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A EVOLUÇÃO. Periódico editado por Assis Brasil, Júlio de Castilhos e Pereira da Costa. N.º 1 a 5.

São Paulo, 1878-1879. Biblioteca Central da PUCRS. Coleção Pessoal Júlio Petersen.

Publicação editada em São Paulo quando os autores eram estudantes na Faculdade de Direito
de São Paulo.

Versão de teste – Disponível para download em 05.01.2012.


1
A EVOLUÇÃO
Pericdico redigido pelos acadêmicos Assis Brazil, P. da Costa, J. de Castilho

Ann» fl S. P a u l o , 1K d c A b r i l «lc I H 1 »
do Christo 1 Irrisãu 1 escarneo lançado á face do '
A EVOLUÇÃO mundo, lançado á face de Deus!
E estes dous exemplos bastam.
S . P A U L O , LÕ DE A B R I L DE 1 8 7 9
Perante isto, o. que nós, os moços, devemos fa-
Existe latente no seio (la Natureza uma lei que zer para honrar o presente e felicitar talvez as gera-
impelle fatalmente para diante os mundos physico e ções porvindas ? Trabalhar desassombradamente,
moral; mais ou menos, confórme as forças de cada urn, para
O mundo physico—pelas continuas transforma- que os velhos ídolos, as estatuas feitas de barro, os
ções da matéria, tendendo sempre para o maie per- antigos prejuízos, os antigos erros, rolem por terra,
feito; y» f»I \ desappareçam aos reverberas do grande sol da ||
O mundo moral—pelo desdobramento persisten- razão.
te dos espíritos, operado na acquisição de idéfisVa-, E' preciso que ninguém tenha a fronte voltada
verdades cada vez mais largas. CRaítí£ às alvoradas do porvir com a alma presa, em-
A'parte o que lia de fatal neste movimento indefi- brenhada nas negruras do passado; que todos se I
nido, a livre indagação, apoiada no critério seguro da compenetrem de que a humanidade não vegeta; vive, '
rasão e da experiencia, descobre verdades, classifica- caminha e .caminha sempre, a despeito de todas as
as, expõe-nas, dirigindo, animando, metbodisando o tyrannias, atravez de todos os obstáculos, pois que os |
progresso. destinos do mundo, como das alturas da tribuna jà
Gyrando sob o influxo desta grande lei, na estrei- o disse um grande espirite, saltam por cima dos ca-
ta esphera da fragilidade de suas forças, a EVOLUÇÃO fa- valletes e das guilhotinas.
rá delia, no caminho do jornalismo, o seu bordão de Senão véde: depois daquelle primeiro bater de
viagem ; azas de condores para a Reforma, depois dos sacri-
Derramará os princípios da Democracia pura, co- fícios de João Huss e Jeronymo de Praga, surge além^
mo supremo ideal das sociedades actuaes; illuminado pelos clarões dos mesmos princípios, o
Comprehenderá as questões litterarias na altura monge de Eisleben ; depois dos assassinatos de Rus-
da civilisação; sell e Sidney, relampeja no solo de Inglaterra o sa-
bre de Cromwell; depois de Voltaire pleiteando a
Consagrar-se-á, emfím, com ardor, ao serviço
causa de dous desgraçados, Calas e Labarre, a causa
da eterna Justiça.
da justiça, troveja o verbo de Mirabeau.
Grande tarefa, para a qual conta unicamente com
a sua boa vontade e com a benevolencia dos c o n t e n - Assim, nem as infamias do concilio de Constan-
p o r a n o . ça, nem os desvarios infelizes de Carlos I, nem o des-
potismo dos reis de França, impediram a Victoria das
idéas
A EVOLUÇÃO não menciona estas lutas olyrapicas
( SYSTHESE )
na vida dos povos, para accordar aquellas paixões
As duas grandes revoluções, a revolução religio- largas e generosas que por tantas vezes têm anima-
sa encarnada em Martinho Luthero e a revolução do, em explosões electricas, os lúcidos batalhões dos ,
franceza de 89, fizeram muito a bem dos povos, mas filhos do porvir. Não; ella reconhece que,sempre que j
não fizeram tudo. fôr possível, devem-se evitar as revoluções armadas,
Nem era possível. as revoluções sangrentas; tanto mais quando todas
Existem ainda muitos axiomas, muitos dogmas as reformas, todas as transformações possíveis no
que não tem sua razão de ser, que é preciso refutar mundo moral podem-se operar naturalmente nos la-
á luz da justiça, á luz da consciência. bora to ri os pacíficos da idéa.
Hoje ainda, mesmo em paizes considerados li- Mas, para que isto aconteça, o que é preciso? Que
vres, a pessoa do rei é inviolável e sagrada; não pô- &quel'es a quem mais competir, ouçam religiosa-
de o monarcha responder nunca pelos crimes que mente os gritos e as lamentações que vêm do fundo
commetter. da historia; gritos e lamentações que são avisos, que
Seja como fôr, é este um absurdo insustentável: resumem conselhos.
perante a philosophia não se concebe que um homem Os padres e os príncipes que notem bem isto ;
possa ser criminoso impunemente; perante a moral e os primeiros, se quizerem continuar a dirigir o re_
1 equidade, é immoral e iníquo (1). banho christão,que sejam simples e bons,e os outros,
O papa é infallivel, porque é um inspirado, por- s e desejarem reinar por mais algum tempo sobre os
que é o successor de S. Pedro, pirque 6 o successor povos, que atirem ao monturo todos os fal sos ouro-

PUCRS/BCE
peis com que os adornou a ignorância do pas- Aquelles que lêm as inseri peões seculares que
sado. margeam o grande abysmo do passado, nfto o igno-
Foi-se o tempo dos assassinos, dos bandidos e ram.
dos monstros como Jacques Clement e Ravaillac, OH governos mal intencionados tem-se aprovei-
Alexandre VI e Torquemada; dos déspotas como tado desta fraqueza que não é fraqueza, desta irreso-
Henrique VIII e Philippe II. luçfio apparente para fazerem prevalecer a sua von-
E, se esta é uma luminosa verdade, aquelles que tade, os seus raprichos.
hoje tentarem imital-os, mesmo muito de longe, po- Deixem muito embora cahir pelo caminho as se-
derio ser esmagados pelas rodas do carro da liberda- mentes que tem produzido as mais assombrosas heea-
de e apressar de um modo funestíssimo a realisa- tombes.
cáo do que estava reservado para sel-o mais tarde, Sé lhes faltar a intruccfto, da parte daquelles que
seguindo o curso natural, logico e providencial dos amam o direito e a justiça, taes naçòcs encaminhar-se.
acontecimentos humanos. hão necessariamente para este estado desolador; por-
M o precisa ser um optimo observador para notar q u e se é certo que as escravidões auxiliain-sc até domi-
que aquella nuvem borrascosa, acastellada n o c é o de narem completamente a consciência publica, é tam-
bém certo que os povos não resistem eternamente
França, ha noventa annos, ainda não passou de
á pressão tyrunnica dos governos que se desmandam
todo.
0 povo na sua sagrada aspiração de verdade e de P. C.

justiça, quer e ha de ser livre; porque a cada mo-


O Constitucional, periodico conservador acadêmi-
mento, a cada hora, vae tendo de si um sentimento
co, em seu I o numero, anno VI, publicado ha pouco,
mais viro, mais largo.
declara-se solidário com o seu passado.
Que não haja pais n e n h u m a obstinação, n e n h u -
Inaugura, porém, um novo systema de l u e t a ;
ma resistencia, diante de sna vontade a u g u s t a .
descendo da esphera abstracta dos princípios para o
E, para conjurar os grandes males que por ven-
terreno pratico e positivo, promette analvsar e com-
tura possam ennuviar o dia de amanlifi, é urgente
bater os actos do governo liberal.
que deflnam-se bem as posições, para que os governos
Isto se encontra no artigo inicial, escripto por
não penetrem mais armados, porque não tem esse
Fernando Mendes, redactor chefe do periodico.
direito, nos arraiaes da soberania nacional.
Na sua opinião, todos caminham — i m p e r a d o r ,
Procurar fortalecer o juizo de seus concidadãos,
ministros e camara dos deputados,—para os ahysmos
sob este ponto de vista, com toda a energia das con-
da revolução.
sciências puras, é o máximo serviço que poderá p r e -
O Constitucional afflrma uma verdade : os liberaes,
star todo aqueíle que fôr se consagrando ú causa da
como os conservadores, como todos os governos que
patria.
tiverem o funesto intento de deter a torrente das li-
Considerando isto, a EVOLUÇÃO com toda a i m p a r -
berdades, caminham para a revolução ; não natural-
cialidade, explanará rapidamente as questões s e g u i n -
mente, dirigindo-se para c i l a ; mas caminham re-
tes :
cuando, de costas, arrastados, levados na onda irresis-
O que tem sido o povo em f r e n t e da historia, o
tível que t e n t a m reprimir em seu curso fatal.
que é e o que será q u a n d o baquearem definitivamente)
—A. Werneck propõe-se demonstrar,em uma série
08 derradeiros baluartes do absolutismo politico e re-
de artigos, a superioridade da soberania da razão so-
ligioso ?
b r e a soberania do Povo QusKÍ^-^rhitelligentc arti-
Sobre que base se f u n d a m os governos, e q u a l a
culista j u l g a r que tem a sua tarefa çoncluida, restar-
sua missão ?
llie-á ainda o mais difficil da obra, isto p : demonstrar
A que a t t r i b u i r a completa d e s h a r m o r n i a , a l u t a
q u e a soberania da razão não é conforme á soberania
incessante, encarniçada m e s m o , entre estas d u a s en- do Povo.
tidades ? —-O Constitucional traz ainda u m folhetim (le
Qual a causa geradora do d e s p o t i s m o e suas con- Heitor Guido ; u m a estirada chronica parlamentar de
sequências ? F e r n a n d o Mendes, onde ááo rudemente verberados os
A necessidade d e e s t u d a r as q u e s t õ e s a p o n t a d a s a r r e g a n h o s revolucionários da camara temporaria c
consiste n i s t o : atirado para os cornos da lua o zelo monarchico do Se-
Observa-se que em t o r n o de a l g u m a s nacionali- nado; u n s versos lyricos de Isaias d'Almeida; e outros
dades levanta-se, como espectro i n f e r n a l , u m certo te- artigos.
mor vago, inexplicável. —A Evolução saúda o Constitucional, cuja posição
Comprehende-se que ellas reconhecem q u e não lhe inspira syinpathia, porque, ao menos, é definida e
gosam da estabilidade necessaria, da necessaria li- franca.
A. B.
berdade, mas tem receio de a g i r p a r a ofim s u p r e m o . A • oOj^Or
tal ponto que, q u a n d o ' surge a l g u m a divergencia e n -
Leão Uambette
tre os governados e os g o v e r n a n t e s , falta áquelles
a coragem bastante para dizerem firme e resoluta- A EVOLUÇÃO ufana-se de inscrever em suas co-
m e n t e o que pensam e o q u e q u e r e m . l u t n n a s esse g r a n d e e im mortal nome.
Será fraqueza ? Será irresolução mesmo ? Ella q u e r acampar nos largos arraiaes banhados
Er u m p h e n o m e n o n a t u r a l . pelos reverberas das auroras esplendidas do Futuro,
a
e Gambetta é o chefe mais zeloso da sua inviolabili- E" opportunista ; nfio como os políticos do par-
dade. tido liberal brasileiro que, não tendo coragem para
Levanta-ss para combater, no acanhado limite renlisar as reformas tilo ardentemente pregadas nas
de suas forças, os sombrios e negros phantasmas que I lutas de uma adversidade de dez annos,—porque su-
projectam sombra no caminho do progresso edo en- jeitam-se vergonhosamente á vontade da corôa—,in-
grandecimento dos povos, e Gambetta 6 iIlustre nas vocam para a justificação a inopportunidade, fazendo
phalanges dos batedores da Verdade e da Justiça. uma capitulação deslionrosa e covarde.
A EVOLUÇÃO empenha-se pela realisação a mais Esse é um opportunismo caricato e de pura eon-
lata e a mais generosa dos progressos sociaes,—re- I venção.
sultante fatalmente do trabalho lento, mas accentua- Consummado e profundo estadista, Gambetta in-
do, da força persuasiva, mas incontrastavel da Idéa> flue poderosa e accentuadamente nos destinos da po-
—da Idéa que nfl.i estaciona, que não recua, que avan- litica européa. Não, empregando a tactica diplomáti-
ça sempre, derrocando prejuízos, deixando após si os ca do Bismark,—tactica eminentemente machiavelica,
destroços accumulados dos erros abatidos ; e a g r a n - auxiliada pela mais requintada má fé, em que o êxi-
de gloria de Gambetta tem consistido em preparar, to se mede pela perversidade da astúcia e pela bru-
cheio de fé e da inaxima energia, o desenvolvimento i talidade dos meios que emprega mais do que pelo I
do espirito publico do seu paiz. e, sem jamais ante- talento nas combinações; mas sim a politica que voe f
cedel-o, d>*duzir-lhe as luminosas conclusões—que beber as suas inspirações nos princípios do Justo, do
sâo a realisiçV» dos princípios j á amadurecidos, j i Direito e d a Moral, que combina os seus planos sob
depurados no enorme cadinho quo se chama—Con- o ponto de vista largo e generoso das idéas e dos
sciência do povo 1 aperfeiçoamentos sociaes, prestando sempre respei-
A EVOLUÇÃO, emfim, entende que a luminosa e n - tosa homenagem á autonomia e independencia das
carnação da Justiça, do Direito, da Liberdade, não nações, e não—violando-as, quebrando-as, aniquílan-
pdde ser sinão a Republica, e Gambetta é a synthese do-as, como é norma de acção do diplomata allemão.
fascinantemente deslumbradora dessa fôrma de go- Dotado de u m profundo talento pratico e de
verno 1 grande energia de acção, elle não é somente o ho-
Demais, é bom, é consolador, é util mesmo, que mem que se eleva ao cume eminentíssimo desse
no meio da sombra espessa que sobre a alma since- grande Hymalaía que se chama—o Ideal, sem co-
ramente brazileira projectam os enormes e tristíssi- nhecer as asperezas implacaveis da realidade, sem
mos baqueamentos moraes que se está presenciando; apalpal-as, sem destruil-as para desbravar o cami-
no meio das desesperanças que affiigem o coração do nho que leva ao progredir. Não. Dil-o o grande he-
patriota sincero, quando contempla entristecido a sé- róe da palavra—Castellar:
rie interminável dos tripúdios i m p u d e n t e s sobre a « Gambetta reúne accentos de Mirabeau a impe-
dignidade nacional,—é b o m , pensa a E V O L Ü Ç I O , ati- tos de Danton. » « Equilibrar em uma mesma
rar a gente as vistas para u m vulto homérico como pessoa a idèa com o facto, a actividade da intelli-
Gambetta, que glorificando a sua patria, h o n r a ao gencia com a actividade da vida, é o dom que deu
mesmo tempo o s e u século; e diante desse g r a n d e a natureza a Gambetta, cujo talento sabe voar com
exemplo, s e n t i r fortalecido é r e t e m p e r a d o o vigor as azas abertas pelo céo, e caminhar com passo
para trahalhar firmemente, e n t h u s i a s t i c a m e n t e pelo
firme n a terra »
t r i u m p h o definiti vo das i d é a s .
E estas eloquentíssimas palavras, todos o sabem,
E , pois, a EVOLUÇÃO j u l g a que não é i n o p p o r t u n o encerram u m juizo profundamente verdadeiro.
lembrar esse g r a n d e n o m e . 0 amor com que Gambetta ama a França é im-
menso, tão grande que o leva ás vezes a loucos com-
m e t t i m e n t o s e a tentativas temerarias.
Gambetta possue em gráo elevadíssimo as quali- Todos o sabem. Quando Paris estava prestes a
dades que formam a g r a n d e z a dos modernos h o m e n s desapparecer sob a saraivada dos projectis do exer-
de Estado. cito do rei Guilherme, ameaçando impiamente revi-
ver as scenas tristíssimas dos Povos Barbaros, q u a n -
E' o homem das s u p r e m a s energias e das sobe-
do as boccas de fogo estavam sinistramente voltadas
ranas audacias, d a c o n s u m m a d a habilidade politica e
para a grande cidade, ameaçando extinguir aquelle
do mais p r o f u a d o talento pratico, movendo-se pelas
g r a n d e fóco de luz, deixando orpham o espirito h u -
inspirações do mais acendrado patriotismo, q u e t e m
mano—porque Paris é a m ã i intellectual do mundo—,
sido o promotor dos feitos mais gloriosos d e s u a
quando o povo, sublimemente heroico embora, a c h a -
•ida.
va-se quasi desarmado de meios de defesa contra os
Enérgico, audaz e de vontade hercúlea, elle c o n - barbaros sitiantes, e prestes a c a p i t u l a r ; Gambetta,
segue sempre, à despeito de todos os embaraços, a que preferia ver P a r i s defender-se até ser reduaida a
•ictoria completa dos princípios innovadores, um combro de cinzas e de destroços fumegantes,
depois de inoculai-os e radical-os na consciência p u - a vel-a fazer u m a capitulação vergonhosa, tomou a
blica, porque elle comprehende a marcha evolutiva heróica resolução de ir, fõra dn grande cidade levan-
dos acontecimentos, e não tem a vã pretençlo de do- tar com o poder magico de sua el jquencia, batalhões
minal-os. qne corressem em salvação da França
Saliiu de Paris dentro de um balio aerostatico, I a resistência tenaz e heróica ao ambicioso vulgar 1
atravessando o espaço rodeado das terríveis incertê- j que queria confiscar-lhes os direitos, a França sen
zas do sombrio desconhecido. t i u bater em cheio no coração o fatal golpe que ca- I
Esta sublime dedicação, inspirada como qae pelo I vou n e l l e um abvsmo enorme, ao mesmo tempo que I
delírio do patriotismo, compendia a vida inteira do I a t e r r a abria o seu seio para receber o cadaver do I
grandr h o m e n ! grande Thiers-
I Acabrunhada e entristecida pela perda do seu I
iIlustre filho, a França sentiu vaciliarem-lhe as for- I
Ninguém o i g n o r a : a estatura colossal de Gam- ças e o indomável valor, perdida quasi a esperança I
beta começou a ostentar-se com o formidável desas- da sustentação firme dos seus brios.
tre de Sedan. Foi então que as almas dos democratas, que ti- I
Antes, sob o reinado neroniano do grande p e r - i nham o olhar fito n a França, sentiram a invasão d o ,
rerso e do grande cvnico qne se chamou Napoleão grandes júbilos ao levantar-se sobranceiro o volto
III, a q u é m , si fosse possível, a Historia devia esque- de Gambetta, incitando, animando, fortalecendo os
cer para poupar & posteridade os horrores do mais 1 ânimos abatidos, e guiando o Povo Francez a n m a das j
desbragado despotismo, que ennodoou os brazões victorias mais brilhantes que ultimamente tem pre-
soberbos do século em que Tivemos,—foi estreito e senciado a humanidade.
apertado o circulo em que se exercitou a potencia in- { E a França continuou magnificamente a fazer a
tellectual do jllustre tribuno. a f i r m a ç ã o tranquilla e serena do Progresso.
Amordaçada vilmente a consciência d a F r a n ç a
a mão sacrílega do t v r a n n o , rodeado p o r u m b a n d o Aquelles, pois, que s e n t e m bater-lhes na fronte
ignaro de servis aduladores, terríTelmente p e n d e n t e incendida os raios coruscantes do grande Astro—a
sobre os qne n i o se mostrassem adhesos ao seu g o - Idéa, aquelles em cujos corações alveja a candida
verno e às suas leis,Gambetta teve de reconcentrar a s i flôr d a esperança, animada pela brisa do F u t u r o ,
impetuosidade« coléricas d o seu patriotismo, cercea- aquelles qae sentem os arrancos abaladores de pro-
da completamente a liberdade da imprensa e a liber- I f u n d a indignação em face das hecatombes de hoje,
dade da tribuna.
I os qne, em fim,sonham para esta Patria—hoje pisada
—Era o vulcão comprimido c u j o seio abrasado e enxovalhada pelos negros batalhões do imperialis-
revolvia-se em turbilhões de lavas—. mo—um f u t u r o todo cheio de irradiações de glorias,
E n t r e t a n t o , a despeito de toda a oppressão, a f - e de échos sonorosos de tríumphos—que procurem
frontando desassombrado e com varonil energia os i m i t a r o g r a n d e Republicano Francez. Porqne, se no
furores do déspota, sua palavra trovejou muitas ve- I épico trabalho de levantarem este paiz & altura dos
zes n o recinto do p a r l a m e n t o francez, ora sinistra e s e u s gigantescos destinos, receberem a maldicção do
tragiea, exprimindo nos estos da paixão a cólera e a E r r o , da Ignorancia e dos Prejuízos, virá depois a
indignação que iam pela a l m a da F r a n ç a ; ora pro- sentença decisiva d o g r a n d e Juiz—a Historia, que os
pheticm e solemne, predizendo a próxima qneda do abençoará e t e r n a m e n t e !
tyranno, em meio dos horrores sublimes, porque s i o I J. C.
a explosão das consciências largo tempo comprimi-
das, da revolução popular.
Fragmento (*>
E era u m a profunda prophecia,porque si não s o -
breviesse a guerra f r a n c o - p r u s s i a n a que trouxe com- ( INTIODCCÇÃO )
sigo o desastre de Sedan, o t h r o n o de Napoleão III j ' Musa d a Liberdade, ó Musa do Porvir,
havia de ser quebrado pela mão do povo, porque é f a - Vivandeira fatal dos tempos que hão de vir.
tal, é inevitável o c u m p r i m e n t o da g r a n d e lei que Mulher severa e meiga, i m maculada e triste
dirige as sociedades. Da t r i s t e z a senil que só no j u s t o existe,
Organizando-se então a Republica, começou o j —Crepusculo na fronte e n'aima rosicler—
hercúleo trabalho da sua consolidação, no qual Gam- ; Hyperbole do Bem, impa vida m u l h e r ,
O' bússola da Luz, estrella americana,
betta tem sido o mais nobre operário.
Mulher cheia de paz, mulher republicana !
A Franca tem marchado de t r i u m p h o em t r í u m - j
pbo. seguidos das acclamações enthusiasticas das —Eu oiço o retinir da t u a ingente voz,
consciências livres. No templo do Futuro a prantear por nós.
E o nome do grande homem está indissolúvel- ! Eu sinto as vibrações do teu olhar superno,
mente unido a esses t r í u m p h o s . E sinto de tua alma o palpitar eterno.
Ainda h o n t e m nublava-se s i n i s t r a m e n t e o céo Apalpo o seio teu e sinto o coração
da França, *-uvens agoureiras, porque trevosas, ac- ! Pular-te dentro delle em estos de vulcão.
i cumulavam-se nos seus horísontes, ameaçando d e s - Vejo erguer-se sombrio o teu sereno busto
farrr me em tremenda borrasca. Quando arremessa um grito o teu pulmão robusto*
E soltas o teu verbo, enorme, pelo azul.
Era o 16 de Maio de 1877, que partia inopinada- I
mente vibrado centra aa liberdades p a U i c a s .

Quando as fileiras populares se engrossavam


pna oppór, por n ã o da vietoría pacifica das urna». (•) Dus « Libelios a Itens >.
Na tua fronte altiva e límpida e serena Contra a canal lia infame e u nobreza vil ;
Ha prantos de David, ha raios de Saul, Contra a devassidão, esse minaz reptil ;
Ha mansidão de pomba e crispações de liyena. Contra o vicio que se ergue c o mal que pavoneia ;
Embriaga-me a luz da tua fronte ardente
E cravo o meu olhar no teu olhar valente. Contra a morte da Idéa ;
P'ra vir interromperem meio a saturnal,
Amo-te muito, 6 Musa, e por um beijo teu, Dar-lhe vida e vergonha, o Povo- -esse jogral ;—
Um beijo-inspiraçSo, longo, sublime, puro, l'ara extinguir, matar este infernal marasmo ;
Um beijo de teu lábio, e amplo como o céo, Contra o despreso torpe e contra o vil sarcaamo ;
— Eu dava a minha vida e dava meu futuro. Contra o raio papal e a maldição do rei ;
—iO' Musa, o que fazer ?
Amo-te muito, 6 Musa. Inspiração, ardor, •—Lactar.
Este forte valor, que 6 saúde d'alma,
Tudo me trouxe, ó Musa, este infinito amor. —Eu luetarei.

Costumei-me a encarar na tua fronte calma ASSIS BliA7.lL.


0 sol da nova crença, o sol dos ideaes,
Que teda grande luz das coisas immortaes
Nasceu da mansidão, da placida humildade. Publicou-se, ha dias, o primeiro numero da Repu-
blica, orgam do Club Republicano Acadêmico.
O artigo inicial è firmado por Magalh&es Castro.
;E ha quanto tempo já, por sobre a Humanidade, A Evolução quizéra ver nelle mais idéas e menos pa-
Despontou do teu rosto o luminoso sol ! lavras,—a concisão enérgica d'um espirito profunda-
Mas a noite do egoismo atira o manto enorme, mente apoderado da verdade d'uma causa—e não os
Ruge o vento do mal de encontro ao teu pharol, arrebatamentos de imaginação, que podem agradar,
2 E a sombra vence a l u z ! seduzir mesino, mas—incapazes de produzir convic-
ções serias e vigorosas.
A Humanidade dorme A propaganda assim torna-se esteril, sinão im-
No leito dn deshonra ensanguentada e só. possível.
E, emquanto o nosso brio anda a rolar no pó, Falta a M. Castro aqnella lógica esmagadora,
Si a Honra quer se erguer. perseguem-n'a a pedradas- aquella phrase curta, mas animada e incisiva e desa-
Os raios do esplendor das testas coroadas, piedadamente cortante de Lucio de Mendonça, fazendo
O enorme resplendor da thiara papal : recuar, tomados de receio, os mais temerosos adversá-
São as irradiações maléficas, d a m n a d a s rios.
Do espirito do mal.
Seu período é cheio, é palavroso, é imaginoso de-
Tudo morreu, 6 M u s a : a Charidade, a Fé, mais para o artigo de jornal.
A candida Esperança—a esplendida galé Magalhães—publicista — faz desmaiar o brilho
Condemnada a viver co'os olhos no infinito dos seus triumphos alcançados com gloria na tribuna,
A Consciência humana—o r e t u m b a n t e g r i t o onde o seu talento toma proporções verdadeiramente
Que agita-ségbramando e ruge dentro em n ó s ; notaveÍ8,e desperta sempre a mais enthusiastica ad-
O orgulho do D i r e i t o ; o fogo dos lieroes; miração.
Tudo o que h a d" sublime e g r a n d e e de elevado
Tudo, tudo, rolou por terra esphacelado No firme empenho de guardar a máxima franque-
Ao peso esmagador d a enorme corrupção. za n a enunciação dos seus juizos, a Evolução não h e -
E, no abysmo sem fim do mar da escuridão, sita dizer que, insigne orador—Magalhães ha de sel-o
Quando ergue-se do Bem o impávido rochedo, u m dia, e bem proximo; publicista de elevado mérito
Alteando o-busto forte, immovel e sem medo, diffleilmente o será.
—Arroja-se sobre elle o torvo vendaval Contem mais a Republica:
Na orchustra libertina. Enorme funerpl
" Um artigo, primeiro d'uma serie, sob a epigraphe
Dos brios, do pudor, j á morto apodrecido.
—A idéa e a natureza—,em que se percebem logo as
O gênio a n d a a morrer de fome e de descrido.
A honrada Verdade, essa mulher viril scintillações luminosas do espirito de Affonso Celso
Foi, morrendo, tombar por sobre o lodo vil, Júnior, a par d a elevação das idêas ; Reflexões Politicas
Ao som do gargalhar, aos h u r r a h s estridentes p o r S . Tullius ; o Manifesto de Diamantina por M. Cas-
tro ; Carla aos redactores da Republica, cm que seu
Dos devassos brutaes, dos ébrios impudentes. auctor se limitou a enunciar verdades por todos sabi-
• das, excepção feita d'aquella com que fechou a sua
carta :—a revolução francesa só produziu fruetos rachi-
tiços (/); um fragmento dns Libellas a Deus de Assis Bra-
E a onda vai crescendo, e vae subindo o m a r . z i l ; e, finalmente, um belllssimo e elegante folhetim
de V. Magalhães.
A Evolução saúda a Republica.
; 0' eBtrella polar>
Musa da Liberdade, ó Musa americana,
J . C.
Mulher cheia de paz, mulher republicana !

B g ^ ^ p j M ^ ^ M irr '1
Bfcií-itíiÁífávf-bQ3
B M B W í » ni «fia tfiTy
A g e n t e do m o s t e i r o Elle deve. ser o primeiro a prevenir esta desgra-
ça enorme, e h a de prevenil-n, si não perder o bom
POR SILVA JARDIM - S. PAULO — < 8 7 9 senso que até aqui tein manifestado.
Entretanto, a n t e s que o homem perca-se n a s
.4 EVOLUÇÃO considera um dever de honra para si nuvens, como um deus, a EVOLCÍJÃO vaeencaral-o do
i a apreciação imparcial, rigorosa e j u s t a d a s obras da perto, n um rápido relance, porque mais não aspira»
mocidade do seu tempo. e procurar gravar nas suas columnas as feições mais
Sem altas pretenções a impôr conselhos, ella nilo pronunciadamente características do joven aiictor,
;
admitte, entretanto, que se lhe negue o direito d e que acaba de offerecer-lhe o seu sympathico retrato
i dizer, como sente, o que sente. com este r o t u l o : A gente do Mosteiro.
Neste proposito, prestará a todos um grande
*
i serviço, porque inquestionavelmente a franqueza da
sinceridade é sempre um poderoso incentivo-aos pro- A Gente do Mosteiro é a chronica da academia de
duetos da actividade humana. S Paulo, no anno de 1S78.
E ninguém mais do que nós precisa desse g r a n - O espirito analytico do auctor p e n e t r a n a s e n -
t r a n h a s de todo o movimento acadêmico, e, n'uns.as
de motor.
Um preconceito horrível, gerado M a l m e n t e n a s 40 paginasinhas m u i t o elegantes e muito bem i m "
f entranhas da nossa organisação social, tem por tal pressas, percorre toda a historia desse malfadado a n -
! fôrma centralisado, aristocratísado o mérito l i t t e r a - no que. « foi u m eclipse. Melhor d i s s é r a m o s : u m a
!i rio, que a justa admiração transformou-se em idola- decepção ». Anno em que « d o r m i a m os t a l e n t o s ; p a -
!
tria cega e exclusivista. reciam ter fugido a s boas disposições. A alma colle-
Nesta academia o phenomeno manifesta-se mais ctiva da mocidade como que se fraccionara. »
accentuado do que em parte a l g u m a . Silva Jardim começa dizendo o q u e somos nós
Temos, por exemplo, dois poetas, inspirados, n a «o s a n t e l m o onde a p a t r i a fita olhares d e agonia » ;
' verdade, doces, fluentes, bons artistas, cujas p r o d u c - diz o que foram os clubs acadêmicos com seus res-
cões agradam o ouvido e deleitam a a l m a ; t e m o s pectivos j o r n a e s , q u e « e r g u i a m - s e alli,não como quatro
! um joven orador, verboso, eloquente, sympathico n a atalaias, q u e deviam ser, da Luz, m a s como quatro
tribuna, possuindo u m a belíssima voz h a r m o - atalaias da Treva, que e r a m »; falia d a s lettras, ly-
I niosa. ras e direito e diz o que f o r a m A, Celso, Theopliilo
E estes poetas e este orador são logo proclama- Dias e V. Magalhães, « o s t r e s mais sérios cultores
dos os primeiros e únicos. Ha os bons e o resto. d a lvra acadêmica», diz o que foi o dia 11 de Agosto,
A. EVOLUÇÃO nunca lançará p e d r a s c o n t r a os « o M a r a t h o n a d a mocidade », d e g e n e r a d o n ' « u m es-
I méritos de n i n g u é m ; muito menos contra os d e cândalo, n ' u r á descalabro, n ' u m baque doloroso d a s
Theopliilo Dias, A. Celso e Magalhães Castro. Mas, nossas g l o r i a s » , diz o que foi o dia 9 de S e t e m b r o ,
por isso mesmo que lhes presta a j u s t a h o m e n a g e m , e m que « a mocidade, repellindo h e r o i c a m e n t e o ata-
os quer vèr reduzidos ás verdadeiras proporções, que q u e dos esbirros, como q u e ensaiou rehabilitar-se
sãò grandes de si. d a s misérias d e 11 de A g o s t o » ; e põe o ponto jinal,
E o que mais é para admirar-se é que esta s u b - a n n u n c i a n d o que « ahi vem u m a epocha nova acabar
serviência litteraria nasceu expontaneamente, mesmo com a transicção e n t r e a velha e a nova idéa, e n t r e o
contra a vontade d a q u e l l e s a quem é t r i b u t a d a , q u e velho e o novo r e g i m e n » .
são prudentes e sensatos bastante para preferirem Satisfeito com e s t a prophecia e com a s e g u r a n ç a
ser cidadãos da republica do t a l e n t o , a idolos d e de t e r c u m p r i d o u m dever de consciência, • p r o m e t -
barro.
te aos s e u s collegas—A G E N T E DO MOSTEIRO EM 1879.
E' contra esta centralisaçilo desesperançadora
que a EVOLUÇÃO ha de clamar s e m p r e .
Si conseguir, pelo menos, abalar-lhes o falso pe-
destal, t^rá prestado um notável serviço e satisfeito a Eis ahi, d e s e n h a d o tão rápido q u a n t o possível, o
I sua consciência. espirito g e r a l d e s t e livrinho, o primeiro que nos a p -
parece este a n n o .
A Evor.uçX.0 não o a c o m p a n h a r á no largo percur-
Appnrece-nos agora Silva J a r d i m .
so do seu d e s e n v o l v i m e n t o ; porque criticar a critica
E' uin moço que. tem muito talento e m u i t o p o u -
e t r a b a l h o para u m volume maior do que o criticado.
co dinheiro.
Por isso é estudioso, trabalhador, persistente e *
honrado.
Por isso, sempre que apparece, appareee b e m .
T e m dito m u i t a g e n t e , e m u i t a g e n t e boa, que
Os idolatras receberam-n'o com meia dúzia d e
Silva J a r d i m é u m a vocação esplendida para a criti-
pedradas, a que elle resistiu, e vai resistindo victo- ca. Afflrmam outros que o nosso auctor ó j á u m cri-
riosamente. tico c o n s u m m a d o .
Finalmente o seu mérito real se ha de impôr a
A E V O L U Ç X C não lhe roubará esses méritos e até
todos I temos então o perigo de passar também S. o felicita pela lisongeira opinião que delle se faz.
Jardim a ser moldado em barro, iara adoração dos Deve ter o critico um golpe de vista seguro e rá-
parvos. pido p a r a a p a n h a r a h a r m o n i a na variedade da obra
d'arte, condensar os differentes elementos que nVlla Mas esta macula é de quasi todos ou novos es- I
actuam e tirar esse conjuncto que se chama syfithese. ëriptores acadêmicos.
Precisa do gênio indagador e minucioso, que dis- Manifesta o auctor, neste livro, uma pronunciada
seca a obra até as entranhas, e, desligando, assim, sympathia pela descompostura : sympathía que lhe foi
delia todas as nuanças, classificando-as e agrupan- de certo, inspirada por Castello Branco, mesmo por
do-as, conliecendo-as e comprehendendo-as, obtenha Luciano Cordeiro, e principalmente por Silva Pinto,
o que se chama—analyse. um moço portuguez com tendencias a louco c com
pretenções a critico -
Si a EVOLUÇÃO reconhece esta ultima qualidade
A descompus lura fica muito bem em sociedades I
grandemente, naturalmente desenvolvida em Silva
gastas, em caracteres decompostos ; não em S. Jardim, |
Jardim, sente declarar que a primeira llic équasiex- que è uma alma de donzella n'uina cabeca de pensa- 1
tranha. dor.
E' deste defeito, de não apanhar perfeitamente
Não se confunda, por amor do bom senso, s lin- 1
o todo, que nasce para o auctor outro defeito fatal:
guagem desbragada e descosida dos novos portugue- 1
' deinorar-se extraordinariamente na analyse de certos
zes com a phrase severamente rude de A. Hercu- ]
I pontos, gastando palavras, com prejuízo de outros, lano, ou coin o látego ardente da ironia voltaireana.
I fazendo, assim, manquejar a obra, por falta de equi-
li librio. A EVOLUÇÃO não faz uma critica; cumpre um
Entretanto, estas faltas, que mais claramente se dever. Por isso, não leva mais longe esta serie de
revelam nas suas obras anteriores, na tíetile do Mos- pequenas notas. Ella podia, em alguns pontos, dis-
teiro são raras. Prova de que o auctor t e m progre- cordar também das opiniões emittidas pelo auctor; !
dido e dá esperanças. mas j á declarou que não entrava isto no seu plano.
Por motivo idêntico, deixa intactos dois pequenos se-
O critico deve ser um sábio, principalmente em
nões grammaticaes que se econtrainno final dapagina
matéria d'arte, para poder com segurança apontar os
27, querendo antes attribuil-os ao typographo.
erros, mostrar as suas causas e os seus remedios : e
S. Jardim, que é muito moço, não tem nem pode ter »
metade dessa sabedoria.
0 critico deve ter um padrão, um systhema, u m a
escóla á cuja luz affira o mérito, não para condem- Esta quadra nos corre cheia de odiosidades, de
nar o que não fôr de tal escola, mas para que tenha parvos ciúmes litterarios, de calumniosa má fé.
ordem e metliodo no trabalho e coherencia n a s idéas
A EVOLUÇÃO não pisará esse terreno.
e opiniões; e este systhema não o possue J a r d i m , e
parece que nem t r a t a d'isso, porque é a única coisa Dirá sempre desapaixonadamente o que lhe
em que ainda não fez progresso. parecer verdade.
Por todas estas razões,e por outras ainda, a EVO- E, quando, como agora, se tratar d'um talen-
LUÇÃO não lhe dará, por ora, o nome de critico, a elle to real e proinettedor, será inexorável.
que é, entretanto, um feliz principiante.
Nós não temos critica. Entre os poucos que, de
quando em quando, escrevem sobre tal assumpto,
*
Silva Jardim não é de certo dos da ultima fileira.
Espirito inquebrável, talento alevantado, grande
O estylo de Silva Jardim é firme, áspero e ener- patriotismo e grande honradez—que também na re-
gico ; porém, a p a r destas excellentes qualidades, é publica das lettres lia honrados e deshonrados—são
gongorico em extremo. Este ultimo defeito é tanto qualidades que ninguém justamente lhe negará.
mais lastimavel quando vè-se que o auctor força a
A E V O L U Ç Ã O não cede, pois, á lei da praxe, pro-
imaginação e força o tropo, para não dizer as coisas
phetisando para o auctor da Gente d•> Mosteiro, em
por linhas direitas. tempos muito proximos, um dos primeiros, sinão o
A Gente do Mosteiro não teria mais de vinte pa- primeiro lugar, na critica litteraria do paiz.
ginas, isto é, metade das que contem, si lhe tiras-
sem os gongorismos e epithetos e antitheses supér- A. B.
fluos que encerra.

Quem j á censurou a m a r g a m e n t e a poesia »cien-


COLLABORAÇÃO
tifica de Teixeira Bastos, como válvula aberta a to-
das as mediocridades eruditas, não pôde autnrisar,
Abrindo esta secção, a EVOLUÇÃO quer unicamen-
empçegando-a, a licença gongorica, que ó outra val-
te offerecer um campo franco a todas as intelligencias
vula... para as mediocridades superficiaes.
que quizerem aperfeiçoar-se na luta generosa da idèa.
Comtudo, este g r a n d e defeito diminuo em S. Jar-
dim, e a Gente do Moshiro não é a sua producção mais Convida, pois, a todos, desde os mais illustrcs até
gongorica, ainda que contenha coisas assim : «... elta os maie modestos, e a todos offerecc seio amigo e des-
(a luz), o empregado• pubUco di republica do lulenlo «... interessado.
etc., etc.
AO iSEgS Que moço h a , q u e baloiçando-se n a s azas da
p h a n t a s i a , não terá desejado i n c o n s c i e n t e m e n t e q u e
Está no pino o sol. A calma incandescente a patria corra i m m i n e n t e perigo c que elle a salve, ou
Aperta a natureza em fulgidos abraços, apostrophando u m t r a h i d o r , como Cicero no Senado
Na tórrida mudez desmaia a ffòr pendente de R o m a , ou fazendo trovejar c a n h õ e s , que esphace-
E a arvore retorce a rama nos espaços. lcm o inimigo, como Napoleão em Toulon ?
Todos t e m o s a nossa vaidade i n n o c e n t e de vir a
O miserando escravo, em fúnebres cansaços,
ser g r a n d e s aos olhos da patria.
Revolve com a enchada a terra n e g r a e q u e n t e .
Parn ella convergem t o d a s as aspirações d a s intel-
Ca«»-lhe o suor da fronte, e os seus robustos braços,
ligeneias j u v e n i s , que estão s e m p r e a j o e l h a d a s a seus
Scintillantes ao sol, descambam l e n t a m e n t e .
pés, implorando de sua alma a inspiração d o b e m .
Súbito, as suas m i o s deixam cahir a e n c h a d a . Que esforços gigantescos não fazem os h o m e n s
Ergueu-se a escutar. A fronte requeimada para s e r v i l - a !
Illuminou-se, então, d e e x t r a n h a magestade .. Que l u t a s estereis, q u e i n t e r e s s e s pequenino»,
q u e paixões loucas, que d e s r e g r a m e n t o s sem n o m e ,
—Vinha-se aproximando, além, u m som enorme, que ambições n*o s u s t e n t a m os h o m e n s ; a que perigos
Como um trovão que aceorda o m a t a g a l q u e d o r m e não se a t i r a m , que i n f a m i a s n ã o c o m m e t t e m , que il-
— E r a m os batalhões d a deusa Liberdade !... legalidades não d e c r e t a m , p a r a servir a patria !
VALENTIM MAGALHÃES. E ella, e n t r e t a n t o , a t u d o s u j e i t a - s s , m a s t u d o des-
presa no seu c o r a ç ã o ; porque vê c o n t r i s t a d a , a i n d a
S. Paulo, 7 de Abril de 1879.
com as vestes r a s g a d a s d a s l u t a s , q u e com seus pro-
prios filhos s u s t e n t a r a , q u e i n f e l i z m e n t e e s t e s não
a c h a r a m a i n d a o meio d e b e m servil-a 1
ü futuro da patria
Ella a todos a l o n g a os braços, e todos lançam-sc
i nelles s o f f r e g a m e n t e , como filhos s e d e n t o s d e a m o r .
Mas u n s , em vez d e e n x u g a r e m - l h e a s l a g r i m a s ,
Entre as idéas g r a n d e s e g e n e r o s a s que g e r - q u e como microscópicos e i n n u m e r o s d i a m a n t e s d e s -
m i n a m em u m cerebro de moço, q u e pôde a cada l i z a m p e l a s faces i m m a c u l a d a s , e s b o f e t e a m - l h ' a s e es-
passo ser esmagado pelos erros imprevistos de sua carram-lhe injurias!
mocidade ou glorificado pelo desvello e dedicação nas O u t r o s c r a v a m - l h e p u n h a e s tão c o r t a n t e s que o
lutas g i g a n t e a s e expansivas do espirito, avulta l u m i - m u n d o estremece (Je h o r r o r I
nosamente a idéa da p a t r i a . E assim a p a t r i a , á mercê d e todos os caprichos
Concentrado no i n t i m o d a consciência, o moço dos h o m e n s , vae n a v e g a n d o c a l m a , sem t e m o r , s e m -
que chega á idade de vinte a n n o s , idade em que f o r ç o - p r e generosa, s e m p r e confiante no f u t u r o , porque vê
samente tem de 'ieoidir-se por este ou por aquelle s y s - j á d e s p r e n d e r e m - s e ao longe as d o b r a s desta nuvem
t e m a , inclinar-se por u m ou o u t r o p a r t i d o , escolher, n e g r a , que nos abafa o p e n s a m e n t o e c l a r e a r e m liori-
entre as i n n u m e r a s bandeiras que d i s p u t a m a vi- s o n t e s e s t r a n h o s a a u r o r a d a felicidade s u p r e m a .
| toria das idéas, u m a á c u j a s o m b r a se a b r i g u e , Ella navega sem t e m o r , porque a náo que a con-
desarraigando do espirito as idéas que o a t r o p h i a m d u z leva a seu bordo o a m o r , a m a n s i d ã o , a caridade
pela falsidade do brilho, desligando-se de t o d a s e s t a s a alegria, a f r a t e r n i d a d e , q u e hão de desembarcal-a
impurezas intellectuaes—os preconceitos, o f a n a t i s m o nas plagas infinitas d a Liberdade
a ignorancia—como a alma, na hora da m o r t e , d a s O f u t u r o de n o s s a p a t r i a e s t á ahi.
impurezas c o r p o r a e s ; o moço de vinte a n n o s , ida- Nós c a m i n h a m o s p a r a a liberdade,e é da conquista
de d» investigações dolorosas para o coração, d e pro- d e s t e b e m universal q u e d e p e n d e a conquista de u m a
vações s u p r e m a s para a a l m a , s e n t e - s e m a g n e t i c a - posição honrosa p a r a nós e n t r e as nações civilisadas.
mente a t t r a h i d o para a p a t r i a . O Brasil, desde o dia em que os portuguezes l a n -
Então não lia pulsar de coração q u e não s e j a p o r çaram os primeiros g r i l h õ e s nos pulsos de nossos sel-
ella. Não lia delirar de intelligencia, que não seja vagens, grilhões que e s m a g a n d o - l h e s os pulsos, esma-
para recolher dc seus lábios o primeiro sorriso, de s e u s ga vain-lhe a ella o p e n s a m e m e n t o e a consciência,des-
olhos o primeiro olhar. de esse dia o Brazil n u n c a mais viu o rosto da liber-
Que moço, por mais indifferente que seja, ao q u e dade.
se passa em t o r n o de si, não terá sentido d e s e n h a r - s e A liberdade f u g i u - n o s e, na sua fuga apressada
em sua imaginação o vulto cândido e immaculado d a
deixou-nos apenas-por legado—desprezo pelo presen-
patria 1
te e confiança no f u t u r o .
Nesta idade, t u d o sonhamos, t u d o idealisainos, Temos, pois, sido a t é aqui u m a nação de escravos,
t u d o poetisamos
como havemos de provar á luz dos princípios que pro-
Pois quem, nestes sonhos fugazes, idealisações in- fessamos e acostados á t r i s t e historia politica do nosso
nocentes, neste poetar agradavel de t u d o que vemos, paiz.
«não terá desejado, sem orgulho, sem vaidade, sem
A. L.
consciência mesmo do que deseja, ser cidadão util á
patria ?
Typ. da Tribuna Liberal.
A EVOLUÇÃO
Pericdico redigido peias acadêmicos

•lULIü OK C A S T I L H O S P E R E I R A 1>A C O S T A

ASSIS B B A / J L

S . P a u l » , : I » «1« A b r i l d e 1 8 ? » V '£

A EVOLUÇÃO Tudo se ajusta e se concatena, tudo se harmonisa


e se explica na grande progressão humana
Cs ú l t i m o s serão os p r i m . i r o s Todos os acontecimentos historicos são annéis da
me*ma corrente, á qual se virão juntar novos acon-
Na epocha de transição que atravessam as so- tecimentos, como novos élos.
ciedades actuaes, o passado parece exhalar os últi- E ' este o único ponto aonde, não chegaram, nem
mos gpmidos de agoira. chegarão jamais, as bypotheses gratuitas da metlia_
A Humanidade nem se aniquila, nem se enfraque- physica banal. A philosophia da historia entrou no
ce. Açoitada por todas as tempestades, queima la por zodiaco dos conhecimentos humanos quasi completa-
todos os sóes, naufraga de tudos os m i r e s , roartyr de mente expurgada do virus d"essa lepra ab »minavel.
todas as calamidades,—ella se revigora ao emb »te dos A' observação philosophica compete, pois, des-
element >s contrários, e surge sempre em um c a m p 0 cer na escala da analyse os degraus d essa grande es- j
novo, banhada por uma aurora nova. cada e determinar,como conclusão exacta das premis"
A Humanidade vem de longe. Os séculos ficam, sas estabelecidas no passado, o ponto eminente para
lhe aos milhares pelo caminho, margeando a larga o qual se dirige ella no futuro.
estradado tempo, como si fossem marcos millia- A Eroluçáo não gastará palavras e espaço n'um
rios de uma rota infinita. processo já luminosamente realisado por outros. Re-
sumirá as suas observações, limitar-se-á a apontar
Quieta volvesse os olhos para o passado havia d e
factos, por cuja verdade offerece o incontestável cri-
encontrar um longo estendal de rui nas. Por ali i pas_
tério do testemunho historíco.
sou, em vertiginoso galope, o corcel indomado do cen-
tauro que se chama Progresso, esmagando debiixo
das patas todas as barreiras, de envolta com todos os
déspotas que temerariamente as tentaram erguer.
Ou entornando rios de sangue, ou deslisando-s e Um facto desde logo fere as vistas de quem sin-
calma e serena atravez dos t e m p o s , - o que é cert» é ceramente deitar os olhos para o passado:—a Huma-
que a Humanidade não estaciona e muito menos re- nidade tem respirado, tem caminhado, tem luetado
ti ocede. sempre, tem sempre vivido por uma única idéa.
Ahi está o testemunho inteiro do passado, como A sua aspiração, em todos os tempos c em todas
argumento irreplicavel. as circumstancias, tem sido esta única - Uberlar-se.
Libertar-se da contingência da matéria, retardando e>
procurando evitar a morte; libertar-se do tédio da
vida, da duvida pungente, da desesperança apathica
Mas este caminhar athlctico, imponente não se di-
e mortificante, pela fé no sobrenatural, pela crença
rige, aos ventos do acaso, para o porto do desconhe.
na vida futura ; liberta r -se da auctoridade, pela re-
eido.
volução e pelas conflagrações sangrentas; libertar-
Ha uma lei inevitável que preside-lhe os destinos se do tempo, do numero e do espaço pelo mysti-
e aponta-lhe o r u m o ; ha uma lógica que roune os c ismo theogonico, ou pelo nihilisrao pantheista (si
ffcetos; ha outra lógica que lhes presta unidade, tira- estes dois termos se podem combinar); libertar-se,
lhes &s consequências c as apphea. sempre libertar-se:—eis a suprema lueta.
Ligados assim os acontecimentos por uma cadeia Lucta, muitas vezes, quasi sempre, inconscien
inquebrável,—os phenomenos se harmenisam, diri- te, mas incontestável. I
gem-se cm grupo para um fim geral, resultado de to- Aqu"lles que têm comprehcndido esta fatalida_
das as tendências particulares, effeito de todas as de universal têm sido reformadores, têm sido he-
causas parciaes. róes, têm abalado e mudado a face da terra.
Não ha facto posterior que não tenha explicação Por esta idéa luctaram—Moiaés, Bouddlia, Chris-
n u m facto anterior; porque não ha effoito sem cau- to, Attils, Maliomet, Luthero, os sublimes 1 nicos I
sa, porque não ha conclusão sem premissas. da Revolução Franceza e o cerebro enorme de Comte. I
IO

A Evolução nfto cita estes nomes ao acaso, como Ora, estes acontecimentos, como já fleou dito « 9
se ha de ver. « como ninguém nega hoje, succedem-g». fatalmen- I
te, pela força do que se chama evolução histórica.
*
Mas esta força, que é uma lei e que se manifesta
pelo desdobramento ascendente das civili «ações, não
Ha ainda aqui um facto importantíssimo a re- pode de maneira alguma ser arbitraria e anaichiea,
li gistr.tr:— toda a idéa nova, toda a nova doutrina ella que faz a constante c assombrosa harmonia das
I que se apresenta com caracter universal, trazida coisas.
J pela força das circumstancias, em uma dada opocha, Nas grandes epochas históricas, na successão do» 1
|| —tríumpha necessariamente. grandes acontecimentos historicos, ha, pois, neces- I
Moysés não pisa a terra promettida ; mas o sariamente, um movimento harmônico e ineon- i
I Decálogo, o Pentateuco sSo a inspiração de um trastavel, que a observação pôde recolher e applicar ao
D povo inteiro durante mais de dez séculos; futuro.
Bouddha deixa-se morrer asceticamento nos ra- Para não ir mais longe, a Evolução vae encarar
| mos d'uma arvore; mas o Oriente regeita os livros esses mesmos factos que ahi ficaram expostos.
I dos Vedas e o Bouddhismo ganha incontestável pre- O que nelles chama primeiro a attenção é a dif-
ponderância sobre os sacerdotes b rali ma nicos ; ferença das datas.
Christo morre pregado a uma c r u z ; mas a F é Dos primeiros ensaios de reforma religiosa e so- J
a Esperança e a Charidade, estas trez armas bran- ciai, sem fallar em Manou e na longa serie de re-
cas do mais sublime dos combatentes, dirigem os ligiões orientaes — das duas reformas mais sig-
nificativas de Moysés e Bouddha, decorrem—termo
destinos de grande parte do m u n d o ;
médio—até Christo,—14 séculos ;
Attila morre embriagado e louco ; mas dos res-
tos do seu broquel, dos estilhaços da lança de A lari- A contar de Christo e das correrias de Attila e
co, de Radagazio e de todos aquelles homens ferozes Mahomet a t é a reforma de Luthero, ha—termo mé-
e carniceiros, forma-se o cadiah >, onde mais tarde dio—12 séculos ;
se vão fundir as nacionalidades modernas; Eutre Luthero e a Revolução Franceza contam-se
Mahomet interrompe os seus gigantescos pla- 3 séculos;
nos, surprehendido pela morte; mas o povo muçul-
mano arroja-se contra o mundo, brandindo a espida E n t r e a Revolução Franceza e os progressos ma-
da conquista, e, depois das scenas de sangue, inau- gestosos dos nossos tempos, que parecem destinados
gura as scenas de paz nos kalifados de Cordova e a assistir & grande liquidação social,—medeia menos
Bagdad; de um século.

Luthcro sucumbe antes das discussões do conci- Não vem fóra de propósito a eloquencia consola-
lio de Trento; mas a consciência humana fica ba- dora destes algarismos.
tendo palmas de alegria,—rotos, emflm, os laçus da E' digna sem duvida de notar-se a acceleração
escravidão, refreados a devassidão e o escândalo da prodigiosa com que os grandes acontecimentos his-
côrte romana ; toricos se produzem.
A Revolução Franceza é desprestigiada pelo bri- E' que, à medida que as sociedades se vão despren-
lho falso da espada conquistadora do bandido Napo- dendo do elemento do passado, se vão tornando tam-
leão ; mas a liberdade vence, e, extravasando no bém mais aptas para receber o Progresso.
solo da França, derrama-se pelo mundo inteiro;
Quando es«e elemento tiver de todo desapparecido e
Augusto Comte, finalmente, quenào foi nem re- as sociedades só se guiarem pelas inspirações do pre-
formador theologico, nem conquistador, nem innova- sente e pelas previsões seguras do futuro,—lerão ellas
dor de religião, mas que foi tudo isso ao mesmo t e m - entrado na sua marcha normal. Será chegado o regimen
po,—ainda hontem morria desgraçadamente; m a s da paz e do progredir harmonico e natural.
venceu, comtudo, porque arrancou o homem aos jo-
gos pueris da metaphysica e apresentou-o em face de
si mesmo, no mundo positivo da verdade.

*
Paremos aqui.
Depois das premissas que ahi ficam, a Evolução esta
A Evolução podia,desde já, deduzir as consequên- habilitada para tirar as seguintes conclusões :
cias que a lógica auctorisa a tirar destes factos; mas a) A única idéa fixa, a idéa primordial da Huma-
antes d isso, fará uma ultima observação. nidade tem sido e ha de ser sempre—a liberdade. Como
O advento dos grandes homens e das grandos epo- o sol, que fecunda, produz, anima e conserva, por meio
chas históricas—não é mais do que o resultadi fatal do calor e da luz de sens raios, a vida de todo o syslema,
de um» necessidade geralmente sentida, como é lacil —assim esta idéi-iuiter lança milhares d'outras idéas,
de verificar q ( ie não são, entretanto, mais do que raios seus. Assim
O progresso tem intermittencias, mas não tem so- tainbem a arvore enterra milhares de raízes no solo, es-
uçõea de continuidade. galha milhares de ramos no ar, e, entretanto, todas as
Os homens são grandes, somente quando a força raízes e todos os ramos não são mais do que braços aber-
dos acontecimentos os faz toes. tos do mesmo tronco.
ai

b) Pela conquista da liberdade, sub varias fôrmas e Ü Socialismo


em ti>dos os tempos, n Humanidade tem se atirado de
b.itilha em batalha, sendo sempre vencedora, na medida A Ennliiçâ» pensa conhecer Hufftcienfmente o
de siris aspirações. estado da mentalidade brasileira para entender que
c) Os períodos de transfornnç&n progressiva snc- já soou a hora de apostolar n'este paiz a verdade sor
cedem-se no tempo em progressão acceleradamente cres- ciologica que o Socialismo representa.
cente. A' Democracia pertencem as agitações que se estão
operando no seio da sociedade brasileira. Para seu
definitivo triumpho congregam-se todos os impuWos
A vida do passado está, pois, por momentos. Os da épocha que corre; a ella tendem irresistivelmente,
negros castellos edificados nas trevas e que ainda se con- sem qu°. diss > se apercebam, todos os espíritos, quer
servam, como espantalho do presente, começam, com encaminliando-se direct imente, quer trabalhando
e f f e i t a ruir, pedra pnr pedra. para desvial-a, contrariando-a, combatendo-a.
Os humildes de hontem que levantem-se do pó da
A recrudescencia destes fortifica a tenacidade
miséria e venham tomar o seu lugar de honra na grande
d'aquelles
família humnna.
Si a historia não mente, si a philosophia não é falsa» E' cedo ainda para a propaganda socialista. E'
si a lógica tem alguma força, necessariamente está próxima logico : — antes da reorganisaeão social, que é o So-
& Victoria definitiva da liberdade. cialismo, a reorganisaçío politica, que é a Demo.
Jesus Christo nào costumava mentir :—Os últimos cracia ; antes da conclusão — a premissa que a con-
tém
serão os primeiros.
'A. B. Todos os esforços actuaes, pois, devem ser ern_
penhados em prol da Democracia — vitalisando-ss
na Republica, que é o tronco gigante ; os rebentos
b r o t a d o fatalmente mais tarde.
A Reacção appareceu, ha dias. Seu rodactor che-
E é assim o progresso : é esse encadeamento
fe, Briano Dauntre, no artigo inicial declara que o
preciso, logico, mathematico dos acontecimentos,
programma daquelle jornal, altamente catholico, é
que se vão succedendo, prendendo-se uns aos outros
o da Egreja, seu pavilhão^a cruz. Isto posto, comba-
c omo termos luminosos d'uma mesma série infinita.
terá com todas as forças contra estos d j u s monstros :
A Historia não é outra coisa sinão o desinvolvi-
o liberalismo anti-calhohco e a revolução. mento, no mundo moral, da grande lei que, gover-
Em outro artigo, poré n, sob a epígraphe--/! im- nando mysteriosamente a humanidade, fal-a escalar
prensa catholica—Briano mostra-se fraquíssimo diante passo a passo a grande e íngreme montanha da Per-
d'aqurlles m°smos m nitro . fectibilidade.
Comprehende-se que o articulista, sob o império
A Historia é a Evo'uçâo.
das novas idéas, acha-se completa nente sem vigor,
S i é as-im, si está suficientemente comprovada e
e, procurando apparentar o contrario, enuncia propo-
claramente verificada a fatalidade do movimento
sições que são a condemnaçâo eloquente da causa que
defende. Assim diz : —«Confessemos com magna que sempre ascendente das sociedades, é certo que o So-
as folhas eivadas do virus rovolucionario são entre cialismo ha de vir infalivelmente, mais tarde ou
nós mais lidas e mais vulgarizadas ; neguemos todo o mais c 'do, impondo-se-nos com a força, com a irre-
subHdio á imprensa, que u l t r a j a n d o as leis divinas, sistibilidade proprias dos princípios que, ganhando
insulta a moral e a Fé.» a consciência publica, tendem a vitalisarem-se no
Ora, declarar que seus adversarias vão t r i u m - terreno positivo dos factos.
ph-tndo no terreno das idéas, porque seus livros, seus A Evolução julga, portanto, util.acostumarem-se
jornaes são mais lidos, mais vulgarisados, e depois desde j á os espiritos a encarar de frente esse teme-
fallar em subsidio, é o me9mo que dizer: «a causa
roso problema.
que defendemos ó má.e, j á que não podemos vencer
Ella vae encarai-o muito syntheticamente, e uni-
pela força da lógica,pela forçados argumentos, lan-
cemos mão d'outros recursos.» camente sob o ponto de vista philosopliico, porqne sob
Traz ainda a Reacção : Abolição do juramento por o economico h a necessidade de indagações mais de-"
F. Júnior, 9 de Setembro p>r L. A ..O republicano aca- talhadas.
dêmico por Demócrito, Chronica e Folhetim.
Jornal de combate, sustentando princípios errô-
neos, mas d e c d i J o e franco, a Reacção occupa por Í S Í O
u m a posição digna de louvor. Os homens são iguaes. A creação da natureza
A Evolução saúda-a. não foi destinada á felicidade e suprem") bem-estar
de alguns,e á desgraça eterna de outros,de modo q ue
P. C. agrupando-se em lados óppostos, vivessem—uns en-
voltos nos faustos njagnificos da oppulencia,e no moio
da ebriedade dos prazeres, e—outros soffressem a
acção envenenadora e mortificante da miséria.
Não. Os homens são essencialmente iguaes, pois
que, rui linguagem de O. Martins, «a Força, a Mate-

A Evolução acompanha oi^ocAnlismo moderno, o


If
ria, a Organisnçüo que os forma sfio idênticos ; diver- Socialismo que «e agita boje na Europa, não ao de
sificam apenas os aepectos, os phenomenon que e*<a Saint-Simon, de Fourier, etc.
força, essa materia, essa organ Maçiio apresentam, Mas, de que modo?
sendo a igualdade a norma, a lei, e a desigualdade Que falle elle pela voz de um doa seus moderno*
o accidente ». Apostolo« : • Fazendo c «m que, esgotados os ídhw*
Mas este grande principio, que j á conquistou historiens, e favorecendo a s doutrina» dominante«
palmo a palmo o terreno formal das especulações da ( naturalismo scnsualista, individualista na politica)
Razão, ainda n i o recebeu a sua consagração completa odesinvolvimento das tendências anima«« do ho-
e inteira no terreno da consummaçfto dos factos. mem á custa de suas faculdades superiores e moraes,
Só tein-na recebido em parte, un-camente sob o a pmducçw e o consumo ou o trabalho e seu pr..duelo
ponto de vista politico, e i-so mesmo com maior ou não sejam o fim para qu*6 se vive, m a s o mudo pelo
menor imperfeição, com maior ou menor acanha- qual se mantém a existencia, fazendo com que op->r-
mento. giltiy não usurpe o lugar do para que ; afim do fazer ces-
Ahi está para prova, cobrindo a face da Europa, sar o estado, em que, abandonado o Ideal das grandes
a sombra sinistra da Miséria na abj-cçSò, a turba coisas do nosso espirito que são o objecto Ra neto da
enorme do Proletariado, debatendo-se nas va«cas da nossa vida, o rico, na sua febre de mais uccuwul-ir, só
mais terrível das agonias ; e ameaçando convulcio- busca enthesourar á custa d o pobre que, lançado nos
nar tragicamente a sociedade europía, ei continuar a horrores da necessidade implacavel, só tem um ideal :
persistência em contrariar a corrente revolucionaria sahir d'esse estado para poder s u s t e n t a r a existência.
que agita a alma encandecida dessa grande multi Ião, Protegendo o homem esbulhado dos seus direi-
que nada mais quer do que conquistar os seus direi- tos. não com a Justiça distributiva, não com a chari-
to! extorquidos dade que.alem de i m p o t e n t e , é perversa p e r a n t e o pro-
Um olhar sinceramente observador, lançado sobre blema da miséria, s >cialmente considerado ; m a s com
as sociedades ccntrmporancas, verificará que ainda o Direito h u m a n o , com a J u s t i ç a c q m m u t a t i v a , com o
reina um grande, um immenso desequilíbrio nas posi- Estudo real, o r g a m da J u s t i ç a .
ções sociaes, e que, contrastando com a opulência de Legitimando a propriedade, legitimação que con-
alguns privilegiados, levanta-se sinistro o espectro siste em tornai-a accessivel a todos, para que se não
da Fome e da Desgraça. accuse de i n j u s t a a diatribuiçl« dog bons,«m assentai-a
Fundado n' aquelle grande principio, observando sobre a base única d » trabalho, p a r a q u e si não a c c u .
se de roubo a propriedade ; pois, para o Socialismo, O
calmamente os acontecimentos da vida positiva,appa- e
l l a nS" é mais do que trabalho effectuad'.». d-t que ac-
rece o Socialismo, combatendo, para acabal-o, esse
tividade concreta, d » q u e trasf >rmaçã-i d a matéria
desolador estado de coisas, que, fazendo descer o h o -
Dand », porfemt"», a» t r a b a l h o u m a j u s t a c p e r f e i t a or-
mem abaixo de sua natureza, lança a pcrturbaçfio n o
ganisaçã », d e m- do que elle n u n c a faite, c o n s t i t u i n d o
seio das sociedades, produzindo a sua completa des- para o individuo um incontestável direito. •
organisação.-apparece como um protesto energico con-
tra as classes conservadoras de instituições que não
correspondem, que não podem mais corresponder
ao estado de progresso moral dos povos, instituições
r i g a - s e a verdade d e s a s s o m b r a d a m e n t e , sem re-
que j á satisfizeram o seu fim n a Historia, e q u e d e - ,
cear d e s p e r t a r as susceptibilidades d a s crenças myo-
vem cahir -por anachronicas e imprestáveis. Apparece, p e s : o Socialismo, como é propagado modemame-nte,
emfim, afirmando que a Igualdade é a base d a Liber- é o echo do grandioso Verbo que ha 10 séculos se er-
dade, e que os povos que quizerem viver tranquillos á g u e u no m u n d o , d e r r a m a n d o por toda a Historia tor-
sombra da Paz, devem tornai a real, porque só a sua r e n t e s caudalosas de Luz.
consagração fará cessara luta p e r m a n e n t e , continua Sim; desprenda-se o C h r i s t i a n i s m o d o elemento
dos interesses sociaes. religioso que acanha -o e d eslust ra-o ,po r p r e ponde ran~
te que é ; á t t e n t e - s e o meio social acanhadíssimo em
O Socialismo nito pôde, portanto ser eombatido -que se agitou o cerebro e n o r m e do g r a n d e Reformador
pela sua origem, que 6 a mais legitima Social; penetre-se, despido de preconceitos e d e pue-
Mas quererá elle demolir tudo, nppor-se ás ten- ris prevenções, a essencia i n t i m a d o p e n s a m e n t o
dências irresistíveis, porque instinetivas, do h o m e m , christão >-e os espíritos s ã o s , c a l m o s e reflectidos, o»
que o levam a procurar apropriar-se dos objectos que procuram o conhecimento da verdade, esclareci-
externos em satisfação ás necessidades do seu ser ? dos peloalampadario d a imparcialide e da fria Ra-
zão, convencer-se-hão de que o Socialismo c o n s a g r a r
Não. Elle quer a r e f o r m a d a actual organisação
se á sustentação dos princípios do g r a n d e Philo-
social, quer collocar n u m a perfeita h a r m o n i a , n u m
sopho.
justo accordo, o^modo de ser social com o modo de ser.
das consciências, que não estacionam no caminho do Que período novo era necessário a b r i r para shcce-
der ao período da sociedade R o m a n a ? Em frente da
Progresso.
De que modo? , g r a n d e lei historiem, qual foi a missão de Christo ?
. 1
A Evolução, repetindo o que alii anda nas con- Nfio sabem que a Locomotiva ingente da Idéa, I
sciências esclarecidas, responde deste modo: lançada em vertiginosa carreira pelos trilhou inter- |
— Operar a renovação interna, radical do honiem, miiios do Progresso, vai violentamente bater de en- 1
I para tornal-o apto para receber as luzes da nova ci- contro aos rochedos que se erguem sombrios no ca- |
vilisaçfio, c, como do principio emana logicamente minlio, c, com a força que a governa, arraza-os, pat- I
a consequência, dessa renovação interior,radical devia tiudo-os de meio a meio t
provir infallivelmente a da sua vida politica e social- J. C.
Mas, soffrendo accentuadamcnte os influxos da
époclia em que viveu, não podendo, apezar da lumino.
sa intnição do seu gênio,— o primeiro que tem produ- No álbum d"um poeta lyrico
! zido a Humanidad e, libertar-se completamente dos
vicios que cobriam a socicdadc sua contemporânea, Rompe o sol nos confins do plácido Oriente.
sua doutrina resente-sc demais da preponderância do Do céu azul rasgando a límpida cortina,
elemento religioso, ficando o sociológico completa- A rósea luz cortante esbate na retina,
Bem como d u m a lança a folha reluzente. ü
mente embrionário, o que tem concorrido para que
tenha produzido apenas a metade dos seus fruetos. n
0 Christianismo proclama a igualdade completa Começa o movimento. O obreiro persistente
dos homens ; o ideal do Socialismo consiste em rcali- Nas entranhas da Terra escava a grande mina. f
sal-a na sociedade. Aquellc préga eloquentemente a O rnartello, na forja, em musica divina,
fraternidade h u m a n a ; este trabalha para q u e , e x t i n - Solta aos ares, batendo, o cântico estridente.
ctas as causas das dissenções e lutas permanentes
Sob um braço nervoso agita-se uma enxada.
entre os homens', ellcs vivam como n ' u m a só família,
O arado rompe a Terra, a grande mãe. Do nada
t endo os mesmos interesses, e, unidos pelos vínculos
da mais perfeita solidariedade caminhem harmonica- A vida surge, então, n a esplendida harmonia.
mente para os mesmos fins
E, entre o canto do obreiro e o cântico das aves, |
A theoria do Socialismo è a theoria do Christia- Ondula, tremulando, em Ímpetos suaves,
mo, desinvolvfda c ampliada. A bençam maternal da grande POESIA.

A Evolução s e n t e não poder espraiar-se em con-


ASSIS BRA/.IL.
siderações em ordem a deixar mais bem f u n d a m e n t a -
dos os seus conceitos.

A Evolução repete : o curso incomprehensivel das


Povos e governos
idéas, não o detem barreira a l g u m a , o Socialismo,
O l-ovo
p o r t a n t o , lia d e v i r .
Os factos estão p e r s i s t e n t e m e n t e a p r o c l a m a r I
essa verdade.
E á A lie m a n h a , a g r a n d e , a i m m o r t a l Aliemanha, A Evolução vai demonstrar, lançando mão dos
a naçffo onde p r i m e i r o se illuminou a consciência hu_ mingoados recursos que possue, como o povo tomou
m a n a aos r e v e r b í r o s do sol d a palavra dc Martinho as veredas da liberdade e tem gradativamente con -
Lutliero, a nação que illimitou o campo do p e n s a m e n - quistado os direitos que lhe havia extorquido a omni~
to h u m a n o ao m e s m o t e m p o que a Historia recolhia potencia das velhas tyrannias.
para estrellar o seu firmamento,—o n o m e de G u t t c m " Isto j á tem sido luminosamente desenvolvido^
b e r g , a nação que tem sido a i n a u g u r a d o r a dos g r a n " m a s a Evoluam julga de seu dever repetir imperfeita
des períodos historicos, que são como os degráos e rapidamente a demonstração desta verdade.
d u m a escada i n f i n i t a , por o n d e o Espirito H u m a n o A imagem do passado pôde de alguma fôrma re-
vai, n u m a ascendencia l u m i n o s a , se e n g r a n d e c e n d o e temperar os espíritos que se entibiam e vacillam sob
se aperfeiçoando no espaço e no t e m p o , á A l l e m a n h a t uin m u n d o de duvidas e de incertezas cruéis.
parece, em d e s e m p e n h o do seu d e s t i n o histórico, está Vacillam, quando no céo se atropellam nuvens
agoureiras e não muito longe talvez estão as arestas
reservada a gloria a s s o m b r o s a de t r a n s p o r t a r o Sócia
do abysmo.
lismo do l í m p i d o céu do Ideal á t e r r a aspera d a r e a -
Fortaleçamo-nos, pois, m u t u a m e n t e em quanto
lidade.
é tempo : os m o m e n t o s são decisivos.
L e v a n t e m - s e , m u i t o embora, sinistros c pavoro. Espanquc-sc a t r e v a ; que irrompa a luz por toda
sos, os cadafalsos. a parte. «
E áquelles q e pensam que a civilisação pôde m u -
A elles r e s p o n d e r á a repercussão e l e c t r i c a d a voz
d a r de r u m o , provemos pelo passado que é inevitável
dosApost"los da g r a n d e causa—na consciência publica a lei do progresso," e q u e procurar reter o curso das
Um Hoedel q u e cahe r e t e m p è r a a tenacidade das idéas, é tão temerário como inclinar-se á bocca de um
cerradas p h a l a n g e s . vulcão.
Loucos | I n s e n s a t o s os que q u e r e m deter a tor-
r e n t e do P e n s a m e n t o .
O que era o povo na antiguidade ? que parecem ainda cercados por uma chu «ma de po-
O que hoje se chama povo, na antiguidade, con- bres, dos pobres á cuja causa sacrificastes a vida?
stituía a classe dos escravos, um bando de crea- Depois destas lutas civis e outras de menor im-
I furas mais ou menos livres, mais ou menos op- portância para a liberdade, tudo se ia em Roma como
I pressas. que preparando para tremendas revoluções.
Miserável, sem liberdade, sem instrucçlo, por- A corrupção, como uma onda imm«*nsa, levan-
í que então a riqueza, a liberdade, a iostrucção erão tava-se cada vez mais alto e ameaçava submergir a
| privilégios de poucos, muito poucos,—o povo, assim cidade rainha.
jj acorrentado, construía palacios imm"nsis, pyrami- A devassidão, o luxo, a magnificência, entram si-
;f des colossaes, e derramava o sangue nos campos de nistramente em scena. Os banhos aromáticos, as
l| batalha, para gloria e immortalidade dos reis. grandes cortezãs, os banquetes, as orgias apparccem.
Assim é que o illustre escriptor Ernst diz : «A E a tudo isto o povo soffria, morrendo de fome, sob o
j antiguidade desprezava o povo: desde Xenophonte e peso da tyrannia impudente. Cezar, pretendendo ser
I Aristóteles até Catão e Cicero, o povo não era mais um protector, foi abertamente um tyranno.
9 do que um amalgama de creaturas miseráveis*. As cousas estavão n'este pé,quando escalou os de-
A Evolução considerará o povo era Roma, porque gráos do throno, pisando por cima de um montão de
I 'oi alli que mais decididamente manilestou-se. cadaveres, o infame co-raptor Augusto.
A sociedade romana, como todas as sociedades O Filho adoptivo de Cezar absorve em si de novo
9 antigas, dividia-se em duas classes—patrícios eple_ todo o poder, não de pê, como fazem os déspotas he-
I beus, nobreza e povo. salvo as denomínaçõas que va- rdes. mas rastejando pelo chão como u m a serpente.
riavão, sem alterar o fundo. E depois de manietados assim os pulsos de todos
Diz eloquentemente Lamennais : «Na cidade ro- os cidadão», depois de ter agrilhoado, emfim. a n a -
I mana os patrícios tinham-s? apoderado do sacerdocio, ção ao suppedaneo de seu throno sangrento, s n guro
dos ritos religiosos, dos augures, dos c a r g j s públi- de que podia viver tranquillo no meio de seus escra -
cos, da maior parte dos bens, e despojavam ainda o vos, brada satisfeito insultando o mundo subjugado :
Paz!
povo pela violência, a frau le, a usura, do pouco que
podia adquirir ou conservar. Elles só gozavam dos Não, covarde assassino do divino Cicero, Paz l
direitos inherentes á natureza humana. O plebeu não Esta palavra radiosa que symbolisa cousas santas e
tinha nome, porque não era,na realidade u na pessoa, boas, não pôde ser d i t a por ti.
mas sim um escravo, um instrumento de producção, A Paz, a g r a n d e Paz que fratsrnisará inteiramen-
e, no tumpo de guerra, uma machina de combate.» te o mundo, «nío sorrirá das alturas faustosas do P a .
Para quebrar as cadeias que a prendiam a este latino, nem do limiar do templo fechado d e J a n o , mas
estado degradante, a plebs fez esforços homéricos, e, d e u m a pobre choupana».
não poucas vezes,sentiram-se fortes lampejos de liber- E foi assim, quando o espectro de Caim surgia
dade. Mas, cousa s i n g u l a r ! seus triuraphos foram por toda a parte, que das bandas do Oriente, lá pelo
sempre ephemeros; cabido que fosse o despotismo, céo da Galliléa, u m a nuvem cor de rosa despontava nas
de uma fôrma ou de outra, levantava-se alli, como f r a n j a s do horisonte, e levantava-se e levantava-se
Anthêo, mais forte ainda. cada vez mais ; em q u a n t o que a figura docemente
E qual a razão d isto ? pallida do Christo apparecia n a t e r r a entre os homens.

A falta de comprehensão, a falta de l u z e s ; t u d o Vai começar para a h u m a n i d a d e u m a nova éra,


estava monopolisado. Inspiração divina, ura gênio assombroso vai procla-
m a r a fraternidade, a igualdade entre os homens e
Foi assim que os Gracchos, aquelles eloquen-
preparar o reinado da verdade, da virtude e da justiça-
tíssimos Gracchos. ao clarão que se lhes irradiava da
J á apresta-se pela elevação, pela sublimidade dos
palavra, não puderam desmascarar a infamia de seus
princípios o g r a n d e exercito,—uns humildes pescado-
aggressores; não puderam, hypothecando os m a i s
res—,que vai s u b j u g a r o m u n d o pela fraternidade, pelo
sublimes esforços, quebrar de um jacto os g u a n t e s
amor.
de ferro que arrochavam os pulsos de seus irmãos.
Oh 1 q u a n d o pensariam aquelles s a n t o s e h u m i -
E pereceram : — um, covardemente atraiçoado, cái
lissim is trabalhadores, que eram a bondade, a mansi-
morto nos braços da gloria, t ã j im maculado como a s
dão encarnada, que, em seu nome e no de seu Divino
azas de um archanjo; o outro, calumniado, perse-
Mestrè, se haviam de erguer patíbulos, accender fo-
guido, é obrigado a fugir e faz-se matar nos a r r a n -
gueiras, e que, —appellidados os verdadeiros succes-
cos do mais santo desespero.
sores do Rederaptor dos povos,—se havia de s e n t a r
Irapollutos cidadãos, que fostes a incarnação em dourados thronos u m a serie de reis, donde e s t e n -
viva da severa justiça I quem não abrirá expontanea- deriam os pés, talvez de bandidos, para serem beijados
raente no coração um templo de amor, um sacrario pela multidão incauta dos crentes ?
para recolher-vos os noines com uma chuva de í
O doce filho de Maria, depois de illuminar aquel-
bênçãos?
les que deviam ser seus continuadores, morre conten-
Quem não se deterá contemplando com o mais te nos braços de u m a cruz.
sagrado respeito, levantados no declive da grande A s u s sublime d o u t r i n a vai descer agora das c u -
montanha do passado, os vossos vultos sobranceiros, miadas do pensamento para o torvelinho, para as agi-
IS
tacões da vida. Os seus discípulos espalham-se por As sociedades crescem, avultam e desenvolvera- I
toda a parte, levando eomsigo o bem, a verdade, a se,isto é, illuminlo-se; e a concurrencia e os comrnet- I
]UZ. ti mentos da iniciativa individual,— escopro com que se 1
£ a tudo isto, emquanto se ia desbravando pelo abre larga passagem no mármore do tempo para os II
heroísmo, pelo martyrio, a rota da liberdade, em Roma lados do Porvir, o esclarecimento das inteligências e n
tripudiava satanicamente a saturnal: multiplicavam- a consciência dos direitos, trazem como consequência
se os crimes. Os Cezares mandavam matar o povo nos a emancipação da tutella dos privilegiados. E rege ne-
amphiteatros, por divertimento. Os nobres, os ricos, r&o-se os Povos p >la Liberdade e conquistâo o Futuro
os poderosos cahiam embriagados no collo das mu- pela Democracia.
lheres devassas, nos banquetes esplendidos e nas es- O tempo muda,transforma, remoça os costumes e; |
trondosas orgias. altera as condições peculiares d'uma sociedade e ij
E assim a Roma prostituída, cancerosa j a z por mui- d'ahi o surgirem novos factos, exigencias de nova»
| to tempo em leito mo rtuario. formas e, portanto, outras necessidades que, urgen-
Já tudo era perdido finalmente. O corpo social temente, devem ser attendidas.
estava em grande parte corrompido, podre; carecia Criminoso verdadeiramente seria estacionar urna
de um grande, de um enorme abalo, para aiquiiir no- sociedade pela sua legislação e muito principalmente
va pujança, novo vigor. pela lei fundamental do Estado, quando esta é a ex-
Ouviu-se, então, porque isto é fatal, no meio pressão da vontade nacional e, por isso mesmo, de-
de alegrias tresloucadas, inpudicas, um rumor des - ve reflectir seu adiantamento e illustração.
compassado, como o d e uma tropa de demonios: Conhecer da illustração d'um povo, de sua morali-
—Eram os barbaros, uns homens sãos, fortes, vi- dade é quasi determinar sua forma de governo, sua
gorosos, que vinham em auxilio do christianismo, que Constituição, suas leis. E' axioma politico já.
vinham em auxilio da grande revolução que se estava
operando no mundo. Mas qual o meio de alterar-se ou reformar-se uma !
lei fundamental? Ha princípios permanentes, immu- y
O povo, o miserável proletário, que viveu por
taveis quanto ao meio pratico de realisar essas refor- 1
tantos séculos na escuridão, vai levantar-se agora cora
mas em Direito Publico ? * I
a cabeça banhada de luz, e, forte, pujante, ha de tra-
E' a questão de que vamos nos occupar; resolvei- •
var uma luta desesperada, uma luta de roorte com os a-hemos em frente da nossa Constituição.
potentados da terra. E' questão da épocha.
Os princípios cabidos dos lábios do Chris-
to — sementes fecundas, medrarão necessariamente Como teremos occasião de notar,variada tem sido a J
<41 nosarraiaes do futuro, e hão de abrir fendas mesmo solução, dada, quanto ao processo pratico, da questão
no peito dos rochedos. que nos occupa, pelo Direito Publico dos p.»vos cultos;
P. C. nem mesmo ha princípios fixos e permanentes; por-
que, fundando-se a sciencia politica nos factos e sof-
frendo o influxo do tempo, acompanhão suas institui-
COLLABORACÃO ções as evoluções nccessarias e lógicas do sempre
ascendente desenvolvimento social.
Poder constituinte O Direito, fundando-se na natureza humana,é log 0
conhecido expontaneamente; mas não é bastinte o
i
conhecimento, faz-se necessaria a garantia e o estabe-
A tendência manifesta da sociabilidade, impressa
lecimento de meios de garantil-o; porquanto, prati-
na humanidade leva-a presurosa a abandonar o estado
camente fallando, o Direito sem garantia não é Di-
precário de isolamento que envilece, aniquila e pos-
terga os sentimentos que constituem um dos mais reito.
bellos apanagios da natureza humana - os de múlti- Neste intuito.agglomerão-se os indivíduos,organi-
plos e mutuos auxílios para a realisação to t i l e parcial sam um corpo politico, torna-se este independente c
dos fins racionaes;—une-a pela agglomeração de todos autonómico.—E' o Est-ido.
os seus elementos de força e, destruindo todas as bar- Este representa uma idéa de Direito, de moralida-
reiras que se lhe antolhão,fal-a seguir com inteiro des- de, e não uma agglomersçã» material; porque o qne o
assombro no caminho do Progresso. Resentc-se essa constitue é a organisação, como se exprime Rossi. (1)
lei,que rege os destinos sociaes, das manifestações que O Estado é a p-ssoalidade moral abstracta, qu e
expontaneas, irrompem do seio nacional, fortalecidas
phot»grapha a sociedade. (2)
pela luz da razão esclarecida do« povos.
Formada a<sim a sociedade,temos o que se chama
E' a força cega do instincto que expande-se e a
constituir— declarar direitos e garantil-os, sejão ex-
concentração dessa força pelas lições da experiencia,
pressas ou tacitas as Constituições.
pelo facho da sciencia.
Na mais ampla generalidade toda sociedade tem
Assim marchão as sociedades desde sua origem.
sua Constituição.
Ficão, portanto, de lado o producto do trabalho da A' soberania nacional,é claro,compete.de pleno di-
imaginação-incandescente de J. J . Rousseau, a força
instinctiva e constante, eternisando-se pelo costume
(1) Russi Droit Constitut : onel.
no pensar dos historie is, a ficção hostil de Hobbes e a
(2) • iorr-Nnureau Dn.it /nlertiationel,pag. 119, not
imposição do ascetismo theologico tade Pradier-Foderé.
reito. promulgar, alterar, e reformar sua Consti-

guay, Bolívia, Perú e Chile, faz-se a reforma p-la


ri
I - 1le-
. I
tuição. gislatura o rd inaria ; nos Estados-Unídos daColumbia
O Estado <?. o eu dessa soberania o os poderes suas 6 o senado competente. (7)
faculdades, na phr.ise do Schutzemberg (3). Nos Rstados-Unidos é encarregada da reforma uma
Nenhuma reforma possível podo haver nos precei- convenção (8), art. 5 ; nos Paizes Baixos teria este po-
tos primários d'uma M fundamental sem ser filha da der a legislatura ordinaria, mas novament-; eleita,
vontade do povo. Não ha imposição licita; seria,ao con-
arts. 136—lí)9 (9); e, para não citar mais, no Cantão
trario, negar o poder soberano a quem pertence de
de Genebra são as reformas feitas por uma constituin"
direito, li o soberano impõe-se, não sujeita-se a impo
te, art. 153.
sições.
E' essência da soberania ser absoluta, e portanto Varia,portanto,o modo de realizar as ref •rinas con-
inalienavel e imprescriptivcl. stitucionais com o Direito Publico dos povos cultos,
A dualidade seria a confusão, ocahos. Em regra, são feitas as reformas pelas legislo t ura»
O poder ao qual a soberania confia esfa alta missão, ordinarias,--o que não quer dizer que não seja distínc-
o Constituinte, distingue-se profundamente do legÍ3 ta a sua missão quando promulga leis ordinarias duque
lativo ordinário, como profundamente distingue-se a tem quan lo funceiona como constituinte;—e uma vez
cousa creada do creador; ó um poder tui generi», q u e proposto e approvado o projecto de reforma eonsi l c r a -
vem traduzir em formulas os sentimentos e aspira- se a câmara dissolvi la e a novamente eWta se encurre.
ções nacionaes. a de r e a l i z ü a , tendo para isso podares' Const. da
A sua independência da intervenção dos outros Bélgica art. 131 ,e Const. dos Paizes Baixos 197. Isto,po-
poderes é também manifesta. rém, não se dá entre nós, porquanto espera-se esgotar
Mas ha uma dístiacoã > a fazer: ou o poder consti o praso d i legislatura em que se propoz a reforma
tuinte è organisador, e, neste caso, independe dc outro Const. art. 176, e só pófle ser a Camara dissolvida po-
qualquer, porque não existem ainda outros; ou é re- motivos de salvação p;iblica, art. 101 § 3 o .
formador, tem a missão de alterar certos preceitos, o Na Inglaterra.como é sabido,tem-se em alta consi-
ainda independe de intervenção cxtranha, porque 6 deração o elemento historico; a transformação das
delegado do soberano competente para estas alterar instituições faz-se p°la acção lenta do tempo, forman-
çõesou reformas—o povo. do essa jurisprudência costumeira, j á tão preconisada
pelos romanos, (lo)
Aos representantes da nação,nos paizes onde exis-
Domina ali o methodo experimental em contrapo-
te um poder especial para reformas cons ituci mães (4),
sição, ao racional usado cm França, fl I;
incumbe indicar a matéria reformavcl, a necessidade
Em vista das considerações feitas firmamos nossas
r eclamada pela nação, como seus org.ios legítimos.
proposições: o constituinte tem um caracter todo seu
A satisfação da necessidade, a forma, os meios,
é o r g a n i s a d o r ; o legislativo ordi isrio determina a
competem exclusivamente ao poder constituinte legi-
m a t é r i a ; a forma compete ao poder legitimamente
timamente auctorísado.
autorisado, seja o constituinte ou o legislativo com
A doutrina contraria seria o poder ordinário d e - poderes constituintes.
terminando a matéria e estabelecendo a forma,isto é - - E que pela nossa Constituição o poder constituinte
fazendo a reforma, unificando-se com o constituinte reveste-se dos característicos assignsfl i d o s ; que d i s -
e, portanto, tirando-lhe a razão de ser, aniquilando e tingue-se e independe do legislativo ordinário no e x c r .
nullificando-o, quando são distinetas suas raias e at_ cicio de suas funeções; que é incompatível com q u a l -
tribuições. (5) quer imposição d e outros poderes a não ser a da d e t e r '
E constituinte para constituir o que está consti- mi nação da matéria que deve ser a l t rad i,—proval-'«-he-
tuído? constituinte para reformar o que está refor- m is pela analyse da questão tão l o n g a m e n t e discutida
mado? entre nós, actualmente: si deve, pela Const concorrer
• E' vão, ê inútil, é ocioso. o senado para a reforma constitucional, ou si só os de-
Dizíamos ha pouco : nos paizes onde ha este poder legados especiaes da nação.
especial para taes reformas; porque o meio pratico d e Na camara temporaria, como na vietalicía,diversas
realizal-as por um p-idér constituinte não é um p r i n . e encontradas tem sido as opiniões.
cipio assentado em Direito Publico. E publicistas o
condemnào. (6) Na Inglaterra, na Republica do U r u - Ü. RESENDE.

( 3 ) LES LOIS DE L*ORDHE SOCIAL.


(4) E' só constitucional o que diz respeito aos limi-
tes e attríbuições respectivas dos poderes políticos, e O) Obr cit.
(8) LAFERRIERE ET BATBIK. CONSTITUITIONS D'1ÍU.
aos direitos políticos e indíviduaes dos cidadãos : tudo
ROPE E T D'AMERIQUE.
o que não é constitucional pode ser alterado, sem as
formalidades referidas, pelas legislaturas ordinarias. (9) Idem, idem.
Const 118 —Este artigo é a transplantação d"um p r e - flO; Inst lio. l.° Tit. 2.®§9; Dig. liv. I.» til. 3 frg
ceito theoricii para a pratica. 32. Coi. lio. 8.° lit 03. C. 9.*e muitas outras disposi-
ções do Direito Romano.
( 5 ) HELLO-DU RÉOIME CONSTITUOION KL p a g . 240
(11) H E L L O - D U REGIME CONSTITUCIONKL.
fi) Edouard Laboulaye — QUESTIONS CONSTITU-
TIONELLE6.
Typ. da Tribuna Liberal.
A EVOLUÇÃO
Periodica redigido pelos acadêmicos

JULIO D E CASTILHOS P E R B I R A 11>A


COSTA
ASSIS D R A / I L

Ann» 1 S . P a u l » , 1 5 d e M a i o d e 1H7!»
Ü.3

A EVOLUÇÃO Perde-se a cada passo a noção da Justiça, que


tornou-se uma irrisão.
Conculca-se, espesinlia-se, esbofetea-se o Direito,
1 5 DE M A I O DE 1879.
que O uma mentira.
Por mais que o contestem os espíritos que per- Emfim, o paiz atravessa uma crise tremenda,
sistem imprudentemente em não compreliender a que o convulciona intimamente, lançãndo-o n'um
ft
irresistibilidade das leis históricas, por mais que se modo de ser que, por eminentemente anormal, tende
empenhem em demonstrar o contrario, por mais per- forçosamente a cessar.
tinazmente que procurem contrariar a corrente da A descrença invade com uma força irresistível
j Democracia n'este paiz, a verdade, a grande verdade todos os espíritos, a onda do marasmo vai accelerada-
é que a monarchia está agonisante no leito de mente subindo, avolumnndo-se, e ouve-se aqui e
morte. além um surdo e vago rumor.de descontentamento
A lógica inexorável dos acontecimentos que se geral, de aversão.
vão succedendo, unidos pelo vinculo de perfeita con-
nexão, não permitte a deducção de outro corollario. Pois bem, é tão incontrastavel o curso das idéas,
— Tudo está passando por sinistro eclipse. é tão mathematica, tão infallivel a invariabilidade
As intelligencias embotam-se e morrem, immer- das leis que presidem os destinos sociaes e marcam-
* sas nas profundezas das trevas da ignorância, sem lhes o rumo, os períodos historicos se prendem, se
liberdade, sem luz para dissipal-as. ajustam e se reproduzem n'uma dada èpoclia, n uma
As consciências adormecem aos tinidos triste- dada circumstancia, de tal modo e tão precisamente,
mente lugubres das cadeias da escravidão d u m a re- — n'uma palavra, a Historia falia tão positivamente,
ligião que as asphyxia, impedindo-lhes o grande lc_ tão decisivamente ;— que só os que a não ouvem ou
vantamento. não compreliendcm-n'a, poderão negar que tudo leva
Os caracteres quebrantara-se torpemente, de- a crêr no proximo desapparecimento da monarchia.
compõem-se, e, contaminados pela lepra da avassa- O que nos ensina a Historia ?
ladora corrupção, cáem apodrecidos. Ensina-nos que aos períodos de profundos ador-
; Os partidos não são organismos formados pelas mecimentos dos espíritos, aos períodos de estagnação
correntes diversamente encaminhadas dos movimen- social, succédé sempre um enorme despertar, acom-
tos sociaes ; não, são o banditismo organisado, são panhado dos estridores ruidosos das agitações da
agrupamentos de devassos do espirito, que reduzem vida.
impiamente a politica, neste paiz, ao esterquilinio Ensina-nos que, bem como no mundo physico,
dos brios e da honra nacionaes putrefactos. no mundo moral as mornas quietações, os largos re-
0 governo é o posto da mediocridade, parva e os- pousos prenunciam sempre grandes movimentos,
tentosa, porque não se peja de sel-o,— que vai servir assombrosas elaborações.
de miserável instrumento às machinações satanicas Ensina-nos que si a Idèa se eclipsa ás vezes, re-
do déspota farcista e petulante ; — em vez de ser a surge além, como o sol no espaço, no estrellado ceu
eminencia onde se alteiam os sóes luminosos do ta- do espirito mais brilhante e radiosa.
lento, do patriotismo, do civismo. E falla-nos de Roma— a cachetica, e dos Barbaras
O povo não tem liberdade, e, seg.-egado comple- — essa turba de Titàes. Do despotismo theocratico —
tamente das forças que o «dirigehi, tornada inefficaz o empanamento da consciência, e de Luthero — o sol
a sua vontade, arredado de todo das funeções que ex- queailluminou. Da supplantação do Direito, da Jus-
clusivamente lhe pertencem, por soberano que deve tiça, da Liberdade, e de 89 —o grande pégo de luz, de
ser, não sabe para onde o conduzem. Sua representa- Danton —o seu vingador.
ção, sobre ser falsíssima, é irrisória, pois não tem por E, pois, a Historia estabelece premissas implaca-
único e, por isso, largo alicerce o seu voto livre, ex- caveis, cuja conclusão brota com uma fatalidade
pontâneo e desembaraçado, e sim repousa na ponta céga.
das bayonetas {tos policiaes que o governo enfileira.

ÊSSsit
IS

O eclipse vai cessar, a escuridão vai desfazer-se, As monarchias barbaras, o feudalismo, as com
Quem o trouxe ? A monarchia. munas e, finalmente, as grandes monarchias absolu-
A monarchia, portanto, vai cair. tas vão apparecendo gradativamente na Europa,
Do seio da desillusão que penetra os corações sin- Emquanto,por outro lado, o génio do progresso cami-
ceramente brasileiros, brota uma robusta, uma pu- nha silenciosamente, inspirando os pregadores da
jante crença, — que sem ella não podem viver as so- fraternidade humana.
ciedades, — a crença n'um novo principio, n'uma A idade média pode-se comparar a um vasto
Idéa Nova, que traz em si para transmittir ao corpo subterrâneo, nonde se tivesse,porventuraprecipitado
social deteriorado e cadaveroso a seiva do Futuro. a grande locomotiva que conduz os povos para a
Approxima-se o grande dia, que pôde ser, ou o
perfectibilidade.
Dies Pacis ou o Dies Iroe, ou a victoria tranquilla e
Naquella escuridão travaram-se as lutas mais
serena da Justiça,ou as explosões flammivomas da Re-
porfiadas que menciona a historia.
volução,—esse cáustico para destruir essa chaga —
Prepararam-se dentro daquellas paredes pavoro-
a monarchia.
sas, dentro daquelle sinistro recinto, onde a cada
Esperemos, pois. os clarões da grande a u r o r a ;
passo levantavam-se patíbulos,acendiarn-se fogueiras,
esperemos, que não tardará muito que a Patria feche
com uma mão a porta do Passado, emquanto que com inventavam-se as mais atrozes torturas para os fracos
a outra descerre as portas do Pantheon dos povos c opprimidos,—as grandes revoluções que deviam re"
livres, cortejando o Futuro em épico enthusiasmo ! bentar mais tarde n'uma explosão de luz.
A actividade humana, que não descança nunca,
j.c. não descançou naquella quadra tormentosa. Pelo con-
trario, parece ter trabalhado com mais energia, com
mais ardor.
Brilharam alli os primeiros lampejos da liberda-
O Ensaio Lillerario é o r g a m de uma associação de philosophica com Abailard ; os prelúdios da Re-
de estudantes de preparatórios e está já no seu 2° forma,diante da consciência humana escravisada,com
numero. - W i c l e f ; os primeiros arrancos d a liberdade politica
Tudo ha a esperar da bôa vontade, estudo e in- com as communas.
telligencia dos jovens redactores d este sympathico E, quem ignora ? todas as verdades proclamadas
então pelos martyres da civilisaçâo, como verdades
periodico.
incontrastaveis, que eram, foram triumpliando no de
A Ev •loção fraternalmente o s a ú d a , e espera vel-o
correr dos séculos.
sempre luctando pelos sagrados princípios da Demo- Depois da revolução religiosa, vem a revolução
cracia, cuja causa parece abraçar;, a j u l g a r pelos dois philosophica;depois seguem-se as revoluções politicas
números publicados. que, «como um echo prolongado, continuo, vai do
cadafalso de Padilla ao cadafalso de Egmont, do ca-
A. B .
dafalso de Egmont ao cadafalso de Danton. »

Povos e goverr.es
Considerando aqui algumas idéas que ahi ficaram
esparsas, lançando um olhar retrospeclivo sobre o
O POVO
longo período que se estende desde a invasão dos
II barbaros até o fim dos tempos modernos,encontramo-
nos com duas grandes entidades,que dirigem o m u n -
Osbarbaros arrojam-se sobre o império, a s s i g n a -
do e governam os p o v o s : a Igreja e a s monarchias
lando sinistramente a sua passagem por t o d a a p a r t e
absolutas.
Os muros da grande capital cedem d i a n t e d a s
hordas commandadas por Alarico. Para conter o furor selvagem dos povos barbaros^
E, do seio das ruinas f u m e g a n t e s , do meio dos havia necessidade de uma força que, como a da Igreja,
destroços gigantescos da magnifica cidade dos Ceza- moderasse e dirigisse os ímpetos da barbaria.
res, o anjo da civilisaçâo, que parecia acorrentado Por isso, é justo assignalar aqui: — mesmo depois
dentro de suas ameias de ferro,despre nde o vôo, e vai de transviada do caminho traçado pelos apostolo«
derramando de longe em longe scintillações a u g u s - para a propagação da fé,mesmo depois de collocar-se
tas. na cúspide da jerarebia social q u e inventou, mesmo
Serenada de todo aquella tremenda tempestade depois de u m a serie interminável de erros,—a Igreja
que abalou a face da terra, a theocracia incumbe-se prestou elevados serviços. No e n t r e t a n t o , por maio-
de organisar a Europa, depois de ter formado com os res que tenham sido esses serviços, j a m a i s poderão
despojos da antiga Roma u m a Roma nova, depois d e escurecer os crimes assombrosos que perpetrou nos
t e r construído com os fragmentos das instituições a n - últimos séculos do seu domínio, em nome d a religião
teriores um universo jerarchico, do qual devia ser o A EVOLUÇÃO declara com magua esta verdade»
ponto culminante o sacerdocio. m a s declara francamente, porque será sempre um
=1
IO
eclio débil dos brados de indignação levantados pela
historia, contra os tyrannos e oppressores de todos 'V* I
desorganisada, começaram a constituir-se na Europa,
as grandes monarchias absolutas que no século XVI e
os tempos.
XVII attingiram ao apogeu da grandeza e do poder.
A ambição insensata dos papas para o domínio
Constituída« solidamente as nações, começam
universal, não mais pela persuaç&o e pela doçura,
com mais ardor as lutas da liberdade.
mas pela força e pelo despotismo, manifestou-se
Assim é que, emquanto a força dictava leis, een-
abertamente do século VIII em diante, quando então
quanto os reis, confiando no seu illiinitado poder,
estava a seu lado a espada gloriosa de Carlos Magno.
Pode-se mesmo dizer que no dia em que o illustre julgavam legar um patrimonio eterno ás suas dynaa-
guerreiro colloccu a corôa sobre a cabeça, diante do tias, nas regiões do pensamento apparelhava-se a
papa Estevam II, tocaram ao zenith as duas grandes grande conflagração que devia desabar sobre a
instituições da idade média — o pontificado c o i m - França, illuminando o mundo.
pério. Nos fins do século X V I I I uma legião de pensado
res tinha estabelecido definitivamente as bases de
Desde então, a força auctoritaria dos papas loi se uma completa reorganisação social, exigida pelo im-
alargando cada vez mais, e attingiu a tal ponto, nos pulso da civilisação.
fins do século XI, que é absolutamente impossível Isto era inevitável. A velha Europa dynastica quíz,
fazer uma idéa approximada da auctoridade que a no entretanto, oppor diques ás aspirações populares.
Igreja exercia promiscuamente sobre reis e povos. Desencadeou-se então aquellc furacão ardente ;
Por toda a parte, na phrase de Victor Hugo, sente- rebentou aquella luta cyclopica, chamada —revolução
se a auctoridade, a unidade, o impenetrável, o abso- franceza.que devia terminar pelo triumplio definitivo
luto — Gregorio VII. do direito.
Entretanto, cedendo ao impulso d a clvilisação, E o povo ,que nada era, começou a ser tudo.
aquella auctoridade está prestes a abalar-se ;Roma
acorda-se espantada, ao rumor que faziam os povos __ ^ _ P.C.
para libertar-se.
E que medida toma para assegurar o poder q u e
Trez livros
lhe escapava ? — Crea a Inquisição.
O doutor Lopes Trovão faz parte dos mujto pou-
O espirito revolta-se, e, preso de um pavor extra-
cos h o m e n s do bem deste paiz.
nho, tem m u i t a s vezes vontade de d e s m e n t i r a histo-
Milita desde os seus tempos acadêmicos no pe-
ria, ao n a r r a r as atrocidades desta instituição l u g u -
queno, porém brilhante, exercito republicano, que se
bre e s a n g r e n t a . tem formado na adversidade e que se occupa em
Porém, mesmo d i a n t e dos batalhões i n f e r n a e s cavar, pela palavra e pela acção, ao redor da monar-
dos seus inquisidores, o poder papal se vai e n f r a - chia, o fosso que ha de infallivelmente sorvel-a.
quecendo, ao e m b a t e dos e l e m e n t o s a n t a g o n i c o s . A sua palavra é constantemente ouvida nas con-
Escriptores, philosophos distiuctos p r o c l a m a m , ferencias publicas do Rio de Janeiro, e o nome do
nos paizes m a i s a d i a n t a d o s , a reforma, depois q u e dÍ8tinctissimo orador não precisou da mão officiai
Wiclef, e m face d a consciência a m o r d a ç a d a , e s t a b e - p a r a erguer-se d a obscuridade, para a qual não nas-
lece o principio d e q u e : « t o d a s a s consciências ceu.
sendo iguaes,Deusse revela d i r e c t a m e n t e a cada u m a , I n t e n t a agora o doutor Lopes Trovão dar publi-
por sua g r a ç a , e, por c o n s e g u i n t e , n a I g r e j a dos fieis cidade a todas as suas conferencias. Começou j á pela
não deve haver -senhor n e m a r b i t r o . > q u e occupa o primeiro lugar na ordem chronologica
Assim, pois, as c a r a v a n a s revolucionarias vão e que t r a t a da COMPATIBILIDADE OÜ INCOMPATIBILIDADE
n u m a marcha a u d a c i o s a , t r i u m p h a n t e , de Wiclef a DOS REPUBLICANOS COM OS CARGOS PÚBLICOS, da qual

João Huss, de João H u s s a L u t h e r o , e libertam final- obsequiosamente enviou â Eoolueáo um exemplar.


m e n t e a h u m a n i d a d e d o m a i s terrível dos j u g o s — o E s t a 6 com certeza a these mais controvertida no
j u g o religioso. seio do partido republicano. Só desse facto lhe vem
a i m p o r t â n c i a ; porque, em f u n d o , é mera questão de
disciplina.
O doutor Lopes Trovão s u s t e n t a a completa
compatibilidade com todos os cargos, e vai mesmo
A revolução.que rebentou ao pé do altar,vai pre-
ao extremo de justificar o infeliz Lafayette.
cipitar-se t a m b é m nos d e g r á o s do t h r o n o .
A' primeira vista, a questão é s i m p l e s : — o s
A reforma religiosa vai auxiliar a reforma po-
cargos não são do governo, mas do paiz ; ora, os
litica.
republicanos, alem de entrarem coin a contribuição
Encare-se por outro lado, retrocedendo u m pouco, q u e o paiz exige, t ê m o dever de servil-o e o direito
a marcha evolutiva d a s sociedades. de participar d a c o m m u n h ã o ; logo... etc.
No século XV, p a r a m a n t e r a unidade nacional, Mas a questão é de disciplina, e a disciplina dá-
que estava em perigo de desapparecer pelo e n f r a q u e -
lhe diversa solução.
cimento do feudalismo, ao impulso d a força popular A athmospliera officiai está empestada ; tudo o
*o

que diz respeito ao governo está podre ; aquelles que não poder enviar mais algumas palavras, por falta de
delle se aproximarem serão contaminados, portanto. espaço.
Alem disso, a grande tarefado partido republica-
no actualmente é lutar por todos os modos licitos pe-
rante a moral, lutar abertamente ; ora, o emprega-
do, seja elle de que categoria fôr ( a menos que não
Appareceu finalmente o proclamado li vro —Frei I
queira demittir-se, e, nesse caso, reconhece a incom-
Caetano de IUessina,obra de Estevam Leão Bourroul, o
patibilidade) está subjeito ao governo; por conseguin-
mais esforçado e audaz soldado do ultramontanismo,
te, impossibilitado para a luta, para o magno de-
na academia de S. Paulo.
ver.
Este livro era aguardado com grande anciedade
Isto, é claro, não se entende com os cargos de
Os precedentes do auctor auctorisavam a esperar-se
[ eleição popular. Quem está com o Povo está com a uma obra d e l o n g o folego, de d o u t r i n a , d e propagan
Republica. da, de combate.
Estas idéas são, entretanto, individuaes d e Mas as causas mortas têm por si soldados mori-
quem estas linhas escreve. bundos.
—Alguns pobres de espirito pretenderam levar em O notável talento de Bourroul amesquinliou-se
conta de reviramento politico a franqueza do auctor. diante da pequenez da causa. Assim também o ho-
Este responde-lhes com o seu passado, e basta isto mem de fortes pulmões sente-se enfraquecer n uma
—A EVOLUÇÃO tinha dezejos de alongar as suas con- atlimosphera mi asm atiça ou rarefeita.
siderações. Vê-se, porém, forçada a fazer o contrario, O auctor põe na frente do seu livro —estudo hislorico
sentindo tanto mais quando reconhece que o illustre religioso.
orador fluminense e a sua obra são dignos de serio Certamente escreveu essas palavras antes de
estudo. concluir a obra, que não é, nem aproximadkmente,
Para as subsequentes publicações disporá de u m estudo religioso e muito menos um estudo his-
mais tempo e de mais espaço. torico.
Para o doutor Lopes Trovão só tem saudações e Limita-se Bourroul em todo o livro a fazer algu-
applausos. m a s transcripçõe8, acompanhadas de muito poucas
palavras suas, em phrase descorada, sem e n t h u s i a s .
mo e sem vigor.
E' verdade que declara no prologo que citou sem-
pre tomo maior gáudio de sua alma. Mas esta confis-
são não é u m a desculpa, tanto mais quando já é
Pedro I I , acostumado a lêr as epistolas bajulato-
proverbial a sua citomania.
rias dos áulicos infames, deveria sentir agora extra-
nhas sensações, si passasse os augustos olhos por u m A Evolução, que carece completamente de dados
pequeno pamphleto que acaba de ser publicado. positivos sobre a vida do capuchinho, quasi nada
pôde dizer da maior ou menor exatidão com que a
CARTA DE SAXTERRE AO SENHOR D. PEDRO I I é o titulo
n a r r a Bourroul.
do pamphleto, que é attribuido a u m acadcmieo de
Frei Caetano não passou também sem os seus >
S. Paulo, reconhecido como fervoroso e forte republi-
cano. milagritos : por sua intervenção com a côrte celeste,
Santerre desenha aos olhos do rei todo o quadro b r o t a r a m d u a s fresquissimas fontes atraz de um con-
negro das desgraças da Patria, na sua mais commi- v e n t o , em Pernambuco. Ainda o mesmo santo varão
seradora hediondez; accusa vigorosa e j u s t a m e n t e a conseguio fazer descer das nuvens"chuva reparado-
monarchia por todos estes males ; previne-o de que ra, por occasião de afftictiva secca, desmentindo, as-
j á se começa a ouvir o tropel dos batalhões republi. sim, certos palavrões modernos, que hereticamente
canos ; aponta-lhe este caminho : — « abdicae, se- proclamam que a chuva não é mais do que um phe_
nhor 1 » nomeno muito natural, produzido pelas correntes do
A verdade se diz neste livrinho com a rudeza das ar, pelo fluido electrico e por outras causas muito
coisas exactas. independentes da s a g r a d a ordem dos franciscanos.
Santerre mostra-se u m digno e util cidadão Os Para conseguir este milagroso eflèito, frei Cae-
soldados da Liberdade devem cobril-o de applausos. tano arrastou o povoa u m a procissão de penitencia,
— Esta obra foi impressa longe das vistas do em que foi s u f i c i e n t e m e n t e castigada a carne mise_
auctor. Não pode ser outra a causa de u m a e n o r m i - ravel.
dade de errosque contém. Entretanto, os inimigos da O. frade proclamava, assim, o funesto principio
Democracia e da verdade, que, n'estes casos, costu- dos antigos ascetas, de que — é preciso matar a Natu-
mam constituir-se, em desespero de causa, acérrimos reza.
defensores da grammatica, farão disso talvez um E n t r e t a n t o , o livro 6 digno da leitura de todos
cavallo de batalha.
porque, quando mais não seja, é, pelo menos, uma
— A Evolução agradece o exemplar com que foi prova de que o terreno do século só produziria uma
obsequiada e aperta a mão a Santerre, a quem sente floresta ultramontana, si esta fosse de cogumellos. I
SI

— Ardente admiradora dos batalhadores valentes Abri o coração, abri o peito.


e honrados, a Evolução saúda a Leão Bourroul ( a Deixai rolar a onda bemfeitora.
quem, por dignidade própria, nunca «ittribuirá urna Cantai, cantai íi musica sonora
penna cymcu ) e firmemente o espera/ em novos ten. Da Justiça, do Amor o do Direito.
tamens, disposta a bater palmas ao talento do indi- Descançái sobre a terra o vosso malho,
viduo e a arremetter desassombradamente contra as E vinde honrar a immensa Divindade,
idéas do auctor. A. B. Erguendo os hymnos sacros do trabalho
A' deusa Liberdade.

Do despotismo a arvore sombria


No sólo do Futuro cai, não medra,
Ha muitos dias que foi publicado o 2° numero
— Que eu oiço já ruir, pedra por pedra,
da Republica, que appareceu tarjado de lucto era A columna fatal da tyrannia—.
houra á memoria veneranda de Tiradentes. A «guia da Razão silvando vôa,
Km rapidas, mas eloquentíssimas palavras, Ma- Deixando para traz, no chão da liça,
galhães Castro se encarregon de fazer a brilhante O castello da fé que se esboroa
apotheose do grande Martyr, que, primeiro nesta Ao clarão da justiça.
terra, sentio-se illuminado pelos santos reverberos
do sol da liberdade. Rasga-se o véo nos pórticos da Gloria ;
Seguem-se depois: Partido novo vão fuz politica Rebenta a Luz da rota catarata ;
em que seu autor procura bater os conceitos emit- Vacilla o throno sobre a terra ingrata ;
tidos n'uma carta publicada no mesmo periodoco » Rola a Ihiara no areal da Historia.
Solução d'uni diltmnia por Assis Brazil ; um esplen- Avante ! avante I ahi vem a madrugada t
dido folhetim, cheio da mais fina observação ; etc. f Yamos rompendo a noite, o véo escuro,
etc. Até irmos cair, brandindo a espada,
Depois de haver ostentado tanta pujança e bri- No seio do Futuro.
hantismo nosdous números publicados, a Republica,
Assis BRAZIL.
parece, cessou a sua publicação. Attribuem-n'o á
retirada de M. Castro da sua redacção.
A Evolução sinceramente deplora esse facto, que
veio privar a idéa republicana de paladinos tão brio- ( 1 ; D o s LIBELLOS A DEUS.

samente intrépidos.
Espera, porém, da sua firmeza e accentuação de
idéas e da tenacidade com que as propaga, que
Magalhães Castro não se recolha desalentado ao si- Publicou-se o 1* numero do Liberal. A julgar pelo
lencio. O distincto republicano não tem mesmo esse talento de seus redactores, è de esperar que aquelle
direito, quando aquelle ou a indifferença são u m cri- periodico tenha u m a carreira gloriosa nas lutas da
me nos tempos actuaes. imprensa.
Para os combatentes do valor de M. Castro n u n - No artigo inicia!, assignado por Ferreira de No-
ca ha trégua. vaes, não obstante estar bem traçado,a Evolução nota-
Entretanto, a Evolução folga em declarar que a l h e u m defeito : è fallar muito do passado e perder-
se em pomposos elogios, em divagações este reis; e
Democracia não ficou, por isso, sem um representante
c o m referencia ao presente dizer apenas que o pro-
na imprensa académica. N estas columnas,—baluar_ g r a m m a do partido é demais conhecido. Mas actual-
tes frágeis e vacillantes muito embota,—st hasteia m e n t e os mais proeminentes chefes do partido libe-
corajosamente a rútila randeira republicana. ral acham-se divididos em dois grupos que susten-
• J C. t a m ideas inteiramente oppostas : a qual delles per-
tence o illustre articulista ? Vacilla, e não respon-
d e claramente.
Traz ainda o Liberal os seguintes artigos : A si-
Gangão tuação passada por Galeão Carvalhal, Opportxn-inno por-
'peixeira Leite, Fusão das câmaras por V. M., Poder le-
Lá vem, do céo azul rasgando a face, gislativo por H. d'Almeida, poesias por Vieira da Cu-
nha e Pelino Guedes, Folhetim por M Peixoto, e
O bando das Idéas generosas,
u m a chronica phoxphorica.
Como uin rebanho d'aguias luminosas,
A Evolução saúda o Liberal.
Queum tufão no deserto arrebatasse.
Deixai, deixai passar o bando augusto P. c.
Das luhras e candentes Utopias,
Que vêm roetter no leito de Procusto
As l o t a s 1 YtancioF.
• »•">

A Eonluçá» tem de saudar o npparecimento do Não mais, em nosso altar, da crença os lumes santos. I
mais um periódico acadêmico—a Vanguarda, que sc lia em nossas visões só lívidos espantos ;
destina á propaganda catholica, e cuja redacção está, Somos bando espectral; o nada nos conduz...
confiada a Leão Bourroul, o conhecido cx-redactor da —Que se pode esperar dos filhos desta edade? !
Ueacçào.
Em nós, escarneo vil, assenta a mocidade
No artigo de apresentação, depois de ponderar
Como o manto de rei nos liombros de Jesus!!...
que o seu npparecimento, longe de significar um
A F F . CELSO J Ú N I O R .
svmptoma de scissão entre os ultramontanos acade
micos, vem, pelo contrario, attestar a virilidade do
partido cntholico na Academia,—a Vanguarda define U f u t u r o cia p a t r i a
a sua posição na imprensa, dizendo que, superior á
luctas dos partidos, será calholica, apostólica, romana II
sem rcslricções. A historia politica do Brazil é muito triste.
Aecrescenta que não faz questão de fôrmas, acei- Nas suas paginas de bronze estão cinzelados em
tando unicimente o governo que não offender a inde- symbolos terríveis os feitos monstruosos de uma rea
pendência da Igreja ; protesta contra a incompatibi- leza impudente.
lidade do Catholicismo com a Democracia. O cidadão, que lança-lhes um olhar, só vê ne-
Quanto ao primeiro ponto,a Evolução nada oppõe gror. A realeza cobriu-as de um manto escuro, em
ao contemporâneo :—uns caminham para diante, cujas dobras escondeu-se um despotismo feroz.
—procuram o aperfeiçoamento, outros caminham para E este manto de u m a realeza cynica, desdobra-se
traz,—persistem no retrocesso. por toda a nossa historia, abafando os gritos coléricos
Está, pois, a Vanguarda no exercício do seu di- dos cidadãos livres e recolhendo as baj ulaçoes dos
escravos vis.
reito.
E' triste, mas é real.
0 que a Evolução não pôde deixar passar sem um
Ruge indignado o coração dentro do peito, mas
pequeno reparo é a singular contradicção em que é a verdade que lhe subleva as iras. Corre pressuro-
anda Leão Bourroul envolvido. sa a dignidade ofiendida, mas esbarra na realidad £
Pois, si vos dizeis inimigo acérrimo e irrecon- d a Historia.
ciliável da Rovolução, — que é a impiedade, a hydra Os factos são frios, mas d'uma frialdade polar.
etc. si a Democracia moderna,—a que vai batendo em São nús, mas d'uma nudez sangrenta.
fuga precipitada, desnorteados e confusos, os apos- Arrancam um grito de a m a r g u r a e outro de vin-
tolos dc Passado, — nada mais é do que o resultado gança.
das elaborações operadas no seio das sociedades pela A m a r g a r a , que vem dos morticínios do Primei-
Revolução ;—como affirmaes que ella não ó incompatí- ro Império, da hecatombe de patriotas abatidos ante
vel com o catholicismo, como o entendeis e o propa- a Supremacia I m p e r i a l ; vingança, que virá do FuLu-
gaes ? Confessae : é uma afflrmação irreflectida. ro, dessas idéas humanitarias que escaldam todos os
Vosso programara ó o Syllabus,—o mais feroz cerebros.
inimigo de todas as liberdades e de todos os progres- Levados por estas idéas, interrogaremos o nosso
sos. passado politico, examinando os princípios que pre-
Não profaneis, portanto, a Democracia, pensando dominaram n a organisação social do Império.
por um só momento que ellá se pode harmonisar com A Philosophia da Historia affirma que a sobera-
aquelle acervo de erros. nia de u m a nação reside nas forças vivas da mesma
n a ç ã o ; que estas forças são as personalidades livres»
Ou sois das phalanges que trabalham pelo F u t u -
reunidas, unificadas por um pacto social, chamado
ro, ou pertenceis ás que querem conservar o Passado. Carta ou Constituição Politica; que nem um homem
Uma de duas. Escolhei. pode antepôr-se á magestade da nação, sem quebra
J . C. m a n i f e s t a d a s leis naturaes-sociaes.
Estes princípios foram violados na nossa orga-

COLLABORACÀO 9
nisação politica.
O Direito Nacional foi vencido pela vontade in-
dividual-imperial.
Ü têmpora £ o mores 1 Da violação impune do Direito Popular surgiu a
consagração servil do Despotismo.
E' triste a geraçào que exangue surge agora. Exponhamos os factos.
Nos braços sem valor lia musculos sem força ; Quando o povo brasileiro, desprendendo-se da
Seguiu-se a timidez pacifica da corça velha Europa, quiz matricular-se no grande livro das
nacionalidades americanas, apresentou-se-lhe um
Ao nervo dos leões indomitos d'outr'ora.
aventureiro imperial para inscrever esse nome. Tra-
zia nos lábios o tremor do sorriso amigo, no coração
Tornaram-se elegia os cânticos d'aurora...
o palpitar da pulsação trahidora
—Qu'importa que da lucta a víbora se torça
O Povo incauto confiou naquelle sorriso.
E, após, as espiraes, colérica, destorça, A farça—Ipyranga—coròou a D. Pedro com a
Se um peso atroz nos curva e o tédio nos devora? aureola dos libertadores.
« 3

A u r e o l a com q u e a Liberdade c o s t u r n a e s m a l t a r Poder constituinte


a s f r o n t e s dor Bens filhos d i l e c t o s c o m o W a s h i n g t o n »
H
0 ' C o n n e l e Th irra.
Estabelecida a d o u t r i n a e n s i n a d a pelos m e s t r e s
K preciso niío c o n f i a r m u i t o noa reis.
sobre o p o d e r c o n x t i t u i n t e , • reconhecida* a m i n -
1). Pedro m o s t r o u a i n d a m a i s u m a vez q u o a a l -
d e p e n d ê n c i a dos o u t r o s poderes, s a liberdade no
l i a n ç a d o e l e m e n t o p o p u l a r com o real é u m a u t o -
exerci ei o de s u a s funcçOes, como seu* reqossitos es*
P'» s e n c i a e s , resta-DOS considerar a q u e s t ã o em f r e n t e d e
C o m m e t t e u t o d a s a s illegallidades. Desrespeitou nossa Constituição.
a Nação, collocou-se a c i m a d a Lei e a f l r o n t o u a S o b e - V a m o s a n t e s , porém, e x a m i n a r varias opiniões,
rania Popular. q u e t ê m sido e m í t t i d a s subte a these d e que nos oc-
JJabt em d i a n t e OK s e u s d e s a t i n o s i m p e r i n e s cor- cupâmes.
r e r a m á d e s f i l a d a pela m o n t a n h a d o a b s o l u t i s m o . P. F e r r e i r a , d i s t i n c t e publicista p o r t u g u e z , p r e -
Os c r i m e s f o r a m i n n u m e r o s . K e n t ã o q u e c r i - tende c o n c l u i r , d a confrontação d o s arte. 174 a 178
me« f Citarei um s ò , m u decisivo. com os a r t e 13, 1 4 , 1 5 §8* e 6.2 de nossa Constituição
O Povo a c h a v a - s e r e u n i d o e m A s s e m b l é a Cons- q u e a r e f o r m a ou alteração deve s e g u i r os t r a m i t e s ,
tituinte. ordinários. ( 1 )
Os s e u s r e p r e s e n t a n t e s e r a m os h o m e n s m a i s n o - S e r i a opinião verdadeira, si a t t e n d e n d o - s * só aos
táveis do paiz. p r e c e i t o s g e r a e s d a C o n s t i t u i ç ã o , não existissem
e x c e p ç õ e s , e excepções q u e c o n s t i t u e m u m a refuta-
Havia n s q u e l l a A s s e m b l é a S o b e r a n a o r a d o r e s
ção aos a r g u m e n t o s d o i l l u s t r e e s c r i p t o r .
que eram Mirabeaus, como Antonio Carlos; sábios
q u e e r a m H u m b o l d t e . c o m o J o s é Bonifacio. De feito, preceito g e r a l é o estabelecido no s r t .
Estes oradores e estes sábios estavam encarrega- § 8* : — c o m p e t e a A s s e m b l é a Geral fazer leis, i n t e r -
dos dos nossos destinos p r e t a l - a s , s u s p e n d e l - a s e revogai-IM ; e as leis cons-
Ksta A s s e m b l é a n o t á v e l t i n h a a m a g e s t a d e d a s t i t u c i o n a e s são f e i t a s e a l t e r a d a « por um poder e
grandezas ideaes e o esplendor das alvoradas radian- processo especiaes, a r t e . 174 a 178; a s u a i n t e r p r e t a -
t e s . N a d a a p e r t u r b a v a , p o r q u e ella a b r a n g i a tudo* ção c o m p e t e ao p o d e r c o n s t i t u i n t e ( 2 ) salvo caso de
salvação p u b l i c s , a r t 179 g 35, a* leis q u e dizem res-
S a b i d a d o seio d o Povo, e l l a recebia d e l l e a i n s p i r a -
p e i t o a o s d i r e i t o s individuaes não podem s r r s i s p t n -
ção d e seu s a c t o s .
s a s , a r t . 179 g 34 Preceito g e r a l é o do a r t . I7J § 14 ;
P o r isso e r a f o r t e e s e r e n a T i n h a m t r a n q u i l l i d s .
e o a c a t h o l i c o e e s t r a n g e i r o n a t u r e l i s a d o não podem
d e d e C h r i s t o n o meio d a p o p u l a ç a a b j e c t a .
s e r d e p u t a d o s , a r t 9 5 g 2* e 3* ; não pôde ser m i n i s t r o
A ' s vezes c o n v a l s i o n a v a - s c a t é & i n d i g n a ç ã o , m a s o e s t r a n g e i r o n a t u r a l i s a d o , a r t . 130 ; só pôde ser re-
e r a pa a z u r z i r com o a z o r r a g u e d a p a l a v r a os v e n d i - g e n t e o c i d a d ã o n a t o , a r t . 27 do Acto Addiceíon&l,
lhões do Despotismo Imperial. P r e c e i t o g e r a l , e m f i m , p i r a não citar mais, es-
Pois esta Assembléa, que encerrava t u d o o que t a b e l e c e o u l t i m o a r t i g o citado pelo e s c r i p t o r . o 63
h a d e g r a n d e na h u m a n i d a d e , foi a s s a l t a d a , m o r t a e — t o d o p r o j e c t o approvado pelas c â m a r a s deve ser
e s p h a c e l a d a p o r D. P e d r o d e A l c a n t a r a . e n v i a d o a receber saneção ; e , p o r t a n t o , o p r o j e c t e
d e r e f o r m a c o n s t i t u c i o n a l t a m b é m . Mas não i n d o
Aquelle verbo terso e viril d o t r i b u n o brasileiro
ao a r t 174 e s e g u i n t e s , a p r e s e n t a d o um projecto d e
s o l t o u u m r u g i d o q u e foi o u l t i m o d e l i b e r d a d e q u e o
lei, a q u e se n e g o u s a n c ç i o em d u a s l e g i s l a t u r a s con
Brasil o u v i u . E a q u e l l a A s s e m b l é a , a c u j a s o r d e n s D- s e c u t i v a s , i n d e p e n d e d e saocção, suppOe-ss s a n e
P e d r o d e v i a c u r v a r - s e , c u r v o u - s e a D* P e d r o , q u e a cionado.
matou.
E n t h r o n i s o u - s e então o Despotismo. Calcou o Aos preceitos g e r a e s estabelecidos em nossa
D i r e i t o , calcou a J u s t i ç a e e s c r a v i s o u a N a ç ã o . D e u - C o n s t i t u i ç ã o , e x i s t e m s e m p r e restricções, excepções.
n o s u m a carta q u e é um escandalo. Eis sen piano.
A n t e s de outhorgal-a, lançou sobre o paiz u m L o g o , a t t e n d e n d o - s e a esse plano, não procede a
sarcasmo cruel. Perguntou-lhe se tinha o que retru- opinião a n a l y s a d a ; carece de f u n d a m e n t o na lei, e é
car sobre a C a r t a O paiz respondeu que sim. t i l e improcedente em theoria.
O n o t á v e l publicista pátrio, o s r Marquez d»
r e p l i c o u b l o q u c s n d ( - o e a r r a n c a n d o - l h e d força o j u -
S. V i c e n t e ( 3 J, s u s t e n t a a intervenção do senado,
r a m e n t o d a Carta. J u r a m e n t o o n d e n ã o h a l i b e r d a d e
m a s n ã o a da coròa, — « p o r q u e a nação t r a t a d e d a r
é j u r a m e n t o nullo. Somos, portanto,regidos por u m a
a si m e s m a a o r g a n i s a ç ã o p o r q u e q u e r s e r g o v e r n s -
Carta espúria.
d a , n e n h u m outro poder senão aquelle a q u e m ella
Q Foi e n t ã o q u e o s c i d a d ã o s , q u e q u e r i a m s e r s e m - i n c u m b e a d i s c u s s ã o pode o p p o r - s c a s u a vontade •
p r e l i v r e s , p o r q u e n a s c e r a m d e b a i x o d e s t e sol a m e - Logo, c o n c l u a m o s de s u a s p a l a v r a s , o s e n a d o é
r i c a n o , q u e i n f u n d e e m t o d o s os eorações o a m o r d a excluído : não é r e p r e s e n t a n t e im mediato do povo,
L i b e r d a d e , l a n ç a r a m ao P o r v i r u m p r o t e s t o d e l i r a n t e não tem f a c u l d a d e e s p e c i a l m e n t e conferida para a
bradando vingança & Posteridade. r e f o r m a , o q u e só cabe aos d e p u t a d o s , a r t 170 ; s u a
E s t e p r o t e s t o a n d a n o c o r a ç ã o d o Povo.
Não n o s violeis o D i r e i t o , não n o s r o u b e i < a J u s - (l) C o m m e n t a r í o s a Carta P o r t u g u e z a e Consti-
t u i ç ã o Brnzilcíra
t i ç a , n ã o n o s c a l q u e i s aos vossos p é s i m p e r i a e s , p o r - l2j Eju*e*l inlerpretnri, cu jus ml Irgtm cowiere. —
q u e l e v a r e i s o Povo á R e v o l u ç ã o ; e vós s a b e i s q u e f/'D— De Ug-but. li' t a m b é m , a contrario seusu, a
d o u t r i n a do u r t . 25 do Acr. ADO
q u a n d o o Povo firma-se n a s Revoluções, vae c a h i r d e
(3) l \ 1JUE.NO — Direito Publico Urazileiro, pags.
u m s a l t o n o vasto t a b l a d o da I m m o r t a l i d a dAe . L. 488 a 489. '
WW_ I

3/1

delegação não s e harmonisa com a da Constituinte; opinião de um douto mestre, que nos parece mais
ó vitalícia. consentânea com o espirito da lei.
Quanto ao argumento fundado no art. 11, de No estudo do» a r t s . 174 a 178, h a uma distíne-
que se serve, j á cal»io pela reputação feita ú opinião cSo a f a z e r : temos a matéria dos a r t s . 164 a 17d. que
refere-se A lei que declara a recessidade da reforma,
de S. Pinheiro.
que manda os eleitores conferiram poderes especiae»
No senado, um distincto Jurisconsulto susten-
aos deputados, e esta passa pelos tramites ordinários-
tou que devem intervir na reforma o senado e a e o que diz respeito propriamente ao exercido do
corda, fundado ein divorsos artigos da Constitui- poder constituinte, e confecção d a lei, art. 177, é
ção. ( 4 ) esta attribuição, este exercicio neha-se completamen-
Diz elle fundado no art. 17:1. te desprendido dos outros poderes.
d 1.° A Assembléa Geral no principio das sessões Assim : « Na seguinte legislatura, c na primeira
examinará si a Constituirão foi exactamente obser- sessão, a r t . 177, será a matéria proposta e discutida,
vada, para prover como for justo.» Ora, si Assembléa e o que se vencef prevalecerá para a mudança ou
Xv
Geral quer dizer senado e camará temporaria, art. 14, addicção á Lei f u n d a m e n t a l , e j u n t a n d o - s e á Consti-
| qualquer providencia deve ser tomada por ambas as tuição, será solemnemente promulgado. »
camarns. Não se pdde, porfconto, conclue elle, excluir Portanto, si os deputados com poderes especiaeg
o senado desta providencia principal — a da refor- propuzerem, discutirem e vencerem n a primeira ses-
ma. são, prevalecerá o resultado como lei, e, juntando-se
Mas não procede : a ) porque o a r t . 173 nada á Constituição, será solemuemente promulgada. In-
tem de commum com os que se referem á reforma ; depende, por corisequencia, pela letíra de nossa lei,
b ) porque examinar si uma Constituição foi bem do concurso de outro qualquer p o d e r verg
observada ou não, não é alterai-a ou reformal-a. Supponha-se, porém, que — o que se vencer — nhai
E accrescenta tomando o art. 117: refira-se ao que se vencer n a e a m a r a , no senado e co-
2." Diz o art. 177 .. « o que se vencer na discus- rôa ; será a*reforma inconstitucional, p o r não se har- seus
são prevalecerá para a mudança ou addicção á Le 1 monisar com a phrase do art. 177 : — o que te vencer — dal
fundamental, e juntando-se a ella, será solemnemen- n a discussão dos d e p u t a d o s com poderes especiaes, elle
t e promulgado. » Ora, a promulgação solemne pelo — seja considerado lei. éa
art. 68 presuppõe a approvação do projecto de lei A d m i t t a - s e ainda a h y p o t h e s e , e que vença-se vits
por ambas as câmaras, e a saneção: a Fazemos saber n a camara, mas não no senado. Ora, q u a n t o ao sena- me:
que a Assembléa geral decretou e nós queremos e t c . ; » do, u m a de duas : ou o projecto é rpgeitado in limine rea
logo, pela ultima plirase do art. 177, a reforma deve ou cm parle. No primeiro caso neutraliza-o comple- cip:
seguir os tramites ordinários. tamente ; no segundo r e s t a o recurso do a r t . 61, que dei
Foi menos feliz n a argumentação : a ) , a promul- dá margem ao sophisma. E em a m b o s os casos não é Ian
gação das leis constitucionaes não se faz pelo processo a interpretação compatível com a p h r a s e — o que se mo
vencer prevalecerá p a r a m u d a n ç a ou addicção á Lei cin
ordinário do art. 98 ( 5 ) ; 6 ) , a pbrase indica tão
fundamental. coi
somente que seria pueril conceber-se lei sem pro-
Concedendo, comtudo, q u e vença-se n a camara e hu
mulgação, seja ella qual f ô r ; c ) é matéria assentada
no senado, m a s que a corôa n e g u e saneção, ainda é
ein Direito Publico que os actos constitutivos só t e m
inadmissível; porque o projecto a q u e se negou sane-
promulgação e independem de saneção (6) ; d) a po
ção não pôde ser mais a p r e s e n t a d o n a m e s m a sessão
phrase não é peculiar de nossa Constituição'; idênti- ini
( a r t s . 64 e 65 ), e isto ó repellido pela l e t t r a do art pa
ca encontra-se n a de Ncw-York, a r t . 8 o . 177—o que se vencer será lei.
O seu ultimo argumento ainda é fundado no Logo, são excluídos o senado e a corôa do poder
aat. 177 princ : nu
constituinte pela nossa Constituição. ( 7 ) po
3." No a r t . 177 princ — diz-se a n a seguinte Uma opinião toda original, , contradictoria em
legislatura...» Ora por legislatura entende-se, pelo uso cu
lógica, e condemnavel em politica, é s u s t e n t a d a pelo to
que faz desta palavra a Constituição, o exercicio de poder a quem estão confiados os d e s t i n o s do paiz. ca
todos os poderes encarregados de confeccionar a lei, M isnão analysal-a h e m o s : t e m sido por dcmai s en
em um certo decurso tempo : logo, pela intelligen- combatida. J a cahio no d o m í n i o d a opinião publica de
cia dada á palavra, devem todos os poderes tomar
que por ella confiscam-se os direitos do Povo, e assas- rii
parte na reforma.
sina-se a Lei.
Este argumento é por de mais fraco :
D
Todos os artigos que dizem respeito a reforma — 30
0. RESENDE
174 a 178—constituem excepções, como j á notámos, e
ao preceito geral do ar-. 15 § 8% e a palavra legislatu- g<
ra é \ima dessas excepções. (7) A doutrina expendida j a foi posta em pratica I es
Provada, como julgamos, pela analyse das opi- em 1832 ; essa lei só fixou os artigos q u e deviam ser i lo
niões contrarias, a exclusão do senado e corôa. é claro reformados, e foi realisada a refqrma só pelo poder o
que só compete a faculdade de reformar a Constitui- especial: V. de Uruguav—Estudoas Práticos—Appen-
ção a um poder especial. Vamos, comtudo, expôr a dice. Dr. Américo Brasiliense :—Os Programmas dos dc
Partidos. ti<
(4; Discursos pronunciados no senado em 1879.
(5) Act. Add. princ:
(6) Hello— Du Régime Constitucionel. pag. 230. Typ. da Tribuna Liberal.

w r
A EVOLUÇÃO
P^iodico redigido peloji í cadpteog
Julio de Castilhos Pereira da Costa

Assis Brazil

Anno 1 S. P a u l o , » O d e Dlaio d e fHíí» N. 4

A EVOLUÇÃO programma, ás idéas pelas quaes sempre combateu


na chamada adversidade, ao seu passado, cmfim ?
O que diz o partido conservador pela voz de muitos
30 DE MAIO DE 1879.
dos seus mais auctorisados representantes ?
Ambos pedem a verdade da representação ou a
Os monarchistas vão marchando em retirada acção efficaz da vontade popular—com a eleição di-
vergonhosa, á medida que a Democracia vai ga- recta, a emancipação para a consciência—cora a ex-
tineção do culto officiai, a liberdade para a intel-
nhando victorias esplendidas.
ligencia—com a diffusão e propagação maxima do
Batidos em todos os recontros, fulminados os
ensino, a confratemisação com as nações estrangeiras
seus princípios pela lógica viril das argumentações por meio da grande naturalisação, e, como comple-
da Razão, esmagados pelo peso da verdade histórica, mento necessário de todas essas idéas, elles exigem,
elles jà reconheceram que a Democracia, e só ella, com maior ou menor amplitude, que todos os poderes
é a verdade e a justiça sociaes, que é ella a condição políticos, além de responsáveis perante a nação,
vital de todo o progresso sério, de todo o aperfeiçoa- sejam temporários.
mento solido, que é ella o único governo capaz de Ora, julgar que essas reformas todas são per-
realisar n a sociedade a completa igualdade, os prin- feitamente realisaveis no estado actual da sociedade
cípios únicos em que se assenta e repousa a verda- brasileira é julgar que ella está apta para se reger
deira civilisação, que é ella, cmfim, a encarnação pela fôrma republicana.
luminosa da Liberdade; e que, por outro lado, a E porque? Porque é essa exactamente a base
em que repousa a Democracia, são esses os seus
monarchia representa apenas a transacção com as
largos alicerces.
circuinstancias, o meio termo necessário em face das
Quem acceita o principio não pôde deixar de
conveniências praticas e da relatividade das coisas
acceitar a consequência.
humanas. Os monarchistas, portanto, cÃem cm frente da
Reconhecem ainda mais que sob a monarchia os Lógica
povos não são emancipados, mas vivem sob uma Em face da Historia, também elles invocam um
instituição tutellar que os educa, que os prepara absurdo.
para receberem depois a emancipação. Porque, si ella nos affirma que as sociedades
Mas, no desconcerto que lhes produz a approxi- não estacionam, não retrogradam, que avançam sem-
pre, impulsionadas irresistível e mysteriosamente
mação accelerada d uma derrota infallivcl, n a i m -
pela lei do progresso, si nos affirma ainda que esses
potência dos seus esforços para conseguir deter o
progressos, esses aperfeiçoamentos se operam por
curso impetuoso da torrente dcmocratica, presos dê
meio de transformações graduaes tendentes sempre
tremor e de susto ante o fragor com que vão a um modo dc ser mais perfeito, mais elevado ; si,
caindo, minados pela lógica da verdade, os pedestaes por outro lado, a sociedade brasileira atravessa um
em que assentam os seus falsos ídolos,—têm recuado, d'esses períodos que devem cessar, por anormaes que
de sophisma em sophisma, até caírem nos mais são, si lançada n'um estado desesperador de duvidas
ridículos absurdos e de incertezas, ella não pôde, em consequência
Assim, obrigados a confessar a verdade da d'aquella lei, ir para traz, porém é impellida para
Democracia e envergonhados d"essa confissão, elles diante ; é claro que a Democracia é urgentemente
soccorreram-se do conhecido e velho estratagema, reclamada, como a satisfacção d'uma necessidade
e disseram : é verdade que a Republica é o único universalmente sentida, como o motor único de todo
governo racional, mas o povo brasileiro ainda não o aperfeiçoamento possível.
está em estado de ser regido por elle. Carece d'uma O povo está dcsilludido da monarchia, elle jà
longa preparação, de trabalhada educação, sem o que apercebeu-se, com a rudeza de suas faculdades, de
o governo republicano não medrará. que é ella a causa única do seu abatimento, da sua
Provou-se-lhes que esse argumento é um absur- prostração, do seu retrocesso.
do em face da Lógica e em face da Historia Sente-se uma aspiração geral, si bem que indefi-
Em face da Lógica, porque, o que préga o par- nida, para melhorar de estado ; e, como sob a mo-
tido liberal, o partido liberal que se diz fiel ao seu narchia é isso impossível, porque ella já produzio os
26 A EVOLUÇÃO

seus fructos, torna-se necessaria u m a o u t r a f ô r m a de Não t e n t e m impedir a marcha das idéas que vão
governo. E i n c o n s c i e n t e m e n t e todos appellam para a b r i n d o passagem para os largos descampados do
a republica. Futuro.
Eis abi, p o r t a n t o , a preparação. Tudo será era vão.
Fel-a a lei da evolução histórica. O carro da Revolução, na sua impetuosidade
doida, sepultará os insensatos que t e n t a r e m travar-
l h e as r o d a s !
Derrotados a i n d a n'esse p o n t o , desamparados J. C.
pela lógica, os m o n a r c h i s t a s t e n t a m a i n d a o u l t i m o
recurso, o recurso d o s que se s e n t e m baquear a n t e
a verdade d o s a c o n t e c i m e n t o s
Assim como é impossível levantar u m edifício Uma resposta
sem fortes esteios que o s u s t e n t e m , t a m b é m é impos-
sível o e s t a b e l e c i m e n t o da republica sem h o m e n s A Evolução vai d e m o n s t r a r «com a Historia em
aptos p a r a i n a u g u r a l - a . punho», r e s p o n d e n d o as contestações d a Vanguarda,
Onde estão e s t e s h o m e n s ? Vós não e n c o n t r a e s , o como foi a Igreja Catholica a creadora da Inquisi-
dizem elles aos d e m o c r a t a s . ção».
Isto, sobre ser irrisorio, é s i m p l e s m e n t e ridículo.
Nem m e s m o podia prescindir disso : j á porque
0 m e s m o que succede n a n a t u r e z a physica s u c -
Leão Bourroul lhe morece toda a consideração, j á
cede n o m u n d o social.
p o r q u e , t r a t a n d o - s e de u m a questão desta o r d e m ,
Bem como n a s g r a n d e s t r a n s f o r m a ç õ e s d a m a t é -
t e m obrigação de s u s t e n t a r o q u e disse.
ria, n a s assombrosas t r a n s f o r m a ç õ e s sociaes s u r g e m
novos produetos, a g e n t e s novos, novas forças i m p u l - Que falle, pois, a historia.
soras,—que são filiações fataes, dcsinvolvímentos « Por q u e m a inquisição foi instituída ? Pelos
logicos. reis ? P a r a j u l g a r crimes políticos ? Foi a Igreja,
Os a c o n t e c i m e n t o s a d v ê m por o u t r a s que não a s q u e m creou este t r i b u n a l ; foi a Igreja, quem creou o
forças m e r a m e n t e h u m a n a s ; elles advém em v i r t u d e c r i m e . Dissemos que a i g r e j a inventou o crime ; ef-
d ' u m a lei i m m a n e n t e que g o v e r n a p o t e n t e m e n t e f e c t i v a m e n t e o crime é imaginario. A heresia que
a H u m a n i d a d e nos seus movimentos s e m p r e a s c e n - conduzio t a n t o s dasgraçados â fogueira não é sinão
d e n t e s , exercendo sobre c i l a a sua acção d ' u m modo . u m a opinião sobre d o g m a s , opinião que a Igreja
fatal e irresistível, p o r é m s a b i a m e n t e , porém concor- declara errônea e que a razão m u i t a s vezes approva.
dantemente. Com que fim a I g r e j a p u n e u m erro dogmático ?
Os g r a n d e s a c o n t e c i m e n t o s é que f o r m a m e pro- P o r q u e a heresia a t a c a seu direito divino, sua infal-
d u z e m os g r a n d e s h o m e n s , que são a p e n a s u m r e - libilidade, isto é, os títulos sobre os quaes repousa
s u l t a d o , q u e s ã o ' m é r o s p r o d u e t o s d o s meios sociaes seu poder. A Inquisição é, pois, u m i n s t r u m e n t o
em que se agitam e vivem.
d o dominio ecclesiastico». Eis ahi a opinião de
A Historia é a d e m o n s t r a ç ã o cabal e incontestá-
L a u r e n t , palavra por palavra (I).
v e l d ' e s t a s v e r d a d e s d e q u e estão d e posse todas a s
intelligencias esclarecidas. « O concilio de L a t r ã o (1215) e o d e Tolosa (1229)
B a s t a a t t e n d e r p a r a o m a g n o exemplo—a Revo- fizeram da Inquisição u m t r i b u n a l permanente (2)».
lução Franceza. « Coube a Innocencio III a h o n r a de t e r estabe-
Aquelles h o m e n s , c u j o s n o m e s f o r m a m o l u m i - lecido a inquisição no m u n d o , isto é, de t e r regula-
noso estribilho que a H u m a n i d a d e r e p e t e enthusias- risado, centralisado, codificado a perseguição (3)».
tícamentc ao som da m u s i c a do progresso, que são P e d r o Larousse diz a i n d a : • E m 1233 Grego-
constellações e s p l e n d i d a s a r u t i l a r e m com brilho rio X conficou a direcção deste terrível tribunal aos
inextinguível n o s p a r a m o s estrellados da Historia, dominicanos (4)».
aquelles h o m e n s d e 89 nasceram com a Revolução, C a n t u , cujas idéas religiosas são m u i t o bem
fizeram-se com ella, f o r a m u m resultado todo seu. conhecidas, accusa a b e r t a m e n t e a Inquisição; mas,
Pouco a n t e s d e 89, q u e m creria n o appareci- procurando defender a I g r e j a , diz que ella não é res-
m e n t o f u t u r o de taes vultos cyclopicos?
ponsável pelos crimes praticados, porque nunca a p -
E é sempre assim.
provou-a em concilio (5).
A fermentação que ahi assombrosamente se vae
U l t i m o recurso. Mas isto é u m a defesa ? Esta
formando n o seio do paiz leva incumbado em si u m
justificação é rigorosamente orthodoxa? Era abso-
portentoso acontecimento, q u e , ao desabar, fará
surgir d este a n t r o pavoroso e tétrico de trevas—uma l u t a m e n t e necessário que a Igreja approvasse a I n -
t u r b a de leões indomitos. quisição em concilio afim d e que fôsse a única enti-
dade responsável pelos seus c r i m e s ?

Desilludam-se, portanto, os monarchistas.


A sua causa está perdida. (1) Historia da Humanidade, T. 9°, pag. 78.
E' inútil persistir em querer conservar institui- (2) Pedro Larousse, üicc. univ., T. 9", pag. 709.
ções que, tendo j á desempenhado o seu fim histo- (3) Arnould, Hist.gda lnquis., pag. 43- |
rico, devem ser substituídas por outras que se har- (4) Pedro Larousse, Obr. cit., T, 9 o . pag. 709-
monisem com a Nova Epocba que as sociedades vão (5) Cantu, Historia universal, T. XII, pag. 143,
brilhantemente inaugurando. T. XI, pag. 164.
I
=— -»
A EVOLUÇÃO

NSo, certamente. Neste ponto o grande historia- gem de poder ser comprehendida por todos c por
dor, si bem que preste homenagem ás suas crenças, todos verificada.
deixa muito patente a verdade. A historia politica d'este paiz não tem sido es-
Quem creou, pois, a Inquisição? tudada á luz da philosophia
A Igreja, diz Laurent ; a Igreja, diz Pedro La- Tem sido isso de grande atrazo para a causa
rousse ; a Igreja, diz ainda, indirectamente, Cesar democratica. Porém, mais para lamentar ainda é I
Cantu. que os homens, que não tfem pulso e critério para 1
E, effectivamente, quem eram os inqusidores ? explicar o passado, sejam também fracos, ineptos
Alguns legistas, alguns officiaes leigos ? Não ; eram para comprehender o presente.
padres. Entretanto,
De que crimes tomava conta a inquisição ? Não isso ó logico; essa tibieza, essa mvo- II
tomava conta de heresias, de crimes religiosos? pia são naturaes e consequentes.
Ora, uma instituição desta ordem, essencial- Sem premissas estabelecidas, não lia conclusão
possível.
O facto fica, assim, naturalmente explicado.
mente religiosa, e que fulgurou tanto, quem poderia
fundal-a n'uma épocha em que a Igreja era tudo,
em que os papas punham e dispunham ?
Aqui, de duas uma : negar a existencia da histo-
Quem não conhece o caminho andado muito
ria, ou conformar-se com a triste verdade.
menos conhecerá o que resta a percorrer.
* *
*
Desta circumstancia nasce fatalmente um phe-
nomeno, cuja observação, emfrente das leis históri-
No mesmo artigo diz ainda Leão Bpurroul : cas, é da mais palpitante importancia.
«já passou o periodo das balelas e jâ são calumnias
O advento de successos inesperados, de factos
sediças, repetições enfadonhas, os contínuos appel»
não previstos pela politica, de phenomenos não ex-
los a Wiclef, João Huss, a Luthero e a mais a col y tos
plicados—tem produzido naturalmente nos espíritos,
de Satanaz ».
sobretudo nos últimos tempos d'este reinado, um
A isto a Evolução não precisa responder ; pede
certo estado de duvida, de incerteza, de vacillação,
apenas ao articulista o obsequio de 1er os trechos
seguintes : que é para uns a descrença, para outros o apodreci-
« João Huss, prégador da Universidade de Praga, mento do caracter.
tinha já levantado a voz contra a depravação do Divididos em partidos que não são partidos, em
clero, quando Jeronymo de Praga chegou de Oxford, grupos sem unidade, em aggregações cujas moléculas
trazendo os livros de Wiclef : Huss começou a t a - tendem a um continuo affastamento, pela sua fra-
cando primeiramente os abusos, depois as indul- quíssima coliesão,—aquelles que se acham á frente
gências (6)». dos destinos da patria estabeleceram, ha muito, a
« O fogo, que queimou João Huss e Jeronymo, completa anarchia mental.
fez com que se atacasse n a Bohemia u m terrível
Do centro de todos os grupos surgem gritos des-
incêndio (7) ».
compassados e dissonantes, atirados em todos os sen-
De boa fé, p e r g u n t a finalmente, o articulista,
tidos.
quem ocredita hoje no cárcere de Galileo ?
Si para o triumpho da democracia pura bastasse
Pois será mesmo tão evangelico o espirito do
redactor da Vanguarda que não acredite também nos o consenso unanime dos partidos activos, o Brasil
textos de um j u l g a m e n t o , conservado pela historia, seria hoje republicano. Porque, nas circumstancias
que começa assim : « Eu, Galileo, de idade de s e - supremas, a cada golpe novo, vibrado pelo braço do
tenta annos, agrilhoado diante de vós, emminentis- desconhecido,—a monarchia tem sido accusada por
simos cardeaes, etc., etc. » ? u n s e por outros.
Consciente ou inconscientemente, directa ou in-
P. C.
directamente, o que é verdade e o que pôde ser facil-
mente observado — é que a accusação tem partido de
todos.
A crise dos espíritos Os absolutistas desesperam da fraqueza do r e i ;
os constitucionalistas desesperam da fraqueza da
A Evolução não vai demonstrar u m a t h e s e ; vai constituição; os pseudo-democratas desesperam da
observar um facto e tirar-lhe as consequências lógi- fraqueza d*essa chimera—a democracia mixta.
cas e necessarías.
A doutrina que faz partir toda a sciencia, todas •õ-
as deducções unicamente dos dados seguros da ex-
Mas, nem dos descrentes, nem dos desesperan-
periencia, da observação t e m por si a grande v a n t a -
çados se ha de formar o núcleo poderosíssimo a quem
está preservada a grande missão de d á r em terra com
(6) Lenfant, Hist. da guerra dos hussitas. os últimos destroços do phantasma s i n i s t r o .
(7) Cantu, Obr. cit., T. XII, pag. 309. A idéa democratica foi trazida ao espirito h u -
28 A. EVOLUÇÃO

mano unicamente pela força da philosophia. Só a Depois da tempestade—a placidez serena è mansa
philosophia, a analyse calma e serena, poderá, pois, da aurora.
arregimentar os desilludidos—porque estes também Depois da crise—a normalidade.
são philosophos—os pensadores—porque estes são O sol de a m a n h ã ha de fatalmente clarear, com
mais philosophos ainda—e organizar o luminoso luz nova, u m dia novo
exercito.
Esse momento decisivo parece, emfim, ter chega-
do para o Brasil. Não ha, pois, motivo p a r a que o s patriotas sin-
Os partidos decrepitos e rotos cumpriram fatal- ceros descreiam do f u t u r o .
mente, à mingoa de lógica, o seu inglorio fhdario. O f u t u r o pertence á historia j a historia cai no
Chegou-lhes a épocha amarga da decomposição domínio da philosophia ; e esta é decisivamente so-
lenta, porém irresistível, a que estão subjcitas n'este
berana.
mundo todas as coisas que não têm u m destino
A ' s forças activas d a sociedade compete enca-
determinado e logico.
m i n h a r e dirigir o m o v i m e n t o , trazido pela fatalidade
Prova irreplicavel da sua imprestabilidade, diante das leis históricas.
das largas aspirações actuaes, é esse facto por todos
N'isso consiste todo o t r a b a l h o consciente do
sentido, por todos observado, esse facto significativo
que a Evolução constatou, começando este artigo :— progresso.
a anarchia que lavra-lhes no seio, como incêndio A Evolução espera d e m o n s t r a r , no seu proximo
destruidor. n u m e r o , que esse t r a b a l h o só se p o d e r á traduzir na
—Revolução.
Para os partidos, para a politica d'este pniz,
chegou, pois, a épocha que toda a H u m a n i d a d e tem No seu e n t e n d e r , a Revolução não é mais do que
de atravessar. o resultado logico e n a t u r a l d a elaboração evolutiva,
salvo q u a n d o a s sociedades fôrem sabias bastante
A Evolução ehamal-a-á pelo nome : — a crise
p a r a c o n j u r a r o m a l , abrindo l i v r e m e n t e a s valvulas
dos espíritos.
ao progresso.
• E n t r e t a n t o , o q u e , d e s d e j á , n i n g u é m poderá
n e g a r é q u e , p a r a lavar a s m i s é r i a s do presente,
A crise não é a normalidade.
vários p r e n ú n c i o s fazem crêr q u e , n o s laboratórios
A crise é a transição.
do f u t u r o , se está p r e p a r a n d o u m g r a n d e banho de
A transição, n a s sociedades, prenuncia-se s e m -
sarfgue.
pre por u m grande abalo, que as faz apparente ou A. B.
realmente retroceder.
A historia superabunda n'estes g r a n d e s exem-
plos.
Como o homem que t e m de saltar u m precipício
A' «Vanguarda»
aberto, medindo a distancia que lhe separa as a r e s t a s , Está publicado o 3 o n u m e r o d a Vanguarda, perio-
verga-se para traz, sobre si mesmo, afiirf de obter dico u l t r a m o n t a n o .
mais firme tensão em seus nervos,—assim t a m b é m
E m p e n h a - s e o c o n t e m p o r â n e o e m demonstrar a
a sociedade, n a s vesperas de u m g r a n d e passo p a r a
improcedência do p e q u e n o reparo q u e , ao noticiar o
o progresso, recüa por momentos, detem-se à beira
seu a p p a r e c i m e n t o , a Evolução fez acerca d a palpável
do abysmo, e salta por elle depois, coberta de t r i -
contradicção e m q u e càe, affirmando a compatibilida-
u m p h o e coberta de gloria.
de d a Democracia çpm o catholicismo, quando é certo
A historia t e m seus retrocessos. Seus retours, que esta não é sinão o f e c u n d o p r o d u e t o das revolu-
dizia Proudhon ; seus ricorsi, dizia Vico. ções, e q u a n d o a i n d a é certo que elle se diz inimigo
Exactamente n'este ponto acha-se este paiz, i n t r a n s i g e n t e d a s revoluções.
como a Evolução acaba de observar. O que a Evolução esperava ao fazer essa ligeira
O desprestigio dos governos, a corrupção do observação, succedeu. Baldo de lógica, lançado n'uni
poder, a immoralidade que desce sinistramente d a s t e r r e n o resvaladio e perigoso,—porque ousára pene-
alturas, o descalabro das instituições vigentes—são t r a r ás f u r t a d e l a s no a c a m p a m e n t o inimigo para
a consequência n a t u r a l d'este estado excepcional de encobrir com o brilho do a r m a m e n t o d'elle a fer-
coisas. r u g e m do s e u , — o a r t i c u l i s t a u l t r a m o n t a n o nada
Os espíritos vacillam ; as convicções abalam-se ; responde de cabal, de decisivo.
rasgam-se a s bandeiras dos partidos ; os conservado- Para d e f e n d e r - s e , recorreu ás definições de De-
res avançam até os arraiaes libcraes e recúam a t é mocracia e de Revolução, e , formulando-as a seu
os limites do despotismo ; os liberaes avançam até o t a l a n t e , deu-lhes aquelle estylo olympico, auctoritft*
campo republicano e recúam até as raias do aucto- rio, s u p e r i o r m e n t e jactancioso, de que não poderá
ritarismo ; a confusão e a desordem são os p h a n t a s - f u g i r os catholicos, a c o s t u m a d o s a argumentar, a
mas sombrios d e s t a scena monstruosa, apreciar razões c o n t r a r i a s , e a encarar todas as ques-
Mas a solução d'este problema está estabelecida tões que se lhes a p r e s e n t a m , t e n d o por único apoio
a priori. a tal infallibilidade do d o g m a , a fé.
31
A IiVOLUÇÃO

Encastellam-se n'esse rcducto, e j u l g a m - s e i n - embaraçado exercício de t o d a s a s liberdades, a s u a


vencíveis, soberanos no ataque e soberanos na d e - efiicaz g a r a n t i a , a s u a vitalidade, e caminho f r a n c a -
fesa. .. m e n t e aberto para o progresso. P o r t a n t o , ainda no
p e n s a r d o contemporâneo, a Democracia só se realisa,
Que i n g e n u i d a d e !
só é verdadeira e sincera, q u a n d o sob ella são per-
Das definições que d e u , deduzio Leão Bourroul m i t i idas a liberdade d e consciência, a liberdade d e
q u e a Democracia e a Revolução são idéas c o n t r a p o s - p e n s a m e n t o , a liberdade scientifica, a liberdade do
tas, antitheticas, e q u e , movendo g u e r r a á esta, n ã o e n s i n o , o c a m i n h a r d a civilisação, etc., e t c .
s e j u l g a , por isso, incompatibilisado com a q u e l l a . Ora, a p r i m e i r a c o n d e m n a - a o Syllabus n o s a r t e .
Em boa fé, em consciência, a r g u m e n t e m o s com l õ , 55, 77, 78, 7 9 ; a liberdade d e p e n s a m e n t o c o n -
sinceridade : — pois a Democracia m o d e r n a , a q u e d e m n a - a n o a r t . 7 9 ; a liberdade scientifica n o s a r t s .
agita poderosamente as sociedades a c t u a e s , a q u e 22, 5 7 ; a liberdade d c ensino n o s a r t s . 45 e 4 7 ; e ,
vai abatendo e derrocando a s velhas instituições, os p a r a d e i x a r c o m p l e t a a g r a n d e obra, c o n d e m n a o
velhos r e g i m e n s , a que vai r a s g a n d o u m sulco d e p r o g r e s s o , a civilisação m o d e r n a , a Democracia, e m -
luz na consciência d o século, o. p o n t o l u m i n o s o p a r a fim, n o a r t . 80.
onde convergem irresistivelmente t o d a s a s aspirações A i n d a m a i s : não a d m i t t e o u t r a soberania sinão
contemporâneas, não é o r e s u l t a d o d a s revoluções ? a d a I g r e j a , (prop. 42 e 63).
O que t ê m sido, e n t ã o , o que t ê m feito, o q u e L o g o , u m a d e d u a s : ou a Vanguarda não q u e r a
t ê m produzido esses assombrosos a c o n t e c i m e n t o s q u e Democracia, o u a q u e r .
do século XVI em d i a n t e t e m abalado a face d o m u n - No p r i m e i r o c a s o , c o n t r a d i z o principio que diz
do, dando-lhe u m novo a s p e c t o , u m m o d o d e s e r d i f - sustentar.
ferente,—esses m o v i m e n t o s t o d o s em q u e t ê m vivido No s e g u n d o , r e n e g a o Syllabus, e deixa d e ser
as sociedades ? « catliolica, a p o s t o l i c a , r o m a n a sem restricções ».
O absolutismo p o l i t i c o ? Não. O a b s o l u t i s m o Seja como lôr, a Evolução não proferio u m a
religioso ? T a m b é m n ã o . E a p r o v a é q u e a s fileiras inexactidão q u a n d o d i s s e q u e a Democracia não se
do seu formidável exercito d e o u t r ' o r a vão r a r e a n d o p ô d e h a r m o n i s a r com o c a t h o l i c i s m o , como o e n t e n d e
progressivamente e estão n o t a v e l m e n t e r e d u z i d a s . e o p r o f e s s a Bourroul.
Demais, explosões e s t r e p i t o s a s p r e p a r a d a s p e l a A Evolução sabe p e r f e i t a m e n t e q u a l seja a D e -
compressão exercida pelos reis e p e l a I g r e j a , e s s e s m o c r a c i a q u e a Vanguarda q u e r , e vai dizel-o f r a n c a -
movimentos, violentos ou pacíficos,—porque o t e r m o mente.
generico — Revolução — c o m p r e h e n d e - o s a t o d o s — , E ' a D e m o c r a c i a que se t r a d u z n a m a i s o m i n o s a
não podiam, m u i t o n a t u r a l m e n t e , favorecel-os e f o r - e d e s e n f r e a d a T h e o c r a c i a , n o governo o m n i m o d o e
tifical-os. E s t á fóra d e d i s c u s s ã o . s u p r e m o d o p a p a sobre t o d o o m u n d o , pesando t e r -
Têm sido, pois, i n f r u e t i f e r o s t o d o s esses t r a b a - rivelmente sobre a consciência, escravisando a i n -
lhos s o c i a e s ! t e l l i g e n c i a , p e a n d o a r a z ã o ; é a Democracia q u e ,
Eis ahi por terra toda a Historia m o d e r n a ! m u i t o l o n g e d e ser a cousagração d a soberania do
Para desmentil-a bastou u m a simples p e n n a d a Povo, é a e x p r e s s ã o d a soberania d a I g r e j a , p e r s o -
da Vanguarda. nificada no Pontífice.
Assim, as g r a n d e s revoluções do s o c u l o ' X V l , a N ã o p o d e m co-existir, s i m u l t a n e a m e n t e , duas so-
revolução cle 16(58, o g r a n d e a c o n t e c i m e n t o d e 1776, a b e r a n i a s ; ou u m a , ou o u t r a h a d e prevalecer e
portentosa revolução d e 89, em fim t o d a s a s revoluções t r i u m p h a r , e, p a r a a Vanguarda, n ã o pôde deixar d e
não sobrevieram e não t ê m sobrevindo p a r a elevar a pertencer à Igreja o triumpho.
consciência, l i b e r t a r a i n t e l l i g e n c i a , fortalecer o d i - E i s a s u a Democracia.
reito, e m a n c i p a r o povo, f u n d a r , n ' u m a p a l a v r a , a T u d o o q u e n ã o f ô r isso é s o p h i s m a , é b u r l a ,
Democracia. é engodo.
Dil-o Leão B o u r r o u l ! Ao c o n c l u i r , a Evolução pede desculpa á Van-
Mas, concedendo m e s m o q u e seja isso v e r d a d e , guarda si d e i x o u l a n ç a d a a l g u m a p h r a s e q u e de q u a l -
a Evolução vai d e m o n s t r a r como a Vanguarda, q u e - q u e r m o d o p o s s a m a g o a l - a ; e l a m e n t a com a m a i s
rendo i m p a r de liberalismo p a r a a p p a r e n t a r os vicios p r o f u n d a s i n c e r i d a d e que u m talento t ã o b r i l h a n t e
abominaveis d e s u a Escóla, lança-se n ' u m m i m d o t e n h a se t r a n s v i a d o a tal ponto pelas s e n d a s t e n e -
vasto de contradicções e d e s a c e r t o s incríveis, t a n t o brosas do m a i s desvairado f a n a t i s m o e da cegueira
mais quando p a r t e m d ' u m t a l e n t o m e r e c e d o r d ó da fé
J . C.
máximo a c a t a m e n t o .
P a r a provar que o catholicismo não repelle a
Democracia, escreve a Vanguarda : « Democracia é o Povos e Governos
governo do povo pelo povo, e como t a l a acceitamos ».
A Evolução está d e pleno accordo, m a s vai t i r a r a s O GOVERNO (1.)
conclusões d'este principio. O povo a t t i n g i o s u a maioridade em 89, pelo desa-
« A Democracia é o governo do povo pelo povo ». b a m e n t o d e u m m u n d o , s e g u i n d o o curso logico d a s
Por consequência, n a p r ó p r i a opinião do c o n t e m p o - leis que t e m r e g u l a d o a m a r c h a progressiva da h u -
râneo, a Democracia ó o r e g i m e m d a liberdade a m - m a n i d a d e atravéz dos séculos.
pla.
Mas o regimem d a liberdade suppõe indubitavel- (1) Consulte-se C. Bernal, Theorla da autoridade
mente, como consequência necessaria, o livre e d e s - e G . Pagés, de q u e m se citem a l g u m a s palavras.
30 A. EVOLUÇÃO

lUuminal -o, esclarecel-o, afim de fjuo encare O contracto social, rigorosamente fatiando, n j 0
com olhos d'aguia, sem temor e sem receio, os tem razão de ser : foi uma Chimera methodisada
horisontes incendiados pelo sol da liberdade : eis a pelo cerebro candente de João Jacques, mas existe
grande questão do presente, eis a grande questão do o contracto civil, o contracto politico
futuro. Este contrcto é a lei fundamental que regula o
Esta épocha é a épocha das liquidações, dolorosas modo de ser de cada nacionalidade.
talvez. O governo é o motor que deve pôr em acção
Porque o século presente ou ha de assistir aos esta lei fundamental.
mais assombrosos reviramentos, ou á completa reor- A funeção, o fim do governo é applicar, honesta-
ganisação das sociedades pela justiSa e pela igual- mente, a bem da felicidade de todos, esta lei funda-
dade. mental, este pacto original, que deve ser a expressão
E' bom notar : Napoleão III j á foi precipitado legitima e real das necessidades de todos, da vontade
pela força dos acontecimentos do throno de Luiz de todos.
Phelippe; na Inglaterra o proletariado assombra; Daqui segue-se ainda : quando tractar-se dos in-
no seio da grande Allemanlia o rei vive como que teresses de todos, competirá á todos intervir directa
encarcerado, cuidando talvez enchergar em cada ou indirectamente na questão : eis o direito.
canto as sombras de Hcedel e Nobling; nos gelos Nenhuma reforma será considerada fundamental,
da Rússia j á começou a fumegar ura vulcão im- contribuirá para a felicidade c o m m u m se não basear-
menso. se na vontade de torlos : eis a necessidade da appli-
cação do direito.
E tudo isto o que significa, o que quer dizer ?
Conclusão lógica : os governos não são mais do
Que os governos não podem continuar a ser, como
que delegados da nação.
outr'ora, a encarnação da força, a tyrannia organiza-
da ; que os interesses, que as liberdades individual Porque o principio do governo é a vontade ge-
e social não podem estar sujeitos por mais tempo ao ral, o fim a felicidade geral, e não a vontade de um
só, a felicidade de u m só ou de poucos.
direito divino, ao fanatismo, á iniquidade e aos pri-
vilégios. Rousseau disse : «se houvesse u m povo de deuses,
elle se governaria democraticamente». Pois bem*
A verdade é esta. Entretanto os governos se
Os vinculos sagrados da igualdade e d a fraternida-
obstinam a não seguir os conselhos da historia, da
de tendem a t r a n s f o r m a r cada nação em povo de
experiencia, e, procurando tresloucadamente fechar a deuses.
éra da Revolução, apoiados na força, se annunciam
como verdadeiros e estáveis aos olhos do cidadão
timorato ; mas a miséria que desmoralisa as massas, Muito imperfeita e r a p i d a m e n t e ahi ficou deli-
as más administrações que se succedem ininterrupta-- neada a tendencia dos espíritos.
mente vão espalhando a desharmonia, a cholera, a
Considerando-a, chega-se a conclusão de que não
irritação no seio das sociedades, o germem, emfim,
haverá j a m a i s estabilidade possível p a r a as socie-
de futuras desgraças.
dades, emquanto não se estabelecer u m a equação
E' tempo de que os governos compenetrem-se exacta entre os interesses individuaes e sociaes, equi-
de sua missão civilisadora, e procurem equilibrar librados n a balança d a j u s t i ç a ; emquanto toda
e dirigir as forças sociaes, tomando medidas sabias e organisação politica não repousar sobre estes tres
justas, e não fazendo decretar leis arbitrarias e dra- pontos capitães :
conianas, como o cesarista Bismark : e isto para im-
A ordem, sem a q u a l não pôde haver liberda-
pedir os desvairamentoe populares.
de ;
A liberdade, sem a qual a ordem não será mais
do que a escravidão o r g a n i z a d a ;
Neste estado actual de cousas, qual a base e
A igualdade, sem a q u a l a ordem e a liberdade
a missão dos governos, segundo as tendencias da ci-
não existirão senão em proveito de u m pequeno
vilisação 1 numero.
A base—a soberania do povo. Néstas circumstancias os governos que preten-
A missão—a felicidade e a manutenção da liber- dem permanecer estacionários allegando fúteis pre-
dade de todos pela felicidade e a manutenção da textos, ou cumprirão seus deveres, ou inevitavel-
liberdade de cada u m . mente serão arrastados pela vontade nacional e
A soberania do povo—porque hoje está rigorosa- precipitados ás aguas revoltas desse mar onde já
mente demonstrado que ella não existe, nem pôde sobrenadam mil pedaços de sceptros e de tliiaras.
existir em outra parte senão no seio das sociedades—; Decretem muito embora leis a r b i t r a r i a s ; escra-
é u m attributo, u m predicado seu inalienavel. visem o cidadão pela eleição e pelo vinculo religioso ;
Os governos não podem continuar, mesmo des- lancem mão, finalmente, de todos os recursos pos-
farçadamente, nos paizes civilisados, a apoiarem-se síveis, porque nada resistirá.
neste dogma supremo : — a vontade de um só, que Não ha ninguém que possa exercer uma influen-
engendra o despotismo e repousa sobre uma usurpa- cia directa na organisação social, por mais violenta,
ção vergonhosa. por mais forte que seja essa intervenção.
31
A IiVOLUÇÃO

Napoleão I é uin exemplo. mesmo presentida c magnificamente expressa n'estes


A victoria de Wartcrloo não significa outra cousa versos, com os quaes põe ás Tilas Sonantes o
mais do que a victoria das forças sociaes contra
as forças individuaes, o triumpho das forças sociacs
PONTO FINAL
contra o despotismo encarnado em um Titão.
A opinião publica alarga-se pelas luzes da civi-
AOS MEUS AMIGOS
lisação ; os cidadãos, que começam a compreliender
seus direitos, condemnam todos os crimes, comba-
tem todos os erros, rejeitam e repudiam todas as I
flccòes : neste quadro, pois, em que os governos
tendem a reduzir-se ás verdadeiras proporções, a Eu já tive nas mãos os bandolins antigos,
Evolução repete—não se poderão salvar de u m a queda Vibrando os froixos sons românticos dos b a r d o s ;
desastrosa, si não fôrem regulando seus actos pela Mas hoje, ó meus amigos,
verdade, pela justiça, pela satisfação das necessida- A lyra que me agrada
des de todos.
Allía ao resplendor cortante de uma espada
P. C. As finas vibrações aligeras dos dardos.

Não mais nos versos meus a imagem das amantes...


A nossa apathica e desesperadora monotonia vai —Ninguém se curva, em lucta, às tentações do amor
t e r muito breve u m a de suas raríssimas intermit- E eu sinto u m novo arrojo em estos flammejantes...
t-ncias. —Adeus, visões de outr'ora...—A' liça, luctador 1 !...
Caberão a s glorias d'esse acontecimento a Af-
fonso Celso J u n i o r , que acaba de escrever u m d r a m a
e de confial-o à companhia que actualmente vegeta II
no S. José. E s t a nol-o apresentará em seena d e n t r o
d e pouco dias. E u quero t e r agora estrophes explosivas,
Não h a n e g a r : tracta-se d e u m g r a n d e aconteci- Quero r u i r n o pó os velhos edifícios,
mento, talvez o m a i s significativo que t e n h a j á m a i s E quero contra os reis e quero contra os vícios,
produzido esta épocha esteril em coisas sérias e U n s ímpetos fataes d e extranhas tentativas.
ubérrima em coisas ridículas.
A Evolução não q u e r a d i a n t a r j u i z o sobre esta Emquanto não puder metrificar cratéras,
obra, a i n d a que t e n h a d'ella feito u m a rapida leitura Emquanto não r i m a r a s lavas e os vulcões,
q u e m escreve estas linhas. Emquanto não buscar nos musculos das féras
Mas, u m a l e i t u r a não b a s t a p a r a u m juizo defini- 0 elástico vigor d e homéricas canções;
tivo. Depois do p r o n u n c i a m e n t o do publico (?) a
Evolução p r o n u n c i a r - s e - á t a m b é m .
P o r ora, basta-lhe dizer q u e n'este d r a m a não E m q u a n t o não puder robustecer a lyra,
e n t r a m vinhos e n v e n e n a d o s , crianças r o u b a d a s , f o r - Carregando a expressão com polvora de phrases,
t u n a s a r r a n j a d a s n ' u m a b r i r e fechar d'olhos, n e m Tornando-lhe, de prompto, as ruínas de Palmyra
toda essa l o n g a série d e coincidências m a t h e m a t i c a - N'um fóco de tufões vulcânicos o a u d a z e s ;
m e n t e c o m b i n a d a s d o s d r a m a l h õ e s d e 1830. Não ;
p i n t a m - s e n'elle factos m u i t o n a t u r a e s , m u i t o s i m - Vós m e vereis passar acabrunhado e mudo,
ples, m u i t o observados, m u i t o observáveis e, p r i n - F i t a n d o torvo o céu, que o meu rancor i m p r é c a ;
c i p a l m e n t e , m u i t o brasileiros.
Não m e turbeis então... Eu, concentrado, estudo
A l g u é m s i n c e r a m e n t e a p o n t o u ao a u c t o r q u a e s Como u m dia soltar ovantemente o «eureka».
os defeitos que e n c o n t r a v a a p a r d a s perfeições d a
s u a obra. E s s e s defeitos h ã o d e ser m a i s t a r d e c o n -
venientemente notados e estudados. E se acaso chegar do desencanto às bordas,
Só colhendo os desdens da sociedade fútil,
E n t r e t a n t o , esperando cora ancia occasião de
0 ' lyra, ouve-me bem : quebrar-te-hei as cordas,
poder enviar-lhe m a i s a l g u m a s palavras, a Evolução
Frio, como q u e m p a r t e impuro vaso inútil.
felicita Affonso Celso J u n i o r , q u e não m o r r e u p a r a
a s l e t t r a s académicas, como officiosamente procla-
m a v a m u i t a g e n t e boa. E sabeis p o r q u e assim raivoso eu me concentro?
Evidente p r o v a d e que está vivo e bem vivo o Porque não m a i s a t t e n d o ao lyrico reclamo?
d i s t i n c t o poeta—é q u e m u i t o breve e s t a r e m o s lendo- —Paixão voraz, ó c é u s ! arrebentou-ma dentro
l h e o terceiro v o l u m e d e versos. E e u a m o , eu amo, eu amo I ! . . .
A s Tilas Sonantes estão a sahir d o prélo.
Esse livro, com os s e u s pequenos deffeitos e a s III
s u a s g r a n d e s bellezas, e s t á d e s t i n a d o a marcar a
transicção n o espirito do p o e t a , transicção por elle
32 A EVOLUÇÃO

IV venindo-o dc que ha dc fazel-o voltar ao pó d'oa(je


tenta erguer-se ;
Adoro uma visão de magostade augusta, 70.— Que estude um pouco de geographia, p*^
Cuja voz de heroiua aos sóes da fama incita... não dizer que Jonkopings é—um celebre fabricante de
—O fecundo calor dos tropicos lhe agita phosplwros—, quando Jonkopings é simplesmente
O seio alentador de geração robusta. uma cidade escandinava ;
8 0 .—Que estude ura pouco de grammatica p o r .
E' tanto o seu podor que, de sublime, assusta... tugueza, para não dizer mais—''nellas lia de figurar
De glorias lhe fervilha a multidão bemdita phosphoros... etc. ;
K a divisa da cruz além flammeja escripta 9".—Que convença-se de que é tão mal succedido
No emblema quo, no espaço, o astro-rei lhe incrusta. na pilhéria, como infeliz no gênero serio ;
10o.—F.m synthese—que, quando se quizer in.
Para ajuntar-lhe assim constcllações de encantos, troraetter com os homens que conscienciosamente
O assombro c a maravilha, em desvarios sanetos, estudam e trabalham, adquira primeiro competência
Ligaram-se no sol... Quem, pois, não idolatrc-a?... para isso, porquo não basta que ura individuo tenha
sido inepto cinco annos—para ter boin senso c, prin-
Metropole idéal de inspirações supremas, cipalmente, auctoridade.
Sonho a gloria de os pós u n g i r - t e cora poemas,
O" t u que és minha mãe o minha amante, ó P a t r i a ! !
A Reacção publicou o seu 2 o numero.
O artigo dc fundo tem por epigraphe o ensino
Estes versos, cscriptos, não pela penna lympha- livre, e 6 firmado por Briano Dauntre.
ticamcnte molle do quem escreveu os Devaneios, mas Depois de condemnar 89 e seus resultados, e de
pela rude penna d'aço que um pulso viril maneja, affirmai' que essa data recorda a mais completa ne-
que um estro gravemente republicano inspira, estes gação da liberdade,—como o são para os catholicos
versos dão clara idea do que será o livro todos os grandes movimentos modernos—, o arti-
A Evolução ainda uma vez cobre do applausos o culista declara-se adepto da liberdade de ensino,
valente paladino e imparcialmente o espora. mas conforme à fé e ás leis da Igreja, conforme aos
A. B. princípios catholicos.
De modo que, cm ultima analyse, acceita e não
o
O Liberal (2 numero) traz um sensato artigo acceita a liberdade de ensino, sustenta a these e a
de F. de Novaes sobre a reforma da inslrucçâo publica ; antithèse.
ura excellentc folhetim de Monteiro Peixoto, íx memo- Contém mais a Reacção : O espirito revolucionário
ria do saudoso e illustro republicano Carvalho Junior'; na Europa por Carneiro Mattoso ; Interpretação das leis
Centralisação, por T. L e i t e ; O sr. Barão de Colegipe, sagradas por Canuto do Figueiredo ; Folhetim por
por G. Carvalhal; O art. 15 do acto addicional, por A. B., em quem se nota magnifica verve o boas dis-
li. de Almeida; poesias dc V. da Cunha e Valmiky ; posições para a satyra fina e delicada; etc., etc.
e u m a Chronica phosphorica, a cujo auctor a Evolução Agradecendo o numero que lhe foi enviado, a
não pretende roubar as arlequinescas glorias, não Evolução saúda a Reacção, que, entre os periodicos
podendo, entretanto, furtar-se ao prazer de aconse- acadêmicos, occupa ura elevado lugar pela dignida-
lhar : de e coragem com que sustenta os seus princípios.
Io.—Que, tenha o sulíleiente critério, para não
comparar Alphonse Karr o R. Ortigão a Castro Urso ; A Evolução recebeu já tarde o 3o numero do
o
2 .—Que estude um pouco dc arte poética, para Constitucional, para dar d'elle uma circumstanciada
não confundir versos cora eslrophes c não raetter-se noticia.
ridiculamente em coisas de que nada entende, di- Além de muitos artigos e de um folhetim, traz
zendo—o 2* eslrophe do 1° verso, a 5* estrophe do 3o o Constitucional a continuação do estudo dc A. Wer-
verso, e t c . ; neck, sobre a soberania do Povo comparada com a da
Razão. O articulista revela um espirito lúcido e
3°.—Que estude um pouco de rhetorics, para
amplo, que a Evolução não pôde deixar do applau-
saber que pôde-se dizer—um rebanho d'aguias ;
dir enthusiast!" camen te, reservando-se, entretanto, o
4o.—Que leia o diccionario de Moraes, para saber direito de opportunamente oppor-lhe alguns argu-
que se pôde dizer—a aguia silvando vôa, c que torne mentos.
a ler a rhetorica, para saber que ilgura Be emprega
O Constitucional, representante do princípios
ahi;
mortos, é, entretanto, digno de applausos, pela posi-
5».—Que leia Camões, para saber que este disse
ção digna e franca que tem assumido.
( e n'uma de suas mais bellas estancias) — « Ferido Receba as saudações de uin inimigo leal — ®
o ar retumba e assovia. » ; Evolução.
6°.—Que não pense que a Evolução teme que su-
jam apontadaB as inspirações em Guerra Junqueiro o
Oliveira Martins, pois até para isso o provoca, .pre- Typ. da Tribuna Liberal.
1
•w'.'.' • B
A EVOLUÇÃO
jperioílico redigido peja^ |cadpicog

Julio de Gastilhos Pereira da Gosta

Assis Braz i1

Anuo 1 S . P a u l o , I S d e «Vunlto d e 1 8 7 9 IV. r .

A EVOLUÇÃO Não obstante, é também uma verdade não menos


evidente—que todas essas causas agglomeradas, ou
algumas delias isoladas,—têm lorça para, temporaria-
mente, entravar ou demorar a evolução.
15 DE JUNHO DE 1879. Quando isto acontece, advém a crise.
E' então que os espíritos vacillam, avançam e
A Evolução constatou tão claro quanto possível retrocedem, tacteando no desconhecido ; porque, so-
o signal mais característico dos tempos que correm ciedade e indivíduos, tudo está fóra da normalidade.
para a patria :—a crise. Assim também ensina a mechanica—que o des-
Trazido por causas diversas e por diversas vias, locamento de uma única peça, modifica ou paralysa
este assombroso phenomeno alargou-se tanto no seio o movimento de todo o apparelho.
do paiz, que não pôde ser hoje sinceramente desco- Entretanto, visto que a evolução é falai e indefi-
nhecido de ninguém. nida, uma vez perturbada a sua direcção, tende
E sobre aquelles que, de má fé, tentam sophis- novamente a readquiril-a, a entrar de novo na nor-
mar a evidencia d'essa verdade, abate-se todo o peso malidade.
de uma multidão de factos incontestáveis. Este esforço .continuo, esta irresistível tendencia
Contra factos não ha argumentos,—é o mais para readquirir a normalidade perturbada é o que
sensato aphorismo das velhas escólas. constitúe propriamente a transição, o transitória, que
Mas a Evolução, sem ter procurado as causas, é a mudança para o definitivo.
contentou-se com affirmar o phenomeno e compro-
metteu-se a procurar-lhe a solução natural. Será A Evolução anela por tocar ás conclusões; por
objecto de artigos posteriores a longa indagação de isso não se demorará a explanar longos e luminosís-
todos os motivos, de todas as forças que nos têm simos exemplos historicos, aliás de todos conhecidos.
inveteradamente arrastado até a borda do precipieio.
Esse addiamento em nada prejudicará o desem-
penho do compromisso tomado; porque a verdade Ha dois únicos meios de transição, isto é,—de
suprema, a verdade incontestável, por todos reco- mudança da sociedade do transitorio para o defini-
nhecida, por todos affirmada, máo grado as crenças tivo, do errado para, o verdadeiro :
e as escólas, a grande verdade é esta :—a vacillação
Ou deixar-se levar na onda dos acontecimentos,
è a an&rchia mental são os mais palpitantes sympto-
naturalmente, obedecendo ás leis da historia, transi-
mas d'este paiz na actualidade. A partir d'aqui,
gindo com o progresso,—e isto se pôde dar, quando
reconhecido este facto, para chegar-se a uma exacta
conclusão, basta applicar princípios muito conhecidos forças extranhas não lhe travam o passo—;
e verificados. Ou, então, rompendo bruscamente as muralhas
que a separam da verdade, arrojando ao pó os trope-
ços erguidos pela insensatez, passando adiante por
cima dos cada veres e do sangue dos irmãos,—e isto
Por uma lei claramente determinada, mas cuja se dá, quando não ha da parte das sociedades a bas-
essencia toca ás raias do irreduciivel, sabe-se que as tante sabedoria para preparar o curso do progresso,
sociedades, que a Humanidade inteira tendem persis- ou quando, acima das forças collectivas o erro ou o
tentemente a u m aperfeiçoamento indefinido. servilismo eleva a s forças individuaes—.
A experiencia demonstra, outrosim, que as maio-
No primeiro caso, está propriamente a evolução,
res crises, as mais assombrosas catastrophes, nem a
que outros chamam revolução pacifica,—impropria-
superveniencia do fortuito, nem a temeraria contra-
mente—, porque estes dois termos repellem-se ;
posição dos esforços individuaes, nem coisa alguma
No segundo caso, está a Revolução propriamente
—pôde deter ou desviar definitivamente a grande
corrente, porque também poder algum pôde supri- dita.
mir-lhe o motor primordial. Eis ahi porque disse a Evolução, que «a Revo-
lução não é mais do que o resultado natural da ela-
Este desdobramento continuo, fatal, ininter-
boração evolutiva, salvo quando as sociedades fôrem
rupto é o que se cliama evolução.

BH
3i A EVOLUÇÃO

sabins bastante para conjurar o mal, abrindo livre- Virá, portanto, forçosamente o recurso supremo.
mente as valvulas ao progresso ». Virá a Revolução.
Torrente despenhada do alto de uma montanha Virão a carnificina, o assassinato, o sangue, a
enorme,—o progresso ha de rolar-lhe pacifica e bene- conflagração, màu grado os ridículos esforços dos
ficamente pelos empinados flancos, si a prudência velhos partidos gafados e apodrecidos, màu grado
o .deixar rolar e si a sabedoria preparar-lhe o leito ; alguns pobres homens timoratos e inconsequentes
mas, si a temeridade erguer-lhe tropeços e diques que servem a tyrannia porque não se julgam dignos
na passagem, ent5o a torrente deter.-se-á por mo- da liberdade.
mentos, engrossará, e, intumecendo o seio espu- Mas a historia ha de registrar que os revolucio-
mante ha de arrasar as muralhas e leval-as de golpe nários foram elles, que não comprchenderam os des-
pela montanha abaixo. tinos e o caminhar da sua patria, e não nós, os que
Esta imagem, muito repetida, porém muito n o s vamos por ella sacrificar n a praça publica, por-
exacta, é por sl uma demonstraçfio. que não somos mais do que i n s t r u m e n t o s de uma
lei que elles não enchergam e que nós devotada-
m e n t e servimos.

E' exactamente n'este ponto do caminho que a


nossa patria está vacillando agora.
% •

Havia dois meios de salval-a, e esses ahi ficam E, e n t r e t a n t o , a Evolução mais do que n i n g u é m
apontados. deplora que se t e n h a tornado indispensável e fatal
Appellar para o primeiro, appellar para a cha- esse g r a n d e desespero dos povos, que se c h a m a Re-
mada revolução pacifica, seria uma irrisão, no estado volução.
actual das coisas. Deplora q u e , 'nestes t e m p o s de tão a m a r g a s
Nem precisa a Evolução de repetir o que t a n t a s experiencias, que ' n e s t e g r a n d e século XIX—não se
vezes e tão positivamente tem dito por estas col- t e n h a m ainda comprehendido os destinos dos povos,
lumnas. Os pa rtidos constitucionaes, em u m a p a - a o ponto de evitar d'estes extravios fóra da estrada
n a t u r a l , d'estes r o m p i m e n t o s com a ú n i c a lei d i -
lavra, o mechanismo inteiro d'esta infeliz monarchia
rectora de t o d a s a s coisas—a lei da evolução.
está podre e incapaz de agir n o sentido da liber-
A s Revoluções são factos a n o r m a e s n a vida dos
dade compatível com as aspirações da époclia. Ainda
povos. Não são a providencia histórica, na velha
agora o paiz assiste ao escandaloso e dolorosíssimo
p h r a s e , m a s são anormalidades.
espectáculo da queda da sua u l t i m a esperança, de-
A revolução é u m incidente e não u m accidente.
positada no partido que mais sympatliias t i n h a , m a s
H a u m Eu collectivo, u m E u sociologico, assim
que acaba de receber, em troco da trahição, o escarro
como h a u m E u individual, psychologico. A Hu-
soberano do Povo—esse incorruptível tribunal de
m a n i d a d e é u m individuo g r a n d e , disse A u g u s t o
todos os tempos. Comte. E não podia d e i x a r d e ser a s s i m , p o r q u e a
Mas, ainda deixando de p a r t e todas essas misé- H u m a n i d a d e é a s o m m a d o s indivíduos, e a s o m m a
rias, a Evolução pôde afflrmar que a revolução pacifica é da n a t u r e z a d a s parcellas.
seria u m a burla, n a s circumstancias actuaes. Pois este g r a n d e individuo, assim como o pe-
Ha certo ponto Da vida dos povos em que todos queno, está subjeito a e n f e r m i d a d e s , e s t á subjeito a
os esforços são impotentes para suspender a t e m p e s - crises.
tade imminente. A u m corpo g a n g r e n a d o applica-se o ferro em
A avalanche, despenhada do alto, j á vem p e t t o b r a z a ; a u m a sociedade c o r r u p t a , i n v e t e r a d a m e n t e
de mais para que se possa preparar-lhe o caminho, g a n g r e n a d a também—applica-se este o u t r o ferro em
para evitar os destroços que h a de fazer na vertigi- braza—a Revolução.
nosa passagem. Mas, assim t a m b é m como o individuo n u n c a
A transigência com os partidos constitucionaes, e n f e r m a r i a , si evitasse a s causas d a e n f e r m i d a d e , —
a H u m a n i d a d e c a m i n h a r i a pela rota n o r m a l , si não
representantes do passado, é inacceitavel por insi-
p r e t e n d e s s e m d'ella arredal-a.
diosa, inutil por anachronica. De n a d a serviria
Os revolucionários são, pois, os q u e e n t r a v a m -
Leão X transigio, e a Reforma t r i u m p h o u ;
Luiz XVI transigio, e a sua cabeça rolou do alto d a l h e o caminho.
guilhotina revolucionaria; Napoleão transigio, e o
espirito do século XIX quebrou-lhe a espada heroica-
Mas, j á q u e é necessário, j á que é i m p r e s c i n d í -
mente bandida nos campos de Waterloo ; t r a n s i g i - vel, que venha o g r a n d e dia.
r a m Carlos X e Luiz Fellippe, e essa transigência
Esperemol-o com a s e r e n i d a d e do j u s t o e com o
não obstou a que rolassem pelos d e g r a u s abaixo d o nobre heroísmo da consciência.
throno vacillante. Si elle está m u i t o p e r t o , si está m u i t o longe—c
K' ta rde, é m u i t o t a r d e para as t e n t a t i v a s con- o que n i n g u é m pôde prever.
ciliatórias. Falta a confiança no patriotismo, na consciência,
O meio t e r m o e o palliativo t o r n a m - s e , sobre n a vergonha d"este povo, p a r a u m a previsão s e g u r a .
inúteis,—irrisorios. E' dolorosa esta i n c e r t e z a ! fi
Mas, si o estado é de transição, o paiz não pôde Mas, por outro lado, o governo apressa o movi-
permanecer 'nelle. mento, com repetidos escandalos.
r
31
A IiVOLUÇÃO

Quando na consciência de todos tiver penetrado Afionso Celso J u n i o r n o s p r o m e t t e p a r a m u i t o


a suprema luz da verdade ; quando o disfarçado breve as suns « Télas Sonantes ».
despotismo tiver mostrado a todos a ameaçadora Valentim Magalhães não tardará m u i t o a fazer
catadura ; quando a imagem da patria fòr ã vista s u r g i r , altivos e t r i u m p h a n t e s , os « Cantos e Lutos ».
de todos arrastada na lama pelas mãos i m p u r n s d a Assis Brazil p r e p a r a - s e p a r a u m e s p l e n d i d o t r i -
t y r a n n i a mascarada ; q u a n d o não houver mais u m u m p h o , g a n h a n d o o nome d e u m d o s m a i s nobres
escandalo, mais u m attenlado a p r a t i c a r ; e n t ã o . . . Apostolos d a Poesia m o d e r n a n o paiz coin os « Li-
ai ! saltará, d e certo, a mordaça d a s boccas dos bellos a Deus ».
captivos e o coração p a t r i o t a , que sobreviver á lue t a , Está e m vias de publicação u m livro d e R a y -
lie de contemplar, por sobre o s a n g u e dos m o r t o s , si m u n d o C o r r ê a : os «Primeiros Sonhos».
t a n t o fôr preciso, o symbolo a u g u s t o da L i b a r b a d e , Monteiro Peixoto vai em breve a p r e s e n t a r - n o s
em toda a s u a limpidez e t h e r e a . a s s u a s bellas «Paginas Académicas».
A. B. E' a reacção q u e c o m e ç a .
I n a u g u r a - s e , p o r t a n t o , a nova é p o c h a .

< Estudos Políticos > S u g g e r í o á Evolução a s r a p i d a s r e f l e x õ e s q u e


A Academia de S. Paulo não podia f u r t a r - s e á a h i ficain, a l e i t u r a d ' u m l i v r i n h o d e E d u a r d o L i m a ,
influencia do meio e m que se agita a sociedade b r a - que, acompanhando brilhantemente o movimento
sileira, e cujos característicos a Evolução, inhabil- a c i m a c o n s t a t a d o , acaba d e f a z e r c o n h e c i d o o s e u
m e n t e ou não, não cessa d e observar. vigoroso t a l e n t o p o r t o d o s , q u a n t o s o l e r e m .
Por isso, t e m n ' e s t e s ú l t i m o s a n n o s a t r a v e s - A n t e s d e d à r u m a l i g e i r a n o t i c i a d o livro, a
sado um período de d e s a l e n t o , d e m a r a s m o , d e e s - Evolução r e p o r t a - s e ao q u e d i s s e n o s e u I o n u m e r o
terilidade, e a r r a s t a d o u m a existencia t r i s t e m e n t e r e l a t i v a m e n t e á u m a como q u e a r i s t o c r a c i a 1 i t t e r a r i a
desconsoladora. q u e crcou-se e n t r e n ó s , e de c u j a estineção—ao m e -
Por isso, os p r o d u c t o s d a intelligencia a c a d é - n o s n a n o s s a A c a d e m i a , o n d e ella m a i s a v u l t a — ,
mica, além de e x t r a o r d i n a r i a m e n t e raros," t ê m sido os « Esiudos Políticos » p a r e c e m sor u m p r o n u n c i a d o
acanhados, s e m opulência, s e m vigor. symptoma.
Por isso, em vez da m a n i f e s t a ç ã o p o t e n t e d o t a - Até b e m pouco t e m p o , n ã o e r a p e r m i t t i d o q u e
lento a j u d a d o paio trabalho convencido e p e r s i s t e n t e os t a l e n t o s a p p a r e c e s s e m s i n ã o a b r i g a d o s á s o m b r a
e i l l u m i n a d o pelas luzes do e s t u d o , t ê m b r i l h a d o u n s d a protecção d ' u m n o m e m a i s o u m e n o s c o n h e c i d o
tibios e e p h e m e r o s l a m p e j o s , q u e , a p e n a s d u r a m ou laureado nas lutas d a intelligencia
um i n s t a n t e , d i s s i p a m - s e . Moços d e m é r i t o real r e s i g n a v a m - s e a viver n a
Por isso, em c o n t r a s t e com a q u e l l a g r a n d e o b s c u r i d a d e por p a r e c e r - l h e s repulsivo p e g a r e m - s e ã
épocha d e c u j o s t r i u m p h o s a i n d a r e p e r c u t e m em aba d a casaca d ' u n s i m p r o v i s a d o s M e n t o r e s l i t t e r a r i o s
nossos ouvidos os échos sonorosos, em que a m o - p a r a c o n s e g u i r e m subir a o s paços d a p u b l i c i d a d e .
cidade, a flor d a e s p e r a n ç a a l t e a n d o - s e v i r i d e n t e n o H o j e , f e l i z m e n t e , p a r e c e q u e vae m o r r e n d o e s s e
coração, a b r a s a n d o - s e o cérebro n a luz d o s g r a n d e s p é r f i d o c i n s u p p o r t a v e l h a b i t o , v e n c i d o pela reacção
Ideaes, a t i r a v a - s e f o r t e m e n t e r o b u s t a e m b u s c a d a d o s t a l e n t o s conscios d o s e u m é r i t o .
gloria, q u e r , com a lyra n a mão, balouçando-se n u m O a u c t o r d o s « Estudos Políticos » t e v e a s u f i c i -
m a r i m m e n s o d e inspirações v i r i l m e n t e p a t r i ó t i c a s , e n t e h o m b r i d a d e p a r a r o m p e r c o m elle.
q u e r , com a eloquencia do verbo i n f l a m m a d o , e l e - Merece, p o r isso, a s s i n c e r a s s a u d a ç õ e s d e q u e m
vando-se em o n d a s d e e n t h u s i a s m o varonil a o s e s - l e a l m e n t e se i n t e r e s s a r p s l o n o s s o p r o g r e s s o .
paços d a i m m o r t a l i d a d e ;—em c o n t r a s t e com a q u e l l a
b r i l h a n t e épocha, a m o c i d a d e t e m m a r c h a d o n ' e s t e s
uliimos t e m p o s com p a s s o s t r o p e g o s e v a c i l l a n t e s . Sob a d e n o m i n a ç ã o g e r a l d e « Estudos Políticos »
Mas esse estado d e coisas t i n h a d e findar f o r - e n c e t o u E d u a r d o L i m a u m a série d e p u b l i c a ç õ e s , d e s -
çosamente, obedecendo á lei fatal q u e se m a n i f e s t a , t i n a d a s á p r o p a g a n d a d e m o c r a t i c a , com a q u e v e r s a
t a n t o n o s e s t r e i t o s e l i m i t a d o s como n o s m a i s a m - sobre « O artigo 5 o da Constituição do Brasil em face da
plos dominios, e m v i r t u d e d a q u a l aos períodos d e Razão e do Direito. »
prostração e d e cansaço m o r a l s e g u e m - s e s e m p r e a s E ' d e s t a q u e se o c c u p a m e s t a s l i n h a s .
agitações e o m o v i m e n t o . Apuzar d e m u i t o d i s c u t i d o o a s s u m p t o , o a u c t o r
Esse d e s a l e n t o q u e t i n h a invadido o espirito d a não desceu á v u l g a r i d a d e .
mocidade, e r a e m si, n o r t a n t o , u m p r e c u r s o r d a E n c a r a n d o - o sob t o d a s as faces, fez d'elle u m a
grande reacção c o n t r a u m estado de coisas a n o r m a l . s y n t h e s e c o m p l e t a , e com u r a vigor d e a r g u m e n t a -
E r a - o d e facto. Ahi está a prova i n c o n c u s s a ção b a s t a n t e alto, m o s t r o u o a b s u r d o d o a r t i g o 5 ' .
no l e v a n t a m e n t o ruidoso q u e o a n n o a c t u a l vai p r e - Provou q u e é elle u m a b s u r d o , p o r q u e t o l h e a
senciando. liberdade d e consciência, e, p o r t a n t o , « é i n d i g n o d e
Silva J a r d i m , q u e j à se n o s havia m a n i f e s t a d o figurar n a s p a g i n a s d a Constituição d ' u m povo q u e
sob felizes auspicios com as « Idéas de Moço » e o u t r a s q u e r ser livre ».
producções esparsas, affirmou b r i l h a n t e m e n t e a sua E' u m a b s u r d o , p o r q u e n ã o p o d e m c o - e x i s t i r ,
simultaneamente, duas soberanias, « d a s quaes u m a
organisaçào critica, poderosa no f u t u r o , com « A
ou o u t r a t e m de p r e v a l e c e r » .
Gente do Mosteiro ».
36 A. EVOLUÇÃO

K' u m a b s u r d o , p o r q u e estabelece u m a unifio f u t u r o r a d i a n t e ; e concita-o a não esmorecer no»


e n t r e d u a s s o c i e d a d e s q u e t e n d e m a fins oppostos, s e u s n o b r e s trabalhos, — q u e a coragem e a tenacida-
e q u e d e v e m , p o r c o n s e q u ê n c i a , m a r c h a r p o r vias d i - de são o d i s t i n e t i v o dos e s p í r i t o s f o r t e s .
v e r s a s ; p o r q u e delle d e r i v a m - s e c o n s r q u e n c i a s l ó - J . C.
g i c a s , como o beneplácito, q u e p e a i n a l i b e r d a d e q u e
t e m a I g r e j a «de g o v e r n a r com a s n o r m a s q u e bem
l h e a p p r o o v e r — o rebanho c o n f i a d o aos s e u s c u i d a d o s ,
e q u e aLrem, além d i s t o , e n t r e os d e v e r e s do fiel e
Echos do passado
os do cidadão u m a verdadeira lula, quando, por ven-
t u r a , o E s t a d o o p p o n h a - s e ú execução d u m a lei d a
Igreja » O ORIENTE

E ' u m absurdo ainda, poique a acceitação d ' u m a (A Theophilo Dias)


r e l i g i ã o pelo E s t a d o i m p l i c a a p e r d a , p a r a q u e m n ã o
a p r o f e s s a , d e d i r e i t o s i m p o r t a n t í s s i m o s , como o d e No topo da M o n t a n h a erma e sombria,
ser votado, — o que é irrisorio, visto que « não dimi- Do bambil sobre as r a m a s l u x u r i a n t e s ,
n u e m os méritos e a capacidade que deve possuir No rio sacro, d ' o n d e , t r i u m p h a n t e s ,
u m i n d i v i d u o p a r a r e p r e s e n t a r os i n t e r e s s e s d o s e u O D e u s s u p r e m o as p l a n t a s e m e r g i a ,
p a i z pelo s i m p l e s e ú n i c o f a c t o d e n ã o p r o f e s s a r a
religião d o E s t a d o ». N o d e s e r t o s e m fim, q u e a v e n t a n i a ,
« Aonde está a verdade ? » Descarregando os látegos vibrantes,
Ao tropego m a r c h a r dos elephantes,
« A v e r d a d e , r e s p o n d e o a u c t o r , e s t á n a lei q u e
E m ondas d e poeira revolvia,
autorisar o estabelecimento da Igreja livre no Esta-
d o l i v r e ». Sobre as lageas do templo derrocado,
Mas, c o n t i n u a elle, a r e a l i s a ç ã o d ' e s s a r e f o r m a é N o o r á c u l o sem voz, a b a n d o n a d o ,
absolutamente impossível com a forma de governo — C a m p e i a a m o r t e 1 a n o i t e vai d e s c e r 1
que nos rege.

« A nós, pois, democratas sinceros, toca dar á Mas não morreste, n ã o ; — q u e a sepultura
nossa Patria a forma de governo que. sendo a reali- Tu a sonhaste—mystica ventura
dade pratica da liberdade, igualdade e fraternidade, N a s u p r e m a v o l ú p i a d o NÃO SER.
é a ú n i c a c o m p a t í v e l com a n a t u r e z a h u m a n a , c o m
os princípios democráticos. »
C o n c l ú e c o n c i t a n d o á l u t a os s o l d a d o s d a D e m o - O EGYPTO
c r a c i a . « Q u e ella s e j a s e m t r é g u a s , p o r q u e só a s s i m ,
m o r t a a miséria do presente que é esmagador, pode- ( A Valentim Magalhães)
r e m o s c o m o s e u c a d a v e r a t u l h a r p a r a s e m p r e a se"
p u l t u r a do passado q u e é vergonhoso. » M u d o , s o m b r i o , lívido e tranquillo,
O grave sacerdote a lei superna
Eis, m a i s ou menos, tão largamente exposto
Ia gravar nos antros da caverna,
q u a n t o pode sel-o nos acanhados limites d ' u m a sim-
p l e s noticia, — o q u e e n c e r r a o livro d e q u e se falia Onde se arrasta lento o crocodilo.
aqui.
E hoje o que resta j á de t u d o aquillo ?
N o s « Esíudos Políticos», â par da manifestação Resta o silencio q u e a m u d e z governa,
de u m talento robusto e de u m a consciência valoro- O vacno, a solidão, a m ú m i a e t e r n a ,
s a m e n t e i n t r é p i d a , a Evolução, p a r a g u a r d a r a m a x i - No deserto areal d o sacro Nilo.
m a franqueza n a emissão dos seus conceitos, não
pode deixar de declarar que encontra não raras incor- A p a l m e i r a feliz n ã o m a i s a v u l t a
recções de estylo, m u i t o naturaes a quem, como Na curva do horisonte dilatado,
c o n f e s s a o p r o p r i o a u c t o r , p e l a p r i m e i r a vez a r c a c o m Onde a sombra d a morte ora se occulta.
o difficultoso m a n e j o d a p e n n a .
I n c o r r e c ç õ e s , p o r é m , q u e c o m c e r t e z a n ã o se r e - M a s u m a coisa fica—o g ê n i o o u s a d o ,
p r o d u z i r ã o n a s s u b s e q u e n t e s p u b l i c a ç õ e s . D"isso e s t á Que a m o r t a l h a d o s t e m p o s n ã o s e p u l t a ,
c e r t a a Evolução. Na g r i m p a d a s p y r a m i d e s alçado.
Seja como fôr, E d u a r d o Lima bem merece da
Democracia.
N ã o l h e f a l t a r ã o , p o r c e r t o , a elle q u e t ã o d i g n a -
A GRÉCIA
m e n t e se acaba de afíirinar n a s lutas porfiadas do
p e n s a m e n t o , os a p p l a u s o s s i n c e r o s de t o d o s os c o - (A Affonso Celso Júnior)
religionarios.
O s « Es In dos Políticos » são o p r i m e i r o p a s s o d ' u m a M o r r e s t e , ó m ã e ! Na m o r b i d e z a p a t h i o a ,
carreira, que h a de ser b r i l h a n t e m e n t e victoriosa. Colheu-te a mão nervosa a morte esqualidá
A Evolução n ã o receia s e r a c o i m a d a de p a r c i a l , E foste repousar, gelada, estatiea,
prophetisando para o convencido republicano um N o t u m u l o do t e m p o a f r o n t e v á l i d a . '
A IiVOLUÇÃO 31

No Parthenon deserto, u virgem atth-a, No seio dos partidos constit-ueionaes, que pare-
Qual teu m á r m o r e b r a n c o , immovcl, pallida, cem ter j u r a d o nos altares de suas mesquinhas e
Deixou morror no lábio a dor svmputhica ignóbeis ambições a deshonra e a vergonha da Pa-
E rebentar nu peito a libra cálida. tria, que parecem destinados, desde sua formação, a
encherem de paginas negras c infamantes a historia
No silencio da noite, cái funerea
politica deste paiz,—no seio dessas agglomerações
A lagryma do céo na campa rórida,
d e homens corrompidos ainda se pôde distinguir u n s
Onde rolaste d e s g r e n h a d a e flacida.
pobres crentes que por abi andam,—cedros que ain-
da restam da g r a n d e floresta de vontades e de con-
Mas, no t u m u l o e t e r n o , á luz sidérea,
sciências, desapparecida á chamina devoradora do
Inda eu te vejo a f r o n t e bella e flórida,
g r a n d e incêndio que calcinou o caracter da naciona-
N'umn explosão de luz serena e placida.
lidade brazileira
E m n u m e r o muito limitado, esses cidadãos h o n -
rados e p a t r i o t a s ainda ousam lutar para extirpar
AHASWERU8 aquelle poder, que t e m depauperado as energias e a
vitalidade deste povo, e t e n t a m , no t e r r e n o da lega-
(A Silva Jardim ) lidade, fazer e n t r a r a nação na posse de si mesma,
governando-se livremente.
E, e n t r e t a n t o , t u vais, 6 livido precito, T e n t a m ainda isso, i n g e n u a m e n t e crédulos na
Pela róta s e m fim, d o s t e m p o s atravez, cíficacia d ' u m a lei eleitoral que vivifique a vontade
Das g e r a ç õ e s ouvindo o lastimoso g r i t o , nacional, restabelecendo a verdade da representação
Ao virem se q u e b r a r debaixo dos t e u s pés. por meio d ' u m a c a m a r a l e g i t i m a m e n t e eleita, e, por-
t a n t o , livre.
Que d e s t i n o f a t a l ! no c a m i n h a r sopito,
Crèm a i n d a q u e , organisado como está o poder,
Vão te m o r d e n d o os cães, as víboras cruéis.
é possível c o n s e g u i r que a eleição exprima livremen-
E e m b a l d e o raio desce a r d e n t e do infinito,
t e a vontade popular.
—Que u m t u m u l o não h a g r a n d e como t u és.
IIludem-se, e illudem-se perigosamente, porque
Do pó d a s g e r a ç õ e s q u e d o r m e m no passado m a i s e m a i s p r o l o n g a m esse r a s t e j a r pelo lodo da
Nem p o d e s a t t e n d e r ao rouco soluçar m i s é r i a e do a b a t i m e n t o , em que vive este paiz.
Que t e m a n d a d e t e r o p r o g r e d i r o u s a d o ; Não vêm que é de todo vão c inútil lutar c o n t r a
u m a o r d e m de coisas, em q u e a soberania concentra-
Porque t u vais g a l g a n d o o t e m p o , o a b y s m o , o m a r , se n ' u m só individuo, c u j o s poderes são hereditários.
C h a m a s - t o HUMANIDADE, e t e n s e m ti g r a v a d o
P r e t e n d e r l i b e r t a r a nação p o r meio do voto di-
0 d i s t i c o f a t a l : — M A R C H A R ! MAIICITAU ! MARCHAR t recto e universalisado, é impossível q u a n d o elle a b -
Assis BRAZIL. s o l u t a m e n t e não pôde s e r livre. Será, pelo contrario,
u m novo e l e m e n t o para consolidar ainda mais, si é
possível, o p o d e r r e a l
0 inevitável Q u e r e m d e s t r u i r o mal, m a s c o m b a t e m o effeito
cm vez d e c o m b a t e r a causa.
T r a b a l h a e s t e p a i z u m a crise f o r m i d á v e l .
O p o d e r discricionário e t y r a n n i c o do monarcha
Crise da c o n s c i ê n c i a , crise d a i n t e l l i g e n c i a , crise
n ã o lhe vem do a b u s o ; elle nada m a i s faz do que
do c a r a c t e r , c r i s e d a J u s t i ç a , q u e o l a n ç o u n ' u m e.s-
exercer a s f u n e ç õ e s q u e l h e concede a carta consti-
t a d o d e e x t r e m o d e s e s p e r o , preso d a s v e r t i g e n s d a
tucional.
decomposição, t o r n a d a c a d a v e r a s u a d i g n i d a d e pela
A g u e r r a deve s e r dirigida c o n t r a a lei.
gangrena da corrupção.
N'ella está a causa.
E s t e m o d o d e s e r , a n o r m a l i s s i m o n a vida d o s
N'ella e s t á o m a l .
povos, r e c l a m a u r g e n t e m e n t e u m a solução, q u e não
Sinão veja-se.
p o d e v i r sinfio com a d e s t r u i ç ã o da c a u s a q u e o p r o -
duzio. T r a d u z i n d o a índole do g o v e r n o monarchico con-
s t i t u c i o n a l , q u e é a alliança hybrida e n t r e a m o n a r -
T o d o s r e c o n h e c e m q u e h a u m a força d o m i n a d o -
chia e a democracia, a C o n s t i t u i ç ã o p r o c u r o u e s t a -
r a q u e a b s o r v e e m si t o d a s a s forças sociaes, p e a n d o -
belecer e n t r e esses d o u s e l e m e n t o s c o n t r á r i o s , i n i -
l h e s o i m p u l s o , s o p i t a n d o - l h e s os m o v i m e n t o s , i m -
m i g o s , u m equilíbrio, que é impossível s u b s i s t i r e
pedindo e abafando-lhes a expansão, lançando-asi
perdurar.
emtim, n ' u m a impotência desesperadora.
E s s a forca é o p r e d o m í n i o o m n i i c o d o d ' u m p o d e r Ao e l e m e n t o monarchico foi buscar o seu c a r a -
sobre t o d o s os o u t r o s , q u e , e l e m e n t o p e r t u r b a d o r , os c t e r p r i m o r d i a l , o m o n a r c h a por graça de Deus, i r r e s -
r e d u z a g r a v i t a r e m e m t o r n o d e si, t o r n a d o o c e n t r o ponsável, inviolável e s a g r a d o , com a p r e r o g ativa
da g r a v i t a ç ã o ; d u m p o d e r q u e , s u b s t i t u i n d o - s e á a m p l a de dissolver a c a m a r a t e m p o r a r i a , d e e s c o l h e r
n a ç ã o , g o v e r n a - a p o r s u a s próprias i n s p i r a ç õ e s , le- o s m e m b r o s da c a m a r a vitalícia, de n o m e a r e d e m i t t i r
v a n d o - a m a n i e t a d a a o c a r r o de s e u s desvarios. l i v r e m e n t e os m i n i s t r o s , d e d i s t r i b u i r e m p r e g o s a o s
f u n c c i o n a r i o s , de fazer a g u e r r a e a paz, e t c . , accres-
E s s a torça ó a o m n i p o t ê n c i a d o m o u a r c h a .
c e n t a n d o - s e a t u d o isso, para coroar o edifício ei-
E; o poder pessoal.
38 A. EVOLUÇÃO

m c n t n d o d e t r e v a s , a h e r e d i t a r i e d a d e , ou a t r a n s - E m vista d'isso, não s e r á u m a simples alteração


missão do p o d e r aos seus d e s c e n d e n t e s , — m o n s t r u o - no processo eleitoral, q u e ha de conseguir m u d a r a
s i d a d e q u e difBcil m e n t e se concebe. f i c e da a c t u a l i d a d e ; concorrerá a i n d a mais para
P a r a d a r expansão KO e l e m e n t o democrático, a cnnegrccel-a, p r i n c i p a l m e n t e o r d e n a d a s , como estão,
C o n s t i t u i ç ã o diz q u e todos os c i d a d ã » são i g u a e s e m redor d o throno, a s fileiras ínfernaes do ser-
p e r a n t e a lei, q u e os Doderes políticos são delegações vilismo.
da nação, q u e elege os s e u s r e p r e s e n t a n t e s , q u e r A crise em qne se debate c o n v u l s a m e n t c a so-
t e m p o r á r i o s , q u e r vitalícios, com o direito d e i n t e r - ciedade brasileira n f t i s s rcsilva por esse m s i o -
vir n a governação do E s t a d o . A solução é u m a ú n i c a .
E m face d'essa d u p l a o r d e m de faculdades,— E ' a Revolução.
p r e r o g a t i v a s do m o n a r c h a e direitos d o p o v o , — n i n -
A lógica q u e preside aos d e s t i n o s das sociedades
g u é m em boa fé o u s a r á d i z e r q u e a s o b e r a n i a p e r -
é d u m a fatalidade dolorosa, cruel mesmo, m a s ília-
tence a este.
m i n a d a m e n t e sabia, porque é a p r e p a r a d o r a de t o d o s
A s o b e r a n i a reside e m u m p o d e r , q u e pode d e s - os p r o g r e s s o s h u m a n o s .
vairar-se n a c a r r e i r a dos c r i m e s , q u e p o d e m a r c h a r
E ' a d u r a prova d a relatividade d o h o m e m , q u e
d e desat<no e m d e s a t i n o , s e m q u e se l h e possa a p p l i -
n ã o pode c a m i n l i a r sinão s a l v a n d o precipícios i n -
c a r correctivo a l g u m , p o r q u e s e u s a c t o s r e v e s t e m - s e
s o n d á v e i s , n a d a n d o em m a r e s de s a n g u e d e r r a m a d )
d a i r r e s p o n s a b i l i d a d e legal, c a t é d a i r r e s p o n s a b i l i -
d a d e m o r a l , visto q u e é a i n d a inviolável e s a g r a d o . p a r a f e c u n d a r a t o r r a do F u t u r o , e m meio de c a t a -
c l y s m o s q u e de q u a n d o e m q u a n d o , a s s i m como
Reside em um poder, contra o qual é impotente
n a n a t u r e z a , se d e s e n c a d e i a m n a sociedade para
a v o n t a d e do povo, p o r q u e l h e p e r t e n c e o d i r e i t o d e
arreVncssal-o v i o l e n t a m e n t e cada vez m a i s p i r a
d i s p e r s a r ou e u x o t a r os s e u s r e p r e s e n t a n t e s , q u a n d o
diante.
estes, p o r v e n t u r a , l h e q u e i r a m c h a m a r á u m a severa
liquidação. E n t ã o , e só e n t ã o , a P a t r i a , d e s p r e n d i d a dos
laços q u e a t r a z e m p r e s a a u m p a s s a d o d e i g n o m i -
D e m o d o q u e n a d a val a ú n i c a valvula a b e r t a á
nias e d e n e g r i d ã o , l i m p a s a s faces d a l a m a que as
r e s p i r a ç ã o social.
e n n o d õ a , i l l u m i n a d a a a l m a pelos raios coruscantes
Reside e m u m p o d e r q u e g o v e r n a d i s c r i c i o n á r i a -
d a s g l o r i a s do P r o g r e d i r , — p e n e t r a r á t r i u m p h a n t e -
m e n t e , p o r q u e é c o m p l e t a m e n t e livre n a e s c o l h a ou
m e n t e altiva e s e r e n a m e n t e olympica os vastos, os
d e m i s s ã o dos s e u s m i n i s t r o s , q u e n ã o p o d e m s e r ,
espaçosos, os d i l a t a l o s d o m í n i o s d o Direita, d a L i -
p o r t a n t o , si n a u c r e a t u r a s s u a s , f o r m a n d o um p o d e r
q u e vive s e g r e g a d o d a n a ç ã o . berdade, da Democracia.

Reside e m u m p o d e r a q u e e s t á s u j e i t o o f u n c - O germen do g r a n d e acontecimento j a está lan-


cionalismo pela nomeação «u demissão, dispondo, çado.
p o r c o n s e q u ê n c i a , d e t o d o s os m e i o s possíveis p i r a O s d i a s e s c o a m - s e p r e n h e s d e a m e a ç a s terríveis,
multiplicar, vinculando-o aos seus interesses, o apontando-nos a approximação assombrosa do gran-
numeroso exercito de sinecurístas e m conspiração dioso l e v a n t a m e n t o .
permanente contra o bem publico. O leão q u e parecia r e p o u s a r e m s o m n o eterno,
Reside e m u m p o d e r , e r n f i m , q u e s e e t e r n i s a n o começa a despertar.
g o v e r n o i n d e p e n d e n t e m e n t e d o voto p o p u l a r , e i n s e - U n s i n c o n s c i e n t e s r u g i d o s a t r o a m os espaços.
p a r a v e l m e n t e u n i d o a u m a só f a m í l i a . Predispõe-se p a r a o a t a q u e , f o r t e , robusto e e n -
E q u e m exerce esse p o d e r m o n s t r u o s o ? raivecido.
O monarcha. J a d e s p o n t a m no horison te os raios d o g r a n le
O m o n a r c h a , p o r t a n t o , é o único s o b e r a n o . S e r i a a s t r o q u e , d i s s i p a n d o a s d e n s a s c a m a d a s d e trévas
a mais atroz e p u n g e n t e ironia atirada ás faces do q u e envolvem e s t a t e r r a , h a d e i n n u n d a l - a n u m
b o m s e n s o e & v e r d a d e — d i z e r q u e a lei p r o c l a m a a oceano e n o r m e d e luz.
s o b e r a n i a d a nação.
J . C.
E' claro, p o i s , q u e a c a u s a d o m a l - e s t a r e x t r a o r -
dinário universalmente sentido, que o motor único
d a inversão perigosa, s e g u n d o o p h r a s e á d o u s u a l , d a s
n o r m a s d o S y s t e m a R e p r e s e n t a t i v o é a p r o p r i a Con- COLLABORAÇÃO
stituição.
P e d r o I I , g o v e r n a n d o d e s p o t i c a m e n t e como t e m -
n'o feito, e s c a r n e c e n d o d o s b r i o s n a c i o n a e s como t e m 0 futuro d l patria
sido s u a n o r m a d e acção, coUocando-se s u p e r i o r á
nação, é s i m p l e s m e n t e u m leal e fiel e x e c u t o r d a lei ra
com q u e s e n a u g u s t o pai g e n e r o s a m e n t e d i s t i n g u i o
O l h a n d o para o nosso passado politico j á fizemos
este pobre povo.
s e n t i r a influencia q u e teve a Corôa na nossa o r g a -
P e d r o II é a p e n a s u m revivedor, obscuro e s e m nisação social; influencia q u e h e r d o u o Grão Magico
g l o r i a é v e r d a d e , d a s t r a d i ç õ e s d e Pedro I . de hoje, não d e s c u i d a n d o n u n c a de e m p r e g a l - a , á s
vezes a t é com imposição, a t o d a s os seus homens de
A EVOLUÇÃO

e s t a d o . Agora, fitando os olhos n o p r e s e n t e , n e s t a s q u e p o r dedicação e a m o r às i d é a s q u e a b r a ç a m .


misérias h o d i e r n a s , q u e t o d o s nós t e m o s o direito de E é t r i s t e vêr u m p a r t i d o n e g a r ao povo os s e u s
e n c a r a r , c o m m o v i d o s . s i m , m a s sem medo, sem direitos p a r a cedel-os á Corôa 1
covardia, p r o c u r a r e m o s a p o n t a r ao longe o f u t u r o
que n o s espera.
E não é já difficil m o s t r a l - o As t u r b a s i g n o r a n t e s ,
se c o n s i d e r a r m o s q u e , p a t e n t e o p r e d o m í n i o pessoal O p a r t i d o liberal, o J u d a s d e s t e novo Christo
do I m p e r a d o r , d e s h o n r a d o s p o l i t i c a m e n t e os h o m e n s q u e se c h a m a povo, l a m b e a s p l a n t a s ao M o n a r c h a
capazes de a r c a r c o m o g o v e r n o , ellas já d e s i l l u d i r a m - e e s c a r r a sobre a nação. Desesperado por não poder
so »lesta Monarchia, q u e s e a f u n d a , e só e s p e r a m r e a l i s a r as i d é a s q u e i l l u m i n a m a s u a b a n d e i r a , e
hoje ou a obediencia d a Corôa aos d i r e i t o s p o p u l a r e s
s e m convicção e p a t r i o t i s m o b a s t a n t e s p a r a a r r e r a e t -
ou a salvação do Estado pelo Povo em Revolução.
t e r c o n t r a o t h r o n o , elle, o d e s n o r t e a d o , r e f u g i a - s e
A p a r t e i l l u s t r a d a do paiz, a q u e vive pela p a t r i a
e não d a p a t r i a , h a m u i t o q u e n ã o é m a i s alicerce nos braços da hypocrisia. Que benefícios pôde t r a -
d e s t a p y r a m i d e de e r r o s e abusos, de e g o í s m o e d e zer á nação u m p a r t i d o q u e , c h e g a d o o m o m e n t o d e
t r a n s i g ê n c i a s d e s c a r a d a s . H a m u i t o q u e os m a i s provação, v i n d o s os i n s t a n t e s s u p r e m o s do c o m b a t e ,
audazes e insofiridos l e v a r a m ao e s p i r i t o e s t a convic- abandona o c a m p o e esconde-se n a t r é v a e s c u r a ?
ção p e n e t r a n t e e d o l o r o s a de q u e o I m p e r a d o r é u m O p a r t i d o liberal p e r d e u o d i r e i t o á e s t i m a d a n a -
P a c h i n e s t a t e r r a d e i n g ê n u o s . E' impossível a f e - ção, e, se n ã o f o r m o s u m povo de a b y s s i n i o s , a s u a
licidade d e u m a nação, levada a s s i m ao c a p r i c h o d e
bandeira deslionrada jnmais tremulará nas eminên-
u m só h o m e m .
c i a s do p o d e r . Áulico, p o r índole, como h a d e elle
A s situações p o l i t i c a s succedem-sc como creacões
e x i g i r d a Corôa o respeito aos d i r e i t o s n a c i o n a c s ?
f a t a e s dos a m o l l e c i m e n t o s c e r e b r i n o s d o nosso Mo-
D este p a r t i d o t a m b é m , como d o o u t r o , é i n ú t i l
narcha.
e s p e r a r a s u b m i s s ã o do I m p e r a d o r . I r a é a negação
E elle vac f a z e n d o o povo brasileiro p e r c o r r e r ,
de todo o progresso, é o estacionamento chincz, a r -
m a n s o como c o r d e i r o , o cyclo n e g r o , q u e d e s c r e v e o
s e u d e d o i m p e r i a l . Ha t y r a n n i a s q u e f a s c i n a m . O s vorado em principio nesta America que avança para
dois partidos monarchicos attrahidos, fascinados, o futuro.
a t r e l l a d o s , como b e s t a s , a o coche a g a l o a d o d o Mo- O o u t r o é o s e r v i l i s m o , a a d u l a ç ã o d o Rei, n e s t e
narclia, vão s e m e a n d o a e s t r a d a com flores a r r a n c a -
paiz q u e vôa p a r a a Republica.
d a s á n o s s a f e l i c i d a d e , e r e g a n d o - a s com l a g r i m a s c
s a n g u e d o povo.
Ambos impotentes para levantar as reformas á
a l t u r a do s e n t i r e p e n s a r m o d e r n o s , vão d e s c e n d o
velozes n a escala do conceito p o p u l a r . P o r t a n t o , se os dois p a r t i d o s m i l i t a n t e s c o n s a -
g r a m o absolutismo, u m por suas idéas retrogradas,
o o u t r o p o r s u a tibieza e covardia, é j u s t o q u e os
r e p u b l i c a n o s , q u e j u l g a m i m m o r a l a abdicação dos
A s u b m i s s ã o d a Corôa é hoje u m a u t o p i a , como d i r e i t o s p o p u l a r e s n a pessoa d o I m p e r a d o r , comecem
t e m sido s e m p r e em t o d a Historia.
a d e r r o c a r o p e d e s t a l d e s t a falsa Monarchia. Que
v e n h a , pois, a Revolução. E e n t ã o o f u t u r o do Brasil
será g r a n d i o s o , p o r q u e será o f r u e t o de u m a Revolu-
ção j u s t a , o p e r a d a pela p a r t e s ã do paiz c o n t r a a
O p a r t i d o c o n s e r v a d o r ngarra-sc á velha carta
c o n s t i t u c i o n a l , m i r a n d o a i m r a o b i h d a d c sccial, d e s - syphilis e gangrenas imperiaes.
prezando a s innovações b e n e f i c a s dos h o m e n s s u - E n e m nos digão q u e n ã o vêm o a b s o l u t i s m o
periores, e o q u e m a i s é, d e s c o n h e c e n d o ou d a n d o no Brasil. Não vêm ; é n a t u r a l . Elle esconde-se
por d e s c o n h e c i d a a lei h i s t ó r i c a , q u e , s u r d a aos cla-
mysteriosamente. E u quero o d e s p o t i s m o d e Ale-
mores e g e m i d o s dos q u e c a b e m , traça s e r e n a m e n t e
a rota do p r o g r e d i r de cada nação. x a n d r e d a R u s s a , expondo l e a l m e n t e as podridões
do seu g o v e r n o , e não o de P e d r o II, d i c t a n d o ao
Os s e u s p r i n c í p i o s m a n i f e s t a m e n t e o p p o s t o s ao
a s p i r a r m o d e r n o , a i l l i b e r a l i d a d e de s u a s idéas, o gabinete as r a i a s d a futura constituinte. Quero
t e m o r de a r r o j a r a v i s t a p a r a horizontes i n f i n i t o s , Nero i n c e n d i a n d o Roma, e não Bismark o p p r i m i n d o
o acanhamento das doutrinas, tudo emfim, neste os p r o l e t á r i o s .
p a r t i d o , a t é os proprios h o m e n s q u e representam a F e l i z m e n t e para n ó s , os republicanos, o i n i m i g o
idéa, c o a d u n a - s e a d m i r a v e l m e n t e com a vontade d o
d a p a t r i a e s t á já d e s m a s c a r a d o .
Imperador.
Deste partido, p o r t a n t o , é inútil esperar a s u b - C u m p r e - n o s avançar.
missão d a Coròa.
Os conservadores t e m m e d o de d a r u m passo
p a r a a l i b e r d a d e , m a i s por bajulação ao Monarcha do
II 40 A EVOLUÇÃO

terra firme, j á Frei Henrique profanava a natureza


Sublata causa lotiiivr effect* s. americana com uma missa, em 26 de Abril, e no dia
!• de Maio resava outra no continente; porquanto,
em 1549 com Thomé de Souza j á vinham seis jesuí-
I tas, e com Duarte da Costa mais avolumada legião,
em mira á cathechese do selvagem, que, segundo um
n escriptor de nota, só se converte pelo a m o r ; tercei-
Vi-se ; sente-se; percebe-se ; ha como que uma ro, o elemento im moral, perverso, composto de de-
|j onda fatal de marasmo a assoberbar a nova geração gradados. réprobos de uma sociedade, gente sem lei
II brasileira. n-ím fé. Só um naufragio, ou uma excepção capri-
chosa, pois que a fiôr da mocidade e os homens de
Não só na historia, não só na ethnographia, i
bem iam para as índias, podia trazer almas honradas
I como na eduoçío. costumes e ei rcu instancias cli- para a nova terra da Vcra-Cruz.
I Histéricas e telluricas patrias, tenho para mim que
Ora, d'estes dois factores : — indolência e selva-
1 pode o observador estudioso achar as causas da si-
geria de uma raça — civilisação gasta e viciada de
ll tuacão mórbida e anormal porque passamos.
outra — só podia sahir esta resultante : — a m a gera-
Ou o resultado de intemperies que o desviassem ção precocemente cansada.
>! da rota desejada, ou, após a fuga da costa africana,
E ahi não pára o mal, entretanto. Em 1551, com
afim de evitar as calmarias, as poderosas correntes a vinda do mísero bispo Pero Sardinha ao Brazil, e
oceanicas, ou um desígnio firmado, como pensam sua cohorte de sotaina, introduziu-se o braço esc a-
poucos, o certo é que Pedro Alvares, nos mostrando vo. A lavoura requisitava-o; e o germen da nossa
aos olhos do mundo, considerou-nos apenas uma desgraça foi alli semeado com a friez do indiffe-
I sorpreza, um accaso, um louro de mais para sua p a - rentismo.
t h s , quando não uma fonte onde noras riquezas A ethnographia demonstrou que, deitada mesmo
haurisse. Grande era Portugal, mas chegado j á , de- á margem a theo ria da unidade ou não da raça hu-
I pois das lutas com o mar em busca de terras, ao mana e a theoria do angulo facial, a raça ethiopica
ápice da montanha da Gloria, que também f a t i g a . approxima-se da animalidade irracional, a mongolica
Não contava comnosco: por isso agrilhoou-nos pri- fixa o mrzzo termine conciliador, e a caucasica possue
meiro e desprezou-nos depois. o dom perceptivo no grão máximo. Mas a percepção
má e a percepção do mal, para o seguir, é o erro : é
E, como quer que a raça indígena tivesse vindo
o que não é. A raça caucasica que vinha ao Brazil
do Septentrião, ou d a l é m dos Andes, do P e r ú ; ou do era d e g e n e r a d a ; a que existia, inculta. Pensai na
Paraguay, ou mesmo da Patagonia; o que parece influencia de um homem intelligente e mais ou me-
provado é : I o que a emigração operou-se no sentido nos instruído sobre outro intelligente e ignorante.
do Norte para o S u l ; 2* que, ou fossem cem, ou qua- Ajuntai o contacto com o n e g r o : brutal, estúpido,
trocentas, segundo outros, as nações indígenas que incapaz de perceber u m só raio civilisador.
habitavam o paiz, havia duas ramificações princi-
Logo, o poder crescente dos governadores, que fa-
paes: Tapuyas e Tupgs; 3 o que a raça lapy (e Gon-
ziam das capitanias feudos, servilizando o povo; a
çalves Dias sustenta-o) era a ultima ou a única con-
escravisação do gentio pelo colono, sempre lilho da
quistadora; 4* que habitava o littoral, e vivia da pes-
ralé; a raça negra desenvolvida e aviltada, o systhe-
ca, havendo, depois de luctas successivas, desterrado
o lapii'ju, com quem não consentia liame, para o in- ma monarchico absoluto, tão inoculado na geração
terior ; 5* que era menos cruel, mais nobre, e menos patria que ainda hoje raro se apontam os sãos carac-
barbara; 6*, finalmente, postas de lado minúcias, teres republicanos : não é licito dar tudo isso como
que tinha accentos indeeizos da raça caucasica, em causa primaria dos males que S)ffremos, não curados
quanto que a tapuya era de todo oriunda da mongo- ainda ?
lica. F, o espirito geral de todo o gentio brazileiro E notai: a primeira geração estrangeira que pi-
era a ferocidade, a igaorancia, a aathropophagia, a sou aquelle sólo americano do Norte era composta
indolência, de leve abalada pelo espirito bellico, que de puritanos, homens de caracter e brio que não po-
outra cousa não era senão o instincto de rapina.
diam soffrer as tyrannias de Carlos I ; a primeira
Do outro lado, Portugal nos inoculou todos os raça que pisa o solo brazileiro ó de condemnados,
prejuízos de sua civilisação, e todos os erros de seu avarentos, jesuítas e déspotas.
•trazo. De facto, plantou em nossa organisação : pri- Que geneze f a t a l !
meiro, o elemento monarchico, levado ao despotis- E que fatal immiscuição !
mo, na pessoa de governadores, possuindo alçada
SILVA JARDIM.
sobre o eivei e o crime, e poder absoluto sobre o gen-
tio, soph is mando a authoridade ; segundo, o elemen- |
to religioso, theocratico, por quanto, não ainda em Typ. da Tribuna Liberal.

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