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º 6 a
10. São Paulo, 1879. Biblioteca Central da PUCRS. Coleção Pessoal Júlio Petersen.
Publicação editada em São Paulo quando os autores eram estudantes na Faculdade de Direito
de São Paulo.
Assis Brazil
Anno f S. P a u l o , S O d e J u n h o d e 1 8 7 ! »
Em falta da lógica, vale-se das subtilezas meta- Luctemos por essa transformação radical.
phvsicas; em falta do relativo, agarra-se ao absoluto ; Mas—o abysmo attrahe o abysmo ; o absurdo
em falta da realidade, appella para a ficção. apoia-se sobre o absurdo ; o monstro resiste.
A ficção ê a aguia protectora debaixo de ciyas O peior cégo é o que não quer vêr.
azas se aninham as sociedades, os povos, as nações Abramos-lhe, pois, os olhos, fazendo-o sentir de
que não se fundam em sua própria natureza, que não perto o calor do fecho ardente da Revolução.
vêm da verdade.
A . B.
.4 ficção está no fundamento, está nos meios,
está nos fins das monarchias constitucionaes-repre-
sentativas, como de todas as monstruosidades so-
ciologicas.
Esta verdade, que a indagação philosophica, que Parce sepultis!
a inflexibilidade da lógica, que a argumentação no
terreno dos princípios — ahi deixaram claramente A Vanguarda suspendeu a sua publicação.
demonstrada, não se torna menos evidente a quem, E, como não seria leal, nem generoso, espingar-
descendo ao terreno da pratica, mais de perto com- dear o inimigo que se retira bruscamente da arena
pulsar e vereficar os factos. do combate, a Evolução depõe as armas que appare-
lhou para combatel-o até feril-o de morte, e retráe-se
ao silencio também.
Demais, inimigo que se retira, por causas su-
periores ou não, é inimigo morto, e os mortos tem
Este paiz é um exemplo vivo de taes monstruo-
á seu favor o Parce sepullis.
sidades.
Entretanto, a Evolução julga ser seu imperioso
0 vago e o indefinido estão em tudo, ern tudo
dever, que lhe é imposto pela dedicação com que
a hypothese gratuita, em tudo a concepção absoluta,
jurou servir á grande causa que svnthetisa o seu
a subtileza metaphysica, e, como remate da obra,—a
programma,—consignar aqui um facto bastante sig-
mentira grosseira. nificativo.
0 rei reina e não governa;
E' que d'esta vez, como sempre, o livre pensa-
0 rei rriria POR GRAÇA DE DEUS e U N A N I M E A C -
mento triumphou das irrisórias imposições do dogma
C L A M A Ç Ã O DOS P O V O S ;
e dos raios do fanatismo religioso; com a única dif-
O rei, INVIOLÁVEL E SAGRADO, E IMPECCA-
ferença, porém,—o que pouco importa—que a victoria
VEL;
agora foi alcançada, não pela lógica da Evolução, de
No rei, o individuo é absorvido pelo homem pu-
si reconhecidamente fraquíssima, mas pela força
blico ;
avassaladora e irresistível que leva em si a grande
0 rei tem LIBERDADE, mas não tem IMPUTABILI-
Verdade.
DADE : o rei é irresponsável, porque o rei não pôde
comnieíler crime.", e ainda que os commelta SUPPÕE-SE E' bom rememorar os tramites da discussão,
que não commetteu, porque desde seu começo.
O rei é uma FICÇÃO,—symbolisa a lei. A Vanguarda, para alliciar os espíritos que ainda
A Evolução detem-se aqui. não estão de todo desprendidos das ardilosas teias
Sem ir além da pessoa do monarcha, tronco de do catholicismo moderno e desilludidos dos seus
todos os ramos da arvore negra, resalta aos olhos grosseiros embustes, reputou insensata a proposição
de todos a confusão sobre que assenta o monstro. - d e que a Democracia moderna é inconciliável com
A Evolução o irá desapiedadamente dissecando, aquelle—, affirmando a perfeita possibilidade de har-
em posteriores artigos, e desde já se compromette monisal-os completamente.
a reduzir a pó todos esses falsos castellos de pape- Não podendo deixar passar sem, ao menos, um
lão, que produzem o riso nos homens sérios e -o es- protesto de sua parte, tão descommunal absurdo, a
panto nos parvos. Evolução observou ao periodico ultramontano: — si
para vós a Revolução é o horror, é a hydra sangui-
naria, é o inimigo capital que cumpre combater
com todas as armas e por todos os meios, e si a
O mal é da origem. Democracia moderna é innegavelmente o resultado
Uma sociedade que nasceu da vaciilação, 'nella custoso de todas essas ruidosas expansões sociaes
ha de viver, emquanto não fôr libertada pela verdade. que se têm succedido, umas ás outras, de todo esse
A arvore definha á falta de humus na raiz. complexo assombroso de forças que tem trabalhado
E é esta com certeza a causa primaria da anar- agitadamente o seio das sociedades, como pretendeis
chia que até hoje constitúe a norma 'neste paiz. collocal-a, a Democracia, em justo accordo com o
A nós a missão de restituir-lhe o vigor perdido, catholicismo, avaliado pelo que é hoje?
alentando-o e transformando-o. Si, por outro lado, vos declaraes sectários do
O mal é geral, contaminou o corpo inteiro; a Syllubus, que é a representação genuína do Passado
transformação deve ser completa. em toda a sua nudez impudente, não podeis abraçar
I3A EVOLUÇÃO
li N Democracia, que symbolisa o Futuro com todas HA xima lealdade n cavalheirismo, não o 6, entretanto,
I suas p-randezas. e por uma razão simplíssima :
INío ha conciliação possível. E' que os redactores d'est« periodico sabem muito
Affirmastes uma contradicção. bem que aos advoroarios fracos e desajudados de ló-
A essa ligeira observação, a Vanguarda replicou gica só pódo restar um de dois recurso», já muito
I contestando a filiação que a k'vnluçáo havia attlrmado» velhos c gastos :—ou encontraram offensa onde nfto
I e, como fundamento d'essa contestação, dettnio o quo a ha, para, sob este frivolo pretexto, retiraram-se da
I 6 Democracia, concluindo por consideral-a inimiga discussão ; ou, em carência de razões, buscaram pira
I da Revolução. arma a phrase áspera o insultuosa, para ver si d'este
A Evolução, depois de provar exhuberantemente modo triumpham do adversario, que não puderam
I que em frente da Historia ninguém em boa-fé ousará abater com brio o lealdade.
II negar que os princípios democráticos modernos se- A Vanguarda julgou mais eflicaz o segundo es-
I jain consequência de toda essa serie luminosa de tratagema, e executou-o respondendo á Evolução com
I acontecimentos — violentos ou pacíficos—que tôm im- doestos, satyras (?) ...e pilhérias calholicit. Catholi-
I pellido irresistivelmente a Humanidade para o seu eas, felizmente.
I continuo engrandecimento, — da própria definição Si Leão Bourroul, na. sua arrogancia vaidosa
I formulada pelo orgam ultraraontano deduzio o ab- de ser o triumphador em todas as discussões que
surdo em que elle laborava, — respondeu, — c aqui trava, pensa que d esta vez o foi, ha de permittir
hão de permittir os que tém acompanhado esta dis- que se lhe diga que acha-so em perfeito engano.
com o caracter politico do tribunal? Respondem—é Ora, isto só pôde ser dito seriamente—na China.
necessário não julgar a inquisição sob o ponto de « Preveniu muitas conflagrações c muitas guerras
vista do X I X século, que ella procede da concepção de religião » . '.
da media idade, segundo a qual toda a aberração re- Admittido, por um momento, este absurdo, como
previnio ? Trucidando os povos, aspliyxiando o pen-
ligiosa é um crime. Os defensores do Santo Offlcio
samento, amordaçando a consciência.
não reconhecem que acham-se em contradicçiSo. Se
Que o digam a França, a Hespanha, a Itália, a
a inquisição é uma instituição da media-idade ella é
Aliemaiilia e Portugal.
por isso mesmo estranha ao estado propriamento
dito, porque na epocha em que foi estabelecida
não havia ainda estado; não é pois esta uma policia Defendendo a Curia Romana do crime de perse-
politica, é uma policia ecclesiastica que tem por fim guições, movidas contra Galileu, diz, por fim, o re-
manter o domínio da igreja a ferro e fogo. Que i m - dactor da Vanguarda :
porta que depois disso os reis de Hespanha se tenham
« Eis o que se 16 no Mercure de 17 de Julho de
apoderado deste instrumento de tyrannia? Elie não
1784, numero 2 9 :
é menos catholico na sua origem e na sua essen-
« Felizmente está hoje provado pelas cartas de
cia » . (1)
Guichardin e do marquez Nicolini, embaixador de
Os papas, diz jactanciosamente o redactor da
Florença, ambos amigos e discípulos de Galileu, pe-
Vanguarda, intervieram, é verdade, na direcção da-
las cartas do proprio Galileu, que ha um século se
quelle tribunal; mas sempre com o fim de suavisar
tem enganado o publico sobre este f a c t o » .
a jurisdicção inquisitorial.
De suavisar ? Pois se ignora, aprenda ; mas não «. Este philosopho não foi perseguido como bom
com seu desconhecido amigo Prosperus : astronomo, mas como máu theologo » .
« Em 1215, Innocencio I I I celeboou o decimo Este ultimo período encerra evidentemente uma
concilio geral, que foi o quarto de Latrão, e abi fez accusação á igreja.
decretar com referencia aos heréticos do Languedoc : Por outro lado, Leão Bourroul não reflectio b e m j
1*. Que aquelles que forem condemnados pelos quando citou o nome de Nicolini e as cartas de Ga-
bispos como hereticos,sejam entregues à justiça secu-
lileu.
lar, afim de soffrerem o merecido castigo ; 2 o . Que os
Pois quer ver o que diz Nicolini, quer l ê r um
bens dos leigos condemnados sejam confiscados, e t c . ;
3o. Que os habitantes suspeitos de heresias, etc., e t c . ; trecho de Galileu ?
4o. Que os senhores sejam advertidos, e mesmo obri- Palavras ditas pelo papa ao embaixador Nicolini
gado*, por via de ceusuras ecclesiasticas, a expulsarem que as transmittio a seu governo : — « Que a doutrina
de seus domínios a todos os habitantes considerados era extremamente perversa; que a obra no facto era
hereticos; 5.® Que todos os senhores, etc., e t c . ; pernicioza». Despacho de 18 de Setembro de 1632.
6°. Que os catholicos que se reunirem para exterminar « Q u e a opinião era errônea e contraria ás Santas
os hereticos, tenham parte nas indulgências, etc , escripturas, sahidas da bocca de Deus : ex ore Dei».
e t c . ; "Io. Que a excommunhão decretada pelo concilio 18 de Junho de 1633. Nicolini accrescenta ainda :—
recaia não só sobre os hereticos, mas também sobre
« Q u a n t o ao papa, não poderia estar mais irritado
aquelles que os tenham favorecido ou acolhido em
contra o nosso pobre Galileu »>. (3)
suas casas; os quaes serão declarados infames se, ao
Em uma de suas cartas diz o proprio Galileu ;
cabo de um anno, não cumprirem seus deveres, e,
« Sei com certeza que os jesuítas persuadiram a uma
como taes, excluídos de todos os empregos públicos, e
pessoa extremamente influente que meu livro é mais
declarados inhabeis para fazer disposições testamen-
tarias, receber successão, etc , etc., etc. » (2) abominavel e mais pernicioso para a igreja, do que
Que suavidade nestas disposições ! os escriptos de Luthero e Calvino » . « D o meu cárcere
E eis como começou a inquisição. de A r c e t r i » . (Galileu).
Innocencio I I I teve dignos successores em Hono- E m outra carta accrescenta: « Não é por esta
rio I I I , Gregorio IX, Innocencio I V , João X X I I , In- opinião que me têm perseguido e que me perseguem
nocencio V I , etc., etc. ainda, é por causa de minha desintelligencia com os
Não tem, pois, razão o redactor da Vanguarda jesuítas » . V . Journal drs Savanls, 1841. (4).
quando d i z : O redactor da Vanguarda parece que citou in-
« Sempre os pontífices romanos mitigaram a in- conscientemente o Mercure.
quisição » . A que fica, pois, reduzida a sua citação e tudo
E nota. como exemplo, Xisto I V , o mesmo papa o mais ?
que, auxiliado por Fernando V , estabeleceu na Hes-
A nada absolutamente.
panha a inquisição moderna, a qual não differe da
Vio o que disse Nicolini ? E o que diz Galileu ?
antiga, senão pela organisação, que é muito mais
Citou cegamente o Mercúrio; nao foi ?
sabia e muito mais uniforme.
E quer dar lições de historia l
« O que é verdade, continúa Leão Bourrul, é que
Emfim...
a inquisição prevenio muitas conflagrações particu-
lares, e evitou muitas guerras de religião » .
(1) Laurent—Hist. de 1'Humanité, vol. 9», pag. 49. (3) Quinét, Les jesuites.
(2) Arnoul, Hist. da Inquisição, pag. 66. (4) Quinet, Les jesuites.
A EVOLUÇÃO 41
A Idea Nova
Elie voltou de um salto aos tempos insondáveis,
Em que habitou também o céo azul profundo.
(A B A R B O S C A S S A L )
A n t e o estúpido horror do seu destino, um f u u d o ,
Tremor enregelou-lhe os membros formidáveis.
Sob inhospito sólo e esteril estremece
O volcão e abre a bocca aos vomitos da chamma ,
Vôa o fogo no ar I Tudo em redor s'inflamma I... Braços e pés crispando, ergueu a grande voz,
Tndo reduz-se a pó !... e então mais nada vê-se... Elie, a victima antiga, o sonhador primeiro,
E o brado seu ferio o espaço sobranceiro,
Em que, fervido, boia o espunicjar dos sóes:
Pouco tempo depois, sobre os montões de lama,
De cinzas e betume, a primavera desce;
Dalta vegetação o sólo se recama, —Como uma horrível chuva os dias meus, que horror j
Que em seivas exubéra e loirejante mésse 1 Se accumulam em vão na minha eternidade.
Orgulho, desespero, e torça é só vaidade, *
E a luta me aborrece e peza-me o furor.
O cérebro febril da ardente juventude
E' um volcão t a m b é m ; a luz da Nova Idéa
Ha de romper de lá em súbita explosão I O odio como o amor me tem atraiçoado:
Eu bebi todo o mar dos prantos infecundos.
Tombae e me arrazae, raios, montões de mundos !
Athletico luetar I Tomba a decrepitude!...
Que no sagrado somno eu seja mergulhado 1
Mas das ruínas vis da sórdida Pompéia
A cidade—Progresso—ha de surgir e n t ã o !
E os venturosos vis e as raças doentias
RAYMUNDO CORRÊA.
Nos espaços de luz, immensos, immortaes,
Este brado ouvirão : E' morto Satnnaz f
E acabarás emfira, ó obra dos seis dias !..
VALENTIM MAGALHÃES.
(LECONTE DE L'lSLE)
II
tavel da evolução, a geração nacional tentou sua in- é uma palhaçada de saltimbanco, sobre o cadaver
dependencia. ainda quente da Vergonha morta!
E nem podia deixar de fazel-o. III
Chegadas a um certo gráo de prosperidade, as
colonias tendem sempre a desembaraçar-se das peias Hoje, o impulso fatal para a marcha ascendente
que lhes impõe a metropole : é lei histórica. do individuo, como do Universo inteiro, tem feito
muito em bem da nacionalidade patria, mas a nova
Manifestação primeira, mas pusillanime, foi a
geração não despiu-se ainda d'aquellas impurezas.
de 1640. S. Paulo queria escolher um rei. Um rei,
E" semi-livre ; o (porque não affirmal-o ?) quasi es-
s i m ; mas um rei independente de Joio I V , o assas-
crava. O é em Religião, porque conserva a beatitude
sino. Esse rei seria o crepusculo agonisante e me-
fradesca do berço, e a educação theologica e mystica
diador entre o passado momtrchico, e o futuro repu-
da famila ; conserva ainda nos ouvidos o som das la-
blicano; a adulação de Amador Ribeira Bueno suffo-
dainhas entoadas por entre os cochichos maliciosos
cou o grito de liberdade do povo. Tentou-a ainda,
dos hypocritas 6 a indocencia velada das devotas.
encarnada a liberdade em Silva Xavier (1776—1779)
O é em Politica, porque, além de desconhecer o seu
e a Poesia (o movimento litterario precede e acom-
fecundo o grandioso principio, qual seja o da confra-
panha sempre o politico) em Cláudio da Costa, A l v a - ternisação humana, livre e organisada, adula o rei,
renga Peixoto, Gonzaga, etc. Mas a liberdade era a o a caterva imperial, ou francamente, pelo regimen
estatua babylonia: tinha pés de b a r r o ; Tiradentes conservador, ou disfarçadamente, pelo liberal; em
era um rude e franco republicano, jamais um diplo- Philosophia porque modula suas idéas pela metapliy-
mata astucioso: as lettras eram a escola classica, a sica oflieial, bebida nas aulas, quando, cm si, é gasta
mascara do Bello, a imitação pastoril em Gonzaga, a e descrente ; cm Historia, porque nem a estuda, nem
bajulação á Rainha.de que não pôde livrar-se Alvaren- percebeu-lhe ainda o principio philosophico, elemen-
ga, pedindo n'um soneto, vergonhosamente, ura per- to primordio (creação do V i c o ) n'çlla encerrado, e
dão. Joaquim Silvério—o t r a i d o r — v a l i a bera Maria fal-a uma narração estudada nos compêndios, ou
II—o monstro da crueldade f e m i n i n a ; e o visconde n'uns pontos para esses exames de compadres, ou
de Barbacena o vice-rei Luiz de Vasconcellos: o de a l g o z e s ; em Litteratura, porque nem a conhece,
corpo do martyr rolou das baixezas do patíbulo e foi nem dedica-lhe um estudo sério, nem a acolhe com
tombar, no seio de Jesus; o desterro esperou-lhe os cuidado, senão que nutre contra ella o preconceito
companheiros, e morreu a idéa da rederapção social. de que todo o litterato é vadio ; porque fal-a um sim-
Segue-se, na chronologia da grande Idéa, 1817. Do- ples passatempo, em que impera a imitação, a cópia,
mingos Martins é a propaganda i n i c i a l ; o padre R i - a traducção, a falta de originalidade e vitalidade
beiro Pessôa, Theotonio Jorge, dr. José Luiz de próprias, ou porque a abandona totalmente, depois
de alguns tentamens, em que o pouco estudo produ-
Mendonça, Corrêa de Araujo, o padre Miguelinho,
ziu o máo ê x i t o .
Gonçalves da Cruz, o padre Roma e o padre Marti-
niano d'Alencar os sectários A fraqueza traiçoeira
Não fallo da A r t e ; ahi j a z , a um canto, a míse-
da Parahvba, do R i o Grande do Norte e das Alagôas,
ra, sem um sopro siquer de animação, antes muitos
o bloqueio do Recife ordenado por Marcos de Noro-
de desfallecimento. O theatro ainda não comprchen-
nha, conde d'Arcos, o desastre do engenho de Ipo-
deu o naturalismo, que é o real, a experiencia, a ob-
juca. as imposições de R o d r i g o Lobo, fizeram ba-
servação, sem ser o torpe e o v i l ; é o vnudevillr im_
quear a causa santa. N o período da fictícia liberdade moral, o alcazar bandalho, onde as artistas parvenues
de 1822, na scmi-liberdade que despontava, antes da ostentam a carnação gorda das pernas, e os srs. de-
litteratura offlcial dos áulicos que offereciam livros ao putados a magreza das consciências, e onde vão gas-
augusto senhor d'Alcantara, erguem o divino brado tar o dinheiro do povo, e o pouco de vergonha que
revolucionário Paes de Andrade, o illustre padre adquiriram na província. O romance é a traducção ;
Joaquim Caneca, Metrowich, Loureiro, Cavalcanti, c morreu Alencar ; as gazetas publicam as copias da
Ratclif, o martyr calmo e resignado, que rogava aos baixa escola franceza, as escabrozidades rústicas e
céos fosse seu sangue o ultimo derramado em terra impressionáveis de Ponson du Terrail, e de A l e x a n -
americana pela causa da Liberdade humana. Pedro I dre Dumas e os mysticismos indecentes de Escrich ;
vinga-se com a cobardia de um inquisidor; ainda a poesia é a idealisação immoral, a voluptuosidade
cahe a Verdade Eterna. Pensais que concluiu-se o lasciva e aphrodisiaca de C. de Abreu, raro mal aco-
martyrologio fatal ? Engano. Ha ainda Pedro I v o . lhida pelo elemento feminino ; e os escriptores nacio-
Ha ainda Nunes Machado. Ha ainda outros. naes, como Bernardo Guimarães, Macedo, Machado
Veio-nos então a litteratura de S. Cliristovam, de Assis, Luiz Dolzani, Silvio Dinarte, o outros, ou
a litteratura palaciana; bajulou, adulou, rojou-se aos pensara nas circulares para os eleitores, ou apegam-
pés do r e i ; representou o infame papel de Horácio se aos velhos moldes, ou repousam com o descanso
profundo dos que nada mais téem a fazer.
thuríbulando Mecenas, de Boileau dirigindo incensos
a Luiz X I V . Não fallemos do 7 de A b r i l ; não se
Ataraxia de morte !
tomam a serio as comedias; porque, sahir da pres-
SILVA JARDIM.
são do relho do tyranno, para ir estiolar-.se sob a
influencia satanica do riso hypocrita de Machiavel Typ. da Tribuna Liberal.
1 A EVOLUÇÃO
|epdico ^digtdo pçloji J^cadcmtco^
Julio de Castilhos
Pereira da Costa
Assis Brazil
Ann«» 1 S. P a u l o , 13 <le J u l h o d e i s t ! ) m. ?
todos os preconceitos sociaes a idéa clara, limpa da Pena ó que se estejam esperdiçando tantos ex-
verdade, da justiça é sem duvida a mais alta missão forços na causa perdida de resuscitar um cadaver
dos paladino« da democracia neste pedaço da Ame- —o clericalismo.
rica. A. B.
Tenha o povo a consciência do direito, e então
esta potencia que se chama opinião publica irrom-
pendo do seio das maças, o impellirá ás conquistas
do futuro, ainda que seja aos rugidos do furacão re- A proposito (fuma estréa
volucionário que nos ameaça.
E é bom recordar aqui a doutrinação da histo- De meiados d'este século para cá, uma profunda
ria : depois de Turgot, o reformador pacifico, Mi- mudança se tem operado em todos os modos de
rabeau, a incarnação mais radiante das aspirações manifestação da actividade bnmana, na parte mais
populares, escala a tribuna de fogo das tempestades adiantada do mundo. A nova direcção que vieram
sagradas. dar aos espiritos os progressos e os triumphos das
P. C.
sciencias positivas manifesta-se em tudo : nas let-
tras, nas artes, na politica, e, directa ou indirecta-
mente, tem influido em todos os produetos da in-
Com o 4* numero, recentemente publicado, sof-
telligencia.
freu mudança na commissio redactora a Reacção,
orgam nltramontano acadêmico. E' agora redactor- A origem das novas escolas litterarias, nascidas
chefe do periodico Raphael Corrêa, e redactores par- hontem e jâ hoje triumphantes, não tem outra ex-
ciaes-Canuto de Figueiredo, Filinto Bastos, Bour- plicação.
roul, José Vicente e padre Valois. Uma vez banido do terreno das sérias especula-
Traz este numero grande variedade de artigos, ções scientificas tudo aquillo que está fóra do limi-
folhetim e poesias. tado alcance da intelligencia, o incognischel, em uma
—No artigo inicial, sobre o ensino, entende R. palavra,—não restava mais ao artista do que descer
Corrêa que o augmento das línguas italiana e al- das nuvens e olhar para o campo positivo da vida.
leman nos estudos preparatórios é simples banalida- Na escultura (palavra sem sentido entre nós)
de ; porque já os dez preparatórios existentes são —deixou de apparecer o Neptuno, acalmando as
muito pouco aprendidos. Não é rasoavel argumentar
ondas, de tridente em punho, o Júpiter tonante,
com abusos.
suspendendo na dextra um raio de mármore, a núa
—Filinto Bastos attribúe a immoralidade das Aphrotite irritante, o toda a tropa de semi-deuses
classes operarias á talta de sentimento religioso. E' e heróes da antiguidade immemoravel. Algumas
erro de observação do distincto e sympatliico arti- obras, poucas, mas decisivas, tem desbravado o ca-
culista. No Brazil,—é regra sem excepção—o povo minho, 'neste sentido.
ignorante, analphabeto é religioso, até o phanatismo
muitas vezes. Na pintura e na musica a nova tendencia é mais
do que manifesta : a cópia fiel da natureza é a me-
E este principio applica-se ao mundo inteiro.
dida do mérito.
Ensine-se o povo a lêr, extingam-se, por meio
do governo republicano, as sanguesugas da riqueza Na poesia—, onde o idéal moderno se encontra
publica, que originam o pauperismo,—e o povo terá talvez em sua mais completa realisação, quebraram-
moralidade, cuja noção não existe no phanatico igno- se os velhos moldes estreitos em que a tinham en-
rante e perde-se no que se vê desesperado pela fome cerrado— primeiro a aberração classica, depois a
Nestes tempos, o sancto mais milagroso é o aberração romantica, — e, inspirando-se nos largos
A, B, C. O futuro pertence a escóla. ideaes modernos, o poeta canta a Humanidade, em
—A poesia—Inania Verba— é também attribuida logar do Eu, o positivo em logar do chimerico.
a F. Bastos. No romance,—sob as suas variadíssimas mani-
A cegueira religiosa torna até inconsequente a festações, a arte moderna repelle os velhos typos
pujante intelligencia do poeta, alias liberal. ideaes, os monstros de Victor Hugo e os persona-
Escreve estes versos, para condemnal-os : gens dissolventes de Lamartine e Tbeophilo Gautier,
—para ir buscar o homem, tal qual é, movendo-se
« Não mais a humanidade ao leito de Procusto
e agindo debaixo das vistas do leitor.
Ha de jazer atada, ã voz da tyrannia.»
A observação tornou-se naturalmente o critério
E, como estes, muitos outros, como. por exem- da arte.
plo, esta quadra, que não devêra ser profanada pelo Não é aqui o logar de demonstrar a superiorida-
final :—o Ei» o que diz o sec'lo, em infernal delirio » :
de d'este novo modo de encarar as coisas.
« Em vez do negro claustro, em que se abriga o ocio,
o Erga-se a escóla, a tenda, á infancia, á juventude.
« Só do trabalho agrada ao sec'lo o sacerdocio...
O drama, estreitamente ligado ao romance pelo
| O frade já morreu; só resta-lhe o ataúde. »
seu caracter intimo, não podia deixar de soflrer o
Ha muito a esperar da nova redacção, servida influxo desta evolução geral.
por distinetos moços e tendo á frente um trabalha- Ainda que até hoje as suas tendencias não te-
dor consciencioso e correcto. nham sido dadas a conhecer na pratica sinão por
A KVOIJJÇÃO 51
alguns vacillantes ensaios, o seu idéal está todavia to, continua sua vida devassa. Origina-se, d a h i uma
perfeitamente determinado. perpetua lueta domestica., com todos os seus e s -
Esso idéal pôde sor definido em duas palavras : cândalos. Entretanto, nos saráus e reuniões f a m i -
A lógica dos factos subordinada á lógica daH liares, o casal affecta perfeita cordialidade, para rom-
sensações, como diz E m i l i o Zola ; per dopois, no isolamento do lar, c m novas discórdias.
A acçilo subordinada a psychologia, como d i z Este traço dá perfeita idéa de taes scenas d o m e s t i -
Eugênio Veron. cas :
A tragedia, a epopéa classions, vasados nos mol- « FERNANDO : — N ã o sei d o que se queixa : j á
des de Aristóteles, eram justamente o contrario lavou? j á e n g o m m o n ? O que lhe f a l t a ?
d'isto, ninda que, na concepçfto de Sophoclcs e prin-
CLOTILDE :—Falta-me tudo : a tranquillidade, o
cipalmente na de Euripides, a psychologia fôsse j á
socego, isto é, a felicidade c o n j u g a l .
tendo logar no d e s d o b r a m e n t o da tragedia g r e g a .
FEWXANDO :—O que lhe falta é j u í z o , minha se-
A escóla romantica approxiina-se um pouco mais
nhora. »
da verdade, por este lado, mas para cahir em absur-
( E ' bom transcrever este treclio e insistir 'nisto,
dos maiores.
porque esta discórdia é a alina do drama. A citação
Só a arte moderna b e m comprohendcu e definio
6 feita do m e m o r i a . )
o drama.
O drama moderno devo seruina téla desdobrada Pelo fim do p r i m e i r o acto ( o drama consta de 3 )
apparcce, vindo visitar os filhos, o v e l h o pai dc C l o -
diante dos olhos do espectador. Para isso torna-se
tilde, João Soares, inattuto que nunca v i o cidade, e,
neceçsaria uma p r o f u n d í s s i m a observação O fio dos
pela sua grosseria, provoca a l g u m a s risadas 'numa
acontecimentos se d e v e ir desenrolando natural-
fina sociedade que sc achava e m casa de F e r n a n d o ,
mente, os factos succcdendo-se sem precipitação e
brincando a berlinda. S y l v i o , rapaz rico c da muda,
sem demora. Os personagens necessitam do uma
prevalece-se da discórdia que reina e m casa d e F e r -
exactíssima fidelidade de observação. Entre estes e a
nando, para seduzir-lhe a mulher, que afinal cede,
acção deve existir uma perfeita solidariedade. Elles
para tomar desforro do m a r i d o , que escandalosamente
devem ser t o m a d o s v i v o s no seio da sociedade, com
alimentava relações i l l í c i t i s c o m uma certa Eva e,
todos os seus v í c i o s , tendências e costumes, para
provavelmente, com m u i t a s outras. Devia C l o t i l d e ,
que, agindo n a t u r a l m e n t e , naturalmente cheguem
para começar a vingança, a c o m p a n h a r o amante a
a um desfecho l o g i c o , não p r e v i s t o , mas considerado um baile campestre, dos muitos que sc d a m 'no J a r d i m
possível e talvez suspeitado. E m uma palavra,—o Botânico c aonde s o m e n t e vai g e n t e m u i t o duvidosa.
drama moderno precisa d e ser sincero. Arrspnndc-se, porém, na occasião de c o n s u m m a r o
A f ô r m a deve ser torneada e irreprclicnsivel, o crime ; mas F e r n a n d o , que ainda a apanha v e s t i d a ,
dialogo firme e resistento. Isto ó tanto mais neces- finge-se irritado; c, do combinação com S y l v i o , a
sário, quando o drama moderno não dispõe das accusa rudemente, e quer até matal-a, pois que t e m
grandes explosões de acção da velha escola. por si—a l i. João Soares, o pai, que não podia d o r -
Tudo o que não f ô r real está, portanto, b a n i d o mir com os mosquitos e com o calor, presenceia,
d'elle, quer na f ô r m a , q u e r no f u n d o . occulto, toda esta scena, passada á meia noite. De-
E' esta a aspiração da arte. A isto podia-se com pois que Fernando retira-se, e l l e obriga S y l v i o , com
razão chamar, c o m o E . Z o l a , — o Naturalismo. a lógica da sua bengala, a assignar uma carta, por
si mesmo dictada, o na qual fica resalvada a honra
da filha Esta obtém carta siinilliante de Fernando
e dispõe-se a partir coin o velho para a roça, sepa-
A Evolução precisava d e dizer essas palavras, para rando-se do marido. Faz algumas exclamações p a -
com segurança basear a l i g e i r a apreciação que vai theticas, ás quaes respondo João Soares 'no mesino
fazer com referencia á estréa dramatica de A f t o n s o t o m , e 'nisto partem ambos, e assim acaba o d r a m a .
Celso Junior.
Drama e a u c t o r , — a m b o s serão j u l g a d o s com a T u d o isto se passa 'numas seis ou oito horas,
severidade, talvez errada, mas, pelo menos honrada 'no mesmo l o g a r , 'na mesma sala.
e sincera de que t e m dado provas a Evolução, ainda
que seja difficil a imparcialidade 'no j u l g a m e n t o de
um amigo. Pelo enredo simples e tirado dc um facto de
observação, pela maneira de concluir, por muitos
traços geraes, vè-se que o auctor quiz filiar o seu
drama ao realismo moderno.
Em duas palavaas se pôde expor todo o enredo
de que tal é o estúrdio titulo do d r a m a — s Parece até que para mais descanso de con-
sciência deu-lhe as trez unidades:—do tempo, l o -
Um rapaz nascido e creado no Kio de Janeiro
gar e acção.
( e i s t o dispensa mais commentarios )—Fernando—
casa com uma bella menina, filha da província, porém A t é aqui nada ha a contestar-lhe. Não se pôde
educada 'num internato do Rio ( e isto também dis- negar que o espirito geral da obra é realista. A con-
pensa explicações ) — C l o t i l d e — . Fernando, que era c.epcflo é até mais feliz do que se podia esperar de
rico, extravagante e v a d i o , sem embargo docasamen- um estreante.
I 52 A EVOLUÇÃO
No modo de desenvoJvel-a é que Affonso Celso factos anteriores. Estas mudanças repentinas, feitas
I foi infelicíssimo. ao capricho do auctor, por uma necessidade de ac-
O espirito do auctor, como sempre, preoccupa- ção, podem ser muito próprias dos dramalhOes de
I se mais das exterioridades do que do fundo. A sua grande r/feito; no realismo são um peccado;
I phrase, toda alambicada á moderna, é muitas vezes Fernando 6 de uma natureza tam estupidamente
imprópria do personagem. Com Sylvio e algumas cynica, que pôde ser considerado inverosímil, ou,
D i a n t e d o s m o d e r n o s p r i n c í p i o s esthetieos e s o -
N i n g u é m , n i n g u é m j a m a i s lhe resistio ao som
c i o l o g i c o s , n i n g u é m ousará n e g a r que tudo isso não
Da sua branda v o z austera e convincente,
é mais do que u m produoto do meio em que nos
A ' luz d o seu olhar severamente b o m .
agitamos e v i v e m o s .
n u a r e m o s a r e s p i r a r na m e s m a atraosphera.
Dizia. E, proseguindo, cm placida humildade,
Mas o meio é tansitorio Um povo não vive
ja dando combato aos batalhões do Mal,
eternamente s o b a c h l a r a y d e d e c h u m b o da tyrannia
Batcndo-sc e m teu n o m e , ó saneta U b e r d a d e ,
politica, ou moral, ou religiosa.
I 54 A EVOLUÇÃO
«Não ha grandes no mundo; o homem é egual Está deserto o céo I no grande isolamento
Ao homem. Quem erguer a fronte sobranceira Palpita ensanguentado o sol—um coração.
—Seja o ultimo então. Ha uma lei fatal Mas os deoses de Homéro, o Jehovali sangrento,
Allah e Jesus Christo, os deoses onde estão ?
« Que ha de a todos unir na gélida poeira.
Eu vos trago o remedio, o antídoto efficaz : Morreram. Era tempo. Agora encara a terra :
Vos trago a mansidão, do bem a sementeira. Canta alegre a offieina e canta alegre a escóla,
O Gênio enterra o Mal em uma nsgra cóva...
« llomens, vós sois a Guerra e eu vos trago a Paz. »
Assis IÍRASIL. Deus habita a consciência. O coração descerra
Aos óseulos do Bem a rúbida corólla.
Vem perto a Liberdade.
A Evolução tinha ha pouco tempo o prazer de E' isto a Idéa Nova.
fallar em um novo livro de Affonso Celso Junior, S. Paulo—Abril—1879.
no qual o poeta dos Devaneios, quebrando a lvra do
velho individualismo, soltava aos novos ideaes uns
versos bellos, energicos e vigorosos Fazendo-o, ap-
plaudio sinceramente o poeta, e esperou as Telas So- Está publicado o 3 o numero do Liberal.
nantes como um acontecimento auspicioso para as Joukopings, o chroiiisla, depois de uma incuba-
lettras acadêmicas. ção de mez e meio, enche perto de 3 columnas da
E tinha razão, com efrnto. O velho e gasto l y - folha respondendo alguns conselhos que lhe deu a
rismo já deu o que tinha de dar.
Evolução, penalisada da sua monumental ignorancia.
E, ao rebate que chama aos novos arraiaes os
Não è do caracter nem dos fins da Evolução an-
paladinos das lettras, rarefazem-se as fileiras dos
plangentes cantores do en. dar levantando as pedras que lhe vêm das mãos dos
Por isso, é que ainda hoje vai a Evolução dizer garotos. Não usará da linguagem pilusca, própria do
duas palavras sobre um livro, devido a Valentim chronista ; fará simplesmente muito poucos reparos,
Magalhães, que ainda hontem bebia inspirações nas em duas palavras.
musas louras do passado, mas se mostra agora pu- Entende Jonkopings que—rebanho d'aguias não
jante e promettedor operário da poesia socialista se justifica pela rhetorica, «porque não é erro de me-
nos Cantos e Luclas, que em breve apparecerão.
trificação e sim—de grammatica.» Nestas quatro pa-
Não está ainda de todo V. Magalhães livre do lavras está a prova da enormidade da ignorancia de
perigoso influxo das antigualhas; não pôde ainda Jonkopings.
despir seu estro daquellas fôrmas, falsamente bellas,
Nem é a rhetorica que ensina metrificação, nem
dos lymphaticos e doentios ideaes da escóla velha.
uma impropriedade de termo é erro de grammatica;
De quando em quando, por entre as bellezas de suas
pois que dizer rebanho cm logar de bando nada tem
novas prodiicções, transparece em seu livro, alguma
com a etymologia, nem com a syntaxe, nem com a
cousa modelada nos velhos e desprezados moldes.
prosodia, nem com a orthographia. Não admira que
Esses, porém, são defeitos, filhos do passado, são
o sombreado do livro, que mais saliente deixa o mé- diga tal monstruosidade quem j á disse : nellas ha de
rito do poeta moderno. figurar phosphoros; a 2a eslrophe do I o verso, a 3a es-
Mas a Evolução não está ajuizando do trabalho irophe do 5 o verso (accusação de que nem tentou de-
do poeta acadêmico ; apenas dá noticia da próxima fender-se).
publicação do seu livro. O seu juizo virá mais tarde, E' uma metaphora muit > simples e que entra
franco, leal e despretencioso como sempre. pelos olhos de todos—chamar rebanho a um bando
Para prova do que diz dos Cantos e Luclas, trans- d'aguias brancas e luminosas nos campos do céo, a
creve aqui e a esmo uma de suas poesias. uma porção de estrellas, a uma porção de vagas co-
lia n'este soneto bellezas e muitas, como em todo
bertas de espumas brancas. Desta figura usa Castro
o volume se as encontram entresachadas com alguns
Alves, quando diz :
senões, com poucos defeitos, resquícios, pela maior
parte, repete, da influencia do passado. La do polo sobre as plagas
Foi, pois, com razão, que a Evolução disse o que O seu rebanho de vagas etc., etc.
Uca acima sobre os Cautos e Luclas ; e por isso envia
E Guerra Junqueiro:
ao seu auctor os mais sinceros applausos.
F.is o soneto, que pôde, sem duvida, collocar-se A lua
entre as boas producções da nova escóla :
Com seu rebanho de estrellas, etc., etc.
Que hão d e e r g u e r este g l o b o ao n i v e l do Ideal. Paulo e chama-se José Pires Falcão Brandão.
Anno 1 S. P a u l o , 3D d e J u l h o d e 1 8 ? » N. S
outras instituições que mais harmonicamente se com- tituições que haviam se esphacelado ao choque dos
mais exactamente satisfaçam as exigencias varias da A Humanidade não pôde viver n'esses contínuos
nova civilisação. vae-vens. Recomeçar o caminho j á percorrido seria
um absurdo. Os seus passos se dirigem sempre para
Um rápido percurso historico será sufficiente
diante. Impelle-a um poder irresistível que não per-
para validar essa affirmacão.
mitte o estacionamento, nem a retrogradação. O or-
ganismo social, como o organismo do planeta, trans-
forma-se, sim, mas não se gasta, nem se estraga.
O despotismo politico, de mãos dadas com o re- Por isso, ella, nunca descança e sempre caminha.
ligioso, depois de haver empanado o sol da Justiça, Por isso, os períodos historicos em que parece
que para o Estado era a tyrannia e para a Igreja a que a sua actividade se paralysa e se estanca, e que
intolerância, e de haver apagado da consciência dos apodera-se das forças sociaes um pesado torpôr que
póvos a luz do Direito, cuja noção havia se perdido, lhes impede e obsta os movimentos, são exactamente
assentára-se triumphantemente no solio deslumbran- aquelles em que se operam, de facto, largos e fecun-
te do seu poder, architectado com os milhões dos ca- dos progressos latentes.
daveres que fez ; quando rebentou nos espaços dila- Exemplo : a Idade Media, que as varias escólas
tados da Historia aquella formidável, aquella rugi- calumniam de—cháos e retrogradação, e que, entre-
dora tempestade, que se chamou—Revolução de 89,— tanto, foi a preparadora activa e vivaz da civilisa-
enorme trachea por onde respiraram os póvos que cão moderna, conforme a convicção gerada em todos
agonisavam suffocados sob a mordaça lançada pela os espíritos sérios graças aos golpes que foram vi-
mão ferrea das tyrannias colligadas. brados por Augusto Conte áquelle calumnioso en-
Tudo déra em terra ao sopro violento e abalador tender.
d'aquelle acontecimento. O passado, portento, não se podia reerguer.
I 58 A EVOLUÇÃO
E eis a razão porque inutilisnrara-se todos os Si, por um lado, proclamam a soberania popular,
empenhos dos reaccionários para restabelecel-o. a igualdade dos cidadãos perante a lei, a liberdade de
Mas, por outro lado, interceptavam-na ainda imprensa, o direito de representação, de associação,
—a luz da Republica—as névoas brumosas que en- etc —fructos da Revolução de 89—por outro, formu-
volviam o topo da montanha do Futnro. lam a antithese, consagrando, para contrabalançar
A Democracia ainda estava muito longe para que aquellas liberdades, a inviolabilidade, a irresponsa-
aquellas sociedades pudessem comprehender as insti- bilidade moral e legal do rei—seus attributos insepa-
tuições vasadas nos seus amplos moldes. ráveis—, a hereditariedade, a participação nas func-
Para chegar até ella, era preciso um salto enorme, çõcs legislativas, executivas, etc.
e, por isso mesmo, perigoso. A monarchia constitucional-representativa cor-
E o poder logico que preside indefectivelmente a responde, pois, a uma necessidade transitória, sendo I
marcha das civilisações, dirigindo a Humanidade portanto também transitória.
atravez do tempo e do espaço nos seus vôos ascen- E nem podia deixar de sei-o, porque o resultado
cionaes para regiões cada vez mais claras e mais d'um equilíbrio entre o que em si se choca e se re-
amplas, não permitte que o progresso se opere por pelle, d uma harmonia entre elementos que se con-
saltos, precipitadamente, sinão nascendo da harmo- tradizem permanentemente, como essencialmente an-
nia e da connexào intima entre os grandes factos tagônicos, não pôde ser solido e perdurável.
sociaes. Correspondendo a uma necessidade transitória,
e tendo esta cessado, a instituição monarchica tem
As épochas históricas são connexas entre si d'um
naturalmente de desapparecer em virtude de sua
modo preciso. Prende-as uma cadea indestructivel
própria origem.
que faz com que a que succede seja a filiação intima,
O seu fira historico está desempenhado; nada
immediata das que a entecedem.
mais lhe resta, pois.
Na Historia não ha claros, assim como na série
O período que em frente das leis sociologicas
não ha falha de termos.
ella tinha de prehencher, está esgotado. Inaugura-
Ora, entre o modo de ser anterior á Revolução se um outro em que se respira pelos largos pulmões
e um modo de ser harmonico e perfeito realisado na de quem acaba de sair do seio d uma atmosphera
Republica, havia uma distancia enorme que não podia abafada e sufibcante para respirar o ar puro, fresco,
ser percorrida sinão gradativamente, sinão evolutiva- saudavel e confortativo dos espaços livres.
mente. Transpol-a de um jacto seria arriscar ás
Demais, é facto geral e constante observado em
eventualidades perigosas d'uma quéda, e quéda in-
toda a Historia, e, por isso, lei histórica, que as fôr-
glória.
mas do governo são correlativas ao estado das ci-
Por isso, a Republica, apenas havia nascido, foi
vilisações.
rijamente bater de encontro á tremenda impossibili-
dade opposta pelo meio social que não a comportava, Conforme estas avultam, se affirmam e se en-
vacillou e caio. grandecera, assim também extinguem-se as institui-
Por isso, ficaram inúteis e estereis os prodigiosos ções que não se aperfeiçôam, que vivem a remodelar-
esforços d'aquelles Briareus que se chamaram os se sempre no passado, para dar lugar á outras que
Herôes da Revolução, que, inconscientes sublimes, mais concordantemcnte, que mais perfeitamente cor-
não sabiam que luctavam com leis tão infalliveis e respondam ás civilisações.
mathematicas como as que regem os astros nas suas A civilisação actual pede a Democracia na Re-
rotações. publica, como um systema mais progressivo.
Por uma necessidade histórica, pois, — neces- A Republica está próxima, pois. E não ha como
sidade creada pela lei da evolução social—, foi pre- resistir.
ciso recorrer á instituições que, symbolisando a As sociedades obedecem ao influxo de leis tão
conciliarão do passado com o presente, servissem de exactas, precisas e invariaveis como as que regem
transição fácil entre o período que se escoara e o os movimentos transformadores do mundo physico.
período que se ia abrir; que, fazendo a combinação
Como este, o mundo social também se transfor-
prudente e reflectida do pouco que a Revolução havia
ma á acção decisiva d'aquellas leis, de gradação em
poupado ao passado com os princípios superiormente
gradação se aperfeiçoando e se dilatando.
elevados e profundamente civilisadores que ella
havia derramado com mãos pródigas, preparassem E' que os phenomenos sociaes estão sujeitos &
os póvos para o regimen amplamente liberal, edu- leis naturaes, como os phenomenos physicos.
cando-os e refreando-lhes os impulsos esterilisado- E' que ha também uma physica social.
res; que, equilibrando a acção e a retroacção, har-
monisassem provisoriamente as tendencias novas dos
espíritos com a tradição e o habito inveterado.
Essas instituições são—a monarchia conslitucio- Descendo d'essas regiões para o terreno positivo
nal-representativa. dos factos, a verdade sociologica acha plena con-
firmação.
Ella nasceu, portanto, como ura meio de transi-
ção entre dois modos de ser contrapostos, procuran- De facto, quem com sinceridade lançar os olhos
do estabelecer um laço de harmonia entre elles. para os Estados cujo systema de governo é a mo-
Outra não é a sua indole, como claramente de- narchia constitucional representativa, observará que
monstram-no as constituições dos Estados que por ein todos elles essa instituição acha-se mais ou menos
ella são regidos. desacreditada, mais ou menos vacillante, e, por isso,
li —
I19A EVOLUÇÃO
abalada no conceito dos póvos, que j á nio se vão mocrata, isto é, republicano, então a verdade da
sentindo bem sob o seu regimen apathico e enerva- causa lhe transmittirá mais vigor ao pensamento e
dor; observará que em todos elles ha um movimento ao estylo. Será um publicista distineto.
fortemente accentuado tendente a uma nova direcção, A Evolução o saúda por este ensaio e o espera
e em busca de veredas mais amplas e mais livres, vêr em melhores tempos, com mais estudo e com
que são as veredas da Democracia. mais sinceridade, publicando obras mais dignas do
A s phalanges republicanas tornam-se cada dia seu talento. %
60 A EVOLUÇÃO
64 A EVOLUÇÃO
. I siderada como questão de ultima ordem, quando é a cessita; depois — porque não lho dá, nem pode, nem |
I primeira nos paizes livres. quer dar-lhe o ar puro da liberdade.
O grande trabalho de mover a pesada machina
I governamental absorve as escassas forças dos go- •
I vemos.
Os enormes tributos que cada cidadSo é directa A republica, como a comprehende e deseja a
I ou indirectamente obrigado a derramar nos cofres Evolução,—não pagará o luxo e as extravagancia» do
I I públicos—absorvem-se no luxo de uma família de sangue azul ; não alimentará com immensos rios de
I vadios e parasitas; na sustentação de um pesado e dinheiro a ociosidade de milhares de cidadãos, a
I numeroso exercito permanente, cujas baionetas são quem agora entrega-se uma carabina, tirando-se-
II muitas vezes voltadas contra os proprios que as sus- lhes uma enxada dos braços ; não sustentará a ocio-
II tentam—e este ó o seu principal officio; na conser- sidade clerical, comprando missas e le-deums irrisó-
|| vação de um clero muitas vezes insolente e que nada rios ; a republica será emfim—e esta é a sua indole
|| tinha que ver com a economia do estado ; emtim em salutar—um governo economico e sério.
|| quanta extravagancia pôde nascer na phantasia do A s rendas do paiz serão então empregadas prin-
|| governo;—em tudo, menos em matar a fome inteL cipalmente na instrucção do povo.
| lectual d"essa pobre besta de carga—o povo. O ensino primário obrigatorio, grande principio
Não é raro ouvir-se da bocca de um ministro ou impossível na monarchia actual, em poucos annos
I de um senador—que o estado precário das finanças extinguirá os analphabètes.
| não comporta mais largo desenvolvimento da ins- Por outro lado, o caracter eivico espontaneamen-
| trucção. Isto deu-se ainda a proposito da recente te apparecerá ; porque o povo será chamado a to-
| reforma do ensino. mar o seu proprio governo.
Desgraçado paiz é este, infame governo é este— Desde o chefe do estado até o ultimo funccio-
| que não tem dinheiro para deitar uma carta de a, b, c
nario, todos participarão da sua vontade soberana.
| nas mães d'aquelles que por elle derramam o suor e
Não haverá então o d e u » cabido das nuvens de
| o sangue!
sceptro em punho, esse primeiro elemento de im-
Desgraçado paiz—que pode atirar montões de
moralidade da monarchia.
| ouro aos pés d'um individuo e de toda a sua tropa
Para terminar a Evolução repete ainda uma vez :
de sanguesugas, e não tem uma única migalha para
— A ignorancia do povo, o seu baixo nivel moral,
a bocca faminta do povo !
velhos argumentos invocados contra o advento da
republica, são resultado fatal das instituições qae
• nos regem A republica é, pelo contrario, o único
meio de extirpar esse cancro. Estamos no reinado
0 abatimento moral, a indifferença politica, a da anarchia. Sahir d'ella só é posssivel por meio
passividade «stupida, são outras tantas chagas da d'um supremo esforço.
monarchia. A normalidade ha de vir depois d esse esforço-
' Neste paiz não existe o cidadão. O monarcha é depois que a patria se convencer de que a sua pri-
tudo, concentra em si todas as forças vivas da na- meira tarefa é a conquista dos direitos usurpados.
ção:—o ministério, que é obra sua, o parlamento, E essa conquista só se pode hoje fazer por um meio
que é obra do ministério e, portanto, ainda sua, e definitivo—pela Revolução.
assim todos os anneis da cadeia governamental. A . B.
0 poder moderador é um gladio de fogo erguido
sobre a independencia e dignidade do cidadão.
Acostumado ao descalabro de todos os seus es-
forços, habituado a ver frustradas todas as suas ten-
tativas de ingerencia nos seus destinos, afiei to á tu- Vigilias Litterarias
tella constante,—como ha de deixar o povo de sentir
o desanimo cabir-lhe pesadamente sobre os hombros ? POR
BB
A EVOLUÇÃO 67
Ella começa a agitar-se também. vertida por hábitos sociacs corrompidos, sem com-
Accorda-a o mesmo rumor que fazem as novas prehensáo de deveres, emmaranhada nos laços trahi-
verdades, e, nutrida pelo mesmo ideal, alentada pela çoeiros d'urna educação falsa e deprimente ; assig-
mesma crença, avigorada pelo mesmo entliusiasmo, nalando ao mesmo tempo o papel e a missão futura
penetrada da mesma seiva, a arder-lhe no peito o da mulher brasileira, que precisa, segundo o auctor,
mesmo culto, ella promette ser grande e digna da
de uma esmerada educação moral e intellectual suf-
Patria.
ficienles para sanal-a da» superstições, fazel-a com-
Como a mocidade de S. Paulo, ella promette
prehender os interesses sociaes e ensinal-a a educar
vingar, rutilantemente gloriosa e briosamente trium-
phante, a sequencia dolorosa de desastres e de heca- os filhos.
tombes que tingiram de lucto o passado e que deni- E', talvez, n'este estudo sobre a mulher que C.
gram ainda sinistramente o presente d'este paiz. Bevilaqua revela mais o seu talento e o seu espirito
de observação.
O ultimo de seus trabalhos—de critica litteraria—
é realmente digno de figurar ao lado dos outros.
Além de fortes motivos que tem a Evolução para O auctor alarga-se em judiciosas reflexões sobre a
acreditar n'isso, provam-no irrecusavelmente, exhu- litteratura nacional e sobre a Poesia, ã cujos apos-
herantemente as VIGÍLIAS LITTERABIAS, um livro de tolos, de accordo com o pensar moderno, dá a mis-
Clóvis Bevilaqua e Martins Júnior. são de derramar « as idéas salutares do justo, do
Honrada com o offerecimento d'um exemplar, a bello e do verdadeiro, a par dos apostolos da sicen-
Evolução dirá sobre elle poucas palavras; poucas cia » .
palavras exactamente porque para mostrar o seu Percebem-se n'esses trabalhos as pulsações d'um
valor exacto basta simplesmente dizer que este livro grande coração, a austeridade d'uma consciência im-
é a affirmação de duas poderosas vocações. polluta, e o vigor másculo d'um talento que se en-
A s VIGÍLIAS LITTERARIAS dividem-se em duas saia para ascenções dilatadas.
partes. Preside a elles tambçm subido eriterio, circum-
specção no pensar, e um rigoroso methodo de obser-
Consta a primeira dos seguintes diversos traba-
vação e de analyse, que apanha os factos nos seus
lhos de Clóvis Bevilaqua, que, á parte um ou outro
complexos aspectos, desde as feições geraes até a
raro e insignificante descuido, são dignos de toda a
decomposição dos detalhes; methodo que fornece
apreciação : A Republica no Brasil, Ligeiro olhar so-
a Philosophia a que se filia o auctor—a Positiva, e
bre o estado intelleclual do Brasil, A mulher entre nós
o qual applica com segurança pela sã educação que
e uma critica aos Vislumbres, livro de versos de R i -
mostra ter adquirido na proveitosa leitura de livros
beiro Gonçalves.
positivos.
A Republica no Brasil é um criterioso exame do
estado de dissolução mental da sociedade brasileira, O estylo, si por vezes, bem raras, mostra-se
e das suas causas, exame de que C. Bevilaqua, apoiado descuidado, é quasi sempre correcto, energico, d'um
colorido scintillante, e d'uma firmeza que perfeita-
na observação histórica e nas leis sociologicas, deduz
mente caractérisa o estado de decisão, definido do
com precisão e segurança—que não faltam a quem
espirito de C. Bevilaqua.
rompe as névoas da methaphysica para abroque-
lar-se sob a sabia e profunda doutrina positiva — o A ' Evolução, que não faz uma critica, mas que
advento infallivel da Republica, terminando com este dá simplesmente uma noticia, nada mais cumpre
característico período, que é a synthese de todo o accrescentar sobre a obra desse moço.
artigo : « A monarchia constitucional destruio o ve-
lho absolutismo dos reis por direito divino, agora
atravessamos um período em que se dissolve a mo-
A segunda parte das VIGÍLIAS LITTERARIAS é
narchia para apparecer em nosso scenarío politico
brilhantemente preenchida por Martins Junior, que,
o facto republicano » .
em algumas poesias, revela-se, sem exagero da Evo-
No segundo artigo, depois de uma rapida revista lução, um poeta, nãu promettedor, mas bem dis-
do modo de ser da mentalidade brasileira, que mos- t i n c t » já.
tra ser desconsolador—porque a educação do povo é
A o folhear os seus ESTII HAÇOS, admira-se a gente
dificultada pelo proprio governo que por interesse de
de não conhecer sinão agora o nome d'esse moço,
conservação a nega—, o auctor traça o programma da
quando as suas poesias davam-lhe direito a um re-
educação republicana, e finalisa assignalando a mis-
nome invejável.
são dos republicanos: « Si o governo não educa-o
Ou será a primeira vez que se manifesta?
( o p o v o ) eduquemol-o nós.
Si é, si seus ESTILHAÇOS são uma estréa, a Evo-
Si quem tem o dever não o cumpre, cum- lução, sem hesitar, sinceramente confessa que não se
pramol-o nós. vê, ha muito, uma estréa tão brilhantemente auspi-
Que a carta de a b c seja a carta de redempção ciosa, simplesmente porque, já pela concepção, de
desse escravo». todo original, já pela execução, elles demonstram
A mulher entre nós é um estudo sobre as condi- uma individualidade artística, bem difinida em bre-
ções actuaes da mulher brasileira, ignorante, per- ves tempos.
68 A EVOLUÇÃO
Martins Junior talha os seus versos no molde E eu que não sacrifico ás aras do egoísmo,
granítico da poesia socialista. Que não vergo a cerviz ao cégo servilismo
A musa de suas vigorosas inspirações é a grande E que creio no Bem, no Justo, no Idéal,
musa austera, « a musa da Liberdade e da Democra- —Eu anathematiso em nome da Sciencia
Em nome da verdade, ã luz da independencia
cia ».
A imagem secular do velho Deus do mal !
Por isso, as suas poesias, ou sfio golpes nos
flancos d'esse rochedo—o Mal, ou a repercussão ele-
Depois d'isto, a Evolução pôde ficar tranquilla,
ctrica dos triumphos da Justiça.
com consciência de não ter sido lisongei a, nem de
Por isso, percebem-se n'ellas uns largos desas-
ter feito um elogio frívolo e banal.
sombros temerosos, as surprehendentes visões do
Os ESTILHAÇOS, á parte mui poucas incorrecções
Futuro.
de fôrma e um ou outro descuido grammatical, ne-
De resto, a Evolução não definiria melhor qual
cessariamente desculpável porque casual, dão ao seu
a Poesia pela qual medeia o poeta as suas creações,
auctor direito a um lugar na brilhante e escolhida
faz elle na—Guerra do Século :
phalange dos nossos poetas modernos.
Estas linhas não são uma critica, como bem se
vê. São simplesmente a prova irrecusável de que a
Faz-se mister que além dos langues trovadores este periodico não foram indifférentes as VIGÍLIAS
De lyra modulada ao vento das paixões, LITTERARIAS.
nos que censuremos o governo e a marcha da admi- E' uma concessão, que é consequência do programma
nistração do modo porque o entendermos ; que ex- de governo que o monarcha traçou para si, — pro-
torquem-nos a liberdade de consciência pela creaçSo gramma aliás perfeitamente explicável, como se vae
d'uma religião officiai; que negam a liberdade de ver.
ensino, entregando-o á direcção única do Estado ; Dizem os favoritos que o cercam, os áulicos que
que prohibem, emfim, o goso de todas as liberda- vivem na sua intimidade que elle é uma capacidade
des :—bastaria recorrer a um argumento, que é vi- scientifica, é um modelo de virtudes e de saber.
gorosamente decisivo. Si bem que reste provar a legitimidade d estes
Não pôde ser soberano, e, portanto, livre o povo, títulos, que por óra é inteiramente hypothetica, o
quando a lei creou um poder, que está independente que parece livre de contestação é que elle possúe
da nação, porque a elle estão ligados inseparavel- uma certa leitura de Historia, ainda mesmo super-
mente os attributos da irresponsabilidade legal e ficial.
moral, da vitaliciedade e da hereditariedade,—mons- Ella lhe tem ensinado, sem duvida, que os póvos
truosidades assombrosas ; ao qual compete soberana- toleram mais facilmente o despotismo, quando este
mente o direito de dissolver as camaras e portanto é suficientemente prudente e cauteloso para não
de annullar a representação nacional, a faculdade de tornar-se, demasiadamente exigente para com elles ;
dispor da vida de todos os cidadãos com a de fazer que a bem de sua própria conservação, os reis devem
a guerra ou a paz, quando julgar que o deve ; ao suavisar o ardor da sua tyrannia com uma certa dóse
qual está sujeito todo o funccionalismo, porque é de bondade, que se traduz em concessões, ainda
d'elle que este procede e depende,—instrumento pas- mesmo mingoadas,—porque é uma lei que nunca falha
sivo de todas as tyrannias, etc., etc. que quanto mais tenazmente oppressora, quanto
mais tyrannica é a acção dos reis sobre os póvos,
Si ha, pois, aqui uma soberania, ella concentra- tanto mais raivósos, tanto mais violentos se tornam
se no monarcha, que é unicamente quem exercita estes na reacção ; e que, portanto, os reis, si preten-
esse poder. derem conservar por mais longo tempo os seus pode-
E quando o povo não é o soberano, o povo não res e as suas prerogativas, devem ir condescendendo
com os póvos a medida que elles quizerem alargar
é livre.
a sua vida politica.
Em face da lei, portanto, nós não temos liber-
dade. E ter-lhe-á desdobrado diante dos olhos uma
—Grosseria do sophisma, porque si é certo que, série luminosa de grandes exemplos.
de facto, gozamos, e isso mesmo limitadamente, Ter-lhe-á mostrado, então, aquelle gigante im-
d'uma única liberdade—a da enunciação do pensa- pério romano caindo um pouco mais cedo do que de-
mento, quer pela imprensa, quer pela tribuna—, não terminavam as leis sociologicas, unicamente por culpa
é, como se acaba de vel-o, que seja ella permittida do despotismo excessivo dos seus imperadores, que
pela Lei. Não. E' uma concessão do monarcha, ri- fez com que os milhões de escravos que o povoavam,
gorosamente necessaria para uma mais longa con- antes abrissem tranca vereda aos Barbaros em vez de
servação do seu abominavel poder. cortal-a.
Pedro I I , si não herdou do seu pae aquella Ín- Ter-lhe-á ensinado que Luiz X V I não teria sido
dole franca e rudemente altiva, o denodo, a coragem um desgraçado, si insensatamente não desattendesse
heróica com que desenrolava, uma a uma, todas as ás exhortações de Turgot e de Necker—os ministros
consequências dos seus actos, os mais attentatorios do povo.
da Justiça e da Liberdade, possúe, comtudo, o que Ter-lhe-á lembrado aquelle collossal throno de
este não possuia : a fina habilidade, a subtileza dos Napoleão o Grande, esphacelando-se em estilhaços,
pelotiqueiros na escamotagem de todos os bons prin- não porque elle—o Grande—se encontrâra com Wel-
cípios. lington nos campos de Waterloò", mas porque con-
Emquanto o pai tyrannisava ás claras, a peito tra elle se sublevaram colligados os póvos, cuja vida
descoberto, em campo limpo, o filho é inexcedivel autonomica, cégo pelá sua doida ambição, tentara
no despotismo das ciladas, das trahições, das sor- supprimir.
presas, no despotismo que « espreita, avança recuan-
Te.r-lhe-á apresentado em face o exemplo de
do, recúa avançando ».
Napoleão o Pequeno, que si não tivesse rolado do
Emquanto o oulro ostentava-se franco, sem dis- alto do capitolio de suas tôrpes glorias impellido
farces, sem procurar apparencias enganadoras, tal pelas armas do rei Guilherme, havia de ser, desfeito
qual era, este acceita e pratica o despotismo que em pedaços o seu solio, arrebatado pelo raivoso
encobre a horripilante nudez com as roupagens
furacão revolucionário, que já se tinha annunciado
agaloadas de uma fingida moralidade
no verbo trovejante de Gambetta.
E' o despotismo que vive pelo embuste, pela E uma sequencia interminável de outros exem-
força, pela politica das concessões—a mais perigosa
plos.
das politicas, porque essas concessões, si ás vezes
E' em virtude d'essa proveitosa leitura da His-
podem não ser inteiramente illusorias, trazem em toria que mostra ter, que Pedro II, violando aberta-
si quasi sempre a vileza tôrpe d'uma trahição. mente as leis que seu augusto pai fabricou para
Eis porque nos é permittida aquella liberdade. o seu povo, nos permitte que enunciemos livre-
A EVOLUÇÃO 71
mente os nossos pensamentos, que digamos franca- absurdo concluir que somos livres. Pois, assim
mente o nosso pensar e o nosso sentir sobre a sua como, porque um membro do organismo physico do
pessoa e as suas leis. homem acha-se fóra da pressão d'um corpo estranho,
Elie sabe perfeitamente que, emquanto temos a não se diz que todo o organismo também se acha;
imprensa e a tribuna, onde podemos desferir a nossa assim também, porque se exerce a liberdade em um
só dos seus aspectos, não se pôde afflrmar—por ser
palavra produzindo ensinamentos, d'onde podemos
simplesmente aosurdo—que se excrce-a em todos :
levantar, sem embaraços e sem receios, em enthusi-
porque é facultada a liberdade na manifestação do
asmo flammejante, os nossos brados de guerra,—
pensamento, é inconcebível deduzir que é-o também
certo que nSo iremos buscar outros meios, outras a liberdade de consciência, a de reunião, etc., etc.
armas de combate ; não iremos fazer a terrível guerra,
Xão ha, como se exprime Castellar, meia liber-
a guerra das furtadellas, das emboscadas clandesti-
dade ou liberdade parcial; elia é uma e indivisível.
nas, na qual forçosamente tem de ceder o adversario,
Eis a lógica monarchista.
que, atacado por todos os flancos, não sabe contra
quem investir. J. C.
Elie sabe também que, no dia em que, insensata-
mente, procurar roubar-nos o goso d'aquella única
regalia—que, em somma, representa uma muito le-
gitima conquista nossa—, talvez que este povo, que Entre algumas obras de mérito que têm sahido
elle, nos discursos que dirige ao seu parlamento, este anno da academia de S. Paulo cabe certamente
costuma invariavelmente chamar de dócil e pacifico, um logar aos PRIMEIROS SONHOS, collecçáo de poesias
e ao qual os seus adeptos não concedem nem ao que acaba de publicar o poeta Raymundo Corrêa.
menos a virtude da coragem,—se erga, electrisado,
Falle em primeiro logar o proprio auctor :
num impeto explosivo ; e... é possível, então, que
« Reconheço que ha n'este meu primeiro traba-
sua magestade não tenha successores.
lho litterario composições ridiculamente contrarias
ao espirito da epocha » .
Em seguida diz que ha, entretanto, muita gen-
Mas, fatal cegueira dos reis!
te que ainda aprecia as coisas ridiculamente contra-
Quando as concessões liberaes precisam de ser
rias ao espirito moderno, e conclue :
mais largas — porque a consciência popular vive a
« Se ao menos a pessoas de tão exquisito gosto
inundar-se de luz todos os dias — é exactamente
agradarem estes versos, ficarão satisfeitas as minhas
quando elles se tornam mais avaramente egoístas do
pretensões litterarias » . (*)
seu poder, e persistem em negal-as.
Limitadas pretensões tem o poeta !
Parece que por mais prudentes que sejam, não
Tudo isto deve ser combinado com uma peque-
podem fugir á fatal attracção do grande abysmo.
na declaração que sc encontra logo na capa do livro :
Actualmente, o que se está presenciando no
—poesias ly ricas.
paiz ?
E' bom insistir 'nisto—Raymundo Corrêa consi-
De um lado o povo a pedir, a reclamar, a exigir
dera o lyrismo, o romantismo ridiculamente con-
urgentemente as reformas como satisfação de suas
trários a estes tempos.
necessidades, por tanto tempo procrastinada.
E, para saber-se que elle é um perfeito român-
Do outro o rei, com ministros autómatos e
tico, basta abrir ao acaso qualquer pagina do seu
camaras corrompidamente servis, a ensurdecer di-
livro. .
ante desses pedidos, d'essas reclamações e d'essas E, para prova de que a sua escóla está desloca-
exigencias. da, morta, incongruente, ridícula na actualidade,
E a cada appello que se eleva do povo responde basta notarem-se as contradições em que anda o
o silencio mudo que desce do rei.
poeta comsigo mesmo :
As concessões cessaram!
Entende que tem versos ridículos, mas isso não
Felizes prenúncios. o impede de publical-os, e isto—porque ainda ha al-
Rejubilemos-nos nós, os republicanos. guns raros exquisitões que apreciam taes ridicula-
rias :
Escreve versos sensuaes, versos libérrimos, in-
decorosos, e offerece tudo isto ao seu honrado e ve-
Mas, fechando este rápido parenthesis, e voltan-
lho pai e á sacratíssima memoria de sua falleciJa
do á questão, a Evolução, para terminar as suas
mãe ;
observações, chega ao seguinte resultado : demons-
trado e claramente verificado que nós só possuímos Saúda com enthusiasmo a Idèa Sova e a am iL-
uma única liberdade. — que não é sinão uma méra diçôa depois asperamente na poesia 1'rophela.
concessão real attentatoria das leis e exigida pela E' este o característico das escólas mortas, não
conservação da propria monarchia—, não se pode, disciplinados por um regimen scientifíco :—a falta
sem contonòes da consciência, affirmar que n este de solidariedade mental.
piuz ha liberdade.
Porque temos liberdade de pensamento, é um (•) Pag. 93—nota 2.»
72 A EVOLUÇÃO
Entretanto, R Corrêa dispõe de um tão invejá- Entretanto, Raymundo proinette tomar o ca-
vel talento e natural aptidão para a poesia, que, minho da verdade, que diz já ter reconhecido.
mesmo apezar de tudo isso, os seus versos são algu- Si isso fizer, com certeza o seu bello talento lhe
mas vezes inspirados. marcará elevado posto no cenáculo dos poetas mo-
dernos.
A introducçào contém estes bellissimos versos,
que mais bellos seriam tirando-se-lhes a exclusiva O seu livro, como esperança, vale muito.
subjectividade: Mérito positivo, a não ser o da revelação de um
bom estro, não o tem de qualidade alguma.
« Florestas virgens, gigantescas arvores.
Torrentes chrystalinas. A . B.
Rocio celeste a scintillar nos cálices
Das húmidas bouinas,
Luz indecisa do cahir da noite,
Do levantar do dia,
COLLABORACÀO
Intermittentes auras, sons monotonos
Da catadupa f/ia,...
Tremei, sorri, brilhai, erguei mil cânticos : 0 século caminha
Estou na flor da idade » .
( A ASSIS BRAS L )
Como bom discípulo de Casimiro de Abreu, o
homem que 'neste paiz mais damno fez á saúde, a mo-
ralidade, aos bons costumes dos rapazes e das moças, O século é pujante, heroico, inexorável.
—tem também Raymundo os seus assomos livres, e —Navio que enristou a quilha incontrastavel
não raramente, immoralissimos : A's praias do porvir, lã vai talhando o mar.
Espadana-lhe em vão as bavas hediondas
«Acorda, meu amor! vem ter com migo O inútil preconceito: embalde em crespas ondas
Por baixo dos cafés ». Forceja por tolher-lhe o impávido marchar.
Assis Brazil
Ann«» 1 S. P a u l o , 3 0 d e N P t c i n b r n d e 1 8 7 ! ) A. tO
nalismo académico, temporariamente abandona os aos impulsos da civilisaçSo nova, depois de haverem
campos do combate,—não lhe compete dizer si d i g n a - apagado os traços profundos do antigo regimen,
mente satisfez aquelle empenho. respeitando-o unicamente n'aquillo que elle possa
ter de compatível com os tempos, começam a se re-
Que a julguem os contemporâneos.
constituir no sentido da verdade moderna, consoli-
dando os resultados de suas victorias, ganhas n'uma
lucta ás vezes fratricida, e elevando o nivel das
em fonte seientiSca, mas inspirações «lo momento, mentos de Littré (2) de que estas linhas são um
e por isso desconcordantes, sem vínculos de cohe- desmaiado reflexo.
rencia, contradictorias, emfim, no sentido genuíno
da palavra
Assim é que vemol-os em lucta permanente Para os brazileiros que ainda não enterraram no
comsigo mesmos, obrando hoje de certo modo e tumulo da desesperança a crença na grandeza futu-
amanhã alterando, quando não atacando pelas bases, ra d'esta terra, c que acreditam na força invencivel-
os resultados das suas operações ; desfazendo, in- mente eflicaz da civilisação, perante a qual á Ame-
scientemente destruindo um dia depois aquillo que, rica compactamente, sem exclusão d'uma nacionali-
sem elevação de vistas, sem critério, sem planos dade, cabe uma missão de cujo desempenho não pôde
harmonicamente combinados, sem previsão, emfim, f u g i r ; e para os espíritos que, educados nas verda-
produziram inopinadamente na vespera. des da sciencia moderna, entendem os phenome-
Assim é que os partidos constitucionaes, d'onde nos sociaes, não como méros productos do accaso
são extrahidos os grupos governantes, alternam-se ou de uma Providencia desconhecida, mas sim regi-
ou succedem-se no posto da governação, desorde- dos por leis naturaes cuja acção a vontade humana
nadamente, sem harmonia, sem razões de preceden- é impotente para desviar, como é-o em relação ás do
cia, sem successão lógica, mantendo no momento mundo physic», e que estudam e comprehendem a
da acção exactamente a conducta, o systema de po- Historia como a representação d'essas leis, entrela-
litica que pela palavra ensinaram ser condemnavel çando n'uma vasta harmonia todas as phases histó-
e esteril, abrigando no dia do governo, sob a sua ricas da vida das sociedades e, em uma esphera li-
bandeira, as idéas que repelliam na vespera com mitada, todas as phases históricas d'um povo deter-
toda a energia de que eram capazes. minado ;—para aquelles brazileiros o para estes espí-
E* a consequência infallivel de ascenderem ao ritos a anarchia que lavra surdamente no seio da so-
poder, não agrupando em torno de si as adhesões ciedade brazileira é a premissa infallivel d um pro-
nacionaes, não impondo-se pela força dos seus prin- ximo movimento, d'uma mutação profunda que ha
cípios traduzidos n u m programma vasto, mas pela de decidir da nossa sorte, encaminhando-nos na ve-
enorme tarefa de dar em terra com o regimen que um simples resultado d'uma causa, e indagar qual
dominara os seculo3 anteriores para sibre os seus seja esta, vae encontrai a na monarchia.
destroços lançar os fundamentos da grande obra da Sua maior tarefa, seu máximo empenho tem con-
civilisaçãi» moderna. sistido exactamente em conservar o povo n'aquellé
Si não ha aqui empirismo,—e não ha porque es- estado, ignorante, inculto, quasi barbarisado mes-
tes factos representam, na phraseologia de Littré, os mo. Obrando d este modo, ella não tem feito sinão
três pontos culminantes de toda a evolução social obedecer ao instineto de conservação Sabe que, povo
operada ató 89; si, portanto, se prova scientifica- illustrado é incapaz de ser governado. Povo illustra-
mente, sociologicamente que a anarchia caracterisa do é povo livre, porque quer ser governado por si
sempre a dissolução e a decadencia de uma organi- mesmo, e revolta-se contra a vergonhosa tutella que
sação social próxima a ser substituída por outra se lhe queira impôr.
immediatamente superior; si se prova igualmentci A instrucção e a educação são o pedestal da li-
o que é fácil, que o mesmo acontece particularisan- berdade. Sem ellas, a liberdade é impossível, porque
do-se a uma determinada s o c i e d a d e ; — a deducção lhe falta a base, o apoio moral que géra a corapre-
lógica é que a anarchia mental em que está se dis- hensão dos direitos, as virtudes cívicas e o brioso
solvendo este paiz, é um prenuncio, não j a prová- valor quando cumpre sustental-os.
vel, mas infallivel até aonde pôde chegar o poder da Estas verdades são muito sabidas, e é por isso
previsão scient.fica, de um forte abalo que impul- que, comprehendendo-as, Pedro I I tem encaminha-
sar-nos-á para um modo de ser mais progressivo e, do a sua politica de modo a não fazer dissipar-se a
sobretudo, normal. sombria escuridão que envolve a alma d'este povo.
Mas esse movimento, essa mais ou menos próxi-
Pois os factos não estão attestando-o ?
ma mutação, em que sentido se operarão ?
Seremos conduzidos para a republica ? E' innegavel, e ninguém contesta, que o gover-
A l e m do motivo superior que ha para respon- no quasi nada tem feito para favorecer o espargi-
der-se afirmativamente, qual seja a lógica impec- mento da instrucção no seio do povo, e que a que cm
cavel do progresso c dos acontecimentos — produc- esphera muito inferior possuímos tem nascido quasi
ções d esta lei, o exame desapaixonado e sincero das que exclusivamente da iniciativa particular.
eircumstancias que envolvem e apertam no seu cir- Porque acontece isso ? Porque a nossa situação
culo inexorável a monarchia brazileira, não p e r m i t t e financeira não comporta despezas com a instrucção
outra a f i r m a t i v a . — respondem os incensadores da monarchia. Mas
A Eroíução prova-o em rápidas p a l a v r a s . isto é uma irrisão, e é dispensável provai o, pirque
j a passou a ser facto trivial — as verbas escandalo-
sas de orçamentos escandalosos e a liberalidad Í na
Uma f i t a i sorte tem acompanhado a monarchia distribuição da fortuna publica — a mais altamente
fundada por Pedro I . lesiva aos interesses do Estado.
Si 57 annos são pouco tempo para que ella tives- A verdade é que divisa-se n'aquelle lacto o dedo
se fundado o seu credito, são da sobejo s u f i c i e n t e s do gigante, o cunho da velha estrategica monarchica.
paro que tenha cavado a sua própria ruina. Ella j a Si, pois, está extraordinariamente atrazada e in-
passou pela prova decisiva, e esta lhs tem sido des- culta a intellectualidade brazileira, não se deve ver
favorável. n'isso sinão o resultado do regimen monarchico.
Com effeito, quem creou este estado profunda- A monarchia. portanto, j a corrompendo os cos-
mente anarchico em que nos debatemos ? tumes, j a mantendo e alimentando a ignorancia nas
Quem nos trouxe a esta decadencia precoce, que massas, foi o agente produetor do meio anarchico e
por ser ephemera, não deixa, comtudo, de ser d e - disolvente em qua nos achamos.
cadencia ?
Tornou-se, d este modo, radicalmente incom-
Quem nos roubou o sentimento das virtudes c i -
patível com o nosso futuro, e incapaz para dirigir-
vicas, nos esterilisou a intelligencia, nos asphyxiou
nos no sentido da ordem e do progresso.
a consciência, nos abastardou o caracter, quem pro-
A republica será, por consequência, a solução
duzio, e m f i m , o meio corromp do em que v i v e m o s ?
Pois não foi a monarchia ? imperiosa do problema que se nos vae impond • com
A Evolução se dispensa de ir observar o passa- os assombros do enigma, solução que lia de brotar de
do ; limitar-se-á a apreciar as consequências de que um não muito longínquo acontecimento.
está prenhe o presente, consequências que ella resu-
me n'um só facto, mas vigorosamente docisivo : — a
falta de educação no povo. A Evolução podia terminar alii Mas pente ne-
Este facto é attestado por todos os homens da cessidade de dirigir humildemente um appello á
ordem monarchica, que confessam sem reluctancia geração contemporânea.
que a causado mal-estar que geralmente se sante, da A republica se approxima.
lentidão com que caminhamos, do nosso atrazo, em- Eilha, talvez, de uma revolução, a sua conso-
fim, é a ignorancia e :i ausência de educação no lidação e a reorganisação de c stumes de qu > ella
povo lia de ser o termo da partida, resumem a enorme
A isso sã limitam os partidarios monarchicos, tarefa dos que hão de assistir ao seu nascimento.
mas quem observar que este phenomeno não é sinão Cumpre, portanto, ir desde j a desbravando o
7(5 A EVOLUÇXO
caminho, o <3 esta & missão urgentíssima que pésa Resistir-lha quem ousa ao Ímpeto sublime?
sobre a geração contemporânea. Si alguém tenta empanar a luz que d'ella chove,
Trabalhar para que a republica não horde os Parto os sceptros reaes, como si fossem vime,
prejuízos e os erros monarchicos — eis o que 6 ur- E créa, após Voltaire, o sol de oitenta o nove ;
gente.
Para isso o quo lho cumpre en tilo fazer ? Emquanto o rei sorri na estupidez ignara,
Educar-so e educar. A barricada audaz na praça se alevanta ;
Educar-se — para aprender « na sã theoria da O abysmo popular mil boccas escancara
Historia» que as correntes sociaes, porcebidas e com- E deixa ver inteira a rúbida garganta.
prehonclidas, podem ser encaminhadas de um modo
honeficamonto eillcaz; para conhecer a verdadeira
Quebrando a rija lousa ao tumulo inconcusso,
oonduota social n manter quem aspira a um posto
Ferindo a escuridão dos séculos em pó,
na direcção do paiz ; educar se, emfim, para educar.
V o m rolando até nós um lugubre soluço
Educar—para preparar pelo o u s i n o e p e l o exem-
l ) e alguém quo g e m e oppresso abandonado e só.
plo a grande obra da civilisacão futura.
Pelo ensino, omprehendondo uma larga propa-
ganda soientiílca que consiga erguer o nível moral Quein é que soffre assim na illimitada Noite,
d'este povo, e facilitando, assim, o advento do todos Enchendo o ar atroz de tão sombrios ais,
os progressos ao lado do progresso politico. Como si lhe tombasse algum eterno açoito
Pelo exemplo, erguendo por moio da rigidoz do Cortando e recortando os musculos llnaes?
caracter e da intrepidez da consciência, o severo
modelo do uma honesta conducta moral.
São os nossos irmãos, as victimas do Crime,
Emflm, a Etoluçào resume tudo o que pudesse
Que a todos abysmou no vórtice cruel
dizor n'estas duas palavras que a sociologia erigio
em divisa :—Ordem o Progresso. li a cujo largo peito inda sinistro opprime,
Qual rude pesadello, o aço do broquel.
Ordem e progresso — eis o d o g m a sociologico.
Ordem o progresso — eis a republica.
Ordem e progresso — eis o objectivo para o qual São os nossos irmãos que pedem-nos vingança,
devo trabalhar aquclla parte da geração contempo- Depois de irem morror a combater por nós.
rânea que não quizar consumir-se em uma vida de A descarnada mão ainda aperta a lança.
inércia e de esterilidade, sem haver collaborado para Da roída garganta ainda irrompe a voz.
a obra commum.
Que consciente dos seus deveres e da sua res-
São os nossos irmãos que mostrara-nos a liça.
ponsabilidade, ella se alevante para alUrmar-se d i g -
No tumulo agitando os brancos ossos nús,
namente, gloriosamente diante da Patria o diante da
O rebate vibrando enorme da Justiça,
Historia.
Entre os hymnos de llarmodio e o tambor de João Hus.
J. C .
Impávida, atravessa as erúas mortandades, E- nobre esta batalha, ó grande osta missão :
A hecatoinbo dos reis, o potro dos tormentos, l r derramando o pranto, a bençam, o oonforto;
K , calina, vui arando o campo das odades, Fazer surgir um vivo aondo estava ura morto
Donde emorge o Progresso cm tropioaes rebentos. li da cru* arrancar os que sobro ella estão j
A EVOLUÇÃO 77
Derramar sobre a Treva a Claridade immensa ; A ' concepção theologica e metaphysica do mun-
Tornar branco e risonho o que sombrio f ô r ; do succédé a concepção positiva.
A ' Fome dar o pão, os balsamos á D ò r ; A o poder brutal da força, occulto nas mais extra-
A nova Fé levar ã noite da Descrença. vagantes ficções, ao poder cego da crença, começa a
substituir um novo poder,—o da sciencia que ha de
unificar e illuminar os povos com a verdade.
Mas, si, ante a irradiação d'essa infinita luz,
Os déspotas cruéis rirem do nosso pranto,
Si zombarem de nós, do nosso arrojo sancto
Os sentimentos altruístas despertam-se ; levan-
E mais fôrem rasgando os nossos membros nús,
tam-se as sociedades civilisadas ao clarão derramado
por uma comprehensão mais exacta das cousas.
Da revólta ao clarão, que as frontes nos descora, A igreja é forçada nestas circumstancias a aban-
Vasemos todo o fel dos nossos corações, donar a posição que tem mantido sempre.
E, o peito arremessando às boccas dos canhões, Dominar hoje, diante da marcha titanicamente
Rasguemos 'nessa Noite a nossa eterna Aurora. ascencional dos povos para a liberdade, para a justi-
ça, ella, a estacionaria, é absolutamente impossível.
Quando o sangue é preciso, atira-se ao c l i r v s o l : A s idéas, os princípios, as falsas instituições
Ferve 'nelle o metal da estatua agigantada. que imperaram no passado, não se harmonisam com
Depois que o temporal recolhe a atroz rajada o presente.
N a limpidez do céo brilha mais puro o sol. « Tudo o que se apoia sobre a mentira e a frau-
de, perecerá. Instituições que são a organisação da
Assis BRASIL. impostura, deverão emfim apresentar seus titulos
ao tribunal da razão. A fé deverá prestar contas e
os mysterios ceder lugar aos factos. O que foi es-
cripto um dia por Esdras sobre as margens de um
Pela verdade rio babilonico nos salgueiros, se verificará: A ver-
dade é eterna, não morre nunca, vive e se augmenta
O edifício da historia firma-se em pedestaes de s e m p r e . » (1)
brenze, torna-se grave, austero—banido o maravi- E effectivamente abi estão as victorias alcança-
lhoso. das sobre as invenções theologicas; e a heresia, que
0 sol dos mythos antigos bruxoleia, vai-se apa- é o progresso encarnado nos gênios mais portento-
gando na noite do passado. sos que têm honrado a humanidade, ahi está ovante
Por sobre o tumulo do Christo, daquelle inspi- sobre os destróços do passado, imprimindo força
radíssimo athleta, não luz nem mais uma estrella en- nova, novo vigor no espirito dos povos.
cantada. Dos conflictos travados entre a religião e a scien-
A fé, essa virtude sobrenatural, como a defínio cia, ensanguentados muitas vezes, quem tem ven-
a igreja, está morta na consciência do século.
cido ? A igreja ou a sciencia ? A palavra dos sábios
Qual a causa ? O que significa isto ? Interrogai a ou a dos deuses do Sancto-offlcio ?
esphinge do progresso. E ' a evolução do sentimento
O mundo foi creado em seis dias, ou formou-se
religioso, desenvolvendo-se em terreno mais solido,
em longos períodos de elaboração, como assignalam
as crenças herdadas das gerações extinetas, desap-
todas as observações scienti ficas ?
parecendo diante da explicação lógica dos factos.
E' a terra ou o sol que occupa o centro de nosso
E' justo
systema planetario ?
Em virtude deste novo modo de ser, os espíri-
Os astros movem-se no espaço, conduzidos por
tos, arrastados pelo impulso vigoroso da civilisação,
uma divina mão, ou em virtude de leis fixas,immu-
rompem, ousados, com as antigas tradições e pene-
taveis ?
tram n'um mundo mais vasto, mais real, mais po-
V e m ao caso lembrar o que disse L i t t r é : « O
sitivo.
que se tem feito se fará ainda: por toda a parte a
Em frente das maravilhosas creações do enge-
sciencia trabalha, e por toda a parte trabalha para
nho humano—invenções, descobertas; da sujeição
nós. Os thcologos não collocarão jamais a terra no
dos mais assombrosos phenomenos a leis scientifi-
cas, o homem deixa naturalmente de ser um crente centro do m u n d o . »
ascético, para pensar. Derrotada sempre, a igreja infallivel está des-
E eis porque : os conventos aniquilam-se, desa- moralisada.
bam, e, em vez do silencio tumular dos claustros, Quem poderá d'ora em diante acreditar piamen-
ouve-se por toda a parte o hymno varonil do tra- te na divindade de suas asserções?
balho, o borborinho solemne de uma agitação im-
mensa.
A igreja está vencida, derrotada, mas a igreja
A humanidade retrograda ? Não.
A lueta pela intelligencia, o trabalho pelo bem,
pela verdade, são leis nobilitarias. A humanidade (1) Draper, Conflictos da sciencia e da religião,
caminha. pag. 265.
• 1
78 A EVOLUÇÃO
suas tendencias, com a sua índole própria ; do outro ção cm que seja abolido tudo aquillo que o bom
lado estão as forças que sobro elle actuam, está o senso rcpelle, em que BC estabeleça a perfeita so-
meio, que é o conjuncto das influencias externas, lidariedade entre a dignidade social e a dignidade
por elle creado e que 'nelle so vai reflectir. São os politica do individuo.
dois braços que vão esgalhando os complicados c Isto equivale a dizer : « A harmonia só pôde
variadíssimos ramos dos factores secundo rios intrín- vir pela. r e p u b l i c a » .
secos e extrínsecos. Herbert Spencer o demonstra
clara c brilhantemente (1).
Da harmonia d estas duas forças primordiaes Dizer que o « povo brasileiro não está prepirado
da não preponderância de unia sobre a outra nasce para a republica » é uma insensatez das muitas que I
o ideal hannonico evolutivo, a legitimidade do pro- tomam fóros de provérbios na bocca dos repetido-
dueto. res banaes.
Não é necessário demonstrar largamente que N o estado actual da civilização, adiantado como
entre nós essa harmonia nunca existio, ou que, pelo está o influxo democrático em todos os espíritos,
menos hoje, está profundamente quebrada. Os pro- tal adir mação equivale a suppõr absoluta falta de
raciocínio e bom senso, já não em uma pequena
cessos economicos, que proclamai» a indcpcndencia
parte, mas na maior parte do povo. Com elíeito,
individual na indcpendencia total, exigem a sobe-
dos cidadãos que pôde m influir nos destinoj do es-
rania do individuo na soberania da nação, asphixian-
tado, qual é hoje o tão atrazado que não compre-
do-se, portanto, na omnipotência esmagadora dos
henda que não é o poder privilegio de ninguém,
poderes de facto. A o passo que a aspiração demo-
que o merecimento proprio é o único critério de
crática se vai firmando na liberdade e buscando es-
elevação politica e social? A razão e o bom senso
paço para crescer pelo ideal do futuro, restringe-se
do povo, ou, pelo menos, da parte d'elle que pre-
o circulo de aço da auetoridade pelo ideal do pas-
pondera sobre a outra parte, são, pois, antes dc
sado. Kinquanto a idéa alarga, crescendo, o campo
tudo, um attestado da capacidade do paiz para re-
do seu império, o facto retrograda, ou emperra-se
ceber e exercer o governo da liberdade.
na immobilidadc da conservação. A politica estacio-
Basta, além d'isso, um exame comparativo entre
nou. emquanto tudo cresceu e caminhou.
a actual fôrma d e governo e a fôrma republicana.
Theophilo Braga, que, mais ou menos, applicou
Desde o momento em que um povo está aplo p i r i
ao seu paiz algumas d'estas observações, figura a monarcliia constitucional, o está, com duplo mo-
engenhosamente este phenomeno nas seguintes pa- tivo, para a republica. Quando outra razão não
lavras : « Conta uma velha lenda q u e a túnica i n - houvesse, bastaria lembrar a declamarão todos i»s
consutil de Christo crescia no seu corpo, a l a r g a n d o , dias levantada pelos defensores do constitucionalis-
se com a edade ; é esta a i m a g e m das instituições mo, que a toda a hora apregoam que o « Brasil sô
e eis que vestem o corpo social ; á medida que o não é republica no nome, pois que cm tudo reflecte
desenvolvimento se dá no individuo, e se reflecte a índole das instituições puramente democráticas.
pelas descobertas, pelo ensino, ou pelo e x e m p l o , na Mas, d e i x e m o s de parte essa concessão dos fracos
collectividade, ha uma transformação a f a z e r - s e , r e - adversa rios... Clareza distineta no espirito das ins-
clamada por um mal estar, que irrompe quando não tituições, simplicidade admiravel no inechanis.no
é attendido » . (?) g o v e r n a m e n t a l , ausência completa de formulas ine-
taphysicas, incomprchensiveis, fácil o legitim-i ac-
O conflicto é, em ultima analyse, travado entre
ccsso da dignidade a todas as aspirações — eis o
a liberdade e a auetoridade. A túnica inconsutil
caracter essencial do governo republicano moderno.
aperta e constrange cada vez mais os vigorosos A monarchia constitucional é, pelo contrario, a com-
membros d'esse Christo chamado povo, que vai, e n - plicação, o einmaranhamento, a incomprehensibili-
tretanto, assombrosamente crescendo. O meio fictí- dade, a ficção e a metaphysica por toda a parte.
cio, creado unicamente pelos exploradores que v i v e m A republica será immediatamente fiscalisada pelo
do privilegio, absorve e inutilisa a poderosa acção povo, que facilmente comprehenderá a sua simplís-
das unidades representadas nos indivíduos. sima economia, ao contrario do que succédé com o
Desde o momento cm que se declara assim regimen monarchico, no qual o povo, para fallar
abertamente o desencontro entre a liberdade e a uma l i n g u a g e m popular,—não sabe a quantas anda.
auetoridade, entre aspiração progressista e o esta- Em uma palavra : para povo atrazado—a republica ;
cionamento politico, entre a idéa ç o facto,—começa a monarchia, si algum dia fôsse legitima seria quando
uma longa serie de acções e reacções surdas, porém fôsse exercida por um povo illustradissirau. Os nos-
violentos ; o poder concentra-se. nos planos de con- sos inonarchistas seriam mais logicos pedindo o
servação, todo o progresso se paralisa. Si é preciso absolutismo. Será este talvez o seu ideal, pelo qual
um exemplo, ahi está este paiz. trabalham surdamente, mas que não ousam franca-
O desequilíbrio é patente : a fôrma politica não mente declarar. A c h a m mais suave combater a de-
acompanha a fórina econoinica. A harmonia RÓ pódc mocracia, com prejuiso da lógica e do bom senso,
vir, por conseguinte, evidentemente pela o r g a n i s a - muito embora.
paração republicana. Toda a America 6 republicana. netários, verdadeiras revoluções occasionadas pelo des-
Os progressos enormemente superiores aos nossos equilíbrio entre as duas grandes forças naturas cen-
operados por todas as republicas do Novo Mundo, trifuga e de gravitação.
apezar das continuas eommoçõss por algumas sof- Nas sociedades constituídas ha um meio único
de evitar o abalo o conjurar a tempestade :—a sub-
fridas, o exemplo todos os dias citado dos Estados
missão dos que representam a força resistente. i
Unidos e outros muitos motivos—fazem com que Entre nós será isso possível? Insensato quem
as massas intelligentes meditem seriamente sobre o responder pela aflirmativa. Basta lembrar que a sub-
assumpto e farão com que ninguém extranhe o ad- missão devia começar pelo imperador... Quem terá
vento da republica, quando cila vier. li, além do a ingenuidade de pensar em uma abdicação ? Quem
tudo. não se pôde negar que. de certo tempo para está em cima não desce espontaneamente. Os Mach-
cá, as novas idéas tem fundamente caindo nos es- maon são raríssimos, e impossíveis quando tém uma
píritos e um grande numero de cidadãos abertamente coròa na cabeça.
Chegados as coisas a este, ponto, o mais é, por
trabalha para esse fim, não contando já os que nas
assim dizer, independente da vontade dos indivíduos,
suas confidencias reservadas se confessam republica- arrastados na onda impetuosa.
nos. A força evolutiva ó uma força de inércia. Inércia
Appellar para a falta de instrucção do povo, chamam os astronornos e mechanicos áquella força
que a Evolução não nega, é desconhecer as mais po- pela qual um corpo continua o movimento inicial.
sitivas afiirmaçôes da historia. A ' excepção da França, A inércia restringe-se e pôde mesmo extinguir-se
todas as republicas actuaes, quando adoptaram essa pela influencia preponderante de urna força extranha.
fôrma de governo, estavam muito aquém do estado Neste estado, só um impulso novo lhe harmonisarà
o movimento. Nas sociedades esse impulso chama-se
presente do Brasil. Ha hoje processos'economicos
revolução, e é sempre necessário; porque a evolução
e elementos de progresso nem siquer suspeitados superorganica não pôde extinguir-se einquanto du-
'naquelles tempos. Demais, a principal missão da rarem os seus factores.
republica é elevar, utilisar e encaminhar, isto é,
A revolução é fatal.
educar as forças sociaes.
Emfim, um descontentamento geral pela monar-
chia apodera-se de todos; os dois partidos consti- Que esta conclusão tremenda não assuste os
tucionaes cahiram egualmente em descredito ; faz-se timoratos.
mister uma mudança radical. Essa aspiração geral Causa vergonha ser ainda necessário dizer a um
povo que a revolução e a republica não são a guerra
é um indicio de preparação.
e a anarchia.
A mudança não pôde ser feita sinão para a re- Guerra e anarchia temol-as nós 'neste miserando
publica. estado em que ninguém se comprehende, em que
apodrecem os caracteres, e uma sphinge medonha
occupa a negra curva dos horisontes do futuro. Nor-
Porque modo se fará a transição ? malidade não é este desencontro de idéas e opiniões,
A Evolução já respondeu a isto; a sua opinião esta completa divergencia formal, que no fundo se
é conhecida. Ha os meios ordinários e ha os meios identifica na lueta abastardada de microscópicos in-
extraordina: teresses. Paz não é este continuo aspecto de guerra,
•ios. Pôde-se, entretanto, positivamente este turbilhão de duvidas e trucidações que a todo
affirmar que a marcha evolutiva é a única real. o momento salteiam os espíritos desgarrados na
Todas as outras maneiras de progresso são, em ul- rota do desconhecido.
tima analyse, manifestações delia, mediata ou im- A rnissio mais nobre, a primeira missão dos
mediatamente E', portanto, inexacto dizer « q u e se republicanos é trabalhar pela solidariedade de todos
os combatentes na conquista da justiça. O addia-
pôde transformar a revolução em evolução » . Aquslla
mento é perverso e criminoso. A maior injustiça,
é simplesmente, já não um instrumento, mas uma
dizia La Bruyère, consiste em protelar a justiça.
phase especial d'esta.
Que não haja desesperançados nem descrentes.
Quando os poderes organisados, dominantes em
O apêgo d'este povo a monarchia só se explica pela
uma sociedade qualquer, tenaz e obstinadamente
facilidade com que. acceita os factos consummados.
resistem ao seu desdobramento progressivo, os ele- Esta qualidade do povo é uma garantia da estabi-
mentos accumulados e represados naturalmente ir- lidade da republica. Que não haja, pois, falsos te-
rompem em ab,iladora explosão, e, partidos os moldes mores de que a liberdade não possa medrar em terra
apertados que os comprimiam, proseguem na nor- brasileira.
malidade, por momentos perturbada. Essa brusca A Evolução, que julga ter na medida das suas
ruptura é, como se vê, o resultado fatal de um grande forças cumprido o dever sagrado, não leva de menos,
ao retirar-se temporariamente do prélio, uma única
desequilíbrio entre dois elementos constantemente
pétala da grinalda de esperanças com que nelle en-
em lueta em todas as sociedades:—a liberdade, que
trou.
gera as forças impulsoras, e a auctoridade, que gera Essa não lh'a desfolhará de certo o áspero vento
as forças conservadoras. A revolução é, por conse- da realidade; porque sente-se que a aurora se ap-
guinte, um phenomeno tão natural como todas as proxima. A Victoria da liberdade é necessária. A
elaborações da Natureza na ordem piysica. A ser republica vem perto.
A. B.
exacta aquella bella e engenhosa hypothese de La-
place,
Typ. da Tribuna Liberal.
o systema solar se foi formando por uma
longa serie de rupturas violentas dos anucis pla-