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A153f
Acampora, Bianca
Fundamentos da Psicopedagogia: introdução, história, teorias e panorama geral / Bianca
Acampora; prefácio de Beatriz Acampora. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2021.
144p. : 24cm
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-86095-10-4
1. Psicologia educacional. 2. Psicologia da aprendizagem. I. Acampora, Beatriz. II. Título.
2021
WAK EDITORA
Av. N. Sra. de Copacabana, 945 – sala 107 – Copacabana
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Tels.: (21) 3208-6095, 3208-6113 e 3208-3918
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A Deus e ao universo pelas oportunidades e sincronicidades permitidas ao
longo da jornada.
Aos meus familiares e amigos pelo apoio e carinho de sempre.
A todos os estudantes, crianças, adolescentes e adultos que passaram pela
minha vida e que me permitiram trocar conhecimentos e aprender com
eles.
À Wak Editora pela parceria e con ança, o que me incentiva a ser uma
eterna pesquisadora.
Educar é como soltar uma pipa. Às vezes, é preciso dar linha
e deixar ir. Às vezes, é preciso puxar a linha de volta. E, com o
tempo, a pipa será livre... Assim também é com o ser humano. Ele
nasce com diversas potencialidades que precisam ser desenvolvidas
ao longo da sua vida. Cabe à família, à escola, aos pro ssionais de
educação e saúde estimular o desenvolvimento biopsicossocial por
meio de oportunidades diversas, com afeto, carinho e coragem. Só
assim ele poderá despertar e escolher a vida que deseja ter.
Bianca Acampora
PREFÁCIO
1. INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA
2. HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
O mundo contemporâneo está permeado de inovações tecnológicas que
interconectam as pessoas em nível mundial. Paralelamente, o mercado
neoliberal capitalista vem aumentando a competitividade, pressupondo que
jovens e adultos desenvolvam certas habilidades e competências cada vez mais
cedo.
Este cenário alterou a forma pela qual os sujeitos se relacionam e aprendem.
Diante das mudanças ocorridas, percebe-se que a aprendizagem e seus desvios
têm assumido diferentes sentidos, abordagens e práticas. A Psicopedagogia é a
área de conhecimento que trabalha no cerne destas questões.
Este livro aborda os principais conceitos da Psicopedagogia no mundo e,
especialmente, no Brasil. A autora traz uma visão integrada da Psicopedagogia,
sua trajetória histórica, os campos de atuação, os avanços tecnológicos e da
Neurociência que podem ser incorporados à pro ssão.
Os fundamentos da Psicopedagogia são de extrema importância para a
formação pro ssional do psicopedagogo, pois trata da legalização da pro ssão e
das questões éticas inerentes a ela. A autora conceitua as bases teóricas da
Psicopedagogia que englobam Psicanálise, Psicologia Social, Teoria do Vínculo,
Teoria dos Grupos Operativos e a Epistemologia Genética. Juntas, tais teorias
embasam a epistemologia convergente que fundamenta a práxis
psicopedagógica.
A leitura deste livro traz uma re exão e análise do panorama da
Psicopedagogia em consonância com os avanços do uso das Neurociências e da
gami cação na aprendizagem, que ampliam as possibilidades de atuação,
atribuições e funções do psicopedagogo.
Aqui, o(a) leitor(a) vai encontrar relevantes contribuições a respeito dos
principais conceitos da Psicopedagogia, bem como sugestões práticas de
atividades. Uma leitura desa adora e estimulante que alicerça conceitos
fundamentais, em especial no processo de aprendizagem e seus desvios, que são
o cerne da Psicopedagogia contemporânea.
Nos Estados Unidos, ocorria o mesmo movimento, porém com ênfase nos
aspectos médicos. O trabalho cooperativo entre médico e pedagogo era
destinado a crianças com problemas escolares, ou de comportamento e eram
de nidas como aquelas que apresentavam doenças crônicas, como diabetes,
tuberculose, cegueira, surdez ou problemas motores. A denominação
“psicopedagógico” foi escolhida, em detrimento de “médico pedagógico”,
porque acreditava-se que os pais enviariam seus lhos com mais facilidade.
Na Educação Especial, Esquirol4 frisou a importância da diferenciação
entre confusão mental passageira, loucura como perda irremediável da razão e
idiotia (provocada pela ausência do desenvolvimento da inteligência na
infância).
Séguin5 inovou a teoria de Esquirol considerando-se enfermidades
diferentes e de diferentes etiologias. Defendia que qualquer que fosse o gênero
de di culdade, o indivíduo é educável importando saber o “quantum” de
inteligência dispõe, o grau de comprometimento das funções orgânicas
relevantes para a instrução pretendida e a habilidade na aplicação do método
educacional. Isto ressaltou a importância do diagnóstico médico nas décadas de
40 e 50.
Dessa forma, os médicos educadores acentuaram, na ação psicopedagógica,
a questão do saber como tratar, tornando a ação do psicopedagogo vinculada à
do médico (MERY, 1985). A partir daí, a neuropsiquiatria infantil passou a se
ocupar dos problemas neurológicos que afetam a aprendizagem.
Nessa mesma época, décadas de 40 e 50, Maria Montessori, psiquiatra
italiana, criou um método de aprendizagem destinado inicialmente às crianças
com comprometimentos cognitivos e siológicos. Posteriormente, o método
Montessori foi estendido a todas as crianças, sendo utilizado em muitas escolas
(MONTESSORI, 1965).
4 Jean-Étienne Dominique Esquirol (1772-1840) foi um psiquiatra francês. Entre vários outros
notáveis trabalhos, cunhou o termo “alucinação”. Foi discípulo de Philippe Pinel, sucedendo seu
mestre em 1811 como chefe do Hospital de Salpêtriére em Paris.
5 Édouard Séguin (1812-1880) foi médico e educador nascido em Clamecy, Nièvre, França. Ele é
lembrado por seu trabalho com crianças com de ciências cognitivas na França e nos Estados Unidos.
6 Arminda Aberastury (1910-1972) nasceu em Buenos Aires/ Argentina. Em 1937, casou com o
psiquiatra suíço Enrique Pichon-Rivière que foi um dos pioneiros da Psicanálise na Argentina e um
dos fundadores da Associación Psicanalítica Argentina (APA), em 1942.
7 Jorge Pedro Luis Visca (1935-2000) nasceu na Argentina. Foi psicólogo social e graduou-se,
também, em Ciências da Educação. Considerado o pai da Psicopedagogia. Foi o divulgador
da Psicopedagogia no Brasil, Argentina e Portugal e o criador da Epistemologia Convergente, que
propunha uma atividade clínica voltada para a integração de três frentes de estudo
da psicologia: Escola de Genebra (Psicogenética, de Piaget), Escola Psicanalítica (Freud) e Psicologia
Social (Enrique Pichon Rivière). Fundou centros psicopedagógicos em Buenos Aires, Rio de
Janeiro, São Paulo, Curitiba e Salvador.
Resumindo:
Linha do Tempo
Fonte: Pesquisadores diversos. Elaborado pela autora.
A Psicopedagogia é um campo de interface com diversas áreas do
conhecimento. Por isso, é importante ressaltar a construção desta pro ssão, no
que tange à sua legalização e à questão ética pro ssional. De acordo com ABPp
(2013, s/p), a Psicopedagogia se apropria de um olhar múltiplo sobre o sujeito,
considerando seus contextos psicossocio-históricos. “Atua utilizando métodos,
instrumentos e recursos próprios para compreender, promover, diagnosticar e
intervir nos processos individuais ou grupais de aprendizagem.”
Artigo 1º
A Psicopedagogia é um campo de atuação em Educação e Saúde que se
ocupa do processo de aprendizagem considerando o sujeito, a família, a escola,
a sociedade e o contexto socio-histórico, utilizando procedimentos próprios,
fundamentados em diferentes referenciais teóricos.
Parágrafo 1º
A intervenção psicopedagógica é sempre da ordem do conhecimento,
relacionada com a aprendizagem, considerando o caráter indissociável entre os
processos de aprendizagem e as suas di culdades.
Parágrafo 2º
A intervenção psicopedagógica na Educação e na Saúde se dá em diferentes
âmbitos da aprendizagem, considerando o caráter indissociável entre o
institucional e o clínico.
Artigo 2º
A Psicopedagogia é de natureza interdisciplinar e transdisciplinar, utiliza
métodos, instrumentos e recursos próprios para compreensão do processo de
aprendizagem, cabíveis na intervenção.
Artigo 3º
A atividade psicopedagógica tem como objetivos:
a) promover a aprendizagem, contribuindo para os processos de inclusão
escolar e social;
b) compreender e propor ações frente às di culdades de aprendizagem;
c) realizar pesquisas cientí cas no campo da Psicopedagogia;
d) mediar con itos relacionados aos processos de aprendizagem.
Artigo 4º
O psicopedagogo deve, com autoridades competentes, re etir e elaborar a
organização, a implantação e a execução de projetos de Educação e Saúde no
que concerne às questões psicopedagógicas.
Capítulo II – Da formação
Artigo 5º
A formação do psicopedagogo se dá em curso de graduação e/ou em curso
de pós-graduação – especialização “lato sensu” em Psicopedagogia, ministrados
em estabelecimentos de ensino devidamente reconhecidos e autorizados por
órgãos competentes, de acordo com a legislação em vigor.
Artigo 6º
Estarão em condições de exercício da Psicopedagogia os pro ssionais
graduados e/ou pós-graduados em Psicopedagogia – especialização “lato sensu”
– e os pro ssionais com direitos adquiridos anteriormente à exigência de
titulação acadêmica e reconhecidos pela ABPp. É indispensável ao
psicopedagogo submeter-se à supervisão psicopedagógica e recomendável
processo terapêutico pessoal.
Parágrafo 1º
O psicopedagogo, ao promover publicamente a divulgação de seus serviços,
deverá fazê-lo de acordo com as normas do Estatuto da ABPp e os princípios
deste Código de Ética.
Parágrafo 2º
Os honorários deverão ser tratados previamente entre o cliente ou seus
responsáveis legais e o pro ssional, a m de que:
a) representem justa contribuição pelos serviços prestados, considerando
condições socioeconômicas da região, natureza da assistência prestada e tempo
despendido;
b) assegurem a qualidade dos serviços prestados.
Artigo 7º
O psicopedagogo está obrigado a respeitar o sigilo pro ssional, protegendo
a con dencialidade dos dados obtidos em decorrência do exercício de sua
atividade e não revelando fatos que possam comprometer a intimidade das
pessoas, grupos e instituições sob seu atendimento.
Parágrafo 1º
Não se entende como quebra de sigilo informar sobre o cliente a
especialistas e/ou instituições, comprometidos com o atendido e/ou com o
atendimento.
Parágrafo 2º
O psicopedagogo não revelará como testemunha, fatos de que tenha
conhecimento no exercício de seu trabalho, a menos que seja intimado a depor
perante autoridade judicial.
Artigo 8º
Os resultados de avaliações só serão fornecidos a terceiros interessados,
mediante concordância do próprio avaliado ou de seu representante legal.
Artigo 9º
Os prontuários psicopedagógicos são documentos sigilosos cujo acesso não
será franqueado a pessoas estranhas ao caso.
Artigo 10º
O psicopedagogo procurará desenvolver e manter boas relações com os
componentes de diferentes categorias pro ssionais, observando para esse m, o
seguinte:
a) trabalhar nos estritos limites das atividades que lhe são reservadas;
b) reconhecer os casos pertencentes aos demais campos de especialização,
encaminhando-os a pro ssionais habilitados e quali cados para o atendimento.
Artigo 11
São deveres do psicopedagogo:
a) manter-se atualizado quanto aos conhecimentos cientí cos e técnicos
que tratem da aprendizagem humana;
b) desenvolver e manter relações pro ssionais pautadas pelo respeito, pela
atitude crítica e pela cooperação com outros pro ssionais;
c) assumir as responsabilidades para as quais esteja preparado e nos
parâmetros da competência psicopedagógica;
d) colaborar com o progresso da Psicopedagogia;
e) responsabilizar-se pelas intervenções feitas, fornecer de nição clara do
seu parecer ao cliente e/ou aos seus responsáveis por meio de documento
pertinente;
f ) preservar a identidade do cliente nos relatos e discussões feitos a título de
exemplos e estudos de casos;
g) manter o respeito e a dignidade na relação pro ssional para a harmonia
da classe e a manutenção do conceito público.
Artigo 12
São instrumentos da Psicopedagogia aqueles que servem ao seu objeto de
estudo – a aprendizagem. Sua escolha decorrerá de formação pro ssional e
competência técnica, sendo vetado o uso de procedimentos, técnicas e recursos
não reconhecidos como psicopedagógicos.
Artigo 13
Na publicação de trabalhos cientí cos deverão ser observadas as seguintes
normas:
a) as discordâncias ou críticas deverão ser dirigidas à matéria em discussão e
não ao seu autor;
b) em pesquisa ou trabalho em colaboração, deverá ser dada igual ênfase
aos autores e seguir normas cientí cas vigentes de publicação. Em nenhum
caso o psicopedagogo se valerá da posição hierárquica para fazer publicar, em
seu nome exclusivo, trabalhos executados sob sua orientação;
c) em todo trabalho cientí co devem ser indicadas as referências
bibliográ cas utilizadas, bem como esclarecidas as ideias, descobertas e as
ilustrações extraídas de cada autor, de acordo com normas e técnicas cientí cas
vigentes.
Artigo 15
O psicopedagogo, ao xar seus honorários, deverá considerar como
parâmetros básicos as condições socioeconômicas da região, a natureza da
assistência prestada e o tempo despendido.
Artigo 16
Cabe ao psicopedagogo cumprir este Código de Ética. Parágrafo único –
Constitui infração ética:
a) utilizar títulos acadêmicos e/ou de especialista que não possua;
b) permitir que pessoas não habilitadas realizem práticas psicopedagógicas;
c) fazer falsas declarações sobre quaisquer situações da prática
psicopedagógica;
d) encaminhar ou desviar, por qualquer meio, cliente para si;
e) receber ou exigir remuneração, comissão ou vantagem por serviços
psicopedagógicos que não tenha efetivamente realizado;
f ) assinar qualquer procedimento psicopedagógico realizado por terceiros,
ou solicitar que outros pro ssionais assinem seus procedimentos.
Artigo 17
Cabe ao Conselho Nacional da ABPp zelar, orientar pela el observância
dos princípios éticos da classe e advertir infrações se necessário.
Artigo 18
O presente Código de Ética poderá ser alterado por proposta do Conselho
Nacional da ABPp, devendo ser aprovado em Assembleia Geral.
Capítulo X – Das disposições gerais
Artigo 19
O Código de Ética tem seu cumprimento recomendado pelos Conselhos
Nacional e Estaduais da ABPp.
Quézia Bombonatto
Presidente do Conselho Nacional da ABPp.
Presidente Nacional da ABPp – Gestão de 2008 e 2010 e de 2011 e 2013.
A Epistemologia convergente postulada por Jorge Visca é a principal linha
teórica utilizada pelos psicopedagogos atualmente. O conhecimento converge
em um tripé que engloba: 1. a teoria da Psicanálise construída por Freud e
aprofundada por Lacan, Winnicott e outros pensadores; 2. a Psicologia Social e
Teoria do Vínculo postuladas por Pichon Riviére; 3. a Psicogenética (Piaget).
Estudo de caso:
Uma adolescente de 14 anos brinca de boneca escondida das amigas, ainda dorme na cama
junto com os pais e apresenta dificuldades de aprendizagem na escola, pois não tem
autonomia para realizar as atividades propostas pelos professores. Os pais reforçam o
comportamento de dependência da menina.
Pode-se dizer que o Ego da adolescente está fragilizado, pois não se sente capaz de fazer
escolhas sozinha (o que é reforçado pelos pais). Seu Id tem impulsos de brincar de boneca e
seu Superego entra em conflito porque, mesmo sabendo que as colegas da escola, de sua
idade, não brincam mais de boneca, seus pais deixam. Então, quando está sozinha, o Superego
permite que ela brinque de boneca, mas, quando está com as amigas, não permite.
Esta adolescente está em conflito interno. Como os pais reforçam a dependência emocional,
tratando-a como uma criança pequena, ela tem comportamentos inadequados para a sua idade,
apresentando-se imatura, o que reflete em sua aprendizagem, pois pode pensar que sempre
terá alguém para protegê-la e ajudá-la, por isso não precisa esforçar-se para aprender sozinha.
É claro que outras possibilidades de dificuldades de aprendizagem podem estar associadas,
mas é importante perceber que algumas questões emocionais e comportamentais, tanto
individuais quanto familiares, estão causando alguns conflitos na adolescente.
Dessa forma, Lacan funda uma visão de sujeito mais abrangente que Freud,
considerando o signo, signi cante e o signi cado. Estes termos foram
cunhados por Saussure9.
Um exemplo de signi cado seria um carro. A palavra carro pode ser
expressa de diferentes formas de acordo com a língua (car, voiture, coche etc.).
São signi cantes diferentes de um mesmo signi cado que é carro. Para Lacan,
o signi cante estaria no lugar do Outro, é lá que estão os signi cantes. Os
signi cantes seriam mais importantes do que o signi cado.
Lacan defende que o inconsciente se interessa mais pelos signi cantes do
que pelos signi cados. Os signi cados podem também ser um novo
signi cante, ou seja, uma árvore tem um signi cado no dicionário igual para
todos como diz Saussure, mas, para o inconsciente, ela pode, dependendo dos
signi cantes de cada sujeito, remeter a outra coisa, um lugar onde tenha
ocorrido algo que só o sujeito vai poder saber a respeito, por exemplo.
9 Ferdinand de Saussure (1857-1913) nasceu na Suíça. Foi um linguista e lósofo, cujas elaborações
teóricas propiciaram o desenvolvimento da linguística como ciência autônoma. Seu pensamento
exerceu grande in uência sobre o campo da teoria da literatura e dos estudos culturais.
Winnicott10
Winnicott defende, em sua teoria, os estágios mais primitivos do
desenvolvimento emocional do ser humano. Para ele, boa parte dos problemas
emocionais se origina nas etapas da primeira infância, tendo como foco a
relação entre mãe e bebê. Para ele, um bebê não pode existir sozinho, pois é
parte de uma relação.
Winnicott (1965) parte do princípio de que a mãe é o sujeito fundamental
para o desenvolvimento mental da criança. Em sua visão, a criança não é
objeto da natureza, mas uma pessoa que necessita de outra para existir, tendo
em questão não sua sexualidade (vida erótica), mas sim a conquista de um
lugar para viver. Para Winnicott (1965, p. 21-28), as relações familiares são
consideradas o fundamento da constituição e do desenvolvimento do bebê e da
criança.
Na abordagem winnicottiana, o ser humano apresenta potencial criativo
que tem a mãe como principal base para a estabilidade mental, tendo a
sustentação ou holding a constituição de uma forma de amar por meio do fator
físico, levando em consideração a sensibilidade epidérmica da criança,
carregando-a nos braços e cuidando-a ao longo do dia e da noite. A quebra
dessa base é o que origina os problemas psicológicos, pois a mãe deve atuar
como “ego-auxiliar” da criança, que, quando falha, o bebê tem experiência
subjetiva de ameaça à sua continuidade existencial, causando na idade adulta a
sensação de vazio, futilidade, irrealidade e, até mesmo, tendências antissociais,
psicoses e psicopatia. Para o autor, as “aberrações” são causas diretas do mau
desenvolvimento emocional infantil (WINNICOTT, 1965, p. 21-28).
10 Donald Woods Winnicott (1896-1971) nasceu na Inglaterra. Foi pediatra e psicanalista inglês.
Teoria do Vínculo
O vínculo faz parte da nossa vida, ainda na vida intrauterina quando
começa a nossa relação com o mundo externo. Nessa perspectiva, começamos a
estabelecer vínculos, inicialmente com a voz de nossos pais (e familiares). De
acordo com Bastos (2010, p.164), “o vínculo é uma estrutura complexa de
relação que vai sendo internalizada e que possibilita ao sujeito construir uma
forma de interpretar a realidade própria de cada um”.
A qualidade das relações estabelecidas nos primeiros anos de vida poderá ser
um fator determinante do processo de desenvolvimento cognitivo e emocional.
O dar o seio não é tão importante quanto o como o seio é dado, como as
demais solicitações da criança são atendidas. A criança incorpora não só o leite
da mãe mas também suas carícias, sua voz, seu cheiro.
Pichon-Rivière defende que as relações entre sujeito e seu grupo familiar ou
cuidadores permitem a este sujeito perceber, distinguir, pensar, sentir e agir na
realidade. Estas tramas vinculares humanas sustentam o processo de
psicomotor, cognitivo, afetivo e social do indivíduo, possibilitando a produção
de relações saudáveis ou não com o aprendizado, com as outras pessoas, com o
estudo, com o trabalho, com o lazer, en m, com o mundo que o cerca e com
as suas atividades diárias.
A Teoria do Vínculo, preconizada por Pichon-Rivière, propõe que, em todo
interior de um grupo, as relações intensas que são caracterizadas pelos papéis e
funções de cada um exigem ações que se completam com o modo de viver o
grupo e pertencer a ele. Nessa perspectiva, cada elemento do grupo familiar
tem um papel a cumprir, e toda a sua forma de agir, comunicar, pensar e sentir
in uenciará o funcionamento desse grupo.
Por mais tumultuados e con ituosos que sejam, os vínculos são espelhos
que re etem a dinâmica do grupo e, a qual, a criança revela com a sinceridade
que lhe é comum. Por isso, conta para todos da escola quando os pais brigam;
por isso, choram se são repreendidas; por isso, assumem a postura desa ante na
escola perante o(a) professor(a).
Diante da briga dos pais, a criança ca triste, mas não tem poder de mudar
esta situação; se é repreendida de forma que não lhe explicam os porquês de
seus atos, chora pela insegurança; se seus pais discutem, gritam e não dialogam
sobre as situações, entenderá que a resistência é a melhor estratégia para não
atender aos comandos. En m, vínculos complexos, comportamentos adversos.
As tramas vinculares nunca são isoladas, são sempre um entrelaçamento
articulado de comportamentos, atitudes, afeto, carinho e cuidado (ou falta
deles) no âmbito grupal, social e institucional. E tais tramas têm resultados que
podem ser positivos ou negativos para o sujeito e podem trazer dor e
sofrimento ou alegria e segurança.
É importante ressaltar que tais tramas são vivenciadas antes mesmo do
nascimento, já no ventre materno e dependendo da experiência, o sujeito pode
levar suas marcas e cicatrizes para sua vida adulta, o que irá atrapalhar
posteriormente sua vida afetiva, pro ssional e social.
Grupos operativos
Os grupos operativos sempre visam “operar” em uma determinada tarefa –
a aprendizagem –, e podem ser divididos em quatro subtipos: ensino-
aprendizagem, institucionais, comunitários e terapêuticos.
Fonte: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v36n1/v36n1a09.pdf
Fonte: http://dannypedagoga.blogspot.com/2010/10/assimilacao-acomodacao-e-equilibrio.html
Piaget pressupõe que os seres humanos passam por uma série de mudanças
ordenadas e previsíveis, as quais denomina estádios ou períodos de
desenvolvimento, que dividiu em quatro:
* Primeiro estádio – corresponde à inteligência sensório-motora. Nesse
nível, a criança constrói um conjunto de “esquemas de ação” que lhe permite
compreender a realidade e a forma como esta funciona.
* Segundo estádio – inteligência pré-operatória. A criança é competente em
nível do pensamento representativo, mas precisa de operações mentais que
ordene e organize os seus pensamentos.
* Terceiro estádio – inteligência operatória concreta. As experiências físicas
e concretas se acumulam, e a criança começa a estruturar lógicas para explicar
as experiências sem abstração.
* Quarto estádio – inteligência formal ou hipotética dedutiva, a criança
atinge o raciocínio abstrato, conceitual levantando hipóteses, sendo capaz de
pensar cienti camente.
Wallon
Henri Wallon (1968) enfatiza as relações do indivíduo com o meio social e
com as interações com o meio. Ressalta que as relações do homem com o meio
são de transformações mútuas, e as circunstâncias sociais de sua existência
in uenciam fortemente a evolução humana.
A teoria das Inteligências Múltiplas foi elaborada a partir dos anos 80,
essa tendo como fundo uma nova alternativa de conceituar a
inteligência enfatizando as múltiplas capacidades do cérebro, revelando
com isso uma família mais ampla de inteligências, somando um total
de nove inteligências que são elas: musical, lógico-matemática,
linguística, intrapessoal, interpessoal, corporal-cinestésica, espacial,
naturalista e pictórica. (SILVA, 2014, p. 2)
Gardner por meio de sua teoria das Inteligências Múltiplas inaugura um
novo conceito de inteligência, que não é pautada somente no raciocínio lógico-
matemático, como acontecia nos testes de QI (quoe ciente intelectual).
Gardner valoriza as potencialidades e acredita que elas podem ser desenvolvidas
e trabalhadas para o melhor desempenho de cada indivíduo. “As Inteligências
Múltiplas devem ser usadas como uma forma de promover um
desenvolvimento de um trabalho de alta qualidade do aluno [...] o trabalho do
aluno e sua compreensão deste trabalho é a marca da boa educação”
(GARDNER, 2001 p. 181).
O pensamento de Gardner colabora para os conceitos da Neurociência,
compreendendo que as estruturas neurobiológicas da criança e do adolescente e
seus sistemas de atenção têm um tempo determinado. Sendo assim, uma
criança e um adolescente podem sustentar a atenção em uma aula expositiva
por cerca de aproximadamente 30 a 40 minutos. Por isso, torna-se importante
o trabalho psicopedagógico dinâmico que contemple o saber-fazer, a
ludicidade, por meio de atividades centradas na ação-re exão-ação.
1) Crie regras
Junto com o(s) indivíduo(s), crie sanções disciplinares que sejam coerentes
e de comum acordo, ou seja, medidas que serão tomadas em caso de
comportamento inadequado (previamente conversado e acordado) e que
tenham relação com o determinado comportamento:
Sanção disciplinar: deve-se conversar com o(s) indivíduo(s) dando-lhe(s)
oportunidade de elaborar os combinados em conjunto, tendo para cada ação
indesejada uma consequência que esteja diretamente ligada à ação inadequada.
Por exemplo: a criança bateu no colega de turma. O combinado deve prever
que, se um machucar o outro, deverá cuidar dele, ou seja, é uma sanção
disciplinar que está diretamente ligada à ação e não desconectada dela.
É muito comum ver pais que punem até com castigo físico ou ameaças que
podem afetar o autoconceito do(s) indivíduo(s). Também é comum ver
professores que deixam seus alunos sem recreio ou sem aula de Educação Física
porque eles zeram bagunça na aula. Isto é uma punição, educar por meio do
medo e da perda. É importante que a consequência da ação esteja ligada ao ato
da criança.
Segundo Acampora (2014, p. 98 e 99), os combinados elaborados em
conjunto ajudam as crianças e os adultos, a saber:
- Como identi car e falar sobre seus sentimentos?
- Como falar o que desejam falar?
- Como ouvir com atenção?
- Como pedir ajuda?
- Como fazer e conservar amigos?
- Como lidar com solidão e rejeição?
- Como pedir desculpas?
- Como lidar com ameaças?
- Como resolver con itos?
- Como lidar com mudanças e perdas, inclusive com a morte?
- Como se adaptar a novas situações?
- Como ajudar os outros?
2) Crie histórias
Crianças menores gostam de brincadeiras e pode-se ensinar a ter um
determinado comportamento por meio da teatralização, da representação da
situação. Crie uma história com fantoches com o tema de respeito, amor,
solidariedade, iniciativa, entre outros que auxiliem a criança a construir as
competências emocionais.
Exemplo: Atividade: dramatização com fantoches
Material: fantoches com personagem de gato e outro de cachorro.
Curiosidade
NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM
ATENÇÃO
MEMÓRIA
O esquema de trabalho:
1ª sessão – Entrevista contratual e Anamnese (pode ser feita
posteriormente)
2ª sessão – EFES (Elaborado pela Weiss, 2004.)
3ª sessão – EOCA (Elaborada por Jorge Visca)
4ª sessão – Provas operatórias – PIAGET
5ª sessão – Provas operatórias – PIAGET
6ª sessão – Provas projetivas – Jorge Visca
7ª sessão – Avaliação com a criança (jogos e testes)
8ª sessão – Avaliação com a criança (jogos e testes)
9ª sessão – Visita à escola da criança (entrevista e observação)
10ª sessão – Sessão devolutiva e possíveis encaminhamentos
Orientação Educacional
As funções de orientador educacional já possuem uma tradição na estrutura
institucional, trabalha com o aluno e com seus familiares com foco nos
aspectos de aprendizagem, emocionais e comportamentais.
Psicologia Escolar
A origem histórica da Psicologia Escolar é diferente da Psicopedagogia. A
Psicologia Escolar surgiu para explicar o fracasso escolar, enquanto a
Psicopedagogia surgiu como um trabalho clínico dedicado ao trabalho com
aqueles que apresentavam di culdades na aprendizagem por problemas
especí cos.
A Psicologia Escolar é uma especialização do curso de graduação em
Psicologia, enquanto o curso de Psicopedagogia é um curso de especialização,
que recebe graduados em diversos cursos.
O trabalho da Psicologia Escolar se realiza nos limites da Psicologia,
enquanto o trabalho Psicopedagógico se realiza na interface da Psicologia e da
Pedagogia ou, mais recentemente, na interface da Psicanálise e da Pedagogia.
Neste último caso, busca entender e intervir no processo de ensino e
aprendizagem, levando em conta o inconsciente e a relação transferencial. Para
exercer a pro ssão, é exigido registro no Conselho Regional de Psicologia.
Psicomotricidade
A Psicomotricidade está relacionada ao processo de maturação, onde o
corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada
por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto.
Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de
movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo
sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua
socialização.
O psicomotricista atua nas seguintes áreas: Educação, Clínica, Consultoria,
Supervisão e Pesquisa. Embora a Psicopedagogia muitas vezes se intercepta com
a Psicomotricidade, esta não é uma área onde nós atuamos.
Terapia Ocupacional
O terapeuta ocupacional estuda e emprega atividades de trabalho e lazer no
tratamento de distúrbios físicos ou mentais e de desajustes emocionais e sociais.
O pro ssional utiliza tecnologias e atividades diversas para promover a
autonomia de indivíduos com di culdade de integrar-se à vida social em razão
de problemas físicos, mentais ou emocionais.
Elabora planos de reabilitação e adaptação, buscando não apenas
desenvolver no paciente autocon ança mas também orientá-lo quanto a seus
direitos de cidadão. Este terapeuta atende pessoas de todas as idades, de recém-
nascidos e crianças a adultos e idosos, na promoção do bem-estar, prevenção e
recuperação de disfunções. Também cria e faz a avaliação de atividades físicas,
podendo prestar atendimento individual ou em grupo.
Seus principais campos de trabalho incluem clínicas, asilos, casas de
repouso, hospitais, instituições geriátricas, psiquiátricas e penais, centros de
saúde, de convivência e de reabilitação, creches e empresas. Além disso, o
pro ssional está habilitado a prestar atendimento aos pacientes em domicílio.
Fonoaudologia
É a ciência que se ocupa da prevenção, da habilitação e reabilitação da voz,
da audição, da motricidade oral, da leitura e da escrita. O fonoaudiólogo trata
de de ciências de fala, audição, voz, escrita ou leitura. Pode atuar em parceria
com outros pro ssionais, como sioterapeutas e psicólogos. Com dentistas,
trata de males que podem causar ou agravar problemas ortodônticos. Trabalha
em clínicas, consultórios, escolas, hospitais e emissoras de televisão, auxiliando
atores e apresentadores na postura da voz. Para exercer a pro ssão, é exigido
registro no Conselho Regional de Fonoaudiologia.
De acordo com os Parâmetros Nacionais para Elaboração de Concursos
Públicos para Psicopedagogos no Brasil elaborado pela ABPp (2013, s/p.), as
funções do psicopedagogo são:
1 – Na instituição escolar
1.1 - atuar preventivamente de forma a garantir que a escola seja um
espaço de aprendizagem para todos;
1.2 - avaliar as relações vinculares relativas a: professor/aluno;
aluno/aluno/; família/escola, fomentando as interações interpessoais para
intervir nos processos do ensinar e aprender;
1.3 - enfatizar a importância de que o planejamento deve contemplar
conceitos e conteúdos estruturantes, com signi cado relevante e que
levem a uma aprendizagem signi cativa, elaborando as bases para um
trabalho de orientação do aluno na construção de seu projeto de vida,
com clareza de raciocínio e equilíbrio;
1.4 - identi car o modelo de aprendizagem do professor e do aluno e
intervir, caso necessário, para torná-lo mais e caz;
1.5 - assessorar os docentes nos casos de di culdades de aprendizagem;
1.6 - encaminhar, quando necessário, os casos de di culdades de
aprendizagem para atendimento com especialistas em centros
especializados;
1.7- mediar a relação entre pro ssionais especializados e escola nos
processos terapêuticos;
1.8- participar de reuniões da escola com as famílias dos alunos
colaborando na discussão de temos importantes para a melhoria do
crescimento de todos que estão ligados àquela instituição;
1.9- atender, se necessário, funcionários da escola que possam necessitar
de uma orientação quanto ao desempenho de suas funções no trato com
os alunos.
Brasil. Projeto de Lei da Câmara (PLC) nº 31, de 2010 (Projeto de Lei n.º
3.512, de 2008, na origem).
TELLES, Vera da Silva. Pobreza e Cidadania. São Paulo: Editora 34, 2001, p.
139-166