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POR UMA POLÍTICA DE PARTICIPAÇÃO

SOCIAL REFERENCIADA NA EDUCAÇÃO


POPULAR FREIRIANA
Propostas do Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe
(CEAAL/BRASIL) para o governo Lula-Alckimin.

Janeiro/2023

Apresentação

O Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe (CEAAL), com


Paulo Freire como seu primeiro presidente, foi criado nos anos de 1980 como um
movimento de Educação Popular transformadora e emancipadora, vinculado às
organizações e movimentos populares de 21 países da América Latina e do
Caribe. Organizado em coletivos nacionais, regionais, redes e grupos de trabalho,
impulsiona propostas práticas e teóricas de formação, participação social e
organização popular que incidam nos processos de democratização efetiva de
nossas sociedades. Ao longo dos anos o CEAAL foi se reinventando e
desenvolvendo processos formativos e organizativos coerentes com os princípios
da educação transformadora e libertadora que lhe deu origem.

Em junho de 2019, em função dos ataques a imagem e ao pensamento de


Paulo Freire, o CEAAL inicia uma Campanha Latino-americana e caribenha em
Defesa do legado de Paulo Freire, com o propósito de sensibilizar, mobilizar e
articular alianças em torno de suas propostas educacionais de transformação
social e somar esforços com os movimentos, organizações e instituições freirianas
para contrapor aos ataques e ampliar o diálogo, na sociedade, sobre o educador
e seu legado. Uma campanha orientada a recriar, reinventar e comunicar a força

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de seu pensamento diante dos desafios atuais, e para a qual cada vez mais
organizações sociais, ONGs, universidades, grupos feministas, ambientalistas,
movimentos indígenas e comunidades de afrodescendentes, intelectuais e
artistas de países da América Latina, Caribe, África e Europa aderiram.

Em agosto de 2022, o CEAAL atendendo a deliberação das 38 organizações


brasileiras filiadas, apresenta quatro propostas através da Plataforma Virtual de
Participação Social com expectativa de que tais propostas integrem ao Programa
Vamos Juntos e Juntas Pelo Brasil do Governo Lula-Alckimin1”.
Para o CEAAL e, portanto, para os 21 países latino-americanos e
caribenhos que fazem parte do movimento de educação popular, a educação
libertadora ou transformadora é compreendida como aquela que é em si mesma,
um movimento de trabalho pedagógico que se dirige ao povo como um
instrumento de conscientização, assim como afirma Brandão (1984, p. 742) e,
como tal, se constitui uma prática referida ao fazer e ao saber das organizações
populares, que busca fortalecê-los enquanto sujeitos coletivos e, assim,
contribuir através de sua ação-reflexão ao necessário fortalecimento da
sociedade civil e das transformações requeridas, como se refere Wanderley
(2010, p. 733)

Contextualizando as propostas do CEAAL

1
https://www.programajuntospelobrasil.com.br

2
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Repensando a pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense,
1984.

3
WANDERLEY, Luiz Eduardo W. Educação popular: metamorfose e veredas. São Paulo: Cortez
Editora, 2010.

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O atual contexto exige que se estabeleça junto aos movimentos sociais,
populares e sindicais que atuam em ações educativas, comunitárias, sindicais,
ambientais, dentre outras, um expressivo processo de participação social
fundamentado nas seguintes premissas: (i) abertura ao diálogo com o povo; (ii)
construção de governança popular; (iii) articulação e organização de uma ampla
Rede de Educadores e Educadoras Populares e; (iv) o estabelecimento de um
permanente e vigoroso processo formativo. Tais premissas são fundamentais
para se criar os caminhos para o diálogo com o povo e para a construção do apoio
popular tão necessário à governabilidade.
O CEAAL entende que muitas das experiencias anteriores, embora
insuficientes para a superação dos atuais desafios, são referências importantes a
serem estudadas, avaliadas e reconstruídas.
O Plano Nacional de Alfabetização (PNA), coordenado por Paulo Freire, em
1964, depois da inédita alfabetização de 300 lavradoras/es em 40 dias (Angicos,
Rio Grande do Norte), que previa alfabetizar mais de 1 milhão e 800 brasileiras/os
e a criação de mais de 60 mil Círculos de Cultura, sofreu brutal interrupção com
a primeira medida do governo militar, em abril de 1964, depois do golpe: A
extinção, por Decreto, do PNA e o exilio de Paulo Freire.
Na volta do exílio continuou sua luta em favor da Educação Libertadora e
em 13/04/2012, por meio da Lei 12.612, de autoria da Deputada Federal Luiza
Erundina, foi nomeado Patrono da Educação brasileira.
Em 19 de setembro 2021, comemorou-se, intensamente, o centenário de
Paulo Freire e segundo Nita Freire, mais de 170 países relembraram estudaram e
recriaram o pensamento do educador, em um contexto mundial da pandemia da
Covid-19. Ao longo dos 4 anos da trágica gestão de Bolsonaro, o pensamento de
Paulo Freire passou a ser ainda mais atacado, haja vista que sua epistemologia

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toma impulso como elemento-chave às reflexões sobre as causas e
consequências do bolsonarismo.
No âmbito das comemorações do centenário do educador, o Partido dos
Trabalhadores (PT) lançou um amplo movimento de formação política
4
denominado “Nova primavera” tendo como base os “princípios filosóficos,
pedagógicos e humanistas de Paulo Freire, para fortalecer os vínculos do partido
com as lutas do povo, renovar métodos e estruturas em seus processos de
formação e educação política.
No bojo do processo formativo no Nova Primavera pôs em debate o
conceito de participação popular com a ampliação do diálogo com o povo tanto
no PT quanto do governo e do trabalho de base referenciado na educação
popular como pressuposto à participação social no atual governo.

Baseado nas premissas apontadas e na necessidade de ampliação da


participação popular no governo Lula-Alckimin, o CEAAL apresenta as seguintes
propostas:

As propostas do CEAAL

O CEAAL reitera a necessidade e o governo Lula estar em permanente


diálogo com a sociedade, com representantes das ONGs, dos Movimentos sociais,
populares e sindicais, das Universidades e das Pastorais progressistas das igrejas
e das religiões indígenas e de matriz africana.

No entanto, não falamos de qualquer diálogo, mas daquele que tem como
base a pedagogia freiriana, pois é esta que tem a capacidade de escutar, dialogar,
sistematizar e propor processos de políticas públicas voltadas à garantia de

4
https://www.enfpt.org.br/blog-np/freirear-o-pt-para-esperancar-o-brasil/

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direitos das pessoas empobrecidas e vulnerabilizadas, abandonadas na gestão do
atual governo.

Proposta 1: A Educação Popular é estratégia fundamental para a construção e


para o fortalecimento de canais de participação e de controle social das políticas
públicas. Por esta razão se faz necessário o desenvolvimento de processos
formativos, presenciais ou não, voltados especialmente à organização popular,
com ênfase na formação política, na educomunicação e na mobilização, tanto dos
diferentes atores e segmentos da sociedade civil, como também das/os agentes
públicos (representantes do governo “na ponta”), que coordenam e efetivam as
políticas públicas sociais.
Para tanto, será necessário assegurar recursos públicos para o
desenvolvimento dos projetos, programas e ações governamentais, bem como
para fomentar parcerias com movimentos sociais e populares que atuarão na
efetivação das políticas públicas.
Ressaltamos que a educação popular para a cidadania ativa e para os
direitos humanos são os eixos estruturantes de tais processos formativos.

O CEAAL-Brasil e suas entidades filiadas, em diálogo com os espaços de


educação popular existentes no Brasil, propõe-se a fomentar este trabalho de
base, especialmente nas periferias, com as/os trabalhadoras/es, com os mais
pobres entre os pobres - historicamente excluídas/os da sociedade brasileira,
dando-lhes vez e voz na tomada de decisões nacionais.

O CEAAL-Brasil propõe-se também a dialogar e se articular com os setores


sociais que mantiveram viva a educação popular no país, ajudando a coordenar
as ações, a administrar os recursos públicos e tudo o mais que for necessário para
que a educação popular freireana atravesse as políticas públicas com participação
popular e esteja presente em todos os espaços na sociedade brasileira.

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Proposta 2: A Educação Popular, desde a Pedagogia de Paulo Freire, deverá estar
presente na concepção e na práxis, de forma direta e transversal, em todas as
políticas públicas, especialmente naquelas que beneficiarão trabalhadoras e
trabalhadores, o povo brasileiro mais pobre. Neste sentido, se torna
imprescindível retomar e, se for o caso, aprofundar, tendo em vista o
agravamento da exclusão e o contexto de antidiálogo instalado no país nos
últimos 4 anos, da Política Nacional de Participação Social – PNPS (2014); o Marco
de Referência da Educação Popular para as Políticas Públicas (2014); a Política
Nacional de Educação Popular em Saúde, PNEP-SUS (2013); e as políticas de
formação de Economia Solidária, e a Política Nacional de Educação Popular,
PNEP, em construção em 2014-2015.
Para que se efetive, propomos:

1. Que seja atualizada, à luz da realidade e da conjuntura dos anos 2020, a PNPS,
o Marco de Referência da Educação Popular para as Políticas Públicas, da PNPS,
a proposta de formação da ECOSOL, e a proposta da PNEP, não oficializada em
2014.

2. Que todos os movimentos sociais e organizações ligadas à educação popular


sejam convidadas, a atuar num grande mutirão coletivo, a fazer a atualização e
contribuir na execução das propostas e do diálogo.

3. Que seja instituída uma Coordenação Central desta proposta, diretamente


ligada à Presidência da República, a exemplo do que aconteceu a partir de 2003.
Esta coordenação central será responsável pela articulação entre governo e
sociedade civil

Proposta 3: Retomada e reconstrução da Política Nacional de Educação de


Pessoas Jovens e Adultas para a garantia do direito à educação básica e superior
para todas as pessoas. O analfabetismo, que voltou a crescer nos últimos anos,

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atingindo agora mais de 16 milhões de pessoas jovens, adultas e idosas, é aqui
compreendido como uma dívida histórica do Estado para com a população. A
superação destes indicadores impõe ao governo Lula a construção do MOVA-
Brasil, em diálogo com experiências governamentais e da sociedade civil.
Proposta 4: A educação popular feminista e antirracista, como diretriz política
sociocultural para formação, inclusão e autonomia das mulheres e de pessoas
LGBTQIA+. Ações precisam ser feitas, em nível e governo federal, para o
enfrentamento das múltiplas violências sentidas em seus corpos - intensificadas
pelo isolamento social durante a pandemia, com a ausência de políticas públicas
do governo atual. Estas ações precisam ocupar escolas públicas e outras esferas
sociais, no sentido de oferecer um currículo que considere as diferenças e as
violências sofridas, há séculos, por uma sociedade machista e racista que
discrimina, desrespeita e despreza as pessoas pela sua identidade de raça, gênero
e religião

Para o eixo 3, propomos algumas estratégias:

1. Retomar a Secretaria de políticas da diversidade (mulheres, povos


originários, indígenas, LGBTQIA+ etc), fortalecendo as políticas de
combate às violências sofridas pelas mulheres;
2. Promover políticas direcionadas à geração de renda das mulheres;
3. Promover a formação de professores/as visando a superação de práticas
machistas e racistas;
4. Oportunizar ações que fortaleçam a dignidade menstrual das mulheres em
todas as regiões do país;
5. Oportunizar políticas de combate à evasão escolar, em especial das
mulheres;

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6. Promover ações que contemplem a diversidade dos povos tradicionais e
originários ribeirinhos e quilombolas;
7. Efetivar o monitoramento das propostas feitas pelos movimentos sociais
populares;
8. Realizar campanha afirmativa sobre Paulo Freire, de modo que chegue à
população a sua história e importância da educação libertadora;
9. Realizar campanha sobre a importância da educação emancipatória para
todas as pessoas, privilegiando a arte popular - em suas diferentes
expressões - como parte dos processos formativos de educadoras/es e
educandas/os.
10. Realizar campanha nacional que envolva crianças, pessoas jovens, adultas
e idosas para produzir conteúdo e escrever a história de resistências e lutas
das pessoas empobrecidas e vulnerabilizadas, especialmente no período
de pandemia e pós pandemia COVID-19, onde essas pessoas foram as mais
afetadas.

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