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Atualidade da depressao e a dor de existir Antonio Quinet Sou 0 tenebroso, 0 vitivo, 0 inconsolado O principe na torre abolida de Aquitini Morta minha iinica estrela, mew 3 T aide constelado az 0 sol negro da melancolia Eldesdichado, Gérard de Nerval 1 A depressio se encontra hoje em dia generalizada\e quanto mais sobre cla se fala, se escreve ¢ se pesquisa, tanto mais cla é encontrada nos mais insuspeitos recdnditos de nossa civilizagao. O significante é realmente ctiacionista ¢ o significante depressdo parece ter engendrado o batalhio de sujeitos que assim qualificam seu estado d’alma quando se encontram tristes, desanimados, frustrados, enlutados, anoréxicos, apaticos, dcsiludidos, entediados, impotentes, angustiados etc. Antes nds nao os Pereebiamos? Onde se escondiam? Nio ha diivida de que sempre existiram os estados depressivos ~ 0s constatamos desde Aristételes, em seu Problema XXX,1! ~ mas A de~ Presséo como patologia com entidade_propria ¢ independente da subjeuvidade, que emerge na midia como o mal quase epidémico desse fim de século, parece ser um subproduto contemporinco do casamento 4o neoliberalismo globalizante do capital com os avangos das ciéncias eurobiologicas, Na clinica, A depressio nao existe; 0 que encontramos Se estados depressivos que ocorrem em algum momento na vida de “m individuo © apresentam uma historia subjetiva | wma es um lado, parece haver uma generalizagio ~ z ‘et que a doenca é “mais encontrada”, A nov Pa amare localiza essa nova forma de alienagio mental mesa one hy? Ousa mostrar sua cara, Ii onde ela ests . ’ bn ere ferrenho & depressio ~Absavo 0s ¢ ideais da produtividade ¢ contra 0 1 1 precisa. fados deprinndos! a versio do Simio “mascarada” deprimidos! - por cla it edo . perativo da saide "Clasps . Paginas 271-79 da presente coletinea Digitalizado com CamScanner Extravios do desejo: depresséo e melancolia bom humor que caracterizam nossa sociedade utilitarista ¢ de consumo, Como resultado, 0 mimero crescente de Pessoas que tomam antide. pressivos, e de médicos € paramédicos que os receitam, sustentados pelo discurso da ciéncia que divulga os resultados das pesquisas sobre os neuro-horménios. Porém até hojénad'se descobriu o substrato anatémico cerebral das paixdes do homem e do mal-estar do sujeito. A novos males, {s jovos remédios? Ou a novos remédios, novos males? A quantidade ¢ *~ variedade de antidepressivos que desdguam no mercado e a facilidade \ 4... do consumidor a seu acesso fazem da hetero e da automedicacéo um “solo propfcio para uma nova toxicomania que foraclui a implicacéo do sujeito no estado depressivo. A multiplicagao dos deprimidos do fim do século XX nao poderia ser encarada como um sinal dos tempos? A falta de uma perspectiva mais i ce litaria, a queda dos ideais revolucionarios, o crescente desemprego, a ipetitividade em um mercado cada vez mais feroz associando-se aos imperativos de gozo de uma sociedade cada vez mais produtora degadgets, que acenam com a promessa de satisfazer 0 desejo, tudo isso pode efetivamente contribuir para o estado depressivo de um sujeito desorientado em relacio a seu desejo, perdido de seus ideais, Como afirma audrillard em Sociedade de consumo (1974), vivemos em uma espécie cots de evidéncia do consumo e da abundancia, criada pela multiplicacao de objetos. Nesta, os homens da opulénciagnaose cercam mais de outros homens e sim de objetos - carros, televisdes, computadores, fax e telefones; Suas relagoes sociais nao estéo centradas nos lacos com outros homens, mas na rece| Psao ¢ manipulagio de bens e mensagens. Essa deterioracio dos lacos sociais e emy dos aos MPUuXO ao prazer solitdrio realizando a economia e. esejo do Outro cstimulam a iluséo da completude nao mais com um Pap, Porém com um parceiro conectavel e desconectavel ao alcance das maos. O resultado ni triste7 ¢ 20 pode ser sendo a decepeio, a tristeza, o tédio € 4 nostalgia do Um, em vao prometide, Sob todas essas causas, essas mAascaras, jaz a tristeza em que © gro da mela Pe , 2 ificacs0 ncolia} as trevas da apatia, a mortificasé *Em “Kant com Sade" gual obudlsmo,dsvclad 21 8 cha Televisao (19749 dap clos melanesli : fernti def 39), cle chap 108 melancélicos em seus “tormentos i lefinindo-a,a pa " so det tir de Dante a de p88 por seu nome mais apropriado d® de Espinosa, como covardia moral. jstie d€ is" iste ima a atengéo para a dor dee Digitalizado com CamScanner 5 Extravios do desejo: depressio e melancolia humano, demasiadamente humano, é a expressdo da dor propria a existéncia e se refere a uma posicao do sujeito que faz parte da estrutura psiquica. Se essa posicao nao deixa de ser estrutural,.a ela 0 sujeito x Cot" nao deve ceder, posto ser uma posicao relativa 40 gozo que se opde ao desejo. No Ambito da ética, portanto, a dor de existir € covardia moral, cujos adeptos s4o enviados ao inferno por Dante, cuja fraqueza de seus arautos é condenada por Espinosa ¢ cujos “pregadores da morte” sio desprezados por Nietzsche. “Abstenhamo-nos de despertar esses mortos ou de ferir esses vivos caix6es”, assim falou Zaratustra (Nietzsche 1884). Oferecendo um tratamento pela via do desejo, a psicandlise torna possivel pata 0 sujeito o caminho que parte da dor de existir e segue em direcio aalegria de viver. Para isso, todavia, € necessdrio que 0 sujeito queira )/ saber, tendo a coragem de se confrontar com a dor que morde a vida e sopra a ferida da existéncia, a fim de fazer da falta que d6i a falta constitutiva do desejo. u I © que provoca a dor piiquica? A primeira resposta de Freud, em sua correspondéncia com Fligss, € que a dor é produrida pela dissolucio das associagdes na cadeia de pensamentos inconsciente, assim como, na inelancolia, hé um “furo_no_psiquismo”. > Essa quebra da cadeia de significantes é concomitante a uma “he- | mortagia” de libido: Além disso, “a dor corresponde a um fracasso do aparelho psiquico” quando este deixa de ser eficiente e grandes quanti- dades de energia irrompem,’Quando a dor entra, néo hé nada mais que Bossa deté-la, O aparelho psiqnico deve, portanto, fazer tudo para evitar sua entrada, Dito de outro modo, a dor é uma manifestacéo do fracasso do aparelho psiquico. Em “A interpretacao de sonhos” (1900), Freud indica que 0 tecalcado é a0 mesmo tempo doloroso ¢ sexual. Em “Luto e melancolia’ (1917), conipara o luto a dor, chamando de dolorosa a disposi¢ao Pata 0 luto, e acrescenta: “E bem possivel que vejamos a justificativa disso quando estivermos em condigdes de apresentar uma caracterizagio 's €Conomia da dor”. E s6 na segunda t6pica, com a exploracio lo ane corre para além do par prazer-desprazer €, propriamente a co 7 8 conceitos de pulsdo‘de morte e de masoquismo primordial hve Frew Caiktetizou a economia da dor. Em “Além do principio MY Bia’ (1920b) ele introduz a questio-do prazer na.dor a partir do g de & satisfagao 4s] do espectador das tragédias gregas: dor pprrespon le A satisfac 1 Digitalizado com CamScanner extravios do deseja: depressao © metancola morte, desvelada_na_p: jersao masoquista, 20 g029 Em “Inibigao, sintoma ¢ angiistia” (tne Freud articula a dor da de uma grande soma de excitacio, ma. deixa entender que éaperda que promove.a chegada de uma inten dolorosa e que em ‘cada momento da vida ha algo que » l “cando a dor. Hié um gozo que paradoxalmene erder, prove wren, que emerge com 2 perda do ideal, da ul excitagac sujeito pode P provoca dores © sujeito nao da conta. parece perfetamente normal que a0s quatro Anos de idade uma menina chore penosamente se sua boneca se quebrar, ou aos seis se a 1a for desprezada pelo namorado, governanta reprovéela, ou a0s 16 se el aoe 25, talver, se um filho dela morrer. Cada um desses deter- 2 aoe da dor tem sua prépria época e cada um desaparece quando rey pea termina, Somente os determinantes finais ¢ definitivos per tranecem por toda a vida, Devemos julgar estranho se essa mesma aren depois deter crescido e se tornado esposa ¢ mile, fosse chor por algum objeto sem valor que tivesse sido danificado. Contudo € Pon amenté assim que se comporta o neurotico (Freud 1926b: 171) stragio, 0 que Isso porque todas essas perdas tém um significado: ca so dolorosss resume 05 “determinantesfinaise definitivos”. Bis por que € 0 sujet, para sair da dor, deve fazer o luto do que perdeu. Apreendémos, portanto, duas vertentes da dor. Por um lado, « 4°" ») cottsponde a emergéncia de um gozo inadequado para o sujeit, 0° od 2 ae goz0 que rompe a barreira do Sea Soa pone funcionamento do aparelho (simbslico Oe saree oe vinculada & castragao, 3 qual o ail . ae ae ne ncontramos aqui 0 fundamento frew f ne he escamoteane oz It, a depressdo ¢ a melancolia: a perda nt insereve Comoe ard No, caso do neurético, a castraga0 od A) evocando a negativ. a eum significante que complete 0 OW f 00) a falta da inserigao mt do falo no imaginario (xp); no caso do psi 10 reeieeeriar . M one da castrac4o, que se manifesta como dor _ constttiva da castragaes cao wo (0). A dor da depressa0 ¢ “sist || triste o sujeto coms or Aue om Vez de aparecer como angtist ia falta. A depressoe nostalgia do ideal, saudade do Um due ence oct Pata 0 Suicito a inadecn en wee 4 falta doi € que @ casragio partir do budisme sf tts°, do gozo. Trata-se da dor gi Lact » chamard de dor de existir (Lacan 1963: 77 Q 92 Digitalizado com cath oner P Extravios do desejo: depressio e melancolia buds considera a dor de existir primordial, pois originalmence équdo é dor: © nascimento, 0 envelhecimento, a doenca, a morte, a sristeza, 0s formentos, a unido com o que se detesta, a separacao daquilo mips ama, a nG0-obtencio do que se desea ee.” Bareau 1988: 851), Nenhum ser escapa a dor, pois tudo o que existe compée-se de elementos “Fpragio limitada e € vazio de qualquer principio pessoal. Assim, rao budismo, no existe um em si, algo que seja proprio a alguém, bpague existe &a dor estrtamente vinculada 3 auséncia de um si mesmo, | Fedemos dizer que & a dor associada ao vazio de ser do sujeto, & falta. set ~ dor relativa & sua propria existéncia como vazio. Ador tem por origem a “sede”, isto é, 0 desejo que se vincula a0 prazer e acompanha toda existéncia; ela leva a renascer para experi- mentar ainda as volfpias enganadoras. Essa sede é, ela propria, pro- duzida por um encadeamento de causas em que a primeira é a igno- rincia, mais precisamente a ignordncia dessa realidade que o Buda descobriu e que ele revela a seus discfpulos (ibid). Pata o budismo, sao a sede e a ignorancia que engendram as trés “raizes do mal”: a,cobiga, o/ 6dio’e o errd, que, por sua vez, se encontram na origem dos vicios e das paixées. A cessagao da dor s6 ocorrerd com a cessacio da sede e suas rafzes do mal, ou seja, com sua extingao total, chamada de Nirvana, Para a psicandlise, a via de saida da dor, longe de Set a aboligéo do desejo, que corresponde ao culto & pulsio de morte, 40 principio de Nirvana como um retorno ao inanimado, é precisamente o seu Posto, ou seja, a saida por meio da conjungao da “sede” com a “Isnorancia”, cujo produto é 0 desejo de saber. y,, dor de existir detectada pelo budismo é a que se encontra no farealém do Edipo”, outro nome do para-além do principio do prazer. ape ee © desvela como aquém ca propria vida, como nos mosta et dein tles Eaipo om Colona, Nessa trapédia, Edipo jé cumpr | filhgs, ae Matou o pai, casou com a mie, teve com ela aaa exp Ugo ae a peste, descobriu seu duplo crime, foron seus alos, fi } ropa clebas desde entio, vive na erranca,exilado, sem pouso ting fp 82) Buiado por sua filha Antigona. A pega se passa em uma | Sber ng ll vé Atenas, onde Epo e sua filha se encontam, ser “ao thay nets de um lugar sagrado e interditado: o empl das Ernies Pode fgg evitével”, “do olhar terrivel”. E um lugar em que néo se > Tepresentacio do siléncio da pulsio de morte, em qu iw 93 Digitalizado com CamScanner 1 Extravios do desejo: depressio e melancolia encontram essas deusas temidas até pelos deuses e que nasceram das gory de sangue da castragao de Uranos. Chamadas de Euménides (Benevg, lentes] para aplacar sua ferocidade, de Firias pelos romanos, elas tém como fungao a punigéo dos crimes; elas instigam ao crime para vingae outros crimes, como o fizeram com Clitemnestra, assassina de seu marido Agamenon, que por sua ver sacrificara a filha Efigénia. Figuras do gozo, __ elas representam o.imperativo do supereu comm sua-lei sangrentae para. vy) doxal, na qual nenhuma fala € possfvel, s6.o olhar punitivo. E nesse wn Ambito, aquém da linguagem, para-além de seu destino de rei, exilado i\” H do Outto da civilizagio, expulso do simbdlico da Polis, que se enconta Edipo ¢ de onde ecoa seu grito: My ypvai (Antes nao ter nascido!). Edipo se define, para 0 Coro, como “banido”, “desafortunado”, “amaldigoado pela sorte”, dizendo-se “nao sou mais nada”, fazendo aparecer sua posicao de rebotalho do simbélico, de objeto rejeitado, de dejeto execravel, fora da Lei do Outro, desprotegido de todos. Tal como Gérard de Nerval em seu poema “El desdichado”, que significa o infeliz deserdado, 0 banido da alegria, o tenebroso (das trevas), 0 inconsolado (cf. Kristeva 1987: 135-6), Edipo esta fora da heranca do Pai simbélico que une o desejo com a Lei, Ele ainda espera um acolhimento por parte de Atenas, mas nada obterd e nesse mesmo lugar, dominio das Erinias, demasiadamente desumano, falecera. “Edipo em Colona, cujo ser se acha todo inteiro na fala formulada por seu destino, presentifica a conjungio da morte ¢ da vida, Ele vive uma vida que é morte, que esta af, exatamente \ embaixo da vida"(Lacan 1954-5: 291), Segundo Lacan, quando a vida \\ € desapossada de sua fala, o sujeito se depara com o masoquismo ‘ primordial, aquilo que na vida nao quer sarar, 0 que na vida sé quer ‘ morrer, silenciat, calar. Lugar fora do simbélico, para-além do principio do prazer, onde s6 ha 0 gozo impossivel de ser suportado — lugar da dor de existir sobre a qual nos fala o melancélico. A morte é 0 que melhor figura para nés esse lugar topolégico de auséncia da fala, do para-além do Bdipo que equivale ao aquém da linguagem, e onde reina o siléncio da pulséo de morte, prinefpio de Nirvana. A morte € o tema freqiiente da tristeza ¢ da melancolia ~ 0 submundo das trevas, do apagamento do desejo. “Mais vale, no fim das contas, nunca ter nascido, ¢ s¢ nascemos, morrermos o mais depressa possivel” ~ diz o coro, O afeto * depressivo da dor de existir remete ao furo de gozo proprio a estrutura de linguagem. 94 — Digitalizado com CamScanner Extravios do desejo: depressio e melancolia Vv Mas seré que a falta estrutural precisa sempre doer? E evidente que o sujeito ser sempre confrontado com perdas em toda a sua vida e af aparecerd a dor da falta. Qual é a arma que o sujeito tem para dar conta dessa falta? O desejo, que é a manifestacao da falta em outra vertente. Mas quando o sujeito cede de seu desejo a falta se transforma em falta moral, e 0 que advém para ele é a culpa. Afinal de contas, de quem é a culpa da inadequacio do gozo? O gozo, na verdade, é inadequado;.é excessivo ou deficiente, e o sujeito jamais consegue se adequar a ele, De quem é a culpa? Af aparecem trés culpados (Lacan 1960). Em primeiro lugar, 0 sujeito culpa a sociedade, que nao coloca 8 sua disposigao objetos adequados para seu gozo, Em segundo, ele diz que a culpa é do Outro, ou seja, 0 Outro nao dé o que ele quer. Mas 0 Outro’ como tal é inconsistente, porque a ele também o gozo falta. A “culpa | seria do Outro, se ele existisse”, indica Lacan. O sujeito pode até pensar que | © Outro € inteiro por causa do ideal do eu [I(A)] que o representa, mas \ quando o ideal cai e 0 sujeito se. depara coma falta no/do Outro, ele ndo pode mais culpé-lo, e acaba tomando para si a culpa da castracao como a inadequacdo do gozo. O que era falta vinculada ao desejo se transforma | em falta moral, e o sujeito se sente triste e culpado. Eros se retrai e Tanatos { avanca. O sentimento de culpa € o indice do supereu que vigia, critica e i Pune o sujeito. O resultado é a autodepreciagao e a auto-acusacio. O sujeito | { se sente culpado-de'sua impoténcia, pois ele serite 0 impossivel como impoténcia, como se cle pudesse fazer alguma coisa, endo desse conta. O nao ! dat conta € sempre a queixa do impotente, o que na verdade é um prestar I contas. O sujeito est4 sempre aquém das contas que ele tem de prestar aos i olhos do ideal, e sen credor é 0 supereu. Fazer as suas contas, ou acertar as \ contas, é realizar que 0 que ele se julgava impotente para resolver € im- | Possfvel. A passagem da impoténcia (que corresponde & faléncia do desejo) ) .a0 impossfvel marca a saida da depressio, Trata-se da passagem do “ew | \ nao dou conta” do deprimido a “o que no tem remédio, remediado esta” |/ 1 da castracao assumida pelo sujeito. a Freud situa o sentimento de culpa.na trama edipiana entre os dois ctimes: entre 0 gozo da mac e o patricidio. Para ele, o sentimento de Lulpa estd ligado a transgressio de um limite de goz0. O excesso de 8020 ~ quando o sujeito ultrapassa seu limite ~ ou sua deficiéncia ~ quando nio encontra o gozo prometido ~ provocam a tristeza ¢ a culpa, ue se situam, portanto, entre o simbélico da lei ¢ 0 real do gozo. E jus- tamente quando ha perda do ideal € 0 sujeito cede ao imperativo do supereu que a inadequagio do gozo se desvela para o sujeito. 95 i Digitalizado com CamScanner Extravios do desejo: depressio e melancolia Em os Armuinados pelo éxito, Freud situa a ruina do sujeito ¢ sex “4 estado depressivo néo quando ele perde, mas quando atinge o ideal encontro com o impossivel de um gozo prometido. O sujeito, ao atingi, tum ideal, se depara com o impossivel porque aquilo que o ideal prometa nao se cumpriu; 0 sujeito, que lutou a vida inteira por ele, chega no momento e vé que foi tudo em vao porque 0 ideal nao lhe proporcionou, no fim, o gozo acenado: “Tudo perdemos ~ diz Lady Macbeth ~ quando © que quetiamos, obtemos sem nenhum contentamento. Mais vale ser a vitima destruida do que, por destruf-la, destruir com ela o gosto de viver” Lady Macbeth tornou-se melancélica ao ver realizado seu desejo “de ser rainha as custas do assassinato de Duncan, que Freud faz equivaler a realizagdo do incesto, pois o rei assassinado representa seu pai. A re- taliagdo é conseqiténcia do sentimento de culpa, 0 sujeito entdosedepara com esse impossivel de suportar do gozo, ¢ a falta estrutural do desejo se torna falta moral. A depressdo é um fndice do sujeito em plena realizagéo de desejo incestuoso. A falta moral é a falta da falta consti- tutiva do desejo; € um indicio de que o sujeito se encontra para além do principio do prazer, pois ultrapassou os limites do Edipo, estrutura em que a lei funda 0 desej A definicao de Lacan da.tristeza como falta)moral_retine o afeto triste com a culpa. E 0 sentimento de culpa marca o retrocesso do sujeito diante do desejo, recuo equivalente a confrontagéo com o impossivel do real do gozo. A tristeza como,covardia moral, segundo a definicéo de Lacan, situa esse afeto como uma relagio frouxa do sujeito com cadeia de seu desejo, Essa relacdo frouxa, nos dois sentidos do termo, faz o Sujeito abrir as portas para a autodepreciagdo € para a auto- acusagao, O sentir-se frouxo, sinal de impoténcia, tem como correlato © sentimento de culpa, ae a de aero que faz 0 sujeito triste, covarde, senti | Econ ane e8 insert oafeto depressivo no Ambito da etic que "tem por le ncementea ses ae ae dat siesiieee sable nent © $8 deseo". Ble nfo recuard diane de analtca™ (ace eyes NO bilhete de entrada da experiencia inocente desejante pode nos ore et © Culpado deprimmi en covardia moral, levando-o 0 webethe one eras Oaera 0 imperative de gore deo), abalho sobre © desejo. Contre 2 auto-acusacdes, a Psicandlis cpr eet coe a ° sujeito passe da dor de exions e on,0 ever de bem-dizer, para Sr estrtural que ee ehones (ASU alegria de viver sustentad ™ jo: fundamento do gaio saber. que € 0 indice de_que_o sujeito.cedeu de seu va se froux0 ica. 96 igitalizado com CamScanner

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