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Desordens Seborreicas e da Queratinização

e Doenças dos Olhos, Garras, Sacos


Anais e Canais Auditivos

Brasília-DF.
Elaboração

Camilla Oliveira Rosa Alcalá

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação.................................................................................................................................. 5

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa..................................................................... 6

Introdução.................................................................................................................................... 8

Unidade I
DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO................................................................................ 11

Capítulo 1
Fisiologia e semiologia da epiderme................................................................................ 11

CAPÍTULO 2
Distúrbios seborreicos e de queratinização primários................................................. 17

CAPÍTULO 3
Distúrbios seborreicos e de queratinização ligados à nutrição................................ 31

CAPÍTULO 4
Distúrbios seborreicos e de queratinização em felinos................................................ 35

CAPÍTULO 5
Distúrbios seborreicos e de queratinização ligados à raça....................................... 39

CAPÍTULO 6
Fórmulas magistrais no tratamento dos distúrbios seborreicos................................ 44

Unidade iI
DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS................................................................................................ 51

CAPÍTULO 1
Anatomia e fisiologia dos condutos auditivos.............................................................. 51

CAPÍTULO 2
Anamnese, exame físico e exames complementares dos condutos auditivos............ 57

CAPÍTULO 3
Fatores primários, predisponentes e perpetuantes da otite externa.............................. 67

CAPÍTULO 4
Classificação da otite externa e tratamento................................................................. 70

CAPÍTULO 5
Otite média............................................................................................................................ 80
CAPÍTULO 6
Ototoxicidade e otite interna............................................................................................ 83

CAPÍTULO 7
Afecções cirúrgicas dos ouvidos.................................................................................. 86

Unidade iII
DOENÇAS DOS OLHOS, UNHAS E SACOS ANAIS................................................................................... 94

CAPÍTULO 1
Doença dos olhos............................................................................................................. 94

CAPÍTULO 2
Doença das unhas............................................................................................................ 102

Capítulo 3
Doenças dos sacos anais............................................................................................... 108

Referências................................................................................................................................. 114

Anexo I......................................................................................................................................... 118


Frente................................................................................................................................. 118

Anexo II........................................................................................................................................ 120


Verso.................................................................................................................................. 120
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
A pele é composta epiderme, derme e hipoderme. Os distúrbios seborreicos estão
relacionados a alterações na camada mais externa da pele, a epiderme. O processo
pelo qual se formam os queratinócitos, células da epiderme, é composto de etapas,
cujo ciclo completo leva em média 22 dias. Alterações nesse ciclo levam à produção
exacerbada e rápida dos queratinócitos, além de produção excessiva de sebo pelas
glândulas sebáceas. Essas alterações são visualmente identificadas como excesso
de escamas na pele, pelos e untuosidade do pelame ao toque, além de um quadro
xerótico, de odor rançoso, comprometendo a qualidade de vida do animal e dos
proprietários.

O acometimento ungueal pode estar presente em quadros dermatológicos,


pois a unha é composta de uma camada córnea espessa. As afecções das unhas
costumam ser subdiagnosticadas, pois não são incluídas na inspeção nem dada
a sua devida importância por não apresentarem lesões exacerbadas ou dor.
Não é possível avaliar a pele apenas por sua lesão localizada, pois, em geral, os
sinais dermatológicos estão interligados com doenças de base, como é o caso das
blefarites, outro quadro dermatológico que pode estar localizado são as afecções
dos sacos anais, os quais se não tratada à causa-base, podem evoluir para fístulas,
febre e dificuldade de defecar.

Os quadros otológicos, por serem comuns na rotina veterinária, sendo o terceiro


quadro dermatológico mais atendido, são subestimados quanto a sua causa-base e
diagnóstico dos fatores perpetuantes das infecções de ouvido. Quadros recidivantes se
tornam rotineiros, devido à complexidade em se achar o fator predisponente da doença.
Os condutos auditivos devem sempre ser incluídos no exame físico dermatológico, pois
distúrbios queratosseborreicos acometem também os condutos auditivos, assim como
muitas dermatopatias.

Observa-se, pois, que todas as doenças acima comentadas podem ter uma causa-base
em comum. É dever do médico veterinário examinar todos os componentes do sistema
tegumentar. O conteúdo a seguir é um resumo das principais doenças informadas,
como reconhecê-las e realizar seu diagnóstico correto para que seja alcançado sucesso
nos tratamentos.

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Objetivos
»» Compreender a fisiologia e a etiologia dos distúrbios queratosseborreicos.

»» Desenvolver o senso de abordagem adequada ao paciente dermatológico.

»» Saber avaliar qual exame complementar solicitar baseado na anamnese e


em sinais clínicos dermatológicos do paciente.

»» Diagnosticar a causa-base das principais afecções de pele mencionadas no


estudo, a fim de que se institua a terapia medicamentosa mais adequada.

»» Conhecer as terapêuticas utilizadas, sejam formulações comerciais ou


fórmulas magistrais.

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DISTÚRBIOS
SEBORREICOS E Unidade I
DESQUERATINIZAÇÃO

Capítulo 1
Fisiologia e semiologia da epiderme

O termo seborreia indica o aumento do fluxo do sebo na pele. Na medicina veterinária,


compreende desde lesões descamativas até lesões oleosas. Para facilitar a compreensão
de como ocorrem esses distúrbios, vamos fazer uma breve revisão da fisiologia da
epiderme.

A epiderme se divide em quatro principais camadas, quais sejam: camada, camada


espinhosa, camada granulosa e camada córnea. A migração celular na epiderme ocorre
da camada basal para a camada córnea (Figura 1).

Figura 1. Estrutura da epiderme e fluxo de migração celular.

Fonte: Disponível em: <https://www.researchgate.net/figure/Camadas-da-epiderme-adaptado-de-3_263570684>. Acesso em:


2 de fevereiro de 2018 .

11
UNIDADE I │ DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO

O processo de diferenciação dos queratinócitos (células da epiderme produzidas na


camada basal), epidermopoese, ocorre em, aproximadamente, 22 dias e se divide em
três etapas:

1. Proliferação: síntese e expressão de diferentes queratinas, produção de


queratinócitos.

2. Diferenciação: formação de um especializado envelope queratinizado.

3. Descamação: formação de um cimento lipídico intercelular, transformação


em corneócitos.

Etiologia e classificação
A etiologia dos distúrbios seborreicos e de queratinização primários, ligados à
predisposição racial, não está bem elucidada, porém é de conhecimento que um gatilho
altera o processo de proliferação e diferenciação das células epidérmicas, acarretando
uma rápida e incompleta queratinização das células e proliferação acelerada dos
corneócitos, sendo visíveis como escamas (Figura 2).

A etiopatogenia nos distúrbios secundários está ligada à liberação de mediadores


inflamatórios como citocinas, histamina, leucotrienos e prostaglandinas, aumentando
a síntese de DNA na camada basal, e à aceleração de processo de diferenciação.
As causas mais comuns são infecções cutâneas, endocrinopatias, fatores nutricionais,
fatores ambientais, alergopatias e parasitoses.

Figura 2. Paciente apresentando intensa descamação farinácea, sendo visíveis as escamas a olho nu tanto na

pele do animal quanto na mesa do ambulatório médico.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

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DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO │ UNIDADE I

Distúrbios envolvendo a queratinização podem ser classificados em:

»» Queratinização: quadros descamativos, sem presença de oleosidade.

»» Seborreicos: quadros descamativos, com presença de oleosidade.


Observa-se uma pele com untuosidade, graxenta e xerótica. Os distúrbios
seborreicos se dividem em seborreia oleosa e seborreia seca.

Alguns autores propõem diferentes classificações para os quadros de disqueratinização


e untuosidade. Shanley (1991), baseado nas características cutâneas e lesionais, propôs
uma classificação e dividiu os quadros em quatro categorias:

1. descamação leve sem untuosidade;

2. descamação moderada com untuosidade moderada;

3. descamação moderada/severa com untuosidade severa;

4. descamação leve com untuosidade severa.

Anamnese, exame físico e exame complementar

Em cerca de 90% dos casos, existe uma causa-base, o que se faz necessário uma
anamnese e exame físico detalhado, permitindo saber com propriedade qual exame
complementar deverá ser solicitado.

Anamnese dermatológica

A anamnese dermatológica completa fornecerá informações para diagnósticos


presuntivos e para quais exames complementares solicitar. Alguns dados fundamentais
coletados durante a anamnese são:

»» Raça: algumas raças são predispostas a determinadas dermatopatias;

»» Idade: animais filhotes tendem a ter doenças congênitas e hereditárias,


assim como animais mais idosos são predispostos a neoplasias. A idade
de início do surgimento dos primeiros sinais clínicos é importante para
determinar se o curso da doença é compatível com dermatopatias já
conhecidas.

»» Início da lesão: quando e como se iniciou a lesão é de grande


importância para determinar se o distúrbio queratosseborreico
iniciou-se como sinal clínico primário ou secundário. Na presença de

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UNIDADE I │ DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO

prurido, verificar se o surgimento das lesões foi antes ou após o prurido.


Estadear a doença em aguda ou crônica, localizada ou generalizada, é
fundamental para determinar um prognóstico do quadro.

»» Manejo alimentar: dieta fornecida, o conhecimento da dieta ajudará


a ver possíveis deficiências nutricionais ou quadro de hipersensibilidade
alimentar. É importante lembrar que animais obesos não conseguem
realizar o grooming adequadamente, acarretando um quadro de
disqueratinização.

»» Banhos e ambiente: frequência de banhos, produtos utilizados para


o banho, produtos utilizados para limpeza do ambiente e controle de
ectoparasitas.

»» Contactantes: se o animal possui contactantes, se os contactantes


apresentam lesões. Se algum humano da casa apresenta lesões, quadros
zoonóticos, como escabiose e dermatofitose, apresentam quadro
descamativo.

»» Tratamento anterior: se foi realizado o uso prévio de antialérgicos,


antifúngicos e antibióticos, se houve melhora da lesão, se apresenta
outras patologias, se faz uso de medicação contínua, se há o envolvimento
de dermatopatias concomitantes.

Exame físico dermatológico

O exame físico deve ser minucioso, incluindo todas as regiões do corpo e não só a
queixa relatada durante a anamnese. Muitos distúrbios dermatológicos têm padrão
lesional característico, o que se faz necessário, por parte do clínico avaliador, possuir
conhecimentos das diversas dermatopatias. O exame físico pode ser iniciado com a
avaliação geral do paciente como: escore corporal, temperatura retal e avaliação de
linfonodos. Ressalte-se que doenças sistêmicas podem gerar sinais dermatológicos
associados, como é o caso das doenças endócrinas e leishmaniose.

No exame dermatológico, devem ser avaliados os seguintes parâmetros:

»» extensão da lesão: localizada, disseminada ou generalizada, a extensão


da lesão ajudará a escolher a melhor terapia e determinar a gravidade do
caso. Deverão ser examinados condutos auditivos e unhas.

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DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO │ UNIDADE I

»» simetria da lesão: lesões simétricas bilaterais ocorrem comumente em


dermatopatias endócrinas, já lesões assimétricas ocorrem na maioria das
lesões dermatológicas.

»» qualidade do pelame: pelame opaco ou brilhante, com destacamento


fácil ou difícil, alopecia, hipotricose, pelos com a haste quebrada
evidenciando prurido em gatos.

»» lesão: presença de mácula, pápula, pústula, nódulos, hiperpigmentação


(cronicidade de lesão), hiperqueratose, cilindros foliculares (Adenite
Sebácea), comedão, colarinhos epidérmicos (piodermite secundária),
crostas e, no caso dos distúrbios seborreicos, escamas. A formação das
escamas pode variar em tamanho, sendo micácea, furfurácea ou farinácea
(Figura 3), e de coloração, indo do esbranquiçado ao acinzentado, e, na
presença de oleosidade, do amarelado ao acastanhado. Nesses animais, é
possível ver o “Sinal de Larsson”* presente.

»» sinal de Larsson: fricção dos pelos contra o sentido de crescimento,


evidenciando acúmulos paralelos de escamas, característico dos quadros
de disqueratinização.

Figura 3. A – Quadro queratosseborreico com descamação micácea, nota-se que a coloração da escama é

amarelada, assemelhando-se a minério mica. B – Quadro queratosseborreico com descamação furfurácea, as

escamas se assemelham ao pó.

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

Exames complementares dermatológicos

Os exames complementares auxiliam no diagnóstico da causa-base e na diferenciação


entre quadro primário ou secundário. Entre eles incluem:

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UNIDADE I │ DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO

»» exame parasitológico do raspado cutâneo (EPRC): dermatites parasitárias;

»» exames de citologia: infecções secundárias por malassezia, coccus e


bacilos;

»» exame de tricograma: presença de cilindros foliculares após epilação;

»» exame com a lâmpada de Wood: importante lembrar que crostas


fluorescem sob a luz, por isso a coloração verde maça deve ser visualizada
na haste do pele com a ajuda de uma lupa. Animais banhados previamente
com produtos à base de alcatrão também apresentarão fluorescência,
resultando em um falso positivo;

»» exame micológico: dermatites fúngicas;

»» exame histopatológico: padrão histopatológico das lesões (diferenciar


quadros nutricionais, alérgicos, parasitários e autoimunes);

»» exames laboratoriais: pesquisa de causas endócrinas e sistêmicas.

Figura 4. Algoritmo para a realização de cada um dos exames complementares.

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

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CAPÍTULO 2
Distúrbios seborreicos e de
queratinização primários

Seborreia primária e seborreia secundária


A seborreia primária é um distúrbio de queratinização hereditário e com predisposição
racial. Nela, ocorre um defeito hiperproliferativo das células epidérmicas, ou seja,
aumento da epidermopoiese. Isso leva ao processo incompleto da queratinização das
células, diminuindo-lhes a coesão e gerando um distúrbio na secreção sebácea celular,
o que aumenta a produção de sebo (Figura 5).

A renovação celular (turnover) ocorrerá a cada 5 a 8 dias, aumentará a concentração


de ácidos graxos livres, levando à untuosidade da pele e do pelame, favorecendo a
disbiose cutânea, com aumento significativo da microbiota fúngica e microbiana.
Os sinais clínicos costumam iniciar leves, no animal jovem, agravando à medida que
esse animal envelhece.

Algumas raças são predispostas, tais quais Cocker Spaniel, Springer Spaniel Inglês,
West Highland White Terrier, Labrador e Basset Hound.

Figura 5. Presença de sebo acumulado no pelame de cão S.R.D. jovem, com distúrbio seborreico hereditário.

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

A seborreia secundária, por sua vez, ocasiona o aumento da eritropoiese e a proliferação


celular, com manifestações clínicas semelhantes, porém desencadeada devido a uma
dermatopatia de base (Figura 6).

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UNIDADE I │ DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO

Figura 6. Quadro queratosseborreico secundário à doença alérgica. Paciente com pelame untuoso e presença

de descamação micácea.

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

Manifestações clínicas
Clinicamente, a pelagem estará seca e sem brilho, com descamação excessiva (caspas),
crostas, pele untuosa, ressequida, odor rançoso. Em geral, os quadros cutâneos estão
acompanhados de quadros otológicos, com excesso de cerúmen e/ou otites ceruminosas
(Figuras 7.A e 7.B).

Os quadros podem ser disseminados ou generalizados, com acometimento


principalmente na região da face, períneo, espaços interdigitais, axilas, região ventral
de pescoço, abdome e dobras cutâneas. O prurido é variável, podendo ser de discreto
a intenso, quando associado a quadros secundários de infecções bacterianas e por
malassezia.

Figura 7. A – Quadro de otite ceruminosa associado à seborreia secundária. Observa-se o excesso de cerúmen

em pavilhão auricular. B – Otite ceruminosa estenosante devido à cronicidade do quadro.

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

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DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO │ UNIDADE I

Diagnóstico e diagnósticos diferenciais

O diagnóstico é feito a partir de dados coletados na anamnese, inspeção direta e


indireta das lesões, exames de citologia e histopatologia. Na histopatologia, o padrão
lesional será de dermatite perivascular superficial, com hiperqueratose ortoqueratótica
ou paraqueratótica, queratose folicular e disqueratose variável, ou seja, um padrão de
qualquer tipo de distúrbio seborreico, mostrando-se inespecífico para o diagnóstico
definitivo.

O diagnóstico definitivo de seborreia primária é clínico, e só poderá ser afirmado após a


exclusão de todos os diagnósticos diferencias e infecções secundárias (Quadro 1).

Quadro 1. Diagnósticos diferenciais de seborreia em animais pequenos.

Infecciosa Alérgica
Piodermites Dermatite alérgica a picada de ectoparasitas
Dermatofitose Dermatite atópica
Dermatite por Malassezia Hipersensibilidade alimentar
Leishmaniose Parasitárias
Endócrinas Demodicose
Hipotireoidismo Escabiose
Hiperadrenocorticismo Queiletielose
Dermatose causada por hormônio sexual Pediculose
Diabetes Mellitus Sarna otodécica

Nutricional Imunomediada/Autoimune
Dermatose responsiva à Vitamina A Complexo pênfigo
Dermatose responsiva à Zinco Lúpus eritematoso discoide
Desequilíbrio nutricional Lúpus eritematoso sistêmico

Metabólica Farmacodermia
Má absorção/Má digestão Adenite sebácea
Dermatite necrolítica superficial Neoplásica
Linfoma epiteliotrópico cutâneo
Fonte: Elaboração própria da autora.

Tratamento e prognóstico

1. Tratar causa-base e infecções secundárias. A associação de medicações


tópicas e sistêmicas irá se basear nos achados citológicos e na extensão
das lesões (Ver Quadro 2).

2. O uso de xampus antisseborreicos é uma das principais formas de


controle sintomático da seborreia. No início, o intervalo deve ser a cada 3

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UNIDADE I │ DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO

dias até a melhora das afecções cutâneas, após isso será possível diminuir
a frequência dos banhos mediante manutenção do quadro seborreico.
(Ver capítulo de fórmulas magistrais)

3. A suplementação de ácidos graxos essenciais (Ômega 3 e 6) se mostra útil


como tratamento auxiliar, sendo recomendado uso contínuo.

4. Em quadros pruríticos, recomenda-se o uso de corticosteroide na dose


de 0,5 mg/kg a 1 mg/kg/24 horas, por cerca de 1 a 2 semanas, visando a
controlar o prurido e dar conforto ao paciente. O uso de corticosteroides
por tempo prolongado pode acarretar efeitos colaterais.

5. Pacientes com quadro de seborreia primária não devem ser acasalados,


em razão de ele ser hereditário.

6. Prognóstico de favorável a variável. O controle depende da gravidade do


quadro seborreico, por ser um quadro incurável, necessita de tratamento
ao longo da vida.

Quadro 2. Tratamento sistêmico e tópico de quadros seborreicos com infecções secundárias.

Tratamento Sistêmico Tratamento Tópico


Cefalexina 30 mg/kg/12h Clorexidine 2,5% a 3%
Amoxicilina + clavulanato de potássio Triclosan 0,5 % a 1%
Infecções Bacterianas 22mg/kg/12h
Irgasan 1%
Enrofloxacina 5mg/kg/12h
Perióxido de Benzoíla 2,5% a 5%
Cevofecina 0,1ml/kg/dose única
Itraconazol 10 mg/kg/24h Cetoconazol 2%
Cetoconazol 10 mg/kg/24h Clorexidine 2 a 4%
Infecções Fúngicas Fluconazol 5 a 20 mg/kg/12h Miconazol 2%
Terbinafina 20 a 30 mg/kg/12h Clotrimazol 1 a 2%
Sulfato de Selênio 1 – 2,5%
Fonte: Elaboração própria da autora.

Adenite sebácea

É uma dermatopatia incomum, uma doença inflamatória das glândulas sebáceas,


causando-lhes destruição. Com etiopatogenia pouco elucidada, sabe-se que ocorre
um quadro autoimune, o qual promoverá a inflamação do ducto da glândula sebácea,
com posterior atrofia e destruição dela, ocasionando um extravasamento de lipídeos
nas células. Acometem animais jovens a de meia-idade e raças predispostas como
Akita, Vizla, Poodle Standard e Samoieda, suspeitando que possa ser uma doença
hereditária.
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DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO │ UNIDADE I

Sinais clínicos
Os animais acometidos podem apresentar quadros descamativos de discretos a graves
em região dorsal, pescoço, plano nasal, orelhas e cauda. O quadro pode ser localizado,
multifocal ou generalizado. Nele, ocorre a perda dos pelos secundários, apresentando
uma pelagem hipotricótica, alopécica e oleosa. Os pelos serão visualizados sem brilho e
quebradiços, podendo ser observadas escamas aderidas ao pelame seco e emaranhado.
A pele pode apresentar-se xerótica (Figura 8).

Figura 8. Adenite Sebácea - Cão da raça Akita apresentando quadro de hipotricose com crostas e escamas em

pavilhão auricular.

Fonte: Disponível em: <ospedaleveterinariocmc.it>. Acesso em: 2 de fevereiro de 2018.

Em geral, não há prurido, porém infecções secundárias são comuns. Cães da raça
Akita podem ter quadro sistêmico, manifestando-se febril, apático e com perda de
peso concomitante. Uma característica dessa dermatopatia é a presença de cilindros
foliculares no pelo, os quais podem ser visíveis macroscopicamente (Figura 9).

Figura 9. Cilindros foliculares aderidos à haste de pelos epilados.

Fonte: Disponível em: <ospedaleveterinariocmc.it>. Acesso em: 2 de fevereiro de 2018.

21
UNIDADE I │ DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO

Diagnóstico e diagnóstico diferencial

Excluir os outros diagnósticos diferencias. (Ver Quadro 1)

O diagnóstico definitivo ocorre através do exame histopatológico. Na fase inicial,


observam-se granulomas em locais de glândula sebácea, sem envolvimento de outros
anexos. Nos casos crônicos, há a substituição das glândulas sebáceas por tecido fibroso,
além de hiperqueratose e tamponamento folicular.

Tratamento e prognóstico

1. Tratar infecções secundárias com medicações tópicas e sistêmicas.

2. Em quadros discretos, o controle pode ser efetivo, com suplementação


de ácidos graxos essenciais e xampus antisseborreicos e hidratantes, os
banhos serão mais frequentes no início da terapia, podendo ser espaçados
em fase de manutenção (Ver capítulo de fórmulas magistrais)

3. Quadros severos necessitam de uso de medicações imunossupressoras,


tais como prednisona e ciclosporina. Inicia-se com 2 mg/kg/24h V.O. de
prednisona, até a remissão das lesões, após reduzir a dose e a frequência,
mantém o animal com controle dos sintomas.

4. A ciclosporina pode ser usada de forma oral ou tópica. Na forma oral,


administra-se 5 mg/kg/12h, a duração do tratamento/manutenção será
da mesma forma que o uso da prednisona. Topicamente, pode-se fazer
a diluição da ciclosporina 0,2 a 1% besuntando todo o corpo do animal,
duas vezes na semana, até a redução dos sinais clínicos.

›› Diluição da ciclosporina sugerida:

·· 25 ml de ciclosporina + 225 ml de água estéril;

·· 400 gramas (4 cápsulas) de ciclosporina + 100 ml de óleo mineral.

5. Prognóstico de favorável a variável. O controle depende da gravidade do


quadro seborreico, por ser um quadro incurável, necessita de tratamento
ao longo da vida. Pacientes com quadro de adenite sebácea não devem
ser acasalados, em razão de ele ser hereditário.

22
DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO │ UNIDADE I

Ictiose

A ictiose é um distúrbio de queratinização congênita, em que há formação defeituosa do


estrato córneo da epiderme. Considerada rara, já foi relatada em cães e gatos. Divide-se
em epidermolítica ou não epidermolítica.

Os cães apresentam anormalidades no nascimento, podendo um ou mais filhotes da


mesma ninhada ser acometidos, acredita-se em predisposição racial em cães das raças
West Highland White Terrier, Golden Retriever, Cavalier King, Doberman Pinscher,
Jack Russel Terrier e Yorkshire Terrier.

O quadro clínico apresenta descamação generalizada, escamas aderidas firmemente


ao pelame (lâminas), alopecia, eritema, hiperqueratose em plano nasal e em região
plantar, hiperpigmentação, além de tumefação e dor em patas.

Diagnóstico e diagnóstico diferencial

O diagnóstico ocorre mediante a histopatologia da pele, com padrão lesional de


hiperqueratose ortoqueratótica, presença de hipergranulose e visualização de figuras
de mitose em queratinócitos.

O diagnóstico diferencial, por seu turno, inclui displasia epidérmica e seborreia


primária.

Tratamento e prognóstico

1. Não há tratamento específico conhecido, os tratamentos visam a controlar


a sintomatologia da doença.

2. A isotretinoína na dose de 1-3mg/kg/12h é usada para tentar normalizar


a queratinização folicular, porém se tem mostrado pouco eficaz.

3. As terapias tópicas reduzem a descamação e são realizadas através de


banhos frequentes com xampus à base de ácido salicílico, enxofre, cremes
e sprays emolientes sem enxágue. (Ver capítulo de fórmulas magistrais)

4. O prognóstico é desfavorável em virtude de o controle sintomático da


ictiose ser difícil e ela ser uma doença incurável. Animais com essa
dermatopatia não devem se reproduzir.

23
UNIDADE I │ DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO

Hiperqueratose nasodigital idiopática

Dermatopatia idiopática, caracterizada pela formação excessiva de queratina em plano


nasal e em coxins, ocorre comumente em animais idosos (Figura 10).

Figura 10. Animal idoso apresentando acúmulo excessivo de queratina em plano nasal.

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

O plano nasal e coxins podem apresentar o acúmulo de queratina seca, dura e espessa
(Figura 11). Erosões e ulcerações secundárias podem ocorrer, predispondo a infecções
bacterianas concomitantes. A hiperqueratose nos coxins pode ter um crescimento
exacerbado com formação de cornos e prejuízo ao andar do animal, causando dor e
claudicação (Figura 12).

Figura 11. Cão S.R.D. idoso com acúmulo de queratina seca e início de erosão.

Fonte: ELLWANGER, 2018.

24
DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO │ UNIDADE I

Figura 12. Cão com hiperqueratose de coxins, queixa de claudicação e formação de cornos.

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

Algumas raças são mais predispostas a essa hiperqueratose, tais como Cocker Spaniel,
Beagle, Basset Hound, Labrador Retriever e Bulldog Inglês (Figura 13)

Figura 13. Cão mestiço labrador com hiperqueratose nasal idiopática.

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

Diagnóstico e diagnóstico diferencial

O diagnóstico baseia-se em histórico clínico, idade, raça e sinais clínicos, além da


exclusão de todos os diagnósticos diferenciais.

Os diagnósticos diferenciais incluem: cinomose, dermatose responsiva ao zinco,


dermatite necrolítica superficial, pênfigo foliáceo, lúpus eritematoso discoide, lúpus
eritematoso sistêmico e leishmaniose.

O exame histopatológico pode ser uma ferramenta auxiliar na exclusão dos diagnósticos
diferenciais. Ele poderá apresentar padrão lesional com hiperplasia epidérmica com
hiperqueratose ortoqueratótica ou paraqueratótica.

25
UNIDADE I │ DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO

Tratamento e prognóstico

1. Gel e pomadas umectantes e hidratantes à base de ureia.

2. Gel de petróleo (Glicerina).

3. Em fissuras e ulcerações, combinação de unguento de antibiótico com


glicocorticoide, a cada 8h-12h. A duração do tratamento e a frequência
serão conforme a gravidade do caso.

4. O prognóstico é bom, apesar de ser incurável, é apenas um problema


estético que, com o tratamento, possui melhora.

Dermatose marginal da orelha em cães

É um distúrbio seborreico idiopático que ocorre nas bordas das orelhas de cães que
possuem orelhas pendulares. O Dachshund apresenta predisposição racial para esse
quadro seborreico. A doença pode progredir levando a quadro típico de vasculite
(Figura 14)

Figura 14. Progressão da doença em um quadro de vasculite, com a perda de coloração e pelame em ponta

de orelha de um cão da raça Dacshund.

Fonte: TONELLI, 2012.

Sinais clínicos

Ocorre o acúmulo de material oleoso e de escamas nas bordas dos pavilhões auriculares.
Com a cronicidade do quadro, as bordas se apresentarão alopécicas e crostosas, podendo

26
DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO │ UNIDADE I

evoluir para quadros de fissuras e úlceras, que, no ato do balançar as orelhas, podem
causar dor e sangramento. As lesões limitam-se ao pavilhão auricular (Figura 15).

Figura 15. Dachshund com borda de orelha com áreas alopécicas, com hipotricose e descamação.

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

Diagnóstico e diagnóstico diferencial

O diagnóstico muitas vezes é clínico, a partir da exclusão dos diagnósticos diferenciais.


Baseia-se na raça e no padrão lesional. O exame histopatológico evidenciará queratose
folicular, hiperqueratose ortoqueratótica ou paraqueratótica marcante.

Os diagnósticos diferenciais incluem sarna sarcóptica, vasculite, farmacodermia e


demais causas de seborreias secundárias (Ver Quadro 1).

Tratamento e prognóstico

1. Remoção mecânica do material acumulado nas bordas dos pavilhões,


com xampus à base de enxofre, ácido salicílico ou perióxido de benzoíla, e
aplicação de produtos umectantes. A duração e frequência do tratamento
dependerão do controle e desaparecimento das lesões.

2. Em casos com muita hiperqueratose, podem-se realizar compressas


úmidas, com água quente, favorecendo a retirada das crostas.

3. Em casos onde houver o aparecimento de erosões, podem-se utilizar


pomadas à base de glicocorticoides nos primeiros 5-10 dias, a cada 24
horas.

27
UNIDADE I │ DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO

4. A suplementação com ácidos graxos essenciais e vitamina E apresenta-se


benéfica a longa prazo, em cerca de 2 a 3 meses de tratamento.

5. Em casos nos quais um quadro de vasculite instalou-se, o uso de


pentoxifilina 2mg/kg/12h concomitante se mostrou eficaz.

6. O prognóstico é variável e dependerá da gravidade do quadro. A doença


não tem cura, apenas controle dos sinais clínicos.

Dermatite necrolítica superficial (NEM)

Também conhecida como síndrome hepatocutânea ou eritema migratório necrolítico


superficial, é uma doença cutânea associada a doenças sistêmicas, tais como doença
hepática crônica (hepatite, neoplasia e cirrose) ou tumores pancreáticos sintetizadores
de glucagon. Além disso, medicações já foram associadas a esse quadro, entre elas
fármacos antiepilépticos, como a fenitoína e o fenobarbital, e a infecções causadas por
micotoxinas.

Sua etiopatogenia não está bem elucidada, porém se acredita que, em razão da
hiperglucagonemia pelo tumor pancreático, levando a um aumento da gluconeogênese
ou ao aumento da atividade catabólica hepática de aminoácidos, acarrete a baixa
concentração de aminoácidos e depleção de proteínas na epiderme, consequentemente
causando lesões cutâneas necróticas.

Pode ser subdividida de acordo com sua causa em:

»» NEM-HS: relacionado à disfunção hepática, porém sem tumor


pancreático. Paciente com cirrose hepática, neoplasia hepática ou
hepatotoxicidade por fármacos e micotoxinas.

»» NEM-GS: associados à síndrome pancreática com secreção aumentada


de glucagon. Em geral, associado a tumor pancreático. A remoção do
tumor muitas vezes resulta na resolução das lesões cutâneas.

»» NEM-ND: presença de enzimas hepáticas aumentadas, porém sem a


confirmação de tumor pancreático associado, mas não sendo possível
descartá-lo.

Tem ocorrência rara em cães e gatos, sendo mais observada em animais idosos. Possui
predileção racial por raças pequenas como West Highland White Terrier, Scottish
Terrier, Pastor de Shetland e Cocker Spaniel.

28
DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO │ UNIDADE I

Sinais clínicos

Apresenta distribuição simétrica das lesões em região facial e podal. Áreas de atrito
podem apresentar lesões, além de regiões ventrais e mucocutâneas. Ao exame físico,
o paciente pode apresentar abdominalgia em região topográfica de fígado e pâncreas.

As lesões se caracterizam por eritema bilateral simétrico, prurido variável, descamação,


lesões crostosas, erosivas, evoluindo para úlceras em parte distal dos membros e regiões
mucocutâneas. Os coxins apresentam hiperqueratose, fissuras e úlceras, causando dor
ao caminhar. O animal terá claudicação e, com a evolução da doença cutânea, infecções
por malassezia e bactérias associadas.

Eventualmente pode apresentar sinais clínicos sistêmicos, dependendo da origem do


quadro, hepático ou pancreático.

Diagnóstico e diagnóstico diferencial

O diagnóstico se inicia com exames laboratoriais, de imagem e histopatológicos, a fim


de determinar a origem do problema.

»» No hemograma, pode-se encontrar neutrofilia e anemia normocítica


normocrômica não regenerativa. Nos bioquímicos, as enzimas hepáticas
(ALT e FA) podem estar elevadas, assim como a bilirrubina total e os
ácidos biliares. Quadros de hipoalbumenia são frequentes. Em casos
nos quais há um quadro de Diabetes Mellitus associado, pode ocorrer
hiperglicemia.

»» A ultrassonografia abdominal permitirá visualizar se há um quadro


de hepatite crônica, neoplasia hepática e neoplasia pancreática,
determinando a origem do quadro.

»» O exame histopatológico deve ser realizado tanto no órgão acometido


quanto na pele. Na pele, o padrão lesional será de hiperqueratose
paraqueratótica difusa marcante, edema inter e extracelular, camada
epidérmica com degeneração dos queratinócitos e células basais
hiperplásicas. Em casos nos quais há quadros de infecção por fungo e
bactéria, pode-se encontrar dermatite perivascular superficial.

No diagnóstico diferencial, incluem-se demodiciose, dermatofitose, complexo pênfigo,


lúpus eritematoso sistêmico, farmacodermia, dermatose responsiva ao zinco e linfoma
epiteliotrópico cutâneo.

29
UNIDADE I │ DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO

Tratamento e prognóstico

1. Tratar infecções secundárias concomitantes. (Ver Quadro 1)

2. Tratar a causa primária. Nos casos em que a causa são tumores


pancreáticos, a extirpação cirúrgica é curativa. Enquanto em casos cuja
origem é hepática, dependerá da causa o tratamento.

3. Cirrose: o tratamento consiste na administração de colchicina


0,03mg/kg/24h, para evitar a progressão da doença.

4. Hepatoxicidade: com protetores e regeneradores hepáticos.


Pode administrar:

›› S-adenosilmetionina (sAME) de 18 a 22 mg/kg/24h;

›› Silimarina de 20 a 50 mg/kg/24h;

›› Vitamina E 400UI/12h.

5. Suplementação de aminoácidos por via oral ou parenteral (em casos mais


graves) é uma alternativa que tem boa resposta, podendo ser associada
ao zinco e à gema de ovo cru.

6. Corticoideterapia com prednisona na dose de 0,5-1mg/kg pode apresentar


melhora nas lesões, porém predispõe a um agravamento da doença
sistêmica de base.

7. A terapia tópica dependerá se há infecções secundárias concomitantes,


porém a base da terapia é com xampus queratolíticos e queratoblásticos.
(Ver capítulo de fórmulas magistrais)

8. O prognóstico é desfavorável, com o quadro evoluindo para óbito ou


eutanásia meses após o diagnóstico.

30
CAPÍTULO 3
Distúrbios seborreicos e de
queratinização ligados à nutrição

Dermatose responsiva ao zinco


É um distúrbio de queratinização induzido pela deficiência de zinco. A deficiência de
zinco diminui o funcionamento das enzimas líticas e aumenta a renovação celular,
causando a descamação. Pode ser classificada em duas causas:

»» Síndrome I: menor capacidade de absorção do zinco por origem


hereditária. As raças predispostas são: Huskies Siberianos, Malamutes
e Samoieda.

»» Síndrome II: em geral, ocorre em animais jovens em rápido crescimento,


porém com alimentação pobre em zinco. Animais em dieta com alta
concentração de proteína vegetal ou com suplementação excessiva
de cálcio. Dietas com minerais como ferro e cobre que antagonizam a
absorção pelo organismo, competindo com o mesmo receptor do zinco.

Sinais clínicos
Observam-se áreas alopécicas, eritematosas com descamação em região de face,
perilabial, perioculares, mentonianas, plano nasal, pavilhão auricular e genitálias.
Podem haver placas hiperqueratóticas e crostosas em locais de pressão, como cotovelos
e joelhos, e em locais de traumatismo constante (Figura 16.A).

Figura 16. A - Paciente canino S.R.D com histórico de dieta pobre, surgimento de crostas periocular e em região

perilabial. 16.B - Após dieta de alta qualidade, apresentou remissão total das lesões.

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

31
UNIDADE I │ DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO

As lesões podem apresentar-se assimétricas, com prurido discreto a moderado, quando


há infecções secundárias por bactérias e malassezia. As lesões iniciam-se com um
eritema evoluindo para um quadro de dermatite supurativa.

O zinco atua sobre o metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas, ele é essencial


ao crescimento, ao desenvolvimento e à diferenciação celular, podendo acarretar sinais
clínicos sistêmicos, como desenvolvimento sexual anormal, emagrecimento, lesões no
trato gastrointestinal e diminuição do sistema imunológico quando se tem a falta dele.
Alguns animais apresentam depressão, anorexia e linfoadenomegalia. Em filhotes,
causa crescimento retardado.

Diagnósticos e diagnósticos diferenciais

O diagnóstico é realizado com a associação de histórico clínico, idade, nutrição,


exclusão dos diagnósticos diferencial e histopatológico. No histopatológico, é possível
ver paraqueratose folicular e epidérmica difusa associada à dermatite perivascular
superficial, espongiose e infecções secundárias.

Os diagnósticos diferenciais incluem seborreia primária, dermatopatias autoimunes e


causas de seborreia secundária. (Ver Quadro 1)

Tratamento e prognóstico

1. Controlar as infecções secundárias fúngicas e bacterianas. (Ver


Quadro 2)

2. A animais com deficiência nutricional de zinco, devido à dieta, deve-se


fornecer uma dieta de alta qualidade. A melhora das lesões ocorrerá de 2
a 6 semanas após a modificação da dieta (Figura 16.B).

3. Animais com deficiência de absorção de zinco devem ser suplementados


com sulfato de zinco de 2 a 3 mg/kg/24h, com melhora em seis semanas,
sempre associado ao alimento para aumentar a biodisponibilidade e
diminuir os efeitos gastrointestinais.

4. A animais em que a dose sugerida de zinco não seja suficiente, é possível


oferecer uma alimentação associada aos ácidos graxos essenciais ou
glicocorticoides em baixa dose, pois aumentam a absorção de zinco.

5. Tratamentos tópicos com xampus antisseborreicos e umectantes ajudam


a diminuir as lesões.

32
DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO │ UNIDADE I

6. Fêmeas não castradas devem ser castradas, pois os hormônios femininos


competem pelo mesmo receptor de zinco, além do estro agravar o quadro.

7. Risco de intoxicação pode ocorrer, levando a quadros similares ao início


das lesões, com a presença de lesões cutâneas, anorexia e depressão.
Por isso, a mensuração dos níveis séricos de zinco deve ser monitorada.

8. O prognóstico é favorável, porém animais com deficiência de absorção de


zinco, devido à predisposição racial, podem necessitar de suplementação
por toda a vida.

Dermatose responsiva à vitamina A

É um distúrbio de queratinização ainda não muito bem elucidado, que responde


bem à suplementação de altas doses de vitamina A. Caracteriza-se por defeitos de
queratinização primários, em virtude de a função da vitamina A estar relacionada à
diferenciação dos tecidos que sofrem divisão e renovação celulares constantes ou
rápidas, como é o caso do tegumento.

Sugere-se que a causa da deficiência de vitamina A não é sistêmica, mas sim local, devido
a uma deficiência das células da epiderme em absorver a vitamina A ou a distúrbio na
sua utilização. Rara em cães, acomete cães jovens entre 2 e 3 anos e tem prevalência
sobre as raças Cocker Spaniel, Labrador e Schnauzer miniatura.

Sinais clínicos

As lesões acometem mais as regiões ventral e lateral do tórax e abdômen, podendo


envolver pescoço e face, com pelame seco e opaco que se destaca com facilidade.
Clinicamente são visualizadas placas hiperqueratóticas, alopécicas, circunscritas ou
multifocais, com prurido discreto a moderado. Cilindros foliculares são comumente
observados. O animal pode apresentar xerose com descamação generalizada,
predispondo a foliculites bacterianas e tornando o quadro pruriginoso.

O quadro cutâneo pode estar acompanhado de quadros otológicos simultaneamente


com a presença de otite ceruminosa e quadro sistêmico de emagrecimento.

Diagnóstico e diagnóstico diferenciais

O diagnóstico é clínico através da suplementação de vitamina A com boa resposta.


A exclusão dos diferenciais deve ser realizada e, no histopatológico, será visualizado

33
UNIDADE I │ DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO

hiperqueratose ortoqueratótica folicular desproporcional severa com mínima


hiperqueratose epidérmica.

Os diagnósticos diferenciais incluem: seborreia primária, adenite sebácea, dermatose


responsiva ao zinco e causas de seborreia secundária. (Ver Quadro 1)

Tratamento e prognóstico

1. Administração de Vitamina A na dose de 800-1.200 UI/kg/SID, sempre


junto com alimento gorduroso.

2. Uso tópico frequente de xampus antisseborreicos e emolientes, até o


controle das lesões cutâneas. A partir do controle, a frequência pode ser
reduzida.

3. A melhora é constatada dentro de 4 a 6 semanas, e a regressão completa


dos sinais clínicos é obtida em até 10 semanas.

4. Prognóstico bom, porém é necessária a suplementação por toda a vida,


para manutenção da remissão da sintomatologia dermatológica.

34
CAPÍTULO 4
Distúrbios seborreicos e de
queratinização em felinos

Acne em felinos
Comum em gatos, a acne é um distúrbio idiopático de queratinização folicular e
hiperplasia glandular. Não há predisposição racial ou etária, contudo o quadro costuma
iniciar em felinos adultos e idosos.

Sua etiopatogenia ainda não está bem elucidada, havendo causas multifatoriais, tais
como alteração do ciclo de crescimento do pelo, hábito de higienização diminuído,
estresse, produção sebácea anormal, imunossupressão e infecção viral crônica
concomitante. A natureza cíclica da doença pode estar associada à inabilidade do novo
pelo anágeno de expulsar os plugues queratossebáceos.

Sinais clínicos
Clinicamente são observados comedos e crostas em região mentoniana e perilabial
inferior com a presença de pápulas, pústulas e raramente furunculose e celulite (Figura
17.A e 17.B). Em geral, apresenta-se assintomática.

Quando ocorre a ruptura do folículo piloso, pode haver infecções secundárias por
bactérias e malassezia, evoluindo para o agravamento da lesão, em que a região
acometida pode apresentar edema, espessamento e prurido.

Figura 17. A - Observam-se comedos e crostas em região mentoniana. 17.B - Presença de pápulas e foliculite em

um quadro mais grave.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

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UNIDADE I │ DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO

Diagnóstico e diagnóstico diferenciais

O diagnóstico baseia-se em histórico, sinais clínicos e exclusão dos diagnósticos


diferenciais. No histopatológico, nota-se tamponamento e dilatação folicular, queratose
e, na presença de infecções secundárias, hiperplasia glandular perifolicular, furunculose
ou celulite.

Os diagnósticos diferenciais incluem demodiciose, malassesiose, dermatofitose e doenças


alérgicas, tais quais dermatite alérgica à picada de ectoparasitas, hipersensibilidade
alimentar e dermatite atópica.

Tratamento e prognóstico

1. Em casos de infecções secundárias graves, deve-se utilizar antibiótico


sistêmico durante duas a três semanas. (Ver Quadro 2)

2. Em infecções de leves a moderadas, o uso de pomadas à base de


mupirocina se mostrou eficaz, podendo ser substituída por clindamicina,
eritromicina ou tetraciclina.

3. Realizar limpeza e remoção de pelos da região acometida para melhor


absorção da terapia tópica.

4. A terapia tópica pode ser com pomadas e géis à base de perióxido de


benzoíla, enxofre e ácido salicílico, em dias alternados, até a remissão da
lesão.

5. O prognóstico é bom, porém muitas vezes a terapia tópica se faz necessária


por toda a vida.

Hiperplasia da glândula da cauda (Stud Tail)

Popularmente conhecida como “cauda de garanhão”, é um distúrbio seborreico


associado à hiperplasia das glândulas sebáceas na área glandular da cauda (cães e
gatos) ou nas glândulas hepatoides na região perineal (cães). Em cães, ocorre por causas
secundárias de seborreia. Enquanto em gatos a doença é idiopática e predisposta em
machos inteiros e de pelagem longa, por distúrbio hormonal, com produção excessiva
de andrógenos.

Quando a glândula sebácea produz secreções em excesso, ocorre um acúmulo de


secreção gordurosa na região, levando à oleosidade excessiva e ao emaranhamento dos
pelos da região caudal do felino, pode ser chamada de seborreia do órgão supracaudal.

36
DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO │ UNIDADE I

Essa alteração é classificada como um defeito da queratinização, compreendendo


anormalidades congênitas ou adquiridas no processo de formação da epiderme e
resultando em descamação excessiva da pele ou produção de secreção sebácea, o que
pode formar um engorduramento da região acometida.

Sinais clínicos

As lesões são observadas mais comumente em gatos da raça persa, siameses e rex, os
quais apresentam predisposição para a hiperplasia da glândula da cauda felina.

Observa-se uma área linear de pelos emaranhados ou alopecia no dorso da cauda,


com acúmulo de resíduos sebáceos, deixando a pelagem untuosa. A área atingida
pode apresentar hiperpigmentação e escamas aderidas. Infecções secundárias podem
ocorrer. Em geral, as lesões são assintomáticas e restritas à cauda (Figura 18).

Figura 18. Felino macho inteiro com pelos emaranhados com untuosidade em dorso de cauda.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

Diagnóstico e diagnóstico diferencial

O diagnóstico baseia-se em histórico clínico, sinais clínicos, histopatológico e exclusão


dos diagnósticos diferenciais. No histopatológico, observa-se a hiperplasia das
glândulas sebáceas. No diagnóstico diferencial, estão incluídos neoplasias, demodiciose,
dermatofitose e piodermite superficial.

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UNIDADE I │ DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO

Tratamento e prognóstico

1. Em animais inteiros, a castração pode causar a regressão completa ou


parcial do quadro.

2. Em casos de infecções secundárias, tratá-las com medicação tópica ou


sistêmica (Ver Quadro 1).

3. O uso de produtos antisseborreicos tópicos localizados, associados à


escovação, minimiza os sinais dermatológicos.

4. O prognóstico é favorável, sendo esse um problema estético, não


comprometendo o bem-estar animal.

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CAPÍTULO 5
Distúrbios seborreicos e de
queratinização ligados à raça

Displasia epidérmica de cães da raça West


Highland White Terrier
Caracteriza-se por um distúrbio de queratinização grave em animais da raça West
Highland White Terrier, associado a quadro prurítico, seborreico e com lignificação da
pele. De ocorrência incomum, acomete animais ainda filhotes de 6 a 12 meses de idade.

Discute-se sobre ser um distúrbio hereditário, no qual a epiderme displásica


favorece a infecção por malassezia. Todavia, estudos recentes mostram que o quadro
displásico está associado a uma reação inflamatória ou de hipersensibilidade da pele
ao supercrescimento de malassezia, secundária a hipersensibilidade alimentar ou a
dermatite atópica canina.

Sinais clínicos
Inicia-se com untuosidade da pele e dos pelos, seguida de prurido leve, que se
intensifica com a cronicidade. Lesões eritematosas, alopécicas com presença de crostas,
hiperpigmentação e lignificação com exsudato xerótico são observadas em regiões
da face, orelhas, membros e patas e ventral. Concomitante ocorrem quadros de otite
ceruminosa descamativa, com cerúmen oleoso associado (Figura 19).

Figura 19. WHWT com alopecia em região ventral, hiperpigmentação e lignificação da pele evidenciando

cronicidade do quadro.

Fonte: Disponível em: <http://www.ronenvet.com/k9atopy/>. Acesso em: 12 de março de 2018.

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UNIDADE I │ DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO

Diagnóstico e diagnóstico diferencial

Excluem-se outros diferenciais. Como está associada à infecção por malassezia, a


citologia é uma ferramenta útil para diagnosticar leveduras e cocos.

No histopatológico, evidenciam-se hiperplasia e displasia epidérmica com dermatite


perivascular, figuras de mitose, hiperqueratose paraqueratótica, hiperqueratose
folicular e agregado de células basais epidérmicas.

Os diagnósticos diferenciais incluem: seborreia primária, ictiose, dermatites alérgicas e


causas de seborreia secundária. (Ver Quadro 1)

Tratamento e prognóstico

1. Diagnosticar a causa-base.

2. Tratar infecções secundárias. A associação de medicações tópicas e


sistêmicas se baseará nos achados citológicos e na extensão das lesões.
(Ver Quadro 2)

3. O uso de xampus antisseborreicos é uma das principais formas de controle


sintomático da seborreia. No início, o intervalo deve ser a cada três dias
até a melhora das afecções cutâneas e, após, será possível diminuir a
frequência dos banhos mediante manutenção do quadro seborreico.
(Ver capítulo de fórmulas magistrais)

4. A suplementação de ácidos graxos essenciais (Ômega 3 e 6) se mostra útil


como tratamento auxiliar, sendo recomendado uso contínuo.

5. Recomenda-se o uso de corticosteroide na dose de 1 mg/kg a 2 mg/kg/24


horas, por cerca de 1 a 2 semanas, visando a controlar o prurido e dar
conforto ao paciente. O uso de corticosteroides por tempo prolongado
pode acarretar efeitos colaterais.

6. A ciclosporina pode ser usada de forma oral, administram-se 5


mg/kg/12h, a duração do tratamento/manutenção dependerá da remissão
dos sinais clínicos. Prioriza-se a menor dose com a maior frequência, o
que é capaz de controlar os sinais clínicos.

7. Pacientes com esse quadro não devem ser acasalados, devido ao quadro
ser hereditário.

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DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO │ UNIDADE I

8. O prognóstico é variável a desfavorável. O controle depende da gravidade


do quadro e da causa-base, por ser um quadro incurável, necessita de
tratamento ao longo da vida.

Síndrome do comedão em cães da raça Schnauzer

Semelhante à acne, é um defeito de queratinização folicular, causando o acúmulo de


queratina dentro dos folículos pilosos. Ocorre em cães da raça Schnauzer miniatura.

Clinicamente, nota-se a presença de comedos, pápulas e crostas na linha média dorsal


das costas, entre as escápulas e em região sacral. Esses comedos são indolores, porém,
em caso de infecções secundárias concomitantes, pode haver prurido.

Diagnóstico e diagnóstico diferencial

O diagnóstico baseia-se em histórico clínico, raça, sinais clínicos, histopatológico e


exclusão dos diagnósticos diferenciais. No histopatológico, observa-se o folículo piloso
distendido por queratina, o infundíbulo pode estar em forma cística, aumentado pela
queratina, e, em casos de infecção bacteriana associada, é possível visualizar um quadro
de foliculite. O diagnóstico diferencial inclui demodiciose, dermatofitose e piodermite
superficial.

Tratamento e prognóstico

1. Em casos de infecções bacterianas secundárias, administrar antibiótico


sistêmico de 3 a 4 semanas.

2. Uso tópico de gel de perióxido de benzoíla 2,5%, pois o Pob faz o flusing
folicular, eliminando o excesso de queratina de dentro dos folículos.
A frequência é em dias alternados, até o controle dos comedos; em
momento posterior, é possível espaçar esse intervalo conforme a
necessidade, para manutenção dos sinais clínicos em remissão. Nessa
apresentação, relatos de toxicidade são baixos.

3. Xampus à base de alcatrão, ácido salicílico e enxofre podem ser usados


duas vezes na semana, até o controle da lesão e, após, como terapia de
manutenção.

4. O prognóstico é bom, não compromete a saúde do animal, de fácil controle


e estética, a menos que tenha infecções secundárias concomitantes.

41
UNIDADE I │ DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO

Dermatite facial idiopática do gato persa

A etiologia é desconhecida, acomete apenas a região facial. É de ocorrência rara,


acometendo felinos da raça persa, exóticos e himalaios, quando jovens. Provavelmente
de caráter hereditário. Inicia-se pelo surgimento de crostas bem aderidas aos pelos
e tegumento originário da intensa sedimentação sebácea, acometendo região facial
periocular, perioral e mentoniana.

Sinais clínicos

Visualizam-se resíduos seborreicos e de coloração preta, pelame untuoso, em região


de dobras faciais, podendo se estender às regiões perilabial e mentoniana (Figura 20).
No início, não apresentam prurido, mas, com a progressão, favorecem o supercrescimento
de malassezia, causando inflamação cutânea, prurido, eritema e secreção ocular
mucoide.

Com o agravamento do quadro, pode haver o aumento de linfonodos mandibulares


e otite ceruminosa bilateral com secreção enegrecida. O acometimento por infecções
bacterianas secundárias pode intensificar os sinais observados, principalmente o
prurido.

Figura 20. Gato da raça persa com resíduos seborreicos enegrecidos em região de dobras faciais.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

Diagnóstico e diagnóstico diferencial

O diagnóstico baseia-se em histórico clínico, sintomatologia, idade e predisposição


racial. A citologia é uma ferramenta importante no diagnóstico de infecções secundárias

42
DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO │ UNIDADE I

por malassezia. A citologia deve ser realizada tanto na região da face quanto no cerúmen
do conduto auditivo.

No histopatológico, os achados são acantose marcante, crostas superficiais, com


presença de sebo, degeneração hidrópica de células basais, hiperplasia sebácea com
infiltrados de eosinófilos, neutrófilos e mastócitos.

Diferenciais incluem dermatites parasitárias, demodiciose, dermatofitose e outras


causas de seborreia secundária. (Ver Quadro 2)

Tratamento e prognóstico

1. Tratar infecções secundárias por malassezia com antifúngico sistêmico,


cerca de 3 a 4 semanas. (Ver Quadro 1)

2. Em casos de prurido, o uso de prednisolona na dose de 1 a 3 mg/kg/24h


ajuda a controlar o quadro. Em animais irascíveis, pode ser feita aplicação
de acetato de metilprednisolona 4 mg/gato, não ultrapassando duas
aplicações ao ano, devido ao risco de efeitos colaterais graves.

3. Em casos refratários à corticoterapia, o uso da ciclosporina se mostrou


benéfico na dose de 5 a 7 mg/kg/24h.

4. O prognóstico é reservado em virtude de baixa resposta ao tratamento e


infecções secundárias de repetição. Animais com essa dermatopatia não
devem ser acasalados.

43
CAPÍTULO 6
Fórmulas magistrais no tratamento dos
distúrbios seborreicos

Fórmulas magistrais têm por definição medicamentos e produtos manipulados pelo


farmacêutico a partir de uma fórmula prescrita pelo médico/médico veterinário.
A formulação magistral diferencia-se do medicamento industrializado por ser
personalizada, isto é, específica para atender às necessidades individuais de um
paciente, tendo como consequência acerto milimétrico na terapia e resultados mais
rápidos e eficazes.

Na formulação prescrita pelo médico, especificam-se os componentes pelo nome


químico, definindo a sua concentração e estabelecendo qual a forma apropriada e
quantidade necessária para um tratamento perfeito. São interações físicas e químicas
entre os princípios ativos, excipientes e veículos.

Formulação tópica e composição


Uma formulação magistral pode ser tópica ou sistêmica. Neste momento, daremos
ênfase às formulações tópicas, mais utilizadas para controle e manutenção dos distúrbios
queratosseborreicos.

A formulação ideal é aquela que promove a limpeza do pelame e do tegumento, com


formação de espuma, que permite sua remoção facilmente, que é suave, atóxica, e que
não causa formação de cargas elétricas estáticas, ou seja, os “frizz”. Para se montar a
fórmula ideal, devem-se conhecer os princípios ativos, a extensão da lesão, a frequência
da aplicação, o tempo de permanência em contato com a pele e o comportamento do
paciente. Uma formulação tópica é composta de princípio ativo, excipiente e veículo.

»» Os princípios ativos são: antisséptico, antifúngico, antibiótico, antialérgico,


hidratante, emoliente, umectante, queratolítico, queratoblástico e
desseborreicos.

»» O veículo pode ser: spray, xampu, creme, gel, comprimido, pó,


condicionador, pomada e pour on.

»» O excipiente será a substância inerte incorporada a certos medicamentos,


para completar a massa ou o volume especificado, conhecido como q.s.p,
ou seja, quantidade suficiente para (completar o volume).

44
DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO │ UNIDADE I

O conhecimento dos tipos de lesões e, principalmente, a causa-base do quadro


queratosseborreico auxiliam na composição específica de um produto para a
sintomatologia que o animal está apresentando, permitindo uma chance maior de
sucesso na terapia e, consequentemente, uma valorização do atendimento dermatológico
especializado, em razão da individualização de cada paciente e tratamento.

Conhecendo os princípios ativos

Para hidratação, proteção e reparação da camada


epidérmica

Hidratantes – Levam água para a pele:

»» Hidroviton (1 – 5%);

»» Gérmen de trigo (0,5 – 1,5%);

»» Aminoácidos do leite (1%);

»» Vitamina E (0,1 – 0,5%);

»» Silicone volátil (2 – 5%);

»» Aveia (2 – 5%).

Umectantes – atraem água para a pele:

»» Ureia (7 – 15%);

»» Ácido lático (0,5 – 2%);

»» Propilenoglicol (2 – 10%);

»» Algas marinhas (1 – 3%).

Emolientes – retêm água na pele:

»» Extrato de aloe vera (2 – 10%);

»» Ceramidas (1 – 2%);

»» Óleo de amêndoas (1- 5%);

»» Óleo de abacate (2 – 5%);

»» Óleo de girassol e semente de uva (1-3%).

45
UNIDADE I │ DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO

Princípios antissépticos, antifúngicos e antibacterianos

»» Triclosan ou Irgasan (0,5 – 1%): ação bacteriostática, eficaz também


contra fungos e bolores, estável para combinação com outros princípios
ativos.

»» Clorexidine (2,5 – 5%): antisséptico amplamente utilizado, tem efeito


antibacteriano e, em concentrações acima de 3%, tem efeito antifúngico.
Desvantagem: componente instável, não permitindo sua associação a
muitos outros componentes, porém possui baixa toxicidade. O seu uso
prolongado causa desidratação da pele.

»» Perióxido de benzoíla (2,5 – 5%): tem ação antibacteriana, antipruriginosa


leve, realiza o flushing folicular, desengordurante, queratolítico, porém
instável e ressecante. Não recomenda-se sua utilização em pele inflamada
e exsudativa, devido seu efeito ressecante a abrasivo pode piorar a
inflamação da pele.

»» Miconazol e Cetoconazol (2 – 3%): efeito antifúngico, de fácil


disponibilidade, baixo custo e estável quando associado a outras
substâncias.

»» Terbinafina 1%: antifúngico, baixo efeito colateral e versatilidade de


administração.

»» Antibióticos: podem ser associados a xampus, sprays, mousses, géis e


pomadas:

›› Clindamicina (2 – 3%);

›› Eritromicina (2 – 3%);

›› Neomicina (0,5 - 1%);

›› Ciprofloxacino (0,2 - 0,35%);

›› Tobramicina (0,3%).

Princípios queratolíticos e queratoblásticos

Os produtos queratolíticos lisam os queratinócitos, atuam na camada córnea


removendo o estrato córneo e melhorando a epidermopoiese. Enquanto produtos

46
DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO │ UNIDADE I

queratoplásticos atuam na camada basal, diminuindo a mitose das células da camada


basal e normalizando a queratinização.

»» Alcatrão (2 – 4%): ação queratoplástica e queratolítica, efeito


desengordurante leve, antipruriginoso, porém tem um dor desagradável,
ficando como terceira opção de escolha. Não utilizar em felinos.

»» Enxofre (2 – 6%): ação queratolítica e queratoplástica, antibacteriana


e antifúngica, leve ação desengordurante. Possui efeito acaricida na
concentração de 5%. Possui sinergismo com ácido salicílico, devem ser
associados sempre com porcentagens iguais. Vantagem de ser barato e
seguro.

»» Ácido salicílico (1% – 6%): ação queratolítica na concentração de 3 –


6% e ação queratoblástica na concentração de 1 – 2%, bacteriostático e
antipruriginoso leve, efeito antixerótico. Bastante estável, tem sinergismo
com enxofre, alcatrão, triclosan e sulfato de selênio. Não interage com
clorexidine.

»» Sulfeto de selênio (1 – 2,5%): o preferido e mais usado, tem ação


queratolítica e queratoblástica, desengordurante eficiente nas seborreias
e malasseziose. Altera o tempo de renovação celular, diminuindo a
escamação. É contraindicada sua utilização em região de face e genitais e
proibido seu uso em felinos.

»» Brometo de cetrimônio (17,5%): cetrimida, antisséptico e desengordurante.


Recomendado em casos de quadros seborreicos refratários.

Sugestões de fórmulas magistrais

Xampus para distúrbios seborreicos associados a


infecções secundárias bacterianas e fúngicas

FÓRMULA 1

»» Triclosan 1%;

»» Ácido salicílico 2,5%;

»» Enxofre 2,5%;

»» Hidroviton 3%;

47
UNIDADE I │ DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO

»» Aloe Vera 5%;

»» Ureia 7%;

»» Xampu à base de q.s.p 100 ml.

FÓRMULA 2

»» PoB 2,5 – 5%;

»» Hidroviton 3%;

»» Aloe Vera 5%;

»» Ureia 7%;

»» Xampu à base de q.s.p 100 ml.

FÓRMULA 3

»» PoB – 2,5 – 5%;

»» Clindamicina/ Eritromicina 2 – 3%;

»» Hidroviton 1 – 3%;

»» Xampu à base de q.s.p 100 ml.

FÓRMULA 4

»» Clorexidine 2,5 – 3%;

»» Miconazol 2,5 – 3%;

»» Ureia 7%;

»» Xampu à base de q.s.p 100 ml.

FÓRMULA 5

»» Clorexidine 3%;

»» Hidroviton 3%;

»» Ureia 7%.

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DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO │ UNIDADE I

Fórmulas magistrais para calos de apoio, hiperqueratose


nasal e dermatose marginal da orelha

FÓRMULA 1

»» Ceramidas 2%;

»» Ácido salicílico 3%

»» Ureia 10%;

»» Alfa bisabolol 3%;

»» Loção Lanette q.s.p.

FÓRMULA 2

»» Ácido salicílico 3%;

»» Ureia 10%;

»» Óleo de andiroba 3%;

»» Creme lanette q.s.p.

Fórmulas magistrais para acne e piodermites localizadas

FÓRMULA 1

»» Mupirocina 2%;

»» Óleo de lemongrans 0,5 – 2%;

»» Gel creme q.s.p.

FÓRMULA 2

»» Perióxido de benzoíla 2,5%;

»» Clindamicina/Eritromicina 2 - 3%;

»» Hidroviton 3%;

»» Gel creme qsp.

Fórmulas comerciais em xampus

»» Clorexidine e Miconazol: Hexadene®, Cloresten®, Micodine®,


Clorexiderm®.

49
UNIDADE I │ DISTÚRBIOS SEBORREICOS E DESQUERATINIZAÇÃO

»» Perióxido de benzoíla: Perosydex®, Perosyderme®, Sanadog®,


Peroxyl®.

»» Alcatrão: Sebolityc®, Sebotrat O®.

»» Ácido salicílico e enxofre: Sebotrat S®, Sebolityc®.

Figura 21. Algoritmo para escolha da terapia tópica em distúrbios seborreicos.

Fonte: Elaboração da autora.

50
DOENÇAS DOS
CONDUTOS Unidade iI
AUDITIVOS

A otite é uma apresentação comum na rotina clínica veterinária, sendo observado seu
quadro isolado ou associado a quadros dermatológicos. Para um diagnóstico correto
e tratamento eficiente, o conhecimento da anatomia do conduto auditivo, dos fatores
predisponentes, perpetuantes e dos exames complementares se fazem necessários.
Nesta unidade, iremos fazer uma rápida revisão da anatomia e fisiologia dos condutos
auditivos, lembrar as principais causas-base de otites em cães e gatos e os exames
complementares que podem guiar nosso diagnóstico e permitir terapias acertadas.

CAPÍTULO 1
Anatomia e fisiologia dos condutos
auditivos

Anatomia e composição dos condutos


auditivos
Os condutos auditivos são compostos, basicamente, de pavilhão auricular, orelha
externa, orelha média e orelha interna. Os quadros mais rotineiros são os de otite
externa, porém, quando diagnosticadas e tratadas da maneira correta, podem evoluir
para quadros mais internos e, consequentemente, mais graves.

O pavilhão auricular pode ter posições e tamanhos variados dependendo da raça do


animal, sendo eretos ou pendulares. O pavilhão auricular tem a função de localizar e
coletar as ondas sonoras, transmitindo-as para a membrana timpânica e possibilitando
a formação do som. Tanto o pavilhão auricular quanto a orelha externa são compostos
de cartilagens (Figura 22).

51
UNIDADE II │ DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS

Figura 22. Características anatômicas do pavilhão auricular de um cão.

Fonte: GOTTHELF, 2007.

Na entrada da orelha externa, é possível observar pelos em algumas raças. Esses pelos
não devem ser arrancados, pois têm a função de proteger a entrada do conduto auditivo.
Caso estejam acumulando muita secreção, deve-se apenas cortá-los, o arranchamento
permite a criação de uma porta de entrada para infecções. A orelha externa consiste em
um canal vertical, que varia de 5 a 10 cm, conforme a raça e a idade do animal, e em
um canal horizontal de, aproximadamente, 2,5 cm. Por serem compostos de cartilagem
elástica, durante a otoscopia, é possível avaliar ambos os canais (Figura 23).

Figura 23. Desenho esquematizando a anatomia do conduto auditivo de cães e gatos.

Fonte: GOTTHELF, 2007.

Para sua proteção, os canais verticais e horizontais são revestidos de glândulas sebáceas
e ceruminosas, as quais, juntas, produzem o cerúmen. O cerúmen, por sua vez, protege
o conduto contra a entrada de objetos estranhos e mantém a membrana timpânica
sempre úmida.

52
DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS │ UNIDADE II

A membrana timpânica limita a orelha externa da orelha média, é uma fina camada
membranosa e opaca. É dividida em duas porções: a pars flácida, porção superior e
menor, frouxa e opaca, e a pars tensa, porção mais larga, brilhante, fina e rígida.

Figura 24. Imagem da membrana timpânica íntegra A: pars flácida, B: pars tensa, C: manúbrio do martelo.

Fonte: Disponivel em: <http://www.geac.ufv.br/Otiteexternaemcaesegatos.pdf>. Acesso em: 10 de fevereiro de 2018.

O ouvido médio consiste na parte óssea da bulha timpânica. A tuba auditiva, por seu
turno, tem aproximadamente de 8 a 10 mm de profundidade e é constituída pelos
ossículos – martelo, bigorna e estribo. Esses ossículos são móveis e se conectam à
janela vestibular, permitindo a propagação e amplificação do som. A tuba auditiva se
abre na nasofaringe e iguala a pressão de ar em ambos os condutos auditivos, em sua
continuidade abriga o vestíbulo que está conectado à cóclea, iniciando a orelha interna
(Figura 25).

Figura 25. Desenho exemplificando o ouvido médio e seus componentes.

Fonte: Disponível em < http://pt-br.infomedica.wikia.com/wiki/Fisiologia_da_Audi%C3%A7%C3%A3o>. Acesso 12 de março de


2018.

53
UNIDADE II │ DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS

A orelha interna é constituída por vestíbulo, cóclea e canais semicirculares, tem a


função de receber as ondas sonoras, gerar o som e manter o equilíbrio. Está localizada
na porção petrosa do osso temporal, intimamente associada ao nervo facial e ao oitavo
nervo craniano (Figura 26).

Figura 26. Desenho exemplificando a orelha interna e seus constituintes.

Fonte: Disponível em: <http://pt-br.infomedica.wikia.com/wiki/Fisiologia_da_Audi%C3%A7%C3%A3o>. Acesso 12 de março de


2018

Fisiologia dos condutos aditivos

Conhecer a fisiologia e o funcionamento de cada componente do conduto auditivo


é importante para que se possa compreender os sinais clínicos e a apresentação dos
quadros de otite.

Pavilhão e orelha externa

O suprimento de sangue da orelha externa é realizado pelos ramos da artéria


carótida externa, que, além de nutrir os tecidos do conduto auditivo e do pavilhão
auricular, também possuem função termorreguladora. Por ser uma área amplamente
vascularizada, quadros em que o paciente apresente meneios cefálicos e muito prurido
otológico podem evoluir para hemorragias dentro da cartilagem, como é o caso dos
otohematomas, havendo necessidade de intervenção cirúrgica muitas vezes.

A inervação do pavilhão auricular e do conduto auditivo é através dos nervos trigêmeo,


facial, vago e segundo cervical. Por ter inervação pelo nervo vago, quadros de otite
podem estimular o vômito.

54
DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS │ UNIDADE II

Membrana timpânica

A pars flácida tem rico suprimento sanguíneo, podendo cicatrizar rapidamente


quando lesionada. Enquanto a pars tensa tem uma cicatrização mais demorada.
Essa característica deve ser levada em conta nos procedimentos de meringotomia,
preferindo que a ruptura de membrana seja realizada na pars flácida, acelerando o
processo de recuperação da membrana.

Orelha média

A orelha média possui íntima ligação com o nervo facial e o canal carotídeo, que leva o
nervo simpático pós-ganglionar do ouvido médio até os olhos, além de ser acompanhada
por um ramo do nervo glossofaríngeo, ou seja, quadros nos quais o paciente tenha otite
média o sinal clínico encontrado pode ter alterações compatíveis com lesão em nervo
simpático pós-ganglionar, como é o caso da síndrome de Horner, principalmente em
gatos. A síndrome de Horner consiste em ptose palpebral, miose, enoftalmia e prolapso
da terceira pálpebra.

Infecções crônicas em orelha média que acabam comprometendo o nervo facial e


adjacentes resultam em sinais clínicos, como blefaroespasmos, inclinação de cabeça,
inclinação dos olhos e paralisia dos músculos bucais, além de provocar dor na cavidade
da orelha média, a qual se exacerba sobre pressão dos dígitos no exame físico.

O conhecimento da orelha média permite a percepção de um possível quadro de otite


média em quadros nos quais o paciente não apresenta otite externa, porém tem dor na
pressão do conduto auditivo médio e sinais clínicos compatíveis com otite média.

Orelha interna

Como já mencionado, existe uma ligação entre a orelha interna e os nervos faciais e o
vestibulococlear, quando a infecção atinge a orelha interna, esses nervos são acometidos
simultaneamente. Além de comprometer a função do vestíbulo e da cóclea, lembrando
que a cóclea é preenchida pelo fluido cérebro-espinhal, continuado pela perilinfa, a
qual pode carrear a infecção para as meninges, evoluindo para um caso de meningite.

Infecções crônicas quando atingem o vestíbulo e a cóclea podem comprometer o


equilíbrio e a audição do animal. Clinicamente, o animal apresentará quadros de doença
vestibular como ataxia, andar em círculos, inclinação de cabeça, estrabismo e nistagmo.
Além disso, a cóclea possui células especializadas, as células pilosas sensoriais, que

55
UNIDADE II │ DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS

permitem que as vibrações sonoras sejam transmitidas ao cérebro, gerando o som,


lesões nessas células levam à perda parcial da audição ou surdez.

Nota: a surdez congênita pode estar ligada a defeito no ouvido interno (danos
nas células pilosas e estruturas cocleares) ou a lesão no centro auditivo-cerebral.
A deficiência auditiva pode ser congênita, causada por doença crônica, por ototoxicidade
ou envelhecimento natural das estruturas.

56
CAPÍTULO 2
Anamnese, exame físico e exames
complementares dos condutos
auditivos

Anamnese
Como em todo caso clínico, a anamnese fornece informações de relevância para o
diagnóstico do quadro, por isso deve ser feita com calma e extrair do proprietário um
histórico detalhado. Alguns pontos são importantes ser estabelecidos como:

»» Idade de início dos primeiros sintomas otológicos?

»» O quadro é sazonal ou perene? Algum fato precedeu o aparecimento do


quadro?

»» Há acometimento dermatológico concomitante?

»» O quadro é agudo, crônico ou recorrente?

»» O padrão da otite se mantém o mesmo ou apresenta quadros distintos?


Tem dor?

»» Animal toma banho em pet ou em casa, qual frequência e quais produtos


usados?

»» É realizada limpeza otológica com qual frequência? Como?

»» Animal tem dificuldade em mastigação ou balançar de cabeça excessiva?

»» Qual alimentação é oferecida ao animal?

»» Contactantes assintomáticos?

»» Quais tratamentos já foram realizados? Funcionou?

Exame físico otológico

O exame físico deve sempre avaliar o animal como um todo a fim de levar a informações
que contribuam para achar a causa-base da otite. O exame físico otológico compreende

57
UNIDADE II │ DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS

a análise do pavilhão auricular e do conduto externo (canal vertical e horizontal).


É importante que o clínico veterinário conheça um conduto externo saudável para
que pequenas alterações nele não passem despercebidas aos seus olhos. Uma dica
sempre válida é realizar a análise comparativa dos condutos, o que facilita que, se
alguma alteração ainda não conhecida for visualizada, possa ser confirmada através da
comparação entre os condutos.

O exame do pavilhão é fácil e não exige materiais específicos, basicamente


deve-se observar se há presença de crostas, hipotricose, alopecia, pústulas, hiperemia,
hiperpigmentação, lignificação, edema, hematoma, aumento de volume, temperatura,
escoriações e excesso de cerúmen.

Palpação e odor nas orelhas devem ser avaliados. É possível palpar a região de condutos
analisando quanto à espessura, se está amolecida ou fibrosada, se apresenta dor, e
palpar a região articular temporomandibular, pois animais com otite média podem
apresentar dor na palpação e pressão dessa região. Infecções de ouvido tendem a ter um
odor característico, pode-se dizer que infecções bacterianas têm um odor mais azedo e
infecções por malassezia odor rançoso, não sendo essa uma regra.

Otoscopia

Para avaliação da orelha externa, é necessário o uso de um otoscópio, o qual permita que
sejam visualizados conduto vertical, conduto horizontal e bulha timpânica (Figura 27).
O otoscópio deve ser exclusivamente veterinário, devido à diferença de comprimento
dos cones dos otoscópios veterinários para os humanos.

Figura 27. A: Forma correta para visualização de conduto externo vertical. B: Forma correta para visualização de

conduto externo horizontal.

Fonte: Disponivel em: <http://www.geac.ufv.br/Otiteexternaemcaesegatos.pdf>. Acesso 10 de fevereiro de 2018.

58
DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS │ UNIDADE II

Entre os otoscópios veterinários, existem grandes diferenciações quanto ao alcance de


luz, foco e aumento da imagem pela lente, por isso ele deve ser testado antes de sua
aquisição. Em relação à versatilidade, os otoscópios cirúrgicos, apesar de onerosos,
permitem que se realizem procedimentos como coleta de material e meringotomia,
através de sua cabeça operante, fazendo com que os procedimentos sejam realizados
com maior precisão.

Na otoscopia, o clínico veterinário deverá avaliar os condutos auditivos quanto aos


seguintes aspectos:

»» coloração do conduto: deve ser rósea e liso;

»» quantidade de cerúmen: é aceitável que haja uma pequena quantidade


de cerúmen em um conduto auditivo saudável;

»» coloração do cerúmen: enegrecidos, purulentos e amarronzados


podem evidenciar infecções, assim como cerúmen em aspecto de borra
de café sugere otite parasitária;

»» alteração de espessura: condutos com estenose, edema e formações


de “sagu” sugerem infecções alérgicas e com percurso crônico;

»» presença de estruturas proliferativas: presença de tumores, pólipos


predispõem a infecções;

»» parasitas: ácaros de Otodectes Cynotis podem ser vistos pela lente de


aumento dependendo do otoscópio;

»» excesso de pelame: algumas raças são predispostas a excesso de pelos


dentro do conduto auditivo, gerando o acúmulo de cerúmen;

»» corpo estranho: mais raro em animais, porém deve ser descartada sua
presença.

Otite unilateral versus otite bilateral

No exame físico, é importante diagnosticar se a otite é bilateral ou unilateral. Otites


unilaterais recorrentes normalmente são secundárias, há fatores primários, como
neoplasias, pólipos e quadros de otite média.

Felinos, principalmente, mas não necessariamente, têm otite externa e otite bilateral.
Chegaram ao atendimento com sinais inespecíficos neurológicos que podem ser
causados por otite média, abordaremos melhor o assunto no tópico de pólipos.

59
UNIDADE II │ DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS

Quadros de dermatopatias alérgicas podem apresentar quadros de otite externa ou otite


média unilateral. Como realizada em todo componente duplo do corpo, a avaliação dos
condutos pode ser feita por comparação, assim quadros unilaterais com alterações
ainda no início podem ser precocemente diagnosticados.

Uma vez que haja o diagnóstico de otite unilateral ou bilateral, os exames complementares
devem ser realizados para que se estabeleça a causa-base.

Exames complementares

Como já mencionado anteriormente, a causa dos quadros de otite pode ser multifatorial,
e, para que a terapia e o tratamento sejam efetivos, é necessário identificar a causa
primária e os fatores precipitantes e perpetuantes. Abaixo, serão expostos os exames
complementares necessários ao diagnóstico e à escolha do tratamento.

Exame parasitológico do cerúmen

Uma das causas primárias de otite pode ser as doenças dermatológicas parasitárias.
Seu diagnóstico é simples, por meio da observação do esfregaço do cerúmen na lâmina,
quando é possível visualizar o ácaro. O de ocorrência mais comum é o Otodectes
Cynotis (Figura 28); em animais com intensa infecção, podem ser encontrados ácaros
de Sarcoptes Scabiei, Notoedres cCati e Demodex spp.

Figura 28. Ácaro de Otodectes Cynotis visualizado por exame parasitológico do cerúmen em felino com otorreia

de coloração enegrecida.

Fonte: Elaborada pela autora (2015).

60
DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS │ UNIDADE II

Citologia do cerúmen

Entre os exames que serão mencionados, este é o que deve ser adotado como rotina
em todos os casos dermatológicos e otológicos principalmente. O ideal é que o clínico
especializado em dermatologia tenha como kit básico de atendimento otológico os
seguintes itens (Figura 29).

Figura 29. Materiais e instrumento básico para diagnósticos otológicos e dermatológicos.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

»» microscópio;

»» lâminas de vidro;

»» coloração Diiff-Quik-Panótico rápido;

»» otoscópio;

»» hastes flexíveis de algodão/swab;

»» meio stuart (Cultura).

A coleta do material deve ser realizada com um swab da parte mais profunda de ambos
os condutos auditivos externos, para evitar contaminantes, de preferência coletada
através do cone do otoscópio. Após a coleta das amostras, elas devem ser avaliadas
separadamente.

O swab contendo o cerúmen deve ser friccionado de forma leve sobre toda a extensão da
lâmina fazendo um movimento de rolamento, para que toda a amostra seja analisada.
Após esse procedimento, em razão de o cerúmen ter muita gordura, é importante que
ele seja aquecido rapidamente para que o material fixe na lâmina (Figura 30). Depois
disso, inicia-se o processo de coloração no panótico rápido, deixando a lâmina por
cerca de 30 segundos em cada coloração, ao final enxagua-se a lâmina para retirada do
excesso de corante e aguarda sua secagem para leitura.

61
UNIDADE II │ DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS

Figura 30. Exemplificando coleta de cerúmen de orelha de cão para exame de citologia.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

A leitura deve iniciar com a objetiva 4x do microscópio para se ter uma visão ampla da
lâmina e escolher a área com menos aglomerado de células. Após isso, ir aumentando
a objetiva até chegar à objetiva de 100x, na qual serão visualizadas as estruturas
leucocitárias, cocoides, bastonetes e/ou malassezias (Figuras 31 e 32).

Figura 31. Imagens no aumento de 100x evidenciando infecção por leveduras de malassezias spp, nota-se que

são estruturas semelhantes a pegadas de bota.

Fonte: Elaborada pela autora (2016).

Figura 32. Imagem no aumento de 100x evidenciando infecção por micro-organismos cocoides.

Fonte: Elaborada pela autora (2016).

62
DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS │ UNIDADE II

A avaliação deve ser feita de 5 a 10 áreas, obtendo uma média dos micro-organismos
encontrados, pois permitirá que se tenham informações se há mais micro-organismos
de bactérias ou fungos, além de determinar a gravidade do quadro e acompanhamento
da terapia através de avaliações citológicas pareadas.

A interpretação do resultado depende do conhecimento da microbiota otológica, pois


fungos e bactérias residem normalmente nessa microbiota, logo fatores primários ou
perpetuantes farão com que ocorra um supercrescimento ou uma infecção por esses
micro-organismos (Ver Tabela 1). A presença de leucócitos na citologia diferencia um
supercrescimento de infecção, portanto é algo importante a se considerar. A visualização
de bastonetes é um indicativo de infecção mais grave (Figura 33).

Figura 33. A. Imagem mostra a presença de leucócitos (neutrófilos) e malassezia em citologia de cerúmen. B:

Infecção mista por micro-organismos cocoides e bacilos.

Fonte: Elaborada pela autora (2015).

Tabela 1. Número de bactérias e leveduras encontradas por campo na citologia otológica e sua interpretação

quando normal, supercrescimento e infecção.

NORMAL SUPERCRESCIMENTO INFECÇÂO

MALASSEZIA

Cão ≤2 3-4 ≥5

Gato ≤2 3-11 ≥ 12

BACTÉRIAS

Cão ≤5 ≥ 25

Gato ≤4 ≥ 15

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

63
UNIDADE II │ DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS

Cultura bacteriana e antibiograma

O ideal seria sempre realizar um tratamento mediante cultura e antibiograma, e de


ambos os ouvidos, pois podem apresentar infecções por micro-organismos diferentes,
no entanto essa prática não é usual e encarece o tratamento. Esse exame, contudo,
deve ser adotado em todo animal com quadros de otites crônicas e, principalmente,
purulentas, e quadros de otite média, a fim de que a terapia não seja mais empírica e
tenha uma chance maior de sucesso.

Saber interpretar o resultado de exame e a escolha do laboratório de microbiologia


aumentam a chance de diagnóstico preciso, pois, assim como em qualquer exame
de cultura, pode ocorrer de crescer contaminantes, não evidenciando o real
micro-organismo causador da infecção, tendo de ser repetido o exame. Os coccus
normalmente isolados são Sthaphylococcus spp; Streptococcus e Enterococcus spp,
enquanto bastonetes são Pseudomonas spp. e Proteus spp.

Citologia de nódulo/histopatologia

Não costumam ser comuns nódulos em condutos auditivos, porém qualquer alteração
notada na otoscopia ou na palpação do conduto deve ser investigada. A biópsia aspirativa
por agulha fina é a técnica recomendada para triar o tipo de tumor encontrado e decidir
qual será o tratamento adotado, que, em geral, é cirúrgico.

A biópsia deve ser coletada através do cone, se não houver possibilidade, a massa pode
ser coletada pela área externa no conduto, porém as chances de erro no diagnóstico
aumentam. Em caso de citologia inconclusiva ou na confirmação de tumor, é realizada
a secção cirúrgica e, depois, enviado o material para análise histopatológica, com
vistas à confirmação diagnóstica, e para análise das margens cirúrgicas. As neoplasias
normalmente encontradas incluem neoplasias de glândulas ceruminosas, carcinoma
de células escamosas e carcionomas anaplásicos.

Radiografia de bulha

Método de diagnóstico pouco usado, mas útil, principalmente em pequenos centros,


para avaliação de bulha timpânica. Sempre que solicitado esse exame, devem-se solicitar
as seguintes projeções ao radiologista: vista lateral, vista oblíqua e oblíqua rostral (com
a boca aberta).

A bulha timpânica normal tem de ser circular ou oval e estar preenchida de gás, ou
seja, visivelmente radioluscente (Figura 34). Alterações que devem ser procuradas

64
DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS │ UNIDADE II

nas radiografias são em relação à espessura do conduto externo e conteúdo em bulha.


Animais com otite média em geral apresentaram bulha preenchida por conteúdo, ou
seja, uma imagem radiopaca, estreitamento ou calcificação de conduto externo devido
à cronicidade do quadro de otite externa.

Figura 34. Radiografia látero-lateral para avaliação de bulha timpânica Região destacada evidencia bulha

circular e preenchida por gás em um cão hígido.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

Fibro-otoscopia

A fibro-otoscopia permite uma visualização de todo o conduto externo e, principalmente,


da bula timpânica com exatidão. A vantagem desse método de diagnóstico é a
possibilidade de visualizar neoplasias em conduto, conteúdo em bulha, realização de
miringotomia e lavagem de condutos externos e médio, além da coleta de fragmentos
para análise histopatológica e, dependendo do tamanho do nódulo, sua ressecção.
A desvantagem desse aparelho é o custo de sua aquisição, que é elevado, e a necessidade
de anestesia geral do paciente.

Tomografia

A tomografia é uma ferramenta útil quando se tem um quadro de otites estenosantes,


neoplasias, pólipos nasofaríngeos, calcificação, osteomielites, para verificação de onde

65
UNIDADE II │ DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS

serão necessárias intervenções cirúrgicas, principalmente. A ressonância não é usual,


devido a ter baixa disponibilidade na medicina veterinária e a ser mais onerosa, porém
não se deve deixar de ser mencionada como diagnóstico complementar.

Diferentemente da radiografia, a tomografia computadorizada permite o delineamento


das doenças e o planejamento cirúrgico, mas, para avaliação de otite interna, é pouco
efetiva.

Nota: Anexo 1 com modelo de ficha otológica completa sugerida, compreendendo


anamnese, exame físico e exames complementares.

66
CAPÍTULO 3
Fatores primários, predisponentes e
perpetuantes da otite externa

Fatores primários

A causa primária das doenças de ouvido em geral são aquelas ligadas à pele, já que o
epitélio que reveste o ouvido é semelhante ao da pele, logo fungos e bactérias não são
a causa, e sim micro-organismos oportunistas, que têm supercrescimento e infecção
quando ocorre a disbiose otológica. As principais dermatopatias são dermatite atópica,
hipersensibilidade alimentar, doenças seborreicas e parasitárias (Figura 35). Corpo
estranho (pelos excessivos, carrapatos, insetos) neoplasias, pólipos e traumas também
são fatores primários de otite.

Figura 35. Otocaríase em felino Nota-se a produção característica de cerúmen enegrecido com aspecto de

borra de café.

Fonte: Elaborada pela autora (2015).

Doenças sistêmicas frequentemente podem atingir o epitélio de revestimento do canal


auditivo, como o hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo, celulite juvenil (Figura 36),
doenças autoimunes, distúrbios de queratinização e farmacodermia.

67
UNIDADE II │ DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS

Figura 36. Canino filhote, com diagnóstico de celulite juvenil apresentando pústulas, crostas melicéricas e

exsudato em orelha externa e pavilhão auricular.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

Dermatite atópica e hipersensibilidade alimentar

Doenças alérgicas de pele de maior ocorrência na rotina dermatológica geralmente


estão associadas a quadros otológicos recidivantes. Estima-se que 50 a 80% das
otites em cães estejam relacionadas à dermatite atópica, sendo esta responsável por
inflamação crônica e recorrente do epitélio dos pavilhões auriculares, fibrose e estenose
dos condutos, hiperplasia das glândulas ceruminosas e supercrescimento microbiano
de bactérias e leveduras (Figura 37).

Figura 37. Cão com dermatite atópica canina, apresentando eritema e hiperqueratose leve de pavilhão auricular.

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

Cerca de 2 a 4% dos cães alérgicos podem apresentar apenas otites recorrentes como
sinal clínico de alergia alimentar e/ou dermatite atópica. Uma anamnese completa
e investigativa conduz o clínico a essas hipóteses, por isso um quadro de otite,
principalmente quando recorrente, deve considerar doenças alérgicas como causa
primária.

68
DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS │ UNIDADE II

Fatores predisponentes

Consideram-se fatores predisponentes aqueles que acarretam alterações anatômicas e


fisiológicas do conduto auditivo, favorecendo o desenvolvimento excessivo de leveduras
e bactérias e propiciando um quadro de otite externa. São eles:

»» excesso de dobras cutâneas, orelhas pendulares, as quais aumentam a umidade e


as chances de crescimento de leveduras e fungos. As orelhas eretas, ao contrário
do que se imagina, favorecem a ventilação do conduto externo, diminuindo a
umidade e, consequentemente, inibindo o crescimento de leveduras e bactérias;

»» excesso de pelos: contribuem para o acúmulo de cerúmen no conduto auditivo,


algumas vezes esse acúmulo evolui para a formação de um tampão de cera, que
não permite que ocorra a saída do cerúmen, e predispõe a formação de otites;

»» condutos auditivos anatomicamente estreitos: diminuem a ventilação natural do


conduto, elevando a umidade. Produção excessiva de cerúmen em raças como
Cocker. Traumas induzidos por limpeza excessiva ou mordedura, obstruções por
tumores, pólipos e excesso de tecido de inflamação.

Fatores perpetuantes

Os fatores perpetuantes são aqueles que impedem uma cura da infecção e cicatrização
do conduto auditivo, são eles: limpeza excessiva com ceruminolíticos e limpadores
auriculares, tratamento inadequado da infecção, supercrescimento e posterior infecção
por bactérias e leveduras.

A limpeza com um ceruminolítico muito ácido ou a realizada em excesso acabam


causando esfoliação e irritação do conduto auditivo, predispondo a infecções.
O ideal é usar solução de limpeza apenas uma vez por semana ou quinzenal. Alguns
animais acabam apresentando uma descamação do conduto auditivo externo, além
de sensibilidade pelo uso excessivo de um ceruminolítico muito ácido, que não são
recomendados para limpeza de rotina.

Entre os fatores perpetuantes, o tratamento inadequado é o que mais ocorre, está ligada
a esse fator a escolha equivocada do antibiótico, a frequência e a duração do tratamento.
Essa falha pode ser corrigida com o auxílio de cultura e antibiograma para a escolha do
antibiótico correto e simplesmente com citologia pareada para acompanhamento da
quantidade de bactérias e leveduras por campo. Dessa forma, a terapia otológica só
será suspendida quando as quantidades dos micro-organismos estiverem em número
normal.

69
CAPÍTULO 4
Classificação da otite externa e
tratamento

Otite ceruminosa
A otite ceruminosa é caracterizada por inflamação e produção excessiva de cerúmen.
Fatores como otocaríase, seborreia, hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo,
dermatoses nutricionais, dermatoses alérgicas, tumores e excesso de pelos dentro do
conduto auditivo são responsáveis por desencadear um quadro de otite ceruminosa.
Causas iatrogênicas, como secagem incorreta dos condutos no banho, uso excessivo de
ceruminolítico e limpeza errônea do conduto auditivo com hastes flexíveis ou pinças,
compactando o cerúmen, podem evoluir para irritação e posterior otite ceruminosa
(Figura 38).

Essa produção do cerúmen favorece o supercrescimento de leveduras e bactérias,


predispondo a infecções e agravando o quadro de hiperplasia do epitélio do conduto
auditivo, podendo o quadro evoluir para uma otite hiperplásica estenosante.

Figura 38. Cão com dermatofitose crônica associado à otite ceruminosa concomitante.

Fonte: Elaborada pela autora (2015).

70
DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS │ UNIDADE II

O excesso de cerúmen ocorre devido a uma irritação crônica, pelos fatores mencionados,
das glândulas sebáceas e glândulas ceruminolitícas, resultando em dilatação, hiperplasia
e aumento da atividade glandular, produzindo, assim, mais cerúmen. Na otoscopia,
essa dilatação e hiperplasia das glândulas podem ser visualizadas em forma de “sagu”
dentro do conduto auditivo (Figura 39).

Figura 39. Imagem por vídeo-otoscopia evidencia dilatação e hiperplasia das glândulas ceruminosas, sendo

visualizada na área esbranquiçada do conduto, semelhante a “sagu”.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

Tratamento

1. Investigar causa-base.

2. Otoscopia, exame parasitológico do cerúmen e citologia. É fundamental


para definir a terapia.

3. Ceruminolítico: nas otites ceruminosas, o uso do ceruminolítico é o


principal. Se na citologia for constatado apenas supercrescimento
de micro-organismos, como leveduras e bactérias, seu uso com
anti-inflamatório esteroidal oral associado pode ser suficiente para
conter o quadro inflamatório. Importante que o ceruminolítico escolhido
seja de Ph fisiológico e não corrosivo, porque, devido à inflamação,
ceruminolíticos ácidos irão agredir o epitélio. (Ver Quadro 3)

Usar, preenchendo totalmente o conduto pelo ceruminolítico escolhido, a cada 12h ou


24h, por cinco dias. Usar sempre isolado de medicação para tratamento, nunca associar
ceruminolítico e medicação otológica logo em seguida (com exceção de otocaríase).

71
UNIDADE II │ DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS

Lembre-se: na primeira etapa, higieniza-se e reduz-se a quantidade de cerúmen (de 3 a


5 dias), após isso se inicia o tratamento.

1. Prednisona ou prednisolona oral na dose de 0,5 mg/kg a 1mg/kg 24h,


é efetiva a diminuição da inflamação. Sua frequência dependerá da
gravidade do caso, em geral, cerca de 5 a 7 dias.

2. Medicação otológica: a escolha do medicamento otológico será baseada


nas informações coletadas nos exames complementares, na presença
de cocos ou bacilos e malassezia. Sua frequência será determinada pela
citologia pareada (Quadro 4)

3. É importante lembrar que quadros de otite são dolorosos, por isso é


possível associar analgésicos, como dipirona sódica e cloridrato de
tramadol, para alívio da dor.

Quadro 3. Limpadores otológicos e ceruminolíticos comerciais e suas composições.

Ceruminolíticos e Limpadores Auriculares Composição Básica


Auritec® Ácido salicílico, ácido lático e camomila
Aurivet Clean® Ácido Lático, melaleuca, alantoína, docusato de sódio (DSS), glicerina e aloe vera
Propilenoglicol, extrato de camomila, cocoamidopropilbetaína, ácido lático e ácido
Cerumisyn®
salicílico
Clean Up Agener® Ácido lático e ácido salicílico
Clean Ears® Ácido salicílico, ácido lático e extrato de aloe vera
Trolamina, polissorbato, cloreto de sódio, composto de fenoxietanol e parabenos,
Dermogen Oto®
alantoína, extrato de aloe vera e ácido lático (ph fisiológico)
Epiotic® Ácido salicílico e ácido lático
Ácido glicirrízico, glicerina, cocoanfoacetato de sódio, extrato de própolis, óleo essencial
Limpeza Auricular Propcalm Otológico®
de menta, camomila e D-pantenol
Extrato de aloe vera, extrato de tília, saponinas vegetais, óleo essencial de lavanda,
Limp e Hidrat®
glicerina, água, propilenoglicol, metilparabeno, decilpoliglicose e EDTA
Otiflex Limpador® Dimetilsulfóxido, ácido salicílico; ácido bórico e bórax
Oto Care® Ácido salicílico e ácido lático
Ácido glicírrico, glicerina, cocoanfoacetato de sódio, óleo essencial de menta e
Oto Clean Up®
camomila, pantenol
Otodem Auriclean® Ácido salicílico, ácido lático, ácido bórico, aloe vera e calêndula
Phisio Sol. Otol. ® Polissorbato 20 trietalonamina e cloreto de sódio preserval pe (ph fisiológico)
Removedor Organnact de Cerúmen® Tintura de aloe vera, tintura de zedoária, tintura de calêndula e veículo glicerina.
Vetriderm® Propilenoglicol, alantoína, mentol e cloritrimol
Solução para limpeza de orelha good care® Alantoína, óleo vegetal de melaleuca e mentol
Ácido salicílico, cloroxilenol, docusato de sódio, EDTA dissódico, trometamina e
Surosolve®
propilenoglicol
Fonte: Elaborada pela autora (2018).

72
DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS │ UNIDADE II

Quadro 4. Produtos otológicos comerciais e suas composições.

Produtos Otológicos Comerciais Composição


Aurigen® Gentamicina, betametasona e miconazol
Auritop® Ciprofloxacina, cetoconazol, fluocinolona e lidocaína
Aurivet® Clortrimazol, gentamicina, betametasona e benzocaína
Cipro-Otic® Ciprofloxacina, clotrimazol e betametasona
Easotic® Hidrocortisona aceponato, gentamicina sulfato, miconazol
Natalene® Diazinon, pimaricina, neomicina e acetato de dexametasona
Neodexa Sol. Otol. ® Sulfato de neomicina, sulfato de polimixina B, nistatina, dexametasona
Otocanis Max® Gentamicina, clotrimazol e betametasona
Otodermin® Tiabendazol, neomicina e dexametasona
Otodex® Enrofloxacina, clotrimazol e betametasona
Otomax® Gentamicina, valerato de betametasona e clotrimazol
Otoguard® Tobramicina, cetoconazol, fosfato sódico de dexametasona e cloridrato de lidocaína
Otodem® Tiabendazol, neomicina, dexametasona e lidocaína
Otospam ® Polimixina B, neomicina e hidrocortisona
Otosyn® Tiabendazol, neomicina, acetonida de triamcinolona
Orsunia® Florfenicol, terbinafina e betametasona
Otolin® Sulfametazina sódica, ácido bórico, cloridrato de procaína e fenol cristal (USP)
Otologic® Neomicina, dexametasona e lidocaína
Oto Sana® Gentamicina, cetoconazol e betametasona
Panalog® Nistatina, tioestreptona, neomicina e triamcinolona acetonida
Posatex® Orbifloxacina, furoato de mometasona e posaconazol
Zelotril Oto® Enrofloxacina, sulfadiazina de prata e acetato de hidrocortisona e succinato sódico de hidrocortizona
Fonte: Elaborada pela autora (2018).

Otite eczematosa
É caracterizada por edema, inflamação e aumento de cerúmen. As causas são as mesmas
da otite ceruminosa, porém a grande maioria está relacionada a doenças alérgicas de
base, como hipersensibilidade alimentar e dermatite atópica (Figuras 40 e 41).

Figura 40. Cão apresentando edema e inflamação do conduto auditivo externo com excesso de cerúmen,

quadro típico de otite eczematosa. Paciente com dermatite atópica canina.

Fonte: Elaborada pela autora (2016).

73
UNIDADE II │ DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS

Figura 41. Cão com otite eczematosa, apresentando edema e inflamação do conduto auditivo externo. Paciente

com dermatite alérgica a esclarecer.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

Tratamento

1. Investigar causa-base.

2. Otoscopia e exame parasitológico do cerúmen.

3. Citologia para quantificação de micro-organismo. Essa é fundamental


para definir a terapia.

4. Ceruminolítico: escolha com Ph fisiológico que tenha substâncias


calmantes (Ver Quadro 3). Como na otite ceruminosa com
anti-inflamatório esteroidal oral associado pode ser suficiente para conter
o quadro inflamatório.

5. Prednisona ou prednisolona oral na dose de 0,5 mg/kg a 1 mg/kg 24h


são efetivos na diminuição da inflamação. Sua frequência dependerá da
gravidade do caso, em geral, cerca de 5 a 7 dias.

6. Medicação otológica: a escolha do medicamento otológico será baseada


nas informações coletadas nos exames complementares. Sua frequência
será determinada pela citologia pareada. Casos nos quais só há inflamação
sem supercrescimento de micro-organismo, o tratamento pode ser feito
com anti-inflamatórios e imunomoduladores manipulados para uso
otológico (Quadro 4).

74
DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS │ UNIDADE II

7. Em casos nos quais a suspeita da causa-base seja alérgica, deve-se iniciar


o diagnóstico de exclusão para hipersensibilidade alimentar com a
exclusão dietética por 45 dias, sempre associado ao tratamento otológico.

Animais com dermatite atópica, que estão sendo tratados com maleato de oclacitinib,
em geral apresentam resposta diminuída ao controle da otite alérgica, sendo necessário
associar terapia otológica em forma de pulsoterapia.

1. Pulsoterapia: o produto de escolha para controle da otite alérgica deve ser


feito a cada 72 horas, para diminuir a inflamação, após a fase de indução,
que, em geral, pode ser de até 15 dias. A frequência será determinada de
acordo com a manutenção dos sinais clínicos em remissão.

2. Princípio ativo para pulsoterapia sugerido: tracolimus 0,1% ou furoato de


mometasona 0,1%, ambos manipulados em pomada. Como já discutido
anteriormente, a manipulação permite que sejam feitas fórmulas
específicas para cada paciente, por isso, em casos que há malasseziose
recorrente, uma tentativa de manipular essas substâncias com
antifúngicos pode permitir um melhor resultado no controle de otites
eczematosas alérgicas com supercrescimento de leveduras.

Otite estenosante
Também chamada de otite hiperplásica, ocorre geralmente em quadros crônicos,
principalmente as otites de causa alérgica e naqueles que foram erroneamente tratados.
A principal complicação desse quadro é a impossibilidade de avaliar o conduto auditivo
externo, em virtude, muitas vezes, de a entrada do conduto estar totalmente fechada
(Figuras 42 e 43).

Figura 42. Cão da raça Pug com hiperplasia e estenose parcial importante de conduto auditivo externo. B:

Conduto auditivo hígido de um cão da mesma raça para comparação.

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

75
UNIDADE II │ DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS

Figura 43. Cão da raça Labrador, com estenose total do conduto auditivo externo, secundário a quadro crônico

de otite externa.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

Nesse tipo de otite, um diagnóstico mais investigativo é necessário, para isso conta-se
com o auxílio de radiografia de crânio para ver se há sinais de hiperplasia de conduto e
calcificação e opacidade de bula timpânica, que indicam um quadro mais grave de otite
média (Figura 44).

Figura 44. Observa estenose (seta) de conduto auditivo externo esquerdo em comparação com conduto direito

em cão com queixa de otite externa recorrente e otalgia.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

Como já mencionado, com o conduto estenosado, as chances de reverter o quadro são


menores, por isso tratamentos alternativos para tentar diminuir essa estenose e permitir

76
DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS │ UNIDADE II

o acesso ao conduto para avaliação, citologia e demais exames complementares podem


ser adotados antes que seja indicada a ablação cirúrgica dele.

Tratamento
1. Uma tentativa de diminuição da estenose do conduto pode ser a
administração de glicocorticoide oral, prednisona ou prednisolona, na
dose de 1 mg/kg a 2 mg/kg, a cada 24 horas, por até 10 dias.

2. Uso injetável de acetato de metilprednisolona (Depomedrol ou Predmedrol),


na dose de 0,2 a 0,5 ml intralesional, entre a pele e a cartilagem, em cerca
de 5 pontos de aplicação, sendo apenas uma aplicação (Figura 45). Pode
ser usado isoladamente ou associado a glicocorticoide oral

3. Ciclosporina na dose de 5 mg/kg/24h, de 30 a 40 dias, porém com efeito


reduzido.

4. Em caso de abertura de conduto, seguem-se as mesmas recomendações e


tratamento relatados na otite ceruminosa/eczematosa.

5. Otites hiperplásicas/estenosantes de base alérgica predispõem infecções


por leveduras, por isso pode-se usar produtos otológicos manipulados
apenas com antifúngicos ou antifúngicos associados a glicocorticoides.

6. Se estenose persistir, e for confirmado conteúdo em bula timpânica, o


animal deve ser encaminhado para ablação cirúrgica do conduto.

Figura 45. Aplicação intralesional de acetato de metilprednisolona como tratamento conservativo da otite
estenosante.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

77
UNIDADE II │ DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS

Otite purulenta

Como a própria classificação sugere, são os todos os quadros com exsudato purulento
associado. Geralmente, nesses casos estão envolvidas infecções bacterianas por
Staphilococcus spp e Pseudomonas spp. Por isso, recomenda-se sempre coletar
amostra do exsudato para cultura e antibiograma. Diferentemente das outras otites,
nesses quadros é obrigatório o uso de lavagem otológica e antibiótico oral para eficácia
do tratamento.

Tratamento

1. Citologia para ver se há cocos ou bacilos. Em infecções recidivantes, é


obrigatória a coleta de amostra para cultura e antibiograma.

2. Lavagem otológica: constatada a presença de secreção purulenta, a


lavagem otológica deve ser agendada. Dois dias prévios à lavagem,
recomenda-se usar ceruminolíticos com alto poder mucolítico, para que
a lavagem tenha melhor resultado. A lavagem deve ser feita com o animal
anestesiado e utilizando-se solução fisiológica morna para a limpeza.

Há duas formas de se realizar a limpeza: manualmente, com a ajuda de uma sonda


uretral e seringa de 20 ml, injetando com pressão a solução fisiológica e, após, realizando
a sucção, repetida vezes, até que o conduto esteja limpo; ou automaticamente, por meio
do aparelho Auri flush®, que já realiza lavagem e sucção, semelhante a um aspirador
cirúrgico.

1. Em caso de restrição de custos ou impossibilidade de saúde para realização


da lavagem, uma alternativa é a utilização empírica do N-acetilcisteína
injetável, na dosagem de 1,5 ml, dentro do conduto auditivo, a cada 24
horas, por 3 a 4 dias, antes de iniciar a terapia com antibióticos. Em razão
do alto poder mucolítico, é uma alternativa viável e de boa resposta para
casos em que não há possibilidade da lavagem otológica.

2. Imediatamente após a lavagem, inicia-se com a terapia medicamentosa


otológica. A escolha do antibiótico para tratamento pode basear-se na
citologia (cocus ou bacilos). (Ver Quadro 4)

3. Infecções bacterianas por bacilos e cocos gram-negativos, o uso prévio


de medicação contendo Tris-EDTA ou solução a 1% de sulfadiazina de
prata aumenta a eficácia do antibiótico escolhido. Casos multirresistentes
principalmente, pois o tris-EDTA deixa o micro-organismo sensível

78
DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS │ UNIDADE II

à penetração e à ação do antibiótico. Usa-se cinco minutos antes da


medicação. Algumas fórmulas comerciais possuem esse princípio ativo,
porém ele pode ser facilmente obtido em farmácias de manipulação.

4. É necessário associar terapia tópica e sistêmica em casos de otite


purulenta, mas não é preciso que sejam o mesmo princípio ativo, apenas
que ambos sejam de predileção para infecções otológicas/dermatológicas
(Ver Quadro 4).

ATENÇÃO: Ruptura de membrana pode estar associada ao quadro de otite purulenta,


em caso de suspeita de ruptura, a limpeza e o tratamento poderão somente ser feitos
com princípios não ototóxicos. (Ver capítulos 5 e 6)

79
CAPÍTULO 5
Otite média

A otite média é subdiagnosticada na rotina médica veterinária, pois, em cerca de 50%


dos casos de otites externas recorrentes, um quadro de otite média não diagnosticada
está associado. Isso faz com que tenha de ser revisto o uso dos métodos diagnósticos
nas otites.

O quadro de otite média não é diagnosticado tão facilmente como os quadros de otite
externa, porque alguns animais possuem a membrana timpânica intacta e outros não
apresentam otite externa associada, caso esse relatado principalmente em gatos.

O conhecimento da anatomia do conduto auditivo aumenta a percepção do clínico


quando há sinais neurológicos que apontam para um diagnóstico diferencial de
otite média, como é o caso de animais que apresentam trismo (dificuldade e dor na
apreensão), síndrome de Horner, inclinação de cabeça e demais doenças associadas ao
sistema vestibular.

Fisiopatogenia da otite média


A inflamação da bulha timpânica apresenta sintomatologia distinta da inflamação em
orelha externa, pois há o aumento da produção de secreção pelas células caliciformes,
além da produção de exsudato purulento devido à infecção por leveduras e bactérias.
Esse quadro purulento e secretório induz a ruptura da membrana timpânica, porém,
em alguns casos de infecções crônicas, a própria membrana timpânica cicatriza, mas o
conteúdo inflamatório infeccioso permanece dentro da bulha, resultando em uma otite
média supurativa, causando muita dor ao animal, sendo necessária, por conseguinte,
uma intervenção cirúrgica (Miringotomia).

Como já mencionado, metade dos casos de otites externas crônicas tem otite média
associada, o que, por sua vez, pode apresentar a ruptura da membrana timpânica, quadro
esse que deve ser levado em consideração principalmente em razão da ototoxicidade,
não sendo possível o uso de qualquer produto otológico. (Ver capítulo 7)

Otite média secundária em cães e otite média


primária em gatos

A ruptura da membrana timpânica é causada pela ação das enzimas proteolíticas


produzidas pelo exsudato na otite externa, que, em contato com a porção mais fina da

80
DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS │ UNIDADE II

bula timpânica, causam sua destruição por necrose. Em resumo, a otite média em cães
é causada secundariamente a otites externas crônicas, a otites externas erroneamente
tratadas e por iatrogenia através de ruptura da membrana por alta pressão durante o
procedimento de lavagem otológica.

Em gatos, a otite média pode ser primária, como resultado de infecções ascendentes
através da tuba auditiva até a orelha média, ou seja, gatos apresentam quadros de otite
média sem apresentar otite externa prévia. As principais causas de otite média primária
em gatos são os pólipos nasofaríngeos, porém patógenos virais respiratórios já foram
isolados da orelha média em gatos com otite média.

Bulha timpânica

A bulha timpânica é a principal estrutura a ser avaliada pelo exame otoscópio, contudo,
em casos nos quais não há uma iluminação adequada pelo otoscópio, ou que o conduto
externo esteja preenchido de exsudato ou estenosado, essa avaliação se torna inviável.

A anamnese e o histórico do cliente permitem que a hipótese de otite média seja


cogitada, pois casos de otite externa persistentes por mais de 45 a 60 dias evoluem
para otite média. Além disso, exames de radiografia auxiliam para determinar se há
presença de conteúdo em bulha, no entanto o exame mais fidedigno e que possibilita
um diagnóstico mais amplo e preciso são a vídeo e fibro-otoscopia. Invariavelmente,
quando há presença de conteúdo em bulha, a miringotomia é inevitável.

Tratamento

1. Miringotomia: perfuração do tímpano para drenagem de conteúdo em


bulha e posterior limpeza de bulha (Figura 46). Esse conteúdo deve ser
enviado para cultura e antibiograma.

O ideal é a realização da miringotomia através de vídeo ou fibro-otoscopia, porém


uma adaptação mais usual da técnica de miringotomia é a realização “a cegas” do
procedimento, em que o paciente recebe anestesia geral e, com a ajuda de um otoscópio
cirúrgico ou o cone de um otoscópio normal, um cateter rígido é introduzido na parte
tensa do tímpano, realizando, assim, uma perfuração e permitindo a drenagem.
O cateter pode ser substituído por sonda uretral rígida.

2. Lavagem otológica: após a miringotomia é necessária a lavagem da


orelha média. A lavagem deve ser feita apenas com solução fisiológica, ou
com solução de iodopovidona diluída até obter a coloração de “guaraná”.
O procedimento de lavagem é igual ao realizado na otite purulenta.

81
UNIDADE II │ DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS

Figura 46. A: Visualização da bulha timpânica através de vídeo-otoscopia preenchida por conteúdo purulento. B:

Aspecto da bulha timpânica após realização da miringotomia e drenagem.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

3. Após o procedimento, a citologia guiará o tratamento até que o resultado


da cultura e antibiograma fiquem prontos. Devem-se escolher apenas
princípios ativos não ototóxicos. (Ver capítulo 7)

4. Antibióticos sistêmicos e glicocorticoides devem ser associados ao


tratamento tópico.

5. O uso de analgésicos concomitantes é indicado. O retorno para avaliação


do quadro e cicatrização da bulha timpânica deve ser semanal.

6. O tratamento tópico e sistêmico da otite média é prolongado, sua duração


será determinada pelos resultados obtidos na citologia pareada.

7. A cicatrização da membrana timpânica pode ocorrer em três semanas,


estendendo-se até quatro meses após miringotomia.

82
CAPÍTULO 6
Ototoxicidade e otite interna

Definem-se como ototóxicos medicamentos seja de uso sistêmico ou otológico, os quais


causam danos à audição ou ao equilíbrio. Diferentemente da medicina veterinária,
na medicina humana, a ototoxicidade por um fármaco é rapidamente notada pela
diminuição da audição ou tonturas, enquanto na medicina veterinária a acuidade em
animais não é perceptível mediante sinais sutis, só apenas quando um dano neurológico
importante é manifestado, como surdez ou sinais vestibulares.

A grande importância em se conhecer os princípios ativos ototóxicos é evitar um


dano mais grave naqueles animais cuja membrana timpânica está rompida. A ação de
fármacos ototóxicos nas células ciliadas faz com que haja perda dessas células sensoriais
na orelha interna, tornando-se a causa primária de danos permanentes na audição e no
equilíbrio.

Princípios ativos
Com relação ao dano causado, esses danos podem ser classificados em transitórios e
permanentes. E podem causar distúrbios de audição ou de equilíbrio. No Quadro 5, estão
listas as medicações sistêmicas mais utilizadas e com os efeitos ototóxicos conhecidos.

Quadro 5. Medicações sistêmicas ototóxicas e seus efeitos adversos.

Aminoglicosídeos Cisplatina Furosemida


Perda da Audição Geralmente Permanente Geralmente Permanente Geralmente Temporária
Faixa de frequência de perda da Altas frequências, progride para Altas frequências, progride para Frequências médias
audição baixas frequências baixas frequências
Perda de células ciliadas Início na base, progride para o Início na base, progride para o ____________
ápice ápice
Alteração nas estrias vasculares Degeneração em estágios Observadas, principalmente em Efeitos temporários em células
avançados de intoxicação células intermediárias intermediárias e edema estrial
Alteração no nervo coclear Degeneração após perda de Danos no espira basal e diminuição Comprometimento temporário da
células ciliadas da função função
Efeitos adversos no equilíbrio Possivelmente severo, com alguns Não esperados Não esperados
aminoglicosídeos
Fonte: Elaboração com dados de NAOKI et al., 2012.

Em caso de ruptura timpânica, o ceruminolítico e o antibiótico para uso otológico


necessitam de ser escolhidos levando-se em consideração agentes tópicos que sejam
seguros e que não causem ototoxicidade. Em razão de existir uma gama de produtos

83
UNIDADE II │ DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS

otológicos comerciais, a composição deve sempre ser conferida e explicada para o


proprietário sobre os efeitos adversos em se utilizar outra medicação que não há
indicada.

Quadro 6. Agentes otológicos ototóxicos e não ototóxicos.

Agentes Antibióticos Antifúngicos Anti-inflamatórios Ceruminolíticos


Aminoglicosídios
(Todos)
Bacitrina
Etanol
Cloranfenicol Anfotericina B
OTOTÓXICOS Não relatados Propilenoglicol
Eritromicina Griseofulvina
Ácido Acético
Oxitetraciclina
Polimixina B
Tetraciclina
Ciprofloxacina Clotrimazol Dexametasona
NÃO OTOTÓXICOS Miristato de Isopropila
Enrofloxacina Nistatina Triancinolona
(SEGUROS) Esqualeno
Ofloxacina Tolnaftato Fluocinolona
Fonte: Elaboração da autora (2018).

NOTA: a autora recomenda o uso de Cilodex® ou Biamontol® em casos em que há


suspeita ou confirmação de ruptura de membrana timpânica.

Otite interna

A otite interna está entre as causas mais comuns de doença vestibular em cães, assim
como ocorre na otite média, sua presença está associada ao quadro de evolução da otite
média para interna. A infecção instalada em orelha média, se não tratada e diagnosticada
precocemente, pode evoluir para a orelha interna e causar danos em sistema vestibular
periférico.

Doença vestibular periférica

Saber identificar e diferenciar doença vestibular periférica de central é importante


para que a suspeita de otite interna seja considerada. Os históricos clínicos de otites
recorrentes ou não tratadas corretamente subsidiam o diagnóstico.

Os animais com doença vestibular periférica devido à otite interna costumam apresentar
paresia epsilateral do nervo facial e síndrome de Horner, inclinação de cabeça
do lado da otite e um nistagmo horizontal com direção constante que não se altera
com rotação de cabeça, diferentemente de lesão em sistema vestibular central. Para

84
DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS │ UNIDADE II

melhor compreensão do sistema vestibular, recomenda-se uma releitura do sistema


neurológico.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico será através de um exame neurológico detalhado e história clínica.


O diagnóstico por meio de exames de imagem, como radiografia e tomografia
computadorizada, pode ser utilizado para observar se há presença de conteúdo em
bulha e alteração na conformação desta, além de diagnosticar neoplasias ósseas em
ouvido médio, que pode ser a causa primária da otite interna e de quadro neurológico.

O tratamento adotado é similar ao da otite média, no entanto o uso de antibióticos orais


será prolongado, e é necessário conhecer o micro-organismo causador da infecção,
em média a terapia com antibióticos deve ser de 4 a 6 semanas. Enquanto se aguarda
o resultado da cultura e antibiograma, empiricamente se opta por drogas de amplo
espectro e boa penetrabilidade, como as cefalosporinas e sulfanamida potencializada.
Deve-se desconsiderar o uso de antibióticos ototóxicos, como os aminoglicosídeos
(Quadro 6).

85
CAPÍTULO 7
Afecções cirúrgicas dos ouvidos

Otohematoma
Também chamado de hematoma aural, ocorre quando vasos do pavilhão auricular se
rompem, acumulando sangue sob a pele. Pode ocorrer tanto em cães quanto em gatos,
entretanto em cães é mais comum (Figura 47).

Figura 47. Otohematoma em pavilhão auricular direito de cão secundário a quadro de otite externa.

Fonte: Elaboração da autora (2015).

Em geral, é secundário a quadros de otite externa por autotraumatismo, em virtude de


otalgia e de prurido otológico, ou por meneios cefálicos. No entanto, alguns animais
podem apresentar otohematoma não associado a quadros de otite, mas por fragilidade
de vasos sanguíneos, diátese hemorrágica e hipersensibilidade a picada de mosquitos.

Tratamento
1. Tratar a causa-base concomitante, pois, como mencionado, a grande
maioria é secundária a quadros de otite.

2. Em relação à resolução do otohematoma, opções de tratamento


clínico/conservativo ou cirúrgico podem ser adotadas.

3. Tratamento conservativo com a aplicação intralesional de acetato de


metilprednisolona. É drenado o conteúdo do otohematoma, depois
aplicado de 0,5 a 1 ml de acetato de metilprednisolona intralesional,
e realizada a bandagem compressiva. Após 15 dias, caso ainda tenha
resíduos de acúmulo de sangue, pode-se repetir o procedimento.

86
DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS │ UNIDADE II

Para melhores resultados, sugere-se associar ao tratamento de aplicação


tópica de tintura de arnica ou pomada de DMSO para aumentar o efeito
anti-inflamatório.

4. Tratamento cirúrgico: com anestesia geral, realiza-se tricotomia da


região de pavilhão auricular, uma incisão em S é feita no centro da
superfície côncava do pavilhão acometido. Após essa incisão, é drenado
todo o conteúdo, realizada lavagem com solução fisiológica para diminuir
quantidade de resíduos, coágulos e fibrinas, que costumam ficar aderidos
à cartilagem, e inicia-se a sutura.

A sutura é realizada com a finalidade de diminuir o espaço morto formado pelo


otohematoma, para isso são necessários captons ou stends de prolene ou nylon, os
quais serão suturados unindo-se o pavilhão interno e a cartilagem. Os captons devem
ser suturados no sentido vertical do pavilhão para não garrotear os vasos sanguíneos.
A incisão em “S” não deve ser suturada, e sim seu fechamento ocorrer por segunda
intenção, pois sua função é permitir a saída de exsudatos residuais (Figura 48).

Figura 48. Tratamento cirúrgico realizado em cão com otohematoma. A: Incisão em “S” para drenagem de

conteúdo. B: Sutura com captons e permanência da incisão aberta.

Fonte: Elaboração da autora (2015).

5. Após a finalização do procedimento, bandagem compressiva deve ser


realizada e administrados analgésicos para suporte, como dipirona
sódica e cloridrato de tramadol, anti-inflamatórios esteroidais ou não

87
UNIDADE II │ DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS

esteroidais e colar elisabetano. A troca da bandagem deve ser feita de


três em três dias. Em geral, a retirada de pontos deve ser feita em 15 dias,
o pavilhão auricular acometido em geral apresenta um bom resultado
estético pós-cirúrgico.

Neoplasias e pólipos
Tanto tumores quanto pólipos podem ocorrer em qualquer lado do conduto auditivo,
bloqueando a visualização de todo o conduto, predispondo ao acúmulo de cerúmen e,
posteriormente, a quadros de otites persistentes. Em geral, quadros de otite unilateral
persistentes têm pólipos ou neoplasias como a causa-base, isso é um alerta para um
diagnóstico preciso. Outro quadro que pode causar obstrução do canal auditivo são as
hiperplasias de glândulas ceruminosas, muito comum em gatos e cães da raça Cocker
Speniel e Labrador Retriever.

Os pólipos têm maior importância em felinos, são crescimentos não neoplásicos que
se originam na tuba auditiva, mucosa do ouvido médio e orofaringe. A origem pode
ser congênita ou adquirida após uma otite média secundária à infecção respiratória.
Em gatos com sinais de otite média, é obrigatória a inspeção da cavidade bucal e
otoscopia para procura de pólipos nasofaríngeos.

O tratamento de pólipos e hiperplasia de glândulas ceruminosas pode ser feito por meio
de avulsão, com a ajuda de otoscópio cirúrgico e pinças de apreensão; exercendo força
de tração, essas massas podem ser retiradas. Outra forma é a retirada através de excisão
e cauterização dos pólipos e hiperplasia por fibro-otoscopia.

Em quadros de neoplasias ou quadros de hiperplasia que estiverem ocluindo todo


o conduto auditivo são necessárias cirurgias de ablação de conduto, as quais serão
comentadas nos tópicos a seguir.

Figura 49 - Neoplasia em conduto auditivo vertical externo de cão após ablação cirúrgica

Fonte: Elaborada pela autora (2016).

88
DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS │ UNIDADE II

Estenose e calcificação de bulha

Em otites estenosantes em que não é possível a abertura de conduto, mesmo após


tratamentos conservativos, a única solução é a abertura do conduto para que possa ser
realizado tratamento, evitando que o quadro evolua para otite média/interna.

Em casos nos quais há calcificação de bulha por otite média crônica ou neoplasia
maligna, faz-se necessária a osteotomia de bulha com ablação total de conduto auditivo,
pois, como explicamos, a infecção migra, podendo atingir o canal interno da orelha e
evoluir para um quadro persistente de lesão neurológica ou uma meningite, que pode
ser fatal ao animal.

Colesteatoma

O colesteatoma aural é um cisto epidermoide repleto de queratina, localizado na


orelha média, preenchendo a maior parte da bulha timpânica e causando destruição
do tecido adjacente, especialmente ósseo, ocorre em animais com otite média crônica.
O colesteatoma não é uma lesão neoplásica, e sim um processo de cura da otite média.
Cães braquicefálicos podem ser predispostos ao colesteatoma congênito.

Figura 50. Desenho de orelha humana exemplificando a localização do colesteatoma, a localização em cães e

humanos é igual.

Disponível em: <www.infirmus.es/colesteatoma>. Acesso em: 8 de fevereiro 2018.

89
UNIDADE II │ DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS

O histórico de otite crônica, de dor na palpação da articulação temporomandibular e


desconforto ao abrir a boca são os achados mais comuns, podendo haver otorreia e
alterações neurológicas associadas. Em animais com estenose de conduto e com otite
persistente, deve-se suspeitar de colesteatoma, exames otológicos de imagem são
necessários.

A tomografia computadorizada é o melhor método de imagem para detecção do


colesteatoma, da extensão da doença ótica e da possível lise óssea que pode estar
presente. Se for realizada precocemente, quando o cão tem apenas sinais contínuos de
otite, o tratamento para o colesteatoma tem mais chances de ser curativo (Figura 51).
O diagnóstico definitivo do colesteatoma é confirmado por histopatológico, no qual serão
visualizados células escamosas queratinizadas, conteúdo cístico, tecido de granulação e
tecido conectivo subepitelial inflamado.

Figura 51. Tomografia evidenciando osteoproliferação, lise e expansão de bula, lise do osso temporal e aumento

de linfonodos secundário ao colesteatoma em cão.

Fonte: HARDIE, 2008.

O tratamento é cirúrgico com osteotomia da bulha e ablação da orelha, além do controle


medicamentoso da infecção. Na impossibilidade de cirurgia, anti-inflamatórios e
antibióticos podem ser usados. A recidiva é comum em quadros nos quais a doença está
avançada e em braquicefálicos, devido à dificuldade de exposição da bulha por questões
anatômicas, não sendo possível a remoção completa do tecido alterado, facilitando a
recorrência do colesteatoma.

90
DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS │ UNIDADE II

Tipos de técnicas operatórias

Cirurgias de ouvido são sempre delicadas e devem ser feitas por profissionais aptos e
treinados para tal procedimento. Em virtude de inervações passarem muito próximas à
região, há o risco eminente de lesionar nervos e de o animal ficar com lesão irreversível.
Este tópico abordará os tipos de técnicas cirúrgicas existentes e suas indicações.
No entanto, cursos teórico-práticos e muito treinamento são necessários para que se
possa realizar tais procedimentos descritos.

É importante que o dono do animal esteja ciente das implicações sistêmicas, estéticas,
e de cuidados contínuos que uma cirurgia em conduto auditivo pode acarretar, por isso
é relevante que todo o procedimento seja explicado antes da cirurgia e que as possíveis
consequências dela, como perda de audição, perda de manutenção da orelha ereta em
raças que possuem essa característica e exposição de orifício de conduto sejam expostas
aos proprietários, a fim de evitar insatisfações por parte deles.

As técnicas mais utilizadas e suas indicações são:

»» Técnica de Zepp ou aeração: indicada em casos de otites crônicas não


estenosantes, permite acesso cirúrgico ao segmento inicial do conduto
auditivo externo e uma melhor resposta à terapia.

»» Ressecção do segmento vertical da orelha externa: em casos de


otites estenosantes ou neoplasias. (Figura 52)

»» Ablação do conduto auditivo: estenoses com fibrose de conduto,


neoplasias disseminadas ou de alta malignidade.

»» Osteotomia de bulha timpânica: calcificação de bulha timpânica,


neoplasias invasivas e colesteatoma.

Figura 52. A: Pós-cirúrgico de ressecção do segmento vertical da orelha externa, em destaque a abertura direta

do canal horizontal da orelha externa. B: Imagem pós-retirada de suturas.

Fonte: Elaborada pela autora (2016).

91
UNIDADE II │ DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS

NOTA: a realização das técnicas cirúrgicas não será abordada neste capítulo em razão
de serem extensas e necessitarem de experiência e riqueza de detalhes para que possam
ser ensinadas.

Cuidados pós-operatórios devem ser adotados após uma cirurgia de ouvido, como uso
de antibióticos sistêmicos, de preferência baseados em cultura e antibiograma, por
períodos de três a quatro semanas, anti-inflamatórios e analgésicos. Compressas frias
podem ser benéficas nas primeiras 36 horas pós-cirúrgicas para diminuição do edema.

Complicações pós-cirúrgicas

É importante enfatizar que a otite deve continuar sendo tratada topicamente após a
cirurgia, para evitar persistência do quadro ou recidiva, o que tornaria o procedimento
cirúrgico inútil para resolução do problema. Entre as complicações cirúrgicas que
podem ocorrer, estão:

»» deiscência de pontos;

»» estenose pós-cirúrgica;

»» lesão coclear após curetagem dorsal de bulha timpânica;

»» síndrome de Horner transitória após osteotomia de bulha timpânica


(Figura 53);

»» paralisia de nervo facial;

»» disfunção vestibular;

»» surdez;

»» necrose avascular da pele do pavilhão auricular;

»» fistulação crônica ou abcessos periauriculares;

»» infecções persistentes;

»» salivação excessiva;

»» blefaroespasmo;

92
DOENÇAS DOS CONDUTOS AUDITIVOS │ UNIDADE II

»» queda da orelha e do lábio;

»» diminuição ou ausência da produção de lágrima;

»» alterações posturais.

Figura 53. Felino apresentando quadro de síndrome de Horner, que se caracteriza por miose, enoftalmia e

protrusão da terceira pálpebra, podendo ser ptose palpebral associada.

Disponível em: <http://www.diagnosticoveterinario.com/sindrome-de-horner/2374>. Acesso em: 12 de março de 2018.

93
DOENÇAS DOS
OLHOS, UNHAS E Unidade iII
SACOS ANAIS

Esta unidade abordará as principais dermatopatias que acometem os olhos (pálpebras e


cílios), unhas e sacos anais e a importância de incluir essas regiões no exame físico e na
inspeção do animal com queixa de quadros dermatológicos. Quando se trata de doenças de
pele em área específica, a abordagem ao paciente deve ser investigativa, compreendendo
um histórico clínico completo, deve-se optar por exames complementares assertivos
para um diagnóstico preciso. O tratamento pode ser desafiador dependendo do local
em que a lesão esteja, como na região dos olhos, onde não é qualquer medicação que
pode ser utilizada.

CAPÍTULO 1
Doença dos olhos

As pálpebras são pregas cutâneas contendo glândulas sebáceas e sudoríparas


modificadas. Doenças de pele que acometem região palpebral são preocupantes, porque
podem alterar a produção de lágrimas, além de induzir o autotraumatismo por prurido,
levando a um quadro oftalmológico concomitante.

Doenças generalizadas de pele como demodiciose, malasseziose, piodermite, doenças


autoimunes, doenças infecciosas e dermatites alérgicas podem causar quadro de
blefarite que, se não diagnosticado e tratado, podem agravar o quadro e causar danos
à visão do animal.

Blefarite
Blefarite é um quadro inflamatório das pálpebras, podendo estar associado ou não
a quadros dermatológicos concomitantes. A causa mais comum de blefarites são as
blefarites alérgicas, devido a doenças de base, como hipersensibilidade alimentar
ou dermatite atópica canina. Frequentemente, em razão de prurido, o animal se

94
DOENÇAS DOS OLHOS, UNHAS E SACOS ANAIS │ UNIDADE III

autotraumatiza, predispondo-se a infecções secundárias por bactérias e fungos e a


quadros oftálmicos, como conjuntivite e inversão ou eversão palpebral simultâneos.

O contrário também pode ocorrer, animais com lesões oftálmicas podem induzir
escoriações e alopecia periocular pelo ato repetido de esfregar os olhos, por isso,
juntamente com o exame das pálpebras, são necessários exames oftálmicos, como teste
de Schirmer e teste de fluoresceína.

Sinais clínicos

Os sinais clínicos observados são hipotricose, alopecia, eritema, escamas e crostas ao


redor do olho, prurido intenso, secreção ocular mucosa ou purulenta, edema palpebral,
escoriações, perda de pigmentação da pele ao redor da área afetada, formação de
pápulas e pústulas, produção excessiva de lágrimas, acúmulo de secreções nos cílios e
conjuntivite concorrente (Figuras 54.A e 54.B).

Figura 54. A: Paciente apresentando blefarite alérgica com malasseziose secundária. B: Paciente apresentando

blefarite a esclarecer com infecção bacteriana secundária.

Fonte: Elaborada pela autora (2014).

Diagnóstico e diagnóstico diferencial

O diagnóstico se baseia em história clínica, sinais clínicos e exclusão dos diagnósticos


diferenciais.

Exames complementares, como exame parasitológico do raspado cutâneo e citologia da


lesão, são necessários para subsidiar a causa e guiar o tratamento. Em casos nos quais o

95
UNIDADE III │ DOENÇAS DOS OLHOS, UNHAS E SACOS ANAIS

diagnóstico não seja encontrado através de raspado e citologia, o histopatológico pode


ser uma alternativa.

Os diagnósticos diferenciais incluem demodiciose, dermatofitose, celulite


juvenil, infecções virais, como rinotraqueíte e calicivírus, leishmaniose, síndrome
úveo-dermatológica, lúpus eritematoso discoide e sistêmico, dermatomiosite familiar
canina, hipersensibilidade à picada, neoplasias e comorbidades oftálmicas.

Tratamento e prognóstico

1. Identificar a causa-base e infecções secundárias através de raspado e


citologia.

2. Colar elisabetano para evitar autotraumatismo.

3. Blefarites parasitárias: podem ser usadas medicações orais de ação


sistêmica, como ivermectina, sarolaner, afoxolaner e fluralaner.

4. Casos de infecções bacterianas graves: o uso de antibiótico sistêmico se


faz necessário de 3 a 4 semanas.

5. Blefarites de causas autoimunes: terapia imunossupressora com


glicocorticoide sistêmico na dose de 1 a 2 mg/kg/24h, em cães, e de 2 a 4
mg/kg/24, em gatos, lembrando que, em felinos, apenas o prednisolona
pode ser usado.

6. Caso de infecções bacterianas leves secundárias a doenças alérgicas, o uso


de antibióticos e antifúngicos tópicos associados com glicocorticoides, a
cada 8 horas, até a resolução dos sinais clínicos. As medicações devem
ser utilizadas na forma de solução oftálmica sempre, as indicadas
são: Bacitracina, Neomicina, Polimixina, Gentamicina, Prednisona,
Betametasona e Hidrocortisona.

7. Formulações comerciais não possuem em sua composição antifúngicos,


por isso, em casos nos quais há infecções por malassezia, recomenda-se
usar formulação manipulada à base de clotrimazol 1% ou miconazol 2%
sempre em veículo pomada oftálmica.

8. O prognóstico é bom na maioria dos casos desde que seja controlada a


causa-base (Figura 55.A e 55.B).

96
DOENÇAS DOS OLHOS, UNHAS E SACOS ANAIS │ UNIDADE III

Quadro 7. Fórmulas Oftálmicas em apresentação de pomada para uso em blefarites.

Fórmula Comercial Composição


Epitezan® Retinol, Metionina, Cloranfenicol e Aminoácidos
Keravit® Gentamicina, Hidrocortisona, Vitamina A e Vitamina D
(Uso Veterinário)
Maxidex Dexametasona

Maxitrol pomada® Dexametasona, Neomicina e Polimixina B

Nepodex® Neomicina, Polimixina B e Dexametasona

Terramicina Pomada® Cloridrato de Oxitetraciclina e Sulfato de Polimixina B


Tobrex® Tobramicina

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

NOTA: sempre que for prescrever medicação para uso periocular que contenha
glicocorticoide, confirmar se o animal não apresenta úlcera de córnea.

Figura 55. A: Paciente após tratamento com pomada oftálmica à base de antifúngico e glicocorticoide com

resolução do quadro e início de repilação. B: Paciente após uma semana de tratamento com pomada oftálmica

à base de antibiótico e glicocorticoide. Note que, na pálpebra inferior direita, ainda persiste quadro de edema,

sendo necessário continuar com prolongamento da terapia.

Fonte: Elaborada pela autora (2014).

Entrópio e ectrópio

Apesar de serem quadros de tratamento cirúrgico, este capítulo abordará rapidamente


sobre os sinais clínicos, diagnóstico e tratamento das alterações anatômicas que podem
ocorrer com as pálpebras. No entrópio, ocorre a inversão ou o enrolamento da pálpebra
para dentro; o ectóprio, por sua vez, é a eversão ou o enrolamento da borda palpebral
inferior para fora.

97
UNIDADE III │ DOENÇAS DOS OLHOS, UNHAS E SACOS ANAIS

Algumas raças são predispostas a apresentar quadros de entrópio, tais como Sharpei,
Bloodhound, Basset Hound, Chow Chow, Labrador Retriever, Cocker Spaniel, Bulldog
Inglês, Pugs e São Bernardo. No ectóprio, o desenvolvimento está associado a raças
grandes e gigantes e com excesso de pele.

A importância de conhecer e diagnosticar essas patologias está em evitar que o


animal acometido sinta dor, desenvolva quadros de blefarite por autotraumatismo,
quadros oftalmológicos mais graves, como uveíte e úlcera de córnea, podendo vir a
perder a visão.

Ambas as condições têm tratamento corretivo a partir de cirurgia. Recomenda-se que,


após o diagnóstico da patologia, o quadro seja encaminhado para um médico veterinário
especializado em oftalmologia.

Epífora

Apesar de ser uma afecção oftalmológica, muitos proprietários procuram o serviço


médico veterinário devido à mancha causada pela lágrima, que torna a pelagem próxima
ao canto medial do olho escura.

A epífora ocorre quando há problemas na drenagem de lágrimas, que podem ser


obstrução do conduto nasolacrimal, alérgenos, distiquíase, triquíase, entrópio, ectrópio,
prolapso da glândula da terceira pálpebra e triquíase por pregas nasais. Sendo comuns
em raças de pequeno porte, como Poodle, Bichon Frisé, Maltês e Chihuahua.

Saber identificar o quadro e encaminhar o paciente para o serviço especializado de


oftalmologia é dever do médico veterinário dermatologista, para que a causa-base seja
diagnosticada e tratada corretamente.

Desaconselha-se o uso de produtos comerciais para a finalidade de diminuir as manchas


causadas pelo excesso de lágrima, pois seu princípio ativo é um antimicrobiano, que
não irá tratar a causa, apenas diminuir esteticamente o problema, o que, em longo
prazo, pode acarretar uma resistência bacteriana desnecessária.

Distúrbios ciliares

Os cílios podem apresentar algumas alterações que levam a sinais oftalmológicos,


esses distúrbios são classificados em cílios ectópicos, distiquíase e triquíase.
Os cílios ectópicos são pelos simples ou múltiplos, que crescem no interior da pálpebra,
causando fricção e podendo danificar a córnea e a conjuntiva. A distiquíase consiste no

98
DOENÇAS DOS OLHOS, UNHAS E SACOS ANAIS │ UNIDADE III

mau posicionamento de cílios isolados ou múltiplos da pálpebra, os quais crescem em


direção ao olho. Enquanto a triquíase ocorre com crescimento dos cílios para dentro.

Algumas raças, como Lhasa Apso, Pug, Shih-tzu, Bulldog Francês, Cocker Spaniel e
São Bernardo, são predispostas a apresentarem esses distúrbios. A fricção constante
com a córnea e conjuntiva acarretará sinais, como blefaroespasmos, lacrimejamento
excessivo, blefarite, dor e até quadros mais graves, como úlcera de córnea.

Por ser um quadro que acarreta sinais dermatológicos, como blefarite e o escurecimento
da pelagem ao redor dos olhos, são necessários conhecimentos desses quadros para que
possa ser feito o diagnóstico diferencial e encaminhado ao profissional especializado, pois
o tratamento dessas patologias é cirúrgico, com a retirada dos cílios com equipamento
correto.

Síndrome úveo-dermatológica canina

A síndrome úveo-dermatológica em cães constitui um distúrbio autoimune


caracterizado por alterações oftalmológicas, dermatológicas e, em menor frequência,
neurológicas. A etiopatogenia dessa síndrome ainda não está bem esclarecida, porém
pode haver hereditariedade e fatores imunomediados associados. Ocorre a produção
de uma resposta autoimune mediada por linfócitos T contra melanócitos e proteínas
formadoras de melanina.

De ocorrência rara, tem predileção por animais jovens adultos a meia-idade,


principalmente nos da raça Akita, entretanto já foram relatados casos em Husky
Siberianos, Samoieda, Chow Chow, Dachshund, Fox Terrier, Old English Sheepdog e
Fila Brasileiro.

Sinais clínicos

Os sinais clínicos dermatológicos comumente são alopecia, ulceração cutânea,


hiperemia, eritema e descamação na região perilabial e em focinho, leucodermia e
leucotriquia (Figura 56). Ausência de pigmentação pode ser observada em escroto,
vulva, ânus, palato duro e patas.

Os animais podem apresentar sinais oftálmicos de inflamação intraocular,


despigmentação do fundo do olho, blefaroespasmos, diminuição ou ausência do
reflexo à luz, fotofobia, uveíte anterior, hifema, conjuntivite e descolamento de retina.
O quadro oftálmico pode evoluir para glaucoma e posterior cegueira. As manifestações
neurológicas e auditivas podem ocorrer, porém com menor frequência.

99
UNIDADE III │ DOENÇAS DOS OLHOS, UNHAS E SACOS ANAIS

Figura 56. Cão apresentando leucodermia periocular, crostas e descamação em região nasal, característicos da

síndrome úveo-dermatológica.

Fonte: Disponível em: <http://www.cepov.com.br/conteudo.php?conteudo=oftalmologia&codigo_texto_oftal=19>. Acesso


em: 12 de março de 2018.

Diagnóstico e diagnóstico diferenciais

O diagnóstico é através do histórico clínico, avaliação clínica detalhada e realização de


exames específicos, incluindo testes de função ocular e avaliação histopatológica da
pele. O exame histopatológico é que determinará o diagnóstico definitivo do quadro.
No padrão histopatológico será visualizada a dermatite de interface, com o infiltrado
de grandes histiócitos, células mononucleares e plasmócitos, hiperplasia epidérmica
irregular com hiperqueratose e incontinência pigmentar, com redução do número de
melanócitos epidérmicos.

Como diagnóstico diferencial, incluem-se lúpus eritematoso, leishmaniose, vitiligo e


linfoma cutâneo.

Tratamento e prognóstico

1. Diagnóstico rápido e tratamento precoce minimizam as chances de o


quadro evoluir para cegueira.

2. Terapia imunossupressora com prednisolona na dose 1-2mg/Kg/24h,


mantidas em doses altas por, pelo menos, seis meses. Após iniciar
esquema de manutenção da droga, até que se tenha a menor dosagem em
dias alternados mantendo o quadro em remissão.

100
DOENÇAS DOS OLHOS, UNHAS E SACOS ANAIS │ UNIDADE III

3. Glicocorticoides tópicos oftálmicos à base de dexametasona 0,1%,


prednisona 1% ou triancinolona para controle da uveíte.

4. Em quadros de glaucoma associado, recomenda-se tratamento com


colírio de dorzolamida e colírio à base de xalatan.

5. Em casos refratários ao glicocorticoide sistêmico, pode-se utilizar


ciclosporina, azatioprina, tetraciclina com niacinamida ou ciclofosfamida,
mantendo as doses de imunossupressão por até doze semanas e, após
passar a dose de manutenção, será capaz de manter os sinais clínicos em
remissão.

6. O prognóstico é de moderado a reservado, em razão de ser uma doença


autoimune e incurável, cujos efeitos da terapia imunossupressora
diminuem a expectativa de vida do paciente. Além dos quadros oftálmicos
que podem evoluir para a cegueira, exigindo mais cuidados com o animal
pelos proprietários.

101
CAPÍTULO 2
Doença das unhas

A unha é uma estrutura queratinizada e especializada da pele que utiliza como suporte
a terceira falange. As causas mais comuns de lesão nas unhas são traumas, os quais são
facilmente diferenciados de causas patológicas, pois ocorrem isoladamente enquanto
lesões patológicas acometem todas as unhas.

Lesões isoladas em unhas são raras, porém doenças dermatológicas podem ter o
acometimento ungueal presente. As lesões podem ocorrer tanto no leito ungueal
quanto na junção entre a pele e a unha, chamada de dobra da unha. Neste capítulo,
serão abordadas patologias isoladas das unhas e os tipos de lesões ungueais existentes
nas diversas dermatopatias.

As principais doenças que acometem as unhas são dermatopatias autoimunes e


imunomediadas, doenças endócrinas, doenças infecciosas e doenças metabólicas.
Definir o tipo de lesão é importante para um correto diagnóstico. Os principais termos
utilizados para descrever as lesões ungueais são:

»» paroníquea: inflamação da prega ungueal, causando eritema, edema,


crostas, ulceração, hiperpigmentação e lignificação;

»» onicogrifose: deformação no formato da unha, que se torna mais


alongada e tortuosa;

»» onicomadese: queda espontânea e completa da unha, podendo estar


associada a infecções fúngicas e bacterianas;

»» onicorrexia: fratura transversal patológica da unha devido à fragilidade


dela;

»» onicoquizia: fissura na unha em virtude de processo inflamatório ou


traumático;

»» oniquia: acometimento patológico da unha, tornando-a anormal, pode


ser proximal, distal ou acometer toda a unha;

»» onicoalgia: dor nas unhas;

»» oniquite: inflamação da unha;

102
DOENÇAS DOS OLHOS, UNHAS E SACOS ANAIS │ UNIDADE III

»» onicodistrofia: má-formação das unhas;

»» onicólise: separação da unha do leito ungueal.

Quadro 8. Principais doenças que acometem unhas e as lesões ungueais presentes.

LESÃO UNGUEAL
Onicogriofose Onicomadese Onicoquizia Onicorrexia Paroníquea
Trauma ______ ______ Presente Presente ______
Onicomicose ______ ______ ______ ______ Presente
Oniquite Bacteriana ______ Presente Presente Presente Presente
Leishmaniose Presente Presente ______ ______ ______
Pênfigo foliáceo Presente Presente ______ Presente Presente
Onicodistrofia lupoide Presente Presente ______ Presente Presente
Dermatomiosite familiar ______ Presente ______ ______ Presente
canina
Dermatose responsiva ______ ______ ______ Presente Presente
ao zinco
Fonte: Elaborada pela autora (2018).

Unhas encravadas
O não cuidado com o crescimento das unhas, em relação ao corte, principalmente da
unha do primeiro dígito, acarreta lesão do coxim pelo encravamento da unha e gera
um quadro muito doloroso e inflamatório para o animal (Figura 57). Nesses casos,
a unha encravada deve ser cortada, realizada limpeza e antissepsia local, e posterior
curativo. Em casos de infecção concomitante, o uso de antibióticos sistêmicos e tópicos
é indicado, além de anti-inflamatórios e analgésicos. Instruir o proprietário a monitorar
o crescimento das unhas previne o problema. Em animais com quadros persistentes
de unha encravada, recomenda-se a amputação do dígito, quando se trata de dígito
vestigial de membro pélvico.

Figura 57. Unha de primeiro dígito encravada em coxim, com processo inflamatório associado.

Fonte: Elaborada pela autora (2016).

103
UNIDADE III │ DOENÇAS DOS OLHOS, UNHAS E SACOS ANAIS

Oniquite bacteriana

É ocasionada por infecção na unha, podendo ser isolada ou acometer todas as


unhas. Geralmente, está associada a causas primárias, como hipotireoidismo,
hiperadrenocorticismo, dermatopatias alérgicas, doenças autoimunes e neoplasias,
quando acomete várias unhas, e a traumas, quando o quadro é isolado.

Sinais clínicos

Unhas com infeções bacterianas apresentam exsudação, paroníquea, edema ungueal


e dor, frequentemente podem estar quebradas ou se despregarem com facilidade.
Quadros mais graves podem afetar a locomoção do animal, que iniciará quadro de
claudicação e evoluirá para uma osteomielite.

Quando associados a enfermidades sistêmicas, sinais como febre e letargia poderão


estar presentes.

Diagnóstico e diagnóstico diferenciais

O histórico clínico e exclusão dos diagnósticos diferenciais associados a exames


complementares ajudarão a chegar ao diagnóstico definitivo.

A citologia é útil para determinar o micro-organismo causador da oniquite, como


leveduras e bactérias. Recomenda-se o corte da unha ou, em caso de lesão supurativa,
envio do exsudato para cultura e antibiograma. Em casos crônicos com sinais de
claudicação associados, radiografia de dígito é necessária para avaliar se há quadro de
osteomielite concomitante.

Tratamento e prognóstico

1. Identificar a causa-base.

2. Administrar antibióticos orais por até duas semanas após a cura das
lesões.

3. Realizar limpeza tópica diária da pata com xampus à base de clorexidina


2 a 4% ou perióxido de benzoíla 2,5%, até a remissão da lesão; após,
continuar com limpezas em dias alternados até o fim da antibioticoterapia.

4. Quadros associados à ostiomielite, a terapia com antibióticos deve


ser prolongada por, no mínimo, dois meses e, em casos nos quais há

104
DOENÇAS DOS OLHOS, UNHAS E SACOS ANAIS │ UNIDADE III

destruição importante da falange distal ou que a infecção seja refratária


ao tratamento, a amputação do dígito se torna necessária.

5. O prognóstico é bom, com exceção de casos em que evolua para amputação,


a unha volta a crescer normalmente.

Onicomicose

A infecção da unha por fungo pode ser causada por micro-organismos como o
Trichophyton spp, Microsporum spp e Malassezia spp., sendo o primeiro mais
comumente isolado nas infecções relatadas. De ocorrência rara, os quadros são mais
diagnosticados em animais com dermatopatias alérgicas presentes.

É possível acometer uma ou demais unhas, em geral irá notar unhas enfraquecidas
e deformadas, com paroníquia, hiperpigmentação escura em base de unha, que pode
ser confundida com pigmentação normal e exsudato e crostas em dobras ungueais.
Dermatopatias generalizadas podem ocorrer concomitante (Figura 58).

Figura 58. Onicomicose, pigmentação marrom em porção proximal da unha, assemelhando-se à pigmentação

normal da unha.

Fonte: MEDLEAU; HNILICA, 2009.

Diagnóstico e diagnóstico diferenciais

O diagnóstico será baseado em histórico, sinais dermatológicos, exames complementares


e exclusão dos diagnósticos diferenciais.

Citologia do exsudato e cultura fúngica de fragmentos das unhas são úteis para
determinar o agente causador da infecção. Em casos nos quais a citologia e a cultura
sejam inconclusivas, a realização do histopatológico pode ser feita através do envio
da terceira falange, unha acometida (amputação), em que serão visualizados hifas e
artrósporos na porção de queratina da unha.

105
UNIDADE III │ DOENÇAS DOS OLHOS, UNHAS E SACOS ANAIS

Tratamento e prognóstico

1. Administração de antifúngicos sistêmicos de longa duração,


permanecendo a terapia por até dois meses após o crescimento da nova
unha.

2. O corte frequente da unha é recomendado para que se diminuam as


partes contaminadas das unhas.

3. Medicamentos tópicos podem ser aplicados para aumentar a eficácia da


terapia.

4. Pedilúvios diários por dez minutos são uma alternativa à aplicação de


medicamentos tópicos. Podem ser feitos com:

›› Clorexidina 0,05%;

›› Iodopovidine 0,4%;

›› Tiabendazol ou Clotrimazol.

5. O prognóstico é reservado, pois muitos animais se mantêm com a


persistência da infecção mesmo após terapia, evoluindo o quadro para
amputação de falange.

Onicodistrofia lupoide simétrica

Também conhecida como onicomadese idiopática, tem etiologia multifatorial e


idiopática, associada a um quadro imunomediado. De ocorrência rara, acomete
raças como Pastor Alemão e Rottweiler. Em geral, de animais jovens a meia-idade.
Considerada uma síndrome, afeta várias unhas e leitos ungueais.

Sinais clínicos

Animal apresenta perda brusca e persistente das unhas, formação de novas unhas
frágeis, onicomadesia, onicodistrofia e onicalgia. Sendo a presença de onicorrexis,
onicosquizia e prurido frequentemente associadas.

Sinais sistêmicos não são notados, a menos que o animal tenha doenças
concomitantes.

106
DOENÇAS DOS OLHOS, UNHAS E SACOS ANAIS │ UNIDADE III

Diagnóstico e diagnóstico diferenciais

O histórico, sinais clínicos associados à exclusão dos diagnósticos diferenciais e exame


histopatológico determinarão o diagnóstico definitivo da lesão.

Para o histopatológico, é necessária a amputação de uma das falanges distais das


unhas acometidas e envio para histopatologia. O padrão lesional será de degeneração
hidrópica das células basais, degeneração ou morte dos queratinócitos da camada basal,
dermatite de interface liquenoide e incontinência pigmentar, padrão compatível com
dermatopatias autoimunes.

Tratamento e prognóstico

1. Corte frequente das unhas para evitar quebras e predispor a infecções.

2. Em casos de infecções bacterianas associadas, o uso de antibioticoterapia


sistêmica de longa duração será necessário.

3. Imunossupressão de glicocorticoides sistêmicos, como prednisona


na dose de 1 a 2 mg/kg/24h, até a redução da sintomatologia, e, após,
continuar com terapia de manutenção.

4. Suplementação de ácidos graxos comerciais e vitamina E, normalmente


encontrados em diversas formulações comerciais na dosagem adequada.

5. Como tratamentos alternativos, pode-se usar:

›› Tetracilina + Niacinamida na dose de 250 g até 10 kg e 500 mg > 10 kg


em casos leves.

›› Pentoxifilina 10 a 25 mg/kg/8h.

›› Azatioprina 2 mg/kg/24h até remissão, e após cada 48 horas para


remissão, casos refretários.

6. Prognóstico é bom a reservado. Em casos em que há boa resposta à


terapia, o crescimento de novas unhas ocorre em três meses, podendo a
terapia ser interrompida após seis meses. Em casos refratários ou graves,
há necessidade de terapia de manutenção ao longo da vida, além de
acarretar a amputação das falanges acometidas.

107
Capítulo 3
Doenças dos sacos anais

Os sacos anais são divertículos cutâneos do ânus, revestidos por epitélio queratinizado,
onde estão presentes as glândulas apócrinas, cuja função é a produção de secreção clara
e fluidificada para lubrificação das fezes. Inflamações, obstrução e infecções podem
ocorrer tanto nos sacos quanto nas glândulas. Algumas raças, como Poodle, Pastor
alemão e Labrador Retriever, são predispostas a desenvolver doenças do saco anal.
Este tópico abordará as principais patologias que acometem essa região, sua causa,
diagnóstico e tratamentos.

Saculite

A saculite anal é causada pela obstrução do ducto, desenvolvendo um quadro


inflamatório que evolui para a infecção secundária, podendo causar abcesso. É uma
condição bastante incômoda e dolorosa. É comum em raças pequenas de cães e raras
em gatos. Pode estar ligada dermatopatias alérgicas, principalmente hipersensibilidade
alimentar.

Sinais clínicos

A queixa principal dos proprietários, em geral, é a lambedura excessiva da região


anal pelo animal, com um odor forte e desagradável exalando dele. Os sinais clínicos
relatados são disquezia, tenesmo e constipação em relação à defecação. Sinais
dermatológicos como eritema, edema e presença de secreção purulenta em região
perineal e prurido.

Devido à lambedura excessiva e dor, alguns animais podem causar um quadro dermatite
úmida aguda ou abcessos que podem fistular e drenar secreção purulenta e fétida, com
quadro pirético associado.

108
DOENÇAS DOS OLHOS, UNHAS E SACOS ANAIS │ UNIDADE III

Figura 59. Cadela da raça poodle apresentando edema e secreção purulenta fétida em região perineal, devido

à inflamação das glândulas perineais.

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

Diagnóstico e diagnóstico diferencial

O diagnóstico é através dos sinais clínicos e de exames físicos, nos quais se apalpa o
saco anal obstruído e distendido, com muita dor à manipulação. Na compressão dos
sacos anais, é possível visualizar uma secreção espessa e pastosa de coloração amarela
a marrom-avermelhado, indicando inflamação do saco anal.

Em casos nos quais há presença de abcesso, a coleta de material para cultura e


antibiograma é recomendada.

Tratamento e prognóstico

1. Diagnosticar e tratar hipersensibilidade alimentar com exclusão dietética.

2. Esvaziamento dos sacos anais por compressão manual.

3. Tricotomia e limpeza da região com clorexidina 0,2%.

4. Tratamento tópico com pomadas à base de corticoide e antibiótico


podem-se usar pomadas otológicas que apresentam excelentes resultados.

5. Em casos de abcesso, o tratamento com antibióticos sistêmicos por quinze


dias deve ser associado.

6. Casos recidivantes podem ser necessários à extirpação cirúrgica do saco


anal.
109
UNIDADE III │ DOENÇAS DOS OLHOS, UNHAS E SACOS ANAIS

7. Prognóstico favorável em cães com histórico ou predisposição a


desenvolver saculites, pode ser realizada compressão manual dos sacos
anais prévia ao banho para evitar impactação e quadros inflamatórios.

Fístula perineal

Também chamada de furunculose perineal, é uma doença debilitante, dolorosa,


inflamatória, crônica, caracterizada por múltiplos seios de drenagem, que afetam a pele
e camadas profundas da região perianal. Podem ser desde lesões discretas chegando-se
a quadros de fistulação e ulceração, acometendo toda a região perineal.

Sua causa ainda é desconhecida, entretanto fatores imunológicos, bacterianos,


endócrinos e anatômicos estão relacionados à doença. Acomete cães de meia-idade
e tem predileção racial por Labrador Retriever, Irish Setters, Old English Sheepdog,
Border Collie, Bulldogs e Pastor Alemão, sendo este último o mais acometido, tendo o
seu quadro chamado de Fístula Perineal do Pastor Alemão.

Sinais clínicos

Os sinais clínicos observados são lambedura excessiva da região perineal, secreção


perineal purulenta e de odor fétido, cauda abaixada, sujidades no pelame, ao redor
do ânus e da cauda. Os animais podem apresentar disquesia ou tenesmo, diarreia,
constipação, incontinência fecal, sangramento e dor na região perineal, apatia e perda
de peso. No exame retal, podem ser palpados espessamento e fibrose de ânus e reto.

Figura 60. Animal com dermatite ulcerativa grave, com exsudato purulento em decorrência de fístulas perineais

profundas.

Fonte: MEDLEAU; HNILICA, 2009.

110
DOENÇAS DOS OLHOS, UNHAS E SACOS ANAIS │ UNIDADE III

Diagnóstico e diagnóstico diferencial

O diagnóstico é através de histórico clínico, sinais clínicos e predisposição racial.


Em quadros com infecções graves, recomenda-se coleta de secreção para cultura e
antibiograma. No histopatológico, serão observados necrose epitelial no infundíbulo
folicular, resposta inflamatória intensa com plasmócitos, linfócitos, macrófagos e
nódulos linfoides perivasculares.

O diagnóstico diferencial inclui neoplasias, rupturas de abcessos do saco anal, infecção


bacteriana e fúngica profundas.

Tratamento e prognóstico

1. Identificar se há causa primária como hipersensibilidade alimentar, colite


e doença intestinal inflamatória.

2. Tricotomia e limpeza da área com clorexidina 0,2% diária e solução


fisiológica.

3. Antibióticos sistêmicos de quinze a vinte dias.

4. Terapia com glicocorticoides na dose imunossupressora 2 mg/kg/24h


até a remissão dos sinais clínicos após dose de manutenção.

5. Terapia com ciclosporina 5 mg/kg/12h se mostrou eficaz em um


percentual elevado de cães, sendo esta mantida em manutenção ao longo
da vida.

6. Topicamente a aplicação de tracolimus tem mostrado um controle eficaz


em lesões localizadas.

7. Casos refratários podem-se associar às seguintes terapias: Azatioprina na


dose de 1,5 mg/kh/24h + Metronidazol na dose de 15 mg/kg/24h, para
diminuir a extensão e a gravidade da lesão.

8. Remoção cirúrgica de úlceras e fístulas. No entanto, complicações estão


associadas a esse procedimento cirúrgico, tais como incontinência fecal,
tenesmo, flatulência, estenose anal, disquesia e constipação.

9. Criocirurgia para cauterização de trajeto drenante persistente e ulcerações


adjacentes.

111
UNIDADE III │ DOENÇAS DOS OLHOS, UNHAS E SACOS ANAIS

10. O prognóstico é reservado. Em razão de ser um quadro de difícil controle


e cura, as recidivas costumam ser frequentes, principalmente em cães da
raça Pastor Alemão.

Neoplasia de glândulas perineais

As glândulas hepatoides ou perianais são glândulas sebáceas modificadas presentes na


região anal, e podem ser acometidas de neoplasias benignas. O adenoma da glândula
hepatoide é a neoplasia mais comum que acomete cães machos idosos não castrados,
com etiologia desconhecida, porém acredita-se que a testosterona pode estar envolvida
no desenvolvimento da doença, já que acomete mais cães machos inteiros.

Enquanto o adenocarcinoma é incomum e acomete tanto fêmeas quanto machos mais


velhos, independentes de serem inteiros ou castrados.

Sinais clínicos

Em geral, notam-se nódulos firmes, arredondados, podendo ser múltiplos ou solitários,


com histórico de crescimento lento, no caso dos adenomas, inseridos em base de
cauda, perianal, em períneo ou prepúcio (Figura 61). Os adenocarcionomas possuem
características de crescimento rápido com ulceração presente.

Figura 61. Neoplasia de glândula perineal, tumor penduculoso em um cão idoso.

Fonte: MEDLEAU; HNILICA, 2009.

112
DOENÇAS DOS OLHOS, UNHAS E SACOS ANAIS │ UNIDADE III

Diagnóstico e diagnóstico diferencial

O diagnóstico é através de citologia e histopatologia do tumor para diferenciar


adenoma de adenocarcinoma. No histopatológico, são observadas células poliglonais
com abundante citoplasma eosinofílico vacuolizado e núcleo arredondado.
No adenocarcionoma, são observadas as mesmas células, porém com maior grau de
anisocitose e anisocariose com figuras de mitose.

No diagnóstico diferencial, incluem-se as neoplasias em geral.

Tratamento e prognóstico

1. Castração dos animais inteiros.

2. Extirpação cirúrgica do adenoma, quando se apresenta muito grande.

3. Crioterapia em adenomas menores que dois centímetros.

4. Extirpação cirúrgica do adenocarcinoma com margem.

5. Em casos nos quais não é possível retirar com margens livres, podem-se
associar quimioterapia e eletroquimioterapia para sucesso da terapia.

6. O prognóstico é favorável, em virtude de maior ocorrência ser de neoplasia


benigna, o percentual de recidivas após a castração é baixo. O prognóstico
se torna reservado em casos nos quais a neoplasia diagnosticada é
adenocarcinoma, pois as chances de recidiva e metástase são maiores.

113
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Anexo I

Frente

118
anexos

119
Anexo II

Verso

120

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