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CAPA

1
CARTA DE APRESENTAÇÃO

Meu nome é Dani Nedal, sou estudante de Relações


Internacionais da PUC-Rio e terei a honra de lhes acompanhar
nos 4 dias de reuniões e nas semanas de preparação. Espero
que esta seja uma experiência proveitosa, que lhes acrescente
em termos acadêmicos, mas que não se limite a isto. Estudem,
mas divirtam-se. Sejam sérios, mas não se levem a sério
demais. Nos veremos em breve. Bem vindos à Crise de Berlim.

2
ÍNDICE

3
“O que acontece a Berlim acontece à
Alemanha. O que acontece à Alemanha
acontece ao mundo”
(Vyacheslav Mikhailovich Molotov)

“Times of change are also times of


confusion. Words lose their familiar
meaning, and our footing becomes unsure on
what was previously familiar terrain”
(John Gerard Ruggie)

“Se vis pacem, para bellum”


(Se desejas a paz, prepare-te para a guerra)
(Aforismo latino de Tucídides)

“…East Germany, (…) is more than a showcase


of liberty, a symbol, an island of freedom
in a communist sea. It is even more than a
link with the free world, a beacon of hope
behind the Iron Curtain, an escape hatch
for refugees. West Berlin is all of
that(…)”
(John Fitzgerald Kennedy)

“Para ser direto, o pé americano na Europa


tinha uma bolha inflamada. Esta era Berlim
Ocidental. Sempre que quiséssemos pisar no
pé dos americanos e fazê-los sentir dor,
tudo o que tínhamos que fazer era obstruir
comunicações ocidentais com a cidade
através do território da RDA”
(Nikita Sergeyevitch Khrushchev)

“The Berlin problem, just like the German


problem, is in the last analysis a human
one”
(Konrad Adenauer)

4
1)Introdução

Treze anos se passaram desde o final da Segunda Guerra


Mundial. A espessa poeira dos tempos de conflito parece enfim
ter baixado, mas as conseqüências estão cada vez mais
evidentes e pungentes, como feridas a cicatrizar, incomodando
por não se saber se um dia vão curar. A década de 50, para
grande parte do mundo, tem sido um período de recuperação,
transição e amadurecimento, em que o otimismo e a
desconfiança caminham lado a lado.
Há substanciais avanços em diversas áreas do
conhecimento, os meios de comunicação e de transporte estão a
se popularizar e a se modernizar, novas manifestações
comportamentais esboçam uma ameaça aos valores tradicionais e
a própria identidade cultural de cada país parece não mais se
limitar a velhos conceitos. Economias mundo afora recuperam-
se a passos acelerados e a política e a diplomacia mais do
que nunca tornam-se ferramentas fundamentais para as nações –
o anticolonialismo cresce, o comunismo avança e a Guerra Fria
vai passando de um esboço teórico do pós-guerra para algo tão
concreto quanto assustador.
Nesse cenário complexo, eventos tão díspares quanto
interconectados moldam os caminhos da nova ordem. A seguir,
um resumo da situação mundial, dividido por região, expondo
os rumos da década até agora.

1.1) China

Sob o comando de Mao Tsé-Tung desde 1949, a República


Popular da China se vê em um período de aceleradas
transformações, baseadas em um conjunto de medidas que visam
ao crescimento econômico e ao aumento do ritmo de

5
desenvolvimento. De acordo com a ótica do Partido Comunista
Chinês, o Primeiro Plano Qüinqüenal (1953-57) chegou ao seu
fim como um grande sucesso, com efetivos passos rumo à
centralização e à planificação, apesar de alguns reveses
considerados menores.
Entretanto, considerou-se necessária uma alteração ainda
mais profunda no modelo econômico, a fim de se extrapolar os
resultados até então obtidos. Pôs-se em prática, pois, um
Segundo Plano Qüinqüenal, baseado em uma maior difusão do
ideário socialista e uma melhor utilização dos recursos
naturais na agricultura e na indústria em favor do progresso.
Entre as muitas medidas adotadas pelo recém-lançado
plano, também chamadas de “O Grande Salto para Frente”, a
influência soviética é altamente perceptível especialmente no
campo. As técnicas compulsórias de plantação - os latifúndios
monocultores, as cotas de colheita pré-estabelecidas e os
métodos agrícolas - remetem quase que exatamente às medidas
adotadas por Stalin no início de seu processo de
coletivização da URSS. Por todo território, enormes
comunidades agrícolas concentram milhares de trabalhadores
para a execução de trabalhos forçados, alcançando cifras
médias de 22 mil pessoas por fazenda.
Na educação, o marxismo virou a base obrigatória do
pensamento geral e da formação intelectual dos cidadãos, um
elemento vital para o processo de construção do socialismo
chinês. Manifestações contra o regime são consideradas
traições intoleráveis e ofensivas ao engrandecimento da nação
e sistematicamente reprimidas. As artes, principalmente a
literatura e a pintura sucumbem à manipulação governamental e
se tornam instrumentos de expansão ideológica. Livros e
outros tipos de materiais culturais vindos do Ocidente

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passaram gradualmente a ser proibidos e hoje são abertamente
condenados pelo PCC.
A visão romântica do “comunismo à chinesa”, tão própria
da propaganda oficial, porém, distancia-se drasticamente da
realidade. A fome se espalha e torna-se endêmica; o valor dos
grãos cultivados inicia um franco declínio e o poder de
compra geral diminui; a repressão e a obrigatoriedade do
trabalho atormentam e estafam as populações na cidade e no
campo – o sentimento de insatisfação atinge a todos, mas não
há muito a se fazer diante de um governo controlador.
Externamente, a China de Mao propaga um discurso
pacifista, apesar do envolvimento íntimo na Guerra da Coréia,
e mantém laços estreitos com os países da Cortina de Ferro,
unidos no combate ao genericamente chamado “imperialismo
ocidental”. Isso se reflete nos discursos dos representantes
do Partido Comunista Chinês perante o Comitê Político
Consultivo do Pacto de Varsóvia, em que por vezes são
exaltadas as glórias soviéticas. Contudo, atualmente a
relação entre o país e a URSS parece não ser mais tão afinada
como no período anterior à morte de Stalin, ainda que as
lideranças oficiais façam questão de deixar claro que tudo
não passa, no fundo, de ruídos na comunicação.
Para adicionar às incertezas, a China participou
ativamente da Conferência de Bandung na figura de Zhou En-
Lai, dando força ao movimento dos não-alinhados.

1.2) Estados Unidos da América

Sem dúvida, foram os norte-americanos os que mais rápido


se reestruturaram desde o pós-guerra. Os sinais de
recuperação estão por toda parte, não só na economia
crescente ou na política sólida, mas também em áreas como o

7
esporte, com o novo florescimento olímpico; a ciência, com
desenvolvimentos tecnológicos expressivos derivados em grande
parte da corrida armamentista; e as artes.
Com a volta dos combatentes para casa, jovens buscaram
recomeçar suas vidas formando famílias e arranjando novos
empregos, obtendo renda e demandando por variedade de
produtos nas prateleiras dos mercados. A engrenagem
industrial se acelerou e a sociedade de consumo voltou a se
estabelecer, ainda mais eufórica que nos tempos pré-
Depressão. A superioridade e a pujança norte-americanas
tornaram-se paradigmáticas para o mundo capitalista e o
American way of life é atualmente propagado, direta ou
indiretamente, em praticamente tudo que é exportado pelo
país.
Os filmes de Hollywood, aliás, cumprem muito bem esse
papel, vivendo-se a chamada Era de Ouro do cinema. Produções
como Sunset Boulevard e Um Corpo Que Cai alcançaram sucesso
estrondoso em seus lançamentos, dentro e fora do país, e
gêneros como o western e o thriller vão se tornando
preferidos do grande público. Na música, por seu turno, um
novo estilo tem provocado alvoroço nos lares conservadores: o
subversivo rock’n’roll vem mexendo com a cabeça e a cintura
dos adolescentes. Aqueles que a ele fazem vista grossa
preferem, no entanto, se manter fiéis aos standards do bebop
e do jazz.
Contudo, nesse meio cultural nem tudo é bonança. O mundo
do cinema se chocou com a publicação de uma lista negra com
centenas de nomes de artistas que, supostamente, seriam
“vermelhos”, entre eles Charles Chaplin e Orson Welles. Houve
no país um clima geral de desconfiança, calcado no medo de
uma penetração intensa dos ideais comunistas entre os
cidadãos. A explosão da primeira bomba atômica soviética

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levantou suspeitas de espionagem militar em território norte-
americano e alarmou as autoridades.
Difundiu-se então a idéia, calorosamente abraçada pelo
senador Joseph McCarthy, de que havia uma enormidade de
comunistas nos quadros do funcionalismo público. A isto se
seguiu uma onda de perseguições e delações que atingiram
todos os setores da sociedade, chegando até mesmo às Forças
Armadas. Atualmente, a “caça as bruxas” vem perdendo força e
a imagem dos defensores do “macartismo” tem sido
constantemente manchada devido aos métodos de condução das
investigações e dos flagrantes desrespeitos aos direitos
individuais dos perseguidos.
Ainda no clima de Guerra Fria, os Estados Unidos se
empenham em não perder terreno para os soviéticos em
quaisquer arenas. Atletas olímpicos e artistas carregam em
suas costas o peso de representar a ideologia capitalista
aonde quer que vão, em geral em visitas a países considerados
não totalmente convertidos à causa, como as nações latino-
americanas.
Paralelamente, há cerca de um ano, o mundo assistiu
boquiaberto ao lançamento do Sputnik. O governo norte-
americano, como resposta, tratou de organizar sua primeira
missão, a Explorer. Para isso, criou há poucos meses a
National Aeronautics and Space Administration (NASA) e há
planos para novas incursões espaciais.

1.3) Europa Ocidental

Berço das ideologias e das guerras que mudaram o século


XX, o Velho Continente não poderia deixar de sofrer, mais uma
vez, grandes transformações. Os anos de pós-guerra foram
especialmente difíceis, nas mais diversas acepções, mas a

9
década de 50 agora vê o renascimento econômico e político da
região, sob forte influência norte-americana.
A capacidade industrial e os mercados consumidores
europeus vivem franca expansão e a economia torna-se cada vez
mais um pilar central no curioso processo de aproximação
entre as nações, como se buscasse esquecer o passado
pensando-se no futuro. É justamente visando à prosperidade
comum e ao soerguimento individual que surgiram o Benelux, a
Organização Européia de Cooperação Econômica (OECE) e a
Comunidade Européia do Carvão e do Aço (CECA), a qual, em
1957, com o Tratado de Roma, evoluiu para Comunidade
Econômica Européia (CEE), tendo como sub-fruto a EURATOM, a
agência responsável por cuidar do campo das pesquisas
nucleares. Em tempo, no final de 1952, a Inglaterra testou
com sucesso sua primeira bomba atômica, repetindo o feito
posteriormente em 1957, entrando, pois, para o seleto grupo
das potências nucleares.
A vitória do pensamento keynesiano1 e a dificuldade de
se dissipar a planificação econômica dos tempos de guerra
deram margem, nos foros conservadores e “liberais”, a uma
aproximação com os partidos trabalhistas, uniões sindicais e
a social democracia em geral. Alimentada pelo medo de uma
ascensão do socialismo, que ainda encantava as esquerdas
européias, essa aliança ofereceu as bases para o
fortalecimento do fenômeno do Estado de Bem-Estar Social,
atendendo às demandas de uma população em crescimento e
evolução.
A Europa também assiste à chegada de uma nova onda
cultural, essencialmente alimentada por elementos

1
Corrente fundamentada no pensamento do economista britânico John Maynard Keynes.
Este inspiraria, com sua obra “The General Theory of Employment, Interest, and
Money” um movimento generalizado de intervenção na economia através de políticas
monetárias, fiscais e sociais como aquelas que caracterizaram o New Deal de FDR.

10
estrangeiros: o bebop, o jazz e o rock'n'roll americanos
invadiram as rádios e aos poucos vão se incorporando às modas
locais, transmitindo seus costumes, indumentárias e
comportamentos próprios. No cinema, despontam Frederico
Fellini, o neo-realismo italiano em pessoa, e o jovem Ingmar
Bergman; da França, vem uma Nouvelle Vague que parece querer
inundar o mundo cinematográfico com técnicas e abordagens
absolutamente inovadoras. A literatura, por sua vez, está a
encontrar caminhos ao mesmo tempo fantásticos e reflexivos
nas obras do inglês William Golding, autor de Lord of the
Flies, e de seu compatriota J.R.R. Tolkien. As temáticas
dominantes falam de mortalidade e guerra, elementos ainda
reminiscentes na vida das pessoas, e de expectativas de um
futuro brilhante, reflexo do sucesso da ciência, das novas
tecnologias e dos milagres econômicos.
Entretanto, esses parecem ser os últimos suspiros de uma
vanguarda agonizante. No pós-Segunda Guerra, os grandes
centros da Europa vêem seu lugar de destaque no mundo se
perder e passam, mais do que nunca, a importar conceitos e
tendências e a se retraírem perante seu papel na ordem
internacional. A Crise do Canal de Suez, a Guerra da Coréia e
o fim do regime administrativo quadripartite alemão, entre
outros eventos, são bons exemplos dos efeitos dos novos
tempos para Inglaterra e França.
Nesse mar de crescimento e aparente quietude, contudo, a
tormenta se afigura vindo justamente do Leste: Berlim, desde
os Bloqueios de 1948, passou a despontar como o grande
problema da região, um preocupante centro de instabilidades,
senão práticas, ao menos diplomáticas. Nesse sentido, a
criação da OTAN e os diversos acordos militares, bem como a
incorporação da Alemanha Ocidental ao bloco, agem como meios
de intimidação e defesa contra qualquer gesto soviético que

11
pareça fora de tom - todavia, os últimos acontecimentos
parecem negar a garantia de qualquer posição segura.

1.4) URSS e Leste Europeu

Se há uma região que sofreu muitas mudanças no pós-


guerra, certamente foi o Leste Europeu2. Após diversos
tratados, conquistas territoriais e vitórias políticas, as
antigas fronteiras, violadas pela guerra, adquiriram
contornos significantemente novos e serviram para marcar a
expansão do socialismo.
Os regimes locais, ditatoriais, monárquicos ou semi-
democráticos, foram substituídos por governos alinhados
ideologicamente a Moscou. Os novos Estados receberam pesados
investimentos para a sua reconstrução econômica e militar. A
Guerra Fria passou, então, a fazer parte do dia-a-dia
daqueles que tinham a União Soviética como parceira ou
vizinha.
Os anos 50 têm marcado o estreitamento de relações entre
esses diversos países, aprofundando os laços para além da
simples identificação ideológica. A estratégia soviética
parece bem clara: fortalecer as suas áreas de influência
formando blocos organizados militar e economicamente. Porém,
tal movimento não é puramente por precaução – é, na verdade,
uma resposta às ações do Ocidente, mais especificamente, à
concretização da divisão da Alemanha em duas novas repúblicas
e à inclusão de uma delas, a RFA, na OTAN. Berlim, mais do
que nunca, tornou-se o centro de controvérsias da Europa e a
segurança nacional da União Soviética anda em xeque.

2
Denominação aqui empregada de maneira abrangente, englobando todos os países
europeus atrás da Cortina de Ferro.

12
Desde o tempo da ocupação quadripartite 3, em que se deu
o Bloqueio de Berlim, ambos os lados lutaram por soluções que
pusessem fim aos contratempos relativos à cidade,
reivindicando inclusive, à certa altura, a reunificação e a
neutralidade como únicos meios para evitar tragédias.
Entretanto, as divergências quanto às propostas e meios, a
morte do líder soviético, Stalin, em 1953, e os recentes
desenvolvimentos na política internacional arruinaram os
esforços nesse sentido.
A vitória de Khrushchev no turbulento processo de
sucessão da liderança soviética trouxe novos ares ao
Kremlin4, marcando o início de uma nova era. Convencido do
poderio militar em suas mãos, inclusive nuclear, com a
recente detonação da bomba de hidrogênio, ele se sentiu
seguro para pôr em prática uma espécie de leve abertura após
anos de repressão e centralismo, que ficou conhecida como
“degelo”.
Internamente, recursos antes empenhados na indústria
bélica foram desviados para a agricultura e produção de bens
de consumo e a censura oficial foi reduzida. Empreende-se,
ainda, um forte combate ao “culto à personalidade” de Stalin,
denunciando-se os excessos de sua administração e desmontando
a figura cuidadosamente criada ao longo de décadas.
É um período de alívio para muitos, especialmente nas
artes, nas quais se vê o declínio do Realismo socialista, com
sua exaltação da grandiosidade do Estado e de seus ícones.
Por sua vez, observa-se o surgimento de novas expressões,
associadas principalmente ao renascimento do cinema e da

3
Referente à divisão da Alemanha, no Pós II Guerra Mundial, em quatro áreas
ocupadas pelos Estados Unidos, França, Reino Unido e União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas.
4
Sede do Partido Comunista da União Soviética. Nomenclatura usada para se
referir à cúpula mais alta do processo decisório da URSS.

13
literatura, com uma maior preocupação por temas que tratem do
cotidiano e da intimidade dos indivíduos.
Nos países satélites à URSS, tais mudanças também têm
provocado efeitos. Forçado ao estilo soviético durante os
anos de stalinismo, o Leste Europeu se viu mergulhado em um
obscuro cenário de repressão e domínio autoritário. Com a
chegada dos tempos de flexibilização, protestos contra o
governo de Moscou começaram a estourar e vozes modernizadoras
tornaram-se uma constante dor de cabeça para os partidos
comunistas locais. Em 1956, a revolta de Poznań, na Polônia,
e a Revolução Húngara chocaram o mundo tanto por suas idéias
reformadoras e ousadas quanto por suas sangrentas repressões.
Os tempos pareciam estar mudando, mas nem tanto.
Se há focos de dissidência por um lado, por outro o
esforço para manter a coesão é enorme. Formado em 1955, o
Pacto de Varsóvia foi uma resposta à incorporação da Alemanha
Ocidental à recém-criada OTAN e sua função não tem se
limitado somente à defesa comum perante um inimigo externo,
mas também à contenção de revoltas internas e à manutenção
institucional do regime comunista no Leste Europeu.
Para isso, Khrushchev também não tem aberto mão de uma
reaproximação com os países capitalistas ou não-alinhados –
exemplos disso são a desocupação da Áustria, o reatamento de
relações com a Iugoslávia e a participação na Conferência de
Genebra de 1955. Porém, há uma área em que as rivalidades só
crescem: o lançamento do Sputnik, em 1957, desencadeou uma
inusitada corrida aeroespacial e acirrou as tensões entre as
duas superpotências.
Atualmente, o cenário é de desconfiança geral. O
abrandamento nas relações diplomáticas parece ter dado bons
resultados, mas nada que tenha ido muito além de apertos de
mão e cláusulas superficiais.

14
A realidade mostra uma escalada de tensões envolvendo
Berlim: a fuga de trabalhadores para a Alemanha Ocidental e o
medo de uma nuclearização da mesma são elementos explosivos
em uma região já conturbada. Cada vez mais, a posição do
Kremlin torna-se crucial para a definição do futuro.

2)OTAN e Pacto de Varsóvia

A OTAN e o Pacto de Varsóvia não podem ser entendidos


apenas como alianças tradicionais. Sem dúvida, vão muito além
disso, uma vez que têm por objetivo declarado a construção de
vínculos políticos e a promoção do desenvolvimento econômico
de seus membros, bem como tem em comum a característica de
serem constituídos, como organizações, por um regimento
interno e de terem, em maior ou menor medida, burocracias
próprias.
Pois, por alianças tradicionais entende-se o mecanismo
que une países militarmente e que têm um inimigo comum
claramente definido. Por outro lado, as alianças não são
sempre precisas quanto aos objetivos imediatos e meios a
serem empregados no combate (quando em tempos de guerra) ou
na oposição (quando em tempos de paz) ao seu adversário.
Nesse contexto, analisar a OTAN e o Pacto como alianças
em direta oposição nos ajuda a entender, e prever na medida
do possível, o comportamento de seus membros quando
estivermos tratando de questões de segurança e de crises
políticas.
Da mesma maneira, compreender o funcionamento do sistema
de segurança coletiva amplia o entendimento sobre o
funcionamento da OTAN e do Pacto de Varsóvia.
Arranjos de segurança coletiva são baseados em duas
idéias: (1) agressões a quaisquer Estados devem ser

15
compreendidas como ameaças à paz e à segurança internacional
como um todo; (2) a dissuasão e supressão da agressão de um
Estado contra outro devem ser feitas pela agregação de
recursos de poder que se contraponham ao agressor.
É nesta primeira idéia que o arranjo de segurança
coletiva difere da aliança militar. Enquanto as alianças
militares se dirigem a um inimigo estabelecido – e obviamente
excluído da aliança mencionada - o sistema de segurança
coletiva não discrimina um agressor específico e o identifica
por sua condição de agressor. Desta forma, as alianças são
temporárias e relativas a uma ameaça específica. Por sua vez,
arranjos de segurança se pretendem duradouros.
Veremos que no caso da OTAN e do Pacto isso funcionará
de um modo mais específico, no sentido de que ambos têm por
base a noção de segurança coletiva – ou autodefesa coletiva -
regional, delimitando uma área geográfica de atuação.

2.1) OTAN

 Histórico da OTAN

A Segunda Guerra Mundial trouxe devastação às


tradicionais potências européias e confirmou a ascensão das
potências que emergiam às margens do continente em ritmo
acelerado desde meados do século XIX.
O declínio relativo da Europa frente a estas novas
superpotências, e especialmente frente à presença massiva de
tropas e da influência soviéticas em solo europeu, colocaram
em xeque a sustentabilidade de um continente repartido em
soberanismos em constante competição, tal como a viabilidade
do isolacionismo norte-americano em relação aos assuntos
europeus.

16
Visando conter a desintegração da Europa e o subseqüente
avanço socialista, as tropas norte-americanas retrocederam
cautelosa e gradativamente após o fim das hostilidades,
mantendo, entretanto, diversas unidades em determinadas
locações. Assim nascia o comprometimento norte-americano com
a segurança a longo prazo da Europa Ocidental.
A partir de então, a promoção da estabilidade no
continente europeu se daria, grosso modo, em duas vertentes 5:
(1) Econômica, que seria diluída entre as várias iniciativas
de auxílio direto (ex. Plano Marshall), as instituições do
sistema de Bretton Woods6 e os acordos de livre comércio e
cooperação econômica que se proliferam entre os países da
Europa Ocidental; e (2) Político-militar, da qual a OTAN
seria emblema máximo7 do bloco capitalista.
Fundada em 4 de abril de 1949, por meio do Tratado do
Atlântico Norte8, a Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN) era composta, inicialmente, por doze países: Bélgica,
Canadá, Dinamarca, Estados Unidos da América, França,
Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Países Baixos,
Portugal e Reino Unido. Em 1952, Grécia e Turquia acederam à
OTAN, substituindo as garantias britânicas pelas americanas9,
seguidos pela República Federal Alemã, em 1955.
A acessão da Alemanha Ocidental à OTAN incitou reações
negativas por parte de países de ambos os lados da Cortina de

5
Estas são intimamente conectadas. A complementaridade entre ambas pode ser
identificada na Carta da OTAN, onde fica determinado que: “As Partes esforçar-
se-ão por eliminar qualquer oposição entre as suas políticas econômicas
internacionais e encorajarão a colaboração econômica entre cada uma delas ou
entre todas” (Tratado do Atlântico Norte, Art. 2).
6
Instituições internacionais criadas a partir da Conferência de Bretton Woods
(1944). Aqui, nos referimos, especialmente, ao Banco Mundial e Fundo Monetário
Internacional
7
As iniciativas européias na área de segurança tais como a União da Europa
Ocidental (WEU, na sigla em inglês), devem ser entendidas não como organizações
autônomas, mas como pilares europeus de um arranjo de cooperação
transatlântico. Ver Souza e Fernandes 2002.
8
Também conhecido como Tratado de Washington.
9
Cf. Kennedy, 1989.

17
Ferro. Os soviéticos e seus aliados a viam como um atentado à
sua segurança e à ordem estabelecida no pós-guerra. Os
franceses temiam, como de costume, o rearmamento alemão, que
já havia recomeçado desde o final dos anos 40 mas agora
parecia se consolidar e transgredir um espaço de liderança
até então francesa. A URSS havia se candidatado ainda em 1954
à acessão e teve seu pedido prontamente recusado por EUA e
Reino Unido.
A OTAN tem por objetivo, em sua concepção, transcender a
fragilidade das alianças tradicionais10. Neste sentido, a
Carta da OTAN, em conformidade com os princípios acordados na
Carta da ONU - especialmente nos seus artigos 51 e 53 -,
estabelece um arranjo de segurança coletiva regional, que
pode ser acionado em caso de um ataque a qualquer um de seus
membros.
Este arranjo de forças tem por intenção dissuadir
potenciais agressores, salvaguardando assim a “integridade
territorial, a autonomia política e a segurança”11 dos
Estados-membros.

 A estrutura do Tratado do Atlântico Norte

Todos os países membros da OTAN são representados nos


comitês e grupos de trabalho dessa organização. As decisões
são tomadas mediante consulta e aprovadas por consenso,
respeitando a autonomia de todas as partes. Assim, assegura-
se a unidade de defesa contra ataques externos e a
predisposição dos seus membros a cumprir as resoluções da
OTAN.

10
Ver Morgenthau, 1973 e Von Brentano, 1961.
11
Tratado do Atlântico Norte, Art. 4

18
O Conselho do Atlântico Norte (CAN) é o órgão
deliberativo supremo dessa instituição, pois é responsável
pela implementação do Tratado do Atlântico Norte. Seus
princípios mais importantes são:

 Defesa da segurança dos países membros;


 Manutenção da paz mundial e da segurança coletiva.

Cada país tem um representante nesse conselho, seu


embaixador permanente. Porém, dependendo do tema em debate e
de sua importância, são realizadas reuniões com a presença
dos ministros das relações exteriores, da defesa e Chefes de
Estado ou de Governo.
Por sua vez, Reuniões Ministeriais são convocadas em
caráter ad hoc12, quando consideradas necessárias em virtude
de situações especiais e tópicos de grande interesse e
prestígio para a organização e seus membros. Quando
necessário, podem ser convocados Chefes do Estado Maior para
as reuniões.
O CAN também tem poderes de criar órgãos que possam
facilitar a efetivação das políticas e ações da OTAN. Além
disso, é o único órgão que pode representar publicamente a
OTAN. Suas reuniões são realizadas semanalmente na sede,
localizada em Paris, França. As reuniões são presididas pelo
secretário-geral13 da OTAN, atualmente o belga Paul-Henri
Charles Spaak. Esse conselho também é responsável por debater
as principais políticas da organização e levar adiante ações
recomendadas por órgãos subordinados.
12
Expressão latina que significa “para isto”. Se refere a algo que existe para um
fim específico, especialmente para atender a determinado fato ou ocasião. Uma
reunião ad hoc é aquela convocada em caráter especial para tratar de tema
definido, independentemente da estrutura habitual em que normalmente ela se
organiza.
13
O Secretário-Geral da OTAN é responsável por presidir as sessões do CAN e do
Comitê de Defesa e promover a unidade, a coesão e a cooperação entre os países
membros.

19
Por sua vez, o Comitê de Defesa realiza estudos e cria
estratégias na área mais importante da OTAN, a segurança.
Para isso, age pela unificação dos sistemas de defesa
nacional e pela ajuda mútua entre as partes. Ele deve
realizar pesquisas e ações militares, de acordo com as
diretrizes formuladas pelo CAN. Os representantes nesse
comitê são os ministros da defesa dos países membros.
O Comitê Militar é subordinado ao Comitê de Defesa e se
ocupa de:

 Levar as políticas do seu Grupo Permanente


(“Standing Group”) ao Comitê de Defesa;
 Levar recomendações de cunho militar ao Comitê de
Defesa ou outros órgãos apropriadamente;
 Indicar medidas militares para a unificação da
defesa da área do Atlântico Norte;

Subordinado ao CAN, o Comitê Militar (CM) é o mais alto


órgão militar da organização, congregando os Chefes de
Estado-Maior dos países membros ou seus devidos
representantes em sessão permanente.
O CM delibera sobre o planejamento estratégico, tal como
disposições e iniciativas de cooperação militar. O CM opera
também como órgão consultivo do braço político da
organização, realizando estudos sobre preparação e condução
de campanhas militares dentro do escopo da OTAN. Ainda nesta
condição consultiva, se necessário, representantes do CM
podem ser convidados a participar de summits ou reuniões
ministeriais, auxiliando suas respectivas delegações.
Um Grupo Permanente executivo é responsável pelas
atividades do Comitê Militar e é composto por um
representante dos Estados Unidos da América, um representante

20
da França e um representante do Reino Unido. Suas atividades
perduram o ano inteiro.
Além desses, existem outros órgãos, subordinados ao CAN
a ao Comitê de Defesa. Eles ajudam na parte burocrática e
administrativa da OTAN, na política econômica, na unidade
não-militar entre os membros e no desenvolvimento de
pesquisas científicas e políticas nucleares.

 Assimetria de poder na OTAN

Em alianças nas quais os Estados membros apresentam


grande disparidade de poder entre si, é visível uma tendência
dos “grandes” a dominarem os “pequenos”, ditando as regras da
cooperação e os termos da aliança. A defecção14 de um Estado
pequeno tem, neste caso, efeito reduzido sobre a disposição
de poder entre as alianças.
Embora sejam claras as disparidades de capacidades entre
os membros da OTAN e a assimetria no volume de contribuições
ao funcionamento da mesma, em que os EUA figuram como membro
“majoritário”, nem sempre essas assimetrias se traduzem em
poder ilimitado de manipulação da agenda.
Da mesma forma, as posições do bloco não estão
submetidas aos interesses americanos de maneira imutável.
Esta tendência pode se reverter quando um Estado mais fraco
adquire importância extraordinária no contexto da aliança e
se torna um bem precioso ao esforço de guerra ou à manutenção
do equilíbrio de poder.
A saber, não são raras as situações nas quais
determinados Estados, embora mais fracos, são determinantes
estratégicos devido a, por exemplo, sua posição geográfica. O
exemplo mais claro na história recente é o de Portugal
14
Por defecção entende-se a violação de lealdade ou de comprometimento com
determinada causa ou aliança.

21
durante a primeira Crise de Berlim, em 1948, quando este país
serviu de trampolim para o abastecimento aéreo da cidade sob
o cerco soviético.
Da mesma forma, observa-se no presente momento uma
grande importância dos Estados europeus na negociação e na
resolução da crise que assola o coração da Europa.

 A atuação da OTAN e a sua interação com a ONU

Compreender a forma como a OTAN e a ONU interagem é


fundamental para que se possa entender a lógica de poder e de
ação do OTAN dentro da política mundial.
A Organização das Nações Unidas e a OTAN se relacionam
cotidianamente de diversas maneiras, parcialmente explícitas
e diretas, afetando fundamentalmente o entendimento de seu
funcionamento e de sua influência na política externa dos
Estados.
O Tratado de Washington traz claramente em seu preâmbulo
seu status cooperativo e, de certo modo, subordinado à ONU.
Percebe-se como ele dialoga com a Carta das Nações Unidas,
baseando-se em seus artigos e princípios constantemente,
desde o trecho no qual os Estados-membros da OTAN reafirmam
“sua fé nos intuitos e princípios da Carta das Nações
Unidas”.
A OTAN se desenvolveu desde a sua formação como fórum
independente. Por vezes as potências encontraram na OTAN uma
alternativa à ONU para negociação em um ambiente mais
discreto, ainda que nem sempre amigável, visto que tensões na
aliança são uma constante. Dessa forma, observa-se que a
subordinação da OTAN às Nações Unidas se dá em termos
jurídicos e não na prática.

22
O modo como os dois blocos se relacionam e o papel
desempenhado pela ONU, real ou simbólico, nas questões de
segurança ficam mais claros ao analisarmos dois casos
recentes. O ano de 1956 é reconhecido como um dos mais
importantes desde o final da II Guerra Mundial. Duas crises
impactaram diretamente atores importantes dentro do cenário
internacional. De um lado os soviéticos enfrentaram
resistências na Hungria, de outro os franceses e os
britânicos sofreram para resguardar seus interesses no Canal
de Suez.
Se por um lado é inegável o fato da ONU ter exercido um
papel secundário, os integrantes do Pacto de Varsóvia e da
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) foram atores
essenciais nos dois conflitos.
Os dois lados trocaram acusações sobre a participação e
fomento dos nacionalismos húngaro e egípcio. De acordo com o
governo soviético, todos os acontecimentos ocorridos em
território húngaro no final de 1956 se deram a partir de
iniciativas das potências imperialistas, visando expandir
suas mazelas para a Europa Oriental.
Os acusados negaram sua participação nas referidas
ações, mas exaltaram a necessidade de respeitar a vontade do
povo da Hungria em seu desejo por democracia e liberdade, se
colocando a disposição do governo de Nagy para garantir tais
preceitos.
Por sua vez, os governos francês e inglês repudiaram com
veemência o apoio dado pelo governo soviético ao Presidente
Nasser em sua tentativa de nacionalizar o Canal de Suez. O
Kremlin, ao se referir à participação soviética na questão,
apenas indicou que tratados bilaterais de cooperação são uma
prática recorrente nas relações entre Estados e que apoiar o

23
desejo do povo egípcio de resguardar sua soberania era uma
forma de garantir o pleno respeito à Carta da ONU.
A participação das Nações Unidas se restringiu à
convocação do Conselho de Segurança por parte dos Estados
Unidos, Reino Unido, França e União Soviética. Em seu
requerimento, os governos pediram atenção às situações que se
desenrolavam em Budapeste e Suez.
A simples indicação de que tais temas seriam alvo de
discussão pela Comunidade Internacional foi motivo de
contestação pelas partes envolvidas. Ambos os episódios
serviram para conturbar ainda mais a difícil relação entre as
potências, algo que ficaria mais claro a partir da
intolerância entre as decisões tomadas pelos controladores de
Berlim.

2.2.)Pacto de Varsóvia

 Histórico do Pacto

Os caminhos que levaram ao surgimento do Pacto de


Varsóvia começaram a ser trilhados a partir do surgimento da
OTAN e das ações político-diplomáticas que lhe foram
conseqüentes.
Inicialmente minorada em importância por Stalin, que
preferia crer na incapacidade de um precoce avanço
capitalista rumo ao leste, a presença de um bloco coeso, que
se tornava, cada vez mais, influenciado pelos EUA, passou
gradualmente a tomar relevância nos anos que se seguiram.
Tendo abandonado um antigo projeto de ver uma Alemanha
reunificada e neutra, a diplomacia soviética buscou soluções
para o problema existente. Seu último trunfo foi um plano de

24
expansão da OTAN, que admitiria, por um lado, a entrada da
RFA15 no bloco, mas contaria, por outro, com novos membros,
entre eles, a própria URSS.
A derrocada de tal proposta foi evidente e o avanço nas
negociações internas do lado capitalista não deixou
alternativa aos dirigentes comunistas a não ser a formação de
uma união própria. Dessa maneira, a URSS chegou a um momento
de decisão quanto aos rumos a serem tomados quando da
conclusão do movimento, encabeçado pelos Estados Unidos, para
a inclusão da República Federal Alemã na OTAN.
De acordo com os Acordos de Paris de 23 de Outubro de
1954, a data limite para aceitação da Alemanha Ocidental
seria o dia 5 de maio de 1955. Em antecipação a isto,
Khrushchev mobilizou uma reunião para o dia 21 de março, em
que se discutiu a criação de uma aliança comunista. Essa
manobra causou forte repercussão e abriu caminho para tornar
definitiva a divisão européia, dessa vez em duas organizações
de segurança coletiva opostas.
Dessa forma, a intenção do Kremlin de oferecer uma
resposta concreta aos eventos que se desenrolavam veio a
público em 21 de março de 1955 e, enfim, em 14 de maio do
mesmo ano, constituiu-se o Pacto de Varsóvia. A alegação era
clara: a remilitarização da Alemanha Ocidental e sua
incorporação à Organização Atlântica representavam um patente
risco à segurança dos países do leste e uma real ameaça à paz
européia.
Assim, referendou-se o Pacto de Varsóvia: o compromisso
do bloco socialista de ajuda mútua em caso de agressão a um
de seus membros. Por signatários do Pacto temos a República
Democrática Alemã, a República Popular da Albânia, a
República Popular da Bulgária, a República Popular Húngara, a

15
República Federal Alemã ou Alemanha Ocidental.

25
República Popular Polonesa, a República Popular Romena, a
República da Tchecoslováquia e a União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas.

 A estrutura do Pacto de Varsóvia

A Organização do Tratado de Varsóvia se constituiu nos


moldes do Tratado de Varsóvia, assinado em 1955. Mesmo
reconhecendo que a assinatura do Tratado se deu em Varsóvia,
Polônia, a Organização é sediada em Moscou, junto ao Supremo
Conselho de Defesa da União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (um braço do Politburo16).
Por sua vez, todas as decisões desta Organização devem
ser aprovadas por esse Conselho, o que demonstra que, apesar
da bandeira de igualdade entre os membros hasteada pela URSS
sobre o Pacto de Varsóvia, esta dirige a organização com um
certo autoritarismo. Na mesma linha, o cargo de Secretário-
Geral da Organização é sempre exercido pelo Chefe do Estado-
Maior da União Soviética, atualmente o Marechal Aleksei
Antonov.
O Tratado de Varsóvia, logo no seu preâmbulo, explicita
a convergência de seus propósitos com os princípios dispostos
pela Carta das Nações Unidas. Seu principal objetivo como
aliança militar formada é o de assegurar a proteção mútua de
seus membros em caso de ataque sofrido por um deles. Essa
disposição encontra-se no seu artigo 4, em que é frisado o
respeito por parte dos Estados-membros do Pacto ao Artigo 51
do Capítulo VII da Carta da ONU.
A Organização do Pacto é baseada na existência de dois
comitês centrais:

16
Contração do russo Politicheskoe Byuro, que designa o órgão maior para decisões
políticas e governamentais do alto escalão do Partido Comunista da União
Soviética.

26
1) Comitê Consultivo Político (CCP). É o principal órgão
político da Organização, composto por ministros de Relações
Exteriores dos Estados signatários.
O CCP funciona através de seus dois subcomitês: O
Secretariado Conjunto (SC) e a Comissão Permanente (CP).
Ambos têm caráter de gerenciamento e são ocupados por
funcionários dos Estados signatários.
Além desses dois órgãos, existem comitês específicos,
subordinados ao CCP, para análise de diversas questões
militares, como o Comitê dos Ministros da Defesa e o Comando
Militar Conjunto das Forças do Pacto de Varsóvia.
A estrutura do CCP funciona tanto em tempos de guerra
quanto em tempos de paz, uma vez que é esse Comitê o
responsável final pelas decisões políticas da Organização e
pela aprovação dos planos de ação propostos pelos comitês
subsidiários.
Apesar disso, o caráter do CCP não é permanente, seus
encontros são agendados por solicitação de seus membros. A
maioria das reuniões do CCP realiza-se em Moscou, junto à
sede, entretanto, é possível que em algumas ocasiões elas
ocorram em outros Estados-membros.

2)Comando Unificado das Forças Armadas do Pacto. Tem


como chefe o Supremo Comandante, cargo exercido pelo Ministro
da Defesa da URSS. O Comando Unificado é responsável por
reunir o poderio militar, composto por membros das forças
armadas dos Estados signatários. Além disso, faz análises de
estratégias de ataques a serem realizados quando necessário,
bem como planos de defesa dos membros do Pacto contra ataques
externos.

27
Por mais que tenham escopos de atuação distintos, é
possível que em uma mesma reunião ocorra a junção de ambos os
comitês centrais. Isso acontece quando há uma situação de
gravidade excepcional. O CCP se reúne em caráter emergencial
e em formato ad hoc. Nesse formato passa a ser composto por
delegações formadas pelo Ministro das Relações Exteriores e o
Ministro da Defesa ou Chefe do Estado-Maior de cada Estado-
membro.

 O Pacto de Varsóvia e os mecanismos de integração do


bloco socialista

À época da criação do Pacto de Varsóvia, o bloco


socialista já estava interligado por alguns mecanismos, como
o Conselho para Assistência Econômica Mútua (COMECON) que
fora criado em 1949 para ser contraparte socialista do Plano
Marshall.
O COMECON tem como pilares centrais a cooperação
econômica entre as "democracias populares"17 e a União
Soviética e a capacitação dos Estados-Membros, com vistas a
torná-los capazes de trocarem experiências e assistência
técnica entre si. Com o passar dos anos, o COMECON vem
adquirindo uma dimensão que ultrapassa os limites das
questões econômicas e sua denominação tornou-se sinônima do
multilateralismo presente nas relações entre os membros e não
somente às relacionadas ao âmbito econômico.
Além da conexão pelo plano econômico, é marcante o
impacto deixado pela Terceira Internacional, também conhecida
como COMINTERN, no nível político. De 1919 a 1943 a
Internacional Comunista reuniu organizações das mais
diferentes áreas de atuação (Socorro Vermelho Internacional,

17
Termo pelo qual se referem os regimes socialistas aliados à URSS.

28
Internacional Camponesa, Internacional Desportiva Vermelha,
entre outros), com o objetivo de criar uma confederação de
repúblicas socialistas que servisse de estágio transitório
para o pleno comunismo e a abolição dos Estados nacionais.
Por fim, ainda é possível perceber uma última esfera de
união entre os membros do bloco socialista que se dava por
meio do Bureau de Informação dos Partidos Comunistas e dos
Trabalhadores, denominado COMINFORM. O objetivo desse
mecanismo era assumir a lacuna deixada pela dissolução do
COMINTERN em 1943 e reunir Partidos Socialistas e dos
Trabalhadores dos mais diversos países de maneira a coordenar
as ações entre eles sob a orientação soviética.
O Bureau acabou se tornando uma ferramenta política da
URSS cujas determinações surtiram conseqüências em diversas
partes do mundo até o ano de 1956, quando da reaproximação da
URSS com a Iugoslávia e da dissolução do COMINFORM.
Apesar da existência desses mecanismos, não havia até
1955 nenhuma organização que unisse por meio da cooperação
militar os países do bloco socialista e que se contrapusesse
ao papel que a OTAN desempenhava na segurança coletiva dos
países do bloco ocidental.

 Atuação do Pacto de Varsóvia

Até o presente ano, o Pacto só atuou uma vez, no ano de


1956, quando da Revolução na Hungria. Esse movimento teve
início com um levante de estudantes contrários ao regime nos
moldes stalinistas na Hungria. A manifestação, que era de
cunho pacífico, se tornou violenta com a intervenção das
forças do Pacto sob a alegação de que o governo legítimo
húngaro estava sob ameaça.

29
Os revolucionários assumiram o poder e ameaçaram a saída
da Hungria do Pacto, ao mesmo tempo em que requisitaram o
auxílio das Nações Unidas na resolução da controvérsia com a
União Soviética.
Rapidamente o exército vermelho conseguiu conter a
revolta húngara e restabelecer o regime socialista vinculado
à URSS na Hungria. Por sua vez, a representação da URSS no
Conselho de Segurança conseguiu afastar a interferência da
Organização na questão.
Esse episódio demonstra claramente a enorme influência
do governo soviético nas ações do Pacto de Varsóvia. Na mesma
medida, ilustra o caráter autonomista do bloco socialista em
relação às Nações Unidas, negando qualquer tipo de
interferência por parte da mesma em assuntos que envolvam a
esfera de influência soviética.

3) Histórico do Tema

3.1) O fim da 2ª Guerra Mundial e a divisão da Alemanha e o


início da Guerra Fria (1945)

O fim da 2ª Grande Guerra e a vitória das forças aliadas


trouxeram consigo a necessidade da reestruturação do Sistema
Internacional em novas bases. Para isso, desde antes do final
do conflito, as potências aliadas reuniram-se em uma série de
conferências, no intuito de criar novos alicerces para a
manutenção duradoura da paz e para definir o futuro da
Alemanha, da Europa e do mundo.
A Conferência de Moscou, realizada ainda durante a
guerra, em outubro de 1943, reuniu os “quatro grandes” -
Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido e China. Foi o

30
primeiro passo para a fundação dessa nova ordem. Nesta
Conferência foram apresentados diversos planos para a
estruturação de uma nova Organização Internacional que
sucederia a falida Liga das Nações e abriram-se então
caminhos para uma série de negociações subseqüentes.
Outra importante reunião foi a Conferência de Londres,
de 1944, desta vez reunindo apenas as três primeiras
potências. Seu principal objetivo era definir as linhas
iniciais para a futura administração da Alemanha, além de
estabelecer políticas sobre o controle territorial da mesma.
Berlim, a maior capital européia em extensão na época,
recebeu um tratamento especial devido não só a sua
importância estratégica mas também à influência emocional que
exercia: dela surgiram as forças que, por duas vezes,
desestabilizaram o mundo.
A proposta apresentada por Clement Attlee, então vice-
Primeiro Ministro britânico, acabou por ser acatada: o país
seria dividido em três zonas de influência, sob o comando de
cada uma das potências; Berlim, por sua vez, ainda que dentro
da zona de comando soviética, seria repartida em duas zonas
de influência, sob a administração conjunta dos aliados.
Posteriormente, de julho a agosto de 1945, após a
rendição incondicional das tropas nazistas (ocorrida no dia 4
de maio do mesmo ano), foi realizada a Conferência de
Potsdam, com o objetivo principal de definir os rumos da
Alemanha. Participaram da reunião os líderes das quatro
potências e da França e nela foram estabelecidos os
princípios e procedimentos a serem seguidos na ocupação. É
importante lembrar que a queda de Berlim deu-se,
exclusivamente, pela força do exército vermelho, que nela
ainda permanecia.

31
Com isso em mente, os aliados definiram alguns
princípios políticos e econômicos para a ocupação, dentre os
mais importantes os seguintes18:
 A autoridade suprema sobre o controle da Alemanha
estaria a cargo dos comandantes–em–chefe das forças
armadas dos Estados Unidos, da URSS e do Reino Unido19 em
suas respectivas zonas de ocupação, isoladamente, ou em
conjunto quando determinada decisão fosse referente à
Alemanha como um todo.
Esse órgão conjunto foi denominado Conselho de Controle
Aliado, no qual toda decisão deveria ser tomada em
consenso, conferindo a cada um dos comandantes poder de
veto.
Berlim, geograficamente um enclave em território de
controle soviético, mas juridicamente não inclusa em
nenhuma das zonas, seria governada por uma Kommandatura20
Aliada, que responderia diretamente ao Conselho de
Controle Aliado.

 Todos os esforços seriam empregados a fim de


oferecer um tratamento igualitário a todo o
território alemão

 O desarmamento total e completo de toda indústria


bélica alemã;

18
As disposições completas sobre a Conferência podem ser acessadas em:
http://www.ena.lu/europe/pioneering/proceedings-potsdam-conference-berlin-
1945.htm
19
A França seria adicionada como potência ocupante em Yalta. Sua zona de
ocupação foi criada a partir de partes das zonas inglesa e americana.
20
Órgão executivo, dotado de autonomia administrativas limitada, composto
pelos comandantes das quatro zonas. A presidência da Kommandatura é rotativa.

32
 A reconstrução da estrutura política da Alemanha
baseada em princípios democráticos;
As potências ocupantes teriam o direito de extrair
recursos do território alemão que garantissem o
pagamento das indenizações de guerra. Isto deveria
ser feito de forma comedida, a fim de evitar uma
nova crise econômica.

Os mapas a seguir ilustram a divisão da Alemanha e de


Berlim, respectivamente, de acordo com o estabelecido em
Potsdam21:

Mapa da Alemanha. Setores inglês (laranja), francês (azul), americano


(verde) e soviético (rosa).

21
Fonte: http://germanhistorydocs.ghi-dc.org/maplist.cfm?section_id=14

33
Mapa de Berlim. Setores francês (azul), inglês (laranja), americano
(verde) e soviético (rosa).

O tempo demonstraria, entretanto, que muitos dos


princípios de Potsdam - e Yalta - seriam, na prática,
inaplicáveis. O mundo mudara de forma irreversível e a
aliança militar22 que colocou lado-a-lado russos e americanos
se romperia ante a profundas e inconciliáveis propostas das
superpotências nascentes.

3.2) O Bloqueio de Berlim (1948)

22
Refere-se à aliança militar formada durante a II Guerra Mundial em que
americanos e russos lutaram contra o eixo, em especial contra a Alemanha
Nazista.

34
"De Stettin, no Báltico, até Trieste, no
Adriático, uma cortina de ferro desceu sobre o
continente. Atrás dessa linha estão todas as capitais
dos antigos Estados da Europa Central e Oriental.
Varsóvia, Berlim, Praga, Viena, Budapeste, Belgrado,
Bucareste e Sofia; todas essas cidades famosas e as
populações em torno delas estão no que devo chamar de
esfera soviética, e todas estão sujeitas, de uma forma
ou de outra, não somente à influência soviética, mas
também a fortes, e em certos casos crescentes, medidas
de controle de Moscou."
(Winston Churchill, Fulton, Missouri, 1946.)

O chamado “discurso da Cortina de Ferro”, proferido pelo


já ex-Primeiro Ministro do Reino Unido dá o tom dos anos que
se seguiram à Potsdam. Antes mesmo do fim do conflito global
havia a latente preocupação por parte dos americanos e dos
britânicos com o crescimento do poderio soviético e com a
expansão do socialismo como ideologia política e como forma
de organização econômica. Como contra-ponto, os aliados
ocidentais buscaram formas de estabelecer o que viria a ser
chamado “cordão sanitário”23.
De fato, durante a Guerra, os soviéticos anexaram as
Repúblicas Bálticas - Estônia, Lituânia e Letônia - e, já na
fase final do conflito, liberaram seus territórios das forças
nazistas. O exército Vermelho ocupara, então, além desses
países, praticamente toda a Europa Oriental e parte da Europa
Central. A partir de 1945 surgem nas regiões ocupadas as
Democracias Populares24.
Com o surgimento dessas Democracias, a União Soviética
passou a exportar seu modelo econômico, político e ideológico

23
A denominação, de caráter pejorativo, faz analogia aos cordões sanitários
estabelecidos para impedir a proliferação de doenças e de animais portadores
das mesmas.
24
Expressão utilizada para denominar um governo socialista fortemente apoiado
pela URSS e marcado pela forte centralização estatal e pela ampla burocracia.

35
para quase todo o Leste Europeu. Exemplos são a Polônia
(1945), a Albânia e a Bulgária (1946), a Romênia (1947), a
Hungria (1949) e a própria Alemanha Oriental. A grande
exceção, nesse sentido, foi a Iuguslávia que, sob o comando
de Josip Broz Tito, resistiu às investidas alemãs durante o
conflito sem o apoio direto do Exército Vermelho. Apesar de
Tito ter estabelecido um governo socialista, logo rompeu com
Stalin, chegando a receber investimentos do Plano Marshall.
Passo semelhante foi dado pelo líder do que se tornaria
o bloco capitalista: o presidente americano Harry S. Truman
anuncia, já em 1947, a criação de planos de ajuda econômica
aos Estados europeus e asiáticos, respectivamente,
denominados Plano Marshall e Plano Colombo. O intuito seria
ao mesmo tempo prover ajuda para a reconstrução daqueles
países e mantê-los sob a zona de influência ocidental-
capitalista.
De sua parte, a URSS, ainda sob a presidência de Josef
Stalin, lançou mão de um plano de ajuda econômica aos países
da Europa Oriental (à exceção da Iuguslávia) em 1949, dentro
da denominação COMECON25.
As divergências entre as então aliadas superpotências,
entretanto, só passaram a ficar evidentes com o primeiro
cenário conflituoso no qual as posições se tornaram realmente
antagônicas e inconciliáveis: o Bloqueio de Berlim de 1948.
Desde o fim da Guerra o lado ocidental da Alemanha
vinha experimentando uma séria crise econômica que envolvia,
entre outros fatores, a falta de liquidez26 e a inflação.
Visando à solução dessa crise e também ao fortalecimento do
Estado alemão, a fim de que o mesmo pudesse resistir a
possíveis investidas da URSS, Estados Unidos e Reino Unido
fundiram suas respectivas zonas de ocupação em setembro 1946.
25
Ver página 28 acima.
26
Falta de dinheiro e crédito no mercado econômico.

36
A nova área tornou-se conhecida como “Bi-Zona” e seria
administrada por ambos os países em uma estrutura política e
econômica comum. A França, que controlava outra parte do
território ocidental alemão, opôs-se a uma união em um
primeiro momento, alegando que isso fortaleceria a Alemanha e
que poderia resultar no reaparecimento da ameaça militar da
Segunda Guerra.
Os quatro países, então, tentaram por duas vezes
solucionar o impasse - em Moscou (Março/Abril 1947) e Londres
(novembro 1947)- até que, no começo de 1948, os aliados
ocidentais realizaram uma reunião em Londres, junto com a
Bélgica, os Países Baixos e Luxemburgo.
Nessa conferência foram tomadas três decisões
importantes:

 A formação da “Tri-zona”, incluindo o território sob


administração francesa na “Bi-zona”, instituindo, assim,
uma administração central para toda a Alemanha
Ocidental;
 Conclusão de uma reforma econômica que incluía o
estabelecimento de uma moeda única, o Marco Alemão
(Deutsche Mark);
 Enquadramento mais profundo da Alemanha à ajuda
proveniente do Plano Marshall.

Os soviéticos não reconheceram a legitimidade das


decisões tomadas em Londres e, em resposta, retiraram seu
representante do Conselho de Controle Aliado e da
Kommandatura em março de 1948.
A alegação de Stalin era de que os três países teriam
desrespeitado os acordos estabelecidos tanto na declaração

37
conjunta da Criméia, de 1945, quanto nos de Potsdam, ao não
tratar a Alemanha como unidade econômica.
No fim daquele mês, os limites de Berlim Ocidental
foram interditados pelos soviético e o tráfego dos veículos
entre Berlim e as zonas ocidentais de ocupação foi proibido.
No meio de abril, forças militares americanas e britânicas
tiveram que deixar, respectivamente, Weimar e Magdeburg.
O derradeiro movimento foi dado em resposta ao
estabelecimento, de fato, do Marco alemão: em 24 de junho de
1948 os soviéticos interditaram todos os acessos a Berlim.
A URSS adquirira a responsabilidade - tácita, senão
explícita - de salvaguardar o direito de acesso dos demais
ocupantes à cidade. Essa responsabilidade, no entanto, se
pautava fundamentalmente sobre o direito de conquista e
arranjos ambíguos com as autoridades soviéticas27.
Essa lacuna teria servido a Stalin de pretexto para
instaurar em 1948 um bloqueio às vias de acesso terrestre. A
superação do bloqueio pelas forças ocidentais se deu por meio
de um massivo “airlift”28 comandado pelo General Lucius D.
Clay pelos três corredores aéreos que ligavam Berlim à
Alemanha Ocidental.
Após um ano o bloqueio teria fim, porém o status legal
da cidade prosseguiria indefinido. Esta ambigüidade seria uma
das grandes causas permissivas da presente crise29 na
Alemanha, somada à vulnerabilidade estratégica da “ilha
ocidental”, que se agravaria conforme o passar do tempo. As
crescentes necessidades materiais geradas pelo milagre alemão
da década de 50 impossibilitavam a reprodução do airlift de
1948-49.

27
Ver Speier, 1961.
28
Operação de transporte aéreo. Pode ser traduzido como ponte áerea, apesar da
conotação civil desta.
29
Cf. Wright, 1961.

38
Além de representar o primeiro sinal mais sério de
tensão entre as superpotências, o final do Bloqueio teve como
principal conseqüência o surgimento de dois novos países: a
República Federal Alemã (RFA ou Alemanha Ocidental, sob
influência direta dos aliados do ocidente) e a República
Democrática Alemã (RDA ou Alemanha Oriental, sob influência
da URSS).

3.3) A criação da OTAN (1949), a entrada da Alemanha (1955) e


o surgimento do Pacto de Varsóvia (1955):

Em 1949, diante da primeira explosão atômica soviética,


foi criada a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a
OTAN. Tratava-se de uma aliança militar de cooperação e
defesa com objetivo de dar uma resposta clara a possíveis
intenções expansionistas da URSS.
Seis anos depois a RFA acedeu, como membro formal, à
OTAN. Para os Soviéticos, esse fato constituía uma dupla
ameaça: por um lado, constituía-se uma ampliação da
influência americana na Europa, já pesadamente presente por
meio dos instrumentos políticos, militares e econômicos
citados; por outro, havia uma crescente necessidade de
ampliar a visibilidade do poderio soviético, ofuscada pelo
movimento alemão.
Diante desses fatos, em 14 de maio de 1955, na capital
polonesa, foi firmado o Pacto de Varsóvia, que previa uma
aliança militar entre os países do bloco socialista,
incluindo a RDA, contra qualquer ataque.
Alguns episódios ao longo dessa década acabaram por
evidenciar o surgimento de fissuras intra-blocos as quais vêm
demonstrando que nem mesmo o peso político e militar das

39
superpotências pode evitar a reincidência de crises dentro e
fora da Europa.

3.4) A Guerra da Coréia (1950)

Sob domínio japonês desde o início do século, muitos


coreanos lutaram ao lado das tropas chinesas e soviéticas
contra o Japão na frente continental da Guerra no Pacífico.
Isto contribuiu para que os aliados apoiassem a Independência
da Coréia a partir de resolução firmada na Conferencia do
Cairo em 1943. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, no entanto,
a Coréia se encontrava novamente ocupada. As potências
aliadas dividiram o território coreano em Potsdam: os
soviéticos acima do paralelo 38 e os norte americanos abaixo
do mesmo. Os soviéticos instalariam no poder o líder militar
Kim Il-Sung. Os americanos optariam por um militante pró-
independência de educação ocidental, Syngman Rhee.
Ambas as partes concordariam em promover eleições
idôneas em seus respectivos territórios. Para este fim seria
criada mais tarde uma Comissão Temporária das Nações Unidas30
Dessa forma, em 1947, sob a supervisão da Comissão
Temporária, eleições foram realizadas no sul, tendo sido
eleito Rhee como primeiro presidente da República da Coréia,
cuja capital ficou estabelecida em Seul.
Já na região norte, à qual a Comissão Temporária não
conseguiu acesso seguro e na qual a União Soviética impediu a
realização de eleições gerais, uma nova constituição foi
redigida por meio da Suprema Assembléia do Povo da Coréia do
Norte e adotada em agosto de 1948. Kim Il-Sung foi designado

30
Tal Comissão foi criada por meio da Resolução 112(II) da Assembléia Geral, da
qual se ausentaram do processo de votação a RSS Bielorússia, Tchecoslováquia,
Polônia, Ucrânia, URSS e Iugoslávia. A ausência deu-se sob a alegação de que a
discussão pela Assembléia desse tópico, sem permitir a presença de
representantes coreanos, contrariava os preceitos da Carta das Nações Unidas.

40
primeiro ministro e em 9 de setembro do mesmo ano foi
proclamada a República Popular da Coréia.
Quaisquer aparências democráticas, no entanto, são
enganosas. Ambos Rhee e Kim atuariam como figuras
autoritárias e centralizadoras.
Em 24 de junho de 1950, forças norte-coreanas atacaram o
território da República da Coréia, ao que o comando norte-
americano respondeu, no dia seguinte, com o comprometimento
de forças aeronavais e reforços materiais às forças sul-
coreanas. Horas depois, mas ainda no dia 25 graças à
diferença de fuso-horário, a delegação americana apresentou
ao Conselho de Segurança das Nações Unidas um projeto de
resolução que repudiava e reconhecia como agressão o ataque
norte-coreano e pedia por cessar-fogo e retirada das tropas
norte-corenas ao sul do Paralelo 38.
A resolução foi aprovada sem grandes modificações ao
texto original, o que foi possível apenas devido à ausência
da delegação soviética, que havia se retirado em janeiro do
mesmo ano em protesto pelo não-reconhecimento da República
Popular da China e da manutenção do governo nacionalista do
Generalíssimo Chiang Kai-shek (agora radicado em Formosa)
como membro da ONU. O mesmo se daria nas resoluções
seguintes. Esta experiência não se repetiria.
Em 27 de junho foi aprovada resolução autorizando
resposta militar em auxílio à República da Coréia. Seguindo
esta deixa, os EUA destacariam forças terrestres (que apenas
dariam continuidade ao auxílio que ja vinha sido prestado
desde o dia 24), a serem complementadas pelas tropas aliadas
– como estabelecido na resolução seguinte do dia 7 de julho
-, tendo como comandante o herói de guerra da Segunda Guerra
Mundial, General Douglas MacArthur.

41
A guerra se desenrolaria por 3 anos e seria marcada por
avanços, retrocessos e perdas consideráveis de ambos os
lados, sendo um dos maiores reveses devido à entrada chinesa
na guerra. Enquanto a participação chinesa seria aberta, os
soviéticos seriam mais cautelosos, fornecendo treinamento e
suprimentos às tropas comunistas.
A partir de 1951 a guerra tomou novo rumo. O início de
negociações de cessação de hostilidades levou a um prolongado
e extenuante impasse no conflito, que custaria ao General
MacArtur sua posição (este seria substituído pelo General
Matthew Ridgeway, que em 1952 substituiria o Gen. Eisenhower
como SACEUR31) e ao Presidente norte-americano Harry Truman
sua popularidade e apoio no congresso32.
A Guerra da Coréia teve significado especial, pois
ressaltou a possibilidade, antes rejeitada, de uma “guerra
limitada”33 em um ambiente internacional nuclearizado. A
sombra desta possibilidade passaria a assombrar os países
europeus, até então certos da improbabilidade do conflito no
continente. Por outro lado, a guerra demonstrou a preocupação
incessante das superpotências de evitar confronto direto,
ainda que operando, direta ou indiretamente num mesmo teatro
de guerra.

5) O início da crise atual

31
Supremo Comandante Aliado da Europa. É o cargo responsável pelo Comando Aliado
de Operações da OTAN.
32
O Congresso não fora consultado sobre a entrada do país no conflito. Ver
Brodie, 1973
33
Prevalecia na época a noção de que uma guerra moderna seria inevitavelmente
travada nos moldes das guerras mundiais da primeira metade do século, que
podemos chamar de “guerras totais” ou “guerras gerais”.

42
Em 1953, com a morte de Stalin, Nikita Khrushchev foi
alçado ao cargo de Secretário Geral do Partido Comunista da
União Soviética, após uma ferrenha disputa com seus
adversários. Destarte, seu posicionamento interno e externo
causou muita polêmica, revelando um pouco do que poderia
ainda estar por vir: ele optou por um revisionismo da
história da Revolução Russa, da qual nomes como o de Leon
Trotsky haviam sido apagados, e deu início a um ferrenho
movimento de “desestalinização”.
Além disso, já em 1956, no 20º Congresso do PCUS 34,
afirmou que a União Soviética deveria ter uma postura menos
belicosa diante dos EUA, propondo, alternativamente, a
coexistência pacífica entre os dois sistemas sociais.35
Em 1957, a URSS realizou o lançamento do primeiro
satélite artificial da história: o Sputnik. Khrushchev estava
convencido de que os avanços científicos soviéticos
demonstravam a superioridade do socialismo em relação ao
capitalismo e que seria uma questão de tempo até que, também
no campo econômico e militar, os soviéticos ultrapassassem o
“mundo livre”.
Enquanto isso, e desde o bloqueio de 1948, a cidade de
Berlim crescia econômica e industrialmente de forma que, no
caso de um novo bloqueio, a guarnição por via aérea, como na
primeira crise, não seria suficiente para atender as
necessidades da cidade.
Isso causava uma grande apreensão por parte dos aliados
ocidentais uma vez que à época da primeira crise não houve
uma renegociação efetiva em relação aos termos do acesso
terrestre à cidade. Na verdade, todo o tráfego ainda era
submetido à inspeção de postos de controle soviéticos, o que
deixava a cidade altamente vulnerável a um novo bloqueio.
34
Partido Comunista da União Soviética
35
Cf. Khrushchev 1959, e Kennan 1960.

43
Além disso, o desenvolvimento econômico da parte
ocidental, a ausência de oportunidades de emprego e a crise
econômica acirrada pela cobrança de reparações de guerra e
pelas políticas sociais e empregatícias do governo Ulbricht
no lado oriental, somados à facilidade de locomoção entre as
duas áreas, resultava em grande fluxo de pessoas do primeiro
para o último setor. Tamanho era o fluxo que as autoridades
soviéticas temiam que, em pouco tempo, o “paraíso dos
trabalhadores”, como era conhecido o lado oriental da cidade,
se tornasse uma região sem força de trabalho.
A migração em massa de um ponto ao outro pode ser
descrito como um grande buraco na Cortina de Ferro. Previa-
se, de maneira bastante realista, um possível colapso do
Estado em questão de poucos anos, o que poderia acarretar uma
derrota moral da URSS e de todo o bloco socialista e um
grande golpe para a esfera de influência da superpotência. A
saída, previa Khrushchev, seria o isolamento da RFA.
Dentro da ótica soviética de uma mudança no equilíbrio
de forças, tendendo positivamente para o lado socialista,
Khrushchev busca transformar essa percepção em algo prático,
utilizando-se do ponto fraco do ocidente: Berlim.
Em 10 de novembro desse ano, ele profere um discurso
exigindo o fim da divisão da cidade, avisando que irá
entregar o controle de sua parte da cidade ao governo alemão-
ocidental.
Logo depois, no dia 27 do mesmo mês, declara nulo o
acordo das quatro potências sobre Berlim e afirma que, caso
não haja, por parte das outras potências ocupantes, um
acordo acerca da unificação da cidade e sua transformação em
uma área desmilitarizada, a URSS assinará um tratado de paz
em separado com a RDA, transferindo àquele governo os
direitos de ocupação e de controle sobre as rotas de acesso.

44
Era, na prática, um ultimato às potências ocidentais,
que dentre tantas conseqüências possíveis pode, enfim,
provocar a completa desestabilização do status quo europeu
ora vigente.

ANEXO I:Linha de Eventos em Ordem Cronológica

Segue uma linha temporal abrangendo pontualmente os


principais eventos da década de 50, com destaque especial
para o ano de 1958.

1950

 12 de janeiro: A norte-americana CBS promove a primeira


exibição em massa de imagens coloridas na televisão.

 31 de janeiro: Os últimos soldados do Kuomintang se


rendem e é criada a República Popular da China. No mesmo
dia, ela assina um acordo de defesa mútua com a União
Soviética (URSS).

 9 de maio: Robert Schumann publica seu Schumann Report,


em que trata de seu desejo por uma Europa unida.

 25 de junho: A Coréia do Norte invade a Coréia do Sul,


dando inicio à Guerra da Coréia. No dia 27, as Nações
Unidas determinam o envio de uma força internacional
para apoiar o país invadido. Tal iniciativa, porém, não

45
teve apoio da URSS, que não se fez presente na reunião
em protesto contra a não admissão da China de Mao na
ONU.

 28 de junho: As forças norte-coreanas tomam Seul.

 19 de outubro: As tropas da ONU cruzam o paralelo 38º e


tomam a capital norte-coreana Pyongyang. A República
Popular da China invade a Coréia do Norte com 300 mil
homens para impedir o avanço das forças da ONU.

 O regime do Apartheid na África do Sul recrudesce com a


proibição de pessoas de raças diferentes manterem
relações sexuais e com a implantação do Population
Registration Act, que dividiu oficialmente a população
de acordo com a cor da pele.

1951

 4 de janeiro: As tropas da República Popular da China


invadem Seul, logo depois retomada na Operação Ripper
pelas forças da ONU.

 18 de abril: Assinado o Tratado de Paris, originando a


Comunidade Européia do Carvão e do Aço (CECA).

 20 de setembro: Grécia e Turquia entram na Organização


do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

 26 de outubro: Sir Winston Churchill volta ao cargo de


Primeiro-Ministro do Reino Unido da Grã-Bretanha e
Irlanda do Norte.

46
1952

 7 de fevereiro: Elizabeth Alexandra Mary of Windsor, sob


o nome de Elizabeth II, é proclamada, aos 25 anos,
rainha soberana do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda
do Norte e da Comunidade Britânica de Nações.

 28 de abril: O Japão assina os tratados de São Francisco


e de Taipei, reatando laços com a comunidade
internacional.

 21 de junho: O USS Nautilus, o primeiro submarino


nuclear a singrar os oceanos, é lançado pela Marinha dos
EUA.

 26 de junho: O revolucionário Gamal Abdel Nasser lidera


o golpe no Egito contra o então Rei Farouk.

 30 de junho: Os EUA dão por encerrado o Plano Marshall


de auxílio econômico à reconstrução da Europa.

 3 de outubro: A Operação Hurricane, levada a cabo pelo


Reino Unido, projeta, constrói e testa com sucesso a
primeira bomba nuclear britânica.

 1º de novembro: Os EUA realizam a Operação Ivy,


detonando a primeira bomba de hidrogênio (Teller-Ulam
Design – Fusão Nuclear do Hidrogênio). A detonação
ocorreu no atol Enewetak das Ilhas Marshall, e foi 450
vezes mais poderosa que a da bomba que explodiu em
Nagasaki, a Fat Man.

47
1953

● 20 de janeiro: Assume a presidência dos EUA Dwight D.


Eisenhower, o primeiro general norte-americano no século
XX a chegar ao cargo executivo máximo.

 5 de março: A URSS perde Иосиф Виссарионович Джугашвили


Сталин (Iosif Vissarionovich Djugatchvili Stalin), que
sofreu um ataque cardíaco e estava em coma há dias.
Seguiu-se imediatamente uma crise deixada pelo vácuo de
poder.

 27 de julho: Um cessar-fogo abre caminho para o fim da


Guerra da Coréia.

 19 de agosto: Instalada a dinastia Pahlevi no Irã após o


golpe que tirou do governo o Primeiro-Ministro Mohammad
Mossadegh.

 7 de setembro: Никита Сергеевич Хрущёв (Nikita


Sergeyevich Khrushchev) assume a função de Primeiro
Secretário do Partido Comunista Soviético.

 23 de dezembro: É executado Лаврентий Павлович Берия


(Lavrentiy Pavlovich Beria), principal rival de
Khrushchev, executor dos massacres de Stalin e chefe da
NKVD (Comissariado Popular para Assuntos Internos).

1954

48
 18 de março: O governo eleito de esquerda na Guatemala é
derrubado por um golpe dado por um bloco de direitistas.
Uma guerra de guerrilha se instala no país.

 1 de maio: A marca LEGO é oficialmente registrada na


Dinamarca e se iniciam os projetos para a produção em
massa dos brinquedos em tijolinhos.

 7 de maio: A França é derrotada na Indochina pelos Viet


Minh e deixa o local, dando origem a quatro territórios:
Camboja, Laos, Vietnã do Norte e Vietnã do Sul.

 23 de julho: Gamal Abdel Nasser consegue enfim tomar o


poder no Egito, retirando o Rei Farouk. Torna-se um
importante aliado dos soviéticos.

 11 de agosto: A República Popular da China projeta


salvas de artilharia sobre a Ilha de Formosa, estourando
a Crise do Estreito de Taiwan.

 24 de agosto: O Congresso norte-americano aprova o


Communist Control Act, na esteira do terror macartista.
A lei declarou ilegal o Partido Comunista dos Estados
Unidos e considerou criminosos seus filiados.

 8 de setembro: É criada a SEATO (Organização do Tratado


do Sudeste Asiático), congregando Austrália, França,
Nova Zelândia, Paquistão, Tailândia, Filipinas, Reino
Unido e Estados Unidos.

1955

49
 24 de fevereiro: O Pacto de Bagdá é assinado por Irã,
Iraque, Paquistão, Turquia e Reino Unido. O objetivo é a
contenção dos avanço comunistas sobre o Oriente Médio.

 15 de abril: É fundada a rede de restaurantes


McDonald’s.

 9 de maio: A República Federal Alemã é incorporada à


OTAN e os planos de sua remilitarização são iniciados.

 14 de maio: Fundado o Pacto de Varsóvia. Seus


signatários são União Soviética, Polônia,
Checoslováquia, República Democrática Alemã, Hungria,
Romênia, Bulgária e Albânia.
 15 de maio: A ocupação aliada na Áustria chega ao fim.

 18 de Julho: Ocorre a Conferência de Genebra, em que se


fazem presentes Eisenhower e Nikita Khrushchev - é a
primeira vez que os dois líderes se reúnem.

 1º de dezembro: A norte-americana negra Rosa Parks se


recusa a ceder seu lugar em um ônibus para um branco,
contrariando a legislação local. Sua conseqüente prisão
gera protestos em todos os Estados Unidos e marca o
início da luta negra por direitos iguais.

1956

 28 de junho: Iniciados os protestos em Poznań, Polônia.

 26 de julho: Nasser nacionaliza o Canal de Suez.

50
 23 de outubro: Estoura a Revolução Húngara.

 29 de outubro: Em resposta à nacionalização do Canal de


Suez, França, Israel e Reino Unido atacam o Egito,
iniciando a crise.

1957

 22 de janeiro: As forças israelenses se retiram da


Península do Sinai, ocupada no ano anterior.

 25 de março: Assinado o Tratado de Roma, por França,


Alemanha Ocidental, Itália, Bélgica, Holanda e
Luxemburgo, criando a Comunidade Econômica Européia.

 4 de outubro: É lançado o primeiro satélite artificial


da História, o soviético Sputnik 1.

 3 de novembro: Dando continuidade a seu programa


espacial, a União Soviética lança pela primeira vez ao
cosmo um ser vivo, a cadela Laika.

 7 de novembro: Quadragésimo aniversário da Revolução


Bolchevique.

 25 de novembro: O presidente norte-americano Dwight


Eisenhower sofre um derrame durante um discurso, tendo
sua fala temporariamente comprometida.

 Tem início a insurgência comunista no Vietnã do Sul

51
1958

 1º de janeiro: O Tratado de Roma é implementado, criando


a Comunidade Econômica Européia (CEE).

 3 de janeiro: O satélite Sputnik 1 retorna à Terra. O


lançamento do Sputnik 1 demonstrou o avanço tecnológico
pelo qual a URSS passava.

 13 de janeiro: 9235 cientistas e intelectuais de 43


nacionalidades publicam um manifesto pedindo o fim dos
testes nucleares, apresentado à ONU pelo célebre Linus
Pauling.

 18 de janeiro: O então ditador da Venezuela, Marcos


Pérez Jimenéz, é deposto depois de uma revolta popular
que recebeu o apoio de militares.

 31 de janeiro: O satélite Explorer I foi o primeiro a


ser colocado em órbita com sucesso pelos EUA.

 1º de fevereiro: Egito e Síria formam a República Árabe


Unida, para a qual seria indicado como presidente no
mesmo ano Gamal Abdel Nasser, então presidente egípcio.

 Rebeldes cubanos continuam a contestar a autoridade do


governo oficial de Fulgêncio Batista. A Revolução Cubana
começa sua fase ofensiva em meados de fevereiro. O
piloto Juan Manuel Fangio, pentacampeão mundial de
Formula 1, é seqüestrado pelos rebeldes em Havana no dia
23 e é mantido refém durante 28 horas.

52
 25 de fevereiro: Bertrand Russell, o influente filósofo
e escritor lança uma campanha pelo desarmamento nuclear
total.

 11 de março: um bombardeiro B-47 da Força Aérea


Americana acidentalmente despeja uma bomba atômica sobre
a cidade de Mars Bluff na Carolina do Sul. A carga
nuclear não foi fissionada, entretanto o explosivo
convencional destruiu uma casa e causou ferimentos a
indivíduos da população local.

 24 de março: Elvis Presley, aos 23 anos, passa a


integrar o Exército dos Estados Unidos da América.
Enquanto isso, em Cuba, Fulgêncio Batista envia cerca de
10 mil homens para conter a guerrilha revolucionária.

 27 de março: Nikita Sergeyevich Khrushchev é indicado


Primeiro-Ministro da União Soviética.

 31 de março: A União Soviética promove uma pausa em seus


testes nucleares e conclama as demais nações do mundo a
fazerem o mesmo.

 29 de maio: Brasil derrota a Suécia por 5 a 2 na final


da Copa de 58, conquistando seu primeiro Campeonato
Mundial.

 1º de junho: Charles De Gaulle, o notório general da


resistènce de Vichy, é instaurado por decreto Presidente
da França. Sua declaração de que a Algéria permaneceria
para sempre francesa causa polêmica.

53
 16 de junho: Imre Nagy, político húngaro não simpático
aos soviéticos, eleito premiê durante a Revolução
Húngara de 1956, é enforcado sob acusações de alta
traição.

 7 de julho: O presidente americano Dwight D. Eisenhower


assina o Alaska Statehood Act, tornando o Alaska o
quadragésimo nono Estado da União dos EUA.

 14 de julho: Nacionalistas árabes revolucionários


destronam e assassinam o Rei Faisal II do Iraque. Abdul
Karim Qassim assume o governo.

 29 de julho: O Congresso dos EUA cria formalmente a


Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (NASA).

 31 de julho: É fundado o ETA, dissidência radical do


Partido Nacionalista Basco.

 3 de agosto: O USS Nautilus, primeiro submarino nuclear,


completa a travessia submarina do Pólo Norte.

 23 de agosto: Tem início a Segunda Crise do Estreito de


Taiwan, quando do bombardeio de Quemoy.

 1° de setembro: O pacato bairro de Notting Hill, em


Londres, é palco de tensões violentas entre negros e
brancos.

 14 de setembro: O cientista da República Federal Alemã,


Ernst Mohr, projeta e lança, com o apoio do governo,
dois foguetes. Ambos alcançaram com sucesso a atmosfera

54
superior. Foram os primeiros foguetes alemães a serem
produzidos no pós-guerra.

 27 de setembro: Nikita Khrushchev dá seu ultimato às


potências ocidentais para que Berlim seja
desmilitarizada e novos acordos sobre a Alemanha sejam
discutidos.

 30 de setembro: A URSS, realiza testes atmosféricos


nucleares na ilha Novaya Zemlya, Campo de Testes A,
nomeado Chyornaya Guba.

 1º de outubro: Tunísia e Marrocos se juntam à Liga dos


Estados Árabes.

 2 de outubro: A Guiné se declara independente da França.

 4 de outubro: O avião quadrijato inglês DeHavilland


Comet é usado pela companhia aérea estatal BOAC, também
inglesa, para estabelecer a primeira rota aérea
transatlântica operada por aviões a jato.

 5 de outubro: Inicia-se a Quinta República Francesa após


a aprovação por referendo da nova constituição, proposta
por De Gaulle e seus aliados.

 9 de outubro: A Santa Sé anuncia a morte do Papa Pio XII


e 19 dias depois anuncia o fim do 260º Conclave. O
Cardeal Roncalli, de Veneza, é escolhido para ser o novo
Papa, e intitula-se João XXIII.

55
 3 de novembro: A UNESCO (Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura) inaugura sua
sede em Paris.

 21 de novembro: Representantes da União Soviética e da


Alemanha Oriental se reúnem em Berlim para discutir a
transferência do que ainda era controlado pelos
soviéticas para as mãos alemães-orientais.

 28 de novembro: Os Estados Unidos lançam com sucesso o


primeiro ICBM, míssil balístico intercontinental, sob o
codinome Atlas.

 25-28 de novembro: Sudão, Chade, Gabão e a República do


Congo ganham autonomia e passam a ser territórios
autônomos da Comunidade Francesa.

 1º de dezembro: A República Centro Africana proclama sua


independência frente ao domínio francês.

 5 de dezembro: A Rainha Elizabeth II inaugura o primeiro


sistema de telefonia STD (sem intervenção de um
telefonista) no Reino Unido, realizando uma chamada
entre Bristol e Edimburgo.

 10 de dezembro: Soviéticos anunciam posse de míssil de


longo alcance, capaz de atingir alvos até 14 mil km

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