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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

Centro de Filosofia e Ciências Humanas


Departamento Antropologia
ANT 7701 Estudos Afro-Brasileiros (2020/2)
Profª Flavia Medeiros
Graduanda: Luiza Lese Pereira

Tereza de Benguela

Tereza de Benguela foi uma líder


quilombola que viveu no século XVIII no
Vale do Guaporé, no Mato Grosso.
Governou o Quilombo do Quariterê
entre os anos de 1750 e 1770, após a
morte do seu companheiro José Piolho,
fundador e líder do quilombo na década
de 1740. A matriarca ficou conhecida
como “Rainha Tereza”. É uma das
principais personagens do cenário de
resistência e de luta mato-grossense. [1]

Ilustração do Século XIX adotada por organizações


do movimento negro para Tereza de Benguela.
(Fonte: Wikimedia Commons)

Biografia

Tereza de Benguela vivia no Quilombo do Quariterê ou do Piolho junto com seu companheiro, o
líder quilombola José Piolho. Dados históricos se mostram incertos quanto a data e o local de seu
nascimento. Alguns registros referem-se a ela como uma africana de Angola, embarcada no Porto
de Benguela. Porém, não há consenso entre historiadores. [1]

De acordo com o Anal de Vila Bela de 1770, principal fonte sobre a vida no Quariterê, Tereza era
uma escravizada fugida do capitão Timóteo Pereira Gomes. [3]

Quilombo de Quariterê
De localização exata incerta, o Quilombo de Quariterê ou do Piolho encontrava-se na região do
[2]
Vale do Guaporé, em Vila Bela. Foi fundado por José Piolho, na década de 1740, que adotou a
realeza como forma de governo. [2][4]

Era um quilombo multiétnico. Abrigava negras e negros nascidos em África ou no Brasil que
vinham fugidos das minas de ouro e das fazendas, indígenas que fugiam de trabalhos forçados,
brancos e mestiços. [1]

Administração
Durante seu governo, Tereza criou um tipo diferente de parlamento e reforçou a defesa do
quilombo com armas adquiridas através de trocas ou espólios de conflitos.[5]

Economia
Nas terras do quilombo, cultivava-se principalmente milho, feijão, mandioca, banana e algodão,
[1][5]
utilizado na fabricação de tecidos e vestimentas, que podiam ser comercializados Também
tinham forjas, transformando objetos de ferro em instrumentos de trabalho. [3]

Conflitos e Decadência
Em 1770, autoridades coloniais organizaram uma bandeira para destruir o Quilombo do Quariterê.
Em 27 de junho, a expedição partiu da cidade de Vila Bela com cerca de trinta homens sob o
comando do bandeirante João Leme de Prado, chegando ao quilombo em 22 de julho. [4] O ataque
pegou os quilombolas de surpresa. Houve resistência liderada por Tereza, porém, não foi
suficiente, resultando em mortes e fuga, além da captura de cerca de 79 quilombolas e 30
indígenas.[1]

Os quilombolas que conseguiram fugir, tentaram reerguer o Quilombo. Porém, em 1791, houve
[1][4]
outro ataque liderado por Francisco Pedro de Melo, levando o quilombo ao fim. No local,
[4]
fundou-se a Aldeia Carlota.

Morte

Uma das pessoas capturadas pela bandeira de João Leme de Prado, em 1770, foi Tereza de
Benguela que, segundo documentos da época, foi

Posta em uma prisão, à vista de todos aqueles a quem governou naquele reino, lhe diziam
estes, palavras injuriosas, de forma que, envergonhada, se pôs muda ou, para melhor dizer
amuada. Em poucos dias expirou de pasmo. Morta ela, se lhe cortou a cabeça e se pôs no
meio da praça daquele quilombo, em um alto poste onde ficou para memória e exemplo dos
[4]
que a vissem. - Anal de Vila Bela do ano de 1770

Homenagens
Atualmente, Tereza é reconhecida e homenageada através de escolas que levam seu nome, como
a Emeb Tereza de Benguela, em Cuiabá-MT. Ela também vem inspirando teses e contos de
[1]
cordéis, sendo um dos mais conhecidos o Heroínas Negras Brasileiras, de Jarid Arraes (2017).

Em 1994, a escola de samba Unidos do Viradouro (RJ) homenageou-a com o enredo “Tereza de
Benguela - uma Rainha Negra do Pantanal”, ficando em 3º lugar no Carnaval do Rio de Janeiro.
Já em 2020, o sambódromo de São Paulo a representa com o samba-enredo “Benguela… A
barroca clama a ti, Tereza”, da escola de samba Barroca Zona Sul - SP. [3]

Dia Nacional de Tereza de Benguela

Tereza de Benguela tornou-se reconhecida nacionalmente em 2014, após a instituição da Lei nº


12.987, de 2 de junho de 2014, que decreta o dia 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de
Benguela e da Mulher Negra.[1][3][5]

Referências

1. LACERDA, Thays de Campos. TEREZA DE BENGUELA: IDENTIDADE E REPRESENTATIVIDADE


NEGRA. Revista de Estudos Acadêmicos de Letras, v. 12, n. 2, p. 89-96, 2019. Disponível em:
https://periodicos.unemat.br/index.php/reacl/article/view/4113/3284. Acesso em: 02 de abril de 2021.
2. NUNES, Dimalice. Teresa de Benguela: a heroica Rainha do quilombo Quariterê. Aventuras na
História. 2019. Disponível em:
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-consciencia-negra-teresa-de-benguel
a.phtml. Acesso em: 02 de abril de 2021.
3. WIKIPÉDIA. Tereza de Benguela. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation,
2020. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tereza_de_Benguela. Acesso em: 02 de abril de
2021.
4. DA SILVA, Mabel Strobel Moreira; DA COSTA, Anna Maria Ribeiro FM; COENGA, Rosemar Eurico.
LITERATURA AFRO-BRASILEIRA: MULTICULTURALISMO NA ESCOLA ESTADUAL QUILOMBOLA
REUNIDAS DE CACHOEIRA RICA. Revista Baquara, v. 1, n. 01, p. 111-131, 2019.
5. ASCOM. Tereza de Benguela, a Rainha Tereza. Fundação Cultural Palmares. 2017. Disponível em:
http://www.palmares.gov.br/?p=46450. Acesso em: 02 de abril de 2021.

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