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23 e 24

Forma Quadrática e Equação


do Segundo Grau em R3
Sumário
23.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

23.2 Autovalores e Autovetores de uma matriz 3×3 . . 2

23.3 Mudança de Coordenadas no Espaço . . . . . . . . 7

23.4 Formas Quadráticas em R3 . . . . . . . . . . . . . . 14

23.5 Equação Geral do Segundo Grau em R3 . . . . . . . 21

23.6 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

1
Unidades 23 e 24 Introdução

23.1 Introdução

Seja f : R3 → R uma função real em três variáveis. A superfície de nível


c de f é o conjunto dos pontos P = (x, y, z) ∈ R3 tais que f (x, y, z) = c,
onde c ∈ R .
Nosso objetivo, neste capítulo, é mostrar que as superfícies de nível de uma
função quadrática em três variáveis,
f (x, y, z) = Ax2 + By 2 + Cz 2 + Dxy + Exz + F yz + Gx + Hy + Iz + J ,
são as quádricas ou as quádricas degeneradas apresentadas no Capítulo 21.
Estudaremos primeiro o caso em que G = H = I = J = 0, isto é, quando
f (x, y, z) = Ax2 + By 2 + Cz 2 + Dxy + Exz + F yz ,
é uma forma quadrática em três variáveis.

23.2 Autovalores e Autovetores de uma ma-


triz 3×3

Vamos generalizar, para matrizes 3 × 3, alguns conceitos e resultados vistos


para matrizes 2 × 2 no Capítulo 8.
Sejam →−
u = (x, y, z) um vetor
 em R e umamatriz real do tipo 3 × 3
3

a11 a12 a13


A = a21 a22 a23  .
 

a31 a32 a33


Denimos A→ −
u como sendo o vetor


A u = (a x + a y + a z, a x + a y + a z, a x + a y + a z) .
11 12 13 21 22 23 31 32 33

É fácil vericar que

A(→

u +→

v ) = A→

u + A→

v e A(λ→

u ) = λA→

u (23.1)

para quaisquer vetores →



u e→

v em R3 e escalar λ em R.
Um número real λ é um autovalor da matriz A se existir um vetor →

u não

− →
− →

nulo de R tal que A u = λ u . E um vetor v = (x, y, z) é um autovetor
3

2
Forma Quadrática e Equação do Segundo Grau em R 3
Unidades 23 e 24

relativo ao autovalor λ se A→

v = λ→

v , ou seja, quando

 a11 x + a12 y + a13 z = λx

a21 x + a22 y + a23 z = λy

a31 x + a32 y + a33 z = λz


 (λ − a11 )x − a12 y − a13 z = 0

⇐⇒ −a21 x + (λ − a22 )y − a23 z = 0 (23.2)

−a31 x − a32 y + (λ − a33 )z = 0

Portanto, λ é um autovalor da matriz A se, e somente se, o sistema (23.2)


tem uma solução (x, y, z) não trivial (isto é, (x, y, z) 6= (0, 0, 0)) . Mas pela
Observação 4 do Capítulo 18, o sistema (23.2) tem uma solução não trivial se,
e só se,  
λ − a11 −a12 −a13
det  −a21 λ − a22 −a23  = 0 .
 

−a31 −a32 λ − a33


Por denição, o polinômioreal de grau 3 
λ − a11 −a12 −a13
p(λ) = det  −a21 λ − a22 −a23 
 

−a31 −a32 λ − a33


é o polinômio característico da matriz A. Assim, os autovalores de A são
as raízes reais da equação característica p(λ) = 0 .
Como p é um polinômio com coecientes reais de grau 3 e, portanto, de
grau ímpar, a equação p(λ) = 0 possui pelo menos uma raiz real. As outras
duas raízes são reais ou complexas conjugadas.
Provaremos na seção 4, Teorema 5, que se A é uma matriz real simétrica
do tipo 3 × 3, isto é, se A é igual a sua transposta A> , então todas as raízes
de sua equação característica são reais.

Se →

u e →

v são autovetores relativos ao autovalor λ de uma matriz A, Proposição 1
então α u + β →

− −
v é também um autovetor relativo ao autovalor λ, para todos
α, β ∈ R .

De fato, por (23.1), Demonstração


A(α→−
u + β→ −
v ) = A(α→−
u ) + A(β →−
v ) = αA→−u + βA→−
v

− →
− →
− →

= α(λ u ) + β(λ v ) = λ(α u + β v ) .

3
Unidades 23 e 24 Autovalores e Autovetores de uma matriz 3 × 3

Na linguagem de Álgebra Linear, isto signica que o conjunto dos autoval-


ores relativos ao autovalor λ,
{→

u ∈ R3 ; A(→

u ) = λ→ −
u },
é um subespaço vetorial do espaço vetorial R3 .

Exemplo 1 Encontre os autovalores e os respectivos autovetores da matriz:


 
1 2 0
(a) A = 3 0 0 .
 

0 0 1
Solução. O polinômio característico
 da matriz A é 
λ − 1 −2 0
p(λ) = det  −3 λ 0 
 

0 0 λ−1
= (λ − 1)(λ(λ − 1) − 6)
= (λ − 1)(λ2 − λ − 6) .
Portanto, como o discriminante da equação do segundo grau λ2 − λ − 6 é
negativo (∆ = −23), a equação característica p(λ) = 0 só possui λ = 1 como
raiz real. Assim, λ = 1 é o único autovalor da matriz A.
Um vetor → −
u = (x, y, z) é um autovetor relativo ao autovalor λ = 1 se, e
só se, (x,
 y, z) é uma solução do sistema

 (λ − 1)x − 2y = 0
  −2y = 0

−3x + λy = 0 ⇐⇒ −3x + y = 0 ⇐⇒ x = y = 0 .
 
(λ − 1)z = 0 0·z =0
 

Ou seja, →−
u = (0, 0, z) ; z ∈ R, são os autovalores de A relativos ao autovalor
λ = 1.
 
3 1 −1
(b) B = 2 2 −1 .
 

2 2 0

Solução. O polinômio característico da matriz B é

4
Forma Quadrática e Equação do Segundo Grau em R 3
Unidades 23 e 24

 
λ − 3 −1 1
p(λ) = det  −2 λ − 2 1 
 

−2 −2 λ
= (λ − 3)(λ(λ − 2) + 2) + (−2λ + 2) + (4 + 2(λ − 2))
= (λ − 3)(λ2 − 2λ + 2) + 2
= λ3 − 5λ2 + 8λ − 4 .
Testando os divisores do termo independente −4, é fácil vericar que p(1) =
p(2) = 0 . E, dividindo o polinômio p(λ) pelo polinômio (λ−1)(λ−2), obtemos,
como quociente, o polinômio λ − 2, ou seja,
p(λ) = (λ − 1)(λ − 2)2 .
Portanto, λ1 = 1 e λ2 = 2 são os autovalores da matriz B.
Um vetor − u→
1 = (x, y, z) é um autovetor de B relativo ao autovalor λ1 = 1
se, e só se,  


 (λ 1 − 3)x − y + z = 0  −2x − y + z = 0


−2x + (λ1 − 2)y + z = 0 ⇐⇒ −2x − y + z = 0

 

 −2x − 2y + λ z = 0  −2x − 2y + z = 0
1
(
−2x − y + z = 0
⇐⇒ ⇐⇒ y = 0 e z = 2x .
2x + 2y − z = 0
Ou seja, −u→
1 = (x, 0, 2x) ; x ∈ R, são os autovetores de B relativos ao autovalor
λ1 = 1 .
E um vetor −u→ = (x, y, z) é um autovetor de B relativo ao autovalor λ = 2
2 2
se, e só se,  
 (λ2 − 3)x − y + z = 0
  −x − y + z = 0

−2x + (λ2 − 2)y + z = 0 ⇐⇒ −2x + z = 0
 
( −2x − 2y + λ2 z = 0 −2x − 2y + 2z = 0
 

−2x + z = 0
⇐⇒ ⇐⇒ z = 2y e x = y .
2x + 2y − 2z = 0
Então, −u→2 = (y, y, 2y) ; y ∈ R, são os autovetores de B relativos ao autovalor
λ2 = 2 .
Observe, neste exemplo, que se os vetores − u→ −→
1 e u2 não são nulos, então

u→ e − u→ não são ortogonais. Veremos, na Proposição 4, que isto não ocorre
1 2
quando a matriz é simétrica. Observe também que apesar de λ2 = 2 ser uma
raiz de multiplicidade dois da equação p(λ) = (λ − 1)(λ − 2)2 = 0, não existe
um par de autovetores não múltiplos relativos ao autovalor λ2 = 2 . Provaremos

5
Unidades 23 e 24 Autovalores e Autovetores de uma matriz 3 × 3

na Proposição 6, que isto também não ocorre quando a matriz é simétrica.

Proposição 2 Seja A uma matriz real do tipo 3 × 3 . Então,


hA→−
u ,→

v i = h→

u , A> →

v i,

− →

para quaisquer vetores u e v em R3 , onde A> é a matriz transposta da matriz
A.

Demonstração Consideremos os vetores →−


u = (x1 , y1 , z1 ) e →−v = (x2 , y2 , z2 ) e a matriz
 
a11 a12 a13
A = a21 a22 a23  .
 

a31 a32 a33


Então,
hA→−
u ,→−
v i = h(a11 x1 + a12 y1 + a13 z1 , a21 x1 + a22 y1 + a23 z1 ,
a31 x1 + a32 y1 + a33 z1 ), (x2 , y2 , z2 )i
= (a11 x1 + a12 y1 + a13 z1 )x2 + (a21 x1 + a22 y1 + a23 z1 )y2
+(a31 x1 + a32 y1 + a33 z1 )z2
= x1 (a11 x2 + a21 y2 + a31 z2 ) + y1 (a12 x2 + a22 y2 + a32 z2 )
+z1 (a13 x2 + a23 y2 + a33 z2 )
= h→ −
u , A> →
−v i.

Observação 3 No caso particular em que a matriz A é simétrica,


hA→

u ,→−
v i = h→

u , A→

v i

− →

para quaisquer vetores u e v em R .3

Proposição 4 Autovetores relativos a autovalores distintos de uma matriz A simétrica


real do tipo 3 × 3 são ortogonais.

Demonstração Sejam λ1 e λ2 dois autovalores distintos da matriz A e − u→ −→


1 e u2 autovetores
relativos aos autovalores λ1 e λ2 , respectivamente. Temos, pela Observação 3,
que
hA− u→ −→ −→ −→
1 , u2 i = hu1 , Au2 i
⇐⇒ λ1 h− u→ −→ −→ −→
1 , u2 i = λ2 hu1 , u2 i
⇐⇒ (λ1 − λ2 )h− u→ −→
1 , u2 i = 0 .

6
Forma Quadrática e Equação do Segundo Grau em R 3
Unidades 23 e 24

Logo, h−
u→ −→
1 , u2 i = 0, pois, por hipótese, λ1 − λ2 6= 0 .

23.3 Mudança de Coordenadas no Espaço

Dado um problema geométrico, que não envolve um sistema de eixos, pode-


mos escolher um para resolvê-lo analiticamente (ver Exemplo 3 do Capítulo 13).
Por outro lado, dado um problema num Z
sistema de eixos OXY Z , às vezes é con-
veniente escolher um novo sistema O X Y Z z−
e→
3

mais adaptado às circunstâncias. Temos de


P
saber, então, como obter as coordenadas x, y x−
e→
1
O
e z de um ponto no sistema O X Y Z , con- y−
e→
2
X
hecendo as coordenadas x, y e z no sistema
OXY Z . Y
Sejam x, y e z as coordenadas de um ponto P
Figura 23.1: Ponto OXY Z
no sistema

P no sistema OXY Z e − e→ −
→ −

1 = (1, 0, 0), e2 = (0, 1, 0), e3 = (0, 0, 1) os vetores
unitários na mesma direção e sentido dos eixos OX, OY e OZ , respectiva-
−−→
mente. Então, OP = x− e→ −
→ −
→ −
→ − → −
1 + y e2 + z e3 . Observe que, sendo e1 , e2 e e3

−−→ −−→ −−→
ortonormais, x−e→
1 = Proj−

e→
1
OP , y −
e→
2 = Proj−

e→
2
OP e z − e→
3 = Proj−

e→
3
OP .
Sejam O X Y Z um outro sistema de eixos Z
ortogonais e −
v→ −
→ − →
1 , v2 , v3 os vetores ortonor-
mais na mesma direção e sentido dos eixos z−
v→
3

O X , O Y e O Z , respectivamente. Como P
os vetores −
v→ −
→ − →
1 , v2 e v3 são LI, para todo
y−
v→
O 2
ponto P do espaço, existe um único terno x−
v→
1
Y
de números reais (x, y, z) tal que X
−−→ Figura 23.2: Ponto P no sistema OXY Z
OP = x −
v→ −
→ −

1 + y v2 + z v3 .

−−→ − −−→ −−→


Sendo x −v→
1 = Projv

1

−→ OP , y v2 = Projv

2


−→ OP e z v3 = Projv−→ OP , temos

3

que x, y e z são as coordenadas do ponto P no sistema O X Y Z .


Sejam (x0 , y0 , z0 ) as coordenadas da nova origem O no sistema OXY Z ,
−−→ −−→ −−→ −−→
ou seja, OO = x − e→ + y −
0 1 e→ + z −
0 2 e→ . Como OP = OO + OP , segue que
0 3

7
Unidades 23 e 24 Mudança de Coordenadas no Espaço

−−→ −−→ −−→


OP = OP − OO . Logo,

x−
v→ −
→ −
→ −
→ −
→ −

1 + y v2 + z v3 = (x − x0 )e1 + (y − y0 )e2 + (z − z0 )e3 . (23.3)
Z
Z
−→
v3

v→
2

O Y
− −
v→
e→
3 1

− O
e→
1

e→
2

X Y
Figura 23.3: Sistemas OXY Z e OXY Z

Fazendo o produto interno de ambos os membros desta identidade por



v1 , −
→ v→ −→
2 e v3 , obtemos, respectivamente, as equações de x, y e z em função
das coordenadas x, y e z :
−→ − → −→ − → −→ − →

 x = (x − x0 )he1 , v1 i + (y − y0 )he2 , v1 i + (z − z0 )he3 , v1 i

y = (x − x0 )h−
e→ −→ −→ − → −→ − →
1 , v2 i + (y − y0 )he2 , v2 i + (z − z0 )he3 , v2 i
z = (x − x )h−e→, −v→i + (y − y )h− e→, −v→i + (z − z )h− e→, −v→i .


0 1 3 0 2 3 0 3 3

Se (ai , bi , ci ) são as coordenadas do vetor −


v→
i , i = 1, 2, 3, com respeito ao
−→ −→
terno ortonormal e1 , e2 e e3 , −→


v→ −→ −→ −→
1 = a1 e1 + b1 e2 + c1 e3

v→ = a −e→ + b −e→ + c −e→ (23.4)
2 2 1 2 2 2 3

v→ −
→ −
→ −

3 = a3 e1 + b3 e2 + c3 e3

então ai = h− v→ −
→ −
→ − → −
→ − →
i , e1 i, bi = hvi , e2 i e ci = hvi , e3 i para todo i = 1, 2, 3 .
Assim, as equações de mudança das coordenadas x, y e z para as coordenadas
x, y e z são:

 x = a1 (x − x0 ) + b1 (y − y0 ) + c1 (z − z0 )

y = a2 (x − x0 ) + b2 (y − y0 ) + c3 (z − z0 ) (23.5)

z = a3 (x − x0 ) + b3 (y − y0 ) + c3 (z − z0 ) .

8
Forma Quadrática e Equação do Segundo Grau em R 3
Unidades 23 e 24

Se, por outro lado, (mi , ni , pi ) são as coordenadas do vetor −


e→
i com respeito
−→ −→ −
ao terno ortogonal v1 v2 e v3 ,→


e→ −→ −→ −→
1 = m1 v1 + n1 v2 + p1 v3

e→ = m −v→ + n −v→ + p −v→ (23.6)
2 2 1 2 2 2 3

e→ −
→ −
→ −

3 = m3 v1 + n3 v2 + p3 v3

obtemos, tomando o produto interno de ambos os membros das igualdades


acima por − v→ −
→ − → −
→ − → −
→ − → −
→ − →
1 , v2 e v3 , que mi = hei , v1 i, ni = hei , v2 i e pi = hei , v3 i,
i = 1, 2, 3 . Ou seja,

m 1 = a1 , n 1 = a2 , p 1 = a3
m 2 = b1 , n 2 = b2 , p 2 = b 3 (23.7)
m3 = c1 , n3 = c2 , p3 = c3 .

Logo, por (23.6),



e→ −→ −
→ −

1 = a1 v1 + a2 v2 + a3 v3

e→ −→ −→ −→ . (23.8)
2 = b1 v1 + b2 v2 + b3 v3

e→ = c −v→ + c −v→ + c −v→
3 1 1 2 2 3 3

Tomando agora o produto interno da identidade (23.3) por − e→


i , i = 1, 2, 3,
obtemos, respectivamente, que:

→ − → −→ − → −→ − →

 x − x0 = x hv1 , e1 i + y hv2 , e1 i + z hv3 , e1 i

y − y0 = x h−v→ −
→ −→ − → −→ − →
1 , e2 i + y hv2 , e2 i + z hv3 , e2 i .
z − z0 = x h−v→ −
→ −
→ − → −
→ − →

1 , e3 i + y hv2 , e3 i + z hv3 , e3 i

Então, por (23.8), as equações de mudanças das coordenadas x, y e z para as


coordenadas x, y e z são:

 x = a1 x + a2 y + a3 z + x 0

y = b1 x + b2 y + b3 z + y 0 . (23.9)

z = c1 x + c2 y + c3 z + z0

Na linguagem matricial, as equações (23.5) e (23.9) podem ser escritas na


forma
(x, y, z) = B(x − x0 , y − y0 , z − z0 )
e
(x, y, z) = B > (x, y, z) + (x0 , y0 , z0 ) ,

9
Unidades 23 e 24 Mudança de Coordenadas no Espaço
 
a1 b 1 c 1
onde B = a2 b2 c2  é a matriz de passagem do sistema OXY Z para o
 

a3 b 3 c 3
 
a1 a2 a3
sistema O X Y Z , enquanto B> =  b1 b2 b3  é a matriz de passagem
 

c1 c2 c3
do sistema O X Y Z para o sistema OXY Z .
Como os ternos {− e→ −
→ − → −
→ − → − →
1 , e2 , e3 } e {v1 , v2 , v3 } são ortonormais, segue, pelas
equações (23.4) e (23.8), que os vetores linha e os vetores coluna da matriz B
são vetores unitários mutuamente ortogonais. Ou seja, a matriz B é ortogonal:
BB > = B > B = I .
E, na linguagem vetorial, as equações (23.5) e (23.9) são escritas, respecti-
vamente, na forma

(x, y, z) = (x − x0 )−
w→ −→ −→
1 + (y − y0 )w2 + (z − z0 )w3 (23.10)

e
(x − x0 , y − y0 , z − z0 ) = x −
v→ −
→ −

1 + y v2 + z v3 , (23.11)
onde −w→ −→ −→
1 = (a1 , a2 , a3 ), w2 = (b1 , b2 , b3 ) e w3 = (c1 , c2 , c3 ) são os vetores
coluna e −v→ −
→ −

1 = (a1 , b1 , c1 ), v2 = (a2 , b2 , c2 ) e v3 = (a3 , b3 , c3 ) são os vetores
linha da matriz B .
No caso em que O = O, as equações de mudança de coordenadas (23.5) e
(23.9) são dadas, respectivamente, pelas equações (23.12) e (23.13) abaixo:
Z

 x = a1 x + b 1 y + c 1 z

Z
y = a2 x + b 2 y + c 2 z (23.12)

e→

z = a3 x + b 3 y + c 3 z
 3

v→
−→ 3
e X
v 1
−→
e2
→O

 x = a1 x + a2 y + a3 z
 e−1

v→
(23.13)
2
y = b1 x + b2 y + b3 z
 X Y
z = c1 x + c2 y + c3 z

Y
Dizemos que o sistema OX Y Z é uma ro-
OXY Z
Figura 23.4: rotação do

tação do sistema OXY Z em torno da origem. OXY Z sistema em torno da origem

E no caso em que −
v→ −
→ − → − → − → − →
1 = e1 , v2 = e2 e v3 = e3 , isto é, quando os eixos
O X, O Y e O Z têm a mesma direção e mesmo sentido dos eixos OX, OY e

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Forma Quadrática e Equação do Segundo Grau em R 3
Unidades 23 e 24

OZ , respectivamente, as equações de mudança de coordenadas (23.5) e (23.9)


são, respectivamente,
 Z
 x = x − x0

y = y − y0
 Z
z = z − z0

e  −→
v3

 x = x + x 0
y = y + y0 . − −
v→
v→
1 2
 −
e3→ O
z = z + z0

Y
Dizemos, então, que o siste- −→
e1
X
O −
ma O X Y Z é uma translação e→
2 Y
X
do sistema OXY Z para a nova
OXY Z
Figura 23.5: OXY Z
translação do sistema
origem O = (x0 , y0 , z0 ) .

2 2 1 2 1 2 Exemplo 2


Considere o terno ordenado v1 = , , −

, v2 = ,− ,− −→
e v3 =
 1 2 2 3 3 3 3 3 3
− , , − de vetores ortonormais, o sistema O X Y Z tal que O = (1, −1, 2)
3 3 3
e os eixos O X, O Y e O Z têm a mesma direção e o mesmo sentido dos vetores

v→ −
→ − →
1 , v2 e v3 , respectivamente.

Seja o ponto P = (4, 2, −1) e o plano π : −x + 2y − 2z = 2 no sistema


OXY Z . Determine as coordenadas do ponto P e a equação do plano π no
sistema O X Y Z . E se Q = (4, 2, −1) e α : −x + 2y − 2z = 2 são o ponto Q
e o plano α no sistema O X Y Z , obtenha as coordenadas de Q e a equação
de α no sistema O X Y Z .

Solução. Como P = (x, y, z) = (4, 2, −1), O = (x0 , y0 , z0 ) = (1, −1, 2),



w1 = (2/3, 2/3, −1/3), −
→ w→ −→
2 = (2/3, −1/3, 2/3) e w3 = (1/3, −2/3, −2/3),
temos, por (23.10), que
(x, y, z) = (4 − 1)−
w→ −→
1 + (2 + 1)w2 + (−1 − 2)w3
−→
2 2 1 2 1 2 1 2 2
⇐⇒ (x, y, z) = 3 , , − + 3 , − , − 3 ,− ,−
3 3 3 3 3 3 3 3 3
⇐⇒ (x, y, z) = (2, 2, −1) + (2, −1, 2) − (1, −2, −2)
⇐⇒ (x, y, z) = (3, 3, 3)
são as coordenadas do ponto P no sistema O X Y Z . E sendo π : h(x, y, z),
(−1, 2, −2)i = 2, obtemos, por (23.11), que

11
Unidades 23 e 24 Mudança de Coordenadas no Espaço

π : h(x −
v→ −
→ −

1 + y v2 + z v3 ) + (x0 , y0 , z0 ), (−1, 2, −2)i = 2

⇐⇒ π : xh−
v→ −
→ −

1 , (−1, 2, −2)i + yhv2 , (−1, 2, −2)i + zhv3 , (−1, 2, −2)i

+h(x0 , y0 , z0 ), (−1, 2, −2)i = 2


2 2 1 2 1 2
⇐⇒ π : xh , , , (−1, 2, −2)i + yh , − , − , (−1, 2, −2)i
3 3 3 3 3 3
 1 2 2
+zh − , , − , (−1, 2, −2)i + h(1, −1, 2), (−1, 2, −2)i = 2
3 3 3
9
⇐⇒ π : z − 7 = 2 ⇐⇒ π : z = 3
3
é um plano horizontal no sistema O X Y Z .
Por outro lado, se Q = (x, y, z) = (4, 2, −1), segue, por (23.11), que
(x, y, z) = 4 −
v→ + 2 −
1 v→ − −
2 v→ + (1, −1, 2)
3
2 2 1 2 1 2  1 2 2
⇐⇒ (x, y, z) = 4 , , + 2 , − , − − − , , − + (1, −1, 2)
3 3 3 3 3 3 3 3 3
8 8 4 4 2 4 1 2 2
⇐⇒ (x, y, z) = , , + ,− ,− + ,− , + (1, −1, 2)
3 3 3 3 3 3 3 3 3
 13 4 2 
⇐⇒ (x, y, z) = , , + (1, −1, 2)
3 3 3
 16 1 8 
⇐⇒ (x, y, z) = , ,
3 3 3
são as coordenadas do ponto Q no sistema OXY Z . E, como α : h(x, y, z), (−1, 2, −2)i =
2, temos, por (23.10), que:
h(x − 1)−
w→ + (y + 1)−
1 w→ + (z − 2)−
2 w→, (−1, 2, −2)i = 2
3

⇐⇒ (x − 1)h−
w→ −→
1 , (−1, 2, −2)i + (y + 1)hw2 , (−1, 2, −2)i

+(z − 2)h−
w→
3 , (−1, 2, −2)i = 2

(x − 1) (y + 1)
⇐⇒ h(2, 2, −1), (−1, 2, −2)i + h(2, −1, 2), (−1, 2, −2)i
3 3
(z − 2)
+ h(1, −2, −2), (−1, 2, −2)i = 2
3
4 8 (z − 2)
⇐⇒ (x − 1) − (y + 1) − =2
3 3 3
4 8 2 10 16
⇐⇒ 4x − 8y − z = 2 + + − = 2 + =
3 3 3 3 3
é a equação do plano α no sistema OXY Z .

12
Forma Quadrática e Equação do Segundo Grau em R 3
Unidades 23 e 24

Seja π : ax + by + cz = d a equação cartesiana de um plano no sistema Exemplo 3


OXY Z . Fixando um ponto O = (x0 , y0 , z0 ) pertencente ao plano π , segue
que a equação de π nas coordenadas x, y e z do sistema O X Y Z , obtido
transladando o sistema OXY Z para a nova origem O, é dada por

a(x + x0 ) + b(y + y0 ) + c(z + z0 ) = d

⇐⇒ ax + by + cz = d − (ax0 + by0 + cz0 )

⇐⇒ ax + by + cz = 0 ,

pois, como O ∈ π , ax0 + by0 + cz0 = d .

(a, b, c)
Tomando −
v→
3 = √ 2 , vetor unitário normal ao plano π , −
v→
1 , um
a + b + c2
2
vetor unitário ortogonal qualquer ao vetor −
v→ −
→ −→ − →
3 , e v2 = v1 × v3 , temos que

v→ −
→ − →
1 , v2 e v3 é um terno ortonormal.

Consideremos o sistema de
eixos O X Y Z tal que os eixos Z
O X, O Y e O Z têm a mesma Y
direção e o mesmo sentido dos −
Z v→ −
v→
vetores −v→ −
→ − → 3
1 , v2 e v3 , respec-
2

tivamente. Se (x, y, z) e (x, y, z) O



v→
são as coordenadas de um ponto 1

P nos sistemas O X Y Z e e−

3 π
O X Y Z , respectivamente, segue,

e→ X
pela equação vetorial de mu- e−

1 O
2

dança de coordenadas, Y
(x, y, z) = x −v→ −→ −→
1 + y v2 + z v3 ,X
π OXY Z XY Z
que o ponto P pertence ao plano π se, e só se,
Figura 23.6: Plano nos sistemas e

ax + by + cz = 0 ⇐⇒ h(a, b, c), (x, y, z)i = 0



⇐⇒ h a2 + b2 + c2 −
v→ −
→ −
→ −→
3 , x v1 + y v2 + z v3 i = 0 ⇐⇒ z = 0 .

Assim, a equação z = 0 do plano π , no sistema O X Y Z , assume uma


forma extremamente simples.

13
Unidades 23 e 24 Formas Quadráticas em R 3

23.4 Formas Quadráticas em R3


Seja f : R3 → R a forma quadrática dada por

f (x, y, z) = Ax2 + By 2 + Cz 2 + Dxy + Exz + F yz , (23.14)

onde um dos coecientes A, B, C, D, E e F é diferente de zero. A matriz


simétrica real do tipo 3 × 3  
A D/2 E/2
A = D/2 B F/2 
 

E/2 F/2 C
é a matriz da forma quadrática f .
Temos:
f (x, y, z) = hA(x, y, z), (x, y, z)i . (23.15)
De fato:
hA(x, y, z), (x, y, z)i = h(Ax + (D/2)y + (E/2)z, (D/2)x + By
+(F/2)z, (E/2)x + (F/2)y + Cz), (x, y, z)i
= (Ax + (D/2)y + (E/2)z)x + ((D/2)x + By
+(F/2)z)y + ((E/2)x + (F/2)y + Cz)z
= Ax2 + (D/2)xy + (E/2)xz + (D/2)xy + By 2
+(F/2)yz + (E/2)xz + (F/2)yz + Cz 2
= Ax2 + By 2 + Cz 2 + Dxy + Exz + F yz
= f (x, y, z) .
Sejam λ1 um autovalor da matriz A e − v→1 um autovetor unitário relativo
ao autovalor λ1 . Tomemos um vetor v2 unitário e ortogonal ao vetor −

→ v→
1 .

→ −
→ −
→ −
→ −→ −→
Fazendo v3 = v1 × v2 , obtemos que v1 , v2 e v3 são vetores unitários dois
a dois ortogonais.
Consideremos o sistema de eixos ortogonais OX 0 Y 0 Z 0 de modo que os eixos
OX 0 , OY 0 e OZ 0 tenham a mesma direção e o mesmo sentido dos vetores

v→ −
→ − →
1 , v2 e v3 , respectivamente.
Dado um ponto P , sejam (x, y, z) e (x0 , y 0 , z 0 ) as coordenadas desse ponto
nos sistemas OXY Z e OX 0 Y 0 Z 0 , respectivamente. Ou seja,
−−→
OP = x−
e→ −
→ −
→ 0−
→ 0−
→ 0−

1 + y e2 + z e3 = x v1 + y v2 + z v3 . (23.16)

14
Forma Quadrática e Equação do Segundo Grau em R 3
Unidades 23 e 24

Então, por (23.15), por (23.1) e pela Observação 3, segue que:


f (x0 , y 0 , z 0 ) = hA(x0 −
v→ 0−
→ 0−→ 0− → 0−

1 + y v2 + z v3 ), x v1 + y v2 + z v3 i
0−

= hx0 A−
v→ + y 0 A−
1 v→ + z 0 A−
v→, x0 −
2v→ + y 0 −
v→ + z 0 −
3 v→i 1 2 3

= hλ1 x0 −
v→ 0 −→ 0 − → 0− → 0−→
1 + y Av2 + z Av3 , x v1 + y v2 + z v3 i
0−→

= λ1 x02 + x0 y 0 hA−v→ −
→ 02 −→ −→ 0 0 −
→ −

2 , v1 i + y hAv2 , v2 i + y z hAv2 , v3 i

+x0 z 0 hA−v→, − v→i + y 0 z 0 hA−


3 1 v→, −
v→i + z 02 hA−
v→, −
3 v→i 2 3 3

= λ1 x + x y h−
02
v→ −

0 0 02 −→ −→ 0 0 −
→ −

2 , Av1 i + y hAv2 , v2 i + y z hAv2 , v3 i

+x0 z 0 h−
v→, A−
v→i + y 0 z 0 h−
3 v→, A−
1 v→i + z 02 hA−
v→, −
3 v→i 2 3 3

= λ1 x02 + B 0 y 02 + C 0 z 02 + 2F 0 y 0 z 0 ,
pois h−
v→ −
→ −→ − → −
→ − → −
→ −→
2 , Av1 i = λ1 hv2 , v1 i = 0 e hv3 , Av1 i = λ1 hv3 , v1 i = 0, onde
B 0 = hA−v→, −
2 v→i, C 0 = hA−
2 v→, −v→i e F = hA−
3 3 v→, − v→i = h−
v→, A−
v→i . Ou seja,
2 3 3 2
a forma quadrática f nas coordenadas x , y e z , 0 0 0

f (x0 , y 0 , z 0 ) = λ1 x02 + B 0 y 02 + 2F 0 y 0 z 0 + C 0 z 02 ,
possui apenas um termo misto (y 0 z 0 ).
Seja a forma quadrática
g(x0 , y 0 ) = B 0 y 02 + 2F 0 y 0 z 0 + C 0 z 02
no plano OY 0 Z 0 . Sabemos, pelo estudo realizado no Capítulo 8, que fazendo
uma rotação positiva dos eixos OY 0 e OZ 0 de ângulo θ ∈ (0, π/2), quando
2F 0
F 0 6= 0, tal que θ = π/4, se B 0 = C 0 , e tan 2θ = 0 , se B 0 6= C 0 , a forma
B − C0
quadrática g , nas variáveis y e z , assume a forma
g(y, z) = B y 2 + C z 2 ,
onde
y 0 = y cos θ − z sen θ e z 0 = y sen θ + z cos θ . (23.17)
Consideremos os vetores − u→ −
→ −→ −
→ −
→ −→
1 = v1 , u2 = cos θ v2 + sen θ v3 e u3 =
− sen θ −
v→ −
→ −→ −→ −→
2 +cos θ v3 . É fácil vericar que os vetores u1 , u2 e u3 são ortonor-
mais. Além disso, fazendo x = x0 , obtemos, por (23.16) e por (23.17), que
−−→
OP = x− e→ −
→ −

1 + y e2 + z e3
= x0 − v→ −
→ −
1 + (y cos θ − z sen θ)v2 + (y sen θ + z cos θ)v3

= x− u→ −
→ −
→ −
→ −

1 + y (cos θ v2 + sen θ v3 ) + z (− sen θ v2 + cos θ v3 )
= x− u→ −→ −→
1 + y u2 + z u3 .
Então, (x, y, z) são as coordenadas do ponto P no sistema de eixos OX Y Z
tal que os eixos OX, OY e OZ têm a mesma direção e o mesmo sentido dos

15
Unidades 23 e 24 Formas Quadráticas em R 3

vetores −
u→ −→ −→
1 , u2 e u3 .
Assim, no sistema OX Y Z , a forma quadrática (23.14),
f (x, y, z) = λ1 x2 + λ2 y 2 + λ3 z 2 ,
ca desprovida dos termos mistos x y, x z e y z , onde λ2 = B e λ3 = C .
Podemos agora provar o resultado a seguir, análogo ao Teorema 7 do Capí-
tulo 8, para matrizes simétricas reais do tipo 3 × 3 .

Teorema 5 Seja A uma matriz simétrica real do tipo 3 × 3 . Então, todas as raízes
λ1 , λ2 e λ3 do polinômio característico p da matriz A são reais e existe um terno

u→ −→ −→ −→ −→ −→ −→
1 , u2 e u3 de autovetores ortonormais tais que Au1 = λ1 u1 , Au2 = λ2 u2
e A− u→ −→
3 = λ3 u3 .

Demonstração Seja a matriz simétrica  


A D/2 E/2
A = D/2 B F/2  .
 

E/2 F/2 C
Usando os elementos da matriz A, podemos construir a seguinte forma
quadrática em três variáveis:
f (x, y, z) = Ax2 + By 2 + Cz 2 + Dxy + Exz + F yz .
Pelo provado acima, existem um terno λ1 , λ2 e λ3 de números reais e um
terno −
u→ −→ −→ −→ −→
1 , u2 e u3 de vetores ortonormais tais que se (x, y, z) = x u1 +y u2 +
z−u→
3 , então
f (x, y, z) = λ1 x2 + λ2 y 2 + λ3 z 2 .
Mas, por (23.15), por (23.1) e pela Observação 3, temos:
λ1 x2 + λ2 y 2 + λ3 z 2 = hA(x −u→ −→ −→ −→ −→ −→
1 + y u2 + z u3 ), x u1 + y u2 + z u3 i
= x2 hA− u→ −→ 2 −→ −→ 2 −→ −→
1 , u1 i + y hAu2 , u2 i + z hAu3 , u3 i
+2x yhA− 1u→, −
2 u→i + 2x zhA−1 u→, −
3 u→i + 2y zhA−
2 u→, −
3 u→i ,
para quaisquer x, y, z ∈ R .
Logo, hA− u→ −→ −→ −→ −→ −→ −→ −→
1 , u1 i = λ1 , hAu2 , u2 i = λ2 , hAu3 , u3 i = λ3 e hAu1 , u2 i =
hA−u→ −→ −→ −→ −→ −→ −→
1 , u3 i = hAu2 , u3 i = 0. Além disso, como os vetores u1 , u2 e u3 são
ortonormais, segue que A− u→ −→ −→ −→ −→
1 = λ1 u1 , Au2 = λ2 u2 e Au3 = λ3 u3 .
−→
Então, λ1 , λ2 e λ3 são autovalores de A e − u→ −→ −→
1 , u2 e u3 são autovetores
relativos aos autovalores λ1 , λ2 e λ3 , respectivamente.
Provaremos que λ1 , λ2 e λ3 são os únicos autovalores da matriz A .

16
Forma Quadrática e Equação do Segundo Grau em R 3
Unidades 23 e 24

Com efeito, sejam λ um autovalor de A e → −


u um autovetor não nulo asso-


ciado ao autovalor λ, isto, é, A u = λ u .→

Sendo os vetores − u→ −→ −→
1 , u2 e u3 linearmente independentes, existem números
reais a, b e c tais que → −
u = a− u→ −→ −→ →
− →

1 + b u2 + c u3 . Logo, como A u = λ u e
A−u→ −→
i = λi ui , i = 1, 2, 3, temos que:

A(a −u→ −→ −→ −→ −→ −→
1 + b u2 + c u3 ) = λ(a u1 + b u2 + c u3 )
⇐⇒ aλ1 − u→ −→ −→ −→ −→
1 + bλ2 u2 + cλ3 u3 = λa u1 + λb u2 + λc u3
−→
⇐⇒ a(λ1 − λ)− u→ −→ −→
1 + b(λ2 − λ)u2 + c(λ3 − λ)u3 = 0
⇐⇒ a(λ − λ) = b(λ − λ) = c(λ − λ)−
1 2 3 u→ = 0 .
3

Então, λ = λ1 , λ = λ2 ou λ = λ3 , pois (a, b, c) 6= (0, 0, 0) .

Pelo visto acima, ca provado o resultado a seguir:

Seja A a matriz da forma quadrática Proposição 6


f (x, y, z) = Ax2 + By 2 + Cz 2 + Dxy + Exz + F yz .
Se λ1 , λ2 e λ3 são os autovalores de A e − u→ −→ −→
1 , u2 e u3 são autovetores ortonor-
mais de A tais que A− u→ −

i = λi ui , i = 1, 2, 3, então a forma quadrática nas
coordenadas x, y e z , onde (x, y, z) = x − u→ −→ −→
1 + y u2 + z u3 , assume a forma
f (x, y, z) = λ1 x2 + λ2 y 2 + λ3 z 2 .

Sejam λ1 , λ2 e λ3 os autovalores de uma matriz A simétrica. Proposição 7


(a) Se λ1 , λ2 e λ3 são dois a dois distintos e −
v→ −→ − →
1 , v2 e v3 são autovetores não
nulos relativos aos autovalores λ1 , λ2 e λ3 , respectivamente, então, para todo
i = 1, 2, 3,
{→

u ∈ R3 ; A→ −
u = λi → −
u } = {a− v→i ; a ∈ R} .


(b) Se u é um autovetor não nulo relativo ao autovalor λ1 e λ2 = λ3 = µ 6= λ1 ,
então
{−
w→ ∈ R3 ; A−→=λ −
w → →

1 w } = {a u ; a ∈ R}
e
{→

v ∈ R3 ; A→ −
v = µ→ −
v } = {→ −
v ; h→ −v ,→

u i = 0} .

− →

(c) Se λ1 = λ2 = λ3 = λ, então A v = λ v para qualquer vetor v ∈ R3 . Ou
seja, A = λ I , onde I é a matriz identidade 3 × 3 .

17
Unidades 23 e 24 Formas Quadráticas em R 3

Demonstração Pelo Teorema 5, existe um terno − u→ −→ −→


1 , u2 e u3 de vetores ortonormais tais
que A− u→ −→
i = λi ui , para todo i = 1, 2, 3 .

(a) Seja → −
v um autovetor relativo ao autovalor λ1 . Então, existem números
reais a, b e c tais que →
−v = a−u→ −→ −→ →

1 + bu2 + cu3 . Logo, como A v = λ1 v ,

A(a −
u→ −→ −→ −→ −→ −→
1 + b u2 + c u3 ) = λ1 (a u1 + b u2 + c u3 )
⇐⇒ aλ1 − u→ −→ −→ −→ −→ −→
1 + bλ2 u2 + cλ3 u3 = λ1 a u1 + λ1 b u2 + λ1 c u3
⇐⇒ b(λ − λ )−
2 1u→ + c(λ − λ )−
2 3 u→ = 0
1 3
⇐⇒ b = c = 0 .
Ou seja, →−
v = a− u→ −→ −

1 é um múltiplo de u1 . Sendo v1 um autovetor não nulo
relativo ao autovalor λ1 , existe a0 6= 0 tal que −
v→ −→
1 = a0 u1 . Assim,
{→

v ∈ R3 ; A→ −
v = λ1 → −
v } = {a− u→ −

1 ; a ∈ R} = {av1 ; a ∈ R} .

De modo análogo, podemos provar que


{→−
v ∈ R3 ; A→ −
v = λ2 →−v } = {b −v→2 ; b ∈ R}

e
{→−
v ∈ R3 ; A→ −
v = λ3 → −
v } = {c −v→3 ; c ∈ R} .

(b) Seja →

u um autovetor não nulo relativo ao autovalor λ1 . Como λ2 6= λ1 e
λ3 6= λ1 , temos, pelo provado acima, que →−
u é múltiplo de −
u→
1 e

− →
− →
− −→ →

{ v ∈ R ; A v = λ v } = {au1 ; a ∈ R} = {a u ; a ∈ R} .
3

Seja →−v um autovetor relativo ao autovalor µ = λ1 = λ2 . Então, pela


Proposição 4, → −
v é ortogonal a →−
u . Tomemos agora um vetor → −
v ortogonal ao

− −→
vetor u e, portanto, ortogonal ao vetor u1 . Sejam a, b, c ∈ R de modo que


v = a− u→ −→ −→
1 + b u2 + c u3 . Logo,
0 = h→
−v ,−u→i = ah−
1 u→, −
u→i + bh−
1 1 u→, −
u→i + ch−u→, −
2 u→i = a .
1 3 1

Ou seja, →−
v = b− u→ −→ →

2 + c u3 e, portanto, pela Proposição 1, v é um autovetor
relativo ao autovalor µ = λ1 = λ2 . Provamos, assim, que
{→

v ∈ R3 ; A→−
v = µ→ −
v } = {→−
v ∈ R3 ; h→
−v ,→

u i = 0} .

(c) Seja →

v um vetor qualquer. Então, existem a, b, c ∈ R tais que →

v =
a−u→ −→ −→ →

1 + bu2 + cu3 . Logo, como λ1 = λ2 = λ3 = λ, temos que A v =
aA− u→ −→ −→ −→ −→ −→ −→ −→ −→ →

1 +bAu2 +cAu3 = aλu1 +bλu2 +cλu3 = λ(au1 +bu2 +cu3 ) = λ v .
Isto é, A→

v = λ→

v para todo vetor →

 v ∈ R . Então,
3
 se
a11 a12 a13
A = a21 a22 a23  ,
 

a31 a32 a33

18
Forma Quadrática e Equação do Segundo Grau em R 3
Unidades 23 e 24

temos que A− e→ −
→ −→
1 = (a11 , a21 , a31 ) = λe1 = (λ, 0, 0), Ae2 = (a21 , a22 , a23 ) =
λ−e→ −→ −

2 = (0, λ, 0) e Ae3 = (a31 , a32 , a33 ) = λe3 = (0, 0, λ). Assim, aii = λ e
aij = 0, se i 6= j , para todos i, j = 1, 2, 3, ou seja, A = λI .

Dizemos que um autovalor λ da matriz simétrica A tem multiplicidade j ,


j = 1, 2, 3, se λ é uma raiz de multiplicidade j do polinômio característico p da
matriz A, ou seja,
p(x) = (x − λ)j q(x) ,
onde q é um polinômio de grau 3 − j com q(λ) 6= 0 .
É fácil mostrar, usando a Proposição 7, que λ é um autovalor de multi-
plicidade j se, e somente se, existem j autovetores ortonormais relativos ao
autovalor. Na linguagem de Álgebra Linear, isso signica que o conjunto de
todos autovetores relativos a um autovalor de multiplicidade j ,
{→
−u ∈ R3 ; A→ −
u = λ→ −
u },
é um subespaço de R de dimensão j .
3

Considere a forma quadrática Exemplo 4


f (x, y, z) = 3x2 + 5y 2 + 3z 2 − 2xy + 2xz − 2yz ,
com A = 3, B = 5, C = 3, D = −2,  E=2eF = −2 . Como
3 −1 1
A = −1 5 −1
 

1 −1 3
é a matriz de f , oseu polinômio característico
 é
λ − 3 1 −1 
p(λ) = det  1 λ−5 1 
 
 
−1 1 λ−3
= (λ − 3)((λ − 5)(λ − 3) − 1) − ((λ − 3) + 1) − (1 + (λ − 5))
= (λ − 3)(λ2 − 8λ + 14) − (λ − 2) − (λ − 4)
= λ3 − 8λ2 + 14λ − 3λ2 + 24λ − 42 − 2λ + 6
= λ3 − 11λ2 + 36λ − 36 .
Testando os divisores do termo independente −36, é fácil vericar que λ1 =
2, λ2 = 3 e λ3 = 6 são as raízes da equação característica p(λ) = 0 . Ou seja,
λ1 = 2, λ2 = 3 e λ3 = 6 são os autovalores da matriz A .
Se −
u→ −→ −→
1 , u2 e u3 são autovetores ortonormais relativos aos autovalores λ1 , λ2

19
Unidades 23 e 24 Formas Quadráticas em R 3

e λ3 , respectivamente, e (x, y, z) = x −
u→ −→ −→
1 +y u2 +z u3 , segue, pela Proposição
6, que a forma quadrática nas coordenadas x, y e z é:
f (x, y, z) = 2x2 + 3y 2 + 6z 2 .
Assim, a superfície de nível m da forma quadrática f é um elipsoide se
m > 0, um ponto (a origem) se m = 0, e o conjunto vazio se m < 0 .

Exemplo 5 Seja a forma quadrática f (x, y, z) = z 2 + 2xy , com A = B = 0, C =


1, D = 2 e E = F = 0 .  
0 1 0
A matriz da forma é A = 1 0 0 e, portanto, seu polinômio carac-
 

0 0 1
terístico é  
λ −1 0
p(λ) = det −1 λ 0  = (λ − 1)(λ2 − 1) = (λ − 1)2 (λ + 1) .
 

0 0 λ−1
Então, λ1 = −1 e λ2 = 1 são os autovalores de A de multiplicidade 1 e 2,
respectivamente.
Seja −u→1 = (x, y, z) um autovetor relativo ao autovalor λ1 = −1 . Como
(x, y, z)é uma solução do sistema


 λx − y = 0  −x − y = 0

−x + λy = 0 ⇐⇒ −x − y = 0 ⇐⇒ x = −y e z = 0 ,
 
(λ − 1)z = 0 −2z = 0
 
−→
obtemos que u1 = (x, −x, 0), x ∈ R, são os autovetores
√ √relativos
 ao autovalor
2 2
λ = −1. Tomemos o autovetor unitário −
1 u→ =
1 ,− ,0 .
2 2
Pela Proposição 7, os autovetores relativos ao autovalor λ2=
√ λ3√= 1 são
2 2
os vetores ortogonais ao vetor −
u→ . Basta tomar, então, −
1 u→ =
2 , ,0 e
2 2

u→ −→ −→
3 = u1 × u2 = (0, 0, 1) .

Logo, pela Proposição 6, a forma quadrática nas coordenadas x, y e z , onde


(x, y, z) = x −
u→ −→ −→
1 + y u2 + z u3 , é dada por
f (x, y, z) = −x2 + y 2 + z 2 .
Assim, a superfície de nível m é o cone circular de eixo OX , x2 = y 2 + z 2 ,
se m = 0, um hiperboloide de uma folha de eixo OX , se m > 0, e um
hiperboloide de duas folhas de eixo OX , se m < 0 . Nas coordenadas x, y e

20
Forma Quadrática e Equação do Segundo Grau em R 3
Unidades 23 e 24

z , o eixo
 √das quádricas
√  é a reta r que passa pela origem e é paralela ao vetor
− 2 2
u→ =
1 , − , 0 , ou seja, r = {(t, −t, 0) ; t ∈ R} .
2 2
Vamos determinar agora a seção plana f −1 (m) ∩ π da quádrica f −1 (m),

para todo m ∈ √
R, onde√π é o plano x
√− y =√ 2 .
2 2 2 2
Como x = x+ y e y =− x+ y , temos que
2 2 √2 2
π :x−y = 2
√ √ √ √
2 2 2 2 √
⇐⇒ π : x+ y+ x− y= 2 ,
2√ 2 2 2
2 2 √
⇐⇒ π : x = 2 ⇐⇒ π : x = 1 .
2
é o plano π nas coordenadas x, y e z . Logo, se m ∈ (−1, ∞), a seção plana
π ∩ f −1 (m) é o círculo (
y2 + z2 = m + 1
Cm : ,
x=1

de raio igual a m + 1 e centro (1, 0, 0), nas coordenadas
√ e z . Como
√x, y 
2 2
x = 1 e y = z = 0, C = 1 · −
u→ + 0 · −
1 u→ + 0 · −
2 u→ =
3 , − , 0 é o centro
2 2
do círculo
 √ Cm nas
√ coordenadas
 x, y e z . Mas, se m = −1, π ∩ f −1 (m) é o
2 2
ponto , − , 0 e se m < −1, π ∩ f −1 (m) é o conjunto vazio.
2 2

23.5 Equação Geral do Segundo Grau em R3


Seja a equação do segundo grau em três variáveis

Ax2 + By 2 + Cz 2 + Dxy + Exz + F yz + Gx + Hy + Iz + J = 0 , (23.18)

superfície de nível zero da função quadrática

f (x, y, z) = Ax2 +By 2 +Cz 2 +Dxy+Exz+F yz+Gx+Hy+Iz+J . (23.19)


 
A D/2 E/2
Pelo Teorema 5, a matriz A = D/2 B F/2 , da equação (23.18)
 

E/2 F/2 C
ou da função quadrática (23.19), possui três autovalores λ1 , λ2 e λ3 , contados
com suas multiplicidades, e um terno de autovetores −
u→ −→ −→
1 , u2 e u3 ortonormais
tais que A− u→ −

i = λi ui , i = 1, 2, 3 .

21
Unidades 23 e 24 Equação Geral do Segundo Grau em R 3

Assim, pela Proposição 6, a equação (23.18), nas coordenadas x, y e z ,


assume a forma
f (x, y, z) = λ x2 + λ y 2 + λ z 2 + h(G, H, I), x −
1 2 3 u→ + y −
1 u→ + z −
2 u→i + J = 0
3

⇐⇒ λ1 x2 + λ2 y 2 + λ3 z 2 + h→

v ,−
u→ →
− −→ →
− −→
1 ix + h v , u2 iy + h v , u3 iz + J = 0

⇐⇒ λ1 x2 + λ2 y 2 + λ3 z 2 + Gx + Hy + Iz + J = 0 ,
onde (x, y, z) = x − u→ −→ −→ →− →
− −→
1 + y u2 + z u3 , v = (G, H, I), G = h v , u1 i, H =
h→

v ,−
u→i e F = h→
2

v ,−
u→i .
3
Para nalizar nosso estudo, basta analisar os possíveis conjuntos represen-
tados por uma equação de segundo grau em três variáveis,

Ax2 + By 2 + Cz 2 + Gx + Hy + Iz + J = 0 , (23.20)

com D = E = F = 0, isto é, desprovida de termos contendo xy, xz e yz .


Vamos provar que uma equação dessa forma se transforma, por meio de
uma translação dos eixos, seguida de uma rotação dos eixos em alguns casos,
numa equação sem termos de grau um ou com apenas um termo de grau um.
Seja O = (x0 , y0 , z0 ) um ponto do espaço. Façamos uma translação
O X Y Z do sistema OXY Z para a nova origem O . As novas coordenadas
(x, y, z) de um ponto P se relacionam com as antigas (x, y, z) pelas equações
x = x + x0 , y = y + y0 e z = z + z0 . Então, P satisfaz à equação (23.20), se,
e somente se,

A(x + x0 )2 + B(y + y0 )2 + C(z + z0 )2 + G(x + x0 ) + H(y + y0 )


+I(z + z0 ) + J = 0
⇐⇒ Ax2 + By 2 + Cz 2 + (2Ax0 + G)x + (2By0 + H)y + (2Cz0 + I)z
+Ax20 + B0 y 2 + Cz02 + Gx0 + Hy0 + Iz0 + J = 0
⇐⇒ Ax2 + By 2 + Cz 2 + (2Ax0 + G)x + (2By0 + H)y + (2Cz0 + I)z
+J = 0 (23.21)

com J = Ax20 + By02 + Cz02 + Gx0 + Hy0 + Iz0 + J .

Há três casos possíveis.

(I) Os coecientes A, B e C não são nulos.

22
Forma Quadrática e Equação do Segundo Grau em R 3
Unidades 23 e 24

G H I
Neste caso, tomando x0 = − , y0 = − e z0 = − , obtemos que a
2A 2B 2C
equação (23.21) assume a forma
Ax2 + By 2 + Cz 2 = R ,
 2 
G H2 I2
onde R = −J = + + −J.
4A 4B 4C

(II) Um dos coecientes A, B e C é nulo e os outros dois não são nulos.


Vamos supor, para xar as idéias, que A 6= 0, B 6= 0 e C = 0 . Fazendo
G H
x0 = − e y0 = − , a equação (23.21) se escreve na forma
2A 2B

Ax2 + By 2 + Iz + J = 0 (23.22)
G2 H2
com J = J − − + Iz0 .
4A 4B
Então, se I = 0, obtemos que a equação (23.22) é dada por
Ax2 + By 2 = R ,
G2 H2
com R = −J = + − J − Iz0 , para todo z0 ∈ R .
4A 4B
G2 H2 J
Mas, quando I 6= 0, temos que se z0 = + − , então J = 0.
4AI 4BI I
Assim, fazendo S = −I , a equação (23.22) assume a forma
Ax2 + By 2 = Sz .

(III) Apenas um dos coecientes A, B e C é diferente de zero.


Suponhamos, sem perda de generalidade, que A 6= 0 e B = C = 0 . Neste
caso, a equação (23.21) é

Ax2 + (2Ax0 + G)x + Hy + Iz + J = 0 , (23.23)

com J = Ax20 + Gx0 + Hy0 + Iz0 + J .


Há aqui mais três possibilidades:
(i) H = I = 0
G
Se x0 = − e y0 = z0 = 0, a equação (23.23) ca na forma
2A
Ax2 =R ,
G2
onde R = −J = −J.
4A
(ii) H 6= 0 e I = 0 ou H = 0 e I 6= 0
Se H 6= 0 e I = 0, a equação (23.23) é dada por

Ax2 + (2Ax0 + G)x + Hy + J = 0 , (23.24)

23
Unidades 23 e 24 Equação Geral do Segundo Grau em R 3

G
com J = Ax20 + Gx0 + Hy0 + J . Então, fazendo S = −H , x0 = − , y0 =
2A
G2 J
− e z0 um número real qualquer, a equação (23.24) ca na forma
4AH H
Ax2 = Sy .
Se H = 0 e I 6= 0, a equação (23.23) é dada por

Ax2 + (2Ax0 + G)x + Iz + J = 0 , (23.25)

G G2 J
com J = Ax20 +Gx0 +Iz0 +J . Assim, sendo S = −I , x0 = − , z0 = −
2A 4AI I
e y0 um número real qualquer, a equação (23.25) assume a forma
Ax2 = Sz .
(iii) H 6= 0 e I 6= 0
Se H 6= 0 e I 6= 0, a equação (23.23),  
J
Ax2 + (2Ax0 + G)x = −Hy − I z + ,
I
ca na forma
Ax2 = −Hy − Iz , (23.26)
G J G2 Hy0
se x0 = − , z0 = − + − e y0 é um número real qualquer.
2A I 4AI I
Consideremos agora o sistema O X Y Z , de modo que O = (x0 , y0 , z0 ) e os
eixos O X, O Y e O Z tenham a mesma direção  e o mesmo sentido dos vetores

−→ −→ −→ H I
ortonormais w1 = e1 = (1, 0, 0), w2 = 0, − √ 2 , −√ 2 e
  H + I2 H + I2
− I H
w→3 = 0, √ 2 2
, −√ 2 2
, respectivamente.
H +I H +I
Se (x, y, z) e (x, y, z) são as coordenadas de um ponto nos sistemas O X Y Z
e O X Y Z , respectivamente, então
(x, y, z) = x −
w→ −→
1 + y w2 + z w3
−→
 
H I
⇐⇒ (x, y, z) = x(1, 0, 0) + y 0, − √ 2 , −√ 2
H + I2 H + I2
 
I H
+z 0, √ 2 2
, − √
2 2
H +I H +I
−Hy + Iz −Iy − Hz
⇐⇒ x = x, y= √ 2 e z= √ .
H + I2 H2 + I2
Logo, a equação (23.26), nas coordenadas x, y e z , assume a forma

24
Forma Quadrática e Equação do Segundo Grau em R 3
Unidades 23 e 24

   
2 −Hy + Iz −Iy − Hz
A x = −H √ −I √
√ H2 + I2 H2 + I2
2
⇐⇒ A x = H 2 + I 2 y
2
⇐⇒ A x = S y ,

com S = H 2 + I 2 .
Observe que apenas quando a equação (23.18) representa um cilindro parabólico,
devemos fazer, em alguns casos, uma rotação dos eixos, após a translação, para
reduzí-la à forma canônica.
Conclusão: Dada uma equação geral do segundo grau em três variáveis
Ax2 + By 2 + Cz 2 + Dxy + Exz + F yz + Gx + Hy + Iz + J = 0,
existe um sistema de eixos O0 X 0 Y 0 Z 0 tal que a equação, nas coordenadas x0 ,
y 0 e z 0 desse sistema, se escreve numa das seguintes formas:
A0 x02 + B 0 y 02 + C 0 z 02 = R (Quadrica Cêntrica)
ou
A0 x02 + B 0 y 02 = Sz 0 (Quadrica não Cêntrica)
após uma reordenação dos eixos O0 X 0 , O0 Y 0 e O0 Z 0 , se necessário.
Os eixos O0 X 0 , O0 Y 0 e O0 Z 0 são chamados eixos principais da quádrica
representada pela equação (23.18).
Assim, pelo estudo feito no nal do Capítulo 22, o conjunto dos pontos
que satisfazem a uma equação do segundo grau com três variáveis é uma das
superfícies quádricas ou uma das quádricas degeneradas.

Reduza a equação do segundo grau a sua forma canônica, classique a quá- Exemplo 6
drica Q representada pela equação, determine seus eixos principais e identique,
geometricamente, a seção plana π ∩ Q, onde:
(a) Q : 4x2 + y 2 + 3z 2 − 8x + 2y + 6z + 7 = 0 e π : y = −1.
Solução. Completando os quadrados, obtemos:

Q : 4(x2 − 2x) + (y 2 + 2y) + 3(z 2 + 2z) = −7


⇐⇒ Q : 4(x − 1)2 + (y + 1)2 + 3(z + 1)2 = −7 + 4 + 1 + 3 = 1
(x − 1)2 (z + 1)2
⇐⇒ Q : + (y + 1)2 + = 1.
1/4 1/3

Seja O X Y Z o sistema de eixos ortogonais no qual O = (1, −1, −1) e


os eixos O X , O Y e O Z têm, respectivamente, a mesma direção e o mesmo

25
Unidades 23 e 24 Equação Geral do Segundo Grau em R 3

sentido dos eixos OX , OY e OZ . Como (x, y, z) = (x, y, z) + (1, −1, −1),


temos que
x2 z2
Q: + y2 + =1
1/4 1/3
é a equação da quádrica nas coordenadas x, y e z . Logo, a quádrica é um

elipsoide de centro C = O = (1, −1, −1), com a = 1/2, b = 1 e c = 3/3,
cujos eixos principais são as retas rx = {(t + 1, −1, −1) ; t ∈ R}, ry = {(1, t −
1, −1) ; t ∈ R} e rz = {(1, −1, t − 1) ; t ∈ R} paralelas aos eixos OX , OY e
OZ , respectivamente, que passam pelo centro C do elipsoide.
A seção plana Q ∩ π é aelipse
 (x − 1)2 (z + 1)2
+ =1
E: 1/4 1/3
 y = −1
de centro C = (1, −1, −1), reta focal rz , reta não focal rx , vértices A1 =
√ √
(1, −1, −1 − 1/ 3) e A2 = (1, −1, −1 + 1/ 3) sobre a reta focal e vértices
B1 = (1/2, −1, −1) e B2 = (3/2, −1, −1) sobre a reta não focal.
Z

Z
−1

1
Y
X
O
E −1

X Q
Y

Figura 23.7: Elipsoide Q e seção E

(b) Q : x2 − y 2 − z 2 + 8x − 2y + 6z + 5 = 0 e π : z = 1.
Solução. Completando os quadrados obtemos:

Q : (x2 + 8x) − (y 2 + 2y) − (z 2 − 6z) = −5


Q : (x + 4)2 − (y + 1)2 − (z − 3)2 = −5 + 16 − 1 − 9 = 1.

Seja O X Y Z o sistema obtido transladando o sistema OXY Z para a nova

26
Forma Quadrática e Equação do Segundo Grau em R 3
Unidades 23 e 24

origem O = (−4, −1, 3). Como (x, y, z) = (x, y, z) + (−4, −1, 3), temos que
Q : x2 − y 2 − z 2 = 1
é a equação da quádrica nas coordenadas x, y e z . Logo, Q é um hiperboloide
de duas folhas de eixo
rx = {(−4, −1, 3) + t(1, 0, 0) ; t ∈ R}
paralelo ao eixo OX , com a = b = c = 1. Os outros eixos principais são as retas
ry = {(−4, −1, 3) + t(0, 1, 0) ; t ∈ R} e rz = {(−4, −1, 3) + t(0, 0, 1) ; t ∈ R},
paralelas aos eixos OX e OZ , respectivamente.
A seção plana Q ∩ π é a hipérbole equilátera

(x + 4)2 − (y + 1)2 = 5
H: ,
z=1

de centro C = (−4, −1, 1), reta focal r = {(−4, −1, 1) + t(1, 0, 0) ; t ∈ R}


paralela ao eixo OX , reta não focal r0 = {(−4, −1, 1) + t(0, 1, 0) ; t ∈ R}
√ √
paralela ao eixo OY , vértices A1 = (−4 − 5, −1, 1) e A2 = (−4 + 5, −1, 1)
√ √
e vértices imaginários B1 = (−4, −1 − 5, 1) e B2 = (−4, −1 + 5, 1)

Z Z

Q
O

3
X
H
H 1
Y

−4
−1
O
X
Y
Figura 23.8: Hiperbolóide de duas folhas Q e seção H

(c) Q : 2x2 + 4x + 3y − 5z = 0 e π : −3y + 5z = 0

27
Unidades 23 e 24 Equação Geral do Segundo Grau em R 3

Solução. Neste exemplo, A = 2, B = C = 0, H 6= 0 e I 6= 0 . Temos:

Q : 2(x2 + 2x) = −3y + 5z


⇐⇒ Q : 2(x + 1)2 = −3y + 5z + 2
3 5 2
 
⇐⇒ Q : (x + 1)2 = − y + z+ .
2 2 5
Seja O XY Z o sistema
 obtido transladando o sistema OXY Z para a nova
2
origem O = −1, 0, − . Como
5
2
 
(x, y, z) = (x, y, z) + −1, 0, − , (23.27)
5
segue que
3 5 1
Q : x2 = − y + z = (−3y + 5z)
2 2 2
é a equação da quádrica nas coordenadas x, y e z .
Consideremos agora o sistema O X Y Z tal que os eixos O X , O Y e O Z
têm, respectivamente, a mesma
 direção e  o mesmo sentido
 dos vetores
 ortonor-
5 3 3 5
mais −
v→ = (1, 0, 0), −
1 v→ = 0, √ , √
2 e−v→ = 0, − √ , √ 3 . Como
34 34 34 34
   
5 3 3 5
(x, y, z) = x (1, 0, 0) + y 0, √ , √ + z 0, − √ , √ , (23.28)
34 34 34 34
1 1
ou seja, x = x , y = √ (5y − 3z ) e z = √ (3y + 5z ), obtemos que
34 34
 
1
2 3 5
Q:x = − √ (5y − 3z ) + √ (3y + 5z )
2 34 34

34
⇐⇒ Q : x 2 = z (23.29)
2
é a equação da quádrica nas coordenadas x , y e z . Logo, Q é um cilindro
parabólico de eixo O Y = {(0, 1, 0)t ; t ∈ R} que, nas coordenadas x, y e z , é
a reta    
2 5 3

r1 = −1, 0, − + t 0, √ , √ ;t∈R .
5 34 34
Os outros eixos principais são as retas:
2
n  o
r2 = −1, 0, − + t(1, 0, 0) ; t ∈ R
5
e    
2 3 5

r3 = −1, 0, − + t 0, − √ , √ ;t∈R .
5 34 34

28
Forma Quadrática e Equação do Segundo Grau em R 3
Unidades 23 e 24

Por (23.27) e (23.28), a equação de mudança das coordenadas x , y e z


para as coordenadas x, y e z é
   
5 3 3 5
(x, y, z) = x (1, 0, 0) + y 0, √ , √ + z 0, − √ , √
34 34 34 34
2
 
+ −1, 0, −
5
 (23.30)



 x=x −1

1

⇐⇒ y = √ (5y − 3z )

 34
 z = √1 (3y + 5z ) − 2



34 5
Logo, a equação do plano π : −3y + 5z = 0 nas coordenadas x , y e z é
3 5
−√ (5y − 3z ) + √ (3y + 5z ) − 2 = 0
34 34
34 2
⇐⇒ √ z = 2 ⇐⇒ z = √ . (23.31)
34 34
Então, por (23.29) e (23.31), a seção

cônica√
 x 2 = 34 z

Q∩π : 2
 z =√
 2
  34
 x =1  x = −1
são as retas `1 : 2 e `2 : 2 paralelas ao eixo O Y . Nas
 z =√  z =√
34 34
coordenadas x, y e z , a seção plana Q ∩ π é, por (23.30), a união das retas
    
5 3 2 3 5
`1 = 1 · (1, 0, 0) + t 0, √ , √ +√ 0, − √ , √
34 34 34 34 34
2
  o
+ −1, 0, − ;t∈R
 5   
6 18 5 3

⇐⇒ `1 = 0, − , − + t 0, √ , √ ;t∈R
34 170 34 34
e
    
5 3 2 3 5
`2 = −1 · (1, 0, 0) + t 0, √ , √ +√ 0, − √ , √
34 34 34 34 34
2
  o
+ −1, 0, − ;t∈R
 5   
6 18 5 3

⇐⇒ `2 = −2, − , − + t 0, √ , √ ;t∈R
34 170 34 34

29
Unidades 23 e 24 Equação Geral do Segundo Grau em R 3

 

→ 5 3
paralelas ao vetor v2 = 0, √ , √ que passam pelos pontos A1 =
34 34 
6 18 6 18
  
0, − , − e A2 = −2, − , − , respectivamente.
34 170 34 170

Q
Z
Z
Y
`2
`1

X
X Y

Figura 23.9: Cilindro parabólico Q e retas `1 e `2


√ √
(d) Q : 2x √
2
+ y + z + 2xy + 2 5xz + 3x + y + 5z = 0 e π : −2x +
2 2
√ 10
y + 5z = .
4  √ 
2 1 5
Solução. Seja A =  1 1 0  a matriz da equação do segundo grau
 

5 0 1
que representa Q e seja
 √ 
λ − 2 −1 − 5
p(λ) = det  −1 λ − 1 0 
 

− 5 0 λ−1
√ h√ i
= − 5 5(λ − 1) + (λ − 1) [(λ − 2)(λ − 1) − 1]
= −5(λ − 1) + (λ − 1)(λ2 − 3λ + 1) = (λ − 1)(λ2 − 3λ − 4)
= (λ − 1)(λ − 4)(λ + 1)

o seu polinômio característico. Então, λ1 = 1, λ2 = 4 e λ3 = −1 são os


autovalores da matriz A, todos de multiplicidade igual a um.
Se −u→1 = (x, y, z) é um autovetor relativo ao autovalor λ1 = 1, então
(x, y, z) é uma solução do sistema

30
Forma Quadrática e Equação do Segundo Grau em R 3
Unidades 23 e 24

 √  √ 

 1
 − 2)x − y − 5z = 0 
 −x − y − 5z = 0 x=0

−x + (λ1 − 1)y = 0 ⇐⇒ −x = 0 ⇐⇒ e
 √
  √
  √
− 5x + (λ1 − 1)z = 0 − 5x = 0 y = − 5z .


Logo, −
u→1 = (0, − 5z, z), z ∈ R, são os autovetores
 √ relativos
 ao autovalor
5 1
λ1 = 1. Tomemos o autovetor unitário −u→1 = 0, − √ , √ .
6 6
Por outro lado, −
u→ = (x, y, z) é um autovetor relativo ao autovalor λ = 4
2 2
se, e só se, (x, y, z) é solução do sistema
√ √  x
y=
 
 (λ2 − 2)x − y − 5z = 0  2x − y − 5z = 0 3
  


−x + (λ2 − 1)y = 0 ⇐⇒ −x + 3y = 0 ⇐⇒ e √
 √
  √

 z = 5 x.

− 5x + (λ2 − 1)z = 0 − 5x + 3z = 0

3
 √ 
x 5
Então, −u→2 = x, , x , x ∈ R, são os autovetores relativos ao auto-
3 3
6
valor λ2 = 4. Tomando x = √ , obtemos o autovetor unitário −
u→
2 =
 √  60
6 2 2 5
√ ,√ ,√ .
60 60 60
Como os autovetores relativos ao autovalor λ3= −1 são ortogonais
√  aos
2 1 5
vetores −
u→ −→ −→ −→ −→
1 e u2 , segue que u3 = u1 × u2 = −√ , √ , √ é um
10 10 10
autovetor unitário relativo ao autovalor λ3 = −1.
Seja O X Y Z o sistema de eixos ortogonais tal que os eixos O X , O Y
e O Z têm a mesma direção e o mesmo sentido dos vetores − u→ −→ −→
1 , u2 e u3 ,
respectivamente.
Assim, se (x, y, z) são as coordenadas de um ponto no sistema O X Y Z , a
equação de mudança de coordenadas é:
 √   √ 
5 1 6 2 2 5
(x, y, z) = x 0, − √ , √ +y √ ,√ ,√
6 6 60 60 60
 √ 
2 1 5
+ z −√ , √ , √ . (23.32)
10 10 10

Portanto, nas coordenadas x, y e z , a equação da quádrica Q ca na forma:



Q : x2 + 4y 2 − z 2 + h(3, 1, 5), x −
u→ −→ −→
1 + y u2 + z u3 i = 0

⇐⇒ Q : x2 + 4y 2 − z 2 + 15 y = 0, (23.33)

31
Unidades 23 e 24 Equação Geral do Segundo Grau em R 3

√ √ −→ √ √
pois h(3, 1, 5), −
u→
1 i = h(3, 1, 5), u3 i = 0 e h(3, 1, 5), −
u→
2 i = 15 . Com-
pletando os quadrados na equação (23.33), temos:
 √ 
2 2 15
Q:x +4 y + y − z2 = 0
4
 √ 2
15 15
2
⇐⇒ Q : x + 4 y + − z2 = . (23.34)
8 16

Para reduzir a equação (23.34) à forma canônica,


 devemos
√  transladar os
15
eixos O X , O Y e O Z para a nova origem O = 0, − , 0 . No sistema
8
O X Y Z transladado, as coordenadas x , y e z se relacionam com as coorde-
nadas x, y e z no sistema O X Y Z pela equação
 √ 
15
(23.35)

(x, y, z) = x , y , z + 0, − ,0 .
8

Assim, a quádrica nas coordenadas x , y e z é


15
Q : x 2 + 4y 2 − z 2 = , (23.36)
16

15
sendo, portanto, um hiperboloide de uma folha de eixo O Z , com a = ,
√ √ 4
15 15
b= ec= .
8 4
Por (23.32) e (23.35), as coordenadas x, y e z e as coordenadas x , y e z
satisfazem a equação
 √ 
−→ 15 −
(x, y, z) = x u1 + y − u→ −→
2 + z u3 (23.37)
8

Então,
 √  √   √  
15 6 2 2 5 2 1 5
r1 = − √ ,√ ,√ + t −√ , √ , √ ;t∈R
8 60 60 60 10 10 10
 √   √  
3 1 5 2 1 5
= − ,− ,− + t −√ , √ , √ ;t∈R
8 8 8 10 10 10

é o eixo da quádrica
 e √   √  
3 1 5 6 2 2 5
r2 = − ,− ,− +t √ ,√ ,√ ;t∈R
8 8 8 60 60 60
e

32
Forma Quadrática e Equação do Segundo Grau em R 3
Unidades 23 e 24

 √   √  
3 1 5 5 1
r3 = − ,− ,− + t 0, − √ , √ ;t∈R
8 8 8 6 6
são os outros eixos principais de Q.
Vamos determinar agora a seção plana Q ∩ π . Por (23.37), a equação do
plano π nas coordenadas x , y e z é

√ 10
π : h(x, y, z), (−2, 1, 5)i =
√  4 √
√ −→

−→ 15 − → −→ 10
⇐⇒ π : hx u1 + y − u2 + z u3 , 10 u3 i =
8 4

√ 10 1
⇐⇒ π : 10 z = ⇐⇒ π : z = .
4 4

Por (23.36), a seção plana Q ∩ π é a elipse


 2
 x2 + y = 1

E: 1/4
z=
 1
4
1 1
  n  o
de centro C = 0, 0, , reta focal r = t, 0, ; t ∈ R , reta não focal
4o 4 
1 1 1
n    
0
r = 0, t, ; t ∈ R e vértices A1 = −1, 0, e A2 = 1, 0, nas
4 4 4
coordenadas x, y e z . Logo, pela equação (23.37), E é uma elipse de centro
 √ √ 
3 2 1 1 5 5
C = − − √ ,− + √ ,− + √ ,
8 4 10 8 4 10 8 4 10
reta focal
 √ √   √  
3 2 1 1 5 5 5 1
r= − − √ ,− + √ ,− + √ +t 0, − √ , √ ;t∈R ,
8 4 10 8 4 10 8 4 10 6 6
reta não focal
 √ √   √  
0 3 2 1 1 5 5 6 2 2 5
r = − − √ ,− + √ ,− + √ +t √ , √ , √ ;t∈R ,
8 4 10 8 4 10 8 4 10 60 60 60
e vértices
 √ √ √ 
3 2 1 1 5 5 5 1
A1 = − − √ , − + √ + √ ,− + √ −√
8 4 10 8 4 10 6 8 4 10 6
e
 √ √ √ 
3 2 1 1 5 5 5 1
A2 = − − √ , − + √ − √ ,− + √ +√ ,
8 4 10 8 4 10 6 8 4 10 6
nas coordenadas x, y e z .

33
Unidades 23 e 24 Exercícios

X
Q
Z
π
Z

Y E Y

Figura 23.10: Hiperbolóide de uma folha Q e elipse E =Q∩π

23.6 Exercícios

1. Encontre os autovalores e os autovetores da matriz:


     √ 
1 1 0 1 2 0 2 6 1
√
(a) A = 0 2 3; (b) A = 3 0 0; (c) A =  6 1 0.
    

0 −4 1 0 0 1 0 0 2
 √ √   √ √ 

→ 3 2 2 2 2 −
→ 2 2
2. Considere os vetores v1 = , , , v2 = 0, ,− e−
v→
3 =
5 5 5 2 2
 √ √ 
8 3 2 3 2
− , , e o ponto O = (1, 3, −2).
10 10 10
(a) Mostre que −
v→ −
→ − →
1 , v2 e v3 é um terno ortonormal.

(b) Seja O X Y Z o sistema tal que os eixos O X , O Y e O Z têm a mesma


direção e o mesmo sentido dos vetores −
v→ −
→ − →
1 , v2 e v3 , respectivamente. Ache
as coordenadas (x, y, z) dos pontos cujas coordenadas (x, y, z) são:
P = (1, 2, −1), Q = (4, 2, 0) e R = (1, 1, 1).

34
Forma Quadrática e Equação do Segundo Grau em R 3
Unidades 23 e 24

(c) No item anterior, suponha que as coordenadas dadas são x, y e z . Quais


são, em cada caso, as coordenadas x, y e z ?
√ √
(d) Determine as equações dos planos π1 : 3x − 3 2 y + 7 2 z = 1,
√ √ √ √
π2 : −8x + 3 2 y + 3 2z = 3, π3 : y − z = 2 e π4 : 2x + 2 y − 2 z = 0,
nas coordenadas x, y e z . Quais desses planos são verticais, horizontais ou
paralelos a um dos planos coordenados, com respeito ao sistema de eixos
O X Y Z?
√ √ √ √
(e) Se α1 : 3x − 3 2 y + 7 2 z = 1, α2 : −8x + 3 2 y + 3 2 z = 3, α3 :
√ √
y−z = 2 e α4 : 2x+ 2 y− 2 z = 0 são planos dados no sistema O X Y Z ,
obtenha as equações cartesianas desses planos no sistema OXY Z .

3. Seja A uma matriz simétrica, λ1 , λ2 e λ3 seus autovalores e −


u→
1 = (a1 , b1 , c1 ),

u→ −→
2 = (a2 , b2 , c2 ) e u3 = (a3 , b3 , c3 ) autovetores ortonormais relativos
 aos 
λ1 0 0
autovalores λ1 , λ2 e λ3 , respectivamente. Mostre que B AB =  0 λ2 0 ,
>  

0 0 λ3
 
a1 a2 a3
onde B =  b1 b2 b3 .
 

c1 c2 c3

4. Encontre os autovalores e os autovetores da matriz simétrica A e obtenha


uma
 matriz Bortogonal tal que B> AB é uma matriz diagonal, onde A =
2 1 0
1 2 −1.
 

0 −1 2

5. Determine as superfícies de nível m, m ∈ R, da função quadrática


f (x, y, z) = 3x2 + 3z 2 + 4xy + 8xz + 4yz + 32x + 16y + 32z + 2 ,
e identique a cônica f −1 (m) ∩ π , onde π : 2x + y + 2z = −6.

6. Classique, em função de a ∈ R , a quádrica Qa dada pela equação de


segundo grau :
x2 + 2y 2 + az 2 + 2(a + 2)x + 4(a − 1)y + 2z + 3a2 = 0 .

7. Reduza a equação do segundo grau a sua forma canônica, classique a


quádrica Qi e determine seu eixo, para i = 1, . . . , 10, onde:

35
Unidades 23 e 24 Exercícios

(a) Q1 : x2 + 4y 2 − z 2 + 2x − 8y − 2z + 4 = 0;

(b) Q2 : y 2 − 2z 2 − 2x + 6y + 4z − 1 = 0;

(c) Q3 : z 2 + 4x − y + 6z − 1 = 0;

(d) Q4 : x2 + 4y 2 + z 2 + 4xy + z = 0;

(e) Q5 : x2 + 4yz + x = 0;
√ √ √
(f) Q6 : x2 + 2y 2 + 2z 2 + 2xy + 2 5 xz − 2 30 y + 2 6 z + 2 = 0;

(g) Q7 : x2 + 4y 2 + z 2 + 4xy + 2xz + 4yz + y − z = 0;

(h) Q8 : 3x2 + 3y 2 − 2xy + 4xz + 4yz − 4 = 0;


√ 5
(i) Q9 : xy + xz + yz + 3 (x + y + z) + = 0;
4
(j) Q10 : 2y 2 + z 2 − 4xz − 4yz − 4x + 4y + 2z + 5 = 0.

8. Identique as cônicas Q3 ∩ π1 , Q6 ∩ π2 , Q9 ∩ π3 e Q10 ∩ π4 , onde Q3 ,


Q6 , Q9 e Q10 são as quádricas do exercício anterior, π1 : x + 4y = 0,
√ √
π2 : 3x − y − 5 z = 0, π3 : x + y + z = 2 3 e π4 : −2x + 2y + z = 3.

9. Mostre que uma equação do segundo grau com três variáveis


Ax2 + By 2 + Cz 2 + Dxy + Exz + F yz + Gx + Hy + Iz + J = 0
representa uma esfera se, e somente se, A = B = C 6= 0, D = E = F = 0
e G2 + H 2 + I 2 − 4AJ > 0.

36

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