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Editora Livrologia
Chapecó-SC
2022
CONSELHO EDITORIAL INTERNACIONAL E NACIONAL
ISBN: 10.52139/livrologia9786586218916
DOI: 9786586218916
© 2022
Permitida a reprodução deste livro, sem fins comerciais, desde
que citada a fonte.
Impresso no Brasil.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
PREFÁCIO...........................................................................................................................11
APRESENTAÇÃO...............................................................................................................15
CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................153
POSFÁCIO.........................................................................................................................157
REFERÊNCIAS..................................................................................................................160
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
PREFÁCIO
R
ecebi o convite – com muita alegria - para escrever o prefácio desse livro de
autoria de Fernanda dos Santos Paulo que é uma educadora popular, pes-
quisadora e formadora de lideranças comunitárias e docentes das periferias
de Porto Alegre que são expressões concretas da realidade do sul global. Como femi-
nista não posso deixar de celebrar a escrita de uma mulher que se forja cotidianamente
nas lutas sociais, comunitárias e populares. Fernanda tem permanente compromisso
com a vida das “gentes” através de demandas e necessidades capturadas onde os seus
pés pisam, a sua cabeça reflete e seu coração habita - “não há pensamento-linguagem
sem mundo referente”, como diria Paulo Freire. Fernanda tem sido imprescindível e
incansável na conquista de direitos humanos, mas em particular, ao direito à educação
pública, gratuita, laica e de qualidade. Dentre várias de suas atuações, a dedicação à
pesquisa e à formação de educadores/as populares e sociais, na perspectiva freireana,
e a formação docente se destacam.
Nos quatro capítulos que Fernanda nos oferece nessa obra, é notória a sua pré-ocu-
pação em nos colocar em contato com uma bibliografia vasta – entre as reconhecidas
e as mais recentes – além de indicar autores e autoras com os/as quais se pode esta-
belecer nexos, diálogos, vínculos entre a Educação de Jovens e Adultos e a Educação
Popular. Assim, não por acaso, podemos nos deparar com o constante exercício de
aproximações entre a trajetória histórica entre uma e outra, bem como perspectivas
epistemológicas, metodológicas e políticas de matriz freireana.
A autora nos proporciona uma leitura densa sobre a EJA e a EP, ora aproximan-
do ora distanciando as influências da perspectiva libertadora e problematizadora nas
histórias de vidas de homens e mulheres que tiveram de interromper a sua educação
escolarizada para retomá-la em outro momento de sua vida. Se pudermos destacar
uma característica comum entre a EJA e a EP é o fato de atenderem a uma diversida-
de de sujeitos e suas culturas. E, por isso mesmo, as falas dos sujeitos são referências
importantes nessa obra – é bonito demais aprender sobre a EJA a partir das vozes das
pessoas que vivem na/da Lomba do Pinheiro (Porto Alegre, Rio Grande do Sul). A
autora parte sempre do concreto-abstrato das vivências, dos sentimentos, das reflexões
e das mudanças de coletivos e de indivíduos com os quais interatua na capital gaúcha.
Assim, ela não nos permite desviar a atenção para a compreensão de que a EJA é uma
prática social. E, como prática social é emaranhada de múltiplas determinantes. Mas,
também reafirma que a EJA é uma prática social escolarizada. Portanto, uma modali-
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Fernanda dos Santos Paulo
dade prevista pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei de n. 9394/96,
em especial, citada nos seus artigos 37 e 38) que envolve estudantes, professores/as,
coordenadores/as de escola e gestores/as públicos.
É relevante lembrar que na atualidade, a cada três brasileiros, um sequer tem o en-
sino fundamental completo, ou seja, cerca de 65 milhões de pessoas com quinze anos
ou mais, ainda não possuem a primeira etapa da educação básica. Mais de 11 milhões
não são alfabetizados. Como bem retoma Fernanda dos Santos Paulo, a EJA pode/
deve ser compreendida em seu processo histórico, social e econômico, o que implica
compreendê-la desde a perspectiva dos grupos populares e sujeitos subalternizados
em uma trama de exclusão que é própria do capitalismo colonial.
As iniciativas de alfabetização de pessoas adultas e/ou de elevação de escolarida-
de encontraram apoio no povo organizado nas associações, igrejas, sindicatos e mo-
vimentos sociais e, passamos a reconhecê-las, em parte, como nos alerta Fernanda,
como sendo trabalho de educação popular. E, é ela quem chama atenção para o fato de
que a “ação governamental que marcou o início do atendimento a esse público (sic) foi
a Primeira Campanha Nacional de Educação de Adultos lançada pelo Ministério da
Educação e Saúde em 1947”.
Para melhor compreender os fios históricos, epistemológicos e políticos, Fernanda
apresenta um conjunto de “quadros didáticos” que permitem aproximações e distan-
ciamentos entre as diferentes terminologias para educação de adultos; a visualizarmos
uma linha do tempo histórico da educação de pessoas jovens e adultas, incluindo a
sua referência a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948 tanto
quanto à Constituição Federal de 1988, depois complementada por outro quadro que
se dedica a apresentar “as EJAs” que ocorrem na década de 1960; além disso, apresenta
outra linha do tempo com os avanços e retrocessos das/nas Conferências Internacio-
nais de Educação de Adultos, as chamadas Confinteas; compreendendo o período de
1920 e 2019, ou seja, quase um centenário de educação e políticas, a autora organiza
uma tabela com a taxa de analfabetismo no Brasil entre pessoas de 15 anos ou mais;
sistematiza dados bibliográficos referentes às pesquisas nacionais sobre alfabetização
de jovens e adultos (BDTD) e, em específico, conceitos inerentes as temáticas: alfabe-
tização de jovens e adultos (políticas e campanhas); descreve as características de cam-
panhas de alfabetização e sua relação com as políticas educacionais para, em seguida,
apresentar outro quadro com os marcos históricos e regulatórios da EJA no Brasil.
Como já mencionado, trata-se de um livro com densidade bibliográfica e dados
históricos que buscam informar e refletir que tanto a EJA quanto a EP não são expe-
riências únicas, por isso, a autora indica um conjunto de dossiês temáticos publicados
em revistas científicas sobre a educação de pessoas privadas de liberdade, ainda pouco
estudada nos cursos de licenciaturas. Fernanda organiza um quadro com pesquisas
que têm como foco de estudos os/as egressos/as da EJA. É relevante mencionar que a
autora constata a escassez de estudos sobre/com esses sujeitos. Dessa maneira, pode-
mos ver revelado a rigorosidade metódica e a pré-ocupação da Fernanda com todas
as dimensões dos processos educacionais que envolvem os sujeitos da EJA tanto que
encerra o conjunto de quadros, vinculando EJA ao mundo do trabalho. Dessa forma,
temos um conjunto de informações sistematizadas e reflexões sobre diferentes aspec-
tos da EJA e da EP que atravessa, pelo menos, um centenário de lutas, de políticas e
história da educação de pessoas jovens e adultas no Brasil nos quatro capítulos que
compõem essa obra.
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
É necessário contar aos leitores e às leitoras que temos nos encontrado em muitos
lugares, mas um, em especial, tem nos proporcionado ótimos diálogos: a sala de aula.
Com alguma frequência, intercambiamos experiências prático-teóricas nos cursos de
licenciaturas nos quais atuamos. E, as disciplinas que envolvem a educação de pessoas
jovens, adultas e idosas têm sido privilegiadas para aprendermos e para ensinarmos
uma a outra pelo diálogo, pela curiosidade e pela rigorosidade. Aliás, uma das carac-
terísticas do livro que vocês têm em mãos, nesse momento, é a da rigorosidade metó-
dica, conforme puderam observar no detalhamento acima e poderão ler nas páginas
que seguem esse prefácio.
Fernanda tem como propósito proporcionar reflexões teórico-práticas sobre a EJA,
podendo servir de base para os cursos de formação docente. Além disso, menciona
que o livro será utilizado nas atividades do Grupo de Estudos e Pesquisas Paulo Freire
e Educação Popular da Associação de Educadores Populares de Porto Alegre (AEPPA)
e do Movimento de Educação Popular (MEP), bem como pelo Grupo de Pesquisa-
-CNPq Formação Docente e Práticas de Ensino da Universidade do Oeste de Santa
Catarina (UNOESC). Certamente, a obra alcançará outros lugares pois “EDUCAÇÃO
DE JOVENS E ADULTOS E A EDUCAÇÃO POPULAR: CONTRIBUIÇÕES PARA
FORMAÇÃO DOCENTE” chegou em um momento importante e desafiador para
educadores e educadoras democráticas. E, posso dizer com muito prazer que pude
aprender da/com a Fernanda as mudanças mais recentes nas políticas para a EJA e
os desafios que enfrentaremos como educadores/as. Por isso, destaco a leitura crítica
sobre o Parecer 06/2020 e a Resolução 01/2021 do Conselho Nacional de Educação
que visam alinhar as Diretrizes Operacionais da EJA com a Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) desconsiderando as especificidades legais dessa modalidade de
ensino. Assim, mais uma vez, observamos Fernanda dos Santos Paulo “em ato”, ou seja,
defendendo a educação que se constrói com participação popular cuja intencionalida-
de política possui uma opção por uma classe, a trabalhadora.
Desejo, com essas palavras, convidá-los/as a ler o livro, tematizá-lo, problemati-
zá-lo, compartilhá-lo por aí! Merece ser lido e trabalhado pelos movimentos sociais,
educadores/as populares e sociais, mas e sobretudo, nas universidades – nos cursos de
licenciaturas, na formação docente.
Um fraterno abraço.
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
APRESENTAÇÃO
C
onhecer a historicidade da Educação de Jovens e Adultos e as aproxima-
ções com a Educação Popular é o objetivo desta obra. Paulo Freire e sua
pedagogia orientarão às reflexões críticas sobre a prática política e pedagó-
gica de educadores e educadoras desta modalidade da educação1. Os textos que serão
apresentados servirão de base para as atividades realizadas no Grupo de Estudos e
Pesquisas Paulo Freire e Educação Popular da Associação de Educadores Populares de
Porto Alegre (AEPPA) e do Movimento de Educação Popular. Igualmente, do Grupo
de Pesquisa Formação Docente e Práticas de Ensino, certificado pelo CNPq e vinculado
a Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC) do qual sou líder. Também,
compõe parte da Pesquisa financiada pelo CNPq UNIVERSAL 2018, intitulado como:
Memória e História da Educação Popular a partir do levantamento e catalogação das
cartas de Carlos Rodrigues Brandão: Contribuições para a Pedagogia Latino-Americana.
Nesta obra, um capítulo, em especial, apresenta “A Educação Popular e a EJA nas
Cartas de Carlos Rodrigues Brandão”. As cartas analisadas compreendem as décadas
de 1980 e de 1990.
Atuo na militância da/na Educação Popular desde o final da década de 1990 e, nos
anos 2000, iniciei minha trajetória como educadora popular de alfabetização de jo-
vens e adultos por meio de projetos e programas governamentais. Desde 2012 possuo
experiência docente na Educação Superior, e um dos temas trabalhados é a EJA na
perspectiva da Educação Popular e das políticas educacionais.
A temática da EJA nos interpela a conhecer a historicidade da modalidade para
discutirmos e redimensionarmos a nossa prática de modo crítico. De igual modo, es-
tudar as dimensões políticas, pedagógicas, metodológicas e sociológicas da EJA im-
plica dialogar com a história da educação e com as políticas educacionais. A partir
disso, as obras de Paulo Freire e outros autores da Educação Popular libertadora é
referência da EJA nesse livro, estabelecendo relações com a educação escolar e com a
educação fora da escola (Educação Não Escolar).
Pesquisar a EJA, na perspectiva da Educação Popular com base em Paulo Freire,
significa partir de um contexto macro e micro, de modo dialógico. Isto é, as temáticas
relacionadas à EJA no Brasil não podem ser tratadas de modo isolado e distante do
contexto internacional. Sendo assim, os temas tratados versarão sobre a perspectiva
histórica, metodológica, pedagógica e política da Educação de Jovens e Adultos, con-
templando: i) os sujeitos da EJA; ii) o direito à educação no Brasil e as políticas educa-
cionais; iii) A EJA e o mundo do trabalho; iv) A EJA prisional; v) A formação inicial e
continuada de educadoras da EJA; vi) EJA e Movimentos Sociais Populares; vii) EJA e
1
A EJA constitui-se como modalidade da educação, com funções qualificadora, reparadora e
equalizadora para os que não tiveram acesso a escolarização e não frequentaram o Ensino Fun-
damental e Ensino Médio “nas idades próprias’, como especifica na LDBEN (1996). A modalida-
de é um direito constitucional e assegurada a oferta gratuita em escolas públicas.
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Fernanda dos Santos Paulo
Educação Popular; viii) EJA e metodologias. O livro conta com depoimentos de su-
jeitos da EJA(educandos, educadores, gestores e militantes), em especial daqueles que
residem no bairro Lomba do Pinheiro, onde nasci, estudei, trabalhei e ainda resido.
Este bairro situa-se em Porto Alegre, RS, onde está a sede provisória da AEPPA.
O principal interesse, neste livro, é buscar em Paulo Freire e na Educação Popular
crítica alguns apontamentos de resistência política quanto à formação de educadores
e educadoras da e para EJA, sobretudo em tempos de reformas neoliberais e de emer-
gência de políticas públicas educacionais emancipadoras. Acredita-se que um livro
que contempla várias temáticas educacionais sobre a EJA pode colaborar no processo
de formação inicial e continuada de professores.
Pensar e propor a formação docente da/para EJA, sob a ótica da Educação Popular
freiriana (PAULO, 2018), no atual contexto brasileiro, requer estudo sério sobre a his-
tória política da educação e de análises da conjuntura atual. Para tanto, os processos
educativos, baseados pela práxis educativa da Educação Popular, pode nos ajudar a
recuperar experiências emancipadoras de práticas pedagógicas de EJA, cuja dimensão
crítica da educação, referenciada ao pensamento freiriano, pressupunha uma Peda-
gogia da Humanização, desmascarando e se opondo a todas as formas de desuma-
nização. Daí que na Educação Popular freiriana nos importa colocar como ponto
essencial a capacidade de ler criticamente, interpretar e refletir acerca do nosso mundo
para transformá-lo, ou seja, estamos falando de uma educação conscientizadora. Na
pedagogia da Educação Popular à práxis só tem sentido se nosso ponto de partida
for uma proposta de educação participativa e criativa, considerando o contexto dos
estudantes.
Quanto a organização da obra, vislumbramos que ela seja utilizada enquanto ma-
terial teórico para reflexões e atividades educativas, sobretudo nos processos escolares
e não escolares de formação política. Diante destas colocações o livro está organizado
em quatro capítulos. Ao final, nas considerações finais,constarão as principais contri-
buições para formação docente da/para modalidade EJA.
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
A
revisão bibliográfica apresenta as mais importantes referências, no que tan-
ge à EJA, e com elas busco apresentar estudos que visem contribuir com
reflexões teóricas para formação de educadores e educadoras para EJA.
A história da educação de pessoas jovens, adultas e idosas no Brasil é um tema
pouco explorado e trabalhado nos cursos de licenciaturas, com algumas exceções para
o Curso de Pedagogia. Sendo assim, é imperativo a produção de conhecimentos acer-
ca da EJA, destinada a formação docente.
Para tanto, neste capítulo, situarei a EJA no contexto geral da educação, identi-
ficando as múltiplas terminologias utilizadas até hoje. Além disso, apresentarei os
seus aspectos legais, metodológicos, sociológicos e pedagógicos. Em consonância com
Haddad e Di Pierro (2000, p.108):
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Idéia da educação
Programas de educação de adultos em
Paiva permanente, filosofia que
projetos integrados de desenvolvimento.
(2003) o Mobral.
(PAIVA, 2003, p.411).
Freire e Experiências de
Educação Faundez Alfabetização ou educação popular. Educação de Adultos na
Popular (1985) América Latina.
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Organização de
Cooperação e
Lima Compreensões mercadológicas desse Desenvolvimento
(2012) conceito. Econômico (OCDE)
e pelo Conselho da
Europa, nos anos 1970.
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Jane Paiva,
Sérgio
Haddad e
Diversas formas
Leôncio “como educação popular, educação não Do direito à educação
de ensinar e
José formal e educação não escolar” para todos
aprender
Gomes
Soares
(2019)
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BRASIL, Resolução Nº 40, de 13 de outubro de 2020.
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Mas foi nos anos de 1940 e 1950, que tivemos iniciativas concretas de escolarização
para as camadas da população até então excluídas da escola. Mesmo com iniciativas
pontuais elas não abarcaram a escolarização de jovens e adultos como direito de todas
as pessoas como acontece em 1988, com a Constituição Federal Cidadã. Alguns dados, a
luz de Paiva (2003), referentes às décadas de 1940 e 1950, merecem destaques, tais como:
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https://anped.org.br/news/carta-aberta-do-gt-18-sobre-edital-cne-sobre-eja-e-bncc
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Outro dado histórico é que em 1963, o então Ministro da Educação Paulo de Tarso
criou o Plano Nacional de Alfabetização, convidando Paulo Freire para assumir a
direção. Daí em diante, o nome do Paulo ficou identificado com a alfabetização e asso-
ciado as campanhas de alfabetização de adultos. (GADOTTI, 1996). Antes, Freire foi
diretor do setor de educação e cultura do SESI, em Recife, desenvolvendo atividades
de educação de adultos-trabalhadores, inspirado na educação democrática e liber-
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
tadora. Freire desenvolveu ações que envolviam a comunidade escolar nas discussões
sobre problemas educacionais e sociais. Tanto no SESI como no MCP, Freire apre-
sentava a educação relacionada as questões políticas, no trabalho de educação com
pessoas jovens e adultas.Um exemplo dos antecedentes do surgimento do conhecido
Método Paulo Freire foi tema discutido por Paulo Freire no II Congresso Nacional
de Educação de Adultos, acerca da temática educação de adultos e as populações
marginais. Igualmente, o educador participou do Plano de Educação de Adultos no
MCP, em 1963, com a temática da educação popular. Esse assunto esteve pautado
no discurso de Paulo Freire em Angicos, no encerramento do Curso de Alfabetização,
realizado em Angicos, Rio Grande do Norte, em abril de 1963, cuja exposição versou
sobre a conscientização e alfabetização como processo da pedagogia da libertação.
Nas palavras de Gadotti (1996), Paulo Freire foi exilado pelo golpe militar de 1964,
pois a Campanha Nacional de Alfabetização no Governo de João Goulart estava, de
fato, trabalhando a educação conscientizadora, o que incomodava as elites conserva-
doras brasileiras. Por isso, depois, Freire passou 75 dias na prisão acusado de “subver-
sivo”. No exílio Freire realizou várias atividades educacionais destinadas a alfabetiza-
ção e pós-alfabetização de jovens e adultos.
Ainda sobre a EJA dos anos de 1960, à luz de Paiva (2003), outros dados históricos
merecem destaques, tais como:
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Extinção da CNEA.
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Segundo Martins (2005), para Ana Maria Freire (1989), o analfabetismo no Brasil
foi iniciado desde o Período Colonial, excluindo da escola o negro, o índio, o pobre e
a quase totalidade das mulheres, gerando um enorme contingente de analfabetos. De
acordo com Di Rocco (1979, p.46):
No final da década de 1950, segundo Paiva (2003), foram criadas várias Campanha
de Alfabetização, e criticadas as Campanhas Nacional de Alfabetização, por conta
da sua insuficiência devido a superficialidade do ensino e inadequação dos métodos
de ensino à alfabetização de adultos (MARTINS, 2005).
Em 2000 ainda tínhamos 13,63% da população analfabeta. No Brasil, segundo a
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) de 2019, a taxa de
analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais foi estimada em 6,6% (11 milhões de
analfabetos), como pode ser observado na tabela a seguir:
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
tinadas à educação básica para jovens e adultos, em especial para dirimir o problema
do analfabetismo no Brasil, é marca do nosso país que não valoriza a educação escolar
para as comunidades populares.
Haddad (2000), apresentou os trabalhos na área de Educação de Jovens e Adultos
no período de 1986 a 1998, incluindo a alfabetização. Nesta ocasião, ele identificou
uma lacuna em pesquisas com o foco na alfabetização de jovens e adultos, localizando
5 trabalhos no eixo “Políticas Públicas de EJA”. Com relação as campanhas de alfa-
betização, para o educador: “No período pesquisado continuaram a ser produzidos
estudos relativos às campanhas dos anos 50 ou aos movimentos de educação e cultura
popular dos anos 60, especialmente o MEB [...]”. (HADDAD, 2000, p.13).
Para aprofundar e atualizar o tema, para essa seção realizei uma revisão bibliográ-
fica na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), durante o ano
de 2021. No processo da pesquisa articulei as temáticas referentes as campanhas, as
políticas e os conceitos de alfabetização de jovens e adultos. Busquei identificar se nas
pesquisas, com o descritor “alfabetização de jovens e adultos”, a história das campa-
nhas e onde a perspectiva de Educação Popular encontra-se. O critério de seleção
foi pesquisas desenvolvidas em Programas de Pós-graduação em Educação, cujo
descritor é “alfabetização de jovens e adultos”, presente no título e ou resumo.
Como resultado da primeira etapa, encontramos 12 (dose) pesquisas (dissertações
e teses) que se dedicaram a estudar a temática da alfabetização de jovens e adultos.
No segundo momento foram lidos os resumos e consultado o sumário das produções
acadêmicas. A escolha das pesquisas levou em consideração um assunto específico da
área da Educação de Jovens e Adultos: a alfabetização. Observamos que as universi-
dades com a maior quantidade de trabalhos, que pesquisam a EJA, concentram-se na
região nordeste.
ml#:~:text=A%20taxa%20de%20analfabetismo%20para,(3%2C6%25).
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Políticas de Campanhas
Conceituação de alfabetização
alfabetização de alfabetização
Autor de jovens e
de jovens e de jovens e
adultos
adultos adultos citadas
Campanha de Educação
Popular (CEPLAR).
Cruzada ABC.
Plano Nacional de
Alfabetização (anos 60) e Campanha “De Pé
políticas municiais como a No Chão Também
do Maranhão e Rio Grande Se Aprende A Ler”,
do Norte desenvolvida diretamente
Alfabetização de adultos com a pela Secretaria Municipal
Façanha
perspectiva de uma educação de Natal,RN.
(2013) Sistema de Rádio Educativo
conscientizadora e popular.
da Paraíba (SIREPA). Movimento de Educação
de Base (MEB).
MEC/SIRENA
Movimento Brasileiro
Ação Básica de Educação
de Alfabetização
de Adultos (ABEA)
(MOBRAL).
Programa Brasil
Alfabetizado.
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Fernanda dos Santos Paulo
Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização,
Diversidade e Inclusão
(SECAD)
Parecer CNE/CEB nº
11/2000
Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação
de Jovens e Adultos;
o Parecer CNE/CEB nº
23/2008, que institui as
Diretrizes Operacionais
Perspectiva de Freire Alfabetização: para a Educação de Jovens
leitura do mundo leitura da palavra” de e Adultos
Freire e Macedo(1990), que correlaciona
diretamente o enunciado da AJA e do Plano Nacional do Livro
uso pedagógico do desenho/imagem; de Alfabetização (PNLA) -
“Sobre Educação:(diálogos)”de Freire e Guia dos Livros Didáticos
Alcantara Programa Brasil Alfabeti-
Guimarães(2003);“Alfabetização de jovens para o Programa Nacional
(2019) zado (PBA).
e adultos no Brasil: lições da prática” da de Livro Didático voltado
Unesco do ano de 2008; “Alfabetização para a Educação de Jovens
e letramento” de Magda Soares (2005), e Adultos
dentre alguns outros que foram se tor- Plano Nacional de Educa-
nando necessários visto a complexidade ção (PNE)
do correlato investigado.
Parecer CNE/CEB-
nº23/2008
Programa Nacional do
Livro Didático para a Alfa-
betização de Jovens
e Adultos (PNLA)
Declaração de Hamburgo
(1997)
Movimento Brasileiro de
Buscar alternativas que pretenda re- Alfabetização.
PROALFA
constituir e oportunizar a aquisição da Movimento de
(1997 a 2000) da
leitura e da escrita numa perspectiva de Alfabetização de Jovens e
Secretaria Municipal de
letramento, que explorem pedagogica- Adultos.
Administração (SEMAD),
mente os usos sociais da leitura e escrita Movimento de
foi criado para atender aos
e que não sejam meros rudimentos ou Alfabetização de Jovens
trabalhadores.
fragmentos de alfabetização. Espera-se e Adultos Prof. Paulo
que tenham condições efetivas de prota- Freire.
Pojo Conferência Internacional
gonizarem contextos de leitura e escrita Programa Alfabetização
(2006) sobre a Educação de Adul-
mais complexos na vida cotidiana. Essa Solidária.
tos (V CONFINTEA)
perspectiva requer práticas pedagógicas Programa Brasil
Constituição de 1988
mais significativas e conhecimentos téc- Alfabetizado.
Lei de Diretrizes e Bases
nico-científicos mais aprofundados. Programa Nacional
da Educação (LDBEN),
de Alfabetização e
nº9.394/96,
Faz uso da definição presente na Cidadania.
Parecer 11/2000
Conferência Mundial sobre Educação para Programa de
UNESCO
Todos, em 1990 e de Magda Soares. Alfabetização de Jovens e
Adultos.
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Sistema de Alfabetização de
A tecnologia móvel, utilizada pedagogi- Adultos de Paulo Freire Sistema Rádio-Educativo-
camente na prática docente na Educação Nacional- SIRENA.
de Jovens e Adultos, pode contribuir no Políticas públicas para a
processo de alfabetização, oferecendo Campanha de Péno Chão,
Freitas informática na educação
diferentes possibilidades de suporte à emNatal.
(2015)
aprendizagem ao longo do percurso for- Políticas públicas para
mativo destes educandos. Alfabetização, mobilidade digital nas Campanha de Educação
visa a participação autônoma do aluno Popular da Paraíba –
no seu processo de aprendizagem. escolas CEPLAR.
45
Fernanda dos Santos Paulo
1º Plano Nacional de
Educação criado no ano
de1934.
Constituição Federal de
1934
Decretos n. 4058/42 e a Lei
5293/43 que criou o fundo
Nacional de Ensino Primá- Campanha Nacional de
rio em convênio com os Alfabetização de Adultos
Estados e a Lei 8529/46 que (1947, 1952, 1958).
instituiu o Ensino Supletivo Movimento de Educação
para adolescentes e adultos. de Base.
Movimento de Cultura
Orquiz Utiliza o conceito de letramento de
Ensino Supletivo (1967) Popular do Recife (1961).
(2004) Magda Soares e de Paulo Freire.
Lei 5692/71 Campanha de Pé no Chão
Também se Aprende
Constituição Federal de a Ler.
1988 Movimento Brasileiro de
Programa Nacional de Alfabetização.
Alfabetização e Cidadania
– PNAC foi criado em1987.
LDB 9394/96.
Parecer do CNE/CEB
11/2000.
Plano Nacional de
Educação.
CEAA– Campanha de
Educação de Adolescentes
e Adultos.
CEPLAR– Campanha de
Educação Popular.
Paulo Freire e Plano Nacio-
nal de Alfabetização junto
De Pé no Chão Também
ao Ministério da Educação,
se Aprende a Ler.
1963.
Centros Populares de
MARCO DE AÇÃO DE
Cultura),organizados
BELÉM.
Pela União Nacional de
Alfabetização é o principal fator que Estudantes (UNE).
Comissão
os mobiliza a irem ao encontro dos
Nacional
contextos vivenciais dos educan-
para o ano Internacional da
Juchem dos. Concebem como fundamental Movimento de Cultura
Alfabetização.
(2015) conhecer o meio em que vivem e os Popular.
anseios que mobilizamos jovens e
Programa
adultos a alfabetizarem-se. Movimento Brasileiro dê
Nacional de Alfabetização e
Alfabetização–MOBRAL.
Cidadania.
Fundação Educar.
Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização,
Movimento de
Diversidade e Inclusão.
Alfabetização (MOVA).
Leis de Diretrizes e Bases.
o Programa de Alfabetiza-
ção Solidária (ALFASOL).
46
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Centro de Estudos
SupletivosdeVitória.
Centro Estadual de
Alfabetização solidária.
Educação de Jovens e
Adultos de Vitória.
Campanha de Educação
Popular.
Nepales – Núcleo de
Os estudos sobre a alfabetização desde Estudos e Pesquisas em
MCP –Movimento de
a perspectiva freiriana e pressupostos Alfabetização, Leitura e
Cultura Popular.
Campos bakhtinianos. Escrita do Espírito Santo.
(2016)
MEB –Movimento de
Alfabetização como prática social e Secad – Secretaria de
educação de Base.
cultural Educação, Continuada,
Mobral –Movimento
Alfabetização e
Brasileiro de
Diversidade.
Alfabetização.
SEEA –Secretaria Nacional
de Erradicação do
Analfabetismo
Conferência Internacional
de Educação de Adultos
(Confinteas).
Conferência Internacional
Utiliza Luiz Antonio Gomes Senna,
de Educação de Adultos.
pesquisador do temada alfabetização e
letramento, na perspectiva da inclusão,
Encontro Nacional de
bem como de Kleiman e cita várias obras
Educação de Jovens e
de Paulo Freire.
Adultos.
Alfabetização é entendida como o domí- Movimento Brasileiro de
Fundo Nacional de
nio da tecnologia da escrita, a capacidade Alfabetização.
Educação Básica
de compreensão dos sinais gráficos de
Silva
uma língua, o letramento se caracteriza- João Goulart e Paulo
(2012) Lei das Diretrizes de base
ria pela apropriação das habilidades de Freire: Campanha
da Educação Nacional.
leitura e escrita diante das práticas sociais Nacional de
que envolvem a escrita. De acordo com Alfabetização.
Secretaria de Formação
Kleiman (1995), o conceito de letramen-
Continuada de
to deve contemplar práticas sociais de
Alfabetização de Adultos.
leitura e de escrita e deve ultrapassar o
conceito de alfabetização já que o simples
UNESCO- Organização
domínio do código não garante a efetiva
das Nações Unidas para a
participação dos indivíduos na sociedade.
Educação e a Cultura.
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
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Maria Clara Di Pierro: Acho a expressão erradicação inadequada, porque ela está
muito associada a uma enfermidade, como se fosse um vírus que a gente pudesse criar
uma vacina e imunizar todo mundo. O que acontece é que o analfabetismo é só um
sintoma de processos de exclusão mais amplos, quer dizer, de um trabalhador rural,
que é explorado desde a infância, da discriminação da mulher, que é impedida de ir
à escola e fica confinada no trabalho doméstico. São outros processos, que têm a ver
com exclusão socioeconômica, de gênero e de raça. Eu não acredito em um remédio
estritamente educativo. Nenhum país do mundo chegou à universalização da escola
e a uma difusão da alfabetização sem também proporcionar certos níveis de demo-
cratização econômica e de bem-estar social. Não tenho essa ilusão da erradicação,
pois acho que os problemas são muito mais complexos. A gente tem um desafio muito
grande, de combater a desigualdade social profunda que temos no nosso país e que
está na raiz dessa problemática. Também acho que tem que respeitar as culturas orais
e dar-lhes o devido valor, minimizando o preconceito e a discriminação em relação ao
analfabetismo. Não acho que a gente vá assistir o fim desse fenômeno se não atacar as
raízes mais profundas. (Jornal Zero Hora: 10/03/2017).
https://gauchazh.clicrbs.com.br/educacao-e-emprego/noticia/2017/03/maria-cla-
ra-di-pierro-os-analfabetos-sao-vistos-como-uma-mancha-social-9745500.htl1os
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Fonte: da autora
No material histórico, organizado por Osmar Fávero e Elisa Motta, está vinculado
ao Núcleo de Estudos e Documentação em EJA, situado no Rio de Janeiro (http://
nedeja.uff.br/).
É significativo a quantidade de materiais que contém os três DVD – Rom, assim or-
ganizados: 1) Memória da Educação Popular I e II; e, 2) Educação de Jovens e Adultos.
Foram reunidos uma diversidade de materiais, dentre eles: fotografias, Livros, Carti-
lhas, Teses, Dissertações, Teses, Monografias e relatórios. Com relação a EJA, reúne
578 documentos que recuperam a história de Campanhas ou movimento, sobretudo
de alfabetização, como pode ser verificado na lista a seguir:
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
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Fernanda dos Santos Paulo
1987: Freire iniciou uma atividade como membros do Júri Internacional da UNES-
CO que selecionava experiências de alfabetização dos cinco continentes em comemo-
ração ao Dia Internacional da Alfabetização.
1989: Como Secretário de Educação da cidade de São Paulo, na gestão de Luiza
Erundina, Paulo Freire criou o Mova-SP, um movimento de alfabetização de adultos.
1991: Participou, em Hulha Negra, no lançamento do Projeto de Alfabetização do MST.
1993: Em agosto de 1993 Freire retorna a Angicos, na cidade e na mesma sala onde
300 educandos foram alfabetizados em 40 dias, cuja proposta metodológica foi reco-
nhecida como politizadora, conscientizadora e revolucionária.
1994: Em Genebra, Suíça, Freire recebe no “Congresso de Formação e Cooperação
entre Países Lusófanos” reconhecimento pelo trabalho com educação da paz, alfabeti-
zação e conscientização.
1995: Freire em Porto Alegre, participou da atividade da Prefeitura de Porto Ale-
gre, via Secretaria Municipal de Educação (SMED), com o tema “A educação popular
morreu?”. Recuperou experiências de educação e alfabetização de adultos. Em de-
zembro de 1995, retorna ao Rio Grande do Sul para o Encontro promovido pela Rede
Municipal de Porto Alegre com estudantes da EJA, realizado no Ginásio Tesourinha.
(ANDREOLA; PAULO, 2018).
INDICAÇÕES DE LEITURA
ARTIGO:
https://e-revista.unioeste.br/index.php/ideacao/article/view/25553
LIVROS:
60
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
61
Fernanda dos Santos Paulo
Nesses documentos, há trocas de cartas entre Paulo Freire e Brandão, os quais fala-
ram da Educação Popular e de pesquisas participantes. Muitas cartas tratam do traba-
lho político na e com a Educação popular, como a educação com camponeses. Neste
caso, não localizamos o termo “educação de adultos”, mas está implícito no conteúdo da
carta enviada para Verena, em 1981. De igual forma, a relação entre educação indígena
e Educação Popular, identificada na carta de Brandão para Aracy, em 1981.
Um tema recorrente é a Educação Popular e a religiosidade popular, via prin-
cípios pedagógicos e políticos da teologia da libertação (PAULO, 2013). Também, as
cartas que discutem a Educação Popular, estiveram presentes no contexto dos livros,
projetos e sujeitos, como demonstramos abaixo:
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
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DICAS DE LEITURAS
LIVROS
http://www.livrologia.com.br/loja/educacao-popular-nas-cartas-do-educador-
carlos-rodrigues-brandao-contribuicoes-para-a-pedagogia-latino-americana
http://www.livrologia.com.br/anexos/1432/50003/livro-cartas-pedagogicas-pdf
64
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
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“dos anos 60”; d) a educação do e através dos MPs; e) a proposta de educação pública
das autodenominadas administrações populares de governos municipais e estaduais
no país, hoje em dia (2002, p.143).
Cabe ressaltarmos que “[...] os acontecimentos dos anos sessenta/setenta
constitui apenas o seu momento mais notável, por enquanto. Este olhar quer ver e
dizer o seguinte: a Educação Popular não foi uma experiência única”. (BRANDÃO,
2002, p. 141-142).
Nas diferentes faces da Educação Popular no Brasil há vertentes políticas, peda-
gógicas e filosóficas também peculiares (PAULO, 2018). Igualmente, a presença das
experiências dos Movimentos Populares, junto a uma metodologia de educação crítica
problematizadora, foram consideradas uma educação autenticamente popular, sobre-
tudo pelo seu compromisso com uma educação político-transformadora. Isso é, “a
educação na qualidade de política” busca não só “caracterizar a situação das classes
populares na América Latina”, que se encontram reprimidas à hegemonia das classes
dominantes (GADOTTI; TORRES, 1994, p.9), mas sobretudo com elas e a partir de-
las, construir uma educação contra hegemônica e anticolonizadora. Sendo assim, para
Gadotti o surgimento da Educação Popular:
10
Promovida pela Secretaria Municipal de Educação de Natal.
66
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
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68
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Esse período chamado por Brandão de “fértil, difuso e de uma imensa militância
política através da educação” (2002, p.149) é considerado como “um paradigma teóri-
co que surge no calor das lutas populares”. (GADOTTI & TORRES, 1994, p. 8).
Nesse processo, a Educação Popular se configura como “uma pedagogia anun-
ciada das classes populares”, onde se dá o marco inicial na década de 1960, quando
se concebe “uma pedagogia na educação brasileira (e latino-americana) que leva
em consideração a realidade brasileira com vistas a sua transformação” (PALUDO,
2001, p. 91) em que, conforme Fávero (1984), contemplava “aspectos inovadores
- no que diz respeito ao método e ao conteúdo sócio-político”, respeitando as ca-
racterísticas comuns dos setores populares, pois:
14
MOBRAL: Movimento Brasileiro de Alfabetização, cujos princípios eram diferentes daqueles
que Paulo Freire pressupunha.
69
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70
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
71
Fernanda dos Santos Paulo
as lutas por mudanças dos contextos de exclusão social que os desumanizam. Muitos
desses movimentos abordam a Educação Popular de alguma forma, às vezes explicita-
mente outras nem tanto, mas são reconhecidos por suas propostas de alternativas ao
modelo de sociedade excludente.
Ou seja, apesar de suas especificidades, nesses movimentos são os (as) oprimidos
(as) que se organizam na busca de intervenção e transformação da realidade e essas,
por sua vez, são características da Educação Popular que, segundo Zitkoski, pressupõe
“a atuação consciente da classe trabalhadora na luta em defesa de seus direitos”. (2011,
p.20). Nessa mesma linha, Ammann escreve sobre o que incide o surgimento de Movi-
mentos Populares: “a consciência da falta de moradia, de escolas, de equipamentos de
saúde, de transporte, de creche, de energia elétrica, de esgoto etc. que as compele a iniciar
a luta”. (1991, p. 57).
No tocante a essa questão, trazemos algumas experiências de Educação Popular,
no contexto de Porto Alegre, que expressam as lutas urbanas, realizadas a partir de si-
tuações locais das comunidades, mas que contemplam temas mais abrangentes, como
é o caso da luta pela educação pública, gratuita e de qualidade. Das experiências que
conhecemos no território urbano, citaremos apenas quatro, por considerarmos que
estas se aproximam entre si enquanto prática social de lutas pela EJA: 1) o CAMP17;2)
os Conselhos Populares18;3) a AEPPA19; 4) Fóruns de EJA Brasil20. Estes movimen-
tos trabalham com a Educação Popular e lutam pela EJA – os quais têm a Pedagogia
frreiriana como referência. Alguns depoimentos retratam as lutas de movimentos po
populares em prol da EJA.
Para Maristela Maffei (liderança comunitária) a EJA é importante na formação
crítica das classes populares, em especial das mulheres:
Na Lomba do Pinheiro ainda há pouca visibilidade das mulheres. Elas têm participação,
mas ainda é tacanha. Falta o empoderamento via Educação. A EJA no Ensino Médio
é necessária aqui – não temos essa modalidade no bairro mesmo com mais de 100 mil
moradores. A identidade de uma região requer uma educação crítica e nós lutamos por
isso. (Maristela Maffei. Formada em Especialista em Gestão Pública e Privada com
pós em Direito Constitucional. Iniciou sua militância nas CEBS e Pastoral Operária.
17
Centro de Assessoria à Movimentos Populares. A equipe é formada por sócios militantes que
trabalham com os processos de organização coletiva em prol do da justiça social. Para maiores
informações: <http://www.camp.org.br>.
18
São espaços criados pelas Lideranças Comunitárias, tendo por objetivo discutir os problemas
das comunidades e mobilizar as pessoas para defender seus direitos. Para conhecer uma expe-
riência de Conselho Popular de POA, socializamos o endereço do blog:<http://cplombadopi-
nheiro.blogspot.com.br/>.
19
Associação de Educadores Populares de Porto Alegre-RS. Que se coloca como um “espaço de
socialização de experiências e de articulação para ações coletivas que promovam um projeto
político pedagógico de formação inicial e continuada nos pressupostos da educação popular”.
Carta de Princípios disponível no blog: <http://aeppa-poa.blogspot.com.br/>.
20
Para conhecer a história dos fóruns é importante conhecer o Portal dos Fóruns de EJA, o qual
é um espaço que congrega vários movimentos sociais em defesa da EJA. Nele encontramos ma-
teriais diversos, entre eles da Educação Popular.http://www.forumeja.org.br/
72
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Na sequência:
[...] é grave a postura dos atuais governos, Federal e Municipal. Os impactos do des-
monte da EJA podem ser medidos não somente na restrição no acesso ao mercado de
trabalho e no Ensino Superior de centenas de milhares de pessoas, e, principalmente,
no aumento da violência e da criminalidade, que assusta a todos os/as brasileiros/as.
Mobilizar e articular os setores democráticos, os movimentos sociais para resistir a
tamanhos descasos é tarefa de todos aqueles comprometidos com o bem comum e uma
sociedade livre e soberana. A Lomba do Pinheiro, ao longo da sua história é marcada
pelo seu protagonismo da organização popular. É pelo Conselho Popular da Lomba do
Pinheiro e outros segmentos organizados do bairro, que se busca contornar e resistir
aos descasos desses governos.
(Francisco Geovani de Sousa, 1 de julho de 2018, https://sul21.com.br/opi-
niao/2018/07/as-lutas-do-movimento-popular-e-suas-interfaces-com-a-educacao-
-por-francisco-geovani-de-sousa/).
O depoimento acima, publicado no jornal Sul 21, foi autorizado pelo autor para
utilizar nesta obra como depoimento. Geovani é Assistente Social de formação com
especialização em Gestão da política de Assistência Social. Atualmente está Conselhei-
ro Tutelar do Conselho Tutelar da Microrregião 9 de Porto Alegre/RS, além de estar
presidente da Associação Comunitária da Vila Panorama - ASCOVIPA. Coordenador
73
Fernanda dos Santos Paulo
74
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Na perspectiva acima, a Educação Popular não pode ser um modelo pronto a ser
seguido, não se constitui numa fórmula de depósito de conhecimento e nem é um tipo
de serviço de cunho assistencialista. Porém, apresenta-se como um lugar de estudo
participativo e criativo, em que a “Educação Popular e mudança social andam juntas”.
(FREIRE; NOGUEIRA, 1989, p.62).
75
Fernanda dos Santos Paulo
Por fim, é interessante referir com Brandão que nos pontua alguns limites do en-
tendimento do que é uma Educação Popular, dentre eles: a) não é só um programa de
educação; b) não é só educação de jovens e adultos; c) não é um modelo a ser desen-
volvido de educação para o povo (1986, p.79-83). Na concepção freireana de Educação
Popular, ela não é uma educação para o povo e não é só educação pública, visto que o
seu objetivo maior é a emancipação humana e social. Para que isso se efetive, é preciso
compreendê-la como educação crítica-problematizadora, a ser construída através da
participação popular, mediante uma intencionalidade política que possui uma opção
de classe. (FREIRE, 1981; ARROYO, 1986).
Tal como compreendemos a Educação Popular, nos estudos que realizamos até
aqui, percebemos que carecemos de pesquisas mais aprofundadas, críticas e analíticas
sobre que concepção de ser humano e projeto de sociedade estão lhe conduzindo nos
dias atuais. Se para nós a EP tem como horizonte a emancipação humana, a luta não se
pauta somente pelo acesso a alguns direitos, mas sobretudo pela conquista da justiça
social que demanda o rompimento do modo de produção capitalista.
Nesse entendimento, no capitalismo, a educação não tem razão de ser emancipa-
tória, até porque seu principal objetivo é transformar as pessoas em objetos do capital,
que por sua vez necessita de um tipo de escolarização que preconize um modelo míni-
mo de sobrevivência humana, ditado pelo mercado. Consequentemente, essa concep-
ção de educação não terá como intento a superação do capital e, por isso, não importa
a ela ensinar à classe popular instrumentos políticos de ler e compreender o mundo de
forma crítica e nem mesmo ter a finalidade de abolir as desigualdades sociais.
Como podemos evidenciar, os princípios da Educação Popular são completamente
diferentes da sociedade capitalista que, por sua vez, ambiciona formar pessoas para
que compreenda o ser humano de forma fragmentada, o trabalho enquanto mercado-
ria a ser vendida e a sociedade como excludente por natureza. (FREIRE, 2000; MARX,
2003; MÉSZÁROS, 2008). É com base em tal perspectiva que apontamos a Educação
Popular como uma alternativa possível e necessária à educação do mercado, pois ela
tem como perspectiva a organização das classes populares na luta contra a exclusão
social, fruto da sociedade capitalista que assinala a propriedade privada, o lucro, a con-
corrência e o controle sobre o trabalho como formas de garantia do desenvolvimento e
fortalecimento desse modelo societal.
Diante dessa realidade, pautar a formação na concepção da Educação Popular, é
pertinente e coerente com as lutas dos Movimentos Populares, os quais defendem um
projeto de sociedade transformador. Entretanto, parece ser urgente e indispensável,
principalmente no atual contexto da educação capitalista-neoliberal que nos apresenta
políticas sustentadas pela equidade22, distinta da concepção de igualdade social de-
fendida pela Educação Popular, pautar, repensar e problematizar as suas propostas,
a fim de fomentar processos de formação político-pedagógica que vislumbrem uma
sociedade emancipatória (FREIRE, 1997a; SAVIANI, 1998).
Em conformidade com os referenciais freireanos sobre a Educação Popular, o sis-
tema vigente é opressor desde a sua gênese, visto que defende, mesmo que de forma
oculta, uma sociedade alienada e que, no entanto, busca sustentar-se por uma educa-
ção dirigida à manutenção da sociedade capitalista. Esta tem por pretensão educar a
Termo muito utilizado pelo Banco Mundial, que inclusive o utiliza para defender políticas que
22
76
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
INDICAÇÃO DE LEITURA
LIVROS
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
1
LDBEN, 1996: Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em
regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino.
2
Temos as seguintes modalidades: EJA, Educação Especial, educação bilíngue de surdo, educa-
ção a distância, Educação Básica do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Escolar Qui-
lombola e Educação para Jovens e Adultos privados de liberdade em estabelecimentos penais.
79
Fernanda dos Santos Paulo
80
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
3
Política de Educação do Campo e do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
(PRONERA), instituído pelo Governo Federal em 2010 destinada à ampliação e qualificação da
oferta de Educação Básica e Superior às populações do campo.
4
Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Mo-
dalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja) foi criado em 2005, objetivando atender à
demanda de acesso de jovens e adultos à educação profissional e tecnológica de forma articulada
com a elevação da escolaridade.
5
Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec): contempla a Expansão
da Rede Federal, Bolsa-Formação, Programa Brasil Profissionalizado, Rede e-Tec, e Acordo de
Gratuidade com Serviços Nacionais de Aprendizagem – Sistema S.
6
Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem): integra a Educação Profissional com a
Educação Básica na modalidade de EJA.
7
Programa Brasil Alfabetizado (PBA) objetiva promover a superação do analfabetismo entre
jovens com 15 anos ou mais, adultos e idosos e contribuir para a universalização do ensino
fundamental no Brasil.
81
Fernanda dos Santos Paulo
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº. 9.394/96 - A Educação de Jo-
vens e Adultos – EJA passa a ser considerada uma modalidade de ensino, da Educação
Básica nas etapas do Ensino Fundamental e Médio. Art. 4º, incisos I e VII, da Lei nº
9.394/1996 e a regra da prioridade para o atendimento da escolarização obrigatória –
idade mínima de 15 (quinze) anos completos para o ingresso nos cursos da EJA e para a
realização de exames de conclusão da EJA do Ensino Fundamental I e II. Assegurada na
LDBEN para EF e EM – observada as especificidades dos sujeitos.
EJA tem duas etapas, e os critérios para inscrição são estabelecidos para cada uma delas. A
primeira etapa, do Ensino Fundamental, é destinada a jovens a partir dos 15 anos. Já para
a segunda, do Ensino Médio, é preciso ter mais de 18 anos.
CARGA HORÁRIA DA EJA – Ensino Fundamental - 1.400 horas para a formação geral
e 200 horas para a qualificação profissional, totalizando 1.600 horas.
Art. 37- “A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso
ou oportunidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria”.
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Fonte: Organizado por Elaine Silveira Teixeira Ferreira (FEJA-RS) e Fernanda dos Santos
Paulo (FEJA-RS)
85
Fernanda dos Santos Paulo
educacionais da EJA. Neste caso, o contexto de influência trata do lugar e dos discur-
sos políticos em que as políticas públicas são planejadas e construídas. Então, nos per-
guntemos: quem são os sujeitos políticos que construíram e aprovaram a Resolução
CNE/CEB nº 1, de 28 de maio de 2021 e o Parecer CNE/CEB Nº: 6/2020?
Cabe sublinhar que os apontamentos não são pessoais, mas abarca uma rede de su-
jeitos que se conectam na construção da política de EJA, ou seja, trata-se do contexto
de influência na construção desses documentos.
No tocante ao contexto da produção de texto, temos interesses ideológicos, filia-
ções teóricas e interesses políticos, por exemplo. O texto e o contexto da política não
são neutros. A linguagem não é neutra. Sobre isso, Paulo Freire, autor reconhecido
mundialmente como pensador/intelectual educacional, não citado no atual governo,
até porque foi considerado como “energúmeno” por Jair Bolsonaro8 , diz que não há
pensamento-linguagem sem mundo referente (FREIRE, 1981). Sendo assim, a lingua-
gem precisa ser entendida sob o ponto de vista social e político. Em Pedagogia da Es-
perança teremos explicito que os processos educativos são constituídos por contextos
concretos e teóricos. Quero dizer que o contexto da produção de texto está articula-
do com a linguagem interessada, intencionada. Discorremos a respeito de textos po-
líticos, os quais representam um projeto político, concepções de política, de EJA, de
educação em geral. Essas representações ganharam forma acompanhada de conteúdo
(jamais neutros), a partir de textos legais/oficiais do Conselho Nacional de Educação/
Câmara de Educação Básica. Neste caso, temos dois textos políticos legais e oficiais: o
Parecer CNE/CEB Nº: 6/2020 e a Resolução CNE/CEB nº 1, de 28 de maio de 2021.
Espera-se que os textos políticos sejam frutos de participação de diferentes sujei-
tos, de problematizações, de disputas e de acordos. Deseja-se que a produção de textos
resulte de muitas e múltiplas participações, escutas, embates e diálogos de sujeitos que
ocupam diferentes lugares na EJA (pesquisadores, professores, militantes, gestores, es-
tudantes, etc.).
A política educacional, no contexto de um país que se diz democrático, não pode-
ria ser construída e finalizada sem a participação efetiva dos sujeitos da área de EJA.
Sem essa participação qualificada, sensível e comprometida, o contexto da prática fica
enfraquecido, sem sentido e até inoperante para os sujeitos da EJA. É no contexto da
prática que a política é executada/implementada, interpretada, reinventada ou até não
efetivada. Dito isso, vou me dirigir aos apontamentos específicos do Parecer CNE/
CEB Nº: 6/2020 e da Resolução CNE/CEB nº 1, de 28 de maio de 2021, mediante um
diálogo introdutório, entre o contexto de influência e o contexto do texto.
O parecer de nº 06/2020 que antecede a resolução (nº 1/2021) teve a professo-
ra Suely Melo de Castro Menezes9 (Conselho Nacional de Educação) como relatora.
Esse parecer declama que tratará das “características do público atendido, carga horá-
8
Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/12/16/bolsonaro-chama-paulo-
-freire-de-energumeno-e-diz-que-tv-escola-deseduca.ghtml
9
Pedagoga pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestra em Desenvolvimento Regional
pela UNITAU. Diretora da COFENEN (Confederação Nacional de Escolas Particulares de
Ensino). Conselheira do Conselho Nacional de Educação (2016-2024). Presidente da Câmara
de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (2020-2021). Membro da Comissão
de Estudos das Relações Étnico-Raciais (CEB/CNE). Presidente da Comissão de Educação
Especial (CNE). Presidente do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação (1999,
2015 e 2016). (Dados retirado do escavador, fevereiro de 2022),
86
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
87
Fernanda dos Santos Paulo
No Parecer 06/2020 não consta o Parecer CEB nº: 11/2000 que trata das Dire-
trizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, cujo relator foi
Carlos Roberto Jamil Cury, construído de modo participativo, incluindo os Fóruns
de EJA do Brasil. Nele localizamos o conceito e funções da EJA associados ao direi-
to à educação, suas bases históricas, políticas, sociais e legais; acerca das Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, do Plano Nacional de
Educação, da formação docente entre outros assuntos atrelados a essa modalidade.
Como demonstração do avanço teórico e legal com relação a EJA verificamos o
seguinte excerto: “A nova formulação legal da EJA no interior da educação básica, como
modalidade do ensino fundamental e sua inclusão na ótica do direito, como direito pú-
blico subjetivo, é uma conquista e um avanço cuja efetivação representa um caminho
no âmbito da colaboração recíproca e na necessidade de políticas integradas.” (Parecer
CEB nº: 11/2000, p. 49). Vejamos que os sujeitos da EJA (educandos) são reconhecidos
como portadores de direito à educação, sujeitos e não objetos da política educa-
cional. Dois apontamentos são sublinhados, o primeiro que o Ensino Médio nessa
citação não foi mencionado, porém considerada como direito à educação a todas as
pessoas. Com a Emenda Constitucional de nº 59 de 2009 teremos a seguinte formu-
lação: “a educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não
tiveram acesso na idade própria; (NR)”. O segundo apontamento versa a respeito
da concepção de sujeito (educando) da EJA que no Parecer CNE/CEB nº 15/98 esse
sujeito de direito, presente na LDBEN (1996) e na Constituição Federal (1988) foram
considerados, explicitamente no texto, como clientela.
Sobre isso, Soares (2005) recupera a luta pelo direito à educação e à formação do
educando de jovens e adultos no Brasil. Este autor tem ampla produção sobre a EJA
enquanto direito. Vejamos:
88
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
89
Fernanda dos Santos Paulo
90
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
91
Fernanda dos Santos Paulo
12
Comissão Externa do MEC https://edemocracia.camara.leg.br/audiencias/sala/2392/.As
ações e omissões voltadas à Educação de Jovens e Adultos Audiência Pública 20 de Outubro
de 2021.
92
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
93
Fernanda dos Santos Paulo
94
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Diante das ações e reflexões de Santos (2010), Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005)
colocam os seguintes desafios:
Em consonância com esses apontamentos Jaqueline Moll (2010) alerta para o pro-
cesso na/da construção da política educacional:
95
Fernanda dos Santos Paulo
96
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Sugere, nessa linha de raciocínio, textos de Fábio Konder Comparato que produz
reflexões acerca do direito constitucional. Em uma entrevista14 esse professor declara:
97
Fernanda dos Santos Paulo
98
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
INDICAÇÃO DE LEITURA
INDICAÇÃO DE DOCUMENTÁRIO
https://www.ilo.org/brasilia/noticias/WCMS_731345/lang--pt/index.htm
Documentário retrata as histórias de trabalhadores(as) resgatados (as) de
condições análogas ao trabalho escravo.
"O que você quer ser quando crescer?" é um documentário sobre o trabalho
informal em Ouro Preto (MG).
99
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
A
diversidade sociocultural dos sujeitos da EJA e suas implicações político-
-pedagogica para a escolarização de pessoas jovens, adultos e idosos é um
tema importante e necessário na discussão acerca da formação inicial e
permanente de educadores, bem como para as políticas educacionais para EJA.
Miguel Gonzáles Arroyo, com sua obra “Passageiros da noite: do trabalho para
a EJA– itinerários pelo direito a uma vida justa”, apresenta as particularidades dessa
modalidade de ensino, expondo características desses sujeitos. Exibe as condições precá-
rias que vivem os sujeitos da EJA, cuja maioria estão na condição de desempregados ou
subempregados. Ademais, as trajetórias escolares desses sujeitos apresentam-se marca-
das por interrupções, sendo uma delas a exclusão da Educação Básica. Outrossim, os
problemas de ordem social e econômica como fatores de exclusão educacional.
O histórico da EJA no Brasil é constituído, ressalta o autor, por avanços conceitual
e organizacional (estrutura organizacional a partir da LDBEN), sendo que uma das
conquistas é a de que a EJA não tem, como anteriormente, o caráter supletivo e com-
pensatório que persistiu por muito tempo. Outra evolução conceitual e estrutural foi a
de que a escola, via políticas educacionais, volta-se a atender jovens e adultos que não
frequentaram a escola buscando contemplar a função equalizadora da educação, com
compromisso com a inclusão social.
Também, as políticas públicas educacionais que orientam a construção de um cur-
rículo próximo as reais necessidades dos educandos da EJA são consideradas outro
importante avanço. A diversidade de sujeitos da EJA, no entanto, necessita de um
currículo contextualizado e metodologias de trabalho específicas para esse grupo
de alunos heterogêneos. Sendo assim, o currículo e a prática pedagógica para o exer-
cício da EJA devem levar em consideração os sujeitos dessa modalidade.
Para o debate em torno das políticas de EJA, o autor faz uso de importantes refe-
renciais teóricos, com destaque para Paulo Freire com os livros Pedagogia do opri-
mido e Pedagogia da Esperança.
Os sujeitos da EJA, aqui denominados como “Passageiros da noite”, revelam, na
pesquisa de Arroyo, dificuldade de conciliar o trabalho com os estudos. Daí, enfatiza
a ausência de políticas públicas adequadas para garantir o acesso e a permanência
desses estudantes na escola. Dentre as mudanças necessárias, do ponto de vista estru-
tural, é necessário garantir, efetivamente, uma escola inclusiva enquanto um direito
social; e, uma proposta pedagógica com um currículo e prática educativa amparadas
na educação democrática.
Os “Passageiros da noite” tem sido vítimas da desumanização e de invisibilidades,
quando excluídos da escola e da sociedade, portanto também são passageiros do dia.
101
Fernanda dos Santos Paulo
Para Arroyo (2017), as questões curriculares podem contribuir para que a escola de
EJA torne-se interessante para esses sujeitos coletivos de direitos, trabalhando para o
direito a uma vida justa, com conhecimento significativo. Acrescenta, outros direi-
tos: à cultura, a arte, a poesia, a música, à diversidade, o trabalho, a vida digna. Recorda
que à memória, as identidades e à história dos sujeitos da EJA, frequentemente, lhes
são negados – temas que deveriam compor o currículo escolar. Assim, o conheci-
mento escolar libertador é um desafio, considerando o direito a uma vida digna.
Arroyo (2017) ao tratar dos sujeitos da EJA (manicure, faxineira, motorista, o de-
sempregado, o vendedor, o pedreiro, o servente de pedreiro, o trabalhador precari-
zado, etc.) propõe uma pedagogia dos corpos, isto é, um currículo que não ignore a
corporeidade e suas diferentes linguagens. Tão importante quanto os pontos destaca-
dos, o autor fala dos sujeitos da EJA que tiveram negado o direito ao trabalho porque
foram segregados pela escola. Refere-se aos jovens e adultos trabalhadores que vêm do
trabalho para a EJA e questiona de que trabalho estamos falando. Esse tema faz parte
da diversidade de sujeitos da EJA.
O direito ao trabalho está atrelado ao direito a uma vida justa e ao compromisso
político da escola. Repensar a proposta ético-política da pedagogia e da cultura esco-
lar é falar dos sujeitos da EJA, de suas histórias de segregações que nosso sistema es-
colar, infelizmente, ainda mantém. São sujeitos jovens-adultos que chegam na escola
com suas experiências, alguns com vivências de percursos escolares de segregação /
desumanização. Estamos tratando de sujeitos com identidades marcadas por práticas e
políticas segregadoras, portanto antipedagógicas, no sentido da pedagogia freiriana.
Questiona políticas educacionais, no contexto, da diversidade de sujeitos da EJA,
como a “certificação dos exames da EJA”. Qual o sentido desse certificado? Não reforça
o sentido segregador quando não está direcionado a uma formação humanizadora?
Arroyo (2017) coloca que o direito humano ao trabalho, na atualidade, está asso-
ciado a exigência - cada vez mais –de um diploma de Ensino Fundamental e de Ensi-
no Médio. Daí, a necessidade de analisar o sentido do diploma. Para tanto, um outro
desafio é a discussão do currículo, da docência, do trabalho e da formação cidadã no
processo formativo de educadores e de educandos.
Ao discorrer sobre os sujeitos da EJA, recorremos aos aspectos legais, tais como a
LDBEN (1996): “Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que
não tiveram acesso ou continuidade de estudos nos ensinos fundamental e médio na
idade própria [...].” (grifos meus).
Vamos dar atenção a expressão “aqueles”. Quem são estes? O primeiro ponto a
assinalar é a questão geracional (jovens, adultos e idosos). Outros pontos: pessoas
que residem em regiões urbana ou do campo, de diferentes regiões do país, contextos
históricos, sociais, culturais e políticos plurais. Quanto a classe social, são sujeitos da
classe trabalhadora/popular.
Para reflexão sobre os sujeitos da EJA retomemos um artigo de Arroyo, escrito
em 2007: “A EJA tem que ser uma modalidade de educação para sujeitos concretos,
em contextos concretos, com histórias concretas, com configurações concretas.” (p.7).
102
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Então, mediante esta citação, pensemos sobre a palavra “aqueles”, presente no artigo
37 da LDBEN (1996).
Sabemos que os sujeitos da EJA têm histórias marcadas por exclusões sociais, se-
jam elas: miséria, desemprego, luta por moradia, gravidez na adolescência, trabalho
infantil, etc.
Um outro destaque a ser feito trata da expressão “idade própria1”, termo consi-
derado excludente em nossa legislação, porque a esses sujeitos foi negado a escolari-
zação e não podemos culpabiliza-los pela história educacional brasileira demarcada
por exclusões sociais e por políticas educacionais de caráter compensatória. Para essa
reflexão, Di Pierro (2005), rememora os sentidos do ensino supletivo, tomado como
instrumento de reposição de estudos e não como direito à educação. Sendo assim,
conhecer e reconhecer a diversidade de sujeitos que fazem parte da modalidade de
ensino da EJA é de suma importância para não reproduzir a educação bancária de
sentido compensatório que somos contrários.
Estudo na escola Sant’ Hilaire, no EJA. Na minha turma tem alunos entre 16 anos a
57 anos. Os colegas dizem que querem estudar para concluir o ensino fundamental.
Outros dizem que a família mandou estudar (os mais jovens). Tem um colega, mais
senhor, que diz que voltou a estudar porque sente vontade de ter mais conhecimento.
Tenho uma colega, a Janaina, que foi demitida porque ela não tinha o segundo grau
completo. Ela buscou o EJA porque precisa completar seus estudos para poder vol-
tar ao serviço dela. Alguns colegas querem fazer faculdade. Outros não falam nada.
Gosto da aula com pessoas mais velhas. Elas nos ajudam, orientam e nos entendem.
Estamos todos ali para estudar. É o mesmo objetivo. As experiências deles nos ajudam
e nos incentivam, dão força! Faz a gente não querer desistir. Faz a gente se colocar no
lugar deles. Fico com vergonha quando alguém desiste, porque vejo um senhor com
quase 60 anos não desistindo. Todos têm condições de aprender. Todos são capazes
de estudar e completar os estudos. Basta querer- hoje tem passagem, merenda, livro
e horário flexível. Nós, mais jovens, temos que aprender com os mais experientes. Se
eles voltaram a estudar é porque é importante e fez falta.
(Relato de estudante da EJA: Ensino Fundamental: Andrielle Vitória Molina, 17
anos, moradora do bairro Lomba do Pinheiro, POA/RS).
A LDBEN (1996) com o termo “idade própria” deve ser problematizado e critica-
do, incluindo- nesse debate- a discussão sobre a história de negação do direito à educa-
ção no Brasil e a nossa defesa de que não há idade própria para aprender e ensinar. O
relato da estudante da EJA é significativo para nos questionarmos acerca da expressão
“idade própria”, ainda presente em nossas legislações educacionais. Comparável a essa
situação é o vocábulo “regular”, como se a EJA fosse irregular. Há documentos, em
âmbito de legislação educacional, que se referem a escola regular para jovens e adultos
ou não concluíram”. Frequentemente, escutamos: “o aluno desistiu ou foi expulso da
escola regular e veio para a EJA.” Há escolas irregulares? Em meu entendimento, e
na compreensão de vários estudiosos da EJA, essa expressão revela o caráter precon-
ceituoso com a modalidade. Enfatizamos que a EJA não é uma modalidade irregular.
1
LDBEN (1996) “acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e médio para todos os que
não os concluíram na idade própria;” (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
103
Fernanda dos Santos Paulo
Os sujeitos concretos da EJA são homens e mulheres (jovens, adultos e idosos) com
trajetórias marcadas por violação de direitos. Composto pelos povos indígenas, qui-
lombolas, ciganos, migrantes, imigrantes, camponeses, pessoas privadas de liberdade,
nômades, refugiados, pessoas com deficiências e síndromes, pescadores, aquicultores,
agricultores, povos das florestas, das águas e ribeirinhos, entre outros. Essa diversida-
de, como constatamos, compõe “questões étnico-racial, religiosa, cultural, geracional,
territorial, físico-individual, de gênero, de orientação sexual, de nacionalidade, de op-
ção política, linguística, dentre outras.” (Caderno CONAPE, 2022, p.30). Importan-
te salientar que, sobretudo nas escolas de periferias, a EJA conta com o um número
significativo de pessoas negras e LGBTQIA+, marca de um processo de exclusões e
preconceitos que estes sujeitos sofreram por décadas.
Os dados acima contribuem para as reflexões, no que diz respeito, a diversidade
dos sujeitos da EJA. Nas palavras de Julião (2009, p. 209):
Enquanto docentes precisamos nos perguntar: quem são os sujeitos da EJA? Quais as
suas origens/ identidades? Por que optam em continuar frequentando a EJA? Quais as suas
perspectivas futuras? Como venho trabalhando, político e pedagogicamente, na busca pela
garantia de uma pedagogia do direito a unidade na diversidade (FREIRE, 1997b)?
Em conformidade com o Censo da Educação Básica de 2019, acerca do item
“Cor/raça2”:
Cabe a EJA, uma educação que contribua para lutar e garantir a conquista de direi-
tos sociais individuais e coletivos, possibilitando uma pedagogia dos direitos articu-
lada a uma pedagogia dos e com os oprimidos. Se assim defendemos, trabalhar com
2
https://download.inep.gov.br/publicacoes/institucionais/estatisticas_e_indicadores/resumo_
tecnico_censo_da_educacao_basica_2019.pdf
104
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
105
Fernanda dos Santos Paulo
INDICAÇÃO DE FILME
“Fora de Série” - Um filme do Observatório Jovem do Rio de Janeiro
Direção: Paulo Carrano, 2018
https://vimeo.com/257750339
Para Quézia Vila Flor Furtado (2015, p. 55) esse fenômeno resultado de “[...]pro-
cesso de escolarização degradada, que perpetua a exclusão escolar. Os/as alunos/as
têm acesso ao espaço físico, mas não, a uma educação de qualidade, que os/as consi-
dere como sujeitos de direitos.”
Dados do Censo da Educação Básica de 20197 mostram que: “A educação de jo-
vens e adultos (EJA) é composta, predominantemente, por alunos com menos de 30
anos, que representam 62,2% das matrículas. Nessa mesma faixa etária, os alunos
do sexo masculino são maioria, representando 57,1% das matrículas.” (p. 37. Grifos
meus). Para compreensão da questão da idade, busquemos o Estatuto da Juventude
(BRASIL, 20138), o qual compreende que “são consideradas jovens as pessoas com
idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos de idade.” (Art. 1º). A partir dessa
legislação, confirmamos que existe um expressivo número de matrículas na EJA, com-
6
Os dados são expostos pela professora, Analise de Jesus da Silva (UFMG), na I Conferência do
PROFEA intitulada “Políticas Públicas de Jovens e Adultos (EJA)- realizada em março de 2021.
7
Acesso em: https://download.inep.gov.br/publicacoes/institucionais/estatisticas_e_indicado-
res/resumo_tecnico_censo_da_educacao_basica_2019.pdf
8
Acesso em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12852.htm
106
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
posto pelas diversas juventudes. Mas não esquecemos que a EJA contempla adolescen-
tes com idade entre 15 (quinze) e 18 (dezoito) anos, conforme preconiza o Estatuto da
Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990). O mesmo ocorre na educação profissional,
segundo os dados do Censo da Educação Básica (2019, p.41): “A educação profissio-
nal é composta predominantemente por alunos com menos de 30 anos, que represen-
tam 78,8% das matrículas”. Mas agora, olhemos o gráfico das matrículas da EJA:
Fonte: Elaborado por Deed/Inep com base nos dados do Censo da Educação Básica, 2019.
Arroyo (2017) nos convida a pensar e investigar os saberes das juventudes, pre-
sentes na EJA. E, nos cabe a acompanhar esse fenômeno de modo crítico. Para tanto
recordemos o Parecer nº 23/20089 (BRASIL, 2008) apresentou alguns indícios sobre a
ocorrência de educandos cada vez mais jovens na EJA (grifos meus):
que
107
Fernanda dos Santos Paulo
Indicação de leitura
ARTIGO
A Educação Básica como direito
Carlos Roberto Jamil Cury
https://www.scielo.br/j/cp/a/QBBB9RrmKBx7MngxzBfWgcF/?format=pdf&lang=pt
LIVRO
Na EJA Tem J: Juventudes na Educação de Jovens e Adultos.
Analise de Jesus da Silva
Fonte: Elaborado por Deed/Inep com base nos dados do Censo da Educação Básica, 2019.
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Análise dos dados do IBGE10 (2010) exibem que adultos de 30 a 59 anos cresceram
de 2005 a 2015 (respectivamente 4,5 e 4,8 pontos percentuais). Pessoas de 29 a 34 anos
que moram com os pais são mais escolarizados, segundo os dados. Diz, ainda, que en-
tre as pessoas com 30 a 59 anos, ocupadas (trabalhando), possui de 8,9 de estudos. Isto
é, não temos a Educação Básica concluída de pessoas adultas. Em conformidade com
a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2019, incluindo pessoas
adultas e idosas temos os seguintes dados11:
Fonte:https://url.gratis/PRmswr
109
Fernanda dos Santos Paulo
trabalho (zona sul de Porto Alegre) poucas pessoas relataram terem sido estudante da
EJA, mas nessas comunidades periféricas tem muitas pessoas que são públicos da EJA,
tanto do ensino fundamental como do Médio. Quando era o Bolsa Família o jovem e
adolescente que constava no cadastro deveria frequentar a escola. A infrequência cau-
sava bloqueio no benefício da família e se tornava caso de Conselho Tutelar. Este era
um dos casos discutidos nas reuniões intersetoriais. Agora, no Auxílio Brasil, o jovem
que não tem frequência na escola a sua família não sofre nenhum tipo condicionalida-
de, apenas o adolescente/jovem perde o valor que recebe dentro do programa/auxílio.
(Andreia Lima, assistente social – Uniasselvi – 39 anos – participante da AEPPA).
Esse relato mostra que quanto menor a escolaridade maior é a procura por benefí-
cios sociais devido as precárias condições de vida. Sendo assim, a escolarização contri-
bui para diminuir as exclusões e desigualdades sociais. Registra-se que, ainda, temos
um número de jovens e adolescentes de comunidades periféricas fora da escola e sem
monitoramento da infrequência (abandono escolar) ou da evasão escolar.
12
Acesso em:https://censo2010.ibge.gov.br/noticias-censo.html?busca=1&id=1&idnoticia=3326&-
t=sis-2016-67-7-idosos-ocupados-comecaram-trabalhar-14-anos&view=noticia
110
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Estes dados indicam que estudantes idosos, com demanda potencial para EJA, não
estão acessando a modalidade. O que nos leva a interpretar os dados do Censo da
Educação Básica (2019), referente as matriculas, como preocupante. A não matrícula
significa várias questões de âmbito político, social e cultural.
Na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2019, a taxa de
analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais foi estimada em 6,6% (11 milhões
de analfabetos). A taxa de 2018 havia sido 6,8%. Vejamos que essa é uma demanda
potencial da modalidade de EJA. Temos nesses dados um significativo número de pes-
soas idosas.
De acordo com o Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003) conteúdos voltados ao pro-
cesso de envelhecimento devem constar nos diversos níveis de ensino, incluindo a
EJA. Vejamos, que mesmo com essas legislações e dados estatísticos, ainda necessita-
mos contemplar, de forma respeitosa e histórica, a diversidade de sujeitos idosos nas
produções acadêmica acerca da EJA e na escolarização dessa modalidade. Há poucos
estudos que se dedicam a essa especificidade.
No caderno virtual da CONAPE13(2022, p. 54) encontramos a seguinte sinalização:
111
Fernanda dos Santos Paulo
112
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
De modo geral, no Brasil, a Educação de Jovens e Adultos no sistema prisional está am-
parada pela Lei de Diretrizes Bases (Lei 9394/96), embora a expressão (educação prisional,
educação em prisões, Educação no âmbito do Sistema Prisional, educação para jovens e
adultos em situação de privação de liberdade) não apareça na lei. Mesmo com o aporte ju-
rídico a partir da Lei de Execução Penal (1984) com artigos que definem o direito a educação
como forma de prevenção ao crime e retorno a convivência em sociedade. Igualmente, aos
jovens e adultos em situação de privação de liberdade que estudam tem o direito de apro-
veitar o período de estudos para fins de remição, presente na Lei de nº 12.433 de 2011, que
toma como ponto de partida a Lei de Execução Penal (1984) e a modifica.
Em 2010, a educação prisional ganhou um espaço importante nas discussões sobre
políticas educacionais, mas ainda não é (ou está parcamente) trabalhada nos cursos
de formação de professores. As Diretrizes Nacionais para a oferta de educação para
jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais
é uma conquista para a história da educação. Inclusive nessa diretriz há o registro de
dois seminários Nacionais de Educação nas Prisões.
O I Seminário Nacional pela Educação nas Prisões foi realizado em Brasília,
no mês de julho de 2006. O 2º Seminário Nacional pela Educação nas Prisões foi
realizado em Brasília/DF, em 2007. Já o III Seminário Nacional de Educação em
Prisões. Em 2021 foi realizado o III Seminário Nacional pela Educação nas Prisões
com tema “Os desafios e as possibilidades de viabilizar as políticas de educação,
trabalho e renda à pessoa presa”.
Um dos pesquisadores que mais tem produzido sobre a educação de jovens e
adultos em situação de privação de liberdade é o professor Elionaldo Fernandes Ju-
lião. Inclusive com projeto de pesquisa com o tema “Cartografia das experiências de
políticas de educação para jovens e adultos nas prisões da América do Sul”. Ele é
docente na Universidade Federal Fluminense é coordenador do Núcleo de Estudos e
Documentação em Educação de Jovens e Adultos e do Grupo de Trabalho e Estudos
sobre políticas de restrição e privação de liberdade. Para conferir suas produções su-
giro visitar o currículo lattes do pesquisador: http://lattes.cnpq.br/8517681757007026
Elenice Maria Cammarosano Onofre, vinculada a Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar) vem pesquisando o tema “educação escolar para jovens e adultos
em situação de restrição e privação de liberdade”, coordenando o projeto de pes-
quisa: Práticas educativas e os espaços de restrição e privação de liberdade: conso-
lidando epistemologias. Destaco um artigo que possui os temas EJA, Educação nas
Prisões e Educação Popular, de autoria coletiva com Ana Claudia Ferreira Godinho e
113
Fernanda dos Santos Paulo
Educação em Prisões
2013
https://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/issue/view/2030/showToc
v. 14 n. 29 (2018): JUL/SET. DOSSIÊ TEMÁTICO: Educação de Jovens e
Adultos: Formação e Prática Pedagógica em Diferentes Contextos. 2018
https://periodicos2.uesb.br/index.php/praxis/issue/view/303
DOSSIÊ: EDUCAÇÃO E PRIVAÇÃO DE LIBERDADE
2019
Reflexão e Ação. Santa Cruz do Sul, v. 27, n. 2, p. 03-06, mai./ago. 2018.
Fonte: da autora
114
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
115
Fernanda dos Santos Paulo
Nesse sentido, requisita-se que o tema da EJA prisional seja contemplado nos cur-
sos de licenciaturas e que sejam construídos seminários interinstitucionais (uni-
versidade, secretarias de educação e unidades prisionais) para proporcionar reflexões
sobre a temática, além de possibilitar que estudantes da graduação possam conhecer
o contexto do cárcere, seus desafios e limites, em especial aqueles enfrentados por
educadores que atuam nas prisões.
Indicação de livro
“[...] entre os temas que se referem a formação docente atrelada a EJA prisional,
a necessidade de uma formação contextualizada, multidisciplinar, intersetorial
e crítica na perspectiva de Paulo Freire. Sobre o material analisado, acreditamos
que é urgente estudos com docentes da EJA prisional para que, junto com eles,
possamos identificar as contribuições, limites e desafios acerca da formação de
professores para a EJA prisional”.
116
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Neste tópico vamos tratar dos sujeitos egressos da EJA que buscam a Educação
Superior. Para tanto realizei uma revisão de literatura na Biblioteca Digital de Teses e
dissertações, com os seguintes descritores: egressos da EJA na universidade, egressos
da EJA no ensino superior e egressos da EJA na educação superior. Observamos, em
uma pesquisa rápida, que não há nenhuma política educacional destinada a egressos
da EJA para continuidade dos estudos após a conclusão da Educação Básica. Assim
sendo, qual a presença do tema “egressos da EJA na a Educação Superior”?
Para a realização da revisão de literatura, o banco de dados utilizado foi a Biblio-
teca Digital de Teses e dissertações, com os seguintes descritores: egressos da EJA na
universidade, egressos da EJA no ensino superior e egressos da EJA na educação su-
perior. Depois de selecionados os trabalhos (26) foram separados aqueles que foram
defendidos na área da educação e que possuíam no título as expressões EJA e educação
superior/ ensino superior/universidade. Do resultado deste estudo, com recorte para
pesquisa realizadas em Programas de Pós Graduação em Educação e afins, foram lo-
calizadas 5 pesquisas, conforme quadro que segue:
Universidade Fe-
[T]: Esse ambiente não é
deral de Minas
para todo mundo: as con-
Gerais. Programa Carmem
dições de inserção e de DA CRUZ,
2016 de Pós-Graduação Lucia
permanência de egressos/ Neilton Castro
“Conhecimento e Eiterer
as da EJA no ensino supe-
Inclusão Social em
rior público.
Educação
Universidade do
Estado do Rio de
[D].: Os sentidos sobre
Janeiro
Universidade Pública para
Programa de
estudantes cotistas egres- SANTOS, Márcia
Pós-Graduação
2018 sos da Educação de Jovens Cintya Rober- Soares de
em Educação
e Adultos: o contexto da ta Oliveira Do Alvarenga,
- Processos
Faculdade de Formação
Formativos e
de Professores/UERJ
Desigualdades
Sociais
117
Fernanda dos Santos Paulo
Universidade
[D]: Acolhida e perma- Federal de Santa
nência de egressas e egres- Maria.
SOARES, Celso
2019 sos EJA-PROEJA no Ensi- Programa de Pós-
Ivani Ilgo Henz
no Superior: auto(trans) Graduação em
formações possíveis. Políticas Públicas e
Gestão Educacional
Universidade Fede-
[T]: Educação superior
ral de Minas Gerais
ainda que tardia: senti-
SANTOS, Programa de Leoncio
dos da formação e signi-
2019 Geovania Pós-Graduação Jose Gomes
ficados do diploma entre
Lúcia dos Conhecimento e Soares
adultos com antecedente
Inclusão Social em
escolar na EJA.
Educação
Fonte: Da pesquisadora.
A modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA) até há pouco não era dis-
cutida no âmbito da educação superior (ES). É depois das políticas educacionais de
acesso à educação superior, sobretudo entre os anos de 2003 e 2010, como podemos
observar abaixo:
A autora está reforçando o que diz o Programa Prouni para ingresso na educação
superior, colocando “há diversas políticas públicas e alternativas de acesso aos alunos
no Ensino Superior, inclusive aos egressos da EJA.”, mesmo que não tenha a modalida-
118
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
No entanto, de igual modo, há poucos estudos que versam sobre o ingresso de es-
tudantes da EJA na Educação Superior via ProUni (Universidade para Todos), Univer-
sidade Aberta do Brasil (UAB) e pelo Reuni (Programa de Reestruturação e Expansão
das Universidades Federais). A respeito esta da “Escolarização de Jovens e Adultos no
Brasil”, é relevante conhecer o artigo de Sérgio Haddad e Maria Clara Di Pierro (2000)
– que trata do direito à escolarização. Para Da Cruz (2016, p. 118) diz que o “debate
sobre a ampliação do acesso, principalmente, de jovens entre18 e 24 anos no Ensino
Superior no Brasil ganhou força, sobretudo, nos últimos anos (2003/2016).”
Relacionado a EJA e escolarização, mas com recorte para a educação superior, se-
gundo Bisnella:
15
Verificar no site do MEC: https://acessounico.mec.gov.br/prouni
119
Fernanda dos Santos Paulo
Geovania Santos (2019) alerta que na Educação Superior contamos com alunos
ingressantes da EJA, tema pouco explorado, segundo minha pesquisa bibliográfica.
Essa “presença do aluno adulto não é percebida” (VASSOULER, 2013, p. 5) na Educa-
ção Superior. E os estudos de Santos (2019) mostraram que os alunos egressos da EJA
que participaram de sua pesquisa são invisibilizados na universidade, referindo-se a
sua origem (EJA). Por outro lado, muitos graduandos desejavam não ser reconhecidos
como estudantes da EJA, isto é “não se assumir na condição de egresso da EJA”, tam-
bém foi opção dos estudantes do ensino superior.
Patrícia Bisnella (2016, p. 106), a invisibilidade do adulto com antecedente escolar
de EJA no ensino superior se opera em três níveis, a saber: “o (...) primeiro em relação
ao sujeito de EJA, enquanto aspirante ao Ensino Superior; o segundo sobre o sujeito de
EJA no/para o Ensino Superior; e o terceiro, o sujeito da EJA para as políticas públicas”.
Por outro lado, Bisnella (2016) sinaliza que na Educação Superior há um crescen-
te número de adultos (nem todos são oriundos da EJA) que ingressam nesse nível
de educação, apontando que a maioria está matriculado na rede privada. Em nosso
entendimento, eis uma alerta para a educação superior pública, que poderia além de
mapear o número de estudantes adultos e idosos nesse nível da educação, poderia
desenvolver uma pesquisa acerca de estudantes, no ensino superior, oriundos da EJA,
seus desafios, limites e potencialidades.
120
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
121
Fernanda dos Santos Paulo
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Para essa seção farei uso das reflexões de Ricardo Antunes (2009), a começar pelos
conceitos que o educador apresenta em “Os Sentidos do Trabalho: ensaio sobre a afir-
mação e a negação do trabalho. Logo na introdução alerta Antunes, sobre os sentidos
do trabalho em tempos neoliberais’’.
123
Fernanda dos Santos Paulo
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
nossos filhos”; 7) “tinha que ter mais escolas aqui no nosso bairro [Ensino Médio], es-
cola com curso profissional. Os jovens não querem mais estudar. Aqui tem um monte
de jovem que desistiu. [...] acho que desistem porque a escola continua a mesma escola
que a minha mãe e meu pai estudaram. Com a internet, celular e tudo mais, a escola
não pode ficar no livro e no quadro.” 8) busquei o EJA porque tem flexibilidade no
horário, também porque queria terminar os estudos mais rápido. Ali na escola Sant’
Hilaire19 termino em 6 meses. Os meus professores são muito bons e a escola é orga-
nizada. O ensino não atrapalha o aluno que trabalha, com horário acessível e quem
tem dificuldade na aprendizagem, das matérias do EJA, tem reforço aos sábados. Não
é obrigatório, mas quem precisa pode assistir as aulas presenciais. Esqueci de dizer que
quem tem filho pode levar para escola. As crianças ficam em uma sala lá embaixo com
outra professora que cuida dos filhos dos alunos. Outra coisa que eu lembrei, sobre
a fala da outra colega que disse que precisaria de incentivo do governo referente as
passagens. Quem estuda no Sant’Hilaire, eles disponibilizam um “Vou à escola”, que é
um cartão que tem duas passagens de ônibus por dia. Quem precisa de mais passagens
precisa informar à direção, levando os comprovantes. Depois que eu sair dessa escola,
vou ser encaminhada para a Escola Estadual Agrônomo Pedro Pereira, que tem ensino
médio. ‘‘E, 9) eu fiz o EJA e quero fazer um curso técnico. Quero até fazer faculdade.
Todo mundo quer. Acho que falta incentivar a gente a não desistir.”
125
Fernanda dos Santos Paulo
tuída por pessoas trabalhadoras. Então, é importante discutir os sentidos para o tra-
balho no contexto da EJA, tendo em vista que nessa modalidade temos trabalhadores
estudantes.
Hedi Maria Luft (2010) apresenta duas dimensões: ontocriativa de Lukács e do
universo da legislação. No primeiro caso entendendo como ontocriativa como o “tra-
balho como produção da vida, contribui para uma formação humana e social, promo-
vendo a possibilidade da existência cidadã” (LUFT, 2010, p.165). E no segundo caso,
embora a legislação educacional tenha “contribuído para o alargamento do direito de
estar na escola, porém, muitos acessos só foram, e são possíveis, em função da pressão
proveniente da própria população no sentido de que governos municipais e estaduais
assumissem, efetivamente, a educação como política pública.” (LUFT, 2010, p.31-32).
Ciavatta (S/d), no verbete “Trabalho como Princípio Educativo” escreve os sentidos
do trabalho ao longo da nossa história, incluindo o contexto brasileiro (grifos meus):
126
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Agora retomemos a Luft (2010), que de acordo com essa autora, a partir da LDBEN
(1996) e decretos educacionais há explicito sentidos ambíguos de trabalho como, por
exemplo, a preparação geral para o trabalho e aprimoramento para a formação da pessoa
humana. Também destaca à educação politécnica, presentes na LDBEN (1996) e no de-
creto que tratava da educação profissional (decreto nº 5.154 de 23 de julho de 2004.). Por
outro lado, apresenta o decreto de nº 2.208, de 17 de abril de 1997, o qual sinalizava uma
“Formação de trabalhadores adaptados às demandas do mercado e do capital.” (LUFT,
2010, p.85). A esse respeito, cabe sinalizar que o decreto nº 5.154 de 23 de julho de 2004
teve algumas alterações, em 2014, mantendo “a centralidade do trabalho como princípio
educativo”. E o decreto de 1997, associado ao governo da época (Fernando Henrique
Cardoso) e a inserção das ideias neoliberais no projeto de governo.
Recordemos que na atual LDBEN (1996), o tema do trabalho aparece muitas vezes,
em especial referindo-se à Educação profissional (art. 35, inciso II) que determina “a
preparação básica para o trabalho e a cidadania”. Mas vamos recuperar algumas das
presenças da expressão trabalho nessa legislação:
Art. 1º: A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar,
na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos
sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais; § 2º A educação esco-
lar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos
ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. XI - vincula-
ção entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a for-
mação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progre-
dir no trabalho e em estudos posteriores.
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as seguintes dire-
trizes: III - orientação para o trabalho;
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos,
terá como finalidades: II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando,
para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas
condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Comum Curricular
e por itinerários formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes
arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos siste-
mas de ensino, a saber: I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor produtivo
ou em ambientes de simulação, estabelecendo parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de
instrumentos estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem profissional; II - a possibili-
dade de concessão de certificados intermediários de qualificação para o trabalho, quando a
formação for estruturada e organizada em etapas com terminalidade.
127
Fernanda dos Santos Paulo
Art. 36-A. Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste Capítulo, o ensino médio, atendi-
da a formação geral do educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões técni-
ca. Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho e, facultativamente, a habilitação
profissional poderá ser desenvolvida nos próprios estabelecimentos de ensino médio ou em
cooperação com instituições especializadas em educação profissional. Parágrafo único. Os
cursos de educação profissional técnica de nível médio, nas formas articulada concomitante
e subsequente, quando estruturados e organizados em etapas com terminalidade, possibi-
litarão a obtenção de certificados de qualificação para o trabalho após a conclusão, com
aproveitamento, de cada etapa que caracterize uma qualificação para o trabalho.
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou
continuidade de estudos nos ensinos fundamental e médio na idade própria e constituirá
instrumento para a educação e a aprendizagem ao longo da vida. § 1º Os sistemas de ensino
assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na
idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do
alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular
ou por diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no
ambiente de trabalho.
Vejamos que temos dois sentidos para o trabalho: a dimensão educativa e a dimen-
são mercadológica. Sobre isso, Ciavatta20 (1990), alerta que não podemos esquecer que
a produção dos meios de existência se faz dentro do sistema capitalista. A EJA, se na
perspectiva da Educação Popular, necessita problematizar a escolarização de educan-
dos trabalhadores e as relações com o trabalho. Sabemos que muitos jovens, adultos e
idosos buscam a EJA por várias razões, dentre elas a exigência de escolarização para
angariar uma vaga de emprego. Partindo dessa base, conceber o trabalho como prin-
cípio educativo ganha um sentido ambivalente: emprego (mercado de trabalho) versus
trabalho como princípio educativo. Frigotto nos ajuda a refletir sobre isso, alertando
que não há receitas, que não podemos falar de um novo projeto de sociedade de modo
abstrato, mas sobretudo, alertando que, enquanto projeto societal a formação humana
omnilateral e o trabalho como princípio educativo não serão concretizados, porque
esse não faz parte do projeto de sociedade capitalista:
128
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
21
Sobre o neoliberalismo, sugiro a leitura do livro de Harvey (2008), o qual traz alguns fatos
históricos e políticos brasileiros para reflexão.
22
Disponível em https://www.ufrgs.br/odela/2018/09/23/estado-neoliberalismo-e-educacao-
-publica/
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Fernanda dos Santos Paulo
Começamos por Nilda Stecanela (2015), que, em sua pesquisa, apresenta que as
metodologias de ensino identificadas foram “o sociointeracionismo, a metodologia
dialética de construção do conhecimento em sala de aula, a problematização de pro-
jetos e os projetos de trabalho” (p. 55). Acerca dos projetos de trabalho, Hernández
(1998) sugestiona os projetos de trabalho contextualizados e vinculados as mudan-
ças sociais e, por isso mesmo, não são lineares e possui uma conexão entre conteúdo
do currículo escolar e o contexto dos sujeitos da escola. Consoante com Girotto e Lima
(2009, p.11. Grifos meus):
130
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
131
Fernanda dos Santos Paulo
INDICAÇÃO DE LEITURA
Ciência rebelde
FALS BORDA, Orlando. Ciencia, compromiso y cambio social. Buenos Aires:
El colectivo – Lanzas y Letras –
Extensión Libros. 2013.
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
tra maneira de fazer a cultura que os faz, por sua vez, ho-
mens, sujeitos, seres de história – palavras e idéias-chave
no pensamento de Freire. (BRANDÃO, 1981, p.44- 4).
Mas como que acontecia as atividades? Primeiro, foi inspirada nas iniciativas dos
Movimentos de Cultura Popular e de alfabetização de adultos. Segundo, Freire (1987)
fez críticas contundentes às práticas escolares de “educação bancária”. Nessas propos-
tas, o círculo de cultura é um convite a uma educação dialógica, de aproximação e
respeito. O educador é mediador do processo educativo, bem como problematizador.
Na roda todos ensinam e aprendem, pois há múltiplos saberes, e todos devem ser
expressados, escutados, refletidos e problematizados. O ponto de partida é o diálo-
go e a escuta sensível, comprometida e respeitosa. Ao educador, igualmente, cabe a
sistematização das ideias e conceitos-chave. É uma pedagogia dialógica e problema-
tizadora, centrada na participação dos sujeitos.
Para conhecer experiências de Círculos de Culturas na EJA sugiro a pesquisa de
Barcellos (2018), cuja dissertação tem o seguinte título: A formação de leitor crítico
a partir de círculos de cultura freirianos: oficinas de leitura junto a educandos da EJA.
A partir dos estudos de Paulo (2018), referenciada pela Educação Popular frei-
riana, é possível utilizar Cartas Pedagógicas como instrumento metodológico de
pesquisas participativas (pesquisar com e a partir de cartas) e como instrumento
de avaliação participativa, além de Cartas Pedagógicas como prática de ensino e
aprendizagem.
Acreditamos que o uso de Cartas Pedagógicas com estudantes da EJA é potente,
principalmente porque ela possibilita, reflexão teórico-prática, partilha e recuperação
de experiência. Também, potente no trabalho de educadores da EJA. Vejamos o que
encontramos nessas cartas:
Outra Carta Pedagógica expressa: “Apesar das nossas angústias nas últimas sema-
nas, a escrita dessa carta pedagógica nos permitiu revisitar antigas leituras e nos
fortalecer em bases nas quais nos filiamos; (GRAZZINOLI e SOUZA, 2021, p. 613).
Encontramos em Freitas (2021, p.59): “Escrevo esta Carta Pedagógica dedicada à tua
133
Fernanda dos Santos Paulo
memória, presença sempre viva nas experiências de todas, todos e todes que com-
preendem e exercem a educação como forma de intervenção no mundo”. Na Carta
Pedagógica de Silva (2018, p. 1352) lemos: “Uma Roda de Diálogo que envolveu rigor,
amorosidade, reflexão, compartilhamento e tomada de consciência. Os registros desta
Roda de Diálogo se deram de forma hibrida, um primeiro momento via Diário de
Registros, seguido da proposição da elaboração de uma Carta Pedagógica (VIEIRA,
2010), digitalizada e publicada no ambiente virtual do Curso”. (Grifos meus).
O uso de Cartas Pedagógicas contribui para a dimensão epistemológica, política
e sociológica dos aspectos metodológicos da EJA. Para conhecer mais sobre caracte-
rísticas de uma Carta Pedagógica sugiro o livro “Cartas pedagógicas: tópicos epistê-
mico-metodológicos na Educação Popular” (PAULO; DICKMANN,2021), nele tem
um artigo de Ivânio Dickmann, entre outros que colaboram nesse instrumento ético-
-político metodológico. Outro livro, clássico, para quem estuda Cartas Pedagógicas é
de Isabela Camini (2012).Também o artigo “Cartas Pedagógicas -aprendizados de uma
vida” (CAMINI, 2021).
Sobre recuperar experiências, a partir de Cartas Pedagógicas como instrumento
metodológico, há uma metodologia que venho utilizando que é a “Sistematização de
Experiências” de Oscar Jara”. Para este educador:
134
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
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136
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
conceito, em consonância com os seus princípios, estes são instrumentos para desvelar
a realidade.
Cada Complexo Temático tem um problema, um princípio e os conceitos esta-
rão fazendo relação com a problemática apontada. Um conceito se relaciona com
outros conceitos, gerando um campo conceitual; este confeccionado coletivamente.
Após, todos docentes, realizam a socialização dos trabalhos realizados, a seleção de
conteúdos significativos, planejamento de atividades e plano de ações com cronogra-
ma, incluindo atividades com a comunidade, eventos, reuniões e recursos necessários
para efetivação do planejamento. A construção do complexo temático por meio de um
decálogo foi utilizada na experiência da Rede Municipal de Porto Alegre. Para quem
quer conhecer essa experiência deve recorrer as produções de José Clóvis de Azevedo,
sobretudo no livro: Escola cidadã: desafios, diálogos e travessias.
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
1- Tendência Tradicional.
2- Tendência Renovada Progressista.
3- Tendência Renovada não diretiva (Escola Nova).
4- Tendência Tecnicista.
5- Tendência Libertadora.
6- Tendência Libertária.
7- Tendência Crítico-social dos conteúdos.
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Fernanda dos Santos Paulo
Observem que Libâneo é fiel a literatura deixada por Paulo Freire acerca da re-
lação professor-aluno que se dá através do diálogo, sendo que “a relação é horizon-
tal, onde educador e educandos se posicionam como sujeitos do ato de conhecimento. O
critério de bom relacionamento é a total identificação com o povo, sem o que, a relação
pedagógica perde consistência”. (LIBÂNEO, 1990, p. 34). O movimento entre aprender
e ensinar dialogicamente pode ser verificado em Pedagogia do Oprimido que apre-
senta as relações entre codificação-descodificação e problematização das situações
existenciais. Esses movimentos:
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
De tudo que foi mencionado, à luz de Paulo Freire e da Educação Popular, destaco
apontamentos essenciais na Pedagogia de Freire, contribuições para a apreender a Di-
dática da Educação Popular freiriana:
1- Epistemológica do diálogo: Freire não reproduz as estruturas de pensamento
e propostas educacionais da tradição pedagógica. Aponta o diálogo como instru-
mento de luta e de análise e reflexão teórico-prático, em uma perspectiva realista
e dialética; não idealista. Freire (1987) afirma que nessa perspectiva da dialética,
“aprender a ler e escrever oportuniza a percepção implicada no poder de ‘dizer a
sua palavra’” que envolve ação-reflexão.
2- Metodologia participativa: participação no processo de formação humana pos-
sibilita a educação crítica e problematizadora (princípio da Educação Popular) que
visa a transformação da sociedade. A luta pela palavra (BRANDÃO, 1982) - o dizer
o mundo, corresponde a um processo de ensino e aprendizagem, nesta dimensão
a criatividade é dimensão da metodologia, além da ética do pensar certo, crítico e
comprometido com a realidade educacional, social, cultural, histórica e política.
3 - Esperança e Inédito viável: esperança é uma categoria importante e central
na obra de Freire para a compreensão do inédito viável (sonho possível). Ao ler
e atuar criticamente sobre as “situações-limite”, nos mobilizamos para a agir na
busca do “inédito viável”, via ação-reflexão-ação visando a vocação ontológica do
ser humano - o “Ser Mais” para a humanização. Compartilho um trecho das falas
da Nita e do Oscar no dia 20/06/2021 – uma atividade organizada pelo CEAAL,
Campanha Latino-Americana em defesa do Legado de Paulo Freire e Café com
Paulo Freire: “As situações-limites são precisamente o elemento frente ao qual é possí-
vel pensar e criar o inédito viável". (Nita). Para Oscar Jara: " A categoria do inédito
viável é uma das categorias mais potentes do pensamento freiriano, mas também
é uma das categorias que têm mais atualidade neste momento da história onde a
pandemia”, apresenta novas situações limites. No caso da EJA verificamos muitas
escolas fechando, estudantes desempregados, inacessibilidade as tecnologias básicas
e a internet, aumento da desigualdade social, entre outras questões. Se lutamos por
educação reparadora, equalizadora e permanente (Parecer 11/2000), na perspectiva
da Educação Popular freiriana, é necessária uma didática específica da/para EJA.
Gadotti e Romão (2007) expressam que se faz necessário um programa de educação
de adultos que faça sentido para os seus sujeitos, isto é, que apresente uma educação
para a “transformação real das condições de vida do aluno- trabalhador (p. 32).
4 - Transformação: a centralidade da educação como prática da liberdade impli-
ca no diálogo problematizador que exige a amorosidade, seriedade, rigorosidade
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Fernanda dos Santos Paulo
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Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
O
campo da formação docente para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é
um tema recorrente em reuniões, encontros, fóruns de EJA; também em
cursos de pedagogia, desde a década de 1990.
Para Álvaro Vieira Pinto (1982, p.36): “O problema da formação do educador, es-
pecialmente o educador de adultos, é da mais alta importância. Tem que ser um dos
pontos contemplados em todo programa de expansão pedagógica”. (Grifos meus).
Para o autor, a formação do educador deveria ser trabalhada nas dimensões antropológi-
cas e sociológicas, “e não em seus aspectos técnicos, pedagógicos”. (PINTO, 1982, p.36).
Partindo desse autor, defende-se que a formação do educador de EJA deveria ter
uma base sólida, constituída por fundamentos sociológicos, filosóficos, políticos,
antropológicos, epistemológicos, pedagógicos e metodológicos enraizados em uma
proposta educacional significativa, contextualizada, crítica e problematizadora. Nesse
viés, cabe apresentarmos experiências formativas, para a partir delas, refletirmos sobre
os projetos contemporâneos de formação docente inicial e continuada.
Vanilda Paiva (2003) frisa que no final do império surgiu a pauta e demanda por
iniciativas de formação de professores para educação de adultos, se proliferando nas
primeiras décadas da primeira república, mesmo que ainda tímidas e incipientes.
No período de 1946 a 1958 tivemos experiências isoladas de formação de profes-
sores leigos que atuavam em campanhas de alfabetização de adultos (PAIVA, 2003).
Nesses contextos não tivemos uma política nacional de formação de docentes para a
EJA. Sobressaem experiências de formação inicial (formação de professores leigos) e
continuada, sobretudo via movimentos populares, diretamente ligados as campanhas
de alfabetização de adultos, os quais desenvolviam ações formativas com os educado-
res alfabetizadores.
Para Leôncio Soares e Fernanda Maurício Simões (2004, p.26):
143
Fernanda dos Santos Paulo
Carlos Alberto Torres aponta que os Novos Movimentos Sociais tiveram um papel
importante na luta em prol da educação, pois eles “[...]ocupam espaços, ruas, praças e
quadras. Eles fazem sua presença e conflitos visíveis nas cidades”. (TORRES, 2011, p.
44). Um dos problemas nas cidades e no campo é a desigualdade educacional e social.
Observemos a questão apontada por Gadotti (2014, p.7):
144
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Torres (2011, p.55) enfatiza que “a educação de adultos pode tornar-se uma arma
poderosa para o empoderamento das pessoas e das comunidades”. Eis a importância
de uma formação crítica e conscientizadora de educadores. O direito à educação é
bandeira de luta dos Movimentos Sociais. Há Movimentos Populares que incluíram
o tema da formação de educadores em suas pautas. Alguns destes surgiram a partir de
programas de alfabetização de jovens e adultos, que não exigiam formação na área da
educação (licenciaturas) como é o caso da Associação de Educadores Populares de
Porto Alegre, no contexto do MOVA e do Brasil Alfabetizado:
Iniciamos, no entanto, por dizer que o curso de pedagogia não é, e não deve ser
a única licenciatura dedicada a formação de professores para EJA. A modalidade
contempla o Ensino fundamental e Ensino Médio. Observamos que os processos de
formação inicial são precários e quase inexistentes. Consoante a essa constatação, as
maiores experiências dão-se através de formação Continuada/permanente, sobre-
tudo centrada no contexto da escola, dos fóruns de EJA, e formação de Extensão
Universitária e em especializações (maioria em instituições privadas, EAD1). No con-
1
Os Fóruns de EJA tem se manifestado contrários a proliferação de cursos de educação à distân-
cia, aligeirados, destinados a formação docente.
145
Fernanda dos Santos Paulo
Arroyo (2006; 2013), Di Pierro (2005), Fávero (2006), Fischer (2006), Jane Paiva
(2006), Rummert (2006), Soares (2006) e Vera Barreto (2006) entre outros autores vem
se debruçando acerca da formação docente específica da EJA.
Em conformidade com Arroyo (2006), a formação do educador da EJA foi tratada
pelas bordas, e realizando-se nos espaços que oferecem a EJA. Refletindo à luz desse
autor, a EJA é um território em disputa (ARROYO, 2013). Acerca disso, segundo Di
Pierro (2005) um dos problemas a serem enfrentados é superar a descaracterização
146
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Nesse texto, o educador preocupa-se com o conteúdo, com organização dos cursos
e sobre o perfil de docente para EJA.
Jane Paiva (2006) apresenta a preservação da história de uma experiência institu-
cional, a partir da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) de formação de
professores de EJA, implantado em 1991.
O curso com “proposta curricular com a habilitação para a EJA [...] havia, na prá-
tica social, um largo campo de atuação para o professor de 1ª a 4ª séries do ensino
fundamental de jovens e adultos e que, por isso mesmo, sua formação precisava estar
garantida” (PAIVA, 2006, p.49). Ocorreram reformulações do curso, ainda na década
de 1990, como veremos a seguir:
147
Fernanda dos Santos Paulo
148
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
Sobre propostas de formação docente de EJA, Di Pierro (2006, p.282) sublinha que
é “necessário embasar essa formação em teorias pedagógicas [...]deve considerar as
matrizes formadoras dos alunos e das alunas da EJA: a condição de opressão, a produ-
ção da existência, o trabalho, a cultura, os movimentos sociais”. Destaco a observação
realizada quanto o referencial freiriano: “Embora a matriz freireana seja a inspiração
inicial e predominante nas habilitações em EJA, observa-se a emergência de outras
referências teóricas, denotando que a construção epistemológica, nesse campo, encon-
tra-se em processo e aberta”. (DI PIERRO, 2006, p. 284).
Diante das posições, em concordância com Nóvoa (2007) que destaca três desafios
para profissão docente, a saber: 1) da organização da profissão; 2) da formação centra-
da nas práticas e na análise das práticas; 3) da credibilidade da profissão.
No que concerne aos desafios destacam-se: a formação centrada nas especificida-
des da EJA, pensando no perfil de educador, na organização curricular associada com
a construção da identidade da modalidade. A formação centrada nas práticas e na aná-
lise das práticas pode inspirar-se na pedagogia crítica, tendo como horizonte a Edu-
cação Popular. O exercício da profissão também se dá pela práxis, nessa proposição.
Mesmo com esses debates, iniciados na década de 1990, consubstanciado nos Se-
minários Nacional de Formação de Educadores de Jovens e Adultos, ainda conta-
mos com a ausência de conteúdos teórico-práticos da EJA nos cursos de formação;
isto é constatado em várias pesquisas, como nos estudos de Laffin; Gaya (2013): “Tal
identificação no campo da EJA reforça a ausência da oferta de formação inicial em
instituições de ensino superior no âmbito das licenciaturas e, portanto, a impossi-
bilidade de gerar mecanismos de acesso à ciência ou ao pensamento científico nesse
campo. (p.201). Conforme Vasconcellos, o fenômeno da falta de formação consistente
é perceptível no contexto da prática docente:
149
Fernanda dos Santos Paulo
Assim sendo, Freire (1987) coloca que a valorização do “saber de experiência feito”
serve para refletir criticamente sobre ele, de modo crítico, problematizador e dialógi-
co, para entender a realidade e transformá-la. O mesmo autor entende que a formação
permanente ocorre numa relação dialógica, e via práxis. (FREIRE, 1987). Ainda sobre
os saberes docentes e a formação:
Para Gatti (2009, p.202), “Ensinar a ensinar requer estratégias mais complexas e
demoradas que as disponibilidades de capacitação oferecem, tanto dos formadores
intermediários como dos professores em atuação na base do sistema”. Sendo assim,
conforme a educadora, o processo de formação docente possui diferentes fases e
fazem parte da nossa trajetória/ vida profissional: o início da carreira, o processo
de desenvolvimento e os tempos mais avançados, em que o professor consolida sua
experiência profissional.
150
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
151
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vezes, para complementação de carga horária, professores que atuam com crianças e
adolescentes iniciam atividades na EJA, alguns não possuem perfil e desconhecem as
peculiaridades da modalidade; d)uma dificuldade identificada é a falta de concursos
públicos específico para EJA; e) cursos de graduação que oferecem disciplina/compo-
nente curricular da EJA tem sido na modalidade a distância e ou presencial com carga
horária reduzida em relação as demais; além de que a maioria dos cursos de licencia-
turas não oferece a possibilidade de estágio (docência ou gestão) na EJA.
Os estudos indicam a necessidade de uma revisão dos projetos de cursos de licen-
ciaturas, que estes incluam disciplinas/componentes curriculares da área e campo da
EJA. Observa-se que nem todos os cursos de formação de professores possuem sequer
uma disciplina de EJA; no caso da pedagogia, dificilmente encontramos um curso que
ofereça mais de um componente curricular de EJA; além disso, nem todos os cursos
oferecem a possibilidade de estágio e ou práticas pedagógicas nessa modalidade. A
EJA, como observamos, requer docentes preparados, teórico-práticos, para o trabalho
nessa modalidade.
O desenvolvimento de ações e propostas político-pedagógicas com abordagem
metodológica específica requer formação teórico-prática. Porém, a constituição da do-
cência na EJA tem se realizado a partir da experiência em sala de aula, sem formação
prévia. Diante disso, observa-se que é importante uma formação com base sólida re-
flexiva, cujas práticas docentes se constitua de conhecimento da historicidade da EJA,
das políticas educacionais e curriculares, dos sujeitos da EJA e do mundo do trabalho,
da EJA e movimentos populares, da EJA e classe trabalhadora, da EJA escolar e não
escolar, da profissão e formação docente, entre outros temas, incluindo, permanente-
mente, reflexões sobre a prática docente.
No XVI Eneja, foi defendido a Educação Popular nos princípios curriculares da
formação de educadores e educandos da EJA – defesa dos fóruns de EJA e de vários
sujeitos que congregam a luta coletiva por um projeto educativo emancipador.
No que tange o trabalho docente, destinado a atuação da/na EJA, é urgente a cons-
trução e implementação de uma política nacional de formação. Os profissionais de edu-
cação que atuam na ou com a EJA vem ratificando que os saberes e fazeres, nessa modali-
dade, exigem saberes e teorias específicas. A profissionalidade docente requer formação.
O educador que atua na EJA, vem pontuando a necessidade de formação inicial
e continuada pela práxis, o que possibilita qualificar sua atuação permanentemente.
Assinalam que a ausência de política de formação docente não é a única carência per-
cebida na docência da/na EJA, pois é necessário carga horária destinada às atividades
de formação, para planejamento e para participar de ações que se situam na comu-
nidade. O planejamento, de acordo com as realidades territoriais, exige conhecer a
comunidade e isso compõem o trabalho docente. A oferta de EJA, nesse contexto, de-
veria ser presencial3 e oferecida nos três turnos, até porque temos alunos trabalhadores
que exercem ocupações em diferentes turnos, incluindo à noite; estes têm o direito à
educação, nos turnos manhã e ou tarde, considerando as especificidades da EJA. Essas
diferentes realidades são temas que deveriam estar presentes nas formações de educa-
dores e compõe o campo de trabalho do educador da EJA.
No que se refere a constituição da docência reiteramos a importância do reconhe-
cimento e valorização dos trabalhadores da/na EJA, uma modalidade tão importante
quanto as demais. Sugere-se, há décadas, que seja realizado concurso público específi-
3
Em especial no Ensino Fundamental.
152
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
153
Fernanda dos Santos Paulo
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A obra apresentada discute temas que versam sobre a Educação de Jovens e Adul-
tos e a Educação Popular. Abordamos os seguintes temas: Perspectiva histórica e po-
lítica da EJA, incluindo seções por períodos históricos e temas específicos, como a
alfabetização de jovens e adultos no âmbito geral e trazendo experiências específicas
como as de Educação Popular com Paulo Freire e a partir das cartas de Carlos Rodri-
gues Brandão. Além disso, contextualizo a Educação Popular brasileira. No capítulo
seguinte apresentei políticas educacionais destinadas a EJA a partir de 1988, recupe-
rando o arcabouço legal para a modalidade. Inclui a Educação Profissional e Tecnoló-
gica a partir do Proeja.
Já no terceiro capítulo abordei os sujeitos da EJA e o mundo do trabalho, mediante
o tema geral: implicações político-pedagógicas e metodológicas para a escolarização so-
cialmente justa. Incluímos, nos sujeitos da EJA, o contexto prisional e sujeitos egressos
da EJA na Educação Superior. Esse capítulo, a partir dos sujeitos da EJA, apresenta os
aspectos político-pedagógicos e metodológicos dessa modalidade (Círculos de cultu-
ra, Cartas Pedagógicas e Sistematização de Experiência, Complexo Temático, Temas
Geradores e Rodas de Conversa). Compõem o capítulo discussões iniciais acerca da
Didática da Educação Popular freiriana.
No último capítulo tratei do trabalho docente e da formação docente inicial e con-
tinuada. Alguns apontamentos são necessários:
154
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
4
Memória e História da Educação Popular apartir do levantamento e catalogação das cartas de
Carlos Rodrigues Brandão: Contribuições para a Pedagogia Latino-Americana.
155
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
POSFÁCIO
E
s para mí un motivo de alegría el haber sido invitado a prologar este libro
sobre Educación popular y educación de jóvenes y adultos escrito por la pro-
fesora Fernanda dos Santos Paulo. Dicha satisfacción está asociada tanto al
contenido de la publicación como su autora. La educación de jóvenes y adultos, han
sido constitutivas de mi práctica educativa y de mis reflexiones pedagógicas desde
hace varias décadas; también he tenido el privilegio de conocer a la profesora Fernan-
da dos Santos Paulo en eventos y actividades académicas en años recientes.
En cuanto a las temáticas de las que se ocupa el texto, considero importante rei-
terar que tanto la educación de jóvenes y adultos, así como la educación popular son
campos de acción y conocimiento, y como tales, en los que están presentes diferentes
posiciones y tensiones. En el caso de la EJA (como es denominada en el libro), es un
campo que emerge de la mano de la formulación de políticas públicas promovidas
desde organismos multilaterales de alcance mundial como al UNESCCO en el contex-
to de la segunda postguerra (1945) y en el marco de las políticas desarrollistas que se
impusieron o promovieron en los llamaos países subdesarrollados.
Bajo estas políticas, el analfabetismo aparecía como un obstáculo al desarrollo que
debía ser superado y la Educación de Adultos (EDA) era uno de los principales escena-
rios para lograrlo; en consecuencia, se realizaron eventos, se emitieron declaraciones,
se elaboraron documentos, formularon políticas y se crearon instituciones regionales
y nacionales para impulsarla. Un horizonte común era “erradicar el analfabetismo” y
garantizar que los adultos iletrados se incorporaran a la cultura escrita, como condici-
ón para su integración al desarrollo prometido.
De este modo, la Educación de Adultos, luego denominada Educación de personas
jóvenes y adultas (EPJA o EJA) quedó incorporada a las políticas educativas impulsa-
das a nivel mundial y acogidas en diferente grado por los países en donde prevalecía
el analfabetismo y la baja escolaridad de la población juvenil y adulta. También pro-
siguieron los eventos y desde 1949 las Conferencias Internacionales de Educación de
Adultos (CONFINTEA), que se realizan periódicamente y emiten declaraciones que
expresan los enfoques predominantes que marcan la pauta de acción de las políticas
públicas al respecto; de ahí es que han salido principios y consignas ya instaladas en el
sentido común de educadoras y educadores como “educación permanente”, “educaci-
ón para todos”, ”educación a lo largo de la vida” y “necesidades básicas de aprendizaje”.
Como se señala en el libro, en estos documentos y documentos elaborados en estas
conferencias internacionales se constata la invisibilización de la educación popular,
157
Fernanda dos Santos Paulo
corriente pedagógica crítica surgida en América Latina y que ha sido una de las pers-
pectivas y prácticas con activa presencia en la alfabetización y la educación de jóvenes
y adultos en diferentes países de la Región, así como de África y Asia. No debemos
olvidar que la propuesta seminal de una alfabetización liberadora fue llevada a cabo
en Brasil por Paulo Freire a comienzos de la década de 1960 y acogida con entusias-
mo en otros países desde finales de la misma década, especialmente por movimientos
sociales y educativos, así como organizaciones no gubernamentales que promovían la
educación popular.
Acá, vale la pena retomar un planteamiento central del libro: pese a sus múltiples
interacciones, no deben confundirse la EJA y la Educación Popular; la primera es un
campo de acción, intervención y reflexión referida a un conjunto de iniciativas edu-
cativas formales y no formales orientadas a incorporar o afianzar la vinculación de
jóvenes y adultos a la cultura escrita y a la educación básica. La misma ha sido pensada
y puesta en práctica desde diferentes perspectivas y enfoques como la educación fun-
cional, la educación fundamental, el constructivismo, la andragogía, la concientizaci-
ón y la educación popular. Seguramente, seguirán coexistiendo diferentes maneras de
concebir y llevar a cabo al EJA, como campo político - educativo en disputa.
Por su parte, la Educación Popular debe ser vista como una perspectiva educativa
y pedagógica, una manera de entender y hacer educación, inspirada en un conjunto de
principios y criterios pedagógicos que le confieren identidad. En primer lugar, el reco-
nocimiento de las ineludibles confluencias entre educación y política, ya planteada por
Freire desde sus primeras obras y confirmadas por diferentes sociólogos de la educación
como Bourdieu, Establet y Passeron. Ello significa que toda práctica educativa, en la me-
dida en que está atravesada por relaciones de poder, las reproduce o transforma; así por
ejemplo, en una sociedad donde prevalecen las dominaciones de clase, género o racia-
les, las prácticas educativas (escolares o no), pueden reproducirla desde los contenidos,
metodologías y cotidianidades institucionales, o puede cuestionarlas y transformarlas.
Desde este primer presupuesto, la educación popular como concepción pedagó-
gica, asume simultáneamente una posición crítica y una actitud propositiva; por un
lado, toma distancia con la naturalización e invisibilización de dichas relaciones de
poder que existen en la sociedad y en las prácticas educativas, y por otra, le apuesta a
otros modos de ser y relación social y pedagógica, de carácter democrático, horizon-
tal y emancipador; es decir, asume que desde la educación se puede contribuir a la
construcción de sociedades más justas y democráticas. Además, la educación popular
asume que los sujetos protagonistas de dichas transformaciones son quienes hoy son
víctimas de las diferentes opresiones y que dichos cambios son posibles en la medida
en que estos se organicen y luchen, acudiendo a diferentes repertorios de acción colec-
tiva; de allí su referencia a “lo popular”.
Finalmente, la educación popular asume como su cometido propiamente educa-
tivo la formación de las subjetividades y sujetos de dicha transformación emancipa-
dora; para ella, desde sus inicios ha generado un conjunto de estrategias pedagógicas,
y metodologías de carácter dialógico, participativo, interactivo y expresivo. En fin, la
educación popular no es una instancia o espacio educativo, sino una manera de en-
tender y hacer educación en coherencia con las ideas previamente expresadas. Por
ello, no toda EJA es educación popular y la educación popular está presente, no solo
en la EJA sino en diversos escenarios educativos (escolares, nos escolares, informales,
puntuales, etc.).
158
Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular: Contribuições para formação Docente
En segundo lugar, quiero referirme a otro valor del libro que estamos presentando:
su autora. La profesora Fernanda dos Santos Paulo reúne en su trayectoria varias cua-
lidades que la habilitan para ser una autora legítima y con autoridad para escribir sobre
el tema. En primer lugar, ha sido una lideresa social y educadora popular de la ciudad
Porto Alegre, profundamente comprometida con su contexto territorial, la Lomba do
Pinhero, extenso barrio popular con una larga tradición de luchas por los derechos de
sus pobladoras y en la que Fernanda ha participado desde niña; allí también ha sido
profesora en diferentes modalidades y militante social en diversas causas.
Además, sin abandonar su identidad como pobladora y educadora popular, Fer-
nanda ha podido realizar sus estudios universitarios (pregrado, maestría y doctorado)
en el área educativa y pedagógica, y además ejercido como profesora e investigadora
desde hace ya varios años; en su trayectoria universitaria ha publicado varios libros y
artículos académicos en los cuales ha abordado temáticas como la educación popular,
la educación social, la educación de jóvenes y adultos y la investigación pedagógica.
Gracias a sus aportes y compromiso intelectual con el cambio educativo y la renovaci-
ón pedagógica ha ganado el reconocimiento y amistad de prestigiosos educadores po-
pulares brasileños como Danilo Streck y Carlos Brandão, con quienes ha desarrollado
investigaciones conjuntas y realizado publicaciones en colaboración.
Con lo expuesto, queda confirmada la importancia, validez y aporte que tiene este
libro para el campo de la educación y la pedagogía no solo de Brasil sino también de
América Latina. La educación de jóvenes y adultos y la educación popular, así como
la autora de esta obra, seguirán dando de qué hablar e inspirando muchas prácticas
educativas en las próximas décadas.
159
Fernanda dos Santos Paulo
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www.livrologia.com.br
Título
Organizadores
Fernanda dos Santos Paulo
Coleção
Dissertação
Assistente Editorial
Nicole Brutti
Bibliotecária
Karina Ramos
Arte da capa
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Papel
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Miolo: Pólen Soft 80 g/m2
Publicação: 2022
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