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ARTIGO ARTICLE 357

Influência do consumo alimentar de ácidos


graxos trans no perfil de lipídios séricos em
nipo-brasileiros de Bauru, São Paulo, Brasil

Dietary trans fatty acid intake and serum


lipid profile in Japanese-Brazilians in Bauru,
São Paulo, Brazil

Carla Novaes Bertolino 1


Teresa Gontijo Castro 1
Daniela S. Sartorelli 1
Sandra R.G. Ferreira 2
Marly Augusto Cardoso 1
Grupo de Estudos de Diabetes
em Nipo-brasileiros 3

Abstract Introdução

1 Faculdade de Saúde This study describes the contribution of changes A qualidade dos lipídios da dieta possui um papel
Pública, Universidade de
in trans fatty acid intake in relation to serum importante no risco de desenvolvimento de di-
São Paulo, São Paulo, Brasil.
2 Escola Paulista de lipoproteins. A total of 328 Japanese-Brazilians versas doenças crônicas. Estudos epidemiológi-
Medicina, Universidade of the first (Issei) and second (Nisei) genera- cos prévios sugerem uma associação positiva en-
Federal de São Paulo,
tions, aged 40-79 years in 1993, were assessed in tre consumo de ácidos graxos trans e ocorrência
São Paulo, Brasil.
3 Outros membros listados two cross-sectional surveys on health and nutri- de doenças cardiovasculares em ambos os gêne-
no fim do artigo. tional status in 1993 and 2000. Multiple linear ros 1,2,3,4,5. O consumo deste tipo de gordura vem
regression models were used with changes (2000/ sendo apontado como um fator de risco impor-
Correspondência
M. A. Cardoso 1993) in serum lipoproteins as the dependent tante tanto quanto o consumo de ácidos graxos
Departamento de Nutrição, variable and changes in dietary trans fatty acids saturados para o desenvolvimento de doenças
Faculdade de Saúde Pública,
Universidade de São Paulo.
(adjusted for total calories) as independent cardiovasculares em ambos os gêneros 1,2,3,4,5,6.
Av. Dr. Arnaldo 715, variable. In both genders a significant reduction Os ácidos graxos trans, isômeros geométri-
São Paulo, SP was observed in total intake of trans fatty acids cos e de posição dos ácidos graxos insaturados,
01246-904, Brasil.
marlyac@usp.br
with lower LDL and increased HDL serum levels podem ocorrer naturalmente em produtos de-
during 7-year follow-up. The mean intakes of rivados da carne e leite de animais ruminantes.
trans fatty acids (% of total energy) in 1993 and Entretanto, as principais fontes de ácidos gra-
2000 were: 5.1% and 3.4% for women and 4.7% xos trans na alimentação são os óleos vegetais
and 3.3% for men, respectively. Although the as- parcialmente hidrogenados, contribuindo com
sociation between changes in dietary trans fatty cerca de 80 a 90% de todos os isômeros trans
acids and serum lipoprotein was not statistical- provenientes da dieta. Constituem fontes im-
ly significant, on average the intake of this trans portantes de ácidos graxos trans na dieta: gor-
fat was higher than the WHO recommendation duras vegetais hidrogenadas, margarinas sóli-
(up to 1% of total energy). das ou cremosas, cremes vegetais, biscoitos e
bolachas, sorvetes cremosos, pães, batatas fri-
Trans Fatty Acids; Lipids; Food Consumption tas comerciais preparadas em fast food, pastéis,
bolos, tortas, massas ou qualquer outro alimen-
to que contenha gordura vegetal hidrogenada
entre seus ingredientes 5,6,7.
O consumo de calorias provenientes de áci-
dos graxos trans tem sido associado ao aumen-

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to de LDL-colesterol sérico (low density lipo- dos bioquímicos de 315 nipo-brasileiros de pri-
protein cholesterol) e redução no HDL-coleste- meira (issei) e segunda (nisei) geração, não mis-
rol sérico (high density lipoprotein cholesterol), cigenados, de ambos os gêneros, idade entre 40
resultando em aumento da relação LDL/HDL. a 79 anos em 1993, residentes em Bauru, Esta-
Há evidências de que dietas ricas em ácidos do de São Paulo, e que participaram dos dois
graxos trans podem elevar também as concen- inquéritos de saúde e nutrição realizados em
trações plasmáticas de triacilgliceróis e de li- 1993 e 2000. Dos 394 indivíduos avaliados em
poproteína Lp(a) 5,6. 1993 e 2000, foram excluídos 79 participantes
Desta forma, o consumo elevado de ácidos (20,1% do total avaliado em 1993) que não apre-
graxos trans pode ser um importante fator de sentaram informações completas sobre o con-
risco para as doenças do coração 5. Com base em sumo alimentar ou níveis de lipídios séricos
estudos epidemiológicos recentes, a Organiza- nos dois inquéritos transversais. Quando com-
ção Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o parados os indivíduos que participaram dos
consumo máximo deste tipo de gordura não dois inquéritos (n = 315) com os que não foram
deve ser superior a 1% das calorias totais 8. avaliados em 2000 (n = 332), não houve dife-
O objetivo do presente estudo foi avaliar o renças estatisticamente significantes segundo
consumo de ácidos graxos trans e sua relação gênero, idade e geração.
com os lipídios séricos na comunidade nipo-bra- O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética
sileira de Bauru, São Paulo, Brasil. Comparações da Escola Paulista de Medicina, Universidade
entre populações que se deslocaram para regiões Federal de São Paulo, com esclarecimento e as-
com diferentes hábitos alimentares, mas com sinatura do termo de consentimento obtido de
morbidade e perfil de mortalidade distintos do todos os participantes.
país de origem (todavia, compartilham a mesma
origem genética) podem prover base racional pa- Avaliação antropométrica e bioquímica
ra investigações sobre dieta, estado nutricional e
enfermidades crônicas não transmissíveis. Medidas de peso (em quilogramas) e altura (em
metros) foram obtidas em balança digital (ca-
pacidade 150kg, precisão 100g) e em estadiô-
Métodos metro portátil, respectivamente. O Índice de
Massa Corporal (IMC) foi obtido dividindo-se
População de estudo o peso pela estatura ao quadrado (kg/m 2). A
circunferência da cintura foi obtida com uso de
Na Cidade de Bauru, Estado de São Paulo, des- fita métrica inextensível utilizando-se como
de 1993 pesquisadores do Departamento de ponto de referência o plano horizontal na altu-
Medicina Preventiva, Universidade Federal de ra da cicatriz umbilical, com o paciente em pé,
São Paulo e de outras instituições vêm desen- abdome relaxado, os braços ao longo do corpo
volvendo o projeto de pesquisa Diabetes Melli- e pés unidos. Para avaliação de sobrepeso e
tus na Comunidade Nipo-brasileira de Bauru. obesidade e classificação da obesidade central
Uma das hipóteses de investigação do grupo foram considerados os pontos de corte propos-
de estudo consistiu em testar a associação en- tos pela OMS 8.
tre as alterações de estilo de vida (hábitos ali- A pressão arterial foi medida três vezes,
mentares e atividade física de lazer, especial- com o indivíduo sentado após dez minutos de
mente) e a alta prevalência de diabetes e doen- descanso, com aparelho automático (modelo
ças associadas 9,10. HEM – 712C; Omron Healthcare Inc., Vernon
Em 1993 foi realizado o primeiro estudo Hills, Estados Unidos). A média das duas últi-
transversal. Nesta fase inicial do estudo, 647 ja- mas medidas foi usada para expressar os níveis
poneses de primeira (37,3%) e segunda geração pressóricos.
(62,7%), de ambos os gêneros, foram submeti- Amostras de sangue foram obtidas após dez
dos ao Inquérito de Saúde e Nutrição, confor- horas de jejum, centrifugadas e analisadas ime-
me descrito em publicação anterior 11. Destes, diatamente após a coleta. Concentração de gli-
69 (10,7%) foram a óbito, 57 (8,8%) mudaram cose plasmática e níveis séricos de triglicéri-
de endereço e 127 (19,6%) recusaram partici- des, colesterol total e frações foram analisados
par da segunda fase do projeto. Em 2000, um por processos enzimáticos devidamente pa-
segundo inquérito transversal foi realizado in- dronizados nos dois momentos do estudo, uti-
cluindo 394 participantes da primeira fase do lizando-se analisador automático (Cobas-mira
estudo (60,9% do total avaliado em 1993). plus®, Roche) 12. Os pontos de corte adotados
Para a presente análise, foram utilizados os para a classificação de dislipidemia foram os
dados de consumo alimentar individual e da- propostos pelo National Cholesterol Education

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INFLUÊNCIA DO CONSUMO ALIMENTAR DE ÁCIDOS GRAXOS TRANS EM NIPO-BRASILEIROS 359

Program 13, e para diagnóstico de diabetes fo- A análise nutricional das dietas foi realiza-
ram os propostos pela OMS 14. da com auxílio do programa Dietsys 4.01 (Na-
tional Cancer Institute, Bethesda, Estados Uni-
Avaliação do consumo alimentar dos), com dados de composição química de
alimentos compilados das tabelas oficiais do
Em 1993, o consumo alimentar foi avaliado por Brasil, Japão e Estados Unidos, segundo meto-
meio de um questionário de freqüência ali- dologia descrita em trabalho anterior 17.
mentar (QFA) adaptado do QFA de Tsunehara
et al. 15 com 177 itens alimentares. Em 2000, a Análise estatística
dieta habitual foi avaliada por questionário
quantitativo de freqüência alimentar (QQFA), Para descrição das características gerais da po-
com 122 itens alimentares e com reprodutibili- pulação de estudo foram calculadas médias e
dade e validade previamente testados na popu- desvios-padrão segundo gênero. A análise das
lação japonesa migrante de São Paulo 16,17. Nos diferenças no consumo de nutrientes e dos ní-
dois inquéritos, a avaliação da dieta conside- veis de lipídios séricos no período empregou
rou o consumo habitual de alimentos e bebidas teste t de Student para amostras dependentes.
relativo ao período de um ano anterior ao mo- Modelos de regressão linear múltiplos foram
mento da entrevista alimentar. Para padroniza- utilizados para avaliar a associação entre a dife-
ção da avaliação do consumo alimentar nos rença no consumo de ácidos graxos trans e a di-
dois inquéritos, os dados do QFA de 1993 foram ferença nos valores de lipídios séricos entre 2000
transcritos para o modelo do QQFA utilizado e 1993. Todas as variáveis das diferenças de con-
em 2000. A lista de alimentos utilizadas no QFA sumo alimentar foram ajustadas pelas calorias
de 1993 foi mantida no questionário de 2000. totais pelo método residual, após transformação
Para classificação das porções alimentares do logarítmica das variáveis que não apresentavam
QFA de 1993 (obtidas como variável contínua distribuição normal. As diferenças dos lipídios
em gramas ou mililitros) utilizou-se a definição séricos foram consideradas variáveis dependen-
dos tamanhos das porções, como variável cate- tes. As variáveis independentes foram seleciona-
górica (pequena, média, grande e extragrande), das mediante pressupostos teóricos e resultados
conforme modelo adotado no QQFA de 2000. de estudos anteriores, utilizando-se: (a) variáveis
A descrição da dieta habitual da população contínuas = diferenças no consumo de ácidos
de estudo considerou a participação relativa graxos trans, de fibras, de gorduras totais, de gor-
diária de nutrientes selecionados. Os teores de duras saturadas e de circunferência de cintura,
ácidos graxos trans de alimentos como a batata idade em 1993, circunferência de cintura em
frita, biscoito e sorvete foram calculados com 1993; (b) variáveis categóricas = gênero, consu-
base em tabelas nacionais 7. A estimativa desse mo habitual de álcool em 1993 (sim/não), taba-
tipo de gordura dos outros alimentos do QFA gismo em 1993 (sim/não) e presença de morbi-
utilizou tabelas internacionais 18,19. Para al- dade em 1993 (não/sim – indivíduos com diabe-
guns alimentos e preparações nacionais não tes, hipertensão ou em uso de medicamentos
identificados em tabelas publicadas, o teor de que interferem no metabolismo da glicose e lipí-
ácidos graxos trans foi estimado com base no dios). As análises estatísticas foram conduzidas
teor desse tipo de gordura de outro alimento no programa SPSS versão 10.0 (SPSS Inc., Chica-
com composição química aproximada: pizza, go, Estados Unidos), adotando-se como signifi-
tortas, pastéis e salgadinhos fritos foram subs- cantes valores onde p < 0,05.
tituídos por folhados; queijos brancos por chee-
se spread; queijos amarelos por cheese cheddar;
requeijão por cheese food american; pão inte- Resultados
gral e broa de milho por pão branco; castanhas
por manteiga de amendoim; tortas doces por A Tabela 2 apresenta as características gerais da
bolos; pudim por leite. Para certas preparações população de estudo em 1993, segundo gêne-
foram consideradas preparações padrão: pizza ro. A proporção de indivíduos issei/nisei, pre-
de queijo com 35,6% deste ingrediente; yakiso- valência de tabagismo e valores médios etários
ba com 20% de carne; pratos com frango com e IMC foram semelhantes entre os gêneros. No
80% deste ingrediente; hot dog com 50% de pão entanto, maiores freqüências de consumo ha-
branco e 50% de salsicha; salada de maionese bitual de álcool foram observadas entre os ho-
com 20% de maionese. Na Tabela 1 são apre- mens (χ2 = 80,01; p = 0,00). Homens e mulheres
sentados os teores de ácidos graxos trans em apresentaram valores médios de IMC dentro
alimentos e/ou preparações utilizados no pre- do intervalo de eutrofia; porém, esses valores
sente estudo. estavam muito próximos do ponto de corte pa-

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Tabela 1

Concentração de ácidos graxos trans em alimentos ou preparações do questionário de freqüência


alimentar (QQFA) e seus respectivos alimentos correspondentes identificada em tabelas de composição
de alimentos (alimento referência).

Alimento/preparação Alimento referência Teor de ácidos


do QQFA graxos trans
(g/100g de alimento)

Óleo para salada Oils: salad and cooking (home use)* 3,59
Maionese Mayonnaise* 1,13
Biscoitos Biscoito cream cracker, biscoito recheado de chocolate e morango** 3,76
Bolos Pastries: doughnuts or piecrusts* 8,18
Margarina light Margarine: diet* 15,30
Margarina Margarine: stick, margarine: tub or soft* 22,63
Manteiga Butter* 3,37
Requeijão Dairy products, cheese food, American, pasteurized 0,71
process, brand a; c***
Chocolate Candy* 11,72
Tortas salgadas/Doces Pastries: doughnuts or piecrusts* 8,18
Doces/Sobremesas Candy* 11,72
Pipoca Snacks, popcorn, microwave-popped, brand a; b; snacks, 7,32
popcorn, microwave-popped. Low fat, brand a; snacks, popcorn,
oil-popped, brand a; b***
Salgadinhos em geral Snacks chips: corn and mixed grains; snack chips: potato* 11,91

* Enig et al. 18.


** Chiara et al. 7.
*** Exler et al. 19.

Tabela 2

Caracterização da população de estudo em 1993, segundo gênero.

Mulheres (n = 165) Homens (n = 150)

Proporção issei/nisei 0,48 0,50


Idade média (em anos) 57,4 (DP = 9,9) 56,9 (DP = 9,9)
Índice de massa corporal médio (em kg/m2) 24,6 (DP = 3,2) 24,7 (DP = 3,9)
Circunferência de cintura média (em cm) 83,5 (DP = 11,4) 88,4 (DP = 9,2)
Tabagismo
Não 81,2% 88,0%
Sim 18,8% 12,0%
Consumo habitual de álcool 12,1% 59,3%
Prevalência diabetes 21,8% 19,3%
Prevalência dislipidemia 88,5% 90,0%

ra sobrepeso. Não houve diferença estatistica- geração em 2000). As altas freqüências de dia-
mente significante para a prevalência de sobre- betes e de dislipidemia foram semelhantes en-
peso/obesidade entre mulheres e homens, res- tre homens e mulheres.
pectivamente (dados não apresentados). Os A Tabela 3 apresenta valores médios (des-
valores médios da circunferência de cintura vios padrão), valores mínimos e máximos e
apresentaram-se na faixa de risco reduzido pa- percentagens das diferenças médias do consu-
ra complicações metabólicas entre os homens mo alimentar e de lipídios séricos no período
e de risco elevado/muito elevado entre as mu- de estudo, segundo gênero. Com exceção do
lheres (exceção para as mulheres de primeira consumo de proteínas (em gramas) – que redu-

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INFLUÊNCIA DO CONSUMO ALIMENTAR DE ÁCIDOS GRAXOS TRANS EM NIPO-BRASILEIROS 361

Tabela 3

Valores médios (desvio padrão), mínimos e máximos e percentagens das diferenças médias do consumo
alimentar e de lipídios séricos em 1993 e 2000, segundo gênero.

Mulheres (n = 165) Homens (n = 150)


1993 2000 Diferença média 1993 2000 Diferença média
(2000-1993) (2000-1993)
Mínimo Máximo % Mínimo Máximo %

Calorias totais 1.763,9 1.841,1 -1.973,8 3.081,0 4,4 2.170,2 2.207,6 -2.322,9 2.155,1 1,7
(em Kcal) (DP = 609,3) (DP = 573,1) (DP = 660,2) (663,7)

Carboidratos
gramas 237,2 243,4 -276,4 373,1 2,6 281,3 285,9 -203,2 305,0 1,6
(DP = 88,1) (DP = 83,9) (DP = 87,8) (DP = 89,0)
% VCT 56,9 54,8 -25,6 27,9 -3,7* 55,2 54,0 -29,1 33,1 -2,2
(DP = 8,8) (DP = 7,6) (DP = 10,2) (DP = 8,0)

Proteínas
gramas 67,2 64,3 -137,0 138,0 -4,3 85,1 73,6 -273,7 63,4 -13,5**
(DP = 28,8) (DP = 22,6) (DP = 39,8) (DP = 23,4)
% VCT 16,1 14,4 -22,9 8,63 -10,6* 16,3 13,9 -27,8 7,4 -14,7*
(DP = 4,0) (DP = 2,4) (DP = 4,2) (DP = 2,8)

Lipídios
gramas 52,2 63,1 -80,0 84,7 20,9* 60,5 73,5 -78,4 183,5 21,5*
(DP = 23,1) (DP = 23,0) (DP = 25,5) (DP = 30,4)
% VCT 28,0 31,9 -18,0 25,6 14,3* 26,2 30,7 -15,4 28,0 18,6*
(DP = 6,5) (DP = 6,5) (DP = 6,3) (DP = 6,5)

Gordura saturada
gramas 15,6 15,0 -3,17 23,2 -3,2 18,2 17,8 -32,9 23,0 -2,2
(DP = 7,1) (DP = 6,2) (DP = 8,1) (DP = 7,6)
% VCT 8,4 7,6 -7,6 6,5 -9,5 7,9 7,4 -7,2 6,8 -6,3
(DP = 2,3) (DP = 2,0) (DP = 2,4) (DP = 2,0)

Ácidos graxos trans


gramas 10,2 7,0 -23,9 30,8 -30,4* 11,5 8,3 -25,7 19,7 -27,8*
(DP = 6,5) (DP = 4,8) (DP = 7,4) (DP = 5,1)
% VCT 5,1 3,4 -14,8 4,0 -35,3* 4,7 3,3 -8,7 11,3 -29,8*
(DP = 2,6) (DP = 1,7) (DP = 2,4) (DP = 1,9)

Colesterol (mg) 219,7 162,0 -694,4 470,0 -26,2* 278,0 211,1 -749,2 286,6 -24,1*
(DP = 120,8) (DP = 78,8) (DP = 160,2) (DP = 115,8)

Fibras (g) 17,0 17,3 -50,6 19,1 1,8 18,2 19,1 -20,7 24,1 4,9
(DP = 8,8) (DP = 8,1) (DP = 7,9) (DP = 8,4)

Níveis séricos (mg/dL)


Colesterol 216,2 218,5 -140,5 115,5 1,0 211,8 207,8 -161,5 155,0 -1,7
(DP = 43,9) (DP = 39,2) (DP = 43,5) (DP = 40,9)
LDL colesterol 150,7 132,9 -883,0 94,0 -10,4* 139,6 121,5 -104,5 62,5 -11,5*
(DP = 78,8) (DP = 36,5) (DP = 35,7) (DP = 36,0)
HDL colesterol 44,3 51,5 -220,0 90,5 16,0* 38,7 48,9 -26,0 78,5 24,8*
(DP = 21,7) (DP = 10,2) (DP = 10,0) (DP = 13,3)
Triglicerídios séricos 157,6 224,0 -461,0 1.120,5 43,9* 213,5 308,2 -1.572,0 1.543,0 46,3*
(DP = 94,6) (DP = 165,6) (DP = 211,7) (DP = 295,9)

VCT= Valor calórico total.


*Teste t de Student para amostras dependentes, p < 0,01.
**Teste t de Student para amostras dependentes, p < 0,05.

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362 Bertolino CN et al.

ziu entre os homens e se manteve entre as mu- valo com 95% de confiança – IC95%) entre a di-
lheres –, e do percentual calórico proveniente ferença de consumo dos ácidos graxos trans e
dos carboidratos – que reduziu entre as mulhe- as diferenças dos níveis de lipídios séricos. Não
res e se manteve entre os homens –, a mudan- houve associação estatisticamente significante
ça no consumo dos nutrientes foi semelhante entre consumo de ácidos graxos trans e lipídios
entre os gêneros. Não se observou alteração no séricos. No entanto, para as demais variáveis
consumo das calorias totais; contudo, houve independentes consideradas nos modelos, ob-
redução estatisticamente significante na con- servou-se associação inversa somente entre a
tribuição percentual calórica das proteínas e diferença no consumo de fibras da dieta com o
aumento deste percentual proveniente das gor- colesterol sérico total na população estudada
duras totais. Entre os componentes dos lipídios (β1 = -1,377; IC95%: -2,172- -0,582).
ingeridos, o aumento no consumo das gordu-
ras totais ocorreu essencialmente devido ao
maior consumo de ácidos graxos polinsatura- Discussão
dos. Não ocorreu alteração no consumo de gor-
dura saturada, com redução no consumo de No presente estudo, o consumo das calorias to-
ácidos graxos trans e de colesterol. A ingestão tais da dieta habitual no período estudado si-
de fibras não apresentou alteração significan- tuou-se na faixa da recomendação específica
te. As mudanças no perfil de lipídios séricos fo- para japoneses em ambos os gêneros 20. Ape-
ram semelhantes para ambos os gêneros: cons- sar do consumo de gorduras saturadas e de co-
tatou-se redução dos níveis séricos de LDL co- lesterol se encontrarem de acordo com as reco-
lesterol com aumento estatisticamente signifi- mendações dietéticas, o consumo de ácidos
cante do HDL colesterol e triglicerídeos. graxos trans estimado foi muito acima do reco-
Na Tabela 4 podem ser observados os valo- mendado: a OMS preconiza que o consumo
res para os coeficientes de regressão β1 (inter- desse tipo de gordura deve ser menor que 1%
das calorias totais da dieta 8.
Em 1994, Willett & Ascherio 21 destacaram
os efeitos adversos das gorduras trans e esti-
Tabela 4 maram que mais de 30 mil mortes por ano nos
Estados Unidos poderiam ser atribuídas ao
Coeficientes de regressão β1 (IC95%) em modelo linear múltiplo entre a diferença consumo de gordura parcialmente hidrogena-
de consumo dos ácidos graxos trans (variável independente) e as diferenças da. A hidrogenação parcial de óleos vegetais é
dos níveis de lipídios séricos (variáveis dependentes). utilizada para produzir gorduras sólidas em
temperatura ambiente. A adição de moléculas
Variáveis dependentes Diferença do consumo de hidrogênio nas duplas ligações reduz a con-
níveis séricos de ácidos graxos trans* centração de ácidos graxos polinsaturados es-
β1 IC95% p
senciais (linolênico e linoleico). Estima-se que
Colesterol sérico total o efeito dos ácidos graxos trans na razão LDL/
Ajuste gênero e idade -0,115 -0,883-0,653 0,769 HDL colesterol séricos seja cerca do dobro do
Ajuste múltiplo** -0,149 -0,935-0,638 0,710 esperado para ácidos graxos saturados 6.
No entanto, até o presente momento, evi-
LDL-colesterol sérico* dências epidemiológicas sobre a associação in-
Ajuste gênero e idade -0,00071 -0,004-0,002 0,625 versa entre gordura trans da dieta e HDL coles-
Ajuste múltiplo** -0,00129 -0,004-0,002 0,395 terol ou associação positiva com LDL coleste-
rol são ainda controversas.
HDL-colesterol sérico* Um estudo prospectivo com 14 anos de se-
Ajuste gênero e idade -0,00049 -0,003-0,002 0,676 guimento de 43.732 homens americanos não
Ajuste múltiplo** -0,00024 -0,003-0,002 0,843 encontrou associação entre consumo de gor-
dura total, tipo de gordura ou colesterol e risco
Triglicérides sérico*
de acidente vascular isquêmico e hemorrágico
Ajuste gênero e idade -0,00101 -0,005-0,003 0,656
22 . Entretanto, em outro estudo prospectivo,
Ajuste múltiplo** -0,00164 -0,006-0,003 0,489
Nurse’s Health Study, encontrou-se que mulhe-
* Dados que sofreram transformação logarítmica. res com consumo de grandes quantidades de
** Variáveis contínuas: diferença no consumo de ácidos graxos trans, de fibras, ácidos graxos trans (3% das calorias totais diá-
de gorduras totais, de gorduras saturadas, de circunferência de cintura, e idade
e circunferência de cintura em 1993. Variáveis categóricas: gênero (feminino rias) apresentavam 50% mais chances de de-
e masculino), consumo habitual de álcool em 1993 (sim e não), tabagismo em 1993 senvolver doenças do coração que aquelas que
(sim e não) e presença de morbidade em 1993 (sim e não; indivíduos com diabetes,
hipertensão ou em uso de medicamentos que interferem no metabolismo consumiam pequenas quantidades deste tipo
da glicose e lipídios). de gordura (aproximadamente 1% das calorias

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INFLUÊNCIA DO CONSUMO ALIMENTAR DE ÁCIDOS GRAXOS TRANS EM NIPO-BRASILEIROS 363

totais diárias). Mulheres com um consumo bai- Uma das limitações do presente estudo po-
xo de ácidos graxos trans e de ácidos graxos po- de estar relacionada à estimativa do consumo
linsaturados apresentaram 70% menos chance de ácidos graxos trans, calculada com auxílio de
de desenvolver doenças do coração quando tabela internacional de acordo com procedi-
comparadas a mulheres que consumiam muito mentos adotados em estudos anteriores inter-
ácidos graxos trans e pouca gordura polinsatu- nacionais. Erros aleatórios na medida do consu-
rada 4. Outros estudos de coorte também en- mo deste tipo de gordura pode ter resultado em
contraram associação positiva entre alto con- subestimativa da associação com as alterações
sumo de ácidos graxos trans e risco para doen- observadas nos lipídios séricos 6. Investigação
ças coronarianas em ambos os gêneros 1,2,3,4. recente sobre teores de ácidos graxos trans em
No presente estudo, observou-se redução alimentos brasileiros selecionados sugere con-
estatisticamente significante no consumo total centrações maiores desse tipo de gordura em re-
de gordura trans, acompanhado de redução lação ao esperado segundo informações de ta-
dos níveis séricos de LDL colesterol e aumento belas ou de rótulos dos alimentos, recomendan-
do HDL colesterol no intervalo de sete anos de do-se regulamentação mais cautelosa para pro-
seguimento. Porém, não houve associação en- dutos alimentícios com gordura hidrogenada 7.
tre a diferença do consumo habitual de ácidos Com base nos resultados apresentados nes-
graxos trans e alteração dos níveis de lipídios te estudo, apesar da ausência de associação
séricos. Resultado semelhante foi descrito por entre alterações do consumo de ácidos graxos
van de Vijver et al. 23 em estudo transversal com trans e alterações no perfil de lipídios séricos
327 homens e 299 mulheres europeus: não foi em estudo prospectivo, o nível de ingestão des-
observada associação entre consumo de ácidos se tipo de gordura em nipo-brasileiros foi aci-
graxos trans e níveis séricos de LDL colesterol e ma dos valores preconizados pela OMS para
HDL colesterol, mas foi encontrada uma fraca prevenção de doenças cardiovasculares, suge-
associação inversa entre consumo de ácidos rindo a necessidade de monitoramento dos
graxos trans e colesterol sérico total. teores de gordura trans na dieta habitual da
população brasileira.

Resumo Colaboradores

A influência da alteração do consumo de ácidos gra- C. N. Bertolino realizou revisão da literatura, estima-
xos trans nos níveis de lipídios séricos foi avaliada em tiva e cálculo do consumo de ácidos graxos trans,
328 nipo-brasileiros de primeira (issei) e segunda ge- processamento e análise dos dados e elaboração do
ração (nisei), entre 40 e 79 anos, em 1993, participan- manuscrito. T. G. Castro e D. S. Sartorelli colaboraram
tes de dois inquéritos de saúde e nutrição realizados na análise dos dados e leitura crítica do manuscrito.
em 1993 e 2000. A relação entre a diferença do consu- S. R. G. Ferreira coordenou e desenvolveu o trabalho
mo de ácidos graxos trans e a diferença entre os níveis de campo juntamente com o Grupo de Estudos de
de lipídios séricos entre os dois inquéritos foi analisa- Diabetes em Nipo-brasileiros. M. A. Cardoso orien-
da em modelos de regressão linear múltiplos. Em am- tou todas as etapas do estudo e elaboração da versão
bos os gêneros, observou-se redução estatisticamente final do artigo.
significante no consumo total de gordura trans, acom-
panhado de redução dos níveis séricos de LDL coleste-
rol e aumento do HDL colesterol em sete anos de segui-
mento. Os valores médios de ingestão de gordura trans Outros membros do Grupo de Estudos
(percentual das calorias totais) em 1993 e 2000 foram: de Diabetes em Nipo-brasileiros
5,1% e 3,4% para mulheres e 4,7% e 3,3% para ho-
mens, respectivamente. Apesar da ausência de associa- N. Barros Jr., M. A. Cardoso, R. Chaim, V. D ’Almeida,
ção entre as alterações do consumo de ácidos graxos S. R. G. Ferreira, L. J. Franco, R. D. Freire, S. G. A. Gi-
trans e alterações no perfil de lipídios séricos, o nível meno, H. Harima, A. Hirai, A. T. Hirai, M. Iunes, M. Ki-
de ingestão de gordura trans foi acima do recomenda- kuchi, L. Matsumura, R. S. Moisés, K. Osiro, N. Tomi-
do pela OMS (até 1% das calorias totais). ta, K. Wakisaka.

Ácidos Graxos Trans; Lipídios; Consumo de Alimentos

Agradecimentos

C. N. Bertolino foi bolsista de iniciação científica do


Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq).

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364 Bertolino CN et al.

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