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A psicanálise e os psicofármacos

Curso de Extensão:
Psicopatologia psicanalítica:
o ensino clínico de Lacan nos anos 75-76
Expositora: Márcia Rosa
19.05.2021
Os cinco psicofármacos que mudaram a história

• 1.Psicofármacos para estabilizar o humor: carbonato de lítio


• A descoberta moderna do lítio como tratamento para o transtorno bipolar foi
realizada em 1948 por John Cade, um psiquiatra australiano que selecionou o lítio
porque esse elemento neutralizaria o ácido úrico, que ele acreditava ser a causa
da mania naquele momento.
• Como foi observado depois, o transtorno bipolar não tem nada a ver com ácido
úrico, o que não impossibilitou que o lítio se tornasse uma grande ajuda a partir
de então para tratar pacientes maníacos.
• O lítio foi o primeiro psicofármaco moderno, visto que sua eficácia como
antimaníaco foi demonstrada em 1949, antes da descoberta da
clorpromazina. Tornou-se, então, o primeiro medicamento específico para a
intervenção em um transtorno psiquiátrico específico.

2a. Para transtornos psicóticos: clorpromazina

• A descoberta fortuita do lítio em 1948 foi seguida logo depois por


outra descoberta milagrosa: o primeiro fármaco antipsicótico do
mundo.
• Em 1949, Henri Laborit, um cirurgião militar francês na Tunísia,
procurava uma maneira de reduzir o choque cirúrgico. Investigando
um anti-histamínico, a clorpromazina, ele descobriu que ela tinha
profundos efeitos psicológicos nos pacientes quando administrada
antes da cirurgia.
• Em 1952, Laborit convenceu outro psiquiatra a administrar esse
medicamento em um paciente esquizofrênico pela primeira vez.
2b- Para transtornos psicóticos: clorpromazina
• O uso da clorpromazina como o primeiro neuroléptico varreu a Europa, mas nos Estados
Unidos, “dominado” pela psicanálise, sua recepção foi silenciada.
• Na época, os psiquiatras norte-americanos procuravam explicações psicossociais para a
esquizofrenia, como a teoria do duplo vínculo de Gregory Bateson. Tudo que tivesse
relação com os psicofármacos era de pouco ou nenhum interesse.
• A empresa farmacêutica que produziu a clorpromazina (marca Thorazine) começou a
conquistar governos estatais, em vez de psiquiatras e escolas de medicina, insistindo
que o uso do medicamento poderia diminuir bastante os gastos dos programas estatais
de saúde mental.
• Pouco tempo depois, quase todos os principais hospitais psiquiátricos dos EUA tinham
aderido à linha da clorpromazina. A introdução do Thorazine nos EUA contribuiu para o
movimento de desinstitucionalização, e o número de pacientes hospitalizados diminuiu
de aproximadamente 600.000 em 1952 para 160.000 em 1977
3a.Psicofármacos para os distúrbios do humor: imipramina

A terceira das descobertas históricas do início da psicofarmacologia foi a


imipramina, o primeiro antidepressivo tricíclico.
O desenvolvimento do primeiro antipsicótico (clorpromazina) foi associado à
pesquisa sobre anti-histamínicos. Esse também foi o caso na síntese do primeiro
antidepressivo, a imipramina (=Tofranil).
No início da década de 1950, as empresas farmacêuticas procuravam novos
medicamentos para competir com a clorpromazina no mercado da esquizofrenia.
Roland Kuhn, um psiquiatra suíço contratado pela empresa farmacêutica Geigy, que
estava sempre mais interessado na depressão do que na esquizofrenia, fez algo
decisivo.
3b. Psicofármacos para os distúrbios do humor: imipramina

Ele decidiu agir sem o conhecimento da empresa farmacêutica que estava financiando
sua pesquisa e administrou esse composto para a depressão. Os resultados obtidos foram
uma revolução para a época.
Poucas semanas após o início do tratamento com imipramina, os pacientes com depressão
crônica começaram a recuperar um senso de propósito, motivação e esperança. Seus
sintomas depressivos, uma vez considerados intratáveis, responderam muito bem a esse
novo fármaco.
Com a descoberta da imipramina, a psiquiatria finalmente teve tratamentos biológicos
eficazes para seus três principais transtornos: a esquizofrenia, o transtorno bipolar e a
depressão.
Durante muitos anos, a imipramina foi considerada o “padrão ouro” no tratamento da
depressão maior. Embora seu uso regular tenha sido substituído, em grande parte, pelos
novos ISRSs e IRSNs, ainda é útil no tratamento das depressões atípicas e refratárias.
4a. Para a ansiedade e a insônia: Valium
O Valium foi inventado pelo químico Leo Sternbach em Hoffman-La
Roche em Nova Jersey (1963), sendo o segundo fármaco de
benzodiazepinas descoberto após o Librium (Psicosedim, no Brasil) em
1960.
As benzodiazepinas se tornaram muito populares nas décadas de
1960 e 1970 como ansiolíticos, porque seus efeitos secundários
careciam da severidade dos efeitos adversos dos barbitúricos, a
geração anterior de sedativos.
Como família, pertencem a três categorias: são ao mesmo tempo
sedativos, ansiolíticos e hipnóticos. Tudo depende da molécula
em questão, da dose e da meia-vida no sangue
5. Psicofármacos para o humor: Prozac
• Nos últimos 30 anos, talvez nenhum medicamento psiquiátrico tenha sido mais
conhecido do que o Prozac (fluoxetina), que foi descoberto por Eli Lilly and
Company em 1970 e entrou em uso médico nos EUA. Foi um dos primeiros
medicamentos ISRS. (=Inibidor Seletivo de Recapitação de Serotonina)

• Desde a introdução do Prozac, seguiram-se vários ISRSs, cada um com uma


estrutura química e um perfil de efeitos secundários ligeiramente diferentes, mas
semelhantes em seu mecanismo básico e na sua efetividade. A principal razão é
que eles provocam poucos efeitos secundários e têm um amplo espectro de ações e
indicações.

• Os nomes dos ISRSs são: fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina, sertralina, citalopram


e escitalopram. A descoberta dos medicamentos ISRSs foi uma conquista histórica
na psiquiatria, e hoje este é o tipo de medicamento mais receitado para depressão
clínica, transtornos de ansiedade e transtorno obsessivo-compulsivo.

Renato José de Ávila: “’A pílula da felicidade’: a demanda e o consumo de fluoxetina e suas
relações com os imperativos do discurso capitalista”
Medicamentos caso Annie:

1.a- BIPERIDENO = AKINETON


• Indicações:
• Evidências consistentes de eficácia: • ► espasticidade pós-concussão
• ► reações distônicas agudas; cerebral e espinal;
• ► parkinsonismo; • ► traumatismo craniencefálico;
• ► ECEs por APs.6 • ► nevralgia do trigêmeo;
• ► intoxicação por nicotina em
fumantes;
• Evidências incompletas de eficácia:
• ► intoxicação por organofosforados;
• ► sialorreia induzida por clozapina;
• ► espasmo brônquico.
• ► encefalopatia por efedrona;
1.b- Biperideno = Akineton
• Farmacocinética = O biperideno é um anticolinérgico e antiparkinsoniano
potente, largamente utilizado para combater alguns efeitos colaterais dos APs.

• Reações adversas = Mais comuns: boca seca, constipação, visão borrada.

• Menos comuns: agitação, alucinações, cefaleia, confusão, déficit cognitivo e de


memória, delirium, disfunção sexual, dor epigástrica, hipotensão postural,
náusea, precipitação de glaucoma, retenção urinária, sedação, taquicardia,
tontura.
1.c Biperideno = Akineton
• Contra-indicações =
• ABSOLUTAS
• ► Obstrução intestinal (história de);
• ► GAF;
• ► hipersensibilidade ao fármaco.

• Pesquisa de Helena Lisitra Greco =


• “ Os usos que o psicótico faz da droga”
1a- HALOPERIDOL = HALDOL
• Indicações = A eficácia do haloperidol está bem estabelecida no tratamento agudo dos
sintomas da esquizofrenia, assim como na terapia de manutenção desse transtorno.
• Além do uso na esquizofrenia, há também evidências consistentes sobre a eficácia do
• haloperidol no transtorno esquizoafetivo e no Transtorno Bipolar, especialmente nas
fases maníacas.
• O haloperidol é usado também nos sintomas de agitação dos quadros demenciais e de
• outros transtornos mentais orgânicos de várias etiologias, geralmente em doses não
• superiores a 3 mg/dia. Além disso, é utilizado no transtorno de Tourette.
• Há estudos clínicos controlados sobre o uso do haloperidol em crianças com Transtorno
do Espectro Autista e com outros transtornos que cursem com sintomas psicóticos na
infância.
1.b- Haloperidol = Haldol
• O haloperidol é um anti-psicótico de alta potência. Após administração
oral, a meia-vida é de 15 a 37 horas, e o platô de concentração
plasmática (= maior resposta alcançavél) é atingido em torno de 3 a 5
dias. Os picos de concentração plasmática ocorrem entre 1 e 4 horas
após a ingestão VO e 30 minutos depois da administração IM.
• O haloperidol decanoato tem pico de concentração plasmática de 3 a 9
dias após a aplicação, e sua meia-vida é de aproximadamente 3
semanas.
1.c- Haloperidol = Haldol
Reações adversas
• Mais comuns: acatisia, distonias, hipercinesia, hipertonia, parkinsonismo,
sonolência, tremor.
• Menos comuns: agitação, alterações no ECG, anorgasmia, amenorreia, boca seca,
cefaleia, constipação, convulsão, crises oculogíricas, déficit de atenção,
depressão, diminuição da libido, discinesia tardia, ER, fotossensibilidade cutânea,
galactorreia, ginecomastia, hepatotoxicidade, hipercinesia, hipertensão,
hipoglicemia, hiponatremia,hipotensão postural, icterícia, impotência,
inquietação, insônia, leucopenia, náusea, prolongamento do intervalo QTc,
priapismo, rash cutâneo, retenção urinária, retinopatia pigmentar, sedação,
SIADH, SNM, taquicardia, tontura, torcicolo, vômito.
1.d- Indicações
Evidências consistentes de eficácia
• ► esquizofrenia; • ► quadros psicóticos induzidos por
• ► transtorno esquizoafetivo; substâncias psicoativas, como
tratamento sintomático para os sintomas
• ► episódios maníacos, como terapia psicóticos;
adjuvante com estabilizador do humor;
• ► agitações em quadros demenciais ou
• ► agitação em pacientes com delirium.
outros transtornos mentais orgânicos; • Evidências incompletas de eficácia:
• ► outros transtornos que se manifestam • ► transtornos da personalidade, para os
com sintomas psicóticos na infância; sintomas de impulsividade ou agitação.
• ► transtorno de Tourette; • ► Alergia ao fármaco;
• ► terapia adjuvante na depressão com • ► depressão grave do SNC;
características psicóticas;
• ► DP.
1.e- Contra-indicações
• ► Alergia ao fármaco;
• ► depressão grave do SNC;
• ► DP.
1.f- HALDOL DECANOATO
• A administração depot é utilizada em pacientes que não aderem ao tratamento.
Entretanto, mesmo com a possibilidade de maior controle da adesão com a
formulação injetável de depósito, as taxas de abandono do tratamento são altas
nesse grupo de pacientes, talvez por um viés de seleção. A dose média é de 150 a
200 mg por mês. Como sua meia-vida é de 21 dias, uma injeção mensal assegura
uma concentração plasmática estável.

• Suzana Teatini: “O medicamento e a regulação do gozo do sujeito


psicótico: uma questão ética”
1.a- CLORPROMAZINA = AMPLICTIL
Indicações =
• Clorpromazina é um antipsicótico clássico ou típico, sendo protótipo no tratamento de
pacientes esquizofrênicos. Foi sintetizada pelo químico Paul Charpentier em 1950.

• Neuropsiquiatria
• Quadros psiquiátricos agudos, ou então no controle de psicoses de longa evolução.

• Clínica geral
• Manifestação de ansiedade e agitação, soluços incoercíveis, náuseas e vômitos e
neurotoxicoses infantis; também pode ser associado aos barbitúricos no tratamento
do tétano.

• Obstetrícia
• Em analgesia obstétrica e no tratamento da eclampsia.
• Casos em que haja necessidade de uma ação neuroléptica, vagolítica, simpatolítica,
sedativa ou antiemética
1.b- Contra-indicações
• Absolutas
• Glaucoma de ângulo fechado.
• Em pacientes com risco de retenção urinária, ligado à problemas
uretroprostáticos.
• Uso concomitante com levodopa.

• Outras contraindicações :
• Comas barbitúricos e etílicos; sensibilidade às fenotiazinas; doença
cardiovascular grave; depressão severa do sistema nervoso central.
1.c Contra-indicações
• Relativas
• Além disso, constituem-se em contraindicações relativas do Cloridrato
de Clorpromazina o uso concomitante com álcool, lítio e sultoprida.

• A relação risco-benefício deverá ser avaliada nos seguintes casos:


• Discrasias sanguíneas; câncer da mama; distúrbios hepáticos; doença
de Parkinson; distúrbios convulsivos; úlcera péptica.
• Cloridrato de Clorpromazina deverá ser administrado com cautela em
pacientes idosos e/ou debilitados.
1.d Reações adversas
• Reação muito comum (> 1/10)
• Distúrbios do metabolismo e nutrição: ganho de peso, às vezes, importante.
• Distúrbios do sistema nervoso: sedação, sonolência, síndrome extrapiramidal, que melhora com a administração
de antiparkinsonianos anticolinérgicos, efeitos atropínicos.
• Distúrbios vasculares: hipotensão ortostática.
• Distúrbios musculares: discinesias tardias que podem ser observadas, assim como para todos os neurolépticos,
durante tratamentos prolongados (nestes casos os antiparkinsonianos não agem ou podem piorar o quadro).
• Reação comum (>1/100 e ≤ 1/10)
• Distúrbios do coração: prolongamento do intervalo QT.
• Distúrbios do sistema nervoso: convulsões.
• Distúrbios endócrinos: hiperprolactinemia e amenorreia.
• Distúrbios do metabolismo e nutrição: intolerância à glicose.
• Reações cujas frequências são desconhecidas
• Distúrbios do coração: Houve relatos isolados de morte súbita, com possíveis causas de origem cardíaca, assim
como casos inexplicáveis de morte súbita, em pacientes recebendo neurolépticos fenotiazínicos.
• Distúrbios endócrinos: galactorreia e ginecomastia.
• Distúrbios do metabolismo e nutrição: Hiperglicemia, hipertrigliceridemia, hiponatremia e secreção inapropriada
do hormônio antidiurético.
1.e Reações adversas
• Distúrbios do sistema nervoso: efeitos atropínicos (retenção urinária).
• Distúrbios gastrointestinais: colite isquêmica, obstrução intestinal, necrose gastrointestinal, colite
necrosante (algumas vezes fatal), perfuração intestinal (algumas vezes fatal).
• Distúrbios da pele e tecidos subcutâneos: fotodermias e pigmentação da pele, angioedema e urticária.
• Distúrbios oculares: crises oculógiras e depósito pigmentar no segmento anterior do olho.
• Distúrbios hepato-biliares: foi observada icterícia por ocasião de tratamentos com Clorpromazina, porém, a
relação com o produto é questionável. Casos de lesões hepatocelulares, lesão hepática mista e colestática,
às vezes resultando em morte foram relatadas em pacientes tratados com Clorpromazina.
• Distúrbios do sistema imunológico: lúpus eritematoso sistêmico foi relatado muito raramente em pacientes
tratados com Clorpromazina. Em alguns casos, anticorpos antinucleares positivos podem ser encontrados
sem evidência de doença clínica.
• Distúrbios do sangue e do sistema linfático: excepcionalmente leucopenia ou agranulocitose, e por isso é
recomendado o controle hematológico nos 3 ou 4 primeiros meses de tratamento.
• Distúrbios do sistema reprodutivo: impotência, frigidez. Em pacientes tratados com Clorpromazina foi
relatado raramente priapismo.
• Distúrbios vasculares: Casos de tromboembolismo venoso, incluindo casos de embolismo pulmonar venoso,
algumas vezes fatal, e casos de trombose venosa profunda, foram reportados com medicamentos
antipsicóticos.
• Distúrbios musculares: discinesias precoces (torcicolo espasmódico, trismo e etc., que melhoram com a
administração de antiparkinsoniano anticolinérgico).

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