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CARTA DE APRESENTAÇÃO
2
ÍNDICE
3
“O que acontece a Berlim acontece à
Alemanha. O que acontece à Alemanha
acontece ao mundo”
(Vyacheslav Mikhailovich Molotov)
4
1)Introdução
1.1) China
5
desenvolvimento. De acordo com a ótica do Partido Comunista
Chinês, o Primeiro Plano Qüinqüenal (1953-57) chegou ao seu
fim como um grande sucesso, com efetivos passos rumo à
centralização e à planificação, apesar de alguns reveses
considerados menores.
Entretanto, considerou-se necessária uma alteração ainda
mais profunda no modelo econômico, a fim de se extrapolar os
resultados até então obtidos. Pôs-se em prática, pois, um
Segundo Plano Qüinqüenal, baseado em uma maior difusão do
ideário socialista e uma melhor utilização dos recursos
naturais na agricultura e na indústria em favor do progresso.
Entre as muitas medidas adotadas pelo recém-lançado
plano, também chamadas de “O Grande Salto para Frente”, a
influência soviética é altamente perceptível especialmente no
campo. As técnicas compulsórias de plantação - os latifúndios
monocultores, as cotas de colheita pré-estabelecidas e os
métodos agrícolas - remetem quase que exatamente às medidas
adotadas por Stalin no início de seu processo de
coletivização da URSS. Por todo território, enormes
comunidades agrícolas concentram milhares de trabalhadores
para a execução de trabalhos forçados, alcançando cifras
médias de 22 mil pessoas por fazenda.
Na educação, o marxismo virou a base obrigatória do
pensamento geral e da formação intelectual dos cidadãos, um
elemento vital para o processo de construção do socialismo
chinês. Manifestações contra o regime são consideradas
traições intoleráveis e ofensivas ao engrandecimento da nação
e sistematicamente reprimidas. As artes, principalmente a
literatura e a pintura sucumbem à manipulação governamental e
se tornam instrumentos de expansão ideológica. Livros e
outros tipos de materiais culturais vindos do Ocidente
6
passaram gradualmente a ser proibidos e hoje são abertamente
condenados pelo PCC.
A visão romântica do “comunismo à chinesa”, tão própria
da propaganda oficial, porém, distancia-se drasticamente da
realidade. A fome se espalha e torna-se endêmica; o valor dos
grãos cultivados inicia um franco declínio e o poder de
compra geral diminui; a repressão e a obrigatoriedade do
trabalho atormentam e estafam as populações na cidade e no
campo – o sentimento de insatisfação atinge a todos, mas não
há muito a se fazer diante de um governo controlador.
Externamente, a China de Mao propaga um discurso
pacifista, apesar do envolvimento íntimo na Guerra da Coréia,
e mantém laços estreitos com os países da Cortina de Ferro,
unidos no combate ao genericamente chamado “imperialismo
ocidental”. Isso se reflete nos discursos dos representantes
do Partido Comunista Chinês perante o Comitê Político
Consultivo do Pacto de Varsóvia, em que por vezes são
exaltadas as glórias soviéticas. Contudo, atualmente a
relação entre o país e a URSS parece não ser mais tão afinada
como no período anterior à morte de Stalin, ainda que as
lideranças oficiais façam questão de deixar claro que tudo
não passa, no fundo, de ruídos na comunicação.
Para adicionar às incertezas, a China participou
ativamente da Conferência de Bandung na figura de Zhou En-
Lai, dando força ao movimento dos não-alinhados.
7
esporte, com o novo florescimento olímpico; a ciência, com
desenvolvimentos tecnológicos expressivos derivados em grande
parte da corrida armamentista; e as artes.
Com a volta dos combatentes para casa, jovens buscaram
recomeçar suas vidas formando famílias e arranjando novos
empregos, obtendo renda e demandando por variedade de
produtos nas prateleiras dos mercados. A engrenagem
industrial se acelerou e a sociedade de consumo voltou a se
estabelecer, ainda mais eufórica que nos tempos pré-
Depressão. A superioridade e a pujança norte-americanas
tornaram-se paradigmáticas para o mundo capitalista e o
American way of life é atualmente propagado, direta ou
indiretamente, em praticamente tudo que é exportado pelo
país.
Os filmes de Hollywood, aliás, cumprem muito bem esse
papel, vivendo-se a chamada Era de Ouro do cinema. Produções
como Sunset Boulevard e Um Corpo Que Cai alcançaram sucesso
estrondoso em seus lançamentos, dentro e fora do país, e
gêneros como o western e o thriller vão se tornando
preferidos do grande público. Na música, por seu turno, um
novo estilo tem provocado alvoroço nos lares conservadores: o
subversivo rock’n’roll vem mexendo com a cabeça e a cintura
dos adolescentes. Aqueles que a ele fazem vista grossa
preferem, no entanto, se manter fiéis aos standards do bebop
e do jazz.
Contudo, nesse meio cultural nem tudo é bonança. O mundo
do cinema se chocou com a publicação de uma lista negra com
centenas de nomes de artistas que, supostamente, seriam
“vermelhos”, entre eles Charles Chaplin e Orson Welles. Houve
no país um clima geral de desconfiança, calcado no medo de
uma penetração intensa dos ideais comunistas entre os
cidadãos. A explosão da primeira bomba atômica soviética
8
levantou suspeitas de espionagem militar em território norte-
americano e alarmou as autoridades.
Difundiu-se então a idéia, calorosamente abraçada pelo
senador Joseph McCarthy, de que havia uma enormidade de
comunistas nos quadros do funcionalismo público. A isto se
seguiu uma onda de perseguições e delações que atingiram
todos os setores da sociedade, chegando até mesmo às Forças
Armadas. Atualmente, a “caça as bruxas” vem perdendo força e
a imagem dos defensores do “macartismo” tem sido
constantemente manchada devido aos métodos de condução das
investigações e dos flagrantes desrespeitos aos direitos
individuais dos perseguidos.
Ainda no clima de Guerra Fria, os Estados Unidos se
empenham em não perder terreno para os soviéticos em
quaisquer arenas. Atletas olímpicos e artistas carregam em
suas costas o peso de representar a ideologia capitalista
aonde quer que vão, em geral em visitas a países considerados
não totalmente convertidos à causa, como as nações latino-
americanas.
Paralelamente, há cerca de um ano, o mundo assistiu
boquiaberto ao lançamento do Sputnik. O governo norte-
americano, como resposta, tratou de organizar sua primeira
missão, a Explorer. Para isso, criou há poucos meses a
National Aeronautics and Space Administration (NASA) e há
planos para novas incursões espaciais.
9
década de 50 agora vê o renascimento econômico e político da
região, sob forte influência norte-americana.
A capacidade industrial e os mercados consumidores
europeus vivem franca expansão e a economia torna-se cada vez
mais um pilar central no curioso processo de aproximação
entre as nações, como se buscasse esquecer o passado
pensando-se no futuro. É justamente visando à prosperidade
comum e ao soerguimento individual que surgiram o Benelux, a
Organização Européia de Cooperação Econômica (OECE) e a
Comunidade Européia do Carvão e do Aço (CECA), a qual, em
1957, com o Tratado de Roma, evoluiu para Comunidade
Econômica Européia (CEE), tendo como sub-fruto a EURATOM, a
agência responsável por cuidar do campo das pesquisas
nucleares. Em tempo, no final de 1952, a Inglaterra testou
com sucesso sua primeira bomba atômica, repetindo o feito
posteriormente em 1957, entrando, pois, para o seleto grupo
das potências nucleares.
A vitória do pensamento keynesiano1 e a dificuldade de
se dissipar a planificação econômica dos tempos de guerra
deram margem, nos foros conservadores e “liberais”, a uma
aproximação com os partidos trabalhistas, uniões sindicais e
a social democracia em geral. Alimentada pelo medo de uma
ascensão do socialismo, que ainda encantava as esquerdas
européias, essa aliança ofereceu as bases para o
fortalecimento do fenômeno do Estado de Bem-Estar Social,
atendendo às demandas de uma população em crescimento e
evolução.
A Europa também assiste à chegada de uma nova onda
cultural, essencialmente alimentada por elementos
1
Corrente fundamentada no pensamento do economista britânico John Maynard Keynes.
Este inspiraria, com sua obra “The General Theory of Employment, Interest, and
Money” um movimento generalizado de intervenção na economia através de políticas
monetárias, fiscais e sociais como aquelas que caracterizaram o New Deal de FDR.
10
estrangeiros: o bebop, o jazz e o rock'n'roll americanos
invadiram as rádios e aos poucos vão se incorporando às modas
locais, transmitindo seus costumes, indumentárias e
comportamentos próprios. No cinema, despontam Frederico
Fellini, o neo-realismo italiano em pessoa, e o jovem Ingmar
Bergman; da França, vem uma Nouvelle Vague que parece querer
inundar o mundo cinematográfico com técnicas e abordagens
absolutamente inovadoras. A literatura, por sua vez, está a
encontrar caminhos ao mesmo tempo fantásticos e reflexivos
nas obras do inglês William Golding, autor de Lord of the
Flies, e de seu compatriota J.R.R. Tolkien. As temáticas
dominantes falam de mortalidade e guerra, elementos ainda
reminiscentes na vida das pessoas, e de expectativas de um
futuro brilhante, reflexo do sucesso da ciência, das novas
tecnologias e dos milagres econômicos.
Entretanto, esses parecem ser os últimos suspiros de uma
vanguarda agonizante. No pós-Segunda Guerra, os grandes
centros da Europa vêem seu lugar de destaque no mundo se
perder e passam, mais do que nunca, a importar conceitos e
tendências e a se retraírem perante seu papel na ordem
internacional. A Crise do Canal de Suez, a Guerra da Coréia e
o fim do regime administrativo quadripartite alemão, entre
outros eventos, são bons exemplos dos efeitos dos novos
tempos para Inglaterra e França.
Nesse mar de crescimento e aparente quietude, contudo, a
tormenta se afigura vindo justamente do Leste: Berlim, desde
os Bloqueios de 1948, passou a despontar como o grande
problema da região, um preocupante centro de instabilidades,
senão práticas, ao menos diplomáticas. Nesse sentido, a
criação da OTAN e os diversos acordos militares, bem como a
incorporação da Alemanha Ocidental ao bloco, agem como meios
de intimidação e defesa contra qualquer gesto soviético que
11
pareça fora de tom - todavia, os últimos acontecimentos
parecem negar a garantia de qualquer posição segura.
2
Denominação aqui empregada de maneira abrangente, englobando todos os países
europeus atrás da Cortina de Ferro.
12
Desde o tempo da ocupação quadripartite 3, em que se deu
o Bloqueio de Berlim, ambos os lados lutaram por soluções que
pusessem fim aos contratempos relativos à cidade,
reivindicando inclusive, à certa altura, a reunificação e a
neutralidade como únicos meios para evitar tragédias.
Entretanto, as divergências quanto às propostas e meios, a
morte do líder soviético, Stalin, em 1953, e os recentes
desenvolvimentos na política internacional arruinaram os
esforços nesse sentido.
A vitória de Khrushchev no turbulento processo de
sucessão da liderança soviética trouxe novos ares ao
Kremlin4, marcando o início de uma nova era. Convencido do
poderio militar em suas mãos, inclusive nuclear, com a
recente detonação da bomba de hidrogênio, ele se sentiu
seguro para pôr em prática uma espécie de leve abertura após
anos de repressão e centralismo, que ficou conhecida como
“degelo”.
Internamente, recursos antes empenhados na indústria
bélica foram desviados para a agricultura e produção de bens
de consumo e a censura oficial foi reduzida. Empreende-se,
ainda, um forte combate ao “culto à personalidade” de Stalin,
denunciando-se os excessos de sua administração e desmontando
a figura cuidadosamente criada ao longo de décadas.
É um período de alívio para muitos, especialmente nas
artes, nas quais se vê o declínio do Realismo socialista, com
sua exaltação da grandiosidade do Estado e de seus ícones.
Por sua vez, observa-se o surgimento de novas expressões,
associadas principalmente ao renascimento do cinema e da
3
Referente à divisão da Alemanha, no Pós II Guerra Mundial, em quatro áreas
ocupadas pelos Estados Unidos, França, Reino Unido e União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas.
4
Sede do Partido Comunista da União Soviética. Nomenclatura usada para se
referir à cúpula mais alta do processo decisório da URSS.
13
literatura, com uma maior preocupação por temas que tratem do
cotidiano e da intimidade dos indivíduos.
Nos países satélites à URSS, tais mudanças também têm
provocado efeitos. Forçado ao estilo soviético durante os
anos de stalinismo, o Leste Europeu se viu mergulhado em um
obscuro cenário de repressão e domínio autoritário. Com a
chegada dos tempos de flexibilização, protestos contra o
governo de Moscou começaram a estourar e vozes modernizadoras
tornaram-se uma constante dor de cabeça para os partidos
comunistas locais. Em 1956, a revolta de Poznań, na Polônia,
e a Revolução Húngara chocaram o mundo tanto por suas idéias
reformadoras e ousadas quanto por suas sangrentas repressões.
Os tempos pareciam estar mudando, mas nem tanto.
Se há focos de dissidência por um lado, por outro o
esforço para manter a coesão é enorme. Formado em 1955, o
Pacto de Varsóvia foi uma resposta à incorporação da Alemanha
Ocidental à recém-criada OTAN e sua função não tem se
limitado somente à defesa comum perante um inimigo externo,
mas também à contenção de revoltas internas e à manutenção
institucional do regime comunista no Leste Europeu.
Para isso, Khrushchev também não tem aberto mão de uma
reaproximação com os países capitalistas ou não-alinhados –
exemplos disso são a desocupação da Áustria, o reatamento de
relações com a Iugoslávia e a participação na Conferência de
Genebra de 1955. Porém, há uma área em que as rivalidades só
crescem: o lançamento do Sputnik, em 1957, desencadeou uma
inusitada corrida aeroespacial e acirrou as tensões entre as
duas superpotências.
Atualmente, o cenário é de desconfiança geral. O
abrandamento nas relações diplomáticas parece ter dado bons
resultados, mas nada que tenha ido muito além de apertos de
mão e cláusulas superficiais.
14
A realidade mostra uma escalada de tensões envolvendo
Berlim: a fuga de trabalhadores para a Alemanha Ocidental e o
medo de uma nuclearização da mesma são elementos explosivos
em uma região já conturbada. Cada vez mais, a posição do
Kremlin torna-se crucial para a definição do futuro.
15
compreendidas como ameaças à paz e à segurança internacional
como um todo; (2) a dissuasão e supressão da agressão de um
Estado contra outro devem ser feitas pela agregação de
recursos de poder que se contraponham ao agressor.
É nesta primeira idéia que o arranjo de segurança
coletiva difere da aliança militar. Enquanto as alianças
militares se dirigem a um inimigo estabelecido – e obviamente
excluído da aliança mencionada - o sistema de segurança
coletiva não discrimina um agressor específico e o identifica
por sua condição de agressor. Desta forma, as alianças são
temporárias e relativas a uma ameaça específica. Por sua vez,
arranjos de segurança se pretendem duradouros.
Veremos que no caso da OTAN e do Pacto isso funcionará
de um modo mais específico, no sentido de que ambos têm por
base a noção de segurança coletiva – ou autodefesa coletiva -
regional, delimitando uma área geográfica de atuação.
2.1) OTAN
Histórico da OTAN
16
Visando conter a desintegração da Europa e o subseqüente
avanço socialista, as tropas norte-americanas retrocederam
cautelosa e gradativamente após o fim das hostilidades,
mantendo, entretanto, diversas unidades em determinadas
locações. Assim nascia o comprometimento norte-americano com
a segurança a longo prazo da Europa Ocidental.
A partir de então, a promoção da estabilidade no
continente europeu se daria, grosso modo, em duas vertentes 5:
(1) Econômica, que seria diluída entre as várias iniciativas
de auxílio direto (ex. Plano Marshall), as instituições do
sistema de Bretton Woods6 e os acordos de livre comércio e
cooperação econômica que se proliferam entre os países da
Europa Ocidental; e (2) Político-militar, da qual a OTAN
seria emblema máximo7 do bloco capitalista.
Fundada em 4 de abril de 1949, por meio do Tratado do
Atlântico Norte8, a Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN) era composta, inicialmente, por doze países: Bélgica,
Canadá, Dinamarca, Estados Unidos da América, França,
Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Países Baixos,
Portugal e Reino Unido. Em 1952, Grécia e Turquia acederam à
OTAN, substituindo as garantias britânicas pelas americanas9,
seguidos pela República Federal Alemã, em 1955.
A acessão da Alemanha Ocidental à OTAN incitou reações
negativas por parte de países de ambos os lados da Cortina de
5
Estas são intimamente conectadas. A complementaridade entre ambas pode ser
identificada na Carta da OTAN, onde fica determinado que: “As Partes esforçar-
se-ão por eliminar qualquer oposição entre as suas políticas econômicas
internacionais e encorajarão a colaboração econômica entre cada uma delas ou
entre todas” (Tratado do Atlântico Norte, Art. 2).
6
Instituições internacionais criadas a partir da Conferência de Bretton Woods
(1944). Aqui, nos referimos, especialmente, ao Banco Mundial e Fundo Monetário
Internacional
7
As iniciativas européias na área de segurança tais como a União da Europa
Ocidental (WEU, na sigla em inglês), devem ser entendidas não como organizações
autônomas, mas como pilares europeus de um arranjo de cooperação
transatlântico. Ver Souza e Fernandes 2002.
8
Também conhecido como Tratado de Washington.
9
Cf. Kennedy, 1989.
17
Ferro. Os soviéticos e seus aliados a viam como um atentado à
sua segurança e à ordem estabelecida no pós-guerra. Os
franceses temiam, como de costume, o rearmamento alemão, que
já havia recomeçado desde o final dos anos 40 mas agora
parecia se consolidar e transgredir um espaço de liderança
até então francesa. A URSS havia se candidatado ainda em 1954
à acessão e teve seu pedido prontamente recusado por EUA e
Reino Unido.
A OTAN tem por objetivo, em sua concepção, transcender a
fragilidade das alianças tradicionais10. Neste sentido, a
Carta da OTAN, em conformidade com os princípios acordados na
Carta da ONU - especialmente nos seus artigos 51 e 53 -,
estabelece um arranjo de segurança coletiva regional, que
pode ser acionado em caso de um ataque a qualquer um de seus
membros.
Este arranjo de forças tem por intenção dissuadir
potenciais agressores, salvaguardando assim a “integridade
territorial, a autonomia política e a segurança”11 dos
Estados-membros.
10
Ver Morgenthau, 1973 e Von Brentano, 1961.
11
Tratado do Atlântico Norte, Art. 4
18
O Conselho do Atlântico Norte (CAN) é o órgão
deliberativo supremo dessa instituição, pois é responsável
pela implementação do Tratado do Atlântico Norte. Seus
princípios mais importantes são:
19
Por sua vez, o Comitê de Defesa realiza estudos e cria
estratégias na área mais importante da OTAN, a segurança.
Para isso, age pela unificação dos sistemas de defesa
nacional e pela ajuda mútua entre as partes. Ele deve
realizar pesquisas e ações militares, de acordo com as
diretrizes formuladas pelo CAN. Os representantes nesse
comitê são os ministros da defesa dos países membros.
O Comitê Militar é subordinado ao Comitê de Defesa e se
ocupa de:
20
da França e um representante do Reino Unido. Suas atividades
perduram o ano inteiro.
Além desses, existem outros órgãos, subordinados ao CAN
a ao Comitê de Defesa. Eles ajudam na parte burocrática e
administrativa da OTAN, na política econômica, na unidade
não-militar entre os membros e no desenvolvimento de
pesquisas científicas e políticas nucleares.
21
durante a primeira Crise de Berlim, em 1948, quando este país
serviu de trampolim para o abastecimento aéreo da cidade sob
o cerco soviético.
Da mesma forma, observa-se no presente momento uma
grande importância dos Estados europeus na negociação e na
resolução da crise que assola o coração da Europa.
22
O modo como os dois blocos se relacionam e o papel
desempenhado pela ONU, real ou simbólico, nas questões de
segurança ficam mais claros ao analisarmos dois casos
recentes. O ano de 1956 é reconhecido como um dos mais
importantes desde o final da II Guerra Mundial. Duas crises
impactaram diretamente atores importantes dentro do cenário
internacional. De um lado os soviéticos enfrentaram
resistências na Hungria, de outro os franceses e os
britânicos sofreram para resguardar seus interesses no Canal
de Suez.
Se por um lado é inegável o fato da ONU ter exercido um
papel secundário, os integrantes do Pacto de Varsóvia e da
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) foram atores
essenciais nos dois conflitos.
Os dois lados trocaram acusações sobre a participação e
fomento dos nacionalismos húngaro e egípcio. De acordo com o
governo soviético, todos os acontecimentos ocorridos em
território húngaro no final de 1956 se deram a partir de
iniciativas das potências imperialistas, visando expandir
suas mazelas para a Europa Oriental.
Os acusados negaram sua participação nas referidas
ações, mas exaltaram a necessidade de respeitar a vontade do
povo da Hungria em seu desejo por democracia e liberdade, se
colocando a disposição do governo de Nagy para garantir tais
preceitos.
Por sua vez, os governos francês e inglês repudiaram com
veemência o apoio dado pelo governo soviético ao Presidente
Nasser em sua tentativa de nacionalizar o Canal de Suez. O
Kremlin, ao se referir à participação soviética na questão,
apenas indicou que tratados bilaterais de cooperação são uma
prática recorrente nas relações entre Estados e que apoiar o
23
desejo do povo egípcio de resguardar sua soberania era uma
forma de garantir o pleno respeito à Carta da ONU.
A participação das Nações Unidas se restringiu à
convocação do Conselho de Segurança por parte dos Estados
Unidos, Reino Unido, França e União Soviética. Em seu
requerimento, os governos pediram atenção às situações que se
desenrolavam em Budapeste e Suez.
A simples indicação de que tais temas seriam alvo de
discussão pela Comunidade Internacional foi motivo de
contestação pelas partes envolvidas. Ambos os episódios
serviram para conturbar ainda mais a difícil relação entre as
potências, algo que ficaria mais claro a partir da
intolerância entre as decisões tomadas pelos controladores de
Berlim.
2.2.)Pacto de Varsóvia
Histórico do Pacto
24
expansão da OTAN, que admitiria, por um lado, a entrada da
RFA15 no bloco, mas contaria, por outro, com novos membros,
entre eles, a própria URSS.
A derrocada de tal proposta foi evidente e o avanço nas
negociações internas do lado capitalista não deixou
alternativa aos dirigentes comunistas a não ser a formação de
uma união própria. Dessa maneira, a URSS chegou a um momento
de decisão quanto aos rumos a serem tomados quando da
conclusão do movimento, encabeçado pelos Estados Unidos, para
a inclusão da República Federal Alemã na OTAN.
De acordo com os Acordos de Paris de 23 de Outubro de
1954, a data limite para aceitação da Alemanha Ocidental
seria o dia 5 de maio de 1955. Em antecipação a isto,
Khrushchev mobilizou uma reunião para o dia 21 de março, em
que se discutiu a criação de uma aliança comunista. Essa
manobra causou forte repercussão e abriu caminho para tornar
definitiva a divisão européia, dessa vez em duas organizações
de segurança coletiva opostas.
Dessa forma, a intenção do Kremlin de oferecer uma
resposta concreta aos eventos que se desenrolavam veio a
público em 21 de março de 1955 e, enfim, em 14 de maio do
mesmo ano, constituiu-se o Pacto de Varsóvia. A alegação era
clara: a remilitarização da Alemanha Ocidental e sua
incorporação à Organização Atlântica representavam um patente
risco à segurança dos países do leste e uma real ameaça à paz
européia.
Assim, referendou-se o Pacto de Varsóvia: o compromisso
do bloco socialista de ajuda mútua em caso de agressão a um
de seus membros. Por signatários do Pacto temos a República
Democrática Alemã, a República Popular da Albânia, a
República Popular da Bulgária, a República Popular Húngara, a
15
República Federal Alemã ou Alemanha Ocidental.
25
República Popular Polonesa, a República Popular Romena, a
República da Tchecoslováquia e a União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas.
16
Contração do russo Politicheskoe Byuro, que designa o órgão maior para decisões
políticas e governamentais do alto escalão do Partido Comunista da União
Soviética.
26
1) Comitê Consultivo Político (CCP). É o principal órgão
político da Organização, composto por ministros de Relações
Exteriores dos Estados signatários.
O CCP funciona através de seus dois subcomitês: O
Secretariado Conjunto (SC) e a Comissão Permanente (CP).
Ambos têm caráter de gerenciamento e são ocupados por
funcionários dos Estados signatários.
Além desses dois órgãos, existem comitês específicos,
subordinados ao CCP, para análise de diversas questões
militares, como o Comitê dos Ministros da Defesa e o Comando
Militar Conjunto das Forças do Pacto de Varsóvia.
A estrutura do CCP funciona tanto em tempos de guerra
quanto em tempos de paz, uma vez que é esse Comitê o
responsável final pelas decisões políticas da Organização e
pela aprovação dos planos de ação propostos pelos comitês
subsidiários.
Apesar disso, o caráter do CCP não é permanente, seus
encontros são agendados por solicitação de seus membros. A
maioria das reuniões do CCP realiza-se em Moscou, junto à
sede, entretanto, é possível que em algumas ocasiões elas
ocorram em outros Estados-membros.
27
Por mais que tenham escopos de atuação distintos, é
possível que em uma mesma reunião ocorra a junção de ambos os
comitês centrais. Isso acontece quando há uma situação de
gravidade excepcional. O CCP se reúne em caráter emergencial
e em formato ad hoc. Nesse formato passa a ser composto por
delegações formadas pelo Ministro das Relações Exteriores e o
Ministro da Defesa ou Chefe do Estado-Maior de cada Estado-
membro.
17
Termo pelo qual se referem os regimes socialistas aliados à URSS.
28
Internacional Camponesa, Internacional Desportiva Vermelha,
entre outros), com o objetivo de criar uma confederação de
repúblicas socialistas que servisse de estágio transitório
para o pleno comunismo e a abolição dos Estados nacionais.
Por fim, ainda é possível perceber uma última esfera de
união entre os membros do bloco socialista que se dava por
meio do Bureau de Informação dos Partidos Comunistas e dos
Trabalhadores, denominado COMINFORM. O objetivo desse
mecanismo era assumir a lacuna deixada pela dissolução do
COMINTERN em 1943 e reunir Partidos Socialistas e dos
Trabalhadores dos mais diversos países de maneira a coordenar
as ações entre eles sob a orientação soviética.
O Bureau acabou se tornando uma ferramenta política da
URSS cujas determinações surtiram conseqüências em diversas
partes do mundo até o ano de 1956, quando da reaproximação da
URSS com a Iugoslávia e da dissolução do COMINFORM.
Apesar da existência desses mecanismos, não havia até
1955 nenhuma organização que unisse por meio da cooperação
militar os países do bloco socialista e que se contrapusesse
ao papel que a OTAN desempenhava na segurança coletiva dos
países do bloco ocidental.
29
Os revolucionários assumiram o poder e ameaçaram a saída
da Hungria do Pacto, ao mesmo tempo em que requisitaram o
auxílio das Nações Unidas na resolução da controvérsia com a
União Soviética.
Rapidamente o exército vermelho conseguiu conter a
revolta húngara e restabelecer o regime socialista vinculado
à URSS na Hungria. Por sua vez, a representação da URSS no
Conselho de Segurança conseguiu afastar a interferência da
Organização na questão.
Esse episódio demonstra claramente a enorme influência
do governo soviético nas ações do Pacto de Varsóvia. Na mesma
medida, ilustra o caráter autonomista do bloco socialista em
relação às Nações Unidas, negando qualquer tipo de
interferência por parte da mesma em assuntos que envolvam a
esfera de influência soviética.
3) Histórico do Tema
30
primeiro passo para a fundação dessa nova ordem. Nesta
Conferência foram apresentados diversos planos para a
estruturação de uma nova Organização Internacional que
sucederia a falida Liga das Nações e abriram-se então
caminhos para uma série de negociações subseqüentes.
Outra importante reunião foi a Conferência de Londres,
de 1944, desta vez reunindo apenas as três primeiras
potências. Seu principal objetivo era definir as linhas
iniciais para a futura administração da Alemanha, além de
estabelecer políticas sobre o controle territorial da mesma.
Berlim, a maior capital européia em extensão na época,
recebeu um tratamento especial devido não só a sua
importância estratégica mas também à influência emocional que
exercia: dela surgiram as forças que, por duas vezes,
desestabilizaram o mundo.
A proposta apresentada por Clement Attlee, então vice-
Primeiro Ministro britânico, acabou por ser acatada: o país
seria dividido em três zonas de influência, sob o comando de
cada uma das potências; Berlim, por sua vez, ainda que dentro
da zona de comando soviética, seria repartida em duas zonas
de influência, sob a administração conjunta dos aliados.
Posteriormente, de julho a agosto de 1945, após a
rendição incondicional das tropas nazistas (ocorrida no dia 4
de maio do mesmo ano), foi realizada a Conferência de
Potsdam, com o objetivo principal de definir os rumos da
Alemanha. Participaram da reunião os líderes das quatro
potências e da França e nela foram estabelecidos os
princípios e procedimentos a serem seguidos na ocupação. É
importante lembrar que a queda de Berlim deu-se,
exclusivamente, pela força do exército vermelho, que nela
ainda permanecia.
31
Com isso em mente, os aliados definiram alguns
princípios políticos e econômicos para a ocupação, dentre os
mais importantes os seguintes18:
A autoridade suprema sobre o controle da Alemanha
estaria a cargo dos comandantes–em–chefe das forças
armadas dos Estados Unidos, da URSS e do Reino Unido19 em
suas respectivas zonas de ocupação, isoladamente, ou em
conjunto quando determinada decisão fosse referente à
Alemanha como um todo.
Esse órgão conjunto foi denominado Conselho de Controle
Aliado, no qual toda decisão deveria ser tomada em
consenso, conferindo a cada um dos comandantes poder de
veto.
Berlim, geograficamente um enclave em território de
controle soviético, mas juridicamente não inclusa em
nenhuma das zonas, seria governada por uma Kommandatura20
Aliada, que responderia diretamente ao Conselho de
Controle Aliado.
18
As disposições completas sobre a Conferência podem ser acessadas em:
http://www.ena.lu/europe/pioneering/proceedings-potsdam-conference-berlin-
1945.htm
19
A França seria adicionada como potência ocupante em Yalta. Sua zona de
ocupação foi criada a partir de partes das zonas inglesa e americana.
20
Órgão executivo, dotado de autonomia administrativas limitada, composto
pelos comandantes das quatro zonas. A presidência da Kommandatura é rotativa.
32
A reconstrução da estrutura política da Alemanha
baseada em princípios democráticos;
As potências ocupantes teriam o direito de extrair
recursos do território alemão que garantissem o
pagamento das indenizações de guerra. Isto deveria
ser feito de forma comedida, a fim de evitar uma
nova crise econômica.
21
Fonte: http://germanhistorydocs.ghi-dc.org/maplist.cfm?section_id=14
33
Mapa de Berlim. Setores francês (azul), inglês (laranja), americano
(verde) e soviético (rosa).
22
Refere-se à aliança militar formada durante a II Guerra Mundial em que
americanos e russos lutaram contra o eixo, em especial contra a Alemanha
Nazista.
34
"De Stettin, no Báltico, até Trieste, no
Adriático, uma cortina de ferro desceu sobre o
continente. Atrás dessa linha estão todas as capitais
dos antigos Estados da Europa Central e Oriental.
Varsóvia, Berlim, Praga, Viena, Budapeste, Belgrado,
Bucareste e Sofia; todas essas cidades famosas e as
populações em torno delas estão no que devo chamar de
esfera soviética, e todas estão sujeitas, de uma forma
ou de outra, não somente à influência soviética, mas
também a fortes, e em certos casos crescentes, medidas
de controle de Moscou."
(Winston Churchill, Fulton, Missouri, 1946.)
23
A denominação, de caráter pejorativo, faz analogia aos cordões sanitários
estabelecidos para impedir a proliferação de doenças e de animais portadores
das mesmas.
24
Expressão utilizada para denominar um governo socialista fortemente apoiado
pela URSS e marcado pela forte centralização estatal e pela ampla burocracia.
35
para quase todo o Leste Europeu. Exemplos são a Polônia
(1945), a Albânia e a Bulgária (1946), a Romênia (1947), a
Hungria (1949) e a própria Alemanha Oriental. A grande
exceção, nesse sentido, foi a Iuguslávia que, sob o comando
de Josip Broz Tito, resistiu às investidas alemãs durante o
conflito sem o apoio direto do Exército Vermelho. Apesar de
Tito ter estabelecido um governo socialista, logo rompeu com
Stalin, chegando a receber investimentos do Plano Marshall.
Passo semelhante foi dado pelo líder do que se tornaria
o bloco capitalista: o presidente americano Harry S. Truman
anuncia, já em 1947, a criação de planos de ajuda econômica
aos Estados europeus e asiáticos, respectivamente,
denominados Plano Marshall e Plano Colombo. O intuito seria
ao mesmo tempo prover ajuda para a reconstrução daqueles
países e mantê-los sob a zona de influência ocidental-
capitalista.
De sua parte, a URSS, ainda sob a presidência de Josef
Stalin, lançou mão de um plano de ajuda econômica aos países
da Europa Oriental (à exceção da Iuguslávia) em 1949, dentro
da denominação COMECON25.
As divergências entre as então aliadas superpotências,
entretanto, só passaram a ficar evidentes com o primeiro
cenário conflituoso no qual as posições se tornaram realmente
antagônicas e inconciliáveis: o Bloqueio de Berlim de 1948.
Desde o fim da Guerra o lado ocidental da Alemanha
vinha experimentando uma séria crise econômica que envolvia,
entre outros fatores, a falta de liquidez26 e a inflação.
Visando à solução dessa crise e também ao fortalecimento do
Estado alemão, a fim de que o mesmo pudesse resistir a
possíveis investidas da URSS, Estados Unidos e Reino Unido
fundiram suas respectivas zonas de ocupação em setembro 1946.
25
Ver página 28 acima.
26
Falta de dinheiro e crédito no mercado econômico.
36
A nova área tornou-se conhecida como “Bi-Zona” e seria
administrada por ambos os países em uma estrutura política e
econômica comum. A França, que controlava outra parte do
território ocidental alemão, opôs-se a uma união em um
primeiro momento, alegando que isso fortaleceria a Alemanha e
que poderia resultar no reaparecimento da ameaça militar da
Segunda Guerra.
Os quatro países, então, tentaram por duas vezes
solucionar o impasse - em Moscou (Março/Abril 1947) e Londres
(novembro 1947)- até que, no começo de 1948, os aliados
ocidentais realizaram uma reunião em Londres, junto com a
Bélgica, os Países Baixos e Luxemburgo.
Nessa conferência foram tomadas três decisões
importantes:
37
conjunta da Criméia, de 1945, quanto nos de Potsdam, ao não
tratar a Alemanha como unidade econômica.
No fim daquele mês, os limites de Berlim Ocidental
foram interditados pelos soviético e o tráfego dos veículos
entre Berlim e as zonas ocidentais de ocupação foi proibido.
No meio de abril, forças militares americanas e britânicas
tiveram que deixar, respectivamente, Weimar e Magdeburg.
O derradeiro movimento foi dado em resposta ao
estabelecimento, de fato, do Marco alemão: em 24 de junho de
1948 os soviéticos interditaram todos os acessos a Berlim.
A URSS adquirira a responsabilidade - tácita, senão
explícita - de salvaguardar o direito de acesso dos demais
ocupantes à cidade. Essa responsabilidade, no entanto, se
pautava fundamentalmente sobre o direito de conquista e
arranjos ambíguos com as autoridades soviéticas27.
Essa lacuna teria servido a Stalin de pretexto para
instaurar em 1948 um bloqueio às vias de acesso terrestre. A
superação do bloqueio pelas forças ocidentais se deu por meio
de um massivo “airlift”28 comandado pelo General Lucius D.
Clay pelos três corredores aéreos que ligavam Berlim à
Alemanha Ocidental.
Após um ano o bloqueio teria fim, porém o status legal
da cidade prosseguiria indefinido. Esta ambigüidade seria uma
das grandes causas permissivas da presente crise29 na
Alemanha, somada à vulnerabilidade estratégica da “ilha
ocidental”, que se agravaria conforme o passar do tempo. As
crescentes necessidades materiais geradas pelo milagre alemão
da década de 50 impossibilitavam a reprodução do airlift de
1948-49.
27
Ver Speier, 1961.
28
Operação de transporte aéreo. Pode ser traduzido como ponte áerea, apesar da
conotação civil desta.
29
Cf. Wright, 1961.
38
Além de representar o primeiro sinal mais sério de
tensão entre as superpotências, o final do Bloqueio teve como
principal conseqüência o surgimento de dois novos países: a
República Federal Alemã (RFA ou Alemanha Ocidental, sob
influência direta dos aliados do ocidente) e a República
Democrática Alemã (RDA ou Alemanha Oriental, sob influência
da URSS).
39
superpotências pode evitar a reincidência de crises dentro e
fora da Europa.
30
Tal Comissão foi criada por meio da Resolução 112(II) da Assembléia Geral, da
qual se ausentaram do processo de votação a RSS Bielorússia, Tchecoslováquia,
Polônia, Ucrânia, URSS e Iugoslávia. A ausência deu-se sob a alegação de que a
discussão pela Assembléia desse tópico, sem permitir a presença de
representantes coreanos, contrariava os preceitos da Carta das Nações Unidas.
40
primeiro ministro e em 9 de setembro do mesmo ano foi
proclamada a República Popular da Coréia.
Quaisquer aparências democráticas, no entanto, são
enganosas. Ambos Rhee e Kim atuariam como figuras
autoritárias e centralizadoras.
Em 24 de junho de 1950, forças norte-coreanas atacaram o
território da República da Coréia, ao que o comando norte-
americano respondeu, no dia seguinte, com o comprometimento
de forças aeronavais e reforços materiais às forças sul-
coreanas. Horas depois, mas ainda no dia 25 graças à
diferença de fuso-horário, a delegação americana apresentou
ao Conselho de Segurança das Nações Unidas um projeto de
resolução que repudiava e reconhecia como agressão o ataque
norte-coreano e pedia por cessar-fogo e retirada das tropas
norte-corenas ao sul do Paralelo 38.
A resolução foi aprovada sem grandes modificações ao
texto original, o que foi possível apenas devido à ausência
da delegação soviética, que havia se retirado em janeiro do
mesmo ano em protesto pelo não-reconhecimento da República
Popular da China e da manutenção do governo nacionalista do
Generalíssimo Chiang Kai-shek (agora radicado em Formosa)
como membro da ONU. O mesmo se daria nas resoluções
seguintes. Esta experiência não se repetiria.
Em 27 de junho foi aprovada resolução autorizando
resposta militar em auxílio à República da Coréia. Seguindo
esta deixa, os EUA destacariam forças terrestres (que apenas
dariam continuidade ao auxílio que ja vinha sido prestado
desde o dia 24), a serem complementadas pelas tropas aliadas
– como estabelecido na resolução seguinte do dia 7 de julho
-, tendo como comandante o herói de guerra da Segunda Guerra
Mundial, General Douglas MacArthur.
41
A guerra se desenrolaria por 3 anos e seria marcada por
avanços, retrocessos e perdas consideráveis de ambos os
lados, sendo um dos maiores reveses devido à entrada chinesa
na guerra. Enquanto a participação chinesa seria aberta, os
soviéticos seriam mais cautelosos, fornecendo treinamento e
suprimentos às tropas comunistas.
A partir de 1951 a guerra tomou novo rumo. O início de
negociações de cessação de hostilidades levou a um prolongado
e extenuante impasse no conflito, que custaria ao General
MacArtur sua posição (este seria substituído pelo General
Matthew Ridgeway, que em 1952 substituiria o Gen. Eisenhower
como SACEUR31) e ao Presidente norte-americano Harry Truman
sua popularidade e apoio no congresso32.
A Guerra da Coréia teve significado especial, pois
ressaltou a possibilidade, antes rejeitada, de uma “guerra
limitada”33 em um ambiente internacional nuclearizado. A
sombra desta possibilidade passaria a assombrar os países
europeus, até então certos da improbabilidade do conflito no
continente. Por outro lado, a guerra demonstrou a preocupação
incessante das superpotências de evitar confronto direto,
ainda que operando, direta ou indiretamente num mesmo teatro
de guerra.
31
Supremo Comandante Aliado da Europa. É o cargo responsável pelo Comando Aliado
de Operações da OTAN.
32
O Congresso não fora consultado sobre a entrada do país no conflito. Ver
Brodie, 1973
33
Prevalecia na época a noção de que uma guerra moderna seria inevitavelmente
travada nos moldes das guerras mundiais da primeira metade do século, que
podemos chamar de “guerras totais” ou “guerras gerais”.
42
Em 1953, com a morte de Stalin, Nikita Khrushchev foi
alçado ao cargo de Secretário Geral do Partido Comunista da
União Soviética, após uma ferrenha disputa com seus
adversários. Destarte, seu posicionamento interno e externo
causou muita polêmica, revelando um pouco do que poderia
ainda estar por vir: ele optou por um revisionismo da
história da Revolução Russa, da qual nomes como o de Leon
Trotsky haviam sido apagados, e deu início a um ferrenho
movimento de “desestalinização”.
Além disso, já em 1956, no 20º Congresso do PCUS 34,
afirmou que a União Soviética deveria ter uma postura menos
belicosa diante dos EUA, propondo, alternativamente, a
coexistência pacífica entre os dois sistemas sociais.35
Em 1957, a URSS realizou o lançamento do primeiro
satélite artificial da história: o Sputnik. Khrushchev estava
convencido de que os avanços científicos soviéticos
demonstravam a superioridade do socialismo em relação ao
capitalismo e que seria uma questão de tempo até que, também
no campo econômico e militar, os soviéticos ultrapassassem o
“mundo livre”.
Enquanto isso, e desde o bloqueio de 1948, a cidade de
Berlim crescia econômica e industrialmente de forma que, no
caso de um novo bloqueio, a guarnição por via aérea, como na
primeira crise, não seria suficiente para atender as
necessidades da cidade.
Isso causava uma grande apreensão por parte dos aliados
ocidentais uma vez que à época da primeira crise não houve
uma renegociação efetiva em relação aos termos do acesso
terrestre à cidade. Na verdade, todo o tráfego ainda era
submetido à inspeção de postos de controle soviéticos, o que
deixava a cidade altamente vulnerável a um novo bloqueio.
34
Partido Comunista da União Soviética
35
Cf. Khrushchev 1959, e Kennan 1960.
43
Além disso, o desenvolvimento econômico da parte
ocidental, a ausência de oportunidades de emprego e a crise
econômica acirrada pela cobrança de reparações de guerra e
pelas políticas sociais e empregatícias do governo Ulbricht
no lado oriental, somados à facilidade de locomoção entre as
duas áreas, resultava em grande fluxo de pessoas do primeiro
para o último setor. Tamanho era o fluxo que as autoridades
soviéticas temiam que, em pouco tempo, o “paraíso dos
trabalhadores”, como era conhecido o lado oriental da cidade,
se tornasse uma região sem força de trabalho.
A migração em massa de um ponto ao outro pode ser
descrito como um grande buraco na Cortina de Ferro. Previa-
se, de maneira bastante realista, um possível colapso do
Estado em questão de poucos anos, o que poderia acarretar uma
derrota moral da URSS e de todo o bloco socialista e um
grande golpe para a esfera de influência da superpotência. A
saída, previa Khrushchev, seria o isolamento da RFA.
Dentro da ótica soviética de uma mudança no equilíbrio
de forças, tendendo positivamente para o lado socialista,
Khrushchev busca transformar essa percepção em algo prático,
utilizando-se do ponto fraco do ocidente: Berlim.
Em 10 de novembro desse ano, ele profere um discurso
exigindo o fim da divisão da cidade, avisando que irá
entregar o controle de sua parte da cidade ao governo alemão-
ocidental.
Logo depois, no dia 27 do mesmo mês, declara nulo o
acordo das quatro potências sobre Berlim e afirma que, caso
não haja, por parte das outras potências ocupantes, um
acordo acerca da unificação da cidade e sua transformação em
uma área desmilitarizada, a URSS assinará um tratado de paz
em separado com a RDA, transferindo àquele governo os
direitos de ocupação e de controle sobre as rotas de acesso.
44
Era, na prática, um ultimato às potências ocidentais,
que dentre tantas conseqüências possíveis pode, enfim,
provocar a completa desestabilização do status quo europeu
ora vigente.
1950
45
teve apoio da URSS, que não se fez presente na reunião
em protesto contra a não admissão da China de Mao na
ONU.
1951
46
1952
47
1953
1954
48
18 de março: O governo eleito de esquerda na Guatemala é
derrubado por um golpe dado por um bloco de direitistas.
Uma guerra de guerrilha se instala no país.
1955
49
24 de fevereiro: O Pacto de Bagdá é assinado por Irã,
Iraque, Paquistão, Turquia e Reino Unido. O objetivo é a
contenção dos avanço comunistas sobre o Oriente Médio.
1956
50
23 de outubro: Estoura a Revolução Húngara.
1957
51
1958
52
25 de fevereiro: Bertrand Russell, o influente filósofo
e escritor lança uma campanha pelo desarmamento nuclear
total.
53
16 de junho: Imre Nagy, político húngaro não simpático
aos soviéticos, eleito premiê durante a Revolução
Húngara de 1956, é enforcado sob acusações de alta
traição.
54
superior. Foram os primeiros foguetes alemães a serem
produzidos no pós-guerra.
55
3 de novembro: A UNESCO (Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura) inaugura sua
sede em Paris.
Bibliografia:
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