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Paulo Freire e
educação popular:
relato de uma tentativa
de reinvenção
Maria Socorro G. Torquato
Professora do Centro Paula Souza - Faculdade de Tecnologia (Fatec)
E-mail: maria.socorro.torquato@usp.br
Resumo: O presente artigo relata uma proposta reformulada de educação popular, na con-
cepção freireana, numa escola pública da periferia de São Paulo. Ao relatar a proposta, o
artigo expõe a metodologia criada coletivamente no processo e, ainda, discute os entraves
para que esse tipo de proposta tenha êxito. Iniciativa de um grupo de pesquisadores da
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp).
Diante disso, o grupo passou a fazer reuniões pe- Num primeiro momento, havia seis ambientes
riódicas, leituras e sondagem em algumas escolas para elaborar o projeto: escolarização de pessoas
para delinear os objetivos e balizas para a pesquisa. indígenas, quilombolas, pessoas em situação carce-
Estabeleceu-se que: rária, escola da região Leste da capital de São Paulo,
escola da região Oeste da capital e do município de
1. Os projetos teriam que superar a mera Diadema. Partiu-se para o contato direto com as es-
imposição da lógica universitária e colas, conseguindo-se continuar o processo apenas
a mera passagem de demandas próprias do em um dos ambientes: a escola da Zona Oeste.
cotidiano escolar para a lógica de pesquisa,
constituindo-se em relacionamento entre de-
mandas e ofertas, que ganhariam expressão Num primeiro momento, havia seis ambientes para
no programa de pesquisa.
elaborar o projeto: escolarização de pessoas indígenas,
quilombolas, pessoas em situação carcerária, escola da
2. A questão da metodologia de pesquisa
participante teria lugar, justamente por
ser perspectiva de negociação que se buscaria
região Leste da capital de São Paulo, escola da região
Oeste da capital e do município de Diadema. Partiu-se
para o contato direto com as escolas, conseguindo-se
na relação com as escolas.
continuar o processo apenas em um dos ambientes: a
fissionais nessas escolas que se dispusessem a Na escola da Zona Oeste, Escola Municipal de
pesquisá-los. Ensino Fundamental anexa ao Educandário Dom
5. A escola deveria intervir nas aspirações seguinte, foi feita uma reunião com o corpo docente,
pessoais e nas necessidades locais. para o qual a proposta foi explicitada e, para amadu-
6. Poderia ser uma pesquisa sobre educa- recer a ideia, foram enviados por e-mail a Declaração
ção escolar que contribuísse para pro- Universal dos Direitos Humanos (1948) e o Pacto
mover direitos. Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e
7. A formulação da baliza deveria ser su- Culturais (1966). Outras reuniões foram feitas com
ficientemente ampla e vaga para aco- o corpo docente, sempre pretendendo explicar o ob-
modar as peculiaridades existentes em cada jetivo da pesquisa e convidando-o a compor a equipe
local de atuação; por exemplo: escolas indíge- de pesquisa, integrando o corpo docente da escola
nas, quilombolas, de cidades da região metro- com pesquisadores da Feusp.
politana, um grupo de escolas de uma região Em fevereiro de 2015, constituiu-se a equipe
e de uma coordenadoria de escolas. de pesquisa com 12 integrantes, sendo 6 docentes,
15. Os estudos (escola) não devem se à educação, com base nos quais passou-se a formular
justificar por serem condição para propostas de ação educacional, tanto para enfrentar
o futuro, mas por serem um direito da pessoa situações adversas da comunidade escolar quanto para
no presente. promover outros direitos fundamentais dos quais depende
o direito à educação.
16. A educação é um direito ou é um
dever?
Tendo vivido o processo descrito acima, envol- Segundo Brandão (2006), a educação popular é a
vendo inovação/experimentação educacional e in- possibilidade da prática regida pela diferença, desde
tervenção no ensino público a partir da efetivação que a sua razão tenha uma mesma direção: o fortale-
dos Direitos Humanos, o qual não conseguimos cimento do poder popular através da construção de
efetivar por completo, nos colocamos a pergunta: Por um saber de classe, portanto, é importante descobrir
que nossa participação não foi consequente, não se onde ele se realiza e apontar as tendências através das
efetivou conforme pretendíamos? Ensaiamos algu- quais ela transforma a educação na vivência da educa-
mas hipóteses: ção popular. O autor afirma, ainda, que no processo de
educação popular as pessoas trocam experiências, re-