casa de novo.
Enquanto dirigia, lembrou-se de Marialva indo se deitar. A pele sob o peito
estava vermelha, assim como a dele e de Clarisse estavam agora.
“Ainda não acabou!”, pensou, imaginando quando eles voltariam.
Võo 169,

Kátharsis Paradoxal

Marcella Alves de Sousa

Baseado no Caso Võo 169


Já era hora de ir para o aeroporto e a mala ainda não estava totalmente
pronta, estava suando. Apesar de ter sido locado em uma cidade em que é
verão quase o ano todo, aquele dia estava sendo bem quente e o céu limpo de
um azul infinito era a sua cor preferida, a cor do seu povo. Foi para o seu
jardim e olhou para o céu com o sol radiante, sem fechar os olhos, e jogou
um beijo para o alto.
Com um sorriso no rosto, voltou para dentro, colocou o que estava
faltando na bagagem, pegou os documentos e a passagem, olhou para o
relógio e viu que estava sobrando tempo, ligou a televisão, deitou no sofá e
esperou até a hora de seguir viagem. Chegada a hora foi para o carro e deu
partida.
Morava, havia três anos, na cidade de Fortaleza, o clã ao qual pertencia
não quisera que ele fosse tão jovem para trabalho em campo. Muito astuto e
inteligente, soube convencer seus patriarcas e assim fora enviado para o
Brasil. Escolhera o país por causa de seu contorno, que se encaixava
perfeitamente no continente que sua linhagem no passado desbravou, mas
como era um lugar de escassos recursos, ainda não havia como ter auxiliado
os moradores daquele local como mereciam, sem parecer que algo de
anormal estivesse acontecendo.
Era chegada à noite em que fariam contato com os humanos, era assim
que eles se denominavam. Tanto tempo se auto estudando e ainda não
conseguiam manter a paz. Tantas guerras, conflitos, que geravam fome,
doenças e dor. O país da qual parecia pertencer tinha passado por períodos
que iam da escravidão à opressão. Uma política que mantinha o poder apenas
para os ricos. Pequenos em sentimentos e grandes na ganância.
Já no aeroporto fez um lanche que gostava muito, água com gás e
tapioca com queijo coalho. Não sabia bem o motivo de gostar daquilo, mas
gostava. O voo 169 da VASP havia sido anunciado para o embarque.
Respirou fundo e pegou a passagem que tinha como destino São Paulo, com
escala no Rio de Janeiro. Iria se encontrar com o seu irmão para alinhar
algumas coisas.
Logo que se acomodou em sua poltrona, percebeu que havia alguns
líderes religiosos a bordo. Gostou disso. A fé vista pelos humanos são
colocadas como verdades absolutas, então seria ótimo que eles vissem o que
estava por vir, mesmo que não fosse um de cada religião, mas apenas
pertencentes de uma. Era uma bagunça o que eles tinham como conceito de
“Ser Superior”. Deus tinha vários nomes. Isso era motivo de guerras também
e de fazer fortunas incalculáveis.
Uma mulher, com idade aparentemente madura, assentou ao seu lado.
Muito falante e simpática, logo se apresentou:
— Sou Cilezia Paes, e você meu jovem?
Ele olhou para a janela e viu seu rosto refletido no vidro: tinha uma cor
clara, um rosto em formato oval, olhos azuis, bochechas rosadas, lábios bem
delineados e cabelo estilo Elvis Presley, porém loiros. Era um homem, por
assim dizer, muito bonito.
— Sou Túlio, prazer. — Ele respondeu, virando o rosto.
Continuaram a conversar e logo ela disse que o seu nome era de origem
grega. Ele achou engraçado ela dizer isso, como se fosse algo importante. O
que muitos não sabem é que a maioria dos nomes, e até mesmo as línguas
que são faladas no planeta, tem origem grega, pois lá, nos tempos remotos da
Terra, era a Grécia ou Roma quem comandava as coisas no mundo. Para não
deixá-la sem graça, disse que o seu nome também tinha raízes gregas. Túlio
era o nome de uma ilha e também de um elemento químico da família das
terras raras. A conversa não teve fim e ele gostou. Ouvindo-a falar, pensou
consigo: “essa será uma pessoa que irá acreditar naquilo que seus olhos
verão e não terá medo de esconder isso”.
Como era um voo de madrugada, logo o sono bateu e muitos
passageiros começaram a se ajeitar para dormir, mas não durou muito tempo
e a calmaria, luz propícia para bons sonhos e o silêncio dentro da aeronave
deram lugar a uma agitação pelo comunicado do comandante para olharem
pelas janelas do avião no lado esquerdo. Uma luz muito clara iluminou todo o
interior da aeronave, todos se entreolharam até entender o que estava
acontecendo. Nas poltronas que ficavam à frente das de Túlio e Cilezia
estavam os religiosos que não se moviam, mal podiam respirar de tanto medo
e pavor por aquilo que estava do lado de fora, plainando no ar como uma ave
majestosa. O clã, ao qual pertencia, sabia que ali estavam o seu pai e os seus
irmãos. Como era bom poder sentir essa conexão de perto novamente. Foram
três longos anos, quando, em seu coração, o “eu amo vocês” saiu. As luzes
da espaçonave começaram a piscar alternando entre as cores azul, laranja,
vermelho e branco, as cores dos quatro grandes reinos de Prolétotrons.
Sentiu um frio na barriga, ainda estava se acostumando com as
emoções ao qual o corpo humano era exposto. Uma festa se fez dentro da
aeronave, as pessoas tentando adivinhar o que era aquilo do lado de fora,
algumas tentando manter contato via telepatia, acenos, rezas. O comandante
resolveu emitir luzes para que houvesse alguma proximidade, ele sabia que
isso seria um bom começo para se apresentarem.
Depois de tantos milênios tentando fazer contato com os humanos, o
empecilho que sempre se colocava entre essa vontade e a realidade de
acontecer era a capacidade ínfima que o ser humano tinha de se posicionar
como o único grande ser de luz soberano do universo. Eles não sabem que
são apenas poeiras, e que somente alguns são predestinados a serem líderes e
virem o que está por vir no fim dos tempos.
O tempo tem passado tão rápido, a luta para conseguir educar os
humanos a serem melhores tem sido desgastante demais. Alguns de seus
semelhantes se perderam, ou se corromperam nesse caminho, alguns fizeram
contatos com os humanos para experiências não convencionais. Expulsos dos
reinos, forjaram um novo com o objetivo de punir uma raça inferior,
encontrando no planeta Terra uma espécie também corrompida pela ganância,
ódio e uma ambição de dominar o mundo... e dentro daquele voo existia uma
pessoa em específico que queria muito isso. Já tinha feito contato com os
desertores e foi selecionado como sendo uma mente atormentada e brilhante.
Túlio se levantou de sua poltrona, ficou a procurar ao redor para saber
quem era esse humano, até conseguir encontrá-lo: era um homem velho, com
cicatrizes no rosto e nos seus braços continham escritas em uma simbologia
que significavam “viemos para trazer escuridão à Terra”. Ele logo desviou
o seu olhar e em pensamento disse ao seu pai que não era a hora de conduzir
a aeronave para um espaço aberto, para que pudessem fazer a apresentação de
ambos os povos.
Seus familiares estavam do outro lado, tão perto, quase que palpável. O
cheiro dos seus, seu peito apertado de saudade – palavra que somente existia
na língua portuguesa brasileira – estava sendo forte demais, não conseguiu
segurar uma emoção que os humanos tinham e chorou como um menino ao
ver a nave se distanciando aos poucos do avião. Cilezia, que estava ao seu
lado, perguntou o que estava acontecendo para que ele estivesse chorando.
Mais uma vez, vendo seu rosto refletido na janela, somente pode dizer que
aquilo fora lindo, nunca tinha visto nada igual na vida. A mulher, em uma
atitude maternal, envolveu-o nos braços e o apertou acariciando os seus
cabelos e dizendo “eu sei, eu também nunca tinha visto nada tão lindo e
especial como o que vivi essa madrugada. Nunca me senti tão bem, tão leve,
tão em paz”. Túlio ouvindo isso a apertou e abraçou, chorando, pois era
exatamente essa sensação que seu reino estava a tanto tempo procurando
meios de proporcionar a raça humana.
Foi chegada a hora da escala no Rio de Janeiro, era o local de embarque
de seu irmão, que já sabia o que havia acontecido, já tivera uma experiência
semelhante anos atrás em um país chamado “Estados Unidos da América”.
Lá tinha uma área, denominada como “Área 51”, com prisioneiros de ambos
os lados, tinha também profissionais envolvidos na tentativa de fazer com
que uma relação se estabelecesse, mas aí que estava a grande barreira: nem
todos os humanos queriam uma relação amistosa e os reinos de Prolétotrons
eram riquíssimos.
Assim que chegaram ao destino final, que era São Paulo, para se
reunirem com a Organização Mundial de Galáxias Aliadas – OMGA –, havia
centenas de jornalistas no aeroporto querendo saber o que ocorrera durante o
voo 169 do dia 08 de fevereiro de 1982, da VASP. Túlio olhou para o seu
irmão, que sabendo de sua intenção consentiu com o aval para que o relato
fosse feito sobre a sua experiência extraterrestre. Ao se aproximar dos
jornalistas, começou a falar de tudo que viu e sentiu. Olhando para a sua
direita estava Cilezia também relatando tudo que havia ocorrido dentro do
voo, com um entusiasmo e uma convicção que fez Túlio se encorajar e se
sentir honrado por pertencer ao seu clã.

Ao acordar, logo ligou o seu smartphone para saber das notícias, como
sempre fazia todas as manhãs, e a manchete com que se deparou foi: a
Marinha dos Estados Unidos admite veracidade de imagens de perseguição
aos OVNI’s. Sua reação a princípio foi de espanto, mas depois gostou do que
leu. Na matéria havia várias imagens de anos recentes de naves e uma delas
era vermelha, uma expedição feita sozinha pelo reino da cor que fora emitida
a luz. Era um reino bom, de chefes inteligentes e amistosos.
Ligou para o seu irmão, que morava nos Estados Unidos, e perguntou o
que estava achando da grande novidade sendo jogada para a mídia mundial.
A resposta foi cautelosa, o governo sabia muito e havia aliados do governo
com os desertores, o que era preocupante, pois os testes de substâncias
químicas, que somente eram encontradas em território de galáxias que não a
Via Láctea, já estavam sendo usadas para o capital bélico. Uma invasão
recente a um país do oriente foi usada como desculpa para serem testados
drogas e seus efeitos a curto, médio e longo prazo. Os resultados eram
alarmantes, então disse para Túlio ter cuidado. Conversaram mais um pouco
e se despediram.
Ao desligar o telefone foi direto para o banho e depois se encaminhou
para a casa de sua vizinha para tomarem café juntos. Era um domingo lindo.
Ele olhou para o céu azul com o sol radiante, sem fechar os olhos, e jogou um
beijo para o alto.
Cilezia tinha uma bela família e ela meio que o adotou. Ela não sabia
como Túlio, um homem tão bonito, inteligente e educado não tinha formado
sua própria família. Ele dizia a ela que não tinha vindo a esse mundo nem
para ser marido e nem pai, mas ela desconfiava que houvesse algo mais sério
por trás dessa resposta, mas nunca ousou lhe perguntar nada.
Mudinho e seu

novo amigo

Carlos H. F. Gomes

Baseado no Caso ET de Varginha


Mudinho tomou um susto. O dia claro virou noite escura, uma ventania
o deixou ainda mais perdido do que já era naquele matagal, e a água molhada
caiu do céu deixando sua pele marrom quase igual ao ralador de queijo da
mãe, que ele gostava de passar o dedo até machucar. Como era mesmo o
nome daquilo? Terminava com pio, mas não lhe vinha na lembrança. Ele
queria mesmo era gritar de medo, porém mesmo que tivesse essa habilidade
não saberia como expressar em tal ato de desespero. Que diacho era aquilo?
Sua mente não funcionava daquele jeito.
Por entre o véu acinzentado brilhante da tempestade ele viu o vulto da
bota de um gigante onde poderia se abrigar e correu para lá, ofegante, a roupa
grudada no corpo impondo uma pesada resistência ao movimento do
esqueleto. O que queria era só vagar pelo mundo tão particular da sua cabeça
onde só ele poderia viver e desfrutar a vida, embora ninguém fizesse questão
de sequer tentar entender algo sobre aquele seu habitat, e agora era obrigado
a lutar para viver.
Mudinho e seu mundinho precisavam chegar logo àquele abrigo ao lado
da bota do gigante escuro ali adiante, mas tropeçaram em algo grande e
mergulharam em um lago gelado da cor do café com leite que bebeu uma vez
na Dona Maria. O gosto não era o mesmo, aquele parecia com a terra que
vinha junto com as minhocas que gostava de sentir chacoalhando na boca.
Levantou-se com dificuldade, saiu meio pulando, meio correndo
abanando os braços, e foi para longe daquele trem marrom onde tropeçara e
agachou-se encostado na bota áspera e fria do gigante. Havia um cheiro
horroroso ali e ele pensou que o mesmo devia ter pisado em um monte
grande de merda. Tremia igual vara verde, mais de frio do que de medo, mas
quando aquela coisa marrom que o derrubou se levantou devagar em meio à
cortina de água, foi que ele percebeu como eram semelhantes fisicamente,
havendo apenas uma diferença: Mudinho não tinha aqueles olhos que
pareciam dois tomates enfiados na cara.
Os dois se olhavam em meio aos milhões de baques dos pingos caindo
na terra molhada e nas poças de café com leite. Aquele dos olhos de tomate
estendeu o braço magrelo e marrom, e apontou o dedo na direção de
Mudinho, que imitou o gesto alargando um sorriso banguela. Pela primeira
vez alguém se preocupava em se comunicar com ele.

As irmãs Liliane e Valquíria voltavam para casa, junto com Katia,


naquela manhã de sol e resolveram cortar caminho pela trilha entre os novos
loteamentos do Jardim Andere, quando foram surpreendidas por um temporal
daqueles que não dá tempo nem de abrir o guarda-chuva, caso tivessem um.
O vento forte e indecente insistia em querer levantar as roupas das moças, e
assim, tentando segurar os panos e olhar onde pisavam ao mesmo tempo, elas
correram desengonçadas e molhadas. Trêmulas de frio, escorregando e se
equilibrando, apesar de tudo, entre gritos agudos próprios de adolescentes em
situação adversa, não tinham tanta certeza assim de que estavam indo na
direção certa. Do lado direito viram um muro escuro e souberam que o
caminho era por ali, e que quando chegassem à rua era só virar à direita e
estariam seguras, pelo menos sem escorregar.
Pensar que o dia prometia ser bonito e fechou dava até medo. Trem
doido, sô! A situação das moças era a pior: encharcadas, com as roupas
grudadas ao corpo, sentindo um troço esquisito, uma sensação de estarem
sendo agarradas, o vento gelado e cortante machucando a pele, as gotas
grossas caindo pesadas, que faziam até barulho dentro da cabeça, gritos
agudos entre um escorregão e outro, e um jeito de correr vergonhoso.
Katia ia na frente, valente, era a mais velha, embora as duas irmãs a
achassem um pouco devagar em certas coisas. O muro estava perto. Pararam
antes de uma poça de lama, que dava conta de ter bem uns dez metros de
distância até o outro lado, levantaram a barra das vestes e seguiram adiante,
os pés afundando no macio incógnito submerso na água marrom, que
começava a gelar as canelas. Assim que chegaram ao outro lado, a líder
jurava que tinha visto algo pelo rabo do olho esquerdo. E se fosse um bicho
que saísse do mato para comê-las? Desfazendo a confusão em seu
pensamento, entendeu que até poderia ser um bicho, mas era ele quem devia
ter achado que seria comido, pois disparou para o mato. Já estavam quase
chagando ao muro e enfim à rua onde não escorregariam mais.

Os dois amigos foram surpreendidos por gritos que espetavam a cabeça


por dentro, olharam sobressaltados na direção de onde vinha o barulho e
viram três criaturas, que pareciam aves aprendendo a voar, aproximarem-se
perigosamente. Mudinho temeu pela segurança do outro e balançou as mãos
indicando para que corresse na direção do mato. Seu amigo estava
machucado, arrastando a perna decá, mas, mesmo assim correu como um
gato e sumiu no matagal. Enquanto isso, ele se encolheu o máximo que pode
em meio ao fedor de merda ao lado da bota do gigante, talvez assim as
criaturas passariam direto sem vê-lo ali. Seria muita sorte, mas isso ele não
tinha mesmo desde que nasceu.

Katia brecou, escorregou, quase caiu e gritou de pavor. Liliane e


Valquíria não conseguiram parar a tempo, trombando com a amiga,
derrubando-a, mas ela não parava de gritar, tentando se levantar,
escorregando e gritando, e foi então que as irmãs também viram aquela coisa
marrom agachada ao pé do muro, e também gritaram.
A chuva parou assim como começou e elas correram como o diabo corre
da cruz, deixando a amiga. Encontraram a mãe conversando com uma
mulher, que nem viram quem era, as duas gaguejavam ao mesmo tempo, sem
conseguir respirar, apertadas pelas roupas encharcadas e tremendo de medo.
A mãe só conseguiu entender do que se tratava quando Katia chegou toda
enlameada e puta da vida com as amigas por terem deixado-a estirada no
chão. Elas tinham visto o Diabo logo ali na saída da trilha. A mãe das irmãs,
cética, quis ver também e Katia, corajosa, foi indicar onde a entidade abissal
estava, mas chegando lá só o que encontraram foi um cheiro insuportável de
merda.

Mudinho tomou um susto. Uma das criaturas que tentava levantar voo
avistou-o e começou um berreiro estridente e ameaçador, deixando-o sem
reação, apenas olhando para aquela cara de olhos pretos miúdos e a boca
pequena, numa cabeça mais larga em cima e fina no queixo, parecendo um
triângulo de ponta-cabeça. A coisa foi atropelada por outras duas que
desandaram a gritar, iguais a primeira, através de bocas estranhas e rasgadas
nos cantos, como as de um desenho que ele viu uma vez na banca do seu Zé.
Como é que o seu Zé chamou a coisa mesmo? Era algo parecido com
curingo... coringa.
Aqueles berros das criaturas, que deviam ser de outro mundo, cutucavam
a cabeça do pobre coitado por dentro, até que elas continuaram correndo,
como se fossem levantar voo, e gritando rua abaixo. Ele ficou ali olhando a
cena, agachado e encostado na bota do gigante sentindo o cheiro de merda
que não o incomodava mais, quando a chuva parou como começou.
Lembrou-se do amigo e correu em direção ao matagal com cuidado para
não cair no lago de café com leite outra vez, porque a crosta já começava a
endurecer no corpo dando a sensação de estar dentro de uma casca, deixando
Mudinho aflito, mas ele precisava encontrar seu amigo, que estava
machucado.
Aquele era o dia dos sustos. Um estouro, como aqueles de São João que
o deixavam atordoado, chamou a sua atenção para o lado direito e ele correu
sem se importar com possíveis poças de café com leite. Encontrar seu amigo
e ajudá-lo era sua obsessão. Mudinho correu entre o capim, que cortava a
pele, e outro estouro bem perto o assustou, ele se desequilibrou e mergulhou
sobre o capim, caindo de cara na terra molhada de café com leite. Apoiou as
palmas das mãos, levantou-se num pulo e viu logo ali adiante seu amigo se
estrebuchar até cair.
A visão do seu novo e único amigo jogado ali fez Mudinho chorar. Ele
se ajoelhou e pegou, entre as suas, a mão trêmula do amigo, ossuda e de
dedos mais compridos que os seus, dizia a ele, com o olhar, que tudo ficaria
bem, mas a vida não era assim e Mudinho sabia muito bem disso, só que
naquele momento ele se agarrava a um trem que não sabia bem o que era,
talvez fosse esperança.
E a esperança surgiu de repente na farda de dois homens da lei. Mudinho
gesticulou, chamando a atenção para que ajudassem seu amigo e um deles
cutucou o outro e apontou para ele. Mudinho sorriu e se emocionou: aquilo
era bão demais, sô. Eles fariam um curativo no seu amigo e ele ficaria bem...
mas a vida não é assim e tudo ficou escuro.

Os dois soldados surgiram do meio do matagal carregando nos ombros


dois sacos: um se mexia, o outro não.
Piloto 047F

Condessa Da Escuridão

Baseado no Caso Avistamento Na FAB

(Força Aérea Brasileira)


SUDESTE DO BRASIL, 1986
Um dos avistamentos mais documentados da história envolveu até
caças da Força Aérea Brasileira (FAB)
Em 19 de maio, uma revoada de óvnis foi detectada pelas torres de
controle dos aeroportos de São José dos Campos e de São Paulo. O
Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo
(Cindacta I), em Brasília, confirmou no radar a presença de 21 objetos
congestionando o tráfego aéreo.
Com o espaço aéreo ameaçado, o Comando de Defesa
Aeroespacial Brasileiro enviou um caça F-5E da Base Aérea de Santa
Cruz (RJ) para interceptar os óvnis e três jatos Mirage III decolaram de
Anápolis (GO) para ajudar na busca. Os pilotos avistaram pontos
luminosos que faziam ziguezague a mais de 1.000 km/h.
Os jatos não detiveram os objetos, que sumiram rumo ao litoral
sem deixar rastro. No dia seguinte, o ministro da Aeronáutica,
brigadeiro Moreira Lima, junto aos pilotos dos caças, concedeu uma
entrevista coletiva, detalhando a operação. Foi a primeira vez que
autoridades militares brasileiras admitiram ter visto óvnis.
Em 2009, 23 anos após o evento, a FAB divulgou um relatório
oficial do caso, afirmando que os objetos vistos naquela noite eram
“sólidos e refletem de certa forma inteligência, pela capacidade de
acompanhar e manter distância dos observadores, como também voar
em formação, não forçosamente tripulados”.

Trecho da Máteria no site Super Interessante

O que pensar após ler isso? Confesso que também não sei, mas posso
afirmar que tudo o que foi relatado nesse depoimento foi verídico. Eu quero
que conheçam a minha história. Chame-me apenas de Piloto 047F, pois no
final deste meu relato, vocês saberão o meu nome.
Era uma segunda-feira, o Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro
enviou o caça F-5E da Base Aérea de Santa Cruz (RJ) para interceptar os
OVNI’s, e mesmo que ninguém soubesse, enviou nós do caça F-7F para
investigarmos melhor. Éramos dois: piloto Mike e eu.
Mike foi o primeiro a avistar um objeto voador não identificado, que
sobrevoava acima do nosso caça e possuía uma luz branca tão forte. De
repente, tudo ficou claro demais e quando eu vi, Mike já não estava mais lá.
Nossa aeronave simplesmente desapareceu, não reconheci de imediato o
lugar que eu estava, parecia escuro demais para a minha visão, havia luzes no
teto, iguais aquelas de hospitais, e algumas portas metálicas, ao que parecia
ser o corredor central de alguma aeronave. Minha vista estava embaçada e eu
estava tonto, mas pude ver e sentir quando algo, maior do que eu, aproximou-
se. Os olhos eram grandes, negros e brilhantes, a pele era de um verde musgo
e parecia não ter nariz. Ele se comunicou mentalmente, dizendo que me
levaria até uma sala para que pudéssemos conversar. Neste instante a tontura
que senti se intensificou e eu apaguei, acordando horas mais tarde. A sala em
que eu estava era cinza, mas de uma tonalidade metalizada. Estava dentro de
uma nave, isso era certo. Havia uma janela pequena localizada em cima da
mesa onde eu estava deitado, pensei em fugir, mas fugir para onde? Do quê?
Adentrou então um senhor, que aparentava ter uns 50 anos, vestido com
um macacão espacial azul, que disse:
— Piloto 047-F... é assim que será chamado daqui em diante... sua vida
na Terra deixou de ser requisitada. Meu nome é Allhefeir, vim de muito
longe para escolher alguém que fizesse o que eu fiz há muito tempo. Você
está a bordo da TX-140V, uma aeronave até então desconhecida pelos
satélites da Terra. A partir de agora, tu serás um dos nossos, farás parte da
nossa tripulação e conhecerás os nossos modos de vida e o que fazemos. Seu
companheiro Mike não nos serviu e por isso foi devolvido ao seu local de
descanso eterno no mesmo dia que nos avistou sobrevoando próximo a vocês.
Seja bem-vindo, Piloto 047-F, nossos integrantes te receberão e te acolherão,
e em questão de semanas tu se sentirás em casa.
Dito isso, saiu da sala e me deixou cheio de dúvidas. A partir desse
momento que começou o meu martírio.
Bom, isso foi um pouco do que me lembro ter acontecido no ano de
2009. Os dias, meses e anos foram se passando normalmente e eu realmente
acabei me acostumando com os seres não humanos daquela nave, alguns
tinham olhos tão profundos que era praticamente impossível deixar de olhar,
outros já nem o possuíam. O comandante da nave me tinha como braço
direito. Depois de anos tentando fugir, ele me fez entender que há sim lugar
melhor do que a Terra para se viver... ou você se acostuma, ou se mata. Eu
preferi me acostumar. Já se passaram 113 anos desde o ocorrido e em todos
os anos voltamos à Terra para resgatar mais um soldado.
Hoje é um dia especial para a nossa tripulação, pois fui nomeado o
comandante de uma das mais de milhões de aeronaves da nossa tropa, eu
serei o responsável por escolher o capacitado para viver e servir a nossa
ordem. Fiquem atentos, pois haverá luzes no céu e não será apenas uma, pois
precisaremos de muitos, nossa tripulação precisa de bons soldados!
Na Terra eu fui dado como morto em um acidente aéreo. O que mais
intrigou o Ministro da Aeronáutica foi que não encontraram o meu corpo para
ser enterrado e eu era um dos melhores pilotos do caça, não havia incidentes,
então tiveram que colocar outro corpo no lugar do meu para não deixarem
“falhas’’ para os familiares e imprensa.
Todas as noites, antes do Ministro morrer, ele olhava para o céu com o
seu binóculos à procura da aeronave TX-140V, afim de saber onde eu estaria,
mas o que ele e ninguém mais soube é que eu havia sido abduzido e estava
bem acima deles, dando sinais o tempo inteiro, mas achavam que eram luzes,
ou rastros de aviões. Tentamos comunicação durantes anos, mas nunca somos
ouvidos, agora eu entendo porque temos que aparecer sempre
sorrateiramente. Quando deixamos escritos em plantações, ou implantes em
humanos, somos malvistos, acham que viemos para fazer o mal.
Peço a todos, que agora sabem da verdade, que tentem compreender e
que se comuniquem, viemos sempre em missão de paz, a Terra necessita de
ajuda e nós podemos ajudar, temos as tecnologias mais avançadas, temos a
cura para todos os tipos de doença e a solução para qualquer tipo de crise. A
Terra deixará de existir em breve se medidas não forem tomadas, os animais
que testamos aqui são as provas de que vai de mal à pior. Não deixem seu
território morrer, lutem por ele!
Agora sei que devem estar se perguntando quem eu sou e porque não
posso usar o meu nome. Pois bem, não posso me identificar por motivos de
forças superiores. Não existe só a nossa tropa, há coisas malignas aqui em
cima também.
Meu nome? James, piloto da Força Área Brasileira, mais conhecida
como FAB. Era eu quem estava no comando do caça no dia que fomos
averiguar os avistamentos, e onde eu fui abduzido e recrutado. Esta
provavelmente será a última carta que encontrarão, pois a partir dela terei que
me mudar para outro planeta distante, viajar por outras galáxias e recrutar
novos seres.
Deixo-lhes um aviso: tenham cuidado, pois poderão ser os próximos.
Até breve!
Olho Nu

Rangel Elesbão

Baseado no Caso Haroldo Westendorff


Torres (RS)

— Meu nome é Arnaldo Gelsdorf, 39 anos, administro uma empresa de


passeios turísticos em balões. Piloto meu balão nas horas vagas e também
meu avião monomotor, possuo brevê para as duas categorias. Sou casado há
14 anos e tenho um filho de 9 anos.
O investigador Gomes alisou sua vasta barba branca, observando o
homem que interrogava pela segunda vez.
— Qual a sua relação com a vítima, Dino Lovatelli?
— Era o meu amigo, ele quem tomava conta da empresa de balonismo,
aqui em Torres, na minha ausência, quando eu estava em Porto Alegre.
— Sua história não me convenceu! Você foi a última pessoa que esteve
com ele...
— Tudo que disse é verdade! Sei que parece mentira, mas...
— Seu amigo Dino está com o corpo corroído por algum ácido
poderoso, está no necrotério, isolado do contato com outras pessoas, e você
foi a última pessoa a vê-lo com vida...
Gomes acendeu um Gudang Garam, tragou-o, depois soltou anéis de
fumaça com cheiro de cravo.
— Conte tudo novamente, bem devagar. Quero detalhes e não tenho a
menor pressa... — disse o investigador, apagando a bituca no cinzeiro.
O balonista enxugou as lágrimas e começou a falar.
— Dino e eu chegamos com o meu furgão no Parque do Balonismo. O
clima tava perfeito para decolar e ele acompanharia o voo do solo e pelo
rádio, assim poderia se adiantar ao local do pouso. Quando o envelope (a
bolsa de tecido do balão) inflou o suficiente com a ventoinha, eu acendi o
maçarico e conferimos os equipamentos, rádio, bússola, GPS... a decolagem
foi perfeita. O balão subiu, flutuando no ar, as correntes de vento iam
empurrando... uma beleza, tchê!
— Dino ficou sozinho? O que ele fazia quando decolou?
— Como sempre acontecia, enquanto o balão subia ele guardava as
coisas no furgão, para poder ver onde seria o pouso...
— Há alguém que possa comprovar a sua versão?
— Não! Só nós estávamos lá. Bem, o balão já subia sobre o Parque do
Balonismo, o vento me levava por cima do rio Mampituba e passava pela Ilha
dos Lobos, e já andava lá para os lados das Dunas da Praia Grande, quando o
vento mudou de direção, empurrando pro lado das pedras da Prainha e do
Morro do Farol...
— Não tinha ninguém no Morro do Farol? Sempre tem gente lá para
andar de paraglider...
— Não que eu tivesse visto, mas a gente tá em baixa temporada, né? E
outra, tu acha que se tivesse mais alguém lá em cima, e visto o que eu vi, já
não tinha colocado a boca no mundo? Tinha viralizado!
— Não passou pela sua cabeça, olhar o seu amigo pelo binóculos?
— Nunca! Bah! Como eu ia imaginar? Não tive motivo para ficar
cuidando dele — o balonista limpou o suor do rosto com as mãos trêmulas.
— Quando eu tava passando do lado da Praia da Cal, dei de cara com aquilo
em frente ao Morro das Furnas... era um objeto estranho que logo me chamou
atenção... sou piloto desde os 20 anos, sei muito bem que aquilo não era um
balão meteorológico... ele tinha uma base do tamanho de um estádio de
futebol (como a Arena do Grêmio), eu calculo que 100 metros de diâmetro e
uns 70 de altura. Tinha a forma de uma pirâmide com os vértices
arredondados.
— Viu tudo isso com o seu binóculos? Não teve medo?
— A olho nu! Tava na minha frente, há uns 30 metros no máximo.
Peguei o celular e tentei ligar pro Dino, mas tava sem sinal, como se tivesse
uma interferência magnética, a tela começou a piscar e oscilar até travar.
Tentei contato pelo rádio e disse que de onde tava, via uma enorme sombra
entre as nuvens... eu tava com medo e o Dino pedia pelo rádio pra eu voltar,
mas de que jeito? O balão dependia do vento! A pirâmide girava sobre si,
tinha oito lados e cada um deles possuía três bolhas salientes, que pareciam
ser janelas...
— O que acha que era aquilo?
— Um disco voador, com certeza! Sempre fui cético, mas agora tenho
certeza, absoluta! Liguei o maçarico e o balão foi subindo na mesma
intensidade que o meu medo. No topo da nave tinha uma cúpula ovalada. Eu
queria sair dali, mas o vento não ajudava. Se forçasse um pouso de
emergência, me arrebentaria contra as pedras lá embaixo. De repente a cúpula
se abriu, como se fosse uma escotilha, e de dentro dela saíram dois discos
voadores menores (do tamanho do meu avião monomotor) com o formato de
dois pratos sobrepostos. Eles subiram na vertical, depois se inclinaram na
horizontal e dispararam numa velocidade absurda! Um foi para alto-mar e
logo sumiu de vista e o outro voou rumo à cidade, vi de longe... Dino viu que
o objeto estava se aproximando e gritou pelo rádio. O disco voador começou
a acender uma luz vermelha, muito intensa, foi voando baixo, parecia que ia
tocar no solo, aí que eu peguei o meu binóculos e vi o disco pousar perto do
meu furgão. Foi abaixando, abaixando... até que alguma coisa se abriu
debaixo dele e desceu 3 extremidades, tipo um tripé. Acho que era o trem de
pouso dele... aquilo brilhou mais forte e de algum ponto, do alto do disco,
disparou um feixe de luz vermelha, que engoliu o Dino. O rádio saiu do ar
nessa hora, acho que foi destruído pela luz. Só lembro do clarão vermelho o
atingindo e ele saltando para trás com o impacto.
O investigador estava de braços cruzados, com ar de dúvida. Ao seu
lado o escrivão transcrevia o depoimento do balonista.
— A nave-mãe estava parada na minha frente, tentei subir mais um
pouco com o balão e olhar para dentro da escotilha aberta, para ver se eu
conseguia enxergar o que tinha dentro dela. Com a corrente de vento me
empurrando, eu conseguiria atravessar por ela, facinho, mas eu desisti,
quando da abertura da escotilha, surgiram raios vermelhos e ondulantes.
Nesse momento ela disparou na vertical, numa velocidade impressionante.
Fiquei com medo do deslocamento de ar arremessar o balão contra as pedras,
ou mesmo esmagá-lo com a pressão, mas, inacreditavelmente
nada aconteceu. Nenhuma reação física qualquer... nunca vi um monstro
daquele voando e desconheço aeronave na Terra que se deslocasse no sentido
vertical, como se deslocou aquela pirâmide, antes de desaparecer entre as
nuvens. A nave simplesmente sumiu diante dos meus olhos, a 5.500 pés, e
isso equivale a mais ou menos 1.800 metros de altura. Quando a corrente de
vento me trouxe até a Praia da Guarita, forcei o pouso do balão nas areias da
Praia de Itapeva. Corri o quanto pude para pedir socorro, até que finalmente
consegui chegar ao Parque do Balonismo, e o encontramos... aí chamei a
polícia...
— Como posso acreditar que ele ainda estava vivo quando o deixou no
parque, antes da decolagem?
— Tchê, eu não ia inventar uma história dessas! Olha, deve ter durado
cerca de 8 minutos, desde que decolei até a nave desaparecer. Liguei pro
Alberico, operador da torre aqui do aeroporto, depois pro Airton, o operador
de rádio... mas eles disseram que não viram nada no radar. Conheço eles, a
voz deles tava estranha, parecia que eles não podiam confirmar ou admitir a
existência do disco, apesar de também terem visto...
— Na sua opinião, todos que não viram a nave estão mentindo?
— Não falei isso... mas me comuniquei com o Controle de Tráfego
Aéreo (Cindacta II), responsável para vigiar os céus do Sul do Brasil, passei
as minhas coordenadas, mas a resposta recebida foi de que não havia nada de
anormal dos radares. Sei que é estranho, mas não sou o único... já ouvi falar
num caso semelhante ocorrido em Pelotas (RS) há alguns anos com um
aviador chamado Haroldo Westendorff...
— Já está bom para o momento, Arnaldo — disse o investigador
Gomes, dando murro na mesa, fazendo as bitucas de cigarro dançarem dentro
do cinzeiro. — Por enquanto o senhor está liberado, mas vamos nos encontrar
novamente! Assine seu depoimento e não saia comentando sandices por aí...
poderá espantar os turistas que passeiam em seus balões...
O balonista relutou, mas assinou o depoimento e se retirou da sala. O
investigador levou o processo para a sala ao lado e trancou a porta com a
chave, depois fez uma ligação para o Ministério da Defesa. Assim que foi
atendido, disse em voz baixa:
— Ele acabou de assinar o depoimento. Conforme suas ordens, vou
encontrar uma forma de abafar o caso e o intimidar... é um homem bastante
idôneo, consultei sua ficha... a notícia não se espalhará e se isso acontecer,
logo será esquecida. O pessoal do aeroporto entrou em contato, quando o
radar registrou o objeto. As fotos dele, o laudo cadavérico que aponta
contaminação por radiação já foram anexados aos documentos secretos e os
enviarei o mais breve possível...
Do outro lado da linha, o 1° Tenente Uyrangê Póvoa respondeu:
— As investigações seguirão conosco e em sigilo, na Operação
Pirâmide! Você já sabe o que fazer... é idêntico ao UFO avistado há mais de
20 anos... está acontecendo de novo... e agora eles estão começando a nos
atacar!
Sementes no Espaço

Fernando Rômbola e Rangel Elesbão

Baseado no Caso Villas Boas


São Francisco de Sales/MG, 20 de Janeiro de 1965.

Otto tremia, segurando em suas mãos a revista “O Cruzeiro”, com o


palheiro no canto da boca, quase caindo. Limpou com as costas da mão uma
gota de sangue que pingou do seu nariz, borrando a reportagem que estava
lendo, e causou um enorme alvoroço, dividindo as opiniões da imprensa:
“Na madrugada de 15 de outubro de 1957, o jovem Antônio Villas-Boas,
de 23 anos, trabalhava em um trator, lavrando o campo da sua família,
quando luzes cruzaram o céu. O estranho objeto voador pousou na sua frente
e ele foi levado à força para o interior do OVNI pelos seus tripulantes, que
trajavam macacões e máscaras, semelhantes as roupas de mergulhadores. O
caso mundialmente conhecido atingiu fama por ser o primeiro relato de
abdução e ato sexual entre o abduzido e uma alienígena.”
Otto fechou os olhos e a sua mente voltou 8 anos no tempo, quando tinha
25 anos.

São Francisco de Sales/MG, 5 de outubro de 1957

Fazia calor naquela noite e por isso a janela do quarto estava aberta. Otto
rolava na cama, tentando dormir, quando uma luz mais forte do que a lua
cheia iluminou todo o ambiente. Assustado, saltou da cama e através da
janela viu a luz clareando todo o campo. Horrorizado, fechou-a, mas as luzes
eram tão intensas que entravam pelas frestas da janela e do telhado.
Alguns minutos depois a luz desapareceu.
Indo em direção a porta do quarto, derrubou a garrafa de cachaça vazia,
que estava ao lado da cama, e saiu para o terreiro. O céu estava estrelado e
não havia outro barulho além dos sons dos bichos noturnos. Enrolou o seu
cigarro de palha, sentou no toco de madeira em frente à casa e ficou sentindo
o vento da madrugada no rosto... quando um clarão vermelho – muito claro e
penetrante – surge no meio campo.
Olhá-lo doía os olhos, mas ainda assim conseguiu perceber que o
enorme feixe de luz varria o norte da lavoura. A claridade ficou imóvel,
pulsando raios coloridos e intermitentes. Alguns instantes depois,
desapareceu.
Otto, com os olhos ainda doendo, ficou intrigado e caminhou até o ponto
onde havia visto a luz. Sem conseguir imaginar o que tinha visto, parou no
meio da lavoura, olhava para todos os lados, quando foi surpreendido pelo
mesmo feixe de luz vermelha.
O objeto oval e alongado se aproximou de Otto. Reluzente, passou cerca
de 50 metros acima dele. Paralisado de medo, viu a nave descer quase perto
do chão a poucos metros em sua frente. Percebendo o perigo que corria
diante de algo desconhecido, correu para casa.
Ofegante, foi surpreendido por uma criatura quase da altura dos seus
ombros. Ela usava um traje cinza semelhante aos dos mergulhadores. Um
capacete colorido cobria o pescoço, além da cabeça, mostrando somente os
seus olhos, protegidos por um tipo de óculos. Havia um símbolo
desconhecido gravado no peito do ser, onde brilhava uma espécie de neon
vermelho.
Outras duas criaturas aproximaram-se pelos lados e o cercaram. Uma
delas disparou, contra o humano, um raio do objeto cilíndrico que portava, e
quando Otto foi atingido, o feixe ampliou até envolvê-lo por completo. As
costas arquearam e a cabeça pendeu para o lado, mas quando começou a
levitar, seus braços abriram e o corpo ficou reto. Otto foi flutuando até a
nave, paralisado dentro da cápsula fotônica.
Dentro da nave, a tripulação conversava emitindo sons graves e guturais,
e como se tivessem chegado a uma conclusão, caminharam até o divã onde
Otto havia sido colocado depois que o invólucro de luz foi desativado. O
humano foi despido à força e suas roupas foram rasgadas. Seguraram seus
braços e pernas enquanto outra criatura passava em seu corpo um óleo
incolor e sem cheiro. Enquanto isso, outra criatura trazia uma enorme agulha
metálica, semelhante com uma agulha de tricô, com uma espécie de grão de
feijão na ponta. Introduziu na narina direita dele, indo quase até o fundo,
provocando uma sensação de queimadura. Quando a retirou, percebeu que a
coisa havia sido implantada em seu corpo, grampeada nas suas cartilagens
nasais. Ao terminarem, o ser, que parecia ser o chefe, aproximou-se trazendo
uma espécie de cálice, por onde saía dois tubos com ventosas nas pontas, e
grudou um deles no queixo de Otto. Ele gritava de medo, mas sentia apenas a
sensação de que sua pele estava sendo sugada. Sem dor alguma, viu seu
sangue escorrer pelo tubo a encher o vasilhame, enquanto sentia coçar o lugar
onde o tubo havia sido colocado.
Um dos extraterrestres apertou um botão na parede e uma porta retrátil
subiu em direção ao teto. Eles o levaram para outra sala e o deixaram
sozinho. Uma cortina de fumaça, com cheiro sufocante e desagradável,
exalou dos poros dispostos nas paredes e logo se dissipou, fazendo-o sentir
um forte enjoo e vomitar. Após um tempo sozinho, foi surpreendido pela
chegada de uma mulher nua, acompanhada de dois aliens vestidos com trajes
de mergulhador e capacetes.
A alienígena era baixa e tinha cabelos loiros, quase brancos, repartidos
ao meio e caindo na altura da nuca, os olhos eram azuis e amendoados, um
pouco alongados, as orelhas pequenas, e o queixo, lábios e nariz eram
delicados. Sua beleza era diferente das mulheres humanas. Os pelos
vermelhos das axilas e da púbis chamaram sua atenção por serem vermelhos,
e por um momento pensou que a fumaça exalada na sala poderia ser uma
reação química para que ela pudesse respirar sem o capacete.
Os tripulantes saíram da sala e ela o abraçou, esfregou seu corpo no dele,
tocando suas genitais. Ele sentiu uma excitação inexplicável e incontrolável,
como nunca havia acontecido em sua vida, e entendeu o que a alien estava
deixando bem claro com a sua visita.
A extraterrestre gritou como uma sirene quando foi penetrada. Ele estava
tão excitado que não conseguia parar de se mover. O grito alto e grave durou
alguns segundos, depois disso ela não demonstrou qualquer outra reação. O
ato sexual ocorreu normalmente, como se fosse com uma humana, e quando
sentiu que Otto ejaculou, a alienígena o empurrou para o lado com uma força
descomunal, apertou um botão na parede e se preparou para sair, mas antes
apontou para o seu ventre, para Otto e depois para o alto, indicando que
daquele ato nasceria outro ser que pertenceria a eles.
Em estado de choque, Otto foi levado por um longo corredor dentro da
nave, onde pulsavam estranhas luzes fosforescentes. Ele foi colocado numa
nave menor, que voou em linha reta numa velocidade jamais vista por olhos
humanos. O jovem acordou num matagal, alguns quilômetros de onde foi
abduzido. Com medo de ser considerado louco, ou ridicularizado, preferiu
manter a sua apavorante experiência em sigilo. Sua família havia dado por
sua falta durante a madrugada, mas como encontraram a garrafa de cachaça
ao lado da cama, pensaram que ele havia saído, bêbado, pelo campo e
adormecido. Otto calculou que ficara cerca de 4 horas a bordo da nave.
Estava exausto quando chegou em casa, mas não conseguiu dormir o resto da
noite, acordando e cochilando a todo instante. No dia seguinte, sentiu dores
no corpo e ardência nos olhos, surgiram pequenos caroços inflamados, que
duraram alguns dias, mas logo cicatrizaram sem sangrar. Com o passar do
tempo, sua vida voltou ao normal, sem nunca mencionar sua experiência em
outro planeta, e assim conviveu com as marcas em seu corpo e passou a olhar
para o céu e as estrelas com outros olhos.
Otto atirou a revista no sofá e deu um longo suspiro. Nunca uma
abdução foi provada, e por mais que duvidassem dos relatos na reportagem,
acreditava em Antônio Villas-Boas. Ele havia passado pela mesma
experiência, na mesma semana e em situações idênticas. Era pavoroso demais
pensar, que assim como ele preferiu ficar no anonimato, outros também
preferiram guardar segredo sobre as suas experiências. Quantas pessoas ao
redor do mundo deveriam ter passado por essa terrível experiência? Antônio
Villas-Boas foi o primeiro a contar e só agora chegava ao público.
Procurou o telefone de contato da revista “O Cruzeiro” na última página,
decidiu ligar e procurar pelo endereço de Antônio. Queria oferecer sua
solidariedade, pois, assim como ele, também havia passado pela mesma
situação. Otto era a prova viva de que Villas-Boas não havia sido o único a
ser abduzido.
Segurou o fone e começou a discar, mas parou quando sentiu um arrepio
ao lembrar de um belo dia de 1960, convidativo para um passeio no parque, e
de mãos dadas com sua namorada, Amélia, escolheu a sombra de uma árvore
frondosa para se sentar. Enquanto a namorada ficou sentada, resolveu
comprar uma maçã-do-amor. O parque estava lotado, mas na volta deixou a
maçã escapar entre os dedos quando viu ao redor do lago, entre a multidão,
uma mulher idêntica a alienígena que havia copulado no interior da nave. Ela
sorriu para ele, segurando a mão de uma frágil criança de cabelos longos e
ralos, olhos grandes e assustados. Sentiu um nó na garganta e uma ardência
no nariz. Sem que notasse, uma gota de sangue escorreu da sua narina,
tocando os lábios.
Em seu íntimo, já não importava se o mundo acreditaria, ou não, no
contato com extraterrestres. Otto só tinha uma grande certeza: eles já estavam
entre nós.
Luzes no Céu

Humberto Lima

Baseado no Caso Guarapiranga


Domingo, 27 de março de 1988.
24 horas e 08 minutos.
São Miguel Paulista, São Paulo/SP – Brasil.

Sebastião sempre ia pescar na represa do Guarapiranga à noite. Sua


esposa, dona Marília, não gostava e todos os seus amigos diziam que ali era
um lugar perigoso, “muito ladrão, muito maconheiro...”, eles diziam, mas
nada disso colocava medo em seu Sebastião, homem grande e corpulento,
filho de portugueses. Diziam que ele foi pugilista na juventude, mas ninguém
podia afirmar se era verdade, ainda que tivessem visto o homem de poucas
palavras dando surra em vagabundos, alguns até maiores do que ele, dentro
do seu comércio de secos e molhados.
Certa vez pegou um malandro de maus bofes de graça com a sua menina,
Mariazinha, com os seus dezesseis anos. O malandro andava de estilete e era
maior que Sebastião, que o fez chorar feito criança após três taponas bem
aplicadas levando-o ao chão.
— Minha filha não é brinquedo de vagabundo, não, e sai fora daqui
antes que eu te abra as tripas com uma faca de verdade!
Por causa dessa valentia, uma certa surpresa aconteceu com o seu
Sebastião. Conforme dito anteriormente, naquela noite quente de março o
homem resolveu pescar na Represa do Guarapiranga, levou a sua arma,
calibre trinta e oito, e também um facão, que usava para limpar barrigada de
peixe, ou afastar vagabundos, segundo suas próprias palavras. Usou a Belina
para rebocar o seu barco de madeira emendado, fumava como uma chaminé,
cantando músicas bregas, e mastigava manjubinhas secas que ele mesmo
salgava, enquanto bebia uma cerveja um tanto morna. Deixou o carro
estacionado na rua Finisterre e colocou o barco na água, cujo motor à diesel
engasgou um pouco, e logo chegou a uma ilhota a trezentos metros da
margem, acendeu uma fogueira sem dificuldades e não percebeu, até ser tarde
demais, quando uma nave de formato esférico pousou as suas costas,
enquanto preparava a tarrafa e comia despreocupadamente as manjubas.
— Mas o que é isso?
Bastante assustado, viu uma esfera perfeita se abrindo e o vulto de duas
criaturas. Com o facão na mão, Sebastião viu os dois homens descerem da
estranha nave em forma de bola.
— Que diabos são vocês?
As duas criaturas falaram em uma língua que Sebastião não entendeu e
começaram a se aproximar, fazendo o português sacar o revólver, cujo cabo
gorduroso pela fritura das pequenas manjubas quase o fez fizera cair no solo.
Ele segurou a arma com firmeza e apontou para os dois seres que, para o seu
espanto, vistos de perto tinham uma cabeça muito maior que aos de seres
humanos.
— Sai de perto de mim, ou eu atiro!
Os dois seres pararam por um momento, olharam um para o outro e
falaram naquela língua musical.
— Vocês são árabes, né? Logo vi!
Os dois continuaram a avançar e nesse o português percebeu que eles
não pisavam no solo, e sim flutuavam! Tomando um susto tremendo, atirou.
Um dos homens de pele acinzentada estendeu a mão e o projétil teve sua
velocidade diminuída até parar completamente diante da mão do ser!
— Ai, meu São Cristóvão! Vocêis são o demônio!
Com um outro gesto do ser, seu Sebastião sentiu o revólver sair de sua
mão e flutuar próximo a criatura extraterrestre. A arma desmontou-se no ar e
os dois discutiram, em sua língua nativa, algo sobre aquilo.
Assustado, o português tentou fugir, mas com outro gesto o ser o
imobilizou, permitindo-o mover apenas os olhos, enquanto o atraía
gradualmente.
Os dois o tocaram em várias partes do corpo, enquanto discutiam entre
si. Seus rostos eram literalmente idênticos, provavelmente mais idênticos do
que se fossem apenas gêmeos... eles eram clones perfeitos.
Deixaram o humano paralisado enquanto foram catalogar, analisar, em
equipamentos que ele não compreendia no seu acampamento improvisado.
Após um bom tempo, passaram por ele voltando para a nave, sendo que um
deles fez um gesto e Sebastiao, para o seu terror, foi lentamente sendo
puxado para dentro da nave. Ele não conseguiu gritar como queria, a energia
que o paralisou também prendeu o som na sua garganta.
Ao entrar na nave, seu corpo foi tomado por uma sensação agradável,
era quase como estar mergulhando em um tipo de geleia morna de cheiro
asséptico que o envolvia por completo.
Depois de outro gesto do alien acinzentado, o português ficou na
horizontal, seus braços e pernas foram estendidos, e máquinas zumbindo
muito baixo cortaram totalmente a sua roupa, que foi analisada em detalhes
por aqueles homens de cabeças enormes e olhos negros sem pupilas.
Eles discorreram longamente sobre a roupa do português até que um
deles deu uma nova ordem de maneira que uma comprida agulha penetrou
sua coluna vertebral, na altura da nuca, causando uma dor absurda, mas que
durou poucos segundos sendo substituída por uma sensação de bem-estar que
o seu Sebastião nunca sentiu antes. Ainda assim, foi aterrorizante quando
percebeu que os primeiros equipamentos perfuraram o seu corpo e outros
sugaram os seus órgãos internos, imergindo-os em um tipo de geleia e
deixando-os ligados a ele, funcionando perfeitamente fora do seu corpo.
Um equipamento, que parecia um amontoado de agulhas, passou
ziguezagueando sobre o seu rosto e logo foi sendo carregado. Ele não sentiu
dor, tampouco nenhuma gota de sangue abandonou-o, pois ao mesmo tempo
em que o corte era feito, o calor das lâminas cauterizava imediatamente
qualquer ferida infligida.
Mentalmente ele fez uma oração.
Seu corpo estava sendo eviscerado com ele ainda vivo, sem dó ou
piedade. Partes da sua mandíbula foram recortadas e flutuaram rumo aquela
massa gelatinosa.
Dentro da nave em forma de bola ele conseguiu ver todo o espaço
exterior, como se ela não tivesse paredes de metal prateado, e muito rápido
começaram a se elevar na atmosfera. Seu último pensamento antes de sair do
planeta foi:
— Mas quem vai cuidar da lojinha?
Dentro da nave, pequenas versões daqueles grandes seres cabeçudos
cinzentos recolhiam as amostras do seu corpo que iam sendo depositadas,
uma ao lado da outra, e testadas a exaustão. Sebastião não acreditava que
aquilo pudesse estar acontecendo com ele. Passaram pela Lua rapidamente e
foram para cada vez mais longe. Ele queria gritar, implorar que o levassem de
volta, mas não poderia nem se quisesse, porque a sua língua acabara de ser
extraída cirurgicamente.
Nesse momento as máquinas envolveram os seus olhos. Por mais que
Sebastião se considerasse um machão, ele acabou se urinando todo. Não
entendeu bem porquê, mas isso causou um alvoroço entre os pequenos e os
grandes aliens cabeçudos. Seus olhos foram retirados, mas ele continuou
vendo, pois os conectaram a um tipo de equipamento onde seu nervo óptico,
tal qual um fio de televisão, alcançava. Limparam então o seu corpo com
jatos de um líquido azulado e brilhante, e após uma ordem dos homens
grandes, o equipamento mecânico avançou para o seu pênis, arrancando-o
cirurgicamente, assim como as bolas, e levando junto o seu ânus. Apesar da
injeção que lhe retirou totalmente a dor, ele estava plenamente consciente.
Aquilo era horrível demais e Sebastião só queria morrer.
As sondas entraram através de suas órbitas vazias e por fim retiraram
uma parte do seu cérebro, que ao ser conectado ao equipamento sofreu um
tipo de choque elétrico e imediatamente o português passou a entender a
língua dos extraterrestres.
— Os testes com este espécime indicam que podemos continuar as
mudanças ambientais. Gradualmente os seres inferiores deste planeta se
adaptarão.
O outro homem grande adicionou:
— Provavelmente em duas centenas de revoluções em torno de sua
estrela amarela esse planeta estará apto para desembarcarmos o nosso povo.
Na sua frente apareceu uma imagem holográfica de um ser idêntico a
eles, que perguntou algo que a massa de órgãos flutuantes de Sebastião não
compreendeu.
— Não, Superior, acelerar a quantidade de carbono na atmosfera para
que se torne respirável para nós é perigoso, pois podemos extinguir a fauna e
a flora e também os humanos, a espécie mais desenvolvida deste mundo, que
serão nossos escravos.
A imagem holográfica disse algo e desligou. Eles cruzaram os braços
sobre o peito magro, em sinal de respeito, e se voltaram para os órgãos do
português.
— Lamentamos a destruição de seu corpo físico, mas veja isso como
uma vantagem: envolto no composto químico-orgânico você viverá o
suficiente para ver a gloriosa chegada do nosso povo e a tomada desse
planetóide pelos Greys.
A nave voltou rapidamente ao planeta Terra, onde passaram apenas há
poucos minutos. O corpo de Sebastião foi colocado perto dos seus
equipamentos de pesca, nu e totalmente mutilado, onde seria encontrado
apenas dois dias depois.
Aves e animais não chegaram perto daquela carne e mesmo a
decomposição não o atingiu. Como seus amigos e Dona Marilia haviam
alertado, aquele lugar era perigoso, mas não exatamente como eles
imaginavam.
Posfácio

Donnefar Skedar

Organizador do livro
O que cada um viu e sentiu sobre cada caso?
É isso o que posso “pensar” ao finalizar a leitura deste livro. Cada autor
e cada conto é íntimo e único, do qual não esperava encontrar ao ler os
inúmeros parágrafos que compõem este trabalho que intitulamos
carinhosamente de “ETlogia”.
Inicialmente acreditava que cada um escreveria algo parecido entre si, ou
seja, meu pensamento era que todos viam os ET’s e OVNI’s sempre da
mesma forma, mas me enganei drástica e maravilhosamente. Não apenas
cada conto foi único, como cada visão sobre o caso/relato foi retratado de
forma a deixar o leitor completamente satisfeito com a leitura.
O projeto não quer criar dúvidas quanto aos casos citados, muito menos
fazer o leitor mudar sua opinião, ou visão, sobre qualquer um deles, o projeto
“Área 55” é apenas uma coleção de contos de escritores que gostam do tema
e que aceitaram o desafio de escrever sobre o assunto de uma forma livre e,
ao mesmo tempo, íntima. Por isso a minha grande admiração com o resultado
aqui mostrado.
Todos os escritores criaram contos únicos para uma leitura pausada,
onde o leitor deverá ler e reler o caso, e assim criar em sua mente o seu
próprio conto sobre o caso em que cada um foi inspirado.
Eu termino agradecendo pela leitura e desejando que este seja apenas o
início de um vasto universo literário, seja neste tema ou em tantos outros.

Obrigado pela sua leitura e boa sorte ao ser abduzido.


Donnefar Skedar, Organizador.
Biografias

Debora Gimenes,
Debora Gimenes, paulista, nascida e criada na Capital é escritora de histórias
policiais e sobrenaturais. Publicou vários contos e organizou algumas coletâneas por
diversas editoras. Seus trabalhos mais recentes são os e-books; Chamas da Morte (DG
2018); Segredos e Destinos (DG 2018); A Noiva da Rua Andre Costa (DG 2019, ); É
associada da ABERST desde de Setembro de 2018.
Confira mais em: LINK

Marcella Alves de Sousa,


Olá me chamo Marcella Alves de Sousa, tenho 36 anos, natural de Belo Horizonte.
Meus contos são “A fascinação do desespero”,” A verdade revelada”, “As flores de
um jardim secreto” como organizadora do projeto “Quando a alma brada por socorro”
com o conto publicado chamado “Contra Ataque” e “O Suplicio da Humanidade”.
Confira mais em: LINK

Carlos H. F. Gomes,
Carlos H. F. Gomes é fã de terror, policial e space opera. Participou do DTRL –
Desafio de Terror Rascunhos Literários por 11 edições, sendo bicampeão, e foi um dos
organizadores do Projeto A Arte do Terror de 2.016 a 2.018. Lançou 4 contos em e-book,
participa das antologias Sociedade dos Poetas Vivos, O Mundo Fantástico de R.F.
Lucchetti e Gothic-O Horror no Séc, XIX, além de assinar o capítulo 4 do ousado
romance coletivo Rio Vermelho, e 8 antologias da Elemental Editoração.
Confira mais em: LINK

Condessa Da Escuridão,
Me chamo Condessa, tenho 26 anos, resido em São Paulo e sou uma Ghost Writer.
Iniciei com poesia macabra, eróticos e atualmente escrevo sobre terror.
Sou uma apoiadora da literatura nacional e participei das antologias ‘’Nightmares 2
- Alguns pesadelos para quem dorme acordado’’ e ‘’Área 55 – O Brasil Na Rota
Alienígena’’ ambas da editora Elemental Editoração.
Inspiro-me em: Anne Rice, Poe, Lovecraft, Agatha Christie, Stephen King e em
todos os nacionais.
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Rangel Elesbão,
Gaúcho de Cachoeira do Sul (RS), escreve desde os treze anos, e não dispensa um
bom chimarrão durante as leituras. Apaixonado desde criança por filmes de terror, logo
começou a escrever suas próprias histórias. Suas influências são Stephen King e Clive
Barker, passando por Hitchcock e Tarantino. Fã dos filmes de Dario Argento e Lucio
Fulci, adora os livros de Agatha Christie e Edgar Allan Poe. Participa de antologias com
seus contos macabros desde 2016.
Confira mais em: LINK

Fernando Rômbola,
Inspirado pelos mestres scifers, Fernando Rômbola encontrou na Ficção Científica
a grande aliada de todos que confrontam a Realidade. Seu primeiro conto, Ester, foi
lançado em novembro de 2019 e em parceria com Rangel Elesbão publica o segundo
conto pela antologia Área 55.
Confira mais em: LINK

Humberto Lima,
Humberto Lima.
O Criador de Pesadelos.
Professor de Geografia, escritor e desenhista. Mora em São Paulo, Capital.
É apaixonado pelo terror. Ele participa de mais de 25 antologias em livros físicos,
virtuais e revistas em diversas editoras.
Colunista com artigos semanais na Publiquei e Literanima.
Confira mais em: LINK

Donnefar Skedar,
Nascido na cidade de Santo André – São Paulo, Donnefar Skedar ou Jay Olce
publica na internet desde 2009, criador do selo Elemental Editoração pelo qual realiza
suas publicações.
Seus livros estão disponíveis de forma internacional, alguns títulos receberam
traduções para os idiomas, Inglês, Espanhol, Francês e Italiano, como o livro Dirty
Vampires, que foi lançado em quatro idiomas.
Confira mais em: LINK

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