Ao longo de algumas leituras sobre temas interessantes, o termo entre
sempre me é apresentado para uma compreensão relacional. O entre não é apenas um atravessamento, pode-se até imaginar que o ultrapassar do termo, corta um outro. Nesse, caso não seria mais um entre como é sugerido por filosófos que fazem seu destaque. Há entres que são como rizomas, pois, o rizoma conforme conceituado por Deleuze, se distingue por si onde: “um rizoma não começa nem se conclui, ele se encontra sempre no meio, entre as coisas, inter-ser, intermezzo. A árvore é filiação, mas o rizoma é aliança, unicamente aliança. (...) o rizoma tem como tecido a conjunção “e...e...e...”. Há nessa conjunção força suficiente para sacudir e desenraizar o verbo ser.” (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p.?)
Trata-se de um olhar para os (ins) e os (ex), dois complementares do
discurso, considerados conectivos, prefixos que destacam significados de palavras mais brutas(nesse sentido de palavras raiz), mas que ainda se apresentam com outros tantos significados: preposição de conteúdo do dentro, como um elemento complementar de negação ou com o significado de lugar. Pensando para ‘dentro’, o ‘dentro’ do entre, não um isolado, ou um refém do outro, mas na interrrelação, em concomitância com o para ‘fora’. Neste sentido o ‘ex’, enquanto, partícula que agrega sentido de saída, de ação para ‘o fora’, às vezes de término, finitude, de desconhecido pode apresentar outros significados mais potentes que indicam aquilo que pode ter deixado de ser, uma trilha criada entre as passagens do interior para o exterior. Tratar sobre observações do pensamento, sem um empirismo mais concreto, experimental é, sobretudo, uma tentativa de gerar desafastamentos, tentativas como fugas do olhar convencional do pré-suposto geômetra, fechado em si-mesmo, refletido na “condição do estabelecer princípios norteadores de localização”, que seguem as matrizes rígidas, com aquela velha e forte condição anglófono ou definicões euroasiáticas que sempre estão presentes no modo de se fazer mapeamento. E, nesse caso especifico, apresento como pressuposto a própria ideia central de contra-mapeamentos no sentido proposto, ou ainda de uma cartografização crítica. Ao ponto de perpassar por temas da diferença, de um mundo vivido. Desafastar, advém do que o filósofo Peter Sloterdijk (2016), em sua digressiva exposição sobre o Dasein heideggeriano apresenta, em termos principalmente, dos aspectos da espacialidade. A espacialidade também pode ser ou é, uma condição na Geografia especificamente de mapear-se. A leitura que faço é de agenciamentos, deslocamentos e encontros. Chamo aqui de ‘esbarrão de perspectiva’ para o mapeamento. Por que um esbarrão? A resposta é pela intenção de se tocar com o tema, podendo assim, iniciar um olhar que possa dar mais atenção, àquilo que não se prestava atenção. Tal atitude, possui um o olhar filosófico que me possibilita considerar inicialmente uma conduta crítica, de esclarecimento ou no sentido que apresento de ‘esbarrar nas perspectivas’ e destas abrir os diversos caminhos, em fuga do Uno. Por isso, ao me desafastar, articulo ao fator que me aproximo, outras observações, esse fator de aproximação é acentuado com uma investigação mais detida, sem circunscrever limites ou posturas de fechamentos, e cerceamentos, mas desafastamento (Ent-fernung) que me conduz a subir mais platôs, com direito a paradas e observações. Esse deslocamento que busco fazer tem conversões entre os campos da Geografia, da imagem e da Filosofia. Aqui se faz necessário fomentar as dúvidas que permeiam as discussões que atravessam os principais pontos que destaco e que percebo como intervenientes e capacitores de gerar orientação (Ausrichtung). Por esse turno, não está implicada apenas em uma conduta latitudinal e longitudinal, demarcada e pintada fortemente pela exposição das diversas ‘Escolas do Pensamento Cartográfico’. Assim, como há uma evolutiva percepção dos meios de talhar as linhas satelizadas- refiro-me aos dados dos satélites-, termos quantificáveis, algoritmizáveis e estabelecidos de maneira que vejo como frigida, próprias do mundo criado para satisfazer o grande capital em nossa época, sobretudo, por estar munido de informações repassadas por plataformas de controle social de informações e localizações onde os passos humanos- gostos por exemplo-, são acompanhados, controlados. Passadas estas que as vezes nossos dedos e voz substituem os pés, em dedilhamentos nas telas touch screen dos celulares. Portanto, como identificar as bifurcações possíveis de aberturas e desafastamentos presentes nas novas formas de mapear? O objetivo é identificar outras formas de mapear que suspendem as representações convencionais da cartografização espacial. Para isso no caminho metodológico me permito fazer um entrelaçamento; primeiramente bibliográfico tendo como ponto de saída, para continuar a caminhar; depois dos encontros-diálogos entre os autores que discutem cartografias, considerar que imagens constituem parte do trabalho de representação e de interação inter-trans e subjetivas. Com essa compreensão, interrelacionar-me com o tema e com os autores, alinhavando as interpretações específicas articuladas ao tema, além de considerar o aspecto que a imanência da subjetividade dessa escrita deva se permitir a falar por si. Além de considerar que o mapeamento rizomático do onde estou e do estar urbano podem ser constituídos de formas (in)mensuráveis e (ex)tensas através das representações espaciais. Acrescento que os diálogos entre Deleuze e Guatarri (1995) tratando do aspecto que dei o nome ao título deste artigo: o Rizoma, Girardi (2020) com um olhar peculiar sobre (in/impossibilidades) que tem se deslocado para tratar das outras cartografias, como o autor Peter Sloterdijk (2016) com sua peculiar e distinta posição do Ser-com, vendo a Cartografia partindo desse Ser-com Kastrup (2010) e outros. A inquietação é a postura tomada para expressar no campo da Geografia as possibilidades existentes de não aceitar tudo aquilo que se transforma como discurso do controle do fazer, do ver e do que aceitar, suprimindo as condições que podem ser desenvolvidas como nuanças, alinhavos de uma tessitura de potências. A escrita não fechada, mas aberta, plástica e que foge do movimento das linhas da retidão, paralelos e meridianos, se permitem a cartografar elementos que por muito tempo estiveram esperando oportunidades de se desvelarem o seu desiderato na Geografia. E nesse sentido a Geografia se torna um campo de resistência contra- argumentando formatos tradicionalmente conhecidos como herméticos, que no sentido da sua tecnização foge de outras possíveis abordagens ontológicas. Reconfigurar a mente no sentido de obter outros olhares, com outras cabeças como tal uma Hidra de Lerna (mitologia grega), se torna um campo produtivo com variadas reflexões. Há ainda um sentido eivado construído ao longo das epocalizações sobre o como se faz mapeamentos e que eventualmente no que diz respeito ao aporte crítica da cartografia, se urge descontaminar do uso apenas unilateral desse fazer. A ideia é como se girasse o seletor para uma outra variação de som, mais agudo ou mesmo mais grave, as oscilações constituintes dos mapeamentos possíveis, se tornam uma porta a ser aberta. Parece que de certa maneira ainda por aqui em nosso país, a Geografia tem olhado de soslaio por entre essa porta, outros campos do conhecimento como a: Arquitetura e Urbanismo, já adentram pela porta e já se acomodaram no interior da estrutura fantasiosa. As diversas metodologias utilizadas para construir novos olhares tanto sobre os espaços com os lugares, tem sido amplamente divulgadas. Estar à deriva também faz parte de um processo, o processo do conhecimento de tantas outras demandas ainda pouco exploradas ou mesmo obliteradas por inciativas relacionadas ao pressuposto biopoder- e isso ocorre na Cartografia e na Geografia pelo simples fato da recorrente ideia que cartografar é ter poder-, deve-se ser superado apenas uma inclinação, pender para os dois lados a fim de não estabilizar, mas conduzir um caminhar que possa se inclinar para tantos quantos forem os lados. Nesse aspecto, CARTOGRAFIAS COM-NEXAS: rizomancias agenciadas do (in)mensurável e do (ex)tenso é um artigo exploratório de uma larga revisão desistemática, explosiva-pois faz agenciamentos, correlações-, para abrir clareiras, atentar para os meandros e observar os caminhos-pistas se assim for-, no fazer-sendo parte do mapear. Distanciando das matrizes convencionais, para se abraçar ao que foi silenciado. Dando assim não apenas um holofote, mas acima de tudo, um megafone para se ouvir, e ouvindo, ver e vendo, sentir. Somos parte do mapa e o mapa é uma célula nossa. Não se pode apenas ter a ideia de construir representações, mas ser a própria representação, pois sendo a representação, se acena para novos direcionamentos de inclusão e não mais de exclusão que reverbera ao longo da conduta geocartográfica. Decolonizar também é sobrepor o sensível sobre o insensível.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. MIL PLATÔS: capitalismo e
esquizofrenia. v.1. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995. GIRARDI, Gisele. CARTOGRAFIAS (IN/IM) POSSÍVEIS: O Ilha. Punto Sur. Revista de Geografia de la UBA, v. 1, p. 64-74, 2020. PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia; ESCÓSSIA, Liliana da (Org.). PISTAS DO MÉTODO DA CARTOGRAFIA: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2010. SLOTERDIJK, Peter. Esferas I: Bolhas. São Paulo: Estação Liberdade, 2016.