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Alfredo, o reformador

O senhor Alfredo era um homem muito infeliz.


Vivia triste e acabrunhado, com o semblante sempre
carregado, porque achava que o mundo todo estava
malfeito. O seu mau humor habitual era tão grande
que as pessoas, e até os animais, se afastavam
dele.
- Que disparate! Quando saí de casa estava
nublado e agora ficou um dia de sol. Trouxe o
chapéu de chuva para nada! Está mal!
Naquele dia, enquanto refletia sobre os males à
sua volta, viu uma florista a vender lindas rosas.
Aproximou-se para as admirar e para cheirar o
perfume agradável, quando viu as mãos da senhora
todas picadas.
- Umas flores tão lindas, com pétalas tão
macias, mas cheias de espinhos no caule! Está mal!
Aborrecido, decidiu ir pescar. Preparou o
material necessário e dirigiu-se para a margem do
rio. Lembrou-se de que não tinha isco para o anzol e
teve que apanhar minhocas na terra.
- Que horror! Como é que os peixes se deixam
enganar por um bicho tão feio!?
E desistiu de pescar.
De regresso, viu um campo cheio de melancias
grandes e bonitas.
- Isto está mal! Uma planta tão frágil, com ramos
tão finos, a suportar o maior de todos os frutos. Por
outro lado, há árvores altas e fortes que carregam
frutos pequeninos, como aquela cerejeira. Se
pudesse, colocava as melancias na cerejeira e as
cerejas nos raminhos da melancia. Eu seria um
reformador genial!
Cansado de pensar e incomodado com o calor,
sentou-se à sombra da cerejeira e adormeceu. E
sonhou com um mundo maravilhoso e perfeito, feito
por ele.
De repente, plof! Uma cereja madura caiu e
acertou-lhe no nariz. O senhor Alfredo acordou,
assustado, deu um pulo e fugiu de debaixo da
árvore. Depois, pensou:
- Afinal, o mundo não está assim tão malfeito
como eu pensava! Imagine-se se eu já o tivesse
reformado! Em vez de uma cereja, tinha levado com
uma melancia na cabeça! Quem fez o mundo fê-lo
muito melhor do que se tivesse sido eu!
Pela primeira vez na vida, sorriu, satisfeito.
Levantou a cabeça e seguiu o seu caminho
alegremente, admirando e agradecendo por tudo o
que o rodeava.
“Nosso Amiguinho”
Rosa-Dos-Ventos, Fevereiro, 2022, Ano 54, Nº 588,
Santa Casa da Misericórdia do Porto, CPAC,
Edições Braille.

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