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Ficha Técnica
Título: O Espião e o Traidor: A Maior História de Espionagem da Guerra Fria
Título original: The Spy and the Traitor: The Greatest Espionage Story of the Cold War
Autor: Ben Macintyre
Tradução: Isabel Veríssimo
Edição: Duarte Bárbara
Revisão: Rui Augusto
Capa: Rui Rosa, sobre design de gray318
Fotos da capa: © Shutterstock; © Topoto; © Getty Images
Foto do autor: © Justine Stoddart
ISBN: 9789722067706
Publicações Dom Quixote
uma editora do grupo Leya
Rua Cidade de Córdova, n.º 2
2610-038 Alfragide – Portugal
Tel. (+351) 21 427 22 00
Fax. (+351) 21 427 22 01
© 2018, Ben Macintyre
© 2019, Publicações Dom Quixote
Todos os direitos reservados de acordo com a legislação em vigor
www.dquixote.leya.com
www.leya.pt
Este livro segue o acordo ortográfico de 1990.
Ben Macintyre
O Espião e o Traidor
A Maior História de Espionagem da
Guerra Fria
Tradução:
Isabel Veríssimo
Em memória de Joanna Macintyre (1934-2015)
«Ele tinha duas vidas: uma pública, conhecida e vista por
todos
os que estivessem interessados… e a outra vivia-a em
segredo.»
Anton Chekhov, «A Dama do Cachorrinho»
Nomes de código e pseudónimos
ABLE ARCHER
Manobras militares da NATO
83
BOOTCO Michael Foot (KGB)
COE Caso Bettaney (MI5)
DANICEK Stanislaw Kaplan (MI6)
DARIO Ilegal não identificado do KGB (KGB)
DISARRANGE Exfiltração de agente dos serviços secretos checos (MI6)
DRIM Jack Jones (KGB)
ELLI Leo Long (KGB)
Operação conjunta MI5-MI6 de contraespionagem de Bettaney
ELMEN
(MI5/MI6)
Expulsão de funcionários do KGB/GRU após a detenção de
EMBASE
Gordievsky (RU)
Vladimir Vetrov (Direction Générale de la Surveillance du
FAREWELL
Territoire)
FAUST Yevgeni Ushakov (KGB)
FOOT Expulsão de funcionários do KGB/GRU (MI5/MI6)
FREED Agente dos serviços secretos checos (MI6)
GLYPTIC Estaline (MI5)
GOLDFINCH Oleg Lyalin (MI5/MI6)
GOLFPLATZ Grã-Bretanha (serviços secretos alemães)
GORMSSON Oleg Gordievsky (PET)
GORNOV Oleg Gordievsky (KGB)
GROMOV Vasili Gordievsky (KGB)
GRETA Gunvor Galtung Haavik (KGB)
GROUND Transferência de dinheiro para DARIO (KGB)
GUARDIYETSEV Oleg Gordievsky (KGB)
HETMAN Campanha para a libertação de Leila Gordievsky e das filhas
(MI6)
INVISIBLE Exfiltração de cientistas checos (MI6)
KOBA Michael Bettaney
KORIN Mikhail Lyubimov (KGB)
KRONIN Stanislav Androsov (KGB)
LAMPAD Ligação conjunta MI5-MI6 (MI5/MI6)
NOCTON Oleg Gordievsky (MI6)
OVATION Oleg Gordievsky (MI6)
PIMLICO Operação de exfiltração de Gordievsky (MI6)
PUCK Michael Bettaney (MI5)
RON Richard Gott (KGB)
RYAN Raketno-Yadernoye Napadeniye (União Soviética)
SUNBEAM Oleg Gordievsky (MI6)
TICKLE Oleg Gordievsky (CIA)
UPTIGHT MI6 (CIA)
ZEUS Gert Petersen (KGB)
ZIGZAG Eddie Chapman (MI5)
Introdução
18 de maio de 1985
37Um espantalho da ficção infantil britânica que anda e fala, criado pela
romancista inglesa Barbara Euphan Todd. Os livros foram adaptados diversas
vezes para rádio e televisão. (N. da T.)
SEGUNDA PARTE
7. A Casa Segura
50Em russo no original: casa de campo que, embora possa ser de habitação
permanente, é usada sobretudo na primavera e no verão. (N. da T.)
51Puck, ou Robin Goodfellow, é uma personagem de Sonho de Uma Noite de
Verão, de William Shakespeare. É um inteligente e jocoso duende, e está sempre
a pregar partidas. É ele que cria o drama na história dos dois apaixonados, ao
separá-los numa floresta encantada. (N. da T.)
10. Mr. Collins e Mrs. Thatcher
64O Conselho da Grande Londres foi uma poderosa organização que controlava
o poder local em toda a área metropolitana londrina e funcionou entre 1965 e
1986. Dirigia os 33 distritos de Londres. (N. da T.)
11. Roleta Russa
Sábado, 20 de Julho
3h30, Comboio de Moscovo para Leninegrado
Gordievsky acordou no beliche de baixo com uma forte
dor de cabeça e, durante um longo e irreal momento, sem
fazer ideia de onde estava. Um jovem estava no beliche de
cima, a olhá-lo com uma expressão estranha: «Caiu do
beliche», disse-lhe. Os sedativos tinham mergulhado
Gordievsky num sono tão profundo que, quando o comboio
travou de repente, ele tinha rebolado do beliche e caíra no
chão, fazendo um corte na têmpora. A sua camisola de
malha estava cheia de sangue; cambaleou até ao corredor
para respirar ar fresco. No compartimento ao lado, um
grupo de mulheres jovens do Cazaquistão falava
animadamente. Oleg abriu a boca para participar na
conversa, mas quando se preparava para falar, uma das
mulheres estremeceu, aterrorizada: «Se me dirigir a
palavra, eu grito.» Só então Gordievsky percebeu qual
devia ser a sua aparência: desgrenhado, sujo de sangue e
cambaleante. Recuou, pegou na mala e foi até ao fundo do
corredor. Ainda faltava mais de uma hora para o comboio
chegar a Leninegrado. Os outros passageiros fariam queixa
dele por estar embriagado? Foi procurar a revisora, deu-lhe
uma nota de cinco rublos e disse: «Obrigado pela sua
ajuda», apesar de ela não ter feito nada a não ser
entregar-lhe os lençóis. A rapariga olhou-o com uma
expressão intrigada, onde lhe pareceu detetar um toque
de censura. No entanto, guardou o dinheiro. O comboio
continuou a avançar enquanto a noite cedia a pouco e
pouco lugar ao dia.
4h00, Estrada Principal de Moscovo para
Leninegrado
A meio caminho de Leninegrado, nas colinas Valday, a
equipa da fuga deparou-se com um espetacular
amanhecer que comoveria Ascot ao ponto de se tornar
lírico: «Um denso nevoeiro tinha-se erguido dos lagos e
dos rios, estendendo-se em compridos cintos ao lado das
colinas e infiltrando-se nas árvores e nas aldeias. A terra
fundiu-se a pouco e pouco em formas substanciais saídas
daquelas margens de espuma violeta e cor-de-rosa. Três
planetas muito brilhantes brilhavam em perfeita simetria,
um à esquerda, um à direita e um em frente. Passámos por
figuras solitárias já a ceifar trigo, a arrancar ervas ou a
levar vacas para o pasto nas encostas e ravinas de terra
comunitária. Foi uma visão assombrosa, um momento
idílico. Era difícil acreditar que poderia acontecer algum
mal num dia com um início tão idílico como aquele.»
Florence dormia tranquilamente na sua cadeirinha no
banco de trás.
Católico devoto e um homem espiritual, Ascot pensou:
«Seguimos um caminho e estamos empenhados nele – só
existe um caminho e é o único que temos para seguir.»
No segundo carro, Arthur e Rachel Gee estavam a viver o
seu momento transcendente quando o Sol subiu na linha
do horizonte e as terras altas russas, envoltas em
nevoeiro, se encheram de luz.
O álbum dos Dire Straits Brothers in Arms tocava no
leitor de cassetes, e a virtuosa guitarra de Mark Knopfler
pareceu encher o amanhecer.
These mist covered mountains
Are a home now for me
But my home is the lowlands
And always will be
Someday you’ll return to
Your valleys and your farms
And you’ll no longer burn
To be brothers in arms
Through these fields of destruction
Baptisms of fire
I’ve watched all your suffering
As the battles raged higher
And though they did hurt me so bad
In the fear and alarm
You did not desert me
My brothers in arms86
«Pela primeira vez, pensei: “Isto vai correr bem”»,
recordou Rachel.
Naquele momento, um carro parecido com um Fiat com o
capô arrebitado, de fabrico soviético, conhecido como
Zhiguli, o carro de vigilância mais usado pelo KGB,
apareceu atrás dos carros da embaixada, a cerca de 60
metros. «Estávamos a ser seguidos.»
5h00, Estação ferroviária principal, Leninegrado
Gordievsky foi um dos primeiros passageiros a apear-se
quando o comboio parou. Dirigiu-se em passos rápidos
para a saída, sem se atrever a olhar para trás para ver se a
revisora estaria a falar com os funcionários da estação e a
apontar para o estranho homem que caíra do beliche e lhe
dera uma gorjeta demasiado generosa. Não havia táxis à
porta da estação. No entanto, viu uma série de carros
particulares em movimento, cujos condutores andavam a
angariar passageiros pagantes. Gordievsky entrou num:
«Para a Estação Finlândia», disse ele.
Gordievsky chegou à Estação Finlândia às 5h45. A praça
quase deserta em frente era dominada por uma enorme
estátua de Lenine, erigida para comemorar o momento,
em 1917, em que o grande teórico da revolução chegou da
Suíça para assumir a liderança dos bolcheviques. Em gíria
comunista, a Estação Finlândia é um símbolo da liberdade
revolucionária e do nascimento da União Soviética; para
Gordievsky também representava o caminho para a
liberdade, mas na direção oposta, em todos os sentidos, a
Lenine.
O primeiro comboio em direção à fronteira saía às 7h05 e
levá-lo-ia até Zelenogorsk, 48 quilómetros a noroeste de
Leninegrado e a pouco mais de um terço do caminho até à
fronteira finlandesa. Dali, poderia apanhar um autocarro
que o levaria pela estrada principal até Vyborg. Gordievsky
embarcou e fingiu que tinha adormecido. O comboio
seguiu num ritmo atrozmente lento.
7h00, Sede do KGB, o Centro, em Moscovo
Não é evidente o momento em que o KGB percebeu que
Gordievsky tinha desaparecido. Contudo, ao amanhecer de
20 de julho, a equipa de vigilância do Primeiro Diretório
Principal (departamento chinês) deve ter ficado muitíssimo
preocupada. Ele tinha sido visto pela última vez na sexta-
feira à tarde, a correr em direção à floresta cerca da
Leninsky Prospekt com um saco de plástico na mão. Nas
três ocasiões anteriores em que tinha desaparecido,
reaparecera poucas horas depois. Desta última vez, porém,
não regressara ao apartamento. Não estava com a irmã,
com o sogro ou com o amigo Lyubimov, nem em nenhuma
outra morada conhecida.
Naquele momento, a ação mais sensata teria sido dar o
alarme. O KGB poderia lançar imediatamente uma caça ao
homem, destruir o apartamento de Gordievsky em busca
de provas do seu paradeiro, chamar para interrogatório
todos os amigos e familiares, redobrar a vigilância ao
pessoal diplomático britânico e fechar todas as rotas de
fuga, por ar, mar e terra. Todavia, não há provas de que a
equipa de vigilância tenha feito isto na manhã de 20 de
julho. Pelo contrário, parece que fizeram o que os
oportunistas fazem em todas as autocracias que castigam
os fracassos honestos: não fizeram nada e esperaram que
o problema desaparecesse.
7h30, Leninegrado
A equipa de exfiltração do MI6 estava estacionada à
porta do Hotel Astoriya em Leninegrado. O carro de
vigilância castanho do KGB seguira-os até ao centro da
cidade, antes de desaparecer. «Presumi que havia um
carro novo atrás de nós», escreveu Ascot. Os dois
diplomatas abriram os porta-bagagens e «mexemos
ostensivamente no interior, para mostrar à vigilância que
não tínhamos nada a esconder e que os nossos porta-
bagagens estavam mesmo cheios de bagagem». Quando
Gee e as duas mulheres entraram, para alimentar a bebé e
tomar o pequeno-almoço («uns horríveis ovos cozidos e
pão que mais parecia madeira»), Ascot manteve-se no
carro e fingiu que estava a dormir. «O KGB andava a meter
o nariz, e eu não queria ninguém a espreitar para dentro
dos carros.» Dois homens diferentes aproximaram-se e
espreitaram pela janela; nas duas ocasiões, Ascot fingiu
que acordava sobressaltado e olhou para eles com uma
expressão furiosa.
Calculou que a viagem de 160 quilómetros até ao desvio
demoraria cerca de duas horas. Por isso, teriam de sair de
Leninegrado às 11h45 para chegarem lá com tempo de
sobra para o encontro às 14h30. O carro que os tinha
seguido até Leninegrado, e agora os tipos curiosos a
andarem à volta do carro, sugeriam um nível preocupante
de interesse por parte do KGB. «Naquele momento percebi
que iam seguir-nos até à fronteira, o que deu cabo do meu
entusiasmo.» Os potentes carros ocidentais eram mais
rápidos do que um carro do KGB fabricado na União
Soviética e podiam adiantar-se o bastante para entrarem
no desvio do ponto de encontro sem ser vistos. Mas o que
aconteceria se o KGB também tivesse um carro à frente,
como faziam por vezes? Se PIMLICO tivesse sido incapaz
de se livrar da vigilância, poderiam estar a meter-se numa
emboscada. «O que eu temia acima de tudo era que duas
equipas de vigilância do KGB estivessem a planear um
movimento convergente no ponto de encontro. O otimismo
que me restava estava a evaporar-se depressa.»
Com duas horas de sobra, Ascot sugeriu que usassem
esse tempo para fazer uma irónica peregrinação ao
Instituto e Convento Smolny, um dos locais mais
venerados pelos comunistas. Originalmente Instituto
Smolny para Donzelas Nobres, uma das primeiras escolas
na Rússia a educar mulheres (apenas aristocratas), o
grande edifício pseudoclássico foi usado por Lenine como
quartel-general durante a Revolução de Outubro e seria a
sede do governo bolchevique até ser mudado para o
Kremlin, em Moscovo. Estava cheio do que Ascot chamava
«leniniana».
Nos jardins do Smolny, os quatro sentaram-se num banco
e debruçaram-se ostensivamente sobre um guia de
viagem. «Foi o último conselho de guerra, para ensaiar
tudo», declarou Ascot. Se conseguissem chegar ao ponto
de encontro, o conteúdo dos porta-bagagens dos carros
teria de ser arrumado para acomodar os passageiros.
Rachel prepararia o piquenique enquanto os homens
retiravam as malas dos porta-bagagens dos carros.
Entretanto, Caroline iria para a entrada do desvio com
Florence ao colo e olharia para um lado e para o outro da
estrada. «Se alguma coisa parecesse estranha, tiraria o
lenço da cabeça.» Se o caminho estivesse livre, Gee abriria
o capô do carro para fazer sinal a PIMLICO de que era
seguro aparecer. Quaisquer microfones captariam a
conversa, por isso a recolha deveria ser efetuada sem
palavras. Se ele fosse o único fugitivo, seria escondido no
porta-bagagem do carro de Gee. A suspensão do Ford era
mais alta do que a do Saab, e o peso extra do corpo seria
um pouco menos conspícuo. «Arthur seguiria à frente, fora
do ângulo de visão da equipa de vigilância», escreveu
Ascot. «E eu protegia-o por trás, contra qualquer tentativa
de abalroamento pela retaguarda.»
O quartel-general revolucionário de Lenine pareceu-lhes
um lugar adequado para uma conspiração. «No fundo,
estávamos a mostrar o dedo ao KGB.»
Antes de voltarem aos carros para a última parte da
viagem, passearam até à margem do Neva e ficaram a ver
a água correr por um molhe abandonado, «agora cheio de
ferrugem, autocarros sem rodas e rolos de celofane a
flutuar por entre as algas do rio.» Ascot sugeriu que podia
ser uma boa oportunidade para uma breve comunicação
com o Todo-Poderoso. «Tivemos um momento de reflexão.
Sentíamo-nos muito ligados a algo superior – e
precisávamos disso.»
Nos arredores de Leninegrado, passaram por um grande
posto GAI com uma torre de vigia. Passados alguns
momentos, um Lada Zhiguli azul, com dois passageiros do
sexo masculino e uma alta antena, apareceu atrás deles.
«Foi uma visão deprimente», escreveu Ascot. «Mas o pior
ainda estava para vir.»
8h25, Zelenogorsk
Gordievsky desceu do comboio e olhou em volta. A
cidade de Zelenogorsk, conhecida até 1948 pelo seu nome
finlandês, Terijoki, começava a despertar e a estação
tornava-se movimentada. Parecia impossível ter sido
seguido até ali, mas em Moscovo a equipa de vigilância já
devia ter lançado o alarme. Era possível que o posto
fronteiriço de Vyborg, 80 quilómetros a noroeste, já tivesse
sido alertado. O plano de fuga requeria que ele apanhasse
um autocarro para cumprir o resto do caminho e saísse no
marco quilométrico 836, a 836 quilómetros de Moscovo e a
25 quilómetros da cidade fronteiriça. Na central de
camionagem comprou um bilhete para Vyborg.
O velho autocarro estava meio cheio; ao sair com
estrépito de Zelenogorsk, Gordievsky tentou instalar-se
confortavelmente no assento duro e fechou os olhos. Um
jovem casal sentou-se à sua frente. Eram conversadores e
simpáticos. De uma forma que é quase exclusiva da
Rússia, também estavam a cair de bêbedos às nove da
manhã. «Para onde vai?», perguntaram, entre soluços. «De
onde é?» Gordievsky murmurou uma resposta. Como é
hábito dos bêbedos que querem fazer conversa, repetiram
a pergunta, desta vez mais alto. Oleg disse que ia visitar
amigos numa aldeia perto de Vyborg, referindo um nome
que lhe ocorreu do estudo do mapa de estradas. Mesmo
aos seus ouvidos, soou claramente como uma mentira. No
entanto, pareceu satisfazer o casal e os dois balbuciaram
coisas inconsequentes até se levantarem e saírem, cerca
de 20 minutos mais tarde, acenando alegremente.
Densas florestas estendiam-se dos dois lados da estrada,
coníferas misturadas com pequenas bétulas e faias pretas,
quebradas por algumas clareiras com mesas de
piquenique. Seria fácil perder-se num lugar daqueles, mas
também era bom para se esconder. Autocarros de turismo
seguiam na direção contrária, levando jovens
escandinavos para o festival de música. Gordievsky
reparou num grande número de veículos militares,
incluindo veículos blindados de transporte de tropas. A
zona fronteiriça era fortemente militarizada e estava em
curso algum tipo de exercício de treino.
A estrada fazia uma curva para a direita e, de repente, as
fotografias que Veronica Price lhe mostrara tantas vezes
pareceram ganhar vida. Gordievsky não vira o marco
quilométrico, mas tinha a certeza de que estava no lugar
certo. Levantou-se de um salto e olhou pela janela. O
autocarro já estava quase vazio e o motorista olhou-o com
uma expressão intrigada. O autocarro parou. Gordievsky
hesitou. O autocarro recomeçou a andar. Ele percorreu
rapidamente o corredor do autocarro com a mão na boca.
«Desculpe, estou maldisposto. Pode deixar-me sair?»
Irritado, o motorista parou mais uma vez e abriu a porta.
Quando o autocarro arrancou, Gordievsky debruçou-se na
valeta, na berma da estrada, a fingir que vomitava. Estava
a dar demasiado nas vistas. Com isso, pelo menos meia
dúzia de pessoas lembrar-se-ia claramente dele: a revisora
do comboio, o homem que o encontrara desmaiado no
chão do compartimento, o casal de bêbedos e o motorista
do autocarro, que se recordaria sem dúvida de um
passageiro maldisposto que parecia não saber para onde
ia.
A entrada do desvio ficava 300 metros mais adiante e
estava marcada pelo característico penedo. O caminho
afastava-se numa curvatura com o formato de um D com
cerca de 100 metros de comprimento, com uma barreira
de árvores na berma da estrada e mato denso de fetos e
vegetação enfezada. Um trilho militar no ponto mais largo
do D entrava na floresta à direita. A superfície de terra do
desvio estava empoeirada, mas o terreno à volta
encontrava-se encharcado, com poças de água estagnada.
O tempo começava a aquecer e a terra libertava um odor
pungente e fétido. Ouviu o zumbido de um mosquito e
sentiu a primeira picada. Depois outra. Na floresta, o
silêncio era tão profundo que parecia ecoar. Eram 10h30.
Os carros de fuga do MI6 só chegariam dali a quatro horas,
se viessem.
O medo e a adrenalina podem ter um efeito estranho na
mente, e no apetite. Gordievsky devia ter ficado escondido
no mato. Devia ter tapado a cabeça com o casaco e
deixado os mosquitos massacrá-lo. Devia ter esperado. Em
vez disso, fez uma coisa que, em retrospetiva, foi um ato
de loucura.
Decidiu ir a Vyborg, e beber qualquer coisa.
12h00, Estrada Nacional de Leninegrado para
Vyborg
Os dois carros do MI6 estavam nos arredores de
Leninegrado, com o Zhiguli azul do KGB a segui-los,
quando um carro da polícia soviética entrou na estrada à
frente do Saab de Ascot e se posicionou diante do pequeno
comboio. Momentos depois, um segundo carro da polícia
passou na direção oposta, ligou o pisca e fez inversão de
marcha, colocando-se atrás do veículo do KGB. Um quarto
carro, um Zhiguli cor de mostarda, juntou-se à retaguarda
da coluna. «Estávamos enforquilhados», disse Ascot.
Trocou um olhar ansioso com Caroline, mas não disse
nada.
Passados cerca de 15 minutos, o carro da polícia que ia à
frente aumentou a velocidade e afastou-se. No mesmo
momento, o carro do KGB também acelerou, ultrapassou
os dois carros britânicos e ocupou a posição da frente. Um
quilómetro e meio mais adiante, o primeiro carro da polícia
esperava numa estrada secundária. Depois de o comboio
passar, entrou na estrada principal e ocupou a posição da
retaguarda. O comboio estava de novo cercado, mas agora
com o KGB à frente e os dois carros da polícia atrás.
Acabara de acontecer um clássico jogo de poder soviético,
coordenado via rádio e executado como uma bizarra dança
motorizada: «O KGB tinha dito à polícia: “Podem ficar, mas
quem vai dirigir esta operação somos nós.”»
Fosse qual fosse a ordem dos veículos, era uma vigilância
intensa e eles não faziam qualquer esforço para disfarçar.
Ascot continuou a conduzir com uma expressão sombria.
«Naquele momento pensei que estávamos num
movimento convergente. Vi-nos virar para o desvio e
encontrar uma comissão de boas-vindas, um monte de
pessoas à paisana a saírem dos arbustos.»
Os marcos quilométricos faziam a contagem
decrescente. «Não tinha um plano para lidar com aquela
situação: não tinha imaginado que poderíamos estar a
seguir para o ponto de encontro com o KGB alguns metros
à nossa frente e atrás de nós.» Com um carro à frente e
três atrás, seria impossível parar no desvio. «Se eles
continuarem connosco no ponto de encontro», pensou
Ascot, «teremos de abortar.» PIMLICO – e a família, se
fosse acompanhado pela mulher e as filhas – seria
abandonado à sua sorte. Isto partindo do princípio de que
ele conseguira sair de Moscovo.
12h15, Um café a sul de Vyborg
O primeiro carro que passou na estrada em direção a
Vyborg era um Lada e parou no momento em que
Gordievsky esticou o polegar. Pedir boleia, ou Avtostop, era
uma prática comum na Rússia, e encorajada pelas
autoridades soviéticas. Mesmo numa zona militar, uma
pessoa sozinha à boleia não era, necessariamente,
suspeita. O jovem condutor estava muito bem vestido com
roupas civis. Gordievsky pensou que podia ser militar ou do
KGB, mas a sua atitude foi muitíssimo descuidada, pois
não fez uma única pergunta e foi a ouvir música ocidental
com o volume muito alto até à entrada da cidade. Quando
Gordievsky propôs três rublos pela curta viagem, o homem
aceitou o dinheiro sem proferir uma única palavra e
afastou-se sem olhar para trás. Passados alguns minutos,
Gordievsky estava sentado a comer um bom almoço: duas
garrafas de cerveja e um prato de frango frito.
A primeira garrafa de cerveja ficou vazia num instante e
Gordievsky começou a sentir uma aprazível sonolência
quando a adrenalina se dissipou. A perna de frango foi
uma das coisas mais saborosas que já tinha comido em
toda a sua vida. O café vazio nos arredores de Vyborg
parecia completamente banal, uma bolha de vidro e
plástico. A empregada de mesa mal olhou para ele quando
registou o pedido. Gordievsky começou a sentir-se, não
propriamente seguro, mas estranhamente calmo e de
repente exausto.
Vyborg tinha mudado muitas vezes de nacionalidade ao
longo dos séculos, da Suécia para a Finlândia e para a
Rússia, depois para a União Soviética, de volta para a
Finlândia e, por fim, uma vez mais para a União Soviética.
Em 1917, Lenine tinha passado pela cidade comandando o
seu contingente de bolcheviques. Antes da Segunda
Guerra Mundial, embora a maioria da sua população de 80
mil habitantes fosse finlandesa, também ali viviam suecos,
alemães, russos, ciganos, tártaros e judeus. Durante a
Guerra de Inverno entre a Finlândia e a União Soviética
(1939-1940), toda a população foi evacuada e mais de
metade dos edifícios foi destruída. Após uma batalha
intensa, a cidade foi ocupada pelo Exército Vermelho e
anexada pela União Soviética em 1944, quando os últimos
finlandeses foram expulsos e substituídos por cidadãos
soviéticos. Tinha a atmosfera árida e inerte de todas as
cidades que foram demolidas, sofreram uma limpeza
étnica e foram reconstruídas rapidamente e com um
orçamento reduzido. Parecia totalmente irreal. Mas o café
estava quente.
Gordievsky despertou com um sobressalto. Estivera a
dormir? De repente, era uma da tarde. Três homens
entraram no café e Gordievsky pensou que o olhavam com
desconfiança. Estavam bem vestidos. Tentando parecer
descontraído, pegou na segunda garrafa de cerveja,
guardou-a no saco, deixou dinheiro em cima da mesa e
saiu. Armando-se de coragem, caminhou sem pressa para
sul, e só depois de percorrer 400 metros é que se permitiu
olhar para trás. Os homens continuavam no interior do
café. Mas para onde fora o tempo? A estrada estava agora
deserta. Com a chegada da hora do almoço, os veículos
tinham desaparecido. Começou a correr. Percorridos 200
metros, estava a escorrer suor, mas acelerou. Gordievsky
continuava a ser um grande corredor. Apesar dos
problemas dos dois últimos meses, estava em boa forma.
Quando estabeleceu o ritmo, sentiu o coração bater de
medo e esforço. Um homem a pedir boleia podia passar
despercebido, mas um homem a correr numa estrada
deserta suscitaria sem dúvida curiosidade. Pelo menos,
estava a correr para longe da fronteira. Correu mais
depressa. Porque é que não tinha ficado no ponto de
encontro? Conseguiria fazer os 25 quilómetros até ao
desvio numa hora e 20 minutos? Quase de certeza que
não. No entanto, correu o mais depressa que conseguiu.
Gordievsky estava a correr pela sua vida.
13h00, Três quilómetros a norte da aldeia de
Vaalimaa, Finlândia
Do lado finlandês da fronteira, a equipa de receção do
MI6 assumiu a sua posição cedo. Sabiam que Ascot e Gee
tinham partido de Moscovo a tempo na noite anterior, mas
não havia mais notícias. Price e Brown estacionaram o
Volvo vermelho fora da estrada, na orla da clareira, e
Shawford e os dinamarqueses ocuparam as suas posições
de cada lado da estrada. Se os dois carros chegassem com
o KGB a persegui-los, Eriksen e Larsen usariam o seu
veículo para tentar bloquear ou abalroar os perseguidores.
Pareciam animados com essa possibilidade. Estava calor e
reinava o silêncio, uma estranha calmaria após a frenética
atividade dos quatro dias anteriores.
«Senti um extraordinário período de imobilidade no
centro do mundo em movimento», recordou Simon Brown.
Tinha trazido Hotel du Lac, o romance de Anita Brookner
vencedor do Booker Prize. «Pensei que, se levasse um livro
grande, estaria a tentar o destino, por isso levei um
pequeno.» Os dinamarqueses dormitavam. Veronica Price
verificou mentalmente todos os pormenores do plano de
fuga. Brown leu o mais devagar que conseguia e tentou
«não pensar nos minutos que se arrastavam». Maus
pressentimentos eram uma constante: «Perguntei a mim
mesmo se tínhamos matado as crianças ao injetar-lhes os
fármacos.»
13h30, Estrada nacional de Leninegrado para Vyborg
Os responsáveis pelas infraestruturas rodoviárias
estavam orgulhosos da estrada nacional que ligava
Leninegrado à fronteira com a Finlândia, o principal acesso
entre a Escandinávia e a União Soviética. Era uma estrada-
modelo, larga, bem asfaltada e bem delineada, com boa
sinalização e marcações. O pequeno comboio avançava a
bom ritmo, a uma velocidade de 120 quilómetros por hora,
com o carro do KGB à frente, os carros do MI6 encurralados
no meio e dois veículos da polícia e um segundo carro do
KGB a segui-los um pouco atrás. Estava a ser tudo muito
fácil para o KGB, pelo que Ascot decidiu dificultar as
coisas.
«Eu era vigiado há anos e sabia bem o que a Sétima
Divisão do KGB pensava. Apesar de terem consciência de
que as pessoas sabiam muitas vezes que eles andavam
por perto, ficavam muito ofendidos e embaraçados quando
alguém indicava de forma deliberada que os detetara: a
nível psicológico, nenhuma equipa de vigilância gosta de
ser exposta pelo seu alvo como óbvia e incompetente.
Detestam que levantemos dois dedos e digamos:
“Sabemos que estão aí e sabemos o que estão a tramar.”»
Por princípio, Ascot ignorava sempre a vigilância, por muito
descarada que fosse. Então, pela primeira vez, quebrou a
sua regra.
O visconde espião reduziu a velocidade até ir apenas a
55 quilómetros por hora. O resto do comboio imitou-o. No
marco quilométrico 800, Ascot abrandou de novo até irem
a passo de caracol, sem ultrapassar os 45 quilómetros por
hora. O carro do KGB que ia à frente abrandou e esperou
que os veículos britânicos se aproximassem. Outros carros
começaram a formar uma fila atrás do comboio.
O motorista do KGB não gostou. Os britânicos estavam a
gozar com ele, a impedir o avanço de forma deliberada.
«Por fim, o condutor do carro da frente perdeu a paciência
e afastou-se a grande velocidade. Não gostou de ser
desmascarado.» Alguns quilómetros mais adiante, o
Zhiguli azul do KGB estava à espera numa estrada
secundária para a aldeia de Kaimovo e entrou atrás dos
outros carros de vigilância. O Saab de Ascot estava de
novo à frente.
Ascot aumentou a velocidade de forma gradual. Gee fez
o mesmo, mantendo uma distância de apenas 15 metros
entre o seu carro e o Saab da frente. Os três carros que os
seguiam começaram a ficar para trás. A estrada em frente
era a direito e tinha boa visibilidade. Ascot acelerou de
novo. Agora iam a cerca de 140 quilómetros por hora.
Entre Gee e os carros russos abrira-se um espaço de mais
de 800 metros. O marco quilométrico 826 ficou para trás.
Faltavam apenas 10 quilómetros para o ponto de
encontro.
Ascot fez uma curva e travou a fundo.
Uma coluna militar atravessava a estrada da esquerda
para a direita: tanques, obuses, bazucas, veículos
blindados de transporte de pessoal. Uma carrinha de pão
já estava parada à frente, à espera de que a coluna
passasse. Ascot parou atrás da carrinha. Gee parou atrás
dele. Os carros de vigilância apanharam-nos e pararam. Ao
verem os carros estrangeiros, os soldados russos que iam
em cima dos tanques levantaram os punhos cerrados e
gritaram, uma irónica saudação da Guerra Fria.
«É isso mesmo», pensou Ascot. «Estamos tramados.»
14h00, Estrada nacional de Leninegrado, 15
quilómetros a sudeste de Vyborg
Gordievsky ouviu o ruído do motor do camião atrás de si
e esticou logo o polegar. O motorista fez sinal ao homem
que pedia boleia para entrar. «Para quê? Ali não há nada»,
disse ele quando um transpirado Gordievsky lhe explicou
que gostaria de ser deixado no marco quilométrico 836.
Gordievsky olhou-o com o que esperou que fosse um
olhar conspiratório. «Há algumas dachas nas florestas. E
numa delas está uma linda senhora à minha espera.» O
motorista do camião emitiu um som de aprovação e
esboçou um sorriso cúmplice.
«Que homem encantador», pensou Gordievsky quando o
motorista o deixou passados 10 minutos no ponto de
encontro e se afastou com um lascivo piscar de olhos e
três rublos no bolso. «Que encantador homem russo.»
No desvio, rastejou para o meio do mato. Os mosquitos
esfomeados deram-lhe novamente as boas-vindas. Um
autocarro com mulheres a caminho da base militar entrou
no desvio e seguiu pelo trilho; Gordievsky colou-se à terra
molhada e perguntou a si mesmo se teria sido visto. O
único ruído que se ouvia no meio do silêncio era o zumbido
dos mosquitos e o seu coração aos pulos. Desidratado,
bebeu a segunda garrafa de cerveja. Deram as 14h30.
Depois as 14h35.
Às 14h40 foi assolado por outro momento de loucura e
levantou-se e dirigiu-se para a estrada, começando a
caminhar na direção de onde deviam vir os carros de fuga
do MI6. Talvez pudesse poupar alguns minutos se fosse ao
seu encontro na estrada. Porém, depois de dar alguns
passos, a sanidade mental regressou. Se os carros
tivessem uma escolta do KGB, seriam todos apanhados em
terreno aberto. Correu para o desvio e escondeu-se de
novo no meio dos fetos.
«Espera», disse para si mesmo. «Controla-te.»
14h40, Marco Quilométrico 826, estrada nacional de
Leninegrado para Vyborg
Por fim, o último veículo da coluna militar atravessou a
estrada. Ascot acelerou o motor do Saab, ultrapassou a
carrinha do pão e aumentou a velocidade, seguindo Gee a
poucos metros de distância. Já tinham um avanço de 100
metros antes de o carro do KGB ligar o motor. A estrada
em frente estava vazia. Ascot acelerou a fundo. No
gravador de cassetes ouvia-se o Messias, de Haendel.
Caroline aumentou o volume para o máximo. «Os povos
que caminhavam na escuridão viram uma grande luz; e
aqueles que habitam na terra da sombra da morte viram
sobre eles brilhar a luz.» Deprimido, Ascot pensou: «Se ao
menos...»
Os funcionários do MI6 já tinham feito aquele percurso
diversas vezes e ambos sabiam que o desvio ficava apenas
alguns quilómetros mais adiante. Pouco depois, reduziram
a velocidade para os 140 quilómetros por hora e os carros
da escolta já estavam a 500 metros deles, com o espaço a
aumentar gradualmente. Pouco antes do marco
quilométrico 836, a estrada estreitava e descia a pique
durante cerca de 800 metros, e depois subia de novo antes
de uma curva apertada à direita. O desvio ficava à direita,
cerca de 200 metros mais adiante. O desvio estaria cheio
de russos a fazer piqueniques? Caroline Ascot ainda não
sabia se o marido ia tentar a recolha ou se passaria pelo
desvio sem parar. E Gee também não. A verdade é que
Ascot também não fazia ideia.
Antes da descida a pique, quando Ascot fez a curva, Gee
olhou pelo espelho retrovisor e viu o Zhiguli azul aparecer
na reta, 800 metros mais atrás, a uma distância de meio
minuto, talvez menos.
O penedo apareceu e, quase sem ter consciência do que
estava a fazer, Ascot travou, entrou no desvio e parou,
com Gee alguns metros atrás. Os pneus levantaram uma
nuvem de pó. Estavam escondidos da estrada pelas
árvores e pelo penedo. O local estava deserto. Eram
14h47. «Por favor, meu Deus, que eles não vejam o pó»,
pensou Rachel. Quando saíam rapidamente dos carros,
ouviram o som dos motores dos Ladas a gritar um protesto
quando passaram na estrada principal, a menos de 15
metros de distância do outro lado das árvores. «Se um
deles olhar pelo espelho retrovisor agora», pensou Ascot,
«vai ver-nos.» O barulho dos motores diminuiu. O pó
assentou. Caroline prendeu o lenço de cabeça, pegou em
Florence e dirigiu-se para o ponto de vigia à entrada do
desvio. Seguindo o guião, Rachel pegou no cesto e
estendeu a manta do piquenique. Ascot começou a
transferir as malas dos porta-bagagens para os bancos de
trás e Gee dirigiu-se para a frente do Saab, preparado para
abrir o porta-bagagem no instante em que Caroline desse
o sinal de que estava tudo bem.
Naquele momento, um vagabundo saiu do meio do mato,
com o rosto por barbear e desgrenhado, coberto de lama,
fetos e pó, com sangue seco no cabelo, uma mala
castanha barata numa mão e uma expressão tresloucada
no rosto. «Não era nada parecido com a fotografia»,
pensou Rachel. «Quaisquer fantasias que tínhamos de
conhecer um elegante espião desvaneceram-se naquele
momento.» Ascot pensou que o homem parecia «um troll
da floresta ou um lenhador dos contos de fadas dos irmãos
Grimm».
Gordievsky reconheceu Gee como o homem do chocolate
Mars. Gee quase não o vira à porta da padaria, e por
momentos duvidou que aquela desgrenhada aparição
fosse a mesma pessoa. Durante uma fração de segundo,
num trilho empoeirado numa floresta russa, o espião e as
pessoas que tinham vindo resgatá-lo entreolharam-se,
indecisos. A equipa do MI6 preparara-se para quatro
pessoas, incluindo duas crianças pequenas, mas PIMLICO
estava evidentemente sozinho. Gordievsky esperava ser
recolhido por dois funcionários dos serviços secretos.
Veronica não dissera nada a respeito de mulheres, e muito
menos mulheres que pareciam estar a preparar uma
espécie de piquenique inglês, onde não faltavam chávenas
de chá. E aquilo era uma criança? O MI6 trouxera um bebé
para uma perigosa operação de fuga?
Gordievsky olhou de um homem para o outro e depois
resmungou, em inglês: «Qual dos carros?»
86 Estas montanhas cobertas de bruma/ São agora um lar para mim/ Mas o meu
lar é nas planícies/ E sempre será/ Um dia regressarão/ Aos vossos vales e
quintas/ E nunca mais serão consumidos pelo desejo/ De serem irmãos de
armas.
Nestes campos de destruição/ Batismos de fogo/ Vi todo o vosso sofrimento/
Enquanto as batalhas se intensificavam/ E embora eles me tenham magoado
tanto/ Apesar do medo e do pânico/ Não me abandonaram/ meus irmãos de
armas. (N. da T.)
15. Finlandia
3
«É preferível que dez pessoas inocentes»: citado em Sebag Montefiore,
Stalin.
5
«a Harvard russa»: citado em Encyclopedia of Contemporary Russian Culture
(eds. Tatiana Smorodinskaya, Karen Evans-Romaine e Helena Goscilo),
Abingdon, 2007.
6
«O comportamento do agente dos serviços secretos não deve levantar
suspeitas»: Leonid Shebarshin, «Inside the KGB’s Intelligence School», 24 de
março de 2015, https://espionagehistoryarchive.com/2015/03/24/the-kgbs-
intelligence-school/.
8
«O sonho secreto e conhecido»: idem, ibidem.
9
«um inglês até à ponta dos dedos»: Mikhail Lyubimov, citado em Corera,
MI6.
10
«Não hesitei»: Philby, My Silent War.
2. O Tio Gormsson
As memórias de Mikhail Lyubimov’s estão contidas em Notes of a Ne’er-Do-
Well Rezident e Spies I Love and Hate; para as atividades de Vasili Gordievsky
na Checoslováquia, ver Andrew e Mitrokhin, Mitrokhin Archive.
3. SUNBEAM
O recrutamento de Gordievsky é descrito numa autobiografia não publicada de
Richard Bromhead, «Wilderness of Mirrors» («Gerontion», T. S. Eliot).
4. Tinta Verde e Microfilme
15
«Procurem pessoas que foram feridas»: Pavel Sudoplatov, citado em
Hollander, Political Will and Personal Belief. The Infernal Grove, Londres, 1973.
16
«Pela minha experiência, os agentes dos serviços secretos»: Malcolm
Muggeridge, Chronicles of Wasted Time, Parte 2: The Infernal Grove, Londres,
1973.
17
«um homem maravilhoso»: Borovik, Philby Files, p. 29.
Os casos Haavik e Treholt são descritos em Andrew e Mitrokhin, Mitrokhin
Archive. Para as atividades da rezidentura de Copenhaga, ver Lyubimov,
Notes of a Ne’er-Do-Well Rezident e Spies I Love and Hate.
5. Um Saco de Plástico e um Chocolate
Mars
19
«Até havia pessoas que eram recrutadas»: Cavendish, Inside
Intelligence.
20
«Medo à noite»: Robert Conquest, The Great Terror: A Reassessment,
Oxford, 1990.
22
«tão improvável como colocar»: Helms, A Look Over My Shoulder, citado
em Hoffman, Billion Dollar Spy.
23
«muito poucos agentes soviéticos»: Gates, From the Shadows, citado em
Hoffman, Billion Dollar Spy.
24
«informações fidedignas»: avaliação da CIA, 1953, citado em Hoffman,
Billion Dollar Spy.
26
«cinzenta, preta, branca e carregada»: citado no relatório da AFP, 28 de
junho de 1995.
27
«Dinheiro por informações»: ibidem.
28
«Ashenden admirava a bondade»: W. Somerset Maugham, Ashenden, or,
The British Agent, Leipzig, 1928.
6. O Agente BOOT
29
«um dos maiores líderes sindicais do mundo»: Gordon Brown, Guardian,
22 de abril de 2009.
31
«preparado para passar ao Partido»: citado em Andrew, Defence of the
Realm.
32
«documentos confidenciais do Partido Trabalhista»: ibidem.
33
«transmitido tudo aquilo a que conseguiu deitar a mão»: ibidem.
34
«Gostei bastante da atmosfera de capa e espada»: Richard Gott,
Guardian, 9 de dezembro de 1994.
35
«Como muitos outros jornalistas»: idem, ibidem.
Pormenores dos ficheiros BOOT estão contidos em entrevistas feitas a
Gordievsky, arquivadas no arquivo legal do The Sunday Times.
36
«O Lyubimov e Boot»: Mikhail Lyubimov, em Womack (ed.) Undercover
Lives.
38
«São tão fortes»: Michael Foot,
http://news.bbc.co.uk/onthisday/hi/dates/stories/november/10/newsid_4699000/
4699939.stm.
39
«Foot deu-lhes informações»: Charles Moore, entrevistas com Gordievsky,
Daily Telegraph, 5 de março de 2010.
40
«As ações dos russos»: Michael Foot, a discursar no comício de Hyde Park,
junho de 1968.
7. A Casa Segura
As principais fontes sobre a vida de Aldrich Ames são Earley, Confessions of a
Spy; Weiner, Johnston e Lewis, Betrayal; e Grimes e Verte-feuille, Circle of
Treason.
41
«Devido ao zelo excessivo»: Gates, From the Shadows.
42
«Não há nada que se assemelhe»: citado em Bearden e Risen, The Main
Enemy.
8. Operação RYAN
As principais fontes da Operação RYAN são Barrass, Great Cold War; Fischer,
«Cold War Conundrum»; Jones (ed.), Able Archer 83.
44
«O homem que substituiu»: Ion Mihai Pacepa, em National Review, 20 de
setembro de 2004.
45
«Esses planos não existiam»: Andrew, Defence of the Realm.
46
«O comando soviético acreditava verdadeiramente»: Howe, Conflict of
Loyalty. O relato de Maksim Parshikov está num livro de memórias não
publicado.
47
«Não sou espião»: The New York Times, 2 de abril de 1983.
9. Koba
Para o caso Bettaney, ver Andrew, Defence of the Realm, e relatos dos jornais
da época.
49
«Vestia-se como o gerente de um banco»: The Times, 29 de maio de
1998.
10. Mr. Collins e Mrs. Thatcher
Para as opiniões de Margaret Thatcher’s acerca de Gordievsky, ver Moore,
Margaret Thatcher.
52
«deixar o marxismo-leninismo na pilha de cinzas da história»: Ronald
Reagan para as Câmaras do Parlamento, 8 de junho de 1982.
53
«a alegria da mais profunda arrogância»: Henry E. Catto, Jr., vice-
secretário da Defesa, citado no Los Angeles Times, 11 de novembro de 1990.
Sobre ABLE ARCHER, ver Barrass, Great Cold War; Fischer, «Cold War
Conundrum»; e Jones (ed.), Able Archer 83.
55
«o momento mais perigoso»: Andrew, Defence of the Realm.
56
«Gordievsky deixou-nos convencidos»: Howe, Conflict of Loyalty.
57
«Não percebo como é que eles podem acreditar nisso»: citado em
Oberdorfer, From the Cold War to a New Era.
58
«Em três anos aprendi»: citado no Washington Post, 24 de outubro de
2015.
59
«A minha primeira reação»: Gates, From the Shadows.
60
«as informações de Gordievsky foram uma epifania»: ver Jones (ed.),
Able Archer 83.
61
«tratadas como as mais sagradas das coisas sagradas»: Corera, MI6.
62
«Por amor de Deus»: Moore, Margaret Thatcher.
63
«O que dizer?»: AP, 26 de fevereiro de 1985.
65
«O Guk teve sempre»: Andrew, Defence of the Realm.
66
«um homem forte como um urso»: Bearden e Risen, Main Enemy.
67
«A ideia de deixarem o país»: citado em Gareth Stedman Jones, Karl Marx:
Greatness and Illusion, Londres, 2016.
68
«Cresci numa família de funcionários do KGB»: entrevista de rádio com
Igor Pomerantsev, Radio Liberty, 7 de setembro de 2015.
69
«uma oportunidade única»: Moore, Margaret Thatcher.
70
«Há consciência no Kremlin?»:
https://www.margaretthatcher.org/document/105450.
71
«Sem dúvida, pareceu-me um homem»: Thatcher para Reagan, nota
cedida aos Arquivos Nacionais do Reino Unido, janeiro de 2014.
11. Roleta Russa
72
«As informações que chegaram [à CIA]»: ver Jones (ed.), Able Archer 83.
73
«O Burton Gerber estava determinado»: Bearden e Risen, Main Enemy.
74
«Um funcionário dos serviços secretos dinamarqueses»: ver Earley,
Confessions of a Spy.
Para a forma como o KGB lidou com Ames, ver Cherkashin, Spy Handler.
76
«todas as marcas»: Grimes e Vertefeuille, Circle of Treason.
Entrevista com Viktor Budanov, 13 de setembro de 2007,
http://www.pravdareport.com/history/13-09-2007/97107-intelligence-0/.
Para o caso DARIO, ver Andrew e Gordievsky (eds.), Instructions from the
Centre.
12. O Gato e o Rato
78
«Nunca confessar»: Philby, My Silent War.
79
«descanso e cura dos líderes»: The New York Times, 8 de fevereiro de
1993
Para o estado de espírito de OG, ver Lyubimov, Notes of a Ne’er-Do-Well
Rezident e Spies I Love and Hate.
13. A Limpeza a Seco
80
«Tê-lo-ia deixado escapar»: entrevista de rádio com Igor Pomerantsev,
Radio Liberty, 7 de setembro de 2015.
81
«Quando as desgraças surgem»: Hamlet, Ato IV, Cena V.
82
«A arte de se curvar ao Leste»: Kari Suomalainen, https://www.visa-
vuori.com/fi/taiteilijat/kari-suomalainen
83
«o homem sempre achou mais fácil»: W. Somerset Maugham, «Mr
Harrington’s Washing», em Ashenden, or, The British Agent, Leipzig, 1928.
84
«uma entediante perda de tempo»: Daily Express, 14 de junho de 2015.
14. Sexta-Feira, 19 de Julho
85
«Aqui, na pátria»: discurso de Gorbachev no Décimo Segundo Festival
Mundial da Juventude, 27 de julho de 1985:
https://rus.ozodi.org/amp/24756366.html.
15. Finlandia
Para mais informações sobre batatas fritas de queijo e cebola, ver Karen
Hochman, «A History of the Potato Chip», http://www.thenibble.com/reviews/
main/snacks/chip-history.asp.
South Ormsby Hall está aberto ao público, http://southormsbyestate.co.uk.
Sobre Yurchenko, ver «The spy who returned from the cold», Time Magazine,18
de abril de 2005.
88
«Controlo todos os aspetos»: The New York Times, 7 de maio de 1987.
89
«As informações do Gordievsky»: ver Jones (ed.), Able Archer 83.
16. Passaporte para PIMLICO
Para a correspondência entre Thatcher e Gordievsky, ver National Archives,
http://www.nationalarchives.gov.uk/about/news/newly-released-files-1985-
1986/prime-ministers-office-files-prem-1985/.
Para as repercussões diplomáticas, ver entrevista com Sir Bryan Cartledge,
Churchill Archive Centre,
https://www.chu.cam.ac.uk/media/uploads/files/Cartledge.pdf.
90
«O Gordievsky estava quase a confessar»: Primakov, Russian
Crossroads.
91
«A nível técnico não é nada complicado»: The Times, 10 de março de
2018.
92
«A vida continuou»: entrevista de rádio com Igor Pomerantsev, Radio
Liberty, 7 de setembro de 2015.
93
«A espionagem tornou-se muito mais difícil»: Los Angeles Times, 30 de
Agosto de 1991.
Sobre Vadim Bakatin desmantelar o KGB, ver J. Michael Waller, «Russia: Death
and Resurrection of the KGB», Demokratizatsiya, vol. 12, n.º 3 (verão de
2004).
Ted Koppel entrevista com Ames, http://abcnews.go.com/US/video/feb-11-
1997-aldrich-ames-interview-21372948.
A denúncia de Sergei Ivanov por Gordievsky, The Times, 20 de outubro de
2015.
95
«Se tivéssemos de matar alguém»: Andrei Lugovoi no Sunday Times, 11
de março de 2018.
Créditos das Ilustrações
1. Uma «família KGB»: Anton e Olga Gordievsky, com os
seus dois filhos mais novos. Coleção privada.
2. Os irmãos Gordievsky: Vasili, Marina e Oleg. Coleção
privada.
3. Equipa de atletismo do Instituto de Relações
Internacionais de Moscovo. Coleção privada.
4. O corredor de longa distância a treinar junto às águas
do mar Negro. Coleção privada.
5. Oleg Gordievsky nos seus tempos de estudante.
Coleção privada.
6. Anton Gordievsky com o uniforme do KGB que
habitualmente usava. Coleção privada.
7. Vasili Gordievsky, um muito bem-sucedido «ilegal» do
KGB. Coleção privada.
8. Lubyanka: a sede do KGB, conhecido como «O
Centro». Avalon.
9. Oleg Gordievsky em uniforme do KGB: um oficial
ambicioso, leal e altamente treinado. Coleção privada.
10. A construção do Muro de Berlim, em agosto de 1961.
World History Archive/Alamy stock photo.
11. A Primavera de Praga, 1968. Um manifestante
solitário desafia um tanque soviético. akg-images/Ladislav
Bielik.
12. Fotografias de vigilância secreta tiradas a Gordievsky
pelos serviços secretos dinamarqueses. Coleção privada.
13. Jogo de badminton a pares com um parceiro não
identificado, em Copenhaga. Coleção privada.
14. Na costa do Báltico com Mikhail Lyubimov. Coleção
privada.
15. Em viagem pela Dinamarca com Lyubimov, a sua
mulher, Tamara, e a primeira mulher de Gordievsky,
Yelena. Coleção privada.
16. Arne Treholt com o seu controlador do KGB, Gennadi
Titov. Ritzau Scanpix/Topfoto.
17. Stig Bergling. Bettmann Archive/GettyImages.
18. Gunvor Galtung Haavik logo depois da sua prisão em
1977. Ritzau Scanpix/Topfoto.
19. Aldrich Ames pela altura em que se juntou à CIA.
Time Life Pictures/FBI/The Life Picture
Collection/GettyImages;
20. Uma mensagem manuscrita de Ames para os seus
controladores no KGB. Jeffrey Markowitz/Sygma/
GettyImages;
21. Ames com a sua segunda mulher, Maria de Rosario
Casas Dupuy.
22. Sergey Chuvakhin, o especialista soviético em
controlo de armamento. Jeffrey
Markowitz/Sygma/GettyImages;
23. O coronel Viktor Cherkashin. Tass/Topfoto.
24. Vladimir Kryuchkov. Coleção privada.
25. Yuri Andropov. Tass/Topfoto.
26. O coronel Viktor Budanov da Divisão K, o sector da
contraespionagem.
27. Nikolai Gribin, o chefe direto de Gordievsky. Coleção
privada.
28. Viktor Grushko. east2west
29. O «local do sinal».
30. Leila Aliyeva, a segundo mulher de Gordievsky.
Coleção privada.
31. Leila e as duas filhas, pouco depois de chegarem a
Londres em 1982. Coleção privada.
32. A embaixada soviética no número 13 de Kensington
Palace Gardens. The Times.
33. As filhas de Gordievsky, Maria e Anna. Coleção
privada.
34. Michael Bettaney. Topfoto
35. Eliza Manningham-Buller. Tom Stoddart
archive/Hulton archive/GettyImages
36. O general Arkadi Guk, o rezident do KGB, com a
mulher e o guarda-costas. PA Images
37. A casa de Guk, Holland Park 42. PA Images
38. A Century House, sede do MI6 em Londres até 1994.
PA Images.
39. Michael Foot. popperfoto/gettyImages.
40. Jack Jones. PA Images.
41. Oleg Gordievsky com Ron Brown e Jan Sarkocy.
Stewart Ferguson/Forth Press.
42. O abate do voo 007 da KAL, em setembro de 1983,
por um avião de combate soviético, provocou protestos
generalizados. Allan Tannenbaum/Archive
Photos/GettyImages.
43. Margaret Thatcher assiste ao funeral do líder
soviético Yuri Andropov em Moscovo. PA Images/ Tass.
44. O futuro líder soviético Mikhail Gorbachev encontra-
se com Thatcher em Chequers, em dezembro de 1984.
Peter Jordan/The Life Images Collection/GettyImages.
45. Mikhail Lyubimov. East2West.
46. O secretário do Governo, Sir Robert Armstrong,
responsável pela supervisão dos serviços secretos. The
Times.
47. O local do sinal na Kutuzovsky Prospekt. Coleção
privada.
48. A Catedral de São Basílio, na Praça Vermelha. PA
Images/Tass.
49. Um saco do supermercado Safeway, o sinal para
exfiltração lançado por Gordievsky. News Group
Newspapers Ltd.
50. Para indicar que o sinal tinha sido recebido, um
agente do MI6 teria de passar por Gordievsky, estabelecer
um breve contacto visual, e comer um chocolate Mars.
Robert Opie archive.
51. O ponto de encontro a sul de Vyborg.
52. Um dos carros usados na fuga, conduzido pelo
agente do MI6, visconde Roy Ascot. Coleção privada.
53. O caminho para a liberdade: foto de reconhecimento
tirada na rota de fuga, a caminho do norte. Coleção
privada.
54. A equipa de exfiltração do MI6 posa para uma
fotografia a caminho da Noruega. Coleção privada.
55. Uma das três barreiras militares na fronteira de
Vyborg. Sputnik/Topfoto.
56. Vista através do vidro do carro de um dos agentes do
MI6 expulsos da Rússia, na sequência da Operação
PIMLICO. Coleção privada.
57. A detenção de Aldrich Ames em fevereiro de 1994.
CTSY. John Hallisey/FBI/The Life Picture
Collection/GettyImages.
58. Fotografias de cadastro de Rosario e Rick Ames.
Jeffrey Markowitz/Sygma/GettyImages.
59. Gordiesvky recebe a família, depois de seis anos de
separação forçada. Coleção privada.
60. Os Gordievsky, juntos de novo, posam para uma
fotografia em Londres. Neville
Marriner/ANL/Rex/Shutterstock.
61. Gordievsky com Ronald Reagan na Sala Oval, em
1987. Cortesia da Ronald Reagan Library.
62. Nas condecorações do aniversário da rainha, em
2007, Gordievsky foi nomeado companheiro da distinta
Ordem de São Miguel e São Jorge. PA Images.
63. O diretor da CIA, Bill Casey. Diana Walker/The Life
Images Collection/GettyImages.
64. O espião retirado. llpo musto/rex/shutterstock.
Todos os esforços razoáveis foram feitos para encontrar
os copyrights das imagens, mas qualquer informação
adicional sobre propriedade não atribuída será bem-vinda
e incluída em possíveis reedições.
Extratexto
1 Em cima: uma «família KGB»: Anton e Olga Gordievsky, com os seus
dois filhos mais novos, Marina e Oleg (com cerca de 10 anos).