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Copyright © 2019 Vanessa Secolin

Capa: Islay Rodrigues

Diagramação: Vanessa Secolin

Revisão: Carolina dos Santos

Está é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

Todos os direitos reservados. Este ebook ou qualquer parte dele não


pode ser reproduzido ou usado de forma alguma sem autorização
expressa, por escrito, do autor, exceto pelo uso de citações breves em
uma resenha do ebook.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/ 98 e


punido pelo artigo 184 do Código Penal.
A ESCOLHA – Livro 3
Série Bittencourt

Vanessa Secolin
1ª edição - 2019

Todos os direitos reservados.


Dedicatória

Dedico esse livro ao meu pai, que sempre soube amar a mim e aos
meus irmãos de uma forma única, e principalmente soube nos educar e
ensinar o que é respeito sem precisar levantar a voz ou nos agredir, te
amo pai!
Índice

Dedicatória

Índice

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15
Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29

Capítulo 30

Capítulo 31

Capítulo 32

Capítulo 33

Capítulo 34

Capítulo 35
Capítulo 36

Capítulo 37

Capítulo 38

Capítulo 39

Capítulo 40

Capítulo 41

Epílogo 1

Epílogo 2

Agradecimentos

Próximo livro da série

Sobre a autora
Prólogo

Quando Ethan resolveu cursar a área criminal de advocacia, o seu


pai se orgulhou, afinal o filho mais velho já estava formado nessa área, o
segundo estava se formando em advocacia empresarial, o terceiro
almejar o mesmo era o que Alfredo Bittencourt mais queria.

Porém, quando Ethan contou o real motivo de fazer o curso, o pai


foi contra, não queria um filho policial, mas nem isso foi capaz de fazê-
lo mudar de ideia.

Ser um agente especial investigativo sempre foi o desejo de Ethan


e isso estava a um passo de se realizar.

— Sua promoção depende desse trabalho. — O chefe do


departamento o alertou novamente, batendo com a mão no dossiê.

— Eu sei senhor. — Ele respondeu firmemente.

— Tem quatro meses para se preparar. — Ethan assentiu em


resposta.

Uma batida na porta foi ouvida e os dois homens se viraram.

— Chamou senhor? — A agente da Interpol entrou na sala.

Brenda Roberts foi mandada para Nova Iorque por causa do caso
Herrera, a mexicana é o elo entre as autoridades de Nova Iorque e
México.

— Sim, entre.

O chefe do departamento apresentou os dois que trabalharão juntos


por um bom tempo.

Brenda analisou Ethan e recebeu a mesma análise em resposta.


Com quatro meses para estudar o caso e com isso mudar a
aparência, Ethan se preparou.

Contar para a família foi a parte mais difícil, o pai como já era
esperado foi contra, mas a decisão já estava tomada.

∞∞∞

Ethan se encarava no espelho e não se reconhecia. Os cabelos


antes eram um pouco maiores e bem loiros, agora estavam curtos, num
tom loiro escuro quase castanho, os olhos verdes estavam escondidos
pelas lentes negras, a barba que sempre estava aparada, agora estava
crescida, deixando-o totalmente diferente.

— Herrera sabe da existência dos herdeiros Bittencourt, seus


irmãos estão com frequência nos holofotes, mas você sempre foi
discreto, ele não vai suspeitar, já limpei tudo relacionado a Ethan
Bittencourt, se pesquisarem sobre você na mídia nada recente será
encontrado, apenas fotos quando criança. — O chefe o alertou.

— Assim espero. — Ele comentou, estava realmente preocupado


com essa questão.

Em pensar que a frequente timidez dele para fotografias veio a


calhar, Ethan nunca gostou de tirá-las e sempre fugia delas.

— Aqui está sua nova identidade, junto com um resumo da sua


suposta família.

Ele encarou a identidade, a foto estava idêntica à pessoa que ele


havia se transformado. Ele leu o seu novo nome, deixará de ser Ethan
Bittencourt e se transformará em Alex Stewart, por tempo
indeterminado.

— Ainda não entendo como conseguiu me colocar lá dentro. —


Ethan comentou abrindo novamente o dossiê da garota que irá proteger.
Quando viu pela primeira vez, se surpreendeu, afinal Tayane
Herrera já não é mais uma criança, aquele rosto angelical já é de uma
adolescente, quase mulher. Os olhos são castanhos-esverdeados e
realçados por longos cílios negros e curvados, a boca rosada tinha um
formato de coração. Ethan voltou a se incomodar com os seus
pensamentos.

Seria tudo menos complicado se ela fosse uma criança de sete


anos — pensou ele fechando o dossiê.

— Do mesmo modo que se existe policiais corruptos, existe


dinheiro que pode comprar membros da segurança dele, você já está
dentro e é isso o que importa. — A voz de David Duncan fez Ethan
esquecer por um tempo os lábios lindos daquela menina.

Ele encarou seu supervisor, Duncan é um homem honesto que


passou a vida lutando contra o crime.

Depois de descobrir o segredo do pai, Ethan entendeu a repulsa


dele em relação a policiais.

Quando Tayla ainda era uma recém-chegada na mansão


Bittencourt, acidentalmente Ethan escutou uma conversa ao telefone
entre seu pai e Roger Moraes, os dois marcavam um encontro. Com a
intenção de ajudar o irmão a fugir de um casamento indesejado, Ethan
seguiu o pai e sua surpresa foi ver nessa reunião Alejandro Herrera, para
Ethan as coisas ainda estavam confusas, mas com a ajuda de seu
parceiro Miguel, ele acabou descobrindo tudo.

Miguel é um jovem policial assim como o Bittencourt, a única


diferença é que o rapaz é melhor em tecnologia do que o parceiro. Foi
Miguel quem hackeou os computadores privados de Alfredo,
descobrindo assim uma boa parte dos seus segredos...
Capítulo 1

Tayane estava finalizando a leitura do livro que ganhou da Natália,


sua melhor amiga, quando uma batida na porta do seu quarto chamou a
sua atenção.

— Entre — falou enquanto colocava o marcador na página que


estava.

— Filha, seu pai acabou de chegar e quer falar com você. — Ane
suspirou exausta.

— Eu não fiz nada Nana. — Ela protestou com a babá, a quem ela
considerava uma mãe.

Maria Dolores recebeu o apelido, Nana, dos seus três filhos de


coração, Tayane, Felipe e Natália. Quando recém-casada, disposta a ser
mãe, descobriu a incapacidade, mas o trabalho na mansão Herrera lhe
deu a oportunidade de ser a mãe dos três aos quais ela daria a vida se
preciso fosse.

— Eu sei querida, mas parece importante.

Ane se levantou e calçou as pantufas.

— Desde que não sobre para mim. — Ela deu um beijo estalado
no rosto da mulher que mais ama no mundo e desceu para o escritório
do pai.

A porta estava encostada, Tayane entrou sem bater e encarou


Alejandro.

— Maria disse que você quer falar comigo. — Ela comentou.

Ele levantou a vista do documento que lia e encarou a filha por


cima dos óculos de grau.
— Quantas vezes tenho que mandar você bater na porta? —
perguntou irritado.

Ela se retirou do escritório revirando os olhos e bateu novamente


na porta.

— Entre. — O aviso veio com o tom irônico.

— Pois não? — Ane usou o mesmo tom do pai, disposta a


provocá-lo também.

— Contratei um segurança para você. — Ele falou encarando o


documento em suas mãos.

— O quê?

— Isso mesmo que ouviu, ou agora é surda?

— Mas... Por que mais um se nessa casa tem vários?

— Contratei um particular para você.

— Mas eu não preciso de segurança, sei me cuidar sozinha.

— Em breve seus e-mails ou cartas de aceite chegarão, se a


universidade que escolher for fora do país, quero alguém da minha
confiança com você.

— Isso não é necessário. — Ela teimou.

— Você tem duas opções Tayane... — Ele a encarou agora.

— Quais? — Ingênua ela perguntou.

— Ter um segurança ou ter um segurança, não adianta reclamar.

A filha bufou diante de tanta ironia. Durante toda a sua vida, o pai
esteve ausente, mas quando conversavam sempre discutiam e de todos
os que viviam ao seu redor, ele era o único que a chamava pelo nome
completo, afinal fora escolhido pela falecida mulher e ele fazia questão
disso.

— Tito sempre me ensinou defesa pessoal, sabe que não é


necessário contratar alguém para fazer algo que eu mesma sei.

— Felipe fez um bom trabalho nos seus treinos, mas você ainda é
fraca. — Alejandro retirou os óculos de grau e jogou-os na mesa.

Ane suspirou irritada.

Odiava quando ele a chamava de fraca, afinal nascera mulher e


não o filho homem que ele tanto queria para herdar um legado.

— Eu não quero um segurança. — Ela comentou firme,


encarando-o nos olhos.

— Eu não estou pedindo permissão, estou apenas avisando.

— O que você pretende com isso? — Ela perguntou se


enfurecendo.

Ele quis gritar com a filha, afinal, de todos ela era a única que o
enfrentava de cabeça erguida, tinha puxado o gênio forte da mãe.

— O que um pai quer quando contrata um segurança particular


para a filha? Ele quer protegê-la. — Alejandro respondeu a própria
pergunta em tom irônico.

— Você quer colocar um desconhecido para fazer o que você


nunca foi capaz. — Ela acusou sem medo.

Ele se levantou furioso e caminhou na direção dela.

— Repita essa merda. — Ele mandou segurando-a firme no braço.

— Foi isso mesmo o que ouviu, ou agora é surdo? — Ela o irritou


ainda mais e o aperto foi intensificado.
O que mais o incomoda não é a rebeldia dela e sim a acusação ser
verídica, afinal ele nunca se esforçou para criar um laço com ela, nunca
chegaram a ter uma relação de pai e filha, onde um protege e o outro se
sente seguro.

Ane o olhava nos olhos e quando o olhar gélido dele a encarou,


Alejandro a soltou rapidamente, com o gesto a menina caiu e bateu com
o braço já machucado na mesa do escritório.

— Você está cada dia pior Alejandro, nunca imaginei que seu ódio
por mim chegasse a tanto. — As palavras da jovem saíram frias
enquanto ela se levantava.

— Não me chame de Alejandro, eu sou o seu pai. — Ele exigiu e


respirou fundo em busca de controle.

— Você nunca mereceu ser chamado assim, Tony e Maria são os


pais que eu não tive, ele é mais pai meu do que você um dia será.

Ela se virou, pronta para sair do escritório, mas ele a segurou


firmemente no braço recém-machucado, Ane gemeu de dor, mas ele não
a soltou.

— Eu sou o seu pai, e exijo que nunca mais diga isso.

— Isso nunca te afetou. Não irei mudar agora. — Mesmo


machucada e dolorida, ela ainda o enfrentou.

Quando ela se virou, encarou os olhos dele, aqueles olhos azuis


claros que ela sempre quis que a olhassem com amor, mas nunca
aconteceu, nunca acontecerá.

— Só me responde uma coisa, se você souber a resposta é um


pequeno sinal que se esforçou para me conhecer. Qual é a minha cor
preferida?

Ele a olhou confuso e não arriscou responder.

— Um pai saberia responder, Tony sabe que é azul, tanto que no


meu aniversário de sete anos, ganhei uma bicicleta dele dessa cor, se
lembra? Foi naquele aniversário que você não estava presente, como
todos os outros.

Ele a soltou e em um tom baixo disse:

— Eu quis ser um pai melhor, mas a vida que eu levo me proibiu


isso.

Ela massageou levemente o braço ferido e comentou:

— Não, você nunca quis e se realmente me amasse teria


participado da minha vida, mas não, foi mais fácil contratar outros para
fazer isso.

— Você sabe que minha profissão exige muito de mim. — Ele


tentou se justificar.

— E você sabia que colocar um filho no mundo também exige


muito da pessoa, e mesmo assim aqui estou eu, abandonada pelo próprio
pai.

Alejandro nunca conseguiria conquistar um amor que ele não se


esforçou para nascer. Para ele, era simplesmente impossível olhar para a
filha e não se lembrar de Susana, sua falecida esposa, que morreu no
parto de Ane. A cada olhar ele se recordava de algo, o sorriso gentil, a
voz delicada, quase tudo o lembrava, apenas os olhos diferenciavam as
duas, afinal Ane tem os olhos castanhos-esverdeados brilhantes, Susana
tinha um tom de castanho escuro tão intenso e vívido, o mais lindo que
ele já viu.

Depois da morte da esposa, tudo na sua vida virou cinzas, ele


apenas viveu para o trabalho, proteger o legado da família Herrera, que é
passado de geração a geração, mas dessa vez será diferente, Felipe será o
herdeiro, e se tudo ocorrer como o planejado, Ane será esposa dele, essa
é a vontade de Alejandro, pelo menos assim poderá morrer em paz,
deixando a filha protegida...
Capítulo 2

Depois do ocorrido no escritório, Ane não viu mais Alejandro. O


braço estava começando a roxear e ainda doía muito. Durante o treino da
manhã seguinte, ela quase não conseguiu o mover e Felipe percebeu.

— Quem fez isso em você? — O olhar dele estava carregado de


preocupação quando levantou a manga da camisa dela e viu o
machucado.

— Não é nada. — Tayane voltou a esconder o hematoma com a


manga da blusa, mas ele voltou a erguer a peça com cuidado.

— É um hematoma Ane, me diz quem te machucou. — Ele pediu,


segurando levemente o queixo dela, fazendo-a encará-lo.

— Não vem ao caso agora Tito, apenas vamos treinar. — Ela


voltou a puxar a manga comprida da camisa.

— Essa casa está lotada de homens, se um deles ousou te tocar, é


melhor me falar.

— Não foi nenhum deles, não se preocupe com isso.

— Foi o seu pai de novo, não foi? — Felipe sabia que Alejandro
se tornava violento sempre que conversava com a filha.

— Foi. — Ela comentou encarando o chão.

— Já te pedi para não ir falar com ele sozinha.

— Eu sei, mas fui chamada.

— Por quê? — Ele começou a remover as luvas de proteção.

— Não vamos mais treinar? — Ela perguntou encarando cada


movimento dele.
— Chega de treino por hoje, você é importante para mim, não
quero que se machuque mais. — Ele voltou a tocá-la no queixo.

Ela sentiu quando seu rosto esquentou, e ele deu um sorriso


bonito.

— Por que o seu pai te chamou? — Tito voltou a perguntar.

— Ele insiste em contratar um segurança para mim, mas eu não


quero — respondeu retirando suas luvas de proteção também.

— Eu não sabia disso, quando conversou com ele? — Felipe


perguntou e começou a retirar a camisa suada.

Ane não o respondeu, ela reparou no corpo do homem à sua frente,


os dois braços e uma boa parte do peito estavam preenchidos por lindas
tatuagens.

Quando ela ergueu o olhar para ele, Felipe a encarava com um


sorriso presunçoso nos bonitos lábios, ela desviou o olhar e voltou a
ficar corada.

— Amo quando você fica assim. — Ele se aproximou um pouco


mais, e Naty que estava em uma esteira perto dos dois, falou:

— Não estou a fim de segurar vela não, fui. — Ela pegou sua
garrafinha de água e saiu rindo.

Ane encarou o tatame, sem ter coragem de olhar para Felipe.

— Vou tentar falar com ele, essa ideia de ter outro homem com
você vinte e quatro horas por dia também me incomoda. — Ele se
aproximou dela e deu um leve beijo em seus cabelos.

Tayane se sentia protegida nos braços dele, sempre foi assim.


Felipe era o porto seguro que ela sabia que sempre estaria ali por ela.

— Você faria isso? — Ela o olhou com esperança.


— Por você eu faria qualquer coisa.

Ane abriu um grande sorriso e se aproximou dele, com a intenção


de beijá-lo no rosto, mas Tito segurou-a pela cintura e a beijou nos
lábios.

Sendo esse o seu primeiro beijo, no começo ela ficou imóvel, mas
não se afastou. Ele como já era experiente a incentivou e quando Ane
começou a pegar o jeito, ela tentou retribuir do mesmo modo.

O beijo só foi encerrado quando ambos ficaram sem ar.

— Nós não deveríamos ter feito isso. — Ela sussurrou quando ele
colou sua testa na dela.

Nenhum dos dois ousou abrir os olhos, estavam recuperando o


fôlego e apreciando o momento.

— Eu amei fazer isso. — Ele sussurrou também, a voz rouca fez


com que Ane abrisse os olhos e encarasse os lábios dele novamente.

— Eu adorei. — Ela soltou um riso delicado.

— Então te beijarei novamente.

— Vou adorar.

Ele a beijou estavam os dois ali, sozinhos e a única coisa que Ane
conseguia pensar era, e se o pai chegasse bem agora?

— Se Alejandro souber nos mata. — Ela comentou risonha, afinal


não sabia que era exatamente isso que o pai queria.

— É só ele não saber. — Tito sorriu satisfeito com sua ideia.

Ela olhou para ele e sussurrou:

— Por mim ele não saberá. Agora por favor, tente fazê-lo desistir
dessa ideia de segurança. — Detesta o homem que será contratado, antes
mesmo de o conhecer.

Ele assentiu em resposta e quando Ane se virou para sair da


academia, Tito a segurou novamente e voltou a beijá-la.

As poucas amigas que Ane teve, incluindo a Natália, comentavam


que o primeiro beijo era algo horrível, mas o dela não foi.

— Posso te ver mais tarde? — Ele perguntou ainda segurando-a


nos braços.

— Você sempre vai ao meu quarto à noite, por que mudaria agora?
— perguntou confusa.

— Você tem razão, mas não te garanto que iremos apenas assistir
filmes, esses lábios são viciantes. — Ele tocou levemente na boca dela.

— Eu irei amar dividir esse vício com você. — Ela deu uma
piscadinha sapeca para ele e saiu.

∞∞∞

Tayane viu quando Tito entrou no escritório de Alejandro, ela já


estava cansada dessa história de segurança, desde pequena Ane e Naty
ficavam apenas com Tito e ninguém mais, por que bem agora isso
mudaria?

— Tio eu posso muito bem cuidar de Ane sozinho. — Felipe falou


encarando Alejandro.

Desde quando os pais de Tito e Naty morreram, Alejandro os


pegou para criar, mas nunca foi de demonstrar afeto, nem para filha ele
era capaz, imagina para os dois.

O casal foi cruelmente assassinado, e até hoje não se sabe quem


foi o culpado. A morte deles resultou em deixar duas crianças órfãs no
mundo, uma linda menininha de cabelos castanhos e olhos brilhantes
com apenas cinco anos e um jovem rapaz de apenas doze anos, Tito se
viu na obrigação de cuidar de Naty, mesmo ainda não tendo idade nem
para cuidar de si mesmo.

— Eu sei que pode, ela também sabe se defender sozinha, mas eu


quero mais um segurança só para garantir. — Alejandro respondeu
firme.

— Você não vai voltar atrás nessa decisão, não é? — Ele cruzou
os braços inquieto.

— Não. Tayane e Natália irão para uma universidade esse ano, as


quero protegidas e você não sairá desse país, ainda está sendo preparado
para herdar tudo isso. — Ele olhou ao redor.

— E posso saber pelo menos o nome do cara? — O ciúme estava


explícito em cada palavra.

— É Alex, por quê? — Alejandro encarou-o com olhos cansados.

— E o sobrenome? — Tito estava decidido a investigar a vida do


novo segurança.

— Ele foi muito bem recomendado Felipe, eu já investiguei tudo


sobre ele, nunca colocaria Tayane nas mãos de qualquer um.

— Quem o recomendou? — teimou novamente.

— Alguém da minha extrema confiança, agora chega desse


assunto, tenho muita coisa para fazer, desde que aquele segurança de
merda saiu da cadeia minha vida tem virado um inferno.

Mesmo que anunciaram a morte de Luís Gonçalves, Alejandro é


esperto o suficiente para saber que ele está vivo, e que tem dedos dos
Bittencourt no meio disso tudo. Essa também é uma das razões de ter
contratado alguém para cuidar de Ane, sua única herdeira.

— Eu posso voltar para Nova Iorque e resolver isso. — Tito se


prontificou a ajudar.
Era sempre assim, o rapaz queria mostrar que era bom o suficiente.

— Não será necessário, Xavier irá amanhã e colocará ordem no


lugar, desde que aquela grávida te viu, tudo piorou.

Felipe se recordou de quando Alejandro o mandou seguir a


gestante, esposa do hacker que entrou nos principais computadores da
casa.

— Depois de ter assinado aquele contrato, ir para Nova Iorque


disposto a tudo é pedir guerra. — Ele o alertou.

— Acha que se eles tivessem chance, ousariam? Duvido muito. —


Alejandro sorriu irônico...
Capítulo 3

Enquanto Tito tentava evitar que Alejandro contratasse um novo


segurança, Tayane saiu com Natália, seguidas de perto por dois
seguranças.

— Você não cansa de andar atrás de nós? — Ane se virou brava


com Xavier.

O moreno a sua frente sorriu de lado e deu uma corrida de olho em


Naty, a garota sustentou o olhar dele.

Ao contrário de Ane, Natália não era tímida e não corava com


facilidade, ela era mais extrovertida, mesmo as duas sendo da mesma
idade.

— Não, sua companhia é adorável, Ane querida. — Ele debochou


fazendo ela sorrir.

— Você poderia se distrair por um segundo e assim podemos


escapar? — Ela pediu esperançosa juntando as duas mãos no peito.

Não é legal andar com homens ao seu lado a todo instante, ainda
mais quando sua intenção é comprar um presente para o melhor amigo
do seu segurança.

— Não. — Xavier respondeu firme, e olhou novamente para


Natália.

Ane percebeu a troca de olhares entre os dois e teve uma brilhante


ideia.

As duas entraram em uma loja da lingerie no shopping e os


seguranças aguardaram na entrada.

— Você só pode ser doida, não farei isso, nem pensar. — Natália
respondeu séria assim que ouviu o que Ane propôs, mas estava
ponderando a ideia.

— Naty, por favor, faz isso por mim, eu quero comprar o presente
do Tito, mas se Xavier ver com certeza vai contar. — Tayane juntou as
mãos novamente e suplicou.

— Você abusa só porque eu amo você, farei, mas você está me


devendo uma.

Ane a abraçou apertado.

— Obrigada amiga, por isso que eu também amo você.

As duas saíram da loja sem nenhuma sacola, Ane encarou o


segurança ao lado de Xavier e pediu:

— Ei Liam, você pode ir buscar um sorvete para mim, por favor?


— Ela sorriu para convencê-lo.

O homem olhou para Xavier pedindo permissão.

— Pode ir, eu cuido delas.

O ruivo incrivelmente forte se virou e foi buscar, conforme elas


haviam pedido um de baunilha e o outro de choco-menta.

Naty olhou para Ane e piscou cúmplice.

— Sabe Xavier eu já te disse que seu nome é muito lindo? —


Natália usou o tom de voz mais manhoso que conseguiu, seguido de
uma passada de mão no peito do rapaz, que estava coberto com uma
camisa preta, e uma piscada sedutora.

Ele ficou completamente confuso. Ainda encarando a mão dela ele


comentou:

— Não, você nunca me disse. — Naty encarava aqueles olhos


castanhos e aquela cara de homem mau. Por um instante a moça perdeu
o foco.
Essa é a primeira vez que ela toca no melhor amigo do seu irmão,
um homem bem mais velho que ela, mas o mesmo que ela sempre sentiu
aquela pequena atração.

Pequena? Não, está mais para uma grande queda.

— É a verdade, seu nome combina perfeitamente com você, um


homem lindo. — A adolescente nem se quer corou com esse comentário,
apenas segurou a nuca do rapaz e foi se aproximando cada vez mais.

Ane encarava aquilo perplexa, o plano era apenas distraí-lo da


melhor forma possível, mas a amiga safada dela estava tirando proveito
disso.

Naty encarou os olhos dele e percebeu que ele ainda prestava


atenção nos movimentos de Ane, a amiga já sem opção grudou seus
lábios no do moreno mal-encarado, iniciando assim um beijo quente e
totalmente correspondido.

Assim que Xavier fechou os olhos para aproveitar ainda mais a


sensação, Natália balançou a mão indicando que era para Ane ir logo, já
que a amiga estava parada feito uma estátua encarando os dois.

Tayane apressou o passo e se encaminhou para a Tiffany & Co., a


adolescente queria presentear Felipe em seu aniversário que estava
próximo.

Assim que entrou na loja, uma atendente muito bem vestida a


recepcionou com um grande sorriso.

— Em que posso ajudá-la? — A jovem foi simpática.

Ane sorriu para ela e disse:

— Eu quero presentear um amigo.

— Tem algo em mente?

— Na verdade não, poderia me ajudar com isso? — perguntou,


olhando a variedade de joias disponíveis.

— Tem uma faixa de preço? — A atendente perguntou enquanto


conduzia Ane até uma vitrine com lindos relógios masculinos.

— Não tenho, o que eu gostar, irei levar. — Tayane falou


convicta.

Os olhos castanhos da atendente brilharam, com certeza já estava


calculando sua comissão dessa venda.

Ane nunca foi de esbanjar nos gastos, mas dessa vez presenteará
Felipe com algo belo e sofisticado.

Depois de avaliar vários modelos, ela escolheu um de ouro branco,


sofisticado com um toque casual.

— Irei levar esse, com certeza ele irá amar. — Ela indicou o
relógio para a atendente.

Enquanto a moça embrulhava sua encomenda para presente, Ane


continuou parada no mesmo lugar, mas uma respiração próxima do seu
pescoço fez ela recuar um passo para o lado.

— Tayane. Ora, ora, ora, achei que nunca mais iria te ver. —
Antes mesmo de virar-se, Ane reconheceu a voz.

— Carlos? — Ela perguntou surpresa quando virou o olhar para o


ex-colega de sala.

Ele foi o motivo de Alejandro tirar sua filha da escola, após as


aulas Ane aparecia triste em casa, mas nunca contou para o pai e nem
para Tito a razão de sua tristeza, apenas quis sair da escola e ser educada
em casa.

— Relógio caro esse que escolheu, é para presentear ao seu pai?


Ou será que é para aquele empregado que te cria no lugar dele? — O
adolescente soltou seu veneno.
Ane sentiu seus olhos marejarem, mas não se permitiu chorar.

Não vale a pena. — Ela pensou.

— Eu não entendo o que te leva a ser assim, nunca fiz nada para
você. — Seu tom foi um sussurro firme.

O menino foi pego de surpresa e não foi capaz de responder,


apenas sorriu irônico.

— Não gosto de você, apenas isso. Sempre foi a riquinha mimada


que todos queriam como amiga. Mas nem todo o seu dinheiro foi capaz
de deixar sua mãe ao seu lado.

As palavras cruéis dele a atingiram com força, mas a reação de


Ane foi instantânea. A jovem virou um forte tapa na cara dele.

E correu dali, nunca daria o gosto de vê-la chorar.

Assim que chegou à porta da loja, deu de frente com alguém, mãos
grandes e gentis enlaçaram a cintura dela, evitando sua queda.

Quando os olhos de Ane se ergueram para encarar o dono daquelas


mãos, ela se surpreendeu com os olhos negros que viu.

Tão negros quanto um céu noturno, fixos nos castanhos-


esverdeados dela.

Ane ainda encarava aqueles bonitos olhos, definitivamente o tom


mais intenso que já viu, quando reparou no lindo homem que ainda a
segurava.

— Ei menina, está bem? — Foi quando ele deu aquele perfeito


sorriso, um de deixar qualquer garota de pernas bambas...
Capítulo 4

Ane sentiu um leve estremecer com o tom da voz dele.

— Eu estou bem. — Ela mentiu e tentou sorrir, mas sentiu quando


mais lágrimas escorreram.

O dono daqueles olhos escuros e penetrantes ainda estava


segurando-a pela cintura, e Ane estranhou quando ele começou a secar
suas lágrimas.

— Se machucou? — perguntou preocupado e a analisou por


completo.

— Não... Não me machuquei. — Ela respondeu em um sussurro.

Estavam tão próximos que o cheiro da colônia masculina


impregnou nas roupas de Tayane, ele só a soltou quando percebeu que
ela já tinha se acalmado.

— Está melhor? — Voltou a analisá-la e Ane apreciou a atenção.

— Sim, me desculpe. — Ela se afastou um pouco dele e secou o


restante das lágrimas.

— Não tem problema, não é todos os dias que alguém como você
esbarra em mim. — Ele sorriu novamente, e ela encarou aqueles lábios.

— Me desculpe mais uma vez, eu saí correndo e nem percebi que


você estava no caminho. — Ela se explicou.

— Não se desculpe, a propósito eu sou Alex Stewart — estendeu a


mão para ela que aceitou o toque e apertou levemente.

— Tayane. — Ela sorriu, mas antes que Alex falasse algo, a


atendente apareceu na porta da loja.
— Senhorita, o seu presente já está pronto.

Nesse momento Ane se lembrou de que estava na frente da loja e


olhou ao redor, várias pessoas encaravam ela e Alex, inclusive Xavier,
que parecia muito bravo.

— Eu já estou indo, obrigada. — Ela agradeceu e se virou


novamente para o homem que evitou sua queda.

Alex Stewart é um homem lindo, ou melhor, “um homão da


porra”, como diria Natália.

— Eu tenho que ir... Obrigada por me segurar. — Ela comentou


sem graça e colocou os cabelos atrás da orelha.

— Só tome cuidado da próxima vez, espero te ver mais vezes. —


Ele deu um leve aceno e se foi deixando Tayane com um lindo sorriso.

∞∞∞

— O que vocês fizeram foi errado, sabem que não podem sair sem
a segurança. — Xavier reclamou assim que Ane saiu da loja com o
presente de Tito e se aproximou dele e de Natália.

— O que foi Naty? — Ane ignorou Xavier e encarou a amiga que


estava com os olhos levemente avermelhados.

— Não é nada, apenas quero ir para casa. — Ela respondeu e


abaixou o olhar.

Tayane olhou confusa para Xavier e notou que ele encarou Natália
preocupado.

— O que houve? — Ela perguntou para ele.

— Nada, apenas vamos embora.


O caminho do shopping até a casa delas foi percorrido em silêncio,
apenas quando chegaram que Naty desceu do carro e correu para dentro.

— O que ela tem? — Ane perguntou para Xavier.

— Por que eu saberia?

— O que deu em vocês dois? Estão estranhos.

— Eu estou normal, apenas me preparando para a conversa que


terei com o seu pai. Espero que isso não se repita Tayane, é o meu
emprego que está em jogo.

— Eu detesto seguranças.

— Eu sei, mas é perigoso sair sozinha. — Ele alertou.

— Até parece que meu pai é cheio de inimigos. — Ela revirou os


olhos e entrou na casa, sem olhar para o amigo.

Se Ane tivesse visto a expressão facial de Xavier, ela com certeza


teria descoberto que seu pai é realmente muito odiado, mas sua maior
preocupação estava no quarto.

— Naty posso entrar? — Ela bateu na porta do quarto da amiga.

— Quero ficar sozinha. — A resposta veio abafada.

Tayane entrou e fechou a porta, deixou o presente de Felipe em


cima da escrivaninha e voltou a olhar preocupada para a amiga.

— Eu disse que quero ficar sozinha. — Natália voltou a dizer.

— Sabe que isso não vai acontecer, agora me conte o que houve.

— Não é nada.

— Sabe que eu te conheço, não adianta mentir. — Ela cruzou os


braços e encarou a amiga seriamente.
— Xavier aconteceu, aquele maldito beijo aconteceu, tudo
aconteceu. — Naty cobriu os olhos com o braço e respirou fundo.

Ane se jogou na cama ao lado da amiga e também colocou as


pernas para cima na parede.

— Você gosta dele? — Ela cutucou Natália, fazendo-a sorrir.

— Não, acho que não, mas aquele beijo me deixou confusa.

— Foi ruim? — Ane perguntou curiosa, afinal sua experiência de


beijos é curta demais.

— Foi maravilhoso. — Naty sorriu se recordando, mas o brilho


não chegou aos lindos olhos cor de mel.

— Isso é ótimo, não é? — perguntou confusa.

— Não é nada ótimo, ele me detesta Ane.

— Por que acha isso? Não reparou na forma que ele te olha?

— Quando nos afastamos depois do beijo, ele disse que não me


quer por perto.

— Com essas palavras?

— Sim. — Natália suspirou. — Falou também que eu nunca mais


devo fazer isso, que sou muito nova e que ainda por cima ele é amigo do
meu irmão.

Ane notou o quão magoada Naty estava, e como sempre teve a


mania de sentir as dores dos outros, se chateou por ela.

— Ele que se exploda, quem perde é ele, não você.

Natália virou a cabeça e encarou o teto, Ane fez o mesmo, as duas


ficaram alguns minutos assim, encarando os próprios pés. O de Ane
pintado em um azul clarinho e o de Naty com um tom forte de vermelho.
— Quem era aquela maravilha que te pegou nos braços? —
Natália perguntou de repente.

Tayane olhou para a amiga e corou no mesmo instante.

— Se chama Alex, eu acabei esbarrando nele e ele evitou a minha


queda. — Ela contou, mordendo o lábio inferior nervosa.

— Senhor por mais Alex daquele. — Naty ergueu as mãos para o


alto, como se pedindo uma prece.

— Você é uma safada. — Ane a apertou no braço.

— E você uma sortuda, esteve naqueles braços. — Ela se abanou e


gargalhou.

— Acho que ele não é daqui.

— Como sabe?

— Nunca o vi, e ele tem um leve sotaque. Com certeza não é


daqui.

— Xavier pareceu não gostar dele, disse que se Felipe estivesse lá


ele não gostaria nada de te ver nos braços de outro homem.

— Eu não posso mais abraçar ninguém, é isso? Espero que seu


irmão não seja um daqueles homens possessivos e ciumentos, não gosto
disso.

— Sinto dizer, mas ele é. Torça para ele não saber.

— Duvido muito.

Uma leve batida na porta do quarto chamou a atenção das garotas.

— Ane, preciso conversar com você.

Era Felipe, com certeza Xavier já deveria ter contado tudo.


— Eu não disse? — Naty sorriu e foi em direção ao seu closet.
Queria um banho, já que o perfume de Xavier estava impregnado na sua
roupa e ela não tinha psicológico para isso. Não depois de ser rejeitada e
praticamente sido chamada de criança.

Ane abriu a porta do quarto de Natália e viu que a expressão de


Felipe não era boa.

— Se for sobre o que aconteceu, nem adianta reclamar que eu não


tive culpa. — Ela começou a falar.

Poderia negar sua culpa para ele, mas a sensação gostosa de estar
nos braços daquele desconhecido seria algo que ela nunca iria esquecer,
e se fosse possível ela faria tudo novamente.

— O que aconteceu? — Tito franziu o cenho confuso.

Xavier ainda não contou? — Ane ficou surpresa.

— Nada demais. — Ela fez um sinal de pouco caso e deixou o


quarto de Naty.

Felipe abriu a porta do quarto ao lado, que era dele e Ane se jogou
na cama, olhando-o atenta.

— O que quer conversar?

Ele se sentou ao lado dela e a puxou para o seu colo. Os


pensamentos da jovem foram automaticamente para aquele
desconhecido maravilhoso, mesmo estando nos braços de Tito, a menina
não sentiu a mesma adrenalina e o sentimento gostoso que sentiu quando
tocou em Alex.

— Antes de tudo eu quero um beijo.

Ane o beijou lentamente. Quando os dois se afastaram, ele


descansou o rosto no ombro dela e inalou profundamente.

— Seu segurança chega amanhã, não consegui convencer o seu


pai.

— Eu não quero esse segurança me vigiando a cada passo. — Ela


reclamou, mas sorriu com o pensamento que teve.

Talvez se o segurança fosse tão charmoso quanto Alex Stewart,


essa experiência não seria tão ruim.

— Por que está sorrindo, já que não quer?

Ela foi rápida na resposta.

— Uma ideia que tive, se meu pai não quer voltar atrás com isso,
eu irei infernizar esse segurança até que ele desista do trabalho.

Dessa vez foi Felipe quem sorriu, gostando da ideia...


Capítulo 5

Quando o dia amanheceu, Tayane não queria levantar. Passou a


noite toda em claro, mas a razão da sua falta de vontade não era a
preguiça matinal e sim o que esse dia trará.

Trará o novo segurança e com isso a perda da sua privacidade.

Sem muita opção, ela resolveu descer para tomar o café, Felipe e
Xavier estavam na mesa.

— Bom dia. — Ela sorriu para os dois.

Tito a olhou dos pés à cabeça, a jovem ainda estava vestida com o
pijama.

— Bom dia linda — respondeu e sorriu para ela, Xavier apenas


acenou.

— Naty ainda não acordou? — Ane perguntou enquanto se servia


de suco.

Antes que a respondessem, Natália se sentou ao lado dela.

— Bom dia para você também irmã. — Felipe ironizou, Naty


revirou os olhos e evitou olhar para Xavier.

— Aconteceu alguma coisa? — Tito perguntou para Ane.

A moça abaixou o olhar para o prato, e Natália o respondeu:

— Não aconteceu nada.

O delicado aperto na perna de Tayane foi um pedido de ajuda da


amiga.

— Tito, será que podemos conversar depois do café? — Ane


levantou o olhar para Felipe, e reparou que Xavier encarava Natália
preocupado.

— Claro, Diogo virá aqui hoje, mas acredito que dará tempo antes
dele chegar.

— O Di vem hoje? — Naty encarou o irmão com um humor


completamente diferente agora. Estava feliz, afinal amava o primo,
único parente vivo dela e de Tito.

— Ele vem por causa do meu aniversário e disse que está com
saudades de você. — Felipe contou para a irmã.

Quando Natália suspirou alegre, Xavier se levantou bruscamente e


disse:

— Com licença. — Ele jogou o guardanapo na mesa e antes de


sair sustentou o olhar confuso de Natália.

— O que deu nele? Sei que Diogo e ele nunca se deram bem, mas
não é para tanto. — Tito olhou confuso para as meninas.

— Ciúmes, com certeza. — Ane comentou sem perceber.

Naty a chutou debaixo da mesa, fazendo a jovem soltar um som


doloroso.

— Ciúmes de quem? — perguntou confuso.

Natália encarou a amiga e depois o irmão.

— Vai saber. — Ela fez um gesto de pouco caso.

Tayane finalizou o café rapidamente e subiu para o quarto, com


Tito ao seu lado.

Quando a jovem adentrou o banheiro da sua suíte, Felipe fez o


mesmo.
— Ele chega hoje, não é? — Ane o encarou pelo espelho.

— Ele já chegou, está no escritório com o seu pai.

O coração dela se apertou.

— Merda, você o viu?

— Ainda não, Nana quem me contou que ele chegou bem cedo.

Ela começou a escovar os dentes pensativa. Tudo mudará a partir


de agora.

A jovem sempre amou ter sua privacidade, cresceu com


seguranças ao seu redor, mas não um que a seguirá para todos os
lugares, não um particular.

— Aconteceu algo com a minha irmã? Ela estava estranha. — Tito


perguntou, parado no batente da porta, ainda encarando Ane.

Ela finalizou sua higiene e virou-se para olhá-lo.

— Você deve perguntar isso a ela — respondeu se secando.

— Ela só conta o que a incomoda para você.

— Por isso sou a melhor amiga dela, mas não direi nada, ela quem
deve te contar.

Felipe suspirou cansado.

— Sei que não dirá. — Ele se aproximou e selou os lábios dos


dois, em um selinho.

Uma batida na porta separou os dois.

— Desculpe atrapalhar vocês, mas o seu pai está te chamando. —


Nana falou assim que o casal a olhou.
A senhora que criou os dois, olhou de olhos semicerrados para
Felipe, em um aviso.

— Eu já irei descer. — Ane sorriu sem graça.

— E nós precisamos conversar mocinho. — Maria alertou o rapaz.

Ane é como uma filha para ela, não deixará sua menina namorar
sem antes ter uma boa conversa com o pretendente, mesmo ele sendo o
Felipe.

— Te garanto que minhas intenções são as melhores. — Ele sorriu


galanteador e beijou o topo da cabeça da senhora que ama como mãe.

∞∞∞

Quando Ane desceu as escadas com Tito ao seu lado, seu pai
estava na sala de estar, junto com o seu novo segurança.

O homem alto, de cabelos curtos e quase castanhos, estava de


costas para ela.

Não será nada fácil ter um segurança — pensou ela com um


suspiro.

— Tayane que bom que você desceu, esse é... — Antes que
Alejandro terminasse de apresentá-lo o novo contratado se virou.

Quando Ane encarou os mesmos olhos negros do shopping, ela se


surpreendeu.

Felipe percebeu a troca de olhares dos dois e não gostou nem um


pouco disso.

Por que Alejandro não contratou um segurança mais experiente?


Tinha que ser um tão novo? — pensou Tito enciumado.
— Esse é Alex Stewart, o seu novo segurança. — Alejandro
apresentou.

Tito esperou por uma reação de Ane, mas a menina estava


paralisada diante daqueles olhos escuros que a encaravam.

— Essa é a minha filha, Tayane. — Alejandro apresentou-a já que


Ane estava muda.

Alex caminhou até ela, sentindo o olhar mortal de Felipe.

— É muito bom te rever menina. — Ele estendeu a mão e ela


aceitou o cumprimento.

Quando o toque foi sentido, ambos recordaram daquele primeiro


contato no shopping, naquele dia Alex apenas estava tentando relaxar,
sempre que estava no começo de alguma missão ele ficava tenso, e
aquela linda jovem esbarrar nele por mero acaso foi o melhor que
poderia acontecer, mas assim que reconheceu Tayane Herrera ele
resolveu se afastar, não deveria ter nenhum contato com a filha do seu
suspeito. Mas como mudar o rumo dos seus pensamentos quando tudo o
faz lembrar?

Mesmo o lado racional dele alertando que deveria se afastar, ele


simplesmente ignorou e continuou segurando aquela pequena mão fria e
macia sobre a sua pele quente...
Capítulo 6

O cumprimento de Alex e Ane já estava demorando demais, mas


quando Tito iria se intrometer, Alejandro disse:

— Stewart começa hoje, a partir de agora você não vai para


nenhum lugar sozinha, ele sempre estará ao seu lado — avisou e se
retirou da sala.

Era sempre assim, após dar as ordens, ele se afastava da filha para
evitar uma possível discussão, mas dessa vez ela não estava pensando
em reclamar.

— Seus serviços não são necessários agora. — Felipe puxou


Tayane para os seus braços, fazendo com que o toque dela e Alex se
desfizesse.

— Não fui contratado por você. — Alex respondeu o encarando.

Ane olhou de um para o outro, ambos se olhando.

— Tito, irei mostrar a casa para o Alex, e você espera pelo Diogo,
acho que ele está quase chegando. — Ela propôs, mas isso deixou Felipe
ainda mais irritado.

— Vocês se conhecem de onde? — perguntou enciumado.

Alex quis tanto sorrir com a expressão irritada de Felipe, mas


conseguiu se controlar a tempo.

— Nós nos conhecemos no shopping, depois te conto, agora vá


receber Diogo. — Ela mandou dessa vez, começando a se irritar com
todo esse ciúme.

Tito encarou Alex por mais um instante e se retirou da sala, ele


odiava deixar Tayane chateada e percebeu que tinha feito exatamente
isso.
— Bom... Acredito que ninguém tenha te mostrado a casa ainda,
certo? — perguntou e ergueu o olhar para aqueles escuros intensos.

— Ainda não. — Ele respondeu de imediato.

— Então farei isso.

— Aceitarei com prazer, mas seu namorado pareceu não gostar


disso, ele é ciumento.

Alex sabia pelo dossiê que Felipe era apenas um amigo que
cresceu com Tayane, mas esse comentário tinha um propósito e ele
adquiriu a resposta que queria.

— Ele não é meu namorado. — Ela foi sincera. — Vou começar a


te mostrar o segundo andar. — Ela comentou e subiu as escadas na
frente dele.

O olhar de Alex desceu para o corpo da menina, que ainda estava


vestida com o seu pijama favorito.

No segundo andar ficavam os quartos, Ane apontou para cada


porta e contou a quem pertencia, caso algum dia Alex precisasse chamar
por alguém.

— Esse é o meu. — Ela apontou para a primeira porta do corredor,


o mais longe possível do quarto de Alejandro.

Ele assentiu e voltou a andar atrás dela, com as mãos nas costas,
prestando atenção em cada detalhe. Já tinha estudado a planta da casa,
mas ela não sabia disso, então parecer interessado era o seu dever.

Depois de mostrar cada cômodo do andar de baixo, sendo esses: a


sala de jantar, sala de estar, dois banheiros, a cozinha e a lavanderia,
Ane comentou:

— Descendo essas escadas dá para a academia, todos os


funcionários treinam lá, você pode ir quando quiser.
Ele assentiu.

Ane voltou a caminhar, dessa vez saindo da propriedade.

— Bom... Passando pelo jardim e a área da piscina, tem os quartos


dos funcionários. Apenas alguns moram aqui. — Ela apontou para a
porta que estava vaga, afinal sempre ajudou Nana com a organização de
tudo e sabia onde cada funcionário recém-contratado ficaria.

Alex abriu a porta e entrou.

— Alguém já trouxe as suas malas? — Ela perguntou olhando ao


redor.

— Não, ainda estão no meu carro.

— Quer que eu peça para alguém buscar?

— Não é necessário senhorita. — Ele negou, não podia correr o


risco de alguém revistar as suas coisas.

— É só isso... Vou deixar você à vontade. — Ela estava se virando


para sair quando ele comentou:

— Sobre o shopping, eu não consegui dizer que sinto muito.

— Pelo o quê? — perguntou confusa.

— Por estar chorando.

Quando Ane se lembrou das palavras grosseiras do seu ex-colega


de turma, sua expressão mudou.

— Foi apenas um dia ruim.

— Se um dia quiser conversar, estarei aqui. — Ele sorriu e ela


retribuiu.

— Obrigada, irei me lembrar disso. — Ela o olhou uma última vez


e se retirou.

Quando ele fechou a porta do seu novo quarto, Alex descansou a


testa na madeira gelada e pensou — o que essa menina estava fazendo
comigo?

Ele sabia que não deveria se envolver com ela mais do que
profissionalmente, mas não conseguia evitar, sentia a imensa vontade de
protegê-la.

Não queria ser o homem que entrou na sua casa infiltrado e


prendeu seu pai, por alguma razão desconhecida ele não queria o ódio
dela, mas esse era o seu dever afinal.

Ele foi para o carro e pegou suas malas, precisava de um bom


lugar para esconder suas armas.

∞∞∞

Ane mal pisou na mansão e Tito já perguntou:

— Você gostou dele?

— O que te fez pensar isso?

— A forma que você o olhou Ane, eu percebi, até mesmo o seu


pai percebeu.

— Diogo já chegou? — Ela tentou mudar de assunto.

— Sim, ele e a Natália estão indo para a piscina. Não vai


responder a minha pergunta? — teimou.

— Eu apenas fiquei surpresa.

— Não foi o que pareceu.


Ane respirou fundo e disse:

— Olha Felipe, eu irei subir para o meu quarto e não quero você
por lá até que esse ciúme acabe. — Ela saiu decidida.

Ele apenas a observou subir, e o pijama que antes Tito adorava,


passou a detestar. Por que tinha que ser tão curto?

∞∞∞

Quando Ane resolveu descer para a piscina também, após Natália


enviar a décima mensagem a chamando, o biquíni escolhido foi um
azul-turquesa.

Ela estava segurando uma toalha e um livro quando passou pela


cozinha e viu Nana conversando com Alex.

— Você gosta de bolo de cenoura com calda de chocolate menino?


— A senhora perguntou.

Ele sorriu daquela forma linda e respondeu:

— É o meu preferido senhora.

Antes que Nana pudesse dizer algo, Ane falou:

— É o meu preferido também, o que a Nana faz é maravilhoso.

Ele se virou para olhá-la e foi quando notou a falta de roupa da


jovem. O delicado biquíni a deixava quase toda exposta.

Quando Ane andou até Maria e se curvou para beijá-la, foi


impossível para Alex não admirar o corpo da menina, ele achava que
estava conseguindo ser discreto, mas os olhos de uma mãe nada deixa
escapar.

— Ane é um doce de menina, eu quem a criei. — Maria Dolores


comentou quando Tayane saiu da cozinha ainda com o olhar de Alex
sobre ela.

— E a mãe dela? — Ele perguntou mesmo sabendo da morte dela


no parto.

— Susana faleceu no parto, infelizmente, depois disso Alejandro


também morreu aos poucos.

— A senhora a ama como mãe. — Alex afirmou, mas Nana fez


questão de respondê-lo.

— Deus não me deu o dom de gerar filhos, mas me deu três


crianças maravilhosas para criar. — Ela emocionou-se lembrando de
seus meninos.

— Ela tem irmãos? — perguntou com confusão fingida.

— Não, mas é como se fossem, Felipe e Natália são órfãos de pai


e mãe, Alejandro os trouxe para morar aqui ainda muitos jovens. Naty
não tinha nem seis anos, já Tito era um pouco maior, já estava entrando
na adolescência.

Alex sabia quem era cada um dos que cercavam Alejandro, mas no
dossiê Felipe é apontado apenas como um amigo de Tayane, porém está
óbvio que o homem é apaixonado por ela.

O seu ciúme em relação a Alex deixou isso muito claro.

Mas como não se apaixonar por ela?

A menina transmite a paz que qualquer homem deseja, incluindo


no pacote um sorriso doce e gentil, um olhar angelical de tirar o fôlego e
um senso de humor admirável.

— Os pais deles morreram como? — Alex tentou não demonstrar


tanto interesse na resposta.

— Só sei que estavam em um trabalho com o senhor Herrera, não


sei a causa da morte.

Se estavam a trabalho com Alejandro, com certeza foram


assassinados, e Stewart já tinha um suspeito. Mas será que Alejandro é
capaz de matar seus funcionários?

Alex deixou suas dúvidas de lado quando Xavier entrou na


cozinha e falou com ele.

— Você deve ser o novo segurança.

— Sim, Alex Stewart. — Ele estendeu a mão e o gesto foi aceito.

— Xavier. — Ele apenas se apresentou, mas não comentou sua


função. Alex olhou no braço do rapaz e viu a tatuagem da Hijos de la
pátria.

A tatuagem é discreta, Felipe também tinha, apenas um H e P


unidos, todos os membros a possui no braço, visível para qualquer um.

— Não vai para a piscina com os outros? — Nana perguntou para


Xavier quando ele se aproximou dela.

— Não quero atrapalhar os casais — respondeu zangado.

— Andou brigando com o Diogo novamente? — Ela perguntou


segurando a colher de pau cheia de calda de chocolate.

Xavier se afastou um passo, afinal sabia que Nana era muito bem
capaz de bater com uma daquelas, já apanhou várias vezes dela com
aquela colher maligna.

— Não — respondeu firme, mas Nana percebeu que algo o


incomodava.

— O que Diogo fez dessa vez?

— Nasceu, aquele bastardo. — Antes que Xavier pudesse


controlar, a resposta raivosa já tinha saído.
— Não fale assim, sabe que Felipe e Natália o amam.

— Pode ter certeza que eu sei. — Ele respondeu irritado e Alex


não deixou de reparar nisso...
Capítulo 7

Inquieto, Alex resolveu caminhar pela casa, não era capaz de ficar
parado por muito tempo.

Quando passou perto da área da piscina, viu um rapaz loiro na


água, junto com Natália, enquanto Ane estava deitada tomando sol e
lendo um livro, com Tito ao seu lado.

Quando os olhos de Felipe pararam em Alex, ele notou que o novo


segurança estava olhando demais para Tayane, enciumado ele a puxou
para seus braços e beijou-lhe ali, na frente de todos.

Pouco se importou se Alejandro os visse.

Alex não desviou o olhar, mesmo detestando tudo aquilo, ele ainda
seguiu andando para perto dos dois.

— O combinado era evitar isso em público. — Ela comentou


confusa quando o beijo cessou.

Mas sua dúvida foi esclarecida quando ela viu Alex.

Tayane encarou Felipe decepcionada.

— Você acabou de me usar para provocá-lo, não sabia que era


assim. — Ela se levantou brava e pegou seu livro, fugindo dali.

Quando Tayane passou por Alex, ele notou que ela estava
chateada, sua intenção era ir atrás da jovem, mas Tito o impediu.

— Não quero que se aproxime dela. — A mão estava segurando


firme no braço de Stewart.

Ele encarou Felipe.

— Eu não ligo para o que você quer.


Após dizer isso, Alex caminhou pelo mesmo caminho que Ane
tinha feito, minutos antes.

Felipe ficou furioso.

Ameaçou o novo segurança, mas ele parecia não ter medo.

Decidido a acabar com tudo isso, ele foi para o escritório de


Alejandro.

— Posso falar com você? — perguntou assim que o chefe da


família Herrera autorizou sua entrada.

— Seja rápido, estou de saída.

— Vai viajar novamente? — Tito perguntou confuso.

— Sim, preciso ir para Nova Iorque.

— Não era o Xavier quem iria?

— Não mais, é algo que só eu posso resolver.

Alejandro estava começando a se preocupar, seu informante estava


há dias sem dar notícias.

— Quer ajuda? — ofereceu-se.

— Não rapaz, você será mais útil aqui, quero Tayane e Natália
protegidas, faça o que for preciso para protegê-las.

— Sobre isso, quero colocar o novo segurança no treino, o que


acha?

Mesmo Felipe tentando demonstrar pouca importância, Alejandro


percebeu que existia algo por trás disso.

— Acho bom — liberou.


Felipe saiu do escritório decidido a acabar com Alex nos treinos,
ele é um excelente lutador, mas Stewart também é, afinal fora treinado
desde muito pequeno

∞∞∞

Alex subiu as escadas atrás de Tayane e viu quando ela fechou a


porta do quarto.

Ele se aproximou e bateu, a resposta veio em seguida:

— Não quero te ver agora Felipe. — Ele ficou em silêncio, mas a


garota voltou a falar. — Sabe que detesto pessoas que usam as outras
para se beneficiarem, e foi exatamente isso o que você fez, me beijou
apenas para provocar o Alex.

Ele voltou a bater na porta.

— Eu já disse que não gosto do Alex... — Ela falou enquanto


abria a porta, mas assim que seus olhos encararam os escuros do seu
novo segurança, ela se envergonhou.

— Então não gosta de mim? — Ele cruzou os braços e sorriu


debochado.

A jovem abriu a boca para dizer algo, mas voltou a fechá-la.

Naquele instante ele teve certeza, Ane é linda brava, mas sem
palavras ela é ainda mais bela.

— É... Não é bem isso... É só que... — Não conseguiu se explicar.

— Não precisa se explicar, eu entendo que ter um segurança ao


seu lado o tempo todo é desagradável.

Ela o olhou mais atentamente.


— No começo pareceu horrível, mas agora nem tanto —
confessou sem perceber.

— Então o fato de eu ser o segurança ajudou? — Ele perguntou


surpreso, afinal não esperava aquela resposta dela.

— Eu disse em voz alta, não foi?

— Foi sim. — Ele sorriu ainda mais.

— Acreditei que Alejandro fosse contratar aqueles homens


carrancudos e enormes, realmente é melhor sendo você.

— Você não o chama de pai? — perguntou interessado, isso não


estava no dossiê.

— Não... Eu apenas não o chamo de pai. — Ela comentou


pensativa.

Não sabia o que responder, afinal todos do seu convívio estavam


acostumados com isso, menos Alex, ele ainda era novo na sua vida.

Antes que ele pudesse dizer algo, seu celular privado tocou.

Ele pegou o aparelho e discretamente olhou o visor, “casa”.

— Me desculpe menina, preciso atender...


Capítulo 8
Bônus Christopher

Christopher estava desesperado vendo como a esposa chorava e


ele não podia fazer nada.

— Eu o deixei na escolinha como todos os dias normais, vi quando


a supervisora entrou com ele e fui para a universidade. — Tayla
repassava em voz alta, pela milésima vez, relembrando de Andrew
olhando para trás até sumir no corredor.

Quando Lúcia voltou a trabalhar, Tayla e Christopher não tiveram


outra opção, Andrew teve que frequentar uma escolinha por meio
período, enquanto a mãe estudava, mas não imaginavam que uma escola
tão renomada deixaria algo assim acontecer.

— Querida você tem que se acalmar, está grávida e isso não faz
bem ao bebê. — Angélica aconselhou estendendo um copo de água para
Tayla.

— Eu não consigo me acalmar, o meu filho sumiu, pode estar em


qualquer lugar, assustado. — Ela voltou a chorar, acariciando nervosa a
barriga de sete meses de gestação.

Chris olhou preocupado para o pai, que deu um sinal para os dois
conversarem no escritório.

— Eu preciso fazer alguma coisa. Qualquer coisa. — Ele falou


quando fechou a porta do escritório.

— Os pais dela já estão a caminho, talvez Lúcia consiga acalmá-


la.

— Suspeita de quem posso ter levado Andrew? — Christopher


tentava manter o controle, mas estava cada vez mais difícil.
— Eu tenho a minha suspeita, mas não te direi ainda.

— O quê? Pai é do meu filho que estamos falando. — Chris se


exaltou, o pequeno Andrew se tornou a sua base, não conseguiria viver
sem ele, assim como Olívia, a bebê que esperavam ansiosos.

— Eu sei, amo o meu neto e estou preocupado também, por isso


marquei uma reunião com os membros confiáveis da Laços de Sangue.

— Não pode me adiantar nada?

— Não, eu te conheço filho, você é parecido comigo, agiria de


cabeça quente e não precisamos disso agora.

Christopher respirou fundo, mas Alfredo percebeu os olhos


marejados do seu primogênito.

— Eu só quero o meu filho de volta. — Ele comentou passando a


mão no rosto.

— Eu darei tudo de mim para recuperar Andrew, até a minha vida


se for necessário.

∞∞∞

Quando o horário da reunião chegou, Christopher estava ainda


mais desesperado, horas se passaram e nenhuma ligação.

Na sala de reuniões estavam apenas os membros de total confiança


da Laços de Sangue.

— Ivan é a sua suspeita, não é? Aquele maldito quer um herdeiro e


capturou Andrew. — Christopher questionou o pai.

Alfredo assentiu e Roger completou:

— Ele sabia os passos da Tayla, isso significa que temos um


infiltrado.

— Vocês dois sabem que se participarem disso, não terá mais


volta. — Dimitri avisou aos netos.

— Eu não me importo, farei tudo para trazer meu filho em


segurança para casa.

— Com a minha ajuda. — Elliot completou.

— Teremos que ser apenas nós, as informações vazaram de


alguém próximo da família. — Roger começou.

— Isso explica a presença de Ivan no seu casamento e no batismo


de Andrew. — John pontuou.

— Tenho certeza que Breno não foi, afinal ele saiu da prisão
depois disso — alegou Elliot.

— Temos muitos funcionários, talvez alguém tenha sido


comprado. — Christopher supôs.

Alfredo prestava atenção em cada suposição, quando disse:

— Não são os seguranças, é alguém próximo, as informações dos


nossos funcionários são limitadas e muitas outras coisas vazaram.

— Não sei como iremos recuperar o meu filho, Ivan aparece e


some quando quer.

— Como vocês sabem que ele estava no batizado, no casamento


ele ousou rir para a câmera, mas no batizado...

— Eu o vi, desviei o olhar por um segundo e ele já tinha sumido.


— Roger cortou Elliot.

— Sempre soubemos que Ivan não só quer, como precisa de um


herdeiro, Lúcia e Tayla não foram a sua escolha por serem mulheres,
mas Andrew é perfeito. — Dimitri comentou com uma carranca.
— Ele é um Bittencourt, achei que o nosso sobrenome daria
proteção a ele.

— Daria Elliot, mas pelo visto, o trato assinado há anos não é mais
válido.

— Faz mais de doze horas, e nenhuma notícia. — Roger comentou


preocupado enquanto conferia o celular.

— O que faremos agora? — Elliot perguntou ao pai.

— Irei para a Rússia buscar o meu neto. — Alfredo se levantou


decidido.

— Sabe o quanto é perigoso. — John o alertou.

— Eu sei, mas não me importo. Ivan quem quebrou o trato.

— Eu também irei. — Roger anunciou.

Não foi necessário Christopher e Elliot dizerem nada, afinal


estavam decididos a recuperar Andrew de qualquer forma.

— Vamos deixar o caso de Alejandro de lado, até ter Andrew de


volta. — Dimitri mandou.

∞∞∞

Assim como os Hijos de la Patria, a Laços de Sangue também tem


uma tatuagem que representa os membros, as iniciais da instituição
ligadas como um elo eterno, sempre foram feitas próxima ao ombro,
essa à qual Christopher e Elliot tinham acabado de fazer. Logo após
isso, os irmãos tiveram que assinar um termo de confidencialidade, mas
para Christopher o cargo era ainda mais pesado, afinal é o primeiro
herdeiro da família Bittencourt, casado com a primeira herdeira da
família Moraes, ele será o herdeiro após a morte dos pais e assim seria
passado por gerações, até colocarem um fim nisso, um término que pode
estar mais perto do que imaginam.

Assim como Alfredo, Roger nunca quis fazer parte da Laços de


Sangue, mas com os pais e fundadores ainda vivos, por enquanto é
impossível finalizar isso.

O primeiro passo para acabar com um legado que a maioria ali


presente não almeja é acabar com Alejandro Herrera e Ivan.

∞∞∞

Angélica andava pelo quarto atordoada.

Acordara de manhã e tudo estava bem, mas de repente seu neto foi
sequestrado, seus filhos e marido queriam viajar para um território
inimigo. Tudo estava fugindo do controle.

— Eu não quero perder vocês. — Ela brigava com o marido.

— E eu não quero perder o meu neto. — Ele respondeu.

— Eu também não, amo aquele menino com todo o meu ser, mas é
muito arriscado.

— Eu sei, mas devemos ir, nunca teremos Andrew de volta se não


formos.

Antes que ela respondesse, alguém bateu na porta do quarto do


casal.

— Entre. — Angélica permitiu.

— Vocês viram a Tayla? Não encontro ela em lugar nenhum. — O


filho mais velho perguntou preocupado.

— Não. Já é de madrugada, ela não sairia, perguntou para a


segurança? — Alfredo perguntou.
— Sim, ninguém a viu.

Chris desceu novamente para a sala e percebeu o celular da esposa


tocando no sofá.

— Christopher — anunciou assim que aceitou a chamada.

— Amor não se preocupe, está tudo bem, eu voltarei com os


nossos filhos, amo você... — A ligação foi encerrada.

Chris deixou o celular cair no chão.

Isso foi uma despedida...


Capítulo 9
Bônus Tayla narrando

A sensação que estou sentindo nesse momento é a pior que já


senti, chega a ser pior do que a que senti anos atrás quando soube que
meu pai tinha me apostado e eu iria morar em uma casa desconhecida, a
mesma que hoje vejo como um lar e que conheci meu grande amor.

Hoje a angústia é ardente, saber que o meu pequeno Andrew está


agora em braços desconhecidos, chorando e sofrendo me destrói por
dentro.

Eu falhei como mãe, como pude deixar isso acontecer?

Andrew é muito novo para ir à escolinha, e quando minha mãe


voltou a trabalhar, o combinado era deixar Drew com Angélica pelo
período das minhas aulas, mas a pediatra aconselhou a escolinha e eu o
coloquei, assim como Elliot e Melanie fizeram com a July.

Tudo o que está acontecendo agora é minha culpa.

Se eu não tivesse teimado em matriculá-lo, nada disso teria


acontecido e o meu menino estaria nos meus braços agora.

No momento estou tão desesperada, que a cada toque de telefone


ou celular, eu corro para ver se é alguma notícia.

Diferente das outras vezes, que não me ajudou em nada, a


mensagem que recebi agora me deu um fio de esperança.

“Estou com o Andrew, venha me encontrar nesse endereço, não


avise ninguém.”

Meus olhos se encheram de lágrimas, anotei o endereço e saí


correndo de casa, peguei meu carro na garagem e saí do condomínio.
O segurança da portaria me olhou por um instante e eu temi ser
barrada, afinal é madrugada, mas não demorou muito e os portões foram
destravados.

— Vamos lá Oly, nós conseguiremos — sussurrei para a minha


barriga, tentando me encorajar.

Meu lado racional alertava o perigo afinal o número era


desconhecido e o encontro foi marcado às duas da manhã, mas o meu
emocional estava pouco se importando, eu só queria ter o meu menino
em meus braços.

Não demorou muito para chegar, estacionei o carro no local


combinado. Assim que desci, acionei o alarme e olhei ao redor,
esfregando os braços com frio, eu estava sozinha, a rua estava
completamente deserta, o clube que a minha família treina é próximo,
mas não tinha ninguém no local.

Pensei em ligar para Christopher, mas só nesse momento me


lembrei que saí sem bolsa, sem celular, sem tudo.

Poucos minutos depois um carro parou ao meu lado, o vidro


escuro abaixou e eu enxerguei o mesmo senhor com sotaque que me
elogiou no meu casamento.

— Entre — mandou e abriu a porta do carro por dentro, encarando


a minha barriga.

Cometi o meu segundo erro quando entrei no carro, seguindo todas


as ordens dele como uma marionete.

Mas assim que vi Andrew em uma cadeirinha, ainda vestido com o


uniforme da escolinha, ao lado daquele senhor, meu coração se aliviou.

Estou com o meu menino novamente.

Estiquei-me para pegar meu filho e o senhor desconhecido ao meu


lado não me proibiu.
— Meu amor — beijei o rostinho gordinho várias vezes e voltei a
chorar, mas dessa vez era de alívio.

Andrew apertou a minha mão e me olhou triste.

Sentiu tanto medo igual a mim.

— Não chore devushka, seu filho está bem. — Ele comentou.

— O que você quer? Eu nem conheço você.

— Esse foi o erro do seu marido, ele não te contou quem sou.

Eu fiquei ainda mais confusa.

— Quando apareci no seu casamento, minha intenção era pegar


você, mas a notícia da gravidez me surpreendeu e eu resolvi esperar, o
batismo era a chance perfeita, mas ele passou o dia todo rodeado de
pessoas, esperei mais um pouco até que o momento apareceu. Enfim
tenho meu herdeiro homem. — Ele olhou orgulhoso para Andrew.

Como alguém simplesmente pensa que pode pegar uma criança e a


levar?

— Você é doente? Andrew é meu filho — gritei segurando ele um


pouco mais apertado.

— Isso para mim não é um problema, só estou esperando eles


morderem a isca e acabarei com tudo de uma vez.

Tentei abrir a porta do carro, mas elas estavam travadas.

— Você não pode simplesmente roubar as pessoas. Quem você


pensa que é?

— Que indelicadeza a minha, nem me apresentei, sou Ivan


Pietrov, o seu avô materno.

Com minhas suspeitas confirmadas, comecei a sentir mais medo.


O homem que meu pai me protegeu a vida toda, tinha conseguido
a mim e aos meus filhos, sem muitos esforços.

— Você é tão parecida com aquela maldita mulher, a única que


um dia amei. — Ele relou levemente no meu queixo, me afastei com
repulsa. — Sua petulância é a mesma também. Vamos pegue esse
telefone e ligue para o Christopher.

Senti meu coração se acelerar, essa era a minha chance de contar


onde estamos.

Peguei o celular da mão dele e disquei o meu número, se


Christopher estiver me procurado tenho certeza que ele está com o meu
celular.

Não demorou dois toques, ele me atendeu.

— Christopher. — A voz dele me fez voltar a chorar.

— Amor não se preocupe — comecei.

— Diga que está tudo bem — ordenou Ivan.

— Está tudo bem, eu voltarei com os nossos filhos, amo você —


consegui gritar a última parte antes que o celular fosse arrancado e
jogado pela janela do carro.

Senti toda a preocupação e dor do meu marido quando ele atendeu,


ao contrário de mim ele está sem nós três.

Senti quando Olívia chutou forte, próximo da mãozinha de


Andrew que repousava na minha barriga, acariciei levemente tentando
acalmá-la.

Fui muito burra, acabei entregando a Ivan dois herdeiros.

— Vamos para o aeroporto — avisou ao motorista.

Olhei para trás e vi meu carro ficando cada vez mais distante.
Onde eu fui me meter?

∞∞∞

— Eu preciso dar um banho nele.

— Tem tudo o que precisa aqui. — Ele soltou o meu braço e me


empurrou para dentro do quarto do jatinho particular.

Olhei ao redor e as únicas coisas que tinham eram roupas e


produtos de higiene para bebê.

Depois de dar banho e mamadeira para Andrew, me deitei ao lado


dele e o segurei firme.

Acordei com Ivan me sacudindo.

— Chegamos em casa.

Quando desci do jato, o dia já estava claro. Automaticamente


meus olhos se encheram de lágrimas e eu entendi tudo quando vi uma
das pessoas que mais amo ali parada, me encarando.

— Você estava com ele desde o início, não é? — perguntei entre


lágrimas, olhando para aquele que um dia me transmitiu tanta
confiança...
Capítulo 10
Bônus Christopher narrando

Estávamos todos nos preparando para a viagem, Roger traçou o


plano diversas vezes, nada poderia sair errado. De todos, ele era o
melhor estrategista, meu pai dava palpites vez ou outra, mas Roger
planejou a maioria.

— Partiremos em meia hora, para chegarmos lá de madrugada. —


Meu pai avisou a todos os presentes.

Eu estava me focando no plano e na esperança de recuperá-los, ou


surtaria.

— Eu ainda não concordo com isso. — Minha mãe reclamou.

— Angélica, esse é o único modo de recuperá-los. — Ele a puxou


para seus braços, tentando acalmá-la.

— Tudo o que eu mais quero é recuperar os três, mas vocês irão


estar no território inimigo, Ivan é perigoso.

— Nós sabemos mãe, mas temos que ir. — Matthew falou quando
entrou na sala de estar.

Minha mãe o encarou ainda mais preocupada. Quando Elliot e eu


descobrimos alguns segredos do meu pai, ele se abriu com os meus
irmãos, Ethan já sabia de quase tudo, como imaginávamos, já Megan
ficou completamente abalada e Matthew digeriu tudo em silêncio.

— Aonde pensa que vai Matthew?

— Irei com eles recuperar a Tay e as crianças. — Meu irmão mais


novo falou firme.

Ele estava vestido como todos que partiriam, as roupas pretas com
um coldre na cintura, no qual estavam as nossas armas.

— Você não irá Matthew. — Meu pai avisou.

— Eu não estou pedindo permissão pai, Andrew, Tayla e a Olívia


precisam de ajuda.

Olhei para Elliot, ele sempre foi o meu porto seguro na hora de
tomar difíceis decisões, seu olhar também estava preocupado, Matt é
praticamente uma criança, o nosso caçula.

— Não irá — falei sem dar vestígio de que voltarei atrás na minha
decisão.

— Quanto mais ajuda melhor. — Meu avô disse por fim.

— Não pai, Matthew não irá. Está decidido.

— Alfredo, Matthew já é um homem, ele mesmo toma as suas


próprias decisões.

Encarei o meu avô, ele não estava nem um pouco preocupado.

— Eu sei o que estou fazendo pai, não se preocupe. — Matt


apertou o ombro dele e voltou a sair da sala de estar.

∞∞∞

A cada instante eu olho o relógio, é a vida da minha mulher e a


dos meus filhos que estão em risco.

Esse sentimento de impotência está me deixando cada vez mais


angustiado.

— Chris, olhar para o relógio a cada dois minutos não vai ajudar
em nada. — Megan reclamou entrando na sala.
Eu estava feito um louco de preocupação, tudo o que menos
preciso é de Megan e suas gracinhas.

— Não estou com cabeça Megan, vai encher a paciência de


Theodoro. — Fui rude e não liguei.

— Me desculpe, eu também estou preocupada, tentei falar com o


Theo, mas ele não me responde há dias.

Eu não dei importância a isso. A única coisa que me trará paz


novamente é ter a minha família novamente nos meus braços.

— Alguma notícia de como Tayla saiu com o carro do


condomínio? — Roger perguntou para o meu pai.

— O segurança da portaria que a deixou sair já está com Tales.

Respirei fundo, se eu colocasse as minhas mãos nesse infeliz, o


mataria. Trabalhou por anos para a família e Ivan conseguiu comprá-lo,
a segurança dos que amo foi prejudicada e ele é um dos culpados.

Quando já estávamos na porta, prontos para partir, minha mãe


chorou e disse:

— Quase todos os homens da minha vida indo, não sei se aguento.

— Iremos voltar meu amor, todos nós.

Queria ter tanta certeza assim como meu pai, mas sei que se a
Tayla estivesse aqui eu teria dito o mesmo, apenas para tranquilizá-la.

— Vocês vão voltar, isso é uma ordem, o que me desobedecer


sofrerá as consequências. — Ela falou no típico tom que usava quando
nós éramos crianças.

Cada um ali começou a se despedir, Elliot beijou Melanie e July,


acariciando a barriga da esposa, grávida de três meses, Roger se
despediu de Lúcia, Matthew consolava Megan que chorava preocupada
e eu fiquei esperando meu pai se despedir da minha mãe para eu poder
abraçá-la.

— Traga a minha menina de volta filho e o nossos pequenos


herdeiros também — ordenou entre lágrimas.

Dava para notar o amor que ela sente por Tayla, Andrew e Olívia.

— Eu irei mãe, amo você.

Saímos da mansão em três carros.

— Todos já sabem o que fazer. — Meu sogro repassou o plano


quando entramos no avião.

Eu sabia cada detalhe, primeiro encontrá-los e mantê-los


protegidos até Elliot me encontrar e dar cobertura, mas todo o plano
mudou quando meu telefone tocou.

Eu não estava preparado para aquilo, se um dia eu odiei Theodoro,


agora eu quero matá-lo...
Capítulo 11
Bônus Tayla narrando...

Assim que desci do jato, e o vi, apertei Andrew um pouco mais


forte quando ele estendeu os bracinhos para aquele traidor.

Olhar aqueles olhos que um dia me trouxeram tanta alegria estava


me sufocando.

Todo o percurso no carro foi feito em silêncio, Ivan estava sentado


ao meu lado e Theodoro dirigia.

Saber que o meu amigo de infância, aquele que compartilhei


segredos intensos, me traiu dessa maneira, me matou por dentro.

Eu o amei como um irmão e recebi em troca o sequestro do meu


filho.

Vez ou outra, Theodoro me olhava pelo retrovisor, via nos olhos


escuros dele a culpa, o arrependimento, mas não acreditei, ele conseguiu
me enganar a vida toda.

Quando Ivan me deixou em um quarto da sua mansão, para poder


descansar com Andrew, eu deixei as lágrimas caírem.

— Eu sinto muito Tay. — A voz dele foi ouvida assim que a porta
do quarto foi aberta.

— Você é um canalha, maldito, eu te odeio — corri na direção


dele, desferindo socos, tapas e arranhões.

Theo segurou meus braços e me fez encará-lo. Vi que começava a


sangrar onde apertei com as unhas.

— Eu não tive escolha. — Se defendeu.


— Sempre existe uma escolha Theodoro, tudo o que vivemos foi
uma obrigação para você?

— Não, juro que não.

— Desde criança, desde quando se mudou para a casa ao lado, era


tudo um plano? — perguntei querendo entender.

— Era.

— Sua avó? Ela sabia?

— Sim, ela também estava lá a mando de Ivan.

Me virei de costas, não conseguindo mais parar de chorar. Aquela


senhora me tratava como uma filha.

— Ei Tay, preciso que confie em mim. — Ele relou nos meus


ombros, mas me afastei.

Tudo o que senti quando desci do avião e o vi foi decepção.

— Tay, a minha amizade era sincera, sempre foi, só preciso que


confie em mim.

— Como quer que eu confie? Por anos acreditei que você era meu
amigo, mas planejou roubar meu filho com aquele monstro — gritei
irritada.

Theodoro caminhou até a porta e a encostou.

— Juro que no começo minha intenção era seguir o plano dele,


mas quanto mais ficávamos próximos, mais eu adorava você, não queria
que as coisas fossem assim.

— Você é um canalha, Megan não merecia ser usada dessa forma,


o que ela foi para você? Apenas um meio de se infiltrar na família
Bittencourt? — perguntei me enfurecendo.
Eu apresentei os dois, eu sou a culpada de tudo.

— Não, Megan foi um sopro de alegria nesse meio, eu a amo.

— Não ama, se a amasse não teria deixado isso acontecer, ou acha


que ela vai te perdoar? Não Theodoro, assim como eu, ela vai te odiar.

Ele fechou os olhos por um instante e depois voltou a me encarar.

— Nunca quis o seu ódio Tay, preciso que se acalme e pense com
clareza.

Eu sorri sem humor nenhum e olhei para o meu filho, dormindo no


bercinho que colocaram ali para ele.

— Christopher sempre me avisou, sempre me alertou em relação a


você, e o que eu fazia? Te defendia, brigava com meu marido para
defender um hipócrita. — Me virei para ele novamente enfurecida.

Esses hormônios da gravidez me deixam confusa, uma hora quero


apenas chorar, logo depois quero matar alguém de tão brava que estou.

— Pense na Oly, você precisa se acalmar. — Theodoro voltou a


relar em mim.

— Não me toque — caminhei para o mais longe possível dele e


relei na minha barriga, respirando fundo.

Tudo o que eu queria agora era o Christopher, sentir seu cheiro,


abraçá-lo e me sentir protegida em seus braços.

— Confie em mim... — Theo voltou a falar, mas se calou quando


a porta foi aberta.

— Já contou a ela sobre o casamento? — Ivan perguntou assim


que entrou.

Olhei para Theodoro horrorizada.


— Eu já sou casada.

— Não por muito tempo devushka, amanhã de manhã você se


casará com o Theodoro.

Caí sentada na cama, minhas pernas fracas, minha visão


escurecida.

— Deixe a descansar. — Ivan ordenou e ouvi a porta se fechando.

∞∞∞

Acordei assustada com um barulho no corredor, olhei para


Andrew que dormia ao meu lado na cama e me levantei.

Quando estava quase na porta, ela se abriu rapidamente e tudo


aconteceu rápido demais.

Em um instante eu estava com uma estátua erguida na mão, pronta


para atacar quem quer que fosse e no outro, braços fortes me enlaçaram
pela cintura me puxando para si.

Christopher...

— Eu tenho vocês de volta. — Ele sussurrou enquanto inalava


meu cheiro e acariciava a minha barriga.

Meu Deus, o apertei forte e voltei a fechar a porta.

Ele caminhou até onde Andrew estava na cama e vi quando meu


marido secou as lágrimas e segurou a pequena mãozinha firme.

— Nunca mais deixarei isso acontecer com vocês.

Chorei também, uma mistura de nervoso, medo, alívio, tudo estava


me deixando exausta.
— Como nos encontraram? — perguntei ainda o segurando firme.

— É uma longa história, precisamos sair daqui primeiro.

Peguei um cobertor e coloquei em volta de Andrew, carregando-o


no colo.

— Eu deveria carregá-lo, mas se for necessário atirar em alguém,


prefiro que eu faça isso. — Chris olhou preocupado para mim e só nesse
momento reparei que ele tinha duas armas no coldre.

— Tudo bem, eu não me importo de segurá-lo.

Meu loiro suspirou cansado, sabia que o fato de eu carregar


Andrew o incomodava, por estar grávida, mas não existia outra opção.

Quando abrimos a porta em silêncio novamente, demos de frente


com Elliot, ele também estava todo de preto e segurava uma arma com
silenciador.

— Me dê ele aqui. — Ele pegou Drew dos meus braços e


aproveitei para pegar a arma dele.

— Eu te dou cobertura.

Os dois se olharam, mas não me impediram.

Nesse instante, todo o treinamento intensivo da família Bittencourt


foi útil, afinal eu só sabia manusear uma arma por causa deles.

Viramos o corredor e descemos um lance de escadas, Christopher


liderava o caminho segurando uma arma em cada mão, Elliot estava
logo atrás com Andrew no colo e eu os seguia de perto, vez ou outra
olhando para trás.

— Matthew disse que a saída lateral que dá acesso à piscina da


casa está limpa. — Elliot avisou baixinho após colocar a mão no ouvido.

Reparei que um pequeno aparelho estava ali, Christopher também


tinha um.

Eles pensaram em tudo.

Descendo mais um lance de escadas, paramos no andar principal,


mas antes que conseguíssemos sair pela lateral, tiros lá fora foram
ouvidos.

— Meu Deus, Matthew está lá fora? — perguntei assustada.

— Matt, está tudo bem? — Elliot perguntou relando no


aparelhinho.

— Matthew??? — Chris também perguntou.

— Ele não nos responde. — Elliot falou preocupado.

— Precisamos sair por outro lado. — Christopher me conduziu


para trás novamente.

— Eu sei onde é a entrada principal, podemos sair por lá.

Comecei a caminhar lentamente indicando a direção, mas assim


que viramos o corredor, demos de frente com um segurança da casa.

Christopher entrou na minha frente e começou uma briga corporal


com o homem, tentando desarmá-lo. Todo o barulho da briga acordou
Andrew, que chorou assustado, Elliot tapou a boca dele, evitando que
mais homens da segurança nos encontrassem.

Olhei para a arma na minha mão, tinha silenciador. Mirei e atirei


duas vezes.

O segurança gemeu de dor e caiu no chão. Fiquei em choque


vendo o sangue jorrar da perna e coxa dele.

Eu atirei em uma pessoa...

— Está morto? — perguntei sentindo as minhas mãos suarem.


Christopher se abaixou e colocou o dedo médio e indicador no
pescoço do homem, conferindo o batimento da artéria carótida.

— Não, só desmaiou. Vamos sair daqui.

Elliot pegou a arma da minha mão e eu estendi o braço para pegar


Andrew, que ainda chorava.

— Me dê ele — tentei acalmar o meu pequeno, mas não consegui,


tive que voltar a fechar a boca dele com a minha mão, tomando o
cuidado para deixá-lo respirar.

— Fique no meio de nós dois. — Chris ordenou.

Continuei caminhando atrás de Christopher e indicando baixinho o


caminho que marquei mais cedo.

Quando chegamos na sala de estar da casa, eu vi Ivan apontando


uma arma para o meu pai.

Meu Deus, respirei fundo e congelei.

Ivan nos viu e apontou outra arma para nós, soltando um riso
amargo. Ele estava com todos na sua mira.

— Meninos, abaixem as armas.

Vários seguranças estavam ao redor de Ivan, Christopher e Elliot


não tiveram opção, abaixaram as armas e ergueram as mãos. Segurei
Drew mais firme e deixei que ele chorasse, afinal já tínhamos sido
pegos.

— Vocês trouxeram a família toda, esse aqui foi tão fácil de


capturar. — Ele comentou vitorioso.

Olhei para onde ele apontou e vi Theodoro segurando Matthew,


com uma arma mirada na sua cabeça. Olhei assustada para Elliot e
Christopher.
— Eu confiei em você seu infeliz — ouvi meu pai gritar para
Theodoro.

— Eu sabia que se pegasse Andrew, todos apareceriam, estava


tudo planejado. — Ivan voltou a se vangloriar.

— Você é um maldito, Lúcia nunca mereceu um pai assim, um


alcoólatra espancador.

Ivan tremeu a mão que segurava a arma apontada para o meu pai e
eu temi pela vida dele.

— Minha filha deveria estar comigo, se aquela desgraçada da mãe


dela não tivesse me traído com aquele miserável.

— Que bom que você reconhece a sua impotência. — Meu pai


provocou.

— Eu apenas quero a minha família de volta.

— Você poderia ter se não fosse um violento, que espancava a


esposa e a filha bebê. — Meu pai falou enfurecido.

Nesse momento Ivan disparou a arma em direção ao meu pai, eu


dei um grito e vi quando Theo soltou o Matthew e atirou em Ivan.

Os seguranças que miravam em mim, Christopher e Elliot, viraram


as armas para Ivan, que sangrava no chão.

— Você me traiu? — ouvi a pergunta que Ivan fez para Theodoro,


mas minha preocupação era outra.

Passei Andrew para Elliot, corri confusa até o meu pai que
também sangrava e verifiquei o seu ferimento. O barulho do choro do
Andrew, misturado com a briga entre Christopher e Theodoro e todo o
resto da confusão foram esquecidos quando olhei para o sangue dele que
escorria.

— Foi de raspão no ombro meu amor, não se preocupe. — Ele me


apertou forte com o braço não ferido.

Sorri em meio às lágrimas.

— Eu... Eu achei que ia te perder — sussurrei assustada.

— Você não vai. — O tom foi tranquilizador, reconfortante.

O soltei e estanquei o ferimento, olhei para trás e Christopher


brigava com Theodoro, Elliot passou Andrew para Matthew e correu
separá-los.

— Eu vou matar esse infeliz. — Meu marido ameaçou.

— Se não fosse por ele, nós não teríamos os libertados. — Meu


pai falou firme, se levantando.

Olhei confusa para eles, não entendendo nada e foi quando Chris
me contou que Theodoro ligou avisando que Ivan os aguardava em uma
emboscada, com isso eles traçaram um novo plano.

— Ele morreu? — perguntei olhando para Ivan.

— Sim. — Theo respondeu olhando para o corpo inerte no chão.

— Espero que apodreça no inferno. — Alfredo comentou entrando


na casa.

— Onde ele estava? — perguntei para Matthew que segurava


Andrew.

— Estava com os seguranças que nos esperavam para a


emboscada.

— Achei que todos estivessem aqui.

— Não, aqui estão os de confiança de Theodoro, Ivan tinha os


fiéis que iriam nos matar assim que pisássemos na Rússia. — Chris
contou.
Olhei para Theodoro, se não fosse o telefonema dele, todos teriam
caído na emboscada e seriam cruelmente assassinados.

— Espero que um dia você possa me perdoar. — Ele me pediu.

Encarei o chão e fui incapaz de respondê-lo, sua traição me


quebrou de uma forma irreversível...
Capítulo 12

Desespero definiu Ethan nesses dois dias que se passaram, estava


longe de casa, nada podia fazer para ajudar Tayla, Andrew e Olívia,
foram os dias mais longos que tivera, afinal aquela jovem e aqueles
bebês se tornaram parte dos que ele ama.

— Como estão as coisas? — perguntou para o Miguel, seu


parceiro da polícia, assim que ele atendeu.

— Roger está bem, o tiro no ombro foi apenas de raspão, já Megan


está cada dia mais triste.

— Se eu estivesse lá, teria matado Theodoro, sem hesitar, ele


ousou magoar a minha irmã.

— Eu faria o mesmo, mas o seu pai não confia em mim para


ajudá-lo em missões assim.

— Não é para menos, você é um policial, ele não confia nem em


mim que sou filho dele. E o David, soube de alguma coisa?

— Nada, seu pai e os outros tomaram cuidado para esconder tudo,


Theodoro se encarregou de se livrar da bagunça.

Ethan respirou aliviado, se David Ducan, seu chefe, tivesse


descoberto algo, tudo pioraria.

— Odeio estar preso aqui, queria cuidar da Megan. — Ethan se


jogou na cama, exausto.

Era bem cedo ainda, mas as duas noites sem dormir estavam
cobrando-lhe um preço.

— Sobre isso, preciso te contar uma coisa. — O tom receoso do


parceiro fez Ethan voltar a se tencionar.
— Andrew, Tayla e a bebê não estão bem?

— Estão sim, é sobre a Megan... — Ele pausou.

— Diga logo Miguel, sabe que Megan é o meu ponto fraco.

— Eu sei... Por isso acredito que devo te contar isso


pessoalmente...

— Não, agora que começou, continue — mandou.

— Eu a chamei para sair. — Miguel foi direto ao ponto.

— Você o quê? — levantou-se da cama e começou a andar pelo


quarto, inquieto.

— Isso mesmo, e ela aceitou.

— Mas você mesmo disse que ela estava cada vez mais triste.

Ethan ouviu o suspiro cansado de Miguel.

— Eu sei, por isso a convidei, queria vê-la sorrindo novamente,


mas ela ama aquele infeliz.

— Nem me lembre, ainda ficarei de frente com Theodoro e o farei


sofrer tudo o que Megan está sofrendo agora — jurou.

— Sua mãe me apoiou e acabou me ajudando a convencer Megan.

Ethan sorriu, sua mãe sempre pegou as coisas no ato, tanto que
quando ele começou a namorar Sarah, Angélica o avisou que não era
ideal, mas nunca destratou a moça, o filho se lembrava perfeitamente
das palavras da mãe:

— Eu não vou te proibir de ficar com ela, afinal já é um homem e


toma as suas próprias decisões, mas tenho certeza que perceberá que
Sarah não é a mulher para você. — Ela passou a mão no rosto dele,
sorrindo gentil.
— Minha mãe sempre se metendo. — Ele comentou com tom
neutro.

— Você se importa? — Miguel perguntou preocupado, afinal


adora Ethan como um irmão e Megan está ocupando seu coração desde
o dia em que a viu pela primeira vez, toda linda descendo do carro para
entregar uns documentos para o irmão na delegacia.

— Longe disso, eu gosto da ideia de você e ela serem amigos,


Megan precisa esquecer de vez o Theodoro, sei que você pode ajudá-la.

— A questão é que eu não quero ser apenas amigo dela, eu quero


mais que isso. Quero fazê-la se esquecer dele, quero fazê-la feliz.

— Só vou te avisar uma coisa — começou com tom firme.

— O quê?

— Você terá cinco homens contra você se fizer ela sofrer, agora
estamos ainda mais espertos, afinal baixamos a guarda com Theodoro e
deu no que deu.

— Não me compare a ele, sei que Megan é diferente, nesse


momento eu preciso dela assim como sei que ela precisa de mim. —
Ethan resolveu não perguntar a razão.

— Se ela quiser, eu aprovo, mas se Megan não quiser...

— Nunca forçaria ela a nada. — Ele o cortou.

— Ótimo. Cuida dela.

— Cuidarei, irmão.

— Agora preciso desligar, daqui a pouco começa o treino.

— Acaba com ele. — Miguel finalizou a ligação e Ethan sorriu.

Desde o começo sabia qual era a intenção de Felipe quando o


chamou para treinar junto com todos, mas não será assim tão fácil.

∞∞∞

Ane se aquecia em um canto com Natália, Xavier fazia


alongamentos perto das meninas e Tito estava no meio do tatame,
orientando alguns dos homens da segurança.

— Achei que não viria Stewart — comentou com deboche.

— Eu não perderia por nada. — A resposta também veio em um


tom debochado.

Ane levantou o olhar e viu Alex, parado no começo do tatame.

— Por que seu irmão teima em provocá-lo?

— Ciúmes minha cara, ciúmes. — Natália sorriu convencida


disso.

Diogo estava sentado, apenas observando de longe, treinar não era


a sua atividade preferida durante a manhã.

Enquanto Tito organizava as duplas, Alex se aquecia, sentindo o


olhar constante de Ane nele.

— Quero saber o quão bom você é. Começaremos nós dois.

O primeiro golpe de Felipe, Alex desviou com perfeição,


abaixando-se e aproveitando para dar-lhe uma rasteira, mas Tito era
rápido e evitou a queda, os sussurros dos outros que assistiam ao treino
era notável, mas Ane não conseguia nem piscar, quem dera prestar
atenção nos boatos, estava fixa em cada movimento dos dois.

Quando Alex atacou, Felipe foi rápido na defesa do soco, mas não
conseguiu evitar o chute na costela, arquejou para trás reclamando de
dor.
O Bittencourt não se aproveitou desse momento, afinal seu pai
sempre o treinara para respeitar os limites do adversário. Enquanto Tito
se recompunha, Ethan olhou ao redor e viu Alejandro assistindo ao
treino, olhando o com total curiosidade.

Essa distração fez com que ele levasse um de esquerda, a luva para
o treino que Felipe usava ajudou a amortecer o golpe, mas Alex
cambaleou um pouco, vendo o olhar preocupado de Ane.

Quando seus olhos se encontraram com o de Felipe, ele viu o ódio,


não estava ali por um simples treinamento, ele queria derrotá-lo,
humilhá-lo na frente de todos, mostrar que ele é quem manda ali, que ele
é o respeitado. Mas Alex era um adversário à sua altura.

∞∞∞

Quando o treino acabou, Xavier avisou ao Alex que Alejandro


queria falar com ele no escritório.

Sem hesitar, ele caminhou para o local e bateu na porta.

— Entre. — A voz do Herrera foi ouvida.

Alex entrou e encostou a porta.

— Precisa falar comigo? — perguntou direto.

— Sim, — Alejandro jogou os óculos de grau na mesa e


descansou o rosto no dorso da mão. — Me surpreendi com o treino de
hoje — começou encarando Alex com atenção.

Stewart não soube o que dizer, então apenas assentiu.

— Vi como você acabou com o Felipe, e ele é um dos meus


melhores lutadores, a partir de hoje você será o treinador de todos, até
mesmo de Tayane.
Alex o olhou surpreso.

— Acredito que Felipe não gostará disso senhor — comentou, mas


não estava preocupado com isso, estava apenas seguindo com o seu
papel.

— E eu sei que você não tem medo dele. — Alejandro comentou.

Alex não negou, afinal essa é a verdade, Felipe em momento


algum o causou medo, a adversidade nasceu desde a primeira troca de
olhar, isso nunca mudaria.

— Pode deixar, cuidarei do treinamento da equipe a partir de


agora.

— Avisarei Felipe mais tarde, por agora é só isso. — Alejandro


encerrou a breve reunião e Alex deixou o escritório com um pequeno
sorriso.

Avançara um passo, afinal Alejandro estava começando a confiar


nele...
Capítulo 13

Na manhã do dia seguinte, Ethan estava no banho quando seu


celular começou a tocar.

Saiu rapidamente, se enrolando na toalha e olhou o visor.

— Senhor — atendeu a ligação do chefe.

— Tem alguma novidade? — Seu superior foi direto ao assunto.

— Alejandro me convocou para treinar toda a equipe, inclusive a


filha, estou conquistando a confiança dele aos poucos.

— Isso é muito bom, mas eu preciso de provas, você está


demorando nesse caso, tem algo te atrapalhando?

Se estar se sentindo atraído pela filha do seu investigado for


considerado um problema, ele está muito encrencado.

— Não senhor. — Ele mentiu fechando os olhos, mas assim que


seus olhos se fecharam o lindo olhar brilhante dela ocupou sua mente.

— Espero que você continue com foco na missão. Entre em


contato logo — ordenou.

Finalizaram a ligação e Ethan suspirou cansado, essa atração por


Ane estava errada de todas as maneiras.

Ele estava ali por um trabalho, não por ela.

Ane é menor de idade, filha de um suspeito, linda, mas ainda


assim, proibida para ele.

∞∞∞
Como acordou bem cedo, ele se encaminhou para a cozinha com a
intenção de ajudar Nana com o preparativo para o café da manhã.

— A senhora precisa de ajuda? — ofereceu-se.

— Não meu filho, pode deixar comigo. — A senhorinha piscou


para ele, animada logo cedo.

Mesmo assim ele começou a ajudá-la.

— Eu coloco a mesa enquanto a senhora traz os alimentos.

Ela saiu da sala de jantar sorrindo com a gentileza do rapaz.

Ele já estava finalizando o último lugar quando Felipe desceu e


debochou:

— Virou um empregado agora Stewart?

Alex o ignorou, mas Nana que estava voltando da cozinha chamou


a atenção de Tito.

— Não fale assim Felipe, Alex fez o favor de me ajudar.

O menino que ela praticamente criou age como um idiota quando


está com ciúmes.

Felipe ia retrucar, mas não o fez, já que Ane e Naty apareceram na


sala de jantar.

Quando todos já estavam presentes, Natália perguntou ao primo:

— Pretende ficar até quando Di?

Xavier levantou o olhar e encarou o loiro curioso.

— Até quando você quiser minha linda. — Ele a cortejou.

— Então pode fazer a mudança, se depender dela você mora aqui.


— Ane comentou provocativa, afinal tinha percebido o ciúme de Xavier
e resolveu dar um pequeno empurrão.

Xavier é encantador, lindo e lerdo, se Ane não ajudar esse casal,


ambos nunca aceitarão o que sentem um pelo outro.

— Não seria um problema morar com duas garotas lindas. — Ele


piscou para ela e Natália.

— Essa é minha, tira o olho. — Felipe enlaçou a mão de Ane em


cima da mesa e deu um selinho nos lábios dela.

A jovem fora pega de surpresa e corou com todos olhando-os.


Quando os olhares dela e de Alex se encontraram, ela encarou a mesa,
completamente sem graça.

Ele estava em pé perto da porta principal da mansão, no seu


habitual lugar, apenas olhando ao redor. Um típico segurança sério, mas
aqueles olhos negros denunciavam o desejo que sente pela moça.

A intenção de Tito foi justamente mostrar para Alex que Ane é


unicamente dele.

— Relaxa cara, meu coração já tem dona. — Diogo comentou


olhando para Natália, os dois sorrindo cúmplices.

Xavier já tinha perdido o apetite, e se levantou irritado.

— Todo dia vai ser isso?

— Como assim Xavier? — Felipe perguntou confuso.

— Essa conversa, começarei a tomar café com os outros


funcionários.

Todos da mesa olharam para ele sem entender nada.

— Relaxa amigo, você está precisando de uma mulher aqui


também. — Diogo provocou, isso irritou ainda mais Xavier que estava
decidido a acabar com o primo do seu melhor amigo.

Mas antes que ele se movesse até o rapaz e arrancasse aquele


sorriso convencido com um soco, Alex o segurou pelo braço.

— Preciso conversar com você.

Os dois saíram de lá com o olhar atento de Tito neles.

— Desde quando são amigos? — Ele perguntou para Ane.

— Não faço ideia. — Ela voltou a comer.

— Acho que ele gosta de você Naty. — Diogo sussurrou no


ouvido da prima.

— O quê? Claro que não... Você acha?

— Eu percebo as coisas meu bem, sei disso desde a primeira vez


que eu vim aqui e Xavier me detestou.

— Ele só é assim... — Ela comentou evasiva.

— Não, ele é assim apenas comigo, que toco na garota dele.

Natália deu um tapa no braço de Diogo.

— Não sou dele, deixa disso. — Ela fugiu do olhar dele e foi aí
que o primo percebeu que tinha muitas coisas ali que ele não sabia.

— Você vai me contar tudo — exigiu.

— Não tem nada para ser dito.

— Ah tem sim, eu te conheço linda. Me contará tudo e eu te


ajudarei a laçar aquele homem.

Naty encarou a mesa pensativa, mesmo ela lutando contra,


também percebera o ciúme de Xavier e como apenas ela e Ane sabem
que Diogo é gay, provocá-lo seria uma excelente ideia.

∞∞∞

— Eu odeio ele. —Xavier esbravejou quando ele e Alex pararam


perto da piscina.

— Isso é notável.

O moreno respirou fundo várias vezes, tentando se acalmar.

— É tão óbvio assim? — perguntou preocupado, afinal Diogo é


primo de Felipe, que é seu melhor amigo.

— Muito, é por causa da Natália, não é?

— Claro que não. — Xavier respondeu de imediato.

Sem aguentar se conter, Alex gargalhou.

— Claro que é — falou em meio ao riso.

— Isso não tem nada a ver, eu só detesto o cara.

— Sem motivo algum?

— Sem motivo nenhum. — Xavier falou, mas não foi tão firme a
sua resposta.

— Olha, eu sei que não somos amigos, mas se um dia quiser


conversar com alguém, eu estou aqui.

Alex estava se afastando quando Xavier o chamou.

— Ela é quase sete anos mais nova que eu, e ainda por cima é irmã
do meu melhor amigo, ele nunca me perdoaria — desabafou se sentando
em uma espreguiçadeira.
— E você perderá quem ama por isso? Idade nunca foi um
problema para se amar alguém. — Alex respondeu cruzando os braços.

Para Xavier, a amizade de Felipe é muito importante.

— Ele é como um irmão para mim, mas sei que não iria gostar de
saber que eu gosto da irmãzinha dele.

— Se ele te considerar um irmão também, tenho certeza que te


apoiará, se fosse comigo, eu lutaria por esse sentimento.

— Eu não te aconselho o mesmo, pois sei que se você investir no


que sente pela Tayane, as coisas nessa casa ficariam feias.

Alex o olhou completamente surpreso, acreditou que estava sendo


discreto.

— Deu para perceber? — perguntou preocupado.

— Eu percebi, mas pode confiar em mim, o que conversamos


aqui, morre aqui. — Xavier garantiu.

— Eu digo o mesmo, mas ao contrário de você, quando eu desejo


algo, eu luto até o fim.

A questão era que Felipe também lutaria, Ane é a garota que ele se
apaixonou, a que ele pretende ter para sempre, o que resta agora é
descobrir qual será a escolha dela...
Capítulo 14

— Tem certeza que não poderá ir conosco? Sua viagem pode


esperar até amanhã, não pode? Por mim. — Ane encarou Tito com
olhinhos suplicantes.

Ele sorriu e segurou o queixo dela, depositando um beijo


carinhoso na testa da garota.

— Não pode. Tenho que viajar hoje. — A resposta foi firme.

Tayane o encarou triste.

— Tudo bem.

— Não quero te ver triste, mas preciso ir, minha semana sem você
será detestável.

Ela assentiu e quando Felipe terminou de colocar as malas no


carro, Natália apareceu na porta.

— Sério Tito? O jogo é daqui uma hora, você poderia adiar a


viagem.

— Não posso mesmo, tenho uma reunião assim que chegar lá. —
Ele depositou um beijo da testa da irmã e sorriu para Ane quando entrou
no carro.

Quando Xavier se aproximou de Alex, ele estava assistindo a


despedida intrigado.

— Alejandro nos deixou encarregados de levar as duas ao estádio


hoje.

— Eu estou ciente. Para onde Felipe está indo? — perguntou


tentando não demonstrar interesse demais.
— É um assunto pessoal, não importa.

Eles viram quando as duas entraram na casa decepcionadas.

— É tradição assistir ao jogo os três, desde sempre.

Alex ficou ainda mais intrigado com essa afirmação. O que levaria
Felipe a perder algo assim?

— Essa viagem deve ser importante então.

— Você nem imagina cara. — Xavier se afastou dele e voltou para


dentro da casa.

Alex olhou o carro de Felipe sair da propriedade e também entrou.

∞∞∞

As meninas caminharam até o carro ansiosas, quando os olhares de


Alex e Ane se cruzaram, os dois sorriram.

Natália já estava no banco de trás, mexendo no celular, quando


Xavier entrou e se sentou ao lado dela.

— O que está fazendo aqui? — perguntou confusa.

— Estou acompanhando vocês, ordens do chefe. — Ele a olhou


por um segundo e a jovem desviou o olhar.

— Fala sério, precisa sentar aqui comigo? — Ela olhou para Ane
em súplica.

— Desculpa amiga, estou um pouca enjoada, prefiro ir na frente,


Xavier vai atrás. — Sapeca, Ane piscou para o amigo.

Natália a fuzilou com o olhar, deixando explícito que Tayane


pagaria por isso.
— Você é uma menina terrível. — Alex sussurrou no ouvido dela,
tão próximo que fez com que ela se arrepiasse.

— Não sou nem menina e nem terrível, só estou tentando unir


esses dois cabeças dura. — Ela segurou no braço dele enquanto falava
olhando-o nos olhos.

Estavam tão próximos.

Ele desviou o olhar dos olhos castanhos-esverdeados dela, abaixou


para os lábios rosados e por fim encarou a pequena mão em cima do seu
braço descoberto pela camiseta preta.

Ane fez o mesmo e apreciou o toque, a pele dele estava quente,


assim como o dia ensolarado.

— Melhor irmos. — Alex abriu a porta e a moça entrou, sentindo


seu rosto corar por apenas conseguir encara-lo.

— Por que o Xavier não dirige e o Alex senta atrás comigo? —


Natália propôs.

— Minha presença é tão desagradável assim? — Ele perguntou


olhando-a chateado.

Ela o encarou por alguns segundos, antes de voltar a encarar o


celular.

— Tanto faz.

Alex arrancou com o carro e olhou no retrovisor, pegando o olhar


chateado de Xavier.

— Você já foi a um estádio Alex? — Ane perguntou para quebrar


o silêncio desagradável que Natália e Xavier deixaram no carro.

Ele pensou bem antes de responder.

Claro que já tinha ido muitas vezes, mas como Ethan Bittencourt.
— Não, essa será a primeira vez — mentiu.

— Você vai adorar, tenho certeza. — Ane sorriu quando ele


desviou o olhar da estrada e a olhou.

— Vai mesmo, só não se assuste com o “Kiss Cam”. — Naty


aconselhou com um sorriso safado.

— O que é “Kiss Cam”? — perguntou fingindo confusão.

Sabia muito bem o que era, afinal quando criança, ele e os irmãos
presenciaram o beijo em público dos pais, quando foram capturados pela
câmera.

— É quando um casal é capturado pela câmera durante o intervalo


do jogo, os dois devem se beijar. — Naty respondeu animada.

— Devem se beijar? — Ele continuou fingindo.

— Não necessariamente, mas é divertido. Muitos caras vão com


um cartaz escrito "minha irmã", afinal é uma situação embaraçosa
quando sua irmã está sentada ao seu lado. — Xavier entrou no assunto.

— Vocês já foram capturados pela câmera? — Ele perguntou e


olhou para Ane em especial, que o encarava com atenção enquanto ele
dirigia.

— Eu nunca, mas se um dia eu for, darei um beijo inesquecível na


pessoa ao meu lado, ainda mais se ele for lindo. — Natália comentou
ousada.

Xavier bufou ao lado dela e Ane sorriu com a careta que Alex fez.

— E você? — Ele perguntou para ela. — Teria coragem?

A jovem pensou a respeito.

— Eu não sei, depende muito da pessoa ao meu lado e do


momento. — Ela respondeu sincera. — E você teria? — perguntou para
ele.

— Acredito que depende do momento também. — Alex a olhou


por um instante e ela sentiu seu coração se acelerar, era sempre assim
quando ele a admirava tão intensamente.

∞∞∞

Compraram os ingressos na entrada, carimbaram as mãos, afinal o


banheiro é na entrada do estádio, próximo de onde ficam as catracas.

Natália prestou atenção no lugar que Ane e Alex sentaram.

— Preciso ir ao banheiro. — Ela avisou quando todos já estavam


acomodados.

— Agora? O jogo já vai começar. — Ane a olhou duvidosa.

— Não demorarei. — Ela piscou para a amiga e se afastou deles


rapidamente sendo seguida de perto por Xavier.

— Não acredito que Felipe vai perder a partida de América do


México contra Chivas de Guadalajara. — Ane comentou com o seu
segurança quando ficaram a sós.

— Ele também torce para o América? — perguntou curioso.

— Não, ele torce para o Chivas, sempre nos sentamos separados


quando nossos times jogam contra. — Ela sorriu com a lembrança.

Alex deu graças a Deus de Tito ter saído em uma viagem


misteriosa e não estar ali.

— Eu não sairei daqui, então hoje torcerei para o América.

— Não é como se você pudesse sentar muito longe. — Ane


brincou.
— Não te deixaria sozinha aqui nem se não fosse o seu segurança.
— Ele falou bem próximo do ouvido dela, fazendo a jovem se arrepiar
novamente, o contato da barba na sua pele era delicioso.

— Se não fosse, por que estaria aqui? — Ela perguntou o olhando,


mais próxima ainda.

— Pelo fato de a companhia ser adorável. — Ele respondeu,


desviando o olhar para os lindos lábios rosados dela.

Ele sabia que não deveria se aproximar tanto, se apegar tanto, mas
sua atração por ela era mais forte que sua razão.

Dez centímetros de distância e um beijo aconteceria, afinal era o


que os dois queriam, mas a chegada de Natália e Xavier evitou isso.

— Viu fui rápida. — A amiga ironizou.

Ane revirou os olhos e encarou o campo gramado.

Teria beijado Alex se os amigos não tivessem voltado.

O jogo chegou ao intervalo em empate, zero a zero.

— Queria que fizessem um gol, para te ver gritar em


comemoração. — Ele comentou com ela.

— Da última vez que estive aqui, saí rouca. — Ela desviou o olhar
para ele e sorriu, foi quando Natália chamou a atenção dos dois.

— São vocês no telão — avisou satisfeita.

Ane olhou para o telão assustada e viu seus lindos olhos


castanhos-esverdeados arregalados.

Todos estavam vendo-a.

Ela olhou para Alex e ele já a olhava.


— Acho que temos que nos beijar — sussurrou encarando os
lábios dela.

— Também acho. — Ela se aproximou um pouco mais dele.

Ele aproveitou a permissão e a beijou, a sensação foi diferente.

Diferente de tudo o que já provaram, mas intensamente delicioso.

Os lábios se conhecendo, as línguas se explorando em uma dança


sensual e prazerosa.

∞∞∞

— Se Tito souber o que você fez. — Xavier falou enquanto


andava ao lado dela.

— Não seja estraga prazeres, é o acaso, eu não tive nada a ver com
isso. — Natália o desafiou com o olhar.

Xavier sabia a verdade, mas não contaria, não depois daquele


olhar dela.

— Se ele souber que ela o beijou, vai querer matar o Alex.

— Por isso que ele não vai saber. Você não vai contar. — Naty o
olhou seriamente.

— E o que eu ganho em troca? — Ele aproveitou a deixa e se


encostou na parede próxima ao banheiro feminino.

Ela o encarou perplexa.

— Para de ser interesseiro, Ane é nossa amiga, é só guardar esse


segredo.

— E se eu não quiser? — Ele cruzou os braços petulante, a jovem


desviou o olhar dos olhos dele e encarou as bonitas tatuagens que ele
ostentava no braço.

— O que você quer em troca? Eu aviso a Ane. — Ela recuou,


afinal não queria que o irmão descobrisse do beijo.

— Eu não quero nada dela. — Ele se afastou da parede e se


aproximou de Naty, segurando-a pela cintura e virando-a para a parede.

— Não estou te entendendo. — Ela sussurrou, olhando os lábios


dele.

— Eu quero de você. — As palavras roucas foram sussurradas no


ouvido da jovem.

— O que quer? — Ela perguntou quando sentiu as costas relarem


na parede.

Ele não respondeu, aproveitou que os lábios da moça estavam


entreabertos e roubou-lhe um beijo.

O segundo beijo que trocavam, foi bem melhor do que o primeiro


no shopping.

Naty estranhou a atitude de Xavier, ele sempre a surpreendeu e


dessa vez não foi diferente.

O beijo chegou a deixá-la com as pernas bambas, mas quando


finalizou e os dois se encararam, Xavier não estava satisfeito, ele a
puxou novamente para si, selando os lábios dos dois de novo.

Estava decidido a contar para Felipe o que sente por Natália, não
queria perdê-la sem tentar.

Surpreendendo aos dois, o homem segurou a mão dela o caminho


todo de volta para casa.

O clima entre Ane e Alex estava agradável, mesmo ambos


sabendo que era errado o que fizeram, não se arrependeram de nada...
Capítulo 15

Assim que chegaram na mansão, Alejandro estava à porta


esperando-os.

— Como foi o jogo? — Ele perguntou assim que Ane desceu do


carro e o olhou.

A menina se assustou quando ele perguntou isso a ela, nunca


tiveram um diálogo antes.

— Zero a zero. — A resposta foi baixa, olhando-o nos olhos.

Tayane não esperou pela resposta do pai, ela subiu decidida para o
quarto, estava começando a ter uma dor de cabeça irritante e sabia o
motivo.

Culpa...

Beijou o Alex estando com o Felipe, nunca foi de ficar com


rapazes, mas dois ao mesmo tempo?

Isso é loucura — pensou se jogando na cama e encarando o teto.

Ficou perdida em pensamentos por muito tempo, apenas


relembrando a sensação dos lábios dele provando os dela, a barba
acariciando sua pele, o cheiro da colônia masculina dele, as mãos a
segurando firme, querendo tão ou mais que ela aquela aproximação, a
leve mordidinha no lábio inferior quando os dois se separaram em busca
de ar...

— Você não acredita. — Natália entrou no quarto de repente.

Tayane levantou em um pulo, assustada. A dor de cabeça se


intensificando com o susto.

— O que aconteceu? — analisou a amiga dos pés à cabeça, em


busca de algo diferente.

— Diogo aconteceu, Liam aconteceu, os dois aconteceram. — Ela


começou a falar encarando a amiga completamente surpresa.

— Calma, você está me deixando mais confusa ainda. O que o


Liam tem a ver com o Diogo? — Ane perguntou pegando um
travesseiro e o colocando no colo.

Natália aceitou o convite e se jogou na cama, recebendo o cafuné


da melhor amiga enquanto explicava:

— Quando chegamos fui procurar o Di, afinal ele não quis ir ao


jogo com a gente, no início achei que era porque Felipe não iria, mas
não é.

— Não? Por que ele não foi então? — Ane acreditou ser por isso
também.

— Por causa do Liam, eu os vi conversando perto da piscina


quando cheguei, Diogo estava com um sorrisinho sacana no rosto.

— Acha que ele e o Liam estão... Você sabe... Juntos? — Ela


hesitou antes de perguntar.

— Tenho certeza, meu primo olhava de forma gulosa para o ruivo.

— Mas não dá para discordar, você já olhou para o Liam? Ele é


lindo mesmo.

— A última vez que falei com o Liam foi quando ele presenciou o
meu beijo com o Xavier, no shopping, não quero me lembrar daquele
dia.

— Você não me contou essa parte. — Ane reclamou, parando o


cafuné. — Afinal, você não me contou quase nada do que aconteceu no
shopping.

Naty suspirou e se sentou ao lado da amiga, olhando-a seriamente.


— Me desculpe por isso, sei que é minha melhor amiga e que me
conta tudo sobre você, mas a questão Xavier é algo que nem eu entendo.

Tayane queria gritar “é porque você o ama”, mas resolveu ficar em


silêncio e deixar a amiga se abrir.

— Depois que você saiu de perto de nós, eu não me afastei dele,


aproveitei ao máximo, afinal ele beija muito bem. — Ela ousou dar um
sorriso safado e se abanar. — Mas então Liam apareceu e encerramos o
beijo, foi tão rápido, em um instante Xavier me segurava possessivo, me
beijando de uma forma que nunca fui beijada antes, e no outro ele me
olhou decepcionado.

— Foi quando percebeu que era apenas uma distração? — Ane


perguntou secando uma lágrima que a amiga deixou escorrer.

— Sim, acho que sim, ele me deixa tão confusa, falou coisas tão
horríveis e hoje ele simplesmente me... — Ela parou de falar.

— Simplesmente o quê? — Ane teimou, ainda mais curiosa.

— Simplesmente me beijou no estádio, diversas vezes amiga, foi


tão diferente, ele parecia...

— Apaixonado? — Ane completou a frase, afinal Natália estava


relando nos lábios, perdida em pensamentos.

— Não, parecia decidido.

Tayane levantou da cama em um pulo e começou a fazer uma


dancinha da vitória.

— Por que você está dançando?

— Estou comemorando, ele percebeu que te ama, é só uma


questão de tempo agora para estarem juntos.

Natália a olhou alarmada, mas decidiu mudar de assunto.


— Você não sabe do que está falando, mas eu vim aqui contar do
Liam, o foco da conversa é ele.

Ane estava pronta para reclamar quando a porta do quarto foi


aberta novamente.

— Ninguém bate mais pelo visto, e se eu estivesse nua? — Ela


reclamou com Diogo.

— Nada que eu nunca tenha visto linda — respondeu piscando


para ela.

— Você nunca me viu nua. — Ane ressaltou.

— Isso é um detalhe, agora o meu problema é essa mocinha aqui.


— Ele encarou a prima. — Não é o que você está pensando.

— E o que eu estou pensando? — Naty cruzou os braços


desafiando-o.

— Sei bem o que está imaginando Naty, se fosse por mim isso já
teria acontecido um milhão de vezes, mas Liam é hétero, ou seja, não
tenho chance, mas é melhor assim, amanhã voltarei para casa.

— O quê? Mas já? — As duas perguntaram juntas.

— Pois é, deixei todo o meu trabalho parado por lá, só vim


comemorar o aniversário do Felipe, mas ele viajou e nem vai estar aqui
na data.

Naty se jogou nos braços do primo.

— Ainda não entendo a razão dessa viagem, será o primeiro


aniversário dele longe de nós. Mas se você precisa voltar eu entendo, só
que se eu for aceita na universidade de Yale, ficarei no seu apartamento
por um tempo. — Ela se convidou.

— Será bem-vinda, serão na verdade. — Ele olhou para Tayane,


as duas se inscreveram para as mesmas universidades. — Quando as
respostas chegarão?

— Está para chegar já. — Ane respondeu, estava evitando pensar


sobre isso, afinal ficaria ansiosa.

∞∞∞

Quando Alex entrou no escritório de Alejandro, ele já o aguardava


em pé perto do sofisticado bar que decorava o ambiente.

— Sei que está aqui há pouco tempo, mas eu preciso que faça algo
para mim. — Alejandro foi direto ao assunto assim que Alex encostou a
porta.

Ele estava conseguindo a confiança do Herrera e isso era o ponto


máximo da sua missão.

— Claro senhor — concordou convicto.

— Como fiz com todos os meus funcionários, preciso que antes


você prove sua fidelidade a mim. — Alejandro caminhou para a sua
mesa e pegou um envelope.

— Provar como? — perguntou curioso.

— É simples, primeiro você terá que assinar esse termo de


confidencialidade. — Ele estendeu para Alex, que pegou e abriu, lendo
atentamente.

Ele sabia que a intenção do Herrera não era justamente o segredo,


mas sim comparar a assinatura.

Ele assinou Alex Stewart, da forma correta, como treinou por


meses a fio.

O olhar atento de Alejandro se fixou nele, completamente


satisfeito.
— O que quer que eu faça agora? — Alex perguntou.

Sua intuição alertando que Alejandro desconfiava de algo, mas


mesmo assim continuou seguindo o protocolo da missão.

— Todos os meus outros funcionários são próximos de Felipe, —


Herrera começou, se sentando e olhando Alex com atenção. — Mas
você não, e o melhor, não tem medo dele.

Stewart assentiu, isso é verdade, mas não soube o que dizer, estava
curioso demais para interromper o patrão.

— Quero que descubra para onde Felipe viajou, não foi por ordens
minhas, eu tenho uma suspeita, mas se for isso... — Ele parou de falar e
se levantou. — Só descubra o local — exigiu.

— Sim senhor. — Alex saiu do escritório e foi direto para o seu


quarto.

A cabeça girando com suposições, antes desconfiava que


Alejandro foi quem matou os pais de Felipe e Natália, mas agora, depois
de ver a preocupação nos olhos do mexicano, ele teve certeza.

O pai de Tayane matara cruelmente os pais de seus dois melhores


amigos...
Capítulo 16

Até o momento Ane não sabia a razão de estar batendo na porta do


seu segurança tão tarde, um homem estranho, que entrou na sua vida há
pouco tempo, com um sorriso malditamente sexy e que beija muito bem.

Quando a jovem ouviu a porta sendo destrancada, já era tarde para


voltar para o seu quarto.

Estava ali e tinha que ir até o final.

Quando ele abriu a porta e ela viu Alex, vestindo apenas uma calça
de moletom preta, caindo levemente na cintura, ela ficou sem fala.

— Ane? — perguntou confuso.

A jovem o olhou dos pés à cabeça antes de encarar os olhos


negros.

— Eu... É... — Ela não sabia o que dizer.

— É? — Alex perguntou, cruzando os braços e a olhando.

O brilho no olhar denunciava o seu divertimento com o


constrangimento da garota.

— Eu não consigo dormir. — Ela falou por fim, olhando-o nos


olhos.

— Por quê? — Ele perguntou olhando ao redor preocupado.

— Não, não é nada disso, essa casa é mais segura que a do


presidente, tenho certeza. — Ela brincou fazendo um gesto de pouco
caso. — Espero não ter te acordado.

— Não me acordou, o que houve? — Ele a analisou atentamente,


estava com um baby doll de seda azul clarinho.
— Não aconteceu nada, eu só... Só quero conversar com você. —
Ela o olhou novamente nos olhos.

— Quer entrar? — Ele abriu caminho e ela passou, deixando um


rastro do seu perfume para trás, Alex não deixou de perceber isso.

Estava começando a amar aquele cheiro.

Ane olhou tudo ao redor, conhecia o quarto, afinal cresceu


brincando neles quando criança, mas os pertences de Alex organizados
ali tornava o local mais aconchegante.

Ela encarou o livro da cabeceira, acompanhado de um óculos de


grau.

— Você gosta de ler? — perguntou segurando o livro Orgulho e


Preconceito na mão.

Ele encostou a porta e a olhou sorrindo.

— Bom... Eu até gosto, mas romance não é o meu preferido.

— Então por que está lendo? — Ela o olhou intrigada.

— Como sabe que estou lendo? — Ele respondeu com outra


pergunta.

— Porque está na sua cabeceira, é óbvio. — Ela voltou a colocar o


livro no lugar e se sentou na cama dele.

Ele balançou a cabeça de forma negativa e sorriu debochado.

— Minha irmã me presenteou — respondeu se recordando de


quando Megan deu um exemplar idêntico para cada irmão.

Christopher, Elliot e Matthew já leram, só ele mesmo que estava


adiando a leitura do clássico.

— Já gosto dela sem nem ao menos conhecê-la. — Tayane


comentou animada.

— Você diz isso porque não a conhece, ela sabe ser bem
intrometida às vezes. — Ane pegou o tom carinhoso dirigido à irmã
desconhecida dele e sorriu.

Às vezes queria um irmão mais velho, para sentir essa sensação de


carinho genuíno.

Amava Naty como uma irmã, mas não poderia dizer o mesmo de
Tito, o amava intensamente, mas tudo se complicou quando os dois
começaram a trocar beijos.

— Todos os irmãos devem ser assim afinal. — Ela não foi firme
na resposta, não tinha como ter certeza disso.

— Veio aqui para falar da minha irmã?

— Não, eu vim por causa do... Você sabe... Nós... — Ela ficou
novamente sem fala, as mãos começando a soar de nervoso.

— Por causa do nosso beijo. — Ele deu um sorriso debochado e


sexy para ela, e acabou adorando quando a jovem corou intensamente.

— Não foi correto o que fizemos. Quando você chegou à mansão e


me perguntou se eu e o Felipe namorávamos, eu disse a verdade, não
namoramos, mas estamos... Tendo algo, eu acho. — Ela desviou o olhar,
não conseguia encarar aqueles olhos escuros.

— Acredito que não tenha sido tão errado assim, afinal nem você
entende o que está acontecendo entre vocês. — Ele se aproximou dela,
se sentando ao seu lado na cama.

— Alex... — Ela o repreendeu se levantando, não queria estar tão


próxima dele, sempre perdia o controle quando ele a tocava.

Ele passou as mãos no cabelo e também se levantou, caminhando


inquieto até a porta.
— Tudo bem, não vai mais se repetir — falou convicto. — A
menos que você queira. — Ele voltou a sorrir debochado quando Ane
ficou ainda mais vermelha.

Ela desviou o olhar para o chão.

Ele é tão lindo e quando sorri, consegue qualquer coisa com


aquele sorriso, disso a menina tinha quase certeza.

— Eu ainda não sei se contarei ao Felipe, talvez não seja uma boa
ideia, mas eu ainda quero ser sua amiga. — Ela deu um passo em
direção à porta.

— Então seremos amigos. — Ele deu um passo na direção dela,


ficando mais próximos.

Tayane o olhou novamente e sentiu seu coração se acelerar, não


entendia a razão de estar tão nervosa.

— Seremos. — Ela mordeu o lábio indecisa entre correr dali ou


ficar naquela troca de olhares intensos.

Correr dali seria no mínimo vergonhoso, teria que passar por ele e
abrir a porta, mas ficar ali o encarando poderia resultar em coisas que ela
estava lutando para não acontecerem mais.

— Eu estou indo. — Ela falou por fim.

Alex se aproximou da porta e segurou a maçaneta, quando ela se


aproximou mais, para poder sair do quarto, ele sussurrou no seu ouvido.

— Só não minta para você mesma, os seus olhos te denunciam. —


A voz rouca causando danos irreversíveis.

Ela o encarou umedecendo os lábios.

Droga... Queria o beijo...

Só mais um — pensou fechando os olhos, mas o toque gostoso não


aconteceu.

— Não irei te beijar. — Ele falou próximo aos lábios dela.

Queria tanto ou mais que ela, mas disse que não faria e assim será.

— Não? — Ela abriu os olhos encarando os lábios dele.

Alex o umedeceu, provocando-a.

— Você mesma quis assim menina, agora quando quiser o meu


beijo, você terá que ter a iniciativa.

Ela levantou o olhar para ele, se irritando.

— Eu não sou uma menina... E você é um idiota. — Ane cometeu


o erro de segurar o peito despido do homem com as duas mãos, olhando-
o com faíscas no olhar.

Queria o maldito beijo e estava frustrada por não conseguir.

— Foi você quem quis assim. — O maldito sorriso debochado


estava lá, provocando-a ainda mais.

Ane se afastou irritada e abriu a porta, deixando Alex sorrindo


sozinho.

∞∞∞

— Não acredito que você fez uma burrada dessas. — Natália


reclamou no dia seguinte, quando as duas tomavam café da manhã no
quarto, afinal queria evitar aqueles olhos negros intensos.

— Eu fiz isso pelo Felipe. — Ane jogou uma uva na amiga.

— Você estava no quarto daquele bonitão e...


— Nem vem, você deveria estar do lado do Tito, que é o seu
irmão. — Tayane a olhou julgadora.

— A questão é que eu estou do lado dele, ele merece ser feliz, eu


sei que ele ama você, mas do que adianta se você não o amar?

— Mas eu o amo — falou convicta. Realmente o amava.

— Da mesma forma que eu o amo, como um irmão. Já parou para


pensar? Porque eu sim, vejo como você e Alex se olham, parece que tem
fogo entre vocês, com Tito não é assim. Me diz se eu estou errada?

Completamente sem palavras, Tayane abaixou o olhar para o livro


na mesa.

O exemplar de Orgulho e Preconceito nunca mais seria o mesmo


depois da conversa com Alex.

— Sabe aquela bendita frase que a Nana sempre fala? "Quem cala
consente", pois então, ela está totalmente certa.

— Natália chega, eu não quero mais falar sobre isso.

— Mas eu quero. Como você foi burra de dizer que não quer mais
que aquele homão da porra te beije? Amiga você só pode estar doente.
— Ela colocou a mão na testa de Ane, só para ter certeza.

— Eu não sou assim, estou com o Felipe, para ficar com outra
pessoa tenho que terminar com ele primeiro.

— Ane, você é tão complicada.

— Não sou não, sou até simples.

— Por um acaso o meu irmão te prometeu algo? Pelo que eu saiba


não.

— Você quer que eu traia o seu irmão? — A olhou horrorizada.


— Tecnicamente não é trair, já que não está com ele e você não
faz ideia do que ele está fazendo agora. Ele não te contou nem para onde
foi.

— Naty, por favor, não complica mais as coisas.

Natália se levantou, caminhando até a porta.

— Não está mais aqui quem falou, mas pense bem, logo ali tem
um homem lindo te esperando. — Ela soltou um sorriso safado, antes de
sair do quarto de Ane e caminhar de volta para o seu.

Quando abriu a porta, deu de frente com Xavier sentado na sua


cama.

— O que faz aqui? — perguntou assustada.

— Quero conversar com você.

Xavier estava disposto a assumir o que sente por Natália, mas a


moça tem a alma livre, e talvez não esteja na mesma sintonia que ele...
Capítulo 17

Mesmo com a ajuda de Miguel, Ethan demorou mais do que


pretendia para descobrir a localização de Felipe.

— Você tem certeza que é nessa cidade que ele está? — Alejandro
perguntou.

— Com certeza.

— O que esse moleque foi fazer nessa maldita cidade? — O


mafioso perguntou para si mesmo, dando um soco na mesa.

— Ele está em Guadalajara desde que saiu daqui.

Alejandro encarava o papel com as fotos de Felipe na cidade, a


ideia de que o passado pode estar voltando para aterrorizá-lo estava
apavorando-o.

Alex ficava cada vez mais curioso, a preocupação de Alejandro era


perceptível.

O que aconteceu nessa cidade?

— Está preocupado com ele? Se for eu posso ir para lá hoje


mesmo — ofereceu-se, mas sua real intenção era descobrir o que estava
acontecendo.

— Não será necessário, Felipe me avisou que voltará ainda hoje,


mas não estou preocupado com ele, e sim com o que ele descobriu.

Alex evitou perguntar, afinal ficaria óbvio o seu interesse no


assunto.

— Quando ele chegar me avise.

Eles finalizaram a reunião, Alex com a sensação de que tinha


ganhado um pouco mais da confiança do chefe e Alejandro sentindo que
o retorno de Felipe traria tragédias para aquela casa.

∞∞∞

Dessa vez era Ane quem encarava Natália perplexa.

— Calma, você saiu do meu quarto por dez minutos? E volta com
uma bomba dessas?

Naty se jogou na cama, tinha acabado de falar com Xavier no


quarto dela, mas as coisas não foram muito boas.

— Eu te aconselho, mas quando é comigo eu simplesmente me


perco.

Ane se jogou ao lado dela, as duas perdidas em pensamento, o


jogo no domingo resultou em uma segunda-feira confusa para as duas.

— Então ele quer contar para o Tito sobre vocês? — perguntou


para entender melhor.

— Ele quer.

— Só ele?

— Eu não sei amiga, depois daquela briga no shopping, não é mais


a mesma coisa para mim.

— Então você não quer?

— Eu sou muito nova para namorar, quero conhecer o mundo.


Não quero me prender em alguém agora, ainda mais com as nossas
respostas chegando, eu pretendo sair daqui e ser livre por alguns anos.

Tayane olhou para a amiga completamente confusa, achava que


ela fosse apaixonada por Xavier.
— Você explicou isso para ele?

— Sim, eu disse que não quero oficializar nada, apenas tentar às


vezes.

— Qual foi a reação dele?

— Achou que eu estava com medo do Felipe. — Ela comentou


sorrindo. — Logo eu.

— Não sei o que dizer, é você quem decide a sua vida, mas não o
magoe, seja sincera e converse com ele.

— Eu vou fazer isso, o quanto antes, já que Tito adiantou a sua


volta.

Dessa vez foi Ane que suspirou preocupada, não sabia como
encarar Felipe depois do beijo que trocou com Alex.

O pior de tudo é que não foi um beijo qualquer, foi o beijo e a


jovem não queria magoar Tito com isso.

— E o que você fará? — Naty a questionou. Queria a felicidade do


irmão e da melhor amiga, mas sabia que não eram juntos que
conseguiriam isso.

Ane sabia que Natália queria que ela também fosse sincera com
Felipe, mas no momento os pensamentos da jovem estavam todos
confusos demais.

A garota não entendia o porquê de ficar tão nervosa perto do Alex,


mas também sentia suas barreiras se desfazendo quando Tito estava com
ela.

Essa situação deve mudar, não pode e não quer estar apaixonada
pelos dois.

— Estou me sentindo perdida, às vezes imagino como seria ter


uma mãe, o que ela me aconselharia? Queria ao menos poder sentar e
conversar com ela, chorar nos braços dela.

Naty secou as lágrimas que Tayane deixou cair e a apertou


carinhosamente nos braços.

— Não sou a sua mãe, mas posso fingir ser, só para te ver sorrir.

Ane a apertou bem forte em um abraço, não saberia viver sem ela.

As duas órfãs de pais, mesmo que Alejandro esteja vivo, para


Tayane, é como se não estivesse, afinal nunca criaram um elo paternal.

— Você gosta dos dois? — Naty perguntou um tempo depois.

— Acredito que com Alex seja apenas atração.

Natália começou a rir.

— Amiga, quando vocês estão juntos praticamente pegam fogo,


para mim isso é muito mais que atração.

— Eu sei, a sensação é diferente com cada um. Felipe cresceu


comigo, é um carinho tão intenso o que existe entre nós que eu tenho
medo de machucá-lo, já Alex é diferente, ele está aqui há pouco tempo,
mas me atrai de uma maneira intensa.

— E você já está desistindo? Não acredito que perdi meu tempo


tentando uni-los.

Ane a olhou entendendo tudo agora.

— Foi você no estádio, não foi? É tudo culpa sua.

— Se você quer procurar alguém para culpar tudo bem, fui eu,
mas não se engane Ane, você amou o beijo.

— Não acredito que você fez isso. — Tayane ignorou a verdade


que Natália falou e jogou um travesseiro nela.
Natália agarrou um travesseiro e revidou, as duas começaram uma
guerra de travesseiros divertida no quarto, enquanto no andar de baixo,
Felipe entrava na casa, enfurecido.

A porta do escritório foi escancarada antes mesmo que Alex


pudesse evitar.

— Pode nos deixar sozinhos. — Alejandro exigiu.

Tanto Xavier, quanto Alex e Liam se afastaram, deixando os dois


com a privacidade do escritório.

— Você não pode entrar no meu escritório assim — exigiu o


encarando irritado.

— Você não pode exigir algo de mim, quando na vida inteira me


enganou.

— Quero saber a razão dessa viagem tão repentina, e o que fez


você voltar assim?

— Eu não te devo satisfações Alejandro, eu faço o que eu quiser


da minha vida. — Felipe o olhou nos olhos, enfurecido.

— Enquanto morar na minha casa você me deve respeito. —


Herrera esbravejou.

— Assim como você respeitou aos meus pais? — Felipe o


respondeu no mesmo tom.

— Está me acusando de alguma coisa moleque?

— Eu descobri tudo. — Felipe contou.

A cor do rosto de Alejandro sumiu, a verdade que ele escondeu


por tanto tempo, o corroendo por dentro.

Herrera caminhou até o rapaz que ele acreditou ser o seu sucessor,
mas que provou não ser digno desse legado quando começou a pesquisar
sobre o trágico assassinato dos pais.

— O que exatamente você descobriu? — perguntou friamente.

— Que a sua crueldade não tem limites. — Tito falou se afastando


um pouco e indo em direção à janela do escritório. — Em pensar que um
dia eu te considerei um pai.

— Sabe que Natália e você são tão importantes quanto Tayane


para mim.

— Então por que não fez nada em relação à morte dos meus pais?
— Felipe praticamente sussurrou.

Falar sobre seus pais biológicos abria uma ferida que ele lutava a
cada instante para fechar. Uma ferida que doía demais, doía à alma,
apenas quem amou de verdade os pais e os perdeu sabe que dor é essa.

Nesse momento Alejandro respirou aliviado, acabara de perceber


que Tito não sabia de toda a história ainda.

— Me diz o que você sabe e eu prometo te explicar tudo. — A


promessa não era válida, afinal ele nunca contaria a verdade.

— Fui para Guadalajara depois que recebi um telefonema de um


amigo de lá, ele morava aqui, mas se mudou um tempo atrás.

— O que ele queria te dizer?

— Disse que tinha descoberto algumas coisas sobre a morte dos


meus pais, eu fui desesperado, apenas querendo encontrar o maldito que
arrancou a vida dos dois daquela maneira tão cruel.

Alejandro caminhou até o seu sofisticado bar, precisava de uma


bebida e das mais fortes. Ele encarava o rapaz que estava com a cabeça
baixa, tirando de dentro de si a força que precisava para falar em voz
alta o que seu amigo lhe contou.

— Continue — pediu.
— Quando eu cheguei lá, descobri que no dia da morte deles você
também estava lá, por que nunca me contou? Você disse que eles
estavam a trabalho, mas nunca mencionou que também estava lá. — O
rapaz ergueu o olhar para encarar o Herrera.

— Era doloroso para mim também, você iria querer detalhes que
eu não estava em condições de dar naquele momento.

— Obrigado por querer me proteger, mas agora eu quero toda a


verdade, quero que me conte tudo e principalmente quem foi o maldito
que os assassinou.

— Eu não posso te contar isso.

— Por quê?

— Porque eu também não sei — mentiu.

— Você não sabe quem é o assassino?

— Acha que se soubesse não teria me vingado? Eu amava o seu


pai, ele era meu melhor amigo e sua mãe a melhor amiga de Susana,
quero vingança tanto quanto você. — A expressão de Alejandro foi tão
sincera que Felipe acreditou.

— Eu juro que irei encontrar esse maldito e irei matá-lo, nem que
essa seja a última coisa que eu faça na vida — jurou Felipe.

Ele sempre foi apegado aos pais, quando ambos morreram o


menino perdeu o chão, apenas Naty era o que lhe dava forças para
continuar e ainda é assim, mas tudo melhorou quando ele se pegou
amando Ane, desde o seu aniversário de quinze anos, foi naquele dia
que o rapaz sentiu seu coração se acelerar por ela.

— Não jure algo assim Felipe, você ainda não matou ninguém,
não sabe como a sensação é ruim, enquanto eu puder evitar, você não
fará isso. — Alejandro pronunciou, mas o jovem estava pouco se
importando com as palavras dele, estava decidido a vingar a morte dos
seus pais, e não seria ninguém nesse mundo capaz de fazê-lo mudar de
ideia, nem mesmo Ane...
Capítulo 18

Depois das descobertas recentes, Felipe se fechou em seu quarto,


pesquisando a fundo cada vez mais.

Estava focado em descobrir o assassino dos seus pais e não


descansaria até que encontrasse o culpado e o fizesse pagar com sangue
também.

Uma batida na porta chamou a atenção dele, que fechou o


notebook e autorizou a entrada.

— Podemos conversar? — Ane perguntou assim que seu rosto


apareceu na abertura da porta.

— Claro minha linda. — Ele sorriu para ela e indicou a cama, para
ela se sentar ao seu lado.

Ane fechou a porta e caminhou tensa até ele, engatinhou pela


cama e se encostou na cabeceira estofada.

— Você chegou de viagem e nem veio me ver, aconteceu alguma


coisa? — Ela começou cautelosa.

Tito segurou a pequena mão da garota e a tranquilizou.

— Nada que você deva se preocupar. E o jogo como foi? Eu


queria muito ter ido com vocês.

Tayane queria adiar mais um pouco esse assunto, mas olhando nos
olhos dele, ela resolveu ser sincera.

— Foi empate, zero a zero, mas você deveria ter ido, seria melhor
se tivesse ido. — Ela encarou as unhas nervosa.

Tito apertou um pouquinho mais o toque dos dois, preocupado.


— Aconteceu algo que eu deva saber? — A união das bonitas
sobrancelhas demonstrava sua confusão.

Ane se ajeitou na cama, ficando de frente para ele.

— Sim, aconteceu. No início eu decidi não te contar, mas somos


amigos desde a infância, você mais do que todos, me apoiou sempre, e
eu te amo demais por isso.

Ele quis sorrir com a declaração, mas não o fez, afinal a expressão
preocupada dela o confundiu ainda mais.

— O que não ia me contar? — perguntou em um sussurro calmo.

— Eu e o Alex nos beijamos. — Foi direta, o olhando nos olhos,


mas quando Felipe compreendeu a frase e ela viu o ciúme e a dor no
olhar dele, ela desviou encarando as unhas novamente.

— Se beijaram? — Ele se levantou da cama, se afastando ainda


mais dela.

— Sim — confirmou sentindo seus olhos se marejarem, odiava


magoar os que ama.

— Aquele hijo de puta ousou te tocar? Si ese desgraciado osó


tocarte, yo el mato. — Felipe a olhou furioso.

Tayane levantou com um pulo da cama e o segurou no braço.

— Não, ele não me obrigou a nada. — A intenção era acalmá-lo,


mas o efeito foi contrário.

Tito se afastou do toque dela, como se o queimasse e a olhou


desapontado.

— Está me dizendo que o beijou por vontade própria? — A


expressão do homem estava destruída.

— Eu quis sim, não irei mentir.


Ele passou a mão pelos cabelos, os espatifando todo e a olhou
novamente.

— Onde foi?

— No estádio, aparecemos na Kiss Cam e aconteceu...

— Na Kiss Cam Tayane? Você não era obrigada a beijá-lo. — Ele


falou um pouco mais alterado.

Ela respirou fundo antes de responder.

— Eu sei que não era, mas eu quis beijá-lo Felipe, por isso vim te
contar.

Ele sorriu completamente sem humor.

— Já contou, pode sair agora. — Ele apontou a porta.

Ela o olhou novamente e permaneceu ali parada apenas o


encarando.

— Por favor, eu quero ficar sozinho. — Ele olhou para o notebook


fechado.

Encarar os lindos olhos dela lacrimejantes estava acabando com


ele, Tito sabia que estava na mesma situação.

— Acho que não devemos mais continuar. — Ela falou ignorando


o pedido dele.

Felipe que ainda encarava o notebook voltou a olhá-la.

— Estamos terminando? Por causa dele. — Ele tentou se


controlar, mas a vontade de quebrar alguma coisa o sufocava.

— Não é por causa dele Felipe. Nós nem se quer demos um nome
ao que tínhamos.
Ele se aproximou ainda mais dela e a olhou nos olhos.

— Então é isso? Se eu tivesse te pedido em namoro, o beijo entre


vocês não teria acontecido? — A pergunta a pegou desprevenida.

— Provavelmente não...

— Teria acontecido de qualquer forma, eu percebi a jeito que


vocês dois se olhavam desde o primeiro dia, só não achei que você
fosse... — Ele parou de falar.

— Fosse o quê? — Ela mordeu o lábio inferior tentando controlar


o choro.

Felipe negou com a cabeça e não disse nada, apenas caminhou até
a porta e a abriu.

— É melhor você sair, não é um bom momento agora. — Ele a


olhou nos olhos.

Os dois magoados de uma forma que nunca aconteceu antes.

— Tudo bem, se quiser conversar estarei no meu quarto.

Ela saiu e ele fechou a porta, antes de fechar a porta de seu próprio
quarto, Ane escutou quando um barulho alto veio do quarto dele.

∞∞∞

O dia virou noite e Felipe não apareceu.

— Ele quer ficar sozinho Ane, vou respeitar isso. — Natália falou
assim que abriu a porta do quarto da amiga.

Os olhos de Tayane estavam vermelhos de tanto chorar, a ponta do


pequeno nariz também avermelhado e ao ouvir as palavras da amiga, ela
sentiu seus olhos se encherem de lágrimas novamente.
— Eu o magoei de uma forma horrível. Ele nunca irá me perdoar.
— Ela desabafou.

Naty a abraçou apertado.

— Ele vai sim, Felipe te ama demais para se afastar.

— Assim espero, não vou suportar perdê-lo.

— Eu contei para ele que fui a culpada, que planejei tudo para o
Kiss Cam.

— Você não deveria ter feito isso Naty, agora ele está chateado
com você também.

— Ele está sim, mas não me arrependo do que fiz, você e Felipe se
amam, mas não da mesma forma, vocês precisavam saber disso.

Ane a olhou atentamente, Natália era dois meses mais velha que
ela, afinal nascera em janeiro e Ane em março, mas parecia tão
experiente e dava os melhores conselhos.

— Eu te amo sabia? — falou secando as lágrimas.

— Eu te amo mais, sei que meu irmão vai te perdoar.

Tayane fechou os olhos e deixou a amiga mimá-la um pouco, só


acordou no outro dia de manhã, com Natália pulando na cama ao seu
lado.

— As nossas cartas chegaram. — Ela mostrava os envelopes


empolgada.

Ane levantou em um pulo, os cabelos espatifados, o rosto


amassado, mas o sorriso ansioso estava presente.

— Meu Deus, ainda não abriu?

— Não, quis te esperar para abrirmos juntas, como combinamos.


As endereçadas para Tayane foram passadas para ela, as de Naty
permaneceram em suas mãos, curiosas.

As duas estranharam quando perceberam que foram aceitas nas


mesmas universidades.

— Com certeza meu pai mexeu uns pauzinhos. — Ane falou


olhando para as aceitações.

UNAM - Universidade Nacional Autónoma de México.

YALE – Universidade em New Haven, Connecticut.

NYU – Universidade de Nova Iorque.

Natália estava sorrindo de alegria. Yale sempre foi o seu maior


desejo e ter Ane com ela, tornará tudo ainda melhor.

— Felipe vai querer me matar, mas sei que Diogo amará a nossa
companhia. — Ela abraçou a amiga comemorando...
Capítulo 19

Quando Tayane desceu para o almoço, a primeira coisa que ela


notou foi o machucado próximo ao olho de Felipe e o lábio inferior
avermelhado do Alex.

— O que aconteceu? — Ela perguntou olhando para o seu


segurança, que estava parado no seu habitual lugar próximo à porta.

— Nada menina, não se preocupe. — Ele sorriu, mas fez uma


careta com a leve dor que o movimento causou.

— Isso não me parece nada, vocês brigaram? — Ela olhou para


Felipe, mas ele ainda estava ignorando-a.

— Foi no nosso treino de hoje de manhã, você e a Natália


perderam. — Alex explicou.

Sua vontade era sorrir, saber que Felipe e Tayane não estavam em
um bom momento o deixou feliz, poderia ser egoísta da parte dele, mas
pouco se importava.

— As nossas cartas chegaram e acabamos perdendo a hora.

Antes que Alex respondesse, Alejandro adentrou ao local à


procura da filha.

— Soube que suas cartas chegaram, foi aceita em qual? — Ele


perguntou interessado.

Ane quis revirar os olhos, tinha consciência que ele sabia


perfeitamente em quais ela foi aceita, mas resolveu se comportar e
respondeu educada:

— Nova Iorque, — ela começou e estranhou quando Alex deixou


um pequeno sorriso escapar, — México e Connecticut — finalizou.
— Estou muito orgulhoso de você. — Alejandro comentou.

— Obrigada. — Ela caminhou para a mesa e se sentou ao lado de


Felipe, que ainda estava calado e evitava olhá-la.

— Oi — sussurrou próxima a ele.

— Oi. — O homem respondeu, finalizou o suco e se levantou para


sair dali.

— Brigaram? — Nana perguntou assim que percebeu o clima


entre os dois.

— Infelizmente. — Ela olhou entristecida para Alex e isso o


quebrou.

Estava feliz pelo afastamento de Tayane e Felipe, mas saber que


isso a machucava de alguma forma o chateou também.

— Sei que logo irão se acertar, nunca brigam por muito tempo. —
Nana tentou tranquilizá-la.

— Dessa vez foi diferente. — Ela comentou.

— Foi por causa do apartamento? — Nana perguntou curiosa.

— Apartamento? — Ane a encarou confusa.

— Tito saiu bem cedo à procura de apartamentos querida, achei


que soubesse.

Tayane levantou em um pulo e foi atrás dele.

Felipe estava na academia, dando vários socos no saco de


pancadas sem luvas.

— Achei que já tivesse treinado. — Ela falou caminhando para


perto dele.
— Achei que tivesse percebido que eu quero ficar sozinho. — Ele
respondeu sem olhá-la.

— Achei que me conhecesse, com isso saberia que eu não vou te


perder por causa dessa briga, muito menos me afastar de você.

Felipe bufou e deu um último golpe, com toda a sua força e


frustração.

— Não vamos mais falar sobre isso... — Ele deu as costas para ela
e caminhou até o bebedouro.

— E sobre o seu novo apartamento? Vamos falar sobre ele? — Ela


colocou a mão na cintura, encarando-o seriamente.

— Irei me mudar.

— Vai deixar a casa que é o seu lar por causa do meu beijo com o
Alex? — Ela perguntou indignada.

— Não é por causa disso, eu quero minha independência,


enquanto eu morar aqui não terei isso.

— Eu não acredito em você, sempre gostou de morar aqui.

— As coisas mudam Tayane e as pessoas também. — Ele


caminhou para fora da academia, mas ela correu atrás dele e o segurou
no braço.

— Não faz isso, não me afaste.

Ele encarou os lábios rosados dela e respirou fundo.

Aquela boca não era mais dele, aquele olhar lindo não era mais
dirigido a ele...

— A questão é que eu amo você, mas claramente não é recíproco,


eu não posso continuar aqui... Não posso ver a forma que você o olha.
— Eu amo você sim. Sempre amei você. — Ela segurou a mão
dele firme.

— Mas é ele quem te atrai, eu resolvi me afastar.

— E o seu aniversário? Não poderei comemorar com você? — Ela


perguntou receosa.

— Eu quero um tempo Ane, é melhor você ficar aqui. — Ele se


afastou do toque e ela o deixou ir.

∞∞∞

Os dias se tornaram semanas, e o que Ethan tanto tentou evitar


aconteceu.

Receoso ele aceitou a ligação do chefe.

— Já faz mais de um mês que você está nesse caso Ethan e não me
trouxe nada de novo.

Quando entrou no caso o seu objetivo era provar a culpa de


Alejandro o quanto antes, mas quanto mais próximo estava de Ane, mais
se afastava da missão.

— Eu preciso de mais tempo senhor, Alejandro está começando a


confiar em mim.

— Espero que a jovem garota não seja o motivo da sua demora,


sabe que sua carreira está em jogo. — O alertou.

— Ela não é uma distração. — Seu tom saiu firme, mas nem ele
mesmo acreditou em tais palavras.

— Se essa missão for um sucesso, a sua promoção estará


garantida, não me desaponte rapaz.
— Eu não irei Ducan.

Ethan finalizou a ligação sentindo medo pela primeira vez. Mas


não medo por ele, e sim por Ane que nem imaginava o tipo de homem
que é Alejandro.

Teve medo de nunca ser perdoado por ser o responsável pela


prisão de seu pai.

Temeu a distância que isso poderá causar entre os dois.

Deixou seus pensamentos de lado e se concentrou no seu próximo


passo. Levar Tayane para o cinema.

— Soube que pediu a permissão do meu pai. — Ela comentou


risonha quando encontrou com ele na porta da mansão.

Alex a olhou dos pés à cabeça e estava perfeita.

— Eu nunca sairia com você sem pedir para ele — sorriu gentil.
— A propósito, você está muito linda.

— Eu sei. — Ela deu uma voltinha convencida.

Enquanto percorriam as ruas da cidade do México, Tayane


cantarolava baixinho a música que tocava no carro dele.

Desde que a missão começou, tudo saiu do controle. Despertar o


ódio de Felipe não estava nos planos de Alex, assim como se apaixonar
por Ane, mas os dois foram inevitáveis, já que se viu atraído por ela
desde aquela tarde no shopping, e como consequência isso resultou na
rivalidade de Tito. Ele sabia do perigo que essa aproximação causava, e
sabia que Tito seria muito bem capaz de descobrir a sua verdadeira
identidade, quando a pessoa é movida pela raiva, tudo é possível, e isso
acabaria colocando tudo a perder, sua carreira era o que pouco lhe
importava, mas perder Tayane estava fora de cogitação.

— Você parece preocupado. — Ela comentou quando ele abriu a


porta do veículo para ela.
— Estou normal, não se preocupe. — Alex respondeu sorrindo e
segurou-a pela mão.

Os dois caminharam de mãos dadas para a entrada do cinema.

Quando já estavam acomodados e as pipocas acabaram ele falou


se levantando:

— Vou comprar mais pipocas. — Ela assentiu e voltou sua


atenção ao filme.

Quando Alex saiu ele não percebeu que seu celular particular
escorregou do bolso.

Quando o aparelho começou a vibrar, Tayane o notou.

O nome “Sarah” piscava na tela, intrigada Ane pegou o celular e


atendeu.

— Ethan, por que você não me atende? — A voz feminina gritou


antes que Tayane dissesse algo.

— Ethan eu sei que está aí, me responde.

Ela desligou na cara da moça histérica do outro lado.

Só pode ser engano — pensou olhando para a tela do aparelho.

Quando Alex retornou, Ane ainda segurava o celular dele.

— Por que está com o meu celular? — Ele perguntou quando


voltou a se sentar ao lado dela.

— Quem é Ethan? — Ela o olhou confusa.


Capítulo 20

Ane percebeu quando ele empalideceu.

— Você não deveria ter atendido o meu celular. — Ele pegou o


aparelho da mão dela.

Ela sabia disso, mas pouco se importou com a sua invasão de


privacidade, no momento ela só queria uma resposta para a sua
pergunta.

— Você não me respondeu Alex. Quem é Ethan?

Ele engoliu em seco e resolveu mentir.

— Eu não sei, não conheço nenhum Ethan — fingiu pensar.

Ela o olhou mais atentamente.

— Eu te conheço há pouco tempo, mas sei que está mentindo.

— Eu não sei mesmo quem é. — Ele reforçou a mentira.

— Então diga olhando nos meus olhos, você desvia o olhar


quando está mentindo.

Mesmo não querendo fazer isso, ele foi obrigado. Encarou-a nos
olhos e disse:

— Eu não sei quem é Ethan minha menina, eu juro.

Parte da sua profissão era saber ler uma pessoa e mentir para ela,
mesmo ele não querendo fazer isso com Ane, no momento essa atitude
foi necessária.

— Desculpe ter atendido o seu celular. — Ela sussurrou culpada.


— Você não precisa se desculpar por nada.

Sou eu quem tenho que me desculpar por todas as mentiras —


pensou temeroso.

O filme estava quase acabando quando Tayane se tocou de algo.


Se ele não conhece nenhum Ethan, ele conhece a pessoa que ligou, já
que o nome Sarah estava salvo nos contatos.

Ela se levantou para ir embora.

— Aonde vai? — Ele perguntou surpreso.

— Vou para casa — respondeu.

— Mas o filme ainda não acabou.

— Pode ficar, eu vou de táxi.

Ela saiu de lá o mais rápido que conseguiu.

Se tem uma coisa que odeia é mentiras e claramente era isso o que
Alex estava fazendo.

Já em frente ao cinema, a jovem acenou para um táxi que passava,


mas quando ela abriu a porta do veículo, Alex a fechou.

— Pode ir amigo, ela não precisa mais. — Ele liberou o taxista.

Ela o olhou irritada.

— Eu precisava sim.

— Você veio comigo e vai voltar comigo.

— Alex eu apenas quero ficar sozinha agora.

— Só me diz o motivo. — Ele pediu.


Tayane abaixou o olhar para o chão e permaneceu em silêncio.

— É sobre o telefonema? Achei que já tínhamos nos acertado.

— Não é sobre isso, a questão é que você mentiu para mim. — Ela
o encarou magoada.

Ele congelou no lugar, com medo de que no telefonema ela tivesse


descoberto mais do que apenas um nome.

— Eu não menti. — Ele foi cauteloso, mas seu tom denunciou a


culpa.

Tayane deu as costas para ele e encarou a rua movimentada, à


procura de outro táxi. Ela sentiu quando ele se aproximou mais,
tocando-a nos ombros, depois descendo as mãos pelos braços
descobertos dela e entrelaçando os dedos dos dois.

— No que eu menti? — perguntou bem próximo do ouvido da


garota.

A jovem respirou fundo, desde que trocaram o primeiro beijo no


estádio, não haviam mais se tocado tão intimamente, estavam se
tornando próximos graças a Naty e Xavier que sempre os chamavam
para algo juntos e Alejandro parecia não ser contra a aproximação dos
dois.

— Você sabe no que Alex. — Ela acusou fechando os olhos.

Queria aquele homem, mas ele estava cumprindo com a sua


palavra e não a beijou, se quisesse algo, teria que tomar a iniciativa.

— Juro que não conheço nenhum Ethan. — Ele voltou a sussurrar


no ouvido dela.

A jovem se virou cansada disso tudo.

— Tudo bem, mas quem é Sarah então? Afinal ela está na sua lista
de contatos.
Ele passou as mãos pelos cabelos, estava nervoso, Ane estava tão
perto de descobrir tudo.

— Menina, você ainda vai me deixar louco com essas perguntas.


— Ele tentou ganhar tempo para inventar uma boa mentira.

— Você está tentando evitar me responder. — Ela cruzou os


braços fazendo um bico chateada.

— Eu não conheço nenhum Ethan, juro. Um tempo atrás eu passei


meu número para uma garota e me apresentei como Ethan, foi só isso.
Juro que não aconteceu nada de mais entre eu e ela.

— Por que se apresentou assim se esse não é o seu nome? — Ela o


olhou mais desconfiada ainda.

Ele estava à beira do desespero, dos irmãos sempre foi o com mais
facilidade para mentir, mas diante dos olhos lindos dela, ele
simplesmente perdia esse dom, queria ser sincero, mas sua promoção
dependia do segredo desse caso.

— Foi uma aposta quando eu estava na universidade, um amigo


me desafiou e eu já estava bêbado demais para negar.

Tayane não engoliu essa história, ela sabia que tinha algo a mais
nisso tudo, só não imaginava até onde sua curiosidade a levaria, talvez
para bem longe do homem que ela sabe que está apaixonada.

— Queria que você conhecesse um lugar, quer ir? — Ele


perguntou vendo que ela estava quieta demais.

— Tanto faz. — Ane respondeu ainda chateada com ele.

Os dois foram para o carro, o silêncio desconfortável tomou posse


do veículo durante todo o percurso.

Quando Alex abriu a porta do seu apartamento, o lugar onde sua


suposta vida como Stewart foi armada, Ane olhou ao redor.
— É seu? — perguntou adentrando.

— É sim.

Ela continuou olhando para o local com atenção, conhecendo cada


parte do lugar dele, ainda estava chateada, queria sinceridade a respeito
de Sarah na vida dele, mas Alex estava disposto a não contar.

— É bem pequeno, quase do tamanho do meu quarto —


comentou.

— Nem todo mundo tem a fortuna dos Herrera menina. — Ele


respondeu sorrindo.

— Eu não ligo para isso, afinal tudo aquilo é do Alejandro não


meu. Aqui você pode chamar de seu, afinal é seu.

— Sim, e seu também se você quiser. — Ele falou.

— Como assim? — Ane perguntou confusa.

— Caso precise de um lugar sem seu pai, um lugar onde possa


encontrar paz — explicou.

Ela caminhou para perto dele, sorrindo.

— Está rindo do quê?

— De mim mesma.

— Por quê? — O vinco entre as sobrancelhas dele demonstrava


confusão.

— Por te achar muito lindo e por querer muito te beijar. — Ela


encarou os lábios dele.

— Você já sabe, a iniciativa tem que vir de você.

— É eu sei. — Ela ergueu-se nas pontinhas dos pés para beijá-lo.


Mesmo de salto, Ane ainda era baixa perto dele e Alex sorriu e se
abaixou um pouquinho, selando os lábios dos dois.

O beijo começou calmo, para matar as saudades, mas logo se


tornou quente, as mãos se explorando, o desejo aumentando cada vez
mais.

Tayane enfiou as mãos por dentro da camisa do seu segurança,


arranhando o seu abdômen, ele a puxou para mais perto, mordendo o seu
lábio inferior, Ane aproveitou e retirou a camisa dele, deixando-o
exposto para seus olhos e mãos admirarem.

O mesmo aconteceu com o vestido dela, foi retirado e jogado no


chão, próximo à camiseta dele.

Os lábios da menina causavam arrepios no corpo dele, um homem


já formado e com um tanto a mais de experiência que ela, mas que
estava se sentindo um adolescente próximo a perder a virgindade com a
garota que ama.

Ane tinha certeza do que queria. Ele.

— Oh Alex. — Ela gemeu baixinho quando sentiu os beijos dele


descendo por seu pescoço e chegando próximo aos seios.

A sensação nova era deliciosa, ser beijada naquela região é algo


que ela percebeu amar, mas de repente ele parou.

Alex não era o nome que ele queria ouvir ela gemendo, era Ethan,
mas para isso ela teria que conhecer toda a verdade.

— Melhor pararmos menina. — Ele se afastou.

Ela quis revirar os olhos com a palavra menina novamente sendo


dita, ele adorava chamá-la assim, mesmo ela detestando.

— Por quê? — perguntou completamente confusa. — Estava tão


bom...
Porque eu não estou sendo sincero, você pensa que eu sou alguém
que eu não sou, não era assim que eu queria a nossa primeira vez
juntos. Ele queria responder isso, mas não podia, sua carreira dependia
do sucesso dessa missão.

A expressão dela demonstrava frustração.

— É a Sarah o problema, não é? — perguntou se afastando dele e


pegando o vestido no chão.

Ele a acompanhou com o olhar, a jovem estava apenas com um


conjunto de lingerie preta, saltos também pretos e cabelos soltos
revoltos.

Tentadora demais para ele que se virou indo para a cozinha tomar
água, na verdade ele precisava de um banho bem gelado para acalmar-
se.

Ane encarou as costas dele, vendo as marcas vermelhas de suas


unhas.

— Eu já disse que Sarah não é um problema Ane. — Ele


respondeu quando ela adentrou a cozinha já vestida.

— Eu achei que essa seria a minha primeira vez perfeita, mas pelo
que vejo não é. — Ela falou pegando sua bolsa e saindo.

Ele ficou lá parado processando cada palavra dela. "Minha


primeira vez".

— Ane espere. — Segurou a porta antes que ela saísse.

Ela o encarou frustrada.

— Você e o Felipe nunca...?

— Não Alex, eu estava esperando alguém que eu desejasse e


amasse intensamente, achei que esse alguém era você, só que pelo visto
você não me ama como eu te amo. — Ela o acusou.
— Não coloque palavras na minha boca. — Ele também a amava,
mas não o disse.

— Então me diga o porquê de ter parado na melhor parte. Por que


eu não tenho experiência nenhuma? Ou por que você ainda sente algo
por essa tal de Sarah? Eu sei que não foi apenas um caso.

Ele mordeu o lábio inferior nervoso. Ela estava com lágrimas nos
olhos, esperando que ele também se declarasse e dissesse que Sarah não
passou de apenas um caso, e que era ela quem ele realmente amava, mas
isso não aconteceu.

Ele apenas se virou e entrou em seu apartamento, respirou fundo,


vestiu sua camisa e pegou a carteira.

— Eu vou te levar para casa.

O restante do caminho foi em silêncio, com Tayane lutando para


segurar as lágrimas, algumas teimavam em cair, mas o homem que
estava ao seu lado não fez nada, apenas estava se odiando por não poder
dar um fim a tudo isso.

Assim que o carro parou em frente à mansão ela desceu, não olhou
para ele, apenas entrou na casa e se dirigiu ao seu quarto, lá poderia
desabar sozinha...
Capítulo 21

O dia não tinha clareado ainda quando Alex estava de pé, a noite
foi longa, os pensamentos toda hora nela.

Tayane.

Estava atraído demais por aquela menina.

A menina que confessou amá-lo e ele não disse nada, que se


declarou e recebeu apenas o silêncio em troca.

Se amaldiçoava por ter aceitado essa missão, amar Tayane não


estava nos seus planos, mas foi inevitável.

Sentiu-se atraído por ela desde a primeira vez que viu sua foto no
dossiê, no início tentou se convencer que era apenas admiração, afinal a
menina tem os traços mais lindos que já vira, cílios longos e curvados
bem negros que protegiam os olhos castanhos-esverdeados intensos e
expressivos demais, a boca rosinha e com formato de coração, ele tentou
se enganar no início, mas a trombada no shopping, o toque para ampará-
la, a intensidade quando seus olhares se encontraram, ali ele soubera que
estava fodido nessa missão.

Passou a mão pelo rosto nervoso, precisava de uma saída para tudo
isso.

Depois do banho, dos exercícios matinais na academia, de treinar a


equipe de segurança do Herrera, ele a viu.

Estava descendo as escadas, mesmo ainda vestida com o pijama,


os cabelos presos em um coque mal feito no alto da cabeça e a pequena
ponta do nariz avermelhada, estava linda.

Ele paralisou no lugar, buscando o olhar dela.

Quando os negros da sua lente se encontraram com os castanhos-


esverdeados dela, Tayane o ignorou e caminhou para a cozinha.

— Merda. — Ele sussurrou e foi atrás dela.

Ane estava com a porta da geladeira aberta, procurando


atentamente algo para comer.

Nana não estava mais ali, a jovem acordara bem depois do café da
manhã.

— Você vai me ignorar mesmo? — Ele perguntou não se


aproximando, estava suado do treino.

Calmamente ela retirou uma bandejinha de morango da geladeira,


caminhou para o armário, pegou o leite condensado e o abriu,
despejando em um potinho para sobremesa. Ela pegou o morango, o
lavou e depois mergulhou no doce, colocando nos lábios rosados, o
homem à sua frente apenas encarando cada movimento dela.

Ane soltou um pequeno gemido de pura satisfação e ele não


aguentou mais.

— Você ainda vai me endoidar — acusou se aproximando mais,


agora pouco se importando com o corpo suado.

Ela continuou comendo a fruta da forma que mais amava, mas


muito consciente da presença daquele belo homem ao seu lado, vestido
com apenas uma regata preta que realçava seu corpo definido e um short
solto de academia no mesmo tom, cada vez mais perto. Perigosamente
perto.

Ane se afastou, ainda estava magoada, não sabia se mais com ele,
ou com ela mesma por ter entregado seus sentimentos tão cedo.

Ela fechou a geladeira e sentiu quando o toque gentil em sua mão


lhe causou um leve arrepio gostoso.

— Eu não gosto quando você me ignora assim, minha menina.


Ela olhou os bonitos lábios pronunciando o pronome possessivo.
Chamara a assim pela primeira vez ontem, quando perguntou quem era
Ethan.

A lembrança a fez desviar o olhar.

— Eu não gosto que mintam para mim. — O tom dela foi


baixinho.

Ele sentiu a firmeza que ela quis demonstrar e sentiu o peito pesar
quando percebeu a leve frieza também no tom da jovem.

Tayane o deixou ali na cozinha, apenas olhando-a partir


novamente.

∞∞∞

Quando Felipe entrou na casa, seu antigo lar, segurando um


presente, Alex estranhou aquilo.

— O que está acontecendo? — Ele perguntou para Xavier que


estava ao seu lado na porta.

— Achei que você soubesse, hoje é aniversário da Tayane. — Ele


contou confuso.

Porra, por que ela não me contou esse detalhe? — Ele se


perguntou chateado.

— Pelo visto as coisas não estão boas, vocês brigaram? — O cara


que estava se tornando um amigo perguntou.

— Não exatamente, mas as coisas ficaram complicadas. — Ele


respondeu olhando a escada.

Deveria ir atrás dela? Felipe tinha acabado de subir, o que


estariam fazendo? — pensou enciumado.
— Sei bem como é, o nome disso é mulher cara, todas são
complicadas. — Xavier comentou sacudindo a cabeça de forma
negativa. Natália era o alvo dos seus pensamentos, queria assumir que
estão juntos, mas a jovem prefere evitar.

— Eu irei conversar com a Ane. — Alex subiu as escadas de dois


em dois degraus, mas não estava preparado para o que viu no início do
corredor, próximo a porta do quarto de Tayane.

Ela e Felipe estavam abraçados e de onde ele estava conseguiu


ouvir perfeitamente a conversa.

— Se você se afastar mais uma vez, eu juro que te mato, eu te amo


e não quero te perder por nada. — As palavras da jovem foram ouvidas
perfeitamente.

A reação de Felipe foi carregá-la pela cintura e rodá-la.

— Eu fiquei magoado, mas não consegui me afastar por muito


tempo, sabe que eu também te amo, feliz aniversário baixinha. — Ele
depositou diversos beijos no rosto dela e Ane sorriu o olhando nos
olhos.

— Eu também tenho que te entregar o seu presente, já que perdi o


seu aniversário, não quis te magoar, sinto muito. — Ela falou cautelosa.

— Eu sei que não, agora abra o seu depois você entrega o meu,
quero ver se vai gostar. — Ele segurou o queixo dela, sorrindo
provocador.

— Você não vai me enganar igual no ano passado, certo?

— Não, esse ano não.

Ela reparou no sorriso incrivelmente branco e alinhado dele,


perfeito e sorriu também, amava ter ele novamente em sua vida.

Pegou a embalagem que estava apoiada na porta e a abriu, o


conteúdo de dentro a fez sorrir ainda mais.
— Sei que sempre quis eles em físico, não resisti quando vi. —
Ele comentou apreciando a emoção da moça.

O box completo de Percy Jackson e os Olimpianos, ganhará um


lugar especial na estante dela.

Ane ama ganhar livros, é simplesmente maravilhoso, é como se


estivesse ganhando uma nova viagem na vida de outra pessoa, onde
você seria um dos participantes e imaginaria a história acontecer, veria
tudo se desenrolar e na maioria das vezes acabar com tudo dando certo,
mas nem sempre era assim.

— É o melhor presente do mundo. — Ela o abraçou novamente,


bem apertado.

Tayane foi rapidamente para dentro do quarto e pegou o relógio


que comprou para Felipe um tempo antes.

— Eu deveria ter te entregado no seu aniversário. — Ela comentou


entristecida quando ele pegou a caixa.

— Eu quem pedi um tempo, não fique triste. — Ele a afagou no


rosto, carinhoso como sempre.

Quando Tito viu o relógio ele sorriu, colocando-o.

— Eu adorei, obrigado baixinha. — Ele a pegou nos braços e a


rodou, foi quando Ane viu que Alex estava assistindo toda a cena.

Tayane se tensionou e Felipe olhou para Alex e deu um pequeno


sorriso convencido por estar com Ane em seus braços.

A jovem voltou a agradecer pelo presente e entrou novamente no


quarto.

Passou a noite imaginando como teria terminado a primeira vez


dos dois juntos se Alex não tivesse parado, tentou imaginar quem seria
Sarah na vida dele, o que o levou a se afastar, mas não achou uma
resposta se quer, ele era o único que poderia contar.

— Problemas no paraíso? — Felipe perguntou provocativo.

— Ao contrário de você, eu sei fazer alguém se apaixonar por


mim. — Alex respondeu firme, mas não estava tão confiante assim,
precisava colocar um fim nisso tudo.

Foi para o seu quarto disposto a acabar de vez com as mentiras.

— Roberts eu deixarei o caso. — Ele avisou decidido assim que a


agente da Interpol aceitou o seu telefonema.

— Você não pode Ethan. Alejandro já prejudicou muitos dos


meus, quero que ele pague.

— Esse caso é como uma vingança pessoal para você, não para
mim eu simplesmente não posso continuar com isso.

— Merda Ethan, preciso que me dê apenas uma razão.

— Eu só decidi me afastar.

— Você foi descoberto por alguém? — Ela perguntou preocupada.

— Não.

— Espero que saiba o que está fazendo, a sua carreira está em jogo
também.

— Eu sei.

— Sabe que Ducan não aceitará isso, não é? Você é o melhor


homem que ele tem para esse caso.

— Eu sei disso também. — Ele passou a mão pelo rosto, exausto.

— Ligue para ele, porque eu não serei a responsável pela sua


saída.
— Você não é a responsável Brenda, eu sou.

Ela finalizou a ligação e Ethan enfrentou a fúria de David Ducan.

De início seu chefe não quis aceitar, mas como o infiltrado estava
decido, ele cedeu a permissão, era tudo o que Ethan precisava. Se afastar
e pensar com calma...
Capítulo 22

A decisão já estava tomada, agora só restava conversar com


Alejandro e Tayane.

Me afastar é a melhor decisão — tentou se convencer


mentalmente enquanto caminhava até o escritório do Herrera.

Dois toques na porta e Alejandro autorizou a sua entrada.

— Eu preciso conversar com você — avisou assim que seus olhos


se encontraram com os azuis frios dele.

— Eu também preciso conversar com você rapaz, entre. — O


comando foi firme.

Alex se sentou de frente com ele, encarando-o atento.

— O assunto é mais pessoal do que relacionado ao trabalho. —


Alejandro se levantou e caminhou até o pequeno bar.

Alex percebeu que talvez receberia uma suposta confissão e se


prontificou, enquanto Alejandro se virou para servir uísque em dois
copos, ele ligou seu gravador de voz do celular.

— É sobre Tayane principalmente. — Herrera entregou o copo


para ele e voltou a se sentar, encarando-o. — Ela é muito nova, e não
quero deixá-la desprotegida caso algo me aconteça. Nunca fui o melhor
pai do mundo, nunca tentei me aproximar, mas tenho minhas razões para
isso, enfim, quero ter certeza que minha filha ficará segura quando eu
não estiver mais aqui. Sempre acreditei que Felipe seria o homem a
protegê-la, o meu sucessor nos negócios, mas estou percebendo o meu
engano. — Alejandro deu uma pausa perdido em pensamentos. — Vejo
a forma que você e Tayane se olham, desde o primeiro dia eu percebi,
nesse tempo você mostrou se importar com ela, conseguiu a minha
confiança e isso é uma coisa rara. — Ele apontou para Alex, ressaltando.
— Eu realmente me importo com ela. — Ele afirmou.

— Eu sei, me provou ser ainda mais digno da minha filha quando


pediu a minha permissão para sair com ela. Então eu pensei e decidi...
— Ele deu outra pausa, estudando Alex com atenção.

O olhar frio e calculista, misturado com a preocupação de um pai


que não queria deixar a filha desamparada.

— Decidiu o quê? — perguntou temendo que fosse o que estava


imaginando.

— Eu irei te treinar. Preciso de um sucessor já que nem um filho


homem eu tive. — Essa última frase ele soltou com certo desgosto.

Alex o encarou sem demonstrar o que realmente sentia, que no


momento era uma vontade insana de matá-lo.

Como ele preferia um filho homem ao invés de Tayane? A doce


Ane.

— Não que eu me arrependa de ter tido ela, longe disso, Tayane é


a mãe em pessoa, ela tem tudo de Susana, desde a personalidade forte
até o sorriso meigo. — Ele sorriu com essa lembrança. No fundo, bem lá
no fundo mesmo o mafioso ainda tinha um coração que batia vez ou
outra pela filha.

— Então ela era linda. — Alex comentou.

— Susana foi a única mulher que eu realmente amei, mais que a


mim mesmo, ela via o meu lado bom, sendo que mais ninguém era
capaz disso. — Ele comentou nostálgico.

Diante do silêncio do seu funcionário, Alejandro prosseguiu.

— Não é sobre isso que quero conversar, é sobre o meu trabalho.


— Essa frase despertou Alex de seus pensamentos, onde ele podia
imaginar Alejandro sendo um pai carinhoso e um marido fiel, igual ao
chefe dos Bittencourt, Alfredo, mas isso não era possível.
— Pode dizer. — Ele incentivou.

— Eu não irei viver para sempre e isso não é algo que eu almejo,
mas tenho uma filha, um império, e preciso de um sucessor, preciso de
alguém que eu confie para cuidar de tudo e acredito que esse alguém
seja você.

Alex o olhou completamente surpreso, o que temia era exatamente


isso.

— Isso é algo que eu também não almejo Alejandro. — Ele foi


direto ao ponto.

— Por esse motivo você se torna ideal Alex, claro que não será o
responsável por tudo, treinarei você e a minha filha, ela será a verdadeira
herdeira, mas quero você ao lado dela, a apoiando. No início Felipe
sabia administrar bem as coisas, mas nesses últimos dias me provou o
contrário.

Sem saber o que responder Alex ouvia calado. Ele estava entre a
cruz e a espada, antes de pisar naquele escritório e receber essa proposta
ele estava decidido a ir embora, pensar e talvez voltar por ela, mas
agora, tudo mudou.

Tinha o que precisava para prender o Herrera, se aceitasse e


entrasse de cabeça nisso, teria acesso a quase tudo das empresas, seria
tão fácil pegá-lo.

No fundo essa conversa estava o afetando, ele iria trair a confiança


de uma pessoa que está confiando plenamente nele, estava disposto a
deixar ele no comando de tudo, absolutamente tudo que a família
Herrera ergueu. Confiou até mesmo a filha que foi concebida pelo seu
amor com sua mulher.

— Eu não quero e não posso Alejandro.

— Pense bem Alex, essa é uma oportunidade única, assim como


Tayane, ou você aceita e continua comigo, ou você cai fora e está contra
mim, resultando em você e ela separados. — O tom de Alejandro fez
com que Alex se lembrasse do motivo de ele estar ali.

Estava diante de um homem cruel, sem escrúpulos, capaz de tudo


para conseguir o que almeja, mas em contrapartida é o pai do ser mais
puro que ele já conheceu, da menina que ele aprendeu a amar.

Trair a confiança de Tayane prendendo o seu pai trará um preço


que ele ainda não está pronto para pagar.

— Eu vim aqui justamente para avisar que estou indo embora. —


Ele avisou firme.

Alejandro o encarou descrente.

— O quê? Achei que estava gostando do trabalho.

— Essa não é a questão, eu preciso resolver um problema pessoal.


— Ele foi evasivo.

— Resolva o que for preciso e volte. — O Herrera comentou,


bebendo do uísque.

— Eu não... — Antes que ele pudesse terminar, Alejandro o


cortou.

— Sua relação com Tayane tem algo a ver com essa partida
repentina?

— Esse não é o motivo.

Mesmo o tom dele sendo firme, Alejandro soltou um riso amargo,


percebendo a mentira.

— Mesmo depois de tudo o que eu te disse, você ainda pensa em


sair da vida dela? — Ele questionou.

Alex respirou fundo, precisava de um tempo, de conselhos e só


uma pessoa poderia ajudá-lo com isso e ela estava em Nova Iorque.

— A minha oferta é única e não é para sempre, se decida logo. —


Ele abriu a porta do escritório, dando um fim aquela conversa.

∞∞∞

De frente com a porta do quarto dela, ele ponderou se deveria ou


não bater.

Ela estava chateada com ele e não parecia um bom momento, mas
ele precisava se despedir, precisava daquele último contato com ela.

Deu três toques na porta e não demorou muito para ela abrir.

Tayane o encarou surpresa.

— Eu trouxe isso, você não me disse que era seu aniversário. —


Ele começou cauteloso enquanto estendia o presente. No dossiê tinha a
idade dela, não o dia em que nasceu, e Alex detestou que ela tivesse
escondido isso dele.

— Obrigada. — Ela agradeceu e olhou com atenção para a


pequena caixinha, estava prestes a abri-la, quando ele falou:

— Eu vim me despedir. — Os olhos dela subiram aflitos


procurando pelo olhar dele.

— Como assim? — Ela esqueceu do presente, esqueceu de tudo


diante de uma possível separação.

— Eu estou indo embora daqui a — ele olhou o relógio de pulso


para ter certeza — duas horas.

— Vai... Vai voltar para o seu país?

— Irei. — Ele enfiou as mãos no bolso da calça para evitar tocá-la.


O olhar dela estava confuso, magoado, lacrimejante.

— Então é o fim...

— Não, eu irei voltar. — Ele a cortou, não conseguiria ir para


sempre, não sem ela.

Ane o olhou ainda mais confusa.

— Eu não entendo.

— É um problema familiar, não sei o tempo que demorarei, mas


irei voltar, por você. — Ele não aguentou mais essa distância e acariciou
o rosto dela, mas Ane agarrou a mão dele, o puxando para dentro do
quarto e fechando a porta.

Alex não esperou mais nem um segundo, a prensou na porta,


devorando sua boca em um beijo quente, intenso, prazeroso.

A menina deixou um gemido desejoso escapar, estava magoada


com ele, mas não queria que ele fosse embora, não para sempre e nem
por um dia, o queria ali com ela.

— Promete? — pediu se afastando dos lábios dele.

— O quê? — perguntou tentando controlar a respiração.

— Que irá voltar Alex, você já sabe o que eu sinto, sabe que para
mim...

— Eu sei minha menina, eu também amo você, deveria ter dito


isso ontem, mas existem tantas coisas que eu preciso resolver antes.

Ela sorriu quando ouviu a declaração dele, mas o riso saiu


preocupado, vacilante, ele parecia tão perdido quanto ela.

A garota foi capaz de mexer com ele desde o primeiro olhar, desde
o primeiro toque, ela se impregnou nele como uma parte de seu corpo
que não pode se afastar, como o ar que ele respira, ela simplesmente se
tornou uma parte fundamental e necessária, mas a distância o faria bem,
faria bem a ambos.

Ele a segurou firme pela cintura e voltou a beijá-la desejoso, mas


não prometeu nada...
Capítulo 23

O lugar onde nasceu, cresceu e sempre amou morar de repente


perdeu a graça, o brilho.

Sempre se sentiu em paz ali, amava Nova Iorque, mas dessa vez a
sensação de vazio estava presente, faltava algo.

Faltava ela...

A angústia o fez temer ainda mais, precisava de conselhos e


apenas a sua matriarca era capaz de ajudar.

Sempre foi muito apegado à mãe e distante do pai, quando criança


se machucava e era ela quem lhe dava colo, carinho e curava sua dor,
mas agora é completamente diferente, o que lhe causa angústia é o
coração por estar magoando a menina que ele aprendeu a amar.

Foi tão rápido, tão inevitável.

Simplesmente aconteceu.

Se aproximar de Tayane o mudou muito, principalmente seu modo


de pensar, afinal quando estava com Sarah, não se importava em sair
com os amigos, ficar com outras pessoas, ambos eram assim, em um
relacionamento aberto, mas com Ane ele não conseguia imaginar isso,
queria ela apenas para ele e não almejava ter outra mulher, tudo aquilo
era confuso demais.

Ele desceu do carro ainda se recordando da despedida dos dois,


não prometeu voltar afinal era algo que ele ainda não tinha certeza que
faria, mas ver o olhar suplicante dela acabou com Ethan.

Ele abriu a porta da mansão Bittencourt e deu de cara com Andrew


e July correndo pelo corredor, sorriu alegremente pegando os dois
sobrinhos nos braços.
— Eu senti muita falta de vocês. — Ele beijou as duas bochechas
gordinhas e os bebês sorriram com o carinho.

Ethan caminhou para a sala de estar e encontrou quase todos o


esperando. Apenas Megan não estava ali.

Tayla estava sentada ao lado de Christopher, acariciando a barriga.


Melanie estava ao lado de Elliot que segurava a mão da esposa em cima
da sua barriga também já evidente.

— Minha nossa, eu fiquei fora muito tempo mesmo. — Ele


comentou surpreso.

— Olívia já está quase chegando, talvez consiga vê-la no hospital.


— Chris se levantou para cumprimentar o irmão e Elliot fez o mesmo.

Tayla não precisou, já que Ethan caminhou até ela e lhe


cumprimentou, seguido de Melanie.

— Com certeza irei, e você Melanie, quando Dylan virá? — Ele


perguntou.

— Só daqui a três meses ainda, terei muito tempo para curtir a


Olívia. — Ela sorriu para Tayla, que soltou um pequeno gemido quando
sentiu uma pontada na barriga.

— Está com dor amor? — Chris perguntou preocupado.

Andrew esperneou para descer ao chão e foi atento até a mãe, a


olhando preocupado.

— Eu estou bem, foi apenas um chute. — Ela sorriu para acalmar


os dois.

O carinho e preocupação que Andrew tinha com a irmã era algo


curioso e lindo. Mesmo tão pequeno ele parecia entender e quando a viu
pela primeira vez na ultrassonografia, o menino se encantou.

Ethan olhava o afeto que os irmãos tinham e por um momento


sentiu inveja, antes não almejava aquela vida, mas agora queria ser pai,
queria ter uma família, e tudo isso com Ane, uma menina nova demais e
proibida para ele.

— Você ficou muito feio com esse cabelo. — Elliot implicou e


Ethan o encarou provocativo.

— Também acha isso Melanie? — perguntou para a cunhada, que


sorriu entrando na brincadeira.

— Claro que não, ele ficou muito mais lindo amor. — Ela cutucou
Elliot que fechou a cara enquanto Christopher gargalhava.

— Vocês não sabem nem brincar — reclamou enciumado.

— Cadê a Megan? — perguntou para Matthew quando o


cumprimentou.

— Ela teve que sair, mas daqui a pouco chega. — Angélica


respondeu e abraçou o filho.

Desde que Ethan entrou pela porta ela percebeu que algo o
incomodava, conhecia os seus meninos tão bem.

Alfredo acenou para Ethan de longe e o filho fez o mesmo,


deixando uma certa distância entre os dois, a distância que sempre
existiu.

Estavam conversando amenidades e sorrindo com as provocações


de Andrew para July, quando Megan abriu a porta da frente e encarou o
irmão.

— Ethan. — Ela correu para abraçá-lo, mas se conteve antes de


pular nos braços dele.

— Como você está linda. — Ele a olhou atentamente, estava


corada, sorridente, algo havia mudado.

— Obrigada, você ficou muito lindo com esse tom, mas prefiro
loiro. — Ela espatifou os cabelos dele e o beijou carinhosamente.

— Viu Elli? Eu fiquei muito bonito. — Elliot rolou os olhos como


uma criança birrenta e antes que mais alguma coisa fosse dita, Tayla se
levantou com dor.

Quando já estava de pé, ela sentiu o liquido escorrer e viu quando


Christopher empalideceu.

— Meu Deus, Oly está chegando. — Ele avisou ninguém em


especial.

O pânico tomando conta dele todo.

— Elliot pegue a bolsa da Tayla e da Olívia em casa, eu vou pegar


o carro e te levo ao hospital amor.

— Vou passar em casa tomar um banho rápido antes. — Ela


pediu.

— Nem pensar, e se a Olívia for adiantada e nascer no chuveiro?


De jeito nenhum, vamos direto daqui e lá você toma banho.

— Chris... — Ela protestou.

— Nada de Chris... Vamos. — Ele se aproximou de Andrew e o


olhou com carinho. — Meu amor, papai vai levar a mamãe para ter a sua
irmãzinha, você quer ver a Oly?

O menino afirmou com a cabeça.

— Então tem que ficar aqui com a vovó, combinado? Assim o


papai pode cuidar das nossas lindas. — Ele sorriu quando Andrew
apertou a mão dele em acordo.

Christopher saiu com Tayla rapidamente da casa, todos da família


estavam animados com a chegada de Olívia e desejaram um bom parto,
mandando Chris os manter informados.
— E você? O que andou fazendo enquanto estive fora? — Ethan
perguntou para Megan, que estava calada demais.

— Sobre isso, eu preciso te contar uma coisa.

Ethan estranhou aquilo e olhou atentamente para todos na sala de


estar, Alfredo não estava com uma cara muito boa. Angélica tentou
sorrir, mas pareceu mais uma careta que um sorriso. Elliot já estava
saindo da casa para buscar as coisas de Tayla e Olívia, Matthew e
Melanie evitaram o olhar.

— Vamos subir? — Megan propôs.

— Claro.

Ainda confuso ele seguiu a irmã até o quarto dela, Megan fechou a
porta e se sentou na cama, ele fez o mesmo olhando-a atento.

— O que foi?

Ela encarou o chão e comentou com um pequeno sorriso.

— Eu estou grávida.

Ethan demorou alguns instantes para digerir e entender a frase.

— Grávida?

— Sim. — Ela ainda olhava o chão, os olhos marejados.

— Por que não me contou antes?

— Eu descobri não tem muito tempo, não queria prejudicar o seu


trabalho.

— Você nunca vai me prejudicar em nada, estarei sempre aqui


para você.

— Eu também sempre. — Ela segurou a mão dele agradecendo


gentil.

— O bebê é do Theodoro eu presumo.

— Claro, ele foi o meu único homem.

— Meg, você está feliz? O que decidiu? Eu te apoiarei em tudo.

Ela se levantou de repente.

— Claro que estou feliz, amei esse bebê desde que soube, nunca
cogitei tirá-lo, eu só... — ela desviou o olhar.

— Só estava com medo da minha reação? — ele a ajudou.

— Sim, sabe que eu amo todos vocês, igualmente, mesmo que


com Matthew eu seja mais apegada, eu não quero que me julguem, ou
que pensem que eu fui uma tola...

— Shiii, não foi uma tola. — Ele a puxou para os seus braços
tentando confortá-la.

— Mesmo depois de tudo que Theodoro fez, eu não consigo não


amar essa criança, apesar de tudo ele é meu filho, meu e de ninguém
mais, eu vou arcar com todas as responsabilidades, vou tentar ser a
melhor mãe que eu conseguir.

— Estou orgulhoso de você, você cresceu tão rápido e em tão


pouco tempo. — Ethan comentou admirado.

— Acreditei que você fosse me julgar. — Ela falou o apertando


mais no abraço.

— Jamais te julgaria, a criança não tem culpa de nada.

— Apesar de tudo Theodoro me tratava tão bem. Eu o amei Ethan,


nossa como eu o amei e tudo o que aconteceu acabou comigo, mas essa
criança me trouxe de volta a luz, eu voltei a sorrir.
— E como foi a reação dos nossos pais? — Ele perguntou curioso.

— Mamãe surtou junto comigo, mas já amava o bebê desde o


começo, já o nosso pai foi mais difícil, ele até hoje parece não aceitar,
mas ele tem as razões dele, eu estou grávida, solteira e ainda na
faculdade.

— Não é a primeira e nem a última. — Ethan comentou.

— Eu sei, isso para mim é o de menos, o importante é o meu filho


vindo com saúde.

— E o que vai fazer agora?

— Ainda estou cursando a universidade, vou continuar enquanto


der.

— E sua amizade com o Miguel? — Ethan percebeu quando a


mesma corou.

— Miguel é um anjo, ele me leva nas consultas, a médica até


achou que ele fosse o pai do bebê. — Megan comentou corando.

Ethan gargalhou. — E qual foi a reação dele?

— Ele não negou e eu também não.

— Que bom que estão se dando bem.

— Nossa mãe teima em dizer que ele nutre algo a mais por mim.

Antes que ele pudesse responder, a matriarca abriu a porta do


quarto de Megan e sorriu.

— Eu só digo a verdade.

Ethan aproveitou a deixa e falou:

— Mãe eu preciso falar com você, só irei tomar um banho antes.


— Claro, irei te esperar no escritório...

Ele se despediu da irmã, caminhou para o seu quarto ali na casa e


enquanto tomava banho teve certeza, sua mãe é a única capaz de
aconselhá-lo nesse momento...
Capítulo 24

Assim que Ethan partiu, Ane se jogou novamente na cama,


deixando voltar à angústia que todos os seus aniversários sempre
trouxeram.

Aquela data para muitos era a razão de comemorar a vida, mas a


dela era diferente, no dia em que nasceu perdeu a mãe, perdeu a chance
de se aconchegar nos braços dela e receber infinitos conselhos, perdeu a
normalidade de uma infância feliz com os pais.

As lágrimas já estavam retornando quando o presente de Alex


chamou sua atenção, a caixa pequena estava em cima da escrivaninha,
onde colocou antes de atacá-lo em um beijo.

Caminhou descalça até o embrulho preto com uma linda faixa


rosada e o abriu.

O par de alianças prateadas de compromisso brilhou e a moça o


pegou admirada.

Dentro da caixinha ainda tinha uma carta dele.

Com as mãos trêmulas segurando o papel, Tayane começou a ler.

"Minha doce menina...

Assim que descobri que era o seu aniversário eu entendi algumas


coisas, quando te vi no início dessa manhã, você estava com a pontinha
do nariz levemente avermelhada, acreditei que tivesse chorado por causa
da nossa briga de ontem, mas sei que não foi só por isso, a data de hoje
te traz dor também, afinal ganhou e perdeu muito no mesmo dia. Eu
queria estar ao seu lado agora, queria tentar te confortar de alguma
maneira, mas entendo que quer distância, sei que não confia em mim
como eu gostaria e decidi não te pressionar, esse tempo afastados será
bom para nós dois, mas isso não significa que irei desistir, nesse pouco
tempo você se tornou importante para mim, e eu não pretendo abrir mão,
sou tão egoísta que te presenteei com os anéis. Eu entendo que o ideal é
me manter afastado de você, mas meu coração não permite, então
prefiro te pedir em namoro a me afastar. Resolvi arriscar tudo a te
perder. A escolha é sua agora, a única coisa capaz de me afastar de você,
é você mesma, o resto se torna insignificante...

Do sempre seu..."

Ane secou as lágrimas que brotavam nos seus olhos. Em tão pouco
tempo ele a conheceu verdadeiramente e essa era a razão dela ter se
apaixonado por ele, Alex parecia enxergar nela o que poucos se
esforçavam a tentar.

Com carinho ela colocou o anel no dedo e guardou a carta na


bolsa.

∞∞∞

— Tony já podemos ir? — perguntou e ele assentiu em


concordância abrindo a porta do carro.

O caminho todo foi percorrido em silêncio, e quando Ane parou de


frente com a lápide da mãe, ela voltou a chorar.

Por que dói tanto se eu nem ao menos te conheci? — perguntou-se


enquanto acariciava a foto da mulher cheia de vida que sua mãe era.

Todos os anos, desde que Alejandro a permitiu sair sozinha com o


motorista e os seguranças, Tayane a visitava, no dia do seu aniversário
ela fazia questão de ir.

Ela olhou com carinho para a imagem e começou a falar como


estava a sua vida ultimamente, pegou a carta de Alex e a leu, sabia que
muitos poderiam achar uma atitude estranha falar com o túmulo, mas
para ela trazia uma sensação de paz, era como se a mãe a escutasse e lhe
confortasse, durante essas idas até ali, ela sempre saia do cemitério se
sentindo acolhida.
Era estranho, mas totalmente acolhedor para ela.

Passou horas dos seus dias na infância contando o quão doloroso


era o bullying na escola, o quão difícil era o dia das mães sem a sua por
perto, contava tudo, absolutamente tudo e em sua inocência olhava para
o céu e sorria, sempre acreditando que a mãe estava a olhando de algum
lugar.

— Eu te amo, e queria tanto que estivesse aqui — sussurrou em


despedida.

Como de costume, Tony e os seguranças permaneciam próximos,


mas de uma forma que ela tivesse privacidade.

Quando ela encontrou o olhar de Liam, o homem ruivo sorriu em


consideração e ela adorou perceber que ele não estava com pena e que
sabia o quanto essas visitas eram importantes para ela.

∞∞∞

Estava exausta, tanto física quanto mentalmente, mas quando


Natália adentrou o quarto dela no início da noite, Ane sorriu tentando se
animar.

— Vamos sair? — A amiga perguntou animada.

Naty sabia que esse dia não era tão feliz quanto deveria ser para
Tayane, mas fazia de tudo para animá-la e esse ano não seria diferente.

— Pensei em ficarmos aqui, o que acha? — perguntou tentando


convencer a amiga com um olhar manhoso.

— Nem pensar nisso, vá tomar banho que vou escolher a sua


roupa. — Naty segurou a mão da amiga e foi quando viu o anel. — Isso
não estava aí antes. — A morena comentou encarando com atenção a
joia prateada adornada com pequenas pedrinhas brilhantes.
— Alex me deu de aniversário. — Ane comentou sentindo um
pouco mais de felicidade.

— O lado bom é que ele não é mão de vaca, é um anel caro —


falou enquanto caminhava para o closet para escolher o modelito de
Ane.

— Como sabe apenas em olhar?

— Uma mulher sabe assim que coloca os olhos, seu pai deve pagar
muito bem para ele. — Ela voltou a falar enquanto colocava três
vestidos na cama.

Ane olhou para o anel franzindo o cenho.

— Será que ele se endividou para me presentear?

— Não pense nisso, é um lindo presente, agora vá tomar banho e


eu farei o mesmo e venho aqui te arrumar.

— Você está estranha, o que aprontou? — Tayane perguntou


encarando-a atentamente.

— Nada, só quero sair.

Natália sempre teve o dom da persuasão, afinal Ane não conseguiu


negar.

— Você quem vai dirigir? Não acho uma boa ideia. — Ane
reclamou assim que afivelou o cinto de segurança.

— Eu dirijo melhor que você. — Natália falou fingindo seriedade.

— Até parece — zombou a passageira.

Quando Natália pegou a rodovia, Ane ficou ainda mais confusa.

— Para onde vamos?


— Logo você saberá.

A aniversariante olhou para trás e viu o carro da segurança as


seguindo, Alejandro nunca deixaria as duas saírem sozinhas.

Quando Natália estacionou de frente com um luxuoso edifício


Tayane ficou ainda mais confusa.

— Um apartamento? — perguntou assim que o elevador se abriu e


Natália caminhou para a única porta de entrada da cobertura e não a
respondeu. Assim que Naty abriu a porta, gritaram em uníssono.

— Surpresa.

Tayane começou a rir enquanto reconhecia as pessoas presentes.

— Você me enganou direitinho. — Ela comentou quando Naty foi


a primeira a apertá-la em um abraço.

— Que graça teria se eu te contasse?

Ane recebeu várias felicitações, mas quando Alejandro apareceu


em seu campo de visão, ela estranhou, afinal ele nunca participou de
nenhum aniversário antes.

— Feliz aniversário mi hija. — Ele a puxou para um abraço e ela o


retribuiu lamentando muito por tantos outros abraços perdidos. — Isso é
para você.

Ane aceitou a caixinha e a abriu.

— Uma chave? — perguntou encarando o azul dos olhos dele, que


a olhavam com carinho.

— Está na garagem de casa.

— Você está me dando um carro? — perguntou surpresa.

— Não é todos os dias que você faz dezoito anos. — Ele


comentou fazendo um gesto de pouco caso.

— Mas eu...

— Só aceite. — Ele comentou e em um impulso ela o abraçou


novamente.

Quando Nana e Tony se aproximaram, Alejandro se afastou dando


privacidade a eles.

— Você já está tão grande. — Maria Dolores a apertou


carinhosamente.

Quando Ane abraçou o motorista, marido de Nana e o homem que


a criou como se fosse filha dele, o senhor já de idade comentou:

— Se divirta filha, você merece.

— Eu vou tentar. — Ela sorriu agradecendo, afinal Tony era


sempre o que a levava para visitar a mãe e ele sabia o quanto esse dia era
difícil para ela.

Tayane estava animada realmente, quase todos os que ela ama


estavam presentes, até mesmo Liam e Xavier vieram, os dois estavam
próximos à entrada.

— Nem hoje vocês tiraram folga? — Ela perguntou olhando para


os homens que são seus seguranças há anos.

— Ordens do chefe, feliz aniversário. — Xavier a puxou


amigavelmente para os seus braços e Liam fez o mesmo.

— Afinal de quem é esse apartamento? — Ela perguntou depois


que a felicitaram.

— É meu. — A voz de Felipe foi ouvida e Ane se virou correndo


para abraçá-lo.

— Então vai realmente se mudar?


— Irei, mas não significa que me afastarei, estarei sempre por
perto.

— Ainda não entendo a razão de sair da mansão.

Felipe olhou na direção de Alejandro por um instante, mas logo a


olhou novamente e sorriu.

— É complicado, mas é o melhor.

Ane assentiu, mesmo percebendo que tinha algo mais ali e


realmente tinha, afinal Felipe estava tão perto da verdade...
Capítulo 25

Quando Ethan adentrou o escritório e viu o olhar acolhedor da


mãe, ele caminhou até o sofá e se sentou ao lado dela.

Angélica é linda, mesmo com o passar dos anos o jeito meigo e


carinhoso de olhar nunca mudou, sempre fez questão de demonstrar o
carinho que nutre pelos seus filhos e a chegada das noras e dos netos
tornou o que já era bom ainda melhor.

— O que foi? — perguntou o analisando com mais atenção.

Ethan se encostou no sofá e suspirou pesadamente.

— Você parece angustiado, desde que chegou eu notei que algo


está te perturbando.

Ele a olhou por um instante, os olhos tão verdes quanto os da mãe.

— Você me conhece tão bem — comentou.

— Eu conheço cada um dos meus filhos, me diga o que te


preocupa. — Ela enlaçou a mão dele, carinhosamente.

Ethan sabe que não deveria comentar sobre a missão, mas olhando
nos olhos da mãe, a pessoa a quem ele mais confia no mundo, ele
resolve se abrir, arcar com o peso dessa angústia sozinho estava o
sufocando.

— Eu acho que estou apaixonado. — Ele comentou cauteloso.

— Acha ou tem certeza? — Angélica arqueou uma sobrancelha,


disposta a fazê-lo admitir.

— Tenho certeza que a quero do meu lado, mas é tudo tão


complicado.
— Defina o complicado.

Ela queria sorrir, mas sustentou o olhar dele seriamente, os filhos


tem a mania de complicar as coisas.

— Eu só preciso que me prometa uma coisa antes. — Ethan olhou


para a estante, sabendo bem o que tinha logo em cima dela.

— O quê? — Ela já imaginava e se levantou caminhando até a


mesa do escritório.

— Quero que me prometa que essa conversa ficará só entre nós


dois.

Angélica abriu o notebook que estava sobre a mesa e desligou a


câmera do escritório.

— Claro que eu prometo.

Ethan não esperava menos da matriarca e sabia que só ficaria entre


os dois tudo o que ele contasse.

— Eu imaginei que você tivesse se afastado da Sarah quando saiu


para essa missão, mas não ao ponto de estar apaixonado por outra. —
Ela começou curiosa.

— Eu e Sarah já tínhamos terminado quando a missão foi dada a


mim. — Ele explicou o que a mãe já sabia.

— Ela ficou no meu pé esse tempo todo que você estava fora,
disse que não atendia aos telefonemas dela.

— Sarah não aceitou bem o término.

— Eu confesso que fiquei feliz com essa separação, ela é uma


moça muito... — Angélica pensou na palavra, mas Ethan completou.

— Mimada? Eu sei bem.


A mãe sorriu constrangida.

— Enfim, me conte sobre a mulher que está tirando o seu sono. —


Ela se posicionou melhor, dando toda a sua atenção ao filho do meio.

Ethan encostou a cabeça no sofá e confessou.

— Essa é a questão, ela ainda é uma menina.

— Como assim? — Ele percebeu o tom curioso da mãe.

— Ela acabou de completar dezoito anos. — Ele a olhou


completamente perdido.

Angélica voltou a segurar a mão do filho.

— Não existe idade para o amor, quando é para ser, simplesmente


acontece. — Ela falou convicta.

— Eu sei disso mãe, mas a idade dela é o menor dos meus


problemas. — Ele começou a desabafar.

— Diga-me então quais são os outros.

— Eu ainda estou em missão, Ducan me deu esse tempo, mas não


me quer fora do caso e ela... — ele engoliu em seco e olhou quase em
desespero para a mãe — ela é a filha do meu suspeito.

Angélica não conseguiu evitar demonstrar a sua surpresa.

— Meu Deus filho. — Mesmo não querendo ela demonstrou


preocupação.

Ethan que antes já estava desesperado por conselhos, se preocupou


ainda mais, o olhar da mãe demonstrava que ela estava do mesmo jeito
que ele.

— Agora percebe? Eu estou fodidamente apaixonado por aquela


menina, mas tenho o dever de prender o pai dela.
— O que você pensa em fazer? — Ela perguntou, tentando pensar
em uma saída para ajudá-lo.

— Eu... Eu simplesmente fugi para cá, me afastei no dia do


aniversário dela, no mesmo dia que ela perdeu a mãe anos atrás e mais
precisava de mim, eu simplesmente não conseguia mais mentir, a cada
vez que ela me chamava por outro nome, encarava meus olhos e não os
via verdadeiramente, um pedaço de mim se partia, eu não aguento mais
mãe, quero contar toda a verdade para ela, mas sei que não posso, eu não
seria o único prejudicado, o informante que me ajudou a entrar na casa
também pagaria por um erro estúpido meu. — Ele falou tudo de uma
vez, com os olhos lacrimejados.

— Se apaixonar por ela não foi um erro estúpido filho. — Ela o


repreendeu.

— Eu estou confuso, por isso vim em busca do seu conselho. —


Ele a olhou com esperança.

Tem coisas que o tempo não é capaz de mudar e essa era uma
delas, alguns filhos mesmo com a idade que for, sempre irão aos pais
para pedir conselhos e colo quando necessário.

— Apenas a forma que você fala dela já demonstra que você a


ama. — Angélica sorriu.

Ethan encarou a mãe em dúvida se ela seria capaz de ajudá-lo. Já


que ela estava cada vez o arrastando para mais perto de Tayane.

— Eu preciso de um tempo para pensar, por isso me afastei do


trabalho e dela.

O sorriso que a mãe ostentava se desfez.

— Desde quando eu criei um filho covarde?

— Não é isso, eu só...

— É isso sim, se for realmente amor, vocês dois irão sofrer mais
separados do que juntos tentando superar as mentiras.

— Então o seu conselho é esse? Eu não posso simplesmente contar


tudo e esperar um abraço em troca. — Ele comentou passando a mão
pelos cabelos, completamente exasperado.

— Sei que não pode, mas se a quer mesmo, isso é o certo a se


fazer, descobrir a verdade por você será mais fácil para ela te perdoar.

— Estou ficando ainda mais confuso com tudo isso.

— Meu amor, você tem que seguir o seu coração, se ela te amar de
verdade irá te perdoar. — A matriarca o olhou seriamente.

— Mesmo que isso coloque a missão em risco?

— Se contar é o que você quer, então sim, só tome cuidado com o


pai dela.

Ele assentiu compreendendo.

Ethan já sabia o que tinha que fazer.

Entre o amor e o certo, ele escolheu fazer o certo e se Tayane o


amar verdadeiramente, ela será capaz de perdoá-lo.

∞∞∞

Ethan admirava Christopher com a pequena recém-chegada nos


braços.

Tayla estava deitada na cama do hospital descansando, a noite fora


difícil e Oly resolver dar o ar da graça apenas na manhã seguinte.

— Ela é tão parecida com você Tayla. — Elliot comentou olhando


de perto a sobrinha, Melanie sorriu em concordância.
Estavam os três ali, visitando a sobrinha.

— Deixe-me segurá-la? — Mel pediu ansiosa.

— Claro. — Chris passou a bebê com cuidado para a cunhada e


Elliot ficou ainda mais ansioso, querendo muito que Dylan nascesse para
viver isso com sua esposa.

— Os olhos são tão claros, mas o resto é tudo seu. — Melanie


comentou e olhou para Tay.

— Vai ser uma menina de sorte. — Ethan comentou risonho e viu


quando Christopher o encarou irritado.

— Ué, eu só digo a verdade, coitadinha dela se fosse parecida com


você.

— O Andrew é parecido com o Chris só que bonito. — Elliot


entrou no meio da brincadeira.

Sem conseguir evitar Tayla e Melanie sorriram.

— Até vocês? — Chris perguntou fingindo chateação, mas


também estava risonho.

— Desculpe amor.

Quando Elliot se aproximou querendo pegar Olívia, Melanie a


passou para o marido e admirou o cuidado que ele tem com bebês.

— Eu te amo. — Ela sussurrou apaixonada.

— Também amo você.

Ethan olhava a interação dos irmãos com suas esposas e mesmo


não querendo, ele sentia inveja, queria que Ane estivesse ali,
conhecendo a nova Bittencourt, fazendo parte das brincadeirinhas entre
eles, mas era tudo tão complicado e quando Chris o tocou no ombro e
pediu para falar com ele, Ethan soube que tudo pode piorar.
Os dois deixaram o quarto e caminharam para o corredor, até uma
área afastada de todos.

— Sabe que eu faço parte da Laços de Sangue agora, não é? — O


mais velho perguntou, querendo ser sincero.

— Eu sei que você e o Elliot entraram para recuperar o Andrew. E


que até o Matthew se envolveu.

— Matthew também ajudou, mas não faz parte disso, apenas eu e


o Elliot que vamos às reuniões.

— Eu não me importo Chris, confio em vocês dois.

— E no nosso pai?

— Bom... Você sabe que o meu relacionamento com ele nunca foi
o dos melhores.

— Eu sei, por isso vim te contar uma coisa.

— O quê?

— Ele sabe que é na mansão do Herrera que você está infiltrado,


depois que pegamos Ivan, Alejandro é o foco do nosso pai agora.

— Eu imaginei que ele fosse descobrir. — Ethan comentou.

— Eu só quis te alertar, o nosso pai tem um plano para pegar


Alejandro e já está em andamento.

— Você sabe qual?

— Não ao certo, sei que envolve um erro gravíssimo no passado


do Herrera.

Ethan franziu o cenho tentando montar esse quebra cabeça.

O que Alfredo queria estava tão perto de acontecer...


Capítulo 26

Uma semana distante foi o suficiente para os dois perceberem a


falta que um faz para o outro.

Mensagens de textos e telefonemas já não eram mais suficientes,


ele precisava vê-la, tocá-la, beijá-la e nunca mais soltá-la.

Quando desembarcou no aeroporto internacional da cidade do


México no início da manhã, ela estava ali o esperando, Xavier estava ao
seu lado, fazendo sua proteção no local movimentado.

— Eu senti sua falta menina. — Ele a apertou em um abraço


quando ela correu em sua direção.

— Também senti a sua.

Tayane tomou a iniciativa e o beijou saudosa na frente de todos.

Um pigarreio chamou a atenção dos dois e eles se afastaram.

— E aí Xavier? — O cumprimentou.

— Alex. — Ele acenou.

— Conseguiu resolver o seu problema familiar? — Ela perguntou


quando os dois ficaram um pouco mais afastados da segurança.

— Sim, consegui. — Ele a olhou por um instante e voltou a olhar


para frente e caminhar.

— Não vai precisar ir embora novamente, não é?

— Por enquanto não — falou quando saíram do aeroporto.

Não era isso que Ane queria ouvir, mas nesse momento ela
resolveu evitar esse assunto.
— Você está muito cansado? — perguntou antes de entrar no
carro.

— Na verdade não, eu dormi durante o voo. — Ele respondeu


confuso.

Ela olhou para Xavier e acenou que sim.

— Então eu te convido a fazer um passeio pela cidade, o que


acha?

Ele a olhou confuso por um instante, mas logo falou:

— Seu pai sabe disso?

— Claro que sim, ele permitiu, Alejandro sabe que eu estou segura
com você, seremos só nós dois e essa imensa cidade. — Ela indicou ao
redor sorrindo.

Ele olhou para Xavier por um instante e logo depois sorriu.

— Sendo assim.

Sem conter a felicidade ela se jogou nele, alegre.

— Irei com o Liam. — Xavier lançou a chave para Tayane que a


pegou no ar.

— Obrigada. — Ela deu uma piscadinha para o amigo e entrou no


carro.

— Você vai dirigir? — Alex perguntou assim que se sentou ao


lado dela.

— Sim, ganhei esse carro de aniversário do Alejandro.

Ele se mexeu inquieto ali, o trânsito na cidade do México é algo


desafiador.
— Para onde me levará primeiro? — perguntou curioso.

— Você tem medo de altura? — Ela perguntou travessa.

— Não. Até agora não. — Ele sorriu encabulado.

— Então já sei por onde vamos começar.

Não demorou mais de vinte minutos e Ane estacionou o carro, ele


olhou com atenção para o imenso edifício e sorriu.

— Eu sempre quis ver a cidade toda de cima. — Ethan comentou


com ela.

— Por que não veio antes? — Ane perguntou confusa.

— Estava esperando esse momento. — Ele sorriu e aceitou enlaçar


a mão dos dois quando caminhavam para dentro do edifício.

A torre Latinoamericana, possui 44 andares e o último é um


mirante onde se é possível ver toda a cidade do México em uma visão
panorâmica de 360 graus.

— Eu costumava vir aqui com a Naty, gosto de observar até onde


consigo, é um dos meus lugares favoritos. — Ela comentou quando ele
se aproximou da luneta e observou a vista maravilhosa.

— É perfeito.

— Quero te mostrar tantos lugares, e no fim podemos voltar aqui


para ver o pôr do sol, é incrível, será cansativo. — Ela o olhou culpada.

— Mas valerá a pena. — Ele voltou a entrelaçar os dedos dos dois.

Ela estava disposta a mostrar cada cantinho, dali mesmo dava para
ir caminhando até o Zócalo — Plaza de la Constitución — o centro
histórico da cidade.

A cada visita ela se encantava ainda mais por ele, afinal a cada
palavra dita ele prestava bastante atenção, interessado na história do seu
país de nacionalidade.

O horário do almoço chegou e Ane aproveitou que estavam no


Bosque de Chapultepec e o levou para conhecer o seu bistrô favorito que
tem uma vista incrível do lago.

— Depois iremos para o Castillo e por fim para o Zoológico de


Chapultepec.

— Dará tempo de ver o pôr do sol no mirante? — Ele perguntou,


afinal ficou curioso e queria ter essa experiência com ela.

— Seremos rápidos, mas um dia voltaremos apenas para apreciar o


bosque. — Ela piscou para ele combinando.

O dia foi cansativo, mas estar ali abraçado a ela, vendo o sol se pôr
em sua infinita beleza, ele soube que era onde deveria estar, com ela
sempre.

Assim que eles chegaram à casa, o céu já tinha escurecido, mas


nem isso evitou a ida de Alex até o escritório do chefe.

Ele aceitou a proposta, começará a ser treinado pelo Herrera ainda


essa semana.

∞∞∞

— Alejandro comentou que você vai trabalhar na empresa. —


Tayane falou na manhã seguinte, quando o viu no treino.

— Irei. — Mesmo não querendo demonstrar, ela percebeu a falta


de empolgação dele.

— Você não quer ir?

Aquele era o momento perfeito para ele se abrir, queria tanto, mas
se calou porque não podia.

Nunca teve medo de nada, mas contar a verdade para ela e perdê-
la era o seu maior medo agora.

Trabalhar na empresa significava colocar em prática todo o plano


de Ducan, começando por obter informações privadas sobre Alejandro, e
por fim o condená-lo.

Só que essa ação resultará em perder a menina que ele encarava


nesse momento.

— Eu não nasci para ficar preso em um escritório.

Ela acabou sorrindo com as palavras dele.

— Você não tem cara mesmo desses engomadinhos de escritórios.

Mesmo ele vindo de uma família com posses e uma herança


considerável, ele nunca almejou viver assim, por isso a carreira de
policial é tão importante para ele, viu ali a sua válvula de escape. Amava
a adrenalina que o trabalho trazia e isso nunca mudaria.

— Tenho cara de quê?

— Você é sério demais, se daria bem sendo um policial. — Ela


comentou inocente.

Ele evitou demonstrar a sua surpresa e sorriu encabulado.

— Eu irei tomar um banho agora, podemos nos ver depois? —


perguntou já caminhando para a saída da academia.

— Combinado.

Ela pegou a garrafinha de água e também foi para o seu banho.

∞∞∞
Mais tarde, quando ele adentrou o quarto dela, Ane estava deitada
na cama, assistindo um canal qualquer na televisão e encontrou o olhar
dele assim que a porta foi fechada.

— Tem uma coisa que eu quero fazer desde que cheguei ontem. —
Ele a olhou desejoso e ela engatinhou pela cama e se levantou,
caminhando até ele.

— Talvez seja o mesmo que eu quero fazer.

— E o que seria senhorita Herrera? — perguntou encarando os


lábios rosados que ela umedeceu.

Ane o beijou apaixonada, amava o gosto dele, o toque de sua


língua a incentivando a ser mais ousada.

— Acertei? — perguntou respirando com dificuldade.

— Não, mas mesmo assim foi maravilhoso. — Ele respondeu


sorrindo.

— Não? O que queria então? — perguntou demonstrando


confusão.

Ele a segurou pela mão, onde estava o anel de compromisso e o


retirou.

— O que está fazendo?

— O que eu deveria ter feito desde o início — ele a olhou nos


olhos, demonstrando o imenso carinho que sente por ela e falou — e
então minha doce menina, você aceita ser a sortuda que me terá como
namorado? — sorriu convencido.

— Você está enganado, o sortudo aqui será você por me ter. —


Ela comentou risonha.
— Então é um sim?

— Oficialmente é um sim. — Ele a puxou para um beijo rápido,


antes de voltar a olhá-la e começar a colocar o anel novamente em seu
lugar.

— Me promete uma coisa? — pediu em um sussurro quase


desesperado.

— O quê?

— Que nada nem ninguém vai nos separar, que mesmo que eu
erre, você ainda será minha? Me prometa que nunca irá me pedir para
sair da sua vida?

Ela o olhou confusa e preocupada. Mesmo sem entender isso ela


sentiu seu coração doer.

— O que te faria errar comigo? — perguntou e não prometeu.

Ele ficou calado, estava mentindo para ela. Ane estava


apaixonada por Alex e não por ele, ela estava jurando amor para Alex e
não para Ethan.

— Eu não sei, costumo estragar tudo de bom que me acontece, eu


tenho medo de te perder. — Ele foi sincero com essas palavras.

— Oh Alex, prometo não te deixar partir jamais, prometo tentar te


entender mesmo que tudo diga o contrário. Eu também não quero te
perder.

Ela prometeu, mas nem isso foi capaz de diminuir a angústia que
ele estava sentindo...
Capítulo 27

Felipe não tinha completo nem treze anos, quando pela primeira
vez, jurou algo.

Diante do túmulo dos pais, com Natália ajoelhada no chão


soluçando, ele jurou vingança encarando as lápides.

A tatuagem com a palavra “venganza” no braço o recordava disso


todas as manhãs. Era como uma inspiração para iniciar o seu dia.

Ruan Fernandez o ensinou a pescar quando acamparam pela


primeira vez, o ensinou a andar de bicicleta e a jogar futebol, o pai
aproveitava todos os dias de folga para ficar com a família.

Era um excelente líder, um homem que mesmo com a vida que


levava, queria dar aos filhos um futuro diferente.

Mas isso foi tirado dele, tudo foi tirado dele.

Olhando os laudos que recebeu por e-mail, Felipe começou a


chorar. Não se sentia fraco por causa das lágrimas, pelo contrário, elas
pareciam dar-lhe mais forças para vingar-se.

“Grávida de três meses”.

— Porra. — Ele socou a mesa com força e jogou a impressora no


chão, quebrando-a.

Quando jurou se vingar, ele ainda era novo demais, protegido por
Alejandro e muitas vezes era proibido até mesmo de tentar investigar o
que realmente aconteceu naquele dia, mas o garotinho magrelo se
transformou em um homem decidido a cumprir o que prometera.

A cada e-mail recebido, a cada pedacinho de pistas que um


desconhecido mandava, ele se sentia mais sedento por sangue.
Sangue do assassino dos seus pais e do irmão.

Descobrir o início da gestação da mãe arrancou dele o pouco de


paciência que restava.

Um pequeno Fernandez era para estar caminhando por aí,


brincando e se divertindo na sua infância, mas até isso foi tirado dele.

Natália nunca poderá saber disso — pensou enquanto bebia do


seu uísque tentando fazer a dor diminuir.

A perda dos pais afetou a jovem, saber que um irmão, ou irmã,


morreu também naquele dia, deixaria ela ainda mais abalada, reabriria
feridas que por anos ela tentou curar.

Encarando a última foto que tiraram juntos, pela primeira vez ele
reparou na mão protetora do pai na barrida de Daiana, sua mãe. O líder
da família estava com Natália em um braço e carinhosamente segurava a
barriga da esposa, Daiana estava com um braço nos ombros do filho, o
abraçando perto e todos sorriam para a câmera.

— Eu vou vingar vocês. — As lágrimas o cegaram e ele jurou


olhando para o céu estrelado através de sua varanda que vingaria a
morte deles, nem que essa fosse a última coisa que fizesse na vida.

As informações sobre o que aconteceu na noite da tragédia em


Guadalajara eram escassas, mas a sua visita até a cidade mudou tudo.

Quando os pais morreram, Alejandro estava lá, e isso foi ocultado


de Felipe por anos, ele acreditou que apenas os pais estavam naquela
missão.

Quando questionou o Herrera a respeito, nada foi declarado, mas


na manhã seguinte ele recebeu o primeiro e-mail daquele desconhecido.

“Eu tenho as respostas que você procura”. Era só isso o que dizia,
mas com o tempo mais apareceram, provas verdadeiras começaram a ser
enviadas e Felipe se afastou de todos, até mesmo se mudou da casa
quando uma vez Natália quase descobriu sua investigação.

A irmã não pensava como ele, ela apenas queria seguir a vida sem
se vingar, afinal acreditava que a cada maldade aqui cometida, aqui
mesmo será paga, mas ele pensava bem diferente.

Morar sozinho agora estava o ajudando a se manter em foco, não


tinha mais Nana para controlar a sua má alimentação, não tinha Tony
querendo o aconselhar, não tinha mais Natália xeretando no seu
notebook e não tinha mais ela...

Ane... Aqueles lindos olhos que pareciam enxergar sempre que ele
mentia.

Aquela vingança estava custando caro demais, perdeu a garota que


ele sempre amou, se afastou da irmã e mesmo não querendo, estava
fazendo ele desconfiar do homem que amava como um pai.

Alejandro sabia o que aconteceu naquela noite, mas por algum


motivo não o revela a ninguém.

“Eu quero a porra de um nome” — respondeu ao e-mail e como


sempre não obteve resposta.

O segundo e-mail recebido daquele desconhecido foi um vídeo,


nele Daiana e Ruan discutiam seriamente, ela gesticulava nervosa com a
mão, mas o vídeo foi editado e mandado sem áudio.

O terceiro e-mail foi um laudo sobre a causa das mortes, alguém


encobriu tudo, já que de causas naturais não tinha nada.

O quarto e-mail o instigou a se aprofundar ainda mais na


investigação, era o nome do médico legista e Felipe voltou para
Guadalajara atrás do falsificador, mas a viagem serviu apenas para ele
descobrir que o desconhecido por trás da tela de seu notebook estava
sempre um passo à frente, afinal o legista já tinha morrido anos antes e
os papéis tinham sido levados semanas antes por uma companhia que
arquiva esses documentos. Companhia essa que nunca existiu e Felipe
voltou para casa sem resposta.

E agora, o quinto e-mail parecia rir da cara dele, era o laudo que
ele foi em vão buscar em Guadalajara, o laudo verdadeiro, não o
falsificado pelo legista, o laudo que falava sobre a gravidez da mãe e os
três tiros que ela levou a sangue frio.

Queria agora receber o do pai, mas sabia que o desconhecido o


enviaria dias depois.

Quando a tela do notebook anunciou o novo e-mail, Felipe correu


para lá e viu que era uma resposta.

O laudo do pai estava ali anexado.

Ruan foi o que mais sofreu, antes de ser cruelmente assassinado,


ele viu a esposa ser morta e foi torturado friamente.

Tito voltou a chorar angustiado, não tinha nada que ele pudesse
fazer pelos pais e irmão agora, apenas se vingar.

“Por que está fazendo isso comigo?” — perguntou respondendo ao


e-mail, afinal alguém o estava torturando também, estava mandando
provas picadas e isso estava o matando por dentro.

“Porque eu quero o mesmo que você, vingança.” — A resposta o


surpreendeu, afinal nunca o respondiam.

“Então me diz o nome e teremos isso”. — Voltou a pedir.

Mas a resposta não veio, olhando para a primeira tatuagem que fez
com catorze anos, ele adormeceu, sabendo que estava mais perto do que
nunca.

∞∞∞

A manhã seguinte trouxe com ela uma novidade.


Felipe tomou o café preto habitual, o seu único companheiro das
últimas manhãs e se sentou de frente com o notebook verificando o e-
mail.

A caixa de entrada mostrava um não visto, ele o abriu e anexado


estava um vídeo.

Curioso ele deu play.

O mesmo vídeo editado que recebeu antes, dessa vez estava com o
som e era mais longo.

Daiana olhava para Ruan angustiada. Os dois estavam em um


quarto de hotel, Felipe sabia que fora ali que eles foram assassinados,
afinal quando foi para Guadalajara esteve nesse mesmo hotel e foi
averiguar o quarto.

— Ele nos trouxe aqui para nos matar, o que será de Felipe e
Natália? Meus hijos são tão pequeninos. — Ela questionava o marido
desesperada.

— Não sabemos se ele descobriu mi amor, não se preocupe sem


ter certeza. — A voz de Ruan estava preocupada.

— Eu estou com um mau pressentimento, sinto que essa traição


será o nosso fim. — Ela falou começando a chorar.

Ele a puxou para um abraço carinhoso e disse:

— Se acalme, não faz bem ao bebê.

— Eu não consigo me acalmar. Sabe que não tem nenhuma missão


nessa cidade, ele nos trouxe para uma emboscada.

— Não temos certeza, ele não teria coragem de nos machucar, ele
sabe do bebê.

Felipe engoliu em seco angustiado, o assassino sabia da gravidez e


mesmo assim a matou.
— Sabemos que ele não tem escrúpulos, nunca teve, sempre foi
igual ao pai.

— Não fale assim, o pai dele foi um tirano, ele está tentando
mudar as coisas.

Daiana se afastou do abraço sorrindo irônica.

— Você está se iludindo, ele não é mais aquele bom menino que
conhecemos na infância, aquele que apanhou do pai por brincar com os
filhos dos empregados, mesmo que ele seja seu melhor amigo, ele não
vai nos poupar quando descobrir da traição.

— Não fomos nós quem o traiu. O meu único erro foi não contar
antes para ele.

— Eu disse que deveríamos ser sinceros, ou nos afastarmos dele.

— Você deixaria a menina para ele? Ela não tem culpa.

— Nunca a deixaria, eu a levaria conosco, ela é como uma filha


para mim.

Daiana estava sendo sincera, amava a filha da melhor amiga como


se fosse sua.

— Vamos voltar para casa, pegar os três e partir desse país. —


Ruan começou a traçar um plano.

— Ele vai atrás de nós, Ane é a única herdeira.

As palavras da mãe fizeram um arrepio subir pela espinha de


Felipe. Ele sabia da profissão de Alejandro, sabia que ele comandava o
México desde que herdou o cargo quando o pai morreu, sabia que o pai
e Alejandro eram melhores amigos, mas não imaginava de que traição
falavam.

— Ele não vai se importar se a levarmos, Alejandro sabe que ela


pode não ser filha dele.
Nesse momento, a porta do quarto foi aberta e o Herrera apareceu
apontando uma arma para os dois.

— Alejandro eu deveria ter te contado antes.

— Eu confiei em você Ruan, a minha vida toda eu confiei em


você.

— Alejandro, não faça nada que vá se arrepender, você está de


cabeça quente. — Daiana tentou se aproximar, mas o marido a manteve
protegida.

— Você sempre soube não é sua cadela? Susana e aquele


jardineiro de merda, tenho asco de vocês. — Ele cuspiu no chão e voltou
a olhar para os dois com desprezo.

— Daiana não tem culpa de nada, deixe-a ir, ela está grávida.

Alejandro olhou por um instante para a barriga ainda plana da


mulher e sorriu irônico.

— Eu vou tirar de você o que você tirou de mim.

O vídeo ficou preto e o barulho de três tiros foi escutado.

Felipe apertou a xicara de café tão forte que a porcelana se partiu


em pedaços.

Um único nome gritando na cabeça dele.

Alejandro...
Capítulo 28

Fazia um mês que Ethan estava sendo treinado por Alejandro.

Um mês que ele tinha acesso a todas as provas que precisava para
prendê-lo.

Um mês que ele não dormia direito devido à preocupação, afinal o


namoro com Tayane estava cada vez melhor sem a presença de Felipe na
casa.

— Se você já tem o que precisa, o que te impede? — Miguel


perguntou naquela manhã.

— Você sabe a razão de eu não entregar ainda, eu não posso


perdê-la. — Ele suspirou e apertou com um pouco mais de força o
celular.

— Você não irá perdê-la Ethan, você mesmo disse que ela não
sabe nada sobre a profissão do pai, ela não tem a menor ideia que mora
na mesma casa que um assassino. Se você for sincero agora, ela irá te
entender. — Miguel falou convicto.

— Como você tem tanta certeza? — perguntou em um fio de voz.

— Por causa da forma que você fala dela, Tayane parece ser a
garota que escolheria um policial honesto a um pai mafioso.

— Um policial honesto que também tem um pai mafioso.

— Não compare, Alfredo e Alejandro são completamente


diferentes, você mais do que ninguém deveria saber disso.

Ethan respirou fundo. A relação com o pai era algo que ele nunca
gostou de discutir.

— Duncan me deu até o fim do mês para eu entregar as provas —


mudou de assunto.

— Você vai entregar?

— Mesmo sabendo que deveria falar com ela primeiro, eu


entregarei, prender Alejandro é o meu dever.

As palavras foram ditas de forma decidida, mas a incerteza era


cruel com ele, estava perdido entre o certo e o amor.

— Ainda acho que você deveria contar para ela antes dos agentes
chegarem na casa para prendê-lo. — Miguel voltou a sugerir.

— Eu verei o que faço, meu mundo está desmoronando rápido


demais.

— Só faça o certo, se ela te amar será perdoado.

Ethan estava quase o respondendo quando bateram na porta do seu


quarto.

— Preciso desligar, nos falamos depois. — Ele encerrou a ligação


e caminhou para a porta.

Quando a abriu, Ane estava ali parada o olhando.

— Já acordada? — perguntou admirando-a por completo.

Ela estava com um daqueles malditos pijaminhas que ele adorava,


os pequenos pés descalços e os cabelos caiam soltos e rebeldes pelas
costas.

— Eu acordei não tem muito tempo, com quem falava? — Ela


perguntou olhando para o celular.

— Era com a minha mãe — mentiu.

Ane assentiu e ele fechou a distância que tinha entre os dois e a


segurou firme pela cintura, beijando-a em seguida.
— O que te traz aqui afinal? — perguntou assim que o beijo
cessou e ela ainda estava de olhos fechados.

— Como é domingo e a maioria dos funcionários estão de folga,


pensei em tomarmos café da manhã juntos, o que acha? — sugeriu.

— Acho uma ótima ideia.

Ele fechou a porta do quarto e quando estavam próximos a piscina,


gritos dentro da casa foram ouvidos.

— O que será que aconteceu? — Ane perguntou assustada e Alex


correu para dentro verificar.

Os gritos vinham da sala de estar, Natália estava chorando


desesperada e Alex só conseguiu ver a sombra de Felipe virando o
corredor em direção ao escritório de Alejandro.

— O que houve? — Ele perguntou para Naty, mas ela não


respondeu.

Quando Ane entrou na sala e enlaçou a amiga em um abraço, Alex


foi atrás de Felipe, seguido de Xavier o único segurança que estava na
casa.

— Cadê ele? — ouviu quando Tito gritou e logo depois veio o


estrondo da porta do escritório sendo arrebentada.

— Acalme-se filho, Alejandro não está aí. — Nana tentou acalmá-


lo correndo até ele.

Felipe estava cego de rancor, nem mesmo a senhora que ele ama
como mãe seria capaz de evitar uma tragédia agora. Decidido ele subiu
as escadas de dois em dois degraus e quando chegou à ponta do
corredor, Alejandro estava saindo do quarto confuso.

— Que gritaria é essa na minha casa? — perguntou encarando


Felipe.
O Fernandez estava pronto para matá-lo, mas Xavier e Alex o
seguraram antes que ele cometesse uma tragédia.

— Você é um assassino. — Felipe gritou tentando se soltar.

— Você não sabe o que está dizendo moleque. — Alejandro


manteve uma distância segura entre os dois.

— Foi você seu infeliz, você os matou — acusou sentindo as


lágrimas rolarem por seu rosto, estava sufocado de ódio e só queria
acabar logo com aquilo, mas os braços estavam sendo segurados firmes
pelos dois homens.

— Do que você está falando Tito? — A pergunta veio de Tayane


que estava paralisada perto das escadas, próxima de Natália e Nana.

— É melhor vocês descerem. — Alex alertou, mas Tayane se


aproximou mais e ficou entre Felipe e Alejandro.

— É melhor você se acalmar moleque, ou...

— Ou o quê? Irá me matar como fez com eles? — Tito cortou


enfrentando-o.

Alex soltou Felipe e se aproximou de Tayane a tirando dali. Ele


sabia que aquilo não acabaria bem.

— Eu quero que você confesse, o que eles fizeram para merecer


uma morte tão cruel? Ela estava grávida. Grávida de três meses, e você
sabia disso. — Felipe gritou.

Como já havia sido descoberto, Alejandro não viu razões para


mentir.

— Ninguém trai a minha confiança. — As palavras saíram frias e


o olhar dele se encontrou com o da filha.

— Alejandro o que foi que você fez? — Tayane perguntou


aterrorizada.
Natália estava em choque, chorando descontrolada e Nana sem
saber o que fazer tentava acalmá-la.

— Eu fiz o que deveria ter feito, Susana tinha um caso, eu


descobri quando você ainda era um bebê, ela já tinha morrido, mas o
infeliz do amante ousou querer tirar você de mim.

— Eu não sou sua filha? — Ela perguntou começando a entender


tudo agora.

A razão para ele ser tão frio e distante, e nunca ao menos tentar
conhecê-la melhor.

— Eu não tinha coragem de fazer o DNA por isso me afastei de


você, me recusei a amar o fruto da traição da mulher que eu mais amei,
mas você é uma legítima Herrera, eu descobri há pouco tempo, por isso
estava tentando me aproximar. — Ele deu um passo para mais perto e
como consequência se aproximou de Felipe, que ainda estava sendo
contido por Xavier.

— Não, não, não pode ser. — Ane segurou a cabeça com as duas
mãos, angustiada. — Ela não te trairia, eu achei que ela te amasse.

— Eu também acreditei nisso, mas através dos Fernandez eu


descobri que o jardineiro poderia sim ser seu pai.

— Você o matou? — Alex perguntou.

— Eu nunca o deixaria vivo, ver aquele desgraçado morrer em


minhas mãos foi libertador. — O tom de Alejandro foi doentio assim
como ele.

— Meu Deus. — Ane começou a perceber tudo, as pernas ficaram


fracas, a vista embaçada com as lágrimas e o tremor estava pelo corpo
todo, antes que ela caísse no chão, Alex a segurou nos braços,
amparando-a.

— E você os matou por uma maldita traição que eles nem tinham
culpa? — Natália perguntou gritando entre lágrimas.

— Eles sabiam e nunca me contaram, Ruan era meu melhor


amigo, mas nem isso foi o suficiente para eu não o matar. Daiana por
outro lado sempre soube que uma escuridão existe em mim, ela tinha
medo e quando eu a matei, enxergar o desespero nos olhos dela me
deixou extasiado.

Felipe acertou uma cotovelada na costela de Xavier e conseguiu se


libertar, Alex que estava com Tayane nos braços não conseguiu evitar.

A fúria o dominava e quando Tito acertou o primeiro golpe, foi


libertador, Alejandro era bom também e se defendeu, mas Felipe estava
quase o derrubando no chão com os golpes, foi quando com as mãos
ensanguentadas o Herrera pegou a arma que sempre ficava em sua
cintura, a mesma que matou Daiana e Ruan anos antes, a mesma que
matou o legista e o amante de sua esposa. A arma que ele usava há anos
para matar quem entrava no seu caminho.

Felipe percebeu que ele estava pronto para disparar e segurou


firme a arma, os dois ficaram em uma luta corporal intensa.

Tudo aconteceu rápido demais, Xavier e Alex tentavam separá-los,


mas era em vão, foi quando dois disparos aconteceram. O barulho
ensurdecedor deixou todos em alerta.

Alex conseguiu puxar Alejandro o desarmando e Xavier puxou


Felipe, foi nesse momento que todos viram a grande quantidade de
sangue...
Capítulo 29

Tayane nunca esqueceria aquele dia.

Acordou de manhã disposta a tomar café com o namorado, e a


curtir a recente aproximação com o pai, mas tudo saiu dos trilhos.

Descobriu que Alejandro é um assassino cruel, tão monstruoso que


matou seu melhor amigo e a esposa grávida, não satisfeito com isso,
pegou os filhos das vítimas e os criou como se fossem dele, para agora,
atirar em um para matá-lo também.

— Não, não pode ser, ele não pode tirar tudo de mim. — Natália
gritou desesperada e correu até o corpo caído próximo a porta de seu
quarto.

Antes que ela conseguisse se aproximar e atingi-lo, os braços


fortes de Xavier a seguraram pela cintura.

— Não vale a pena Natália. — Ele sussurrou no ouvido dela, a


segurando firme.

— Me larga agora, eu quero acabar com esse desgraçado, ele


destruiu a minha família. — Ela se esperneou nos braços dele, mas
Xavier não cedeu.

— Ele já está morto mi cariño, não podemos fazer mais nada —


sussurrou tentando acalmá-la.

Ane que assistiu a cena em choque, caminhou até o corpo do pai


assustada, Alex ao contrário de Xavier não a proibiu, ele apenas
permaneceu ao lado de Felipe, ainda estancando o ferimento.

— Aguenta firme cara, a sua irmã precisa de você — sussurrou o


olhando nos olhos.

Sempre se detestaram, mas não desejava a morte dele, nem a de


Alejandro.

— A ambulância já está a caminho. — Nana falou para o seu


menino, acariciando os cabelos dele. — Não me deixe, não aguento
perder um dos meus filhos, não posso perder.

Felipe queria falar, queria prometer que tudo ficaria bem, mas não
conseguia, sua boca estava seca, sua vista turva e o local que Alex
pressionava para estancar o sangramento ardia demais.

Quando ele sentiu o toque frio e hesitante na sua mão, ele desviou
o olhar dos olhos de Nana e encarou os castanhos-esverdeados de
Tayane, o olhar que ele sempre amou.

Felipe apertou firme a pequena mão, demonstrando que ainda a


amava, que não tinha razão para ela temer se aproximar.

Quando Natália também o segurou na outra mão, ele se sentiu


bem, estava com as três mulheres que ele mais ama na vida e se
morresse agora, morreria feliz.

— Por que a ambulância está demorando tanto? — Ane perguntou


preocupada, mas ninguém sabia quanto tempo tinha se passado,
pareciam horas.

Alex sabia que junto chegaria a polícia, abririam uma


investigação, afinal foram dois ferimentos à bala, um sendo fatal e o
outro em estado crítico.

Mesmo após a morte Alejandro ainda conseguiria tirar muito mais


de Felipe, afinal se o Fernandez sobreviver e for condenado pelo crime,
perderá a sua liberdade.

Quando a ambulância chegou, o caos na casa foi armado, junto


com os paramédicos vieram os policiais, vários deles, demais para Ane
conseguir contar e no meio de todo aquele movimento de pessoas, ela
encarou pela última vez o olhar do pai, sem vida, opaco e muito mais
frio do que antes.
Ela fechou os olhos angustiada e só voltou a si quando Felipe foi
transportado para a ambulância, nada nem ninguém a separaria dele
nesse momento.

— Apenas uma pode acompanhá-lo. — O paramédico avisou.

Naty e Ane se olharam.

— Vai você, eu irei com a Nana e avisarei ao Tony. — Tayane


falou e viu quando a amiga entrou na ambulância com o irmão.

— Eu irei para o hospital, você pode tomar conta de tudo para


mim? — Ela pediu para Alex, que a olhou preocupado.

— Claro, só se cuida, não se preocupe com nada, eu e Xavier


cuidamos de tudo aqui.

Ela acenou com a cabeça olhando para os policiais na entrada da


casa mais uma vez e então o paramédico fechou a porta da ambulância
os separando.

— Irei ligar para o Tony, ele precisa saber. — Ane olhou


preocupada para Nana que estava deitada na maca.

— Ele só vai se preocupar minha filha, minha pressão sobe todos


os dias.

— Eu irei ligar sim.

Naquela manhã de domingo Tony tinha saído para pescar e ainda


não tinha sido avisado de nada do que houve na casa.

Enquanto Ane falava com o homem que ela viu como pai a vida
toda e explicava toda a situação, ela sentia a preocupação dele.

— Eu estou com ela, não sairei do lado dela até você chegar, eu
prometo. — Ela finalizou a ligação e sorriu fraquinho para Maria
Dolores.
— Ele está indo direto ao hospital.

Nana assentiu e fechou os olhos, respirando fundo.

Ane ficou encarando o celular, perdida em pensamentos.

Felipe não pode morrer, Alejandro já tirou tanto de Natália, que se


o irmão morrer, ela nunca perdoará a amiga, o sobrenome Herrera estará
sempre na vida de Tayane e isso será uma sombra na amizade delas para
sempre.

∞∞∞

Quando Brenda Roberts entrou na mansão Herrera, Ethan temeu


por sua identidade afinal Xavier estava ali, parado bem ao seu lado,
aguardando a perícia fazer o seu trabalho.

A agente da Interpol caminhou até os rapazes e abriu os braços.

De imediato Ethan estranhou o gesto, mas quando Xavier enlaçou


a moça em um abraço carinhoso, ele ficou ainda mais confuso.

— Tenho certeza que Felipe ficará bem, sei que o ama como um
irmão. — Ela sussurrou, mas Ethan conseguiu ouvir.

— Eu estou rezando por isso. — O Bittencourt viu quando Xavier


secou os olhos e encarou Brenda.

— Vocês se conhecem? — Ethan perguntou tentando entender


aquilo.

O Olhar dele e de Brenda se prendeu por um instante e logo depois


ela disse:

— Ele te colocou aqui dentro Ethan. — A resposta curta o pegou


de surpresa.
Quando o Bittencourt olhou para Xavier, percebendo que desde o
início ele sabia da verdade, o olhar culpado estava lá, não queria mentir
para todos, mas na realidade nunca soube quem o ajudou a entrar.

— Crescemos no mesmo orfanato, Brenda e eu estamos


trabalhando no caso de Alejandro há muito tempo.

Muitas perguntas giravam na mente de Ethan, mas a única que ele


fez no momento foi:

— Você é um policial?

Xavier soltou um pequeno riso, sem humor nenhum, afinal as


circunstâncias não eram as melhores.

— Não nasci para essa vida, eu apenas era um moleque de rua que
apareceu na vida do Herrera e acabou conquistando um pouco da
confiança dele, mas ele nunca me colocou em trabalhos grandes, nunca
confiou em mim para isso. Felipe era treinado para ser o sucessor no
mundo do crime, mas quando você chegou, tudo mudou, Alejandro
confiou cegamente em você. — Xavier explicou.

Ethan há dias estava preocupado com esse assunto, afinal


Alejandro o colocou na empresa e confiou nele rápido demais.

— Mudando de assunto rapazes, todos que estavam na casa terão


que prestar depoimento, e você Ethan não é mais necessário no caso. —
Ela o olhou por fim.

— Felipe terá que prestar depoimento também? — Xavier


perguntou para a amiga.

— Se ele se salvar sim e se na investigação for provado que ele


efetuou os disparos, o Fernandez terá que pagar por isso na justiça.

— Merda. — Xavier passou a mão nervoso pelos cabelos.

Ele não tinha certeza do que aconteceu, foi tudo rápido demais,
apenas Felipe teria as respostas.
Ethan sentiu quando seu celular vibrou no bolso e o pegou para
atender.

Era o seu particular, o mesmo que Ane atendeu no cinema, não o


de Alex, o nome do pai piscava na tela.

Ele se afastou de todos e caminhou para fora da casa.

— Pai? — perguntou confuso, afinal Alfredo nunca o ligava, a


menos que fosse uma urgência.

— Filho você está bem? — A pergunta foi direta e isso deixou


Ethan desconfiado.

— Por que eu não estaria? — respondeu com outra pergunta.

— Eu fiquei preocupado, é bom saber que nada te aconteceu.

Ethan apertou o celular tão forte que sentiu quando a tela trincou.

— Foi você não foi? Do nada Felipe descobriu tudo o que


Alejandro escondeu tão bem por anos, foi você, não foi? — Ele repetiu a
pergunta.

— O que está insinuando? — O tom de Alfredo estava alterado.

— Você nunca me liga e justamente hoje... Meu Deus, como eu


não percebi isso antes? Desde o início esse era o seu plano, fazer Felipe
o matar por vingança. — Ethan praticamente gritou.

— Então Alejandro realmente morreu? — Alfredo não negou.

— Ele morreu, mas Felipe saiu ferido também, era isso o que você
queria? Se vingou de um assassino, mas é tão podre quanto ele.

— Olha a forma que fala comigo rapaz. Eu sou o seu pai.

— Infelizmente isso é algo que eu não posso mudar. — Ethan


retrucou.

— Tenho certeza que um dia você se arrependerá disso e virá atrás


de mim, nesse dia nós conversaremos.

Alfredo finalizou a ligação alterado e Ethan sentiu as lágrimas


rolarem dos seus olhos.

Mesmo sendo distante do pai, ele o amava, e descobrir algo


monstruoso assim era sufocante demais...
Capítulo 30

Tudo em Felipe doía, há dois dias que ele estava no hospital,


Natália, Nana e Ane se revezavam para ficar com ele, nunca o deixavam
sozinho. Tony, Xavier e até mesmo Alex vinham visitá-lo durante o dia.

— Eu senti tanto medo de te perder, não consigo imaginar minha


vida sem você, eu te amo demais. — Natália falou o segurando firme
pela mão. Era a primeira vez que ele ficava mais lúcido, afinal fora
dopado por remédios por causa da dor.

— Eu sou um gato, tenho sete vidas. — Ele falou meio rouco e


tentou sorrir, mas a dor no ferimento o parou.

— Não brinque com isso, dois centímetros a cima e você teria


morrido. — Ela reclamou mal-humorada.

— Você hermanita tem que ir embora descansar, seu mau humor é


algo que eu não quero lidar de manhã.

— Eu não irei te deixar sozinho, Nana irá para o enterro com a


Ane. Ninguém virá hoje para o hospital.

— Você não irá dar apoio a ela? — Ele perguntou.

— Você iria? Ele matou os nossos pais e o nosso irmão ou irmã.


— Natália lembrou algo que ele nunca esqueceria.

Felipe sentiu a boca amargar.

— Eu a amo, mas não conseguiria ir também, sei que Nana, Tony,


Xavier e até mesmo o Alex estão a apoiando. — Mesmo sendo difícil,
ele confessou.

Nunca perdoaria Alejandro, ele o privou de ter uma vida ao lado


dos pais.
— Eu também a amo, mas simplesmente não consigo, ela me
entendeu, ela sabe o quanto sofremos e nos entende.

Ele se sentou com dificuldade na cama e Naty ajeitou os


travesseiros nas costas dele.

— Você deve descansar, ficou aqui a noite toda. — Ele voltou a


falar.

— Eu dormi, não estou cansada. — Ela mentiu.

— Não minta para mim, você está com olheiras enormes, precisa
de um banho, se alimentar, não quero que adoeça por minha causa.

— Está me chamando de fedorenta? — Ela se cheirou, não estava


tão ruim, mas também não estava agradável.

— Você realmente precisa de um banho, eu vou ficar bem, estou


cercado de médicos e enfermeiras.

Ela abaixou o olhar para o chão, angustiada.

— Tem outra razão para você não ir para casa? — Ele perguntou
temendo ser o que imaginava.

— Eu não quero ir, sempre que estou na porta do meu quarto me


recordo do sangue, de Alejandro caído ali morto, é assustador —
respondeu em um sussurro enquanto lágrimas desciam dos seus lindos
olhos.

— Vem aqui. — Tito bateu na cama ao seu lado, Natália se sentou


ali e o abraçou.

Os dois ficaram calados por um momento, apenas aproveitando a


presença um do outro.

— Eu não quero te machucar. — Ela comentou quando ele soltou


um suspiro tenso.
— Não está doendo, só estou me amaldiçoando por tentar me
vingar e falhar. — Tito a olhou por um segundo e voltou a encarar a
porta do quarto, mas Natália continuou o olhando mais atenta.

— Como assim? Ele está morto. — Ela comentou confusa, afinal


Felipe sabia que Alejandro tinha falecido.

— Eu sei que está, mas eu ainda me sinto vazio por dentro, a


vingança me consumiu e no fim os disparos nem foram feitos por mim.
— Ele confessou e Natália suspirou aliviada.

— Tem certeza?

— Tenho, por que o alívio?

— Você ficou muito tempo desacordado, mas a polícia esteve


aqui, eles abriram uma investigação, eu dei a permissão para o exame
residuográfico em você, mas o resultado ainda não saiu. — Ela contou
culpada.

— Eu não atirei. O primeiro disparo foi nele e quando eu fiquei


surpreso Alejandro me acertou.

— Ele é um desgraçado, nunca irei o perdoar, nunca imaginei que


poderia odiar tanto alguém assim.

— Ei, você é doce demais para palavras tão amargas.

— Não conseguir se vingar acabou sendo uma benção para você,


porque se os tiros tivessem sido disparados por você, você seria
condenado.

— Eu sei, agi com a cabeça quente e nem pensei nisso, quando os


e-mails chegaram eu fiquei louco.

Natália o encarou com atenção.

— Que e-mails?
— Eu não te contei, mas eu estava recebendo as provas sobre o
assassinato dos nossos pais aos poucos, um desconhecido me mandava.

A irmã se levantou em um pulo.

— Por que não me contou antes? Isso é horrível Felipe, o que


fizeram com você foi cruel. Não sabe quem mandava? — Ela perguntou.

— Não faço ideia, mas já acabou.

— Claro que não acabou, você precisa denunciar essa pessoa,


precisa entregá-la para a polícia.

— Hermanita, se eu contar terei que confessar que fui para a


mansão com a intenção de matar Alejandro, isso me prejudicaria.

Natália pensou nas palavras dele.

— Você tem razão, mas ainda assim, precisa descobrir quem foi
essa pessoa tão cruel.

— Na verdade eu não tenho mais interesse nisso.

Ela se aproximou do irmão e colocou a mão na testa dele.

— O que está fazendo? — Ele perguntou confuso.

— Vendo se você está doente, afinal para desistir assim, essa deve
ser a razão.

— Não estou doente, eu precisei quase morrer para perceber que


essa vingança não me levaria a lugar nenhum, apenas me tornaria um
assassino como ele.

Naty se aproximou do irmão e apertou as mãos dele.

— Você nunca seria como ele. Nunca.

Ele a olhou de perto e fez um carinho no rosto dela.


— Vá para o meu apartamento e durma um pouco, use uma roupa
minha, fique o tempo que precisar.

— Eu estou fedendo, não é? — perguntou risonha.

— Sim você está. — Ele sorriu também.

Natália acabou aceitando e foi para o apartamento do irmão para


descansar.

∞∞∞

Ainda não era o horário do almoço quando Felipe percebeu que


abriram a porta do quarto hospitalar dele.

De imediato achou que era a teimosa da Natália, mas ele não se


esforçou em abrir os olhos, permaneceu apenas descansando.

Quando uma mão pequena e fria segurou a dele, ele sentiu um


arrepio gostoso pelo corpo.

A vontade de abrir os olhos era imensa, mas quando uma voz


calma começou a falar ele permaneceu com os olhos fechados, mas
curioso e atento às palavras.

— Me desculpe... Eu juro que não queria que você se machucasse,


juro mesmo, juro por mi hija, mas eu queria tanto que aquele hombre de
mierda pagasse pelo que fez ao meu pai, acabei te envolvendo nisso
tudo. Perdoname. — Ela começou a chorar e apertou a mão dele, depois
descansou a cabeça em seus dedos entrelaçados dos dois.

Tito sentiu o cheiro adocicado da moça e a maciez dos cabelos que


roçavam sua mão, arriscou espiar para ter certeza e sua suspeita foi
confirmada. Conhecia aquela voz de quando esteve em Guadalajara, os
cabelos cacheados e tão chamativos eram inesquecíveis, assim como
aquele cheiro bom que ela exalava.
— Então foi você quem enviou os e-mails? — Ele perguntou
rouco e nesse momento a moça se levantou de pressa, assustada.

— Me disseram que você estava apagado. — Ela sussurrou


evitando olhá-lo, mas Felipe a encarava.

Uma mulher linda, o tom chocolate de sua pele combinava


perfeitamente com os olhos negros e brilhantes, os cabelos estavam
soltos e rebeldes, mas lindos e para completar o rosto bonito uma bela
boca carnuda chamativa demais.

— Pelo visto não. — Ele foi grosso.

Ela o olhou nos olhos por um instante e logo depois encarou o


curativo dele.

— Eu não deveria ter vindo. — Ela começou a caminhar para a


porta fugindo.

— Paola espere, é Paola mesmo, não é? — Ele perguntou, mas se


recordava bem dela.

— Sim. — Fez um pequeno aceno positivo.

— Agora faz sentido, você estava com os laudos do seu pai esse
tempo todo. — Ele tentou se levantar quando ela estava quase fugindo
do quarto, mas a dor alucinante do ferimento o fez soltar um gemido
doloroso.

Paola parou na porta e se virou para olhá-lo, mesmo sabendo que


não deveria, ela caminhou para perto dele e o segurou no braço,
preocupada.

— Não se levante, você está machucado, se mover pode abrir o


ferimento. — Ela o apertou firme no braço descoberto.

Felipe encarou o toque e depois a olhou.

— Não finja que se importa, eu poderia ter morrido por sua causa.
Paola o soltou, mas continuou com os olhos nele. Admirou as
tatuagens, afinal ele estava sem camisa e depois fixou o olhar no
curativo do seu ferimento.

— Eu sei que eu errei Felipe, mas assim que soube do seu estado,
eu vim aqui, não entendo a razão já que Alejandro está morto, mas eu
nunca desejei o seu mal.

Ele olhou fixamente para a filha do legista e se amaldiçoou por


não ter percebido antes, ela estava com os laudos, ela tinha uma razão
para querer Alejandro morto, já que no passado ele também matou o pai
dela para limpar o serviço e não deixar rastros, mas o que Alejandro não
imaginava era que a filha encontraria os verdadeiros laudos e buscaria
vingança, afinal ele tirou o único familiar que ela tinha a apoiando e
ajudando.

— Não finja Paola, desde o primeiro e-mail, desde que tudo


começou, você me instigava à vingança, eu fiquei cego, perdi a mulher
que amo por sua causa, você foi cruel, Ximena não merece ter uma mãe
tão manipuladora quanto você.

Ele se recordou da viagem até Guadalajara.

As mãos suavam quando ele tocou a campainha do endereço do


legista. Cada segundo de espera o angustiava mais, mas para a sua
surpresa, uma menininha linda e sorridente abriu a porta.

— Olá. — Ela falou o olhando atenta e enrolando um pequeno


cacho que estava em seu rosto.

— Boa noite princesa, qual o seu nome? — Ele perguntou


simpático.

— Ximena. — Ela respondeu receosa.

— É um lindo nome, eu sou Felipe, muito prazer. — Ele estendeu


a mão e ela a pegou de leve sorrindo. — Eu posso falar com o senhor
Mauro Sandoval? — pediu e viu quando o sorriso da menina se desfez.
— Meu vovô não mora mais aqui.

— Ele se mudou? — Tito perguntou interessado.

— Sim, foi morar com o papai do céu. — Ela apontou para o teto
inocente.

Felipe olhou para o teto e depois hesitou antes de voltar a


perguntar:

— Faz muito tempo?

Mas antes que a menininha respondesse. Uma voz atrás dela


chamou a atenção do Fernandez.

— Ximena já para o quarto, quantas vezes preciso dizer que você


não pode abrir a porta e falar com estranhos? — A linda mulher negra
o olhou por um breve momento e depois olhou para a filha, sua cópia
mirim.

— Me desculpe mamãe. — Ela correu para o quarto.

— Eu quem tenho que me desculpar. — Ele falou e a mulher o


olhou por um instante a mais do que o necessário.

— O que quer? — perguntou quase em um sussurro.

— Quero que não brigue com ela, eu quem perguntei as coisas.

— Ximena deve aprender que esse mundo é cruel e que não se


deve dar trela para estranhos. — Ela olhou para o corredor, onde a
filha tinha sumido em direção ao quarto e logo depois o olhou
novamente, segurando firme a porta.

— Eu sou Felipe Fernandez, vim com a intenção de conversar


com Mauro Sandoval, mas a pequena Ximena me contou que ele
morreu.

A mulher o olhou desconfiada.


— Ele era meu pai. Morreu quando Ximena tinha dois anos, ela se
lembra bem dele.

A mulher o analisou dos pés à cabeça, Felipe permaneceu onde


estava, evitando fazer o mesmo, já que chegara no início da noite e ela
vestia apenas uma camisola transparente demais para o seu
autocontrole.

— Eu sinto pela sua perda. — Foi sincero.

— Obrigada Felipe, posso saber o que queria com o meu pai?

Ele mordeu o lábio indeciso.

— É algo pessoal, eu precisava de um laudo de alguns anos atrás.

— O que te faz pensar que meu pai te daria algo assim, tão
sigiloso? — A sobrancelha bem definida dela se ergueu analisando-o
melhor.

— Eu pretendia contar o que sei, o que suspeito e obviamente


compraria os documentos, não gosto de dever nada a ninguém.

Ela encarou o braço dele, as tatuagens que o cobria por completo


e depois voltou a olhar em seus olhos.

— Sinto por sua perda de tempo. — Ela estava fechando a porta


quando Tito segurou, evitando.

— Olha eu fiz uma longa viagem moça, não posso sair sem
respostas.

Ela o olhou um pouco assustada.

— É melhor você ir embora, ou chamarei a polícia. — Ela apertou


a porta com força, deixando as pontas dos dedos brancas.

— Não precisa ter medo de mim, não te farei mal, juro, eu só... Eu
só... Eu só quero entender o passado, só isso. — Ele tocou na mão dela.
— Eu não tenho os laudos, meu pai costumava guardar alguns em
casa, mas depois que ele morreu, não vi razões para guardar mais, eles
foram levados faz algumas semanas.

— Quem os levou? — perguntou interessado.

— Foi uma empresa.

— Você se recorda do nome?

— Sim, vou anotar para você.

Ela trancou a porta e segundos depois a abriu novamente,


entregando o papel para ele.

— Muito obrigado, você não tem ideia do quanto está me


ajudando. — Ele guardou o papel no bolso.

— Não é necessário me agradecer, boa sorte com a sua busca. —


Ela estava fechando a porta, quando ele voltou a segurar.

— Você não me disse o seu nome. — Ele a analisou dessa vez.

— Paola, me chamo Paola.

— Obrigado Paola.

Ela fechou a porta e ele partiu, mas não se esqueceu daquela


viagem por nenhum segundo.

— Eu não deveria ter vindo. — Ela caminhou rápido até a porta,


mas antes que Paola saísse, Felipe se levantou depressa, evitando
demonstrar a dor que o ato causou.

— Espere Paola. — Ele a segurou no braço.

— Eu realmente sinto muito, não desejo o seu ódio. — Ela o


encarou, era quase um palmo menor que ele, tinha que levantar bem o
rosto para olhá-lo.
— Eu não odeio você, a única coisa que estou odiando nesse
momento é o fato de não ter o matado. — Ele comentou rancoroso e
soltou o braço da mulher.

— O quê? Alejandro ainda está vivo? — Paola perguntou o


tocando no peito, assustada. Tito percebeu o desespero no olhar dela.

A mulher deixou o medo transparecer junto com a sua surpresa.

— Ele morreu. — Felipe a tocou no rosto, querendo tirar aquele


olhar aterrorizado dela.

— Eu não entendo. — Ela encarou as mãos e quando percebeu que


o tocava, se afastou.

— Os disparos não foram feitos por mim, ele quem atirou.

Paola o olhou e depois deixou um sorriso aliviado escapar.

— Então você não será preso?

— Acredito que não.

Ela assentiu com a cabeça e o olhou nos olhos, tão próximos um


do outro.

— Eu sinto muito por isso, eu queria vingança e não pensei nas


consequências que você pagaria, eu fui cruel.

— É você foi. — Ele concordou.

— Sinto por isso, eu preciso ir, deixei Ximena com uma amiga...
Eu só vim para me desculpar e ter certeza que você está bem. — Ela
abriu mais a porta, mas antes que saísse, ele a segurou pela mão.

— Só me responde uma coisa, você se sente vingada? Mudou algo


para você? — Ele perguntou curioso.

— Não, eu ainda me sinto vazia. — Ela respondeu e foi embora.


Felipe permaneceu parado em pé ali, encarando a porta fechada.

Ele também se sentia assim, vazio.

A vingança o consumiu por dias, mas saber que o assassino dos


pais estava morto, não o preencheu por dentro, ele ainda sentia aquele
vazio.

O vazio que a morte dos pais e do irmão deixou, o que ele


acreditou que após a vingança seria preenchido, mas não, nada traria a
sua família de volta...
Capítulo 31

A dor que Alex enxergava nos lindos olhos castanho-esverdeados


dela era imensa.

Ele conseguia entender, Tayane é nova demais, mas a pouca idade


não a privou de passar por coisas horríveis, já perdera muito quando
nascera, e agora, vendo Alejandro, que mesmo após tanta atrocidade
ainda é o seu pai, ser enterrado, doía demais e Alex sentia essa dor,
parecia de algum modo ligado a ela.

— Não vou ser aquelas pessoas que prometem que tudo ficará
bem, sei que isso é mentira, mas quero estar ao seu lado para te apoiar.
— Ele sussurrou e a apertou mais no abraço, enquanto caminhavam para
dentro da mansão Herrera.

Ela soltou um suspiro sofrido e parou no pé da escada, o olhando.

— Você me acha uma pessoa horrível por sentir pela morte dele?
— perguntou preocupada e notou quando a expressão dele se suavizou.

— Você não é horrível, sentir pela perda dele só te torna humana.


— Ele a acariciou no rosto, querendo protegê-la de tudo e de todos.

— Mas ele foi tão cruel, torturou, matou e fez coisas muito piores
com tantos inocentes. — Ela comentou sacudindo a cabeça de leve,
querendo apagar da memória as coisas horríveis que descobriu sobre o
pai.

— Mas ainda assim é o seu pai, é a pessoa que teve influência no


seu nascimento, é alguém que mesmo de uma forma torta, tentou amar
você quando descobriu a verdade sobre o parentesco. — Ele comentou
cauteloso.

Tayane abaixou o olhar para o chão, angustiada.

— Eu nunca conseguirei olhar para o Tito e a Naty com os


mesmos olhos, saber que o meu pai matou a família deles acaba comigo,
olhar para essa casa e recordar cada preciosa lembrança da nossa
infância acaba comigo também, Alejandro nos enganou a vida toda.

Sem aguentar mais a distância, ele se aproximou dela e a envolveu


em um abraço protetor, deixando que as lágrimas da menina molhassem
sua camisa.

— Nunca se culpe pelos erros dele e tenho certeza que Natália e


Felipe também não o farão, eles nunca te culpariam por algo que você
não cometeu.

Os dois começaram a subir as escadas, ele ainda com os braços em


volta dela protetoramente.

Quando Ane já estava deitada na cama, ainda com o vestido negro


que usou durante o funeral, ela voltou a perguntar para Alex:

— Você acha que maldade é algo hereditário? — Ele, que retirava


a sandália dela, parou os movimentos e encarou o pequeno pé dela no ar.

— Não, tenho certeza que não. — Ele foi sincero, mas ela ainda
não satisfeita voltou a dizer:

— Eu não tenho mais certeza disso. — Ela comentou indicando o


colchão para ele se acomodar ao seu lado.

Alex retirou a outra sandália dela e se sentou na cama para retirar


seus próprios sapatos.

— Por que diz isso? — perguntou confuso.

— Durante um pequeno momento em que Felipe estava lúcido, eu


perguntei para ele a razão de meu pai ser assim, ele disse que meu avô
era ruim, assim como o meu pai. — Ela o olhou nos olhos, angustiada.

— Ei, ei, pare com isso — Alex a segurou no rosto, fazendo a


encará-lo. — Seu pai e seu avô são pessoas diferentes de você, nunca se
compare a eles, meu amor. — Ele selou os lábios dos dois rapidamente.
— Gosto quando você me chama de amor. — Ane falou e ele
continuou próximo, ainda mantendo o nariz dos dois colados.

— Também gosto de te chamar.

Ela encarou aquela intensidade negra que são os olhos dele e com
uma curiosidade repentina perguntou:

— Seu pai é uma boa pessoa? Você nunca me falou dele. — Com
os olhos atentos, ela viu quando Alex engoliu em seco e se afastou dela,
evitando olhá-la.

— Nunca fui muito próximo do meu pai, sempre fui mais apegado
à minha mãe. — Ele foi evasivo.

— Você gostaria de ser próximo dele? — Ela colocou o cabelo


atrás da orelha e se sentou de lado, olhando o com mais atenção.

— Eu não sei, meu pai e eu somos pessoas diferentes, almejamos


coisas diferentes, não posso te garantir sobre o caráter dele, quando
nesse momento nem eu tenho certeza disso, mas durante a minha
infância ele era bom, tentava se aproximar de mim, mas eu quem me
afastava.

— Por quê? — Ela perguntou confusa.

Ele a analisou melhor, tentando ver se tinha alguma desconfiança


nela, mas não, ele enxergou apenas a curiosidade, afinal eram
namorados há semanas e não se conheciam direito.

— Acredito que por ciúme. — Ele confessou com uma careta.

— Da sua irmã?

Ele se recordou de que Ane só sabia da existência de uma suposta


irmã, não de irmãos, mas na verdade o ciúme era por causa da ligação
entre Alfredo e Christopher.
Diferente de Angélica, que mesmo com cinco filhos, ela sempre
conseguia se aproximar de cada um de maneira única, Alfredo não sabia
como fazer isso, Christopher sendo o seu primogênito, herdeiro de um
legado e o tão esperado filho do casal, foi o mais paparicado pelo pai,
Elliot recebia atenção também e pouco se importava com o afeto
especial entre o irmão mais velho e o patriarca da família, mas Ethan,
mesmo odiando essa sensação, se sentia esquecido, era o filho do meio,
dois mais velhos que ele e dois mais novos, Matthew sempre se metia
em confusões com Megan a única menininha da família e isso acabava
chamando a atenção dos pais para ele também, então de todos, o mais
esquecido foi Ethan.

— Eu não sei, nunca parei para pensar sobre isso, mas deixa de
perguntas por hoje, tome um banho e tente descansar antes do almoço.
— Ele a olhou de uma forma que não estava mais aberto a perguntas e
ela assentiu.

— Eu só estou tentando pensar em qualquer outra coisa que não


seja nas minhas perdas. — Ela sussurrou e ele se sentiu um merda por
cortar o assunto assim, mas era tão complicado falar sobre a relação com
o pai, que era algo que nem ele entendia, então optou por fugir do
assunto.

— Me desculpe, eu só não gosto de falar sobre isso, depois do seu


banho e de você descansar e comer pelo menos um pouco, eu converso
com você, sobre qualquer coisa que não seja a minha família.

Isso a deixou ainda mais instigada queria saber sobre ele, conhecer
a irmã que ela nem ao menos sabia o nome e então Ane resolveu que
assim que ele também fosse para o banho, pesquisaria sobre a vida de
Alex Stewart.

— Tudo bem, eu fui muito intrometida, vou tomar um banho e


aproveita para fazer o mesmo. — Ela tentou sorrir, mas o dia não estava
para risos.

Quando Ane se levantou pronta para caminhar até o closet, ele se


levantou também e a parou no meio do caminho, perto da porta do
quarto.

— Não quero que fique chateada comigo, prometo que com o


tempo você saberá tudo sobre mim. — Ele acariciou o lábio inferior dela
com o polegar.

— Não estou chateada. Apenas curiosa. — Ela o puxou para um


beijo, provando que realmente não estava.

∞∞∞

Quando Alex voltou para o quarto de Ane, já de banho tomado, ela


estava jogada na cama, vestida com um dos pijamas que ele mais
adorava, encarando a tela do notebook confusa.

— O que foi? — Ele perguntou se deitando ao lado dela.

— Eu te procurei em todas as redes sociais, não te encontrei em


nenhuma. — Ela o olhou intrigada.

Ele hesitou antes de responder.

— Está stalkeando a minha vida? — perguntou de forma


brincalhona, tentando ganhar tempo.

Tayane ficou sem graça, mas resolveu ser sincera.

— Estamos juntos a um bom tempo, quero saber mais sobre você,


mas você Alex Stewart ainda é uma incógnita para mim.

— Eu gosto de ser discreto, não sou ligado a redes sociais, mas


tenho um e-mail. — Ele sorriu cauteloso.

— Você Alex Stewart é tão estranho, deve ser por isso que eu te
amo. — Ela se aconchegou nos braços dele após fechar a tela do seu
notebook e colocá-lo no criado mudo ao lado da cama.
— Você Tayane Herrera também é estranha, por isso que eu amo
você. — Ele a apertou um pouco mais e inalou fundo o delicioso cheiro
dela.

Ficaram a tarde toda ali, apreciando a companhia um do outro e


quando ele se levantou, pronto para ir para o próprio quarto para dormir,
ela o segurou pela mão.

— Pode ficar aqui comigo hoje de novo? Eu não me sinto mais


bem nessa casa. — Ela pediu.

Desde a tragédia, ele estava dormindo com ela, apenas a


protegendo em seus braços e fazendo cafuné até ela cair em um sono
profundo.

— Nunca te diria não — ele retirou a camisa e se deitou ao lado


dela. — Vem aqui — falou enquanto passava o braço por cima dela e
Ane se aconchegou ali, se sentindo protegida.

— Eu não quero mais morar aqui, sei que em breve irei para a
universidade, mas ainda assim, quero vender essa propriedade. — Ela
sussurrou.

Ver o pai caído ensanguentado no corredor não é algo que ela


esqueceria, a melhor coisa era se desfazer da casa.

— Você está certa, tenho certeza que todos que moram aqui
pensam o mesmo.

— Só vou esperar a leitura do testamento. — Ela comentou


sentindo quando os olhos começaram a pesar, era sempre assim, ele
começava as caricias em seus cabelos e ela relaxava e dormia...
Capítulo 32

Acordar ao lado de Tayane é algo que Alex não imaginou que


seria tão bom.

Ele estava se acostumando com isso.

Nas três vezes que dormiu ali, ele acordou primeiro e observou o
quão sortudo era por tê-la em seus braços, Ane sempre dormia com a
cabeça apoiada no ombro dele e a pequena mão em seu peito exposto, as
pernas se entrelaçavam e o pequeno pijama dela sempre subia e ele
apreciava à vista.

Porém, o que ele mais gostava era quando ela abria os olhos e os
castanhos-esverdeados junto com a luz do dia ficavam tão verdes quanto
esmeraldas por alguns minutos, e então ela sorria para ele e falava com a
voz rouca de sono:

— Bom dia amor. — Ele sorriu também e a apertou um pouco


mais.

— Bom dia minha menina — respondeu e ela ergueu a perna para


se espreguiçar, mas paralisou quando sentiu que sua coxa estava relando
na ereção matinal dele.

Então os olhares dos dois se conectaram e Alex quis sorrir quando


o rosto bonito e delicado dela ficou corado.

— Você é linda demais. — Ele a acariciou na mesma coxa que


estava relando nele.

Ane adorava sentir a mão grande a tocando, fazendo sua pele se


arrepiar de tão sensível.

— Obrigada, você também é lindo demais, sou uma menina de


sorte. — Ela sorriu para ele.
— Está melhor? — perguntou a respeito de tudo.

— Apenas com dor de cabeça, acho que é por causa do choro de


ontem.

Ele tirou a mão da coxa dela e se sentou.

— Vou buscar um remédio para você.

Ela quis sorrir da preocupação dele, mas era tão bom ter alguém,
que não fosse Nana e Naty, cuidando dela.

Ane depositou um selinho rápido nele e Alex se levantou e vestiu


a camiseta, afinal estava apenas com a calça de moletom.

Ela o observou deixar o quarto e com a vista procurou o celular


para saber a hora, o dela não estava em lugar nenhum, mas o de Alex
estava no criado mudo no lado dele da cama.

Tayane pegou o celular com um pequeno sorriso, estava ficando


acostumada com ele ali, já tinha até o lado correto dele de dormir.

Ainda eram sete da manhã, Nana já tinha dado vida à cozinha e


quando Alex entrou, a senhora o olhou preocupada.

— E como ela está? — perguntou enquanto o homem pegava um


comprimido na caixa de remédios.

— Com dor de cabeça, mas está se esforçando para parecer forte.

Fazendo um gesto negativo com a cabeça, Maria Dolores suspirou.

— De repente tudo ruiu, Ane está deprimida, Tito machucado no


hospital e a Naty nem aqui consegue mais pisar.

Alex se aproximou daquela senhorinha, que sempre se faz de forte


e a abraçou apertado, era exatamente isso que ela precisava.

— A senhora irá visitar o Felipe hoje? — Ele perguntou quando


ela se soltou do abraço emotiva.

— Sim, Naty tem que descansar um pouco e Ane também, eu irei,


só deixarei a casa em ordem antes.

Ele assentiu e antes de subir para o quarto, teve uma ideia. Nana o
ajudou a preparar tudo e quando ele abriu a porta do quarto, pela
primeira vez em dias ele viu um grande sorriso no rosto da namorada.

— Você está tão preocupado assim comigo? — Ela perguntou


encarando tudo o que estava na bandeja.

— Só quero cuidar de quem eu amo e ter certeza que você está se


alimentando de forma correta.

Ane não protestou, receber esse mimo foi encantador, o cuidado


de Alex para com ela é como um sopro de ar fresco em um dia quente de
verão.

Os dois tomaram o café da manhã juntos na cama, por um instante


esqueceram as mentiras, perdas e descobertas que os aguardavam,
apenas aproveitaram a companhia um do outro.

∞∞∞

Mais tarde, ele insistiu que Ane deveria descansar, mas ela em
teimosia bateu o pé querendo visitar Felipe no hospital, afinal Natália
ligou e contou que Tito estava bem lúcido.

O namorado a acompanhou na visita e mesmo detestando Felipe,


era doloroso vê-lo no hospital, ainda mais quando suspeitava que a culpa
de tudo isso ter acontecido era do seu próprio pai, mas a cada palavra
que Felipe falava, Ethan se sentia sufocar mais e mais.

Paola... Ximena... E-mails... A filha do legista que também queria


vingança...
Não foi Alfredo quem enviou os e-mails e Ethan sentiu um
arrependimento profundo por culpar o pai de algo tão asqueroso.

— Detesto essa mulher, como ela pôde fazer isso com você? —
Natália, que também prestava atenção no que o irmão contava, falou
enraivecida.

— Ela estava movida por vingança também, não a julgue sem


conhecê-la. — Felipe a defendeu.

Nana, Ane e Naty se surpreenderam com a defesa feroz dele.

— Você ainda a defende? Como pode isso? Aposto que se fosse


um homem... — Natália começou a ficar mais irritada ainda.

— Não, o fato de Paola ser uma mulher linda não muda em nada,
eu agi por impulso e vocês me perdoaram, por que não perdoar ela
também?

Tayane soltou um risinho, percebendo que o amigo de infância


estava defendo Paola de uma forma afetiva demais.

— Não a julgo. — Ane comentou na defensiva e recebeu um olhar


raivoso de Natália. — O que foi? Uma pessoa quando está com raiva faz
coisas erradas, acredito que todos merecem uma segunda chance.

Ethan a olhou esperançoso. Se ela continuar pensando assim,


talvez o que tem entre eles não seja perdido.

— Concordo com você filha, não podemos julgar sem conhecê-la


Natália. — Nana também tinha percebido o modo defensivo que Felipe
teve em relação à Paola e optou por apoiar o seu filho.

— Argh. — Naty resmungou e deixou o quarto, Ethan também


saiu logo, alegando que precisava fazer uma ligação.

Assim que ele conseguiu uma distância afastada de todos, ele


discou o número do pai e caiu na caixa postal, por um momento pensou
em ligar para a mansão, mas se a mãe atendesse, ela com certeza
perceberia que algo estava estranho.

A contragosto ele guardou o celular novamente e voltou para o


quarto de Felipe, queria resolver logo tudo isso, mas faltava-lhe
coragem.

Nunca foi covarde, mas perder Tayane o amedrontava demais.

∞∞∞

Já era início da noite quando Ane começou a provocá-lo com


delicadas carícias.

— Menina é melhor você parar, ou não vou conseguir me


controlar. — Ele a alertou.

— Não se controle. — Ela mordeu o lábio nervosa e passou a mão


pelo peito dele, por cima da camisa.

Ele encarou o gesto e suspirou desejoso também.

— Não é assim que eu quero ter você pela primeira vez, você está
frágil, afetada pela sua perda e descobertas recentes.

— Eu sei o que eu quero. Quero você Alex.

E lá estava o nome que ele não queria ouvir quando ela estivesse
gemendo perdida no prazer.

— Eu preciso de um banho frio. — Ele se levantou e Ane fez o


mesmo, antes que ele saísse do quarto, ela o beijou.

O beijo que começou calmo se intensificou, sem aguentar mais,


ele a puxou para o colo, Ane enlaçou as pernas na cintura dele o
provocando mais com a deliciosa sensação que a união da intimidade
dos dois causava, Alex caminhou com ela até a parede mais próxima,
segurando-a firme pela bunda e se pressionando mais nela.
Entre beijos, mordidas, arranhões e gemidos, ela falou:

— Alex você é uma das poucas pessoas que eu mais amo e que
estão ao meu lado, não posso te perder também, essa seria a minha
ruína. — As palavras foram intensas demais, e ele que explorava o
pescoço dela com beijos paralisou.

As pequenas mãos frias de Ane estavam dentro da camisa dele e


ela percebeu quando ele ficou tenso.

— Você não irá me perder, minha menina. — Ele comentou


preocupado.

Tayane estava em um momento difícil da sua vida e ele estava


mentindo para ela, tentando evitar o inevitável.

— Promete? Promete que nunca irá me deixar, que nunca vai


partir meu coração? Porque ele já é seu e eu morro de medo de você
quebrá-lo.

Engolindo em seco Alex se recordou da conversa que teve com


Xavier uns dias antes.

“Tayane é como uma irmã para mim, não quero vê-la magoada”
— disse Xavier.

“Eu não sei como sair dessa situação, eu a amo e essas mentiras
me farão perdê-la.”

“Então conte a verdade a ela, será menos doloroso se ela descobrir


por você.”

Respirando fundo ele encarou os olhos dela.

— Antes de te prometer qualquer coisa, eu preciso ser sincero com


você.

Ela percebeu a intensidade em sua voz e se soltou do colo dele.


— Achei que estava sendo sincero comigo desde o início. — Ane
o olhou preocupada.

— Eu... Eu só preciso te contar uma coisa.

Ela cruzou os braços na defensiva, já percebendo que não era algo


bom.

— Pode contar.

— Eu só irei tomar um banho antes, você me espera aqui? —


perguntou voltando a adiar a conversa.

— Sim, eu tomarei um também. — Ele selou os lábios dos dois,


não só em um selinho, ele a beijou, parecia diferente de todos os outros
beijos e Ane temeu ainda mais por isso.

Era o último beijo entre ela e Alex, ele decidiu contar toda a
verdade assim que saísse do banho.

∞∞∞

Ansiedade era um defeito de Tayane Herrera e ela tomou um


banho rápido, e desceu para o quarto de Alex, disposta a conversar logo
com ele.

Enquanto atravessava a área da piscina, tentava adivinhar o que ele


queria contar.

Ela entrou no quarto dele sem bater e ouviu o chuveiro ainda


aberto.

Ane caminhou até a escrivaninha dele, procurando pelo exemplar


de “Orgulho e Preconceito”, queria folhear o livro e ver se Alex é do
tipo que destaca as partes que gosta, mas não foi o livro que ela
encontrou e sim uma pilha de documentos, a primeira pasta estava
escrito “arquivo confidencial de Alejandro Herrera”.
Mesmo sabendo que não deveria mexer nas coisas de Alex,
curiosa ela abriu o arquivo que tinha o nome do pai.

Seus olhos passearam automaticamente pelas linhas do


documento.

Naqueles papéis estavam todos os crimes que o pai cometeu


enquanto estava vivo, classificados entre os piores estava a atrocidade
que cometeu anos antes com os Fernandez.

Tayane leu quase tudo com os olhos lacrimejantes, eram


atrocidades demais, angustiada ela secou o rosto e ouviu o chuveiro
sendo fechado.

A última parte do arquivo foi a que mais lhe chamou a atenção,


Ane fez questão de ler em voz alta quando a porta do banheiro foi
aberta.

— Policial responsável pelo caso, Ethan Bittencourt. — Ainda de


costas para ele, ela encarava chorando a foto do suposto Alex, fardado
com um uniforme da polícia de Nova Iorque...
Capítulo 33

Mágoa.

Uma palavra tão pequena e aparentemente insignificante, mas que


traz consigo uma dor tão alucinante e incomum.

Tayane estava se sentindo exatamente assim agora, ainda olhando


para a foto do homem que ela ama.

Estava magoada com ele, mas também sentia a fúria crescer dentro
dela.

— Foi tudo uma mentira para você Ethan? — perguntou sentindo


a ironia quando pronunciou o verdadeiro nome dele.

Ele estava mudo, encarando o corpo pequeno e delicado dela, que


estava totalmente tencionado.

A cor do rosto dele sumiu, deixando o pálido e de olhos


arregalados assim que a viu, parada na escrivaninha dele, lendo, antes da
hora, os documentos e descobrindo por si só a verdade que ele se
esforçou tanto em manter escondida.

Ethan nunca paralisou como agora, queria dizer tantas coisas,


tentar se explicar para não perdê-la, mas nada saiu de seus lábios, ele
permaneceu mudo, olhando com atenção cada movimento dela.

Ane deixou o dossiê que segurava cair de suas mãos e voltou a


dizer:

— Essa é uma boa hora para você começar a se explicar — insistiu


sem coragem de se virar e olhá-lo.

Sua atenção ainda estava fixa na foto dele, a expressão séria, os


cabelos de um loiro tão claro e bonito e os olhos...
Foi nesse momento que ela se virou e encontrou o olhar dele.

Estavam tão verdes e incrivelmente brilhantes. Sem as lentes


negras que os escondiam.

— São verdes... — Ela sentiu mais lágrimas se formarem e se


esforçou para segurá-las.

— Ane, eu ia te contar tudo. — Ele deu um passo se aproximando


dela, mas a menina se afastou, relando o quadril na escrivaninha dele.

A mágoa transparecia no olhar dela e isso o assustava cada vez


mais, ela nunca o olhou assim, tão ferida, tão quebrada e até mesmo tão
irritada.

— Você está há meses na minha vida e resolveu me contar só


agora? — perguntou em um tom baixo e calmo.

Ele tentou se aproximar mais, mas quando ela levantou a mão,


pedindo silenciosamente para ele não fazer isso, Ethan hesitou e ficou
no lugar, apenas a olhando desesperado.

— Eu tentei contar antes, juro que tentei, mas aí eu te olhava e


perdia a coragem — confessou derrotado.

Mesmo não querendo acreditar, Ethan sabia que o fim deles estava
próximo, mas ainda mantinha uma pequena esperança de que a qualquer
momento ela corresse para os braços dele e o perdoasse.

— Claro que não conseguia, era muito mais fácil me ouvir te


chamando de Alex. — Agora o tom baixo e calmo não estava mais
presente, ela se alterou.

Ele a olhou com cautela, tentando pensar em alguma maneira para


sair dessa.

— Não era fácil, nunca foi. — A lembrança da quase primeira vez


dos dois surgiu na mente dele, de quando ela o chamou de Alex e aquilo
foi como um balde de água fria, servindo para evitar que tudo
acontecesse.

Ele ouviu quando ela soltou um riso, sem humor nenhum, ferido
até.

— Ethan Bittencourt? Nossa como eu não percebi isso antes? —


Ela desviou o olhar, estava sendo difícil encará-lo.

Mesmo não querendo pensar nisso, Ane percebeu o quão atraente


ele estava, a toalha branca cobria a sua nudez, pequenas gotículas de
água escorriam lentamente do tórax ao abdômen dele, sendo por fim
absorvida pelo tecido da toalha. Ela desviou o olhar novamente, olhando
para o verde límpido que a encarava em agonia.

— Quando eu aceitei o trabalho, eu não imaginei que iria amar a


filha do meu suspeito. — Ele pensou muito antes de dizer.

Ela engoliu em seco, a mistura de sentimentos era totalmente nova


para os dois.

— Eu fui sincera com você, deveria ter sido comigo também. —


Ela desviou o olhar novamente.

Ele passou a mão pelos cabelos, angustiado.

— Eu sei droga, claro que eu sei — ele caminhou para perto dela,
com a intenção de prendê-la entre ele e a escrivaninha, mas Ane voltou a
se afastar, caminhando para perto da porta do quarto.

Ele desistiu de segurá-la, e apenas suspirou cansado.

— Você tem que entender que era o meu emprego que estava em
jogo, eu não poderia correr o risco de Alejandro descobrir quem eu sou
de verdade. Era o seu pai caramba, claro que você ficaria do lado dele.

Tayane sentiu quando a irritação se tornou ainda mais intensa.

— Isso você nunca vai saber, porque você mesmo tirou o meu
direito de escolha. — Decidida ela caminhou até ele rapidamente e bateu
no peito dele com o dedo indicador.

Ethan aproveitou a proximidade dos dois e a segurou firme nos


braços.

— Eu amo você, isso não é suficiente? — perguntou angustiado.

Ane hesitou por um instante e isso foi o suficiente para ele segurá-
la no rosto, com as duas mãos, a encarando com intensidade.

Os olhos verdes deixando-a perdida.

Estava tão acostumada com aquele olhar negro e lindo, mas esse
verde, essa intensidade ainda maior, esse jeito decidido e possessivo que
ele a olhava, ela não estava preparada.

— Porra, eu só sei amar você. — Ethan voltou a se declarar.

E então ele a beijou, furiosamente, foi a primeira vez que


desfrutaram de um beijo assim, agressivo, possessivo, quente e muito
delicioso.

Ane sentiu seus cabelos da nuca, que estavam soltos, serem


puxados pela mão dele, de uma forma que a segurou no lugar, mas não a
machucou, e sem resistir ela o correspondeu, aproveitando ao máximo
aquele último contato.

Ele estava a segurando como se sua vida dependesse disso e


quando Ane se sentiu ser erguida, as pernas automaticamente enlaçaram
a cintura dele, as intimidades conectadas de uma forma prazerosa
demais para ela conseguir pensar com clareza.

— Só me perdoa, por favor. — Ele pediu quando o beijo cessou,


ela ainda firmemente presa nele, os dois com os olhos fechados e
respirando com dificuldade.

— Você me magoou Ethan. Eu não sei se sou capaz de te perdoar.


— Ela respondeu abrindo os olhos e foi no mesmo instante que ele abriu
os dele.
Os dois perceberam que o sentimento que tinham, não era mais o
mesmo.

— Era o meu emprego minha menina, a escolha era entre um


homem que você tinha acabado de conhecer e o seu pai, você escolheria
ele. — Ele a pressionou um pouco mais, temeroso que Ane o soltasse.

— Você não pode responder por mim. — Ela acusou.

— Então me diz, qual seria a sua escolha? — perguntou


angustiado, querendo que tudo aquilo acabasse e que ela ainda
permanecesse nos braços dele.

— A minha relação com Alejandro nunca foi das melhores, se


você tivesse sido sincero, me contado a razão de estar aqui, eu teria te
entendido.

Ele a encarou com mais atenção, queria acariciá-la no rosto, mas a


segurava firme nas coxas para não deixá-la sair dos seus braços.

— Você não tem tanta certeza assim. Eu vi que vocês estavam se


aproximando um do outro.

Ela se irritou, olhar para Ethan e estar nos braços dele não a
deixava pensar com clareza.

Tayane se espertinou para descer e ele permitiu, deixando que ela


caminhasse para perto da porta de novo, que respirasse e pensasse com
clareza.

— Nós estávamos mesmo nos aproximando, mas isso não justifica


o fato de você não ser você. — Ela gesticulou na direção dele, confusa
com suas próprias palavras.

Ethan voltou a se aproximar, decidido ele segurou a mão dela e


colocou no peito dele, olhando-a tão intensamente que Ane não recuou.

— Eu ainda sou eu, o mesmo, não mudei. Sou o mesmo homem


que você conheceu, amo as mesmas músicas, bolo de cenoura com
cobertura de chocolate é mesmo o meu favorito, li Orgulho e
Preconceito, amo os mesmos filmes que assistimos juntos e ainda sou
apaixonado por você, porque esse coração aqui é o mesmo, a única coisa
que mudou foi o meu nome.

Tayane se desestabilizou com as palavras dele, não só por serem


bonitas, mas por carregarem uma intensidade tão grande de sinceridade.

— Você mentiu até sobre a sua aparência... — Ela comentou


magoada.

— Não importa se sou loiro ou moreno, se meus olhos são pretos


ou verdes, eu ainda irei te olhar do mesmo jeito, apaixonado. Eu te amo,
amar você não é o suficiente? — perguntou apelando, ele sabia o que
isso causava nela e não se importava de estar jogando sujo, ele só queria
o perdão dela.

Só queria ela de volta.

Como Tayane não respondeu, ele voltou a segurá-la no rosto.

— Então diga olhando nos meus olhos que não me ama mais por
causa disso, e eu juro que vou embora para sempre.

— Muita coisa mudou Ethan, eu sou apaixonada pelo cara que foi
contratado para ser meu segurança, não por um policial infiltrado. — Ela
falou sincera e cautelosa.

Ethan ficou sem palavras, a sinceridade na voz dela fez com que
ele se tocasse que havia acabado de perdê-la.

Estava se declarando e pedindo perdão tão desesperado, mas ela


ainda assim não o perdoou.

— Eu pretendia te contar, só que infelizmente você acabou


descobrindo antes, agora eu estou desesperado te pedindo perdão e você
não entende, se coloca no meu lugar, o que você faria? — Ele a soltou.
— Tenho certeza que eu seria sincera com quem amo. — Ela
disparou para o ferir e conseguiu.

Como não estava acostumado com isso, com tantos sentimentos


misturados, arrependimento, medo, amor e até mesmo raiva, ele acabou
perdendo a única chance que tinha quando disse:

— Só saiba que eu nunca corri atrás de mulher nenhuma, e se você


não quer me ouvir e me perdoar, tudo bem, não vai ser agora que eu vou
correr atrás de uma. — Ele mentiu, nada mais estava bem.

Tayane o olhou diferente dessa vez, sem expressão, fria.

— Não vai ser necessário Ethan. Você está demitido, deixe a


mansão até amanhã de manhã. — Ela saiu do quarto e correu para casa,
chorando por todo o caminho.

Quando Ane já estava em sua cama, deixando que as lágrimas


molhassem o seu travesseiro, ela entendeu a dor que um coração partido
tem...
Capítulo 34

Ethan não dormiu nada, ele viu o dia amanhecer triste e cinzento
igual ao estado de espírito dele.

Tinha a perdido e não havia como mudar isso.

Antes de deixar o quarto ele pegou a carta que escreveu para ela e
as malas.

Morou por três meses naquela casa, viveu por esse tempo ao lado
dela e sempre soube que teria que partir, mas nunca imaginou que fosse
doer tanto.

— Eu sentirei a sua falta menino. — Nana o apertou em um


abraço carinhoso, quando estavam do lado de fora da mansão Herrera.

— Eu também sentirei, da senhora e do bolo. — Ele tentou sorrir,


mas estava sendo difícil.

Sentiria falta de muitas outras coisas, principalmente de Tayane.


Ethan olhou para a entrada da casa, querendo ao menos vê-la, mas Ane
não estava ali.

Maria Dolores o acariciou no rosto.

— Só dê um tempo para a minha menina, tenho certeza que ela te


ama.

Ele assentiu e soltou um suspiro.

— Eu errei com ela, mereço perdê-la.

— Não fale isso, Tayane sempre foi protegida demais, não está
acostumada que as pessoas que ela ama escondam coisas dela, tenho
certeza que quando ela parar para pensar irá atrás de você.
Ele negou com a cabeça.

— Eu estraguei tudo, a única chance que tinha eu desperdicei.

Foi Nana quem negou com a cabeça dessa vez.

— Você tem dois aliados, tentarei convencer aquela menina e


tenho certeza que esse aqui fará o mesmo. — Ela indicou Xavier, que
estava olhando os dois com atenção.

— Claro. — Ele assentiu decidido.

Ethan percebeu que esse pouco tempo, não só os aproximou, os


dois e tornaram amigos.

— Obrigado. — Ele apertou Nana mais uma vez em um abraço e


deixou a governanta da casa entrar novamente.

Enquanto Ethan colocava a última mala no carro, Xavier o tocou


no ombro e disse:

— Ainda acho que você deveria ficar e lutar por ela. — Foi um
conselho de amigo.

— Eu não vou ficar quando sei que ela me quer longe.

— Mas você não a ama? — perguntou Xavier, querendo mostrar


um ponto.

— Claro que amo, nunca amei uma mulher assim, ela... Ela é
diferente, é especial.

— Pois não parece, você está desistindo fácil demais.

Ethan o encarou com uma careta.

— Não sou de desistir das coisas, vou dar um tempo, esperar ela
entender os meus motivos.
— Esse tempo só fará ela se afastar mais, você sabe as
universidades que ela foi aceita, Natália comentou que vai para Yale e
que Ane provavelmente também. Ela é muito bonita, estará solteira e
tenho certeza que os caras...

— Já chega, eu já entendi o que você quer dizer. — Ethan o


cortou, sentindo o gosto amargo do ciúme.

Xavier soltou um risinho prepotente.

— Natália também é linda, tenho certeza que não faltará escolhas


para ela. — Ethan provocou e teve o prazer de ver o sorriso de Xavier
morrer.

— Ela é minha e sabe disso, por isso irei com ela para
Connecticut, já estou procurando emprego.

Ethan o olhou surpreso.

— Felipe já sabe sobre isso?

— Saberá, estamos apenas esperando ele se recuperar.

O Bittencourt voltou a assentir e olhou para a janela do quarto de


Ane, estava fechada.

— Eu deveria ter ouvido o seu conselho e contado antes, mas não


tem como voltar atrás.

— Eu vou tentar falar com ela. Tayane pode ser cabeça dura
quando quer.

Ethan pegou o envelope do bolso e estendeu para Xavier.

— Entrega isso para ela? Caso ela aceite, já será um grande passo.

Os dois se despediram em um abraço e antes de entrar no carro,


Ethan voltou a olhar em direção a janela do quarto dela, mas ainda
estava fechada.
Ele partiu e não notou a jovem que estava na janela do antigo
escritório de Alejandro, o olhando uma última vez.

Quando a porta foi aberta, Ane secou as lágrimas rapidamente e


desviou o olhar para o livro que segurava.

— Você não deveria ter mandado ele embora, os dois estão


sofrendo. — Maria Dolores chamou a atenção dela.

— Eu estou bem Nana, não estou sofrendo. — Ela respondeu


depois de uma fungada.

— Você não está nada bem, acabou de ver o homem que ama
partir.

— Talvez nós dois não fosse para ser. — Ela comentou baixinho,
mas Nana a ouviu.

— Você não deu chance para ele se explicar.

— E você está o defendendo, por quê? — Ane não queria ser


grossa, mas estava afetada demais, confusa até.

— Não estou o defendendo, mas não sou contra também, ele é um


bom rapaz menina, ele é a felicidade que você precisa, é o trabalho dele,
você tem que entender...

— Chega. Não quero mais falar sobre isso. — Ela a cortou.

Ane não queria ser rude, mas sabia que os conselhos de Nana
fariam ela repensar na partida de Ethan.

— Me desculpa Nana, não quero perder você também, só não


vamos mais tocar no nome Ethan ou Alex nessa casa, só quero esquecer
os últimos três meses.

Negando com a cabeça, Nana saiu da sala e não combinou nada, a


senhorinha estava disposta a ver sua menina feliz e para isso seria
necessário falar bastante sobre Ethan.
Quando Ane achou que poderia voltar a sofrer em paz, Xavier
entrou no escritório, sem bater também.

— Ei Ane. — Ele a chamou e ela que encarava o portão da


mansão através da janela, se virou para ele, forçando um sorriso.

— Oi? — Ela olhou para o envelope na mão dele, o mesmo que


Ethan o entregou minutos antes e o sorriso forçado se desfez.

— É para você. — Xavier colocou o envelope em cima da mesa


do escritório, Ane encarou cada movimento dele.

— Eu não quero, pode jogar fora se quiser — comentou em um


tom mimado.

Ele negou com a cabeça e voltou a pegar o envelope.

— Tem certeza? Não quer ler? Ethan parecia ansioso para que eu
te entregasse.

Ouvir o verdadeiro nome dele ser pronunciado de maneira tão


casual a deixava confusa às vezes.

— Você já sabia? — perguntou para o amigo.

— O quê? — Xavier perguntou confuso.

— Sobre Alex ser Ethan? — Ela o olhou atenta.

— Sim, desde o início. — Ele comentou culpado.

Ane caminhou até ele, magoada.

— E não me contou? Como você descobriu?

Xavier guardou a carta no bolso traseiro do jeans e a olhou com


pesar.

— Fui eu quem indiquei Ethan para o seu pai, eu sabia da missão


desde o início, não quero que você fique brava comigo, mas um dos
objetivos de eu aceitar o trabalho nessa casa foi justamente para ajudar
na prisão do Alejandro. Me perdoa?

Eram tantas descobertas que Ane ficou esgotada.

— Tudo bem, meu pai merecia ser pego mesmo. — Ela comentou
sem olhá-lo.

— Não está chateada comigo? — ele perguntou se aproximando


dela.

— Estou, mas não quero te perder também, eu te desculpo. —


Xavier percebeu o quão afetada Ane estava.

— Vem cá. — Ele a puxou para um abraço e a jovem se


aconchegou ali. — Ethan é o cara certo para você, não desista dele por
causa disso.

Tayane se afastou e o olhou nos olhos.

— Por favor, só não vamos mais falar dele, tudo bem?

Ele assentiu e quando estava quase saindo do escritório Ane


mandou:

— Conte para a Natália a verdade, por experiência própria é


horrível descobrir as coisas sozinha.

Ele voltou a assentir e saiu do escritório, pegou o celular e mandou


uma mensagem para Naty.

“Sua amiga precisa de você.”

∞∞∞

Quando Ethan abriu a porta do quarto de Felipe no hospital, ele


notou que o Fernandez estava sozinho.

— Cadê a Ane? — Tito perguntou ainda olhando para a porta.

Ethan levantou a mão e mostrou a falta do anel de compromisso.

— Acabou.

Felipe se ajeitou na cama, olhando confuso para o visitante.

— Como assim? Calma, você usava lentes? — Tito pergunto mais


confuso ainda.

— É uma longa história, cadê a Natália?

— Ela estava trocando mensagens com o Xavier e depois saiu,


disse que precisava ir para casa.

O Bittencourt assentiu e se sentou, olhando para o cara que ele


detestou desde o início.

— Eu magoei a Ane, acredito que de uma forma que ela nunca


tinha sido magoada.

Tito se tencionou, Tayane e Natália são seus pontos fracos.

— O que você fez?

Suspirando Ethan começou a contar.

— De todos naquela casa, você era o meu maior problema, seu


sentimento por ela, seu ódio por perceber que ela estava gostando de
mim, eu tive certeza que você descobriria a verdade antes que todos,
mas descobrir mais sobre a morte da sua família acabou te cegando para
o resto.

E então ele contou tudo, percebia apenas olhando, que Felipe


queria matá-lo, mas não podia fazer movimentos bruscos para não abrir
a ferida.
— E depois de tudo você simplesmente vai voltar para Nova
Iorque? — Tito perguntou irritado, afinal praticamente se mataram por
ela nos treinos.

— Ela me mandou ir embora. — Ethan ressaltou.

— Claro, você foi idiota o bastante para estragar tudo. — Felipe


comentou gostando muito de poder falar isso abertamente.

— Eu pedi perdão, ela quem não quis.

— Não seja teimoso Bittencourt, você a ama, eu sei disso, ela sabe
disso e você sabe disso, só está com medo de correr atrás de mulher. —
Felipe debochou.

Ethan quis arrancar com um soco o sorriso debochado dele, mas


sabia que Tito estava certo.

— Eu não estou com medo.

— Então veio aqui me pedir para tomar conta dela por quê? Você
mesmo pode fazer isso, levá-la para Nova Iorque e mantê-la protegida.

— Eu darei um tempo a ela, ainda tem um mês para ela oficializar


a universidade que quer.

— Muitas coisas podem acontecer em um mês. — Felipe ergueu


uma sobrancelha prepotente.

— Você ainda a ama? — Ethan foi direto ao ponto, ele sabia do


afeto especial que Ane tinha em relação a Tito e estava morrendo de
ciúme de deixá-la com ele.

— Amo, mas não sou eu quem ela quer. — Ele foi sincero.

Ethan passou a mão pelo rosto, cansado.

— Eu tenho que ir, meu voo está marcado para daqui há uma hora,
eu só vim aqui te pedir para cuidar dela, Ane está tão quebrada.
— Eu farei isso, só que quando você passar por essa porta Ethan,
não esqueça que se ela me quiser, nada nem ninguém vai me afastar
dela.

Tudo o que Ethan não queria ouvir era aquilo, Felipe estava
disposto a se aproximar, a tentar curar o que ele quebrou...
Capítulo 35

No comecinho da tarde Ethan desembarcou em Nova Iorque.

Ele não avisou ninguém que estava voltando, não queria correr o
risco de Sarah descobrir e voltar a procurá-lo, então sem carro e carona
para chegar até a casa dos pais, ele pegou um táxi.

Quando chegou à mansão que cresceu, usou a sua chave para


entrar.

A mãe estava sentada no sofá, lendo um caderno de receitas, com


certeza escolhendo o jantar.

— Ethan? Eu não sabia que estava voltando. — Ela se levantou e


olhou com expectativa em direção a porta, acreditando que finalmente
conheceria Tayane. — Está sozinho? — perguntou confusa, afinal a
expressão séria do filho não demonstrava nada.

Com um suspiro pesado ele colocou as malas no canto da sala e


contou:

— Ela me deixou mãe. — Ele se sentou no sofá, deixando o corpo


afundar nas almofadas.

Angélica sentou ao lado dele e o abraçou.

— Eu sinto muito — falou carinhosa.

— E para piorar eu estraguei tudo deixando bem claro que não


correria atrás dela.

A mãe o soltou do abraço e o olhou intrigada.

— Você não vai? Você quem errou e deveria estar lá agora, não
aqui se lamentando. — Ela sabia que dos filhos Ethan sempre foi o mais
impulsivo.
— Uma parte minha quer correr para lá e insistir até ela me
perdoar, mas... — Ele parou de falar e olhou para a mãe em busca de
conselho.

— Para começo de conversa, você não deveria nem ter entrado no


avião, deveria estar lá com ela, a menina perdeu o pai, mesmo que seja
Alejandro, ainda assim é o pai, dói, ela precisa de você e você fugiu. —
Angélica se levantou indignada.

— Ela estava tão decidida quando terminou comigo, depois de


tanta mentira, o mínimo que ela merece de mim agora é respeitar a sua
decisão.

Angélica cruzou os braços e o olhou atenta.

— Tem certeza que é isso o que ela quer?

— Não tenho certeza, só sei que ficar longe dela é tudo o que eu
não quero.

— Então vá logo atrás dela. — A mãe apontou para a porta,


querendo que ele fosse mesmo.

— Eu voltei porque preciso resolver uma coisa com o meu pai, ele
está em casa? — perguntou se levantando.

A mãe o olhou confusa, preocupada até e ele quis rir, afinal nunca
foi de procurar o pai para nada.

— Ele está na empresa ajudando Christopher. — Ethan assentiu,


pegou as malas e caminhou para as escadas. — O que quer com ele? —
Angélica perguntou, o acompanhando a cada passo.

— Eu... Eu só quero resolver as coisas. — Ele foi sincero e viu


quando os olhos da mãe se lacrimejaram emocionados.

— Eu esperei tanto por esse dia, logo ele estará em casa, o Chris
está com um caso grande em mãos e pediu ajuda para analisar.
— Tudo bem, eu irei descansar da viagem, mais tarde eu converso
com ele. — Ethan começou a subir os degraus, mas Angélica o tocou no
braço.

— Filho, seu pai tem inúmeros defeitos, mas nunca teve um filho
preferido, ele ama todos vocês iguais.

Ethan quis rir, sabia que aquilo não era verdade, mas para não
chatear a mãe ele falou:

— Eu sei.

— Você vai ficar aqui ou irá para o seu apartamento? —


perguntou curiosa.

Ele soltou um suspiro, olhou ao redor, vendo a casa que cresceu do


alto da escada e falou em um tom risonho:

— Eu vou ficar aqui, gosto de como me sinto aqui.

— Ótimo, farei o jantar e chamarei os meninos para comer


conosco. — Ela sorriu feliz, percebendo que em um dia no meio da
semana conseguiria reunir todos os filhos em um jantar novamente.

∞∞∞

Encarar Alfredo não foi tão difícil quanto Ethan imaginou que
seria.

Ele estava sentado na sala de estar, com Andrew em uma perna e


July na outra, os dois disputando a atenção do avô.

A fofura que a pequena menina estava fez Ethan sorrir, os


cabelinhos que eram curtos estavam presos em marias chiquinhas e
Drew fazia questão de relar sempre que podia, fazendo com que July
tocasse no penteado, se certificando que não estava espatifado.
Quando Alfredo percebeu que Ethan estava encostado no batente
olhando a cena, ele olhou para os netos e sorriu enquanto falava:

— Por que não vão na cozinha ver o que a vovó fez de gostoso
para a sobremesa?

Os dois se olharam e levantaram as pressas, saindo dali correndo,


ansiosos para beliscar o doce.

— Não sabia que tinha voltado da missão. — O pai falou se


levantando e caminhando para o bar que tinha ali, se servindo da bebida
mais forte que encontrou.

Desde muito novo, Ethan adorava parar naquele batente e apenas


olhar o restante da família, perdido em pensamentos, Alfredo já estava
acostumado com isso, todos já estavam, mas dessa vez o filho do meio
caminhou até o pai e falou:

— Eu também quero uma bebida.

Mesmo demonstrando a confusão, ele o serviu.

— Não me lembro da última vez que tomamos algo juntos. —


Alfredo comentou enquanto passava o copo para o filho.

— Nunca tomamos. — O tom de Ethan estava sério, odiava pisar


em território desconhecido e esse era uma grande incógnita para ele.

Alfredo assentiu, mas permaneceu calado, o filho também não


disse nada, os dois apenas se olhavam e degustavam do drink.

— Você nunca deixou eu me aproximar — reclamou cauteloso e


Ethan sabia que era verdade.

— Você só tinha olhos para o Christopher. — Mesmo sabendo o


quão infantil parecia aquilo, Ethan gostou de enfim contar o que o
incomodava.

Alfredo de início o olhou cauteloso, preocupado, mas um brilho


divertido apareceu nos olhos claros.

— Ciúmes? Esse tempo todo foi ciúmes? — perguntou e notou


quando o filho engoliu em seco, duvidoso se deveria mesmo se abrir.

— Não é ciúme, eu só era um moleque que precisava de


conselhos, queria que tivesse me ensinado tudo o que ensinou a eles. —
Se referiu a Chris e Elliot, o tom da voz demonstrando mais sentimentos
do que ele gostaria.

Alfredo caminhou até ele, queria abraçá-lo, dizer que o amava


assim como amava aos outros quatro, mas Ethan sempre teve o poder de
se fechar, de afastá-lo mesmo quando na verdade queria que ele
estivesse perto.

— Eu queria ter te ensinado tudo também, reclamei muito com sua


mãe, detestava o fato de ela saber tudo sobre você e eu não saber nada,
detestei descobrir por ela quando foi que você perdeu a virgindade. Foi
com a filha de um cliente meu, durante um jantar beneficente. O nome
dela é Adriely, ou não?

Ethan o olhou surpreso, não sabia que o pai tinha conhecimento


dessa história.

— É sim, eu não sabia o que fazer e ela bem mais experiente


tentou me ensinar algumas coisas. — Ele comentou rindo.

Perder a virgindade dentro de um armário de casacos, com uma


garota fogosa demais para a pouca idade era algo que ele nunca se
esqueceria.

— Eu queria ter te orientado mais, feito você entender o que era


aquilo e as consequências que a falta de proteção pode trazer, mas...

— Tudo bem, isso é passado. — Ethan o cortou.

— Não para mim, Christopher me perguntou sobre o assunto,


queria saber o que fazer na hora, Elliot não perguntou por que
Christopher já tinha explicado e o arrastado para uma boate qualquer,
mas você e Matthew nunca tocaram no assunto comigo.

— Eu não perguntei sobre isso para ninguém, a minha mãe me


pegou no armário com a Adriely, por isso ela sabia da história. — Ele se
recordou da cara horrorizada de Angélica, quando o viu com a calça
arriada e a menina com o vestido erguido, as pernas enlaçadas nele e
sendo pressionada na parede, a calcinha jogada no chão e os dois ali
naquela intimidade.

Sem aguentar mais, Alfredo gargalhou.

— Disso eu não sabia, sua mãe não entrou em detalhes.

— Foi a coisa mais constrangedora que me aconteceu, ainda bem


que eu estava de costas e só a olhei quando já estava vestido e sendo
arrastado pela orelha.

A gargalhada do pai que antes estava diminuindo se intensificou


mais.

— Não é típico da sua mãe essa reação.

— Naquele dia foi, o evento era importante, estava lotado com as


mais poderosas famílias da cidade, tudo o que ela não precisava era que
o filho fosse pego pelado com uma menina no armário de casacos.

Alfredo negou com a cabeça ainda rindo, se recordando daquele


dia. Fazia pouco mais de dez anos.

— Ela ficava doida atrás de vocês, mas sempre com um sorriso no


rosto, a melhor qualidade dela sempre foi o amor por vocês.

Ethan concordou e foi nesse instante que o olhar dos dois se uniu.

Ambos queriam ter mais diálogos assim, se aproximar mesmo


depois de muitos anos afastados e quando Alfredo sentiu os olhos
marejados, Ethan o abraçou.
— Me perdoa pai? Não só por eu ser distante, mas por ter pensado
que você era capaz de algo tão monstruoso, no fundo eu sabia que não
era você, mesmo assim falei coisas que vou me arrepender para sempre.
Eu fui muito cruel.

Alfredo era quase da mesma altura do filho, um homem de


bastante idade, experiente em diversos assuntos, mas quando era sobre
Ethan, ele se perdia, não se conheceram como deveria ter sido desde o
início.

— Eu nunca guardaria ressentimento de você, nem dos seus


irmãos, não tem que me pedir perdão, eu também sou culpado por todas
as nossas brigas e afastamento. — Ele não o soltou quando respondeu e
Ethan também não queria se afastar.

Estava chorando assim como o pai e isso não o tornava menos


homem, pelo contrário, esse novo sentimento estava o ajudando a se
tornar um novo homem, aquele que sabe que pode contar com o pai a
cada instante.

— Se depender de mim não será mais assim. — Ethan garantiu


quando os dois se afastaram.

Alfredo sabia que era verdade.

— Fico feliz de saber que está de volta e bem.

Os dois já estavam quase dando a conversa por encerrado, quando


Ethan se lembrou de que precisava perguntar uma coisa.

— Como você sabia que Alejandro tinha morrido?

Alfredo colocou o copo vazio no bar e o olhou, sendo sincero.

— Liam é um funcionário meu, foi por ele que eu soube que você
estava infiltrado na casa do Herrera.

E de repente, tudo começou a fazer sentido para Ethan.


Liam estava sempre presente, só que no dia da tragédia era a sua
folga, mas Xavier o ligou, contou o que houve, alertou aos outros
funcionários e foi assim que o patriarca da família Bittencourt descobriu.

Ele ligou por estar preocupado com o filho e não por estar
querendo ter certeza que o seu serviço sujo foi realizado com sucesso.

— Então Liam era o seu plano para pegar Alejandro? —


perguntou para descobrir enfim o que o pai planejava.

— Sim, quando fomos para a Rússia resgatar a Tayla e as crianças,


eu tinha acabado de comprar Liam, a mãe dele estava doente, ele
precisava de um bom dinheiro, já que o pai morreu e deixou imensas
dívidas com Alejandro, Liam aceitou trabalhar como segurança para
pagar as contas do falecido pai. Fazia um bom tempo que eu estava
procurando alguém que fosse de dentro e fácil de subornar, pensei em
Xavier, mas ele já era um informante, então Liam aceitou.

— O que você planejava fazer?

— Íamos pegar Alejandro desprevenido, Liam cuidaria da


segurança e deixaria a casa vazia para entrarmos, mas então você
apareceu e eu não quis arriscar a sua vida.

— Ane e os outros estariam lá, colocaria a vida de inocentes em


risco? — Ethan sentiu um aperto no peito apenas por imaginar Ane
vendo o pai ser levado por homens desconhecidos.

— Ela e os amigos costumavam viajar durante as férias e


Alejandro exigia que a metade da segurança fosse junto com eles, seria
nessa época, mas esse ano eles não foram, não sei a razão.

— Elas estavam ansiosas para as respostas das universidades,


Felipe estava focado na vingança, acredito que tenha sido isso.

— Fico aliviado que não tenha sido o Fernandez quem atirou,


aquele rapaz é uma boa pessoa, eu sei disso, tenho uns bons conselhos
para dar a ele, tenho certeza que esse dia chegará em breve. — Alfredo
comentou pensativo.

— Como você sabe que não foi ele quem atirou? Ah claro... Liam.
Por que daria conselhos ao Felipe? — Ethan perguntou confuso.

— Ele seria o sucessor do Alejandro nos negócios, todos sabíamos


disso, e agora que o Herrera morreu, muitos irão querer assumir os
negócios do México, por isso Felipe vai precisar de aliados.

— Está querendo me dizer que serão sócios? — Ethan ficou


surpreso, nunca pensou nessa possibilidade.

— Se assim for, quero que lá se torne como aqui, seguro, mas sem
as atrocidades que Alejandro cometia.

E pela primeira vez Ethan olhou para o pai admirado, orgulhoso.

— Ei Ethan, fiquei sabendo que está com o coração partido, então


resolvemos sair, uma noite só para os homens da família Bittencourt, o
que acha? — Elliot apareceu na porta da sala de estar, sorrindo.

— Vai ser bom para você deixar de ser covarde e ir atrás da sua
mulher. — Matthew gritou.

— Vá se foder. — Ethan gritou de volta.

Naquele momento ele percebeu que a intenção de todos da sua


família era deixar ele e o pai sozinhos, resolvendo tudo sem serem
atrapalhados.

Amava demais todos eles e ser um Bittencourt nunca pareceu tão


certo quanto naquele momento...
Capítulo 36

Ser discreto sempre foi o que Ethan fazia questão de ser, Tayane
percebeu isso, estava procurando sobre ele nas redes sociais há horas e
não achou quase nada.

Tinham fotos dele e dos irmãos quando eram pequenos, em uma


entrevista para uma revista, onde o foco era o pai, Alfredo Bittencourt,
que estava no auge da carreira.

Ane procurou mais a fundo e não foi difícil encontrar os irmãos.

Megan, uma loira de olhos claros deslumbrantes, era a que mais


postava, usava as redes sociais para divulgar seus trabalhos na
universidade, novos modelos de vestido que tinha desenhado e desfiles
pelos quais estava sendo assistente.

Os outros irmãos usavam as redes com mais cautela, apenas Ethan


que não tinha nenhuma, Ane teve certeza que era por causa da missão.

Olhando o perfil do irmão mais velho dele, Christopher, Ane viu


uma fotografia que chamou a sua atenção, era ele, Ethan estava de
costas, segurando uma mulher elegante pela cintura, mas a intenção do
fotógrafo era o casal principal. Na foto o primogênito dos Bittencourt
segurava a noiva de forma possessiva, sorria de uma forma leve e até
mesmo arrogante, a noiva estava corada e sorria discretamente.

“Jantar de noivado.” Essa era a legenda da imagem.

Mesmo não querendo ser uma maldita stalker, Ane abriu os


comentários e os leu, a maioria eram felicitações para Tayla e
Christopher, os noivos, mas novamente um chamou a atenção dela.

Sarah Johnson.

Não foi o comentário em si, que era apenas uma felicitação


ressaltando que o jantar foi perfeito, mas sim o nome.
As lembranças do dia que foram ao cinema, de uma tal de Sarah
ligando e pedindo para falar com o Ethan, retornaram em cheio para
Tayane.

Ela percebeu naquele dia que ele mentiu, mas descobrir agora que
essa Sarah frequentava a casa dele, esteve presente em momentos
inesquecíveis e que era a namorada, fez a jovem sentir um peso no
estômago.

Verificou o perfil da mulher.

Linda e famosa, perfeita para ele — pensou com deboche


enquanto lia sobre o desfile que Sarah tinha feito no fim de semana
anterior.

Eram publicações demais, mas nem isso a fez desistir, e quando


visualizou todas ela percebeu que Ethan não estava em nenhuma.

— Como eu me tornei patética. — Ane falou mais alto do que


gostaria.

— O que foi? — Naty perguntou, ela estava sentada no outro sofá,


mexendo no celular.

Ane fechou rápido demais o notebook e a olhou inocente.

— Nada não.

Natália levantou a sobrancelha de uma forma que mostrava que


sabia a verdade.

— O que está pesquisando aí? — Ela se levantou em um pulo e


correu para se jogar ao lado da amiga, abrindo o notebook.

— Eu só estava no Instagram. — Ane comentou fingindo


indiferença.

— Sei, quem é essa? — Naty perguntou vendo a foto de Sarah, na


passarela em uma lingerie minúscula e sexy.
— É só uma modelo.

Natália continuou analisando as fotos.

— Oh! Pelo número de seguidores é famosa, mas nunca ouvi falar


dela. — Naty repetiu o nome em voz alta, tentando se recordar.

— É bem famosa na cidade dela. — Ane respondeu.

— De qual cidade ela é? — perguntou pegando o celular


novamente.

— Nova Iorq... — Antes que Ane falasse mais alguma coisa Naty
a olhou intensamente.

— Hum, estava procurando por ele?

— Não, você mesma disse que estou certa em me afastar. — Ane


respondeu hesitando.

— Eu disse que te apoio, em qualquer coisa. Só quero te ver feliz e


tenho certeza que Felipe também.

Tayane soltou um suspiro.

Sentiu falta de Ethan desde que ele foi embora e não fazia nem três
dias, sentia falta dele a cada segundo, mas sabia que não era ela quem
deveria correr atrás, não depois de ele ressaltar que não faria isso.

— Tito recebe alta hoje, não é? — perguntou tentando mudar de


assunto.

— Sim, vai comigo buscá-lo? — Naty perguntou enquanto


digitava Bittencourt na busca do Instagram.

— Claro que sim. — Ane respondeu um pouco mais animada.

— Que ótimo, vamos maratonar até tarde, quer participar?


— É no apartamento dele? — Tayane perguntou e olhou para o
celular da amiga, foi nesse momento que ela viu Natália começando a
seguir Matthew Bittencourt. — Por que começou a segui-lo? —
perguntou arregalando os olhos.

— Porque ele é um gato. — Natália respondeu enquanto


observava as fotos do caçula dos homens da família Bittencourt.

— Então você vai seguir os outros dois? Porque eles são todos
bonitos. — Ane sentiu o rosto corar com esse comentário, mas era
verdade.

Natália a olhou como se ela fosse doida.

— Usar a palavra “bonito” é um eufemismo amiga. Eu vi que só


esse é solteiro, os outros dois são casados. E Ethan bom... Ele é seu —
Naty piscou safada. — Quem sabe a minha sogra e a sua não será a
mesma? — Ela soltou uma gargalhada alta.

Quando Ane ia protestar, dizer que Ethan não era dela, mesmo
tendo adorado ouvir aquilo, um pigarro foi ouvido perto da porta de
entrada.

— Como é? — Xavier perguntou cruzando os braços.

Ane começou a rir, como há dias não fazia.

— Sabe que é brincadeira, lindo. — Natália bloqueou o celular e


caminhou até ele, o enlaçando no pescoço e dando-lhe um selinho.

Xavier tentou se fazer de difícil, mas conhecia aquela garota a


tempo demais, sabia que o jeito dela era assim, um espírito livre e se ele
tentasse prender ou pressionar, a perderia.

— Vim avisar que já podemos ir para o hospital. — Ele a


acariciou no rosto e Naty fechou os olhos.

Todos os homens poderiam ser lindos, mas só Xavier mexia com


ela daquele modo. O amava, mas ainda não tinha confessado isso.
— Você vai maratonar com a gente? — Ela perguntou para o
namorado.

— Não perderia por nada. — Ele a beijou e Ane evitou olhar.

Ver o afeto dos amigos, perceber o quanto estavam ficando mais


próximos e apaixonados, deixava ela saudosa.

Sentia saudades de um tempo nem tão distante, de um homem que


ela mesma resolveu se afastar.

— Nossa, eu só vou hoje para não deixar o Felipe segurando vela,


ninguém merece isso. — Ela reclamou enquanto pegava a bolsa.

Natália revirou os olhos e segurou a mão de Xavier.

— Faço isso amiga, hoje não será apenas a noite das séries, vamos
contar para o Felipe que eu vou para Yale e que Xavier também vai.

— O emprego deu certo? — Ane perguntou olhando esperançosa


para ele.

— Deu, começo no início de julho. — Ele contou alegre.

— Parabéns. — Tayane o abraçou apertado, realmente feliz por


eles.

Estavam os três caminhando até o carro, Ane ainda sorria quando


Naty perguntou:

— E você amiga, já se decidiu para onde vai?

Ela engoliu em seco.

— Ainda tenho tempo para me decidir.

— Sim você tem, mas a questão é que você já sabe para qual quer
ir. — Natália pontuou.
E Ane realmente sabia.

Quando se inscreveu para a NYU se imaginava lá, sendo a colega


de quarto certinha de alguma americana doida.

Yale foi uma opção por causa de Natália, sabia que a melhor
amiga desejava entrar nessa e se inscreveu também.

Já no México, ela considerou ficar também, ama sua cidade de


origem, mas depois de toda a tragédia, depois de decidir colocar a casa à
venda, a única coisa que ela queria era recomeçar.

∞∞∞

Felipe estava vestido e esperava de pé, quando a porta foi aberta


ele reclamou:

— Até que enfim, não aguento mais ficar nesse hospital.

— Você só ficou por cinco dias e nem era para ter recebido alta, só
recebeu por ser tão chato. — Natália o repreendeu.

— Agora você que está parecendo ser a irmã mais velha, cheia de
sermões. — Felipe enlaçou Ane nos braços e adorou o cheiro conhecido
dela.

— É para o seu bem, vou ficar no seu apartamento para ter certeza
que está realmente seguindo as ordens médicas.

— Tudo bem sua mandona, eu sei que tenho que descansar, beber
bastante líquido e tomar os remédios, sei me cuidar.

— Xavier ficará também. — Naty contou de uma vez.

— Por quê? — Felipe olhou para o amigo, que ainda segurava a


mão de Natália.
— Para me ajudar.

— Eu só tenho um quarto de hóspedes. — Tito reclamou.

— Ele vai ficar comigo, não é como se nós dois fossemos virgens
maninho. — Natália comentou com deboche e Xavier pegou as coisas
de Felipe, tudo para evitar olhá-lo.

— Está vendo o que eu tenho que aguentar? Perdi o meu melhor


amigo para a minha irmã e perdi a minha irmãzinha para o meu melhor
amigo, esse relacionamento só tirou coisas de mim. — Ele comentou
com Ane.

— Eu ainda estou aqui para você, inteira. — Ela falou confiante,


mas Felipe a olhou como se perguntasse, será?

Antes de saírem, Natália pegou o celular e fotografou Ane e Tito


abraçados sorrindo. Ela postou com a legenda, “de novo juntos”.

Mais tarde naquela mesma noite, Ane viu a postagem e curtiu, foi
quando ela reparou que Matthew Bittencourt também curtiu e que ele
tinha começado a seguir a Natália e até mesmo Ane.

— Merda. — Deixou escapar e os três olharam para ela.

— Por que está com o celular? — Felipe perguntou, afinal


estavam maratonando e não era necessário o telefone naquele momento.

— Naty posso falar com você? — Ane pediu, exigiu com o olhar
na verdade.

Natália já estava sorrindo vitoriosa, sabia o que a amiga queria.

— Claro, já voltamos meninos.

Naty arriscou olhar para Xavier e ele implorou silenciosamente


para ela não o deixar sozinho com Felipe, que ainda não tinha aceitado
muito bem a história de Yale.
— Foi proposital, não foi? — Ane acusou mostrando a foto.

— Ficou linda não ficou? Estão realmente parecendo um casal. Eu


vi que Matthew começou a me seguir e achei a ideia fantástica, só estou
torcendo para ele mostrar para o irmão. — Naty comentou orgulhosa de
si mesma.

— Não é isso que eu quero, não quero que Ethan pense que estou
com Felipe de novo.

— Você se importa com o que ele pensa? Achei que era


exatamente isso que quisesse.

— Não é, eu o amo, estou magoada, mas não quero... Não quero...


— Ela parou de falar, sentindo as lágrimas brotarem nos seus olhos.

— Não quer magoá-lo? — Natália a envolveu no abraço.

Quando Ane soluçou a amiga se deu por vencida, não era assim
que Ane e Ethan perceberiam que deveriam estar juntos nesse momento.

— Tudo bem, eu vou apagar a publicação.

Ela entrou no Instagram e apagou, mas já era tarde, Matthew já


tinha feito a sua parte e Ethan estava louco de ciúmes...
Capítulo 37

A primeira noite, de muitas que ainda virão, entre os homens da


família Bittencourt estava agradável, eles estavam no pub de um amigo
de Elliot, no início Alfredo não quis ir alegando não querer atrapalhar os
filhos, mas foi convencido.

Ethan estava bebendo sua cerveja quando o pai o chamou.

— Você deveria ir atrás dela. — Alfredo falou apenas para ele, os


outros três irmãos estavam distraídos, vendo quem bebia mais rápido,
Elliot ou Matthew, Christopher marcava o tempo.

A competição parecia aquelas em festas da universidade e Elliot


perdeu para o caçula.

— Não vale, eu perdi o jeito. — Ele reclamou não gostando da


derrota.

Ethan olhou para o pai, que ainda o olhava.

— Eu irei, só estou esperando uns dias.

— Esperar para quê? — Alfredo o olhou seriamente, queria


realmente uma resposta.

— Ela não me quer lá pai. — Ele falou um pouco mais alto e os


irmãos notaram.

— Eu já contei como recuperei a mãe de vocês? — Alfredo


perguntou com um sorriso pomposo.

Os quatro assentiram, afinal pararam com a competição boba


assim que notaram a conversa entre Alfredo e Ethan.

Eles sabiam da história dos pais, sabiam que Alfredo conquistou


Angélica, mas nunca explicaram como.
— Você a engravidou, com isso veio o Chris. — Elliot falou com
uma expressão de pouco caso, tudo para irritar o irmão mais velho.

Alfredo sorriu e olhou para o seu primeiro filho.

— Isso é realmente verdade, mas antes disso, eu a fiz me amar,


Angélica se apaixonou por mim, viu em mim tudo o que outras mulheres
não viam, ela enxergou além do meu dinheiro...

Ele começou a contar e Ethan sabia que Ane também o enxergou


além da herança, ela o amou sendo Alex, um simples segurança.

— Ane também não me ama pelo dinheiro da família, ela se


apaixonou por mim achando que eu era um segurança. — Ele comentou
cortando o pai.

— É exatamente por isso que você sabe que ela é a garota certa,
não uma interesseira qualquer. — Matthew comentou com desprezo e
nesse momento o pai e os irmãos perceberam que ele estava falando
sobre si mesmo.

Elliot já estava para perguntar a respeito do passado do mais novo,


quando Alfredo voltou a falar.

— Matthew tem razão, a Herrera é a pessoa certa para você, não


por ser um laço entre famílias, mas por você a amar... — Ele deu uma
pausa e bebeu da cerveja. — Fez certo em conquistá-la, agora vem o
segundo passo.

— Engravidá-la? — Elliot perguntou confuso, afinal esse fora o


segundo passo do pai.

— Não farei isso, Ane é muito nova, tem uma vida pela frente, irá
para a universidade, nunca prejudicaria o futuro dela por egoísmo. —
Ethan comentou firme.

— Não é engravidá-la, você tem que insistir, sempre, não se


afastar. — Alfredo se ajeitou na cadeira e olhou atento para Ethan. —
Sabe o que eu fiz pela sua mãe? Eu abandonei tudo, a empresa, a
universidade, meus pais, e fui vender hambúrgueres com ela na
lanchonete que nos conhecemos, ela não me queria por perto, mas eu
queria acompanhar a gravidez, então larguei a minha família rica e fui
criar a minha nova família.

Os quatro perguntaram ao mesmo tempo

— Você o quê? — Chris quem perguntou.

— Hambúrgueres? — Matthew estava surpreso.

— Abandonou sua família? — Ethan o olhava também surpreso.

— Como nunca soubemos disso? — Elliot foi o mais racional na


pergunta.

Alfredo apenas riu confiante.

— Foi a melhor coisa que fiz, fiquei seis meses lá, foi em um
ambiente cheirando a bacon que eu a fiz me perdoar, sua mãe percebeu
que eu não era soberba, que não pensava apenas em mim e que eu não a
via como um pagamento, afinal era isso que ela era, o pai dela devia ao
meu e ela foi o pagamento, mas eu nunca a vi assim, provei para
Angélica que a amava, afinal me afastar da família e dos meus direitos
me afastava da obrigação de me casar com ela, mas eu me afastei
justamente para tê-la de verdade.

Ethan colocou a garrafa vazia na mesa e olhou ainda mais


admirado para o pai.

— Por que nunca nos contaram? — Matthew perguntou confuso.

— Talvez eu estivesse esperando por esse momento, era o melhor


para eu explicar que nessa família, um Bittencourt não desiste fácil. —
Ele olhou para Ethan, como um recado.

Elliot levantou a mão pedindo uma nova rodada e Ethan apreciou a


cerveja gelada enquanto pensava nas palavras do pai.
∞∞∞

Na noite seguinte, quando Ethan acreditou que Ane já estivesse


sentindo a sua falta, Matthew bateu na porta do seu quarto.

— O que foi? — Ele perguntou olhando para o irmão caçula, que


tinha uma expressão séria no rosto.

— Acho que você perdeu. — Ele entregou o celular e Ethan viu a


publicação.

Natália tinha publicado uma foto de Tayane e Felipe sorrindo um


para o outro, abraçados, mas o que deixou o Bittencourt puto foi a
legenda.

— Como assim “de novo juntos”? Que porra é essa? — Ele fechou
a porta do quarto na cara de Matthew em um baque.

— Devolve o meu celular pelo menos. — Matt pediu, mas Ethan o


ignorou.

Procurou pelo seu celular sentindo o ciúme o cegar.

Discou o número de Tayane, ainda eram dez da noite em Nova


Iorque, nove no México com o fuso horário.

A cada toque ele lia e relia a legenda. Foi quando a publicação


sumiu que ele soube que Natália tinha apagado, mas já era tarde, ele
estava sufocado de ciúme.

— Ethan?! — Ela atendeu meio incerta.

Só o doce naquele tom de voz o acalmou um pouco, o deixou


cheio de saudades.

— Que porra de publicação foi aquela? — perguntou direto.


— Que publicação? — Ele não estava ao lado dela, mas sabia que
Ane estava mentindo.

— Você voltou para ele? — Ethan deixou o celular de Matthew no


criado mudo e se sentou na cama. Angustiado.

— Ethan, você não deveria ter ligado. — Ela respondeu baixinho.

— Só me responde, você não esperou nem uma semana e já voltou


para ele? — A voz acusatória dele a feriu.

— Você é um completo idiota, não tem o direito de me ligar e me


acusar assim, não quando a única coisa que sinto é a sua... — Ela parou
de falar e soluçou.

Ele fechou os olhos, sentindo o peso da distância que estava entre


eles.

— Você leu a minha carta? Você ao menos tentou me dar uma


chance? — Ele perguntou sentindo sua própria voz vacilar.

— Eu... Eu ainda não li. — Ela respondeu sincera.

— Então leia, porque eu não vou desistir de você. — Ele


respondeu firme e desligou.

Tinha um voo para pegar.

∞∞∞

Tayane tremia e Natália a olhava atenta.

— Consegui ajudar de algum modo afinal. — Naty comentou com


um sorriso vacilante, não tendo certeza disso.

— Ele estava com ciúmes — Ane comentou saindo do quarto. —


Xavier, você ainda tem aquela carta? — Ela perguntou quando o olhar
confuso do amigo se encontrou com o dela.

— Eu guardei porque sabia que você iria querer ler, está no meu
carro, vou descer para pegar. — Ele respondeu sorrindo, se levantou
calçando os chinelos e realmente foi buscar.

— O que houve? — Felipe perguntou notando que Tayane tremia.

— Ethan acha que vocês voltaram. — Naty quem contou.

— Por que ele acharia isso? Claro que quando ele foi ao hospital
eu fiz questão de dizer que lutaria por você, mas não estamos juntos.

— Você o quê? — Ane perguntou surpresa.

— Foi um modo para deixá-lo irritado. Pelo visto deu certo. — Ele
comentou com um meio sorriso.

— Eu meio que o incentivei a acreditar nisso, postei a foto de


vocês dizendo que estavam juntos. — Naty comentou fingindo culpa,
mas não estava nem um pouco arrependida.

— Isso foi genial. — Felipe se levantou do sofá com cuidado,


evitando fazer esforços e acabar arrebentando os pontos.

— Foi errado, isso sim. — Ane reclamou.

Naty se preparava para se defender quando Xavier voltou com o


envelope.

— Aqui. — Ele estendeu para Ane.

Ela caminhou para o quarto que será de Natália e Xavier por um


tempo e se trancou lá dentro.

As mãos continuavam frias e trêmulas de nervoso, mas mesmo


assim ela abriu o envelope e retirou a carta, o peso no envelope chamou
a atenção dela e quando Ane o virou na cama, a aliança de Alex caiu no
edredom branco.
Ela sentiu as lágrimas brotarem nos seus olhos. Não podia ser o
fim deles, realmente não podia.

“Queria ter feito tudo diferente, queria ter te conhecido em outra


ocasião, não queria mentir em nada, mas não tive escolha, a única coisa
que eu podia ter feito eu não fiz, que era contar para você, juro que quis,
mas tive medo, confesso que fui covarde e egoísta, tive medo de te
perder e não queria isso. Eu te amo minha menina, te amo de verdade,
de uma forma que nunca amei antes. Eu decidi me afastar, mas não para
sempre, sou egoísta demais para te perder sem lutar, quero ser só seu
assim como quero que você seja só minha, por isso resolvi deixar a
aliança, não porque estou abrindo mão de nós, pelo contrário, deixo essa
aliança que pertenceu a você e a Alex, para enfim ter uma que pertença a
você e a mim... Deixo a escolha em suas mãos Ane, espero que não
demore muito para me perdoar, porque ficar sem você acaba comigo...

Do seu Ethan Bittencourt...”

Quando ela terminou a carta, teve certeza que nunca conseguiria


ficar longe dele, Ethan Bittencourt se tornou especial demais para ser
esquecido.

Ela deixou um sorriso escapar quando leu “do seu Ethan”


certamente o nome verdadeiro combina mais do que Alex, assim como
os olhos e os cabelos, Ethan Bittencourt era muito melhor que Alex
Stewart, ele a magoou isso é um fato, mas ele também a amou e a
ensinou a amar de verdade, esteve ao lado dela quando estava triste e
quebrada, cuidou e a mimou.

Ane tinha tomado uma decisão, iria para Nova Iorque atrás dele...
Capítulo 38

Era o comecinho da manhã quando o jato da família Bittencourt


pousou no México, Ethan estava ansioso, desesperado até.

Se chegasse à mansão e Tayane dissesse que estava com Felipe,


ele não saberia o que fazer.

Desde a briga ele deixou claro que não iria atrás dela, demonstrou
com essas palavras que tinha desistido do bonito sentimento que havia
entre os dois, mas nunca foi verdade, ele nunca seria capaz de se afastar
e se ela o recusasse, seria desastroso para o seu coração.

Como o esperado, Maria Dolores já estava dando vida à cozinha


da casa e ela recebeu Ethan com um grande sorriso, mas ele viu a
preocupação e o receio no olhar daquela senhora que ele aprendeu a
gostar.

— Ela está no quarto? — Ele perguntou após os cumprimentos.

Nana negou com a cabeça, receosa com o que deveria responder.

— Ela dormiu no apartamento do Felipe — optou por ser sincera,


mas a expressão angustiada de Ethan a fez explicar rapidamente. — Os
dois não estão sozinhos, Natália e Xavier também estão lá.

Isso não ajudou a acalmá-lo, afinal sabe que Naty e Xavier são um
casal, que com certeza dormem juntos.

Onde Tayane dormiu? Na mesma cama que Felipe? Com ele? —


pensou já caminhando em direção à porta da mansão Herrera, mas parou
quando se deu conta de algo.

— Onde fica esse apartamento? — Ele se virou para Maria


Dolores.

Nunca esteve lá, tão pouco sabia a localização.


— Você vai brigar com eles? Se for eu não darei o endereço. —
Ela falou decidida.

Claro que ele estava indo pronto para briga, mas nunca confessaria
isso se a consequência fosse não descobrir o endereço.

— Não, só quero... Só quero tê-la de volta. — Ele tentou sorrir,


mas estava tão preocupado e com medo que pareceu mais uma careta.

— Sei que está mentindo, Felipe acabou de sair do hospital, não


quero que briguem e ele acabe piorando. Por isso só passarei o endereço
se eu for junto.

O Bittencourt soltou um riso preguiçoso, sabia que Nana e nem


ninguém o separaria de Felipe se assim eles quisessem, mas Ethan
também tinha consciência que Tito estava se recuperando e nunca o
prejudicaria, não se Tayane fosse o detestar no final, talvez levar Nana
não fosse uma ideia ruim, afinal se chegasse lá e descobrisse que Ane
dormiu com Felipe, ele poderia não se controlar.

— Tudo bem, vamos? — perguntou, mas não esperou a resposta


dela, já estava caminhando para a porta.

Enquanto Maria explicava o caminho, Ethan permaneceu em


silêncio, apenas assentindo quando ela o guiava.

Quando chegaram lá o tempo no elevador do térreo a cobertura


pareceu levar horas, Nana encarava Ethan que abria e fechava a mão,
nervoso.

— Sei que não dormiram juntos, não precisa se preocupar. — Ela


tentou tranquilizá-lo.

— Você não pode garantir. — Ele comentou sem olhá-la, era o


visor de andares que estava com toda a sua atenção.

Nana negou com a cabeça, realmente ela não podia garantir, afinal
Ane e Felipe nutriam um belo sentimento desde muito pequenos,
somente quando Ethan apareceu na vida deles que tudo se partiu.

Ethan apertou a campainha por cinco vezes seguidas enquanto


batia na porta, e quando Xavier abriu estranhando, O Bittencourt a viu,
ela estava aparecendo no corredor, andava olhando para o roupão que
amarrava na cintura, os cabelos soltos caiam no rosto.

Quando os olhos de Ane se ergueram para a porta, querendo ver


quem estava fazendo tanto escândalo logo de manhã, ela se surpreendeu.

Era ele, tão lindo vestindo um sobretudo preto, calças e sapatos no


mesmo tom, tão tempestuoso quanto o seu olhar.

Ela engoliu em seco, estranhando a reação dele.

— Por que você dormiu aqui? — Ele perguntou entrando sem ser
convidado.

Xavier deu um passo para trás, mas não saiu de perto de Tayane,
Nana entrou logo em seguida, fechando a porta atrás dela, mas Ane só
conseguia encarar aquele homem, o que ela amava com todo o seu ser.

— Porque eu quis. — Ela respondeu firme, mas manteve as mãos


segurando o nó do roupão afinal estava tremendo.

— Dormiu com ele? — Ethan perguntou dando um passo mais


perto, isso fez Xavier ficar ainda mais atento.

— Achei que você não corresse atrás de mulher. — Ela o


provocou, empinando o nariz atrevida, fugindo de propósito da pergunta
dele.

Tayane estava decidida a ir para Nova Iorque na noite passada,


mas descobriu que já não tinha mais voo para tão tarde, então comprou a
passagem para de manhã, só que ver ele ali, tão ciumento e preocupado
a revigorou, a fez perceber que sim, Ethan estava correndo atrás dela e
aquela sensação foi melhor do que ela imaginou que seria.

— Eu não corro atrás de qualquer uma, e você não é qualquer


uma. — Ele foi sincero, suavizando um pouco o olhar, mas ainda estava
tempestuoso de uma forma que o tornava ainda mais irresistível.

Ane mordeu o lábio inferior, não por estar nervosa, mas sim para
segurar o riso convencido que estava se formando tão profundamente
dentro de si.

Nunca teve experiência com homens, mas a sensação de ter um em


suas mãos, por completo, era deliciosa, sabia que o amava e ter a certeza
que ele também era louco por ela a deixava satisfeita, ainda mais quando
o homem em questão era tão sexy.

Como Ane ficou em silêncio se deliciando com a resposta dele,


Ethan prosseguiu:

— Você não respondeu à minha pergunta. — O tom saiu menos


profundo, dessa vez ele deixou o receio ser explicito na voz.

— Eu não dormi com ele, dormi no quarto de hospedes com a


Naty. — Ane foi sincera, nunca usaria Felipe dessa maneira, não depois
de terminar com ele por amar outro homem. — Você me insulta
aparecendo aqui me acusando disso. — Ela comentou sentindo raiva.

Ethan respirou fundo, afinal estava tão tenso que se esquecera de


respirar adequadamente.

Foi satisfatório ouvir que ela não dormiu com Felipe e isso
arrancou a venda de ciúme dele, estava a acusando de coisas que sabia
que a sua menina nunca faria, não ela, não Ane.

— Me desculpe. — Ele falou não ligando para os demais na sala.


— Eu acabei ficando cego de ciúmes.

Ela o olhou dos pés à cabeça novamente.

— Por que veio?

— Por você, para te reconquistar. — Ele acabou com a distância


que tinha entre os dois e a segurou nos dois lados do rosto. — Eu te amo
e essa distância não mudou isso.

Ethan queria beijá-la, mas não a força, nunca a força e quando Ane
entreabriu os lábios, saudosa, ele a devorou, ela estava com uma mistura
de sabores, o gosto único dela que o deixava louco e café. Quando
encerraram o beijo, Ane ainda continuou com os olhos fechados,
tentando colocar a respiração em ordem, ela estava aproveitando a
sensação de estar nos braços dele de novo. Ethan pelo contrário abriu os
olhos e encarou a jovem, queria ter certeza que ela estava realmente ali.

— Eu não acordei você? — Ele perguntou quando ela abriu os


olhos e o encarou.

Depois de tudo, a única coisa que ela queria era se entregar


novamente, cair nos braços dele e se perder naquela perfeição, mas
depois das mentiras, depois das inseguranças, ela queria tentar, mas sem
ser se jogando com tudo.

— Não, eu estava me arrumando para... Para voltar para casa. —


Não era bem uma mentira, passaria na casa para pegar as malas antes de
ir para o aeroporto e correr atrás dele, mas Ethan não precisava saber
disso ainda.

— Eu posso te levar se quiser e a Nana... — Ele olhou para o lado,


mas nem ela e nem Xavier estavam mais ali, os dois estavam sozinhos
depois de dias distantes.

— Eu... Eu quero ir com calma dessa vez Ethan, não quero correr
o risco de me machucar mais. — As palavras dela o acertaram em cheio.

A machucou tanto que agora recebeu em troca o medo e receio de


se entregar para o sentimento belo que há entre os dois.

— Você não me perdoou? — Ele a olhou tão intensamente nos


olhos, Ane soube que nunca mais amaria alguém como o amava.

— As coisas não são fáceis assim, eu estou confusa, quero ter


você, mas quero que reconquiste a minha confiança.
Ele a soltou.

— Eu farei isso, nem que para isso eu precise vender


hambúrgueres ou me mudar para o México, não me importo, só não
quero mais me afastar. — Ele sorriu quando disse sobre vender
hambúrgueres.

Ane o olhou confusa, perdida na conversa.

— Hambúrgueres? — perguntou interessada, mas não tinha nada a


ver com sua fome matinal.

— É uma longa história, irei te contar, mas antes eu quero te levar


para a sua casa e tirar toda a angústia que essa distância nos trouxe.

Ela deixou um sorriso escapar.

— Tudo bem, pode me levar para casa, mas quero ir devagar dessa
vez. — Ethan entendeu que era em relação aos dois que ela falava.

Ele assentiu e a tocou novamente, não conseguia ficar sem tocá-la


por muito tempo.

Se ser reconquistada e recompensada por todas as mentiras é o que


ela quer, ele estava disposto a isso e a muito mais para tê-la de volta, por
completo, sem o fantasma de Alex Stewart e todas as mentiras que esse
segurança trouxe para a vida e relacionamento dos dois.
Capítulo 39

Tayane estava encarando as ruas movimentas da sua cidade natal,


enquanto Ethan dirigia concentrado.

— Eu senti muito a sua falta. — Ele retirou uma mão do volante e


colocou na coxa dela, acariciando levemente.

Ela encarou o carinho por um momento e logo envolveu sua mão


na dele.

— Eu também senti a sua. — Ela soltou um riso antes de dizer. —


Sabe, eu percebi que Ethan combina mais que Alex para você.

Ele a olhou por um momento e suspirou pesadamente.

— Eu me odeio por ter mentido por tanto tempo, mesmo que tenha
me aceitado de volta, eu sinto que não é mais a mesma coisa.

Ela sabia que isso era verdade, a Tayane de antes se entregava por
completo, essa estava receosa, com medo de se machucar novamente.

— Talvez um dia volte a ser — comentou pensativa, agradecendo


mentalmente por Nana ter ficado no apartamento de Felipe para ajudar
Natália com a limpeza, esse era um assunto delicado para se comentar
na frente dela.

— Voltará, se depender de mim criaremos um laço ainda mais


forte que o de antes. — Ele garantiu.

Os dois ficaram perdidos em pensamentos por alguns instantes,


mas logo Ane falou:

— Eu li a sua carta ontem à noite, eu não pretendia ler, mas meu


medo foi maior que o meu orgulho, fiquei com medo de perder você
para sempre. — Ela o olhou e nesse momento ele desviou o olhar do
trânsito e a olhou por um instante.
— Você não me perdeu minha menina, sempre fui seu, desde
aquele dia no shopping, ou até mesmo antes, já que quando vi a sua foto
no arquivo do seu pai, eu já me senti ligado a você, no começo achei que
era por proteção, mas com o tempo descobri que era amor, que é amor.
— O tom dele para ela saiu carregado de carinho.

Ela sentiu seus olhos marejarem, estava tão emocionada com essa
declaração.

— Eu também me senti estranhamente ligada a você quando te vi


pela primeira vez e quando você me tocou um sentimento desconhecido
tomou conta de mim, eu e você já era para ser desde o início, apenas as
consequências ruins que nos atrapalharam. — Ela concluiu.

— Eu estou disposto a mudar isso.

Ethan estacionou o carro na garagem da mansão, mas nenhum dos


dois desceu do veículo, ambos se olharam, foram tantos acontecimentos
nesses meses, que se afastar parecia tão errado.

Ele a segurou firme no rosto, o beijo começou lento, aquele que se


aprecia primeiro e depois se torna quente e desejoso, Ane o acompanhou
avidamente, estava morrendo de saudades daquele homem, em um
impulso Tayane se dirigiu para o colo dele, colocando as duas pernas em
volta das coxas dele, se acomodando ali, desesperadamente o tocando.

Ethan sabia que se continuasse assim não conseguiria se segurar, a


sensação deliciosa de sentir o quanto ele estava excitado deixava a
jovem extasiada, querendo mais daquele contato.

Sempre que o tocava assim, tão intensamente, ela se esquecia dos


seus receios, mas ele queria fazer certo dessa vez, queria tê-la por
completo definitivamente.

— Mesmo que esteja delicioso, é melhor pararmos. — Ele


encerrou o beijo e a olhou com luxúria, queria tanto ou mais que ela,
mas a sua Ane merecia muito mais que isso.
Ela respirou fundo e passou a mão nos cabelos dele, tentando
ajeitar a bagunça que os dedos dela fizeram.

— Você tem razão, é melhor irmos com calma. — Ane falou


tranquila, mas antes de deixar o colo dele, ela se esfregou na ereção,
provocando-o.

O seu receio e o seu desejo existiam na mesma proporção.

Ethan a segurou firmemente na cintura, fazendo com que o contato


durasse um pouco mais, ele fechou os olhos e Ane o mordeu levemente
no ombro.

— Eu preciso te contar uma coisa a respeito da minha família. —


Ele falou direto, sabia que o que estavam fazendo não pararia se ele não
fizesse algo.

Tayane parou de acariciá-lo no mesmo instante e o olhou nos


olhos.

— O que foi? — perguntou engolindo em seco, algo no tom dele a


preocupou muito.

— Quando será a leitura do testamento do seu pai? — Ethan


perguntou enquanto ela se acomodava no banco do passageiro
novamente.

— Daqui três dias. Era para ser antes, mas como Felipe estava
machucado, eu adiei. — Ela o olhou confusa. — O que isso tem a ver
com a sua família?

— Vamos entrar, é melhor irmos para outro lugar. — Ela não


esperou mais nada, desceu do carro rapidamente, sentindo sua
intimidade ainda formigar de desejo, mas ignorando essa sensação.

Ethan imaginou que Tayane o levaria para o quarto, mas para


surpresa dele, ela o levou para o antigo escritório de Alejandro.

— Está quase vazio? — Ele perguntou confuso.


— Aquela sua amiga Brenda confiscou a maioria dos documentos,
o restante pedi para Xavier guardar até a leitura do testamento, o pouco
que conhecia de Alejandro, sei que ele não mudou o testamento ainda, o
senhor Garcia aparecia aqui a cada seis meses, desde que você chegou
ele não veio.

Ethan percebeu a expressão diferente de Tayane quando ela tocou


no nome da agente da Interpol.

— Sabe que a agente Roberts era só um contato na Interpol, não é?


Não há razões para ciúmes. — Ele a segurou no queixo, fazendo-a olhá-
lo.

— Detesto o fato de que ela sabia de tudo e eu não. — Mesmo não


querendo, Ane ainda estava muito magoada.

— Eu sei, também detesto o fato de que Felipe e você terão uma


ligação e um afeto um pelo outro para sempre, mas não posso mudar
nada disso.

Ane o olhou e foi sincera:

— Felipe sempre será uma parte especial da minha vida, cresci


com ele, o amo muito, assim como a Natália, espero que nunca me peça
para me afastar dele, isso só faria eu me afastar de você.

Ethan passou a mão pelos cabelos, que estavam um pouco mais


compridos do que antes.

— Nunca faria isso, sei que terei que aguentar o Fernandez para
sempre nas nossas vidas.

Tayane não deixou de notar as quatro palavrinhas tão


significativas “para sempre... nossas vidas”.

Para sempre parecia tempo demais, mas ela não se importava,


queria tentar com ele.
— O que queria falar sobre a sua família? — Ela perguntou se
sentando na cadeira que era do pai.

Ethan a olhou bem, cada movimento o recordando do Herrera,


Tayane tinha a mesma expressão focada e intensa, a postura confiante
para alguém que acabou de completar a maior idade.

— É um assunto delicado, mas é o primeiro passo que devo dar


para ter a sua confiança novamente. — Ele se sentou de frente para ela,
disposto a ver cada reação que ela tivesse.

Como Ane não disse nada e apenas permaneceu o olhando, ele


prosseguiu:

— De algum modo meu pai sabe que Alejandro deixou tudo nas
mãos do Felipe, como era para ser desde o início, meu pai me contou
que quer ajudar Felipe com a organização, quer uma sociedade. — Ele
contou passivamente.

— Uma sociedade nas empresas Herrera? Ou no... No lado sujo


que eu não sabia? — Ela perguntou receosa.

— No negócio em geral. — Ele viu quando Ane empalideceu.

— O seu pai é um mafioso assim como o meu? — Ela o olhou


alarmada, assustada até.

Ethan engoliu em seco, ele abordou o assunto de uma forma


errada, deveria ter explicado que Alfredo é diferente, é bom e quer que
Felipe siga o mesmo caminho.

— Sim, ele é um mafioso, assim como o meu avô, mas é de uma


forma diferente, eles não são cruéis, apenas lutam para manter a ordem
no território deles. Sem arrancar vida de inocentes. — Ele explicou
calmamente, mas a expressão de Tayane mostrava que ela duvidava
disso, Ethan a entendia, ele mesmo duvidou da própria família a vida
toda, começou a confiar só agora.
Inquieta Ane se levantou, sentindo toda a pressão da descoberta
pesar em seus ombros.

— Como você tem tanta certeza disso? Eu acreditei por anos que
meu pai era apenas um empresário rigoroso, mas descobri atrocidades a
respeito dessa máfia, por que o seu pai seria diferente? — Ela
perguntava e gesticulava.

— Ele é, com o tempo você perceberá, passará a confiar nele,


Alfredo quer Felipe ao seu lado, uma aliança entre o México e Nova
Iorque fortalecerá os negócios dos dois lados, meu pai precisará de nós
dois para conseguir isso, sabemos que o Fernandez não confia em
muitas pessoas. — Ethan tentou explicar.

Ane negou com a cabeça.

— Não tem como eu ajudar, não confio no seu pai, não o conheço,
nunca incentivaria o Tito a confiar em alguém que eu nunca vi na vida.

— Em mim você confia? — Ele perguntou a olhando tão


intensamente nos olhos que Ane desviou o olhar engolindo em seco, às
vezes aquele brilho esverdeado era demais para ela sustentar.

Ainda não tinha plena confiança em Ethan e ele percebeu isso.

— Tudo bem, foi um péssimo momento para falar sobre isso. —


Ele tentou parecer normal, mas ela percebeu que ele se afetou com isso.

Infelizmente era o que ela sentia no momento. Ane se aproximou


dele e o acariciou no rosto enquanto falava:

— Eu não quero te magoar, mas quero ser sincera, é difícil para


mim ainda. — Ela o olhou tão carinhosamente nos olhos.

— Eu entendo. — Ele selou os lábios dos dois e Ane sentiu


algumas lágrimas molharem o seu rosto e não eram dela.

Ethan estava chorando e ela se angustiou por ele.


— Eu daria tudo para voltar no tempo e fazer tudo diferente, faria
qualquer coisa para você voltar a me olhar como antes. — Ele
desabafou, Ane não respondeu, ela apenas o abraçou o mais apertado
que pôde.

∞∞∞

Três dias se passaram bem rápidos, Tayane e Ethan não se


separaram por nenhum instante, ele continuava dormindo no quarto dela,
a segurava firmemente nos braços, não acreditando que a tinha ali
novamente.

Naquela manhã, ele foi desperto com o som do seu celular


tocando, quando se afastou do corpo dormente dela cuidadosamente e
pegou o aparelho, viu que era David Ducan.

— Ducan? — Ethan atendeu rouco pelo sono.

— Ethan, é bom falar com você rapaz, está fazendo falta aqui.
Sabe quando irá voltar? — perguntou o chefe.

O Bittencourt caminhou até a janela do quarto de Tayane e


respondeu:

— Eu não sei ainda, preciso resolver algumas coisas antes.

— Você é um dos meus melhores homens, não aceito te perder,


sabe que adiei a sua volta por tempo demais.

Ethan respirou fundo e fechou os olhos.

— Eu sei, mas não posso voltar ainda.

— Te dou uma semana, mais que isso não posso.

— Tudo bem. — Ele finalizou a ligação, sabia que deveria voltar


logo depois de concluir a missão Herrera, mas a ligação física e
emocional com Tayane o proibiu disso.

Quando Ethan se virou ele a viu, Ane estava sentada na cama,


encarando as costas nuas dele.

— Era o seu chefe? — Ela perguntou olhando para o celular.

— Era, ele quer que eu volte a trabalhar, não pode adiar mais. —
Ele foi sincero, desde que Ane o aceitou de volta, sinceridade estava
sendo o seu maior objetivo para com ela.

— Você pode voltar Ethan, não precisa ficar aqui e correr o risco
de perder o seu emprego. — Ela agarrou firme o lençol, sem olhá-lo.

— Quer mesmo que eu vá embora? — Ele perguntou em dúvida.

Ir embora era o que ele menos queria.

— Eu não quero te ver infeliz, sei que ama o seu trabalho mais que
tudo. — Ela viu quando ele se aproximou da cama, apenas vestido com
a cueca Box preta.

— Você está enganada, eu amo você mais que tudo, o trabalho não
me importa desde que eu tenha você.

Ela o olhou apaixonada, daquela forma como o olhava antes, sem


os medos.

— Ethan...

— Estou falando sério, não ligo se eu deixar de ser policial para


ser um segurança de verdade dessa vez, a única coisa que quero é não
perder você amor. — Ele a acariciou no rosto.

Nesse momento Ethan entendeu porque o pai abandonou tudo pela


mãe, o amor faz isso com as pessoas, ele te muda tão completa e
profundamente que acaba sendo impossível se afastar, o emprego que
mais gostava, a herança que era sua por direito, a vida ao lado da
família, tudo poderia ser deixado para ficar ao lado de quem se ama, se
assim fosse necessário.

Ane suspirou profundamente antes de se jogar nos braços dele.

Colocar ela à frente de seu emprego, ao qual ela sempre soube que
era o seu maior sonho, foi um ato grandioso.

— Eu te amo Ethan, acredito que esse sentimento nunca mudará.


— Ela sussurrou no abraço, contente por sentir a firmeza que ele a
segurava.

— Também amo você menina.

∞∞∞

Senhor Mauro Garcia chegou no horário combinado, todos já


estavam na sala de estar esperando para a leitura do testamento de
Alejandro Herrera.

Quando Tayane direcionou Mauro até o escritório, apenas Felipe e


Natália os seguiram, mas Ane parou no lugar, chamando por Ethan,
Nana, Tony, Xavier e Liam, eles eram mais do que importantes para o
que ela tinha em mente.

Como Mauro não se importou, todos a seguiram.

Como esperado, Alfredo e Ane tinham razão, Alejandro cometeu o


erro de não alterar o testamento.

— Como de costume, eu vinha aqui a cada seis meses para o caso


de possível mudança no testamento, faltava um pouco mais de uma
semana para eu vir quando o seu pai faleceu. — Garcia começou a
explicar de forma triste.

— Tudo bem, eu já sabia disso. — Tayane o cortou. — Poderia ir


direto ao ponto? Não quero adiar mais do que o necessário essa leitura.
— Ela comentou decidida e olhou para Felipe, ele estava bem melhor,
mas ainda assim não queria o deixar tempo demais preso ali.

A intenção de Alejandro sempre foi deixar tudo para a filha, mas


machista e rigoroso como era, ele sempre acreditou que Ane não seria
forte o suficiente para cuidar de todo aquele império sozinha, sendo
assim ele colocou Felipe como o responsável por tudo ao lado de Ane.

— A intenção do seu pai sempre foi casar vocês dois, tornar Felipe
parte da família de uma forma oficial. — Mauro contou e Ethan apertou
levemente os dedos de Ane que estavam entrelaçados nos seus.

Felipe não deixou de sorrir convencido para o lado do Bittencourt,


não por ser algo que ele desejasse, mas para não perder a mania de
provocá-lo.

Tito aprendeu da pior forma que quando se ama também se abre


mão e Tayane não o amava como homem, esse lugar era Ethan quem
ocupava no coração da jovem mulher. E Felipe estava fazendo de tudo
para superar essa fase.

— Isso é um termo no testamento? — Ane perguntou assustada, se


essa fosse a questão, ela desistiria de cada centavo para ficar com Ethan,
só que seu plano cairia totalmente.

— Não, absolutamente não, seu pai queria que você o amasse, não
que se casasse obrigada, estar com outro homem não afeta em nada o
que ele deixou para vocês.

Respirando aliviada Ane continuou ouvindo cada palavra do


advogado de seu falecido pai, Mauro estava responsável para
acompanhar Felipe nos negócios pelos próximos anos e o Fernandez
pareceu não se importar com isso, Alejandro o preparou por muito
tempo para governar tudo aquilo e tudo parecia mais fácil depois que ele
soube do que Tayane tinha em mente.

Quando Mauro partiu, Ane pediu para que o restante das pessoas
ficasse ali.
— Eu e Felipe conversamos muito a respeito de tudo o que
Alejandro fez, de todas as pessoas que ele prejudicou, juntos — ela
segurou a mão dele, se aproximando mais do amigo — decidimos que
vamos compensar as famílias de algum modo, principalmente de forma
financeira. — Ela olhou para Ethan e enxergou tanto orgulho naqueles
olhos verdes.

— Sabemos que não tem como devolver as pessoas que eles


perderam, mas queremos de algum modo tentar... — Felipe falou
olhando para Natália, a irmã chorava. — Queremos fazer algo bom com
esse dinheiro. — Ele concluiu.

— Começaremos com a venda da mansão Herrera, essa casa


trouxe alegrias demais, mas infelizmente temos recordações ruins
também. — Ane apertou a mão de Tito, pedindo com o ato que ele
continuasse.

— Sim, será o nosso primeiro ato, depois junto com Alfredo


Bittencourt, eu tomarei conta das coisas de forma justa, sem prejudicar
ninguém. — Felipe olhou para Ethan agora.

— Desde quando sabe sobre o meu pai? — O Bittencourt


perguntou confuso.

— Tayane me falou sobre ele, entrei em contato com o seu pai no


mesmo dia, Alfredo e Roger fizeram questão de vir até mim, os
territórios de Alejandro, o império que ele deixou atrai muitos inimigos,
unir forças com alguém que um de nós confia é o melhor, sozinho eu
perderia facilmente o poder.

Ethan entendeu que Felipe falou dele, o considera um deles, confia


nele, mas seus olhos estavam em Ane, ela estava mostrando ali, naquele
momento que confiava nele novamente, que estava disposta a deixar o
passado no passado.

Ele não esperou nem mais um segundo, a puxou para os braços,


segurando-a e saiu do escritório com ela sorrindo em seu pescoço.
O som dos risos dos que ele aprendeu a amar ficou para trás, ele
deixou com Felipe a missão de explicar cada detalhe do que pretendiam
fazer, agora a sua prioridade estava em seus braços.

— Você confia em mim novamente? — Ele perguntou querendo


uma confirmação vinda dos bonitos lábios dela.

— Sim, sem mágoas e receios. — Ela sorriu sincera e o beijou no


rosto.

Ethan subiu os degraus com ela no colo.

— Então eu te tornarei minha agora.

Ane concordou, era o que ela mais queria desde que ele voltou...
Capítulo 40

Para Tayane tudo era novo, Ethan fazia partes do corpo dela
arderem de desejo, partes essas que ela nunca imaginou possuir,
principalmente o quente que subia entre suas pernas, era a sensação mais
deliciosa que a jovem já havia sentido.

Ethan tinha esse poder sobre ela, com apenas um beijo ele
conseguia deixá-la desejosa, fogosa de uma maneira que ela nunca se
sentiu antes.

Quando chegaram à porta de seu quarto, os dois ainda estavam


agarrados um ao outro, ele a segurava firme no colo, não permitindo
distância nenhuma entre eles.

— Você tem certeza? — Ethan perguntou abrindo os olhos, as


pupilas dilatadas de desejo estavam quase escondendo o tom verde
bonito do seu olhar.

Ane não o respondeu, ela apenas voltou a beijá-lo com vontade,


enquanto tateava a porta, buscando a maçaneta.

Ethan a ajudou e quando já estavam lá dentro, presos em uma


privacidade deliciosa, ele a prensou na parede, daquela forma que amava
fazer, Ane o ajudou, facilitando tudo quando enlaçou mais firme as
pernas na cintura dele, o arranhando na nuca, pedindo dessa forma que
ele desse a ela tudo o que tinha.

O Bittencourt a devorou em um beijo, deixando a intimidade dos


dois unidas, se conhecendo, se acariciando, se preparando para o que
tanto queriam.

Ane gemeu quando sentiu os lábios dele deixarem a sua boca para
apreciar o seu pescoço e descer em direção aos seios delicados.

— Ethan... — sussurrou de olhos fechados, querendo que ele


apressasse aquele momento, querendo de uma vez deixar esse desejo
alucinante explodir.

O Bittencourt amou ouvir seu nome saindo em um tom


desesperado de desejo, isso fez ele ter vontade de avançar mesmo, tê-la
ali na parede como sempre imaginou e quis, mas era a primeira vez da
sua menina, ela merecia muito mais do que isso, merecia ser amada de
uma forma especial, não só na primeira vez e sim sempre.

Ele aproximou os lábios do decote dela, a regata que Ane usava


facilitava muito para ele, que apenas abaixou o tecido, expondo o sutiã
rosinha claro, ele abaixou a lingerie também e admirou o delicado seio,
acariciando e atiçando-a ainda mais ele falou:

— Eu quero tanto você, desde que a vi, mas quero saboreá-la


primeiro.

A mão que a segurava firme na bunda a apertou ali, mostrando que


não apressaria nada, seria como ele disse, prazeroso e especial para ela
principalmente.

Ethan a carregou até a cama, sentando Ane ali, a menina estava


embriagada de prazer, querendo evitar qualquer distância, mas ele se
afastou para retirar a regata e o sutiã dela, deixando a nua da cintura para
cima.

O tom rosado que o rosto dela tomou a deixou com um ar


angelical e Ethan soube naquele momento, que Tayane era a sua
perdição, ela sempre viria antes de tudo e de todos, sempre seria a sua
prioridade.

— Você é tão linda — sussurrou enquanto se aproximava,


deixando que Ane também se livrasse da camisa dele.

Ela o analisou atentamente e o tom rosado se intensificou.

— Você também é. — Tayane falou rouca, estava difícil se


concentrar em palavras.
Quando Ethan a deitou na cama e começou a beijá-la nos lábios,
enquanto as mãos acariciavam um seio de cada vez, ela fechou os olhos
e deixou aquela onda diferente a dominar, o queria tanto que doía.

As mãos trêmulas da jovem desceram para a calça dele,


desabotoou o botão com um pouquinho de dificuldade, mas conseguiu,
ela arriscou um olhar, Ethan era sexy demais, o botão aberto revelou o
início da Box branca dele, deixando-a salivando em antecedência, nunca
tinha feito aquilo e tão pouco chegado a tão longe, mas parecia tão certo
com ele.

Ele reparou na análise dela enquanto a beijava por toda a extensão


da barriga, quando chegou ao botão do short dela, Ethan se ajoelhou na
cama, olhando-a de uma forma única, seu olhar era pura veneração.

— Ane... — Ele começou, mas ela o cortou.

— Eu tenho certeza, você é o homem que eu amo. — Ela sorriu


quando Ethan começou a despi-la, puxando o tecido jeans do seu short
com a calcinha junto.

Ela estava totalmente exposta para ele, de uma forma que nunca
esteve antes.

Ethan a admirou ali, gravou cada detalhe daquela intimidade e


quando seus olhos se encontraram com os dela, demonstrando o amor
puro e verdadeiro ele sussurrou:

— Não quero que se assuste, prometo que vai gostar. — E então


ele a provou ali, sugando cada gota do seu prazer, tomando para si o que
já tinha decretado seu desde que colocou os olhos pela primeira vez.

Tayane se sobressaltou, assustada com aquela sensação diferente,


mas prazerosa demais, tão deliciosa que era impossível descrever. Ethan
a segurou firme no lugar, enquanto a provava, sugava, beijava e
mordiscava, era uma competição entre lábios, língua e dentes.

— Oh meu... — Ela não conseguiu pronunciar a frase, de repente


foi invadida por algo eletrizante, forte demais, desconhecido, prazeroso.

Ethan apreciou tudo, estava viciado no cheiro e gosto da sua


menina.

Ele ficou em pé vendo-a ter o seu primeiro clímax, se contorcendo


de olhos fechados, os dentes castigando o lábio inferior, as pequenas
mãos segurando os lençóis com força.

Ele se despiu e pegou o preservativo colocando-o, quando Ane


abriu os olhos e o olhou Ethan jurou nunca a deixar partir, nenhum outro
a teria assim, era unicamente dele aquela visão.

Ele voltou a se juntar a ela, dessa vez pronta para recebê-lo.

— Serei cuidadoso — sussurrou tão rouco, mas ela entendeu.

Quando os lábios dos dois se tocaram, Ane sentiu sua própria


essência misturada com o delicioso gosto dele.

Como prometido, ele a penetrou cuidadoso, pensando no prazer


dela em primeiro lugar.

A dor era incapaz de evitar, mas com o carinho todo que ele
dedicou a ela, Ane conseguiu suportar.

— Estou arruinado, mulher você me tem em suas mãos. — Ele


confessou olhando-a nos olhos.

Sorrindo ela teve certeza que nenhum outro seria tão perfeito para
torná-la realmente mulher.

∞∞∞

O dia amanheceu mais belo para Ethan, dessa vez Ane não estava
vestida em um pijama provocador, ela estava completamente nua,
deitada sobre ele, totalmente relaxada.
Ele não deixou de reparar no quão bela a moça é.

Mesmo não querendo, Ethan se levantou, tinha um plano em


mente, queria passar o dia todo com ela ali.

Com a ajuda de Nana, ele conseguiu levar o café para ela na cama.

Tayane foi desperta quando sentiu a barba dele roçar o seu


pescoço, era delicioso, mas o beijo que ele depositou no lugar tornou o
ato ainda melhor.

— Ei, acorda amor. — Ele sussurrou e sorriu quando notou o


arrepio que causou nela.

Ane se remexeu, estava adorando sentir o peso agradável dele em


cima dela, bem colado nela.

— Só me deixe aproveitar mais um pouco? — Ela pediu.

— Dormir para quê? Eu tenho algo melhor em mente. — O tom de


Ethan foi malicioso.

Ane virou o rosto para encarar o perfil dele, mas permaneceu de


bruços.

— Quem disse que eu estava falando sobre dormir? — perguntou


sorrindo sapeca enquanto levantava levemente a bunda o pressionando
de uma forma deliciosa.

Ethan suspirou fundo.

— É tentadora, mas tenho certeza que estará dolorida.

Ele se afastou, deixando assim que ela se virasse e o olhasse


confusa.

— Achei que era exatamente isso que queria... — Ela parou de


falar quando notou a bandeja com o café da manhã no criado mudo.
— Quero você, podemos ficar aqui o dia todo, mas não me
provoque, não quero que sinta dor.

Ela se sentou na cama e percebeu que ele tinha razão, estava


dolorida.

— Tudo bem. — Ela se levantou com cuidado e caminhou para o


banheiro.

Ethan permaneceu esperando por ela, quando Ane se juntou a ele,


os dois degustaram do belo café.

— Quero que me conte tudo o que planejou com Felipe. — Ele


começou a olhando intensamente, Ane jurou sentir um pouco de ciúme
ali.

— Nós somos apenas amigos. — Ela comentou risonha.

— Eu sei, mas o fato de ter sido pego de surpresa ontem não me


agradou. — Ele reclamou.

— Ethan, eu queria te fazer uma surpresa, queria mostrar que


confio em você.

— Eu sei, ainda não acredito que tenho você de volta totalmente.


Às vezes acredito que você é demais para mim. — Ele a acariciou no
rosto.

— Não pense assim, eu deixei o passado onde ele deve estar, no


passado. Agora eu quero estar aqui, te contar os meus planos e ter a sua
ajuda para realizá-los.

— Sempre poderá contar comigo, quero ser mais que o homem


que você ama, quero ser seu melhor amigo, seu parceiro, companheiro
para todos os momentos.

Ela sorriu assentindo.

— Eu também, por isso tomei uma decisão. — Ela comentou


firme.

— Qual? — perguntou começando a se preocupar.

— Com essa decisão eu acabei convencendo Felipe a ir atrás da


Paola, lembra quem é ela? — Ela o olhou nos olhos.

— Claro, a filha do legista.

— Sim, Alejandro matou o pai dela, a deixou desamparada com


uma filha pequena, convenci Felipe de ir até lá oferecer um emprego.

Ethan franziu o cenho.

— Natália e Xavier irão para Connecticut, com isso Felipe decidiu


tornar Liam o seu braço direito aqui, a ligação entre o seu pai e ele. Eu...
Há um tempo atrás eu escolhi a universidade, não será na do México,
sozinho Tito não pode organizar tudo, por isso dei a ideia de Paola.

— Por que ela? — Ethan optou por perguntar isso, a escolha da


universidade dela ainda era algo que ele tinha medo de descobrir. Não
gostava da ideia de Ane ficar longe dele. Como um legítimo Bittencourt,
o seu sentimento de posse falava mais alto.

— Ela foi cruel o usando na vingança, mas eu notei que Tito sente
algo, não sei explicar, ele a defende tão intensamente. Sei também que
Paola será uma pessoa que se dedicará ao cargo, ela pesquisou a fundo
sobre o meu pai, sabe o quanto ele prejudicou pessoas.

Ane engoliu em seco e Ethan a puxou para os braços.

— É um ato muito belo o que estão começando, mas quem garante


que ela é confiável? — perguntou enquanto afagava os cabelos dela.

— Como eu não estarei aqui, Felipe se encarregou de ficar de olho


nela, mas eu sinto que ela será uma grande conquista — Ane o olhou
nos olhos — não sei explicar, mas tenho uma boa sensação em relação a
ela.
— Acha que Felipe nutre algo por ela? — Ethan perguntou.

— Acredito que sim.

— Então tomara que você esteja certa em relação a ela, seria bom
vê-lo com alguém. — Ele comentou sincero.

Ane se aproximou dos lábios de Ethan e o beijou.

— É o que eu mais desejo, quero que Tito encontre alguém que o


ame de verdade, quero ver ele feliz assim como nós.

Essa era a verdade, Tayane ficaria feliz por ele, sempre o amou,
mas é de uma forma diferente da que ama Ethan, agora ela sabia que
Felipe sempre seria dono de uma parte dela, sempre o amaria como parte
da família, como um irmão...
Capítulo 41

Não tinha mais como adiar a partida de Ethan, a semana que


Ducan conseguiu postergar já havia passado.

Ele tinha acabado de arrumar as suas coisas quando desceu para o


escritório, Tayane estava lá, falando ao celular.

— Já está tudo organizado para a minha ida? — Ela perguntou. —


Sim tenho certeza da minha decisão.

Quando Ane se virou e viu Ethan encostado no batente de braços


cruzados e ouvindo a conversa, ela finalizou a ligação rapidamente.

— Já está indo? — perguntou fingindo tristeza.

Ethan assentiu descruzando os braços e caminhando até ela.

— Eu sentirei tanto a sua falta — contou enquanto a apertava em


um delicioso abraço.

— Eu também sentirei a sua — ela o encarou — por que não


perguntou qual foi a minha escolha?

O Bittencourt soube que era em relação à universidade que ela


perguntava.

— Estou esperando você me contar, mas tenho a minha suspeita.


— Ethan a olhou sério, tendo quase certeza da escolha dela.

— Qual? — Ane arqueou a sobrancelha, sabia qual era afinal


Megan a contou.

Ainda não tinha conhecido Megan pessoalmente, mas as cunhadas


e a sogra fizeram questão de entrar em contato com ela para perguntar o
que Ethan não teve coragem.
— Yale com a Natália. — Ele comentou com muita certeza.

Tayane abaixou a cabeça para encarar o chão, se o olhasse ele


perceberia e estragaria todo o plano que fora bem organizado por uma
semana inteira.

— Por que acha que é essa? — Ela mordeu o lábio levemente, se


esforçando para não sorrir quando ele a fez encará-lo.

— Porque você está triste com a minha partida, se fosse para Nova
Iorque me contaria, estaria pegando esse voo comigo.

Ela assentiu, a pior parte do plano tinha chegado, mentir para ele.

— Sim, meu sonho sempre foi ir com a Naty para Yale, sinto
muito. — Ela abaixou o olhar de novo, era péssima mentindo.

— Não se desculpe por correr atrás de algo que você sonha, não
vou te perder por isso, farei questão de passar os meus fins de semana
livres e feriados com você. — Ele foi totalmente sincero, nunca a faria
desistir de algo apenas por querê-la por perto.

— Eu te amo Ethan, por ser assim tão maravilhoso, tenho certeza


que os anos passarão rápidos, não iremos nem perceber. — Ela falou
confiante.

Ele sabia que a cada segundo longe dela seria uma tortura, mas
mesmo assim sorriu e a beijou.

Ane sentiu o desespero no beijo e quis tanto contar a verdade, mas


não podia, tinha acabado de conquistar a sogra e as três cunhadas, não
deixaria a família Bittencourt nas mãos.

— Eu tenho que ir, meu voo sai em uma hora. — Ele encostou a
testa na dela e fechou os olhos, inalando profundamente aquele aroma
que só a sua menina tem.

Suspirando drasticamente ela falou:


— Será horrível ficar sem você.

— Eu sei, me acostumei a dormir com você. — Ele concordou, os


olhos verdes tão preocupados e tristonhos.

— Eu também, você me deixou mal-acostumada Ethan


Bittencourt. — Ela o empurrou no ombro, querendo que ele sorrisse, e
conseguiu.

— Essa sempre foi a minha intenção. — O brilho tristonho foi


substituído por um malicioso.

— Claramente você queria que eu me viciasse.

— Consegui? — Ele perguntou arqueando as sobrancelhas que já


estavam voltando ao tom natural loiro mais claro.

— Com toda a certeza. — Sorrindo ela o enlaçou no pescoço,


acariciando os cabelos que estavam um pouco maiores na nuca.

— Você fica me provocando com esse sorriso, se tivéssemos mais


tempo eu a levaria para o quarto agora. — Ele sussurrou no ouvido dela,
causando-lhe arrepios.

Tayane amava as sensações que Ethan causava nela, com apenas


um toque, uma palavra e um beijo, ele despertava a mulher fogosa que
habita o seu interior.

— Mas não temos tempo, ou você perderá o seu avião. — Ela


cortou o clima, mas faria questão de tê-lo para ela a noite toda, só que
Ethan ainda não sabia disso e o brilho tristonho voltou para o olhar
verde bonito.

Tony já estava esperando do lado de fora da casa, todos se


despediram de Ane mais cedo, sem Ethan notar e agora ele era o alvo
das despedidas.

Nana fez chantagem emocional falando do quanto é bom o seu


bolo de cenoura com cobertura de chocolate e que ele deveria voltar
mais vezes que ela faria questão de fazer, Tony apenas o abraçou e deu
dois tapinhas em suas costas, Liam, Xavier e Naty também foram
discretos, mas Felipe o olhou por um tempo antes de dizer:

— Foi bom te conhecer Bittencourt.

— Não é como se eu fosse embora para sempre Fernandez. —


Ethan devolveu com a mesma análise.

Estava deixando claro que mesmo longe, Ane ainda era dele e Tito
não deveria tocar.

Felipe olhou para Tayane com um sorriso convencido, aquele


sorriso que fazia a mão de Ethan arder querendo arrancar com um soco.

Tito fazia de propósito, queria que Ethan pensasse algo, quando na


verdade era com ele que Tayane falava ao celular e confirmava que tudo
estava pronto para a partida dela para Nova Iorque.

O casal entrou no carro e Tony se encarregou de levá-los ao


aeroporto.

Ane fez questão de esperar Ethan sumir de seu campo de visão,


depois de uma despedida dramática, onde ela conseguiu fingir estar
triste com perfeição.

Assim que ele se foi, Natália, Felipe e Xavier apareceram com as


malas de Tayane.

— Tem certeza que dará tempo? — Naty perguntou preocupada.

— Acho que sim, Matthew se encarregou de buscar Ethan no


aeroporto e ele só voltará para casa quando Megan der o sinal verde.

Com uma despedida rápida ela se encaminhou para o jato da


família Bittencourt.

Se tudo desse certo, Ethan teria uma bela surpresa.


∞∞∞

Porra Matthew cadê você? — Ethan mandou a terceira


mensagem, estava quase pegando um táxi quando viu o Audi preto do
irmão estacionar na frente do aeroporto internacional John F. Kennedy.

— Por que demorou tanto? — Ele perguntou depois que colocou a


bagagem no porta malas do veículo e entrou.

— Eu estava ocupado, desculpa. — Matt mentiu, estava


estacionado um pouco mais afastado há uma hora, apenas esperando a
confirmação de Megan.

Enquanto o mais novo dirigia, com uma lentidão que não era seu
habitual no trânsito, Ethan falou:

— Eu deveria ter comprado uma aliança para ela, minha namorada


vai para uma universidade cheia de caras da idade dela e eu nem dei uma
aliança. — Ele reclamou alto demais e Matt riu.

— Que erro, vi as fotos ela é muito gata, você vacilou.

Ethan encarou o irmão mais irritado ainda, desde que deixou o


México, desde que se afastou dela, o seu humor ficou péssimo.

— Essas não eram bem as palavras que eu queria ouvir.

Matthew deixou de olhar a rua por um instante e o encarou.

— Tudo bem, se ela te amar de verdade, não vai ser uma aliança
no dedo que a afastará dos caras, ela mesma fará isso.

Ethan respirou fundo com as palavras do irmão caçula.

Passou dias maravilhosos com Tayane e se esqueceu


completamente de presenteá-la com um novo anel de compromisso, o
que era dela e Alex eles se livraram, deixando no passado todas as
mentiras, mas não foram em momento algum comprar um par novo.

O caminho até o condomínio levou mais tempo do que o normal e


isso deixou Ethan com o humor ainda pior.

Quando Matthew mandou ele deixar as malas e apenas entrar,


Ethan não teimou, ele só queria sua privacidade, seu celular e ouvir a
voz dela novamente.

Ainda era o começo da tarde em Nova Iorque quando ele abriu a


porta e ouviu um sonoro, “surpresa”.

Todos da sua família estavam ali até mesmo Miguel, Ethan soltou
um riso completamente surpreso, mas paralisou quando a viu ali,
próxima de Angélica.

Ane estava atenta, vendo cada reação dele. Estava no meio da


família Bittencourt e parecia bem à vontade.

— O que está fazendo aqui? — Ele perguntou quando ela deu


passos decididos até ele, que a encontrou no meio da sala de estar.

— Minha escolha sempre será você mi amor. — Ela comentou


emocionada.

Os dois sabiam que todos estavam olhando-os, mas não ligavam.


Ethan só queria pegar ela nos braços e provar o quão especial ela é, e foi
exatamente isso que ele fez, a segurou com carinho e a beijou.

Angélica olhou para o marido emocionada, seu apreço por Tayane


foi instantâneo, assim como foi com Tay e Mel, sabia que os três filhos
estavam bem encaminhados na vida, que como ela e o marido, os três
tinham encontrado o verdadeiro amor, agora só faltava os caçulas.

Matthew observava a cena em silêncio, era nítido o sentimento


bonito entre os dois, e Matt quis entender o que ele fez de errado no
passado para não ganhar o mesmo. Por que ela não conseguiu amá-lo
também?
— Ele está feliz. — Megan comentou cutucando o caçula dos
homens Bittencourt.

— Sim ele está — Matthew desviou o olhar para a irmã sorrindo e


a abraçou, Megan estava linda, a barriga de quase cinco meses de
gestação estava começando a aparecer e ela fazia questão de usar vestido
e ressaltar com um laço ou cinto, ficando encantadora.

Quando Ane chegou, sem conhecer ninguém ali, Angélica foi a


primeira que a cumprimentou, seguida de Megan, Tayane notou a
gestação da moça e a parabenizou, depois veio Melanie, sua barriga já
estava bem mais avantajada com oito meses, foi conversando com as
três mulheres que Ane descobriu que dois novos Bittencourt estão a
caminho, Dylan e Henrique, e que a menininha Olívia já estava com
quase dois meses de vida.

Tayane viu Olívia assim que entrou, Tayla estava amamentando a


bebê na sala de estar, com o filho sentado ao lado, com olhinhos
protetores.

A simpatia das mulheres fez Ane se sentir confortável, elas não


tinham muito tempo para conversas, então Megan levou Ane para o
quarto de Ethan para ela tomar um banho rápido e só quando tudo estava
organizado que ele chegou.

— Você conseguiu me enganar. — Ethan comentou quando


estavam um pouco mais afastados de todos.

— Me desculpe, eu sou péssima com mentiras. — Ela ruborizou e


ele a segurou no queixo, querendo levá-la logo dali.

— Eu adorei. Saber que você estará aqui comigo todos os dias... É


inacreditável.

Ane o cariciou no rosto.

— O plano foi todo da Megan, ela me ligou e perguntou para qual


universidade eu iria, respondi que era NYU e ela me contou tudo o que
já tinha planejado, com a ajuda da sua mãe, da Tay e da Mel eu
consegui.

— Até o meu pai mentiu para mim. — Ethan olhou de relance


para o pai, que estava com Oly no colo. — Ele disse que o Christopher
precisaria fazer uma viagem e eu não pude usar o jato. Nossa vocês me
enganaram direitinho. — Ele negou com a cabeça.

— Não a culpe, foi tudo ideia minha. — Megan o enlaçou na


cintura e olhou para Ane. — Você ainda quer segurar a Oly? Ela está
bem acordada agora.

Tayane assentiu, ela não sabia que era apaixonada por bebês até
segurar Olívia pela primeira vez, a menininha a encarou com os imensos
olhos azuis e apertou o dedo da nova tia.

— Meu Deus, ela é tão linda — falou para Tayla.

— Sim ela é. — A cunhada concordou amorosa.

Matthew se aproximou de Ethan que olhava a cena afastado das


mulheres e falou:

— Agora entendo a razão do seu desespero, ela é um encanto


pessoalmente.

Ethan encarou o irmão com a expressão mais feia que já conseguiu


fazer.

— Ei eu só comentei, ela é mesmo. — Matt começou a rir. Ele não


entendia a razão dos irmãos serem tão ciumentos.

— A sua vez vai chegar Matthew e nós três estaremos aqui para te
lembrar disso. — Christopher entrou no meio da conversa e olhou para o
filho, Andrew e July estavam sentados no tapete da sala de estar,
tentando montar um enorme quebra-cabeça com a ajuda dos avós.

— Parabéns Ethan ela é muito linda mesmo e dá para notar que ela
te ama. — Elliot falou olhando em direção as mulheres.
— Obrigado. — Ele comentou se recordando de quando viu os
irmãos felizes com suas mulheres e invejou aquilo, agora ele tem a dele
e a única coisa que ele quer é colocar o seu sobrenome nela.

Ane estava encantada com Oly, nunca tinha visto uma bebê tão
pequenina e quando chegara quase não teve tempo de curtir os novos
sobrinhos, mas prometeu recompensá-los mais tarde.

Andrew e July são sapecas demais, dão vida a cada momento em


família, Tayane estava se acostumando com o quão grande a família
Bittencourt é.

∞∞∞

O dia foi tão agradável que Ane não notou a hora passar, estava se
divertindo tanto.

— Está cansada? — Ethan perguntou quando se aproximou dela.

— Não e você?

— Também não, mas quero ficar sozinho com você. — Ele foi
sincero.

— Eu também, tenho algo para te dar. — Ela ruborizou.

— O quê? — Ele perguntou curioso.

— Quando estivermos sozinhos eu te entrego. — Ela prometeu e


ele assentiu ansioso.

Todos já tinham se despedido e quando ele fez o mesmo Ane


estranhou.

— Achei que ficaríamos aqui.


— Não, quero te levar para o meu apartamento.

Ela concordou e prestou atenção no caminho, afinal moraria


naquela cidade agora e frequentaria o apartamento dele sempre que
possível, então precisava aprender o caminho entre os dormitórios da
universidade e o apartamento dele.

— Você mora aqui há muito tempo? — Ela perguntou quando


entraram no apartamento.

— Sim, comprei quando completei a maior idade.

Ela assentiu, sentindo ciúmes apenas em imaginar Sarah ali.


Nunca tinha tocado no nome dela, nem mesmo comentado sobre o
ocorrido no cinema, mas Ethan percebeu que ela ficou estranha.

— O que foi?

— Não é nada. — Ela fez um gesto de pouco caso e começou a


analisar os retratos.

— Te conheço o suficiente para saber que é algo sim. — Ele


teimou.

— Eu sei sobre a Sarah. — Ela o olhou por um segundo e logo


voltou a olhar os retratos, traçando com o dedo os detalhes nos quadros.

Ethan temeu em relação a esse assunto.

— Ane... — Ele começou.

— Eu sei que ela é a sua ex, que foi ela quem ligou no dia que
estávamos no cinema, mas isso já está no passado.

— Sim, ela é uma ex, está no passado, isso não importa mais para
mim. O que está te incomodando?

— Saber que ela esteve aqui com você me incomoda. — Ela


contou.
Ethan começou a rir.

— Você está com ciúme por algo que nem aconteceu.

— Ela nunca esteve aqui?

— Sarah e eu tínhamos um relacionamento aberto e complicado,


ela nunca pisou aqui.

Tayane o olhou desconfiada.

— Sei.

— É a verdade, ela mais viajava do que ficava na cidade.

— Eu vi a foto de vocês no jantar de noivado da Tayla e do


Christopher.

— Como conseguiu achar essa foto? Ducan tirou qualquer imagem


minha das redes sociais quando aceitei a missão.

— Você estava de costas, mas eu te reconheci.

Sem aguentar mais aquela distância entre os dois, ele se


aproximou.

— Sério que vamos discutir por causa dela? — Ele perguntou


segurando o rosto de Ane.

— Não estamos discutindo, eu só quero ser sincera antes de te dar


uma coisa.

Sarah é um passado dele que Ane não pode mudar, assim como
Felipe é um passado dela, se Ethan a ama o suficiente para conviver com
Felipe, Tayane provará que o ama o suficiente também para esquecer de
vez Sarah.

— O que é? — Ele perguntou quando a viu caminhar até a bolsa,


Ane pegou a pequena caixinha e entregou para ele.
— Abra. — Sorrindo ele abriu e viu o par de alianças que
brilhavam. — É minha e sua, sem nenhum passado entre nós. — Ela
falou sentindo as lágrimas encherem seus olhos.

— Sem nenhum passado entre nós. — Ele repetiu enquanto


colocava o anel no dedo dela.

Ane também colocou no dele e olhando para o céu noturno através


da varanda do apartamento, ela agradeceu a Alejandro. Ele fez coisas
ruins demais, mas foi o responsável pela vinda de Ethan na vida dela.

— De todas as minhas escolhas, você sempre será a melhor...


Epílogo 1
Bônus especial

Felipe olhou uma última vez para a casa que passou boa parte da
sua vida, não se arrependendo por ir embora definitivamente dessa vez.

Todos os funcionários que moravam na mansão Herrera já haviam


se mudado, eles tinham acabado de chegar na nova casa que Tayane
comprou, a propriedade era para estabelecer o novo projeto deles, o
projeto ao qual visa dar apoio às pessoas que Alejandro prejudicou, Tito
deixou Nana e Tony responsáveis pela casa, pois aquelas duas pessoas
que o criou, ele faria questão de mantê-las ao lado para sempre.

Mesmo Tayane batendo o pé, o casal não quis deixar o México,


seu país de origem, lugar ao qual amam morar e não restou outra
alternativa para ela a não ser ir para Nova Iorque sem eles e construir
sua própria felicidade.

Felipe notou a casa sumir pelo retrovisor, os novos donos a


transformaria em um clube, provavelmente uma boate, mas o fim que a
propriedade tomaria era algo que ele não se preocupava.

A questão que o assombrou por dias foi a sugestão de Tayane.

— Busque Paola, tenho certeza que a presença dela te fará bem. —


A doce voz de Ane voltou para a mente dele com tudo.

Natália e Xavier já tinham partido, assim como Tayane e Ethan, já


fazia três meses, as meninas já estavam frequentando as aulas, ficariam
fora por anos e ele se sentiu só.

Já era formado, estava pronto para administrar os negócios,


Alfredo Bittencourt estava ajudando-o muito, mas Ane teimava sobre
Paola, sempre que ligava ela perguntava quando ele a buscaria.
Sem pensar duas vezes Felipe comprou a sua passagem para
Guadalajara, afinal Paola também foi prejudicada por Alejandro e Tito
jurou que esse era o único motivo que o levaria até ela.

∞∞∞

Era comecinho da noite quando ele tocou a campainha do


apartamento, o mesmo ao qual estivera um tempo atrás, em busca do
assassino dos seus pais.

Dessa vez quem abriu a porta foi Paola, a expressão cansada o


preocupou.

— Oi Paola — cumprimentou analisando-a por completa.

— Felipe? O que faz aqui? — Ela segurou as amarras do roupão e


o amarrou rapidamente.

A mulher era tentadora, isso Tito se recordava bem, mas por que
ela teimava em abrir a porta vestida daquele jeito?

Ele é um homem ativo, que está afastado dos prazeres a um bom


tempo, por isso foi impossível evitar a sua reação a ela.

— Eu vim — ele tentou formular as palavras e focar nos olhos


dela e não nas pernas — para falar com você. Posso entrar?

Ela segurou um pouco mais forte a porta, preocupada.

— Olha não acho que seja um bom momento. — Ela olhou para
dentro por um instante e depois voltou a olhá-lo.

— A Ximena está? — Ele perguntou querendo saber o que tinha


ali que o impedia de entrar.

— Não, ela foi para a festa de uma coleguinha.


— Então você está acompanhada? — Ele cruzou os braços, por
algum motivo não tinha gostado daquilo.

Paola engoliu em seco e olhou para ele decidida.

— Olha eu não queria ter te envolvido naquilo tudo, me arrependo


eu juro, mas não quero o seu ódio, não quero que venha aqui e acabe
prejudicando a minha filha. — Ela falou firme, saindo do apartamento e
fechando a porta.

Ele se aproximou, de todos os sentimentos, medo é o último que


ele quer que ela sinta em relação a ele.

— Eu nunca te prejudicaria e nem a Ximena, vim por outra razão.


— Ele a tocou no queixo, fazendo-a encará-lo.

Paola só viu sinceridade no olhar escuro dele e por alguma razão


desconhecida, ela resolveu confiar.

— Sobre o que quer conversar? — perguntou não se afastando do


toque, a sensação que sentia em relação a ele era boa.

— Podemos entrar? — Ele voltou a pedir.

— Não, me fale aqui mesmo.

— É um assunto delicado.

Paola engoliu em seco, indecisa.

— O que tem ali que eu não posso ver? — Felipe queria entrar e
conferir por si só, mas nunca faria isso, não quando o que ele quer é
conquistar a confiança dela.

— Nada, só está uma bagunça de papéis. — Ela comentou abrindo


a porta e o deixando passar, mas não foi para a cozinha e sim para a
pequena sala.

Paola se acomodou no sofá e ele se sentou de frente para ela.


— Eu vim para te oferecer um emprego. — Felipe foi direto,
percebendo o incomodo dela.

Mais atenta do que antes, Paola se acomodou no sofá, olhando-o


interessada.

— Um emprego?

— Sim, uma amiga minha e eu começamos um novo projeto, sua


ajuda nele será bem-vinda.

— Olha... Eu não acho que seja uma boa ideia.

— Por que não? — Ele a olhou tão intensamente nos olhos que foi
ela quem desviou o olhar.

— Porque eu não estou precisando.

Ele assentiu, mas não acreditou.

— Você não me dará nem uma chance? — Tito percebeu que a


pergunta pareceu outra e quando ela sorriu ele quis se aproximar.

Paola se levantou, o olhar dele sobre ela causava coisas que ela
não gostava de sentir.

— Felipe, eu... Eu não posso aceitar.

— É um bom emprego, com um excelente salário. — Ele garantiu.

— Não, depois do que eu fiz, você levou um tiro, seria errado da


minha parte aceitar uma ajuda sua.

Ele se levantou também.

— Eu estou melhor, não se culpe com isso. Pode conferir para ter
certeza. — Quando ela o olhou, ele levantou a camisa, mostrando o
ferimento já cicatrizado.
Paola engoliu em seco, os olhares dele para ela, o sorriso
despreocupado e aquela atração maldita que existe desde a primeira vez
que o viu, a fez estremecer.

Suspirando fundo ela se virou de costas novamente.

Estava tão desestabilizada, preocupada, cansada de segurar


sozinha o peso do mundo nas costas.

— Eu não posso aceitar. — Ela falou orgulhosa.

— Pode sim, você poderá colocar a Ximena em uma das melhores


escolas na cidade do México, terá onde morar, um convênio médico, não
é isso que uma mãe quer? Sempre dar o melhor a seu filho? — Ele
perguntou próximo.

Quando Paola se virou, com tudo, pronta para negar mesmo


querendo muito dizer sim, os dois se esbarraram.

Ele a segurou com firmeza na cintura, o roupão dela escorregou no


ombro, deixando a pele negra e hidratada a mostra.

Felipe mordeu levemente o lábio inferior e quando Paola fez o


mesmo, ele não se segurou mais.

Queria provar aqueles lábios desde que a viu pela primeira vez.

A puxou para si, colando o corpo dos dois e a beijou com vontade,
quando ela o correspondeu na mesma intensidade Felipe percebeu que
não seria mais capaz de parar.

O sofá de três lugares parecia pequeno para os dois, mas foi ali
mesmo que ela o incentivou a ir, o beijo quente resultou na camisa dele
e no roupão dela arrancados e a maldita camisola fez Felipe
enlouquecer.

— Você não deveria abrir a porta vestindo esse pedaço de pano.


— Ele falou enquanto ela jogava o roupão para o lado.
— Eu percebi que gostou demais. — Ela sabia provocar, afinal
também é uma mulher ativa, afastada a muito tempo dos prazeres
carnais e ter aquele homem tão lindo a querendo, fez Paola se acender.

Felipe voltou a devorá-la em um beijo, enfiando a mão por dentro


da camisola e tocando-a com prazer, Paola fez o mesmo, quis explorá-
lo, conhecer aquele corpo que ela se recordava bem do quão belo era.

Mas quando os dedos tocaram levemente o ferimento dele ela


paralisou no seu colo.

Ele a segurava firme na nuca, puxando um pouco dos cabelos


cacheados e beijava-lhe o pescoço, mas também parou.

— O que foi? — perguntou com a voz falha.

— Eu... Nós... — Ela olhou para as pernas descobertas, a camisola


subiu totalmente quando ele a sentou em seu colo.

— O quê? — Tito perguntou novamente, estava quase


enlouquecendo querendo-a e não soube como ela conseguiu parar na
melhor parte.

— Não podemos. — Paola se levantou e arrumou a roupa.

— Por que não podemos? — perguntou pouco se preocupando


com o quanto desesperado pareceu.

Ela engoliu em seco e o olhou nos olhos.

— Eu costumo destruir tudo que se aproxima de mim, quase fiz


isso com você, não quero que se repita.

Ele notou quando ela tremeu levemente. Não sabia sobre quem ela
estava falando, mas detestou isso.

— Não vai se repetir. — Felipe passou as duas mãos no rosto, em


busca de controle e se levantou.
Paola assentiu, achando que era em relação aos dois, mas estava
tão enganada.

— Será que você pode buscar água para mim? — pediu.

— Claro. — Ela virou as costas ainda trêmula, começando a se


arrepender de ter parado.

“Não vai se repetir”, pareceu uma promessa e ela detestou aquilo.

Quando pegou o copo no alto do armário e o serviu de água, ela


percebeu que ele a seguiu e que lia cada papel na mesa.

Pela segunda vez ela paralisou totalmente.

— Por isso não queria que eu entrasse? — Ele levantou a ordem


de despejo enquanto perguntava sério.

Ela engoliu em seco e nada disse.

— Você não está precisando do emprego? — Ele perguntou quase


irônico.

— Felipe, eu não posso aceitar depois de tudo o que fiz.

— E quem liga para o que você fez? — Ele perguntou se irritando.

— Eu ligo, tenho certeza que essa sua amiga do projeto também


liga, que a mulher que você ama e perdeu por minha culpa também liga,
muitas pessoas ligam. — Ela se irritou também e tomou o papel da mão
dele.

— Caramba Paola e você pretende morar aonde? Porque está bem


claro para mim que terá que sair daqui em cinco dias.

— Droga eu sei me cuidar, não preciso que cuidem de mim. — Ela


reclamou não querendo dar o braço a torcer.

— A questão aqui é que tem uma pessoa que precisa de você,


pense na Ximena e deixe de ser teimosa.

Ela quis chorar, mesmo tentando ser forte ela não conseguiu e
deixou as lágrimas escorrerem.

— Eu penso nela a cada segundo, o que será dela? Eu estou


desempregada, com o aluguel atrasado há quatro meses, com contas se
acumulando. Tudo o que eu faço é pensar nela.

Quando Felipe notou que tinha pegado pesado demais, ele se


aproximou e a envolveu em um abraço.

— Droga Paola, eu posso resolver os seus problemas, só não seja


orgulhosa mulher.

Ela o analisou novamente, ainda estava sem a camisa, na sua


pequena cozinha, a abraçando tão protetoramente que ela se sentiu
acolhida de uma forma que a muito tempo não sentia.

— Você nem ao menos me conhece, por que quer me ajudar? —


Ela levantou o olhar, ainda nos braços dele.

— E o que tem? Você também não me conhece e ainda assim me


beijou desesperadamente. — Ele sorriu, amando ver aquele brilho alegre
nos olhos dela.

— Você quem chegou aqui me devorando com o olhar. — Ela


devolveu convencida.

— Eu sou inocente, não tenho culpa de você abrir a porta gostosa


pra caralho.

O clima entre os dois voltou a esquentar, ela assentiu percebendo


que ele queria muito a permissão dela.

Quando Felipe a segurou firme nos braços e a colocou sentada no


balcão da cozinha, Paola soube que estava perdida, aquele homem sabia
muito bem satisfazer uma mulher.
— Achei que não se repetiria. — Ela provocou.

— Falei em relação a me machucar, nunca falaria isso em relação


a te tocar.

Ele voltou a prová-la e dessa vez foi rápido em despi-la, afinal a


mulher tem um autocontrole invejável e poderia se afastar a qualquer
momento, mas ela não fez isso, aproveitou cada segundo daquele
homem.

— Então você vai aceitar o emprego? — Felipe perguntou


enquanto os dois tentavam normalizar a respiração. — Por Ximena,
aceite por ela.

Paola suspirou pesadamente, tinha acabado de sair com seu futuro


chefe.

— Tudo bem, desde que eu não tenha que morar com você —
impôs.

Ele a olhou divertido e enquanto acariciava a coxa direita dela, ele


respondeu:

— Não seria tão ruim, poderíamos aproveitar bastante — sorriu


provocativo.

Paola se afastou dele, querendo descer do balcão, mas ele não


deixou, amou provar o gosto daquela mulher e queria mais.

— Não irei morar com você. Não quero depender de homem


nenhum. — Ela comentou decidida.

— Tudo bem, não vai morar comigo, temos uma casa para os
funcionários do projeto, você e Ximena serão bem-vindas. — Ele
respondeu deitando-a novamente no mármore frio.

— O que está fazendo? — Ela levantou a cabeça e o olhou


divertida.
— Quero você de novo, apenas relaxe...
Epílogo 2
Tayane narrando...

Olhei para o público ali presente e sorri quando encontrei os olhos


verdes dele em mim. Ethan me olha tão orgulhoso, seu sorriso
demonstra o quanto está feliz por mim. Já Nana ao lado dele me olha
com um amor de mãe e as lágrimas que rolam pelo seu rosto
demonstram para mim que eu sou o seu orgulho. Tony está ao lado da
esposa me encarando com admiração, eu consegui me formar em
medicina veterinária, e estou nesse momento recebendo o meu diploma.
Natália, Xavier, Felipe e Paola estão próximos, todos me olhando com
alegria. Todas as pessoas que sempre se importaram comigo estão
presentes, comemorando a minha conquista.

Escolhi justamente a medicina veterinária porque quando eu era


criança Alejandro nunca me permitiu ter um animal de estimação,
alegava ser sujo e causador de bagunça, mas o meu amor por eles nunca
se foi, cresci, me tornei independente e ninguém nesse mundo me
afastará dos meus sonhos.

— Parabéns senhorita Herrera. — O diretor da universidade falou


e me entregou o diploma.

Sorri para ele e olhei para a câmera, a moça tirou a foto e eu desci
os pequenos degraus.

Ethan já estava me esperando, com um sorriso enorme no rosto.

— Parabéns meu amor — falou e me pegou no colo, me rodando


no ar e me beijando.

— Obrigada — agradeci passando minha mão em sua barba. —


Eu amo quando você deixa a barba crescer — falei o olhando nos olhos,
ele já estava com o tom natural de seus fios, e comparado ao Alex, o
segurança que entrou na minha vida de uma forma estranha, Ethan era
muito mais lindo.

— Bom saber. — Ele sorriu e me abraçou por trás.

Quando o restante do pessoal se aproximou, eu tive que me afastar


do meu noivo para receber a felicitação de cada um. Ethan me pediu em
casamento quando faltava um ano para concluir os meus estudos, assim
eu teria tempo de terminar e enfim me tornar uma Bittencourt.

— Estou tão orgulhosa de você minha filha. — Nana foi a


primeira a deixar o seu afeto, seguida de Tony que também garantiu
estar orgulhoso.

— Amiga, foi tão lindo. — Naty pulou no meu colo, quase


derrubando nós duas no chão, mas valeu cada segundo, eu a amo como
minha irmã e ter ela aqui é muito importante.

Xavier foi mais contido e apenas me abraçou, Paola sorriu feliz


por mim e também me felicitou.

No início ela me evitava e tudo piorou quando ela descobriu que


eu era a garota que Felipe amava quando estava em busca de vingança,
mas consegui me aproximar com o tempo, adorei ela desde o início e me
apaixonei pela pequena Ximena.

Já o caso entre Natália e Paola foi mais intenso, minha amiga


brigou muito com ela, foi contra o relacionamento de Felipe e Paola,
alegando a crueldade dela em relação à vingança, mas depois de todos
baterem o pé e alegarem que quem escolhe é o Felipe e que ele a ama,
Natália se rendeu e hoje adora a cunhada e a sobrinha, porque para
Ximena Felipe se tornou seu pai e ele a ama como uma filha também.

— Estou muito feliz por você baixinha. — Tito me abraçou e eu o


apertei forte, sabendo que nunca ninguém nos separaria.

— Obrigada, também estou feliz por você — sorri em meio às


lágrimas, estava tão emocionada que chorava atoa.
Meu dia está sendo incrível e para ser perfeito só faltava ter a
minha mãe ao meu lado, mas sei que isso é impossível, por isso olhei
para o céu e sorri, se ela estiver me olhando de algum lugar, eu sei que
está orgulhosa.

Estar em Nova Iorque e me mudar de vez para cá foi o meu maior


medo, mas com o passar desses cinco anos eu me acostumei, ter a
presença e o apoio de Ethan e sua família me ajudou muito.

Comemoramos a minha formação em um almoço em família,


todos estavam presentes, as crianças sempre dando vida ao local.

Ethan enlaçou a minha cintura e sussurrou:

— Você sabe que agora já podemos, não é? — Durante toda essa


semana ele ficou no meu pé em relação a isso.

— Eu sei que está ansioso — caminhei até a minha bolsa e peguei


o papel.

— E você não? — Ele perguntou preocupado.

Entreguei o papel para ele.

— Leia.

Ethan leu atento e amei vê-lo sorrir.

— Você marcou? — Ele olhou de mim para o papel de novo.

— Sim, gostou da data? — perguntei preocupada, afinal era algo


que combinamos de fazer juntos, mas eu quis surpreendê-lo.

— É um dia perfeito.

∞∞∞
Seis meses depois...
A cerimonialista me chamou e eu me admirei no espelho uma
última vez.

O vestido e a maquiagem ficaram perfeitos em mim.

O casamento será bem casual, no jardim da nossa nova casa em


Nova Iorque, o dia amanheceu ensolarado, tornando tudo ainda mais
belo.

Ao som da marcha nupcial eu entrei, vendo Ethan me esperando,


todo o nosso amor estava refletido em seus olhos verdes.

— Cuida bem da minha menina. — Tony me entregou a ele.

— Eu cuidarei — prometeu e me beijou nos lábios, logo após


acariciou levemente a minha barriga de seis meses já evidente. —
Cuidarei das duas com a minha própria vida...
Agradecimentos

Aos leitores que estão acompanhando a série, que aceitaram A


Escolha tão bem quanto os anteriores e que sempre me apoiam e
incentivam cada vez mais.

Aos meus dois amores, Ashley, minha filha que mesmo sem saber
me ajuda muito se comportando para a mamãe poder escrever, e David
por todos os dias interagir comigo sobre os livros, me apoiar e por dar
dicas maravilhosas quando fico “em branco”. Ao meu pai, que é a
melhor pessoa do mundo para ser minha figura paterna, que me ama e
me apoia independente de qualquer coisa.

Agradeço também as minhas amigas, Tayane, que me deixou usar


esse nome lindo na protagonista, que está comigo desde o meu início a
escrita, e por ser sempre essa pessoa maravilhosa, a Islay, que fez um
belo trabalho na capa, a Carol que sempre revisa tão bem e me dá dicas
maravilhosas e a Karina por sempre dar a leitura final nos livros.

Obrigada a todos vocês, pois cada ajuda, incentivo e criação


fizeram A Escolha chegar até aqui...
Próximo livro da série
Sinopse do livro 4
Quando seu pai a presenteou com sua primeira câmera fotográfica
profissional, Allana Sullate soube que nasceu para fotografar, não só
pessoas, ela adora capturar paisagens, momentos aleatórios, tudo que
para muitos parece normal, para ela se torna extraordinário visto através
da lente da sua câmera.

Agora, já formada e com um emprego estável, ela é convidada a


expor suas artes em uma conceituada galeria de Nova Iorque, disposta a
honrar a promessa que fez para o pai, ela aceitou e pela primeira vez
deixou a sua cidade natal e atravessou o Oceano Atlântico em busca do
seu maior sonho.

Revelar o seu talento para centenas de pessoas não foi a única


razão daquele dia ser o mais importante da sua vida, mas sim ele, o
misterioso homem de olhos azuis cobaltos, ele a fez descobrir algo novo,
algo que até aquele dia ela nunca acreditou existir.

Mas o que Allana não sabia era que Matthew Bittencourt criou
cinco regras básicas para afastar mulheres da sua vida, tudo isso com a
intenção de se proteger depois de se entregar a um amor que não era
recíproco. Agora, para ter Matthew por mais de uma noite, a mulher
deverá passar por essas cinco barreiras de proteção.

Um Oceano de distância...

Um convite...

Um esbarrão...

E tudo começou a mudar...

Ela uma fotógrafa sendo descoberta...

Ele um homem fechado em suas regras...

Será que Allana é a pessoa que vai invadir e curar o coração desse
Bittencourt?
Sobre a autora
Vanessa G. Secolin

Tem 23 anos, mora no interior de São Paulo com o marido e uma


filha, é apaixonada por leitura desde a adolescência, entretanto a paixão
por escrita foi descoberta a pouco tempo, por meio de uma plataforma
online onde conheceu leitoras e amigas maravilhosas.

REDES SOCIAIS

Instagram: autoravanessasecolin

Wattpad: AutoraVanessaSecolin

E-mail: vanessasecolin@hotmail.com

Gostou de conhecer mais um pouco da família Bittencourt? Se


sim, vamos levar esse livro para mais leitores.

Indiquem esse livro, compartilhem com os amigos e publique nas


suas redes sociais. Se possível, deixe sua avaliação na Amazon, as
avaliações são muito importantes.

Desde já eu agradeço imensamente.

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