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COOPERAÇÃO

INTERNACIONAL
UFRGS-ÁFRICA
Os primeiros estudantes africanos conveniados chegaram
à UFRGS em 1976, desde então, o processo de recepção e am-
bientação destes às rotinas acadêmicas foram se ampliando.
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Em entrevista, a Vice-Pró-Reitora de Graduação, Andrea Beni-


tes, nos conta um pouco dessa história e os seus desdobramen-
tos nas trajetórias dos estudantes africanos.
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Entrevista por:
Frederico Matos Cabral Guineense, mestrando em Sociologia na UFRGS

Conversando com
Andréa dos Santos Benites
Andrea dos Santos Benites, Vice-Pró-Reitora de Graduação e Coorde-
nadora do Programa de Estudantes Convênio de Graduação (PEC-G) da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, conversou conosco sobre a
história, resultados e projetos futuros do Programa de Estudantes Con-
vênio da Graduação (PEC-G)

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Revista Semana da África: Como ação no país, em Instituições de Ensino
o PEC-G opera enquanto um dos instru- Superior (IES) participantes do PEC-G -
mentos de cooperação internacional universidades públicas federais e esta-
nas universidades brasileiras? duais e particulares -, e com o retorno
dos estudantes ao seu país de origem.
Andréa dos Santos Benites: No Para que esta cooperação se torne
âmbito da Graduação, uma das formas plena nas IES brasileiras, é preciso in-
de propiciar essa aproximação nas Uni- crementar essas relações. É necessário
versidades se dá através do Programa entender melhor esta cooperação, am-
de Estudantes Convênio da Graduação pliar diálogo e apoio institucionais e es-
(PEC-G) que se constitui em um dos ins- tabelecer uma política de contrapartida
trumentos de cooperação educacional dos estudantes PEC-G com a Universi-
internacional que o Governo brasileiro dade, para além de um bom desempe-
oferece a outros países em vias de de- nho acadêmico.
senvolvimento, especialmente da Áfri-
ca e da América Latina. RSA: Quando foi criado o Progra-
Este Programa se desenvolve ma e qual o número aproximado de es-
através de um conjunto de atividades tudantes que participaram?
e procedimentos de cooperação com o
objetivo de formar e qualificar estudan- ASB: O Programa de Estudantes
tes estrangeiros entre 18 e 23 anos, que Convênio de Graduação (PEC-G), oficial-
tenham concluído o ensino médio e que mente criado no ano de 1965, através
sejam oriundos de países em desenvol- do Decreto nº 55.613, regido atualmen-
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vimento com os quais o Brasil mantém te pelo Decreto nº 7.948 de 12 de março


acordos bilaterais vigentes. Isso se dá de 2013, é administrado pelo Ministério
através da realização de toda a gradu- das Relações Exteriores, por meio da
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Divisão de Temas Educacionais (DTE) e ASB: A UFRGS é participante des-
pelo Ministério da Educação, por meio te Programa desde a sua criação, em
da Secretaria de Ensino Superior (SESU/ 1965. Porém, a chegada dos estudantes
DIPES/CGRE), em parceria com Institui- oriundos dos países africanos data de
ções de Ensino Superior em todo o país. 1976, através de um estudante de Gui-
A complexidade deste Programa né-Bissau, que se formou em Engenha-
pode ser constatada quando se pontua ria Elétrica, em 1982, e um estudante da
os órgãos envolvidos - Embaixadas ou Nigéria, que se diplomou em Engenha-
Consulados do Brasil nos países parcei- ria Mecânica em 1981.
ros, Ministério das Relações Exteriores, De 1976 até 2014/1, considerando
Ministério da Educação, Instituições de os registros dos alunos, 74 estudantes
Ensino Superior brasileiras, Polícia Fe- africanos já se diplomaram na UFRGS,
deral e estudantes - bem como todos os abrangendo os seguintes cursos: Enge-
procedimentos e ações que precedem à nharia Mecânica, Engenharia Elétrica,
chegada dos estudantes PEC-G nas IES Engenharia de Minas, Engenharia Me-
brasileiras. talúrgica, Ciências Sociais, Administra-
De acordo com os dados do MEC, ção, Comunicação Social - Relações Pú-
atualmente o PEC-G, no Brasil, conta blicas, Comunicação Social - Publicidade
com 2.000 estudantes convênio, sendo e Propaganda, Engenharia Química,
1.400 vinculados nas IFES e 600 vin- Geologia, Ciências Econômicas, Farmá-
culados nas Instituições Estaduais ou cia, Arquitetura e Urbanismo, Ciências
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Particulares. Só na última década, mais Jurídicas e Sociais, Psicologia, Relações


de 6.000 estudantes estrangeiros foram Internacionais e Odontologia.
selecionados por meio do Programa e, Em 2014/2, encontravam-se
anualmente, cerca de 500 novos estu- matriculados na UFRGS 52 estudantes
dantes iniciam seus estudos em mais de através do PEC-G. Desses, 30 são oriundos
90 instituições. de países africanos, representando
57,6% dos matriculados, distribuídos
RSA: Desde quando a UFRGS pas- da seguinte forma: 12 estudantes de
sou a fazer parte do PEC-G e quantos Guiné-Bissau; sete do Congo; seis da
estudantes africanos participaram do República do Benin; dois de Cabo Verde;
Programa? um do Togo; um de Moçambique e umw

Só na última década, mais de


6.000 estudantes estrangeiros
foram selecionados por meio
do Programa e, anualmente,
cerca de 500 novos estudantes
iniciam seus estudos em mais
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de 90 instituições.
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de Angola. Os demais estudantes são vo à participação de eventos acadêmicos
de Cuba, Equador, Guatemala, Haiti, e culturais, dentre outros.
Honduras, Jamaica, Panamá e República Os demais órgãos, quando cha-
Dominicana. mados a participarem do Programa, ou
seja, Pró-Reitoria de Assuntos Estudan-
RSA: Como se dá a organização e o tis, Secretaria de Relações Internacio-
gerenciamento do Programa na UFRGS, nais, Pró-Reitoria de Extensão e Núcleo
assim como o acompanhamento dos de Apoio ao Estudante (NAE) e Coor-
estudantes? denadoria de Ações Afirmativas (CAF),
têm sido muito receptivos a este traba-
ASB: O PEC-G na UFRGS está lho conjunto. As Comissões de Gradua-
sob a Coordenação da Pró-Reitoria de ção também têm um papel importante
Graduação que, em parceria com outras em todo este processo por estarem mais

Em 2014/2, encontravam-se ma-


triculados na UFRGS 52 estudan-
tes através do PEC-G. Desses, 30 são

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oriundos de países africanos, repre-
sentando 57,6 % dos matriculados.

Pró-Reitorias Acadêmicas e Secretarias, próximas da realidade acadêmica dos


desenvolve atividades relacionadas ao estudantes. Esta aproximação deve ser
Programa. fortalecida, especialmente em relação
Essa articulação com os demais ao acompanhamento acadêmico dos es-
órgãos da Universidade se faz necessá- tudantes.
ria para o desenvolvimento das diver-
sas ações que envolvem este complexo RSA: Como se dá a relação dos
Programa, tais como: recepção e aco- estudantes estrangeiros com a Coorde-
lhimento dos estudantes, acompanha- nação do Programa para o encaminha-
mento acadêmico e orientação para mento de suas principais demandas?
superação de dificuldades decorrentes
do ensino e da aprendizagem, inserção ASB: Muito embora tenham sido
internacional e cultural dos estudan- realizadas apenas duas reuniões com
tes no contexto da UFRGS, orientação a PROGRAD, em 2013, uma em mar-
sobre a documentação de estrangeiros, ço, para apresentação do novo Decreto
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viabilização de auxílios e benefícios que que passou a regulamentar o PEC-G, a


podem ser oferecidos aos estudantes, outra em outubro, para a definição de
apoio psicológico e de carreira, incenti- uma representação para a participação
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no I Encontro Internacional de Estu- compreendido por parte dos estudantes.
dantes PEC-G em Recife, e, em 2014,
apenas uma reunião com a presença RSA: Quais têm sido os encami-
dos estudantes e Comissões de Gradu- nhamentos mais recentes do MEC em
ação e setores parceiros, a interlocução relação ao Programa, uma vez que o
com a Pró-Reitoria da Graduação, atra- PEC-G completa 50 anos em 2014?
vés do Departamento de Cursos e Polí-
ticas de Graduação, e em especial com ASB: Em julho de 2013, em Brasí-
a Coordenação do Programa, acontece lia, foi realizada uma oficina de Revisão
a contento. Os alunos têm acesso livre do PEC-G, com o objetivo de repensar es-
à Coordenação do Programa para o en- tratégias diante dos novos cenários edu-
caminhamento de suas demandas, in- cacionais que se apresentam. O PEC-G
clusive não marcam hora. Dentro das revitalizado deve ganhar inclusive um
possibilidades, atendemos ou encami- espaço ainda maior nessa perspectiva
nhamos as demandas dos estudantes de fortalecimento da Cooperação Edu-
aos devidos órgãos competentes. cacional Brasil-África: Educação como
Neste sentido, duas reivindicações Ponte Estratégica.
dos estudantes PEC-G, no ano de 2014, Em novembro de 2014, foi
foram atendidas. Uma delas é a possi- realizado o Encontro Nacional do
bilidade que os estudantes têm de rece- PEC-G, em Brasília, com a presença de
berem a bolsa do Projeto Milton Santos representantes das IES participantes,
de Acesso ao Ensino Superior (PROMI- com os coordenadores do Programa
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SAES), disponibilizada pelo MEC, junta- no MEC e no MRE, com ex-alunos e


mente com a realização de estágios cur- estudantes PEC-PG, com representantes
riculares não obrigatórios remunerados, das missões diplomáticas dos países
o que, até 2013/2, não era possível, pois parceiros, além de representantes
a legislação que regulamentava os está- de outros órgãos governamentais
gios não permitia acúmulos de qualquer envolvidos com a internacionalização
remuneração ou auxílios financeiros. A da educação. Ao mesmo tempo em que
possibilidade agora justifica-se porque se comemorou os 50 anos do Programa,
estas remunerações/auxílios possuem buscou-se proporcionar um momento
naturezas distintas, ou seja, um com fi- de reflexão e avaliação do caminho
nalidade de apoio à permanência e o ou- percorrido desde 1964, bem como pautar
tro de natureza acadêmica. os próximos 50 anos.
A outra reivindicação é a possibi- Os próximos encontros acontece-
lidade de concorrência exclusiva com rão através da reativação das reuniões
os demais estudantes PEC-G, através de regionais, com a participação das coor-
edital, aos auxílios e benefícios disponi- denações do PEC-G e envolvidos com o
bilizados pela Pró-Reitoria de Assuntos Programa, bem como com representan-
Estudantis, agora facultado às Universi- tes dos referidos Ministérios. A UFRGS
dades conforme Decreto nº 7.948 de 12 sediou uma dessas reuniões no ano de
de março de 2013. 2005.
Isto demonstra que há reivindica- Além disso, os diálogos, tanto com
ções por parte dos estudantes que são o MEC quanto com o MRE, são extrema-
possíveis de serem atendidas nas Uni- mente profícuos. Há uma grande dispo-
versidades, entretanto, há outras que nibilidade e interesse por parte desses
dependem, muitas vezes, do MEC e do Ministérios nos encaminhamentos e no
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MRE, ou, até mesmo, de modificações pronto atendimento das eventuais dú-
no próprio Decreto, que fogem da auto- vidas ou dificuldades que tenham sido
nomia das Universidades, o que deve ser externadas à esses parceiros.
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tante destacar que a atenção e o acompa-
nhamento que devem ser dispensados a
RSA: Quais as perspectivas de esses alunos, necessariamente passam
continuidade do Programa na UFRGS? pelo amadurecimento e conscientização
de todos os envolvidos. Toda a coopera-
ASB: A UFRGS, como as demais ção é relevante e pode trazer contribui-
IES brasileiras que acreditam neste Pro- ções significativas às nossas Universi-
grama, em 2014, renovou sua Adesão ao dades, na busca do entendimento e do
PEC-G junto ao MEC e MRE. Portanto, reconhecimento profundos da realidade
nenhum risco de descontinuidade está social, política e cultural de seus países,
em pauta. tão diversa da realidade brasileira.
Para 2015, está sendo reorganiza- Conhecer e valorizar o PEC-G e
da uma recepção para todos os estudan- seus estudantes é uma grande oportu-
tes PEC-G que ingressarão na UFRGS. A nidade de aproximação com o continen-
atividade deverá ser realizada em con- te africano, dos seus saberes e wwsuas
junto com as Pró-Reitorias parceiras, histórias.
Coordenadoria de Ações Afirmativas e Certamente, um dos desafios das
Núcleo de Apoio ao Estudante, e com a IES brasileiras é o de proporcionar con-
participação dos estudantes veteranos. dições acadêmicas e de permanência
O objetivo é o de dar boas-vindas adequadas, para que a passagem dos es-
e apresentar aos recém-ingressos algu- tudantes PEC-G, em nossas instituições,
mas possibilidades e oportunidades que seja a mais tranquila possível, pois além

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a UFRGS oferece aos estudantes; fazer de se tratar de uma cooperação educa-
a identificação das pessoas e órgãos en- cional, este Programa é uma ação afir-
volvidos com o PEC-G; motivar a inte- mativa e de internacionalização solidá-
gração com os alunos veteranos e enca- ria.
minhá-los à matrícula nas respectivas
Unidades Acadêmicas, já buscando uma
aproximação desses estudantes com o
meio universitário.
Outra ação para 2015 é a reati-
vação da Monitoria PEC-G, criada em
2009, com o objetivo de fornecer apoio
acadêmico inicial e fomentar a inserção
dos estudantes estrangeiros PEC-G na
Universidade. Adicionalmente, outros
projetos e ações deverão ser desenvolvi-
dos para a valorização e aprimoramento
do Programa na UFRGS.
Além disso, externamente à
UFRGS, estamos acompanhando um
especial movimento por parte do MEC
e MRE no sentido de impulsionar,
valorizar e qualificar cada vez mais
o PEC-G, na medida em que as
Universidades vêm sendo chamadas
para participar de atividades conjuntas
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com os referidos Ministérios.


Neste contexto de mudanças e va-
lorização do Programa, é muito impor-
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